Buscar

Cuidador informal

Prévia do material em texto

1/4
Cuidador informal
Quem é o cuidador informal?
O cuidador informal é a pessoa não profissional que presta apoio no cuidado físico e gestão da
doença complexa (como por exemplo, doença oncológica, quadros demenciais) a outra pessoa doente
e dependente. É ainda possível distinguir três tipos de cuidadores: os cuidadores de idosos, os
cuidadores de crianças e jovens, e os cuidadores idosos de idosos.
A evolução da ciência e, particularmente, os cuidados prestados na medicina permitiram que muitas
doenças crónicas pudessem ter o seu devido acompanhamento não só em ambiente hospitalar, mas
também no próprio contexto familiar. As famílias passaram a ser “palcos” centrais nos cuidados
prestados ao doente, desempenhando um papel ativo e complementar à equipa médica. A verdade é
que as responsabilidades dos cuidadores informais têm aumentado significativamente, onde na Europa,
80% dos cuidados são prestados por familiares.
Os desafios do cuidador informal
Em contexto familiar, diversos membros podem desempenhar o papel de cuidador. Contudo, o cuidador
informal destaca-se pela maior responsabilidade que adquire e lhe é atribuída, quer ao nível das
funções desempenhadas, quer ao nível do tempo que despende no desempenho deste papel. O
cuidador informal depara-se, assim, com múltiplos desafios e responsabilidades, nomeadamente
2/4
colaborar com a equipa médica, de modo a garantir a continuidade dos cuidados no domicílio, e saber
identificar e interpretar sintomas no doente por forma a providenciar suporte físico e emocional.
Ademais, mudanças no sentido de identidade são sentidas pelo cuidador, vendo agora o seu papel
principal de progenitor(a), cônjuge e/ou filho(a) transformado no “título” de cuidador(a). Tais
transformações, aliadas às próprias funções desempenhadas e expectativas depositadas por terceiros,
acarretam em algumas circunstâncias grande sobrecarga física e emocional para o cuidador informal.
Embora todas as experiências de cuidar sejam distintas, a verdade é que a tarefa de cuidar do outro
pode ser extremamente desafiante, onde as responsabilidades diárias potenciam estados de
ansiedade permanentes, alterando o bem-estar do cuidador e a sua perceção de qualidade de vida. Tal
poderá levar ao desenvolvimento de perturbações psicológicas ou exacerbar condições pré-existentes,
assim como potenciar o desenvolvimento de perturbações de sono (tipicamente as insónias) e
alterações na saúde física. É também importante não esquecer as alterações financeiras que a tarefa de
cuidar acarreta – onde muitos cuidadores deixam os seus contextos profissionais -, assim como a
diminuição dos momentos de lazer por parte do cuidador, levando este progressivamente a um estado
de maior isolamento social.
As consequências físicas e emocionais no cuidador terão inevitavelmente impacto na sua capacidade
de prestar cuidados ao elemento doente, parecendo, assim, que a relação entre cuidador e cuidado se
influência mutuamente. Mais do que o grau de parentesco com a pessoa cuidada, parece estar a
qualidade de relacionamento estabelecida ao longo do tempo, emergindo como uma variável também
influente no processo de cuidar. É fundamental debruçar o nosso olhar no cuidador informal, garantindo
também a sua integridade física e psicológica.
O estatuto do cuidador informal
A 6 de Setembro de 2019 a Assembleia da República define o estatuto do cuidador informal (Lei nº
100/2019), regulando um conjunto de direitos e deveres do cuidador e da pessoa cuidada. Ao nível dos
deveres do cuidador informal, destaca-se a importância do mesmo respeitar os interesses da pessoa
cuidada, prestando o apoio e os cuidados necessários ao doente (cuidados básicos de alimentação,
higiene, saúde e emocionais), sempre em articulação e com orientação de profissionais da saúde;
garantir o acompanhamento necessário ao bem-estar global da pessoa cuidada, de modo a contribuir
para a melhoria da qualidade de vida da pessoa cuidada e potenciar a sua capacidade funcional e
3/4
autonomia. É, assim, fundamental que o cuidador informal potencie um ambiente seguro, confortável e
tranquilo à pessoa cuidada.
Já no que diz respeito aos direitos do cuidador informal, destacam-se diversos pontos, como ver o seu
papel reconhecido no desempenho e manutenção do bem-estar da pessoa cuidada; ter direito a
acompanhamento e formação para o desenvolvimento das suas capacidades, adquirindo competências
para a prestação adequada dos cuidados de saúde à pessoa cuidada; usufruir de apoio psicológico
sempre que necessário, e mesmo após a morte da pessoa cuidada; e beneficiar de períodos de
descanso que visem promover o seu bem-estar e equilíbrio emocional.
Sobrecarga física e emocional nos cuidadores
Denota-se mais uma vez a importância de prestar atenção às necessidades dos cuidadores informais,
podendo estes revelar sinais que alertam para uma possível sobrecarga física e emocional,
nomeadamente:
Revelar progressivamente desmotivação no desempenho da tarefa de cuidar;
Manifestar ou ver aumentado problemas de natureza física e/ou psicológica;
Demonstrar com mais facilidade falta de paciência e afeto negativo na relação com a pessoa
cuidada;
Revelar um maior isolamento social;
Abdicar de atividades pessoais de lazer;
Experienciar sentimentos de baixa autoestima e confiança, pondo em causa as próprias
competências para desempenhar o seu papel de cuidador.
Como cuidar de quem cuida?
Cuidar de quem cuida é fundamental. Algumas medidas são importantes para garantir as
necessidades psicossociais do cuidador:
Proporcionar um diálogo constante com a equipa médica, que vise esclarecer dúvidas e obter
ferramentas essenciais no cuidar, reforçando o sentido e competência no seu papel de cuidador;
Procurar grupos de apoio e suporte, de modo a promover a partilha de experiências;
Incentivar o cuidador informal a procurar fontes de lazer, momentos de relaxamento, como forma
de reduzir o stresse e obter satisfação;
Conservar as suas relações sociais, evitando o isolamento e solicitando o apoio de outras figuras,
como familiares ou amigos, de modo a alternar a prestação de cuidados e responsabilidades;
Reconhecer as próprias limitações e necessidades, procurando ajuda profissional sempre que
necessário.
4/4
Autor: Dra. Ana Teixeira, Psicóloga (NOPP 23550).
Data da última revisão: 13/01/2021

Continue navegando