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EPIDEMIOLOGIA-VIGILÂNCIA-E-EDUCAÇÃO-EM-SAUDE-PUBLICA-2

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1 
 
 
EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
 
2 
 
 
 
Sumário 
EPIDEMIOLOGIA, VIGILÂNCIA E EDUCAÇÃO EM SAÚDE .................. 1 
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 3 
NOÇÕES BÁSICAS DA EPIDEMIOLOGIA ............................................. 4 
COMO SURGIU A EPIDEMIOLOGIA E COMO A DEFINIMOS .............. 8 
DEFINIÇÃO DE SAÚDE .................................................................... 10 
TEORIA DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA ..................................... 11 
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL ...................................... 12 
SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA (SNVE).... 21 
PADRONIZAÇÃO DE INDICADORES NO SUS ................................... 24 
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL
 ......................................................................................................................... 25 
VIGILÂNCIA EM SAÚDE ....................................................................... 27 
LOGÍSTICA ........................................................................................ 37 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE ....................................................................... 39 
OS PROCESSOS EDUCATIVOS NO CONTEXTO DAS PRÁTICASDE 
SAÚDE NO SUS ........................................................................................... 42 
REVISITANDO O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM ............. 43 
BASES TEÓRICAS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS ................ 44 
REFERÊNCIAS ..................................................................................... 46 
 
 
 
file://192.168.40.10/O/Pedagogico/SAÚDE%20E%20BEM-ESTAR/SAÚDE%20COLETIVA%20E%20ESF/EPIDEMIOLOGIA,%20VIGILÂNCIA%20E%20EDUCAÇÃO%20EM%20SAÚDE%20PÚBLICA/EPIDEMIOLOGIA,%20VIGILÂNCIA%20E%20EDUCAÇÃO%20EM%20SAUDE%20PUBLICA.docx%23_Toc81222710
 
3 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de 
empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como 
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a 
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua 
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, 
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o 
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
NOÇÕES BÁSICAS DA EPIDEMIOLOGIA 
 
 
A Associação Internacional de Epidemiologia (IEA), em seu Guia de 
Métodos de Ensino (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1973), define 
epidemiologia como: 
 
o estudo dos fatores que determinam a freqüência e a distribuição das 
doenças nas coletividades humanas. Enquanto a clínica dedica-se ao 
estudo da doença no indivíduo, analisando caso a caso, a 
epidemiologia debruça-se sobre os problemas de saúde em grupos de 
pessoas, às vezes grupos pequenos, na maioria das vezes envolvendo 
populações numerosas. 
 
Sendo assim, a epidemiologia tem muito em comum com a demografia: 
ambas estudam populações. 
De acordo com a IEA, são três os principais objetivos da epidemiologia: 
I. Descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde 
das populações humanas. 
II. Proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e 
avaliação das ações de prevenção, controle e tratamento das 
doenças, bem como para estabelecer prioridades. 
III. Identificar fatores etiológicos na gênese das enfermidades. 
 
Sem dúvida, o trabalho que desenvolvem os profissionais da saúde na 
ESF está estreitamente relacionado com os objetivos da epidemiologia. 
Não teríamos avanços na clínica sem os estudos epidemiológicos, mas 
estes não existiriam sem os avanços na clínica. 
 
5 
Muitos dos dados clínicos coletados nas consultas no Centro de Saúde e 
nos hospitais da rede do SUS são consolidados em nível central (do município 
ou do estado) e encaminhados ao Datasus. No caso das internações, como 
estudamos anteriormente, podemos obter os dados na página da internet, 
selecionando o SIH/SUS. Os dados de inquéritos populacionais servirão de base 
para os estudos epidemiológicos. 
 
Aplicando bons métodos e desenhos epidemiológicos, trabalhando com 
dados de qualidade e, principalmente, analisando a complexidade dos 
resultados, poderemos oferecer bases para o conhecimento da saúde da 
coletividade, bem como a identificação de necessidades de intervenção ou 
ações coletivas. 
 
6 
 
 
Com certeza, você já utilizou ferramentas da epidemiologia para sua 
prática como profissional na ESF. 
Entre as utilidades mais citadas da epidemiologia, estão: 
 analisar a situação de saúde: 
 identificar perfis e fatores de risco; 
 proceder à avaliação epidemiológica de serviços; 
 entender a causalidade dos agravos à saúde; 
 descrever o espectro clínico das doenças e sua história natural; 
 avaliar o quanto os serviços de saúde respondem aos problemas e às 
necessidades das populações; 
 testar a eficácia, a efetividade e o impacto de estratégias de 
intervenção, bem como a qualidade, acesso e disponibilidade dos 
serviços de saúde para controlar, prevenir e tratar os agravos de 
saúde na comunidade; 
 
7 
 identificar fatores de risco de uma doença e grupos de indivíduos que 
apresentam maior risco de serem atingidos por determinado agravo; 
 definir os modos de transmissão; 
 identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das 
doenças; 
 estabelecer os métodos e estratégias de controle dos agravos à 
saúde; 
 estabelecer medidas preventivas; 
 auxiliar o planejamento e desenvolvimento dos serviços de saúde; 
 gerar dados para a administração e avaliação de serviços de saúde; 
 estabelecer critérios para a Vigilância em Saúde. 
 
Para o Brasil, e inclusive para o mundo, um exemplo bem-sucedido de 
um programa de Vigilância Epidemiológica é o Programa Nacional de 
Imunização (PNI). Como se afirma no documento do Ministério da Saúde 
(BRASIL, 2003), “Os bons resultados das imunizações, no Brasil, devem ser 
atribuídos à abnegação dos vacinadores e a uma política de saúde que se 
sobrepôs às ideologias dos diferentes governos desde 1973”. Mas esse 
programa não existiria sem a contribuição da epidemiologia para: 
 mostrar evidências do problema. No caso do PNI para idosos, os dados 
foram relevantes para mostrar que apesar da morbidade por 
enfermidades infecciosas reduzir-se com a idade, a gravidade e 
conseqüências mortais aumentam; 
 identificar a eficácia da vacinação. 
 vigiar o programa: o Sistema de Vigilância Epidemiológica da Influenza 
(SVE/FLU), implantado no Brasil desde o ano 2000, tem como 
objetivos: monitoramento das cepas virais que circulam nas regiões 
brasileiras, resposta a situações inusitadas, avaliação do impacto da 
vacinação, acompanhamento da tendência de morbidade e de 
mortalidade associadas à enfermidade e produção e disseminação de 
informações epidemiológicas (BRASIL, 2007). 
 
 
8 
COMO SURGIU A EPIDEMIOLOGIA E COMO A 
DEFINIMOS 
 
O conceito de epidemiologia depende, em grande medida, do contexto 
histórico, dos conhecimentos acumulados na área de saúde, da etapa da 
transição epidemiológica e demográfica, bem como da interpretação que se 
tenha em determinada época e contextosobre a saúde (BEAGLEHOLE; 
BONITA; KJELLSTRÖM, 1994). 
Embora não se tenha certeza de quando e quem foi o primeiro a definir a 
epidemiologia, sabemos que a história dessa ciência acompanha a historia da 
medicina, especialmente da medicina preventiva. Por isso, considera-se que 
Hipócrates lançou as principais bases dos estudos epidemiológicos. 
Hipócrates (460 a.C - 377 a.C), considerado o pai da medicina científica, 
foi o primeiro a sugerir que as causas das doenças não eram intrínsecas à 
pessoa nem aos desígnios divinos, mas que estava relacionada a características 
ambientais. Embora as causas relatadas por Hipócrates tenham sido superadas, 
reconhecemos que ele lançou as bases para a procura da causalidade das 
doenças e agravos à saúde, norte principal da epidemiologia até hoje. 
Hipócrates, em Tratado dos ares, das águas e dos lugares (século V a.C.), 
coloca os termos epidêmico e endêmico, derivados de epidemion (verbo que 
 
9 
significa visitar: enfermidades que visitam) e endemion (residir enfermidades que 
permanecem na comunidade). Ele sugere que condições tais como o clima de 
uma região, a água ou sua situação num lugar em que os ventos sejam 
favoráveis são elementos que podem ajudar o médico a avaliar a saúde geral de 
seus habitantes. Em outra obra, Tratado do prognóstico e aforismos, trouxe a 
idéia, então revolucionária, de que o médico poderia predizer a evolução de uma 
doença mediante a observação de um número suficiente de casos. Essa também 
é, até hoje, uma das principais características da epidemiologia e da demografia. 
Hipócrates considerava que para se fazer uma correta investigação das 
doenças, era necessário o conhecimento das peculiaridades de cada lugar, e a 
observação da regularidade das doenças num contexto populacional. 
Outro inglês, John Snow, é pioneiro na procura sistemática dos 
determinantes das epidemias. Seu ensaio sobre a maneira de transmissão da 
cólera, publicado em 1855, apresenta memorável estudo a respeito de duas 
epidemias de cólera ocorridas em Londres em 1849 e 1854 (WINKELSTEIN, 
1995). Suas anotações sistemáticas sobre os casos levaram a desenvolver a 
idéia de que a epidemia da cólera era ocasionada por parasitas invisíveis e não 
por miasmas. Elaborou hipóteses sobre a qualidade da água como meio principal 
de contágio. 
Daquela época até o início do século XX, a epidemiologia foi ampliando 
seu campo, e suas preocupações concentraram-se sobre os modos de 
transmissão das doenças e o combate às epidemias. 
A partir das primeiras décadas do século XX, com a melhoria do nível de 
vida nos países desenvolvidos e com o conseqüente declínio na incidência das 
doenças infecciosas, outras enfermidades de caráter não-transmissível 
(doenças cardiovasculares, câncer e outras) passaram a ser incluídas entre os 
objetos de estudos epidemiológicos, além do que, pesquisas mais recentes, 
sobretudo as que utilizam o método de estratificação social, enriqueceram esse 
campo da ciência, ensejando novos debates. 
No entanto, é a partir do final da Segunda Guerra Mundial que assistimos 
ao intenso desenvolvimento da metodologia epidemiológica, com a ampla 
incorporação da estatística, propiciada em boa parte pelo aparecimento dos 
computadores. A aplicação da epidemiologia passa a cobrir um largo espectro 
de agravos à saúde. Os estudos de Doll e Hill (1954), estabelecendo associação 
 
10 
entre o tabagismo e o câncer de pulmão, e os estudos de doenças 
cardiovasculares desenvolvidas na população da cidade de Framingham, 
Estados Unidos, são dois exemplos da aplicação do método epidemiológico em 
doenças crônicas. 
Hoje a epidemiologia constitui importante instrumento para a pesquisa na 
área da saúde, seja no campo da clínica, seja no da saúde pública. No Brasil, a 
organização dos serviços do SUS baseia-se na descentralização sendo, 
portanto, indispensável o conhecimento da epidemiologia nos serviços locais de 
saúde. 
 
