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1 EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 2 Sumário EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE .................. 1 NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3 NOÇÕES BÁSICAS DA EPIDEMIOLOGIA ............................................. 4 COMO SURGIU A EPIDEMIOLOGIA E COMO A DEFINIMOS .............. 8 DEFINIÇÃO DE SAÚDE .................................................................... 10 TEORIA DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ..................................... 11 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL ...................................... 12 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA (SNVE).... 21 PADRONIZAÇÃO DE INDICADORES NO SUS ................................... 24 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL ......................................................................................................................... 25 VIGILÂNCIA EM SAÚDE ....................................................................... 27 LOGÍSTICA ........................................................................................ 37 EDUCAÇÃO EM SAÚDE ....................................................................... 39 OS PROCESSOS EDUCATIVOS NO CONTEXTO DAS PRÁTICASDE SAÚDE NO SUS ........................................................................................... 42 REVISITANDO O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ............. 43 BASES TEÓRICAS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS ................ 44 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 46 file://192.168.40.10/O/Pedagogico/SAÚDE%20E%20BEM-ESTAR/SAÚDE%20COLETIVA%20E%20ESF/EPIDEMIOLOGIA,%20VIGILÂNCIA%20E%20EDUCAÇÃO%20EM%20SAÚDE%20PÚBLICA/EPIDEMIOLOGIA,%20VIGILÂNCIA%20E%20EDUCAÇÃO%20EM%20SAUDE%20PUBLICA.docx%23_Toc81222710 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 NOÇÕES BÁSICAS DA EPIDEMIOLOGIA A Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), em seu Guia de Métodos de Ensino (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1973), define epidemiologia como: o estudo dos fatores que determinam a freqüência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas. Enquanto a clínica dedica-se ao estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de pessoas, às vezes grupos pequenos, na maioria das vezes envolvendo populações numerosas. Sendo assim, a epidemiologia tem muito em comum com a demografia: ambas estudam populações. De acordo com a IEA, são três os principais objetivos da epidemiologia: I. Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde das populações humanas. II. Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças, bem como para estabelecer prioridades. III. Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. Sem dúvida, o trabalho que desenvolvem os profissionais da saúde na ESF está estreitamente relacionado com os objetivos da epidemiologia. Não teríamos avanços na clínica sem os estudos epidemiológicos, mas estes não existiriam sem os avanços na clínica. 5 Muitos dos dados clínicos coletados nas consultas no Centro de Saúde e nos hospitais da rede do SUS são consolidados em nível central (do município ou do estado) e encaminhados ao Datasus. No caso das internações, como estudamos anteriormente, podemos obter os dados na página da internet, selecionando o SIH/SUS. Os dados de inquéritos populacionais servirão de base para os estudos epidemiológicos. Aplicando bons métodos e desenhos epidemiológicos, trabalhando com dados de qualidade e, principalmente, analisando a complexidade dos resultados, poderemos oferecer bases para o conhecimento da saúde da coletividade, bem como a identificação de necessidades de intervenção ou ações coletivas. 6 Com certeza, você já utilizou ferramentas da epidemiologia para sua prática como profissional na ESF. Entre as utilidades mais citadas da epidemiologia, estão: analisar a situação de saúde: identificar perfis e fatores de risco; proceder à avaliação epidemiológica de serviços; entender a causalidade dos agravos à saúde; descrever o espectro clínico das doenças e sua história natural; avaliar o quanto os serviços de saúde respondem aos problemas e às necessidades das populações; testar a eficácia, a efetividade e o impacto de estratégias de intervenção, bem como a qualidade, acesso e disponibilidade dos serviços de saúde para controlar, prevenir e tratar os agravos de saúde na comunidade; 7 identificar fatores de risco de uma doença e grupos de indivíduos que apresentam maior risco de serem atingidos por determinado agravo; definir os modos de transmissão; identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças; estabelecer os métodos e estratégias de controle dos agravos à saúde; estabelecer medidas preventivas; auxiliar o planejamento e desenvolvimento dos serviços de saúde; gerar dados para a administração e avaliação de serviços de saúde; estabelecer critérios para a Vigilância em Saúde. Para o Brasil, e inclusive para o mundo, um exemplo bem-sucedido de um programa de Vigilância Epidemiológica é o Programa Nacional de Imunização (PNI). Como se afirma no documento do Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), “Os bons resultados das imunizações, no Brasil, devem ser atribuídos à abnegação dos vacinadores e a uma política de saúde que se sobrepôs às ideologias dos diferentes governos desde 1973”. Mas esse programa não existiria sem a contribuição da epidemiologia para: mostrar evidências do problema. No caso do PNI para idosos, os dados foram relevantes para mostrar que apesar da morbidade por enfermidades infecciosas reduzir-se com a idade, a gravidade e conseqüências mortais aumentam; identificar a eficácia da vacinação. vigiar o programa: o Sistema de Vigilância Epidemiológica da Influenza (SVE/FLU), implantado no Brasil desde o ano 2000, tem como objetivos: monitoramento das cepas virais que circulam nas regiões brasileiras, resposta a situações inusitadas, avaliação do impacto da vacinação, acompanhamento da tendência de morbidade e de mortalidade associadas à enfermidade e produção e disseminação de informações epidemiológicas (BRASIL, 2007). 8 COMO SURGIU A EPIDEMIOLOGIA E COMO A DEFINIMOS O conceito de epidemiologia depende, em grande medida, do contexto histórico, dos conhecimentos acumulados na área de saúde, da etapa da transição epidemiológica e demográfica, bem como da interpretação que se tenha em determinada época e contextosobre a saúde (BEAGLEHOLE; BONITA; KJELLSTRÖM, 1994). Embora não se tenha certeza de quando e quem foi o primeiro a definir a epidemiologia, sabemos que a história dessa ciência acompanha a historia da medicina, especialmente da medicina preventiva. Por isso, considera-se que Hipócrates lançou as principais bases dos estudos epidemiológicos. Hipócrates (460 a.C - 377 a.C), considerado o pai da medicina científica, foi o primeiro a sugerir que as causas das doenças não eram intrínsecas à pessoa nem aos desígnios divinos, mas que estava relacionada a características ambientais. Embora as causas relatadas por Hipócrates tenham sido superadas, reconhecemos que ele lançou as bases para a procura da causalidade das doenças e agravos à saúde, norte principal da epidemiologia até hoje. Hipócrates, em Tratado dos ares, das águas e dos lugares (século V a.C.), coloca os termos epidêmico e endêmico, derivados de epidemion (verbo que 9 significa visitar: enfermidades que visitam) e endemion (residir enfermidades que permanecem na comunidade). Ele sugere que condições tais como o clima de uma região, a água ou sua situação num lugar em que os ventos sejam favoráveis são elementos que podem ajudar o médico a avaliar a saúde geral de seus habitantes. Em outra obra, Tratado do prognóstico e aforismos, trouxe a idéia, então revolucionária, de que o médico poderia predizer a evolução de uma doença mediante a observação de um número suficiente de casos. Essa também é, até hoje, uma das principais características da epidemiologia e da demografia. Hipócrates considerava que para se fazer uma correta investigação das doenças, era necessário o conhecimento das peculiaridades de cada lugar, e a observação da regularidade das doenças num contexto populacional. Outro inglês, John Snow, é pioneiro na procura sistemática dos determinantes das epidemias. Seu ensaio sobre a maneira de transmissão da cólera, publicado em 1855, apresenta memorável estudo a respeito de duas epidemias de cólera ocorridas em Londres em 1849 e 1854 (WINKELSTEIN, 1995). Suas anotações sistemáticas sobre os casos levaram a desenvolver a idéia de que a epidemia da cólera era ocasionada por parasitas invisíveis e não por miasmas. Elaborou hipóteses sobre a qualidade da água como meio principal de contágio. Daquela época até o início do século XX, a epidemiologia foi ampliando seu campo, e suas preocupações concentraram-se sobre os modos de transmissão das doenças e o combate às epidemias. A partir das primeiras décadas do século XX, com a melhoria do nível de vida nos países desenvolvidos e com o conseqüente declínio na incidência das doenças infecciosas, outras enfermidades de caráter não-transmissível (doenças cardiovasculares, câncer