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F R E N T E 2 141 Uma parte da água presente nos oceanos e na terra sofre evaporação. O vapor sofre condensação e ocorre precipitação sobre os oceanos e sobre a terra (continentes e ilhas). A precipitação se dá na forma de chuva, neve ou gelo (granizo). Em algumas regiões, é muito importante o orvalho, que deixa água líquida na superfície do solo. A precipitação que ocorre sobre a terra tem os seguintes destinos: uma parte da água escoa sobre a superfície e flui em direção a lagos, rios e oceanos; outra parte infiltra-se no solo e acumula-se nos lençóis freáticos. A água dos lençóis freáticos pode aflorar, contribuindo para a formação de lagos e rios. A água da terra flui em direção aos oceanos pelos rios, pela superfície do solo e pelo fluxo da água subterrânea (Fig. 12). As plantas retiram água pelas raízes. A água é trans- portada até as folhas pelos vasos condutores de seiva e é utilizada na fotossíntese e na transpiração. Transpiração vegetal é a perda de água na forma de vapor para o ar. Eva- potranspiração é a totalidade do vapor lançado na atmosfera pelos processos de evaporação e de transpiração. Animais obtêm água bebendo-a e consumindo alimentos, que sem- pre têm algum teor de água. Existem processos metabólicos que geram água, como a respiração celular. Animais perdem água pela respiração pulmonar, pelo suor, pelas fezes e pela urina. A água perdida por animais é convertida em vapor, contribuindo para a formação do vapor atmosférico (Fig. 13). Lençol freático Mar Evaporação Transpiração Condensação Precipitação Água doce Afloramento da água Escoamento pela superfície Infiltração no solo Fig. 12 Representação do ciclo da água na natureza. Os seres vivos também participam do ciclo da água pela ingestão de água e pela sua devolução para o meio por processos como excreção e transpiração. Na frente 1 é discutido o papel da água no metabolismo, no qual ela atua como solvente, favorece a ocorrência de reações químicas e realiza transporte de vários materiais (como ocorre no sangue e na seiva). Vapor de água (na atmosfera) Plantas Absorção pelas raízes Ingestão e alimentação Transpiração e respiração Água Animais Perda pulmonar, suor, fezes e urina Fig. 13 Participação dos seres vivos no ciclo da água. Ciclo do carbono O ciclo do carbono passa necessariamente pelo gás car- bônico (CO2), também chamado de dióxido de carbono, que está presente no ar e dissolvido na água. O CO2 é utilizado por produtores nos processos de quimiossíntese ou fotos- síntese, que geram matéria orgânica. Uma parte da matéria orgânica gerada pelos produtores é utilizada em sua respi- ração celular, que libera energia e desprende gás carbônico. Produtores servem de alimento para consumidores. Produtores e consumidores mortos são degradados pelos decompositores. Consumidores liberam gás carbônico por meio da respiração celular. Os decompositores também realizam respiração para obtenção de energia e, com isso, eliminam CO2 no meio. Pode-se empregar o termo decom- posição para indicar a liberação de CO2 efetuada pelos decompositores (Fig. 14). Produtores Combustíveis fósseis (carvão, petróleo) Biocombustíveis (lenha, álcool) Organismos de um passado remoto CO 2 Decompositores Consumidores MO MO = Matéria orgânica Fotossíntese e quimiossíntese Combustão Respiração Fig. 14 Ciclo do carbono na natureza. BIOLOGIA Capítulo 4 Energia e matéria no ecossistema142 Outra parte importante do ciclo do carbono envolve a queima de combustíveis, processo que também libera CO2, utilizado pelos produtores na síntese de matéria orgânica. O aumento de CO2 na atmosfera tem sido apontado como um dos principais fatores de intensificação do efeito estufa e, consequentemente, do aquecimento global. O ciclo do carbono relaciona-se com dois tipos de combustível: os combustíveis fósseis e os biocombustíveis. Combustíveis fósseis, como o carvão mineral e o petróleo, originaram-se de organismos que viveram há milhões de anos e que não foram totalmente decompostos após a sua morte. Alguns desses organismos, enquanto vivos, realiza- ram fotossíntese, ou seja, retiraram CO2 do ambiente e, com o auxílio de energia luminosa, produziram matéria orgânica que, após transformações, gerou algum tipo de combus- tível fóssil. Seres vivos, como plantas (principalmente do grupo das pteridófitas), geraram carvão mineral, enquanto organismos do plâncton, em mares rasos, deram origem ao petróleo. O processo detalhado da formação de carvão mineral e de petróleo é descrito em Química orgânica e em Geografia. Combustíveis fósseis são recursos não re- nováveis, pois seu consumo ocorre de modo mais