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SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades presenciais em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória, e com a Educação a Distância presente em todo estado do Espírito Santo, e com polos distribuídos por todo o país. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 instituições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconhecida nacionalmente como referência em qualidade educacional. R E I TO R GRUPO MULTIVIX R E I 2 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) Ana Claudia Rodrigues da Silva Saúde Mental e Enfermagem Psiquiátrica/ SILVA, A.C.R - Multivix, 2020 Catalogação: Biblioteca Central Multivix 2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. 4 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE FIGURAS > Saúde mental: o quebra-cabeças do corpo humano 12 > O enfermeiro preparado para o atendimento em saúde mental a todos os membros da família 13 > Normal e patológico 14 > Anormal 15 > As várias facetas da mente humana 20 > Estratégias de saúde: Rede de Atenção Psicossocial (RAP) 22 > Inserção social de pessoas com diferentes transtornos mentais 23 > Psicoterapia em grupo no CAPS 24 > Serviço Residencial Terapêutico 26 > Residência Terapêutica 27 > Capa da Cartilha do Programa de Volta para Casa 28 > Socialização por meio dos Centros de Convivência e Cultura 29 > A engrenagem da mente humana 35 > O enfermeiro e suas múltiplas funções 36 > Demência no idoso 37 > Perda da memória no idoso com demência 39 > A demência no idoso 40 > Delirium 41 > O idoso e o delirium 42 > Estados confusionais 45 > Esquizofrenia 47 > Embotamento do afeto – sintoma esquizofrênico 48 > Traços esquizofrênicos 50 > Distúrbios psicóticos 52 > Uso abusivo do álcool 53 > Uso e abuso de drogas 54 > Efeitos do uso abusivo do álcool 55 > Uso abusivo de drogas 56 > Transtorno mental 61 > Episódio maníaco 63 5 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 > Sintomas da síndrome maníaca 64 > Hipomania com alegria e expansão 66 > Transtorno bipolar 67 > Transtorno afetivo bipolar 68 > Transtorno afetivo bipolar 69 > Depressão 70 > Transtorno depressivo 71 > A depressão 72 > Mulher com depressão 73 > Falta de objetivos – sintoma da depressão 74 > Abordagem ao distúrbio depressivo 76 > Mulher preocupada 78 > Pessoa com ataques de pânico 80 > Transtorno obsessivo 82 > Transtorno mental 83 > Transtorno obsessivo-compulsivo por limpeza 85 > Transtorno dissociativo de personalidade 86 > Uma mulher e suas múltiplas personalidades 87 > Hipocondria – um tipo de transtorno somatoforme 88 > Transtornos dissociativos de identidade 89 > Distúrbios de autoimagem 93 > Distúrbios de alimentação 95 > Bulimia 96 > Anorexia 98 > Quadro com os principais sintomas da anorexia nervosa 99 > Distúrbios de personalidade 102 > Várias faces do transtorno específico de personalidade 103 > Transtorno específico de personalidade 104 > Disfunção sexual 110 > Dispareunia 111 > Psicofármacos 116 > Tomando antidepressivos 117 > Neurolépticos ou antipsicóticos 118 6 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 > Neurolépticos típicos e atípicos 119 > Idosa sob a ação sedativa dos neurolépticos 121 > Perda de atenção e problemas cognitivos devido ao uso continuado de benzodiazepínicos 122 > Efeito sedativo dos benzodiazepínicos 123 > Depressão e o uso dos antidepressivos 125 > Sintomas depressivos combatidos pelo IRSR 126 > Paciente tomando o antidepressivo 128 > Transtorno do humor 129 > Cigarro – droga lícita 132 > O uso e o abuso de drogas ilícitas levam à morte 133 > Fumar causa diversos tipos de câncer, além de problemas respiratórios 135 > Drogas depressoras, estimulantes e perturbadoras 136 > Diga não às drogas 137 > A cocaína é uma droga ilegal e movimenta milhões no narcotráfico 138 > A planta da maconha: Cannabis 140 > Recomendações do enfermeiro na administração de medicamentos 141 > Cuidados de Enfermagem no momento da administração de dois ou mais medicamentos 142 > Vinho e queijo: alimentos ricos em tiramina e contraindicados no uso de antidepressivo IMAO 143 > Prontuário, estetoscópio e caneta 148 > Enfermeiro explicando o plano terapêutico a paciente 149 > Florence Nightingale com a lâmpada na Guerra da Crimeia 150 > O acolhimento e a escuta ativa são imprescindíveis para um atendimento efetivo 151 > O acolhimento do profissional de saúde 152 > Escuta qualificada em saúde mental no atendimento em grupo 153 > Acolhimento do paciente com transtorno mental na internação hospitalar 154 > A coleta de dados pelo enfermeiro 155 > Coleta de dados para o histórico de enfermagem 158 > O enfermeiro e o planejamento das ações de enfermagem 158 7 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 > Anotações e registros de enfermagem 159 > Enfermeira e a evolução de enfermagem 160 > Formulários e impressos que fazem parte da SAE 162 > Profissionais da saúde 163 > Alterações da orientação: desorientação local 164 > Alterações da memória: amnésia 165 > Alterações da afetividade: depressão e embotamento afetivo 166 > Alterações da psicomotricidade: autismo 167 > Alterações do juízo crítico 168 > O enfermeiro e os diagnósticos de enfermagem 169 8 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 1UNIDADE 2UNIDADE 3UNIDADE SUMÁRIO 1. SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA 12 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 12 1.1 POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL 14 1. 2 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL 20 2. TRANSTORNOS MENTAIS, DEMÊNCIA, DELÍRIO E ESTADOS CONFUSIONAIS 35 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 35 2.1 DEMÊNCIA, DELÍRIO E ESTADOS CONFUSIONAIS 36 2.2 ESQUIZOFRENIA, DISTÚRBIOS PSICÓTICOS E DISTÚRBIOS RELACIONADOS A ÁLCOOL E DROGAS 47 3 TRANSTORNOS MENTAIS 61 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 61 3.1 DISTÚRBIOS DO HUMOR 62 3.2 DISTÚRBIOS NEURÓTICOS E DISSOCIATIVOS 78 9 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 6UNIDADE 5UNIDADE 4UNIDADE 4 SÍNDROMES COMPORTAMENTAIS ASSOCIADAS À DISFUNÇÃO FISIOLÓGICA E AO FATOR FÍSICO 93 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 93 4.1 DISTÚRBIOS DA ALIMENTAÇÃO 94 4.2 DISTÚRBIO DE PERSONALIDADE E SEXUAL 102 5 PSICOFARMACOLOGIA 116 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 116 5.1 NOÇÕES DE DROGAS MAIS COMUNS NA PSIQUIATRIA 117 5.2 SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E O PROCESSO DECUIDAR 132 6.ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 148 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 148 6.1 CONSULTA DE ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 149 6.2 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL 158 10 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS ICONOGRAFIA UNIDADE 1 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 11 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA > Contextualizar-se acerca das políticas de saúde mental. > Compreender o funcionamento da rede de atenção psicossocial. 12 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 1. SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA INTRODUÇÃO DA UNIDADE Esta unidade abordará as políticas de saúde mental. Em um primeiro mo- mento, será discutida a questão do normal e do patológico. SAÚDE MENTAL: O QUEBRA-CABEÇAS DO CORPO HUMANO Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: mão montando um quebra cabeça com uma cabeça ao fundo, faltando duas peças para completar o quebra-cabeças. Depois, será possível observar um histórico da Reforma Psiquiátrica, que se inicia como crítica ao modelo centrado na internação hospitalar do doente mental até a criação da Lei Paulo Delgado, a qual propõe um novo modelo de tratamento aos portadores de transtornos mentais. Na última parte da unidade, será apresentada a rede assistencial de atenção psicossocial, composta por: Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Centros de Convivência e Cultura, unidade de acolhimento e leitos de atenção integral. 13 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Cabe lembrar que o enfermeiro é o principal agente motivador dos programas e das políticas dirigidas à saúde mental, em que a autonomia e o protagonismo social foram construídos por conquistas técnico-científicas, bases legais e políticas com o desenvolvimento da prática cidadã que se compromete com o bem-estar social. O enfermeiro desempenha, tam- bém, um papel imprescindível e decisivo na detecção das demandas da comunidade, principalmente no que concerne à promoção da saúde. O ENFERMEIRO PREPARADO PARA O ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL A TODOS OS MEMBROS DA FAMÍLIA Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: enfermeira em primeiro plano, com estetoscópio e segurando uma pasta. Ao fundo, imagem de uma família com cinco membros. Assim, o profissional enfermeiro que atua na saúde mental precisa estar em sintonia com as discussões acerca de sua atuação profissional e suas bases, reconhecendo a importância das políticas de saúde mental e sabendo como direcionar o paciente com transtorno mental ao serviço de saúde correto que atenda à sua necessidade imediata. 