DEFINIÇÃO DE SAÚDE 
 
Em qualquer das definições de epidemiologia adotada, é fundamental o 
entendimento do que é saúde, já que é a partir dessa definição individual que 
construiremos o conceito coletivo. 
Conceituar saúde não é tarefa simples. Como a epidemiologia, esse 
conceito está determinado pelo contexto histórico. Os parâmetros (referências) 
utilizados para sua definição nortearam a criação dos indicadores 
epidemiológicos. 
Repare que o mais comum é definir a saúde como a ausência de doença. 
Dessa maneira, o estudo da saúde da população somente precisaria de dados 
sobre mortalidade e morbidade segundo causas. Entretanto, sabemos que na 
prática encontramos, muitas vezes, indivíduos nos quais não se diagnostica 
doença, mas apresentam características que poderíamos considerar não 
saudáveis, tais como inadaptabilidade à comunidade ou freqüente tristeza, o que 
torna difícil identificá-los como saudáveis. 
Além disso, a percepção da saúde varia muito entre culturas, entre grupos 
sociais, entre gerações. 
O termo Envelhecimento Ativo, adotado pela OMS ao final da década de 
1990, está em sintonia com o conceito de saúde de 7 de abril de 1947 e com os 
atuais desafios dos estudos epidemiológicos, já que considera o “processo de 
otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o 
objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais 
 
11 
velhas” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005). Este processo deve ser 
analisado pela perspectiva de ciclo de vida. 
 
TEORIA DA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA 
 
O perfil de morbimortalidade pode ser considerado um indicador 
relativamente sensível das condições de vida e do modelo de desenvolvimento 
de uma população. Para explicar as mudanças da composição da 
morbimortalidade dos países e grupos populacionais, um autor chamado Omran, 
em 1971, elaborou um marco teórico chamado Teoria da Transição 
Epidemiológica (TTE). Essa teoria é posterior e com princípios similares à Teoria 
da Transição Demográfica. Parte do suposto de evolução da sociedade para 
estágios mais avançados. 
De acordo a TTE, essas mudanças se caracterizam pela evolução 
progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas para um 
outro onde predominam os óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, 
causas externas e outras doenças consideradas crônicodegenerativas. 
Omran (1971) classifica três estágios sucessivos da mudança dos 
padrões de morbidade e mortalidade: a “idade das pestilências e fome”, a “idade 
das pandemias reincidentes” e, finalmente, a “idade das doenças 
degenerativas”. Durante a transição, as mudanças mais profundas no padrão de 
morbimortalidade seriam experimentadas pelas crianças e mulheres jovens. 
O autor admite em publicação posterior, em resposta às críticas, que as 
doenças infecciosas não desapareceram totalmente como causas de morte 
(pneumonias, bronquites, influenza), nem de morbidade (doenças sexualmente 
transmissíveis), mas que estas constatações não comprometeriam o sentido 
geral da teoria da transição epidemiológica: seqüência linear e “natural” de 
etapas, que podem variar em seu ritmo, mas com uma direção clara e 
estabelecida da substituição das doenças infecciosas e parasitárias pelas 
crônico-degenerativas e causas externas como mais importantes causas de 
mortalidade e morbidade das populações humanas. 
Apesar de essa teoria estar enraizada no pensamento dos 
epidemiologistas e de todos aqueles que estudam a evolução da saúde de uma 
 
12 
população, ainda é objeto de diversas críticas similares à da teoria da TD. 
Principalmente, se critica que ao analisar países ou regiões, encontramos: 
 superposição de etapas, já que se convive doenças infecto-parasitárias e 
crônico-degenerativas com grande importância absoluta e relativa; 
 um ressurgimento de doenças como a malária, o cólera e a dengue que, 
mesmo não tendo grande interferência na mortalidade, têm alta incidênciade morbidade e estão associadas com condições de pouco 
desenvolvimento da população; 
 o surgimento da pandemia de Aids no início da década de oitenta em 
países considerados avançados, como os Estados Unidos, ou seja, com 
a emergência da Aids vem a constatação de que o pretenso movimento 
de eliminação das doenças infecciosas indicado pela teoria da transição 
epidemiológica nem sempre se verificava, e mais, que os mesmos fatores 
relacionados ao progresso, ao desenvolvimento socioeconômico e à 
modernidade, que seriam os determinantes da transição epidemiológica, 
também poderiam determinar processos na direção inversa, propiciando 
o surgimento e a disseminação de novas e velhas doenças infecto-
parasitárias (LUNA, 2002). 
 
Considerando essas críticas, também se considera que a TTE tem 
fundamentos importantes, já que esclareceu que, com a chamada 
“modernização”, observaríamos o aumento da expectativa de vida com o 
aumento da influência das doenças crônicas degenerativas na mortalidade e 
morbidade da população. 
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL 
 
Entende-se por transição epidemiológica as mudanças ocorridas no 
tempo nos padrões de morte, morbidade e invalidez que caracterizam uma 
população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras 
transformações demográficas, sociais e econômicas (OMRAM, 2001; SANTOS-
PRECIADO et al., 2003). O processo engloba três mudanças básicas: 
 Substituição das doenças transmissíveis por doenças não 
transmissíveis e causas externas. 
 
13 
 Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais 
jovens aos grupos mais idosos. 
 Transformação de uma situação em que predomina a mortalidade 
para outra na qual a morbidade é dominante. 
No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido de acordo com o 
modelo experimentado pela maioria dos países desenvolvidos e mesmo por 
vizinhos latino-americanos como Chile, Cuba e Costa Rica. Novos e velhos 
problemas em saúde estão coexistindo, com destaque para as doenças 
crônicodegenerativas, embora as doenças transmissíveis ainda desempenhem 
um papel de importante destaque no perfil epidemiológico. É importante 
conhecer aspectos da transição epidemiológica para compreender a relação das 
pessoas com os serviços de saúde. 
A transformação dos perfis epidemiológicos no Brasil apresenta um 
caráter peculiar que não se conforma necessariamente ao modelo de 
substituição de doenças infecciosas e parasitárias por doenças crônico de 
generativas, acidentes e violências. A avaliação do contexto brasileiro demonstra 
que a transição epidemiológica não tem seguido o mesmo padrão verificado na 
grande maioria dos países industrializados centrais do capitalismo Isso indica 
que no Brasil não ocorre uma transição epidemiológica propriamente dita, mas 
uma superposição de contextos epidemiológicos apresentados ao longo do 
tempo. 
Cenários como a reintrodução de processos infecciosos, como dengue e 
cólera, ou a persistência e o recrudescimento de outras, como malária, a 
tuberculose, a hanseníase e as leishmanioses, apontam para uma natureza não 
unidirecional. Entre as regiões brasileiras, as situações epidemiológicas 
evidenciam importantes contrastes, caracterizando, na realidade, uma 
“polarização geográfica”, existindo ainda a “polarização social” que se manifesta 
pelos desníveis nos indicadores de mortalidade e morbidade entre os diferentes 
grupos populacionais (PONTES et al., 2009). 
O processo de transição epidemiológica no Brasil não se resolve de 
maneira clara, criando uma situação em que a morbimortalidade persiste 
elevada para ambos os padrões, caracterizando uma transição prolongada; as 
situações epidemiológicas de diferentes regiões em um mesmo país tornam-se 
contrastantes (polarização epidemiológica). Além disso, o envelhecimento 
 
14 
rápido da população brasileira faz com que a sociedade se depare com um tipo 
de demanda por serviços médicos e sociais, outrora restritos aos países 
industrializados. 
Barreto et al (2005) enfatizam a necessidade da revisão da teoria da 
transição epidemiológica, segundo o contexto específico da América Latina. 
Para esses autores, as principais mudanças no padrão epidemiológico do Brasil 
seriam as descritas abaixo. 
 
