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Um itinerário poético segundo os 
EX ERCÍCIOS ESPIRITUAIS
No princípio era a
JESUÍTAS BRASIL
O R G A N I Z A D O R
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
No princípio era a
O R G A N I Z A D O R
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
G R U P O D E T R A B A L H O : 
Miguel Martins, SJ 
Raquel Beatriz Junqueira Guimarães 
Paulo Moregola 
Davi Caixeta, SJ 
José Laércio de Lima, SJ
JESUÍTAS BRASIL
Copyright ©Jesuítas Brasil
C O O R D E N A Ç Ã O E D I T O R I A L , P R O J E T O G R Á F I C O E D I A G R A M A Ç Ã O
Comunicação da Província do Brasil
I L U S T R A Ç Ã O D A C A PA
Claudio Pastro
P E S Q U I S A I C O N O G R Á F I C A
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
(2022)
Todos os direitos desta edição reservados à
P R O V Í N C I A D O S J E S U Í TA S D O B R A S I L
Rua Bambina, 115, Botafogo
Rio de Janeiro, RJ - Brasil
www.jesuitasbrasil.org.br
Tel.: (21) 3622-0236
S u m á r i o
PRÓLOGO 
5
INTRODUÇÃO 
9
INTRODUÇÃO AOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
20
POEMAS DO PEREGRINO 
319
5
Pediram-me para apresentar este livro de jovens poetas. Tentarei 
escrever apoiando-me na experiência, não só na minha, embora eu não seja 
jovem, nem tenha pretendido escrever poesias que possam ser classificadas 
segundo modelos literários. Nos meus salmos há poesia, mas não há uma 
opção por um gênero determinado. O que me interessa é ser claro e, em 
alguns casos, me expressar de forma que possa chegar a outras pessoas. 
Alguns salmos são mais poéticos e outros mais mistagógicos.
Minha inspiração é a forma da poesia bíblica, tão presente em alguns 
profetas e nos Livros Sapienciais. O povo entende a sua linguagem, 
identifica-se com ela e, em muitos casos, os salmos e as orações tornam-
se a sua oração permanente, porque resumem, de forma muito afetiva, o 
momento da sua vida.
Quando a linguagem do encontro com Deus, tanto da sua presença 
como do seu escondimento, que é outra forma de provocar o nosso vazio 
sem fim, se torna pequena e carcereira, todos procuramos instintivamente 
linguagens mais poéticas, mesmo que não pretendamos nos enquadrar em 
nenhum molde definido de poesia.
p ró l o g o
Benjamín González Buelta, SJ
6
A poesia nasce quando nos adentramos no mistério, e se esse mistério 
é o abismo inesgotável do Amor de Deus, abre-se para nós um encontro 
com Ele que não tem ponto final, nem no caminho percorrido dentro 
de sua intimidade, nem na iluminação da nossa. O encontro com Deus 
também não se esgota quando entramos em toda a extensão da história, 
na surpreendente beleza e sabedoria da criação, nas criações fascinantes 
dos povos e das culturas, ou nas relações com cada pessoa humana. Às 
vezes podemos sentir que a única forma de nos expressarmos é o silêncio 
surpreendido que continua a ressoar no coração e no corpo, e que de forma 
alguma queremos arranhar com a limitação de nossa palavra. Pode ser que 
esse silêncio mais tarde nos presenteie com alguma palavra ou imagem 
inesperada e fecunda.
Às vezes ouvimos dizer que o nosso tempo não é propício a esse tipo 
de experiência, por causa da velocidade e da estridência que assaltam os 
nossos sentidos e marcam o ritmo dos nossos passos e das nossas decisões 
7
mais ou menos colonizadas. Não conseguimos encontrar facilmente no 
nosso itinerário espaços privilegiados que nos levem à calma e, por vezes, 
só dedicamos tempo a um burburinho que se embaralha sozinho dentro de 
nós com uma lógica que nos escapa.
Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que hoje a comunicação do 
nosso universo interior pode ter outros códigos. Há alguns anos, prestei 
atenção em uma jovem que tinha uma tatuagem que percorria a parte 
interna de todo o seu antebraço. Eu perguntei a ela o que aquele desenho 
significava. Ela me disse: “É um nome que eu não quero esquecer nunca, 
que preciso ter sempre diante dos olhos, que seja tão duradouro quanto a 
minha vida. É o nome da minha avó. Senti nela um amor tão incondicional, 
que sempre continua a me inspirar em qualquer situação que eu viva”. A 
cultura de hoje, que valoriza tanto a sensibilidade, a afetividade e o corpo, 
e onde os sentidos são tão estudados e impactados, pode ser tão sensível 
quanto em outras épocas, para acolher a linguagem a que recorremos para 
expressar a profunda experiência de Deus, que é o Amor em todas as suas 
inúmeras expressões.
Quando a experiência de Deus se aprofunda, sentimos em muitas 
ocasiões que a linguagem racional e lógica dos discursos sobre Deus não 
pode recolher e expressar nossa experiência. Procuramos, então, outras 
linguagens mais imaginativas e simbólicas que nos possam referir a essa 
experiência sem pretender capturá-la, sem guardá-la como uma carteira 
de identidade, mas como um passaporte que nos abre para o melhor de 
toda a realidade. Também sentimos que, quando lemos em outras pessoas 
intimidades expressas com palavras evocadoras, podem-se despertar 
nossas dimensões mais profundas, e sentimos que de alguma forma elas 
estão falando de nós.
Os Exercícios Espirituais, que nos situam no centro do nosso ser e do nosso 
devir, nos “exercitam” durante a primeira semana, para alicerçar a nossa vida 
no amor de Deus, que nos ajuda a reconhecer e acolher o nosso pecado, 
para que ele não nos desintegre a partir das sombras onde se esconde, 
mas nos liberte e possamos ser recriados pela misericórdia de Deus na qual 
8
sempre vivemos. Depois, o exercitante concentra-se em contemplar, com os 
sentidos da imaginação, o Filho encarnado que nos surpreende com a sua 
maneira de olhar o mundo. Com o seu olhar livre, o exercitante descobre por 
onde passa o reino de Deus, e fala e age de uma nova maneira.
Essa contemplação de Jesus vai mudando a nossa sensibilidade para 
que também nós, com os nossos sentidos, possamos perceber o mundo 
com todo o seu realismo. Poderemos contemplar que a última verdade da 
realidade é a presença ativa de Deus. Os místicos não são os que têm visões, 
mas os que contemplam Deus como a última dimensão do real, com o seu 
dinamismo de reconciliação de tudo o que foi criado. Os Exercícios não nos 
ajudam apenas a ordenar nossa afetividade para ordenar nossa vida; eles 
também mudam nossa sensibilidade para “sentir e saborear” toda a nossa 
vida de outra maneira. A novidade inesgotável de Deus sobre a realidade 
nos surpreende e unimos nossa criatividade com a dele. Nesse momento, 
os olhares desencantados se encantam, e se descobre o futuro novo em 
pessoas e situações das quais ouvimos dizer que não pode sair nada de 
novo e bom.
Nesse tão intenso processo de relacionamento com Deus e com a reali-
dade, podem nascer palavras e ações novas, até mesmo tão transgressoras 
quanto as de Jesus. A linguagem poética pode oferecer palavras e imagens 
que permanecem em nossa intimidade como memória da graça de Deus e, 
às vezes, como ajuda para que outros também se aproximem de Deus e da 
realidade com um olhar que, com a mesma força com que sofrem a dureza 
do real, descubram mais profundamente a ação de Deus que a transforma. 
Ele nos convida a associarmo-nos à sua própria missão de encantamento, 
sem saber onde acaba a sua mão e começa a nossa.
Hoje todos necessitamos de palavras, imagens, símbolos, que emanam 
do centro de toda a realidade e que não carregam entranhas de negócio, de 
apropriação ou de exclusão, mas se oferecem aos paladares que procuram 
saborear a vida em sua verdade mais profunda e mais bela.
9
POESIA COMO EXERCÍCIO ESPIRITUAL
A relação entre Exercícios Espirituais e Poesia pode ser encontrada 
já nas Constituições da Companhia de Jesus, integrando aquilo que os 
jesuítas “han de studiar”, nomeadamente as “Letras de Humanidad” que 
compreendiam “retórica, poesía y historia”, tendo por referência o tratado 
sobre a Poética de Aristóteles, e a partir dele, o estudo dos clássicos. Dito 
de outro modo, para Inácio a formação literária de um jesuíta comporta 
obrigatoriamente o estudo da literatura como forma de acesso ao humanismo 
comum compartilhado entre os clássicosda Antiguidade e o cristianismo, (cf. 
Constituciones de la Compañia de Jesus, Capítulo 5 [“De lo que los Scolares 
de la Compañia han de studiar”], nn. [351-352]; ainda cf. Cuarta Parte, 
Capítulo 12 [“De las Faculdades que se han de enseñar en las Universidades 
de la Compañia”], n. 2 A [448]). Essa abertura aos clássicos, própria da herança 
cultural da Renascença, era em si, ainda para o século XVI, um lugar de 
fronteira, dado o empenho de algumas figuras eclesiais em superar o que era 
considerado um modismo perigoso por flertar com não cristãos.