rápido do que sua formação. Seu uso atual envolve apenas o des- prendimento de CO2 pela combustão. A retirada de CO2 do ambiente ocorreu há milhões de anos pelos produtores que originaram esses combustíveis. Nos últimos cem anos, o emprego de combustíveis fósseis foi o principal fator de aumento dos níveis de CO2 na atmosfera. Os biocombustíveis (como a lenha e o álcool) são de- rivados de biomassa proveniente de organismos atuais. A lenha é derivada de plantas, e o álcool é produzido a partir da fermentação do açúcar (de cana, por exemplo). A energia dos biocombustíveis origina-se da fotossínte- se, convertendo CO2, água e luz em energia química da matéria orgânica. Os combustíveis (combustíveis fósseis e biocombustíveis) são provenientes da matéria orgânica produzida pela fotossíntese, ou seja, em última análise, são produtos da conversão da luz solar em energia química. Biocombustíveis são recursos renováveis, ou seja, sua reposição pela natureza ocorre em pouco tempo. O ser humano interfere na geração de biocombustíveis efetuan- do o plantio dos vegetais que lhes dão origem. Seu uso envolve desprendimento de CO2 (pela sua combustão), mas também há a retirada desse gás durante o desenvolvimento das plantas empregadas em sua produção. Isso propicia alguma contribuição para o controle da concentração de gás carbônico na atmosfera. As queimadas fazem parte do ciclo do carbono, pois há liberação de gás carbônico com a queima das florestas e plantações. Além de provocarem diversos transtornos ambientais (erosão do solo, risco à biodiversidade), são responsáveis pela maior parte da emissão de CO2 no Brasil. Ciclo do nitrogênio Na natureza, o nitrogênio encontra-se na forma inor- gânica (amônia, gás nitrogênio, nitrito e nitrato) e na forma orgânica (aminoácidos, bases nitrogenadas). O ciclo do nitrogênio é repleto de detalhes. A seguir serão descritos os aspectos mais gerais desse ciclo. Mais detalhes serão abordados no Texto Complementar. Nutrição, síntese, excreção e decomposição Plantas e outros produtores sintetizam substâncias orgânicas nitrogenadas (como aminoácidos e bases nitro- genadas) por meio de substâncias inorgânicas retiradas do ambiente, como a amônia (NH3), o nitrito (NO2 – ) e o nitrato (NO3 – ). O nitrato é o mais abundante; a amônia normalmen- te encontra-se na forma de íon amônio (NH4 + ). As plantas realizam, principalmente, a absorção de nitrato e de amônio do solo pelas suas raízes. Esses materiais são utilizados na produção de substâncias nitrogenadas: os aminoácidos, empregados na síntese de proteínas, e as bases nitroge- nadas, utilizadas na síntese de ATP e de ácidos nucleicos (DNA e RNA). Os animais obtêm substâncias orgânicas nitrogenadas pela nutrição, de origem animal ou vegetal. O organismo dos animais apresenta nitrogênio sob a forma de subs- tâncias inorgânicas (como a amônia) e orgânicas, como aminoácidos, proteínas, DNA, RNA e ATP. A amônia é produ- zida como resíduo do metabolismo celular e é uma excreta nitrogenada. Há animais que eliminam outros resíduos nitro- genados, como ureia ou ácido úrico. No ambiente, a ureia e o ácido úrico são convertidos em amônia pela atuação de bactérias decompositoras (Fig. 15). Ureia Animais: têm Excreção Ácido úrico NH 4 + NH 4 + Produtores: síntese de Aminoácidos/Proteínas Bases nitrogenadas ATP DNA RNA 3 NO− Nutrição AbsorçãoAminoácidos Proteínas Bases nitrogenadas ATP DNA RNA Fig. 15 Plantas retiram materiais inorgânicos nitrogenados do solo e produzem substâncias orgânicas nitrogenadas, as quais são empregadas na alimentação de animais. A excreção animal libera substâncias nitrogenadas que podem ser utilizadas pelas plantas. F R E N T E 2 143 Amonificação e nitrificação Quando animais (consumidores) e produtores morrem, eles são atacados por decompositores, que degradam a matéria orgânica e a convertem em matéria inorgânica, como CO2 e NH3. A produção de amônia por meio da de- composição é o processo denominado amonificação. Essa amônia fica disponível no solo e pode ser empregada pe- los produtores na síntese de compostos nitrogenados. No entanto, a maior parte da amônia é utilizada por bactérias quimiossintetizantes, conhecidas genericamente por bac- térias nitrificantes. Essas bactérias convertem amônia em nitrato (o processo é denominado nitrificação); com isso, liberam energia, utilizada na produção de matéria orgânica na quimiossíntese (Fig. 16). As bactérias fixadoras de nitrogênio incluem algumas cianobactérias e outras bactérias, como os rizóbios. Elas convertem N2 em amônia, que é utilizada na síntese de compostos nitrogenados, como aminoácidos. Muitas cia- nobactérias fixadoras vivem em meio