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GRUPO SER EDUCACIONAL SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEM IOLÓGICA Autoras: Gabriela de Melo Kohns, Ana Gabriela Silva e Aline Carvalho de Azevedo Organizadora: Debora Santos Alves de Oliveira SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Autoras: Gabriela de Melo Kohns, Ana Gabriela Silva e Aline Carvalho de Azevedo Organizadora: Debora Santos Alves de Oliveira Saúde Coletiva e Vigilância Epidemiológica SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 1SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 1 10/08/2022 11:49:4110/08/2022 11:49:41 © by Ser Educacional Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepick, ©Unsplash. Diretor de EAD: Enzo Moreira. Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato. Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa. Equipe de Designers Instrucionais: Gabriela Falcão; José Carlos Mello; Lara Salviano; Leide Rúbia; Márcia Gouveia; Mariana Fernandes; Mônica Oliveira e Talita Bruto. Equipe de Revisores: Camila Taís da Silva; Isis de Paula Oliveira; José Felipe Soares; Nomager Fabiolo Nunes. Equipe de Designers gráficos: Bruna Helena Ferreira; Danielle Almeida; Jonas Fragoso; Lucas Amaral, Sabrina Guimarães, Sérgio Ramos e Rafael Carvalho. Ilustrador: João Henrique Martins. Autoras: Kohns, Gabriela de Melo; Silva, Ana Gabriela; Azevedo, Aline Carvalho de. Organizador(a): Oliveira, Debora Santos Alves de Nome Disciplina: Saúde Coletiva e Vigilância Epidemiológica Recife: Editora Digital Pages e Grupo Ser Educacional - 2022. 107 p.: pdf ISBN: 978-65-81507-46-6 1. Saúde 2. SUS 3. Epidemiologia Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 2SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 2 10/08/2022 11:49:4210/08/2022 11:49:42 Iconografia Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura: ACESSE Links que complementam o contéudo. OBJETIVO Descrição do conteúdo abordado. IMPORTANTE Informações importantes que merecem atenção. OBSERVAÇÃO Nota sobre uma informação. PALAVRAS DO PROFESSOR/AUTOR Nota pessoal e particular do autor. PODCAST Recomendação de podcasts. REFLITA Convite a reflexão sobre um determinado texto. RESUMINDO Um resumo sobre o que foi visto no conteúdo. SAIBA MAIS Informações extras sobre o conteúdo. SINTETIZANDO Uma síntese sobre o conteúdo estudado. VOCÊ SABIA? Informações complementares. ASSISTA Recomendação de vídeos e videoaulas. ATENÇÃO Informações importantes que merecem maior atenção. CURIOSIDADES Informações interessantes e relevantes. CONTEXTUALIZANDO Contextualização sobre o tema abordado. DEFINIÇÃO Definição sobre o tema abordado. DICA Dicas interessantes sobre o tema abordado. EXEMPLIFICANDO Exemplos e explicações para melhor absorção do tema. EXEMPLO Exemplos sobre o tema abordado. FIQUE DE OLHO Informações que merecem relevância. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 3SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 3 10/08/2022 11:49:4210/08/2022 11:49:42 SUMÁRIO PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE � � � � � � � � 12 Conceito Ampliado de Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �12 Saúde Pública vs. Saúde Coletiva � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �15 Saúde como Direito � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �17 Sistema Único de Saúde (SUS) � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �18 Princípios Doutrinários e Organizativos do SUS � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �21 Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 24 Ações Estratégicas e Prioritárias � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 25 Conceitos básicos de Epidemiologia � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 32 Epidemiologia: Conceito � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 32 Histórico da Epidemiologia � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 37 História da Epidemiologia no Brasil � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 40 Epidemiologia: Objetivos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �41 Importância como Eixo das Ações de Saúde e como Base de Informações � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 43 Conceito de Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 44 Determinantes do Processo Saúde-Doença � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 51 Adoção de Políticas nos Determinantes do Processo Saúde-Doença 55 Leis orgânicas, indicadores de saúde e níveis de assistência � � � � 60 Lei Orgânica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 60 Leis 8�080/90 e 8�142/90 � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 63 Leis 8�080/90 e 8�142/90 e a Reforma Sanitária do Brasil � � � � � � � � � � 65 Sistema de Organização Hierárquica de Atenção à Saúde � � � � � � � 66 Sistemas de Redes de Atenção à Saúde � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 67 SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 4SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 4 10/08/2022 11:49:4210/08/2022 11:49:42 Indicadores de Saúde: Indicador e Índice � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �71 Indicadores de Saúde e Estatísticas Públicas � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 77 Avaliação de Indicadores � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 78 Prevalência vs. Incidência � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 80 Saúde da família: uma estratégia de múltiplos objetivos � � � � � � � �84 Programa de Saúde da Família � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 84 Transição do PSF para a ESF � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 89 Doenças Crônicas Não-Transmissíveis � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 93 Estrutura Epidemiológica e Casualidade � � � � � � � � � � � � � 95 Vigilância Epidemiológica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 98 Notificação Compulsória � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 102 Investigação Epidemiológica � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 103 Avaliação dos Sistemas de Vigilância Epidemiológica � � � � � � � � � � � � � 106 SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 5SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 5 10/08/2022 11:49:4210/08/2022 11:49:42 Apresentação Caro aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Saúde Co- letiva e Vigilância Epidemiológica! Esse material foi desenvolvido com muita dedicação para você, como uma ferramenta de apoio na construção do seu conhecimento. Esse guia foi criado com o intui- to de formar profissionais com visão generalista, humanista e com senso de responsabilidade social. Espera-se queo aluno(a) possa desenvolver habilidades para a análise crítica, reflexiva e investi- gativa do processo saúde-doença em sua dimensão coletiva, desen- volver competências, atitudes e valores éticos do atendimento do indivíduo, da família e da comunidade. Neste Objeto de Aprendizagem abordaremos temáticas para o entendimento do processo de mudanças da prática de saúde, o papel da prevenção e promoção a saúde e, principalmente, o impacto que causam na incidência e prevalência de muitas doenças. Tudo isso com o cuidado de agregar informações que associam o conhecimen- to teórico com a futura prática profissional. Dominar estes conceitos lhe permitirá uma visão mais crítica e ampla da atuação profissional frente à elaboração de estratégias para os problemas enfrentados no cotidiano da prática clínica em saúde coletiva. Esperamos que a partir das discussões, textos e materiais de apoio que compõem esse material você seja incentivado(a) a fazer uma reflexão crítica sobre o cenário atual do nosso sistema de saúde e prevenção de doenças. Bons estudos! SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 6SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 6 10/08/2022 11:49:4210/08/2022 11:49:42 Autoria Gabriela de Melo Kohns Olá! Meu nome é Gabriela de Melo Kohns. Mestre em Ciências da Saúde pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Al- bert Einstein (2018), onde também especia- lizei em Fisioterapia Neonatal e Pediátrica (2016). Graduada em Fisioterapia pelo Cen- tro Universitário Facvest (2015), atualmente sou docente nos cursos de Fisioterapia, Edu- cação Física e Nutrição, lecionando as disci- plinas de Saúde da Família, Anatomia Humana Sistêmica, Embriologia e Histologia. Atuo também como fisioterapeuta clínica na área de Reabilitação Pediátrica e na estimulação precoce do desenvolvimento neuropsicomotor. Possuo experiência como tutora e consultora de ins- tituições educacionais, contribuindo na elaboração de planos de curso e de material didático a nível de graduação e pós-graduação. http://lattes.cnpq.br/7784962876996174 Ana Gabriela Silva Olá! Meu nome é Ana Gabriela Silva. Sou Bacharel em Enfermagem pela Univer- sidade Federal de São João del-Rei (2014) e Mestre em Ciências pela mesma instituição (2017). Também sou especialista em Ur- gência e Emergência pela Faculdade Batis- ta de Minas Gerais (2019) e em Programa SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 7SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 7 10/08/2022 11:49:4310/08/2022 11:49:43 de Saúde da Família pela mesma instituição (2019). Doutora em Ci- ências pela Universidade Federal de São João del-Rei (2020). http://lattes.cnpq.br/3226446827488985 Aline Carvalho de Azevedo Olá! Meu nome é Aline Carvalho de Azevedo. Sou doutora em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Vigilân- cia Sanitária (2019) do Instituto Nacional de Controle de Qualidade, da Fiocruz; mestra em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Bio- processos (2013) da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; bacharel em Ciências Biológicas (2010) e licenciada em Ciências Biológicas (2009) pela Universidade do Grande Rio – Unigranrio. Atua com projetos que envolvem téc- nicas de biologia molecular, imunologia e microbiologia, com a finalidade de geração de dados de saúde em epidemiologia. Mi- nistra aulas de biologia para o ensino médio. http://lattes.cnpq.br/3586555578332948 SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 8SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 8 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 Organizadora Debora Santos Alves de Oliveira Olá! Meu nome é Debora Santos Al- ves de Oliveira. Sou bacharel em Nutrição, mestra em Nutrição, Atividade Física e Plasticidade Fenotípica e doutora em Nu- trição pela UFPE. Tenho experiência pro- fissional como nutricionista hospitalar, ambulatorial e geriatra. Atualmente traba- lho como docente de cursos EAD do Grupo Ser Educacional. Será um prazer colaborar com a sua formação profissional! Espero poder mantê-lo(a) moti- vado(a) nesse processo de aprendizagem dinâmico. http://lattes.cnpq.br/7015978383768958 SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 9SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 9 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 10SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 10 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 UN ID AD E 1 Objetivos ◼ Analisar o conceito de saúde e sua evolução ao longo do tem- po, bem como compreender a diferença entre prevenção, pro- moção e educação em saúde; ◼ Contextualizar os determinantes e condicionantes de saúde com o processo saúde-doença; ◼ Estabelecer uma correlação entre promoção e prevenção à saúde e sua importância para a saúde coletiva; ◼ Discutir a criação do SUS e os seus princípios doutrinários e organizativos; ◼ Debater sobre a criação do Pacto Pela Saúde do SUS e os seus componentes (Pacto Pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pac- to Pela Gestão do SUS). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 11SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 11 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 12 Introdução Nesta unidade você será apresentado a conceitos fundamen- tais de Saúde Coletiva e Vigilância Epidemiológica, como o conceito ampliado de saúde, a prevalência e incidência de doenças, dentre outros. Trataremos do processo saúde-doença, da criação do Sis- tema Único de Saúde (SUS) no Brasil, dos princípios do SUS e da criação do Pacto Pela Saúde do SUS. Agora, convido-lhe a estudar e compreender essas temáticas de tamanha relevância para a socie- dade. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 12SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 12 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 13 Princípios e diretrizes do sistema único de saúde Conceito Ampliado de Saúde Há muito tempo que o conceito de saúde tem sido pauta de amplos debates entre especialistas de diversas áreas de atuação profissional. Levando em consideração a complexidade desse tema, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou em 1946 o chama- do conceito ampliado de saúde, que afirma que saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças e enfermidades. Desta forma, é possível compreender que o conceito ampliado de saúde leva em consideração a integração de diferentes aspectos da vida e da sociedade, como economia, lazer, educação, segurança e trabalho. Observe o Diagrama 1, a fim de obter uma contextualiza- ção mais adequada desse conceito. Diagrama 1. Aspectos integrados ao bem estar e saúde que abarcam o conceito ampliado de saúde Legenda: aspectos integrados ao bem-estar e saúde que abarcam o conceito ampliado de saúde Fonte: Junkles, 2018, p.13 (adaptado) SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 13SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 13 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 14 Analisando-se o conceito de saúde elaborado pela OMS, é possível identificar três princípios (MOREIRA et al., 2018): ◼ O bem-estar físico: relaciona-se à ideia de que não há a saúde de apenas um órgão ou sistema do corpo, mas sim de um todo, de modo integral; ◼ O bem-estar social: refere-se aos ajustes das exigências do meio, principalmente das condições socioeconômicas, local de moradia, distribuição de renda e oportunidades oferecidas a cada pessoa; ◼ O bem-estar mental: relacionado a um estado de equilíbrio, entendimento e tolerância consigo mesmo e com os outros. Relaciona-se a saber lidare conduzir as diferentes emoções. Embora a definição da OMS seja aceita e utilizada como parâ- metro pelos sistemas de saúde em praticamente todo o mundo, ela vem sofrendo críticas de muitos pesquisadores nos últimos anos. O argumento utilizado pelos críticos é que esse conceito de saúde é utópico e inatingível, uma vez que alguns creem que o ser huma- no jamais será um ser completo em todos os aspectos e sentidos da vida. Posteriormente, a definição de saúde sofreu uma atualização no Brasil com a promulgação da Lei Orgânica da Saúde (LOS), sob o nº 8.080, de 1990. A LOS procura abordar aspectos mais abrangen- tes do que os apresentados pela OMS e incita fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. De acordo com a lei, alguns dos fatores determinantes e condicionantes são: alimenta- ção, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, entre outros. Além disso, a LOS regulamenta o Sistema Único de Saúde (SUS) e é complementada pela lei n° 8.142, de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financei- ros na área da saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 14SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 14 10/08/2022 11:49:4410/08/2022 11:49:44 EXEMPLO 15 Um exemplo clássico de condicionante de saúde é a gravidez, uma vez que apenas pessoas do sexo feminino podem engravidar. Conse- quentemente, o sexo é um fator condicionante para a ocorrência da gestação entre os seres humanos. Atualmente, alguns fatores estão intimamente relacionados ao processo saúde-doença, e, por isso, simples atitudes do dia a dia tornam-se importantes na intenção de manter uma rotina e um há- bito de vida mais saudáveis. Alimentar-se corretamente (principal- mente pela ingestão de frutas, legumes e verduras), praticar exer- cícios físicos com regularidade, manter uma regularidade no sono e ingerir um volume suficiente de água por dia são alguns exem- plos de conselhos médicos para que uma pessoa mantenha uma boa qualidade de vida, o que impactará diretamente a sua saúde. Saúde Pública vs. Saúde Coletiva A compreensão dos conceitos e definições do processo saúde- -doença é fundamental para todos os profissionais da área da saú- de, e seu domínio possibilita uma atuação mais efetiva e ativa frente aos pacientes e a comunidade. Posto isso, para prosseguirmos nessa jornada de construção do conhecimento, é imprescindível que es- tejam claras a definição e diferenciação dos termos saúde pública e saúde coletiva. Saúde pública e saúde coletiva são áreas frequentemente concebidas como sinônimos. Todavia, elas possuem algumas dis- tinções. Assim sendo, a saúde pública pode ser entendida como o conjunto de ações exercidas pelo governo em prol do bem estar físi- co, mental e social da população, configurando-se como um direito constitucional que engloba as mais diversas áreas e níveis de aten- ção à saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 15SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 15 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 16 Já a saúde coletiva é uma ciência que engloba aspectos sociais e biomédicos através de diversas perspectivas organizacionais. É, também, uma área de atuação profissional que faz parte dos pro- gramas de saúde pública. Paim e Almeida Filho (1998) afirmam que: Enquanto campo de conhecimento, a saúde coletiva contribui com o estudo do fenômeno saúde/doença em populações. Enquanto pro- cesso social investiga a produção e distribui- ção das doenças na sociedade, analisando as práticas de saúde (processo de trabalho) na sua articulação com as demais práticas sociais, procurando compreender as formas com que a sociedade identifica suas necessidades e pro- blemas de saúde, buscando sua explicação e se organizando para enfrentá-los. A saúde coletiva busca ampliar a compreensão da população sobre a saúde, acrescentando analises sociológicas, antropológicas e históricas. A sua criação parte das ações de um movimento sanita- rista e tem como propósito auxiliar no reconhecimento de variáveis econômicas, ambientais e sociais que possam ocasionar o desenvol- vimento de doenças. O movimento sanitarista que propiciou a criação da saúde coletiva teve início na década de 1970. A filosofia desse movimen- to preconizava a saúde não como um problema a ser solucionado pelos então serviços médicos, mas sim como uma questão política e social. Desde seu surgimento, a saúde coletiva envolve-se com questões políticas, sociais e ideológicas, trazendo repercussões para a saúde como um todo em sua delimitação, e identificando meios que possibilitem tornar a saúde coletiva um campo cada vez mais aberto a novos paradigmas diante das necessidades de saúde, de- mocratização da vida social e direitos humanos. As diretrizes dos programas de saúde coletiva enfatizam a importância da comunicação e da atuação conjunta de equipes in- terdisciplinares e multiprofissionais, sendo estas compostas por médicos, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, biólogos, enfermeiros, dentistas, entre outros. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 16SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 16 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 17 Entre os instrumentos utilizados pelos programas de saúde coletiva, destaca-se o uso da epidemiologia social, que possibilita conhecer o perfil dos problemas de saúde e das doenças apresenta- das em determinada população assistida. O emprego da epidemio- logia permite a criação de indicadores de saúde que, por sua vez, possuem dados referentes a condições sanitárias e socioeconômicas que otimizam o desenvolvimento de intervenções e de medidas de prevenção e promoção a saúde coletiva. Deve-se ficar explícito que toda saúde pública é coletiva, mas nem toda saúde coletiva é pública, posto que no Brasil a saúde é considerada livre à iniciativa privada. Ao ter que atuar por meio do Sistema Único de Saúde, a saúde coletiva encontra muitos desafios, e o principal deles é conseguir oferecer um serviço eficiente em um sistema no qual o usuário corresponde à totalidade dos brasileiros. Saúde como Direito A mudança conceitual do processo saúde-doença pela popu- lação brasileira é um dos fatores que contribuiu para que o governo implementasse políticas públicas de saúde mais abrangentes, não se restringindo unicamente ao tratamento e a cura de doenças. No Brasil, o acesso à saúde foi por muitos anos limitado à parcela da população que detinha condições financeiras para con- tratar assistência particular, e posteriormente àqueles que contri- buíam com a previdência social, em sua maioria trabalhadores com carteira assinada. Essa realidade começou a mudar somente a partir de 1988, com a aprovação da nova Constituição da República Fede- rativa do Brasil, vigente até os dias atuais, que considera a saúde como um direito de toda a população, independentemente de qual- quer condição e fator externo. A seção II, art. 196, capítulo I da constituição da república fe- derativa afirma que: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econô- micas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igua- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 17SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 17 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 18 litário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988, p. 1). Além de ter explicitado o direito do acesso à saúde, a Consti- tuição de 1988 enfatizou o dever e a responsabilidade do estado de promover a mesma, além de proteger a sociedade contra as doenças. Sistema Único de Saúde (SUS) O primeiro passo para começara desvendar o SUS é compre- ender que um sistema é o agrupamento de diversos componentes relacionados, os quais agem mutuamente para executar determina- da tarefa. No SUS, o sistema tem como objetivo propiciar cuidados à saúde da sociedade por meio de ações curativas, preventivas, re- abilitadoras, educativas e promotoras. A próxima etapa é assimilar porque o sistema é “único”: o SUS é assim chamado devido ao fato de seguir as mesmas diretrizes e princípios por todo o país. O SUS pode ser definido como um novo preceito organizacio- nal e político voltado para a reorganização da saúde pública. Ade- mais, ele não é considerado um sucessor do INAMPS, mas sim um novo programa, completamente diferente, que marca na história a conquista do direito universal à saúde, já mencionado na Declara- ção dos Direitos Humanos. Os principais fundamentos do SUS foram decididos durante a VIII Conferência Nacional de Saúde e seu esta- belecimento se deu por meio da Constituição Federal da República de 1988. A implementação do SUS é considerada a maior ação de in- clusão social da história brasileira, sendo um símbolo da política positiva de engajamento do governo para com os direitos da popu- lação. Com o SUS, a saúde passou a ser um direito de todos e uma obrigação do Estado, algo até então inédito, visto que os programas anteriores possuíam um caráter centralizador, restrito e excluden- te. Basicamente, as únicas medidas de caráter universal antecesso- ras ao SUS, não condicionadas a outros fatores, foram as campanhas de vacinação promovidas pelo Ministério da Saúde. Todavia, deve ficar claro que a ideologia do SUS é muito mais do que apenas oferecer atendimento médico e hospitalar para que SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 18SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 18 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 19 a população o acesse quando necessário: seu propósito é também atuar antes disso, diminuindo os casos de infecções, doenças e se- quelas ocasionadas. Assim, o SUS não é apenas um serviço ou uma mera instituição pública, mas um amplo sistema que engloba um conjunto de unidades e ações que se relacionam na busca de um mesmo objetivo. Todos os usuários do SUS possuem o Cartão Nacional de Saú- de (CNS), também chamado de cartão SUS. Esse cartão funciona como um documento de identificação e possui uma sequência de números únicos. Um dos principais objetivos do CNS é registrar o histórico do paciente na rede pública, como, por exemplo, a ocor- rência de internações e as últimas medicações prescritas. O cartão não tem custo e pode ser solicitado até mesmo pela internet. Internacionalmente, o SUS é considerado um dos maiores e mais complexo sistema de saúde do mundo, no que tange à sua cobertura e população atendida. Entre os programas do SUS que são considerados modelos a serem seguidos, destacam-se as cam- panhas de vacinação, o programa de tratamento do HIV, o Siste- ma Nacional de Transplantes, o fornecimento de remédios para o manejo de doenças crônicas não transmissíveis, os hemocentros e o programa Saúde da Família. É importante observar também que a Constituição Federal estabeleceu o SUS em 1988, mas sua regulamentação se deu pela Lei Orgânica da Saúde n. 8.080/90. A legislação que rege o SUS, de modo geral, compreende os artigos 196 a 200 da Constituição, as Normas Operacionais Básicas (NOB), a Lei Orgânica da Saúde n. 8.080/1990 e o Decreto regulamentador n. 7.508/2011. Os profissionais de saúde devem ter conhecimento dessas normativas para atuar de maneira a conseguir promover uma melhor qualidade de atendimento à po- pulação de acordo com os preceitos do SUS e as políticas públicas de saúde. Todo profissional de saúde deve ter pleno conhecimento dos direitos assegurados pela Constituição à saúde da população. Para conhecer na íntegra os postulados da Constituição relacionados à saúde, verifique os artigos 196 a 200 da Seção II. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 19SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 19 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 20 Princípios Doutrinários e Organizativos do SUS Todos os programas sociais precisam de normas para que se assegure o seu bom desempenho, e com o SUS não poderia ser di- ferente. O Sistema Único de Saúde possui uma série de princípios e diretrizes que o acompanham desde sua criação e sua essência é tudo o que o programa garante à sociedade, direcionando o seu fun- cionamento e gestão. Os princípios do SUS podem ser organizados em doutrinários (universalidade, equidade e integralidade) e organizativos (regio- nalização/hierarquização, descentralização e participação social). Agora, observe com atenção as informações sobre cada princípio (FIGUEIREDO, 2012; NICOLICH; ROCHA, 2017): ◼ Universalidade: estabelece o acesso à saúde por meio do SUS a todos os cidadãos, sem restrições e condicionantes; ◼ Equidade: leva em consideração as diferenças individuais e regionais, oferecendo mais para aqueles que mais precisam. Equidade não deve ser confundida com igualdade, uma vez que esta busca propiciar condições para que todos tenham as mesmas oportunidades, podendo, em virtude disto, canalizar mais atenção a determinado grupo de pessoas. ◼ Integralidade: considera o paciente como um todo indivisível e todas as suas necessidades devem ser atendidas por ações de saúde; ◼ Regionalização/Hierarquização: organiza em níveis os servi- ços que têm como objetivo atender as diferentes necessida- des de saúde da população. Os serviços devem funcionar em níveis de complexidade crescente e o acesso inicial ao siste- ma deve ser através do nível primário de atenção, somente os casos mais complexos deverão ser encaminhados para níveis secundários e terciários. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 20SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 20 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 21 ◼ Descentralização: trata da distribuição das responsabilidades e poder sobre a saúde nas três esferas do governo, visando as- sim um trabalho mais efetivo e com maior controle e fiscali- zação por parte da população. Esse princípio parte da ideolo- gia de que quanto mais próxima do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Com esse postulado, os municí- pios passaram a ser considerados gestores e administradores da oferta dos serviços de saúde do SUS, ou seja, responsáveis por determinar as políticas de saúde locais de acordo com sua realidade; ◼ Participação popular/social: refere-se à democratização das decisões a respeito da saúde pública, principalmente através da participação da sociedade no SUS. É a garantia de que o povo estará envolvido na formulação das políticas de saúde. Essa participação acontece a partir dos conselhos de saúde, que são grupos deliberativos constituídos por representantes de toda a população, com uma estrutura estabelecida por um núme- ro igual de pessoas que representam tanto os usuários quanto o Estado e seus respectivos funcionários da saúde e parceiros do setor privado; e das conferências de saúde, que são encon- tros entre diversos representantes sociais, que se reúnem para avaliar o cenário da saúde e indicar suas diretrizes políticas. As conferências nacionais acontecem no intervalo de tempo de quatro anos, e têm como característica sua descentralização e seu fomento nas conferências estaduais e municipais. Os princípios do SUS garantem a maioria dos direitos à saúde contemplados pela Constituição de 1988. Todavia, esses princípios só começaram a ser realmente colocados em prática após a aprova- ção das Leis Orgânicas de Saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 21SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 21 10/08/2022 11:49:4510/08/2022 11:49:45 22 Fonte:Ministério da Saúde/SUS SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 22SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 22 10/08/2022 11:49:4610/08/2022 11:49:46 VOCÊ SABIA? 23 Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão Desde sua criação, o SUS demonstra adversidades no que diz respeito à sua prestação de serviços; na tentativa de transpor alguns dos problemas de saúde pública, foi realizado no ano de 2006 um acordo entre o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secre- tários de Saúde e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde para o estabelecimento de um pacto de responsabilidades administrativas e de atenção à saúde denominado de “Pacto pela Saúde”. A criação deste pacto teve como principal objetivo a solu- ção de situações consideradas prioritárias na saúde pública. Todos os anos o Pacto pela Saúde deve ser revisto, de modo a exaltar as carências de saúde da sociedade e, consequentemente, atualizar a lista de prioridades. As portarias número 399 e 699 de 2006 regulamentam o Pacto pela Saúde, que representa uma medida de descentralização e organização de um sistema hierarquizado e regionalizado de con- dutas do SUS. Objetivando uma melhor estruturação e elucidação das prioridades do Pacto pela Saúde, este foi dividido em três seg- mentos, a saber: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto pela Gestão do SUS. As políticas de saúde pública no Brasil funcionaram, sobretudo, no formato de campanhas, até por volta de 1930, fase que ficou co- nhecida como campanhista. O sistema dessa época era parcialmen- te voltado para questões de saúde que afetavam a população, mas essencialmente motivado por conveniências de ordem econômica. Entre os avanços desse período, há a criação de escolas de enferma- gem, laboratórios públicos direcionados para a pesquisa e centros de saúde. A saúde individual continuou semelhante à do período imperial: médicos para os que podiam pagar e métodos empíricos/ caridade para os demais. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 23SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 23 10/08/2022 11:49:4610/08/2022 11:49:46 24 Ações Estratégicas e Prioritárias O Pacto pela Vida é composto por uma série de compromis- sos sanitários e sociais, provenientes da observação da conjuntura da saúde do país e das prioridades deliberadas pelas três esferas do governo - federal, estadual e municipal. Fazem parte das ações es- tratégicas e prioritárias do Pacto pela Vida (BRASIL, 2006; LEMOS, 2015; NICOLICH; ROCHA, 2017): ◼ Saúde do Idoso: promoção do envelhecimento ativo e sau- dável; atenção integral à saúde; implantação de serviços de atenção domiciliar; acolhimento preferencial em unidades de saúde; fomento à participação social; educação permanente dos profissionais de saúde em geriatria; apoio a estudos e pes- quisas sobre o envelhecimento; criação da caderneta de saúde da pessoa idosa, possibilitando um melhor acompanhamento por parte dos profissionais de saúde e melhora da assistência farmacêutica; ◼ Controle do câncer de colo do útero e de mama: contribuir para reduzir ao máximo as morbidades e a mortalidade por câncer de colo do útero e de mama; aumentar a cobertura do exame preventivo do câncer do colo de útero e do exame de mamografia, realizando-se punção em 100% dos casos quan- do necessário e incentivar a realização da cirurgia de alta fre- quência para a retirada de lesões do colo uterino; ◼ Redução da mortalidade infantil e materna: reduzir a morta- lidade neonatal; diminuir o número de óbitos por pneumonias e doenças diarreicas; qualificar os profissionais da saúde na atenção às doenças mais prevalentes; desenvolver comitês de vigilância do óbito; garantir o acesso a medicamentos para o tratamento dos quadros hipertensivos no parto; ◼ Fortalecer a capacidade de resposta às doenças emergentes e endêmicas: enfatizar o controle da dengue, hanseníase, tu- berculose, malária, hepatite, AIDS e influenza; implantar um plano de contingência com ações de vigilância, prevenção e controle; criar unidades sentinelas e melhorar o sistema de SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 24SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 24 10/08/2022 11:49:4610/08/2022 11:49:46 25 informação sobre estas doenças; ◼ Promoção da saúde: enfatizar a adoção de hábitos saudáveis na população; internalizar a responsabilidade individual da prática de atividade física regular e de alimentação saudável e combater o tabagismo; ◼ Fortalecimento da Atenção Básica: desenvolver ações de qualificação dos profissionais da Atenção Básica; ampliar, consolidar e qualificar o Programa de Saúde da Família (PSF) como modelo de Atenção Básica à Saúde nos municípios e ga- rantir infraestrutura necessária ao funcionamento das Unida- des Básicas de Saúde (UBS); ◼ Saúde do trabalhador: maximizar o Sistema Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador e apoiar a capacita- ção de profissionais em saúde do trabalhador; ◼ Saúde mental: ampliar a cobertura de Centros de Atenção Psi- cossocial (CAPS); contemplar com o Programa de Volta para Casa, voltado para os pacientes de longa permanência em hospitais psiquiátricos; ◼ Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência: implementar programas estaduais de reabilitação para o atendimento de pacientes com deficiência auditiva; ◼ Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violên- cia: desenvolver programas de proteção às vítimas de violên- cia doméstica e sexual; aumentar a cobertura da ficha de noti- ficação e investigação de casos de violência; ◼ Cuidados com a saúde bucal: prevenir o desencadeamento de doenças bucais e educar a população sobre os cuidados com a higiene da boca; ◼ Saúde do homem: promover a saúde integral do homem. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 25SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 25 10/08/2022 11:49:4610/08/2022 11:49:46 DICA CURIOSIDADE 26 Para saber mais sobre a promoção da saúde, é possível ler o compi- lado do Ministério da Saúde denominado As cartas da promoção da saúde. Ele reúne documentos oriundos das conferências internacio- nais de saúde realizadas em vários países. O Pacto em Defesa do SUS engloba medidas articuladas pe- los governos federais, estaduais e municipais para o fortalecimento do SUS como política pública e a consolidação da reforma sanitária. A prioridade desse pacto é implementar um projeto permanente de mobilização social com a finalidade de: ◼ Evidenciar a saúde como um direito de cidadania e o SUS como um programa público universal que assegura esses direitos; ◼ Propiciar o incremento de recursos orçamentários e financei- ros para a saúde; ◼ Controlar o orçamento do SUS, constituído pelos orçamen- tos das três esferas de governo, elucidando o compromisso de cada uma; ◼ Apoiar a mobilização social pela promoção e desenvolvimento da cidadania; ◼ Facilitar o acesso à Carta dos Direitos dos Usuários do SUS. A carta dos Direitos dos Usuários do SUS foi elaborada em 2006 pe- las três esferas do governo e pelo Conselho Nacional de Saúde. Sua publicação foi um marco importante, uma vez que possibilitou um maior entendimento sobre o sistema de saúde público. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 26SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 26 10/08/2022 11:49:4610/08/2022 11:49:46 REFLITA 27 O Pacto pela Gestão determina as obrigações de cada âmbito federado, de modo a minimizar as competências adversárias e elu- cidar as funções de cada um, colaborando, assim, para o fomento da gestão conjunta e solidária do SUS. Esse pacto se fundamenta nos princípios organizacionais do SUS e suas prioridades são duas,a sa- ber: ◼ Definir de forma inequívoca a responsabilidade sanitária de cada instância gestora do SUS: federais, estaduais e munici- pais, dominando o processo atual de habilitação; ◼ Estabelecer as diretrizes para a gestão do SUS: enfatizar a descentralização, regionalização, regulação, programação pactuada e integrada, gestão do trabalho, participação e con- trole social, além do financiamento, planejamento e educação na saúde. A história política e de saúde brasileira tem importantes marcos, como a célebre Reforma Sanitária e a criação do SUS, intimamente ligada à conquista de direitos por parte da sociedade. É notória a de- pendência da população em relação a esse sistema, que se baseia em princípios como universalidade, integralidade e equidade da assis- tência à saúde. Entretanto, os atuais acontecimentos que visam ao desmonte do SUS evidenciam ataques a direitos sociais adquiridos. Assim, há urgente necessidade de revitalizar o movimento sanitário brasileiro, com compromisso social que impeça o processo de pri- vatização do direito à saúde, combata o baixo financiamento e qua- lifique a gestão do SUS. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 27SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 27 10/08/2022 11:49:4610/08/2022 11:49:46 SINTETIZANDO 28 Olá, aluno(a)! Você aprendeu que o conceito de saúde, além de não ser único, é mutável e extremamente relacionado ao momento histórico vivido. Assim sendo, pode-se afirmar que é de acordo com o modo que a sociedade compreende a saúde e a doença que os cuidados de aten- ção são determinados. Foi a evolução do entendimento do processo saúde-doença que possibilitou o estabelecimento do conceito am- pliado de saúde, o qual vai além da ausência de doença, consideran- do o ser humano e a vida de uma forma mais integrada. Observamos também o grande desafio da conceituação dos termos saúde e doença. O conceito proposto pela OMS pareceu vago e de- satualizado, mas a Lei Orgânica da Saúde abordou, no Brasil, ques- tões mais abrangentes, chegando mais próxima à realidade. Definir saúde e doença mostrou-se mais difícil do que se esperava. Saúde e doença devem ser, então, tratadas como um lema, de forma indivi- dualizada, levando sempre em consideração os aspectos psíquicos, sociais e culturais de cada indivíduo. A saúde deve ser vivida, de ma- neira preventiva, e promovida pela adoção de medidas de políticas públicas. Por falar em políticas públicas, são elas que conectam a epidemio- logia à medicina. São ciências que caminham de mãos dadas, uma dando o suporte que a outra precisa. Não seria mais fácil a caminha- da pelo saber se cada uma tomasse direções opostas. Embora o SUS seja alvo de muitas críticas e enfrente problemas es- truturais no seu dia a dia, é também um programa admirado por muitas pessoas, sendo considerado um modelo a ser seguido inter- nacionalmente, graças a sua política de cobertura e extensão. Por fim, mas não menos importante, discutimos o Pacto pela Saúde, e analisamos os seus propósitos junto às três esferas governamentais. Precisamos entender aqui como a epidemiologia se tornou e se tor- na cada vez mais importante para a saúde Pública. Afinal, a criação do SUS mostra-nos a relevância da criação de um Sistema Único, unificado para todos, que ainda tem muito a se transformar e me- lhorar, sempre em busca de alternativas para permitir a qualidade de vida do brasileiro. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 28SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 28 10/08/2022 11:49:4710/08/2022 11:49:47 UN ID AD E 2 Objetivos ◼ Descrever o conceito, o histórico e os principais objetivos e contribuições da epidemiologia; ◼ Compreender os principais sistemas de informação utilizados em saúde pública; ◼ Identificar as variáveis relacionadas às pessoas, tempo e es- paço que interferem no processo saúde-doença; ◼ Conhecer as principais estratégias de combate a doenças imu- nopreviníveis. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 29SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 29 10/08/2022 11:49:4710/08/2022 11:49:47 30 Introdução Olá, aluno(a)! Neste objeto de aprendizagem você aprenderá que a epide- miologia faz-nos compreender como o monitoramento de doenças pode auxiliar e fornecer informações relevantes para os sistemas de saúde.Trataremos do conceito, objetivos e tipos de Epidemiologia, da importância da Epidemiologia como eixo das ações de saúde e como base de informações, e dos determinantes do processo saúde- -doença. Agora, convido-lhe a estudar e compreender essas temá- ticas de tamanha relevância para a sociedade. Bons estudos! SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 30SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 30 10/08/2022 11:49:4710/08/2022 11:49:47 REFLITA 31 Conceitos básicos de Epidemiologia Epidemiologia: Conceito Conceituar epidemiologia é uma tarefa um tanto quanto complexa, pois pode ser apresentada em diferentes sentidos, por exemplo, a epidemiologia é notada facilmente como disciplina e nas atividades práticas na área da saúde, de forma totalmente atuante na sociedade. A epidemiologia como ciência nos mostra a relevância de es- tudar o processo saúde-doença nas populações. Para isso, é de fun- damental importância conhecer como uma doença surge, quais são os motivos que a faz ter alta ou baixa transmissibilidade, as razões pelas quais os processos de prevenção e tratamento são eficazes, entre outros. Logo, a epidemiologia descreve, explica e explora as possíveis causas e consequências e como uma determinada doença impacta na vida da população. A epidemiologia exerce importante papel ao se preocupar não ape- nas com o controle de doenças e de seus vetores, mas, sobretudo, com a melhoria da saúde da população antes mesmo que a doença a alcance. Os estudos que privilegiam temáticas da saúde pública, em geral, estão frequentemente interessados em investigar o modo pelo qual as condições sociais influenciam e determinam o processo saúde-doença das populações, o que tem gerado uma forte articula- ção entre a epidemiologia e as ciências sociais (RAMOS et al., 2016). A palavra epidemiologia vem do grego epi “sobre”, demos “povo” e logos “estudo”. A epidemiologia é definida como “o es- tudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos re- lacionados à saúde em populações específicas, e sua aplicação na SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 31SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 31 10/08/2022 11:49:4710/08/2022 11:49:47 32 prevenção e controle dos problemas de saúde” (MORABIA, 2013, p. 1060). Epidemiologia é um termo de origem grega que significa es- tudo sobre a população. A epidemiologia pode ser conceituada como a ciência que estuda o processo saúde-doença na sociedade, anali- sando a distribuição e os fatores determinantes das doenças, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças e for- necendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, admi- nistração e avaliação das ações de saúde (BRASIL, 2005, citado por GUSMÃO; FILHO, 2015, p. 20). O conceito de epidemiologia demonstra como a abrangência de suas informações possui uma estreita relação e funcionalidade com a saúde pública. Assim, é notável que nada nesse processo de identificação e conhecimento funciona de maneira singular. A epi- demiologia com seus indicadores e sistemas de informação favorece a saúde pública que, por sua vez, formula estratégias de promoção e prevenção e políticas públicas, sendo uma “chave que abre portas” para o conhecimento da saúde da população. Para que a epidemiologia se fortaleça, diversas disciplinascomo Biologia, Medicina, Enfermagem, Matemática, Estatística, Geografia e Sociologia estão envolvidas nesse processo. Todas em prol de um interesse comum, o conhecimento para o bem-estar da sociedade. A Biologia, Medicina e Enfermagem são ciências atuan- tes diretamente nas condições e nos determinantes de saúde. É a partir delas que existe a conscientização e o alerta do que pode estar acometendo uma comunidade ou população. A Matemática e Estatística participam da etapa de geração e elaboração de resultados concretos que irão embasar a dissemi- nação de informações em saúde. A Geografia e Sociologia atuam de forma mais generalizada pela obtenção de dados demográficos e pelo estudo das condições sociais os quais um grupo é exposto. A integração entre as ciências permite que o processo saúde-doença seja o mais explorado e estudado possível. O conhecimento gerado se torna um subsidio para as ações da Vigilância em Saúde, que tem como princípio a atenção na saúde das populações a partir do que é coletado de informações. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 32SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 32 10/08/2022 11:49:4810/08/2022 11:49:48 EXEMPLO 33 Dados podem ser conceituados como as características das variáveis analisadas em um estudo epidemiológico, por exemplo, pessoas, regiões e aspectos sociais. Na saúde pública, um dado está vinculado à descrição de uma situação ou fato, e não a um contexto explicati- vo. Quando os dados adquiridos são processados e convertidos em um contexto com significância é possível afirmar que o dado gerou uma informação, pois possui uma realidade associada. É importante salientar que os epidemiologistas não estão preocupados apenas com a saúde e a doença de uma população, mas também, e primordialmente, em como podem contribuir aos fato- res que estão intimamente relacionados ao processo saúde-doença, como nas práticas de promoção e prevenção à saúde e a avaliação de danos à saúde. O elemento base para que a epidemiologia se demonstre como uma ciência é a população humana, que é dividida em gran- des grupos sistematizados, podendo ser uma família, um grupo de trabalhadores de uma empresa, pacientes da ala oncológica de um hospital, alunos de uma escola, entre outros. De certa forma, a po- pulação deve se localizar em uma área em um determinado perío- do. Isso favorece a formação de subgrupos, como sexo, faixa etária, raça, aspectos sociais e econômicos. Devendo ainda ser levado em consideração é a variação da estrutura de um grupo de acordo com a área e o tempo, fator esse que deverá ser estimado em todo processo epidemiológico. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 33SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 33 10/08/2022 11:49:4810/08/2022 11:49:48 34 Fonte: A autora SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 34SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 34 10/08/2022 11:49:4810/08/2022 11:49:48 35 Histórico da Epidemiologia Diante da notícia de uma doença emergente ou reemergen- te, ou de uma nova epidemia, percebemos a importância dos dados epidemiológicos. Esses dados são imprescindíveis para tomadas de decisões e desenvolvimento de estratégias em saúde, especialmen- te quando se referem a doenças contra as quais ainda não há mé- todos preventivos. Entretanto, o que grande parcela da população não imagina é como a epidemiologia evoluiu e se desenvolveu na história. A epidemiologia, como a conhecemos, passou por inúmeras transformações ao longo dos anos. No entanto, a importância dos dados e das análises realizadas no passado embasa todo o conhe- cimento que temos hoje. Alguns dos métodos de monitoramento criados há séculos foram aperfeiçoados, mas seus princípios, por exemplo, ainda têm grande valor para a ciência atual. Como disciplina, a epidemiologia iniciou-se somente a partir da Segunda Guerra Mundial – mas o pensamento epidemiológico foi traçado muito antes, por Hipócrates, John Graunt, William Farr e John Snow, entre outros. Embora não haja exatidão sobre quem empregou ou quando o termo “epidemiologia” foi empregado pela primeira vez, Hipócrates recebeu reconhecimento por seu pionei- rismo. Conhecido como pai da medicina, Hipócrates deixou um le- gado pelas contribuições iniciais à epidemiologia, já que foram seus primeiros relatos (há aproximadamente 2,5 mil anos) que alicerça- ram os conhecimentos vigentes. Hipócrates sugeriu que fatores ambientais podiam influen- ciar o aparecimento e desenvolvimento de doenças e que, portanto, tais doenças ocorreriam de forma natural, o que as desvinculava dos pensamentos sobrenaturais da época, como, por exemplo, aqueles que definiam doença como “castigo divino”. Seus estudos retrata- vam a relação saúde/doença com o ambiente. Hipócrates relatou, assim, que os hábitos de higiene podiam auxiliar na prevenção de doenças. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 35SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 35 10/08/2022 11:49:4810/08/2022 11:49:48 36 John Graunt também é considerado um dos pioneiros no es- tudo da epidemiologia pela marcante atuação na geração de dados epidemiológicos. Graunt confeccionou tabelas sobre taxas de nata- lidade e mortalidade em Londres, relacionando tais resultados a fa- tores como sexo, idade e localidade (ambiente urbano e rural). Des- sa maneira, foi o primeiro a fazer um monitoramento das doenças infecciosas e medir os riscos de mortalidade em uma determinada população. Seus métodos, apesar de desenvolvidos há muito tempo, ainda fazem parte do cenário atual da epidemiologia. William Farr, por sua vez, desenvolveu um sistema moderno de estatística baseado nas ideias propostas por Graunt. Farr defen- deu a ideia de que algumas doenças, principalmente as crônicas, te- riam uma etiologia multifatorial. Dessa maneira, é considerado um dos fundadores da epidemiologia moderna. Um de seus trabalhos marcantes em epidemiologia foi a correlação entre o encarcera- mento e o risco de mortalidade dos prisioneiros, utilizando fatores como idade e tempo da sentença. Com esses dados, Farr sugeriu que a população carcerária apresentava um maior risco de morte. Por fim, John Snow teve grande destaque na história da epi- demiologia ao iniciar uma investigação que identificou onde as pessoas com cólera residiam e de qual fonte coletavam água para consumo. Snow observou uma relação entre o consumo de água e as mortes por cólera e supôs ser a água o fator responsável pela trans- missibilidade da doença. Um mapa das ruas de Londres foi, então, confeccionado, relacionando as principais fontes de água (bombas d’água) aos casos confirmados de cólera. Com essa descoberta, no- vas medidas de políticas em saúde puderam ser tomadas em Lon- dres, evitando o aumento do número de pessoas contaminadas. A partir das conclusões de Snow, melhorias foram realizadas no abastecimento de água e na questão fitossanitária, o que clara- mente ressalta o aporte dado à saúde pública. Dessa forma, a par- tir de 1850, os estudos epidemiológicos têm demonstrado, cada vez mais, sua relevância no que concerne à saúde das populações. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 36SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 36 10/08/2022 11:49:4810/08/2022 11:49:48 37 No entanto, apesar de o trabalho de Snow ter-se apresentado como pioneiro na adoção de medidas contra a cólera, as epidemias ainda são relativamente frequentes nas populações menos favore- cidas socioeconomicamente nos dias atuais. Em 2006, houve, em Angola, 40 mil casos de cólera, com 1,6 mil óbitos; no Sudão, foram 13.852 casos e 516 mortes, somente nos primeiros meses do mesmo ano. Além das ideias revolucionárias dos cientistas citados ante-riormente, não podemos deixar de lembrar que as descobertas na área da microbiologia, a partir do século XIX, proporcionaram um novo rumo para a ciência. Os trabalhos do francês Louis Pasteur fa- voreceram uma maior compreensão e aprofundamento na epide- miologia, pois a microbiologia permitiu o conhecimento de agentes infecciosos – uma nova e relevante informação para a compilação de dados estatísticos e monitoramento de doenças infecciosas. História da Epidemiologia no Brasil Figura 1. Retrato de Osvaldo Cruz em nota de 50 cruzados. Fonte: Shutterstock SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 37SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 37 10/08/2022 11:49:4910/08/2022 11:49:49 38 No final do século XIX, várias tentativas de análise quanti- tativa da ocorrência de doenças foram registradas no Brasil, no en- tanto, sem empregar técnicas estatísticas já de uso corrente no ce- nário europeu e norte-americano. Em 1903, o médico Oswaldo Cruz (Figura 1) foi nomeado para a Diretoria-Geral de Saúde Pública com o importante desafio de sanear o Rio de Janeiro, capital do País, e, assim, combater a febre amarela, a peste bubônica e a varíola, prin- cipais epidemias que assolavam a cidade. Como medidas de contro- le, foram impostas multas e intimações à população. Dois anos depois, Carlos Chagas conseguiu controlar um surto de malária em uma cidade do interior de São Paulo, e sua ex- periência acabou por torná-lo referência no combate à doença no mundo inteiro. Em 1909, Chagas descobriu o protozoário causador da tripanossomíase americana, denominado por ele Trypanosoma cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. A doença ficou conhecida mundialmente como doença de Chagas. No plano de organização do ensino, duas instituições de pes- quisa e formação especializadas no campo da saúde pública foram criadas na primeira metade do século XX: a Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, então capital da República; e a Faculdade de Saú- de Pública da Universidade de São Paulo, na metrópole economica- mente mais dinâmica no período. Epidemiologia: Objetivos A epidemiologia, ciência que estuda a dinâmica do proces- so saúde-doença possui objetivos e princípios básicos para o seu cumprimento. Para que resultados sejam alcançados é necessário que a epidemiologia analise como as doenças se distribuem e se de- senvolvem, qual é a relação com os determinantes em saúde e que proponha novas medidas com a intenção de prevenção e controle de doenças, prevenção de riscos à saúde (danos à saúde) e demais eventos relacionados à saúde, bem como forneça subsídios úteis para que sejam feitos planejamento, administração e adoção de me- didas em saúde. Do ponto de vista do alvo do estudo epidemiológico, encon- tra-se a população, que são as pessoas envolvidas nesse processo SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 38SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 38 10/08/2022 11:49:4910/08/2022 11:49:49 39 avaliativo, que permite impor as articulações necessárias e propor o controle de doenças infecciosas. Para cumprir seus propósitos, a epidemiologia possui como objetivos: ◼ A descrição da ocorrência da distribuição de problemas de saúde na população: como primeiro passo para um estudo epidemiológico, é necessário que sejam tomadas notas e re- ferências do que acontece de novo e diferente ou reemergente em um determinado período e, assim, podem ser feitos relatos do que precisa ser levado em consideração para a adoção de medidas cabíveis em saúde pública; ◼ A identificação de fatores de riscos no que se refere ao pro- cesso saúde-doença: depois de visto que novas doenças ou alterações na saúde da população humana acontecem, é ne- cessário que sejam investigados e identificados o que leva a essa população apresentar maior ou menor risco à sua saúde. Aqui, pode-se dizer que é a peça-chave para encontrar cami- nhos que levem a novas descobertas e sugestões; ◼ A análise de fatores externos (ambientais e socioeconômi- cos) que possam estar relacionados às condições de vida e saúde da população: é sabido que não apenas condições indi- viduais ou predisposições genéticas de cada pessoa são fatores únicos para deixar o indivíduo mais propício ao adoecimento. Fatores externos, ambientais ou socioeconômicos estão com- provadamente relacionados a algumas doenças. Dessa forma, a epidemiologia tenta interferir de maneira que amenize os riscos à população; ◼ A geração de dados e elaborações de planos em saúde: come- ça nesse ponto, a partir dos dados coletados, a elaboração de ações que visam garantir a prevenção e promoção da saúde. A geração de dados garante informações fidedignas que levam as esferas envolvidas a investir em medidas de contenção e melhoria na qualidade de vida da população; ◼ A fundamentação de planos de ação, planejamento e execu- ção de práticas preventivas e de controle e o tratamento de SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 39SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 39 10/08/2022 11:49:4910/08/2022 11:49:49 40 doenças: nesse momento, fala-se em execução, ao colocar em prática tudo que até esse momento foi relatado, calculado e embasado. As ações de prevenção são tão importantes quanto as ações de promoção da saúde, cada uma em um momento oportuno para sua implementação; ◼ A fundamentação e consistência de novos programas e tec- nologias que visem a assistência e vigilância em saúde: em um último plano de um processo inteiramente integrado, chega-se à fundamentação, isto é, a confirmação e adoção de programas baseados em evidências. Tudo o que foi coletado, proposto, estudado e aceito até o momento se torna uma me- dida palpável. Nesse momento, a averiguação das medidas to- madas se torna uma função da vigilância em saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 40SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 40 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 DEFINIÇÃO 41 Importância como Eixo das Ações de Saúde e como Base de Informações A epidemiologia é uma ciência dentro do campo das ciências naturais. Ainda assim, de acordo com seus objetivos e campos de atuação, é possível classificá-las em subgrupos como a epidemiolo- gia clínica, epidemiologia investigativa, epidemiologia nutricional, epidemiologia de campo e epidemiologia descritiva. Independente da classificação da epidemiologia, todas as suas categorias possuem em comum objetivos claros: identificar as condições de saúde de uma determinada população a fim de construir indicadores de saú- de; investigações das razões sociais para uma determinada situação de saúde; avaliar como as ações propostas impactam na vida da po- pulação, visando sua melhoria e bem-estar. A epidemiologia é a ciência utilizada como eixo norteador nas tomadas de decisões e na implementação das ações em saúde. Ana- lisar como uma doença se distribui, quais os fatores envolvidos nes- sa distribuição e qual é sua duração são trabalhos importantes dos epidemiologistas para compreender o que se passa em determinada população em um período específico. A investigação epidemiológica consiste em um procedimento que não apenas vincula-se a informações da notificação (como fonte de infecção, transmissibilidade, patogenicidade, riscos) mas, sobretu- do, possibilita a descoberta de novos casos que não foram notifica- dos. A importância da notificação promove uma maior robustez dos dados gerados pela epidemiologia, o que favorece a aplicabilidade de políticas e ações em saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 41SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 41 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 42 Conceito de Saúde Popularmente, é comum ouvirmos dizer: “Fulano temuma saúde de ferro!”, ou então: “Ele tem saúde para dar e vender!”