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História - Livro 2-112-114

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HISTÓRIA Capítulo 5 O Antigo Regime112
partir das transformações econômicas que a Inglaterra pas-
sou a conhecer bem pelos efeitos da Guerra dos Cem Anos.
O crescimento do comércio gerou uma transformação sensí-
vel nas atividades econômicas da nobreza. Os contatos cada
vez mais intensos com a região de Flandres, rica na produ-
ção de manufaturas de tecidos, tornaram a produção da lã,
matéria-prima para as manufaturas, a mais lucrativa atividade
agrária. Grandes extensões de terra foram convertidas em
pastagens para a criação de ovelhas. Apropriando-se dessas
terras, os nobres cercavam-nas, delimitando sua propriedade
e expulsando as populações camponesas. Esse processo,
conhecido como cercamentos, não apenas impedia o aces-
so da população à terra como ainda reduzia drasticamente
sua possibilidade de trabalho, dado que o pastoreio requeria
uma quantidade bem menor de mão de obra.
Ao mesmo tempo, os interesses ingleses sobre a re-
gião de Flandres foram decisivos para a invasão desta, o
que acabou por eclodir a Guerra dos Cem Anos.
A guerra trouxe um efeito duplo para a monarquia in-
glesa. Tem-se que uma guerra significava o fortalecimento
do poder real, o qual, como suserano máximo, passava
a ter o controle militar sobre a nobreza. Assim, em uma
guerra particularmente longa como essa, fica difícil conse-
guir que a figura do rei não se cristalize como autoridade
suprema. Paralelamente a isso, uma série de revoltas so-
ciais, notadamente camponesas, eclodiu como resultado
das dificuldades econômicas geradas pela guerra, o que
enfraqueceu ainda mais a nobreza, tornando-a mais de-
pendente do poder real.
Dessa forma, durante os anos da guerra, a monarquia
inglesa conheceu um processo de fortalecimento. Entre-
tanto, o fim da guerra trouxe uma realidade diferente. A
derrota inglesa significou um agravamento da crise econô-
mica, não apenas pelos gastos militares, mas pela perda
do contato com a região de Flandres. Ao mesmo tempo, a
derrota significou uma perda de prestígio para a monarquia.
Todos esses elementos criaram as condições para uma
intensa luta pela sucessão ao trono. De um lado, a família
Lancaster, ligada à nobreza tradicional, e, de outro, a família
York, vinculada a nobres aburguesados, guerrearam pelo
poder. A luta gerou a mais intensa guerra civil da História in-
glesa, a Guerra das Duas Rosas, que se estendeu de 1455
a 1485. O nome da guerra deve-se ao fato curioso de que
ambas as famílias tinham em seus brasões a figura de uma
rosa (branca para os York e vermelha para os Lancaster).
A guerra concluiu-se com um acordo entre as duas
famílias, que foi celebrado no casamento entre Henrique
Tudor (herdeiro do trono pelo ramo dos Lancaster) e
Elizabeth York. Esse casamento significou um arranjo po-
lítico que aproximou os dois setores, ao mesmo tempo
que famílias nobres não tão fortes politicamente haviam
sido neutralizadas pela morte de seus principais líderes.
Assim, Henrique Tudor foi coroado rei, com o nome de
Henrique VII, cujo reinado (1485 a 1509) deu início à Dinastia
Tudor, já contando com a pacificação interna da nobreza.
Restava ainda outro setor politicamente poderoso na
Inglaterra, a Igreja Católica. Foi o filho de Henrique VII,
Henrique VIII (reinado de 1509 a 1547), que neutralizou o
poder da Igreja na Inglaterra. Henrique VIII rompeu com a
Igreja Católica e, por meio do Ato de Supremacia de 1534,
tornou-se a maior autoridade sobre a Igreja Anglicana, a
igreja nacional inglesa.
