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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - PPGEO OLGA CARDOSO DA SILVA PLANEJAMENTO TERRITORIAL E A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: O Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE Montes Claros JULHO/ 2016 OLGA CARDOSO DA SILVA PLANEJAMENTO TERRITORIAL E A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: O Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Garduação em Geografia da Universidade Estadual de Montes - Unimontes, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Geografia. Área de concentração: Dinâmica e Análise Espacial. Linha de Pesquisa: Produção dos Espaços Urbanos e Rurais. Orientador (a): Profª. Drª. Iara Soares de França - Dinâmica e Análise Espacial - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS. Montes Claros JULHO/ 2016. Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge S586p Silva, Olga Cardoso da. Planejamento territorial e a gestão dos resíduos sólidos urbanos [manuscrito]: o consórcio intermunicipal para o desenvolvimento ambiental sustentável do Norte de Minas – CODANORTE / Olga Cardoso da Silva. - Montes Claros, 2016. 155 f. : il. Bibliografia: f. 139-151. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, Programa de Pós-Graduação em Geografia/PPGEO, 2016. Orientadora: Profa. Dra. Iara Soares de França. 1. Planejamento. 2. Território. 3. Resíduos sólidos urbanos. 4. Consórcio intermunicipal. 5. Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE. I. França, Iara Soares de. II. Universidade Estadual de Montes Claros. III. Título. IV. Título: O consórcio intermunicipal para o desenvolvimento ambiental sustentável do Norte de Minas - CODANORTE. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA – PPGEO A Banca Examinadora abaixo-assinada aprovaa dissertação de mestrado, intitulada: PLANEJAMENTO TERRITORIAL E A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: O Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE, elaborado pela Mestranda Olga Cardoso da Silva, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de concentração: Dinâmica e Análise Espacial. Linha de Pesquisa: Produção dos Espaços Urbanos e Rurais. BANCA EXAMINADORA: ______________________________________________________________ Profª Drª Iara Soares de França (Orientadora) - UNIMONTES ______________________________________________________________ Profª DrªAnete Marília Pereira (Examinadora) - UNIMONTES ______________________________________________________________ Prof. Dr. Wagner Barbosa Batella (Examinador) - (UFV) Montes Claros JULHO/ 2016. DEDICATÓRIA Dedico esta pesquisa às pessoas mais presentes e importantes em minha vida: Minha mãe (Ivone), exemplo de mulher, ao meu pai (Alcino) por tamanha generosidade. Meu irmão (Tales) pelo incentivo direto ou indireto. Ao meu esposo João Marcos por me apoiar e fazer presente todas as vezes que precisei. E a João Gabriel, luz da minha vida, meu maior presente. Amo muito. Amor verdadeiro! AGRADECIMENTOS Foram muitas as pessoas que contribuíram para que esse trabalho fosse possível, mas inicio agradecendo a Deus. Ele esteve sempre ao meu lado durante esta caminhada, muitas vezes o caminho tornou-se tortuoso e difícil, porém, Ele me deu duas características que estão inseridas em minha alma: determinação e vontade de vencer! Contudo, não teria chegado até aqui sem a ajuda de alguns anjos que sempre confiaram em mim. Agradeço aos familiares, em especial João Marcos (esposo) e minha mãe Ivone, pela paciência, confiança e ajuda singular. Sem vocês eu não teria conseguido ... Ao meu filho, mesmo tão pequeno, sinto que compreendeu as muitas horas de ausência! Obrigada pelo sorriso maravilhoso e pelo abraço mais gostoso do mundo! Eu te amo! Aos amigos, em especial Mariângela, Marcelo, Karol, Roméria e Núbia pela presteza, amizade e ajuda. À minha orientadora Dr. Iara Soares de França, pelos ensinamentos, competência e especial atenção nas revisões e sugestões que enriqueceram essa pesquisa. Aos professores do Departamento de Geociências da Unimontes e do Mestrado em Geografia, pela confiança. Tenho um carinho enorme por vocês. À todos os entrevistados e ao CODANORTE pelas informações disponibilizadas. Aos amigos da graduação, pós-graduação e da Rede Municipal de Educação de Montes Claros, vocês de alguma forma fazem parte desse momento. Aos colegas de mestrado, pelos momentos compartilhados e pelo companheirismo. À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos, que tornou possível a realização dessa pesquisa. À todos aqueles que oraram para que esse momento fosse possível. Agradeço de coração! “E aprendi que se depende sempre De tanta, muita, diferente gente Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. É tão bonito quando a gente entende Que a gente é tanta gente Onde quer que a gente vá. É tão bonito quando a gente sente Que nunca está sozinho Por mais que pense estar...”(Caminhos do coração – Gonzaguinha.) "Ninguém escapa ao sonho de voar, de ultrapassar os limites do espaço onde nasceu, de ver novos lugares e novas gentes. Mas saber ver em cada coisa, em cada pessoa, aquele algo que a define como especial, um objecto singular, um amigo,- é fundamental. Navegar é preciso, reconhecer o valor das coisas e das pessoas, é mais preciso ainda." Antoine de Saint-Exupery RESUMO O planejamento territorial por meio de consórcios intermunicipais e/ou agrupamentos de municípios para integrar a organização e a execução de funções públicas de interesse comum está previsto na Constituição Federal e na Lei 11.107/05 - Lei dos Consórcios. As experiências de consorciamentos para a gestão dos resíduos sólidos urbanos - RSU'sé realidade em vários municípios do Brasil e vem sendo implantada no Norte de Minas, por meio do Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas – CODANORTE. Desta forma, esta pesquisa tem como objetivo analisar o planejamento e a gestão dos RSU's por meio da implementação do Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE. Para tanto, a dissertação está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo apresenta abordagens teóricas e processuais sobre o planejamento, enfatizando sua definição, os conceitos a ele vinculado, as correntes de Planejamento Normativo (tradicional) e o Planejamento Estratégico Situacional - PES. Posteriormente, apresenta-se considerações sobre o planejamento no Brasil e em Minas Gerais e discute-se, em seguida, planejamento territorial e territorialização de políticas públicas, geografia e planejamento ressaltando sua importância no plano regional e territorial, dialogando com os consórcios públicos. O segundo capítulo apresenta uma discussão conceitual sobre saneamento e resíduos sólidos urbanos, destaca-se também a situação e as experiências de planejamento e gestão dos RSU's via consorciamento no Brasil e em Minas Gerais. Em seguida, tem-se uma análise dedados estatísticos sobre a gestão dos RSU's no contexto nacional (Brasil), estadual (Minas Gerais) e mesorregional (Norte de Minas). O último capítulo analisa o plano territorial para a gestão dos RSU's entre os municípios integrantes do CODANORTE, a gestão dos resíduos sólidos urbanos nas cidades de Montes Claros, Pirapora e Bocaiúva, bem como os desafios enfrentados pelo consorciamento e por gestores públicos referentes a essa forma de integração territorial. O caminho metodológico consistiu-se em análise bibliográfica e documental, observações participativas em eventos, trabalho de campo baseado em fontes primárias: pesquisa de campo na área de estudo, aplicação de questionários aos representantes do CODANORTE e gestores públicos dos municípios selecionados e registro iconográfico. Utilizou-se ainda o software Arc GIS para a produção dos mapas de espacialização. Por meio dessa pesquisa, constatou-se que o planejamento e a gestão territorial historicamente estão vinculados ao fortalecimento da ação do Estado no espaço. A análise dos dados permitiu inferir que a gestão dos RSU's no Brasil, em Minas Gerais e no Norte de Minas, ainda possui muitas deficiências, sobretudo, nos serviços de coleta, disposição final e tratamento de RSU's. Desta forma, o CODANORTE apresenta-se para alguns municípios do Norte de Minas como uma alternativa para o cumprimento da Lei 12.305/2010. No entanto, necessita superar desafios que envolvem a inexistência de recursos financeiros, a falta de apoio governamental das esferas estadual e federal, a falta de recursos humanos qualificados e a distância entre os municípios consorciados em relação ao aterro sanitário, localizado em Montes Claros - MG. Palavras-Chave: Planejamento; Território; Resíduos sólidos urbanos; Consórcio intermunicipal; CODANORTE. ABSTRACT The territorial planning through consortiums and / or municipalities groups to integrate the organization and execution of public functions of common interest is foreseen in the Federal Constitution and Law 11.107 / 05 - Law of Consortiums. The consortium experience for the management of municipal solid waste - RSU's is reality in many counties in Brazil and has been deployed in the north of Minas Gerais, through the Intermunicipal Consortium for Sustainable Environmental Development in Northern