. Es- ses jargões são muito utilizados pela população para remeter a uma pessoa considerada saudável. No entanto, para considerarmos al- guém saudável, isto é, prezando por saúde, primeiramente, temos que conhecer o conceito de saúde e como surgiu a necessidade de conceituação. Diante da notícia de uma doença emergente ou reemergen- te, ou de uma nova epidemia, percebemos a importância dos dados epidemiológicos. Esses dados são imprescindíveis para tomadas de decisões e desenvolvimento de estratégias em saúde, especialmen- te quando se referem a doenças contra as quais ainda não há mé- todos preventivos. Entretanto, o que grande parcela da população não imagina é como a epidemiologia evoluiu e se desenvolveu na história. A epidemiologia, como a conhecemos, passou por inúmeras transformações ao longo dos anos. No entanto, a importância dos dados e das análises realizadas no passado embasa todo o conhe- cimento que temos hoje. Alguns dos métodos de monitoramento criados há séculos foram aperfeiçoados, mas seus princípios, por exemplo, ainda têm grande valor para a ciência atual. Como disciplina, a epidemiologia iniciou-se somente a partir da Segunda Guerra Mundial – mas o pensamento epidemiológico foi traçado muito antes, por Hipócrates, John Graunt, William Farr e John Snow, entre outros. Embora não haja exatidão sobre quem empregou ou quando o termo “epidemiologia” foi empregado pela primeira vez, Hipócra- tes recebeu reconhecimento por seu pioneirismo. Conhecido como pai da medicina, Hipócrates deixou um legado pelas contribuições iniciais à epidemiologia, já que foram seus primeiros relatos (há aproximadamente 2,5 mil anos) que alicerçaram os conhecimentos vigentes. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 42SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 42 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 43 Hipócrates sugeriu que fatores ambientais podiam influen- ciar o aparecimento e desenvolvimento de doenças e que, portanto, tais doenças ocorreriam de forma natural, o que as desvinculava dos pensamentos sobrenaturais da época, como, por exemplo, aqueles que definiam doença como “castigo divino”. Seus estudos retrata- vam a relação saúde/doença com o ambiente. Hipócrates relatou, assim, que os hábitos de higiene podiam auxiliar na prevenção de doenças. John Graunt também é considerado um dos pioneiros no es- tudo da epidemiologia pela marcante atuação na geração de dados epidemiológicos. Graunt confeccionou tabelas sobre taxas de nata- lidade e mortalidade em Londres, relacionando tais resultados a fa- tores como sexo, idade e localidade (ambiente urbano e rural). Des- sa maneira, foi o primeiro a fazer um monitoramento das doenças infecciosas e medir os riscos de mortalidade em uma determinada população. Seus métodos, apesar de desenvolvidos há muito tempo, ainda fazem parte do cenário atual da epidemiologia. William Farr, por sua vez, desenvolveu um sistema moderno de estatística baseado nas ideias propostas por Graunt. Farr defen- deu a ideia de que algumas doenças, principalmente as crônicas, te- riam uma etiologia multifatorial. Dessa maneira, é considerado um dos fundadores da epidemiologia moderna. Um de seus trabalhos marcantes em epidemiologia foi a correlação entre o encarcera- mento e o risco de mortalidade dos prisioneiros, utilizando fatores como idade e tempo da sentença. Com esses dados, Farr sugeriu que a população carcerária apresentava um maior risco de morte. Por fim, John Snow teve grande destaque na história da epi- demiologia ao iniciar uma investigação que identificou onde as pessoas com cólera residiam e de qual fonte coletavam água para consumo. Snow observou uma relação entre o consumo de água e as mortes por cólera e supôs ser a água o fator responsável pela trans- missibilidade da doença. Um mapa das ruas de Londres foi, então, confeccionado, relacionando as principais fontes de água (bombas d’água) aos casos confirmados de cólera. Com essa descoberta, no- vas medidas de políticas em saúde puderam ser tomadas em Lon- dres, evitando o aumento do número de pessoas contaminadas. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 43SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 43 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 44 A partir das conclusões de Snow, melhorias foram realizadas no abastecimento de água e na questão fitossanitária, o que clara- mente ressalta o aporte dado à saúde pública. Dessa forma, a par- tir de 1850, os estudos epidemiológicos têm demonstrado, cada vez mais, sua relevância no que concerne à saúde das populações. No entanto, apesar de o trabalho de Snow ter-se apresentado como pioneiro na adoção de medidas contra a cólera, as epidemias ainda são relativamente frequentes nas populações menos favore- cidas socioeconomicamente nos dias atuais. Em 2006, houve, em Angola, 40 mil casos de cólera, com 1,6 mil óbitos; no Sudão, foram 13.852 casos e 516 mortes, somente nos primeiros meses do mesmo ano. A preocupação histórica dos povos pela busca de um ideal de saúde tem sido constante e natural, visando ao fortalecimento do grupo e até mesmo por instinto de preservação da espécie humana, tantas vezes ameaçada por lutas fratricidas, guerras de conquista e epidemias de caráter destrutivo. O surgimento de médicos, ao lado dos “mágicos”, curandeiros ou feiticeiros, data dos primórdios da humanidade, com notícias que remontam ao ano de 4.000 a.C., na Mesopotâmia (OLIVEIRA, 2001). Fundada em 1948, após a Segunda Guerra, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde como: “um estado de com- pleto bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades” (OPAS, 1948,p. 2). Apesar de ser um con- ceito deliberado há décadas, essa foi, por muito tempo – e, diga-se de passagem, ainda é – a definição mundialmente aceita. A partir da divulgação do conceito de saúde pela OMS, um di- lema instalou-se na sociedade acadêmica. Como em tudo que nos cerca, existem aqueles que são favoráveis e aqueles que são contrá- rios. Tal divergência entre os cientistas sobre a “saúde definida em palavras” leva-nos a uma boa reflexão sobre o tema. Souza e Silva, Schraiber e Mota (2019) descreveram como di- ferentes grupos se posicionaram sobre a conceituação de saúde pela OMS. Vejamos alguns deles: ◼ Grupo dos que defendem o conceito de saúde da OMS sem le- vantar questionamentos; SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 44SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 44 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 45 ◼ Grupo dos que defendem mais de uma percepção sobre o con- ceito de saúde, sendo o conceito da OMS majoritário; ◼ Grupo dos que defendem o conceito de saúde como ausência de doença; ◼ Grupo dos que defendem que o conceito de saúde é subjetivo; ◼ Grupo dos que defendem uma não conceituação de saúde. Como favoráveis ao conceito da OMS, vamos citar os autores Brugnerotto e Simões (2009). Eles analisaram o conceito de saúde nos projetos político-pedagógicos de cursos de formação em edu- cação física nas principais universidades do estado do Paraná. A compreensão de saúde ocorreu por duas vertentes: por meio do mo- delo biomédico e a partir da estratégia da nova promoção da saúde. Ao final, os autores concluíram que a definição da OMS é a melhor escolha. Do outro lado da moeda, temos um grande grupo contrário ao conceito de saúde da OMS. Alguns pesquisadores da área da saúde, durante todos esses anos, têm tentado aprimorar, atualizar e até mesmo sugerir uma nova definição para saúde. Eles alegam que a falta de clareza no que se entende por “completo bem- -estar físico, mental e social” é uma das razões pela busca de um novo conceito. Segre e Ferraz (1997), por exemplo, publicaram um repúdio ao conceito de saúdeda OMS. Os autores a consideram ultrapassada, por visar uma perfeição inatingível, atentando contra as próprias características da personalidade. Suas principais notas mostram a inadequação de se fazer distinção entre o físico, o mental e o social. Segundo os autores, trata-se de uma definição irreal porque, alu- dindo ao “perfeito bem-estar”, propõe uma utopia. O que é “per- feito bem-estar?” É, por acaso, possível caracterizar-se a “perfei- ção”? Scliar afirma que “o conceito de saúde deve refletir a con- juntura social, econômica, política e cultural”, ou seja, “saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da épo- ca, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais, de- penderá de concepções científicas, religiosas, filosóficas” (SCLIAR, 2007, p. 30). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 45SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 45 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 46 Existem, ainda, aqueles que aderem a uma “não conceitua- ção” de saúde, alegando o fato de que saúde é um lema. De acordo com Czeresnia (1999), nenhum conceito, ou sistema de conceitos, pode esperar explicar a característica de unidade na singularidade. Os conceitos expressam identidades, enquanto a unidade singular é uma expressão da diferença. Ainda que muito potencial explicativo um conceito possa ter e por mais operativo que possa ser, é incapaz de expressar o fenômeno em sua totalidade; isto é, não pode repre- sentar a realidade. Agora, conhecendo os dois lados da história e antes da tenta- tiva de conceituar saúde, devemos refletir o quão (in)atingível isto pode ser: definir uma condição em palavras. Afinal, o que deve ser levado em conta? Interpretar o conceito de saúde ou vivenciá-lo? É notória que a interpretação de texto é uma questão individual. Cada pessoa pode interpretar de diferentes maneiras, motivo esse para tanta divergência. A vivência segue a mesma tendência, com a ideia de que cada indivíduo é único, com particularidades e experiências próprias. Vivemos em um País de proporções continentais que tem passado por grandes transformações tanto sociais quanto econô- micas. Esses fatores geram uma diferença na qualidade de vida do brasileiro. Logo, as peculiaridades de cada indivíduo, família ou po- pulação são importantes passos na tentativa de conceituar saúde. Não podíamos imaginar o quanto isso seria difícil – parece ser um desafio e tanto - : generalizar um conceito tão amplo como saúde. Apesar da discordância entre aqueles que não aceitam o con- ceito da OMS, independentemente se preferem uma atualização ou uma não conceituação, uma coisa é fato: há uma preocupação de to- dos com a promoção da saúde, como veremos adiante. A epidemiologia mostra-se, assim, como uma ciência com constantes desafios de contextualização. Essa ciência parece não ser capaz de referenciar de maneira teórica o conceito de saúde. En- tre todos os parâmetros e definições estudados pela epidemiologia, a conceituação de saúde pode constituir um ponto cego, capaz de SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 46SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 46 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 47 abranger diferentes causas e permear diferentes campos de visão. Ainda assim, as Conferências Internacionais sobre Promoção da Saúde mostraram seu valor quando o conceito de saúde começou a ser produzido e avaliado teoricamente. A primeira conferência de importância internacional emergiu com a necessidade de aperfei- çoar a saúde das populações, em especial por parte dos países que implementaram as recomendações sugeridas na Conferência Inter- nacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Alma-Ata, no Cazaquis- tão. Posteriormente, a definição de saúde sofreu uma atualização no Brasil com a promulgação da Lei Orgânica da Saúde (LOS), sob o nº 8.080, de 1990. A LOS procura abordar aspectos mais abrangen- tes do que os apresentados pela OMS e incita fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. De acordo com a lei, alguns dos fatores determinantes e condicionantes são: alimenta- ção, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, entre outros. Além disso, a LOS regulamenta o Sistema Único de Saúde (SUS) e é complementada pela lei n° 8.142, de 1990, que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financei- ros na área da saúde. Atualmente, alguns fatores estão intimamente relacionados ao processo saúde-doença, e, por isso, simples atitudes do dia a dia tornam-se importantes na intenção de manter uma rotina e um há- bito de vida mais saudáveis. Alimentar-se corretamente (principal- mente pela ingestão de frutas, legumes e verduras), praticar exer- cícios físicos com regularidade, manter uma regularidade no sono e ingerir um volume suficiente de água por dia são alguns exem- plos de conselhos médicos para que uma pessoa mantenha uma boa qualidade de vida, o que impactará diretamente a sua saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 47SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 47 10/08/2022 11:49:5010/08/2022 11:49:50 48 Determinantes do Processo Saúde-Doença Os determinantes do processo saúde-doença incluem dife- rentes fatores que podem afetar o estado de saúde de um indiví- duo, por exemplo, os fatores biológicos, socioculturais, econômicos e comportamentais. A união e o equilíbrio desses fatores resultam na definição de saúde (Figura 2). A Organização Mundial da Saúde (OMS) define que os determinantes sociais da saúde estão intima- mente relacionados às condições de vida e trabalho de um determi- nado indivíduo na sociedade. A situação econômica é um dos fatores mais importantes na concepção do processo saúde-doença, pois irá impactar diretamente no estado de saúde do paciente. Figura 2. A saúde é resultante do equilibro entre diferentes fatores. Fonte: Shutterstock Alguns estudos experimentais foram desenvolvidos na ten- tativa de modificar os determinantes envolvidos no processo saú- de-doença, como interromper uma doença por meio de um trata- mento. No entanto, esses tipos de estudos experimentais passam por uma série de restrições, pois impactam diretamente na vida das pessoas. Para o entendimento de como tais determinantes interfe- rem no processo saúde-doença é preciso retomar o conceito de saú- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 48SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 48 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 DICA 49 de e doença como eventos opostos, mas que possuem uma conexão. O processo saúde-doença marca a epidemiologia social, isso é, aquela que considera a saúde e doença como razões no coletivo. Dessa forma, o processo saúde-doença deve sempre ser embasa- do no bem-estar social da população, objeto de pesquisa da saúde pública. Esse processo ocorre por processos biológicos e sociais de desgaste que tem como consequência o adoecimento dos indivíduos . .Fatores demográficos de países pobres são definidos pela aglome- ração de população vivendo em espaço reduzido, com saneamento inadequado, em condições precárias de habitação, proliferação de fauna sinantrópica, infraestrutura urbana deficitária e elevada de- gradação ambiental. Esses indicadores criam condições favoráveis para a multiplicação e propagação de determinados agentes, seus vetores e reservatórios – por exemplo, a emergência da dengue (RAMOS et al., 2016). O processo saúde-doença é um dos pontos centrais para os profissionais da saúde que buscam promovê-la, cuidando para que as pessoas possam ter, tanto quanto possível, uma boa qualidade de vida, mesmo quando as limitações se estabelecem.Para essa relação especial com os clientes, é necessário o aprendizado do uso dos ins- trumentos e das tecnologias para o cuidado que compõe a formação desses profissionais (VIANNA, 2012, p. 86). A busca pela saúde é um propósito em comum a toda popu- lação. Para isso, os profissionais da saúde e gestores trabalham pelo acesso à inclusão e aderência de políticas de saúde que promovam ações em saúde. Alguns fatores intrínsecos e extrínsecos ao homem estão re- lacionados ao processo saúde-doença, que incluem causas suficien- tes para que uma doença seja adquirida e desenvolvida. Em alguns SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 49SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 49 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 CURIOSIDADE 50 casos, a exposição a diversos determinantes nem sempre podem subsidiar alterações imediatas ao indivíduo. Os casos em que a trí- ade ambiente-determinante-susceptibilidade se manifesta tardia- mente, mas da mesma forma, acometem o bem-estar da população em um momento ou outro. São alguns dos fatores determinantes do processo saúde- doença: sedentarismo, tabagismo, obesidade, alcoolismo, estresse, baixa autoestima, uso incorreto de medicamento, uso inadequado da alimentação, problemas colaborativos e pré-existentes, relações interpessoais prejudicadas, renda insuficiente, educação inadequa- da, disposição ineficaz de agenda para tratamento e problemas com os cuidadores dos parciais ou totalmente dependentes (CARVALHO et al., 2005;LIMA et al.,2008). A política de saúde engloba ações de promoção a saúde que cobremos determinantes sociais, econômicos e ambientais da saú- de. A política de saúde pode ser vista como um conjunto de decisões sobre os objetivos estratégicos para o setor saúde e os meios para alcançar esses objetivos. A política é expressa em normas, práticas, regulamentos e leis que afetam a saúde da população e que em con- junto dão formato, direção e consistência às decisões tomadas ao longo do tempo (BONITA, 2010, p. 165). As políticas de saúde são referidas principalmente aos cuida- dos médicos ou pela organização assistencial de serviços de saúde. As decisões políticas também influenciam as tomadas de decisões em saúde. Uma política verdadeira deve se empenhar em fornecer ações de saúde, como profilaxia, prevenção e promoção. Para que isso ocorra os determinantes do processo saúde-doença necessitam ser constantemente avaliados. Profilaxia é o conjunto de medidas adotadas com o objetivo de inter- romper a cadeia de transmissão de uma doença, e conta com: pre- venção (maneiras para evitar o surgimento de uma doença), con- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 50SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 50 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 51 trole (medidas que possuem como objetivo a redução da frequência da ocorrência de uma doença) e erradicação (medidas adotadas com o intuito de eliminar determinada doença de uma região). Os últimos 50 anos demonstraram a importância da epide- miologia como ciência. Hoje, seu maior desafio é avaliar como os determinantes de saúde e doença influenciam o processo saúde- -doença. Os epidemiologistas estão preocupados não somente com a vida ou morte de um indivíduo, mas também com a melhoria dos indicadores de saúde e com maneiras de promover saúde. Uma nova maneira de pensar a saúde e a doença deve incluir explicações para os achados universais de que a mortalidade e a morbidade obedecem a um gradiente, que atravessa as classes so- cioeconômicas, de modo que menores rendas ou status social estão associados a uma pior condição em termos de saúde. Tal evidência constitui-se em um indicativo de que os determinantes da saúde estão localizados fora do sistema de assistência à saúde (VIANNA, 2012, p. 78). Em algumas situações é importante se atentar para não cul- par as pessoas quanto a determinadas condições em que as mesmas se encontram, por exemplo, condições de trabalho insalubres que podem interferir na vida e nos cuidados de um indivíduo. Adoção de Políticas nos Determinantes do Processo Saúde-Doença Os determinantes do processo saúde-doença influenciam diretamente o estilo de vida das pessoas. Por isso, foram pensa- das e propostas políticas que garantam e estimulam a mudança no comportamento através de práticas e ações educativas, facilitando o acesso às comunidades menos favorecidas, promovendo assim equidade social. O estilo de vida e o comportamento dos cidadãos formam a entrave do início da promoção a saúde. A facilidade ao acesso a uma SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 51SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 51 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 VOCÊ SABIA? 