Embora o rei tenha tornado a Inglaterra anglicana, o
fato é que a maioria da população – nobres, burgueses e
camponeses – acabou por aderir ao calvinismo, fato que
criaria muitos problemas no futuro. De qualquer maneira, o
ato contou com o apoio da nobreza, interessada nas terras
da Igreja, que totalizavam cerca de um terço das terras
cultiváveis no país. Um grupo grande de burgueses, além
do mais, por meio da compra da terra, conseguiu ascen-
der socialmente, nascendo assim a gentry (os membros
da gentry eram os chamados gentlemen), que, na época,
representava a pequena nobreza (posteriormente, no sé-
culo XIX, o nome passou a ser utilizado na Inglaterra para
qualificar qualquer membro da classe média). Ao mesmo
tempo, durante seu reinado, a Inglaterra conheceu um forte
crescimento mercantil, notadamente pelos pesados inves-
timentos da monarquia na marinha mercante.
O filho de Henrique VIII, Eduardo VI (reinado de 1547
a 1553), deu prosseguimento à política religiosa de seu
pai. Entretanto, a morte prematura de Eduardo VI, que não
deixou herdeiros, pôs no trono sua irmã, Maria I (reinado
de 1553 a 1558). Casada com Felipe II, Habsburgo, rei da
Espanha e fanático católico, ela restabeleceu o catolicismo
e perseguiu ferozmente os protestantes. A violência das
perseguições deu a ela o apelido de Maria, a Sanguinária
(Bloody Mary).
Elizabeth I (ou Isabel), filha mais nova de Henrique VIII,
restabeleceu em seu reinado, de 1558 a 1603, a política
de compromisso entre a monarquia e os setores mais im-
portantes da sociedade. Ela restabeleceu o anglicanismo,
tornando-o novamente a religião de Estado e instrumento
de poder, além de manobrar habilmente entre os oposi-
tores. Os calvinistas que haviam se refugiado no exterior
voltaram ao país, passando a ser chamados, a partir de
então, de puritanos. Foi em seu reinado que se iniciou a
colonização efetiva da América do Norte, com a criação
da colônia da Virgínia, em 1584. Ao mesmo tempo, o país
passou por um notável crescimento econômico, que con-
templou especialmente as manufaturas têxteis, a mineração
de carvão e a construção naval. O comércio internacional
desenvolveu-se por meio da formação de várias compa-
nhias privilegiadas de comércio e de uma feroz guerra de
corso dirigida contra a navegação e as possessões co-
loniais espanholas. A monarquia implementava ações de
pirataria que acabavam tendo como alvo principal os na-
vios espanhóis, fato facilmente compreensível pela grande
quantidade de metais preciosos que transportavam.
A pirataria inglesa sempre teve como condição marcante sua vinculação
ao Estado. Os piratas ingleses eram, na verdade, corsários, termo que
designa uma atividade de pirataria de caráter oficial. Henry Morgan, Sir
Francis Drake, Thomas Cavendish, Edward Fenton e vários outros co-
nhecidos piratas ingleses eram comandantes da marinha inglesa e suas
ações eram determinadas pela monarquia como política de Estado.
Saiba mais
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Fig. 19 Artista desconhecido. Rainha Elizabeth I, c. 1575. Óleo sobre painel.
National Portrait Gallery, Londres, Inglaterra.
Essa rivalidade nos mares provocou uma guerra entre
Inglaterra e Espanha. Contra a Inglaterra, Felipe II, rei da
Espanha, lançou aquela que ele chamou de “Invencível
Armada”, a qual foi, entretanto, destruída pela marinha in-
glesa. A vitória sobre a Espanha fortaleceu a Inglaterra,
assegurando-lhe uma condição de supremacia nos mares,
o que favoreceu em muito a economia do país inglês.
Além desses fatores, as condições sociais passavam por
um processo de agravação, principalmente em função dos
cercamentos dos campos, prática que se tornou mais intensa
durante a Dinastia Tudor. A expulsão dos camponeses de
suas terras bem como a falta de trabalho no campo provo-
cavam um sensível êxodo rural, concentrando nas cidades
uma massa de miseráveis que a atividade manufatureira,
embora crescente, não conseguia absorver. Com isso, a mi-
séria gerava um elemento de tensão social que se somava
à crescente reivindicação da burguesia por maior autonomia
econômica e pela participação nas decisões políticas. Con-
tudo, todos esses elementos de tensão ficavam represados
na autoridade pessoal de Elizabeth, cujo reinado, extremante
longo, conferiu-lhe uma aura de respeitabilidade que tornava
qualquer oposição efetiva impossível.