Minas - CODANORTE. Thus, this research aims to analyze theplanning and management of the USW through the implementation of the Intermunicipal Consortium for Sustainable Environmental Development in Northern Minas - CODANORTE. Therefore, the thesis is divided into three chapters. The first chapter presents theoretical and procedural approaches to planning, emphasizing its definition, the concepts linked to it, the Normative Planning current (traditional) and the Strategic Situational Planning - PES. Subsequently, it presents considerations for planning in Brazil and in Minas Gerais and discusses then territorial planning and public policy territorialization, geography and planning emphasizing its importance in the regional, territorial, dialogue with the public consortiums. The second chapter presents a conceptual discussion on sanitation and solid waste, also highlights the situation and planning experience and management of RSUs via consortiums in Brazil and in Minas Gerais. Then one has a statistical analysis of data on the management of RSUs in the national context (Brazil), state (Minas Gerais) and mesorregional (North Mine). The last chapter analyzes the territorial plan for the management of RSUs among CODANORTE members municipalities, management of municipal solid waste in the city of Montes Claros, Pirapora and Bocaiúva, as well as the challenges faced by the consortium and public managers related to this form territorial integration. The methodological approach consisted in bibliographical and documentary analysis, participant observation in events, field work based on primary sources: field research in the study area, questionnaires to representatives of CODANORTE and public managers of the selected municipalities and iconographic record. It was also used Arc GIS software for the production of the spatial maps. As a result of this research, it was found that planning and land management are historically linked to the strengthening of state action in space. Analysis of the data allowed to infer that the management of RSUs in Brazil, Minas Gerais and the North Mine, also has many shortcomings, especially in the services of collection, disposal and treatment of RSUs. Thus, the CODANORTE presents to some municipalities in Northern Minas as an alternative to compliance with Law 12,305 / 2010. However, it needs to overcome challenges that involve the lack of financial resources, lack of government support of the state and federal levels, the lack of qualified human resources and the distance between the consortium municipalities in relation to the landfill, located in Montes Claros - MG. Keywords: Planning; Territory; Urban solid waste; intermunicipal consortium; CODANORTE. LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Observações e Participações em Eventos e/ou Reuniões.........................33 . Quadro 2 - Características dos modelos de Planejamento Normativo e Planejamento Estratégico Situacional - PES .......................................................................................41 Quadro 3 - Planos de Desenvolvimento do Brasil (1950-2007) ............................44 Quadro 4 - Principais programas federais em saneamento na década de 1990.......63 Quadro 5 - Categorização dos resíduos sólidos urbanos .......................................69 Quadro 6 - Linha do Tempo: Consórcios intermunicipais no Brasil -1981 à 2007 ............................................................................................... ................................86 Quadro 7 - Experiências de consórcios intermunicipais de resíduos sólidos no Brasil (2014-2015).............................................................................................90 Quadro 8 - Municípios integrantes de dois consórcios intermunicipais de RSU's em Minas Gerais - 2014 ................................................................................................98 Quadro 9 - Dados dos municípios integrantes do CODANORTE –2010 ................104 Quadro 10 - Arranjos Territoriais Ótimos - ATO's....................................................111 Quadro 11 - Produção de materiais recicláveis - Montes Claros (2015)...................113 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fórum Regional - Território Norte .........................................................................48 Figura 2 - Participação das regiões brasileiras - IBGE no total de RSU's coletado 2014 ...................................................................................................................................................72 Figura 3 - Representação da taxa de cobertura do serviço de coleta de RSU's em relação à população urbana do Brasil – 2013...........................................................................................74 Figura 4 - Situação do serviço de coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos domiciliares dos municípios participantes do SNIS – 2013.................................................................................75 Figura 5 - Constituição jurídica das operadoras de manejo de resíduos sólidos - Mesorregião Norte de Minas - 2014..............................................................................................................80 Figura 6 - Tipo de cobrança pelos serviços de coleta de resíduos sólidos na Mesorregião Norte- Minas Gerais, 2011....................................................................................................81Figura 7 - Funcionamento de um aterro sanitário....................................................................82 Figura 8 - Assinatura do Protocolo de Intenções - CODANORTE........................................101 Figura 9 - Critérios para a formação dos ATO's.....................................................................108 Figura 10 - Localização dos municípios integrantes do CODANORTE a distância máxima de 120 Km do aterro sanitário de Montes Claros e a 281 km do aterro sanitário de Pirapora .............................................................................................................................109 Figura 11 - Composição (t/ano) de resíduos sólidos urbanos - Montes Claros (2015)..........112 Figura 12 - Aterro sanitário privado localizado no município de Montes Claros - MG........114 Figura 13 - Manifestação de moradores da Comunidade Mimoso - 2015.............................115 Figura 14 - Aterro sanitário de Pirapora - MG......................................................................117 Figura 15 - Lixão localizado em Bocaiúva - MG...................................................................118 Figura 16 - Descartes de resíduos sólidos em locais inadequados - Montes Claros, Pirapora e Bocaiúva..................................................................................................................................120 Figura 17 - Coleta seletiva de RSU's em Pirapora - MG.......................................................121 Figura 18 - Descarte final de resíduos sólidos urbanos em Bocaiúva - MG .........................123 Figura 19 - Desafios enfretadas pelos gestores (Pirapora, Montes Claros e Bocaiúva) na gestão direta dos RSU's .....................................................................................................125 Figura 20 - Desafios a partir da perspectiva do CODANORTE - 2016................................126 Figura 21 - Desafios da gestão dos RSU's por meio do CODANORTE a partir da perspectiva de Gestores (Pirapora, Montes Claros e Bocaiúva)-2016.......................................................128 Figura 22 - Benefícios da Gestão por meio do CODANORTE a partir da perspectiva de gestores (Pirapora, Montes Claros e Bocaiúva) - 2016...........................................................130 LISTA DE MAPAS Mapa 1 - Municípios integrantes do CODANORTE - Norte de Minas ........................28 Mapa 2 - Arranjos Territoriais Ótimos - ATO's: Plano de Regionalização Integrada de Resíduos Sólidos para a Bacia do São Francisco............................................................30 Mapa 3 - Territórios de Desenvolvimento de Minas Gerais - Fóruns Regionais...........47 Mapa 4 - Norte de Minas: municípios integrantes do CODANORTE..........................78 Mapa 5 - Situação de tratamento e/ou disposição final dos resíduos sólidos urbanos - municípios da Mesorregião Norte de Minas - 2012........................................................83 Mapa 6 - Área de abrangência dos consórcios intermunicipais de resíduos sólidos urbanos em Minas Gerais (2014) ...................................................................................96 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - População urbana e a taxa de cobertura da coleta domiciliarde RSU's........73 Tabela 2 - Quantidade de municípios por tipo de destinação adotada - 2013................76 Tabela 3 - Quantidade de consórcios intermunicipais para gestão de RSU’s por região - SNIS, 2014......................................................................................................................90 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAF - Autorização Ambiental de Funcionamento ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ALMG - Assembléia Legislativa de Minas Gerais ANA - Agência Nacional das Águas ASCABOC - Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Bocaiúva ASCAMOC - Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Montes Claros ATO'S - Arranjos Territoriais Ótimos BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD - Banco Mundial BRDE - Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CASCOS - Centros de Apoio Simplificado para Carroceiros CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem CEPAM - Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal CI - Consórcio Intermunicipal CIAMESF - Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Socioeconômico da Microrregião do Alto Médio São Francisco CIGRSES - Consórcio Intermunicipal para a Gestão de Resíduos Sólidos do Entorno de Salinas CIMFAS - Consórcio Intermunicipal dos Municípios da Microrregião de Frutal para Aterro Sanitário CIPAS - Consórcios Intermunicipais para Aterros Sanitários CISAB - Consócio Intermunicipal de Saneamento Básico CITRESU - Consórcio Intermunicipal de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos CNPJ - Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica CODANORTE - Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente COOPRARTE - Cooperativa de Produção Artesanal de Pirapora COSECS/MG - Colegiado dos Secretários Executivos dos consórcios Intermunicipais de saúde de Minas CSSP - Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Sustentável da Região de São Sebastião do Paraíso DAAMA - Departamento de Agricultura e Meio Ambiente ECOTRES - Consórcio Público Intermunicipal de Tratamento de Resíduos Sólidos ESURB - Empresa Municipal de Serviços, Obras e Urbanização FEAM - Fundação Estadual do Meio Ambiente FJP - Fundação João Pinheiro FGTS - Fundo de Garantia por tempo de Serviço FPM - Fundo de Participação dos Municípios FUNASA - Fundação Nacional da Saúde GIRSU - Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos Urbanos GRSU - Gestão de Resíduo Sólido Urbano IBGE - Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDH - Índice de Desenvolvimento humano IDHM - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal ILPES - Instituto Latino Americanos de Planejamento Econômico e Social IOR - Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos IPEA - Instituto de Pesquisa Aplicada IPTU - Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana ISS - Imposto Sobre Serviços LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias LO - Licença de Operação LOA - Lei de Orçamento Anual MCMV - Programa Minha Casa, Minha Vida MG - Minas Gerais MMA - Ministério do Meio Ambiente OGU - Orçamento Geral da União OMS - Organização Mundial da Saúde ONU - Organização das Nações Unidas OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PASS - Programa de Ação Social em Saneamento PES - Planejamento Estratégico Situacional PGIRSU - Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos PIB - Produto Interno Bruto PLANASA - Plano Nacional de Saneamento PLANSAB - Plano Nacional de Saneamento Básico PMDES - Plano Mineiro de Desenvolvimento Econômico e Social PMDI - Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado PMSB - Plano Municipal de Saneamento Básico PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos PPAG - Plano Plurianual de Ações GovernamentaisPPP - Parceria Público - Privada PROPAR - Prestação de Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento PROSANEAR - Programa de Saneamento para Populações de Baixa Renda RIDE - Região Integrada de Desenvolvimento RM - Região Metropolitana RSU's - Resíduos Sólidos Urbanos SAAE - Serviços Autônomo de Água e Esgoto SEDE - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico SEDRU - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana SEPLAG - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão SIMAE/SC - Serviço Intermunicipal de Água e Esgoto/Santa Catarina SISEMA - Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros UTC - Usina de Triagem e Compostagem SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 20 CAPÍTULO I -TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO: ELEMENTOS PARA A ANÁLISE DOS CONSÓRCIOS INTERMUNICIPAIS DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS.................................................................... 36 1.1 Planejamento: Breves abordagens teóricas e processuais................................... 1.2 Considerações sobre planejamento no Brasil e Minas Gerais........................... 36 43 1.3 Planejamento territorial e territorialização de políticas públicas......................... 49 CAPÍTULO II- SANEAMENTO BÁSICO, RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E OS CONSÓRCIOS INTERMUNICIPAIS NO BRASIL............. 60 2.1 Saneamento Básico e Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil.............................. 60 2.2 Panorama dos resíduos sólidos urbanos no Brasil ........................................... 71 2.2.1 Panorama dos resíduos sólidos urbanos em Minas Gerais e no Norte de Minas 77 2.3 Os Consórcios Intermunicipais para Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil e em Minas Gerais ...................................................................... 85 CAPÍTULO III - O CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL PARA O DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL SUSTENTÁVEL DO NORTE DE MINAS - CODANORTE: Desafios da Gestão territorial dos Resíduos Sólidos Urbanos............................................................................................................... 100 3.1 O Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas ..................................................................................................... 101 3.2 Panorama dos Resíduos Sólidos Urbanos em municípios integrantes do CODANORTE e os Arranjos Territoriais Ótimos - ATO's...................................... 107 3.3 Desafios da gestão territorial dos RSU's por meio do Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE ............................................................................................................................... 123 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 132 REFERÊNCIAS.................................................................................................... ANEXOS............................................................................................................... APÊNDICE............................................................................................................ 139 152 154 20 INTRODUÇÃO Planejar constitui um ato que acompanha o ser humano desde a antiguidade, sendo considerada uma atividade desafiadora e multidisciplinar, principalmente quando se refere ao espaço geográfico, construído pela ação dos diversos agentes sociais que possuem interesses distintos e na maioria das vezes divergentes (REZENDE, 2006). Apesar de grande parte da população acreditar que o planejamento é um atividade destinada ao Estado, planejar o espaço urbano deve ser visto como uma tarefa coletiva onde todos os sujeitos sociais exercem papel importante na tomada de decisões (ROLNIK, 2001). Pode-se afirmar então que o planejamento está relacionado à preparação, organização e estruturação de planos e metas que auxiliam na tomada de decisões que visam garantir os avanços e minimização de problemas em determinadas áreas. Com a participação social o planejamento pode deixar de ser um procedimento meramente administrativo e burocrático para ser um mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes sujeitos, segmentos e setores (REZENDE, 2006). Souza (2008) destaca que um dos desafios próprios à atividade de planejar, refere-se ao esforço de “arquitetar o futuro”, um esforço baseado na reflexão e na análise prévia do momento atual. Nesse contexto, o planejamento pode ser entendido como uma forma de antecipar as necessidades, coordenando e traçando caminhos conjuntos para uma sociedade mais justa onde todos tenham o direito à cidade. A finalidade última do planejamento consiste na superação de problemas, especialmente fatores de injustiça social e a melhoria da qualidade de vida, sendo que ambos deveriam ser vistos como pertencentes ao amplo domínio das estratégias de desenvolvimento (SOUZA, 2008). É válido lembrar que no Brasil, nos âmbitos federal, estadual e municipal, a gestão dos serviços públicos, em alguns casos, é marcada pelo improviso e pela ineficiência do planejamento com reflexos diretos na formulação e na implementação de políticas públicas e, de modo particular, na articulação entre elas. 21 Para Teixeira (2002, p. 2), as políticas públicas são (...) diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Entende-se que a ineficiência do planejamento contribui negativamente na implementação das políticas públicas que são desenvolvidas em diferentes setores, abrangendo diferentes territórios. De acordo com Philippi Jr, Bruna e Silveira (2005), o planejamento territorial permite uma compreensão do processo de ocupação do espaço e dos recursos de infraestrutura, entre eles o saneamento básico. Essa particularidade fez com que o planejamento territorial viesse a ocupar as agendas de pesquisa e desenvolvimento de planos e programas, ou seja, as políticas públicas do Brasil. Sobre o planejamento territorial, destaca-se que a Constituição Brasileira de 1988 definiu, dentre as competências da União, elaborar e executar planos nacionais e regionais de desenvolvimento e ordenamento do território. No Brasil, as políticas públicas de saneamento básico1 ganharam destaque a partir do Plano Nacional de Saneamento - PLANASA (1971) e, posteriormente, com o Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB (2013). Estes foram planos fundamentais para a evolução e melhora nos indicadores do saneamento nos últimos 45 anos, apesar de que há muito que se avançar para atingir a qualidade e a universalização dos serviços. Distante ainda de uma realidade recomendável e almejando avanços nas condições dos serviços de saneamento, foi publicada a Lei 11.445/ 2007, que estabelece diretrizes 1 Outras iniciativas também foram criadas como o Programa para Populações de Baixa Renda - PROSANEAR (1982)instituído no âmbito do governo federal com o objetivo de melhorar as condições de saneamento nas periferias e nas favelas. Destaca-se também a implantação do Projeto de Modernização do Setor de Saneamento- PMSS (1993), com a finalidade de modernizá-lo (SALLES, 2009a). 