 
 
A complexidade do cenário epidemiológico atual, caracterizado pela tripla 
carga de doenças na população (permanência de doenças agudas, aumento do 
peso relativo às condições crônicas e às causas externas), é decorrente, 
também, da forma de gestão das práticas sanitárias. Para o SUS, que pretende 
ser um sistema integrador, é fundamental implementar arranjos e estruturas 
organizativas na direção de seu fortalecimento. As práticas sanitárias, por 
exemplo, precisam de maior organicidade para desencadear ações oportunas 
que auxiliem na redução ou eliminação dos riscos à saúde e ampliem a 
capacidade de resposta do SUS. 
Na prática, é de extrema importância acompanhar os mapas de situação 
de saúde no Brasil, por meio da avaliação e monitoramento dos indicadores, a 
fim de traçar os perfis epidemiológicos e acompanhar possíveis mudanças, 
conservações e/ou transformações. Descobrir, investigar rapidamente e 
 
15 
acompanhar patógenos emergentes de doenças e fatores envolvidos no 
surgimento do quadro são fundamentais nesse processo. Vejamos abaixo 
alguns indicadores que podem ser utilizados para ilustrar o peculiar processo de 
transição epidemiológica no Brasil: 
 Perfil de mortalidade. 
 Perfil das causas de internação. 
 Perfil de doenças infecciosas persistentes (incluem-se a malária, a 
tuberculose, as leishmanioses, a esquistossomose, a doença de 
Chagas, a febre amarela silvestre e as hepatites virais, entre 
outras). 
 Perfil de doenças emergentes e reemergentes (Aids, dengue, a 
cólera pelo vibrio cholerae El Tor, hantavirose, febre chikungunya, 
febre pelo zika vírus). 
A ocorrência de doenças e agravos à saúde é um fenômeno que suscita 
grande interesse na identificação de seus fatores ou mecanismos causais, 
contribuindo, dessa maneira, para o desenvolvimento de ações de prevenção, 
controle e tratamento. Identificar causas é uma das maneiras do pensamento 
científico abordar a explicação das origens de um fenômeno. Vamos discutir as 
principais formas de explicação de agravos e doenças, apontando os modelos 
explicativos e suas características. 
A identificação e o entendimento acerca dos motivos pelos quais 
indivíduos e populações adoecem são temas centrais na epidemiologia. A causa 
seria um agente eficaz, e desvendá-la garante um conhecimento maior a 
respeito de um fenômeno estudado, na medida em que é possível intervir sobre 
um efeito quando se remonta à sua causa. Nesse sentido, muitos esforços foram 
e são despendidos na direção do aprimoramento de critérios e modelos que 
permitam qualificar associações como causais ou não causais. 
Compreender os mecanismos nos quais os fatores etiológicos agem e 
interagem, ocasionando doenças e agravos à saúde, evidencia possibilidades 
concretas de prevenção ou interrupção de processos mórbidos. Considerando 
essa premissa, serão brevemente apresentados três modelos explicativos da 
ocorrência de doenças: o modelo ecológico, a rede de causas e o modelo 
sistêmico. 
 
16 
O modelo ecológico de explicação da ocorrência de doenças tornou-se 
bastante popular na área da saúde em meados do século 20, junto com a 
disseminação dos fundamentos da medicina preventiva. Trata a definição de 
saúde como resultado do equilíbrio dinâmico entre o indivíduo (ou populações 
humanas) e o ambiente no qual ele se insere. O agente e o hospedeiro são 
dependentes do ambiente que, ao mesmo tempo, pode ser modificado pelos 
dois. Quando ocorre a doença significa uma resposta à quebra do equilíbrio do 
sistema. 
Por fim, o modelo sistêmico explica os processos de adoecimento de uma 
forma “orgânica”, articulandotodas as dimensões dos indivíduos, desde as 
biológicas (ligadas ao organismo humano e suas funções) passando por aquelas 
ligadas à vida dos indivíduos e à família, até as mais gerais vinculadas à 
estrutura da sociedade. Baseia-se na suposição de que as causas das doenças 
estão em diferentes sistemas de organização, desde o celular até o social, 
passando por níveis intermediários, como órgãos e os indivíduos. 
Embora esse modelo não cite claramente os fatores etiológicos passíveis 
de intervenção, como nos modelos ecológicos e de rede de causas, ele traz uma 
visão mais holística do processo saúde-doença, ao clarificar uma estrutura 
hierárquica entre os níveis de atuação das causas. 
Planejar e programar o desenvolvimento de ações em saúde pública 
exige um conhecimento detalhado das condições de vida e de trabalho das 
pessoas que residem em determinado território, bem como o entendimento dos 
fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença e suas 
implicações. Particularmente em países como o Brasil e outros da América 
Latina, a péssima distribuição de renda, o analfabetismo e o baixo grau de 
escolaridade, assim como as condições precárias de habitação e ambiente, têm 
um papel muito importante nas condições de vida e saúde. 
Em um amplo estudo sobre as tendências da situação de saúde na 
Região das Américas recentemente publicado, a OPAS (1998) mostra, de forma 
inequívoca, que os diferenciais econômicos entre os países são determinantes 
para as variações nas tendências dos indicadores básicos de saúde e 
desenvolvimento humanos. A redução na mortalidade infantil, o incremento na 
esperança de vida, o acesso à água e ao saneamento básico, o gasto em saúde, 
 
17 
a fecundidade global e o incremento na alfabetização de adultos foram função 
direta do Produto Nacional Bruto dos países. 
Segundo Pereira (1995), os fatores de determinação em saúde podem 
ser sintetizados conforme mostra a figura abaixo. 
Os fatores determinantes e condicionantes do processo saúde-doença na 
contemporaneidade incluem: 
 
 
 
 
 
É importante ressaltar que a sociedade espera que o setor da saúde cuide 
das pessoas e da população mediante ações individuais e coletivas, intervindo 
nos determinantes e condicionantes dessa área. Na medida em que a saúde tem 
 
 
18 
sido reconhecida não apenas como a ausência de doença, o propósito almejado 
é que as pessoas possam ter uma vida com qualidade. 
Merecem destaque as ações sistemáticas e contínuas de coleta, análise, 
interpretação e disseminação de informação com a finalidade de recomendar e 
adotar medidas de prevenção e controle de problemas de saúde. Nesse cerne, 
o conhecimento sobre endemias, epidemias e pandemias é fundamental. Ainda 
que tradicionalmente esse conhecimento direcione a focalização de doenças 
infecciosas, atualmente esses conceitos também incluem seu uso para doenças 
crônico-degenerativas, os acidentes, as violências, entre outros. 
A endemia é definida como a presença habitual de uma doença, dentro 
dos limites esperados, em uma determinada área geográfica, por um período de 
tempo ilimitado. Pode, também, referir-se à ocorrência usual de uma 
determinada doença, dentro de uma área. 
Esse fenômeno ocorre quando há uma constante renovação de 
suscetíveis na comunidade, exposição múltipla e repetida destes a um 
determinado agente, isolamento relativo sem deslocamento importante da 
população em uma zona territorial. Por exemplo: malária, febre amarela, 
doença de Chagas, esquistossomose etc. (MEDRONHO; WERNECK; 
PEREZ, 2009). 
A epidemia, por sua vez, é definida como a ocorrência em uma 
comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar, excedendo 
claramente a expectativa normal, derivada de uma fonte comum de propagação. 
Resulta, portanto, em um “claro excesso de casos em relação ao 
esperado” quando comparado à frequência esperada (ou habitual) de uma 
doença em uma determinada população, em um período determinado, não 
sendo necessariamente a “ocorrência de muitos casos” (RIBEIRO, 2012). 
O número de casos de uma epidemia vai variar de acordo com o agente, 
o tipo e o tamanho da população exposta, além do período e do local de 
ocorrência. A ocorrência de um único caso autóctone em uma região onde nunca 
tenha ocorrido ou que esteja há muitos anos livre de uma determinada doença, 
representa uma epidemia, pois demonstra uma alteração substantiva na 
estrutura epidemiológica relacionada à doença (MEDRONHO; WERNECK; 
PEREZ, 2009). 
 
19 
Quando as condições facilitam a propagação de agentes infecciosos no 
ambiente e associam-se a um grande número de pessoas suscetíveis, pode ser 
dado espaço para o desenvolvimento de uma pandemia. O termo pandemia 
referese a uma epidemia de grandes proporções geográficas, ou seja, atingindo 
vários países, inclusive mais de um continente. Como exemplo, podemos citar a 
doença influenza A(H1N1) no ano de 2009, cujos primeiros casos ocorreram no 
México, expandindo-se para Europa, América do Sul, América Central, África e 
Ásia (RIBEIRO, 2012). 
A ocorrência de uma epidemia restrita a um espaço geográfico 
circunscrito é denominada surto. O surto consiste em uma ocorrência epidêmica, 
em que todos os casos estão relacionados entre si, acometendo uma área 
geográfica pequena e delimitada (como vilas ou bairros) ou uma população 
institucionalizada (como creches, asilos, escolas e presídios). Podemos citar 
como exemplo, a ocorrência de inúmeros casos de intoxicação alimentar em um 
asilo, após ingestão de alimentos contaminados. 
As etapas de investigação de epidemia ou surto incluem: 
 
 
As três primeiras etapas são fundamentais. Em geral, no início da 
investigação, emprega-se uma definição de caso mais sensível, que envolve 
casos confirmados e casos prováveis. A intenção é facilitar a identificação, a 
 
20 
extensão do problema e os grupos populacionais mais atingidos. Esse processo 
é fundamental, pois pode levar a elaboração de hipóteses importantes. 
O processo de confirmação de uma epidemia ou surto envolve o 
estabelecimento do diagnóstico da doença e do estado epidêmico. Torna-se 
imprescindível conhecer a frequência habitual de casos no lugar e período. A 
confirmação decorre da comparação dos coeficientes de incidências (antes e 
depois). As hipóteses são formuladas com vistas a identificar: fonte de infecção, 
transmissibilidade, agente etiológico, população em maior risco e período de 
exposição. 
O relatório final deverá ser enviado aos profissionais que prestaram 
assistência médica aos casos e aos participantes da investigação clínica e 
epidemiológica, representantes da comunidade, autoridades locais, 
administração central dos órgãos responsáveis pela investigação e controle do 
evento (BRASIL, 2009). 
Vale ressaltar que as epidemias podem ser classificadas didaticamente 
quanto à origem e quanto à duração. Quanto à origem, elas podem ser de fonte 
comum pontual ou fonte comum persistente (ou propagada). Quanto à duração, 
as epidemias podem ser classificadas como explosivas ou lentas. 
Acompanhe o detalhamento da classificação das epidemias na figura 
abaixo. 
 
