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HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica: o mundo greco-romano154 O Período Clássico (séculos V e IV a.C.) As profundas transformações geradas pelo comércio em Atenas trouxeram, ao mesmo tempo, estabilidade polí- tica e social (por meio da reforma de Clístenes) e expansão econômica, a qual gerou uma agressiva política imperialista com o objetivo de garantir a posse dos mercados externos. Um palco fundamental para o comércio ateniense eram as cidades da Ásia Menor, que serão responsáveis pela eclosão do conflito que assinala a passagem da Grécia para o Período Clássico. No capítulo anterior você estudou a evolução históri- ca dos persas e viu que eles iniciaram, sob o reinado de Ciro I, uma expansão, a qual atingiu seu apogeu durante o reinado de Dario I. Foi nesse período que, ao estender seus domínios sobre a Ásia Menor, Dario entrou em choque com o imperialismo ateniense na região, o que conduziu às Guerras Médicas O conflito teve origem no ano de 496 a.C., quando as cidades gregas da Jônia, lideradas pela cidade de Mileto e apoiadas militarmente por Atenas, rebelaram-se contra o domí- nio persa. A consequência foi a destruição de Mileto (494 a.C.), a conquista persa da Trácia e da Macedônia (492 a.C.) e a exigência de submissão da Grécia, recusada por Atenas e Esparta A recusa levou a uma guerra na qual as atenções persas concentraram-se, inicialmente, sobre Atenas Atenas foi o alvo do primeiro ataque persa, em 490 a.C , quando os persas procuraram desembarcar na planície da Maratona, distante cerca de 42 quilômetros da cidade grega em questão. Ainda que lutando isolados (as demais cida- des gregas recusaram qualquer auxílio militar a Atenas), os atenienses conseguiram derrotar os persas, causando-lhes perdas tão drásticas que eles foram obrigados a estabelecer uma trégua por dez anos Esse período de trégua foi decisivo para a consolidação do poderio ateniense e de sua liderança sobre as demais cidades gregas. O maior poderio populacional, econômico e militar de Atenas levou-a a estabelecer uma aliança, da qual era líder, com as demais cidades, também alvos em potencial do expansionismo persa. Constituiu-se um pacto entre várias cidades gregas, Esparta inclusive, para uma ação comum contra o futuro ataque persa Esse pacto in- cluía o apoio militar e financeiro para a construção de uma frota capaz de enfrentar os invasores Sob o comando de Xerxes I, os persas fizeram a mais séria tentativa de conquistar a Grécia. Contando com o apoio de outras cidades como Cartago, que atacava as cidades da Magna Grécia, um enorme exército invadiu a Grécia continental, apoiado por uma armada gigantesca para os padrões da época. No ano de 480 a.C., um exército basicamente espartano, comandado pelo rei de Esparta, Leônidas, foi aniquilado no desfiladeiro das Termópilas. Ao mesmo tempo, a Ática era invadida e parte de Atenas, incendiada. Entretanto, a surpreendente vitória naval ate- niense sobre os persas na Batalha de Salamina aniquilou a frota persa, cortando os suprimentos do exército. Com isso, no ano seguinte, o exército persa foi derrotado em Plateia pelas forças combinadas de Atenas e Esparta, enquanto a vitória de Micale permitiu a Atenas assegurar o controle naval do Egeu e dos estratégicos estreitos que levavam ao Mar Negro (Ponto Euxino). Estava anulado o perigo persa. Entretanto, o imperia- lismo ateniense viveria a partir dali seu período áureo. Ao mesmo tempo que Esparta e outras cidades do Peloponeso voltaram a ocupar-se de seus assuntos internos, Atenas e várias cidades-Estados com interesses marítimos reuniram- -se, em 476 a.C., na Confederação de Delos, uma liga na qual cada