Essa preocupação com a poesia, na perspectiva inaciana, pode ser 
relacionada à consciência de que “o modo de falar ajude o modo de sentir” 
Alex Villas Boas
i nt ro d u çã o
10
(cf. Examen, Capitulo 4 [“De algunas cosas que más conviene saber a los 
que entran, de lo que han de observar en la Compañia”], n. 7 C [62]). E nesse 
sentido a poesia é uma mediação, ou seja, fundamentalmente um meio de 
ajudar as pessoas em duas coisas: a “fazer uma reflexão sobre si” e a provocar 
“santos desejos” (cf. Cuarta Parte, Capítulo 8 [“Del instruir los scolares en los 
médios de ayudar a sus próximos”], 4 D [407]; cf. ainda n. 45 [102]).
Tal relação entre o despertar de afetos e reflexão sobre si, mediada pela 
linguagem constitutiva de uma lógica poética, como diria Giambatistta 
Vico (1668 – 1744), perpassa toda a história do pensamento Ocidental e 
Oriental na medida em que é a lógica própria dos textos sagrados e dos 
mitos religiosos, entendidos aqui em seu melhor sentido, e a despeito de 
sua não incomum desvalorização, sobretudo ao concorrer com modelos 
mais abstratos e essencialistas no pensamento Ocidental. Essa tensão e 
disputa entre poetas e filósofos ocorre já na Grécia Clássica, e é possível 
encontrar o seu registro no livro X da República de Platão, herdeiro dessa 
divergência que o antecede, mas que com ele ganha nova gravidade, ao 
dissociar linguagem e pensamento. Entretanto, ao evocar os poetas, Platão 
também atribui aos mesmos o ofício da teologia como “discurso divino” 
(República 379a). Vale lembrar que a questão “do que é um deus” (tí theós) 
já havia sido feita, quase um século antes do filósofo das ideias, com 
Píndaro (522 a.C.-443 a.C., cf. Fragmento 140d). E, mesmo após Platão, várias 
correntes do estoicismo entendiam que a leitura da poesia era também 
11
um dos exercícios espirituais importantes para o cuidado de si, ao lado 
da pesquisa e da reflexão filosófica, de modo que dos mitos se extraiam 
princípios racionais, como afirmava o estóico Lucius Annaeus Cornutus, 
que viveu em torno do ano 60 d.C., em sua obra que ficou conhecida 
como Compêndio de Teologia Grega, atribuída a autores pré-cristãos, já 
em um momento em que a presença do cristianismo se faz sentir muito 
visivelmente. 
Tal recuo histórico tem a intenção de dizer que o caminho metafísico 
platônico que resultou na desvalorização da poesia, na medida em que 
dissocia o ato de pensar do ato de linguagem, assim como secundariza 
dimensões de concretude da vida humana, foi fruto de escolhas não 
dissociadas de um contexto político, que se sobrepuseram a outras atitudes 
intelectuais que levaram muito tempo para vir à tona e ser reconhecidas 
como alternativas que permitem revisitar a tradição teológica. Nomes 
que ficaram à sombra de grandes vultos, obras consideradas de menor 
importância, entre autores helênicos e cristãos, ajudam a escavar as 
relações entre espiritualidade, teologia e poesia que ficaram soterradas 
face aos intermináveis debates dogmáticos. Enquanto a poesia visava 
enfrentar os limites da finitude para se encontrar com uma experiência 
iluminadora de Deus, a dogmática, sobretudo a partir do estatuto jurídico 
que o direito romano vai lhe imprimindo [regula fidei], vai se especializando 
no enfrentamento de heresias, resultando em sobrevalorização conceitual 
12
que ofusca a dimensão estética do dogma, ou seja, a beleza de Deus. Se 
a dogmática vai reforçando uma dinâmica de identidade que exclui sua 
alteridade, especialmente em alguns grupos em que nomeadamente ao 
lado dos hereges também se condena tudo o que não foi cristianizado, 
sempre houve testemunhos de grande lucidez, como é o caso de São Basílio 
de Cesareia em sua Carta aos jovens sobre a utilidade da literatura pagã. 
Ali, o grande não somente em santidade, mas também em sabedoria, 
exorta os cristãos em processo formativo para assumirem o “ideal da 
filosofia” (a teologia era parte da filosofia) a lerem Homero, Hesíodo, Sólon, 
entre outros, por ser a poesia um “elogio à virtude”. Evoca ainda a metáfora 
das abelhas como postura a ser tomada diante da literatura clássica pagã, 
que um grupo de cristãos considerava ser desprezível, de modo que à 
“imagem das abelhas” (mellitton tem eikóna) que se aproximam de todas as 
flores, e delas se servem daquilo que auxilia seu trabalho, sem se importar 
com o resto, assim deve ser o cristão em relação a tudo que lê (IV, 9). E 
ainda, face àqueles que pretendiam controlar o que deveria ser lido, por 
medo de que os estudantes se desviassem do caminho da fé, diz o Santo 
sobre a liberdade intelectual: “é nobre quem discerne (sonoronta), por si 
mesmo (par eautou)” (I, 4). Para os capadócios, já nos primeiros séculos do 
cristianismo, a leitura da literatura grega era parte de sua askésis, ou como 
se convencionou traduzir no Ocidente, de seus exercícios espirituais. 
13
Essa grande obra, escondida em um livrinho de Basílio, só foi traduzida no 
Ocidente latino em 1405, por Leonardo Bruni, e foi de fundamental importância 
para a consolidação de uma perspectiva de compatibilidade entre os clássicos 
e o cristianismo, na emergência da Renascença. A partir daí é que Bruni foi 
legitimado a prosseguir com as traduções latinas de Demóstenes, Plutarco, 
Xenofonte, Platão e Aristóteles, sendo ele ao mesmo tempo membro de um 
círculo de literatos que estudavam autores que inspiravam o renascentismo, 
como Boccaccio, e, como chanceler, fora secretário pontifício de quatro 
papados (Inocêncio III, Gregório XII, Alexandre V e João XXII). 
Há incontáveis autores, ou obras menos conhecidas de grandes autores, 
que prestaram esse serviço de ressignificar o papel da poesia no modo 
de pensar a teologia, como Santo Efrém da Síria, Romano, o Melodista, 
considerado o Píndaro cristão, Potâmio de Lisboa, entre outros, que a 
historiografia, tanto a social, mas especialmente a eclesial, não privilegiou, 
devido à ênfase no debate dogmático. Tais autores, cristão e “pagãos”, 
recuperam a ideia da poesia como askésis, um exercício espiritual, a pensam 
a partir de um imaginário que valoriza a concretude da vida, especificamente 
a concretude do Amor na vida. Dizia o grande Tomás de Aquino que à 
manifestação que desvela o Mistério de excesso de sentido na vida, e “a isso 
chamamos Deus” [hoc dicimus Deum] (Suma Teológica I, questão 2, artigo 
3), também provoca uma conversão da imaginação (conversio intellectus ad 
phantasmata, Suma Teológica I, questão 84, artigo 7).
14
Essa reflexão da concretude da vida, em que emergem experiências 
doadoras de sentido, se fez presente na literatura de modo geral, e nos poetas 
de modo específico, como um pensamento marcado pelo ato de imaginar, 
incluindo nesse modo de pensar a representação de nossa ambiguidade, e 
em meio a elas a emergência da esperança e o ensaio de novas realidades 
a serem construídas, um antídoto à idealização da vida, que, como disse 
Hölderlin, “poeticamente habita o humano sobre esta terra”, sendo a poesia 
a testemunha por excelência da própria condição de possibilidade da 
vida humana. Seguindo essa trilha aberta por Heidegger, é que o grande 
teólogo jesuíta Karl Rahner lamentava o fato de que tão pouco se falou 
sobre “tema tão elevado” na teologia do século XX, em seu escrito A palavra 
poética e o Cristo (Das Wort der Dichtung und der Christ, p. 454). Rahner via 
na poesia uma “escola de escuta” do Evangelho adequada à sua concepção 
antropológica de serhumano como Ouvinte da Palavra. Essa palavra, 
envolta em uma dinâmica poética, nasce silenciosamente como vontade de 
sentido à espera da sua tradução em palavras que transubstanciem o desejo 
em decisão em direção ao amor. A poesia, portanto, está a meio caminho 
entre as potencialidades da vida [potentia] e suas concretizações [actus]. Por 
isso, para o jesuíta alemão, o poeta tinha algo de sacerdote, assim como o 
sacerdote deveria ter algo de poeta, sendo ambos mediadores do Mistério. A 
poesia é uma escuta para o Evangelho porque a Palavra de Deus opera como 
Palavra poética inspirada e que reinventa a vida. Se os Exercícios Espirituais 
são entendidos por Rahner como “lógica de conhecimento existencial”, 
é a lógica poética da contemplação das imagens igualmente poéticas do 
Evangelho que dinamiza os afetos a entrarem na estrutura cristológica de 
suas cenas, de onde emerge uma nova configuração da existência.