 
Pode-se destacar uma lista de apontamentos que refletem a relevância 
dos conhecimentos apresentados até aqui, considerando especialmente a 
finalidade central de prover as bases técnicas para subsidiar os profissionais de 
 
21 
saúde na elaboração e implementação de ações e programas de saúde. 
Especialmente no tocante à epidemiologia, temos: 
 
 Identificar e descrever o comportamento epidemiológico das 
doenças. 
 Detectar epidemias e descrever o processo de transmissibilidade. 
 Avaliar magnitude das medidas de morbidade. 
 Recomendar adoção oportuna de medidas de prevenção e 
controle. 
 Atividades de notificação de doenças e agravos, além de casos 
suspeitos. 
 Avaliar o impacto de medidas de intervenção. Os profissionais de saúde têm como desafio permanente trabalhar 
para o desenvolvimento da consciência sanitária dos gestores 
municipais dos sistemas de saúde, para que passem a priorizar as 
ações de saúde pública e trabalhem na perspectiva de atuação em 
problemas de saúde prioritários, em cada spaço geográfico. 
Nesse contexto, a epidemiologia é uma ferramenta fundamental, pois 
ajuda a conhecer a distribuição de fatores de risco e agravos na população, 
embasando estratégias de prevenção e controle. 
 
SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA 
EPIDEMIOLÓGICA (SNVE) 
 
O Ministério da Saúde instituiu o Sistema Nacional de Vigilância 
Epidemiológica – SNVE através da Lei nº 6.259/1975 e Decreto nº 78.231/76. O 
SNVE tornou obrigatória a notificação de doenças transmissíveis selecionadas 
através de uma portaria (Brasil, 2005). 
E em 1977, o Ministério da Saúde elaborou o primeiro Manual de 
Vigilância Epidemiológica onde definiu normas técnicas utilizadas para a 
vigilância de cada doença (Brasil, 2005). 
 
22 
O Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o SNVE, e definiu a 
vigilância epidemiológica na Lei nº 8.080/90 como “um conjunto de ações que 
proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança 
nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com 
a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das 
doenças ou agravos” (Brasil, 2005). 
Essa definição ampliou o conceito do SNVE e as ações de vigilância 
epidemiológica tiveram uma reorganização do sistema de saúde brasileiro, 
caracterizada pela descentralização de responsabilidades e integralidade da 
prestação de serviços (BRASIL, 2005 b). Atualmente, a lista de doenças 
transmissíveis de notificação obrigatória, no Brasil, foi definida através da 
Portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014, a qual define a Lista Nacional de 
Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos 
serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. 
A Portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014, ressalta que a autoridade de 
saúde que receber a notificação compulsória imediata deverá informá-la - em até 
24 (vinte e quatro) horas desse recebimento - às demais esferas de gestão do 
SUS, o conhecimento de qualquer uma das doenças ou agravos. A notificação 
é realizada através do preenchimento da Ficha de Notificação do Sistema de 
Informação de Agravos de Notificação – SINAN. 
A intenção da vigilância epidemiológica é fornecer orientação técnica 
constante para os profissionais de saúde que têm a responsabilidade de decidir 
sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando 
disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas 
doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área 
geográfica ou população definida (BRASIL, 2009). 
São funções da vigilância epidemiológica: 
 Coleta de dados; 
 Processamento dos dados coletados; 
 Análise e interpretação dos dados processados; 
 Recomendação das medidas de controle apropriadas; 
 Promoção das ações de controle indicadas; 
 Avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; 
 
23 
 Divulgação de informações pertinentes (BRASIL, 2009) 
 
O Dado é entendido como “um valor quantitativo referente a um fato ou 
circunstância”, “o número bruto que ainda não sofreu qualquer espécie de 
tratamento estatístico”, ou “a matéria-prima da produção de informação” 
(BRASIL, 2009). A Informação é definida como “o conhecimento obtido a partir 
dos dados”, “o dado trabalhado” ou “o resultado da análise e combinação de 
vários dados”, o que implica em interpretação, por parte do usuário. É “uma 
descrição de uma situação real, associada a um referencial explicativo 
sistemático” (BRASIL, 2009). 
 
 
As notificações são úteis em pelo menos quatro situações (BRASIL, 
2009): 
 Medidas de controle implementadas de acordo com as evidências 
encontradas no local; 
 Para identificar as falhas nas medidas de controle adotadas; 
 Indicadores que reflitam o quadro epidemiológico da doença na 
coletividade; 
 avaliação do impacto das medidas de controle. 
 
 
24 
A notificação deve ser sigilosa, não podendo ser divulgada fora do âmbito 
médico-sanitário – em caso de risco para a comunidade –, sendo respeitado o 
direito de anonimato dos cidadãos. Assim, quando não forem registrados casos 
de doenças notificáveis no decorrer do período, deve-se proceder à notificação 
negativa (BRASIL, 2009). 
A Notificação negativa é a notificação da não-ocorrência de doenças de 
notificação compulsória na área de abrangência da unidade de saúde; 
demonstra que o sistema de vigilância e os profissionais da área estão alertas 
para a ocorrência de tais eventos. 
É dever de todo cidadão comunicar, à autoridade sanitária local, a 
ocorrência de fato, comprovado ou suspeito, de caso de doença transmissível; 
sendo obrigatória a médicos e outros profissionais de saúde, no exercício da 
profissão, bem como aos responsáveis por organizações e estabelecimentos 
públicos e particulares de saúde e ensino, a notificação de casos suspeitos ou 
confirmados de doenças e agravos (BRASIL, 2005). 
De acordo com o Ministério da Saúde (2009), o sistema de vigilância 
epidemiológica trabalha vários tipos de dados. Sua base é a notificação de casos 
suspeitos e/ou confirmados de doenças, objetos de notificação compulsória, 
embora ele possa, também, utilizar dados de mortalidade ou dados coletados 
em prontuários médicos, por exemplo. 
Os dados e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância 
Epidemiológica são os dados demográficos, ambientais e socioeconômicos; 
dados de morbidade e os dados de mortalidade (Brasil, 2009). 
 
PADRONIZAÇÃO DE INDICADORES NO SUS 
 
A vigilância da situação de saúde desenvolve ações de monitoramento 
contínuo do país/estado/região/município/território por meio de estudos e 
análises que traduzam o comportamento dos principais indicadores de saúde, 
priorizando questões relevantes e contribuindo para um planejamento de saúde 
mais abrangente e adequado (BRASIL , 2010). 
Um indicador consiste em uma medida que reflete uma característica ou 
aspecto particular, em geral não sujeito a observação direta (MEDRONHO, 
 
25 
2009). Os indicadores de saúde têm como propósito principal elucidar a situação 
de saúde de um indivíduo ou de uma população. 
A qualidade de um indicador depende das propriedades dos componentes 
utilizados em sua formulação e da precisão dos sistemas de informação 
empregados. O grau de excelência de um indicador deve ser definido por: 
 Validade: Capacidade de medir o que se pretende. 
 Conabilidade: Capacidade de reproduzir os mesmos resultados 
quando aplicado em condições similares. 
 
Em geral, a validade de um indicador é determinada por sua sensibilidade 
(capacidade de detectar o fenômeno analisado) e especificidade (capacidade de 
detectar somente o fenômeno analisado). Outros atributos de um indicador são: 
mensurabilidade (basear-se em dados disponíveis ou fáceis de conseguir), 
relevância (responder a prioridades de saúde), e custo-efetividade (os resultados 
justificam o investimento de tempo e recursos) (RIPSA , 2016). 
 
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO EM VIGILÂNCIA EM 
SAÚDE AMBIENTAL 
 
A Vigilância Ambiental é um campo relativamente novo do conhecimento, 
que trata da compreensão e da análise dos condicionantes ambientais que 
afetam a saúde humana (AUGUSTO, 2003). 
A construção dos sistemas de informação para a vigilância ambiental em 
saúde que integre aspectos de saúde e de meio ambiente, tem permitido a 
produção de informações estatísticas facilitadoras da interpretação da dinâmica 
com os demais sistemas, possibilitando a construção e identificação de 
indicadores de saúde ambiental (BRASIL, 2002). 
A Vigilância Ambiental em Saúde utilizacomo ferramenta fundamental o 
georreferenciamento de dados que consiste no processo usado para referenciar 
registros tabulares a um lugar da superfície da terra ou unidade territorial (bairro, 
município, localidade etc.), possibilitando, assim, a elaboração de mapas de 
risco capazes de auxiliar a tomada de decisão nas diversas instâncias do SUS. 
 
