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de Hiroshima Durante muito tempo, essa perspectiva foi tão aterradora e pareceu tão próxima da realidade que motivou frases como a de Albert Einstein, que afirmava não ter a menor ideia de quais seriam os artefatos utilizados em uma terceira guerra mundial, mas que, na quarta, seriam pedras e machados. Os primeiros marcos Em 1947, em um discurso no Congresso estadunidense, o presidente Harry Truman afirmou a disposição dos Estados Unidos de apoiarem as nações livres do mundo que mostrassem o anseio de impedir a dominação externa Tratava-se claramente de uma menção à expansão da União Soviética, de seu domínio sobre toda a Europa Oriental e à necessidade de deter o avanço do comunismo. Era o início da chamada Doutrina Truman, considerada o marco inicial da Guerra Fria e caracterizada pela postura dos Estados Unidos de comandarem de forma incisiva uma reação contra o chamado expansionismo soviético. Fig. 10 Harry Truman e Winston Churchill em Fulton, nos Estados Unidos. Um dos primeiros componentes dessa atitude dos Es- tados Unidos foi a aprovação do Plano Marshall, ainda em 1947 Em tese, o plano consistia na ajuda econômica estadu nidense aos países europeus em crise após a guerra. Havia alguns objetivos por trás desse plano. Um deles era impedir o colapso das economias dos países europeus, de modo a evitar uma crise geral do capitalismo, afastando a lembrança da crise de 1929, quando o declínio do mercado europeu foi decisivo para o colapso que se abateu sobre a econo- mia dos Estados Unidos Outra razão era que, ao conceder empréstimos e ajuda financeira na forma de investimentos a esses países, tornava seus governos dependentes dos ditames da política americana, o que ampliaria sua influência na região O terceiro objetivo era o de impedir que a crise econômica, inevitável no pós-guerra, ampliasse o movimen to social, criando as condições propícias para o avanço das ideias socialistas na Europa Ocidental A investida da diplomacia estadunidense sobre a Europa motivou a reação soviética com a criação do Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua), um plano de ajuda econômica soviética aos países socialistas, e o Kuominform, uma forma de união dos partidos comunistas europeus sob a égide do governo da União Soviética Ainda como manifestação desse momento inicial da Guerra Fria, o caso da Alemanha tem uma importância particular Como vimos, no final da Segunda Guerra Mun dial, a Alemanha ficara dividida entre as quatro potências vencedoras: Estados Unidos, França, Inglaterra e União Soviética Quase imediatamente, os governos francês, inglês e estadunidense decidiram por uma administra- ção unificada em seus domínios. Esse fato, aliado ao crescimento da parte ocidental em função dos dólares do Plano Marshall, motivou uma reação soviética que determinou o bloqueio de Berlim, um enclave ocidental dentro da área sob domínio soviético O ocidente rea- giu a isso com o abastecimento de Berlim por via aérea, desafiando o bloqueio soviético e ampliando a tensão na região Outra reação do Ocidente foi a instituição de uma unidade administrativa da Alemanha ainda controla da pelos países capitalistas, dando origem à República Federal Alemã (Alemanha Ocidental). Com isso, crista- lizou se a divisão, com a parte oriental dando origem à República Democrática Alemã, sob influência direta da União Soviética Entretanto, grande parte de Berlim, na Alemanha Oriental, estava sob controle dos países capi- talistas, fazendo parte da Alemanha Ocidental Em 1961, foi construído o Muro de Berlim, separando os dois lados da cidade. É interessante notar que o Muro constituiu-se em um dos maiores símbolos da Guerra Fria, e sua queda, em 1989, é vista como um símbolo do final desse período Fig. 11 O Muro de Berlim, símbolo máximo da Guerra Fria. H a rr y S T ru m a n L ib ra ry a n d M u s e u m C e n tr a I n te lli g e n c e A g e n c y V ir g ín ia , E U A Égide: proteção. Enclave: território encravado em outro. HISTÓRIA Capítulo 11 A Segunda Guerra Mundial e o mundo pós-guerra124 Fig. 12 Fotografia de satélite mostra a cidade de Berlim. A linha amarela indica a localização do muro. Outros conflitos, imediatamente posteriores ao