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F R E N T E 1 31 como a desconsideração de grupos étnicos e minoritários e também o não reconhecimento civil ou de cidadania de determinados grupos, transformando-os muitas vezes em apátridas, são as principais causas que levam as pessoas a se deslocar, tanto de forma espontânea quanto forçada, buscando asilo político ou então tornando-se refugiadas. O fato mais recente que envolve a perseguição do Es- tado a determinado grupo é o caso dos mais de 700 mil rohingyas que desde 2017 fugiram de Myanmar, no sul asiá tico, para Bangladesh em uma tentativa de escapar da brutal repressão do exército. O povo rohingya é de origem tibe- tano-birmanesa, muçulmano e apátrida, ou seja, sem uma nação definida. Em decorrência desse genocídio rohingya, ocorreu o maior êxodo do mundo contemporâneo, e o cam- po de refugiados de Kutupalong abriga parte dos migrantes que fugiram de Myanmar Refugiados, deslocados e apátridas Refugiados são pessoas que saíram de seus países por serem perse- guidas ou estarem ameaçadas por conta de sua cor, etnia, religião, opinião política, conflitos civis e violncia generalizada Segundo dados da ONU, atualmente há cerca de 68,8 milhes de pes- soas deslocadas força pelo mundo. Dessas, cerca de 40 milhes são deslocadas internas, 25,4 milhes são refugiados e 3,1 milhes são solicitantes de refgio. Os deslocados são aqueles que deixaram seus lares por motivos semelhantes aos dos refugiados, mas que não deixaram seus países. A Colômbia é o país com maior nmero de deslocados, cerca de 7,4 milhes. Os apátridas são aqueles a quem foi negada cidadania e que não são reconhecidos oficialmente por nenhum país e, portanto, não tm o direito de viver em lugar nenhum. Calcula-se que sejam em torno de 10 milhes de pessoas. Pouco mais da metade de todos os refugiados do mundo é originá- ria de apenas trs países: Sudão do Sul (2,4 milhes), Afeganistão (2,6 milhões)e Síria (6,4 milhões). E os países que mais recebem os refugiados são: Turquia, Uganda, Paquistão, Líbano e Irã, em ordem decrescente em nmero de pessoas acolhidas. Cerca de 85% das pessoas que foram obrigadas a se deslocar estão em países pobres ou em desenvolvimento Saiba mais Imigração no Brasil O Brasil sempre teve um papel de atração de imigrantes, no conjunto dos fluxos internacionais, desde a chegada dos colonizadores Apesar de a emigração ter crescido no final do século XX, o país sempre recebeu mais migrantes do que perdeu. Entretanto, atualmente o percentual de estrangeiros na população brasileira é pequeno, cerca de 0,3% dos habi tantes. Para efeitos de comparação, nos Estados Unidos esse número é de cerca de 15% e na Europa é de 11%. A influência dos imigrantes na formação da população de nosso país é muito grande São portugueses, espanhóis, italianos, alemães, japoneses, africanos, árabes, latino -americanos etc. Os variados ciclos imigratórios tiveram diferentes motivações ao longo da história, tanto as situa ções internas e nacionais, que atraíram os imigrantes, como os contextos externos que os expulsaram de seus países. Até 1808 Até 1808, ano que marca a abertura dos portos no Brasil, após a chegada da família real, só os portugueses tinham permissão para entrar no território brasileiro. Por- tanto, foram estes que ocuparam o território, dizimaram e dominaram muitas das nações indígenas. A vinda dos portu- gueses deu-se, primeiramente, em direção à Zona da Mata nordestina, para a cultura da cana-de-açúcar, em alta até o século XVII O cultivo do açúcar atraiu também holandeses, que tentaram dominar a produção no Nordeste, bem como alguns milhares de espanhóis, que para cá vieram durante os anos da União Ibérica (1580-1640) Durante o ciclo do ouro, outro período de grande entrada de portugueses no Brasil, milhares de pessoas desembarcaram nos portos do Rio de Janeiro e seguiram para Minas Gerais. De 1808 a 1850 Essa fase é marcada pela transferência da sede do governo português para o Brasil, com a vinda da família real, ameaçada por Napoleão na Europa, e termina com a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravizados para o país. O número de imigrantes nesse período foi pequeno e se concentrou nas atuais regiões Sudeste e Sul, e esse ciclo migratório foi patrocinado pela Coroa por diferentes razões. Uma delas foi promover