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História - Livro 1-085-087

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Mesmo com a pressão metropolitana, a febre pela busca
do ouro não diminuiu entre as populações Em 1709, já
havia aproximadamente 30 mil pessoas divididas em, ba-
sicamente, três regiões mineiras: mais ao norte, na região
do Rio das Mortes; na região do Rio das Velhas; e nas
proximidades de Vila Rica (hoje Ouro Preto) Estabeleciam-se
arraiais, núcleos de povoamento cuja fusão deu origem às
principais cidades da região de Minas Gerais, entre elas Vila
Rica, Sabará e São João d’El Rei
Ao mesmo tempo que a mineração ganhava protagonis-
mo econômico, a região mineradora atraía um contingente
cada vez maior de indivíduos e ia condicionando toda uma
série de atividades aos seus interesses e necessidades Em
função da mineração, estabeleceu-se um vasto comércio
para abastecer a região, não apenas de mantimentos, mas
também de escravizados. Da mesma forma, desenvolveu-se
a atividade pecuária no centro-sul voltada para a região que
hoje é Minas Gerais
Com isso, acentuaram-se os problemas de abasteci-
mento no restante da Colônia, agravando a crise que vinha
se arrastando desde meados do século anterior Da mesma
forma, a extrema dependência da região mineradora em
relação aos produtos de outras regiões conferia-lhe condi-
ção de centro polarizador da atividade econômica, servindo
como elemento de integração entre as várias regiões do
Brasil Desse modo, é natural que a economia interna tenha
se diversificado, gerando o surgimento de mercado volta-
do ao abastecimento interno, contando, inclusive, com a
disponibilidade maior de capitais.
Os diamantes
A descoberta de diamantes no Arraial do Tijuco, po-
voado situado às margens do Rio das Velhas, em 1729,
causou novo furor entre a população e fez com que a Coroa
portuguesa tomasse uma série de medidas.
Fig. 3 Carlos Julião. Lavagem de diamantes em Serro Frio. c. 1770. Os escravi-
zados eram vigiados durante a faiscação de diamantes para que nenhum deles
tentasse esconder as preciosas gemas.
Diferentemente do ouro, o qual era encontrado numa
vasta região, inviabilizando o monopólio régio da extração,
os diamantes foram achados apenas no Arraial do Tijuco.
Além disso, o valor unitário das pedras era imenso, o que
significaria uma dispersão excessiva de recursos para a
Coroa, se esta permitisse a livre extração.
Assim, os diamantes foram declarados estanco régio,
ou seja, monopólio da Coroa na extração. O Arraial do Ti-
juco foi cercado, sendo criado o Distrito Diamantino. Os
direitos de exploração foram repassados a particulares, os
chamados contratadores, os quais pagavam, um pesado
valor inicial pela concessão, altas taxas de capitação, além
de 50% do valor obtido à Coroa. Entre os contratadores, o
mais famoso foi João Fernandes, que acabou sendo apri-
sionado em função da sonegação sistemática dos impostos
devidos à Coroa.
Declínio da atividade mineradora
A mineração teve seu período de apogeu entre 1740 e
1770 A partir daí, as técnicas rudimentares de obtenção do
ouro e dos diamantes, bem como o próprio esgotamento das
jazidas, levou a prática à sua decadência Com isso, acen
tuou-se o quadro de crise interna, ao qual se somou um furor
fiscalista português, que buscava, com a elevação dos im
postos, compensar a queda na sua arrecadação. Com esse
objetivo foi estabelecida a derrama, cobrança forçada dos
quintos atrasados por meio do uso do Exército (o Regi-
mento dos Dragões, guarda criada especialmente para
a região das minas), inclusive com o confisco de riquezas
como pagamento pelas dívidas dos mineradores.
A combinação desses dois elementos a crise econô
mica e a ampliação da fiscalização portuguesa foi decisiva
para intensificar o sentimento antimetropolitano, levando à
Inconfidência Mineira, em 1789, e a uma série de movimen
tos de constestação que se seguem a ela.
Fig. 4 Carlos Julião. Mina de diamantes, c. 1770.
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HISTÓRIA Capítulo 4 O século XVIII86
Transformações a partir da segunda
metade do século XVII
A crise portuguesa e o “arrocho colonial”
A crise que se instalou em Portugal após o domínio
espanhol, levou o país a uma situação de maior dependên-
cia externa e endividamento, notadamente em relação à
Inglaterra. Como o Brasil era a principal fonte de recursos
da Coroa portuguesa, essa crise motivou uma prática sen-
sivelmente mais opressiva, em relação à Colônia, desde a
Restauração, em 1640.
Essa prática, que se manifestou em um primeiro
momento pela criação do Conselho Ultramarino, das com-
panhias monopolistas de comércio e da pressão maior
contra a escravização indígena, atingiu seu apogeu durante
o século XVIII.