final da Segunda Guerra, agravavam o clima de tensão. É o caso da Grécia, onde os combatentes chamados partisans, que haviam enfrentado os nazistas, lutavam com o apoio dos países socialistas contra o governo de Konstantínos Tsaldaris, que tinha o apoio inglês Diante do risco de vitória dos guerrilheiros socialistas, e com a incapacidade inglesa de manter suas tropas na região, os Estados Unidos intervieram militarmente, enviando mais de 20 mil soldados para lutarem contra os partisans Em 1949, com o risco de destruição do país, os partisans abandonaram a luta, o que assegurou a permanência da Grécia no campo dos países capitalistas sob a influência dos Estados Unidos. Em 1949, foi criada a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar e política dos países capitalistas, composta de Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Bélgica, Holanda, França, Portugal, Itália, Finlândia, Dinamarca, Noruega e Luxemburgo e que mais tarde incor- porou a Grécia, a Turquia e a Alemanha Ocidental, criando um foco de antagonismo entre os países capitalistas e a União Soviética. Ao lado dessa iniciativa militar, outras medidas de natureza econômica visavam acentuar os laços entre os governos dos países capitalistas de modo a criar uma frente contra o avanço soviético. É o caso da Organização Europeia de Cooperação Econômica, criada em 1948; do Benelux, uma aliança econômica entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo; da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e, principalmente, da Comunidade Econômica Euro- peia (CEE), criada em 1957, que originou o Mercado Comum Europeu. Contra essa aproximação entre os países capitalistas, foi criado, em 1955, o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar entre União Soviética, Albânia, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e Bulgária. A eclosão de conflitos, como as revoluções Chinesa e Cubana, as guerras da Coreia e do Vietnã, e questões mais abrangentes, como os confrontos no Oriente Médio e as lutas anticoloniais na África e na Ásia acentuaram esse clima de combate permanente, mostrando os perigos dessa bipolarização. A relação de forças entre a OTAN e o Pacto de Varsóvia – 1973 Mar da Noruega Mar do Norte Mar Negro Mar Mediterrâneo OCEANO ATLÂNTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO M er id ia n o d e G re en w ic hCírculo Polar Ártico 0° M ar Báltic o ISLÂNDIA 3700 GRÃ-BRETANHA 320000 NORUEGA 36000 UNIÃO SOVIÉTICA 2900000 ALEMANHA OCIDENTAL + DINAMARCA + BENELUX 1084200 ALEMANHA ORIENTAL + POLÔNIA + TCHECOSLOVÁQUIA 1060000 FRANÇA 500000 HUNGRIA + ROMÊNIA + BULGÁRIA 480000 ITÁLIA 410000 GRÉCIA + TURQUIA 670000 ESPANHA 9000 PORTUGAL 2000 0 625 km N O Pacto de Varsóvia e seu alcance sobre Europa e Ásia 0 Círculo Polar ÁrticoCírculo Polar Ártico M e ri d ia n o d e G re e n w ic h M e ri d ia n o d e G re e n w ic h OCEANO GLACIAL ÁRTICO 0 1195 km N Estados Unidos e União Soviética no início da Guerra Fria Ao final da Segunda Guerra Mundial, com a morte de Franklin Roosevelt, o presidente Harry Truman assumira o poder nos Estados Unidos. Completando o mandato de Roosevelt até 1948, Truman foi reeleito para o período de 1948 a 1952 Foi durante seu governo, portanto, que se lançaram as bases da Guerra Fria. Para os estadunidenses, foi um momento de inten- so crescimento industrial e de aumento de sua influência juntos aos países capitalistas. Entretanto, o crescimento da União Soviética e da chamada “ameaça comunista” provocaram, por parte do governo estadunidense, uma atitude de que toda oposição era um sinal de antiameri- canismo e de apoio ao comunismo soviético. Essa atitude gerou um clima de forte atentado às liberdades civis no país e teve na figura do senador Joseph McCarthy seu maior símbolo À frente de um comitê do Senadopara in- vestigar as supostas atividades antiamericanas, o senador N A S A /G S F C /M IT I/ E R S D A C /J A R O S a n d U .S ./ J a p a n A S T E R S c ie n c e T e a m F R E N T E 2 125 McCarthy foi o maior responsável por um clima de “caça às bruxas” nos Estados Unidos, gerando delações e perseguições a todos que eram acusados, por quais- quer razões que fossem, de simpatia pelo comunismo. Aqueles que eram vistos como conspiradoras