a efetiva ocupação do território para evitar invasões, que eram frequentes nas fronteiras ao Sul do país e que, mais tarde, culminaram até em conflitos armados (Guerra da Cisplatina, entre 1825 e 1828, e Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870). Outra razão foi o projeto de branqueamento da população brasileira, majoritariamente negra – fato que chocou a Coroa, que comungava de valores racistas. A principal estratégia para atrair europeus para terras brasileiras foi a cessão, doação e venda de pequenos lotes de terra para que famílias pudessem nelas trabalhar O pe- queno fluxo de pessoas nesse período foi justificado pela instabilidade política, pela distância entre os países e pelo desconhecimento a respeito do Brasil, bem como pela oferta de mão de obra escravizada, ainda existente na sociedade brasileira. O fluxo desse período foi composto basicamente de famílias de açorianos, suíços, alemães e prussianos. Veja a seguir alguns dos imigrantes que chegaram ao Brasil nesse período e as principais regiões ocupadas por eles. y Alemães: esses imigrantes ocuparam o vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, onde hoje existem as cida- des de São Leopoldo e Novo Hamburgo. Além disso, povoaram também o Vale do Itajaí, em Santa Catarina, onde surgiram cidades como Blumenau e Joinville y Italianos: depois dos portugueses, os italianos são os imigrantes mais frequentes no Brasil Grande parte deles dirigiu-se ao estado de São Paulo, mas há várias concentrações no Sul Nessa região, eles se instala- ram nos planaltos do nordeste gaúcho, fundando as cidades de Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Gari- baldi, onde formaram uma região produtora de vinho. Ocuparam, ainda, o sudeste de Santa Catarina e fun- daram as cidades de Criciúma e Urussanga. GEOGRAFIA Capítulo 8 Demografia32 y Eslavos: poloneses, ucranianos e russos foram, princi palmente, para o Paraná, onde hoje se encontram as cidades de Curitiba e Avaí. Porém, há alguns núcleos no Rio Grande do Sul que apresentaram grande difi- culdade de adaptação cultural. De 1850 a 1934 Na segunda metade do século XIX, as leis antiescravis tas que prenunciavam o fim da escravidão no país, como a proibição do tráfico, levaram muitos fazendeiros e em- presários envolvidos com a próspera economia cafeeira a fazer programas de imigração, custeando as despesas dos migrantes durante o primeiro ano de trabalho e até, em alguns casos, fornecendo uma parcela de terra para cultivo de gêneros de primeira necessidade. Envolvida em uma mentalidade racista, que colocava o negro como “pouco apto ao trabalho livre”, a elite paulista achava que deveria substituir a mão de obra escrava pela dos imigrantes brancos Os principais grupos que entra ram no país durante esse período eram majoritariamente compostos de italianos, que eram recrutados na Europa para trabalhar nas plantações de café. Contudo, também foi muito significativa a chegada de portugueses, espanhóis, alemães e japoneses. Foi nessa fase que ocorreu a maior entrada de imigrantes no Brasil. A esperança dessas pessoas era acumular um pouco de dinheiro e comprar suas próprias terras, o que raramente acontecia. Com a exploração que ocorria nas fazendas de café (as condições de trabalho e a baixa remuneração explicam a expressão “escravidão branca”, que foi cunhada na época) e as crises que foram se seguindo, esses imigrantes passaram a deixar o campo em direção à cidade, principalmente à capital paulista Chegando à cidade, tornaram-se operários de fábrica e formaram os bairros italianos de São Paulo. Tiveram também grande participação nos movimentos sindicais da época. A vinda dos japoneses, iniciada em 1908 e intensificada entre 1925 e 1935, representou o últimogrande fluxo migra- tório para o Brasil. A maioria deles instalou-se no estado de São Paulo, onde passaram a trabalhar no setor de hortaliças e no cultivo de arroz e algodão. Um grupo numeroso foi para o estado do Pará, nas proximidades de Belém, onde iniciou o cultivo da pimenta-do-reino. Após esse período, o governo passou a controlar a entrada de imigrantes, que continuaram a chegar ao país, vindos de diferentes lugares e por motivos variados De 1934 em diante Com exceção das décadas de 1950 e 1970, esse período é caracterizado pela acentuada queda do fluxo imigratório