e outras) passaram a ser incluídas entre os objetos de estudos epidemiológicos, além do que, pesquisas mais recentes, sobretudo as que utilizam o método de estratificação social, enriqueceram esse campo da ciência, ensejando novos debates. No entanto, é a partir do final da Segunda Guerra Mundial que assistimos ao intenso desenvolvimento da metodologia epidemiológica, com a ampla incorporação da estatística, propiciada em boa parte pelo aparecimento dos computadores. A aplicação da epidemiologia passa a cobrir um largo espectro de agravos à saúde. Os estudos de Doll e Hill (1954), estabelecendo associação 10 entre o tabagismo e o câncer de pulmão, e os estudos de doenças cardiovasculares desenvolvidas na população da cidade de Framingham, Estados Unidos, são dois exemplos da aplicação do método epidemiológico em doenças crônicas. Hoje a epidemiologia constitui importante instrumento para a pesquisa na área da saúde, seja no campo da clínica, seja no da saúde pública. No Brasil, a organização dos serviços do SUS baseia-se na descentralização sendo, portanto, indispensável o conhecimento da epidemiologia nos serviços locais de saúde. DEFINIÇÃO DE SAÚDE Em qualquer das definições de epidemiologia adotada, é fundamental o entendimento do que é saúde, já que é a partir dessa definição individual que construiremos o conceito coletivo. Conceituar saúde não é tarefa simples. Como a epidemiologia, esse conceito está determinado pelo contexto histórico. Os parâmetros (referências) utilizados para sua definição nortearam a criação dos indicadores epidemiológicos. Repare que o mais comum é definir a saúde como a ausência de doença. Dessa maneira, o estudo da saúde da população somente precisaria de dados sobre mortalidade e morbidade segundo causas. Entretanto, sabemos que na prática encontramos, muitas vezes, indivíduos nos quais não se diagnostica doença, mas apresentam características que poderíamos considerar não saudáveis, tais como inadaptabilidade à comunidade ou freqüente tristeza, o que torna difícil identificá-los como saudáveis. Além disso, a percepção da saúde varia muito entre culturas, entre grupos sociais, entre gerações. O termo Envelhecimento Ativo, adotado pela OMS ao final da década de 1990, está em sintonia com o conceito de saúde de 7 de abril de 1947 e com os atuais desafios dos estudos epidemiológicos, já que considera o “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais 11 velhas” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005). Este processo deve ser analisado pela perspectiva de ciclo de vida. TEORIA DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA O perfil de morbimortalidade pode ser considerado um indicador relativamente sensível das condições de vida e do modelo de desenvolvimento de uma população. Para explicar as mudanças da composição da morbimortalidade dos países e grupos populacionais, um autor chamado Omran, em 1971, elaborou um marco teórico chamado Teoria da Transição Epidemiológica (TTE). Essa teoria é posterior e com princípios similares à Teoria da Transição Demográfica. Parte do suposto de evolução da sociedade para estágios mais avançados. De acordo a TTE, essas mudanças se caracterizam pela evolução progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas para um outro onde predominam os óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, causas externas e outras doenças consideradas crônicodegenerativas. Omran (1971) classifica três estágios sucessivos da mudança dos padrões de morbidade e mortalidade: a “idade das pestilências e fome”, a “idade das pandemias reincidentes” e, finalmente, a “idade das doenças degenerativas”. Durante a transição, as mudanças mais profundas no padrão de morbimortalidade seriam experimentadas pelas crianças e mulheres jovens. O autor admite em publicação posterior, em resposta às críticas, que as doenças infecciosas não desapareceram totalmente como causas de morte (pneumonias, bronquites, influenza), nem de morbidade (doenças sexualmente transmissíveis), mas que estas constatações não comprometeriam o sentido geral da teoria da transição epidemiológica: seqüência linear e “natural” de etapas, que podem variar em seu ritmo, mas com uma direção clara e estabelecida da substituição das doenças infecciosas e parasitárias pelas crônico-degenerativas e causas externas como mais importantes causas de mortalidade e morbidade das populações humanas. Apesar de essa teoria estar enraizada no pensamento dos epidemiologistas e de todos aqueles que estudam a evolução da saúde de uma 12 população, ainda é objeto de diversas críticas similares à da teoria da TD. Principalmente, se critica que ao analisar países ou regiões, encontramos: superposição de etapas, já que se convive doenças infecto-parasitárias e crônico-degenerativas com grande importância absoluta e relativa; um ressurgimento de doenças como a malária, o cólera e a dengue que, mesmo não tendo grande interferência na mortalidade, têm alta incidênciade morbidade e estão associadas com condições de pouco desenvolvimento da população; o surgimento da pandemia de Aids no início da década de oitenta em países considerados avançados, como os Estados Unidos, ou seja, com a emergência da Aids vem a constatação de que o pretenso movimento de eliminação das doenças infecciosas indicado pela teoria da transição epidemiológica nem sempre se verificava, e mais, que os mesmos fatores relacionados ao progresso, ao desenvolvimento socioeconômico e à modernidade, que seriam os determinantes da transição epidemiológica, também poderiam determinar processos na direção inversa, propiciando o surgimento e a disseminação de novas e velhas doenças infecto- parasitárias (LUNA, 2002). Considerando essas críticas, também se considera que a TTE tem fundamentos importantes, já que esclareceu que, com a chamada “modernização”, observaríamos o aumento da expectativa de vida com o aumento da influência das doenças crônicas degenerativas na mortalidade e morbidade da população. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas (OMRAM, 2001; SANTOS- PRECIADO et al., 2003). O processo engloba três mudanças básicas: Substituição das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas. 13 Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos. Transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra na qual a morbidade é dominante. No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido de acordo com o modelo experimentado pela maioria dos países desenvolvidos e mesmo por vizinhos latino-americanos como Chile, Cuba e Costa Rica. Novos e velhos problemas em saúde estão coexistindo, com destaque para as doenças crônicodegenerativas, embora as doenças transmissíveis ainda desempenhem um papel de importante destaque no perfil epidemiológico. É importante conhecer aspectos da transição epidemiológica para compreender a relação das pessoas com os serviços de saúde. A transformação dos perfis epidemiológicos no Brasil apresenta um caráter peculiar que não se conforma necessariamente ao modelo de substituição de doenças infecciosas e parasitárias por doenças crônico de generativas, acidentes e violências. A avaliação do contexto brasileiro demonstra que a transição epidemiológica não tem seguido o mesmo padrão verificado na grande maioria dos países industrializados centrais do capitalismo Isso indica que no Brasil não ocorre uma transição epidemiológica propriamente dita, mas uma superposição de contextos epidemiológicos apresentados ao longo do tempo. Cenários como a reintrodução de processos infecciosos, como dengue e cólera, ou a persistência e o recrudescimento de outras, como malária, a tuberculose, a hanseníase e as leishmanioses, apontam para uma natureza não unidirecional. Entre as regiões brasileiras, as situações epidemiológicas evidenciam importantes contrastes, caracterizando, na realidade, uma “polarização geográfica”, existindo ainda a “polarização social” que se manifesta pelos desníveis nos indicadores de mortalidade e morbidade entre os diferentes grupos populacionais (PONTES et al., 2009). O processo de transição epidemiológica no Brasil não se resolve de maneira clara, criando uma situação em que a morbimortalidade persiste elevada para ambos os padrões, caracterizando uma transição prolongada; as situações epidemiológicas de diferentes regiões em um mesmo país tornam-se contrastantes (polarização epidemiológica). Além disso, o envelhecimento 14 rápido da população brasileira faz com que a sociedade se depare com um tipo de demanda por serviços médicos e sociais, outrora restritos aos países industrializados. Barreto et al (2005) enfatizam a necessidade da revisão da teoria da transição epidemiológica, segundo o contexto específico da América Latina. Para esses autores, as principais mudanças no padrão epidemiológico do Brasil seriam as descritas abaixo. A complexidade do cenário epidemiológico atual, caracterizado pela tripla carga de doenças na população (permanência de doenças agudas, aumento do peso relativo às condições crônicas e às causas externas), é decorrente, também, da forma de gestão das práticas sanitárias. Para o SUS, que pretende ser um sistema integrador, é fundamental implementar arranjos e estruturas organizativas na direção de seu