22 nacionais para os setores que compõem o saneamento básico brasileiro, entre eles a coleta e o tratamento dos resíduos sólidos no Brasil. Sendo assim, a Lei 11.445/2007 obriga todas as prefeituras a elaborarem seu Plano Municipal de Saneamento Básico - PMSB. O plano é um instrumento estratégico de planejamento e gestão participativa com o objetivo de atender o que determina os preceitos da Lei 11.445/2007. Nesse contexto, planejar os serviços de coleta e tratamento de resíduos sólidos urbanos (RSU’s) é fundamental para os municípios, pois sem o plano que contemple a gestão correta dos RSU’s as prefeituras deixarão de receber recursos federais para investimentos no setor. A Lei 12.305/2010 define Resíduos Sólidos Urbanos como os originários de atividades domésticas em residências urbanas (resíduos domiciliares) e os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas, e outros serviços de limpeza urbana (resíduos de limpeza urbana). De acordo com Heller e Rezende (2008), a determinação da elaboração do Plano Municipal de Saneamento pode parecer simples, mas vai exigir enorme esforço para ser realizada pelos municípios. A mesma lei determina que estes serviços devam ser prestados observando planejamento, regulação e fiscalização, além de acompanhar para que os municípios tenham o plano independentemente do total de habitantes. Uma possibilidade para os municípios nesse sentido é o planejamento e a gestão territorial dos resíduos sólidos, por meio da integração entre municípios de uma mesma região ou território. A integração e a gestão associada de serviços públicos estão previstas na Constituição Federal e na Lei 11.107/05 - Lei dos Consórcios. Esta lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios contratarem consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum. O Art. 2o da lei dos consórcios define o consorciamento como uma reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo, com prazo de duração e número de cotas previamente determinados, promovida por administradora de consórcio, com a 23 finalidade de propiciar a seus integrantes, de forma isonômica, a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento. No Brasil2, os consórcios intermunicipais apresentam-se como uma alternativa no gerir dos serviços públicos e apontam, inclusive, instrumentos inovadores na área de gestão pública como o compartilhamento das compras que venham a ser realizadas pelos entes consorciados (GUIMARÃES, 2010). De acordo com Spink (2005, p.1) The current 1988 constitution recognizes three different types of formal inter- municipal arrangements for cooperation in planning and policy implementation, each of which grew up in a different way at a different time. The first provides for Metropolitan Regions, the second for Inter-municipal Consortia and the third for Integrated Development Regions.3 Sobre os consórcios, no artigo 241, no texto da nova Constituição (BRASIL 1988, p. 135) que sofreu alteração com a emenda constitucional 19, de 4 de junho 1998, passou a vigorar a seguinte redação Art. 241 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos. Sendo assim, cada consórcio possui na sua formação características peculiares de acordo com as dificuldades e demanda de cada região, devendo ser baseado numa relação de igualdade entre os pares e, principalmente, na preservação da autonomia de decisão do município (COSECS/MG, 2009). 2No que se refere a formação de consórcios intermunicipais no contexto internacional destaca-se a experiência da Itália, onde a Organização Territorial do Serviço de Gestão Integrada dos Resíduos sólidos Urbanos define que a competência para a prestação dos serviços de saneamento é dos municípios. O segundo capítulo dessa pesquisa apresentará uma discussão mais detalhada sobre essa experiência. 3A atual Constituição de 1988 reconhece três tipos diferentes de acordos inter-municipais formais de cooperação no planejamento e na política de implementação, cada um cresceu de uma maneira diferente em um momento diferente. O primeiro prevê Regiões Metropolitanas, o segundo formação de consórcios intermunicipais e o terceira as regiões de desenvolvimento integrado (SPINK, 2005, p.1, tradução nossa). 24 Destaca-se, que a formação de um consórcio intermunicipal para gestão dos RSU's no Brasil envolve diferentes agentes políticos, econômicos e sociais apresentando inúmeros fatores a serem considerados e muitas vezes ultrapassados, tais como a viabilidade econômica, a superação das diferenças partidárias e a criação de espaços dialógicos com a sociedade civil (GUIMARÃES, 2010). Os consórcios públicos dão forma à prestação regionalizada de serviços instituída pela Lei Federal de Saneamento Básico - 11.445/2007 e que é incentivada e priorizada pela Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei 12.305/2010 que dispõe sobre os princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos. Os consórcios municipais, ou seja, a gestão associada de serviços, mais conhecidos são os da área da saúde que possuem como orientação o conceito de cooperação intermunicipal, tornando-se um modelo de regionalização ascendente. No Estado de Minas Gerais, 75 consórcios intermunicipais de saúde possibilitam atendimento em saúde a 119 milhões de habitantes (COSECS/MG, 2013). No que se refere aos consórcios intermunicipais de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos - GRSU, existem em Minas Gerais 27 consórcios abrangendo diversos municípios mineiros, conforme será destacado no capítulo 2 (FEAM, 2014). Diante da possibilidade de consorciamento, ou seja, da integração territorial dos municípios vale ressaltar o art. 25, § 3º da Constituição Federal “§ 3º - Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum” (BRASIL, 1998, “§3º). 25 A integração e cooperação entre municípios são estratégias adotadas em regiões metropolitanas do Brasil para diversos setores da sociedade, essas interações se dão, muitas vezes, por meio dos consórcios. A very good example [...] to inter-municipal cooperation is the experience of the ABC region within the São Paulo metropolitan area. Its most visible moment was the launching in 1997 of the ABC Chamber, an intergovernmental open forum for public policy formulation and implementation covering seven municipalities and involving more that 100 different organizations from the private and civil society sectors, state and local governments. Its antecedents go back to 1990 and the creation by the seven municipalities of an intermunicipal consortium (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, RibeirãoPires and Rio Grande da Serra). This, significantly, was a reaction to the failure of previous attempts at metropolitan planning, especially in the area of solid waste disposal (SPINK, 2005, p.11).4 Mas no Brasil, os consórcios públicos não estão restritos as regiões metropolitanas e são vistos como alternativas para alguns municípios localizados no interior do país. No Norte de Minas as experiências de alguns governospara a gestão da saúde por meio do consorciamento demonstram que, os municípios, quando integrados alcançam melhores resultados como, por exemplo, a redução dos custos e a maior eficiência no atendimento a população. O Ministério do Meio Ambiente enfatizou recentemente que os estudos de regionalização são importantes para viabilização e constituição de consórcios públicos. Os estudos de regionalização são importantes para viabilizar a constituição de consórcios públicos, pois fornecem uma base de dados capaz de facilitar o entendimento ou as negociações entre os diferentes gestores municipais agilizando o processo de constituição de consórcios. O Estudo de Regionalização consiste na identificação de arranjos territoriais (microrregiões) entre municípios, contíguos ou não, com o objetivo de compartilhar serviços, ou atividades de interesse comum, permitindo, dessa forma, maximizar os recursos humanos, de infraestrutura e financeiros existentes em cada um deles, gerando economia de escala (BRASIL, 2015). 