cidade contribuía com embarcações, soldados e/ou dinheiro. A Confederação desencadeou uma ofensiva geral contra as áreas litorâneas do Império Persa, que cul- minou, em 468 a.C., com a grande vitória grega na foz do Rio Eurimedonte. Em 448 a.C., pela Paz de Címon, ou Paz de Cálias, os persas reconheceram a hegemonia grega no Mar Egeu. A ofensiva contra o Império Persa dinamizou a economia de Atenas, a cidade mais importante da Confe- deração, e assegurou sua liderança sobre o mundo grego. A hegemonia de Atenas: o século de Péricles A supremacia econômica, militar e populacional de Atenas sobre as cidades-membras da Liga de Delos, fez com que a Liga se transformasse no instrumento do impe- rialismo ateniense. Já em 450 a.C., o tesouro da Liga, fruto de contribuições de todas as cidades, foi transferido para Atenas, sintetizando a preponderância que esta passaria a deter sobre a Liga. Mais que isso, utilizando seu poderio militar, Atenas passou a interferir nas questões internas das cidades aliadas. As cidades que quiseram retirar-se foram obrigados a permanecer pela força, sujeitos ao pagamento de pesado tributo. Colônias de cidadãos atenienses foram instaladas em seus territórios, e as cidades que se revol- taram, como Naxos e Tasos, foram totalmente destruídas para servir de exemplo às demais. T w o s p o o n fu ls /W ik im e d ia C o m m o n s Fig. 5 Frisa do Partenon celebrando uma passagem das Guerras Médicas. Os recursos gerados pela Liga, com os tributos pagos pelas cidades-membras, foram utilizados para a recons- trução de Atenas, para sua prosperidade e mesmo para o aprimoramento de seu regime democrático. O apogeu ateniense ocorreu sob o governo de Péricles (444-429 a.C.), que aperfeiçoou o sistema democrático da cidade, instituindo o pagamento pelo desempenho das fun- ções públicas, o que permitiu que mesmo as camadas de renda mais baixa participassem amplamente do governo de Atenas A cidade passou por um grande programa de F R E N T E 2 155 construção de obras públicas, destinadas tanto a embele- zá-la, a exemplo do templo em homenagem à deusa Atena, o Partenon, quanto a reforçar suas defesas, como as longas muralhas que a cercavam e ligavam-na a seu porto, o Pireu. No mesmo período, a presença dos maiores intelectuais da Grécia, como o poeta Sófocles, o historiador Heródoto, os filósofos Anaxágoras e Sócrates e o escultor Fídias, fez de Atenas a Escola da Grécia. Fig. 6 Péricles, governante ateniense na chamada Era de Ouro de Atenas. J a s tr o w /W ik ip e d ia Grande parte da intensa produção cultural e intelectual da cidade era possibilitada pelas subvenções dadas pelo governo, com a criação de teatros e escolas e a instituição de prêmios em dinheiro para obras artísticas e intelectuais. Naturalmente, o imperialismo ateniense gerava reações das demais cidades, as quais tenderam a se organizar sob a proteção e liderança de Esparta em uma liga denominada Confederação do Peloponeso, dividindo a Grécia em dois blocos rivais. Em 432 a.C., a cidade de Corinto, até então aliada de Esparta, rebelou-se contra ela, recebendo ajuda de Ate- nas, que estava interessada em expandir sua influência no Mar Jônio. A reação espartana, imediata, resultou em uma guerra entre as duas Confederações das cidades, a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.). Após dez anos de guerra em que Esparta era vitoriosa em terra e Atenas dominava os mares, resultando em uma situação de equilíbrio, estabeleceu-se uma trégua de cin quenta anos, a Paz de Nícias. Em 413a.C., Atenas rompeu a trégua, tentando tomar a cidade de Siracusa, na Sicília. A expedição à Sicília foi um desastre absoluto: a frota foi perdida e dezenas de milhares de atenienses foram