Com a morte da rainha Elizabeth, em 1603, sem her-
deiros para sucedê-la, o trono inglês passou para Jaime VI,
rei daEscócia e primo distante de Elizabeth, que assumiu o
trono inglês com o nome de Jaime I. Iniciava-se uma nova
dinastia na Inglaterra, a Dinastia Stuart, que viveu uma situa-
ção política totalmente diferente da de seus antecessores
no trono inglês.
Durante seu reinado de 1603 a 1625, Jaime I enfren-
tou um crescente antagonismo. Ele tentou impor ao reino
o direito divino, à maneira francesa, o que despertou a
oposição do Parlamento. Ao mesmo tempo, a população
calvinista, cada vez mais, via-o com repúdio pelas suas
aproximações com o catolicismo – o que o historiador
Lawrence Stone chamou de “court against country” (a Corte
contra o país). Isso resultou na migração de uma parcela
significativa desses calvinistas para a América do Norte,
com a chegada dos primeiros puritanos ao que depois seria
chamado de Massachusetts.
A tentativa de Jaime foi reforçada durante o reinado
de seu filho, Carlos I (reinado de 1625 a 1648). Ignorando
o Parlamento, Carlos publicou, em 1628, o Ship Money,
imposto que incidiria sobre a construção naval e sobre o
comércio marítimo. Contra isso, o Parlamento impôs ao rei a
Petição de Direitos, documento no qual se exigia que o rei
respeitasse os direitos do Parlamento, assegurados desde
a Magna Carta. Com a Petição de Direitos, o Parlamento
deixou evidente sua postura contra o poder real, o que
resultou, por ordem do rei, em seu fechamento, que per-
durou até 1640. Contudo, nesse mesmo ano, eclodiu uma
revolta na Escócia e o rei Carlos I necessitava de fundos
para combatê-la; para isso, o rei reconvocou o Parlamento,
visando apoio para a criação de impostos que custeasse
a guerra. Entretanto, a postura do Parlamento foi diversa
daquela pretendida pelo rei, pois insistiu-se mais uma vez
na limitação de poder real. O Parlamento foi novamente fe-
chado pelo rei, porém esse novo fechamento desencadeou
uma violenta reação que levou a uma guerra civil.
Fig. 20 Anthony van Dyck. Carlos I, 1636.
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HISTÓRIA Capítulo 5 O Antigo Regime114
A Revolução Inglesa do século XVII
A Revolução Puritana (1642-1660) foi o ponto culminan-
te da longa disputa entre o rei e o Parlamento pelo controle
político do país.
O rei tinha o apoio da maioria da nobreza, da alta bur-
guesia ligada às finanças, dos católicos, dos anglicanos e,
de um modo geral, da população do norte e do oeste do
país. As forças reais foram chamadas de Cavaleiros.
O Parlamento apoiava-se na burguesia mercantil, na
gentry, nos puritanos e na população do sul e do leste
da Inglaterra. Eles ficaram conhecidos como os cabeças
redondas, porque não usavam perucas. Segundo o his-
toriador José Jobson Arruda, na Revolução Inglesa “havia
aristocratas de ambos os lados; havia yeomen (pequenos
camponeses) de ambos os lados. Mas é a gentry que dá o
tônus da Revolução Inglesa, e seu posicionamento é claro:
pelo Parlamento, contra a monarquia. Foi essa classe que
conduziu o processo revolucionário”. A pequena nobreza, a
gentry (os “homens gentis”, a nobilitas minor), que controla-
va 70% da Câmara dos Comuns às vésperas da Revolução,
era composta da média e da baixa nobreza inglesa, que
se tornava cada vez mais rica. A gentry era uma camada
empreendedora da nobreza e, de acordo com o historiador
E. P. Thompson, era a “aristocracia capitalista”, que produzia
para o mercado e estava desligada das funções militares.
Ela dedicava-se à exploração direta de sua propriedade,
vendendo lã, trigo e outros bens. Era, de fato, uma nobreza
com “mentalidade empresarial”, desmilitarizada, vendo a
terra como uma mercadoria e, por influência do puritanismo,
ela não via essa atitude como degradante.
