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Estatuto da Criança e do Adolescente Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Alessandra Fabiana Cavalcanti Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção • Da prevenção; • Da política de atendimento; • Medidas de proteção. · O Sistema de Proteção Integral, criado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, possui uma inegável preocupação com a prevenção de ações que possam lesar ou colocar em risco direitos das crianças e dos adolescentes. · Nesta unidade, iremos conhecer essas medidas preventivas, as quais possuem grande relevância para o trato de muitas questões que envolvem as crianças e os adolescentes. · Por outro lado, quando os direitos são efetivamente lesados ou há um inegável risco de que isso ocorra devem ser aplicadas as medi- das protetivas. · Nesta unidade iremos conhecer esses importantes assuntos! OBJETIVO DE APRENDIZADO Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Da prevenção Disposições gerais Dentro do Sistema de Proteção Total, previsto no Estatuto, a todos cabe preve- nir a ocorrência de ameaça ou de violação aos direitos da criança e do adolescente, que têm direito à informação, à cultura, ao lazer, aos esportes, às diversões, aos es- petáculos e aos produtos e serviços; contudo, sempre deve ser observada a neces- sidade de pleno respeito à sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. A pessoa física ou jurídica, que não respeita as normas de prevenção a serem estudas a seguir, receberá as sanções estabelecidas pelo Estatuto em razão de sua ação ou omissão. Prevenção especial Da informação, da cultura, do lazer, dos esportes, das diversões e dos espetáculos O poder público deve regular as diversões e os espetáculos públicos, sendo obrigatório informar a natureza deles, as faixas etárias a que se recomendem, os locais e os horários em que sua apresentação se mostre inadequada – é o que a lei chama de certificado de classificação. Seguindo as prescrições do certificado de classificação, os responsáveis pelas diversões e pelos espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada do local de exibição, essas informações, sendo que devem ser destacadas: • a natureza do espetáculo; • a faixa etária recomendada. A criança ou o adolescente deve ter acesso às diversões e aos espetáculos públicos classificados como adequados à sua faixa etária, sendo que as crianças menores de dez anos somente podem ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou em exibição, quando acompanhadas dos pais ou do responsável. Nas emissoras de rádio e de televisão, nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição. As empresas que se dedicam à venda ou ao aluguel de fitas (ou qualquer outro tipo de mídia, tais como DVD, streaming, locadoras on line, etc.) de programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou locação em desacordo com o certificado de classificação. Essas fitas (ou mídias) devem exibir, na embalagem ou em qualquer outra forma de apresentação utilizada, informação sobre a natureza da obra e a faixa etária a que se destinam. 8 9 Já as revistas e as publicações que possuem material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes devem ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo. Se as capas possuírem mensagens pornográficas ou obscenas devem ser protegidas com uma embalagem opaca. As revistas e as publicações destinadas ao público infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios de: • bebidas alcoólicas; • tabaco; • armas e munições. Além disso, devem respeitar os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Desse modo, não podem, por exemplo, possuir conteúdo que enalteça condutas racistas e preconceituosas. Estabelecimentos, que exploram comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos, ou seja, aquelas onde são realizadas apostas, não podem permitir a entrada e a permanência de crianças e de adolescentes no local, devendo ainda afixar aviso para orientação ao público. Dos produtos e dos serviços Em razão de sua particular situação de pessoa em desenvolvimento, o Estatuto vetou a venda de certos produtos a crianças e adolescentes que, de alguma forma, podem colocá-los em risco físico ou moral. Aqui, também, devemos enquadrar a proibição de venda a crianças e adolescentes de uma série de produtos que podem causar dependência física ou psíquica, mas que são de corriqueira utilização nas residências e em atividades empresariais. É o caso de colas (“cola de sapateiro”), solventes, tintas e esmaltes que, quando usados de forma indevida, podem causar essa consequência. ECA Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de: I - armas, munições e explosivos; II - bebidas alcoolicas; III - produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica ainda que por utilização indevida; IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida; V - revistas e publicações a que alude o art. 78; VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. 