fortalecimento. As práticas sanitárias, por exemplo, precisam de maior organicidade para desencadear ações oportunas que auxiliem na redução ou eliminação dos riscos à saúde e ampliem a capacidade de resposta do SUS. Na prática, é de extrema importância acompanhar os mapas de situação de saúde no Brasil, por meio da avaliação e monitoramento dos indicadores, a fim de traçar os perfis epidemiológicos e acompanhar possíveis mudanças, conservações e/ou transformações. Descobrir, investigar rapidamente e 15 acompanhar patógenos emergentes de doenças e fatores envolvidos no surgimento do quadro são fundamentais nesse processo. Vejamos abaixo alguns indicadores que podem ser utilizados para ilustrar o peculiar processo de transição epidemiológica no Brasil: Perfil de mortalidade. Perfil das causas de internação. Perfil de doenças infecciosas persistentes (incluem-se a malária, a tuberculose, as leishmanioses, a esquistossomose, a doença de Chagas, a febre amarela silvestre e as hepatites virais, entre outras). Perfil de doenças emergentes e reemergentes (Aids, dengue, a cólera pelo vibrio cholerae El Tor, hantavirose, febre chikungunya, febre pelo zika vírus). A ocorrência de doenças e agravos à saúde é um fenômeno que suscita grande interesse na identificação de seus fatores ou mecanismos causais, contribuindo, dessa maneira, para o desenvolvimento de ações de prevenção, controle e tratamento. Identificar causas é uma das maneiras do pensamento científico abordar a explicação das origens de um fenômeno. Vamos discutir as principais formas de explicação de agravos e doenças, apontando os modelos explicativos e suas características. A identificação e o entendimento acerca dos motivos pelos quais indivíduos e populações adoecem são temas centrais na epidemiologia. A causa seria um agente eficaz, e desvendá-la garante um conhecimento maior a respeito de um fenômeno estudado, na medida em que é possível intervir sobre um efeito quando se remonta à sua causa. Nesse sentido, muitos esforços foram e são despendidos na direção do aprimoramento de critérios e modelos que permitam qualificar associações como causais ou não causais. Compreender os mecanismos nos quais os fatores etiológicos agem e interagem, ocasionando doenças e agravos à saúde, evidencia possibilidades concretas de prevenção ou interrupção de processos mórbidos. Considerando essa premissa, serão brevemente apresentados três modelos explicativos da ocorrência de doenças: o modelo ecológico, a rede de causas e o modelo sistêmico. 16 O modelo ecológico de explicação da ocorrência de doenças tornou-se bastante popular na área da saúde em meados do século 20, junto com a disseminação dos fundamentos da medicina preventiva. Trata a definição de saúde como resultado do equilíbrio dinâmico entre o indivíduo (ou populações humanas) e o ambiente no qual ele se insere. O agente e o hospedeiro são dependentes do ambiente que, ao mesmo tempo, pode ser modificado pelos dois. Quando ocorre a doença significa uma resposta à quebra do equilíbrio do sistema. Por fim, o modelo sistêmico explica os processos de adoecimento de uma forma “orgânica”, articulandotodas as dimensões dos indivíduos, desde as biológicas (ligadas ao organismo humano e suas funções) passando por aquelas ligadas à vida dos indivíduos e à família, até as mais gerais vinculadas à estrutura da sociedade. Baseia-se na suposição de que as causas das doenças estão em diferentes sistemas de organização, desde o celular até o social, passando por níveis intermediários, como órgãos e os indivíduos. Embora esse modelo não cite claramente os fatores etiológicos passíveis de intervenção, como nos modelos ecológicos e de rede de causas, ele traz uma visão mais holística do processo saúde-doença, ao clarificar uma estrutura hierárquica entre os níveis de atuação das causas. Planejar e programar o desenvolvimento de ações em saúde pública exige um conhecimento detalhado das condições de vida e de trabalho das pessoas que residem em determinado território, bem como o entendimento dos fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença e suas implicações. Particularmente em países como o Brasil e outros da América Latina, a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo grau de escolaridade, assim como as condições precárias de habitação e ambiente, têm um papel muito importante nas condições de vida e saúde. Em um amplo estudo sobre as tendências da situação de saúde na Região das Américas recentemente publicado, a OPAS (1998) mostra, de forma inequívoca, que os diferenciais econômicos entre os países são determinantes para as variações nas tendências dos indicadores básicos de saúde e desenvolvimento humanos. A redução na mortalidade infantil, o incremento na esperança de vida, o acesso à água e ao saneamento básico, o gasto em saúde, 17 a fecundidade global e o incremento na alfabetização de adultos foram função direta do Produto Nacional Bruto dos países. Segundo Pereira (1995), os fatores de determinação em saúde podem ser sintetizados conforme mostra a figura abaixo. Os fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença na contemporaneidade incluem: É importante ressaltar que a sociedade espera que o setor da saúde cuide das pessoas e da população mediante ações individuais e coletivas, intervindo nos determinantes e condicionantes dessa área. Na medida em que a saúde tem 18 sido reconhecida não apenas como a ausência de doença, o propósito almejado é que as pessoas possam ter uma vida com qualidade. Merecem destaque as ações sistemáticas e contínuas de coleta, análise, interpretação e disseminação de informação com a finalidade de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de problemas de saúde. Nesse cerne, o conhecimento sobre endemias, epidemias e pandemias é fundamental. Ainda que tradicionalmente esse conhecimento direcione a focalização de doenças infecciosas, atualmente esses conceitos também incluem seu uso para doenças crônico-degenerativas, os acidentes, as violências, entre outros. A endemia é definida como a presença habitual de uma doença, dentro dos limites esperados, em uma determinada área geográfica, por um período de tempo ilimitado. Pode, também, referir-se à ocorrência usual de uma determinada doença, dentro de uma área. Esse fenômeno ocorre quando há uma constante renovação de suscetíveis na comunidade, exposição múltipla e repetida destes a um determinado agente, isolamento relativo sem deslocamento importante da população em uma zona territorial. Por exemplo: malária, febre amarela, doença de Chagas, esquistossomose etc. (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009). A epidemia, por sua vez, é definida como a ocorrência em uma comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar, excedendo claramente a expectativa normal, derivada de uma fonte comum de propagação. Resulta, portanto, em um “claro excesso de casos em relação ao esperado” quando comparado à frequência esperada (ou habitual) de uma doença em uma determinada população, em um período determinado, não sendo necessariamente a “ocorrência de muitos casos” (RIBEIRO, 2012). O número de casos de uma epidemia vai variar de acordo com o agente, o tipo e o tamanho da população exposta, além do período e do local de ocorrência. A ocorrência de um único caso autóctone em uma região onde nunca tenha ocorrido ou que esteja há muitos anos livre de uma determinada doença, representa uma epidemia, pois demonstra uma alteração substantiva na estrutura epidemiológica relacionada à doença (MEDRONHO; WERNECK; PEREZ, 2009). 19 Quando as condições facilitam a propagação de agentes infecciosos no ambiente e associam-se a um grande número de pessoas suscetíveis, pode ser dado espaço para o desenvolvimento de uma pandemia. O termo pandemia referese a uma epidemia de grandes proporções geográficas, ou seja, atingindo vários países, inclusive mais de um continente. Como exemplo, podemos citar a doença influenza A(H1N1) no ano de 2009, cujos primeiros casos ocorreram no México, expandindo-se para Europa, América do Sul, América Central, África e Ásia (RIBEIRO, 2012). A ocorrência de uma epidemia restrita a um espaço geográfico circunscrito é denominada surto. O surto consiste em uma ocorrência epidêmica, em que todos os casos estão relacionados entre si, acometendo uma área geográfica pequena e delimitada (como vilas ou bairros) ou uma população institucionalizada (como creches, asilos, escolas e presídios). Podemos citar como exemplo, a ocorrência de inúmeros casos de intoxicação alimentar em um asilo, após ingestão de alimentos contaminados. As etapas de investigação de epidemia ou surto incluem: As três primeiras etapas são fundamentais. Em geral, no início da investigação, emprega-se uma definição de caso mais sensível, que envolve casos confirmados e casos prováveis. A intenção é facilitar a identificação, a 20 extensão do problema e os grupos populacionais mais atingidos. Esse processo é fundamental, pois pode levar a elaboração de hipóteses importantes. O processo de confirmação de uma epidemia ou surto envolve o estabelecimento do diagnóstico da doença e do estado epidêmico. Torna-se imprescindível conhecer a frequência habitual de casos no lugar e período. A confirmação decorre