Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
F R E N T E 2 163 b O romance Senhora tem traços realistas, em vir- tude de pôr no centro da trama um ser venal e inferior, como Fernando Seixas. c Seus livros abrangem a totalidade brasileira no tempo, pois vão desde as origens coloniais até a contemporaneidade do século XIX. d Os heróis pícaros que criou, em seu aparente cinis- mo, apenas se defendem numa sociedade injusta, repleta de vilões encasacados. E Em Lucíola, obra que apresenta o drama de uma mulher, o final não é feliz, pois a protagonista era uma prostituta. 6 Fuvest 2019 O povo que chupa o caju, a manga, o cam- bucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera? José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos d’ouro. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha matiza- da, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as tintas de que matiza o algodão. José de Alencar. Iracema. Glossário: “ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: tipo de palmeira espinhosa. Com base nos trechos acima, é adequado armar: A Para Alencar, a literatura brasileira deveria ser ca- paz de representar os valores nacionais com o mesmo espírito do europeu que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera. b Ao discutir, no primeiro trecho, a importação de ideias e costumes, Alencar propõe uma literatura baseada no abrasileiramento da língua portuguesa, como se verifica no segundo trecho. c O contraste entre os verbos “chupar” e “sorver”, em- pregados no primeiro trecho, revela o rebaixamento de linguagem buscado pelo escritor em Iracema. d Em Iracema, a construção de uma literatura exótica, tal como se verifica no segundo trecho, pautou-se pela recusa de nossos elementos naturais. E (Ambos os trechos são representativos da tendên- cia escapista de nosso romantismo, na medida em que valorizam os elementos naturais em detrimen- to da realidade rotineira. 7 Enem 2012 “Ele era o inimigo do rei”, nas palavras de seu biógrafo, Lira Neto. Ou, ainda, “um romancista que colecio- nava desafetos, azucrinava D. Pedro II e acabou inventando o Brasil”. Assim era José de Alencar (1829-1877), o conhecido autor de O guarani e Iracema, tido como o pai do roman- ce no Brasil. Além de criar clássicos da literatura brasileira com temas nativistas, indianistas e históricos, ele foi também folhetinista, diretor de jornal, autor de peças de teatro, advo- gado, deputado federal e até ministro da Justiça. Para ajudar na descoberta das múltiplas facetas dessa personagem do século XIX, parte de seu acervo inédito será digitalizada. História Viva. n. 99, 2011. Com base no texto, que trata do papel do escritor José de Alencar e da futura digitalização de sua obra, depreende-se que A a digitalização dos textos é importante para que os leitores possam compreender seus romances. b o conhecido autor de O guarani e Iracema foi im- portante porque deixou uma vasta obra literária com temática atemporal. c a divulgação das obras de José de Alencar, por meio da digitalização, demonstra sua importância para a história do Brasil Imperial. d a digitalização dos textos de José de Alencar terá importante papel na preservação da memória lin- guística e da identidade nacional. E o grande romancista José de Alencar é importante porque se destacou por sua temática indianista. 8 UEM 2013 Assinale o que for orreto sobre Iracema e sobre seu autor, José de Alencar. 01 Exemplar do romance indianista, Iracema apre- senta características marcantes desse tipo de produção literária, tal como o destaque dado à natureza, ou a apresentação do indígena como protagonista, ainda que essa apresentação seja idealizada. 02 Em Iracema, o nascimento de Moacir, filho da per- sonagem-título e de Martim, representa a fusão do povo brasileiro e do europeu. Todavia, o significado do nome da criança, “filho da dor”, aponta para as dificuldades inerentes a semelhante fusão. 04 No final do romance, a adoção por parte de Martim de um nome indígena, bem como seu ato de rene- gar sua origem europeia representam uma visão recorrente na obra de Alencar, segundo a qual, na fusão dos povos, o elemento autóctone assume, ao fim, a posição preponderante. 08 Em função da valorização do elemento nacional, Iracema constitui um exemplo de como a proposta do indianismo brasileiro afastou-se de qualquer modelo europeu, uma vez que a recuperação de um ancestral mítico e formador não encontra pa- ralelo em literatura alguma da Europa. 16 No que concerne ao foco narrativo, o fato de Iracema apresentar uma narrativa somente em primeira pes- soa (toda a história é contada a partir do ponto de vista da personagem Moacir, já velho) destaca a subjetividade romântica que perpassa toda a obra de Alencar. Soma: 9 UEM 2015 Assinale o que for correto sobre Iracema, sobre a obra de seu autor, José de Alencar, e sobre o Romantismo brasileiro. 