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LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 O Modernismo no Brasil: primeira geração154 Leia o texto para responder à questão 12 Se a Grande Guerra representa ruptura na história das relações culturais entre a Europa e a América Latina, bem mais do que rompê-las brutalmente ela as reconfigura e leva a afirmações identitárias complexas [...]. As referên- cias europeias subsistem [...] mas são agora apenas parte de um todo identitário que bebe em fontes variadas para definir os caracteres da nacionalidade. Deste ponto de vista, a metáfora proposta por Oswald de Andrade em seu Manifesto antropófago, de 1928, é a mais eficaz [...]. “Só me interessa o que não é meu Lei do homem Lei do antropófago.” COMPAGNON, Olivier. O adeus à Europa: A América Latina e a Grande Guerra. Argentina e Brasil, 1914-1939 Carlos Nougué (tradutor) Rio de Janeiro: Rocco, 2014. p. 303 304. 12 PUC-Campinas 2016 A lei do antropófago a que se refere Oswald de Andrade em seu Manifesto tem como centro a A rejeição feroz (“exprobração”) do imperialismo cul tural imposto pelas nações mais desenvolvidas. b assimilação crítica (“deglutição”) dos valores de cul turas estrangeiras que interessem à nacional aceitação integral (“reprodução”) dos valores tri bais em que viviam os silvícolas nas terras virgens d revisão radical (“expiação”) dos valores já radica dos em nossas regiões economicamente frágeis. E acomodação simplória (“ingestão”) das artes primi tivas cultuadas em outros países. 13 UFRGS 2015 Leia a seguir o fragmento, retirado do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, e o poema de Oswald de Andrade. — Não me conhece mais? Sou o general, o Coronel Albernaz. — Ah! É só coroné!... Há quanto tempo! Como está nhã Maricota? — Vai bem. Minha velha, nós queríamos que você nos ensinasse umas cantigas. — Quem sou eu, ioiô! — Ora! Vamos, tia Maria Rita... você não perde nada você não sabe o “Bumba Meu Boi”? — Quá, ioiô, já mi esqueceu. E o “Boi Espácio”? — Cousa veia, do tempo do cativeiro — pra que sô coroné qué sabê disso? Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para dizerem melhor dizem mió Para pior pió Para dizer telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados Considere as seguintes armações sobre os dois textos: I. Os modernistas foram pioneiros na forma de representar a linguagem popular, através da va- lorização do povo como elemento constitutivo da nação brasileira. II O narrador no romance e o sujeito lírico no poema são letrados, mas registram a linguagem popular ao reproduzirem a fala do povo III O romance de Lima Barreto evidencia a impor tância do folclore brasileiro para a constituição da cultura nacional Qual(is) está(ão) correta(s)? A Apenas I. b Apenas II Apenas I e II d Apenas II e III. E I, II e III 14 Imed 2015 Leia a epigrama a seguir: Combinação de cores Verdamarelo Dá azul? Não. Dá azar. (Jacó Pum-pum) “Combinação de Cores” é um exemplo do tom bem- humorado, crítico e sarcástico presente na Revista de Antropofagia, publicada em São Paulo, em 1928 e 1929. Os pseudônimos de seus colaboradores, como Jacó Pum-Pum, Piripipi, Pão de ló, Seminarista Voador, também sinalizam a proposta ousada e irreverente de seus idealizadores Em relação à revista e ao contexto de sua publicação, considere as assertivas a seguir, assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas J Integrada ao movimento modernista, as fases da revista apresentadas como “dentições” são exem- plos da irreverência do grupo, o qual intencionava lançar as bases de um movimento revolucionário literário, social, político e religioso. J Com a revista Klaxon, tal periódico foi um dos princi- pais veículos de divulgação das ideias dos primeiros modernistas de São Paulo J O número de estreia da revista foi inaugurado pelo “Ma- nifesto antropófago”, escrito por Oswald de Andrade A ordem correta de preenchimento das lacunas, de cima para baixo, é: A V-V-V. b V F V F-V-V d F-F-V. E F-F-F 15 Insper 2014 O texto a seguir corresponde ao capítulo 92, chamado “Estelário”, das Memórias sentimentais de João Miramar, obra representativa da primeira fase da literatura modernista brasileira. Coração esperançava o esperançoso Começo claro da noite cidadina Retalhos grandes de nuvens E duas estrelas vivas Trem rolava com minha estrela Bordando a vida fabricadora Do Brás à Luz Rolah estrelava o Hotel Suíço Oswald de Andrade. F R E N T E 2 155 No texto, encontram-se vários traços de inovação es tética, entre os quais NÃO ESTÁ A o emprego constante de regionalismos b a influência das vanguardas europeias. a abolição da pontuação convencional. d a valorização dos neologismos. E o fim das fronteiras entre prosa e poesia. Texto para a próxima questão: Na América Latina do século XX, em incontáveis momentos, a criação artística articulou-se com utopias ou perspectivas de transformação social. Em diferentes contextos, artistas usaram sua produção para corroborar determinados projetos políticos ou consentiram que suas criações fossem apropriadas e sustentadas por movimentos políticos, dentro ou fora do Estado. PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 187-8 16 PUC-Campinas 2017 O Modernismo de 22 compreen deu aspirações utópicas não apenas ligadas ao desempenho artístico, mas também a ideais que po- deriam nortear o futuro do país. Parte dessas aspirações utópicas, vazadas em tom crítico e irônico, encontra-se A no prefácio “Lede”, de Gonçalves de Magalhães. b na “binomia” poética com que se definiu Álvares de Azevedo no capítulo edificante e final de Os sertões, de Euclides da Cunha d na novela A hora e vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. E no polêmico “manifesto da poesia Pau-Brasil”, de Oswald de Andrade. 