9 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Deve ser destacada a proibição de venda de fogos de estampido ou de artifício para crianças e adolescentes, exceção feita para materiais desse tipo que que não possuem capacidade de provocar danos físicos, mesmo em caso de utilização indevida, em razão do seu reduzido potencial. Outra importante restrição se refere à hospedagem em hotel, motel, pensão ou estabelecimentos congêneres. ECA Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou de adolescenteem ho- tel, motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou responsável. Da autorização para viajar Por causar importante risco, estabelece o Estatuto uma série de regras para a viagem de crianças e adolescentes para locais fora da comarca onde residem. A regra geral é a seguinte: “Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou do responsável, sem expressa autorização judicial” – artigo 83, caput. Essa autorização judicial não será exigida nas seguintes situações: • Quando se tratar de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana; • Se a criança estiver acompanhada; • de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documen- talmente o parentesco; • de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, pela mãe ou pelo responsável. Essa autorização expedida pelo juiz poderá, a pedido dos pais ou do responsável, ser expedida com validade de até dois anos. No caso de viagem para o exterior a autorização judicial é dispensável, se a criança ou adolescente: • estiver acompanhado de ambos os pais ou o responsável; • viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida. Por fim, estabelece o Estatuto que, sem expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do país em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior. 10 11 Da política de atendimento Disposições gerais A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente se faz por um conjunto articulado de ações governamentais e não governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Entidades de atendimento As entidades de atendimento são responsáveis pelo planejamento e pela exe- cução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adoles- centes, em regime de: • orientação e apoio sócio familiar; • apoio socioeducativo em meio aberto; • colocação familiar; • acolhimento institucional; • prestação de serviços à comunidade; • liberdade assistida; • semiliberdade; e • internação. Elas podem ser governamentais ou não governamentais sendo que estas últimas somente podem funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Esse registro tem prazo de validade máximo de quatro anos. Tanto as entidades governamentais como as não governamentais devem ins- crever seus programas (especificando os regimes de atendimento) no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, tendo esse órgão a incum- bência de comunicar essas informações ao Conselho Tutelar e à Vara da Infância e da Juventude. Os programas em execução devem ser reavaliados pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, no máximo, a cada dois anos, particularmente, para que sejam verificadas questões como o pleno respeito dos direitos das crianças e dos adolescentes e a qualidade do serviço prestado. Havendo irregularidades não poderá ocorrer a renovação da autorização de manutenção do programa. 11 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Essas entidades (governamentais ou não) devem receber recursos públicos destinados à implementação e à manutenção desses programas, sem prejuízo do recebimento de recursos privados. Entidades que desenvolvem programas de acolhimento O programa de acolhimento tem grande importância na estrutura do Estatuto, pois pode representar um passo para a colocação da criança ou do adolescente em uma família substituta ou, por outro lado, pode representar o retorno para a convivência com sua família natural – resolvendo uma série de situações ligadas ao abandono. Em razão de sua importância, a lei dedica especial atenção às entidades que de- senvolvem esse programa, seja na modalidade familiar ou institucional. O importante é que elas busquem preservar ou reatar os vínculos familiares (na família natural ou extensa) e, na impossibilidade, devem buscar a colocação em uma família substituta. O dirigente de entidade que desenvolve programa de acolhimento institucional é equiparado ao guardião para todos os efeitos de direito. Esses dirigentes dessas entidades devem remeter à Vara da Infância e da Juven- tude, no máximo a cada seis meses, relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança ou adolescente acolhido e sua família. As entidades que desenvolvem programa de acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia determinação do Juiz da Infância e da Juventude, contudo, devem, no prazo de 24 horas, comunicar essa ocorrência à Vara da Infância e da Juventude. Entidades que desenvolvem programa de internação A internação é a medida socioeducativa mais gravosa (aplicada no caso de atos infracionais mais graves praticados por adolescentes), razão pela qual o Estatuto estipulou que as entidades que realizam esse programa devem: ECA Art. 94 [...] I - observar os direitos e as garantias de que são titulares os adolescentes; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido objeto de restrição na decisão de internação; III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas unidades e grupos reduzidos; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito e de dignidade ao adolescente; V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares; 12 13 VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento dos vínculos familiares; VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os objetos necessários à higiene pessoal; VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos; IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e farmacêuticos; X - propiciar escolarização e profissionalização; XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer; XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem, de acordo com suas crenças; XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso; XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à autoridade competente; XV - informar, periodicamente, o adolescente internado sobre sua situação processual; XVI - comunicar às autoridades competentes todos os casos de adolescentes portadores de moléstias infectocontagiosas; XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos adolescentes; XVIII - manter programas destinados ao apoio e ao acompanhamento de egressos; XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício da cidadania àqueles que não os tiverem; XX - manter arquivo de anotações no qual constem data e circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences e demais dados que possibilitem sua identificação e a individualização do atendimento. Fiscalização das entidades A fiscalização das entidades que desenvolvem programas voltados para as crianças e os adolescentes é realizada: • pelo Poder Judiciário (sobretudo pelos Juízes da Infância e da Juventude); • pelo Ministério Público; e • pelo Conselho Tutelar. No caso das entidades que desenvolvem programa de internação, o descumpri- mento de suas obrigações estipuladas no artigo 94 acarreta as seguintes medidas: 13 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção • No caso de entidades governamentais:» advertência; » afastamento provisório de seus dirigentes; » afastamento definitivo de seus dirigentes; » fechamento de unidade ou interdição de programa. • No caso das entidades não governamentais: » advertência; » suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas; » interdição de unidades ou suspensão de programa; » cassação do registro. Medidas de proteção Disposições gerais As chamadas medidas de proteção são uma série de providências criadas pelo Estatuto para situações em que os direitos da criança ou do adolescente estejam sendo ameaçados ou violados: ECA Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I - por ação ou por omissão da sociedade ou do Estado; II - por falta, por omissão ou por abuso dos pais ou do responsável; III - em razão de sua conduta. No antigo Código de Menores (revogado quando entrou em vigor o ECA), essas situações eram nominadas como sendo aquelas em que a criança ou o adolescente encontrava-se em situação de risco. Muito embora essa legislação não mais esteja em vigor, é perfeitamente possível continuar a utilizar essa denominação. Em cada caso concreto devem ser verificadas qual ou quais dessas medidas devem ser aplicadas, visto que elas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo. Contudo, sempre deve ser dada preferência para aquelas medidas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. 14 15 As medidas de proteção, sempre que necessário, devem acarretar a regulariza- ção do registro civil da criança ou do adolescente. É o caso, por exemplo, de uma criança de poucos meses que é inserida em um programa de acolhimento sem que haja qualquer notícia de seus pais ou de sua origem. Assim, nessa situação se pro- videnciará seu registro de nascimento com os elementos que estiverem disponíveis. Medidas específi cas O ECA estabelece no artigo 101 as medidas específicas de proteção, contudo, há possibilidade de aplicação de outras, sempre que se verificar a sua necessidade e desde que sejam respeitados os princípios firmados por essa norma. Encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade Essa medida, apesar de ser a mais simples, pode resolver uma série de situações, tais como aquelas em que uma criança de pouca idade é encontrada perdida de seus pais. Não podemos esquecer que essa medida de proteção, tal como as demais, pode ser aplicada de forma cumulativa com outras. Orientação, apoio e acompanhamento temporários Em alguns casos, particularmente quando a família natural se mostra mal estruturada, pode ser importante essa medida, sobretudo para se evitar que haja uma agravação na situação da criança ou do adolescente. Ela, apesar de ser temporária, não comporta prazo certo, devendo subsistir até que seja verificada a cessação das causas que lesem ou ameacem os direitos da criança ou do adolescente. Matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental Como vimos anteriormente, o Estado deve proporcionar o acesso das crianças e dos adolescentes ao ensino fundamental. ECA Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria; [...] 15 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Por outro lado, decorre do poder familiar o dever dos pais de criar condições para que seus filhos frequentem o ensino fundamental. ECA Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, de guarda e de educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais. Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta Lei. Caso essa frequência não ocorra, seja em razão do Estado não proporcionar o seu acesso, seja em razão da omissão dos pais em matricular seus filhos ou garantir-lhes condições para que frequentem a escola, poderá ser aplicada essa medida protetiva. É o caso, por exemplo, da inexistência de vagas no ensino fundamental público disponibilizado próximo da residência da criança. Nesse caso, poderá o Juiz da Infância e da Juventude determinar que os dirigentes públicos resolvam esse pro- blema, pois isso afeta, de forma contundente, os direitos dessa criança. Inclusão em serviços e em programas oficiais ou comunitários de proteção, de apoio e de promoção da família, da criança e do adolescente Essa medida protetiva é especialmente importante naquelas situações em que a família natural se encontra em situação de miséria. Como vimos anteriormente, decorre do poder familiar uma série de deveres, os quais, quando não cumpridos, podem acarretar a suspensão ou a perda desse poder. Contudo, no caso de miserabilidade, essa consequência não pode ocorrer, devendo a família ser inserida em um programa oficial de auxílio. ECA Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar. § 1º Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em serviços e em programas oficiais de proteção, de apoio e de promoção. [...] Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial O direito da criança e do adolescente a um atendimento integral à sua saúde está assegurado no artigo 11 do Estatuto, sendo que, diante de um obstáculo a esse pleno pode ser resolvido, em situações concretas, pela aplicação dessa medida protetiva. 16 17 ECA Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. [...] Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, de orientação e de tratamento a alcoolatras e toxicômanos Esta medida protetiva decorre da anterior havendo, na verdade, uma verdadeira demonstração do legislador da sua preocupação com o alcoolismo e outras toxicomanias e as consequências que elas têm em crianças e em adolescentes. Acolhimento institucional O acolhimento institucional ou familiar é normalmente uma medida protetiva aplicada para resolver diversas situações, tais como: • Em casos emergenciais que o Poder Público ou a sociedade se depara, tal como naqueles casos em que adolescentes ou crianças (muitas vezes com poucos dias de vida) são encontradas em situação de completo abandono. • Dar atendimento para crianças e para adolescentes que, em razão de maus tratos ou mesmo crimes contra eles praticados por seus pais ou responsável, não podem continuar a conviver (pelo menos nesse primeiro momento) com os autores dessas condutas. • Dar atendimento para criança ou para adolescente que, por qualquer razão, esteja afastado de sua família natural ou extensa, enquanto essa situação não é resolvida. • Dar atendimento para criança ou para adolescente que se encontra em proces- so de colocação em família substituta. Assim, o acolhimento se destina sempre a ser uma medida provisória e excep- cional, não podendo ser confundido com qualquer forma de privação de liberdade. O encaminhamento de criança ou de adolescente para o acolhimento institucional (exceto emsituações emergenciais) somente pode se dar por atuação do Juiz da Infância e da Juventude. Imediatamente, após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de acolhimento institucional ou familiar deve elaborar um plano individual de atendimento, visando à reintegração familiar, salvo em situações excepcionais determinadas pelo Juiz da Infância e da Juventude. O acolhimento familiar ou institucional deve ocorrer no local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família de origem será incluída em 17 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. Sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem, a entidade que desenvolve o programa deve enviar relatório ao Ministério Público, propondo a destituição do poder familiar, ou a destituição de tutela ou de guarda. Após o recebimento desse relatório, o Ministério Público deve ingressar com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. Ao final dessa ação, as crianças ou os adolescentes deverão ser incluídas no ca- dastro de crianças e de adolescente que podem ser colocadas em famílias substitutas. Inclusão em programa de acolhimento familiar O acolhimento familiar é sempre preferível ao institucional, pois possibilita uma maior atenção à criança ou ao adolescente, razão pela qual essa modalidade deve ser empregada, sempre que for possível e houver famílias dispostas a participar dessa medida. Colocação em família substituta É uma medida de proteção para as diversas situações que foram tratadas em nossa aula específica sobre esse tema. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Estatuto da Criança e do Adolescente https://goo.gl/9ULiJB Constituição Federal https://goo.gl/zaRrL Código Civil https://goo.gl/1k18iF Código de Processo Civil https://goo.gl/6b0EbE 19 UNIDADE Prevenção, Política de Atendimento e Medidas de Proteção Referências CUNHA, Rogério Sanches; LÉPORE, Paulo Eduardo; ROSSATO, Luciano Alves. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. CURY, Munir. Estatuto da criança e do adolescente comentado. 12. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. ISHIDA, Valter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012. 20
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