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História - Livro 4-124-126

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de Hiroshima Durante muito tempo, essa perspectiva foi
tão aterradora e pareceu tão próxima da realidade que
motivou frases como a de Albert Einstein, que afirmava não
ter a menor ideia de quais seriam os artefatos utilizados em
uma terceira guerra mundial, mas que, na quarta, seriam
pedras e machados.
Os primeiros marcos
Em 1947, em um discurso no Congresso estadunidense,
o presidente Harry Truman afirmou a disposição dos
Estados Unidos de apoiarem as nações livres do mundo
que mostrassem o anseio de impedir a dominação externa
Tratava-se claramente de uma menção à expansão da União
Soviética, de seu domínio sobre toda a Europa Oriental e à
necessidade de deter o avanço do comunismo. Era o início
da chamada Doutrina Truman, considerada o marco inicial da
Guerra Fria e caracterizada pela postura dos Estados
Unidos de comandarem de forma incisiva uma reação
contra o chamado expansionismo soviético.
Fig. 10 Harry Truman e Winston Churchill em Fulton, nos Estados Unidos.
Um dos primeiros componentes dessa atitude dos Es-
tados Unidos foi a aprovação do Plano Marshall, ainda em
1947 Em tese, o plano consistia na ajuda econômica estadu
nidense aos países europeus em crise após a guerra. Havia
alguns objetivos por trás desse plano. Um deles era impedir
o colapso das economias dos países europeus, de modo a
evitar uma crise geral do capitalismo, afastando a lembrança
da crise de 1929, quando o declínio do mercado europeu
foi decisivo para o colapso que se abateu sobre a econo-
mia dos Estados Unidos Outra razão era que, ao conceder
empréstimos e ajuda financeira na forma de investimentos
a esses países, tornava seus governos dependentes dos
ditames da política americana, o que ampliaria sua influência
na região O terceiro objetivo era o de impedir que a crise
econômica, inevitável no pós-guerra, ampliasse o movimen
to social, criando as condições propícias para o avanço das
ideias socialistas na Europa Ocidental
A investida da diplomacia estadunidense sobre a
Europa motivou a reação soviética com a criação do
Comecon (Conselho para Assistência Econômica Mútua),
um plano de ajuda econômica soviética aos países
socialistas, e o Kuominform, uma forma de união dos
partidos comunistas europeus sob a égide do governo da
União Soviética
Ainda como manifestação desse momento inicial da
Guerra Fria, o caso da Alemanha tem uma importância
particular Como vimos, no final da Segunda Guerra Mun
dial, a Alemanha ficara dividida entre as quatro potências
vencedoras: Estados Unidos, França, Inglaterra e União
Soviética Quase imediatamente, os governos francês,
inglês e estadunidense decidiram por uma administra-
ção unificada em seus domínios. Esse fato, aliado ao
crescimento da parte ocidental em função dos dólares
do Plano Marshall, motivou uma reação soviética que
determinou o bloqueio de Berlim, um enclave ocidental
dentro da área sob domínio soviético O ocidente rea-
giu a isso com o abastecimento de Berlim por via aérea,
desafiando o bloqueio soviético e ampliando a tensão
na região Outra reação do Ocidente foi a instituição de
uma unidade administrativa da Alemanha ainda controla
da pelos países capitalistas, dando origem à República
Federal Alemã (Alemanha Ocidental). Com isso, crista-
lizou se a divisão, com a parte oriental dando origem à
República Democrática Alemã, sob influência direta da
União Soviética Entretanto, grande parte de Berlim, na
Alemanha Oriental, estava sob controle dos países capi-
talistas, fazendo parte da Alemanha Ocidental Em 1961, foi
construído o Muro de Berlim, separando os dois lados da
cidade. É interessante notar que o Muro constituiu-se em
um dos maiores símbolos da Guerra Fria, e sua queda,
em 1989, é vista como um símbolo do final desse período
Fig. 11 O Muro de Berlim, símbolo máximo da Guerra Fria.
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Égide: proteção.
Enclave: território encravado em outro.
HISTÓRIA Capítulo 11 A Segunda Guerra Mundial e o mundo pós-guerra124
Fig. 12 Fotografia de satélite mostra a cidade de Berlim. A linha amarela indica a
localização do muro.