4Um exemplo muito bom [... ] de cooperação inter- municipal é a experiência da região do ABC, área metropolitana de São Paulo. Seu momento mais visível foi o lançamento, em 1997, da Câmara ABC , um fórum aberto intergovernamental para a formulação de políticas públicas e implementação abrangendo sete municípios e envolvendo mais de 100 diferentes organizações, governos, setores privados e sociedade civil locais e estaduais. Seus antecedentes voltam para 1990 com a criação de um consórcio intermunicipal composto por sete municípios (Santo André , São Bernardo do Campo , São Caetano do Sul, Diadema, Mauá , Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Isto, de forma significativa , foi uma reação ao fracasso das tentativas anteriores de planeamento metropolitano, especialmente na área de deposição de resíduos sólidos ( SPINK , 2005, p.11, tradução nossa) . 26 Diante do reconhecimento da importância dos estudos regionais na identificação de arranjos territoriais (microrregiões) entre municípios, contíguos ou não, destacam-se os estudos de França (2012) no que se refere ao Norte de Minas. A pesquisa intitulada "Aglomeração urbana descontínua de Montes Claros5 / MG: Novas configurações sócio-espaciais” destacouas interrelações que se desenvolvem entre cidades do Norte de Minas e a forma como os fluxos diversos impactam a organização do território, o que sinaliza a necessidade de se pensar os novos arranjos territoriais e o planejamento territorial. Para França (2012, p.37), "é possível assinalar o processo de aglomeração de Montes Claros com os municípios que a ela se limitam, evidenciando uma articulação para além dos limites administrativos; daí, o seu caráter de descontinuidade territorial". Ainda conforme a autora “A formação dessa aglomeração urbana demonstra, por um lado, suas especificidades, e, por outro, concebe-se um instrumento possível de planejamento urbano e territorial, numa escala não somente municipal, mas regional" (FRANÇA, 2012, p.38). Após uma reflexão sobre a pesquisa de França (2012) e a abordagem realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (2015) percebe-se a necessidade de se planejar para além das fronteiras administrativas de cada município, embora se reconheça a existência de alguns limitadores para realização desse tipo de planejamento. Daí a importância de se refletir sobre a formação do Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE. Um consórcio que integra atualmente (2015) 35 municípios do Norte de Minas que objetiva promover políticas para a gestão integrada dos resíduos sólidos na região, sendo, portanto, uma das alternativas a ser analisada. 5 O Município de Montes Claros está situado na Bacia do Alto Médio São Francisco ao Norte do estado de Minas Gerais possuindo uma área territorial de 3.576,76 km² e 361.971 habitantes, exerce relevantepapel regional. A cidade assume uma posição de centralidade intra e interurbana, destacando-se como o núcleo urbano mais dinâmico da região Norte de Minas. O PIB total de Montes Claros, conforme o IBGE (2011) é de R$ 4,86 bilhões, sendo 71% composto pelo setor de Serviços, 26% Indústria e 3% Agropecuária (FRANÇA; ALMEIDA, 2015). 27 Experiências recentes no campo da gestão pública local no Brasil revelam a emergência de iniciativas que procurem integrar o urbano ao regional, maximizando os recursos humanos, infraestrutura e financeiros conforme destacado pelo Ministério do Meio Ambiente. Nas palavras de Pereira (2007) pensar a cidade em sua relação com a região é uma necessidade para o entendimento da organização do espaço geográfico. Diante do exposto, indaga-se: Quais são as condições de acesso ao serviço de coleta e tratamento dos RSU's no Brasil, em Minas Gerais e no Norte de Minas? Quais são as experiências de planejamento e gestão de resíduos sólidos urbanos via consorciamento no Brasil? Qual a situação dos serviços de limpeza urbana, coleta e tratamento de RSU's em municípios integrantes do CODANORTE? Qual a importância do planejamento territorial e da integração e cooperação entre municípios para a gestão dos RSU's? Quais são os desafios da integração territorial por meio do CODANORTE? Assim sendo, a pesquisa tem como objetivo geral: Analisar o planejamento e a gestão dos RSU's por meio da implementação do Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas - CODANORTE. Os objetivos específicos são: Discutir o planejamento numa perspectiva histórica, teórica e processual no âmbito da ciência geográfica, ressaltando sua importância no plano regional e territorial; Apresentar a situação e as experiências de planejamento e enfrentamento da gestão de RSU's via consorciamento no Brasil, bem como as condições de gestão dos RSU's no âmbito nacional, estadual e regional (Norte de Minas); 28 Analisar o plano territorial para a gestão dos RSU's entre os municípios integrantes do CODANORTE, bem como os desafios referentes a essa forma de integração. A mesorregião do Norte de Minas é uma das doze mesorregiões do estado de Minas Gerais. É formada por 89 municípios agrupados em sete microrregiões, sendo elas: Bocaiúva, Grão Mogol, Janaúba, Januária, Montes Claros, Pirapora e Salinas. Desse total, 35 fazem parte do CODANORTE (Mapa 1). A região abrange uma área de 127.816,15 Km² onde vivem 1.581.544 habitantes (IBGE, 2010). Mapa 1: Municípios integrantes do CODANORTE - Norte de Minas Fonte: CODANORTE, 2015. Org.: SILVA, O. C. 2015. Para o desenvolvimento dessa pesquisa será realizado o levantamento documental de municípios que integram o CODANORTE, em especial Montes Claros, Pirapora e Bocaiúva. Além do levantamento documental, foi realizada nessas três cidades, pesquisa empírica, com registro iconográfico e entrevista com gestores municipais e/ou representantes de órgãos públicos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Mesorregi%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Minas_Gerais http://pt.wikipedia.org/wiki/Minas_Gerais http://pt.wikipedia.org/wiki/Munic%C3%ADpio http://pt.wikipedia.org/wiki/Microrregi%C3%A3o 29 A seleção desses três municípios integrantes do CODANORTE para a pesquisa empírica baseou-se no Plano de Regionalização de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos para a Bacia do São Francisco que estabeleceu os Arranjos Territoriais Ótimos - ATO'S - para o manejo integrado de resíduos sólidos urbanos – RSU (Mapa 2). Nesse cenário, Montes Claros, Bocaiúva e Pirapora são ATO'S num total de15 ATO'S. OS ATO'S (Mapa 2) são agrupamentos de municípios com a finalidade específica da gestão associada de resíduos sólidos. Foram estabelecidos a partir da análise de dadosprimários e secundários em três pilares: logística e transporte, socioeconômico e gestão dos RSU. Ressalta-se que no terceiro capítulo dessa pesquisa será realizada uma discussão sobre os Arranjos Territoriais Ótimos para o manejo integrado de RSU's, especificamente os de Montes Claros, Bocaiúva e Pirapora, de acordo com o Plano de Regionalização Integrada de resíduos Sólidos para a Bacia do São Francisco. 30 Mapa 2:Arranjos Territoriais Ótimos - ATO's: Plano de Regionalização Integrada de Resíduos Sólidos para a Bacia do São Francisco. Fonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM, 2010. Disponível em: http://www.feam.br/images/stories/arquivos/minassemlixoes/ 31 Diante do exposto, o primeiro capítulo apresenta abordagens teóricas e processuais sobre o planejamento, enfatizando sua definição, os conceitos a ele vinculado, as correntes de Planejamento Normativo (tradicional) e o Planejamento Estratégico Situacional - PES. Posteriormente, apresenta-se considerações sobre o planejamento no Brasil e em Minas Gerais e discute-se em seguida planejamento territorial e territorialização de políticas públicas, geografia e planejamento ressaltando sua importância no plano regional e territorial, dialogando com os consórcios públicos. Para isso, foram utilizados autores que discorrem sobre essas temáticas como: Mormul e Rocha (2013); Júnior (2011); Bezerra (2009); Santos (2009a - 2009b- 2008 – 1997) Arrais (2008 - 2003); Souza (2008); Souza e Rodrigues (2004); Spósito (2004); Faranh (2003); Veiga (2002); Lefebvre (2001-1979); Villaça (1999); Breitbach (1986);Cintra e Haddad (1978);Cintra e Andrade (1978), entre outros. O segundo capítulo apresenta uma discussão conceitual sobre saneamento e resíduos sólidos urbanos, ressaltando algumas Leis destinadas ao setor, tais como: 12.305/2010; 11.445/2007 e 11.107/2005. Em seguida, tem-se uma análise de dados estatísticos sobre a gestão dos RSU's no contexto nacional (Brasil), estadual (Minas Gerais) e mesorregional (Norte de Minas). Demonstra também a situação e as experiências de planejamento e gestão dos RSU's via consorciamento no Brasil e em Minas Gerais. O último capítulo analisa o plano territorial para a gestão dos RSU's entre os municípios integrantes do CODANORTE, a gestão dos resíduos sólidos urbanos nas cidades de Montes Claros, Pirapora e Bocaiúva, bem como os benefícios e desafios referentes a essa forma de integração. Sendo assim, o caminho metodológico consiste em análise bibliográfica e documental, observações participativas em eventos, trabalho de campo baseado em fontes primárias: pesquisa de campo na área de estudo, aplicação de questionários aos representantes do CODANORTE e/ou gestores públicos dos municípios selecionados e registro iconográfico. Conforme esclarece Boccato (2006, p. 266) a pesquisa bibliográfica traz conhecimentos sobre o assunto a ser pesquisado, ressaltando como e sob que enfoque e/ou perspectivas foi tratado o assunto na literatura científica. 