Após várias batalhas sem um vencedor, os Cavaleiros
sofreram a decisiva derrota de Naseby, em 1645. Carlos I refu-
giou-se na Escócia, mas foi preso e entregue ao Parlamento.
O rei Carlos I fugiu em 1647 aproveitando-se da dis-
puta interna entre as forças parlamentares, que opunha
moderados, desejosos de um acordo vantajoso com o rei, e
niveladores, puritanos e radicais que controlavam o exército
e eram contrários a qualquer entendimento com Carlos I.
Com a fuga, a guerra reiniciou-se.
Em 1649, a derrota dos Cavaleiros foi definitiva. O Par-
lamento foi depurado pelo exército liderado pelo puritano
Oliver Cromwell – foram presos 47 deputados e excluídos
96, sendo conhecido como Rump Parliament (Parlamento
Curto). Carlos I foi julgado, condenado e decapitado; a Câ-
mara dos Nobres foi abolida e a República proclamada.
A execução do rei foi um fato inédito na história europeia.
Pela primeira vez, os representantes da nação condenaram
um monarca absolutista. O princípio da origem divina do
poder real e de sua absoluta autoridade foi ultrapassado.
Fig. 21 Robert Walker. Oliver Cromwell, c.
1649. Óleo sobre tela. 125,7× 101,6 cm.
National Portrait Gallery, Londres.
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A República Puritana (1649-1659)
Até 1653, Cromwell governou com o apoio do Par-
lamento, eliminando os radicais do exército e afastando
as ameaças de reação realista. Em 1653, o Parlamento foi
dissolvido e Cromwell assumiu o título de Lord Protetor
da República, tendo sua ditadura pessoal durado até sua
morte em 1658.
Cromwell exerceu o poder rigidamente e com grande
intolerância, procurando impor seus princípios puritanos.
Contudo, ele solidificou as condições necessárias para
transformar a Inglaterra, no século seguinte, na potência
hegemônica da Europa.
A realização mais importante de Cromwell foi o de-
creto dos Atos de Navegação (1651). Qualquer mercadoria
importada pela Inglaterra só poderia ser transportada em
navios dos países que a importaram ou em navios ingleses.
A medida atingiu diretamente a Holanda, dona da maior
frota mercante do período, e provocou a Primeira Guerra
Anglo-Holandesa (1652-1654), cuja vencedora foi a Ingla-
terra. A construção naval e a atividade comercial sofreram
notável impulso, dirigindo o país para a conquista da he-
gemonia marítima.
Após a morte de Cromwell, seu filho, Richard, o substi-
tuiu, mas ele não possuía a mesma autoridade de seu pai,
o que fez com que a Inglaterra passasse por lutas internas
e por instabilidade política. Richard foi deposto pelo exér-
cito em 1659.
A Restauração dos Stuart (1660-1688)
Com o apoio do exército, o Parlamento voltou a se
reunir e ofereceu a coroa a Carlos II, filho de Carlos I. Procu-
rava-se, através de uma monarquia com poderes limitados,
reunificar o país e sepultar os ressentimentos surgidos nos
longos anos de lutas internas.
Carlos II (reinou de 1660 a 1685), ao contrário do que
esperava o Parlamento, procurou restabelecer as prerro-
gativas reais absolutistas. O Parlamento dividiu-se em dois
partidos, os quais, até o século XIX, foram modelo político
para quase todos os países do hemisfério ocidental. Eram
eles: o partido Whig (do escocês “ladrões de cavalo”):
os chamados liberais, antiabsolutistas, favoráveis a um
governo com força do Parlamento, aceitando a teoria cal-
vinista de resistência ao poder estabelecido (Locke é o
mais famoso Whig); e o partido Tory (do irlandês “fora da
lei”): os conservadores, monarquistas, favoráveis aos reis
Stuart, aceitando a teoria luterana de não resistência ao
poder estabelecido.
Irmão de Carlos e seu sucessor, reinando de 1685 a
1688, Jaime II, católico e franco adepto do absolutismo, pro-
curou restaurar sua religião no país. Com isso, os católicos
passaram a ser favorecidos, fato que irritou muitos ingleses.
Quando o herdeiro de Jaime nasceu, a possibilidade de um
novo soberano católico controlar a Inglaterra fez com que
os partidos Whig e Tory se unissem para derrubar Jaime II.

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