14 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 1.1 POLÍTICAS DE SAÚDE MENTAL 1.1.1 O NORMAL E O PATOLÓGICO E SUAS IMPLICAÇÕES De acordo com Canguilhem (2002), o vocábulo “normal” possui dois significados com base em análises feitas de dicionários médicos: normal- mente é aquilo que é como deve ser e, no sentindo mais usual da palavra, o que se encontra na maior parte dos casos de uma espécie determinada ou o que constitui a média ou o módulo de uma característica mensurável. Logo, o estado normal do corpo humano é o estado que se deseja restabelecer. NORMAL E PATOLÓGICO Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: três imagens de uma cabeça em formato de árvore, em cores diferentes, com diminuição gradativa de galhos e mudando de cor, indicando os estágios do normal ao patológico. Assim, o estado normal para Canguilhem (2002) designa, ao mesmo tem- po, o estado habitual dos órgãos e seu estado ideal. Por isso, o objetivo da terapêutica é restabelecer o estado habitual de tecidos e órgãos. Lalande (1991), no Vocabulaire philosophique, propõe os seguintes conceitos acerca de anomalia e anormal: 15 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Anomalia é um substantivo ao qual, atualmente, não corresponde adjetivo algum e, inversamente, anormal é um adjetivo sem substantivo, de modo que o uso os associou, fazendo de anormal o adjetivo de anomalia. Logo, uma confusão de etimologia contribuiu para essa aproximação de anomalia e anormal. Nesse contexto, Canguilhem (2002) explica que o anormal não é o patológi- co, conferindo ao patológico o sentimento direto e concreto de sofrimento e de impotência; o que implica o sentimento de vida contrariada. Contudo, o patológico configura o anormal. ANORMAL Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: desenho de uma cabeça com três peças de engrenagem amarelas e uma engrenagem vermelha caída no chão, fora da cabeça. Sobre os sintomas patológicos, Canguilhem (2002) faz uma análise de que a doença se torna um abalo e uma ameaça à existência devido a novas normas de vida com redução do nível de atividade do ser humano, tornando-o mais limitado, configurando o patológico por incapacidade de ser normativo. Portanto, o doente recebe essa denominação por ser incapaz de ser normati- vo e a saúde é mais do que ser normal, pois representa a capacidade de adap- tação às exigências do meio e de seguir as normativas da vida em um meio pleno de flutuações e de novos acontecimentos. 16 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Ainda sobre o conceito de normal, a normalidade pode ser associada ao bem- -estar. De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, a saúde pode ser definida como a ausência de doença, além do completo bem-estar físico, mental e social (OPAS/OMS, 2023). Nesse contexto, está inserido o paciente com transtorno mental. Esse tipo de paciente, fora do conceito “normal” apresentado, tem como característi- cas, segundo a OPAS/OMS, uma combinação de pensamentos, de emoções, de percepções e de comportamentos anormais que afetam diretamente o modo de se relacionar consigo e com outras pessoas. Assim, entre tantos conceitos de normalidade e patologia, cabe a reflexão de que o que não apresenta normalidade é patológico. Além disso, é impreciso o limite entre o normal e o patológico. Para Canguilhem (2002), deve-se olhar além do corpo humano para o julgamento do que é o normal e o patológico. 1.1.2 REFORMA PSIQUIÁTRICA – CRÍTICA AO MODELO HOSPITALOCÊNTRICO E IMPLANTAÇÃO DA REDE EXTRA-HOSPITALAR (1978-2000) De acordo com BRASIL (2013), a Reforma Psiquiátrica é resultado de uma mu- dança do modelo de atenção e de gestão do cuidado por meio do Movimento Social da luta antimanicomial. Logo, a corrente política de saúde mental do Brasil é resultante da mobilização de usuários, familiares e profissionais da saúde, no início dos anos 1980, com o intuito de modificar a realidade dos ma- nicômios onde mais de 100 mil pessoas com transtornos mentais residiam. Para saber mais sobre os aspectos que culminaram na Reforma Psiquiátrica, assista a este vídeo baseado no livro Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex. Para acessá-lo, clique aqui. https://www.youtube.com/watch?v=139n1x24ILU 17 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Acompanhe um pequeno resumo do histórico das políticas de saúde mental, segundo BRASIL (2013). Crítica ao modelo hospitalocêntrico (1978-1991): o movimentodos trabalhadores em saúde mental e outras organizações, como sindicalistas e membros de associações de profissionais e pessoas com histórico de internações psiquiátricas, reúnem-se e denunciam a violência dos manicômios, construindo uma crítica ao modelo hospitalocêntrico e estimulando a desinstitucionalização em Psiquiatria. Cartaz do II Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental, em 1987 Fonte: Wikimedia (2021). #pratodosverem: imagem de um cartaz no qual está escrito II Congresso Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental. Bauru, 3 a 6 de dezembro de 1987. Em um círculo do cartaz, lê-se: Por uma sociedade sem manicômios. Implantação da rede extra-hospitalar (1992-2000): os movimentos sociais conseguem aprovar as primeiras leis que determinam a substituição progressiva de leitos de psiquiatria por uma rede integrada de atenção à saúde mental. Instituição de dos primeiros Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) e hospitais-dia. Atividade em grupo do CAPS Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: grupo com seis pessoas sentadas conversando, uma delas como mediadora. 18 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Reforma Psiquiátrica após a Lei Paulo Delgado (2001-2005): a promulgação da Lei nacional Paulo Delgado, em 2001, impulsiona a Reforma Psiquiátrica no Brasil, além de serem sancionados políticas para a saúde mental, o tipo de financiamento e a fiscalização de leitos psiquiátricos. Promulgação da Lei Nacional que cria um marco na saúde mental Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: bandeira do Brasil e, na frente dela, silhuetas de várias pessoas. A atenção aos pacientes com transtornos mentais, a partir da Reforma Psi- quiátrica, passa a ter como meta o pleno exercício da cidadania de cada in- divíduo, e não mais o controle dos sintomas. Portanto, o cuidado em saúde mental passa a ser de modo ativo, ou seja, com a participação do paciente, de sua família e da sociedade formando redes de outras políticas públicas, como educação, moradia, trabalho e cultura (BRASIL, 2013). 1.1.3 REFORMA PSIQUIÁTRICA – LEI PAULO DELGADO A Lei Paulo Delgado, proposta pelo deputado federal de mesmo nome da lei, em 1989, apresentava um contraste com a prática da Psiquiatria até então e visava ao encerramento do modelo manicomial de tratamento ao paciente com transtorno psíquico, limitando imediatamente e reduzindo progressiva- mente o número de leitos psiquiátricos. A Lei Paulo Delgado, aprovada como Lei Federal nº 10.216/2001, precisou de doze anos de tramitação no Congresso Nacional até ser sancionada. Nesse mesmo contexto, ocorreu a III Conferência Nacional de Saúde Mental e am- bas consolidaram as diretrizes da Reforma Psiquiátrica. 19 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O projeto de lei, de acordo com Prado (2020), iniciava com uma premissa bem simples e importante: ficaria proibido, em todo o território nacional, a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos e a contratação ou o financiamento, pelo governo, de novos leitos psiquiátricos. Assim, a luta antimanicomial foi iniciada. Acesse o documento da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, para conhecer o redirecionamento de modelo da assistência em saúde mental. O primeiro avanço, segundo Brasil (2005), foi a criação de linhas de financia- mento específicas, idealizadas pelo Ministério da Saúde com objetivo de subs- tituir os hospitais psiquiátricos, além de fiscalizar, gerir e reduzir, de maneira programada, os leitos psiquiátricos no Brasil. Assim, o processo da Reforma Psiquiátrica com a Lei Paulo Delgado caracte- rizou-se por ações do Governo Federal e dos movimentos sociais com duas vertentes simultâneas: a implantação de uma rede de atenção à saúde men- tal, que substituiu o modelo hospitalocêntrico psiquiátrico, e, por outro lado, a fiscalização e a diminuição dos leitos psiquiátricos. A Lei Paulo Delgado constitui o marco da Reforma Psiquiátrica. Por sua vez, a Reforma redirecionou o modelo da assistência psiquiátrica regulamentando o cuidado à população internada por longos anos em hospícios e manicô- mios. Ademais, impulsionou a desinstitucionalização de pacientes com longo tempo de internação em hospitais psiquiátricos e incluiu a assistência à saú- de mental para os detentos do sistema penitenciário. Os reflexos dessa lei são vistos atualmente e de maneira positiva, pois, de acor- do com o Governo Federal, em 2019, foram investidos R$97 milhões para o fortalecimento da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde. Com esse incremento nos recursos, foi possível a habilitação de: 92 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), 63 Serviços Residenciais Terapêuticos, cinco Unidades de Acolhimento e 181 leitos de Psiquiatria em hospitais. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10216.htm 20 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Paulo Delgado é sociólogo, professor universitário e o deputado que fez o projeto de Lei com o próprio nome, sendo o precursor da luta antimanicomial com a instituição de um modelo de tratamento às pessoas com transtorno mental. No Brasil, o dia 18 de maio é a data comemorativa do Movimento Antimanicomial.. 1. 2 REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL De acordo com Brasil (2005), a partir dos anos 1990, o país iniciou a redução de leitos em hospitais psiquiátricos associada ao processo de desinstitucionaliza- ção de pacientes com longo histórico de internação, promovendo a reintegra- ção desses pacientes na comunidade. AS VÁRIAS FACETAS DA MENTE HUMANA Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: desenho de uma pessoa com o topo da cabeça aberta, de onde saem outras pessoas. 21 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Em 2002, várias normativas na área de saúde mental foram lançadas pelo Ministério da Saúde (MS). Nesse ensejo, a Portaria nº 3088/2011 propõe a Rede de Atenção Psicossocial – RAPS. Antes de explanar acerca da Rede de Atenção Psicossocial, é preciso citar algumas atividades realizadas pelos profissionais da Atenção Básica, direcionadas ao cuidado em saúde mental, e que são importantes para que os dispositivos que compõem a RAPS funcionem de maneira coesa. Conforme Chiaverini (2011), os profissionais de saúde devem proporcionar ao usuário um momento para refletir; exercer boa comunicação; exercitar a habilidade da empatia e da escuta ativa; acolher o usuário e suas demandas emocionais como legítimas; oferecer suporte de maneira certa, promoven- do a independência do paciente; e reconhecer o modo de entendimento do usuário dos serviços de saúde. Chiaverini (2011) aponta que a palavra “rede” é algo que une, entrelaça, amor- tece, interconecta, comunica, vincula por meio de sua ligação e que, por isso, quando bem implantada na saúde, pode possibilitar a melhor visão do sis- tema, seja do paciente, da sua família, seja da comunidade, promovendo a melhora na resolubilidade da atenção. Observe, a seguir, um esquema com as estratégias em saúde que compõem a Rede de Atenção Psicossocial. 22 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA ESTRATÉGIAS DE SAÚDE: REDE DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (RAP) CAPSad – álcool e drogas Unidade s Básicas de Saúde CAPSi infanto- juvenil Estratégia Saúde da Família Atenção de Urgência e Emergênci a Estratégias de Reabilitação Residência s Terapêuti- cas Centros de Convivência e Cultura Hospital Geral CAPS RAPS Rede de Atenção Psicossocial Fonte: acervo da autora (2023). #pratodosverem:círculo com o nome RAPS – Rede de Atenção Psicossocial no meio e, ao redor, outros círculos com os nomes: CAPSad – álcool e drogas, unidades básicas de saúde, CAPSi – infanto-juvenil, estratégia saúde da família, atenção de urgência e emergência, estratégias de reabilitação psicossocial, residências terapêuticas, centros de convivência e cultura, hospital geral e CAPS. 1.2.1 CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS) Os serviços substitutivos ao modelo de assistência à saúde anterior, chamado modelo hospitalocêntrico, surgem no intuito de que o paciente com trans- torno mental seja visto sob outro paradigma: o da reabilitação psicossocial, como aponta Mielke et al. (2009). Essa reabilitação é concebida como uma ação ampliada que leva em consideração diversos âmbitos: o pessoal, o social e o familiar com o objetivo de reinserir o indivíduo na sociedade. 23 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Nesse sentido, surgem os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, que são serviços de saúde comunitários com o intuito de atender às pessoas com transtorno mental e sofrimento psíquico e, ainda, aquelas com uso abu- sivo de álcool e de drogas, que estão em processo de reabilitação ou em situação de crise. O CAPS, de acordo com a Portaria de Consolidação nº 3.588, de 21 de dezem- bro de 2017, tem como objetivo a atenção às pessoas com transtorno men- tal grave e persistente e a seus familiares, estando a equipe multiprofissional habilitada para a prestação do cuidado na atenção psicossocial com a pre- servação da cidadania da pessoa, o tratamento garantido no território e os vínculos sociais mantidos. O CAPS tem como funções: prestação de atendimento clínico diariamente, com o objetivo de evitar as internações em hospital psiquiátrico; promoção da inserção das pessoas com transtornos mentais na sociedade; regulação da porta de entrada da rede assistencial em saúde mental; e organização da rede de atenção às pessoas em sofrimento psíquico em nível municipal. INSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS COM DIFERENTES TRANSTORNOS MENTAIS Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: ilustração de bonequinhos de cores diferentes. Acima de três deles, há balões de fala contendo distintas chaves de engrenagens. 24 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Logo, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) realizam articulações estra- tégicas da rede de atenção psicossocial e das políticas de saúde mental em dado território, tornando-se substitutos, e não apenas complementares, ao hospital psiquiátrico. Segundo Mielke et al. (2009), os CAPS, que são serviços de atenção diária em saúde mental, trabalham com equipe multiprofissional e propõem ativida- des, como: oficinas terapêuticas e de criação, atendimentos em grupo e in- dividuais, atividades lúdicas, atividades físicas, arteterapia e abordagem me- dicamentosa. Nesse tipo de atenção à saúde, a família tem papel de suma importância no tratamento, com livre acesso ao serviço. Mielke et al. (2009) também assinalam que as oficinas, no contexto da re- forma psiquiátrica, são vistas como medidas impulsionadoras da cons- trução do espaço social onde o indivíduo pode reconquistar ou conquistar o seu cotidiano. De acordo com dados do Governo Federal (Brasil, 2023), o Sistema Único de Saúde – SUS tem 2.661 CAPS em todo o Brasil. Os CAPS são diferenciados por porte, capacidade de atendimento, tipo de clientela e perfil populacional do município, diferenciando-se em CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPSi e CAPSad. PSICOTERAPIA EM GRUPO NO CAPS Fonte: Public Domain Vectores (2018). #pratodosverem: ilustração de pessoas sentadas em cadeiras posicionadas em círculo, em que todas estão conversando. 25 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Observe as modalidades de Centros de Atenção Psicossocial: • CAPS I: atende transtornos mentais graves de todas as idades em cidades e em regiões a partir de 15 mil habitantes. • CAPS II: atende transtornos mentais graves de todas as idades em cidades e em regiões a partir de 70 mil habitantes. • CAPSi: atende transtornos mentais de crianças e de adolescentes em cidades e em regiões a partir de 70 mil habitantes. • CAPS AD: atende transtornos causados por álcool e drogas, em pessoas de todas as faixas etárias, em cidades e em regiões a partir de 70 mil habitantes. • CAPS III: atende transtornos mentais graves, com acolhimento noturno e observação para até cinco vagas em cidades e em regiões a partir de 150 mil habitantes. • CAPS AD III: atende transtornos mentais graves decorrentes de álcool e de drogas, 24h, com acolhimento noturno e observação para 8-12 vagas em cidades e em regiões a partir de 150 mil habitantes. • CAPS AD IV: atende transtornos mentais graves decorrentes de álcool e de drogas, em municípios com mais 500.000 habitantes, 24h, ofertando assistência a emergências incluindo leitos para observação. Assim, o CAPS propõe a reabilitação, que é idealizada como o resgate de um conceito mais positivo sobre a saúde mental, no qual o indivíduo é visto e auxiliado no intuito de melhorar a capacidade de ação, decisão, opinião, sofri- mento, alegria, isto é, a fim de desconstruir o estigma de loucura incapacitan- te; conceito que só o desvaloriza. 1.2.2 SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS (SRT) A reabilitação, em congruência com o que diz Mielke et al. (2009), envolve um conjunto de ações que possibilita o aumento das habilidades de um in- divíduo, minimizando o dano causado pelo transtorno mental, envolvendo todos aqueles que fazem parte do processo saúde-doença: usuário, família, profissionais e comunidades. 