26 
Uma das tarefas primordiais para o estudo da relação entre ambiente e 
saúde é a seleção de indicadores para esses níveis de manifestação dos 
problemas ambientais. Esses componentes devem estar combinados para que 
se defina uma estratégia eficaz para a prevenção ou redução do impacto dos 
problemas ambientais sobre a saúde. 
A Vigilância Ambiental em Saúde deverá dispor de informações 
específicas de outros sistemas, dentre eles o Sistema de Informação de 
Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado (SISSOLO) 
e o Sistema de Informação de Vigilância em Saúde Relacionado à Qualidade da 
Água de Consumo Humano (SISAGUA). 
Consiste em um sistema de informação web, elaborado e desenvolvido 
pela Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM), em 
conjunto com o Departamento de Informática do SUS (DATASUS), e está 
acessível aos técnicos e gestores municipais, estaduais e federais da Vigilância 
em Saúde Ambiental. Destina-se ao cadastro, pelo nível municipal e estadual, 
de informações padronizadas de forma sistematizada sobre as áreas com 
população exposta e potencialmente exposta a contaminantes químicos. A 
alimentação do sistema deve ser contínua, a fim de que a assistência às 
populações expostas dê-se por meio dos princípios do Sistema Único de Saúde 
– SUS (RODRIGUES et al, 2011). 
O SISAGUA é um instrumento do Programa Nacional de Vigilância da 
Qualidade da Água para consumo Humano (VIGIAGUA) que auxilia no 
gerenciamento de riscos à saúde associados à qualidade da água destinada ao 
consumo humano, como parte integrante das ações de prevenção de agravos e 
de promoção da saúde, previstas no Sistema Único de Saúde. 
O SISAGUA foi construído tendo como base o próprio programa 
VIGIAGUA e a Portaria MS n° 2.914/2011 e armazena informações cadastrais 
sobre os sistemas e soluções alternativas de abastecimento de água para 
consumo humano, bem como sobre a qualidade da água proveniente de cada 
uma das formas cadastradas, inferida pelos prestadores do serviço (controle) e 
pelo setor saúde (vigilância). A entrada de dados é dividida, basicamente, em 
três partes: cadastro, controle e vigilância. 
A Portaria nº 2.914, de 2011, estabelece que o controle da qualidade da 
água é de responsabilidade de quem oferece o abastecimento coletivo ou de 
 
27 
quem presta serviços alternativos de distribuição. No entanto, cabe às 
autoridades de saúde pública das diversas instâncias de governo a missão de 
verificar se a água consumida pela população atende às determinações dessa 
portaria, inclusive no que se refere aos riscos que os sistemas e soluções 
alternativas de abastecimento de água representam para a saúde pública. 
 
VIGILÂNCIA EM SAÚDE 
 
A Saúde Pública apresentou um processo dinâmico de transformação nos 
últimos anos, com sérias mudanças estruturais e a proposição de modelos 
inovadores de gestão, sempre objetivando a melhoria da qualidade dos serviços 
e da assistência destinados à população, em sintonia com os princípios do 
Sistema Único de Saúde (SUS). 
O SUS representa um moderno modelo de organização dos serviços de 
saúde, com eixos norteadores relacionados à universalidade, à integralidade, à 
acessibilidade, à resolutividade, à hierarquização, à regionalização, à 
descentralização e ao controle social. Diante dessa logística, os municípios 
foram valorizados, assim como todos os serviços municipais direcionados para 
a saúde de sua comunidade, entre eles os de Vigilância em Saúde, 
representantes da “inteligência sanitária” desse complexo contexto. Essas 
propostas inovadoras desenham novos caminhos para os modelos de gestão 
aplicáveis ao setor, os quais pretendem redundar, em última análise, em menos 
desperdício, e em maior agilidade, nas decisões e nas respostas para melhoria 
 
28 
da qualidade dos serviços oferecidos aos munícipes. Langmuir apresentou, em 
1963, o seguinte conceito de vigilância: 
 
Vigilância é a observação contínua da distribuição e tendências da 
incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e 
avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de 
outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações 
a todos os que necessitam conhecê-la (LANGMUR, 1963). 
 
Atualmente, a construção e a consolidação da Vigilância em Saúde são 
produtos vitoriosos herdados pela institucionalização do SUS, em 1988; pela 
criação do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI), em 1990; pela 
estruturação do financiamento das ações de vigilância e controle de doenças e, 
mais recentemente, pela criação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do 
Ministério da Saúde – em 2003 –, que coordena o Sistema Nacional de Vigilância 
em Saúde em todo o território brasileiro. 
O acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde, 
se inicia pelas portas de entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e 
hierarquizada, de acordo com a complexidade do serviço, contendo: Atenção 
Primária; urgência e emergência; atenção psicossocial; atenção ambulatorial 
especializada e hospitalar; Vigilância em Saúde. Os níveis de saúde da 
população expressam a organização social e econômica do país. 
A definição ampliou-se, sendo que a Vigilância em Saúde é responsável 
por todas as ações de vigilância, prevenção e controle de agravos, 
prioritariamente com ações de promoção à saúde, com o monitoramento 
epidemiológico das doenças transmissíveis e não transmissíveis, de atividades 
sanitárias programáticas, de vigilância em saúde ambiental e saúde do 
trabalhador, elaboração e análise de perfis demográficos epidemiológicos, 
proposição de medidas de controle etc. 
A Vigilância encontra-se distribuída em patamares hierárquicos técnico-
administrativos, nas esferas federal, estadual, municipal e regional, sendo que a 
base de todas as informações é a região, mais precisamente a microárea. 
 
 
 
 
29 
 
EPIDEMIOLÓGICA 
Realiza um conjunto de ações que proporcionam o 
conhecimento, a detecção ou a prevenção de 
qualquer mudança nos fatores determinantes e 
condicionantes de saúde individual ou coletiva, 
com a finalidade de recomendar e adotar medidas 
de prevenção e controle de doenças ou agravos. 
Trabalha com doenças sexualmente 
transmissíveis agudas e crônicas; doenças 
transmissíveis agudas; doenças transmissíveis 
crônicas; doenças imunopreveníveis; 
investigações e respostas a casos e surtos e 
epidemias; doenças emergentes; agravos 
inusitados; inclui o também o Programa Nacional 
de Imunização (PNI), descentralizado aos 
municípios. 
 
 
AMBIENTAL 
Desencadeia um conjunto de atividades relativas 
às zoonoses e questões sanitárias ligadas ao meio 
ambiente e riscos à saúde (água, ar e solo), com 
ações integradas com as subprefeituras e outras 
secretarias, devendo participar na formulação da 
política e na execução de ações de saneamento 
básico 
 
 
SAÚDE DO TRABALHADOR 
Desencadeia um conjunto de atividades que, por 
meio das ações de vigilância epidemiológica e 
vigilância sanitária, se destinam à promoção e à 
proteção à saúde dos trabalhadores, assim como 
visa à recuperação e à reabilitação da saúde dos 
trabalhadores submetidos aos riscos e agravos 
advindos das condições de trabalho. 
 
 
 
 
IMUNIZAÇÃO 
É o conjunto de todas as atividades relacionadas 
com os imunobiológicos e sua adequada 
utilização. O Programa Nacional de Imunização 
(PNI) é reconhecidamente um dos melhores do 
mundo, estando vigente desde 1973, 
continuamente propiciando expressivos benefícios 
na prevenção de doenças, obtendo reiteradossucessos, nunca tendo sido interrompido. Podem 
ocorrer surtos ou acontecimentos inesperados 
mesmo com imunobiológicos eficazes, cabendo 
providências complementares organizadas, 
seguindo diretrizes da Vigilância em Saúde, com 
respaldo científico e rigoroso sistema avaliador de 
qualidade, também com controle de 
procedimentos inadequados e eventos adversos 
de imunobiológicos, acompanhando também de 
maneira rigorosa o armazenamento, a 
conservação e o transporte de vacinas até sua 
utilização. 
 
SANITÁRIA 
Realiza um conjunto de ações capaz de eliminar, 
diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos 
problemas sanitários decorrentes do meio 
ambiente, da produção e circulação de bens e da 
prestação de serviços de interesse da saúde. 
 
INFRAESTRUTURA 
Infraestrutura laboratorial e de apoio diagnóstico, 
do sistema de informações de doenças de 
notificação compulsória, entre outros. 
 
 
 
30 
O desenvolvimento de sistemas de vigilância implica o acesso à elevada 
gama de informações, especialmente as relativas à morbidade, à mortalidade, à 
estrutura demográfica, ao estado imunitário e nutricional da população, à 
situação socioeconômica e ao saneamento ambiental, sendo que a Saúde 
atualmente tem sido a porta de entrada para vários sistemas, tendo íntima 
relação com a situação social regional. 
A Vigilância deve trabalhar de forma integrada e harmônica com todas as 
Unidades de Atendimento à Saúde – também intersetorialmente e 
intersecretarialmente. 
ém intersetorialmente e intersecretarialmente. Na Saúde da Família e da 
Comunidade, a Estratégia Saúde da Família (ESF) desencadeou todo um 
processo de regionalização também na Vigilância. A ESF tem como diretriz a 
existência da territorialização e a determinação de área geográfica com o 
delineamento das áreas de abrangência de cada uma das Unidades Básicas de 
Saúde. Nas áreas cobertas pela ESF se trabalha com microáreas e área de 
abrangência, que são de responsabilidade sanitária das equipes. Na ESF, a 
Vigilância tem como parceiros as organizações sociais e os parceiros 
contratados pelas secretarias municipais de saúde. As entidades privadas 
qualificadas pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios como 
organizações sociais, são declaradas de interesse social e utilidade pública, 
desde que haja reciprocidade e a legislação local não contrarie os mandamentos 
dessa lei e a legislação federal específica. 
Nos termos legais, o contrato de gestão discriminará as atribuições, 
responsabilidades e obrigações do Poder Público e da Organização Social, mas 
sobretudo deverá especificar o programa de trabalho proposto, a fixação das 
metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como os 
critérios objetivos de avaliação de desempenho mediante indicadores de 
qualidade e de produtividade. Além disso, o contrato deve prever os limites e 
critérios para despesas com remuneração e vantagens a serem percebidos 
pelos dirigentes e empregados da Organização Social, além de outras cláusulas 
julgadas convenientes pelo Poder Público. 
A eficácia do contrato de gestão está precisamente na possibilidade do 
exercício do controle de desempenho, havendo indicadores objetivos de 
qualidade e produtividade, metas a serem alcançadas e prazos de execução, 
 