32 A análise documental constitui uma técnica importante na pesquisa, seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou problema (LUDKE; ANDRÉ, 1986). As fontes dos dados documentais analisados no segundo e terceiro capítulo baseiam-se no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento Básico - SNIS; Instituto de Pesquisa Aplicada - IPEA; Associação Brasileira de empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – ABRELPE; Fundação João Pinheiro - FJP; Fundação Estadual do Meio ambiente - FEAM; Sistema Estadual de Informações sobre Saneamento - SEIS; em Planos Municipais de Saneamento Básico - PMSB e no Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos de Pirapora - PGIRSU (2010). Os dados coletados, a realização da pesquisa de campo e as participações em reuniões e/ou eventos possibilitaram a coleta de informações sobre o CODANORTE, assim como a aplicação de questionários aos prefeitos e/ou representantes municipais e também o registro iconográfico, além de observações diretas da pesquisadora. As observações e participações realizadas em eventos e reuniões na cidade de Montes Claros estão sistematizadas no quadro 1. 33 Quadro 1:Observações e Participações em Eventos e/ou Reuniões Eventos e/ou reuniões Data/ Local Principais Abordagens – Pautas Fórum Internacional de Cooperação Técnica para destinação e tratamento de resíduos sólidos no Norte de Minas. - 09 de outubro 2014 - Montes Claros – MG O encontro reuniu gestores da Espanha e do Norte de Minas, acadêmicos e representantes civis a fim de discutir problemáticas e soluções para a correta destinação e tratamento de resíduos sólidos, já que o prazo para que os municípios se adequassem à Política Nacional dos Resíduos sólidos era o dia 2 de agosto de 2014, apesar de esse prazo ter sido prorrogado para 2021. Fóruns Regionais - Território Norte - 11 de junho 2015 - 11 de julho 2015 - Montes Claros - MG O Fórum teve como objetivo principal o levantamento das prioridades do Território Norte - Divididos em cinco grupos temáticos: desenvolvimento produtivo, científico e tecnológico; infraestrutura e logística; saúde e proteção social, saneamento básico; segurança pública e educação e cultura - para que os dados possam orientar a elaboração do Plano Plurianual de Ações Governamentais - PPAG, Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado - PMDI e Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO. (SEPLAG, 2015). Seminário Legislativo Águas de Minas III : Desafios da crise Hídrica e a Construção da Sustentabilidade. - 30 de Julho 2015 - Montes Claros -MG. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais - ALMG promoveu encontros regionais em nove cidades do estado, entre elas Montes Claros, para discutir a crise hídrica agravada pela falta de chuvas e má gestão. Uns dos desafios destacados pelos participantes são a gestão correta dos resíduos sólidos e o tratamento do esgoto. O objetivo é colher propostas que serão colocadas em discussão na etapa final do Seminário Legislativo Águas de Minas III, que aconteceu nos dias 29 de setembro e 2 de outubro na ALMG. As propostas aprovadas no seminário poderão ser transformadas em projetos de Lei. Audiências públicas sobre saneamento básico - Prefeitura de Montes Claros - 29 de maio 2015 - 21 de julho 2015 - Montes Claros – MG As audiências públicas foram destinadas à divulgação do PMSB de Montes Claros - elaborado em cumprimento à Lei federal n° 11.445/2007. Reuniões do CODANORTE - 18 de março 2015 - 17 agosto 2015 As reuniões tiveram como pauta as dificuldades que as prefeituras do Norte de Minas enfrentam para cumprirem os prazos estabelecidos em Lei no que diz respeito à gestão correta dos resíduos sólidos. Foi destaque na última reunião - 17 de agosto 2015 -, a assinatura do Termo de cooperação técnica entre o Estado de Minas e o CODANORTE, favorecendo os 35 municípios que compõe o consórcio, que passaram a contar com assessoria técnica do Governo de Minas na elaboração de estudos de viabilidade, contratos e editais de procedimento de manifestação de intenções, para a execução de projetos de Parcerias Público-Privadas - PPPs, de modo especial para a gestão dos resíduos sólidos. Fonte: Fórum Internacional de Cooperação Técnica, Reuniões CODANORTE, Fóruns Regionais - Território Norte, Seminário Legislativo Águas de Minas III, audiências públicas e Reuniões do CODANORTE. Org.: SILVA, O. C, 2015. 34 Esse procedimento foi fundamental, pois possibilitou um aprofundamento do conhecimento sobre o planejamento e a gestão dos resíduos sólidos no Norte de Minas, bem como contribuiupara entender como os municípios e os representantes estaduais e municipais estão planejando ações em busca de alcançarem soluções para seguirem as determinações estabelecidas em leis, tais como, a Lei 12.305/2010, 11.445/2007 e 11.107/2005. E, desta forma, garantir a coleta, a destinação e tratamento correto dos resíduos sólidos. Reconhecendo a importância da participação social no planejamento dos serviços públicos, verificou-se que tal participação nem sempre é priorizada, como observado na audiência pública sobre o saneamento básico realizado pela prefeitura de Montes Claros para apresentação do PMSB (Quadro 1). Na oportunidade, as autoridades presentes discursaram, mas a participação da população foi negada, uma vez que, aos cidadãos presentes restou a manifestação somente por meio de perguntas escritas e, com isso, eliminando qualquer possibilidade de debate. Em sinal de protesto muitos presentes deixaram a audiência. Em contrapartida, os Fóruns Regionais (Quadro 1) realizados em Montes Claros oportunizaram a participação social, embora setorizada, para a discussão dos problemas do Território Norte. Espera-se que diagnosticados os problemas e dificuldades enfrentados pela população, especificamente, no setor de saneamento básico (RSU’s), e a partir da elaboração do Plano Plurianual de Ações Governamentais - PPAG e do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI, tenha-se um efetivo trabalho para diminuição das desigualdades mineiras, entre elas, as relacionadas aos serviços de saneamento básico (RSU’s). Outra etapa realizada refere-se à pesquisa de campo e a aplicação de questionário. Alentejano e Rocha-Leão (2006) revelam que desde os primórdios da Geografia, os trabalhos de campo são partes fundamentais do método de trabalho dos geógrafos. Nas palavras de Ribeiro (2008) a entrevista e aplicação de questionário são técnicas pertinentes quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto. As informações e dados coletados nesta pesquisa foram representadas sob a forma de gráficos, tabelas, quadros e mapas e analisados à luz da teoria. Os mapas foram confeccionados utilizando o software ArcGis. O software ArcGIS empregado como 35 suporte para realização desta pesquisa é um conjunto de softwares que roda em microcomputadores, utilizado para criar, importar, editar, buscar, mapear, analisar e publicar informações geográficas. O ArcGIS apresenta a função “área de influência”, o denominado “Buffer”. Nessa pesquisa o buffer foi fundamental para a análise espacial referente às distâncias entre os municípios e os aterros sanitários localizados em Montes Claros e Pirapora. É uma ferramenta das geotecnologias usada para análise espacial que consiste na criação de polígonos que especifica a distância em relação classe de análise (MATIAS, 2001). Sendo assim, inicia-se o primeiro capítulo ressaltando o território e o planejamento: elementos para a análise dos consórcios intermunicipais de gestão dos resíduos sólidos urbanos. 36 CAPÍTULO I - TERRITÓRIO E PLANEJAMENTO: ELEMENTOS PARA A ANÁLISE DOS CONSÓRCIOS INTERMUNICIPAIS DE GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS. O presente capítulo apresenta abordagens teóricas e processuais sobre o planejamento, enfatizando sua definição, alguns conceitos a ele vinculados, abordando as características das correntes de Planejamento Normativo (tradicional) e Planejamento Estratégico Situacional - PES, e o planejamento no Brasil e em Minas Gerais. Discute- se também na perspectiva geográfica, destacando reflexões sobre o planejamento urbano regional, a fim de contribuir, posteriormente, para um debate específico sobre planejamento territorial e territorialização de políticas públicas. 1.1 - Planejamento: Breves abordagens teóricas e processuais. O ato de planejar é antiguíssimo, pois desde muito cedo, o homem primitivo entendeu, por exemplo, que estava susceptível às mudanças climáticas e que essas alterações o afetavam, com isso, começou a se organizar de tal maneira, a estar preparado para o inverno, que era a estação do ano mais hostil (HELLER; REZENDE, 2013). A medida que o homem foi evoluindo, suas ações tornaram-se cada vez mais planejadas e pensadas de tal forma a alcançar sempre os melhores resultados, passando o planejamento e o trabalho a serem entendidos como uma atividade importante para a sobrevivência humana. Para Marx (1983, p. 149). Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e, portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural: realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. Então, conforme o referido autor, o trabalho e o ato de planejar diferenciam o homem dos animais. Essas capacidades fazem com que possa escolher e buscar as melhores alternativas em prol de atingir os seus objetivos. Mas, sendo assim, o que é planejamento? Qual a sua finalidade? Quais são as vantagens e os desafios próprios da atividade de planejar? Como se materializa na atualidade o planejamento no âmbito 37 territorial, regional e das políticas públicas? Para discutir essas questões buscou-se a contribuição de diferentes pesquisadores dessa temática. Para Silva (2008, p.89), o planejamento é considerado "um processo técnico instrumentado para transformar a realidade existente no sentido de objetivos previamente estabelecidos”. Já Souza e Rodrigues (2004), não entendem o planejamento como uma atividade exclusivamente técnica, para eles, o planejamento é uma forma que os homens (sociedade, Estado) têm de tentar prever a evolução de um fenômeno ou de um processo, e, a partir deste conhecimento, procurar se precaver contra problemas e dificuldades, ou ainda, melhor aproveitar os benefícios. No livro "Planejamento Urbano e Ativismos Sociais", Souza e Rodrigues (2004) demonstram a necessidade de desenvolver o planejamento de forma conjunta entre o Estado (governo federal, estadual e municipal) e a sociedade civil, visto que, a população deve participar nas decisões e na construção dos espaços que ocupam. Importante também é a abordagem de Heller e Rezende (2013), na qual o planejamento não constitui um ato neutro. A matriz ideológica e os objetivos a serem alcançados não são ditados pelos métodos, mas sim pela visão dos que o orientam. Ressalta-se que o planejamento não deve ser somente de cunho administrativo e de natureza burocrática, ele deve ser compreendido como mecanismo de mobilização e articulação dos diferentes agentes sociais na construção do espaço geográfico. Percebe-se nas três abordagens que o planejamento é uma atividade que certamente envolve pensar o futuro a partir de um conjunto de decisões coordenadas sob a direção de estratégias bem definidas. Sobre isso, Souza e Rodrigues (2004) destacam que o desafio do planejamento é imaginar o futuro, e isso é possível por meio da reflexão e da análise prévias das condições do quadro atual, após isso, podem-se antecipar possíveis desdobramentos de processos. Os estudos sobre planejamento contemplam discussões sobre gestão, planos e programas. Em razão do grande uso efetuado destes termos, torna-se crucial elucidar e estabelecer a diferença existente entre eles que, apesar de diretamente articulados, não são sinônimos. 38 O planejamentodiferencia-se do plano, pois conforme já destacado neste capítulo, é considerado uma forma pela qual os homens prevêem a evolução de um fenômeno ou de um processo. A partir deste conhecimento, o homem procura se precaver contra problemas e dificuldades, ou ainda melhor aproveitar os benefícios (SOUZA, 2008). Em contrapartida, o plano consiste na sistematização da ação que se pretende desenvolver, constituindo um guia para a ação. Matus (1989) diz que o plano é um produto momentâneo de um processo de planejamento. Assim, o plano serve para orientar a ação da equipe que planeja e por mais consistente que seja não garante por si só, a eficácia do planejamento (CINTRA; HADDAD, 1978). Souza (2008) resgata que a partir da segunda metade dos anos 1980 a expressão gestão passou a ser utilizada em diferentes campos do saber como sucedâneo do termo planejamento. Ao explicar a diferença entre planejamento e gestão, o autor argumenta que o planejamento e a gestão não são termos intercambiáveis, por possuírem referenciais temporais distintos e, por tabela, se referirem a diferentes tipos de atividades. Nesse contexto, o planejamento é a preparação para a gestão futura e esta é pautada de forma simplificada no aqui e agora. Dessa maneira, o planejamento e a gestão são atividades diferentes que se relacionam ao horizonte temporal de cada uma, a primeira tem a ver com médios e longos prazos, já a segunda refere-se ao curto prazo (SOUZA, 2008). Para Pontes (2013, p.9), o planejamento é formado por três elementos básicos: planos, programas e ações. Estes dão sustentação a tomada de decisão e a alocação de recurso. Os planos consistem nas diretrizes gerais de governo; os programas correspondem um conjunto de ações decorrentes de um plano e as ações são as atividades, projetos, operações especiais ou ações não orçamentárias de um determinado programa. É importante ressaltar também a evolução do planejamento através de seus diversos modelos. Não se pretende nesta pesquisa explorar e dissertar sobre todas as correntes de planejamento, mesmo porque, como aponta Gandin (2001), é impossível enumerar todos os tipos e níveis de planejamento necessários à atividade humana. 39 Desta forma, serão apresentados, especificamente, o Modelo Normativo, conhecido também como Tradicional, e o Planejamento Estratégico Situacional - PES, pois as condições políticas, econômicas e sociais do Brasil, no final do século XX e início do século XXI, contribuíram para que essas duas correntes fossem amplamente difundidas nas ações de planejamento realizadas ao longo da história político-econômica do país, conforme será evidenciado ainda nesse capítulo. Na América Latina, a partir da década de 1960, o modelo normativo desenvolvimentista de planejamento foi eleito pela Comissão Econômica para a América Latina - CEPAL como o mais adequado para a superação dos problemas latino-americanos (COSTA FILHO, 2010). No Brasil, no período que compreende o pós-guerra (1945) até o fim do regime militar (1985), tem-se um planejamento tradicional que consolida a ideia, entre as elites, do conceito de Estado como único ente capaz de superar os particularismos de uma sociedade desagregada, subdesenvolvida e marginalizada, constituindo num complexo e sutil mecanismo político e social sobre as massas emergentes (TONI, 2002). No planejamento normativo, a atividade de planejar é a especialização de quem domina técnicas quantitativas e define medidas de intervenção supostamente objetivas e imparciais. Nesse cenário, a realidade é tomada de forma estática, submetendo às mudanças planejadas: "Pauta-se por uma lógica economicista e administrativa, baseada na ideia de eficiência na utilização dos recursos disponíveis, ou seja, na otimização da relação benefício/custo" (MATUS, 1984, p.198). Neste tipo de planejamento, conforme o quadro 2, o ator que planeja é o Estado e ele tem o poder absoluto, sendo que, a realidade apresenta comportamentos sociais estáveis e previsíveis. Desta forma, as características do planejamento normativo são A planificação supõe um objeto e um sujeito independentes; o sujeito está colocado fora e acima da realidade, que é um sistema controlável; a planificação procura conhecer a realidade através do diagnóstico; orienta-se pela busca da verdade objetiva, cientifica; só há um único diagnóstico; a realidade apresenta comportamentos sociais estáveis e previsíveis, passíveis de serem estudados através de modelos analíticos ou de causalidade das Ciências Naturais e Biológicas (realidade objetiva); como a planificação admite um único ator e a realidade é objetiva, a única normatividade possível é a econômica; o político é um dado exógeno ou uma mera restrição; o enfoque normativo trabalha com sistemas de final fechado (única chegada e única trajetória) (RIVERA, 1987, p.447). 40 O desprestígio do planejamento tradicional está ligado ao fato de ser identificado como autoritário, tecnocrático e determinista, ou seja, deve-se a impotência para lidar com a complexidade da realidade social, porque foi concebido com princípios deterministas para operar uma realidade incerta e complexa (STRATEGIA CONSULTORES, 2008). Com o fim da ditadura militar (1985), a crise do planejamento tradicional confundiu-se com a própria crise do Estado. A baixa capacidade de enfrentar problemas acabou desvalorizando o planejamento normativo, centralizador e não participativo. A própria Constituição Federal Brasileira de 1988 determinou a participação dos cidadãos na formulação das políticas públicas, contribuindo para o surgimento de novos modelos de planejamento a partir da década de 1980, como, por exemplo, o planejamento estratégico situacional. Foi o chileno Carlos Matus, Ministro da Economia do Governo Allende em 1973, que idealizou o planejamento estratégico Situacional a partir de sua experiência como administrador público e de consultor do Instituto Latino Americano de Planejamento Econômico e Social - ILPES (SILVA; NIERO, et al, 2007). Para o idealizador (1993, p. 13) planejar é [...] tentar submeter o curso dos acontecimentos à vontade humana, não deixar que nos levem e devemos tratar de ser condutores de nosso próprio futuro, trata-se de uma reflexão pela qual o administrador público não pode planejar isoladamente, esta se referindo a um processo social, no qual realiza um ato de reflexão, que deve ser coletivo, ou seja, planeja quem deve atuar como indutor do projeto. O PES (quadro 2) na visão de Matus apresenta uma nova maneira de se desenvolver o planejamento público, ao incluir a questão social no seu foco e considerar a viabilidade política do plano como uma importante variável no processo de planejamento e de sua implementação (HELLER, REZENDE, 2013, p.2). 