aquático ou em solos úmidos, como em certas regiões da Ásia, contribuindo para a elevada produção dos arrozais em vários países (Fig. 18). Excr eçã o Nutrição Com quimiossíntese Nitrificação Amonificação 3 NO − NH 3 NH 3 Absorção Produtores Bactérias nitrificantes Decompositores Consumidores Fig. 16 A amônia gerada na excreção e na amonificação é utilizada na nitrificação, processo que produz nitrato. Fixação de nitrogênio e desnitrificação O gás nitrogênio (N2) é o mais abundante da atmosfe- ra. Bactérias desnitrificantes convertem o nitrato em gás nitrogênio, no processo conhecido como desnitrificação. Essas bactérias são encontradas em locais pobres em gás oxigênio, como pântanos e grandes profundezas do oceano. O gás nitrogênio não é utilizado por plantas nem por animais em seu metabolismo. Algumas bactérias reali- zam a fixação biológica de nitrogênio, que é convertido em amônia. As bactérias que realizam esse processo são genericamente denominadas bactérias fixadoras de ni- trogênio (Fig. 17). Desnitrificação Fixação biológica 3 NO − NH 3 N 2 atmosférico Bactérias desnitrificantes Bactérias fixadoras de nitrogênio Fig. 17 O nitrogênio atmosférico gerado na desnitrificação é convertido em amônia pela fixação biológica. Decompositores Consumidores Produtores Bactérias desnitrificantes Bactérias nitrificantes NO3 – NH3N2 Bactérias fixadoras Excreção Fig. 18 Aspectos principais do ciclo do nitrogênio na natureza. Os rizóbios (principalmente do gênero Rhizobium) vivem associados a raízes de leguminosas (feijão, soja, ervilha, lentilha, pau-brasil). Essas bactérias invadem a raiz de uma leguminosa e se multiplicam no interior de célu- las, provocando a formação de um nódulo (uma dilatação) com grande quantidade delas (Fig. 19). A relação entre a leguminosa e os rizóbios é do tipo mutualismo, uma relação obrigatória em que as duas espécies são benefi- ciadas, pois a bactéria obtém abrigo e alimento orgânico, enquanto a planta recebe um suprimento de compostos nitrogenados necessários ao seu metabolismo. O solo onde a leguminosa se desenvolve também se torna rico em substâncias nitrogenadas, beneficiando outras plan- tas nas proximidades. Assim, o plantio de leguminosas é benéfico para o solo, pois abrigam em suas raízes bacté- rias fixadoras de nitrogênio, que enriquecem o solo com compostos nitrogenados. Fig. 19 Foto da raiz de uma leguminosa com nódulos repletos de rizóbios. As le- guminosas são empregadas em técnicas agrícolas que enriquecem o solo com compostos nitrogenados, como a adubação verde e a rotação de culturas. J e re m y K e m p /W ik ip e d ia BIOLOGIA Capítulo 4 Energia e matéria no ecossistema144 1 Quais são os três principais níveis tróficos de uma teia alimentar? 2 Cite os três tipos de pirâmides ecológicas. Qual delas nunca é invertida? 3 O que é peso seco? 4 Que tipo de ambiente pode ter pirâmide de biomassa invertida? Quais são os componentes do nível trófico dos pro- dutores e do nível de consumidores primários nesse ambiente? 5 Ao longo da cadeia alimentar ocorrem perdas de energia. Cite os dois principais modos de perdas energéticas na cadeia alimentar. 6 O ciclo da água envolve a participação do vapor de água. Na natureza, quais são os processos principais de formação de vapor e de sua conversão em água líquida? 7 Onde se encontra a maior parte da água do planeta? Determinado terreno pode ter o plantio de leguminosas com outra cultura (um cereal, por exemplo). Quando uma leguminosa e a outra variedade de planta forem cultivadas juntas, tem-se um processo de adubação denominado adu- bação verde. Caso a leguminosa e a outra variedade de planta sejam cultivadas em períodos diferentes, o processo é denominado rotação de cultura. Outras modalidades de fixação de nitrogênio Existem duas outras modalidades de fixação do ni- trogênio: a fixação atmosférica e a fixação industrial. Na fixação atmosférica, ocorre a reação entre gás oxigênio e gás nitrogênio, com a presença de grande quantidade de energia, liberada quando há raios ou faíscas elétricas; dessa maneira, forma-se o nitrato, que pode ser levado à superfície da terra pela chuva. A fixação industrial tem como principal caminho a sín- tese de Haber-Bosch, processo que utiliza gás hidrogênio e gás nitrogênio submetidos à alta temperatura (450 °C) e elevada pressão (200 atm) para a formação de amônia. 3H2 + N2 → 2NH3 A amônia pode ser empregada na produção de ferti- lizantes, produtos de limpeza (amoníaco), ácido nítrico e outros (Fig. 20). Revisando Fixação biológica e industrial Fixação atmosférica NH3 NO3 – Fig. 20 Modalidades de fixação de nitrogênio.
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