Duas razões fundamentais concorreram para isso. Por
um lado, a ampliação da dependência e do endividamento
com a Inglaterra, principalmente depois da assinatura do
Tratado de Methuen, em 1703. Este tratado, também co-
nhecido como Tratado dos Panos e Vinhos, estabelecia
uma reciprocidade de taxas alfandegárias entre Portugal
e Inglaterra, na importação, pela Inglaterra, do vinho por-
tuguês, e por Portugal, dos tecidos ingleses.
O que parece, à primeira vista, um mero compromisso
comercial, acabou revelando-se ruinoso para a economia
portuguesa. Já estamos em um momento que antecede
imediatamente à Revolução Industrial inglesa, no qual a In-
glaterra já contava com uma vasta produção manufatureira
a preços consideravelmente mais baixos que seus simila-
res portugueses. A entrada de quantidades gigantescas de
manufaturados ingleses em Portugal, pagando taxas alfande-
gárias baixíssimas e, portanto, sendo vendidos a baixo custo
no país, destruiu a incipiente manufatura portuguesa. Ao mes-
mo tempo, o acordo condenava Portugal a investir no único
produto para o qual haveria um mercado externo, o vinho,
de valores muito mais baixos e importado pela Inglaterra em
quantidades infinitamente menores Assim, a economia por
tuguesa viu-se num quadro de total desequilíbrio na balança
de pagamentos, acentuando o endividamento e obrigando a
Coroa a buscar todas as fontes de recursos possíveis
Por outro lado, o início do século XVIII é também o pe-
ríodo da descoberta do ouro, e, mais tarde, dos diamantes
no Brasil Não por acaso, a Coroa voltou-se sobre essa nova
riqueza como a tábua de salvação para suas combalidas
finanças Esse processo encontrou seu apogeu a partir do
reinado de D. José I (1750-1777), principalmente em função
da obra de seu primeiro ministro, Sebastião José Carvalho
e Melo, o Marquês de Pombal.
O governo pombalino
Não se pode desvincular a figura de Pombal de todas
as transformações culturais e políticas que a Europa vinha
vivenciando na segunda metade do século XVIII, exatamen-
te o período de seu governo.
Estava inserido na crise do Antigo Regime e do Sistema
Colonial e sujeito à característica mais marcante da vida
política do período: o início de uma ampla reação política,
social e cultural ao conjunto das características que mar
caram a vida europeia na Idade Moderna.
Essa reação deu origem a uma nova forma de ver o
mundo, um novo conjunto de ideias, uma série de novos
valores políticos, sociais e culturais, uma nova atitude in-
telectual perante os fenômenos que ocorriam no mundo.
Esse amplo movimento intelectual e filosófico trazia, ao
lado da luta por liberdade política (negando, portanto, o
absolutismo), liberdade econômica e igualdade social, a
preocupação em exaltar a razão como único guia para o
conhecimento, negando o predomínio da fé. Por se con-
siderarem as luzes do conhecimento em oposição ao
obscurantismo da fé, esses novos filósofos deram ao mo-
vimento o nome de Ilustração ou Iluminismo.
Embora se constituíssem em uma clara reação ao ab
solutismo, as ideias iluministas chegaram a ser empregadas
por governantes europeus, os quais buscavam dessa ma-
neira modernizar seus governos, incorporando ideias de
racionalidade administrativa, ênfase ao ensino técnico etc.,
sem abrir mão de seu poder absoluto. A essesgovernantes
absolutistas que se utilizam de alguns princípios do Ilumi
nismo, deu-se o nome de déspotas esclarecidos.
Pombal foi o principal símbolo do despotismo esclareci-
do, ou, como pode ser também conhecido, do Reformismo
Ilustrado em Portugal. Formado na França, na mesma tra-
dição que gerou nomes como Voltaire, Montesquieu e
Rousseau, Pombal, nomeado ministro pelo rei D. José I,
empreendeu toda uma série de reformas com o objetivo
de modernizar o reino, impedir a dispersão de recursos,
centralizar a administração e reduzir o abismo que separava
Portugal das potências europeias.
Assim, em relação ao Brasil, Pombal extinguiu defini
tivamente as capitanias hereditárias (com o objetivo de
centralizar a administração), reunificou a Colônia, transfe-
riu a capital para o Rio de Janeiro (para facilitar o controle
sobre o envio do ouro para Portugal), extinguiu a escravi-
dão indígena (forma de ampliar o tráfico negreiro, fonte de
lucros para Portugal) e instituiu a derrama, para ampliar a
arrecadação de impostos com a mineração.
Fig. 5 Louis-Michel van Loo, Claude Joseph Vernet, António Joaquim Padrão, João
Silvério Carpinetti. Retrato do Marquês de Pombal, 1766. Óleo sobre tela. Museu de
Lisboa, Portugal. Na imagem, os livros e mapas simbolizam a erudição e os navios
representam a importância do controle do império ultramarino de Portugal.