da comparação dos coeficientes de incidências (antes e depois). As hipóteses são formuladas com vistas a identificar: fonte de infecção, transmissibilidade, agente etiológico, população em maior risco e período de exposição. O relatório final deverá ser enviado aos profissionais que prestaram assistência médica aos casos e aos participantes da investigação clínica e epidemiológica, representantes da comunidade, autoridades locais, administração central dos órgãos responsáveis pela investigação e controle do evento (BRASIL, 2009). Vale ressaltar que as epidemias podem ser classificadas didaticamente quanto à origem e quanto à duração. Quanto à origem, elas podem ser de fonte comum pontual ou fonte comum persistente (ou propagada). Quanto à duração, as epidemias podem ser classificadas como explosivas ou lentas. Acompanhe o detalhamento da classificação das epidemias na figura abaixo. Pode-se destacar uma lista de apontamentos que refletem a relevância dos conhecimentos apresentados até aqui, considerando especialmente a finalidade central de prover as bases técnicas para subsidiar os profissionais de 21 saúde na elaboração e implementação de ações e programas de saúde. Especialmente no tocante à epidemiologia, temos: Identificar e descrever o comportamento epidemiológico das doenças. Detectar epidemias e descrever o processo de transmissibilidade. Avaliar magnitude das medidas de morbidade. Recomendar adoção oportuna de medidas de prevenção e controle. Atividades de notificação de doenças e agravos, além de casos suspeitos. Avaliar o impacto de medidas de intervenção. Os profissionais de saúde têm como desafio permanente trabalhar para o desenvolvimento da consciência sanitária dos gestores municipais dos sistemas de saúde, para que passem a priorizar as ações de saúde pública e trabalhem na perspectiva de atuação em problemas de saúde prioritários, em cada spaço geográfico. Nesse contexto, a epidemiologia é uma ferramenta fundamental, pois ajuda a conhecer a distribuição de fatores de risco e agravos na população, embasando estratégias de prevenção e controle. SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA (SNVE) O Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica – SNVE através da Lei nº 6.259/1975 e Decreto nº 78.231/76. O SNVE tornou obrigatória a notificação de doenças transmissíveis selecionadas através de uma portaria (Brasil, 2005). E em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manual de Vigilância Epidemiológica onde definiu normas técnicas utilizadas para a vigilância de cada doença (Brasil, 2005). 22 O Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o SNVE, e definiu a vigilância epidemiológica na Lei nº 8.080/90 como “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos” (Brasil, 2005). Essa definição ampliou o conceito do SNVE e as ações de vigilância epidemiológica tiveram uma reorganização do sistema de saúde brasileiro, caracterizada pela descentralização de responsabilidades e integralidade da prestação de serviços (BRASIL, 2005 b). Atualmente, a lista de doenças transmissíveis de notificação obrigatória, no Brasil, foi definida através da Portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014, a qual define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. A Portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014, ressalta que a autoridade de saúde que receber a notificação compulsória imediata deverá informá-la - em até 24 (vinte e quatro) horas desse recebimento - às demais esferas de gestão do SUS, o conhecimento de qualquer uma das doenças ou agravos. A notificação é realizada através do preenchimento da Ficha de Notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN. A intenção da vigilância epidemiológica é fornecer orientação técnica constante para os profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida (BRASIL, 2009). São funções da vigilância epidemiológica: Coleta de dados; Processamento dos dados coletados; Análise e interpretação dos dados processados; Recomendação das medidas de controle apropriadas; Promoção das ações de controle indicadas; Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; 23 Divulgação de informações pertinentes (BRASIL, 2009) O Dado é entendido como “um valor quantitativo referente a um fato ou circunstância”, “o número bruto que ainda não sofreu qualquer espécie de tratamento estatístico”, ou “a matéria-prima da produção de informação” (BRASIL, 2009). A Informação é definida como “o conhecimento obtido a partir dos dados”, “o dado trabalhado” ou “o resultado da análise e combinação de vários dados”, o que implica em interpretação, por parte do usuário. É “uma descrição de uma situação real, associada a um referencial explicativo sistemático” (BRASIL, 2009). As notificações são úteis em pelo menos quatro situações (BRASIL, 2009): Medidas de controle implementadas de acordo com as evidências encontradas no local; Para identificar as falhas nas medidas de controle adotadas; Indicadores que reflitam o quadro epidemiológico da doença na coletividade; avaliação do impacto das medidas de controle. 24 A notificação deve ser sigilosa, não podendo ser divulgada fora do âmbito médico-sanitário – em caso de risco para a comunidade –, sendo respeitado o direito de anonimato dos cidadãos. Assim, quando não forem registrados casos de doenças notificáveis no decorrer do período, deve-se proceder à notificação negativa (BRASIL, 2009). A Notificação negativa é a notificação da não-ocorrência de doenças de notificação compulsória na área de abrangência da unidade de saúde; demonstra que o sistema de vigilância e os profissionais da área estão alertas para a ocorrência de tais eventos. É dever de todo cidadão comunicar, à autoridade sanitária local, a ocorrência de fato, comprovado ou suspeito, de caso de doença transmissível; sendo obrigatória a médicos e outros profissionais de saúde, no exercício da profissão, bem como aos responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e ensino, a notificação de casos suspeitos ou confirmados de doenças e agravos (BRASIL, 2005). De acordo com o Ministério da Saúde (2009), o sistema de vigilância epidemiológica trabalha vários tipos de dados. Sua base é a notificação de casos suspeitos e/ou confirmados de doenças, objetos de notificação compulsória, embora ele possa, também, utilizar dados de mortalidade ou dados coletados em prontuários médicos, por exemplo. Os dados e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica são os dados demográficos, ambientais e socioeconômicos; dados de morbidade e os dados de mortalidade (Brasil, 2009). PADRONIZAÇÃO DE INDICADORES NO SUS A vigilância da situação de saúde desenvolve ações de monitoramento contínuo do país/estado/região/município/território por meio de estudos e análises que traduzam o comportamento dos principais indicadores de saúde, priorizando questões relevantes e contribuindo para um planejamento de saúde mais abrangente e adequado (BRASIL , 2010). Um indicador consiste em uma medida que reflete uma característica ou aspecto particular, em geral não sujeito a observação direta (MEDRONHO, 25 2009). Os indicadores de saúde têm como propósito principal elucidar a situação de saúde de um indivíduo ou de uma população. A qualidade de um indicador depende das propriedades dos componentes utilizados em sua formulação e da precisão dos sistemas de informação empregados. O grau de excelência de um indicador deve ser definido por: Validade: Capacidade de medir o que se pretende. Conabilidade: Capacidade de reproduzir os mesmos resultados quando aplicado em condições similares. Em geral, a validade de um indicador é determinada por sua sensibilidade (capacidade de detectar o fenômeno analisado) e especificidade (capacidade de detectar somente o fenômeno analisado). Outros atributos de um indicador são: mensurabilidade (basear-se em dados disponíveis ou fáceis de conseguir), relevância (responder a prioridades de saúde), e custo-efetividade (os resultados justificam o investimento de tempo e recursos) (RIPSA , 2016). SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL A Vigilância Ambiental é um campo relativamente novo do conhecimento, que trata da compreensão e da análise dos condicionantes ambientais que afetam a saúde humana (AUGUSTO, 2003). A construção dos sistemas de informação para a vigilância ambiental em saúde que integre aspectos de saúde e de meio ambiente, tem permitido a produção de informações estatísticas facilitadoras da interpretação da dinâmica com os demais sistemas, possibilitando a construção e identificação de indicadores de saúde ambiental (BRASIL, 2002). A Vigilância Ambiental em Saúde utilizacomo ferramenta fundamental o georreferenciamento de dados que consiste no processo usado para referenciar registros tabulares a um lugar da superfície da terra ou unidade territorial (bairro, município, localidade etc.), possibilitando, assim, a elaboração de mapas de risco capazes de auxiliar a tomada de decisão nas diversas instâncias do SUS. 26 Uma das tarefas primordiais para o estudo da relação entre ambiente e saúde é a seleção de indicadores para esses níveis de manifestação dos problemas ambientais. Esses componentes devem estar combinados para que se defina uma estratégia