Não é à toa que a recomendação de Inácio nas Constituições sempre 
gerou jesuítas que traduziram a mistagogia dos Exercícios Espirituais em 
formas poético-literárias de colocar a linguagem ao serviço de despertar 
o desejo por um Amor maior ou, como diria o próprio Inácio, santos 
desejos. Insere-se aqui a emergência do teatro jesuítico, por exemplo, 
como expressão da pedagogia humanista dos Colégios da Companhia de 
Jesus, com nomes como Luís da Cruz (1543-1604), Miguel Venegas (1531-
1567), Stefano Tucci (1540-1597), Pedro Pablo de Acevedo (1522 – 1573), 
15
e que genialmente é adaptado e inaugurado no Brasil por São José de 
Anchieta (1534 – 1597) para uma cultura radicalmente diferente de sua 
origem europeia, e como instrumento de pacificação e de sensibilização 
ética. O mesmo se pode dizer de seu confrade, Antonio Vieira (1608 – 1697), 
chamado por Fernando Pessoa Imperador da Língua Portuguesa, em que 
os Sermões vieirinos são cenificações que alteram profundamente o modo 
de compreender a realidade. Tal ressignificação provocada pela cena 
se dá devido ao fato de ela ser construída pela leitura literária como um 
princípio de interiorização, um estilo que fora inaugurado por um brilhante 
aluno de um colégio jesuíta na Espanha, chamado Miguel de Cervantes 
(1547 – 1616), inspirado na antropologia literária da Autobiografia de 
Santo Inácio de Loyola. Tal qual Inácio, o itinerário transforma o cavaleiro 
Dom Quixote em peregrino, transmutando a visão de mundo a partir da 
configuração autodirigida de um “novo eu”, em que a imaginação funciona 
como uma visão interior de uma verdadeira ação teatral que mobiliza os 
afetos. Do mesmo modo é que Gerard Manley Hopkins (1844 – 1889), 
com seus Sonetos, cenifica as desolações da turbulenta modernidade no 
mais concreto do cotidiano para lapidar com sua poesia a beleza bruta do 
coração em que habita também a graça. 
16
Essa relação entre mística e poesia é lapidar em Michel de Certeau, e é 
constitutiva da análise da presença da religião na Modernidade, sendo o 
labor poético um exercício de produção do paradoxo em que se possibilita 
o impossível na linguagem, um estilo mais compatível ao indivíduo 
contemporâneo indisposto aos discursos mais pornográficos do anúncio 
da fé, como dizia o crítico literário mexicano Juan García Ponce. O que pode 
ser entendido como pornografia verborrágica da pregação da fé, reside 
na compreensão de que a linguagem pornográfica não mostra demais, 
mas sim de menos, porque o explícito atinge apenas de modo epidérmico 
o desejo, tal qual uma pregação eivada de moralismos que visam coagir 
à conversão. Tal coerção pelo explícito é incapaz de expressar a secreta 
dinâmica erótica que vai seduzindo cada vez mais o desejo para o todo da 
existência, e ordenando-a para o que faz mais sentido.
 A poética que lapida a dimensão bruta da ambiguidade da vida e a 
transubstancia em representação paradoxal da presença do que chamamos 
Deus possui essa capacidade erótica de poeticamente possibilitar a 
compreensão do que se chama Palavra divina, viável, portanto, pela poética 
e pela mística, na condição de ser portadora de uma palavra inspirada, e 
demanda uma educação da escuta para captar tal inspiração na vida de 
17
quem a recebe. Ademais, para evocar Michel de Certeau, a poesia como 
prática discursiva também está relacionada a uma prática social, que possui 
duas funções: ética e crítica. A ética representa como prática social aquilo 
que a poética representa como prática discursiva, a saber, a abertura de um 
espaço que não necessita ser autorizado por uma autoridade ou pela ordem 
estabelecida da realidade, uma semente de possibilidade nas fendas dos 
muros da impossibilidade, e que cria pontes para a esperança. Tal enunciado 
do aparentemente impossível se desdobra potencial e frutuosamente na 
cultura não como fruto de mera contestação, mas como emergência do 
impossível que habita o desejo, e inquietantemente brota como confissão 
do inevitável, modelo alternativo de inteligibilidade advinda da lógica 
poética dos místicos. 
Se a poética, portanto, tem outro registro de autorização que não se dá 
pela reprodução de enunciados teológicos autorizados, mas sem negá-los, 
traduz a beleza dos mesmos pelo exercício de engendrá-los poeticamente 
na linguagem comum, que se impõe por sua força estética. O mesmo 
vale para a emergência da sensibilidade ética que brota como Rosa no 
asfalto, para lembrar Carlos Drummond de Andrade. E é exatamente nessa 
condição de buscar exprimir o inefável do poético e do ético que ambas 
as linguagens são formas de resistência da dignidade humana, e de modo 
18
muito peculiar, evocando Agamben, há na poética cristã um traço de 
antitragédia, de insistência em reverter o itinerário para a fatalidade em 
ocasião de mudança de mentalidade para reorientar a busca, de si, de uma 
comunidade, de um povo. E é nesse sentido que tanto a mística quanto a 
poesia, além de sacramentar, expressam esse chamado de tentar dizer o 
impossível de ser totalmente dito, sobretudo em épocas que vão sendo 
caracterizadas pelos muros, visíveis e invisíveis, de divisão, de proibição 
da transparência, de impedimento da palavra, de abismos para a ética. 
Não raro, é nesse momento de muralhamento ético que a poética vem 
em seu auxílio, como ponte que nos aproxima dos dias que ainda não 
se realizaram, mas que já estão presentes nos mais nobres sonhos de 
humanidade, fraternidade, justiça e de paz que habitam nossos desejos. 
Místicos e poetas habitam as fendas ainda não abertas na história, mas já 
domiciliadas no desejo. 
É assim que gostaria de tentar homenagear este precioso livro de 
exercício poético, que faz jus ao cristianismo moderno da tradição inaciana, 
e, junto com ele, alarga as fileiras daqueles que tentam recuperar o papel da 
poesia no pensamento filosófico e teológico a fim de oferecer um cenário 
em que o sujeito contemporâneo se identifique, e ali identifique o sentido 
de Deus na sua busca de sentido. 
19
A imagética poética dos poemas escritos e visuais que aqui se encontram 
é fruto da grande obra escondida no livrinho dos Exercícios Espirituais de 
Santo Inácio de Loyola, que se não é ser lido, por outro lado é uma escola 
de poetas como atesta a história dos jesuítas. Tal qual o poeta, o exercitante 
dos Exercícios tem diante de si o desafio de inscrever na vida o efeito da 
inspiração advinda sobre a vida. Todos somos poetas, mas apenas alguns 
de nós escrevem. Todos somos chamados a poeticamente habitar nossa 
história e nela descobrir um sentido que oriente a construção de uma nova 
história. Alguns fazem poesia no modo como vivem, como trabalham, 
como educam os filhos, como ajudam os que mais sofrem e alguns outros 
também escrevem poemas, e na medida em que escrevem ajudam a 
grande poética da vida a apostar que a vida é capaz de sentido apesar de 
seu absurdo. Os poetas que escrevem prestam o nobre serviço de fomentar 
a fraternidade entre aqueles que vivem a poética de sua vida. E os Exercícios 
Espirituais têm a nobre missão de ajudar a perceberque a vida é capaz de 
poesia e, sendo, é capaz de beleza, de bondade, de empenho por nobres 
ideias, de resistência pelo que é justo, é capaz de Amor, a que os cristãos 
chamam Deus. 
A estes que escrevem, devemos nossa gratidão por proporcionar um 
sentir cum poetas, que é de algum modo uma janela às suas almas que 
foram atravessadas por um Mistério que o leitor aqui também persegue, e 
que deverá descobrir que antes é por Ele seduzido. Seus poemas são, como 
diriam os medievais, vestigia Dei, uma busca de transformar em sentido a 
presença evanescente significante de algo que se situou em um tempo, 
e que dela temos apenas seus ecos. É neste eco (oikos) que os autores 
convidam o leitor a enxergar para além do que está escrito, ler o poema 
como um exercício espiritual. 
“Não é o muito saber que sacia 
e satisfaz a alma, mas o sentir 
e saborear as coisas internamente.” 
(Anotação 2)
21
Senhor Jesus Cristo, tu nos dissestes: 
“Aquele que quiser salvar a sua vida, 
vai perdê-la, 
mas aquele que a gastar por mim e 
pelo evangelho irá salvá-la”.
Porém, nos dá medo gastar a vida, 
entregá-la sem reservas. 
Um terrível instinto de conservação 
nos conduz ao egoísmo, 
e nos amedronta quando queremos 
gastar a vida.
Procuramos segurança em toda parte, 
para evitar riscos.
E sobretudo está presente a covardia.
Senhor Jesus Cristo, nos dá medo 
gastar a vida. 
Mas a vida Tu no-la deste para ser 
gasta; não se pode guardá-la em um 
estéril egoísmo.
Gastar a vida é trabalhar pelos outros, 
mesmo quando não pagam; 
fazer um favor a quem não vai 
devolver.
Gastar a vida é lançar-se, mesmo no 
fracasso, sem falsas prudências;
é “queimar os navios” pelo bem do 
próximo.
Somos velas que somente temos 
sentido quando queimamos;
somente então, seremos luz.
Livra-nos da prudência covarde que 
nos faz evitar o sacrifício e buscar a 
segurança.