apri- sionados e escravizados. As hostilidades prosseguiram com sucessivas derrotas de Atenas, até a vitória definitiva de Esparta na Batalha de Egos-Pótamos (404a.C.). A vitória espartana significou o fim da hegemonia de Atenas e o início da hegemonia de Esparta sobre o mundo grego. Significou também o início da decadência grega. O desgaste gerado pela derrota foi de tal ordem que mesmo a cidade vitoriosa saiu da guerra enfraquecida. Nas pala- vras da historiadora francesa Jeanne Romilly, a Guerra do Peloponeso foi o “suicídio coletivo das cidades gregas”. O Império de Alexandre SOGDIANA BACTRIANA ARACÓSIA PÁRTIA GERDÓSIA CARMÂNIA PÉRSIA MÉDIAARMÊNIA ASSÍRIA SÍRIA BITÍNIA FRÍGIA CAPADÓCIA GRÉCIA M E SO P O TÂ M IA ARÁBIA EGITO LÍBIA ÍNDIA Samarcanda Pagas Alexandria de Margiana Alexandria do Cáucaso Taxila Niceia Alexandria Alexandria da Ária Alexandria Porto de Alexandria Patala Alexandria Zadracarta Hecatômpilos Ragas Ecbátana Susa Pasárgada Persépolis Babilônia Arbela Gaugamelos Nínive Nísibis Chalibon Issos Alexandria de Issos Damasco Jerusalém Sidon Tiro Gaza Mênfis Paretônio Alexandria Patara Mileto Éfeso Sardes Ílion (Troia) Ancira Heracleia Sinope Bizâncio Apolônia Pela Atenas Tebas Corinto EPIRO Creta Chipre M ac ed ônia Mar Mediterrâneo Mar Negro M a r V e rm e lh o M a r d e A ra l G o lfo Pérsico Mar Cáspio Estados autônomos, aliados da Macedônia Macedônia na época do advento de Alexandre, 336 a.C. Império de Alexandre Itinerário de Alexandre Cidades fundadas por Alexandre 0 ESCALA 460 km HISTÓRIA Capítulo 3 A Antiguidade Clássica: o mundo greco-romano156 As hegemonias de Esparta e de Tebas Após a vitória, Esparta procurou reeditar a política imperialista da sua rival, oprimindo as cidades gregas e impondo-lhes governos oligárquicos e guarnições militares. Mais que isso, os espartanos retribuíram aos persas o apoio que haviam recebido deles contra Atenas, entregando-lhes o controle sobre o litoral da Ásia Menor, o que praticamente anulou as conquistas das Guerras Médicas. Apesar das medidas tomadas, o enfraquecimento gera- do pela guerra fez com que a hegemonia de Esparta durasse pouco mais de três décadas. Em 371 a.C., na Batalha de Leutras, os espartanos foram derrotados pelo exército de Tebas, liderado pelos generais Epaminondas e Pelópidas e organizado em uma nova formação tática, a falange. A derrota, aliada a uma grande revolta de hilotas, destruiu o poderio espartano, abrindo caminho para a hegemonia de Tebas. Foi contra essa hegemonia que se manifestaram ate- nienses e espartanos, que, reconciliados, em 362a C , na Batalha de Mantineia, derrotaram os tebanos. Estava finda a hegemonia de Tebas, mas o longo período de guerras havia deixado um efeito drástico: uma Grécia enfraquecida, abrindo caminho para a imposição do domínio macedônico sobre os gregos. A conquista macedônica A Macedônia é uma região situada a nordeste da Gré- cia, cuja evolução sempre fora uma franja do povoamento grego Sua configuração geográfica, marcada pelo isola- mento, exiguidade de terras férteis e falta de acesso direto ao mar, tornou-a um alvo desprezado por todas as cidades imperialistas até então. Foi no governo de FilipeII (357 336a.C.) que a Ma- cedônia iniciou um processo de crescimento interno e expansionismo. FilipeII sobrepôs se à oligarquia domi- nante, centralizando o poder em suas mãos, ao mesmo tempo que investia pesadamente na ampliação do poderio militar. Influenciado pelos tebanos, adotou a organização militar destes, beneficiando-se da conquista da Tessália e de seus cavalos para fortalecer-se ainda mais. Contou, ainda, com o enfraquecimento e com as rivalidades entre as cidades-Estados gregas. A partir de 356a.C., Filipe II