eficaz para a prevenção ou redução do impacto dos problemas ambientais sobre a saúde. A Vigilância Ambiental em Saúde deverá dispor de informações específicas de outros sistemas, dentre eles o Sistema de Informação de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (SISSOLO) e o Sistema de Informação de Vigilância em Saúde Relacionado à Qualidade da Água de Consumo Humano (SISAGUA). Consiste em um sistema de informação web, elaborado e desenvolvido pela Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM), em conjunto com o Departamento de Informática do SUS (DATASUS), e está acessível aos técnicos e gestores municipais, estaduais e federais da Vigilância em Saúde Ambiental. Destina-se ao cadastro, pelo nível municipal e estadual, de informações padronizadas de forma sistematizada sobre as áreas com população exposta e potencialmente exposta a contaminantes químicos. A alimentação do sistema deve ser contínua, a fim de que a assistência às populações expostas dê-se por meio dos princípios do Sistema Único de Saúde – SUS (RODRIGUES et al, 2011). O SISAGUA é um instrumento do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para consumo Humano (VIGIAGUA) que auxilia no gerenciamento de riscos à saúde associados à qualidade da água destinada ao consumo humano, como parte integrante das ações de prevenção de agravos e de promoção da saúde, previstas no Sistema Único de Saúde. O SISAGUA foi construído tendo como base o próprio programa VIGIAGUA e a Portaria MS n° 2.914/2011 e armazena informações cadastrais sobre os sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água para consumo humano, bem como sobre a qualidade da água proveniente de cada uma das formas cadastradas, inferida pelos prestadores do serviço (controle) e pelo setor saúde (vigilância). A entrada de dados é dividida, basicamente, em três partes: cadastro, controle e vigilância. A Portaria nº 2.914, de 2011, estabelece que o controle da qualidade da água é de responsabilidade de quem oferece o abastecimento coletivo ou de 27 quem presta serviços alternativos de distribuição. No entanto, cabe às autoridades de saúde pública das diversas instâncias de governo a missão de verificar se a água consumida pela população atende às determinações dessa portaria, inclusive no que se refere aos riscos que os sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água representam para a saúde pública. VIGILÂNCIA EM SAÚDE A Saúde Pública apresentou um processo dinâmico de transformação nos últimos anos, com sérias mudanças estruturais e a proposição de modelos inovadores de gestão, sempre objetivando a melhoria da qualidade dos serviços e da assistência destinados à população, em sintonia com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS representa um moderno modelo de organização dos serviços de saúde, com eixos norteadores relacionados à universalidade, à integralidade, à acessibilidade, à resolutividade, à hierarquização, à regionalização, à descentralização e ao controle social. Diante dessa logística, os municípios foram valorizados, assim como todos os serviços municipais direcionados para a saúde de sua comunidade, entre eles os de Vigilância em Saúde, representantes da “inteligência sanitária” desse complexo contexto. Essas propostas inovadoras desenham novos caminhos para os modelos de gestão aplicáveis ao setor, os quais pretendem redundar, em última análise, em menos desperdício, e em maior agilidade, nas decisões e nas respostas para melhoria 28 da qualidade dos serviços oferecidos aos munícipes. Langmuir apresentou, em 1963, o seguinte conceito de vigilância: Vigilância é a observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos os que necessitam conhecê-la (LANGMUR, 1963). Atualmente, a construção e a consolidação da Vigilância em Saúde são produtos vitoriosos herdados pela institucionalização do SUS, em 1988; pela criação do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI), em 1990; pela estruturação do financiamento das ações de vigilância e controle de doenças e, mais recentemente, pela criação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde – em 2003 –, que coordena o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde em todo o território brasileiro. O acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde, se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada, de acordo com a complexidade do serviço, contendo: Atenção Primária; urgência e emergência; atenção psicossocial; atenção ambulatorial especializada e hospitalar; Vigilância em Saúde. Os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país. A definição ampliou-se, sendo que a Vigilância em Saúde é responsável por todas as ações de vigilância, prevenção e controle de agravos, prioritariamente com ações de promoção à saúde, com o monitoramento epidemiológico das doenças transmissíveis e não transmissíveis, de atividades sanitárias programáticas, de vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador, elaboração e análise de perfis demográficos epidemiológicos, proposição de medidas de controle etc. A Vigilância encontra-se distribuída em patamares hierárquicos técnico- administrativos, nas esferas federal, estadual, municipal e regional, sendo que a base de todas as informações é a região, mais precisamente a microárea. 29 EPIDEMIOLÓGICA Realiza um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou a prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de prevenção e controle de doenças ou agravos. Trabalha com doenças sexualmente transmissíveis agudas e crônicas; doenças transmissíveis agudas; doenças transmissíveis crônicas; doenças imunopreveníveis; investigações e respostas a casos e surtos e epidemias; doenças emergentes; agravos inusitados; inclui o também o Programa Nacional de Imunização (PNI), descentralizado aos municípios. AMBIENTAL Desencadeia um conjunto de atividades relativas às zoonoses e questões sanitárias ligadas ao meio ambiente e riscos à saúde (água, ar e solo), com ações integradas com as subprefeituras e outras secretarias, devendo participar na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico SAÚDE DO TRABALHADOR Desencadeia um conjunto de atividades que, por meio das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, se destinam à promoção e à proteção à saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e à reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. IMUNIZAÇÃO É o conjunto de todas as atividades relacionadas com os imunobiológicos e sua adequada utilização. O Programa Nacional de Imunização (PNI) é reconhecidamente um dos melhores do mundo, estando vigente desde 1973, continuamente propiciando expressivos benefícios na prevenção de doenças, obtendo reiteradossucessos, nunca tendo sido interrompido. Podem ocorrer surtos ou acontecimentos inesperados mesmo com imunobiológicos eficazes, cabendo providências complementares organizadas, seguindo diretrizes da Vigilância em Saúde, com respaldo científico e rigoroso sistema avaliador de qualidade, também com controle de procedimentos inadequados e eventos adversos de imunobiológicos, acompanhando também de maneira rigorosa o armazenamento, a conservação e o transporte de vacinas até sua utilização. SANITÁRIA Realiza um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. INFRAESTRUTURA Infraestrutura laboratorial e de apoio diagnóstico, do sistema de informações de doenças de notificação compulsória, entre outros. 30 O desenvolvimento de sistemas de vigilância implica o acesso à elevada gama de informações, especialmente as relativas à morbidade, à mortalidade, à estrutura demográfica, ao estado imunitário e nutricional da população, à situação socioeconômica e ao saneamento ambiental, sendo que a Saúde atualmente tem sido a porta de entrada para vários sistemas, tendo íntima relação com a situação social regional. A Vigilância deve trabalhar de forma integrada e harmônica com todas as Unidades de Atendimento à Saúde – também intersetorialmente e intersecretarialmente. ém intersetorialmente e intersecretarialmente. Na Saúde da Família e da Comunidade, a Estratégia Saúde da Família (ESF) desencadeou todo um processo de regionalização também na Vigilância. A ESF tem como diretriz a existência da territorialização e a determinação de área geográfica com o delineamento das áreas de abrangência de cada uma das Unidades Básicas de Saúde. Nas áreas cobertas pela ESF se trabalha com microáreas e área de abrangência, que são de responsabilidade sanitária das equipes. Na ESF, a Vigilância tem como parceiros as organizações sociais e os parceiros contratados pelas secretarias municipais de saúde. As entidades privadas qualificadas pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios como organizações sociais, são declaradas de interesse social e utilidade pública, desde que haja reciprocidade e a legislação local não contrarie os mandamentos dessa lei e a legislação federal específica. Nos termos legais, o contrato de gestão discriminará as atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da Organização Social, mas sobretudo deverá especificar o programa de trabalho proposto, a fixação das metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como os critérios objetivos de avaliação de desempenho mediante