Tira-nos Senhor, essas falsas 
prudências que pensam demasiado no 
“meu” amanhã. 
Temos que gastar-nos por Ti.
Gastar a vida não se faz com gastos 
espantosos, 
ou falsa teatralidade. A vida se dá 
simplesmente, sem publicidade, 
como a água da fonte, como a mãe dá 
a mama ao bebê, 
como o suor humilde do semeador.
Ensina-nos, Senhor, a lançar-nos 
ao impossível, 
porque detrás do impossível está a tua 
graça, tua presença, estás Tu, Jesus;
não podemos cair no vazio.
O Futuro é um enigma, nosso caminho 
se adentra na obscuridade; 
mas queremos continuar nos doando, 
porque Tu nos estás esperando na 
noite,
com mil olhos humanos derramando 
lágrimas.
Senhor Jesus, ensina-nos a gastar a 
vida, 
a entregá-la sempre mais, sem 
reservas, como Tu fizeste.
GASTAR A VIDA
Padre Luís Espinal, SJ
22
PRECE
Jerfferson Amorim, SJ
Dá-me a graça de caminhar lento
quando o meu peito aberto
for lugar de repouso para os peregrinos do mundo.
Dá-me a graça de escutar sereno
e com paciência não pretender
dar respostas nem receitas.
Dá-me a graça de viver na abertura,
cultivando afetos
e tecendo relações solidárias.
Dá-me a graça de ser homem e menino
sempre discípulo, aprendiz.
23
MEU CORAÇÃO TEM CASA
André Araújo, SJ
Meu coração tem casa
tanta casa esse coração
tanta casa coração 
tanto coração casa
e ele sabe 
e bate asa
sem medo da solidão 
e ele sobe 
e entra em casa
no meio da escuridão.
24
 “ÉL, GRAN MISTERIO” 
Germán Méndez, SJ
¡Qué gran misterio eres!
Amor infinito que se mide en dos brazos extendidos.
Abrazo eterno que despliega su poder en lo frágil.
Fragilidad que todo lo puede porque todo lo ama.
Amor que todo lo perdona porque todo lo ha creado.
Creación que todo renueva porque todo lo habita.
Presencia plena que a todos llama a la vida.
Vida perene que no teme a la muerte.
¡Qué gran misterio eres!
25
OBRA: 
SILÊNCIO 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho a lápis grafite sobre papel. 
Arte sobre o curvar-se, abraçar, contorcer-se, sentir a própria dor. 
De que sou acusado? Seu olhar pode ser só de julgamento 
e você nunca ouviu minha narrativa. 
26
O SILÊNCIO 
Igor Cristiano Oliveira, SJ 
O que há no silêncio? 
Murmúrio de Deus
Sim, é Ele sussurrando em meus ouvidos, 
Entrando em meus sentidos, ou melhor, possuindo meus sentidos. 
O que há no silêncio? 
O encontro com o absoluto, 
A inquietude de uma alma sedenta, 
Provocador dos desejos irrequietos. 
Silêncio, construção de intimidade
Busca pelo “Ser” 
Clarificação dos mistérios transcendentes
Revelação, nudeza do inexprimível. 
O que há no silêncio? 
O inexprimível
O poético
O harmônico.
O que há no silêncio? 
Liturgia, 
Deus se corporificando,
Revelando, 
Dando-se a nós. 
27
OBRA: 
SAIR DO QUADRO, ENTRAR NA VIDA 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
28
“ESTOY SEDIENTO” 
Germán Méndez, SJ (Província do México)
Mi alma está sedienta.
Estoy sediento del Dios que da la vida.
Tengo sed, hijo mío.
Estoy sediento de tu amor.
Mi cuerpo está cansado, Padre.
Con ansias en ti busco descanso.
Mis brazos están fatigados, hijo.
He muerto con ellos extendidos para 
que en ellos halles tu descanso.
Mis pasos no me sostienen.
De noche y día, Padre, te busco 
andando.
Hijo, aquí están los míos clavados.
Fijos para que sepas encontrarlos.
Padre, mi rostro anhela tu rostro.
Al horizonte apunta esperándote en 
la aurora.
Hijo, mi rostro he dejado caer mirando 
abajo.
Así hallarás mi mirada siempre posada 
en ti.
Tengo miedo, Señor.
Mi debilidad me asusta.
Mi fuerza tierna brilla sobre el miedo.
Mi amor en ti, hijo, fortalece tu 
fragilidad.
Te veo mirarme, Padre.
En tu mirada me rehaces.
Me veo en ti, hijo mío, creación mía.
Mi amor entero arde serenamente 
en ti.
Amor mío, vida mía.
Padre mío, amigo y refugio seguro.
Sueño mío, anhelo mío.
Locura mía, pasión mía, hijo 
siempre mío.
29
OBRA: 
SILÊNCIO 
Jobson Ramos, SJ 
30
BUSCA 
Pe. Jackson A. Carvalho, SJ
Para Te encontrar,
basta o trabalho,
uma disposição,
um jeito de ser,
um sorriso.
Para Te encontrar
basta estar na história
na realidade
na partilha
um pedaço de pão.
Senhor,
encontro a ti no irmão.
Reconhecendo-te no rosto do outro,
no perdão,
sacrifício,
na reconciliação.
Senhor, para te encontrar,
abro o coração,
na justiça cumprida,
paz desmedida,
na entrega de vida,
Palavra de Amor.
Onde estás?
Ouvi tua voz
por entre árvores que balançam,
pássaros que cantam, 
no zumbido da abelha,
dentro do coração atento,
no assobiar do vento,
nuvem em movimento.
Ouvi tua voz
No silêncio imposto,
Em um guerrear sem sentido,
Na ferida exposta,
De um gesto te aproprias.
Ouvi tua voz
nas incelenças entoadas,
nas novenas dos santos,
no pedido de chuva, 
na maré transbordada.
Ouvi tua voz
na família ferida,
a pobreza sentida,
da comida garantida, 
tua voz se ouvia. 
31
AL OCÉANO 
Tomás Browne Urzúa, SJ (Chile)
Al océano 
se lo boga sin prisa
paladeando su espesor
No se avanza a borbotones
con los pies desparramados
ni golpeando con rabia
el pelaje del mar
Al agua se le soba
como a un animal pequeño
perdiéndose en el ritmo
En cada brazada
el rumbo
un sonido
y la cadencia de las olas
También la sal
que irá subiendo
por tus manos
astilla por astilla
dejándote sin rostro
dejándote solo
Incluso la estela
con su fidelidad blanca
te habrá abandonado
y tú
no te agites
Sigue bogando
apaciguado
siendo solo un movimiento
Tú sigue
sigue bogando
hasta sentir la caricia 
de la quilla sobre la arena.
32
SILÊNCIO 
Jobson Ramos, SJ 
Silêncio
Não queira me atrapalhar
Estou sendo criado em algum lugar
O corpo, a alma a cor
O receptáculo da calma e da dor
A sinceridade, a caridade, o pudor
Nem tudo são flores
Há espaço para o medo
Parte importante do segredo
Milagre
Falta pouco para o meu despertar
Silêncio
Não queira me atrapalhar
Você e eu
Você sou eu
Nós
Somos um
Estamos nus
A sós
Abra os olhos
Veja a luz
Seja luz.
33
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura acrílica sobre tela. A arte do relacionar-se, do cuidar-se, 
toda dignidade, toda ternura. Por vezes o pranto, o silêncio...
34
RETIRO 
Luis Espinal, SJ
Esto es sólo un paréntesis.
No podemos encerrarnosen nosotros
mismos, Señor,
para entregarnos a Ti.
Apenas cerramos los ojos,
hallamos solamente el desierto
de nuestro «yo»,
la náusea de nuestra nada.
Nos da miedo una perfección
algebrizada,
con sus mil senderitos y grados.
Señor, con los ojos abiertos
te quisiéramos hallar en los demás,
porque nos sonríes desde todo rostro
humano.
Te quisiéramos seguir a pleno sol,
con la naturalidad de tu Evangelio.
Déjanos ser osados.
Nos pareces demasiado adusto en tus
santos; te preferimos a Ti, desnudo y
alucinante.
No hemos nacido para el silencio;
porque Tú nos has cargado con tu
Palabra.
A Ti te hallamos mejor en el ruido,
en los problemas de los hombres,
en estas personas heridas que se nos
acercan.
Jesucristo, tal vez nos sobre petulancia,
pero nos asquean ciertas palabras:
perfección, virtudes, santidad…
Palabras de autopsia,
estructuras que ocultan la vida, tu Vida.
Líbranos del riesgo de volverte
a desencarnar.
Tememos mediatizarte.
Ojalá no te perdamos entre tanto
andamio.
35
SILÊNCIO 
Cláudia Honorio (Leiga, colaboradora dos EE)
Preciso do silêncio
E se eu abrir a boca, minha alma vai rachar.
Preciso do silêncio,
Nele me encontro com o Cristo, com a vida plena.
Preciso do silêncio cúmplice,
No silêncio rezo, amo, choro, me alegro.
Preciso do silêncio 
E quando meus lábios estão fechados, Deus reza em mim.
Meu coração cresce de todo lado, nele tudo cabe.