inicia sua intervenção nos assuntos gregos, anexando as colônias atenienses do litoral da Trácia. Jogando com a rivalidade entre as cidades-Esta- dos, aumentou progressivamente seu poder, até a grande vitória de Queroneia (338a.C.) sobre os exércitos de Tebas e Atenas, que lhe permitiu submeter toda a Grécia Era apenas o princípio Dirigindo sua hostilidade contra o Império Persa, os macedônios estabeleceram a Liga de Corinto, sob a liderança da Macedônia, na qual as cidades gregas foram obrigadas a entrar Era o fim da Grécia como região independente, situação que se estenderia ao longo de mais de 20 séculos. O Período Helenístico (séculos III-I a.C.) Em 336a.C., morria Filipe II e o poder passava para seu filho, Alexandre Magno. Mesclando uma sólida formação cultural (foi educado em Atenas, tendo Aristóteles como professor) aos dotes de um grande general, Alexandre foi o responsável por consolidar o domínio macedônico sobre a Grécia e expandi-lo consideravelmente. Foi ele quem, após submeter com extrema violência as cidades gregas que haviam se revoltado, liderou as forças mace dônicas e gregas, organizadas na Liga de Corinto, contra o Império Persa, em 334a.C. Suas vitórias permitiram-lhe dominar todo o Império Persa, estendendo-se do Egito ao atual território da Índia, criando o maior império que já existira até então. Estabelecendo uma grande área comercial, Alexandre buscou integrar as vastas áreas de seu Império também através dos casamentos e da imposição da cultura grega. A morte de Alexandre, em 323a.C., acelerou rapidamente o fim do Império Seus generais, diádocos, dividiram-no entre si, divisão essa que os enfraqueceu sensivelmente. Esses domínios, chamados de Reinos Helenísticos, foram conquistados por Roma entre 197 e 31a.C. A cultura grega Poucas civilizações legaram para a posteridade uma herança tão grande quanto a dos gregos. Essa he- rança manifestou se em praticamente todas as áreas da atividade intelectual e artística, influenciando toda a civilização ocidental. Suas concepções de beleza são consideradas clássicas em razão de seu equilíbrio e harmonia. Sua produção literária, no teatro e na poesia, tornou-se padrão de referência universal, bem como seu avanço na Medicina e na Matemática E os gregos devem ser considerados também os criadores da Filosofia e da História. A religião grega era politeísta e antropomórfica, tendo os deuses características físicas e psíquicas idênticas às humanas. As principais divindades, habitantes do Monte Olimpo, eram Zeus, senhor dos deuses; Hera, sua mulher; Ares, deus da guerra; Afrodite, deusa do amor; Apolo, pro- tetor das artes; Ártemis, deusa da caça; Atena, deusa da razão; Hermes, o mensageiro dos deuses; e Dionísio, prote- tor da vindima; além de Hades, guardião do mundo inferior dos mortos, e de Poseidon, deus dos mares Admitiam tam- bém a existência de heróis, pessoas que realizavam feitos extraordinários, igualando-se aos deuses, a exemplo de Teseu, que matou o Minotauro, e de Hércules, que realizou os Doze Trabalhos. Como as lendas que narram as aven- turas de deuses e heróis foram chamadas de mitos, seu conjunto denomina-se mitologia. Apesar da eterna rivalidade entre as pólis gregas, os cultos comuns impunham-lhes uma unidade e períodos de trégua sagrada. O santuário de Delfos, onde o deus Apolo falava pela boca da pitonisa, recebia peregrinos de todo mundo grego, e os jogos olímpicos, realizados na cidade de Olímpia, em homenagem a Zeus, de quatro em quatro anos a partir de 776 a.C., viam atletas de todas as cidades gregas competindo lealmente, sendo sacrilégio molestar os participantes ou os peregrinos. Vindima: colheita da uva.
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