26 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) surgem como uma proposta de reabilitação no contexto da desinstitucionalização e compõem, decisivamen- te, a política de saúde mental do Ministério da Saúde brasileiro visando supe- rar o modelo hospitalocêntrico psiquiátrico (BRASIL, 2005). Os Serviços Residenciais Terapêuticos constituem-se de casas, em área urba- na, respondendo às necessidades de moradia dos pacientes com transtornos mentais, egressos de hospitais psiquiátricos ou não. Essas casas auxiliam o morador no processo de reintegração à comunidade. SERVIÇO RESIDENCIAL TERAPÊUTICO Fonte: Prefeitura Municipal de Viçosa/Divulgação (2023). #pratodosverem: fotografia de uma casa ao fundo e, no portão à frente dela, uma placa escrita: serviço residencial terapêutico. As Residências Terapêuticas surgiram no âmbito da Reforma Psiquiátrica, sendo estabelecidas pela Portaria nº 103/2000 do Ministério da Saúde brasilei- ro. Cada residência deve acolher até oito moradores, com um cuidador para apoio nas tarefas e conflitos do dia a dia do morar e do circular na cidade, pro- movendo sempre a autonomia do usuário do serviço de saúde. 27 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Cada SRT precisa estar referenciada a um CAPS e constituir a rede de atenção à saúde mental. Assim, o objetivo dos SRT é o acolhimento das pessoas que precisam retornar ao convívio social ou que precisam de uma solução de mo- radia, configurando transitoriedade de habitação. RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: imagem de várias mãos fazendo um círculo em volta do desenho de uma casa. De acordo com serviços e informações do Governo Federal, em 2019, os Ser- viços Residenciais Terapêuticos correspondiam a 686 unidades de atendi- mento no Brasil, atendendo pessoas com transtornos mentais, uso abusivo de álcool e de drogas epessoas em situação de vulnerabilidade social, como moradores em situação de rua (BRASIL, 2023). O Programa de Volta para Casa também constitui uma estratégia para reinte- grar socialmente as pessoas com longo histórico de internação hospitalar psi- quiátrica. Esse programa é uma criação da Lei Federal nº 10.708/2003 e contri- bui com a Reforma Psiquiátrica, por meio do auxílio reabilitação de R$500,00 mensais (ajustado pela Portaria GM/MS nº 1.108, de 31 de maio de 2021) ao usuário que necessita ser reintegrado. 28 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA CAPA DA CARTILHA DO PROGRAMA DE VOLTA PARA CASA Fonte: Biblioteca do Ministério da Saúde (2023). #pratodosverem: desenho de mão segurando um papel com várias casas coloridas e, ao fundo, escrito: Programa de Volta para Casa. Para utilização desse auxílio, a pessoa precisa comprovar internação em hos- pital psiquiátrico e ser indicada para a inclusão no programa do município de reintegração social. Para saber mais sobre as regras e o funcionamento do Programa de Volta para Casa, acesse o documento do Ministério da Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/prog_volta_para_casa.pdf 29 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 1.2.3 CENTROS DE CONVIVÊNCIA E CULTURA, UNIDADE DE ACOLHIMENTO E LEITOS DE ATENÇÃO INTEGRAL Os Centros de Convivência e Cultura (CECONs) são locais de cuidado, envol- vendo intervenção cultural na cidade pela socialização. São espaços poten- ciais de ações em saúde para a população, que desenvolvem trabalhos de prevenção ao risco social. Os CECONs constituem a rede de atenção psicos- social com o objetivo de produzir cultura, promover sociabilidade e intervir na cidade. Eles articulam a vida cotidiana à cultura. SOCIALIZAÇÃO POR MEIO DOS CENTROS DE CONVIVÊNCIA E CULTURA Fonte: Public Domain Pictures (2023). #pratodosverem: seis desenhos de rostos de homens e de mulheres conectados por linhas. As atividades coletivas e as oficinas são as principais condutas dos CECONs articuladas aos: CAPS, Serviços Residenciais Terapêuticos, Estratégia Saúde da Família e Centros de Saúde. Uma das características dos CECONs é asso- ciar os espaços do território e da cidade (BRASIL, 2005). 30 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Já as Unidades de Acolhimento, de acordo com Brasil (2012), são serviços re- sidenciais de modo transitório articulados a outros serviços da Rede de Aten- ção Psicossocial, acolhendo, por tempo determinado de até seis meses, os usuários de álcool e de outras drogas que estejam em situação de vulnerabi- lidade social e precisem de acompanhamento terapêutico. No país, conforme dados do Governo Federal, em 2019, existiam 65 Unidades de Acolhimento. Os leitos de atenção integral surgem com a Portaria nº 148 de 2012, que pre- coniza internações de saúde mental de curta duração objetivando a redução de leitos psiquiátricos e a integração do paciente aos outros pontos da RAPS. Os leitos disponíveis para o tratamento da saúde mental em hospitais gerais são destinados a pacientes com quadro clínico agudo e que te- nham capacidade reduzida de autocuidado, risco de vida grave à saú- de, risco de autoagressão ou prejuízo moral e de patrimônio, e risco à or- dem pública. Essas internações precisam ser breves, com humanização e referenciadas para as RAPS. De acordo com as informações do Governo Federal, em 2019, foram disponibilizados 1.622 leitos em 305 unidades hospitalares gerais no país. 31 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CONCLUSÃO Vimos, nesta unidade, um panorama da evolução da Política Nacional de Saú- de Mental e da Rede de Atenção Psicossocial. A Lei Paulo Delgado foi um marco nas políticas de saúde mental no intuito de redirecionar o modelo da assistência psiquiátrica no Brasil. Ela regulamentou o cuidado aos clientes em sofrimento psíquico internados por longo período e previu a possibilidade de punição para a internação desnecessária. Entretanto, o grande desafio para a implementação dessa política de saú- de mental é o atendimento à grande demanda reprimida e a desinstitucio- nalização completa dos pacientes que ainda estão internados em hospitais psiquiátricos, visto que a Lei Paulo Delgado foi promulgada em 2001, com o objetivo de extinguir, gradativamente, os hospitais psiquiátricos. Contudo, até hoje, isso não foi possível devido aos entraves sociais e financeiros do país. No modelo de saúde atual, o serviço de saúde da atenção primária encami- nha os pacientes com transtornos mentais aos especialistas em ambulatórios, centros de atenção psicossocial (CAPS) e hospitais, sendo que, na maior parte do tempo, não há uma contrarreferência sobre esse paciente. Assim, um dos desafios do atendimento em saúde mental é a promoção da referência e da contrarreferência possibilitando aos profissionais que tenham um acompa- nhamento completo de seu paciente. Para encerrar, observe um esquema dos principais componentes da Rede de Atenção Psicossocial (RAPs) e seus respectivos objetivos. Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Constituir pontos de estratégia de atenção da Rede de Atenção Psicossocial formada por equipe multiprofissional, que atua sob a óptica interdisciplinar, promovendo o atendimento ao indivíduo com sofrimento psíquico. Serviços Residenciais Terapêuticos Reintegrar pacientes com transtornos mentais à sociedade, por meio de moradias provisórias. 32 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Centros de Convivência e Cultura Acolher em espaços que envolvem cultura e socialização auxiliando a reintegração do paciente com transtorno psíquico à sociedade. Unidade de Acolhimento Ofertar acolhimento, de forma voluntária, para o cuidado às pessoas em situação vulnerável, no âmbito familiar e social, em abuso de álcool, de crack e de outras drogas e que precisem de atendimento terapêutico e de proteção. Leitos de atenção integral Ofertar leitos voltados para a saúde mental em hospitais gerais, com o intuito de permanência curta e retorno aos demais pontos da RAPS após internação. Fonte: Brasil (2005). 33 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 MATERIAL COMPLEMENTAR ALMEIDA, F. A. de; CEZAR, A. T. As residências terapêu- ticas e as políticas públicas de saúde mental. IGT rede, Rio de Janeiro, v. 13, n. 24, p. 105-114, 2016. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1807-25262016000100007&lng=pt&nrm=i so. Acesso em: 19 fev. 2023. GAINO, L. V. et al. O conceito de saúde mental para profissionais de saúde: um estudo transversal e qua- litativo. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog., Ribeirão Preto, v. 14, n. 2, p. 108-116, 2018. Dispo- nível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1806-69762018000200007&lng=pt&nrm=i so. Acesso em: 20 fev. 2023. SAMPAIO, M. L.; BISPO, J. P. Entre o enclausuramento e a desinstitucionalização: a trajetória da saúde men- tal no Brasil. Trabalho, Educação e Saúde, [s. l.], v. 19, jan. 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tes/ a/9ZyYcsQnkDzhZdTdHRtQttP/. Acesso em: 20 fev. 2023. SAMPAIO, M. L.; BISPO, J. P. Rede de Atenção Psicosso- cial: avaliação da estrutura e do processo de articulação do cuidado em saúde mental. Cadernos de Saúde Públi- ca, v. 37, n. 3, [s. d.]. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ csp/a/N9DzbdSJMNc4W9B4JsBvFZJ/?lang=pt. Acesso em: 20 fev. 2023. VIEIRA, S. M. et al. Rede de atenção psicossocial:os desafios da articulação e integração. Rev. psicol. po- lít., São Paulo, v. 20, n. 47, p. 76-86, abr. 2020. Disponí- vel em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1519-549X2020000100007&lng=pt&nrm=i so. Acesso em: 20 fev. 2023. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262016000100007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262016000100007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-25262016000100007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762018000200007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762018000200007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762018000200007&lng=pt&nrm=iso https://www.scielo.br/j/tes/a/9ZyYcsQnkDzhZdTdHRtQttP/ https://www.scielo.br/j/tes/a/9ZyYcsQnkDzhZdTdHRtQttP/ https://www.scielo.br/j/csp/a/N9DzbdSJMNc4W9B4JsBvFZJ/?lang=pt https://www.scielo.br/j/csp/a/N9DzbdSJMNc4W9B4JsBvFZJ/?lang=pt http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2020000100007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2020000100007&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2020000100007&lng=pt&nrm=iso UNIDADE 2 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 34 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA > Discutir os principais aspectos dos quadros de: demência, delírio e estados confusionais. > Explanar os traços de esquizofrenia e os distúrbios psicóticos e relacionados ao abuso de álcool e de drogas. 35 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 2. TRANSTORNOS MENTAIS, DEMÊNCIA, DELÍRIO E ESTADOS CONFUSIONAIS INTRODUÇÃO DA UNIDADE Esta unidade abordará as principais características dos quadros demenciais, de delírio e estados de confusão mental. A ENGRENAGEM DA MENTE HUMANA Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: desenho de várias peças de engrenagem, que, juntas, têm o formato de cabeça humana. Será possível, ainda, desenvolver o conhecimento acerca dos traços de esqui- zofrenia e de distúrbios psicóticos. Os distúrbios relacionados ao uso abusivo de álcool, crack e outras drogas também serão vistos. 36 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O ENFERMEIRO E SUAS MÚLTIPLAS FUNÇÕES Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: ilustração de um enfermeiro trajando jaleco, com estetoscópio no pescoço e prancheta nas mãos. Ao redor dele, vários ícones menores com desenhos de ambulância, coração, seringa, balão de ensaio, enfermeira, maleta, bolsa de sangue e frasco de remédio. O enfermeiro, tanto o generalista quanto o especialista em Saúde Mental, pre- cisa reconhecer os sinais dos transtornos mentais, pois ele possui um impor- tante papel na saúde mental, tendo como principais atividades: o acolhimen- to, a triagem, a anamnese, o atendimento de aconselhamento, a evolução de enfermagem, a administração de medicamentos, a aplicação da Sistemati- zação da Assistência de Enfermagem (SAE), a elaboração de um plano tera- pêutico singular, a coordenação de grupos e oficinas, e o gerenciamento da equipe de enfermagem. 2.1 DEMÊNCIA, DELÍRIO E ESTADOS CONFUSIONAIS 2.1.1 DEMÊNCIA Dalgalarrondo (2000) propõe que a demência é um transtorno mental que surge na idade idosa, em geral após os 65 anos, mas pode ocorrer também na era pré-idosa, por volta dos 50-65 anos. Por conseguinte, as perdas cognitivas nos quadros demenciais têm evoluído para déficits maiores do que na esqui- zofrenia e no transtorno bipolar; transtornos que serão vistos nesta disciplina. 37 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA DEMÊNCIA NO IDOSO Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: imagem de cinco momentos: um idoso levantando o braço direito para a outra, um quebra-cabeça com uma peça solta, um idoso em primeiro plano, uma idosa e um relógio e, por fim, um cuidador auxiliando um idoso sentado. É estimado que, no mundo, por volta de 35 milhões de pessoas tenham demência. E por volta de 50% de pacientes acima de 90 anos são afetados pela demência. De acordo com a World Health Organization [WHO] (2012), os quadros de demência aumentam conforme o avanço da idade do indivíduo. Acerca da epidemiologia, Abreu (2006) aponta que a demência afeta entre 5% a 8% dos idosos acima de 65 anos de idade, 15 a 20% dos idosos acima de 75 anos e entre 25 a 50% em idosos acima de 85 anos. As demências, para Dalgalarrondo (2000), apresentam um curso progressivo de perda cognitiva e de limitação funcional com etiologias neu rodegenerativas e cerebrovasculares. Para Abreu (2006), a definição de demência é retratada como uma síndrome caracterizada pelo declínio da memória com associação ao déficit de, pelo menos, outra função cognitiva, causando afasia, apraxia, agnosia ou alteração de funções executivas com intensidade para interferência do desempenho social e profissional do indivíduo. 38 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 De acordo com a Classificação internacional de doenças e problemas relacio- nados à saúde (CID-11), citada por Dalgalarrondo (2000), o quadro demencial, por ser uma síndrome mental, apresenta as seguintes características. Funcionamento cognitivo com declínio prévio em relação aos domínios cognitivos, como linguagem, memória, atenção, processamento, habilidades espaciais e perceptivas. Déficit cognitivo Fonte: European Molecular Biology Laboratory – EMBL (2022). #pratodosverem: imagem de uma mente com pequenas bolas e dimensões sinalizando a cognição. O declínio cognitivo não pode ser atribuído ao envelhecimento normal. O idoso apresenta uma diminuição na velocidade de processamento; já o idoso com demência, além da velocidade reduzida, apresenta outros declínios cognitivos. Idoso com mobilidade reduzida Fonte: Plataforma Public Domain Vectors (2022). #pratodosverem: desenho de um idoso com um andador. A demência interfere na independência da pessoa, na realização das atividades de vida diária, reduzindo sua autonomia. Dependência para a realização das atividades diárias. Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: idoso na cadeira de rodas sendo amparado por uma cuidadora. 39 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA O declínio da cognição é atribuído a causas neuronais subjacentes, tais como trauma cranioencefálico, vasculopatia cerebral, uso em longo prazo de substâncias. Cérebro humano Fonte: Pxhere (2023). #pratodosverem: representação ilustrativa de um cérebro humano, seccionado em dois, com um lobo em preto e branco e o outro lobo colorido. Segundo Abreu (2006), a memória remota, ou seja, de eventos acontecidos há muitos anos, não é afetada no início da demência; no entanto, a memória recente e de curta duração passa a ser gravemente afetada. Na anamnese de um paciente com demência, conforme propõe Abreu (2006), devem ser investigados: perda da memória, distúrbio de linguagem, dificul- dade em executar tarefas antes realizadas com facilidade, mudança de com- portamento e falta de orientação espacial. PERDA DA MEMÓRIA NO IDOSO COM DEMÊNCIA Fonte: Freepik (2023). #pratodosverem: idoso sentado com a cabeça encostada na bengala. 40 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017O tratamento da demência irá depender do estágio no qual o paciente se en- contra e é realizado com psicoterapia de enfoque cognitivo, comportamental ou emocional, visando otimizar a qualidade de vida do paciente e promover alguma melhora nas funções cognitivas, habilidades e estado de humor. Castro (2013) narra que as demências são classificadas em reversíveis e irreversíveis. As demências reversíveis são as desordens cognitivo-com- portamentais que podem ser categorizadas como doenças cerebrais crônicas ou encefalopatias. Alguns exemplos de demências reversíveis são: 1. Hidrocefalia de pressão normal: constituída pela apraxia da marcha, demência e incontinência urinária. Apresenta-se como idiopática ou evolui com hemorragia subaracnoide, meningite ou outra alteração no líquido cefalorraquidiano (LCR). O tratamento é cirúrgico, com a derivação do LCR. 2. Demência devido à lesão cerebral traumática: pode ser resultante de quedas e acidentes de automóvel. O tratamento é sintomático, utilizando psicoterapia e farmacoterapia. A DEMÊNCIA NO IDOSO Fonte: Freepik (2023). #pratodosverem: idosa sentada com a mão na cabeça. 41 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 3. Demência devido às carências nutricionais: deficiências da vitamina B12, ácido fólico, tiamina e niacina são associadas à demência, resultando em quadros de agitação, irritabilidade, apatia e confusão mental. 4. Depressão e hipotireoidismo: ambas as doenças causam declínio cognitivo. 5. Demências infecciosas: a infecção por HIV, a neurossífilis e a neurocisti- cercose são exemplos de doenças que podem causar demência. 6. Demência devido ao álcool: o alcoolismo crônico causa uma deterioração cognitivo-comportamental. A demência da doença de Alzheimer, a demência vascular, a demência mista, a demência por Corpúsculo de Lewy e as demências frontotemporais são os tipos de do quadros demenciais irreversíveis. 