Preciso do silêncio
O silêncio é tenso,
Mas nele, a presença é plena, amor discreto, calmo e alegre.
O silêncio é palavra de vida, o abraço, o riso sem razões. É ele! É o Senhor!
O silêncio é palavra agradecida.
36
PRECE DO AMOR PEQUENO
João Júnior
Amo-te
com meu pequeno coração,
com os cacos de mim.
Com aquilo só que, às vezes,
resta da batalha perdida,
os despojos do existir.
Acolhe
com carinho sem pena
e corajosa esperança
meu pequeno amor
e o vaso frágil de minha ternura.
E busca reconhecer
na confusão desses pedaços
a inteireza que nunca fui
e o sonho do que eu seria
se tocado por teu amor.
37
OBRA: 
MENDIGO NA ORAÇÃO 
 José Paulino Martins, SJ
38
CAMINHADA
Renata Sales (Leiga, colaboradora do OPA)
Aquietar-se
Olhar o céu e sorrir
Sentir a brisa
Esmorecer
Erguer o corpo caído
Sustentar o peito
Sofrido
Encontrar o consolo
Deitar nos braços 
De então,
Ouvir os conselhos
Afinal, quem caminha
Sozinho, solitário 
Não sabe onde anda
Tropeça
O caminho não é uma estrada reta
É vendaval
É dilúvio 
Esperança e
Silêncio também 
É um encontro
Esperado
Sentado ao lado de alguém.
39
AMOR LONGE
João Júnior
O difícil de amar
para além do alcance das mãos
ou dos lábios,
e de ter o coração assim derramado,
é que sempre se estará
um pouco só.
E que ela, porém e inevitavelmente,
estará sempre ao lado;
ela, a saudade,
lembrança terna da finitude.
40
SOLEDAD
Luis Espinal, SJ
Todo hombre está siempre
solo: con su «yo» impenetrable,
su responsabilidad, su misterio,
su amor, su predestinación…
Recordamos la soledad del huérfano
y la soledad del anciano,
hambrientos de personas queridas.
La soledad del delito,
la soledad del sufrimiento,
y de la tumba.
La soledad del altiplano,
la soledad de la pampa,
del corazón de la mina,
y la soledad del mar…
Señor Jesús,
enséñanos a vivir nuestra soledad;
todo hombre es un solitario.
Nos pesa la vida,
con esa gravitación constante
hacia lo infinito, insatisfecha por ahora.
Por esto te mendigamos misericordia
para los suicidas y desesperados.
Tú sabes, Señor,
la fascinación que ejerce
sobre nosotros el pecado.
Equivocadamente buscamos en él
el espejismo del absoluto:
realizarnos, saciar nuestro amor
en este abismo de noche.
Te pedimos por la soledad
de los encarcelados;
por los pastores altiplánicos;
por los vigilantes nocturnos.
Jesús de Betania y de Caná,
enséñanos a encontrar y vivir
la amistad y el amor.
Te pedimos por aquellos
que aún no han descubierto estos 
tesoros.
Que cuando nos sintamos solos,
recordemos la soledad humana
de tu Encarnación y tu agonía.
Te ofrecemos nuestra soledad,
para que sea redentora unida a la tuya,
para que se complete lo que falta a tu
Pasión.
No permitas que nos cerremos
en nuestra soledad;
ábrenos para salir al encuentro
de la soledad de los otros.
Que no se nos eclipse la esperanza
de la comunión eterna Contigo.
Ven, Señor Jesús.
41
OBRA: 
TOQUE DIVINO 
Jobson Ramos, SJ 
DESCRIÇÃO: 
A mão esquerda, cansada e sem vida, espera ansiosa por um toque divino. 
A Mão direita, viva e forte, aguarda sem pressa a hora certa para se doar. 
No encontro, a vida, há vida, transfusão de amor e cuidado.
Impressão de sabedoria e desejos. Toque que marca como tatuagem que jamais se 
apaga. Toque que imprime digitais. Toque Divino. Toque humano. 
42
FOME DE MIM 
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
Silêncio, preciso ouvir o céu
Quero escutar a imensidão da minha alma 
Quero encontrar-me comigo
Quero mergulhar no meu sertão 
Silêncio, preciso ouvir o vento 
Quero ser inebriado pela harmonia 
Quero me ver e desnudar-me de mim mesmo
Quero a fome do horizonte
Silêncio, preciso contemplar as estrelas 
Quero uma vida metafórica 
Quero olhos sensíveis 
Quero sentidos abertos, atentos. 
Silêncio, preciso da minha solidão
Quero possuir a mim mesmo
Quero tempo para as minhas inquietudes
Quero a liberdade de ser eu mesmo e me perdoar
Silêncio, preciso sentir a vida pulsar 
Quero sentir fome da minha presença 
Quero uma vida reinventada... 
43
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO
Maria Clara Lucchetti Bingemer
Somos seres posteriores. Ou seja, chegamos depois. Depois do pai e da mãe, 
depois dos avós, depois do mundo, depois de séculos, milênios de história, de 
processos internos da terra que habitamos. Somos posteriores às coisas criadas 
que encontramos ao nascer. E nós e tudo o mais somos posteriores a Deus. Só Ele 
é nosso Princípio e Fundamento. 
Somos criados, criaturas. Somos fruto de um Amor infinito que nos desejou 
e nos pensou para viver no amor, na reverência e no serviço. E tudo o que nos 
circunda deve ajudar-nos a isso. Se não nos ajuda, deve ser descartado. 
Nossa vida não pode contentar-se com a banalidade ou a mediocridade. Se 
viemos de um Amor infinito, devemos viver para reproduzir com nossa vida a esse 
amor, refleti-lo amando, reverenciando, servindo e buscando somente aquilo que 
MAIS nos ajuda para essa plenitude de vida a nós doada com nossa criação. 
Viemos de Outro que nos desejou e criou a fim de que vivamos para os outros, 
para fora de nós, buscando sempre para além de nós mesmos, de nosso eu, 
buscando sempre e em qualquer situação, vida ou morte, alegria ou dor, aquilo 
que mais nos leva ao encontro d´Aquele que nos criou e é a rocha onde nossos 
pés repousam, nosso Princípio e Fundamento. 
Nossa identidade mais profunda é ser criados, redimidos e santificados. 
Somos feitos para louvar a Deus que nos faz incessantemente, abrindo suas mãos 
para que tenhamos vida. Feitos para reverenciar tudo o que é criado, desde a 
mais minúscula plantinha até a mais próxima, querida e majestosa das criaturas. 
Feitos para servir a tudo e a todos: à natureza que nos dá solo, alimento e vida. 
Aos outros, nossos semelhantes que tal como nós são criados pelo mesmo 
Criador que em sua benção amorosa original segue acreditando em sua criação e 
chamando-a sem cessar à plenitude da vida.
44
OBRA: 
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO: 
Princípio e Fundamento – Caos sendo ordenado (Rm 8,18-30). 
45
“O ser humano é criado para louvar 
reverenciar e servir a Deus nosso Senhor 
e, assim, salvar-se.” 
(Anotação 23)
O DIVINO FEZ-SE POESIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
No princípio era a poesia, 
A poesia fez-se palavra,
Fez-se verbo
Fez-se humanidade redentora...
No princípio era o verso,
O verso fez-se melodia...
Fez-se pretexto 
 Fez-se corpo
No princípio era a saudade,
A saudade fez-se presença,
Fez-se nostalgia...
Fez-se fraqueza
No princípio era o desejo 
O desejo fez-se cioforia 
Fez-se espera...
Fez-se carne 
E armou sua poesia entre nós. 
46
FOTOGRAFIA:Régis Sarto, SJ 
47
A VIDA ACONTECENDO: EIS O SOBRESSALTO!
André Araújo, SJ
Além...
Olhei pro alto e me surpreendi
com o que via na parede.
Sorri.
Entrava sem que eu me desse conta.
Existe uma vida potente
que desponta,
trabalha lá fora
e aqui dentro da gente.
Um balé nas coisas e nas criaturas,
a carnalidade do mundo
que me apavora
e me entrega suas vísceras
com uma força
e um existir profundo,
que atravessa
e impressiona e mora e pulsa
e faz feliz toda hora.
Entrou como quis,
porque o sol saiu
e brilhou e insistiu.
Assim, naturalmente,
não pediu nada,
mesmo estando
a porta e a janela fechadas.
48
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura sobre madeira. 
Arte sobre a delicadeza, ser acolhido, ser presença.
49
“AQUEL DÍA” 
Germán Méndez, SJ (México)
El día en que no trinen las aves,
bajaré al lago a buscar la lágrima que 
les robaron;
ahí donde enterré mi dolor por tanta 
muerte,
ahí donde ahogaste la pena de tus 
pérdidas.
El día en que no brille la luciérnaga,
volaré a la luna a buscar su luz;
ahí donde enviaba mis deseos,
ahí donde guardaste tus promesas.
El día en que no dé concierto el grillo,
atravesaré el fuego en que ardió su 
cítara;
ahí donde ardió mi corazón en 
esperanza,
ahí donde hallaste tu perdón.
El día en que ya no amemos,
me hundiré en el barro de donde me 
formaron las entrañas;
ahí donde me enseñaste a amar,
ahí donde te enseñaron a amar.