31 
muitos deles de vigilância. O Poder Público pode perfeitamente acompanhar os 
trabalhos da entidade privada e verificar a atuação de seus dirigentes, para 
tomar as providências cabíveis, entre elas a Vigilância. 
Diante da ampliação do conceito de Vigilância em Saúde e das 
inovadoras propostas administrativas para a área da saúde, focando a Saúde da 
Família e Comunidade, a equipe de profissionais da Vigilância desencadeou 
uma reforma na logística de seu processo de trabalho e fluxograma de 
informações com os equipamentos de prestação de serviços em saúde sob sua 
responsabilidade regional, mantendo como princípios norteadores: 
 A manutenção da qualidade na coleta de dados; 
 A consolidação desses dados em informações fidedignas; 
 A ampla disseminação dessas referidas informações a todos aqueles que 
as geraram e que delas necessitam tomar conhecimento, servindo de 
ferramenta para: 
 A elaboração de programas, a identificação de fatores de risco, a 
aplicação de medidas de controle; 
 A capacitação e o aprimoramento de pessoal; 
 A aquisição de equipamentos e tecnologias; 
 O desenvolvimento de produções científicas. 
 
Nesse cenário de intensas transformações, avaliações e reorganizações, 
os equipamentos de saúde e seus profissionais precisam desenvolver uma 
dinâmica de aprendizagem e inovação, cujo primeiro passo deve ser a 
capacidade crescente de adaptação às mudanças observadas no mundo atual. 
Devem-se procurar os conhecimentos e habilidades necessários e a melhor 
maneira de construí-los para formar esse novo profissional, ajustado à realidade 
atual e preparado para acompanhar as transformações futuras. 
O processo de trabalho e o fluxograma de informações da Vigilância em 
Saúde devem ser trabalhados harmonicamente com a ESF e com toda a rede 
regionalizada de atendimento à saúde até o nível terciário, que inclui hospitais e 
serviços e escola de pesquisa científica, garantindo a excelência da captação de 
dados, a consolidação, a avaliação e a divulgação das informações, bem como 
a eficiência das medidas de controle e a solução dos problemas de saúde 
pública. 
 
32 
Para que se consiga essa harmonia e integralidade, a Vigilância necessita 
estar bem sedimentada em todos os profissionais da saúde e, para isso, um 
ponto fundamental é o desenvolvimento de processos de educação continuada 
em serviço, integrando a Vigilância ao atendimento, uma vez que são 
interdependentes para sua eficiência. Todos os profissionais de saúde devem 
estar treinados para sua atuação de vigilantes em saúde, não deixando passar 
nehuma oportunidade de cumprir a meta de qualidade dos serviços prestados. 
Através dessa organização e desses treinamentos também se intensifica 
a integração dos profissionais da Vigilância e da Atenção Básica, Secundária e 
Terciária, bem como se reforçam os vínculos, o que facilita o fluxo de informação 
e a melhora a qualidade dos serviços. 
É importante desenvolver estudos de casos com extremo detalhamento 
do contexto em que estão inseridos os pacientes e seus familiares, discutindo 
todos os fatores relevantes para a justificativa das doenças e agravos, bem como 
fatores facilitadores e dificultadores do processo propedêutico, terapêutico e da 
evolução para a cura, desde que os espaços criados para essas discussões 
sejam otimizados com a presença do maior número possível de atores regionais. 
Itens necessários para a organização do Sistema de Vigilância: 
 Planejamento e acompanhamento integrado nas ações de 
Vigilância em Saúde em reuniões com todos os gestores locais, 
incluindo organizações sociais e parceiros, objetivando organizar 
os serviços de saúde, no território regional, para o desenvolvimento 
de ações de Vigilância em Saúde a agravos e Doenças de 
Notificação Compulsória (DNC); doenças imunopreveníveis; 
doenças, agravos e eventos inusitados; doenças emergentes – 
propiciando a promoção à saúde; a prevenção das doenças; a 
proteção de riscos; o diagnóstico com a respectiva notificação; o 
acompanhamento dos casos; a aplicação de medidas de controle 
qualificadas e oportunas, debelando surtos e epidemias, 
melhorando a qualidade de saúde da comunidade. 
 Composição de referencial teórico-técnico, sintético para todos os 
equipamentos de saúde, composto de Guia de Consulta Rápida 
(confeccionado pelos responsáveis técnicos da Vigilância), 
instruindo os profissionais dos equipamentos de saúde para intervir 
 
33 
nos principais agravos e doenças de notificação compulsória, com 
atualização anual pela SUVIS; Guia Epidemiológico do Ministério 
da Saúde – última edição; Fichasde Investigação Epidemiológica 
do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) de 
todos os agravos e Doenças de Notificação Compulsórias. 
 
É imprescindível para todos os profissionais de saúde o conhecimento 
detalhado de dois documentos: 
 Decreto no 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a Lei no 
8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização do 
Sistema Único de Saúde, o planejamento de saúde, a assistência à saúde 
e a articulação interfederativa; 
 Portaria no 104, de 25 de janeiro de 2011, do Ministério da Saúde, que 
define as terminologias adotadas em legislação nacional, conforme o 
disposto no Regulamento Sanitário Internacional de 2005, a relação de 
doenças, agravos e eventos em saúde pública de notificação compulsória 
em todo o território nacional e estabelece fluxo, critérios, 
responsabilidades e atribuições aos profissionais e serviços de saúde. 
 
O conteúdo desses dois documentos nos mostra a organização do 
sistema de saúde e a inclusão da Vigilância em Saúde no contexto do SUS e a 
necessidade de ação integrada de vários setores. 
A Portaria no 104, do Ministério da Saúde, considera o Regulamento 
Internacional de 2005 e suas definições de: 
 Doença: significa enfermidade ou estado clínico, independentemente de 
origem ou fonte, que represente ou possa representar um dano 
significativo para os seres humanos; 
 Agravo: significa qualquer dano à integridade física, mental e social dos 
indivíduos provocado por circunstâncias nocivas, como acidentes, 
intoxicações, abuso de drogas e lesões auto ou heteroinfligidas; 
 Evento: significa manifestação de doença ou uma ocorrência que 
apresente potencial para causar doença; 
 Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN): é um 
evento que apresenta risco de propagação ou disseminação de doenças 
 
34 
para mais de uma Unidade Federada, com priorização das doenças de 
notificação imediata e outros eventos de saúde pública, 
independentemente da natureza ou origem, depois de avaliação de risco, 
e que possa necessitar de resposta nacional imediata; 
 Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII): é 
evento extraordinário que constitui risco para a saúde pública de outros 
países, por meio de propagação internacional de doenças que 
potencialmente requerem uma resposta internacional coordenada. 
(BRASIL, 2011). 
 
A mesma portaria amplia a Lista de Notificação Compulsória, referente a 
doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública de abrangência 
nacional, em toda a rede de saúde, pública e privada, que devem ser registradas 
e notificadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 
obedecendo às normas e rotinas estabelecidas pela Secretaria de Vigilância em 
Saúde do Ministério da Saúde. 
Adota também a Lista de Notificação Compulsória Imediata, referente a 
doenças, agravos e eventos de importância para a saúde pública de abrangência 
nacional de toda a rede de saúde, pública e privada. A notificação deverá ser 
imediata, por telefone ou FAX, ao Serviço de Vigilância Epidemiológica da 
Secretaria Municipal da Saúde local, pois se tratam de doenças que exigem 
maior agilidade ao serem notadas, mesmo que seja apenas uma suspeita, pois 
a notificação garante a antecipação da investigação. No caso de sarampo, por 
exemplo, permite ao município iniciar, imediatamente, a busca ativa de pessoas 
que tiveram contato com o paciente e realizar a vacinação de bloqueio para evitar 
a disseminação do vírus. 
A notificação compulsória é obrigatória a todos os profissionais de saúde: 
enfermeiros, médicos, odontólogos, médicos veterinários, biólogos, biomédicos, 
farmacêuticos e outros no exercício da profissão, bem como os responsáveis por 
organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde e ensino. 
É facultada a elaboração de listas estaduais ou municipais de notificação 
compulsória, no âmbito de sua competência e de acordo com o perfil 
epidemiológico local, não podendo ser menos abrangente que a federal. 
 