17 Unesp 2016 Duas fortes motivações converteram-se em molas de composição desta obra: a) por um lado, o desejo de contar e cantar episódios em torno de uma figura lendária que trazia em si os atributos do herói, entendido no senso mais lato possível de um ser entre humano e mítico, que de- sempenha certos papéis, vai em busca de um bem essencial, arrosta perigos, sofre mudanças extraordi- nárias, enfim vence ou malogra ; ) por outro lado, o desejo não menos imperioso de pensar o povo brasileiro, nossa gente, percorrendo as trilhas cruzadas ou superpostas da sua existência selvagem, colonial e moderna, à procura de uma identidade que, de tão plural que é, beira a surpresa e a indeterminação. BOSI, Alfredo. Céu, inferno 2003 (Adapt ) Tal comentário aplica-se à obra A Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida b Vidas secas, de Graciliano Ramos Macunaíma, de Mário de Andrade d Os sertões, de Euclides da Cunha. E Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. 18 Enem 2016 Descobrimento Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De sopetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim, Na escuridão ativa da noite que caiu, Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu ANDRADE, M Poesias completas São Paulo: Edusp, 1987 O poema “Descobrimento”, de Mário de Andrade, marca a postura nacionalista manifestada pelos es- critores modernistas. Recuperando o fato histórico do “descobrimento”, a construção poética problematiza a representação nacional a m de A resgatar o passado indígena brasileiro. b criticar a colonização portuguesa no Brasil. defender a diversidade social e cultural brasileira d promover a integração das diferentes regiões do país. E valorizar a região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros. 19 Enem 2016 O bonde abre a viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém. ANDRADE,M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993. O desenvolvimento das grandes cidades e a con- sequente concentração populacional nos centros urbanos geraram mudanças importantes no compor- tamento dos indivíduos em sociedade No poema de Mário de Andrade, publicado na década de 1940, a vida na metrópole aparece representada pela contra- posição entre A a solidão e a multidão. b a carência e a satisfação. a mobilidade e a lentidão. d a amizade e a indiferença E a mudança e a estagnação. LÍNGUA PORTUGUESA Capítulo 12 O Modernismo no Brasil: primeira geração156 20 Enem PPL 2015 O peru de Natal O nosso primeiro Natal de família, depois da morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi de conse- quências decisivas para a felicidade familiar. Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta, sem crimes, lar sem brigas internas nem graves dificuldades econômicas. Mas, de vido principalmente à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de qualquer lirismo, duma exemplaridade in capaz, acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicidades ma- teriais, um vinho bom, uma estação de águas, aquisição de geladeira, coisas assim Meu pai fora de um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos desmancha-prazeres. ANDRADE, M In: MORICONI, I Os cem melhores contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000 (fragmento). No fragmento do conto de Mário de Andrade, o tom confessional do narrador em primeira pessoa revela uma concepção das relações humanas marcada por A distanciamento de estados de espírito acentuado pelo papel das gerações. b relevância dos festejos religiosos em família na so ciedade moderna preocupação econômica em uma sociedade urba- na em crise. d consumo de bens materiais por parte de jovens, adultos e idosos. E pesar e reação de luto diante da morte de um fa- miliar querido. 21 Enem PPL 2015 Vei, a Sol Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu. Já era de madru- gadinha e o tempo estava inteiramente frio Macunaíma acordou tremendo, todo lambuzado. Assim mesmo exa- minou bem a pedra mirim da ilhota para vê si não havia alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correntinha encantada de prata que indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macu- naíma já meio enjoado de tanto viver pediu pra ela que o carregasse pro céu. Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito. — Vá tomar banho! – ela fez. E foi-se embora. Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a certos imigrantes eu- ropeus ANDRADE, M Macunaíma: o herói sem nenhum caráter Rio de Janeiro: Agir, 2008. O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, inti tulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de Mário de Andrade, pertencente à primeira fase do Modernis- mo brasileiro. Considerando a linguagem empregada pelo narrador, é possível identicar A resquícios do discurso naturalista usado pelos es- critores do século XIX. b ausência de linearidade no tratamento do tempo, recurso comum ao texto narrativo da primeira fase modernista referência à fauna como meio de denunciar o pri- mitivismo e o atraso de algumas regiões do país. d descrição preconceituosa dos tipos popula- res brasileiros, representados por Macunaíma e Caiuanogue E uso da linguagem coloquial e de temáticas do lendário brasileiro como meio de valorização da cultura popular nacional. 22 IFPE 2016 Cartas de meu avô Manuel Bandeira A tarde cai, por demais Erma, úmida e silente A chuva, em gotas glaciais, Chora monotonamente. E enquanto anoitece, vou Lendo, sossegado e só, As cartas que meu avô Escrevia a minha avó Enternecido sorrio Do fervor desses carinhos: É que os conheci velhinhos, Quando o fogo era já frio. Cartas de antes do noivado Cartas de amor que começa, Inquieto, maravilhado, E sem saber o que peça. Temendo a cada momento Ofendê-la, desgostá-la, Quer ler em seu pensamento E balbucia, não fala A mão pálida tremia Contando o seu grande bem Mas, como o dele, batia Dela o coração também. A partir da leitura do poema “Cartas de meu avô”, do poeta pernambucano Manuel Bandeira, um dos principais nomes do Modernismo brasileiro, pode- mos dizer que A no último verso da primeira estrofe, há uma proso- popeia ou personificação. b a expressão “erma, úmida e silente”, no segundo verso, está se referindo à chuva a palavra “enternecido”, no início da terceira estro- fe, tem como sinônimo “quente”. d o sujeito de “balbucia”, último verso da penúltima estrofe, é a palavra “pensamento” E em “quando o fogo era já frio”, no final da terceira estrofe, ocorre uma antonomásia.