contra os americanos e contra a liberdade eram vigiados pelo governo. O macarthismo é o símbolo mais claro do ra- dicalismo gerado pela Guerra Fria nos Estados Unidos Artistas, jornalistas, políticos, cientistas e intelectuais foram atingidos pelas ações do senador McCarthy, que tinha em Richard Nixon seu principal aliado. Fig 13 Joseph McCarthy em fotografia de 1954. Um poderoso aliado desse clima antissoviético que se consolidou nos Estados Unidos foi o temor ao crescimento político e militar da União Soviética. Sob o governo de Stalin, os russos conheceram, no período pós Segunda Guerra, um intenso crescimento industrial, voltado diretamente para o setor militar. Uma das grandes conquistas da indústria bélica soviética nesse período foi o desenvolvimento da bomba atômica, símbolo máximo do poderio militar e do terror que marcou o período. Assim, aos olhos capitalistas, a ameaça soviética tornava-se mais real e concreta E a essa ameaça somava se o caráter brutalmente repressivo do governo de Stalin, no qual o “culto à personalidade” do ditador, visto como grande líder e condutor do processo de mobilização nacional, apenas sintetizava uma política interna de esmagamento de toda forma de oposição política, por meio de repressão, prisões e expurgos dentro do partido governante. Essa atitude irradiou se entre partidos comunistas de várias partes do mundo, provocando a expulsão de todos aqueles que ousassem contrariar o dogma imposto pelo Partido Comunista russo. Com isso, reforçava-se a pregação de que o avanço soviético significava destruição da liberdade, que tinha nos Estados Unidos seu grande e único guardião. A Revolução Chinesa acentuou o clima de rivalida- de A vitória de um movimento socialista no país com a maior população do mundo e ocupando uma região es trategicamente fundamental era uma ameaça ainda maior ao capitalismo, notadamente porque a China havia sido, desde o século XIX, uma área de influência das potências imperialistas. Por outro lado, após um momento de grave tensão nos primeiros anos que se seguiram ao final da Segun- da Guerra, o quadro de enfrentamento tendeu a refluir, ao menos temporariamente É uma característica desse período o movimento pendular entre momentos de ten são e de distensão, nos quais a iminência de uma guerra de grandes proporções era seguida por um processo de entendimentos e de tentativa de refrear a corrida arma- mentista. Alguns elementos contribuíram para essa ligeira disten são a partir de 1953. Em primeiro lugar, a atitude de países europeus que se posicionavam contra a condição de meros satélites da política externa dos Estados Unidos reduziu a influência estadunidense na região. A ruptura entre os governos da União Soviética e da China comunista, a par tir de 1959, neutralizou a rigidez do socialismo em todo o mundo, criando uma nova referência poderosa, que fugia à polarização entre Estados Unidos e União Soviética. Também contribuíram para isso a morte de Stalin e o quadro político que se abriu logo em seguida, após um período de disputa de poder entre Lavrenti Beria, Georgi Malenkov e Nikita Khrushchev Este último, consolidando-se no poder a partir de 1955, iniciou um processo conhecido como desestalinização. Essa postura, alardeada no XX Con- gresso do Partido Comunista da União Soviética em 1956, criticava o culto à personalidade de Stalin, denunciava seus crimes de perseguição política, prisões e execuções em massa e apontava na direção da descentralização política e da melhoria das condições de vida da população soviética. Fig. 14 Nikita Khrushchev em fotografia de 1963. Nos Estados Unidos, o fim do governo Truman e a elei ção de Dwight Eisenhower para a presidência significaram um retrocesso do macarthismo e uma redução do clima de radicalismo anticomunista. Esses elementos tornaram possível uma redução do clima de tensão internacional, abrindo espaço para a fase da chamada Coexistência Pacífica, que foi caracterizada por uma série de reuniões de cúpula entre dirigentes das U n it e d P R E S S /L ib ra ry o f C o n g re s s B u n d e s a rc h iv M u s e u m K o b le n z , A le m a n h a HISTÓRIA Capítulo 11 A Segunda Guerra Mundial e o mundo pós-guerra126
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