indicadores de qualidade e de produtividade. Além disso, o contrato deve prever os limites e critérios para despesas com remuneração e vantagens a serem percebidos pelos dirigentes e empregados da Organização Social, além de outras cláusulas julgadas convenientes pelo Poder Público. A eficácia do contrato de gestão está precisamente na possibilidade do exercício do controle de desempenho, havendo indicadores objetivos de qualidade e produtividade, metas a serem alcançadas e prazos de execução, 31 muitos deles de vigilância. O Poder Público pode perfeitamente acompanhar os trabalhos da entidade privada e verificar a atuação de seus dirigentes, para tomar as providências cabíveis, entre elas a Vigilância. Diante da ampliação do conceito de Vigilância em Saúde e das inovadoras propostas administrativas para a área da saúde, focando a Saúde da Família e Comunidade, a equipe de profissionais da Vigilância desencadeou uma reforma na logística de seu processo de trabalho e fluxograma de informações com os equipamentos de prestação de serviços em saúde sob sua responsabilidade regional, mantendo como princípios norteadores: A manutenção da qualidade na coleta de dados; A consolidação desses dados em informações fidedignas; A ampla disseminação dessas referidas informações a todos aqueles que as geraram e que delas necessitam tomar conhecimento, servindo de ferramenta para: A elaboração de programas, a identificação de fatores de risco, a aplicação de medidas de controle; A capacitação e o aprimoramento de pessoal; A aquisição de equipamentos e tecnologias; O desenvolvimento de produções científicas. Nesse cenário de intensas transformações, avaliações e reorganizações, os equipamentos de saúde e seus profissionais precisam desenvolver uma dinâmica de aprendizagem e inovação, cujo primeiro passo deve ser a capacidade crescente de adaptação às mudanças observadas no mundo atual. Devem-se procurar os conhecimentos e habilidades necessários e a melhor maneira de construí-los para formar esse novo profissional, ajustado à realidade atual e preparado para acompanhar as transformações futuras. O processo de trabalho e o fluxograma de informações da Vigilância em Saúde devem ser trabalhados harmonicamente com a ESF e com toda a rede regionalizada de atendimento à saúde até o nível terciário, que inclui hospitais e serviços e escola de pesquisa científica, garantindo a excelência da captação de dados, a consolidação, a avaliação e a divulgação das informações, bem como a eficiência das medidas de controle e a solução dos problemas de saúde pública. 32 Para que se consiga essa harmonia e integralidade, a Vigilância necessita estar bem sedimentada em todos os profissionais da saúde e, para isso, um ponto fundamental é o desenvolvimento de processos de educação continuada em serviço, integrando a Vigilância ao atendimento, uma vez que são interdependentes para sua eficiência. Todos os profissionais de saúde devem estar treinados para sua atuação de vigilantes em saúde, não deixando passar nehuma oportunidade de cumprir a meta de qualidade dos serviços prestados. Através dessa organização e desses treinamentos também se intensifica a integração dos profissionais da Vigilância e da Atenção Básica, Secundária e Terciária, bem como se reforçam os vínculos, o que facilita o fluxo de informação e a melhora a qualidade dos serviços. É importante desenvolver estudos de casos com extremo detalhamento do contexto em que estão inseridos os pacientes e seus familiares, discutindo todos os fatores relevantes para a justificativa das doenças e agravos, bem como fatores facilitadores e dificultadores do processo propedêutico, terapêutico e da evolução para a cura, desde que os espaços criados para essas discussões sejam otimizados com a presença do maior número possível de atores regionais. Itens necessários para a organização do Sistema de Vigilância: Planejamento e acompanhamento integrado nas ações de Vigilância em Saúde em reuniões com todos os gestores locais, incluindo organizações sociais e parceiros, objetivando organizar os serviços de saúde, no território regional, para o desenvolvimento de ações de Vigilância em Saúde a agravos e Doenças de Notificação Compulsória (DNC); doenças imunopreveníveis; doenças, agravos e eventos inusitados; doenças emergentes – propiciando a promoção à saúde; a prevenção das doenças; a proteção de riscos; o diagnóstico com a respectiva notificação; o acompanhamento dos casos; a aplicação de medidas de controle qualificadas e oportunas, debelando surtos e epidemias, melhorando a qualidade de saúde da comunidade. Composição de referencial teórico-técnico, sintético para todos os equipamentos de saúde, composto de Guia de Consulta Rápida (confeccionado pelos responsáveis técnicos da Vigilância), instruindo os profissionais dos equipamentos de saúde para intervir 33 nos principais agravos e doenças de notificação compulsória, com atualização anual pela SUVIS; Guia Epidemiológico do Ministério da Saúde – última edição; Fichasde Investigação Epidemiológica do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de todos os agravos e Doenças de Notificação Compulsórias. É imprescindível para todos os profissionais de saúde o conhecimento detalhado de dois documentos: Decreto no 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização do Sistema Único de Saúde, o planejamento de saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa; Portaria no 104, de 25 de janeiro de 2011, do Ministério da Saúde, que define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o disposto no Regulamento Sanitário Internacional de 2005, a relação de doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. O conteúdo desses dois documentos nos mostra a organização do sistema de saúde e a inclusão da Vigilância em Saúde no contexto do SUS e a necessidade de ação integrada de vários setores. A Portaria no 104, do Ministério da Saúde, considera o Regulamento Internacional de 2005 e suas definições de: Doença: significa enfermidade ou estado clínico, independentemente de origem ou fonte, que represente ou possa representar um dano significativo para os seres humanos; Agravo: significa qualquer dano à integridade física, mental e social dos indivíduos provocado por circunstâncias nocivas, como acidentes, intoxicações, abuso de drogas e lesões auto ou heteroinfligidas; Evento: significa manifestação de doença ou uma ocorrência que apresente potencial para causar doença; Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN): é um evento que apresenta risco de propagação ou disseminação de doenças 34 para mais de uma Unidade Federada, com priorização das doenças de notificação imediata e outros eventos de saúde pública, independentemente da natureza ou origem, depois de avaliação de risco, e que possa necessitar de resposta nacional imediata; Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII): é evento extraordinário que constitui risco para a saúde pública de outros países, por meio de propagação internacional de doenças que potencialmente requerem uma resposta internacional coordenada. (BRASIL, 2011). A mesma portaria amplia a Lista de Notificação Compulsória, referente a doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública de abrangência nacional, em toda a rede de saúde, pública e privada, que devem ser registradas e notificadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), obedecendo às normas e rotinas estabelecidas pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Adota também a Lista de Notificação Compulsória Imediata, referente a doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública de abrangência nacional de toda a rede de saúde, pública e privada. A notificação deverá ser imediata, por telefone ou FAX, ao Serviço de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde local, pois se tratam de doenças que exigem maior agilidade ao serem notadas, mesmo que seja apenas uma suspeita, pois a notificação garante a antecipação da investigação. No caso de sarampo, por exemplo, permite ao município iniciar, imediatamente, a busca ativa de pessoas que tiveram contato com o paciente e realizar a vacinação de bloqueio para evitar a disseminação do vírus. A notificação compulsória é obrigatória a todos os profissionais de saúde: enfermeiros, médicos, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, farmacêuticos e outros no exercício da profissão, bem como os responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e ensino. É facultada a elaboração de listas estaduais ou municipais de notificação compulsória, no âmbito de sua competência e de acordo com o perfil epidemiológico local, não podendo ser menos abrangente que a federal. 