El día en que ya no amemos,
mendigaré el canto al ave,
rogaré a la luciérnaga su brillo,
y su música al grillo.
El día en que ya no amemos,
el lago me devolverá el dolor,
la luna mis deseos,
y el fuego mi esperanza.
El día en que ya no amemos,
el lago te dará tus penas,
la luna tus promesas,
y el fuego tu perdón.
El día en que ya no amemos,
la tierra nos dirá al oído,
que nos ama y nos anhela.
Y en el amor de su barro, 
hallaré yo mi sostén,
y por su amor, amaré.
Y en el amor de su barro,
hallarás tú tu sostén,
y por su amor, amarás.
El día en que no amemos,
y la tierra nos consuma,
emergeremos de su barro,
amados por amor, amantes por amor.
50
NO CAMINHAR PELA VIDA
Davi Caixeta, SJ
No caminhar pela vida,
uma visão, uma voz, um chamado:
Tira as tuas sandálias!
Pisa neste chão com teus pés,
toca este barro que tu és,
sente esta terra que eu criei.
Como te revelas com tanta graça!
Cubro meu rosto diante de ti,
abro meus ouvidos para te escutar,
acolher tua Palavra.
Queres mesmo te fazer com esta lama?
Por que insistes em soprar este pó?
Ponho meus pés neste chão,
Junto à lama que eu sou, eu serei.
Fogo que ilumina sem se consumir,
brasa que transforma corações de pedra,
vem consumir a escravidão
e libertar este teu barro.
Eis aqui a tua terra!
51
ENTONCES, ¿QUÉ HACEMOS?
Pe. José Maria Rodríguez Olaizola, SJ
¿Qué hacemos con los pies de barro,
con los sueños rotos,
con las noches de vigilia
y las puertas cerradas?
¿Qué hacemos con la fe asediada,
el amor negado,
los golpes injustos,
 y el desaliento?
¿Qué hacemos con la pobreza,
con el fracaso, con el hambre,
con la guerra, con la tristeza
que campa a sus anchas
por tantas vidas?
No rendir la esperanza
ni blindarnos contra la tormenta,
no renunciar a los sueños,
seguir buscando la llave
que abra la vida,
que libere la alegría
que desencadene
la paz,
la abundancia,
la justicia.
Y seguir confiando,
que con nuestro barro
haces tú milagros.
52
FOTOGRAFIA: 
 José Paulino Martins, SJ
53
O HOMEM QUE SOU
Francys Silvestriny, SJ
O homem que sou
vem de tantos outros...
Tantos pequenos tesouros
recebidos de presente
achados com surpresa
surrupiados em segredo
Tantas fendas e brechas
abertas pelo amor
rasgadas pelas feridas
rompidas pelos recomeços
Como poderia eu devolver
a fortuna de meus tantos pedaços
sem ser despedaçado e destruído?
Como poderia eu exigir
outros tantos pedaços que
dei, perdi ou me tomaram no caminho
sem despedaçar e destruir os outros?
Minha vida única
esta dívida impagável
tem sido inteiramente saldada
pela compaixão
de muitos corações generosos
A você, meu irmão,
que carrega em si
pedaços de mim
receba, feliz, a mesma anistia
Pois você e eu
só estamos aqui porque
somos frutos de um mesmo Amor 
capaz de juntar os cacos
e revelar Beleza. 
54
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura a óleo sobre tela com gesso. 
Arte sobre os níveis do ser. Um sempre nascer, um parto, o ser humano 
nos seus diferentes níveis da possibilidade de relação. 
Este também extrapola os limites da tela, foge do espaço comum, 
tende a expandir.
55
TATUAGEM
Jobson Ramos, SJ
Da natureza um fato
Da humanidade um ato
No coração um salto que me leva pra longe
Lá atrás, lembranças
Fui criado
Sentido
Sonhado
Agora, trago tatuado em minha pele
Tudo e nada
Fogo e água
Eis aí a minha referência
Uma resposta pra quem não me pergunta
Uma revolta pra uma renúncia
Resistência
Sinceramente
Eu me importo com o amanhã
Mas o meu lugar é hoje
Ninguém vai me roubar.
56
OBRA: 
LIBERDADE 
 Jobson Ramos, SJ
DESCRIÇÃO: 
“Tudo o que nos toca, nos transforma. 
Deixemo-nos afetar pelo que é belo.”
57
ESTAMOS EM TI
Jackson Carvalho, SJ
Ah, Senhor! 
Bem sei de tua bondade, carinho e 
amor criador!
Não à toa, tu nos deste a vida!
Do barro fizeste a nós, humanos, 
obra de tuas mãos, desejados por ti.
Quando nos deste a vida, com olhar 
amoroso,
Tu viste que tudo era muito bom!
Para ti fizeste cada pessoa humana!
Somos para ti! 
Permanecer em ti é graça!
Se em ti estamos, contigo 
aprendemos; 
Se em ti estamos, iremos por onde 
queiras.
Por isso podemos te louvar e te servir.
Se assim nos encontramos, 
caminhamos por ti.
Porque és trilha de vida, de salvação.
Ah, Senhor!
Além de nos saber tua imagem no 
mundo,
Porque criaturas saídas de ti,
Tu nos deste a nós o que criaste,
Para cuidar, para nos manter, para 
crescer.
Quanta bondade!
Pensava no acaso...
Sem ti, porém, nada teria sido criado, 
nada seria dado,
nada de imagem tua.
E tu, deste-nos tudo!
Tu te deste a nós!
Ah, meu Senhor!
Meu Deus!
Do coração aberto de teu Filho Jesus
Vem a liberdade pela qual nós, tuas 
criaturas, ansiamos.
Realizar o que queres é objetivo.
Viver em ti, que nos movimenta,
Realizando tua vontade, sem medida,
desejamos.
Por teu amor,
vivemos,
entregamo-nos a ti.
58
PROCURAVAS... ENCONTRASTE!
Gleison Pereira, SJ
Procuravas... Encontraste!
Ó Amor, aqui estavas,
E meu olhar não vias.
Ó Amor, me procuravas,
E de ti fugia. 
Sem ti caminhava,
Mas de mim não esquecias. 
Abandonado sentia que estava,
Mas discreto me protegias.
Sozinho caminhava,
Sozinho sofria,
Sozinho chorava,
Sozinho seguia.
Ó Amor, encontrastes,
E mirando avistastes,
Os passos não faltastes,
Tua face no caminho revelastes. 
Nunca sozinho caminhava,
Nunca sozinho sofria,
Nunca sozinho chorava,
Nunca sozinho seguia. 
Ó Amor, de mim cuidavas, 
Junto a mim permanecias.
Bem perto ficavas,
Mesmo quando de Ti me esquecia.
Minha vida aceitaste,
Do barro me modelaste.
Tua imagem manifestaste,
Sem Ti não posso viver, pois me 
encontraste.
59
TODO INTEIRO A TI, SENHOR
Guilherme Kaíque, SJ
“Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te 
mostrarei.” (Gn 12, 1)
Como a andorinha que
voa livre suspensa no vento
quero também eu poder
me entregar, todo, inteiro
a ti, Senhor...
Que meu abandono seja
tal que eu não confie
em outro se não em ti
e tua poderosa e protetora mão
a me guiar...
Sei que me mostras
 um novo país, uma nova terra.
Não imagino ser fácil o caminho,
mas se eu lhe entrego minha vida
o caminho muda...
Pedra de tropeço torna-se
pedra para edificação.
Edifica-me, Pai, faz-me
homem novo, todo, inteiro a ti, Senhor...
60
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ 
61
POETIZAR A VIDA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ 
Eu quero é poetizar a vida, 
Torná-la cheia de cores
Mesmo que dentro de mim exista um sertão
Quero poetizar a vida, 
Descobrir e beber
 das minhas próprias fontes. 
Eu quero é poetizar a vida, 
Amar a minha pobreza
Tornar minha esperança ativa 
Quero poetizaresperançando,
Quero que meu ser finito anuncie um prelúdio de uma poesia litúrgica 
transcendental. 
Eu quero é poetizar a minha existência, 
Dar sentido, 
encontrar razões. 
Quem sou eu? 
Quero descobrir poetizando.
62
OBRA: 
A VIDA SE TECE EM SONHOS 
José Paulino Martins, SJ
63
CYBER SALMO
Alberto Luna, SJ (Paraguai)
Señor, tu me escaneas y me conoces, 
sabes si estoy conectado o ausente,
de lejos captas qué estoy pensando.
Si chateo, caminando o acostado,
tu accedes a todos mis mensajes. 
Aún no he posteado una palabra 
y ya, Señor, conoces la frase entera.
Me rastreas por detrás y por delante,
y deslizas tu dedo sobre mí. 
Tu saber desde la nube me supera,
son resoluciones muy altas para mí. 
¿A dónde huiré lejos de tu alcance?
¿a dónde escaparé de tus redes? 
Si escalo a un lugar sin señal
o voy a los confines sin wifi,
también allí estás conectado. 
Si me pongo alas, en modo avión,
o voy sin batería al otro lado del mar,
también allá me encontrarás sin gps
y me localizarás sin satélites. 