2.1.2 DELÍRIO E DELIRIUM Para Cerqueira (2015), o delírio resulta de uma alteração de juízo de realidade, ao passo que o delirium compõe um transtorno orgânico associado à altera- ção de consciência, podendo gerar um estado confusional. Assim, o delirium e o delírio mantêm pouca relação entre si. DELIRIUM Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: uma pessa, em uma floresta, com luzes noturnas coloridas. 42 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 De acordo com Santos (2005) e Wacker (2005), o delirium é descrito na li- teratura há mais de 2500 anos, estando associado a um comprometimen- to da consciência e a algumas condições orgânicas, por exemplo, infecção, síndromes demenciais, encefalopatia hepática, procedimento cirúrgico e intoxicação por drogas. Observe os principais sintomas do delirium, segundo Videbeck (2012): • fácil distração; • déficit de atenção; • perturbação sensorial: ilusões, alucinações ou erros de interpretação; • perturbação no ciclo sono-vigília; • desorientação; • alteração na atividade psicomotora; • ansiedade e medo; • irritabilidade; e • euforia e apatia. O delirium, para Silva et al. (2013), é uma síndrome caracterizada por rebaixa- mento do nível de consciência, na qual as apresentações dos sintomas clíni- cos são diversificadas. Essa patologia é decorrente de doenças físicas, afetan- do de 10 a 45% dos pacientes idosos. O IDOSO E O DELIRIUM Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: um homem idoso, triste, com o rosto apoiado na mão esquerda, olhando para baixo. 43 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Videbeck (2012) propõe, ainda, que o delirium constitui uma síndrome com perturbação da consciência, com alteração da cognição, por um período cur- to de tempo. Segundo estimativas, 10 a 15% dos pacientes internados em hos- pitais por outras causas médicas apresentam delirium em algum momento da internação e o delirium é comum em pacientes idosos. Sobre a etiologia do delirium, confira! Causas fisiológicas ou metabólicas Distúrbio eletrolítico, hipoxemia, insuficiência renal ou hepática, hipoglicemia, hiperglicemia, desidratação, alteração na tireoide, deficiência de vitamina B12 e vitamina C, niacina e proteínas, tumor cerebral, exposição a gasolina e solventes de pintura, lesão encefálica e inseticidas. Causas infecciosas sistêmicas Sepse, pneumonia e infecção do trato urinário. Causas infecciosas cerebrais HIV, sífilis, encefalite e meningite. Causas relacionadas a fármacos Intoxicação e abstinência por álcool, lítio, sedativos, anticolinérgicos e hipnóticos. Reações a medicamentos prescritos, anestesia e drogas ilícitas. Há um outro tipo de delirium: o delirium tremens, o qual é associado à absti- nência alcoólica e é caracterizado por quadro confusional agudo, autolimitado e flutuante. Pode ocorrer após 72h da ingestão de bebida alcoólica durando até 6 dias. Por conseguinte, o paciente tem prejuízo da memória, desorienta- ção do tempo e espaço, alucinações, ansiedade e delírios. 44 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Para o tratamento do delirium quando se apresenta hipoativo e calmo, não há necessidade de abordagem farmacológica. Entretanto, caso o pacien- te corra risco de autolesão, é possível a indicação de um antipsicótico, como haloperidol, em doses de 0,5 a 1 mg (VIDEBECK, 2012). Já o delirium causado por abstinência alcoólica é tratado com uso de benzodiazepínicos. Acesse o artigo Prescrição de benzodiazepínicos para adultos e idosos de um ambulatório de saúde mental e saiba mais sobre o efeito dessa classe medicamentosa! O delírio é uma condição da alteração de juízo da realidade. Portanto, os de- lírios podem acontecer em condições psiquiátricas distintas, incluindo esqui- zofrenia, demências e transtornos de relacionamento. Nesse contexto, os delírios agudos apresentam caráter afetivo importan- te e vigilância exagerada com tendência a se tornarem delírios crônicos. No delírio, o paciente permanece lúcido, consciente, atento e com a memória preservada. 2.1.3 ESTADOS CONFUSIONAIS O estado confusional agudo é a demência, conforme visto no início desta uni- dade. Agora, vamos conhecer outros tipos de estados confusionais. Como estados confusionais e possíveis subtipos de demência relevantes para a área da Enfermagem com prática diária nos serviços de saúde, podemos apontar: doença de Alzheimer, doença de Parkinson, doença de Huntington, doença de Pick e doença de Creutzfeldt-Jakob. https://doi.org/10.1590/1413-81232015214.10292015 https://doi.org/10.1590/1413-81232015214.10292015 45 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA ESTADOS CONFUSIONAIS Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: colagem de vários rostos em fragmentos diferentes, com olhos de três mulheres diferentes e rosto de outra mulher causando confusão. Observe as principais características das doenças citadas que causam confusão mental. Doença de Alzheimer Transtorno cerebral com curso progressivo e surgimento gradual, causando declínio da funcionalidade do indivíduo com perda de fala e da função motora; alterações na personalidade e no comportamento, podendo apresentar paranoia, alucinação e delírios. Ocorre atrofia neuronal cerebral e relações de alterações com os cromossomos 14, 19 e 21. 46 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Doença de Parkinson Condição neurológica progressiva com quadro de rigidez, desequilíbrio, alterações na fala e na escrita, tremor, bradicinesia e instabilidade da postura corporal. A ocorrência dessadoença se deve à degeneração das células da substância negra, área cerebral que produz a dopamina. Assim, a falta de dopamina leva aos sintomas citados. A demência ocorre em 20 a 60% dos pacientes com Parkinson. Doença de Huntington Patologia com gene dominante, de caráter hereditário, envolvendo atrofia cerebral, desmielinização e dilatação ventricular cerebral. Manifesta-se por meio de abalos e de espasmos ocasionais, contornos faciais, movimentos de língua, alteração na personalidade, perda de memória e da função intelectual. A fisiopatologia dessa doença é causada pela degeneração gradual de parte dos gânglios basais, localizados na base do telencéfalo, que, por sua vez, colaboram na coordenação dos movimentos. Doença de Pick Constitui demência frontotemporal; uma doença cerebral degenerativa com quadro parecido ao do Alzheimer, gerando embotamento emocional, inibição social, perda de habilidades e anormalidades da linguagem. Ocorrem alterações patológicas com atrofia grave, perda neuronal, gliose e presença de neurônios anormais, que são as células de Pick. Doença de Creutzfeldt-Jakob Encefalopatia espongiforme causada por príons, que acometem o sistema nervoso central, desenvolvendo-se em pessoas de 40 a 60 anos. Pode apresentar-se com perda da coordenação motora, ataxia, espasmos musculares, visão alterada, estado confusional e demência. Fonte: Videbeck (2012) e OMS (1993). 47 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 2.2 ESQUIZOFRENIA, DISTÚRBIOS PSICÓTICOS E DISTÚRBIOS RELACIONADOS A ÁLCOOL E DROGAS 2.2.1 ESQUIZOFRENIA Dalgalarrondo (2000) propõe que a esquizofrenia é a principal manifestação do quadro psicótico, devido à frequência e à importância clínica dessa doen- ça mental. Segundo Tandon et al. (2009), a esquizofrenia tem incidência de 15 a 42 casos novos por ano, por 100 mil habitantes no Brasil, com uma prevalên- cia de 0,4%, ou seja, 4,5 pessoas a cada 1000 habitantes. ESQUIZOFRENIA Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: um homem arrumando a gravata e olhando no espelho sua imagem fazendo um sinal positivo com o polegar direito e o cabelo desalinhado. A psicose, para Castro (2013), limita a realidade, fazendo com que as pes- soas avaliem de maneira errônea a exatidão de suas percepções e pensa- mentos. Essas limitações apresentam manifestações por delírios, confusão, alucinações e perda da memória. 