35 O aperfeiçoamento da notificação de doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública permite às esferas federal, estadual e municipal de governo monitorar e auxiliar no planejamento das ações de prevenção, de controle, avaliar tendências e impactos das intervenções e indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas. Foram incluídos também os desastres de origem natural ou antropogênica quando houver desalojados ou desabrigados ou quando houver comprometimento da capacidade de funcionamento e infraestrutura das unidades de saúde locais em consequência do evento. Na área de imunização, o primeiro Calendário Vacinal da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo foi publicado em 1968, constituído por sete vacinas. O atual calendário do PNI, de 2011, contempla um conjunto de vacinas que protegem contra 14 doenças: tuberculose, paralisia infantil, rotavírus, hepatite B, difteria, coqueluche, tétano, doenças invasivas por Haemophilus influenzae tipo B, pneumococo, doença meningocócica, febre amarela, sarampo, caxumba e rubéola. Há outros imunobiológicos especiais, indicados em situações específicas, disponíveis nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE): vacina Salk, hepatite A, varicela, imunoglobulina específica contra hepatite B, tétano etc. As clínicas privadas de vacinação oferecem, além dos imunobiológicos do calendário básico, outras vacinas autorizadas pelo Ministério da Saúde e pela ANVISA, sendo que todas as atividades relacionadas com imunização são acompanhadas pela Vigilância em Saúde. O espaço físico adequado para o Setor de Vigilância dos serviços de saúde também é muito importante, pois oferece um local para o arquivo de materiais informativos oficiais atualizados, a organização dos casos em acompanhamento e de todos os casos notificados pelo serviço, facilitando a interlocução com a Vigilância de Saúde Local (SUVIS) e com a Interlocução de Vigilância em Saúde dos parceiros e organizações sociais, se houver, para a realização de um trabalho integrado. É imprescindível a realização de um projeto conjunto de educação continuada de Vigilância em Saúde, pactuada e registrada em plano de trabalho, com o estabelecimento de cronograma anual dos processos educativos, segundo perfis epidemiológicos regionais e sazonais dos agravos e DNC, e 36 seguindo as diretrizes dos serviços de Vigilância em Saúde das secretarias municipais da Saúde. O processo sempre deve estar alicerçado na prioridade de melhorar a qualidade de saúde da população da área de abrangência, sendo que o planejamento conjunto na Assistência à Saúde da região e a participação popular, em seu papel de controle social e de formador de opinião da comunidade, são fundamentais para que os serviços também estejam cientes de suas reais necessidades. Alguns fatores processuais são imprescindíveis para uma adequada Vigilância em Saúde: O comprometimento, a disciplina, a competência e o papel integrador da equipe multidisciplinar técnica da Vigilância Local (SUVIS); A importância do trabalho integrado de todos os gestores locais, dividindo tarefas no desempenho dos treinamentos, capacitações e outras ações; O comprometimento de todos os profissionais da Atenção Básica e da ESF na cobertura de sua área de abrangência; A possibilidade de propor e desenvolver projetos novos com os recursos já existentes, apenas organizando os serviços, demonstrando a notável capacidade de adaptação aos modelos de gestão em saúde pública. Os dados gerados pela Vigilância devem ser utilizados para análise, acompanhamento e utilização no planejamento estratégico local. Para isso se trabalha com indicadores técnicos e operacionais, tais como: Notificações de agravos e DNC/equipamento de saúde/ano, que geram coeficientes deincidência, prevalência, detecção e outros; Coberturas vacinais, comparativamente com o restante do município e com as metas regionais e outros indicadores relacionados aos imunobiológicos, sejam técnicos-científicos ou de armazenamento, manutenção e transporte; Indicadores específicos por agravos: percentual de sintomáticos respiratórios examinados, porcentagem de alta por cura em tuberculose, porcentagem de diagnóstico de formas leves de hanseníase e outros, para os quais são utilizados os dados do SINAN; 37 Número de notificações de agravos e DNC pelos Ambulatórios Médicos Assistenciais (AMA); Número de notificações de agravos e DNC dos hospitais regionais. LOGÍSTICA A logística utilizada na Vigilância em Saúde deve ter a colaboração e a coparticipação de todos os gestores, técnicos, trabalhadores de todos os níveis e atores sociais, adaptando-se racional e dinamicamente aos inovadores modelos de gestão dos serviços públicos e privados, principalmente aqueles de cunho social, sem perder suas características inerentes. Uma vez que a Vigilância é um processo dinâmico, a educação permanente, que engloba a educação continuada e a educação em serviço, é fundamental no processo e deve ser planejada, estratégica e integralmente, com os vários atores, visando à melhoria da promoção da saúde, à prevenção das doenças, ao diagnóstico, ao tratamento e a medidas de controle, debelando surtos e epidemias e melhorando a qualidade de vida e de saúde da comunidade. Toda iniciativa para a reorganização institucional deve ter, minimamente, bases estruturais pedagógicas, administrativas e científicas para que possa radicar: Bibliografia com fortes evidências, sistemas operacionais e instrumentos de apoio; Recursos físicos, financeiros e humanos capacitados; Políticas para fixação e aperfeiçoamento dos profissionais; Fluxogramas de informação bem definidos; Avaliação contínua dos processos internos e externos, e o mais importante – a retroalimentação dos resultados aos serviços que deles necessitam, principalmente como instrumento norteador para o gerenciamento local. A Vigilância em Saúde utiliza indicadores técnicos e operacionais, e sua construção depende das informações que derivam da Atenção Primária, 38 Secundária e Terciária do território regionalizado. Para que esses indicadores sejam fidedignos e mostrem um retrato muito próximo da realidade regional, é necessário que os dados dos serviços de saúde sejam também fidedignos, pois o dado é a base da informação. A proposta da educação continuada na Vigilância em Saúde também visa à melhoria da captação e à apuração desses dados, melhorando a qualidade das informações, pois são a base para o planejamento estratégico local. A Vigilância em Saúde é uma das prioridades do Sistema Único de Saúde e tem um desempenho fundamental, sistemático e evidente, que deverá ser desenvolvido com qualidade, adaptando-se aos modelos de gestão dos serviços públicos e abrangendo também os serviços privados, de forma integrada e interativa com a Atenção Básica, incluindo a imunização e a Rede de Assistência da Atenção Secundária e Terciária Regional. É muito importante o incentivo às equipes de todos os serviços e aos funcionários que desempenharam papéis de destaque nas atividades de Vigilância, homenageando os vários atores que participam da Vigilância em Saúde: enfermeiros, agentes comunitários de saúde, médicos, auxiliares de enfermagem, profissionais de saúde bucal, escriturários e gerentes dos serviços, pois essa iniciativa também é uma retroalimentação do sistema. A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na Rede de Assistência à Saúde, da qual a Vigilância em Saúde faz parte. A formação e o desenvolvimento da “Inteligência Sanitária” é uma conquista consequente à superação das contraposições ideológico-conceituais: precisamos de uma política municipal do cuidado com a saúde, incluindo-se nela uma Vigilância, a partir da qual serão revisados todos os saberes e práticas das políticas públicas vigentes, edificadas na concepção de cuidado com a vida. 39 EDUCAÇÃO EM SAÚDE A partir da leitura deste texto, você terá a oportunidade de refletir e conhecer as abordagens pedagógicas, o processo educativo nas práticas de saúde e a Educação Permanente em Saúde na ação das Equipes de Saúde da Família. Nosso principal propósito foi apresentar os principais conceitos desses temas e trazer situações que os aproximam do seu dia a dia como profissional de saúde da Atenção Básica com o papel de educador. Para tanto, não basta que você e os demais profissionais em saúde – assistentes sociais, cirurgiões-dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, auxiliares de saúde bucal, médicos, docentes das profissões da área – tenham domínio e apliquem, isoladamente, os seus saberes profissionais específicos. É necessário somar saberes para dar respostas efetivas e eficazes aos problemas complexos que envolvem a perspectiva de viver com qualidade. É preciso também considerar todos os atores sociais envolvidos, valorizando todos os saberes presentes no cenário do território, tendo como centro as necessidades apresentadas pelos usuários. A defi nição de saúde vem sendo aperfeiçoada a cada momento. Hoje a defi nição mais holística é o bem-estar biopsicosocial cultural e espiritual, evidenciando a importância dos fatores culturais e da religiosidade como infl uenciadores na qualidade de vida de uma pessoa. 