41 Quadro 2: Características dos modelos de Planejamento Normativo e Planejamento Estratégico Situacional - PES PLANEJAMENTO NORMATIVO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL (PES) O planejamento supõe um sujeito que planeja um "objeto". O "sujeito" é o Estado, e o "objeto" a realidade econômico-social. O sujeito e o objeto planejados são independentes e o primeiro pode "controlar" o segundo. O "sujeito” que planeja está compreendido no "objeto planejado". Por sua vez, o objeto planejado compreende outros sujeitos que também planejam. O sujeito que planeja deve "diagnosticar", previamente, a realidade para conhecê-la. Esse diagnóstico orienta-se para a busca da verdade objetiva e em consequência deve ser único. A cada ator que planeja corresponde um único diagnóstico, um único conceito de tempo e uma verdade única e absoluta. Na realidade coexistem vários atores com capacidades de planejamento diferenciadas. Em consequência há várias explicações da realidade e todas são condicionadas pela inserção de cada atorem tal realidade. Aqui são impossíveis o diagnóstico único e a verdade objetiva. Se o planejamento refere-se à concepção de um "deve ser", então este pode referir-se a um preceito econômico-social correto, que exclui a incerteza e os eventos probabilistas mal-definidos, e no qual o político pode considerar-se como um marco restritivo externo ao plano econômico-social; os "problemas quase estruturados" não existem. A partir do momento em que o planejamento de um ator realiza-se em um meio ativamente resistente e conflitivo com outros atores, o normativo é somente um momento do estratégico e do operacional e, portanto, tudo está carregado de forte incerteza mal definida, em que muitas vezes é impossível enumerar todas as possibilidades e atribuir probabilidades. O plano é produto da capacidade exclusiva do Estado, refere-se a um conjunto de objetivos particulares e no papel tem final fechado, porque a situação final é conhecida, do mesmo modo que os meios para alcançá-la. Dada a certeza dos efeitos causais, tudo se reduz a realizar o plano para alcançar os objetivos. A racionalidade técnica deve impor-se para encontrar a solução ótima dos problemas. O plano não é monopólio do Estado. Qualquer força social luta por objetivos próprios e tem capacidade de fazer o cálculo que precede e preside a ação. Em consequência, existem vários planos em competição ou conflito e o final está aberto a outras possibilidades que não podemos imaginar. Fonte: MOURA. A. Comparação entre modelos de planejamento estratégico que mais se adéquam à gestão pública. Strategia Consultores, 2008. Org.: SILVA, O. C. 201 42 É possível observar no quadro 2 que no PES o sujeito que planeja está compreendido no objeto planejado e este compreende outros sujeitos que também planejam. Desta forma, o planejamento não compete somente ao Estado6. Também Carlos (2011, p.64) reconhece a existência de diferentes sujeitos da produção no planejamento, representados pelo próprio Estado, o industrial, o comércio e o financeiro, o mercado imobiliário e "os sujeitos sociaisque em suas necessidades e seus desejos vinculados à realização da vida humana, têm o espaço como condição, meio e produto de sua ação" (CARLOS, 2011, p.64). Conforme Vasconcellos (2000), o planejamento espacial define a forma como o espaço deve ser ocupado para os diversos fins. Para Barbosa e Júnior (2009), o planejamento está longe de resolver a contento todos os problemas ocorridos no urbano. A sua falta, porém, poderá ser ainda pior à medida que o plano serve como direcionamento das políticas públicas a serem executadas em determinado espaço. De acordo com Silva (2003), o planejamento do espaço surge para combater a crise urbana, fruto do crescimento não planejado. Sobre o papel do espaço nesse cenário, Lefebvre (1979) elucida que além de ser um produto social, e, como tal, criado para ser usado, para ser consumido, o espaço é também um meio de produção; e como meio de produção não pode ser separado das forças produtivas ou da divisão social do trabalho que lhe dá forma. 6 Destaca-se também a presença do Estado como um dos representantes e responsáveis pelo planejamento. Conforme Cintra e Haddad (1978) o planejamento tem raízes históricas na intervenção do Estado, a partir do protecionismo ao capitalismo nascente. Na visão dos autores, o surgimento das crises econômicas e sociais levou o Estado a intervir e a planejar. Sobre a ação do Estado, Gottdinier (1997) ao destacar as idéias de Castells pontua que a intervenção do Estado cumpre inúmeras funções que favorecem os interesses capitalistas. Nesse contexto, o Estado estaria a serviço da classe dominante e, portanto, atenderia somente aos interesses desta classe. Entretanto, Souza e Rodrigues (2004) destacam que apesar do Estado ser regido pelo sistema capitalista, nada impede que o cargo seja ocupado por um governante que atenda aos interesses das classes populares e que valorize a participação popular no planejamento. 43 De maneira geral, no Brasil o PES tem sido aplicado por administrações locais, com o objetivo de realizar o chamado “marketing das cidades”, propiciando condições de competição para a atração de investimentos (SILVA, et al, 2007). Entender essas duas correntes é fundamental para compreender o planejamento no Brasil em diferentes contextos políticos e econômicos. Desta forma, considera-se importante tecer algumas considerações sobre o planejamento no Brasil e em Minas Gerais. Os anos 1950 podem ser vistos no Brasil como o momento áureo do planejamento governamental. Nessa fase o peso do Estado e, nele, o peso do planejamento propriamente dito adquire um caráter mais presente e permanente, ainda que exageradamente discricionário (CARDOSO JR., 2011). 1.2 - Considerações sobre planejamento no Brasil e Minas Gerais No Brasil, de acordo com Cintra e Haddad (1978), pode-se entender o planejamento governamental a partir de três fases distintas (quadro 3). A primeira refere-se aos anos de 1950 a 1979, nesse período o Brasil experimenta um sistema de planejamento complexo e abrangente. A segunda fase abrange de 1980 a 1995 e é caracterizada pelo descrédito do planejamento em função das graves crises econômicas e políticas. Nos anos de 1996 a 2015 tem-se a terceira fase onde o planejamento volta a ser retomado e pensado numa perspectiva de políticas de longo prazo. É sabido, portanto, que diversos planos fizeram parte do planejamento governamental nesse período, como destacado no quadro 3. 44 Quadro 3: Planos de Desenvolvimento do Brasil (1950 - 2007) Planos Período Fases Governo Plano Salte 1950 – 1951 1º fase Gaspar Dutra Plano de metas 1956 – 1961 1º fase Juscelino Kubitchek Plano trienal 1963 – 1964 1º fase João Goulart Plano de ação econômica do Governo 1964 – 1967 1º fase Marechal Castello Branco Plano Decenal de desenvolvimento econômico e social 1967 1º fase Marechal Castello Branco Orçamento Plurianual de Investimentos 1968 – 1970 1º fase Costa e Silva Programa Estratégico de desenvolvimento 1968 – 1970 1º fase Costa e Silva Plano de Metas e Bases para Ação de governo 1970 – 1973 1º fase General Emílio Médici I Plano Nacional de Desenvolvimento 1972 – 1974 1º fase General Emílio Médici II Plano Nacional de Desenvolvimento 1975 – 1979 1º fase Ernesto Geisel III Plano Nacional de Desenvolvimento 1980 – 1985 2°fase João Batista Figueiredo I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República 1986 – 1989 2°fase José Sarney Plano de Ação Governamental 1987 – 1991 2°fase José Sarney I Plano Plurianual 1991 – 1995 2°fase Fernando Color II Plano Plurianual - Brasil em Ação 1996 – 1999 3°fase Fernando Henrique Cardoso III Plano Plurianual - Avança Brasil 2000 – 2003 3°fase Fernando H. Cardoso IV Plano Plurianual Plano Brasil de Todos 2004 – 2007 3°fase Luiz Inácio Lula da Silva PAC I - Programa de Aceleração do Crescimento I 2007- 2011 3°fase Luiz Inácio Lula da Silva PAC II - Programa de Aceleração do Crescimento II 2011- 2014 3°fase Dilma Rousseff Fonte: REZENDE, F. 2009. Org.: Silva, O. C, 2015 Conforme demonstrado no quadro 3, é a partir da década de 1950 que o Brasil destaca- se pelos planos nacionais. Para Cintra e Haddad (1978, p.90) é na segunda metade dessa década que o Brasil está "relativamente preparado para dar o passo decisivo de (conclusão) 45 planejar a economia, coordenando as ações governamentais e as do setor privado através de objetivos, diretrizes e medidas pré-definidas em um plano". Observa-se ainda que os planos são comuns no planejamento brasileiro. Nessa perspectiva, cada governo criou seus planos e colocou em destaque as áreas que consideravam
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