Outros conflitos, imediatamente posteriores ao final da
Segunda Guerra, agravavam o clima de tensão. É o caso
da Grécia, onde os combatentes chamados partisans, que
haviam enfrentado os nazistas, lutavam com o apoio dos
países socialistas contra o governo de Konstantínos Tsaldaris,
que tinha o apoio inglês Diante do risco de vitória dos
guerrilheiros socialistas, e com a incapacidade inglesa de
manter suas tropas na região, os Estados Unidos intervieram
militarmente, enviando mais de 20 mil soldados para lutarem
contra os partisans Em 1949, com o risco de destruição do
país, os partisans abandonaram a luta, o que assegurou a
permanência da Grécia no campo dos países capitalistas
sob a influência dos Estados Unidos.
Em 1949, foi criada a Otan (Organização do Tratado do
Atlântico Norte), uma aliança militar e política dos países
capitalistas, composta de Estados Unidos, Canadá, Reino
Unido, Bélgica, Holanda, França, Portugal, Itália, Finlândia,
Dinamarca, Noruega e Luxemburgo e que mais tarde incor-
porou a Grécia, a Turquia e a Alemanha Ocidental, criando
um foco de antagonismo entre os países capitalistas e a
União Soviética.
Ao lado dessa iniciativa militar, outras medidas de
natureza econômica visavam acentuar os laços entre os
governos dos países capitalistas de modo a criar uma
frente contra o avanço soviético. É o caso da Organização
Europeia de Cooperação Econômica, criada em 1948; do
Benelux, uma aliança econômica entre Bélgica, Holanda
e Luxemburgo; da Comunidade Europeia do Carvão e do
Aço e, principalmente, da Comunidade Econômica Euro-
peia (CEE), criada em 1957, que originou o Mercado Comum
Europeu.
Contra essa aproximação entre os países capitalistas,
foi criado, em 1955, o Pacto de Varsóvia, uma aliança militar
entre União Soviética, Albânia, Alemanha Oriental, Hungria,
Polônia, Romênia, Tchecoslováquia e Bulgária.
A eclosão de conflitos, como as revoluções Chinesa
e Cubana, as guerras da Coreia e do Vietnã, e questões
mais abrangentes, como os confrontos no Oriente Médio e
as lutas anticoloniais na África e na Ásia acentuaram esse
clima de combate permanente, mostrando os perigos dessa
bipolarização.
A relação de forças entre a OTAN e o
Pacto de Varsóvia – 1973
 Mar da
Noruega
Mar do
Norte
Mar Negro
Mar Mediterrâneo
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
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ISLÂNDIA
3700
GRÃ-BRETANHA
320000
NORUEGA
36000
UNIÃO SOVIÉTICA
2900000
ALEMANHA OCIDENTAL +
DINAMARCA + BENELUX
1084200
ALEMANHA ORIENTAL +
POLÔNIA + TCHECOSLOVÁQUIA
1060000
FRANÇA
500000 HUNGRIA + ROMÊNIA
+ BULGÁRIA
480000
ITÁLIA
410000 GRÉCIA + TURQUIA
670000
ESPANHA
9000
PORTUGAL
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O Pacto de Varsóvia e seu alcance
sobre Europa e Ásia
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Círculo Polar ÁrticoCírculo Polar Ártico
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OCEANO GLACIAL ÁRTICO
0 1195 km
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Estados Unidos e União Soviética no
início da Guerra Fria
Ao final da Segunda Guerra Mundial, com a morte de
Franklin Roosevelt, o presidente Harry Truman assumira o
poder nos Estados Unidos. Completando o mandato de
Roosevelt até 1948, Truman foi reeleito para o período
de 1948 a 1952 Foi durante seu governo, portanto, que se
lançaram as bases da Guerra Fria.
Para os estadunidenses, foi um momento de inten-
so crescimento industrial e de aumento de sua influência
juntos aos países capitalistas. Entretanto, o crescimento
da União Soviética e da chamada “ameaça comunista”
provocaram, por parte do governo estadunidense, uma
atitude de que toda oposição era um sinal de antiameri-
canismo e de apoio ao comunismo soviético. Essa atitude
gerou um clima de forte atentado às liberdades civis no
país e teve na figura do senador Joseph McCarthy seu
maior símbolo À frente de um comitê do Senadopara in-
vestigar as supostas atividades antiamericanas, o senador
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McCarthy foi o maior responsável por um clima de “caça
às bruxas” nos Estados Unidos, gerando delações e
perseguições a todos que eram acusados, por quais-
quer razões que fossem, de simpatia pelo comunismo.