Si digo entonces: 
Borraré mi historial de navegación,
cancelaré los registros de acceso. 
Mas para ti no hay datos ocultos 
y las claves están todas abiertas. 
Pues mis archivos desde el principio
están registrados en tu base de datos. 
Te doy gracias por tantas maravillas
admirables son tus obras 
y mi alma bien lo sabe. 
Tu me tenías registrado en tu lista
antes de que abriera ninguna cuenta. 
Todos mis contactos te son familiares.
Incluiste mi perfil en tu lista de amigos
y me has hecho miembro de tu grupo. 
Mis páginas favoritas están ante ti,
y registras en tu portal mis accesos.
Tienes guardadas todas mis visitas. 
Los datos de tu sistema son infinitos,
superan los formatos de mi memoria. 
¿Cómo podría yo almacenarlos? 
Aunque me pase la vida actualizando 
jamás alcanzaré a tener tu última 
versión. 
64
OBRA: 
O MENINO 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Xilogravura. 
Estudos sobre expressões narrativas. 
65
CREADOR DISCRETO
Benjamín González Buelta, SJ 
No hay que pensar el aire
para que se filtre
al último rincón de los pulmones, 
ni hay que imaginar la aurora
para que decore el nuevo día 
jugando con los colores y las sombras.
No hay que dar órdenes 
al corazón tan fiel, 
ni a las células sin nombre
para que luchen por la vida
hasta el último aliento. 
No hay que amenazar 
a los pájaros para que canten 
ni vigilar los trigales
para que crezcan, 
ni espiar la semilla de arroz
para que se transforme 
en el secreto de la tierra. 
En dosis exacta 
de luz y de color, 
de canto y de silencio, 
nos llega de la vida sin notarlo, 
don incesantemente tuyo,
trabajador sin sábado, 
dios discreto. 
para que tu infinitud 
no nos espante, 
te regalas en el don
en que te escondes.
66
OBRA: 
PRINCÍPIO E FUNDAMENTO 
Luís Renato Carvalho, SJ
67
REALIDAD
Alberto Luna, SJ (Paraguai) 
De lejos me encantas, 
de cerca me decepcionas. 
Por vez primera me fascinas, 
cada día me desilusionas. 
Porque de cerca descolorea 
tu imagen pintada en mí, 
y cada día despiertan 
las fantasías que soñé de ti. 
Y al descorrer el velo
¿qué me queda de ti
sino tu presencia desnuda? 
Esa que eres en verdad. 
Esa que quiero ocultar 
y me resisto a mirar. 
La única que puedo amar, 
la que se deja abrazar. 
68
AMOR QUE SALVA
Alan Cavalcante, SJ
Todos os dias invade minha existência
Transborda
Minha consciência.
Caminho pelas ruas
E deixo-me tocar
Pelo amor
Que se oferece.
Busca morada nos
Seres que continuam
A concretização da vida
Em obras
Em palavras.
Oferece-se sempre
Com a bela pretensão
De salvar-nos dia a dia
Da turva visão.
69
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura acrílica sobre papel cartão. 
Arte sobre o quadro janela. Eu, artista, não posso prender as imagens na tela, elas 
fogem da minha capacidade, são muitos sentidos e significados que não pintei. 
Quem olha vê o que muitas vezes está dentro. A psiquê de um ser humano, nas suas 
tantas janelas narrativas. Cada janela leva a uma outra janela. Podem ser infinitas. 
De novo, o espaço das possibilidades de encontros. 
70
AMAR SEM (RE)TER
Higor Lima, SJ
Amar sem (re)ter
Reter é o mesmo que não ter.
Aquilo que é retido deixa de ser o que era.
Aquele que retém não é o mesmo de antes.
Ter não é o mesmo que ser.
Aquilo que é tido, não é.
Aquele que tem, jamais será.
Sê livre.
(cf. EE 23)
71
OBRA: 
ANDORINHAS NO FIO 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Nanquim aguado sobre papel.
72
O QUE HAVIA ANTES DA PALAVRA?
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
O que havia antes da palavra?
O nada
A nostalgia
O Silêncio
Deus dançando em seus desejos infinitos...
73
OBRA: 
SILÊNCIO 
Jobson Ramos, SJ
74
O ÍNTIMO MAIS ÍNTIMO
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ 
Na escuridão da minha Alma Tu estás
O mais íntimo da minha solidão Tu habitas, 
Move em meu corpo e em meus sentidos 
Tu possuis o que de mais íntimo em mim é desconhecido. 
Oh mistério, mais íntimo do que a mim mesmo
Onde tu habitas?
A sede dentro em minha alma é a descoberta de que és tu mesmo, possuindo-me;
É aqui que tu moras, tu habitas a minha alma inquieta. 
Aqui dentro de minha alma, tu, mistério que me possui, constrange o meu Ser,
Dessedenta, 
despe o Ser e, 
se faz Palavra em mim.
75
HUMANO
Franklin Alves, SJ
O ser humano?
Um nó!
Feito com as cordas do tempo e do espaço.
Um nó tão angustiado…
Mas que tem tanto medo de ser desatado!
76
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura acrílica sobre papel. 
77
LÁGRIMAS
Franklin, SJ
Minhas rugas... dobras na pele, onde as minhas dores dormem despreocupadas 
quando, então, acordadas por minhas lágrimas, descem faceiras e de mãos 
dadas até os cantos da minha boca.
Minhas lágrimas... meu melhor remédio.
78
AMAR 
José Fernandes, SJ
Por que te calas, minh’alma?
Que silente segredo
Aninhas em teu ser?
Acaso o amor te seduziu,
Ou escondes o teu medo
De amar
Nas dobras do silêncio?
Amar.
Amar é extrair do fundo 
Da alma o romântico
Rosto da vida.
Amar é não ter medo
Deus uma desilusão.
É ser poeta
Que faz das palavras
Um acalanto ao amor,
Amar.
É quem permite
Um lento enlouquecer-se
Pelo ser amado.
É libertar-se
Como lua por entre nuvens
Em suave deslizar.
Amar é ser nuvem
Suja de dourado 
Quando o sol posto
Se vai adormecendo
É rir como límpida água
De riacho entre
Redondas pedras
Amar são tantas coisas
Tantas palavras e sonhos
Tantos cantos e silêncios
Que se unem e se conjugam
No verbo amar.
79
DEUS TERNURA
Odair José Durau, SJ
Quem é Este que ama, chama e cuida?
Aprisionado na razão dura e crua, 
era incapaz de compreender, sentir 
e experimentar o amor presente no 
mundo. 
Um amor discreto, sutil, profundo, 
respeitoso e belo.
Por que será? 
Talvez pela autossuficiência, quem 
sabe pela rudeza de um teimoso 
ou quiçá por algum motivo que, 
possivelmente, desconheço ou não 
quero nomear. 
De fato, ainda falta muito para 
caminhar, para me conhecer e 
mergulhar com confiança na 
imensidão do Amor.
Bendita foi a dor da perda 
experimentada,
a qual foi dolorida no momento,
mas fundamental para abrir uma fresta 
no coração e, assim,
deixar o caminho livre para o Amor.
O Amor que até então era 
desconhecido 
foi ganhando identidade e um rosto 
de ternura e bondade.
Já tinha ouvido algo neste sentido: 
“tarde te amei, ó beleza eterna”;
mas hoje sou agradecido por ser 
amado desde a mais tenra idade.
Imerso e maravilhado na ternura de 
Deus,
percebi que nada é pequeno no Amor,
nem mesmo eu que, incrivelmente, fui 
acolhido na companhia desse Amor.
Ó feliz dor que me abriu os olhos para 
um horizonte maior.
Hoje, sigo confiante o Caminho de luz,
Como um peregrino que não sabe o 
que vai encontrar,
afinal, nada mais me causa medo,
A não ser, deixar escapar a graça de 
estar ao lado da Ternura.
80
MIRAR DE NUEVO
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)
Mirar de nuevo,
abrazando mi principio
reencontrándo lo principal,
dejando que me repares
en lo que soy, suavemente,
para caminar sin ataduras.Mirar de nuevo,
sintiendo mi fundamento,
mi cimiento esencial
lo que acallo en mis calles,
lo que por ventura irrumpe
a pesar de mis resistencias.
Mirar de nuevo
aquello principal individualizante
y aquel cimiento estructurante
para ser libre de nuevo,
para volver a Ti.
81
BARRO EN LAS MANOS
Jaime Andrés, SJ (Equador)
barro en las manos
corazón palpitando
humano roto.
todo vibrando
resonando el amor
abrazo lento.
82
LIBÉRAME DE MÍ
Benjamín González Buelta, SJ
Aquí estoy, Señor, 
doblado 
con un signo
de interrogación 
que espera
la respuesta 
al ritmo urgente
del deseo tan tirano.
Aquí estoy, Señor, 
hueco
como la palma de la mano, 
hecha un cuenco 
para recibir el agua
sin demora. 
distiende mis dedos 
de mendigo ansioso
en un ágil gesto
de baile y alabanza. 
Aquí estoy, señor, 
curvado
como un anzuelo
que busca afilado
con su seguridad de acero
la presa tangible
como pago justo
a su esfuerzo tenso.
ablanda mi rigidez
en el suave mecerse 
del sedal sobre las olas.