35 
O aperfeiçoamento da notificação de doenças, agravos e eventos de 
importância para a saúde pública permite às esferas federal, estadual e 
municipal de governo monitorar e auxiliar no planejamento das ações de 
prevenção, de controle, avaliar tendências e impactos das intervenções e indicar 
riscos aos quais as pessoas estão sujeitas. 
Foram incluídos também os desastres de origem natural ou antropogênica 
quando houver desalojados ou desabrigados ou quando houver 
comprometimento da capacidade de funcionamento e infraestrutura das 
unidades de saúde locais em consequência do evento. 
Na área de imunização, o primeiro Calendário Vacinal da Secretaria de 
Saúde do Estado de São Paulo foi publicado em 1968, constituído por sete 
vacinas. O atual calendário do PNI, de 2011, contempla um conjunto de vacinas 
que protegem contra 14 doenças: tuberculose, paralisia infantil, rotavírus, 
hepatite B, difteria, coqueluche, tétano, doenças invasivas por Haemophilus 
influenzae tipo B, pneumococo, doença meningocócica, febre amarela, sarampo, 
caxumba e rubéola. Há outros imunobiológicos especiais, indicados em 
situações específicas, disponíveis nos Centros de Referência para 
Imunobiológicos Especiais (CRIE): vacina Salk, hepatite A, varicela, 
imunoglobulina específica contra hepatite B, tétano etc. 
As clínicas privadas de vacinação oferecem, além dos imunobiológicos do 
calendário básico, outras vacinas autorizadas pelo Ministério da Saúde e pela 
ANVISA, sendo que todas as atividades relacionadas com imunização são 
acompanhadas pela Vigilância em Saúde. 
O espaço físico adequado para o Setor de Vigilância dos serviços de 
saúde também é muito importante, pois oferece um local para o arquivo de 
materiais informativos oficiais atualizados, a organização dos casos em 
acompanhamento e de todos os casos notificados pelo serviço, facilitando a 
interlocução com a Vigilância de Saúde Local (SUVIS) e com a Interlocução de 
Vigilância em Saúde dos parceiros e organizações sociais, se houver, para a 
realização de um trabalho integrado. 
É imprescindível a realização de um projeto conjunto de educação 
continuada de Vigilância em Saúde, pactuada e registrada em plano de trabalho, 
com o estabelecimento de cronograma anual dos processos educativos, 
segundo perfis epidemiológicos regionais e sazonais dos agravos e DNC, e 
 
36 
seguindo as diretrizes dos serviços de Vigilância em Saúde das secretarias 
municipais da Saúde. 
O processo sempre deve estar alicerçado na prioridade de melhorar a 
qualidade de saúde da população da área de abrangência, sendo que o 
planejamento conjunto na Assistência à Saúde da região e a participação 
popular, em seu papel de controle social e de formador de opinião da 
comunidade, são fundamentais para que os serviços também estejam cientes 
de suas reais necessidades. 
Alguns fatores processuais são imprescindíveis para uma adequada 
Vigilância em Saúde: 
 O comprometimento, a disciplina, a competência e o papel integrador da 
equipe multidisciplinar técnica da Vigilância Local (SUVIS); 
 A importância do trabalho integrado de todos os gestores locais, dividindo 
tarefas no desempenho dos treinamentos, capacitações e outras ações; 
 O comprometimento de todos os profissionais da Atenção Básica e da 
ESF na cobertura de sua área de abrangência; 
 A possibilidade de propor e desenvolver projetos novos com os recursos 
já existentes, apenas organizando os serviços, demonstrando a notável 
capacidade de adaptação aos modelos de gestão em saúde pública. 
 
Os dados gerados pela Vigilância devem ser utilizados para análise, 
acompanhamento e utilização no planejamento estratégico local. Para isso se 
trabalha com indicadores técnicos e operacionais, tais como: 
 Notificações de agravos e DNC/equipamento de saúde/ano, que geram 
coeficientes deincidência, prevalência, detecção e outros; 
 Coberturas vacinais, comparativamente com o restante do município e 
com as metas regionais e outros indicadores relacionados aos 
imunobiológicos, sejam técnicos-científicos ou de armazenamento, 
manutenção e transporte; 
 Indicadores específicos por agravos: percentual de sintomáticos 
respiratórios examinados, porcentagem de alta por cura em tuberculose, 
porcentagem de diagnóstico de formas leves de hanseníase e outros, 
para os quais são utilizados os dados do SINAN; 
 
37 
 Número de notificações de agravos e DNC pelos Ambulatórios Médicos 
Assistenciais (AMA); 
 Número de notificações de agravos e DNC dos hospitais regionais. 
 
LOGÍSTICA 
 
A logística utilizada na Vigilância em Saúde deve ter a colaboração e a 
coparticipação de todos os gestores, técnicos, trabalhadores de todos os níveis 
e atores sociais, adaptando-se racional e dinamicamente aos inovadores 
modelos de gestão dos serviços públicos e privados, principalmente aqueles de 
cunho social, sem perder suas características inerentes. 
Uma vez que a Vigilância é um processo dinâmico, a educação 
permanente, que engloba a educação continuada e a educação em serviço, é 
fundamental no processo e deve ser planejada, estratégica e integralmente, com 
os vários atores, visando à melhoria da promoção da saúde, à prevenção das 
doenças, ao diagnóstico, ao tratamento e a medidas de controle, debelando 
surtos e epidemias e melhorando a qualidade de vida e de saúde da 
comunidade. 
Toda iniciativa para a reorganização institucional deve ter, minimamente, 
bases estruturais pedagógicas, administrativas e científicas para que possa 
radicar: 
 Bibliografia com fortes evidências, sistemas operacionais e 
instrumentos de apoio; 
 Recursos físicos, financeiros e humanos capacitados; 
 Políticas para fixação e aperfeiçoamento dos profissionais; 
 Fluxogramas de informação bem definidos; 
 Avaliação contínua dos processos internos e externos, e o mais 
importante – a retroalimentação dos resultados aos serviços que 
deles necessitam, principalmente como instrumento norteador 
para o gerenciamento local. 
 
A Vigilância em Saúde utiliza indicadores técnicos e operacionais, e sua 
construção depende das informações que derivam da Atenção Primária, 
 
38 
Secundária e Terciária do território regionalizado. Para que esses indicadores 
sejam fidedignos e mostrem um retrato muito próximo da realidade regional, é 
necessário que os dados dos serviços de saúde sejam também fidedignos, pois 
o dado é a base da informação. A proposta da educação continuada na Vigilância 
em Saúde também visa à melhoria da captação e à apuração desses dados, 
melhorando a qualidade das informações, pois são a base para o planejamento 
estratégico local. 
A Vigilância em Saúde é uma das prioridades do Sistema Único de Saúde 
e tem um desempenho fundamental, sistemático e evidente, que deverá ser 
desenvolvido com qualidade, adaptando-se aos modelos de gestão dos serviços 
públicos e abrangendo também os serviços privados, de forma integrada e 
interativa com a Atenção Básica, incluindo a imunização e a Rede de Assistência 
da Atenção Secundária e Terciária Regional. 
É muito importante o incentivo às equipes de todos os serviços e aos 
funcionários que desempenharam papéis de destaque nas atividades de 
Vigilância, homenageando os vários atores que participam da Vigilância em 
Saúde: enfermeiros, agentes comunitários de saúde, médicos, auxiliares de 
enfermagem, profissionais de saúde bucal, escriturários e gerentes dos serviços, 
pois essa iniciativa também é uma retroalimentação do sistema. 
A integralidade da assistência à saúde se inicia e se completa na Rede 
de Assistência à Saúde, da qual a Vigilância em Saúde faz parte. 
A formação e o desenvolvimento da “Inteligência Sanitária” é uma 
conquista consequente à superação das contraposições ideológico-conceituais: 
precisamos de uma política municipal do cuidado com a saúde, incluindo-se nela 
uma Vigilância, a partir da qual serão revisados todos os saberes e práticas das 
políticas públicas vigentes, edificadas na concepção de cuidado com a vida. 
 
39 
 
EDUCAÇÃO EM SAÚDE 
 
A partir da leitura deste texto, você terá a oportunidade de refletir e 
conhecer as abordagens pedagógicas, o processo educativo nas práticas de 
saúde e a Educação Permanente em Saúde na ação das Equipes de Saúde da 
Família. Nosso principal propósito foi apresentar os principais conceitos desses 
temas e trazer situações que os aproximam do seu dia a dia como profissional 
de saúde da Atenção Básica com o papel de educador. 
Para tanto, não basta que você e os demais profissionais em saúde – 
assistentes sociais, cirurgiões-dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, 
auxiliares de saúde bucal, médicos, docentes das profissões da área – tenham 
domínio e apliquem, isoladamente, os seus saberes profissionais específicos. É 
necessário somar saberes para dar respostas efetivas e eficazes aos problemas 
complexos que envolvem a perspectiva de viver com qualidade. É preciso 
também considerar todos os atores sociais envolvidos, valorizando todos os 
saberes presentes no cenário do território, tendo como centro as necessidades 
apresentadas pelos usuários. 
A defi nição de saúde vem sendo aperfeiçoada a cada momento. Hoje a 
defi nição mais holística é o bem-estar biopsicosocial cultural e espiritual, 
evidenciando a importância dos fatores culturais e da religiosidade como infl 
uenciadores na qualidade de vida de uma pessoa. 
 
40 
A saúde como direito universal e fundamental, cujo conceito foi fi rmado 
na Declaração Universal dos Direitos Humanos e assegurado pela Constituição 
Federal, estabelece a saúde como: 
 
a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença 
e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e 
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988, 
art. 196). 
 