01 Em consonância com as propostas da primeira ge- ração romântica brasileira, Iracema envereda por uma temática nacionalista, utilizando a figura do nativo indígena como um dos elementos funda- mentais para essa ideia de nação. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 6 Romantismo: prosa164 02 Iracema segue um modelo de simplicidade nar- rativa presente em outros romances indianistas, como em O Uraguai, de Santa Rita Durão, e em Caramuru, de Basílio da Gama. O resultado é um texto objetivo, destituído de lirismo. 04 O romance indianista foi apenas uma das facetas da produção de José de Alencar, que também possui, como obras representativas, romances de temática urbana, dentre os quais se encontram Lucíola e Senhora. 08 O poeta José de Alencar produziu pelo menos uma obra paradigmática do ultrarromantismo: a peça de teatro O navio negreiro. Ficou marcado por ter transitado pela geração condoreira ao compor o poema Canção do exílio. 16 O Romantismo brasileiro, em função de sua varie- dade de autores e tendências, teve duração de mais de dois séculos, partindo das décadas finais do século XVIII e chegando ao início do século XX, com autores como Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto. Soma: 10 UEM 2018 Leia o fragmento retirado do romance Irace- ma, de José de Alencar, e assinale o que for orreto sobre o fragmento, sobre a obra a que ele pertence, so- bre seu autor e o Romantismo. “— Ele veio, pai. — Veio bem. É Tupã que traz o hóspede à cabana de Araquém. Assim dizendo, o Pajé passou o cachimbo ao estran- geiro; e entraram ambos na cabana. O mancebo sentou-se na rede principal, suspensa no centro da habitação. Iracema acendeu o fogo da hospitalidade; e trouxe o que havia de provisões para satisfazer a fome e a sede: trouxe o resto da caça, a farinha-d’água, os frutos silvestres, os favos de mel, o vinho de caju e ananás. [...] Quando o guerreiro terminou a refeição, o velho Pajé apagou o cachimbo e falou: — Vieste? — Vim – respondeu o desconhecido. — Bem-vindo sejas. O estrangeiro é senhor na cabana de Araquém. [...] Se queres dormir, desçam sobre ti os sonhos alegres; se queres falar, teu hóspede escuta. O estrangeiro disse: — Sou dos guerreiros brancos, que levantaram a taba nas margens do Jaguaribe, perto do mar, onde habitam os pitiguaras, inimigos de tua nação. Meu nome é Martim, que na tua língua quer dizer filho de guerreiro; meu san- gue, o do grande povo que primeiro viu as terras de tua pátria. [...] Há três sóis partimos para a caça; e perdido dos meus, vim aos campos dos tabajaras. — Foi algum mau espírito da floresta que cegou o guerreiro branco no escuro da mata – respondeu o an- cião. A cauã piou, além, na extrema do vale. Caía a noite.” ALENCAR, J. Iracema; Cinco minutos. São Paulo: Martin Claret, 2011. p. 36-37. 01 O romance a que pertence o fragmento acima apresenta a lenda da fundação do Ceará e, por extensão, da nação brasileira. Isso ocorre por meio da união de Iracema,a índia que dá nome à obra, e Martim, o colonizador português. 02 O romance está repleto de referências (idealizadas à moda romântica) ao processo de conquista do Brasil pelos portugueses. Um exemplo é a cena transcrita, em que o Pajé tabajara abre as portas de sua cabana para o colonizador, sem oferecer resistência. 04 Ao acender “o fogo da hospitalidade”, conforme o trecho transcrito, Iracema, que antes já havia que- brado – em um gesto de arrependimento e desejo de selar a paz – a “flecha homicida” que disparara contra o guerreiro branco, se oferece (e oferece seu povo) simbolicamente, sem resistência, à co- lonização europeia. 08 Moacir, o filho da dor, nascido da união entre Irace- ma e Martim e, portanto, da índia brasileira com o colonizador branco português, simboliza o primei- ro brasileiro. No entanto, pouco tempo após seu nascimento, a mãe morre, imersa na solidão e no abandono, e Moacir é criado e educado pelo pai, de modo que a cultura tabajara acaba esquecida. 16 O romance é narrado em primeira pessoa, pela narradora protagonista. Trata-se de uma estraté- gia narrativa amplamente utilizada pelos escritores românticos, de tendência indianista, com o obje- tivo de dar voz ao índio que, historicamente, fora silenciado em favor da perspectiva do colonizador português. Soma: 11 UPF 2016 Em Senhora, de José de Alencar, pode-se observar que o autor emprega, de modo recorren- te, ao longo da narrativa, uma linguagem para sustentar certo grau de diante do tema central do romance, o casamento por dinheiro. Assinale a alternativa cujas informações preenchem orretamente as lacunas do enunciado. A jurídica/hermetismo. b jornalística/imparcialidade. c metafórica/idealização. d jornalística/sensacionalismo. E metafórica/realismo. 