Aqueles que eram vistos como conspiradoras contra
os americanos e contra a liberdade eram vigiados pelo
governo. O macarthismo é o símbolo mais claro do ra-
dicalismo gerado pela Guerra Fria nos Estados Unidos
Artistas, jornalistas, políticos, cientistas e intelectuais foram
atingidos pelas ações do senador McCarthy, que tinha em
Richard Nixon seu principal aliado.
Fig 13 Joseph McCarthy em fotografia de 1954.
Um poderoso aliado desse clima antissoviético que se
consolidou nos Estados Unidos foi o temor ao crescimento
político e militar da União Soviética. Sob o governo de
Stalin, os russos conheceram, no período pós Segunda
Guerra, um intenso crescimento industrial, voltado
diretamente para o setor militar. Uma das grandes
conquistas da indústria bélica soviética nesse período foi
o desenvolvimento da bomba atômica, símbolo máximo do
poderio militar e do terror que marcou o período. Assim,
aos olhos capitalistas, a ameaça soviética tornava-se mais
real e concreta E a essa ameaça somava se o caráter
brutalmente repressivo do governo de Stalin, no qual o
“culto à personalidade” do ditador, visto como grande líder
e condutor do processo de mobilização nacional, apenas
sintetizava uma política interna de esmagamento de toda
forma de oposição política, por meio de repressão, prisões
e expurgos dentro do partido governante. Essa atitude
irradiou se entre partidos comunistas de várias partes
do mundo, provocando a expulsão de todos aqueles
que ousassem contrariar o dogma imposto pelo Partido
Comunista russo. Com isso, reforçava-se a pregação de que
o avanço soviético significava destruição da liberdade, que
tinha nos Estados Unidos seu grande e único guardião.
A Revolução Chinesa acentuou o clima de rivalida-
de A vitória de um movimento socialista no país com a
maior população do mundo e ocupando uma região es
trategicamente fundamental era uma ameaça ainda maior
ao capitalismo, notadamente porque a China havia sido,
desde o século XIX, uma área de influência das potências
imperialistas.
Por outro lado, após um momento de grave tensão
nos primeiros anos que se seguiram ao final da Segun-
da Guerra, o quadro de enfrentamento tendeu a refluir,
ao menos temporariamente É uma característica desse
período o movimento pendular entre momentos de ten
são e de distensão, nos quais a iminência de uma guerra
de grandes proporções era seguida por um processo de
entendimentos e de tentativa de refrear a corrida arma-
mentista.
Alguns elementos contribuíram para essa ligeira disten
são a partir de 1953. Em primeiro lugar, a atitude de países
europeus que se posicionavam contra a condição de meros
satélites da política externa dos Estados Unidos reduziu
a influência estadunidense na região. A ruptura entre os
governos da União Soviética e da China comunista, a par
tir de 1959, neutralizou a rigidez do socialismo em todo o
mundo, criando uma nova referência poderosa, que fugia à
polarização entre Estados Unidos e União Soviética.
Também contribuíram para isso a morte de Stalin e o
quadro político que se abriu logo em seguida, após um
período de disputa de poder entre Lavrenti Beria, Georgi
Malenkov e Nikita Khrushchev Este último, consolidando-se
no poder a partir de 1955, iniciou um processo conhecido
como desestalinização. Essa postura, alardeada no XX Con-
gresso do Partido Comunista da União Soviética em 1956,
criticava o culto à personalidade de Stalin, denunciava seus
crimes de perseguição política, prisões e execuções em
massa e apontava na direção da descentralização política e
da melhoria das condições de vida da população soviética.
Fig. 14 Nikita Khrushchev em fotografia de 1963.
Nos Estados Unidos, o fim do governo Truman e a elei
ção de Dwight Eisenhower para a presidência significaram
um retrocesso do macarthismo e uma redução do clima de
radicalismo anticomunista.
Esses elementos tornaram possível uma redução do
clima de tensão internacional, abrindo espaço para a fase
da chamada Coexistência Pacífica, que foi caracterizada
por uma série de reuniões de cúpula entre dirigentes das
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HISTÓRIA Capítulo 11 A Segunda Guerra Mundial e o mundo pós-guerra126

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