40 A saúde como direito universal e fundamental, cujo conceito foi fi rmado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e assegurado pela Constituição Federal, estabelece a saúde como: a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988, art. 196). A atual legislação brasileira amplia o conceito de saúde, considerando-a um resultado de vários fatores determinantes e condicionantes, como alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer, acesso a bens e serviços essenciais, e impõe aos órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS) o dever de identifi car esses fatos sociais e ambientais e ao Governo o de formular políticas públicas condizentes com a elevação do modo de vida da população, além, é óbvio, de uma responsabilidade própria do sujeito que também deve cuidar de sua própria saúde e contribuir para a saúde coletiva. Hoje, compete ao estado garantir a saúde do cidadão e da coletividade. O SUS atualmente é dividido em três grandes níveis de atenção: Atenção Básica: onde está inserida a atenção básica como o diagnóstico precoce e os cuidados de acompanhamento de rotina, além dos cuidados preventivos como a educação em saúde e a filosofi a do autocuidado, estes últimos incluídos nos principais objetivos da Estratégia de Saúde da Família; Atenção de Média Complexidade: com os serviços de emergência e de especialidades; Atenção de Alta Complexidade: com os cuidados altamente especializados, restaurador, reabilitação e os cuidados domiciliares. A educação é um processo que atualmente vem ganhando espaço na área da Saúde. De acordo com Rezende (1986) “a educação é um instrumento de transformação social, de reformulação de hábitos, aceitação de novos valores e que estimula a criatividade”. Artur da Távola é mais incisivo quando defi ne a educação como “um processo rico e enriquecedor, pois contém o germe da 41 crítica, refl exão e consciência. Para ser efetivo o processo de educação, a linguagem a ser utilizada deve ser sem ruídos, isto é, devem ser levados em consideração fatores sociais,econômicos, religiosos e comportamentais como crenças, atitudes e valores“. Os principais objetivos da educação em saúde para doença falciforme são: favorecer o empoderamento do cliente do conhecimento do profi ssional de saúde sobre a doença falciforme. Contribuindo para a formação de opinião favorável ao desenvolvimento, possibilitando a tomada de decisões clínicas valorizando a saúde – promovendo o desenvolvimento do autocuidado; desmistifi car a doença falciforme popularizando o seu conhecimento em virtude da alta prevalência em nosso país e compreendê-la como representativa da especifi cidade de nossas raízes étnicas; favorecer o desenvolvimento da cidadania por meio da participação ativa do usuário na defi nição dos cuidados que reconhecem como prioritários para transformar a história natural da doença num processo de longevidade com qualidade de vida mesmo diante de obstáculos de natureza social ou econômica; estabelecer entre o profi ssional e a pessoa um clima de reconhecimento da necessidade de atenção específi ca que permite a pessoa com a doença encarar seus medos, enfrentar o sofrimento e superar seus obstáculos, se apropriando da sua vida e dando a essa vida o rumo desejado. Enquanto a meta na educação para a saúde é tornar os indivíduos internamente melhores equipados para que possam fazer escolhas mais saudáveis, a promoção da saúde tenta fazer com que as escolhas mais saudáveis tornem-se escolhas mais fáceis. Desta maneira, a educação para a saúde e a promoção da saúde, tornam- se intimamente relacionadas, ou seja: a promoção da saúde depende da participação ativa da população bem informada no processo de mudança, enquanto que a educação para a saúde é uma ferramenta de vital importância neste processo. 42 OS PROCESSOS EDUCATIVOS NO CONTEXTO DAS PRÁTICASDE SAÚDE NO SUS O SUS apresenta como um de seus compromissos e desafios a necessidade permanente de fomento às Políticas de Desenvolvimento para os trabalhadores que integram seu cenário, propondo para tal um processo permanente de aprendizado pelo trabalho, projetando possibilidades de desconstrução/construção de novos valores, ideais e lutas para produzir mudanças de práticas, de gestão e de participação social (MONTENEGRO, 2010). Neste conteúdo, vamos trabalhar para além das concepções pedagógicas que orientam as metodologias formativas destinadas aos profissionais de saúde, pois como afirmam Ruiz-Moreno et al. (2005, p. 195), “o binômio educação e saúde constitui práticas socialmente produzidas em tempos e espaços históricos definidos”. Para Mendes e Viana, citados por Ruiz-Moreno et al. (2005, p. 195), a “educação influencia e é influenciada pelas condições de saúde, estabelecendo um estreito contato com todos os movimentos de inserção nas situações cotidianas em seus complexos aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais, dentre outros”. Também é importante ressaltar que a prática educativa em saúde, além da formação permanente de profissionais para atuar nesse contexto, tem como eixo principal a dimensão do desenvolvimento de capacidades individuais e coletivas visando à melhoria da qualidade de vida e saúde da comunidade assistida pelos serviços, tomando por princípio norteador a Política Nacional de Promoção da Saúde, conforme as diretrizes também estabelecidas pela carta de Otawa, reforçando que a educação e a saúde são práticas sociais inseparáveis e interdependentes que sempre estiveram articuladas, sendo consideradas elementos fundamentais no processo de trabalho dos profissionais da saúde (BUSS, 1999). Essa afirmativa nos remete ao consenso de que a formação profissional afeta profundamente a qualidade dos serviços prestados e o grau de satisfação 43 dos usuários quanto ao reconhecimento do SUS como proposta efetiva pautada nas diretrizes e nos princípios organizativos da Constituição Federal de 1988 e nos desdobramentos da Lei 8.080 (BRASIL, 2007a). Logo, a educação em saúde no contexto dos serviços de saúde pública tem importantes dimensões a serem tratadas: a educação permanente em saúde como política norteadora dos processos educativos contínuos nos diferentes arranjos assistenciais do SUS, com suas diversas denominações (capacitações, treinamentos, cursos, atualizações, aperfeiçoamento entre outros); e a educação popular em saúde, que reconhece que os saberes são construídos diferentemente e, por meio da interação entre sujeitos, esses saberes se tornam comuns ao serem compartilhados (GONÇALVES et al., 2008). Atualmente “tanto a saúde quanto a educação buscam caminhos para construir um sujeito em estado de permanente aprendizagem, aprendendo a aprender, aprendendo a ensinar e ensinando a aprender”, conspirando para o contexto da qualificação das práticas de saúde do SUS (ANASTASIOU, 2007; VASCONCELOS et al., 2009, p. 24). REVISITANDO O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM Quando se ensina, não é necessária apenas uma priorização de conteúdos. Deve-se levar em conta “como ensinar” para se chegar ao resultado final esperado: a transformação da realidade a partir da modificação do comportamento via novos conhecimentos. Na educação de adultos, principalmente numa educação voltada para o trabalho, procura-se a todo o tempo ressaltar a importância do aprendizado pela descoberta e, portanto, o crescimento do indivíduo como um todo (BORDENAVE, 1994). Ao revisitarmos as diferentes correntes pedagógicas, pretendemos apresentar algumas concepções/ abordagens utilizadas nos processos pedagógicos, ressaltando a importância da aprendizagem pela descoberta e a crítica pela simples transferência do conhecimento feita por métodos não reflexivos, superficiais e de baixa retenção de conhecimento. Procuramos de forma resumida esclarecer algumas modalidades de “ensinar- 44 aprender-ensinar”, deixando flexível a escolha em função dos objetivos educacionais que se pretende atingir. Confira a seguir: BASES TEÓRICAS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS CONCEPÇÕES OU ABORDAGENS PEDAGÓGICAS TRADICIONAIS Transmissão O processo educativo está centrado em alguém que sabe e ensina a alguém que não sabe. A lógica é a de transmissão de conhecimentos. Aquele que supostamente sabe mais assume funções como aconselhar, corrigir e vigiar quem deve aprender o conteúdo. O risco é o profissional se considerar a autoridade máxima e, portanto, o único responsável pelo processo educativo; há uma ênfase na repetição e, geralmente, não há preocupação com a realidade social nem com as crenças e valores daquele que “deve” aprender. A expectativa é que o outro mude seu comportamento em função do que lhe foi ensinado (VASCONCELOS et al., 2009). Essa abordagem não coincide com as aspirações de um desenvolvimento baseado na transformação das estruturas, o crescimento pleno das pessoas e sua participação ativa no processo de mudança, evolução (BORDENAVE, 1994). Condicionamento Essa abordagem, associada ao behaviorismo (Watson e Skinner) e à reflexologia (Pavlov), se concentra no modelo da conduta mediante um jogo eficiente de estímulos e recompensas capaz de “condicionar” o aprendiz a emitir as respostas desejadas. Diferentemente da abordagem da transmissão, não considera o aspecto mais importante no processo educativo as ideias e os conhecimentos, e sim os resultados comportamentais, ou seja, as manifestações empíricas e operacionais da troca de conhecimentos, atitudes e destrezas (BORDENAVE, 1994). 45 CONCEPÇÕES OU ABORDAGENS PEDAGÓGICAS QUE TÊM O APRENDIZ COMO FOCO Humanista A abordagem Humanista privilegia os aspectos da personalidade do sujeito que aprende. Corresponde ao “ensino centrado no aluno”. O conhecimento, para essa concepção, existe no âmbito da percepção individual e não se reconhece objetividade nos fatos. A aprendizagem se constrói
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