12 ITA 2014 Em uma passagem do romance Lucíola, de José de Alencar, Lúcia e Paulo vão a uma praia em Ni- terói, local onde ela passou a infância. Podemos armar que esta cena A reforça a percepção de que, para o Romantismo, o amor não é possível no meio urbano, mas apenas no meio natural. b acentua a diferença entre a violência urbana e a paz que reina no meio natural. c mostra a praia como cenário perfeito para Lúcia contar a Paulo como foi obrigada a se prostituir. F R E N T E 2 165 d faz Lúcia voltar a ser criança por um momento, revelando que, apesar de se prostituir, mantém o caráter puro e ingênuo. E é apenas um bom exemplo do gosto romântico pela natureza brasileira e pela cor local. 13 Fuvest 2013 V – O samba À direita do terreiro, adumbra-se na escuridão um maci- ço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento. [...] É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas. Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. 7Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudar-se. Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. [...] José de Alencar, Til. Adumbra-se: delineia-se, esboça-se. Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que A a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na Améri- ca do Norte e no Caribe, foi branda. b se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vi- gilância, que festejassem a seu modo. c teve início nas fazendas de café o sincretismo das culturas negra e branca, que viria a caracterizar a cultura brasileira. d o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista disfarçado. E foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da mão de obra escrava nos cafezais paulistas. 14 ITA 2019 Senhora, de José de Alencar, é uma obra re- presentativa do Romantismo porque apresenta A um par romântico que, para se casar, enfrenta a ri- validade de suas famílias. b personagens masculinas cuja retidão de caráter é sempre inabalável. c importantes cenários naturais, circunscritos ao am- biente urbano. d o protagonista moldado irreversivelmente pela educação e pelo meio social. E uma protagonista virtuosa e movida sobretudo pelo sentimento amoroso. 15 UPF 2019 Sobre o romance Lucíola, de José de Alencar, apenas é inorreto afirmar que A destaca-se, na narrativa, a oscilação de Lúcia entre dois polos opostos, a pureza e o vício. b o amor de Paulo estimula em Lúcia, que fora prostituída em sua juventude, o desejo de regenerar-se e de cul- tivar os germes de virtude que conservara no coração. c a castidade desenvolve-se na busca gradativa da simplicidade, do contato com a natureza e do afas- tamento, por parte da heroína, em relação ao luxo e à sofisticação. d Lúcia é influenciada pelas normas vigentes, mes- mo consciente das causas sociais da prostituição, assumindo-a como um erro seu e renunciando à paixão sensual. E Paulo opõe-se frontalmente às convenções sociais e assume uma relação amorosa com a heroína, sem preocupar-se com sua própria reputação e com seu futuro profissional. 16 UEL 2019 Leia a seguir o fragmento retirado da obra O demônio familiar, de José de Alencar. CENA XIII - Alfredo, Azevedo Alfredo – É raro encontrá-lo agora, Sr. Azevedo. Já não aparece nos bailes, nos teatros. Azevedo – Estou-me habituando à existência monó- tona da família. Alfredo – Monótona? Azevedo – Sim. Um piano que toca; duas ou três moças que falam de modas; alguns velhos que dissertam sobre a carestia dos gêneros alimentícios e a diminuição do peso do pão; eis um verdadeiro tableau de família no Rio de Janeiro. Se fosse pintor faria um primeiro prix au Conservatoire des Arts. Alfredo – E havia de ser um belo quadro, estou certo; mais belo sem dúvida do que uma cena de salão. Azevedo – Ora, meu caro, no salão tudo é vida; en- quanto que aqui, se não fosse essa menina que realmente é espirituosa, D. Carlotinha, que faríamos, senão dormir e abrir a boca? Alfredo – É verdade; aqui dorme-se, porém sonha-se com a felicidade; no salão vive-se, mas a vida é uma bem triste realidade. Em vez de um piano há uma rabeca; as moças não falam de modas, mas falam de bailes; os ve- lhos não dissertam sobre a carestia, mas ocupam-se com a política. Que diz deste quadro, Sr. Azevedo, não acha que também vale a pena de ser desenhado por um hábil artista, para a nossa “Academia de Belas-Artes”? Azevedo – A nossa “Academia de Belas-Artes”? Pois temos isto aqui no Rio? Alfredo – Ignorava? Azevedo – Uma caricatura, naturalmente... Não há arte em nosso país. Alfredo – A arte existe, Sr. Azevedo, o que não existe é o amor dela. Azevedo – Sim, faltam os artistas. Alfredo – Faltam os homens que os compreendam; e sobram aqueles que só acreditam e estimam o que vem do estrangeiro.
Compartilhar