52 alimentação saudável, criação de academias ao ar livre e espaços para práticas de atividades físicas são algumas das atitudes propos- tas. Além disso, as redes de solidariedade, que visam o acolhimento da comunidade, a implementação de redes de apoio e participação dos envolvidos, também pretendem aprimorar medidas e assim re- duzir os possíveis danos no processo saúde-doença. Condições so- cioeconômicas, culturais, sanitárias e trabalhistas envolvem dire- tamente as condições de vida de um indivíduo. Para elucidar como a promoção da saúde vincula-se à adoção de medidas e políticas nos determinantes do processo saúde-doen- ça, podemos citar o tabagismo. Atualmente, é sabido que a principal causa do aumento do número de pessoas com câncer de pulmão é o tabagismo. Os primeiros estudos epidemiológicos que fizeram a relação do tabagismo com o câncer de pulmão são datados de 1950. O tabagismo é uma prática que pode ser iniciada pela influên- cia familiar ou de amigos ou pela ausência de estrutura emocional e educacional. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) conta hoje como uma rede de apoio que se baseia em campanhas e projetos para o controle do tabagismo. Diferentes locais (escolas, universidades, unidades de saúde, empresas, entre outros) participam de um Plano Global de Controle do Tabagismo e Prevenção Primária do Câncer. A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) tornou-se o padrão de classificação diagnóstica para todos os propósitos epidemiológicos e de registros em saúde. A CID está em sua 11ª edição e é chamada de CID-11, sendo utilizada para classificar doenças e outros problemas de saúde em diferentes tipos de registros, incluindo atestados de óbito e regis- tros hospitalares. Essa classificação permite resgatar informações clínicas e epidemiológicas e compará-las com estatísticas nacionais de morbimortalidade. A nova classificação entrou em vigor em 1º de janeiro de 2022 e atualizou diversas condições, com destaque para SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 52SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 52 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 SINTETIZANDO 53 o transtorno do espectro autista e transexualidade, e trouxe novas categorias relativas à Covid-19. A CID contém mais de 50 mil códi- gos para doenças e causas de morte, e serve de base para estatísticas de saúde em todo o mundo. Vimos que a epidemiologia é a ciência que estuda o comportamento das doenças em uma população, em um determinado período. Sua relevância é demonstrada pela importância do conhecimento do processo saúde-doença. Saber como uma doença surge, seu método de transmissão, os riscos que oferece à população, as maneiras de preveni-la e como promover a saúde, são ações essenciais no estudo epidemiológico. Toda investigação epidemiológica é feita baseada na população. É ela que direciona todo o estudo de acordo com a apresentação de características específicas. O estudo epidemiológico conta com uma análise descritiva, de total demonstraçãoda real situação que uma determinada população está passando. Os métodos analíticos atu- am na tentativa de formular hipóteses, construir ferramentas e pre- venir fatores de risco, evitando maiores consequências futuras. A estrutura epidemiológica composta pelo agente infeccioso, hos- pedeiro e meio ambiente revelam a pluralidade e a extensão da epi- demiologia. A epidemiologia visa manter a população o mais longe possível das novas ou reemergentes doenças. Sua intenção como prática social é fornecer subsídios para um planejamento e gestão de medidas e políticas em saúde. A casualidade multifatorial das doenças impulsiona a abordagem de que não somente de fatores genéticos os indivíduos estão condi- cionados, mas de todas as demais características que podem afetar a incidência e prevalência de uma enfermidade. Aspectos sociocul- turais e ambientais são comprovadamente capazes de interferir na qualidade de vida dos indivíduos. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 53SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 53 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 54 SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 54SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 54 10/08/2022 11:49:5110/08/2022 11:49:51 UN ID AD E 3 Objetivos ◼ Discutir as leis regulamentadoras do SUS (Lei nº 8.080/90 e Lei nº 8.142/90); ◼ Descrever os indicadores de saúde; ◼ Reconhecer os níveis de assistência e sua importância para a Saúde Coletiva; ◼ Compreender o sistema de referência e contrarreferência em saúde; ◼ Analisar a tomada de decisão em cada nível de assistência. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 55SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 55 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 56 Introdução Olá, aluno(a)! Neste objeto de aprendizagem você estudará as leis regula- mentadoras do SUS, também conhecidas como Leis Orgânicas de Saúde. Discutiremos as leis de nº 8.080/90 e nº 8.142/90, tratare- mos dos indicadores de saúde, abordaremos os níveis de assistência em saúde e o sistema de referência e contrarreferência em saúde. Agora, convido-lhe a estudar e compreender essas temáticas de ta- manha relevância para a sociedade. Bons estudos! SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 56SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 56 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 CURIOSIDADE 57 Leis orgânicas, indicadores de saúde e níveis de assistência Lei Orgânica As leis são as normas e regras jurídicas de um país. A lei do tipo orgânica regulamenta os direitos fundamentais da população e o desenvolvimento dos poderes públicos. A lei orgânica é amparada na esfera da magistratura nacional pela lei complementar número 35 de 1979. Esta é subordinada pela constituição estadual e federal, sendo uma conexão intermediária entre a constituição e as leis or- dinárias. O artigo 29 da Constituição Federal descreve a lei orgânica como sendo os regimentos organizatórios municipais. Já quando se alude aos regimentos dos estados, denomina-se estes de constitui- ção estadual. Para uma lei orgânica ser aprovada, é necessária a ob- tenção da supremacia de votos favoráveis à mesma, pois esta trata de temas importantes para a população, exigindo maior rigor na sua instituição e alteração (BRASIL, 1990). No município, a lei orgânica representa a lei de maior mag- nitude, devendo, no entanto, respeitar as diretrizes da Constituição Federal da república. Para uma lei orgânica ser estabelecida, é pre- ciso haver a aprovação da câmara municipal e a superioridade de 2/3 dos votos dos vereadores; após aprovada, esta não pode ser facil- mente modificada, mesmo que seja a vontade do prefeito da cidade. O município legisla para si a partir das atribuições dadas a ele pela que a Constituição Federal da república. As leis orgânicas estão hie- rarquicamente acima de todas as outras normas legislativas regio- nais, no que refere às competências municipais. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 57SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 57 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 58 A elaboração de leis orgânicas, de maneira autônoma, pelos municípios é um processo relativamente recente. Voltando no tem- po e analisando o histórico de constituições brasileiras, podemos verificar que: ◼ A constituição de 1824, vigente durante o Brasil império, nem ao menos utiliza a palavra município; ◼ A constituição de 1891 afirma, somente, que os estados devem se organizar para assegurar a soberania dos interesses muni- cipais; ◼ A constituição de 1934 e 1937 menciona o estabelecimento da lei orgânica somente para o Distrito Federal; ◼ A constituição de 1946 faz alusão à lei orgânica, somente, para designar que até a promulgação desta, a lei deve se manter conforme a legislação precedente; ◼ A constituição de 1967 não faz referências diretas à lei orgâ- nica; A constituição de 1988, atualmente vigente, afirma, no seu artigo 29, que o município irá reger-se através de lei orgânica, com votação em dois turnos, e com o interstício mínimo de dez dias. Ela deve ser aprovada por 2/3 dos membros da câmara municipal, que a promulgará, desde que sejam atendidos os princípios estabelecidos na constituição. Como visto, as leis orgânicas começaram a ser estabelecidas somente no Brasil República; com o fim do império priorizou-se dar autonomia aos estados e consentir que estes determinassem a autonomia dos seus respectivos municípios. Foi com a constituição federal de 1988 que se instituiu a total autoridade dos municípios na criação de suas próprias leis orgânicas. Também foi a partir des- sa época que a federação passou a ser composta pelos âmbitos da união, dos estados, dos municípios e do distrito federal. A cada âmbito federativo foi destinado um conjunto de au- tonomias organizativas, monetárias, administrativas, legislativas e políticas. A autonomia organizativa refere-se à autonomia dada SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 58SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 58 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 59 aos municípios no que se refere ao estabelecimento de suas leis or- gânicas. A autonomia monetária engloba a criação, arrecadação e aplicação dos impostos municipais, assim como a gerência dos re- cursos provenientes dos repasses da união e dos estados. A autono- mia administrativa está relacionada à gestão dos serviços públicos municipais. A autonomia legislativa denota a concepção de normas locais, sendo enfatizadas as particularidades de cada município. A autonomia política se dá por meio da eleição dos prefeitos e verea- dores e da posterior chance de cassação dos seus governos pela câ- mara municipal (CORRALO; CARDOSO, 2016). As normas constituintes anteriores a 1988 davam preceden- tes para que os estados escolhessem o tipo de sistema que lhes pro- porcionasse maior poder, salvo os estados de Goiás e do Rio Gran- de do Sul, que seguiam o método de carta própria desde a primeira constituição. O sistema de carta própria delegava ao município o direito de estabelecer as suas leis fundamentais. Com a constitui- ção de 1988, todos os municípios passaram a ser Entes Federados, consequentemente, a ter mais autonomia organizacional, podendo elaborar suas próprias leis orgânicas. Leis 8�080/90 e 8�142/90 As leis números 8.080 e 8.142 são leis do tipo orgânica, que foram instituídas em 1990 para reger a saúde e regulamentar o Sis- tema Único de Saúde (SUS). Ambas são válidas em todo território nacional, sendo conhecidas e denominadas como as “leis orgânicas da saúde”, as quais discorrem preponderantemente a respeito do repasse intergovernamental de verbas na saúde, da presençada so- ciedade na gestão do SUS, e da estrutura e execução de atividades no sistema público de saúde (ROCHA, 2012; MOREIRA, 2018). As leis orgânicas da saúde têm como propósito o esclareci- mento da conjuntura adequada à realização da proteção, recupera- ção e promoção da saúde no país. Elas normatizam o modo de exe- cução dos serviços de saúde, que podem ser realizados em caráter eventual ou definitivo, de modo individual ou coletivo, por pesso- as jurídicas ou físicas, e no âmbito público ou privado. Um aspecto SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 59SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 59 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 REFLITA 60 elementar e prevalecente dessas leis é a instauração da saúde como um direito da população e como um dever do Estado, o qual tem a obrigação de assegurar a assistência por meio do desenvolvimento de políticas públicas de saúde e programas sociais. Por designarem a saúde como um direito fundamental à vida, a aprovação das leis 8.080/90 e 8.142/90 foram, e são, compreendi- das como uma importante vitória da sociedade brasileira. Estas en- fatizam que o governo é responsável por garantir o acesso universal, integral e equitativo em todos os níveis de atenção à saúde. Ressal- ta-se, no entanto, que as leis orgânicas da saúde não se abstêm da responsabilidade individual de cada cidadão, família e empregador de proteger e promover a saúde dos seus dependentes. A definição de saúde é contemplada pela lei 8.080/90, na qual ela é relacionada determinantes e condicionantes socioeconômicos, como: as condições de moradia, alimentação, saneamento básico, trabalho, lazer e educação. Os aspectos de saúde de uma população e o acesso a serviços essenciais a uma vida digna são fatores que com- põem o índice de desenvolvimento de um país no contexto global (BRASIL, 1990; SOLHA, 2014). A lei 8.080 tem um efeito, para além do simbólico, de detalhar na le- gislação infraconstitucional diversas das diretrizes que a Constitui- ção de 1988 assegurou. Tivemos o avanço, a partir do movimento da Reforma Sanitária, com a inclusão no texto constitucional da saúde como um direito. Para a geração que nasce pós-88 isso parece dado, mas precisa ser sempre reforçado como algo que foi uma batalha, uma luta do povo brasileiro encabeçada pelos atores da Reforma Sa- nitária (CAMPOS, 2020). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 60SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 60 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 61 Leis 8�080/90 e 8�142/90 e a Reforma Sanitária do Brasil A Reforma Sanitária tem sua origem relacionada à formação de um grupo que era composto por: profissionais da saúde, sindica- listas, estudantes, filósofos e representantes de organizações po- pulares. Este grupo compartilhava do mesmo ideal: o direito uni- versal à saúde. Felizmente este ideal foi alcançado somente na VIII Conferência Nacional de Saúde (Figura 1), a qual contou com mais de 5.000 participantes, ficando conhecida na época como a maior reunião da história dos movimentos sociais. Figura 1. VIII Conferência Nacional de Saúde. Fonte: Conselho Nacional de Saúde, 2019. Pode-se dizer que o SUS foi criado graças à luta incessante do movimento de reforma sanitária e a batalha dos participantes das Conferências Nacionais de Saúde. Após a instituição do SUS surgiu à necessidade da normatização do mesmo, ocorrendo esta através das leis 8.080/90 e 8.142/90. Essas leis estabeleceram alterações no sis- tema de saúde que vêm ao encontro da luta e do propósito fomenta- do pela reforma sanitária (PAIVA; TEIXEIRA, 2014; BRASIL, 1986). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 61SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 61 10/08/2022 11:49:5210/08/2022 11:49:52 62 Sistema de Organização Hierárquica de Atenção à Saúde Fonte: A autora SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 62SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 62 10/08/2022 11:49:5310/08/2022 11:49:53 63 O SUS é um programa integrado, estruturado em uma rede hierarquizada e regionalizada. Historicamente a organização dos serviços públicos de saúde é dividida em três amplos conjuntos de assistência, são eles (MENDES, 2010; MOREIRA, 2018): ◼ Atenção básica, que é a porta de entrada do sistema, prestan- do assistência de baixa complexidade, englobando unidades básicas de saúde, ambulatórios, o programa saúde da família e o programa de agentes comunitários da saúde; ◼ Média complexidade, a qual é composta por ambulatórios, clínicas e hospitais especializados da rede pública e privada de saúde; ◼ Alta complexidade que disponibiliza atendimento em diver- sas especialidades, incluindo procedimentos de alto custo e que exige grande tecnologia, como a realização de transplan- tes. Nos últimos anos, o sistema hierárquico não tem mostrado os resultados desejáveis frente às demandas de saúde da popula- ção, por este motivo, novas medidas têm sido implementadas pelo Ministério da Saúde no País, como o sistema de redes de atenção à saúde. Sistemas de Redes de Atenção à Saúde Atualmente, o Ministério da Saúde vem tentando implemen- tar no País o sistema de redes de atenção à saúde, diferentemente do sistema hierárquico e piramidal, separado em níveis de comple- xidade, as redes de atenção à saúde possuem o propósito de integrar os serviços para disponibilizar uma assistência mais efetiva, huma- nizada e em conformidade com os princípios doutrinários do SUS. O sistema de rede fomenta o vínculo entre a atenção hospitalar e a atenção básica, estabelecendo serviços de referência e subdivisões de cuidados específicos à saúde do paciente (MOREIRA, 2018). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 63SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 63 10/08/2022 11:49:5310/08/2022 11:49:53 EXEMPLO 64 O seguinte caso hipotético é um exemplo de como o sistema de redes de atenção em saúde funciona: Um usuário do SUS procura a unidade básica de saúde com queixas de dor de cabeça. Como apresenta ou- tros sinais e sintomas sugestivos de um acidente vascular cerebral é direcionado a um pronto socorro da região. Lá piora e desenvolve um trombo na corrente sanguínea, permanece dez dias na unidade de terapia intensiva e depois mais seis dias sobre observação na in- ternação. Como obteve escaras é direcionado novamente a unidade básica para continuar o seu acompanhamento clínico. Dois meses após a sua alta, desenvolve insuficiência renal, sendo mais uma vez encaminhada a um hospital especializado, para realizar hemodiáli- se. Segue fazendo o acompanhamento das suas demais comorbida- des na unidade básica de saúde. Para o sistema de redes a unidade básica de saúde é a porta de entrada do paciente no SUS, podendo este ser direcionado pela unidade a outros serviços da rede quando necessário. É importante ressaltar que o sistema de redes entende que uma unidade de pronto atendimento e um ambulatório de especialidades médicas possuem a mesma importância, ou seja, um serviço não é considerado infe- rior ou superior ao outro.As Redes de Atenção à Saúde são organiza- das através de um complexo de unidades assistenciais à saúde (Fi- gura 2). A implantação dessas redes otimiza as condições sanitárias e econômicas do sistema público de saúde. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 64SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 64 10/08/2022 11:49:5310/08/2022 11:49:53 65 Figura 2. Ilustração do sistema de rede de atenção a saúde. Fonte: Shutterstock. As Redes de Atenção à Saúde são organizadas através de um complexo de unidades assistenciais à saúde. A implantação dessas redes otimiza as condições sanitárias e econômicasdo sistema pú- blico de saúde. Não existe somente um único padrão organizacio- nal das redes de atenção à saúde, entretanto o Ministério da Saúde considera que os seguintes quesitos são essenciais ao seu funciona- mento (ARRUDA, 2017; MOREIRA, 2018): ◼ Recursos humanos suficientes, competentes, comprometidos e com incentivos pelo alcance de metas da rede; ◼ Vasta cadeia de empresas de saúde que oferecem serviços in- dividuais e coletivos de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos; ◼ Atenção básica à saúde estruturada como primeiro nível de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, consti- tuída de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado, e atendendo às suas ne- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 65SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 65 10/08/2022 11:49:5310/08/2022 11:49:53 66 cessidades de saúde; ◼ Financiamento tripartite alinhado com as metas da rede; ◼ Participação social ampla; ◼ Prestação de serviços especializados em locais adequado; ◼ Existência de mecanismos de coordenação, continuidade do cuidado e integração assistencial por todo o contínuo da aten- ção; ◼ Atenção à saúde centrada no indivíduo, na família e na comu- nidade, tendo em conta as particularidades culturais, assim como a diversidade da população; ◼ Administração integrada dos sistemas de apoio administrati- vo, clínico e logístico; ◼ Sistema de informação integrado que vincula todos os mem- bros da rede, com identificação de dados; ◼ Ação intersetorial e abordagem dos determinantes da saúde e da equidade em saúde; ◼ Gerência baseada em resultado; ◼ Sociedade e território definidos com amplo conhecimento de suas carências e preferências, que determinam a oferta de serviços de saúde; ◼ Sistema de governança único para toda a rede com o propósito de criar uma missão, visão e estratégias nas organizações que compõem a região de saúde; definir objetivos e metas que de- vam ser cumpridos no curto, médio e longo prazo; articular as políticas institucionais; e desenvolver a capacidade de gestão necessária para planejar, monitorar e avaliar o desempenho dos gerentes e das organizações. A constituição da equipe de saúde deve sempre ser multipro- fissional no sistema de rede, pois este acredita que as doenças são de múltiplas causas, requerendo, portanto, distintos conhecimentos SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 66SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 66 10/08/2022 11:49:5310/08/2022 11:49:53 DEFINIÇÃO 67 profissionais, sendo também fundamental a manutenção do diálogo interdisciplinar entre a equipe (MOREIRA, 2018). Doença transmissível é qualquer doença causada por um agente infeccioso específico ou seus produtos tóxicos. Se manifesta pela transmissão deste agente ou de seus produtos – de um reservatório a um hospedeiro suscetível –, seja diretamente de uma pessoa ou animal infectado, ou indiretamente por meio de um hospedeiro in- termediário, de natureza vegetal ou animal, de um vetor ou do meio ambiente inanimado (OPAS, 2010). Indicadores de Saúde: Indicador e Índice A Epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde/ doença em certa população por meio da análise da distribuição po- pulacional e dos fatores determinantes das doenças, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva. Na prática, dessa forma, ela propõe medidas específicas de prevenção, redução ou eliminação de enfermidades, além de fornecer indicadores que servem de parâ- metros para planejar, administrar e avaliar ações na saúde. Os conhecimentos e estratégias desenvolvidos pelos profis- sionais de saúde e gestores são essenciais durante todo o estudo epidemiológico: na investigação de doenças emergentes e reemer- gentes e na indicação de quais os melhores determinantes e indica- dores de saúde ligados à origem de uma doença. Os avanços na tentativa de controlar doenças infecciosas me- lhoraram a compreensão do estado de saúde, e os determinantes sociais passaram a fazer parte do quadro avaliativo de uma popu- lação. São exemplos práticos os dados de morbidade, prevalência, SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 67SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 67 10/08/2022 11:49:5310/08/2022 11:49:53 VOCÊ SABIA? 68 incidência, acesso a serviços de saúde, qualidade de vida, fatores socioambientais envolvidos na saúde pública etc. As informações disponibilizadas a partir de uma base de dados válidos são requisi- tos fundamentais para avaliar os cidadãos e suas condições de saú- de, visto que são essas as premissas que sustentarão e programarão as ações e políticas na saúde. Os valores que avaliam o estado de saúde de uma população possuem um papel capital para a ciência; são eles: indicadores e ín- dices de saúde. Nota-se a partir disso a importância de eventos re- lacionados à saúde com a intenção de conhecer suas condições em dado local. Os indicadores de saúde são realizados de modo a facilitar o desenvolvi- mento de informações conforme elementos gerados pela quantificação e avaliação dos conhecimentos produzidos. Po- de-se dizer que os indicadores se referem a ferramentas impres- cindíveis para a dimensão do estado de saúde e avaliação de desem- penho dos sistemas de saúde. Eles, pois, refletem na real situação sanitária e servem como guia para ações de vigilância. O IBGE é o instituto responsável pela aquisição de dados estatísti- cos sobre indicadores sociais, demografia, pesquisa de orçamentos familiares e mortalidade. Tais dados contribuem para a construção de indicadores de saúde a serem utilizados pelos serviços de saúde. A lei de acesso a informações (Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011) tem o propósito de regulamentar o direito constitucional de acesso dos cidadãos, tornando possível a maior participação popu- lar e o controle social das ações governamentais; o acesso da so- ciedade às informações públicas permite que ocorra um avanço na gestão pública. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 68SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 68 10/08/2022 11:49:5410/08/2022 11:49:54 69 Valores absolutos não são ideais para a epidemiologia, pois há uma gama de informações referentes ao estado de saúde das pes- soas: como chances de algum agravo à saúde, grupos de riscos de certas doenças, sexo, faixa etária etc. Tais informações são obtidas por meio dos indicadores. Além de importante instrumento gerencial, de planejamento e de vigilância da saúde, tornar as informações acerca dos indica- dores de saúde disponíveis e acessíveis a todos, especialmente aos usuários dos serviços de saúde, é passo essencial para a efetivação do controle social do SUS, um dos pilares de democratização de nos- so sistema de saúde (SANTIAGO et al., 2002, p. 803). A idealização de um indicador é um processo de complexida- de variável – desde a contagem de casos de uma doença até cálculos estatísticos, como probabilidades, taxas e razões. Se construídos e atualizados constantemente em um sistema dinâmico, os indicado- res são ferramentas valiosas para a gestão de saúde. São evidências que constituem a situação e suas propensões permitem identificar, por exemplo, grupos com maiores necessidades de saúde e até mes- mo localizar áreas mais críticas. Eles estabelecem, assim, subsídios que devem ser colocados rapidamente em prática de acordo com a precisão da população. Os indicadores assentem que o número de pessoas ou animais afetados por uma doença favoreça a comparação de níveis de forma espacial e temporal. Destaca-se a importância dos indicadores de saúde e como sua construção e consolidação influenciam as defini- ções e perspectivas de um grupo estudado. Para atuar na perspecti-va da vigilância da saúde é imprescindível a utilização de indicado- res sociais e de saúde que, articulados, ajudam a medir problemas e avaliar resultados da intervenção em saúde. Estes indicadores, utilizados de forma pactuada, constituem-se caminho apropriado para o envolvimento de diferentes atores sociais na construção de projetos intersetoriais capazes de influenciar a formulação de polí- ticas públicas que melhor respondam às demandas sociais de saúde (SANTIAGO et al., 2002, p. 799). Existem indicadores positivos, negativos e neutros. Indica- dores negativos são mostras que traduzem dados negativos – mor- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 69SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 69 10/08/2022 11:49:5410/08/2022 11:49:54 DICA 70 bidade, letalidade e mortalidade. Indicadores positivos referem-se àqueles que fornecem dados relacionados à saúde e à qualidade de vida. E aqueles que não se encaixam em indicadores positivos ou ne- gativos são definidos como indicadores neutros. Em Epidemiologia, no que tange à saúde de uma população, os dados negativos são os mais utilizados. Em Medicina Veterinária, por exemplo, há indica- dores que medem a produtividade em explorações animais. Os indicadores de saúde são continuadamente elaborados e atualizados conforme a necessidade de um estudo epidemiológico, apesar de serem os indicadores negativos os mais empregados para esse fim. Eles identificam, monitoram e avaliam as ações e todo o planejamento que subsidiam as decisões do gestor. Torna-se pos- sível identificar, por exemplo, áreas com maior ou menor risco de uma doença ocorrer e quais as tendências em dada época do ano. Os indicadores fortalecem as informações e os dados, auxi- liam no direcionamento da tomada de decisões e evitam o desper- dício de tempo em ações não planejadas. O acompanhamento de todo o processo, desde o recolhimento de dados até a confecção do relatório final, é de amplo valor: a segurança da informação reflete na realidade, e não em uma simples percepção sem fundamentação. Quanto à qualidade e cobertura dos dados de saúde, é preci- so transformar esses dados em indicadores que possam servir para comparar o observado em determinado local com o observado em outros locais ou com o observado em diferentes tempos. Portanto, a construção de indicadores de saúde é necessária para analisar a situação atual de saúde; fazer comparações e avaliar mudanças ao longo do tempo (VAUGHAN; MORROW, 1992). Os indicadores são diferentes de índices, pois retratam apenas um aspecto, como a mortalidade. O índice, por sua vez, exprime cir- cunstâncias com múltiplas dimensões e incorpora diferentes indi- cadores em uma única medida. Um índice cotidiano na saúde públi- ca é o índice de desenvolvimento humano (IDH). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 70SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 70 10/08/2022 11:49:5410/08/2022 11:49:54 71 Entre os principais indicadores de saúde, estão: ◼ Aspectos demográficos; ◼ Morbidade/gravidade/incapacidade funcional; ◼ Mortalidade/sobrevivência; ◼ Nutrição/crescimento e desenvolvimento; ◼ Saúde ambiental; ◼ Condições socioeconômicas; ◼ Serviços de saúde. Na proposta de vigilância da saúde, as ações de saúde dirigi- das ao coletivo não devem se resumir a intervenções sobre o hospe- deiro, o agente etiológico e o meio ambiente, mas devem focalizar os determinantes que estão por trás dessa tríade (CARVALHO, 1998). Os indicadores são expressos mediante proporções, médias, taxas, índices, distribuições por classes e valores absolutos; estes podem referir-se à totalidade da população ou a grupos sociodemo- gráficos específicos. Índice é um tipo de indicador de saúde cuja relação entre fre- quências atribuídas de determinado evento é avaliada. Os índices são expressos em valores percentuais. Eles são valores menores que a unidade pelo motivo de estarem como frequências de eventos as- sociados ao numerador, significativamente, menor que os valores do denominador. Pode-se considerar o índice um indicador multi- dimensional. O índice é utilizado em alguns casos como sinônimo de indi- cador, ora com uma conotação mais abrangente expondo situações multidimensionais do problema estudado e incorporando, em uma medida única, diferentes aspectos ou diferentes indicadores (PE- REIRA, 1995 apud PEREIRA, 2007, p. 12). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 71SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 71 10/08/2022 11:49:5410/08/2022 11:49:54 72 Indicadores de Saúde e Estatísticas Públicas Em alguns estudos epidemiológicos, comumente leva-se em consideração as estatísticas públicas. Deve-se destacar, no entanto, que existe uma diferença entre as vertentes indicadores e estatísti- cas. As estatísticas são desenvolvidas e promovidas por instituições parceiras, como modelos de pesquisas amostrais e levantadas por censos demográficos – estas são vinculadas a registros administra- dos de esferas governamentais, em níveis municipal, estadual e fe- deral. As estatísticas revelam dados brutos, sem contextualização, o que as difere dos indicadores. Pode-se dizer que as estatísticas am- param a construção dos indicadores de saúde; por exemplo: regis- tros de mortes e nascimentos são dados estatísticos úteis à confec- ção de indicadores, esses últimos permitem uma contextualização e uma comparação temporal e espacial do real acontecimento, por meio da composição de índice de natalidade e mortalidade. Como o setor de saúde é influenciado por uma ampla varieda- de de fatores, muitos dos quais não estão vinculados à prestação de serviços de saúde, é importante colaborar com outros setores (como outras agências governamentais, universidades e os centros de pes- quisa). Parte dos principais interesses desses setores requer definir, elaborar, analisar e usar indicadores de saúde. Portanto, a colabo- ração intersetorial melhora e otimiza a qualidade e a relevância dos indicadores de saúde e incentiva a tomada de decisão baseada em evidências em todos os setores (OPAS, s.d.). Alguns institutos realizam trabalhos de produção de infor- mação demográfica; entre eles, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Sistema Estadual de Análise de Dados (Se- ade). As informações quanto à situação demográfica, relações tra- balhistas e saúde são disponibilizadas para a população e podem ser utilizadas como fonte de pesquisa. A tecnologia, por meio da infor- mática e da facilidade de acesso à internet, favoreceu esse processo. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 72SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 72 10/08/2022 11:49:5510/08/2022 11:49:55 73 Avaliação de Indicadores Os valores aproveitados para gerar informações sobre saúde devem ser constantemente avaliados, e, em princípio, não é uma tarefa simples. Alguns detalhes, portanto, precisam ser considera- dos: mortalidade, faixa etária, qualidade de vida etc. A escolha de qual indicador usar em um estudo epidemiológico depende dos ob- jetivos do trabalho, bem como dos aspectos metodológicos, éticos e operacionais. O desígnio do indicador começa com a delimitação do problema a ser observado, investigado ou medido. Depois, de- fine-se o indicador e como ele será utilizado no meio operacional. Na avaliação de indicadores, certos princípios precisam ser levados em consideração: ◼ Validade: esse requisito avaliativo possui significado de ade- quação, isto é, deve compor estratégias em sua abordagem operacional. Utiliza-se a validade para medir um fenômeno e sua capacidade de discriminação, representação, entre outros eventos pela detecção de modificações ocorridas ao longo dos anos. Por exemplo: a testagem do nível de determinada pro- teína; seu ponto de cortepode ser variável e, com isso,obtém- se maior validade. Essa margem mais flexível pode refletir em uma fase de pré-patogênese de uma doença. O novo ponto de corte, desse modo, reflete mais fielmente no risco a que a po- pulação está correndo; ◼ Confiabilidade (ou reprodutibilidade ou fidedignidade): método avaliativo que revela o quanto um teste é confiável por meio da obtenção de resultados semelhantes; quando são repetidas várias vezes e se há concordância de resultados, ponto-chave para tal critério. Em uma análise epidemiológica, devem ser escolhidas características com maior confiabilidade; valores que delimitem uma baixa confiabilidade tornam-se sem utilização; ◼ Representatividade ou cobertura: uma característica impor- tante para utilização e eficiência de um indicador é sua taxa de cobertura, principalmente quando questões sociais, econô- micas e geográficas estão envolvidas. Quanto maior a cober- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 73SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 73 10/08/2022 11:49:5510/08/2022 11:49:55 74 tura, mais fiéis serão as informações trazidas; ◼ Aspectos éticos: toda a abordagem dos indicadores deve ser feita de maneira a não ferir princípios éticos; assim, não pode haver malefícios, constrangimentos ou prejuízos às pessoas. A confiabilidade e o sigilo são fatores importantes para a epi- demiologia clínica, e também devem ser considerados. Os profissionais e gestores envolvidos na produção, geração de informação e análise de resultados são consideráveis aliados para a confecção e atualização dos indicadores de saúde. São eles os res- ponsáveis e mais habilitados para conhecer as etapas a serem re- alizadas e, assim, conseguir monitorar as tendências em todas as esferas governamentais. Ressalte-se que os dados produzidos em certa localidade necessitam retratar os pontos fortes e as limitações de cada dado ou informação. Sugere-se que um profissional local participe da primeira fase do processo. Os demais profissionais e usuários dos dados de- vem estimular a valorização da informação, o incentivo à coleta e o gerenciamento de dados. As iniciativas de capacitação (coleta, ge- renciamento, avaliação e análise de dados) são fundamentais, por- tanto, para a melhora da capacidade nacional, sobretudo em nível local. Prevalência vs. Incidência A prevalência de uma doença é representada pelo número de casos presentes ao somar casos novos aos casos antigos em deter- minada região em certo período. A taxa de prevalência é de maneira geral expressa como casos por 100 (%) ou por mil pessoas. Em algu- mas situações, a população de uma área avaliada dá-se por meio de aproximação, pois nem sempre os dados estão disponíveis ou atu- alizados. A prevalência como indicador de saúde é afetada, além dos casos emergentes (incidência), pela duração da doença, que pode ser diferente entre as comunidades, graças a motivos como assis- tência à saúde, facilidade de acesso aos serviços públicos de saúde SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 74SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 74 10/08/2022 11:49:5510/08/2022 11:49:55 SINTETIZANDO 75 etc. Pode-se concluir que a duração média da doença é proporcional à diferença entre os valores de prevalência e incidência. A prevalência é ainda afetada pelos casos que emergem (en- tram) na comunidade e por aqueles que emigram (saem) por curas e por mortes. A prevalência não mede o risco de ocorrência de enfer- midades na população, mas consegue ser empregada pelos gestores da área de saúde para o planejamento da estrutura e dos recursos necessários ao processo saúde/doença, bem como ser utilizada du- rante o tratamento de doenças. A incidência refere-se à velocidade com que as novas doenças (emergentes ou reemergentes) ocorrem em uma população. A inci- dência considera o período em que os indivíduos não foram acome- tidos pela doença, mas que, ainda assim, possuem o risco de desen- volvê-la. O risco de ocorrência de doenças entre populações deve ser avaliado de acordo com a incidência, pois esta contabiliza os novos casos da doença em uma população em dado período. A relação entre incidência e prevalência varia entre as do- enças. Uma mesma doença pode apresentar baixa incidência e alta prevalência – como no diabetes – ou alta incidência e baixa preva- lência – como no resfriado comum. Isso implica dizer que o resfria- do ocorre mais frequentemente do que o diabetes, mas por um curto período, enquanto que o diabetes aparece menos frequentemente, mas por um longo período (BONITA et al., 2010, p. 18). Neste objeto de aprendizagem vimos que a criação do SUS é tida como resultado da VIII Conferência Nacional de Saúde. As leis nú- meros 8.142/90 e 8.080/90 são o marco legislatório do SUS. Estas leis são conhecidas como as leis orgânicas da saúde. O sistema de saúde pública brasileiro possui uma política nacional de organiza- ção dos serviços de saúde. Ela determina as atribuições dos diferen- tes serviços de saúde ofertados à população. A atenção básica é considerada a porta de entrada dos pacientes no SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 75SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 75 10/08/2022 11:49:5510/08/2022 11:49:55 76 SUS, tanto no sistema hierarquizado, que divide a saúde em níveis de complexidade, quanto no sistema de redes de atenção à saúde, o qual são organizados através de um complexo de unidades assis- tenciais à saúde, não considerado um serviço inferior ou superior ao outro. Assim, a epidemiologia utiliza-se de ferramentas como os indi- cadores de saúde e sistemas de informação de alta capacidade que mantém os dados sempre atualizados. Assim, as análises epide- miológicas ditam as tomadas de decisão e auxiliam de forma di- reta a saúde pública do País, permitindo a elaboração e prática das políticas públicas. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 76SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 76 10/08/2022 11:49:5510/08/2022 11:49:55 UN ID AD E 4 Objetivos ◼ Identificar a evolução dos modelos de Atenção Básica no Brasil; ◼ Compreender a finalidade da existência de modelos de Atenção Básica; ◼ Discutir a epidemiologia das doenças não-transmissíveis; ◼ Debater o conceito e aspectos da vigilância epidemiológica. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 77SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 77 10/08/2022 11:49:5510/08/2022 11:49:55 78 Introdução Olá, aluno(a)! Neste objeto de aprendizagem você estudará os modelos as- sistenciais de atenção básica.Trataremos do Programa Saúde da Fa- mília (PSF), a transição do PSF para a Estratégia de Saúde da Família (ESF), discutiremos a epidemiologia das doenças não-transmissí- veis e abordaremos aspectos da vigilância em saúde.Agora, convi- do-lhe a estudar e compreender essas temáticas de tamanha rele- vância para a sociedade. Bons estudos! SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 78SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 78 10/08/2022 11:49:5610/08/2022 11:49:56 SAIBA MAIS 79 Saúde da família: uma estratégia de múltiplos objetivos Programa de Saúde da Família O Programa Saúde da Família (PSF), hoje denominado Estra- tégia Saúde da Família (ESF), foi estabelecido no Brasil em 1994, no município de Sobral, no estado do Ceará. A implantação do PSF foi um grande desafio aos gestores da saúde pública, já que, à época, era um programa sem precedentes no país. Raphaela Solha, autora do livro Saúde coletiva para iniciantes: políticas e práticas profissionais, publicado em 2014, afirma que as equipes à frente desse processo basearam-se na experiência de países como Cuba e Canadá,onde já havia políticas públicas similares ao PSF. Entenda mais sobre o desenvolvimento do sistema de saúde brasi- leiro assistindo ao filme História da saúde pública no Brasil: um século de luta pelo direito à saúde, produzido em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde. O PSF adotou características do Programa dos Agentes Co- munitários de Saúde(PACS), um programa de visitação domiciliar feito por enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Os objetivos do PACS eram a erradicação da mortalidade infantil, a educação e promoção da saúde, a redução da disseminação de doen- ças infectocontagiosas e a ampliação do acesso à vacinação. Hoje em dia, o PACS é mantido em algumas cidades como estratégia comple- mentar de saúde, já que, com o passar do tempo, ficou nítida a liga- ção das ações dos ACS com a otimização dos indicadores de saúde, sobretudo na faixa populacional mais carente, como indicado por Taís Moreira no livro Saúde coletiva, de 2018. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 79SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 79 10/08/2022 11:49:5610/08/2022 11:49:56 80 Tendo em vista o trabalho desempenhado pelos ACS, eles foram promovidos a membros do PSF pelo Ministério da Saúde. A partir desse momento, o foco da política pública de saúde brasileira deixou de se concentrar no indivíduo para focar suas intervenções na família, no coletivo e nos aspectos biopsicossociais. A ESF é parte da política nacional de atenção básica à saúde, se caracterizando por ser organizativa e substitutiva ao sistema so- berano médico curativista, centrado na rede hospitalar. O progra- ma conta com uma equipe de atuação clínica multidisciplinar que, através de uma visão ampliada do que é saúde, procura melhorar a qualidade de vida da população atendida. Conforme os artigos “Atributos essenciais da Atenção Pri- mária e a Estratégia Saúde da Família”, escrito por Maria Amélia Oliveira e Iara Pereira para a edição de setembro de 2013 da Revista brasileira de enfermagem, e “Estratégia Saúde da Família: Clínica e Crítica.”, escrito por Luís Cláudio Motta e Rodrigo Siqueira-Batis- ta para a edição de junho de 2015 da Revista brasileira de educação médica, os seguintes princípios de atenção e cuidado à saúde são designados pela ESF: ◼ A criação de vínculos e a corresponsabilização entre a popula- ção e a equipe multidisciplinar de saúde; ◼ A prescrição do problema-alvo na atenção à saúde de cada família, compreendido com base na análise do ambiente e do espaço geográfico em que cada indivíduo vive; ◼ O desenvolvimento de ações integrais de saúde para as famí- lias, o meio ambiente e ambiente de trabalho do paciente; ◼ A responsabilização pela população assistida; ◼ A realização de intervenções que não se limitem aos muros das unidades de saúde. A ESF é um programa do Sistema Único de Saúde (SUS). Logo, respeita seus princípios a fim de assegurar universalidade no aces- so, integralidade na assistência, equidade, resolubilidade dos pro- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 80SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 80 10/08/2022 11:49:5610/08/2022 11:49:56 REFLITA 81 blemas, hierarquização com ênfase na atenção básica, regionaliza- ção e descentralização. A família como um todo é atendida pela ESF, do bebê ao idoso, não havendo restrições de idade e outras imposições. A ESF é um modelo que privilegia o ser humano e a comunidade em vez do in- dividual. Como forma de territorialização, a ESF permite a demar- cação de um espaço concreto de atuação da equipe de saúde, tendo o núcleo familiar como base para o desenvolvimento da atuação, o que permite compreender melhor a dinâmica do núcleo familiar, suas conexões e quais razões sociais contribuem para o desenvolvi- mento do processo de saúde comunitária. O acolhimento é entendido como a recepção adequada do paciente no centro de saúde, não apenas no aspecto administrativo, solici- tando documentos e agendando procedimentos, mas também por meio da arguição das queixas dos enfermos, para ajudar a resolvê- -las, oferecendo soluções diversificadas, como uma consulta fisio- terapêutica, o encaminhamento a outro serviço clínico ou, ainda, a inclusão em um grupo educativo da unidade. Por conhecer a realidade epidemiológica da região, fazer uso de ferramentas informatizadas e repassar informações com uma linguagem de fácil entendimento à população, a ESF firma pactos e metas com o objetivo de proporcionar uma maior qualidade de vida. Graças à garantia de acesso, a ESF é considerada uma porta de en- trada da atenção básica no sistema de saúde pública, sendo capaz de acompanhar e assegurar acesso aos demais níveis de complexidade a depender da demanda de cada caso, sem perder o vínculo original e sua individualidade. A população assistida por cada equipe de saúde da família é de até 4000 pessoas. É importante ressaltar que há exceções, cabendo aos gestores municipais, às equipes da atenção básica e ao conselho SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 81SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 81 10/08/2022 11:49:5610/08/2022 11:49:56 SAIBA MAIS 82 municipal de saúde a definição de outro parâmetro populacional por equipe, levando em conta as características, os riscos e vulnerabili- dades da comunidade. A ESF age por meio de projetos que visam à recuperação, manutenção e promoção da saúde, prevenção de doenças e agra- vos, além da reabilitação. As equipes trabalham sobre um território pré-determinado, cadastrando os moradores, para que se conheça a comunidade, bem como os problemas de saúde que a aflige. Para saber mais sobre a promoção da saúde, é possível ler o compi- lado do Ministério da Saúde denominado As cartas da promoção da saúde. Ele reúne documentos oriundos das conferências internacio- nais de saúde realizadas em vários países. A saúde é muito mais que a ausência de doença e o estar sau- dável envolve o bem estar físico, social, familiar e mental, sem con- tar o aspecto econômico, que influencia nas condições de moradia, nos hábitos alimentares e no acesso à educação. Logo, a equipe da ESF não cuida da saúde comunitária somente de dentro da UBS, precisando conhecer mais a fundo o território e a realidade de cada família. Quando um problema tem uma magnitude que impossibilita a ESF de resolvê-lo sozinha, a equipe articula ações intersetoriais para solucionar o problema. Se, no território, há um rio com diver- sas casas sem saneamento básico, em que os moradores descartam lixo, é função da ESF buscar ajuda com outras repartições, como a assistência social e as secretarias municipais de habitação e meio ambiente, sem deixar de exercer sua responsabilidade de educar os moradores quanto ao descarte correto do lixo e o perigo do consumo de água contaminada sem o devido tratamento. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 82SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 82 10/08/2022 11:49:5810/08/2022 11:49:58 VOCÊ SABIA? 83 Transição do PSF para a ESF A denominação Programa Saúde da Família foi mantida de 1994 a 2006, quando se chegou à conclusão que a palavra “progra- ma” deveria ser alterada para “estratégia”. O principal argumen- to a favor da substituição para Estratégia Saúde da Família está no fato de que um programa possui tempo pré-determinado, o que não acontece nessa situação, que se caracteriza como uma assistência contínua e permanente à saúde da população. A alteração do nome para ESF foi corroborada pela portaria número 649 do Ministério da Saúde, de 28 de março de 2006, que enfatiza que cada equipe é composta, no mínimo, pelos seguintes profissionais: médico, de preferência especialista em saúde da fa- mília, enfermeiros, ACS, técnicos e/ou auxiliaresde enfermagem, incluindo, ainda, dentistas, auxiliares ou técnicos em saúde bucal e agentes de combate a endemias. Os integrantes das equipes de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são indicados pela própria comunidade onde residem. Não existem muitas exigências para se tornar um ACS, no entanto, a pessoa deve possuir características de liderança e ser alfabetizada. O perfil da saúde no Brasil demonstra a existência de doenças crônicas que demandam a atuação de equipes multiprofissionais de saúde. Diversos profissionais não fazem parte do ESF e para preen- cher parte do vazio deixado por essa lacuna profissional, o Ministé- rio da Saúde criou, em 2008, os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Integralizando os cuidados à saúde da população, o NASF ofe- rece uma assistência mais ampla para tratar das questões clínicas, ambientais e sanitárias da região assistida. No NASF, as equipes são SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 83SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 83 10/08/2022 11:49:5810/08/2022 11:49:58 84 formadas por profissionais de diferentes formações, que compar- tilham conhecimento e formulam uma discussão clínica interdis- ciplinar, visando melhores resultados no tratamento dos pacientes. Os gestores municipais são os responsáveis por definir a composição profissional do NASF, tendo em consideração as carên- cias regionais. São especialidades presentes no NASF: ◼ Médicos: acupunturista, homeopata, pediatra, psiquiatra, ge- riatra, clínico geral, do trabalho, ginecologista e obstetra; ◼ Assistente social; ◼ Educador físico; ◼ Farmacêutico; ◼ Fisioterapeuta; ◼ Fonoaudiólogo; ◼ Nutricionista; ◼ Psicólogo; ◼ Terapeuta ocupacional; ◼ Médico veterinário; ◼ Profissional com formação em arte e educação; ◼ Profissional de saúde sanitária. A continuidade do NASF está ameaçada, pois, em novembro de 2019, o Ministério da Saúde lançou a portaria número 2979, re- vogando a formação de novas equipes e finalizando a transferência de verbas federais aos Núcleos. O fim do NASF representa o fim do contato dos profissionais da unidade básica com uma equipe mais ampla de diferentes áreas de conhecimento, o que resulta em pre- juízos à população. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 84SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 84 10/08/2022 11:49:5810/08/2022 11:49:58 85 Fonte: A autora SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 85SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 85 10/08/2022 11:49:5910/08/2022 11:49:59 EXEMPLO 86 Doenças Crônicas Não-Transmissíveis Dentro do grande grupo de doenças não transmissíveis, exis- tem as doenças crônicas não transmissíveis, que compõem o con- junto de condições crônicas relacionadas a múltiplas causas (Figura 1). Elas são caracterizadas por apresentar um início gradual, de du- ração incerta, que pode apresentar um curso clínico, que se trans- forma com o passar do tempo, intercalando períodos de fase aguda, podendo comprometer o paciente. Figura 1. Causalidade das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis Fonte: Ministério da Saúde, 2011 No cenário nacional, as doenças cardiovasculares, que têm a hipertensão e diabetes como um importante fator de risco para seu desenvolvimento, representam a principal causa de mortalidade no país (OPAS, 2010, p. 18). O chamado “estilo de vida moderno”, a que todos estão sujeitos, é o grande fator de risco à saúde. Os hábitos alimentares inadequados, o sedentarismo e o tabagismo compõem as principais causas para o desenvolvimento das doenças crônicas não-transmissíveis. Embora o grupo de Doenças e Agravos Não-transmissíveis (DANT) seja mui- to abrangente, as doenças cardiovasculares (doenças isquêmicas do coração, doenças cérebros-vasculares e hipertensão), as chamadas SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 86SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 86 10/08/2022 11:50:0110/08/2022 11:50:01 CURIOSIDADE 87 crônico-degenerativas (câncer, diabetes, doenças renais e reumá- ticas, etc.), os agravos decorrentes das causas externas (acidentes, violências e envenenamentos) e os transtornos de natureza mental são reconhecidos como os mais prevalentes no Brasil, contribuindo sobremaneira na carga global de doenças do país. Além dos índices de mortalidade, um fator considerável nas doenças crônicas é a grande morbidade relacionada a essas doenças. São números expressivos de pacientes internados; que têm perda de membros; de mobilidade; ou disfunções neurológicas. Essas mor- bidades levam a uma consequente perda da qualidade de vida e traz mais sofrimento cada vez que a doença avança. Essa situação levou o Brasil a elaborar o Plano de ações estra- tégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não-transmis- síveis. O objetivo desse plano é garantir a idealização e a implemen- tação de políticas públicas baseadas especialmente na prevenção, na promoção e no controle das doenças crônicas. Políticas que pre- cisam levar em conta o público-alvo e os fatores de risco. Em 2012, foi proposta a construção da Rede de Atenção às Pessoas com Doen- ças Crônicas (Portaria nº 252, de 19 de fevereiro de 2013). Urgência e emergência são palavras muitos parecidas, mas com significados diferentes. A primeira coisa a se saber é que ambas re- querem cuidados clínicos rápidos. Na emergência, há um risco de morte iminente e o paciente recebe tratamento imediato. No caso da urgência, a ameaça à saúde e à vida está num futuro próximo, não havendo risco de morte iminente, embora haja risco de agravamen- to, vindo a se tornar uma emergência. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 87SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 87 10/08/2022 11:50:0110/08/2022 11:50:01 88 Estrutura Epidemiológica e Casualidade A busca pela causa de diversos fenômenos observados no cotidiano é movida pela curiosidade e a necessidade de controle, principalmente das doenças, em que há um interesse de conhecer as causas e o que pode ser feito para sua prevenção. Porém, a detecção da causa não é simples, pois envolve diversas áreas de investigação e conhecimento. A medicina busca a relação da doença e suas causas, enquanto que a estatística faz a dimensão de ocorrência dos casos. A causa e a estrutura epidemiológica estão relacionadas na representação sistêmica dos elementos envolvidos no processo saúde – doença. Os fatores inter-relacionam com o agente etioló- gico, o indivíduo susceptível e o ambiente que atua, existindo um equilíbrio que quando é perturbado favorece a manifestação pato- lógica da doença (LUIZ et al., 2002). A busca sobre causalidade é mais objetiva no contexto esta- tístico, pois ela faz a mensuração de efeitos causais. A mensuração dos efeitos causais sem a compreensão do mecanismo não tem ne- nhum significado, pois não permite que ocorra a resolução da causa, apensar a quantificação em números. Para ter efetividade é impor- tante compreender os mecanismos que levam as causas, para que possa ser quantificado e traçado métodos resolutivos de prevenção e cura do que for identificado. Quando é feita a inferência causal em epidemiologia, quer dizer a relação entre a filosofia da doença e o estabelecimento de condições ou restrições que respaldem uma interpretação da causa. A estatística então estabelece a associação entre a doença e os fato- res de exposição, mensurando epidemiologicamente o número de ocorrências (LUIZ et al., 2002). A identificação dos fatores causa na epidemiologia utiliza es- tudos observacionais e ensaios clínicos. Apesar de nem sempre ser possível a utilização dos ensaios clínicos quando os seres afetados são as populações humanas, por isso a maioria dos estudos são ob- servacionais, como os estudosde caso-controle. Esse tipo de estu- do, apesar de ter maior número de vieses, é o mais viável em relação ao tempo, custo e número de casos da doença, por exemplo. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 88SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 88 10/08/2022 11:50:0110/08/2022 11:50:01 89 Na epidemiologia, independentemente se o modelo do dese- nho epidemiológico for experimental ou observacional para a de- terminação de uma proposição causal a ser investigada, como por exemplo “o tabagismo como causa doença cardiovascular”, exis- tem características que atrapalham sua avaliação, pois não são to- dos os fumantes que irão desenvolver doença cardiovascular, assim como existem pessoas que não são tabagistas que irão desenvolver a doença. A partir disso, a proposição a avaliação passa a ser o risco, ou seja, se existe um risco maior de quem fuma desenvolver doen- ça cardiovascular quando comparado ao risco de quem não fuma. Porém, é importante que a determinação do risco seja observada a divisão dos grupos fumante e não fumante, pois a idade muito dis- crepante pode interferir, assim como a presença de outras doenças como diabetes e hipertensão. Para chegar a uma conclusão do risco, é importante que os grupos comparados sejam mais homogêneos e a única variável seja o tabagismo. Lembrando que o tempo de tabagismo também pode influenciar, se o grupo de tabagismo for jovem, pode não haver as- sociação em curto prazo, enquanto que em um grupo de tabagismo mais velho, ou seja, indivíduos que fazem o uso do tabaco por mais tempo, a presença da doença pode estar presente em uma proporção maior (LUIZ et al., 2002). A epidemiologia é uma ciência que tem como base a frequên- cia, a distribuição e os determinantes das doenças que ocorrem na população. Assim ela busca procedimentos metodológicos baseados em modelos estatísticos que identificam a etiologia das doenças. Na epidemiologia então a causa é qualquer evento, condição ou carac- terística que tenha relação com a doença. É importante lembrar que a causa na epidemiologia não é uma relação isolada apenas, pois uma doença pode apresentar diversas causas, porém a frequência relacionada às causas podem ser diferentes, por exemplo, o câncer de pulmão pode ser causado pelo tabagismo ou pela poluição do ar, mas o número de ocorrências relacionadas as essas duas causas são diferentes, permitindo que seja realizado medidas de vigilância epi- demiológica diferentes nas duas causas, para a mesma doença. A relação da causa também tem associação entre a exposição e doença e a determinação da força de associação, ou seja, se exis- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 89SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 89 10/08/2022 11:50:0110/08/2022 11:50:01 90 te uma associação entre a causa e a doença. A associação ocorre de maneira forte, isso significa que tem relação causal, enquanto que a associação fraca indica que provavelmente aquele fator não tem nenhuma relação. Um outro fator é a consistência, ou seja, o nú- mero de casos na população, isso irá reforçar a causalidade de uma doença. A especificidade também, visto que ela tem relação direta com a causa, ou seja, a remoção da causa específica implica que o fenômeno patológico não ocorra (LUIZ et al., 2002). A temporalidade em relação a causa está relacionada princi- palmente nos estudos transversais e retrospectivos, pois o tempo avaliado por interferir no achado em relação a causa. Como exem- plificado acima, se avaliar um grupo de tabagista que tem o hábito há poucos anos e um grupo com um tempo maior, o número de in- divíduos com distúrbios cardíacos será diferente, devido a tempo- ralidade da causa. Por isso, que os estudos precisam controlar essa variável de causa, pois o tempo de exposição tem relação direta com a causa. Vigilância Epidemiológica A vigilância epidemiológica é definida pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, como: […] um conjunto de ações que proporciona o conheci- mento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doen- ças ou agravos (BRASIL,1990). Alguns dos objetivos da vigilância epidemiológica são: for- necer parecer técnico para ser utilizado pelo pessoal capacitado na execução de ações; programas de controle de doenças e agravos pe- los profissionais de saúde; criação de sistemas de alerta que confi- gurem em uma resposta rápida a doenças infecciosas. Os objetivos da vigilância epidemiológica visam melhorias na estruturação do sistema de saúde pública, para torná-lo mais eficiente por meio de planejamento e organização. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 90SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 90 10/08/2022 11:50:0210/08/2022 11:50:02 91 As informações oriundas da vigilância epidemiológica de- vem assegurar eficiência e fidelidade de dados. A vigilância requer o domínio e atualização constante de todos os fatores que envol- vam a ocorrência e a disseminação de uma doença, por meio de métodos práticos e de fácil execução. Para isso, é preciso que sejam constantemente atualizadas com novos resultados e inovações téc- nico-científicas, que sejam capazes de arcar com melhorias à sua abrangência e qualidade. A análise de dados em um sistema de vi- gilância epidemiológica fornece informações a respeito do aumento ou diminuição de casos. A vigilância epidemiológica pode ser estruturada como um processo, de acordo com seu ciclo de funções, sejam elas específicas ou complementares. A cada momento, é possível conhecer o com- portamento da doença ou agravo que será o alvo da ação, criando assim medidas de intervenção precoces e direcionadas a uma deter- minada finalidade (Figura 2). Figura 2. Ciclo de funções da vigilância epidemiológica: conhecimento, detecção, prevenção e ação Fonte: Souza, 2014 (Adaptado) SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 91SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 91 10/08/2022 11:50:0210/08/2022 11:50:02 DICA 92 A vigilância é uma característica essencial da prática epide- miológica e pode ser usada na identificação de casos isolados ou de grupos; na avaliação do impacto de eventos relacionados à saúde pública e de suas tendências; na mensuração de fatores e agravos à saúde; no monitoramento e avaliação do impacto das medidas pro- tetivas e de controle; no monitoramento das estratégias utilizadas para intervenção e modificações nas políticas públicas; na atenção ao paciente. A maioria dos países tem leis regulando a notificação com- pulsória de algumas doenças. As doenças que devem ser notifica- das frequentemente incluem as que são preveníveis pela vacinação, tais como, poliomielite, sarampo, tétano e difteria, além de outras doenças transmissíveis, como, por exemplo, tuberculose, hepatite, meningite e lepra. Também pode ser requerida a notificação de óbi- to materno,acidentes e doenças ocupacionais e ambientais, como, por exemplo, a intoxicação por pesticidas. A notificação compulsó- ria de algumas doenças constitui parte da vigilância (BONITA et al., 2010, p. 127). Além da utilização dos dados gerados pela vigilância epide- miológica, as estimativas de abrangência e magnitude de uma epi- demia ou surto auxiliam no monitoramento da sua tendência. Os dados também podem ser usados no engajamento da comunidade com os setores de saúde, e na defesa da utilização de mais recursos disponibilizados para a saúde. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba: “a escolha das doenças e agravos de notificação compulsória obedece a crité- rios como: magnitude, potencial de disseminação, transcendência, vulnerabilidade e disponibilidadede medidas de controle, sendo a lista periodicamente revisada, tanto em função da situação epide- miológica da doença, como pela emergência de novos agentes e por alterações no Regulamento Sanitário Internacional. Os dados cole- tados sobre as doenças de notificação compulsória são incluídos no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN)” (2016). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 92SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 92 10/08/2022 11:50:0210/08/2022 11:50:02 93 Em países subdesenvolvidos, os sistemas de vigilância e no- tificação são escassos, levando à uma subnotificação e enfraqueci- mento do sistema de saúde. A fim de tentar unificar a geração de informações em saúde, uma grande rede – que inclui organizações não governamentais, ferramentas de busca na internet, grupos de discussão eletrônica e redes de treinamento e laboratórios – ofere- ce mecanismos eficazes, que visam reunir informações que possam levar a uma resposta internacional unificada. A dinâmica do perfil epidemiológico das doenças, o avanço do conhecimento científico e algumas características da socieda- de contemporânea têm exigido não só constantes atualizações das normas e procedimentos técnicos de Vigilância Epidemiológica, como também o desenvolvimento de novas estruturas e estratégias capazes de atender aos desafios que vêm sendo colocados (BRASIL, 2018, p.14). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 93SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 93 10/08/2022 11:50:0310/08/2022 11:50:03 94 Notificação Compulsória A notificação compulsória deve ser feita pelos profissionais de saúde ou responsáveis pelos serviços de saúde públicos ou pri- vados, que prestam assistência ao paciente. A comunicação pode ser feita para a Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria Estadual de Saúde e/ou ao Ministério da Saúde. Atualmente são 48 doenças de notificação compulsória. Dentre elas 21 são de notificação semanal, sendo as doenças ou agravos o acidente de trabalho com exposição a material bioló- gico, casos novos de dengue, doença de Chagas crônica, doença de Creutzfeldt-Jakob, casos agudos pelo vírus Zika, esquistossomose, febre de Chikungunya, hanseníase, hepatites virais, infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) ou Síndrome da Imuno- deficiência Adquirida, Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV, infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, intoxicação exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados), leishmaniose tegumentar americana, leishmaniose visceral, malária na região amazônica, óbito infantil e materno, sífilis adquirida ou congênita e em gestante, toxoplas- mose gestacional e congênita, tuberculose e violência doméstica e/ ou outras violências. Em relação às doenças e agravos que devem ser notificados imediatamente à Secretária Municipal de Saúde são acidente de trabalho grave, fatal e em crianças e adolescentes, aci- dente por animal peçonhento, acidente por animal potencialmente transmissor da raiva, leptospirose, tétano. Acidental ou Neonatal e violência sexual e tentativa de suicídio (BRASIL, 2020). A notificação compulsória imediata visa conter a dissemina- ção na comunidade local incialmente, evitando que ocorra um surto de doenças ou agravos que possam ser controlados ou prevenidos. Além disso, os casos de notificação imediata são mais graves e ex- põe mais risco para os cidadãos. À Secretária Municipal e a Estadual as doenças e agravos que devem ser notificados imediatamente são coqueluche, difteria, doença de Chagas Aguda, doença Invasiva por “Haemophilus Influenza”, doença Meningocócica e outras menin- gites, doença aguda pelo vírus Zika em gestante, febre Maculosa e SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 94SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 94 10/08/2022 11:50:0310/08/2022 11:50:03 95 outras Riquetisioses e os casos de varicela - caso grave internado ou óbito (BRASIL, 2020). Os casos de doença ou agravo como botulismo, cólera, casos de óbito por dengue, doenças com suspeita de disseminação inten- cional como o antraz pneumônico, tularemia, varíola, doenças fe- bris hemorrágicas emergentes/reemergentes como o arenavírus, ebola, marburg, lassae, febre purpúrica brasileira, evento de Saúde Pública que se constitua ameaça à saúde pública , eventos adversos graves ou óbitos pós vacinação, febre Amarela, Febre de Chikun- gunya em áreas sem transmissão, Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya, Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de im- portância em saúde pública, Febre Maculosa e outras Riquetisioses, hantavirose, Influenza humana produzida por novo subtipo viral, Malária na região extra-amazônica, Poliomielite por poliovirus sel- vagem, Peste, Raiva humana, Síndrome da Rubéola Congênita, Do- enças Exantemáticas como o Sarampo e a Rubéola, Síndrome da Pa- ralisia Flácida Aguda, Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus como a SARS-CoV e o MERS-CoV devem ser notifi- cadas ao Ministério da Saúde, á Secretária do Estado e a Municipal imediatamente (BRASIL, 2020). Investigação Epidemiológica O episódio de novos casos de doença (transmissível ou não) ou agravo (inusitado ou não) podem ser prevenidos e/ou controla- dos pelo serviço de saúde. Assim, a detecção precoce é imprescindí- vel para que isso ocorra. Quando ocorre um surto, por exemplo, ele pode ser causado pelo controle inadequado de fatores de risco, por uma assistência à saúde e/ou medidas de proteção errôneas, o que torna o esclarecimento da causa necessária para adoção de medidas preventivas e de controle afim de evitar que um grande número de pessoas seja infectado. O esclarecimento é feito a partir da inves- tigação epidemiológica de casos e epidemias pelo sistema local de vigilância epidemiológica (Figura 3), podendo ser auxiliado, quan- do necessário, pela instância estatal ou federal. Isso irá depender da extensão e evolução do número de novos casos (BRASIL, 2005). SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 95SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 95 10/08/2022 11:50:0310/08/2022 11:50:03 96 A partir da notificação de novos casos de doenças/agravos, as autoridades sanitárias devem começar imediatamente a investiga- ção epidemiológica de campo, mesmo que a notificação seja apenas uma suspeita. Esse tipo de investigação formula hipóteses que serão avaliadas posteriormente por estudos analíticos como os de caso- -controle. Quando houver casos agudos, as medidas de proteção à saúde devem ser tomadas, restringindo a investigação na coleta de dados e análises, paralelamente também realizando o controle das ações de controle na comunidade (BRASIL, 2005). Figura 3. Instrumentos de registro utilizados na investigação epidemiológica da tuberculose. Fonte: Larouze, 2019 Quando ocorrem situações que a fonte e o modo de trans- missão são conhecidos, as ações de controle devem ser iniciadas imediatamente, mesmo antes da realização da investigação epide- miológica. Isso irá reduzir a gravidade do evento, pois um menor número de indivíduos será afetado. A investigação epidemiológica não é simples, pois envolve exames do caso suspeito e de quem ele teve contato, deve ser realizada a coleta de amostras para labora- tório, nos casos que os exames são pertinentes. Além disso, quando não são conhecidos o agente infeccioso e o modo de transmissão de- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 96SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 96 10/08/2022 11:50:0310/08/2022 11:50:03 97 vem ser realizados estudos que possam identificá-los, permitindo conhecer como ocorre a transmissão,quais são os reservatórios e o vetores, nos casos de doenças. Em alguns casos, a medida inicial é o isolamento dos casos em suspeita e confirmados com o objetivo de evitar a progressão da doença na comunidade. De maneira geral, a investigação epidemiológica tem pergun- tas norteadoras que irão gerar algumas informações sobre a doença/ agravo. Os questionamentos principais são se realmente é um caso da doença que se suspeita, isso leva a confirmação do diagnóstico; quais são as atribuições individuais do caso que irá permitir a carac- terização biológica, ambiental e social do caso; como foi contraída a doença e esclarece qual a fonte de infecção; como ocorreu a trans- missão identifica o modo de transmissão; existe risco de a mesma fonte de transmissão infectar outros indivíduos permite mensurar a abrangência da infecção. É importante na investigação ainda buscar conhecer o número de casos que podem ter tido contato com a fonte de transmissão, qual o tempo de transmissão da doença e se existe meios de prevenção, para que medidas de controle possam ser tra- çadas, evitando uma disseminação em massa para toda a população. Avaliação dos Sistemas de Vigilância Epidemiológica A vigilância epidemiológica é um sistema que precisa ser ali- mentado e atualizado constantemente. Seu funcionamento deve ser avaliado regularmente para garantir a eficiência do planejamento e seu aprimoramento. A avaliação do sistema é aferida pelo demonstrativo dos re- sultados obtidos com a ação ou programa desenvolvido. Eles preci- sam justificar de maneira clara os recursos financeiros investidos em sua execução. Assim, é importante utilizar os indicadores de saúde: morbidade, mortalidade, incapacidade, fecundidade, entre outros. A vigilância necessita avaliar e informar com precisão e cla- reza cada etapa de um estudo epidemiológico, que envolva vigilân- cia e investigação, para verificar se as tendências estão ocorrendo SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 97SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 97 10/08/2022 11:50:0310/08/2022 11:50:03 DEFINIÇÃO SINTETIZANDO 98 como previsto e impactando de forma positiva a população-alvo. O termo investigação epidemiológica é um trabalho de campo. Ele é iniciado quando existe um caso confirmado ou uma suspeita, de- vendo ser realizado rapidamente e de maneira metódica, para que a proporção de casos afetados possa ser controlada evitando uma epidemia local ou regional, ou seja, propósito final dessa investi- gação é orientar medidas de controle para impedir a ocorrência de novos casos. Os resultados provenientes do conjunto de ações desenvol- vidas e executadas no sistema são mensurados pelos benefícios so- ciais e econômicos adquiridos, como um termômetro. São avaliados, por exemplo, a porcentagem de vidas poupadas pelos programas de prevenção e promoção; os casos evitados; os custos de assistências etc. A manutenção de um sistema de vigilância ativo abrange com- plexas e diferenciadas atividades, que, em conjunto, têm o intuito de aprimorar a qualidade, eficácia, eficiência e efetividade das ações. Aprendemos que a Estratégia Saúde da Família (ESF) é a nomencla- tura atualizada do antigo Programa Saúde da Família (PSF). Com o objetivo de aproximar a população à assistência integral de saúde, a ESF é, em conjunto à UBS, a referência na assistência à saúde, sendo a porta de entrada no SUS, isto é, qualquer pessoa que precise de atendimento passa por uma ESF ou UBS antes de ser encaminhada para um hospital, a depender da gravidade do problema. Verificou-se que o território de atuação das equipes da ESF é uma área demarcada por limites geográficos, que engloba uma comu- SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 98SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 98 10/08/2022 11:50:0610/08/2022 11:50:06 99 nidade. É responsabilidade da ESF conhecer o perfil epidemiológico e demográfico da população assistida, para que, a partir dos dados, se constituam ações preventivas e de promoção, proteção e recupe- ração da saúde, uma vez que, como também foi visto, um problema geral de saúde pode ter um fator associado à localidade como causa. Ademais, vimos que as doenças que assolam a uma população ser- vem, também, como um bom parâmetro para conhecer essa popu- lação. Doenças transmissíveis são as mais preocupantes, pois apre- sentam risco de acometer mais indivíduos, chegando ao ponto de ser difícil seu controle e tratamento. Doenças não transmissíveis são aquelas associadas a comportamentos individuais ou genéticos, também importantes para a vigilância, no entanto, não possuem risco de transmissibilidade. A vigilância epidemiológica é um setor bem estruturado da epide- miologia, pois é por meio dela que as informações são organizadas para o bom planejamento dos serviços públicos. A investigação epi- demiológica conta com a participação de toda a comunidade, popu- lação suscetível, profissionais de saúde e gestores. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela epidemiologia para se tornar uma ciência de relevância reconhecida, a perspectiva atual é de grandes avanços na área. Deve-se levar em conta tudo o que já foi estabelecido e compreender que, como uma ciência em constan- te atualização, os desafios estarão sempre presentes. SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 99SAÚDE COLETIVA E VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA _Ebook completo_SER_v2.indd 99 10/08/2022 11:50:0610/08/2022 11:50:06 100 Referências Bibliográficas Unidade 1 BRASIL. Portaria n. 399/GM de 22 de fevereiro de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde. Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Opera- cionais do Referido Pacto. Brasília, Ministério da Saúde, 2006. FIGUEIREDO, N. M. A. Ensinando a cuidar em saúde pública. 2. ed. São Caetano do Sul: Yendis, 2012. KOHNS, G. M. Saúde Coletiva. 1. ed. São Paulo, 2020. LEMOS, T. Fisioterapia na saúde da família. Rio de Janeiro: Seses, 2015. MOREIRA, T. C.; et al. Saúde coletiva. Porto Alegre: SAGAH, 2018. NICOLICH M.; ROCHA M. Sistema Único de Saúde. São Paulo: Me- dyn, 2017. PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. Saúde coletiva: uma “nova” saú- de pública ou campo aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 32, n. 4, 1998. Unidade 2 AZEVEDO, A. C. Epidemiologia. 1. ed. 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