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Em uma atitude controversa, Pombal entrou em atrito
com os jesuítas, por motivos variados. Os jesuítas gozavam
de ampla autonomia dentro de Portugal e do Brasil, quase
um “Estado dentro do Estado”, o que contrariava os prin-
cípios centralizadores da administração pombalina. Além
disso, acumulavam imensas riquezas, cujo confisco per-
mitiria um maior equilíbrio das finanças do governo. Outra
razão se encontrava no quase monopólio exercido pelos
jesuítas sobre a educação, o que se contrapunha à tentativa
de Pombal de ampliar o ensino técnico.
Acusando os jesuítas de participação em um atentado
contra o rei, Pombal expulsou a ordem de Portugal e, mais
tarde, do Brasil.
Com a morte de D. José, Pombal deixou o cargo. Gran-
de parte de sua obra foi sumariamente eliminada a partir daí,
com o retorno dos jesuítas durante o reinado de D. Maria I.
Consequências e transformações trazidas
pela mineração
O século XVIII conheceu profundas modificações na
vida colonial, as quais tiveram como agente propulsor a
principal atividade do período, a mineração
Com efeito, essa atividade exigia condições bastante
diferentes daquelas em que se encontrava o Brasil até o
século XVII
A atividade mineradora foi, antes de mais nada, res
ponsável por uma penetração definitiva da colonização
em direção ao interior Mais que isso, ao atingir áreas além
de Tordesilhas, levou à expansão territorial Proporcionou,
também, um maior volume de capitais na Colônia (apesar
do volume acentuado de impostos que incidiam sobre a
mineração), além de uma ampliação do mercado interno.
A necessidade do abastecimento das regiões mi
neradoras levou ao desenvolvimento do comércio e ao
surgimento de cidades, as quais se transformaram em po-
los de maior diversificação social
Fig 6 Thomas Ender Mineiros numa venda, século XIX Fundação J. M. Salles
A mineração teve como um de seus principais efeitos o desenvolvimento do co-
mércio local.
Com tudo isso, uma nova elite formou se no país, a
qual, muito mais ligada à diversificação gerada pela vida
urbana, apresentou uma preocupação cultural maior. Fo-
ram os filhos dessa elite que, ao estudarem na Europa,
trouxeram para cá as novas ideias de liberdade, sendo
diretamente responsáveis não apenas pela ampliação da
atividade cultural na Colônia, mas principalmente pela
base intelectual da luta que começava a se travar contra
o domínio metropolitano.
O Renascimento Agrícola
O nome empregado para o período que se segue à
crise da mineração no Brasil é Renascimento Agrícola.
Trata-se de uma denominação altamente imprecisa, dado
que a agricultura jamais deixara de ser uma atividade fun-
damental na Colônia. O açúcar, por exemplo, mesmo com
sua decadência, continuou sendo um produto gerador de
riquezas por meio da exportação.
Assim, o termo deve ser entendido no sentido de a
agricultura ter voltado a atrair os principais investimentos e
se constituir novamente em centro da atividade econômica.
Além do declínio da mineração, vários fatores interna-
cionais contribuíram para esse renascimento agrícola no
Brasil. Nesse contexto, o da Revolução Industrial, a Inglater-
ra teve ampliada de forma brutal sua produção de tecidos,
necessitando, portanto, de fontes de matéria-prima. Além
disso, eclodiu a Guerra de Independência dos Estados
Unidos ou, mais precisamente, das Treze Colônias que,
após a independência, dariam origem aos EUA.
Durante a guerra, as relações entre a Inglaterra e suas
antigas colônias foram rompidas. Assim, a Inglaterra viu-se
privada quando mais necessitava delas para o cultivo da
matéria-prima fundamental à sua indústria, o algodão. Abria-
-se, com isso, um mercado para a produção do algodão
no Brasil, a qual se estendeu por várias regiões brasileiras,
principalmente o Maranhão.
Outro cultivo relacionado à Revolução Agrícola é o do
tabaco, em função do aumento do hábito de fumar na Euro-
pa, sendo que o produto também era largamente utilizado
no escambo de escravizados nas feitorias do litoral da África.
O cacau também teve sua produção aumentada, dei-
xando, assim, de ser um produto meramente extrativista e
passando a ser plantado em vastas regiões no sul da Bahia.
Por fim, o açúcar, o qual jamais havia deixado de ser
o principal produto agrícola brasileiro, teve sua produção
largamente ampliada no final do século XVIII. As razões
para essa isso ligam-se às revoltas de escravizados nas
Antilhas, as quais levaram à diminuição da produção na
região, o que permitiu aos brasileiros novamente o domínio
do mercado europeu.
As revoltas nativistas
A partir do século XVII, teve início, no Brasil, a ocorrên-
cia de movimentos de contestação ao domínio português
e ao aumento da opressão metropolitana. Esses movimen-
tos atestaram uma característica inerente à colonização, a
existência de interesses diferentes, por vezes antagônicos,
entre metrópole e colônia.
Tais diferenças estavam ligadas às necessidades da me-
trópole, a qual tinha na colônia um instrumento para o seu
enriquecimento. Assim, mecanismos típicos da colonização,
como impostos, monopólio comercial, restrições a práticas
econômicas, levaram necessariamente a reações de des-
contentamento entre os colonos atingidos por tais medidas.
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