A atual legislação brasileira amplia o conceito de saúde, considerando-a 
um resultado de vários fatores determinantes e condicionantes, como 
alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente, trabalho, renda, 
educação, transporte, lazer, acesso a bens e serviços essenciais, e impõe aos 
órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde (SUS) o dever de identifi car 
esses fatos sociais e ambientais e ao Governo o de formular políticas públicas 
condizentes com a elevação do modo de vida da população, além, é óbvio, de 
uma responsabilidade própria do sujeito que também deve cuidar de sua própria 
saúde e contribuir para a saúde coletiva. Hoje, compete ao estado garantir a 
saúde do cidadão e da coletividade. 
O SUS atualmente é dividido em três grandes níveis de atenção: 
 Atenção Básica: onde está inserida a atenção básica como o diagnóstico 
precoce e os cuidados de acompanhamento de rotina, além dos cuidados 
preventivos como a educação em saúde e a filosofi a do autocuidado, 
estes últimos incluídos nos principais objetivos da Estratégia de Saúde da 
Família; 
 Atenção de Média Complexidade: com os serviços de emergência e de 
especialidades; 
 Atenção de Alta Complexidade: com os cuidados altamente 
especializados, restaurador, reabilitação e os cuidados domiciliares. 
 
A educação é um processo que atualmente vem ganhando espaço na 
área da Saúde. De acordo com Rezende (1986) “a educação é um instrumento 
de transformação social, de reformulação de hábitos, aceitação de novos valores 
e que estimula a criatividade”. Artur da Távola é mais incisivo quando defi ne a 
educação como “um processo rico e enriquecedor, pois contém o germe da 
 
41 
crítica, refl exão e consciência. Para ser efetivo o processo de educação, a 
linguagem a ser utilizada deve ser sem ruídos, isto é, devem ser levados em 
consideração fatores sociais,econômicos, religiosos e comportamentais como 
crenças, atitudes e valores“. 
Os principais objetivos da educação em saúde para doença falciforme 
são: 
 favorecer o empoderamento do cliente do conhecimento do profi ssional 
de saúde sobre a doença falciforme. Contribuindo para a formação de 
opinião favorável ao desenvolvimento, possibilitando a tomada de 
decisões clínicas valorizando a saúde – promovendo o desenvolvimento 
do autocuidado; 
 desmistifi car a doença falciforme popularizando o seu conhecimento em 
virtude da alta prevalência em nosso país e compreendê-la como 
representativa da especifi cidade de nossas raízes étnicas; 
 favorecer o desenvolvimento da cidadania por meio da participação ativa 
do usuário na defi nição dos cuidados que reconhecem como prioritários 
para transformar a história natural da doença num processo de 
longevidade com qualidade de vida mesmo diante de obstáculos de 
natureza social ou econômica; 
 estabelecer entre o profi ssional e a pessoa um clima de reconhecimento 
da necessidade de atenção específi ca que permite a pessoa com a 
doença encarar seus medos, enfrentar o sofrimento e superar seus 
obstáculos, se apropriando da sua vida e dando a essa vida o rumo 
desejado. 
 
Enquanto a meta na educação para a saúde é tornar os indivíduos 
internamente melhores equipados para que possam fazer escolhas mais 
saudáveis, a promoção da saúde tenta fazer com que as escolhas mais 
saudáveis tornem-se escolhas mais fáceis. 
Desta maneira, a educação para a saúde e a promoção da saúde, tornam-
se intimamente relacionadas, ou seja: a promoção da saúde depende da 
participação ativa da população bem informada no processo de mudança, 
enquanto que a educação para a saúde é uma ferramenta de vital importância 
neste processo. 
 
42 
 
 
OS PROCESSOS EDUCATIVOS NO CONTEXTO DAS 
PRÁTICASDE SAÚDE NO SUS 
 
O SUS apresenta como um de seus compromissos e desafios a 
necessidade permanente de fomento às Políticas de Desenvolvimento para os 
trabalhadores que integram seu cenário, propondo para tal um processo 
permanente de aprendizado pelo trabalho, projetando possibilidades de 
desconstrução/construção de novos valores, ideais e lutas para produzir 
mudanças de práticas, de gestão e de participação social (MONTENEGRO, 
2010). 
Neste conteúdo, vamos trabalhar para além das concepções pedagógicas 
que orientam as metodologias formativas destinadas aos profissionais de saúde, 
pois como afirmam Ruiz-Moreno et al. (2005, p. 195), “o binômio educação e 
saúde constitui práticas socialmente produzidas em tempos e espaços históricos 
definidos”. Para Mendes e Viana, citados por Ruiz-Moreno et al. (2005, p. 195), 
a “educação influencia e é influenciada pelas condições de saúde, 
estabelecendo um estreito contato com todos os movimentos de inserção nas 
situações cotidianas em seus complexos aspectos sociais, políticos, 
econômicos, culturais, dentre outros”. 
Também é importante ressaltar que a prática educativa em saúde, além 
da formação permanente de profissionais para atuar nesse contexto, tem como 
eixo principal a dimensão do desenvolvimento de capacidades individuais e 
coletivas visando à melhoria da qualidade de vida e saúde da comunidade 
assistida pelos serviços, tomando por princípio norteador a Política Nacional de 
Promoção da Saúde, conforme as diretrizes também estabelecidas pela carta de 
Otawa, reforçando que a educação e a saúde são práticas sociais inseparáveis 
e interdependentes que sempre estiveram articuladas, sendo consideradas 
elementos fundamentais no processo de trabalho dos profissionais da saúde 
(BUSS, 1999). 
Essa afirmativa nos remete ao consenso de que a formação profissional 
afeta profundamente a qualidade dos serviços prestados e o grau de satisfação 
 
43 
dos usuários quanto ao reconhecimento do SUS como proposta efetiva pautada 
nas diretrizes e nos princípios organizativos da Constituição Federal de 1988 e 
nos desdobramentos da Lei 8.080 (BRASIL, 2007a). 
Logo, a educação em saúde no contexto dos serviços de saúde pública 
tem importantes dimensões a serem tratadas: a educação permanente em saúde 
como política norteadora dos processos educativos contínuos nos diferentes 
arranjos assistenciais do SUS, com suas diversas denominações (capacitações, 
treinamentos, cursos, atualizações, aperfeiçoamento entre outros); e a educação 
popular em saúde, que reconhece que os saberes são construídos 
diferentemente e, por meio da interação entre sujeitos, esses saberes se tornam 
comuns ao serem compartilhados (GONÇALVES et al., 2008). 
Atualmente “tanto a saúde quanto a educação buscam caminhos para 
construir um sujeito em estado de permanente aprendizagem, aprendendo a 
aprender, aprendendo a ensinar e ensinando a aprender”, conspirando para o 
contexto da qualificação das práticas de saúde do SUS (ANASTASIOU, 2007; 
VASCONCELOS et al., 2009, p. 24). 
 
REVISITANDO O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 
 
Quando se ensina, não é necessária apenas uma priorização de 
conteúdos. Deve-se levar em conta “como ensinar” para se chegar ao resultado 
final esperado: a transformação da realidade a partir da modificação do 
comportamento via novos conhecimentos. 
Na educação de adultos, principalmente numa educação voltada para o 
trabalho, procura-se a todo o tempo ressaltar a importância do aprendizado pela 
descoberta e, portanto, o crescimento do indivíduo como um todo 
(BORDENAVE, 1994). Ao revisitarmos as diferentes correntes pedagógicas, 
pretendemos apresentar algumas concepções/ abordagens utilizadas nos 
processos pedagógicos, ressaltando a importância da aprendizagem pela 
descoberta e a crítica pela simples transferência do conhecimento feita por 
métodos não reflexivos, superficiais e de baixa retenção de conhecimento. 
Procuramos de forma resumida esclarecer algumas modalidades de “ensinar-
 
44 
aprender-ensinar”, deixando flexível a escolha em função dos objetivos 
educacionais que se pretende atingir. Confira a seguir: 
 
BASES TEÓRICAS DOS PROCESSOS EDUCATIVOS 
 
CONCEPÇÕES OU ABORDAGENS PEDAGÓGICAS 
TRADICIONAIS 
 
 Transmissão 
O processo educativo está centrado em alguém que sabe e ensina a 
alguém que não sabe. A lógica é a de transmissão de conhecimentos. Aquele 
que supostamente sabe mais assume funções como aconselhar, corrigir e vigiar 
quem deve aprender o conteúdo. O risco é o profissional se considerar a 
autoridade máxima e, portanto, o único responsável pelo processo educativo; há 
uma ênfase na repetição e, geralmente, não há preocupação com a realidade 
social nem com as crenças e valores daquele que “deve” aprender. A expectativa 
é que o outro mude seu comportamento em função do que lhe foi ensinado 
(VASCONCELOS et al., 2009). 
Essa abordagem não coincide com as aspirações de um desenvolvimento 
baseado na transformação das estruturas, o crescimento pleno das pessoas e 
sua participação ativa no processo de mudança, evolução (BORDENAVE, 1994). 
 
 Condicionamento 
Essa abordagem, associada ao behaviorismo (Watson e Skinner) e à 
reflexologia (Pavlov), se concentra no modelo da conduta mediante um jogo 
eficiente de estímulos e recompensas capaz de “condicionar” o aprendiz a emitir 
as respostas desejadas. Diferentemente da abordagem da transmissão, não 
considera o aspecto mais importante no processo educativo as ideias e os 
conhecimentos, e sim os resultados comportamentais, ou seja, as manifestações 
empíricas e operacionais da troca de conhecimentos, atitudes e destrezas 
(BORDENAVE, 1994). 
 
 
45 
CONCEPÇÕES OU ABORDAGENS PEDAGÓGICAS QUE 
TÊM O APRENDIZ COMO FOCO 
 
 Humanista 
A abordagem Humanista privilegia os aspectos da personalidade do 
sujeito que aprende. Corresponde ao “ensino centrado no aluno”. O 
conhecimento, para essa concepção, existe no âmbito da percepção individual 
e não se reconhece objetividade nos fatos. A aprendizagem se constrói

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