48 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Os psiquiatras Eugen Bleuler (1857-1939) e Emil Kraepelin (1856-1926) foram os primeiros a usar o termo “esquizofrenia” para indicar a fal- ta de harmonia interna da função mental e a quebra do contato com o mundo real (VIDEBECK, 2012). A etiologia do transtorno esquizofrênico é composta por fatores orgânicos, psicológicos, orgânicos e sociais, configurando etiologia multifatorial. Quanto aos fatores orgânicos, diversos estudos, como expõe Castro (2013), apontam a ocorrência da disfunção de alguns neurotransmissores, como a serotonina, a dopamina, o gaba e o glutamato. Ainda sobre os fatores orgânicos, foi comprovado que gêmeos monozigóticos com parentes em grau direto com o transtorno esquizofrênico têm maior taxa de acometimento da doença. Nesse contexto, pesquisas apontam que pesso- as com aumento de terceiro e quarto ventrículos, redução de volume cortical e volume do complexo hipocampo-amígdala e do giro para-hipocampal de- monstram taxas elevadas de esquizofrenia. EMBOTAMENTO DO AFETO – SINTOMA ESQUIZOFRÊNICO Fonte: Wikimedia Commons (2006). #pratodosverem: mulher encostada a uma parede, olhando fixamente para o horizonte. A esquizofrenia, conforme comenta Castro (2013), é dividida em tipos, de acordo com os sintomas apresentados. Acompanhe os principais tipos de esquizofrenia: 49 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA • Simples: com a ocorrência do primeiro surto durante a adolescência, é caracterizada por progressiva excentricidade de comportamento, incapacidade de resposta e declínio do desempenho. Os sintomas vão se desenvolvendo gradualmente ao longo de um ano, com acentuação do declínio de funcionamento ocupacional. • Paranoide: caracterizada pela presença de delírios e de alucinações de perseguição. A esquizofrenia paranoide representa 80% dos quadros de esquizofrenia. • Hebefrênica: caracterizada pela perturbação dos afetos com presença de delírios e de alucinações fragmentários no início do quadro. Os pacientes com esse tipo de esquizofrenia tendem a ter isolamento social, embotamento afetivo e perda da volição. • Catatônica: caracterizada pelo domínio de distúrbios psicomotores, com extremos alternados: hipercinesia associada à violência intensa e ao estupor ou ao negativismo e à obediência automática. No estupor, o paciente não compactua com o ambiente, mantendo olhar fixo. • Indiferenciada: transtorno psicótico com critérios diagnósticos para esquizofrenia, mas não se enquadra em nenhum tipo. • Residual: trata-se do estágio crônico da doença, tendo como principais sintomas: embotamento afetivo, hipoatividade, passividade, discurso limitado e falta de iniciativa, pensamento ilógico, retraimento social, falta de autocuidado. • Esquizoafetivo: transtorno episódico no qual tanto os sintomas afetivos quanto os esquizofrênicos se manifestam. • Esquizofreniforme: semelhante à esquizofrenia, entretanto o que diferencia é a duração dos sintomas, em torno de um mês e menos de seis meses. Primeiro episódio de surto na adolescência. • Esquizotípico: o indivíduo com esse tipo de esquizofrenia apresenta comportamento excêntrico e deficiências no afeto e no pensamento. É marcado por um padrão de déficits sociais e interpessoais com desconforto e reduzida capacidade para relacionamentos íntimos somados a distorções cognitivas e perceptivas. 50 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CATATONIA: síndrome caracterizada por anormalidades de comportamento que incluem imobilidade ou excitação motora, negativismo, ecolalia (imitação da fala) ou ecopraxia (imitação de movimentos) de causa neurológica ou psicológica (JORGE, 2022). Os principais prejuízos cognitivos da esquizofrenia são: memória episódica, atenção, memória de trabalho, velocidade de processamento e função exe- cutiva frontal com fluência verbal (DALGALARRONDO, 2000). Observam-se, ainda, dificuldades na percepção e no gerenciamento de emoções, déficit na compreensão do contexto social, decodificação e identificação de dicas sociais de acordo com o ambiente. TRAÇOS ESQUIZOFRÊNICOS Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: colagem de três perspectivas: ao fundo, parte do cabelo e dos ombros de uma mulher; depois, a testa de um homem; e, na frente, uma mulher com olhar fixo e a mão direita na boca. 51 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Outros aspectos são relevantes a respeito da esquizofrenia, segundo Dalgalarrondo (2000): • O transtorno esquizofrênico combina sintomas negativos, positivos, desorganização mental, déficit psicomotor, de humor e de cognição. • Perda na função social. • Surgimento dos sintomas na adolescência ou início do período adulto. • Trata-se de uma doença crônica que apresenta surtos recorrentes, sem remissão completa. • A etiologia da doença não é conhecida. • Estudos neurológicos indicam que os pacientes têm volume cerebral e de massa cinzenta reduzidos, ventrículos alargados e estruturas de áreas mediais dos lobos temporais, córtex pré-frontal e tálamo reduzidas também. • A obesidade, o tabagismo, o uso de drogas ilícitase a ocorrência de doenças cardiovasculares constituem fatores de risco para a esquizofrenia. • Pacientes esquizofrênicos vivem de 15 a 25 anos a menos do que a população geral. Sobre o tratamento da esquizofrenia, a psicofarmacologia é a primeira es- colha, com uso de antipsicóticos neurolépticos obejtivando diminuir os sin- tomas psicóticos. Antigamente, a eletroconvulsoterapia, a psicocirurgia e o choque insulínico eram terapias usuais até o surgimento da clorpromazina, em 1952 (VIDEBECK, 2012). O tratamento das doenças mentais com a clorpromazina teve tantas vanta- gens, que a indústria farmacêutica passou a desenvolver outros antipsicóti- cos. Assim, fazem parte da terapêutica medicamentosa da esquizofrenia: a tioridazina, a flufenazina, as butirofenonas e as tioxantenas. O mecanismo de ação dos antipsicóticos bem como das outras classes me- dicamentosas para o tratamento do transtorno psíquico serão vistos na unidade sobre psicofármacos. 52 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 2.2.2 DISTÚRBIOS PSICÓTICOS Para Dalgalarrondo (2000), as síndromes psicóticas são caracterizadas por episódios de alucinações e de delírios associados à desorganização intensa do pensamento e do comportamento ou até mesmo catatonismo. Por conse- guinte, os distúrbios psicóticos podem apresentar-se como uma experiência persecutória ou de ameaça constante por pessoas ou por forças estranhas. DISTÚRBIOS PSICÓTICOS Fonte: Plataforma Public Domain Pictures (2023). #pratodosverem: imagem de rosto masculino fundido com a imagem de mãos na frente do rosto. Zimerman (1999) propõe que a psicose se divide em três: estado psicótico, psi- cose propriamente dita e condição psicótica. Assim, a psicose constitui uma condição de gravidade acentuada, em que há perda de contato com o real e distorção marcante na percepção e na relação com o mundo real. O quadro psicótico, de acordo com a Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-11), tem como principais sintomas: alucinações, delírios, desorganização marcante do pensamento e comportamento alterado. Além do mais, o paciente psicótico possui consciência precária de sua doença concernente aos sintomas e à condição clínica geral, representan- do um transtorno grave, perturbador e de difícil tratamento para indivíduo, família e comunidade. 53 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA O tratamento para o distúrbio psicótico envolve acompanhamento psiquiá- trico contínuo e medicamentos antipsicóticos por via oral ou intramuscular. Quando em fase aguda, controle de alterações de sinais vitais, intoxicações e desorientações. No surto psicótico, segundo HUF et al. (2009), a associação de haloperidol com prometazina é utilizada com sucesso. 2.2.3 DISTÚRBIOS RELACIONADOS A ÁLCOOL E DROGAS Segundo Castro (2013), o consumo de drogas psicoativas, no Brasil, tanto de produtos ilícitos quanto de produtos lícitos, tem aumentado nos últimos anos. Videbeck (2012) destaca que no Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (JORGE, 2022) as seguintes substâncias podem ser clas- sificadas como abuso de substância: álcool, anfetaminas, cafeína, cannabis, cocaína, alucinógenos, inalantes, nicotina, opioide, fenciclidina e sedativos hipnóticos ou ansiolíticos. USO ABUSIVO DO ÁLCOOL Fonte: Pxhere (2017). #pratodosverem: um homem com o rosto deitado sobre a mesa e com uma das mãos segurando uma garrafa de uma bebida alcoólica vazia. 54 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Os transtornos relacionados ao uso de drogas são divididos em dois gru- pos: transtornos de abuso e de dependência e transtornos gerados por substâncias, como síndrome de abstinência, delirium, demência, intoxica- ção, psicose, transtorno do humor, disfunção sexual, ansiedade e transtorno do sono (DSM-IV-TR, 2002). A intoxicação é o ato de usar uma substância que leva a um comporta- mento mal adaptativo. Já a abstinência é a reação física e psicológica ne- gativa ocorrida quando o uso contínuo de uma substância é interrompido. A desintoxicação propõe a interrupção com segurança do uso de uma droga ou de uma substância. Videbeck (2012) explica que o abuso de substância é a utilização de uma dro- ga que está em desacordo com normativas médicas sociais e com consequ- ências negativas. USO E ABUSO DE DROGAS Fonte: Freepik (2023). #pratodosverem: fotografia de vários comprimidos espalhados e de uma seringa com agulha desencapada sobre uma mesa. Para diagnosticar um indivíduo como dependente de drogas psicoativas, Cas- tro (2013), por meio da definição da Organização Mundial da Saúde, propõe que o indivíduo apresente, ao menos, três dos sinais e sintomas seguintes: 55 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA • Desejo ou compulsão de consumir drogas. • Dificuldade na capacidade de controle de ingestão de drogas. • Estado fisiológico de abstinência. • Uso de substâncias psicoativas para diminuir sintomas de abstinência. • Desenvolvimento de tolerância, o que envolve a necessidade de doses maiores para o alcance do efeito necessário. • Negligência de interesses e prazeres em função do uso de drogas. A maior problemática, para Videbeck (2012), está relacionada ao uso do álcool, pois é uma droga legalizada, amplamente utilizada e de fácil acesso. Outro