para o país. Isso se explica por fatores legais, como a Lei de Cotas de Imigração, estabelecida pela Constituição em 1934, que limitava a entrada anual de imigrantes, bem como pela reorientação dos fluxos migratórios internacionais, pelos períodos de recessão econômica e pelas crises políticas. A partir da década de 1940, período marcado pela Se- gunda Guerra Mundial, vieram para o Brasil judeus e muitos outros europeus (poloneses, italianos, alemães etc.), além de asiáticos, como japoneses e chineses. Na década de 1970, com a descolonização de países africanos, o país passou a receber angolanos e moçambicanos, muitos deles descen- dentes de portugueses Ademais, o crescimento econômico do Brasil nessa década atraiu imigrantes de países vizinhos, como Argentina, Chile e Uruguai, nos quais os regimes di- tatoriais tornavam se mais rígidos e a economia passava por dificuldade. Porém, com a grande recessão econômica brasileira na década de 1980, o país deixou de ser atrativo. Desde 1990, o fluxo de imigrantes peruanos, bolivianos, paraguaios, argentinos e coreanos aumentou, e o Brasil recebeu uma nova leva de chineses. Muitos deles vieram ilegalmente e acabaram trabalhando de forma clandestina em empresas ou como ambulantes. Em 2009, o governo brasileiro aprovou uma lei anistiando os imigrantes ilegais, que, assim, passaram a ter a possibilidade de regularizar sua situação e deixar de se submeter a condições desu- manas, em alguns casos de trabalho análogo à escravidão. Entre 2000 e 2015, foi registrada a entrada de pouco mais de 870 mil imigrantes, sendo 367 mil registrados em São Paulo. A partir de 2010, ocorreu uma chegada mais expres siva de haitianos e sírios, bem como de latino-americanos. Da imigrao emigrao Como vimos, até a primeira metade do século XX, o Bra- sil foi o destino de várias correntes migratórias, oriundas da Europa e da Ásia. Atualmente, no entanto, ocorre o contrário, e o país passa por um significativo aumento da emigração. As diversas crises vividas por nossa economia des- de a década de 1980 acabaram fazendo com que muitos brasileiros fossem buscar melhores condições de vida na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e mesmo em países vizinhos, como no Paraguai e na Argentina. O perfil típico dos brasileiros que deixaram o país nas úl- timas décadas é composto de jovens e adultos entre 19 e 45 anos, com formação escolar secundária e superior, das clas- ses média e alta, que têm disponibilidade de recursos para custear a viagem, sobretudo para os países desenvolvidos. Essas características demonstram a vontade de en- contrar, em outros países, melhores oportunidades de crescimento profissional ou financeiro, e não simplesmente a garantia da sobrevivência. Tal situação é bastante comum entre os decasséguis, descendentes de japoneses que vão trabalhar no Japão, ou entre os brasileiros que vão para os Estados Unidos. Existe também, embora em quantidade bem limitada, outro tipo de fluxo migratório, chamado de “migração de cérebros”, que envolve os emigrantes com alta qualificação profissional. Essas pessoas, geralmente pesquisadores de diversas áreas, não conseguiram desenvolver suas ambições profissionais no país de origem e acabam buscando, em países economicamente mais desenvolvidos, o acesso à infraestrutura material e financeira para realizar seu trabalho. Há, ainda, os emigrantes em condição econômica menos privilegiada, que deixam o Brasil para encontrar em- pregos na área rural ou urbana em países vizinhos. Dentre eles, destacam-se os brasiguaios, brasileiros que emigraram para o Paraguai em busca de emprego no campo. F R E N T E 1 33 Revisando 1 Como o formato da pirâmide etária evolui de acordo com as transformações das dinâmicas demográficas? 2 Quais as principais consequências do envelhecimento da população nos países ricos? E nos países pobres? 3 Explique os fatores responsáveis pela evolução do formato da pirâmide etária brasileira. 4 Por que os dados sobre o percentual das etnias na constituição da população brasileira provavelmente não traduzem a realidade do país? 5 Quais são os diferentes status que as terras indígenas brasileiras recebem e que desafios isso representa para seus povos? 6 O que promoveu a relativa interiorização da população brasileira?
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