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BIOLOGIA Capítulo 20 Movimentos vegetais e fotoperiodismo130 Movimentos vegetais Plantas e algas apresentam movimentos em algumas de suas estruturas. Esses movimentos podem ser desencadea- dos por estímulos ambientais e permitem que o organismo se adapte de acordo com determinada situação. Dentre os movimentos vegetais, podem ser citadas a natação do antero- zoide de uma samambaia em direção à oosfera – relacionada ao processo de reprodução, que assegura a continuidade da espécie – e a inclinação de uma planta em direção à luz – que possibilita maior eficácia na realização de fotossíntese. Há três tipos fundamentais de movimentos vegetais: tac- tismo, tropismo e nastismo. Tactismo Tactismo corresponde ao deslocamento do organismo (ou de alguma estrutura) em meio líquido. É o caso do anterozoide, que nada orientado por substâncias químicas desprendidas pela oosfera; é o que se denomina quimio- tactismo. Já quando uma alga unicelular nada em direção à luz, ocorre o chamado fototactismo (Fig. 1). Arquegônio Anterozoide Oosfera Núcleo Flagelo Luz Fig. 1 Tactismos. No alto, quimiotactismo: anterozoide deslocando-se em direção à oosfera. Embaixo, fototactismo: alga deslocando-se em direção à luz. Tropismo Tropismo é um movimento irreversível que depende da origem do estímulo e que envolve o crescimento de uma estrutura. Há quatro tipos principais de tropismos, classifica- dos em função do estímulo que desencadeia sua ocorrência. • Quimiotropismo É desencadeado por estímulo químico, como o que ocorre quando raízes crescem em busca de água ou de nutrientes minerais no solo. Também ocorre quando o tubo polínico cresce até o óvulo Ele alonga-se em direção ao óvulo, estimulado por substâncias químicas, sem sofrer re- tração posteriormente (Fig. 2) Óvulo Tubo polínico Grão de pólen Fig. 2 Quimiotropismo: tubo polínico crescendo em direção ao óvulo. • Tigmotropismo É determinado por estímulos mecânicos, como o que ocor- re em uma trepadeira, estimulada pelo contato com um suporte no qual enrola seu caule. Algumas plantas têm também gavi- nhas, como o maracujazeiro, a videira e o chuchuzeiro (Fig. 3); essas estruturas provenientes de folhas modificadas enrolam-se em um suporte, o que permite a sustentação da planta nele. Fig. 3 Tigmotropismo: trepadeiras e gavinhas se enroscando em suportes. • Gravitropismo Esse movimento também é conhecido como geotro- pismo e se relaciona com o estímulo da gravidade sobre as plantas. Uma planta jovem, colocada horizontalmente em um ambiente escuro, apresentará curvatura da raiz para baixo e do caule para cima A raiz tem gravitropismo posi- tivo, isto é, cresce no mesmo sentido da gravidade; o caule apresenta gravitropismo negativo, tendo crescimento em sentido contrário ao da gravidade. O gravitropismo é determinado pela distribuição de auxina, transportada do ápice do caule em direção ao ápice da raiz. No entanto, quando a planta é mantida em posição horizontal, ocorre acúmulo de auxina em sua face inferior. No caule, a elevada concentração de auxina estimula o cresci mento, fazendo com que o caule apresente curvatura para cima.Na raiz, a concentração alta de auxina provoca inibição do crescimento; assim, é a face oposta (superior) que apresenta maior crescimento, fazendo com que a raiz cresça para baixo (Fig. 4). M ik e fo to D re a m s ti m e .c o m F ra n k V in c e n tz /W ik im e d ia C o m m o n s F R E N T E 2 131 Se uma planta for colocada horizontalmente, mas sendo mantida em rotação, não apresentará curvatura para cima nem para baixo A rotação não permite que ocorra distribuição desigual de auxina, não se observando nenhum gravitropismo. Fig. 4 Geotropismo ou gravitropismo. Uma planta na posição horizontal tem auxina acumulada em sua face inferior; o caule volta-se para cima (gravitropismo negativo), e a raiz volta-se para baixo (gravitropismo positivo). • Fototropismo Quando o caule e a raiz são expostos à iluminação em uma das faces, há crescimento do caule em direção à luz (fototropismo positivo) e da raiz na direção oposta (fototropismo negativo). No caso do caule, a curvatura é de terminada pelo maior crescimento da parte não iluminada; na raiz, é a parte iluminada que cresce mais O movimento desses órgãos envolve o fluxo de auxina, que é sintetizada na extremidade do caule. Com a exposição do ápice do caule à luz, ocorre desvio de auxina para a face não ilu minada, e o hormônio permanece nessa face até atingir a extremidade da raiz No caule, a elevada concentração de auxina estimula o crescimento, e ele tem curvatura em di reção à luz Na raiz, a concentração alta de auxina provoca inibição; é a face oposta (iluminada) que apresenta maior crescimento, e a raiz cresce com afastamento da luz (Fig 5) O ápice do caule é a região que apresenta sensibili dade à luz e na qual se dá o desvio de auxina; caules cuja ponta foi encoberta ou removida não têm desvio de auxina e não apresentam curvatura Fig. 5 Fototropismo. Em uma planta iluminada em uma das faces, a luz promove deslocamento de auxina para o lado não iluminado. O caule inclina-se para a luz (fototropismo positivo), e a raiz afasta-se da luz (fototropismo negativo). Crescimento normal Crescimento inibido Lado iluminado Lado não iluminado (acúmulo de auxina) Vale salientar o exemplo de movimentação do girassol (Helianthus sp.). Essa planta tem um movimento muito com- plexo, denominado heliotropismo, um tipo de fototropismo, no qual ela movimenta sua inflorescência acompanhando a movimentação do Sol. Nastismo Nastismo, também denominado nastia, é um movi- mento reversível que não envolve deslocamento e que não depende da origem do estímulo. A abertura e o fechamento dos estômatos ilustram bem esse tipo de mo- vimento. A abertura da estrutura ocorre quando uma planta tem boa disponibilidade de água no solo e há presença de luz; seu fechamento ocorre no escuro. A questão é que a abertura do estômato depende da presença de luz, não importando de onde ela vem, ou seja, é estimulada pela claridade. Esse movimento é denominado fotonastismo (Fig. 6). Estôm to abe to Estômato fechado K+ Água entra K+Água sai Epiderme Célula-guarda Ostíolo Fig 6 Fotonastismo em estômatos; a luz favorece a abertura do estômato, e a falta de luz promove seu fechamento. Crescimento normal Planta colocada na horizontal Crescimento inibido (Acúmulo de auxina) Crescimento estimulado (Acúmulo de auxina) Caule Raiz BIOLOGIA Capítulo 20 Movimentos vegetais e fotoperiodismo132 Outro caso de nastismo ocorre com a planta conhecida como onze-horas, que abre suas flores nas horas mais ilu minadas do dia e as fecha quando a luz se torna mais fraca Muitas leguminosas também apresentam nastismo. As folhas de um pé de feijão, por exemplo, ficam levantadas durante o dia e abaixadas durante a noite (Fig 7). Na base de seus pecíolos estão localizados os pulvinos, estruturas que contêm células com teor variável de água A estrutura de um pulvino é complexa: quando sua parte inferior ganha água (fica túrgida), provoca a elevação das folhas; ao perder água, desencadeia o abaixamento da folha O ganho de água é determinado pela entrada de íons K+ por transporte ativo, elevando sua pressão osmótica Os ciclos de repetição, en- volvendo dia e noite, são responsáveis por esse tipo de movimento, conhecido como nictinastismo Fig. 7 Nictinastismo: as folhas de leguminosas ficam elevadas durante o dia e abaixadas durante a noite. A planta conhecida como dormideira, ou sensiti- va (Mimosa pudica), é dotada de folhas constituídas por vários folíolos; há pulvinos na base da folha e na base de cada um de seus folíolos. Variações na turgescên- cia dessas estruturas permitem sua elevação ou seu abaixamento (Fig. 8). Um grande abalo em um ramo de sensitiva pode provocar o fechamento de vários folíolos. É chamado de seismonastismo o movimento que ocorre longe do ponto de origem do estímulo. Fig. 8 Seismonastismo em dormideira. Um estímulo aplicado em uma parte daplanta (como no ápice da folha) provoca efeito em um ponto distante (como na base da folha). A planta carnívora Dionaea sp tem folhas com ca- pacidade de abertura e de fechamento, possibilitando a captura de pequenos animais (Fig 9) Esse movimento, estimulado pelo contato com o animal, é denominado tigmonastismo. Fig. 9 Tigmonastismo em planta carnívora. O contato com um animal desencadeia o fechamento das folhas da planta. Fotoperiodismo Ocorrem muitas alterações no ambiente de acordo com as estações do ano; entre elas, a umidade, a temperatura e a duração do dia (horas de claridade). As plantas podem apresentar modificações diante das mudanças das estações, como a queda das folhas, a produção de flores, a formação de frutos etc. Um dos estímulos mais importantes para as plantas nas mudanças das estações é a variação no fotoperíodo, isto é, a quantidade de horas diárias de iluminação. Outono e inverno têm fotoperíodos curtos, com dias curtos e noites longas. Primavera e verão têm fotoperíodos longos, com dias longos e noites curtas (Fig. 10). Dias longos Noites curtas Outono Inverno Dias curtos Noites longas Primavera Verão Fig. 10 Variação do fotoperíodo nas estações. S te n P o rs e /W ik im e d ia C o m m o n s S te n P o rs e /W ik im e d ia C o m m o n s M o n ip h o to | D re a m s ti m e .c o m S te fa n o Z u c c h in a li/ W ik im e d ia C o m m o n s