problema é que o álcool desenvolve tolerância no indivíduo, sendo necessário maior consumo de álcool para produzir o efeito desejado. Observe os principais efeitos no organismo pelo uso prolongado da bebida alcoólica. EFEITOS DO USO ABUSIVO DO ÁLCOOL Hepatite Ascite Cirrose Miopatia cardíaca Pancreatite Esofagite Leucopenia Encefalopatia de Wernicke Trombocitopenia Encefalopatia de Wernicke Fonte: elaborada pela autora (2023). #pratodosverem: 10 quadros dos efeitos do uso abusivo do álcool: hepatite, cirrose, leucopenia, trombocitopenia, ascite, miopatia cardíaca, encefalopatia de Wernicke, Psicose de Korsakoff, pancreatite e esofagite. Para saber mais sobre o efeito do uso abusivo de drogas, assista à aula de diagnóstico e tratamento das intoxicações por drogas de abuso no link do vídeo. https://www.youtube.com/watch?v=PpBB8Dd0Tos 56 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Do grupo de sedativos, hipnóticos e ansiolíticos, os fármacos mais relaciona- dos ao uso abusivo são os benzodiazepínicos e os barbitúricos, com efeitos no organismo similares ao álcool, além de: fala confusa, coordenação alterada, marcha irregular, labilidade do humor, alteração na memória e na atenção, estupor e coma (VIDEBECK, 2012). Já o uso de cannabis causa sensação de euforia parecida com a do álcool, redução das inibições, relaxamento, aumento de apetite. Na intoxicação, a coordenação motora e a memória ficam prejudicadas e ocorre, ainda, a distorção de tempo e percepção. Para saber mais sobre os termos mais utilizados em saúde mental, acesse o Glossário de Termos Técnicos de Psiquiatria de Carvalho (2000). Para acessá-lo, clique aqui. USO ABUSIVO DE DROGAS Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: imagem de uma colher pequena com uma seringa e agulha com conteúdo líquido indicando droga, uma nota de dinheiro com pó branco em cima, dois cigarros e um saquinho contendo erva com a figura da maconha. http://viverenfermagem.wdfiles.com/local--files/apoio-arquivos-viver-enfermagem/Glossário%20SMP.pdf 57 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA Para melhorcompreensão, visualize as principais drogas com uso abusivo e seus respectivos tratamentos. Álcool A overdose deve ser tratada com lavagem gástrica e/ou hemodiálise para remoção da substância e melhora da função cardiovascular e respiratória em leito de terapia intensiva. Já a abstinência é tratada com uso de benzodiazepínicos: iazepam ou lorazepam. Sedativo, hipnóticos e ansiolíticos O tratamento consiste em lavagem gástrica, ingesta de carvão ativado e catártico salino, podendo ser utilizada a hemodiálise quando há gravidade dos sintomas. Estimulantes (anfetaminas, cocaína) O tratamento é realizado com o antipsicótico clorpromazina para controlar alucinações, reduzindo a pressão arterial e aliviando a náusea. Cannabis Tratamento sintomático. Opioides A administração da naloxona reverte a toxicidade dos opioides. Cabe lembrar que a overdose por opioides leva à depressão respiratória, ao coma e à morte. 58 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CONCLUSÃO Nesta unidade, foi possível reconhecer alguns dos sinais da demência, do de- lirium, do delírio, dos transtornos mentais confusionais, esquizofrênicos e re- lacionados ao uso abusivo de álcool e de outras drogas introduzindo, ao pro- fissional enfermeiro, o mundo complexo da Saúde Mental. Cabe lembrar, que você, futuro enfermeiro, é considerado um facilitador do cuidado holístico ao paciente com demandas psiquiátricas, baseando a prestação da assistência na solidariedade, na empatia, no respeito e na autonomia do indivíduo. Além do cuidado assistencial, o enfermeiro precisa desenvolver a habilida- de da escuta qualificada e do acolhimento, enxergando o paciente além da sua doença mental. Quanto a isso, o trabalho em equipe torna-se essen- cial, pois, só assim, o atendimento é realizado de forma integral ao paciente e à sua família. 59 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MATERIAL COMPLEMENTAR BERRIOS, G. E. Delirium e confusão mental no sécu- lo XIX: uma história conceitual. Revista Latino-ameri- cana de Psicopatologia Fundamental, [s. l.], v. 14, n. 1, mar. 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1415- 47142011000100012. Acesso em: 25 mar. 2023. GARCIA, L. P.; FREITAS, L. R. S. de. Consumo abusi- vo de álcool no Brasil: resultados da Pesquisa Nacio- nal de Saúde 2013. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília , v. 24, n. 2, p. 227-237, jun. 2015. Disponível em: http:// scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679- -49742015000200005&lng=pt&nrm=ver. Acesso em: 24 fev. 2023. SANTOS, C. S. dos; BESSA, T. A. de; XAVIER, A. J. 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Acesso em: 25 mar. 2023. https://doi.org/10.1590/S1415-47142011000100012 https://doi.org/10.1590/S1415-47142011000100012 http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742015000200005&lng=pt&nrm=iso http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742015000200005&lng=pt&nrm=iso http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742015000200005&lng=pt&nrm=iso https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.02042018 https://doi.org/10.1590/1413-81232020252.02042018 https://doi.org/10.1590/S0101-60832005000300002 https://doi.org/10.1590/S0101-60832005000300002 https://doi.org/10.1590/1413-81232018243.34492016 https://doi.org/10.1590/1413-81232018243.34492016 UNIDADE 3 OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que possa: 60 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA > Desenvolver um raciocínio crítico acerca dos distúrbios afetivos. > Conhecer os distúrbios neuróticos e dissociativos. 61 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA 3 TRANSTORNOS MENTAIS INTRODUÇÃO DA UNIDADE Esta unidade abordará as principais características dos distúrbios afeti- vos, neuróticos e dissociativos, promovendo um raciocínio acerca desses transtornos mentais. Na primeira parte, abordaremos os distúrbios do humor, divididos em episó- dio maníaco, transtorno bipolar afetivo e episódios depressivos e transtorno depressivo recorrente. TRANSTORNO MENTAL Fonte: Plataforma Public Domain Vectors (2022). #pratodosverem: homem sentado, com medo, dentro de uma bolha. Por fim, serão apresentados os distúrbios neuróticos e dissociativos que di- vidiremos em transtornos ansiosos, obsessivo-compulsivo e dissociativos de conversão. Acompanhe mais uma aula de saúde mental e boa leitura! 62 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3.1 DISTÚRBIOS DO HUMOR Castro (2013) propõe que a função psíquica do humor pode assumir variações em pessoas que não sofrem de transtornos mentais específicos. Os estados de alegria, prazer, tristeza, indiferença, irritabilidade ou desinteresse são co- muns. Portanto, a variação temporária do humor é uma característica do ser humano e não confere a ele um transtorno. Nos distúrbios do humor, as alterações podem ocorrer isoladamente, com fases ou episódios, recorrentes, persistentes ou misturados, ocasionando flutuações nos pacientes. Os transtornos de humor, de acordo com Castro (2013), compõem temas con- sideráveis para pesquisas quanto à relação deles com fatores hereditários. Contudo, esse fato ainda não foi comprovado claramente. Por conseguinte, as evidências apresentam os fatores familiares como importantes na determina- ção do desenvolvimento do transtorno bipolar. 3.1.1 EPISÓDIO MANÍACO O episódio maníaco pode ser considerado um estado de hiperexcitação das funções psíquicas, caracterizado pela exaltação do humor e pela liberação de impulsos instintivo-afetivas, aponta Castro (2013). Para Dalgalarrondo (2019), os principais sintomas da síndrome maníaca são a alegria exacerbada, a euforia, a elação – expansão do Eu –, a irritabilidade marcante e a grandiosidade de modo desproporcional aos acontecimentos da vida e diferentes do estado comum de alegria. No episódio maníaco, as funções psíquicas estão aceleradas, promovendo agitação psicomotora, pensamento acelerado e fuga de ideias. O pacien- te apresenta-se alegre, brincalhão, eufórico; em contrapartida, pode estar irritado, arrogante e agressivo. 63 MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SAÚDE MENTAL E ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA EPISÓDIO MANÍACO Fonte: Plataforma Deduca (2023). #pratodosverem: homem com capa de super-herói e coroa olhando para o lado e a mão esquerda apontada para cima e a mão direita para baixo. Castro (2013) aponta que delírios podem ocorrer em mais de 75% dos indiví- duos sendo a característica principal a mania de grandeza, que envolve situa- ções de superpoderes e habilidade especiais. A presença de logorreia, que é a fala atropelada e acelerada, assim como o aumento da tonalidade de voz e estridência, com associações, rimas e incoe- rências, fazem parte das características da mania. O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM-5 (AME- RICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014) e a
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