Aquí estoy, señor, 
acogiendo tu don, 
la alegría y la paz
de tu misterio.
83
OBRA: 
VINDE A MIM VÓS QUE ESTAIS CANSADOS 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Caneta esferográfica. 21x29cm – 1999.
84
INTIMIDAD
Luis Espinal, SJ
la intimidad, Nos sobrecoge un paisaje,
nos alucina el misterio de la vida
submarina; pero ver un alma…
es cegador.
La intimidad es la transparencia del
amor. Tal vez, es el único lenguaje
plenamente comunicativo.
En la intimidad se roza lo absoluto.
La intimidad permite el diálogo sin
palabras. En ella, se rompe la barrera
entre exterior e interior,
entre tuyo y mío…
Gracias, Señor, por este don
tan frágil de la intimidad.
La intimidad nos alcanza
la comunicación plena, la comunión.
Rompe un poco la epidermis del «yo»,
y podemos convivir.
Bajo el resplandor del «tú»
que se comunica,
se desmorona el egoísmo;
llega la trascendencia,
y comenzamos a verte a Ti, Señor.
Lo que sería trivial si fuese nuestro,
se transfigura y se vuelve apertura
cósmica, cuando Tú nos lo das
en la intimidad humana.
Señor, enséñanos a respetar
este gran sacramento de tu presencia.
Esta teofanía sencilla y afelpada,
como un musgo, pero capaz
de hacernos reverdecer el alma.
Jesucristo, te agradecemos
que nos hayas hecho hallar
personas tan ricas de intimidad.
Pero, líbranos de profanarlas
lo más mínimo.
La intimidad es el último reducto
de la libertad, el núcleo central de la
persona. Por eso, danos comprensión
para intuir el misterio de cada
persona. Para no intentar convertirla
en una fórmula exacta.
Enséñanos a no juzgar a nadie,
al menos con este juicio radical
e inapelable.
Danos una postura delicada
ante las personas queridas.
Las aceptamos totalmente, como son,
con sus virtudes, defectos y misterio.
En ellas respetamos este inmenso.
misterio de tu trascendencia.
85
PRIMEIRA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer
Esta não é a semana do pecado, como às vezes costuma ser chamada. Mas 
é sim a semana antropológica, quando vamos aprender a nos olhar e ver como 
criados para amar, reverenciar e servir. Vamos ver-nos humanos, mortais, falhos e 
ao mesmo tempo grandes. E sobretudo vamos sentir-nos olhados e amados com 
o olhar infinitamente misericordioso de Deus. Esse amor está expresso de forma 
infinita e próxima no Cristo Crucificado, que nos amou e se entregou por nós. 
Diante do Crucificado, Inácio de Loyola, o peregrino ferido pelo amor de Deus, 
sentiu-se perdoado, resgatado, amado. E se perguntou: Que fiz por ti, Senhor? 
Que faço? Que farei?
A misericórdia não nos deixa parados, simplesmente girando à volta de 
nossos sentimentos. Ela nos impele para a frente, acendendo em nós o desejo de 
fazer algo por esse que tudo fez por nós. Apesar de nossa finitude somos amados 
infinitamente. E podemos amar porque fomos amados primeiro. Esse amor nos 
envolveu, nos olhou nos olhos, nos chamou, nos levantou ao colo, nos acarinhou. 
E quer que busquemos sempre mais. Sempre o que mais nos conduz para o fim 
para o qual somos criados: louvar, reverenciar e servir. Em suma: amar do mesmo 
amor com que somos amados. 
Este é o conteúdo da primeira semana dos Exercícios. Ver como a graça de 
Deus é maior do que qualquer pecado, como qualquer infidelidade é superada 
pelo seu infinito amor, como esse amor nos constitui e nos faz ser quem 
somos: filhos queridos e perdoados desde sempre e para sempre. Somos filhos 
nascidos do desejo do Pai e renascidos do dom do Filho. Pelo Espírito, somos 
constantemente ensinados a buscar mais vida, inspirada e gerada do perdão e 
destinada à comunhão da Santíssima Trindade. 
86
OBRA: 
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO: 
Caos – Consequência do pecado: O barco da Morte – CARONTE.
Da Mitologia Grega inspirando o Pecado e a Graça.
87
“Pedir a graça a Deus nosso Senhor para que todas 
as minhas intenções, ações e operações sejam 
puramente ordenadas a serviço e 
louvor de sua divina Majestade.” 
(EE 46)
NOVO SENTIDO
Carlos César, SJ
Quando pronuncias meu nome,
é poesia e afeto, 
carícia e canção. 
Eu ouço, reconheço e te sigo. 
Quando me fitas o olhar, 
é amor e verdade,
perdão e recomeço.
Eu olho, entendo e te recebo. 
Quando tocas em mim, 
é ternura e dança, 
apoio e cura. 
Eu sinto, me levanto e te anuncio. 
Teus gestos, Senhor, me restituem e 
Teus sentidos, convertem os meus. 
88
OBRA: 
JESUS – COLÔMBIA 
 Luís Renato Carvalho, SJ
89
CUANDO VINO LA LUZ 
Pe. José Maria Rodríguez Olaizola, SJ
Estábamos ciegos, 
sumidos en la oscuridad 
sin saberlo.
Creíamos tener el control 
de vidas y haciendas, 
de leyes y ritos, 
de corazones y cuerpos.
Confundíamos realidad 
con deseos, 
lamábamos verdad 
a lo que solo eran sueños.
Hasta que se hizo la luz, 
y empezamos a vislumbrar
grietas en las paredes,
arrugas en el alma,
lágrimas en el rostro,
flaquezas en la entraña. 
Hubo quien, entonces,
temió que el fulgor desvelase
solo miserias, 
y optó por cerrar los ojos.
Pero el que se atrevió 
a mirar descubrió,
más allá de las heridas,
una presencia distinta,
un amor sin cadenas,
a Dios…
Dios es el que late 
en lo hondo
y da sentido
a las batallas cotidianas.
90
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Lápis grafite sobre papel. 
Arte meu jeito de expressar. Sou negro, sou história.
91
FANTASMAS E DEMÔNIOS
Franklin, SJ
Espremido entre a embriaguez de Futuros e a tormenta de Passados
Quero gritar até que se abra o espaço do Presente
Onde eu possa dançar com os meus cem fantasmas
Sem máscaras e ao som da poesia
Embriagando-me de lágrimas!
Dançar! Dançar e dançando espalhar as cinzas dos meus tormentos.
Cantar! Cantar e cantando dominar os meus demônios
Repetindo ao repique de longínquos sinos:
Passa! Passa! Passa! Tudo passa... 
92
DESCI AO INFERNO
Thalisson Bomfim 
Um dia antes de ir, pela noite, já 
deitado na cama, aplico as adições que 
me ensinaram... Num breve instante 
preparo o outro dia.
Desperto às 6h20 da manhã, como 
tinha proposto na adição do dia 
anterior.
Após abrir os olhos, a primeira coisa 
em que penso é na atividade que me 
fez acordar mais cedo.
Preparei-me antes e na hora para 
descer ao inferno.
E o inferno existe? Existe e fui até ele!
Resisti, relutei, neguei. Mas Ele me 
levou.
Fui de mãos dadas com Ele, parecendo 
uma criança com medo e acuada.
O inferno era um ambiente familiar, 
muito familiar.
Era a sala de minha casa.
Da casa em que morei até há pouco 
tempo.
O ambiente estava todo escuro, sem os 
móveis.
Ouvia vozes, uma em especial pedindo 
para parar... gritos, risadas, piadas.
Via muitos rostos.
Dedos apontando, pedras para serem 
arremessadas.
Sentia raiva de cada pessoa presente.
Senti o deboche, o escracho, a ira.
Não falava nada, só olhava e 
experimentava o gosto do inferno.
Saboreava cada olhar, gestos, toques, 
todos os movimentos e sentimentos.
Nada passou despercebido.
O inferno existe, ele é real!
O inferno existe e pode ser aqui e 
agora!
O inferno existe e ele é existencial!
O mais bonito dessa experiência foi 
levantaras mãos e Ele me puxar, me 
chamar para viver no Céu.
Se o inferno existe o Céu também 
pode existir ou ser construído.
Voltei do inferno mais amado, 
perdoado, feliz e pronto para continuar 
a ser criado e recriado na dinâmica do 
amor e seguindo os passos d’Ele.
O Céu existe, ele é real!
O Céu existe e pode ser aqui e agora!
O Céu existe ele é existencial e é 
93
PRECE 
Rogério Barroso, SJ
Esta voz,
pela garganta
abafada,
não querendo, 
senão por Ti,
calar,
trépidos sons grita,
angustiada,
e o medo pede
a tudo
olvidar.
94
OBRA: 
AS MÃOS SOBRE O ROSTO 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho a caneta esferográfica sobre papel. 
Arte sobre os exercícios espirituais.
95
MASMORRA 
Ozires Vieira de Sousa, SJ
Fiz-me de vítima, refém do abandono
Calei-me por medo de demonstrar minhas fraquezas
Gritei em silencio: socorro! Para não importunar os outros.
Então, decidi viver no castelo da superficialidade
Protegido pelos muros do medo, do silêncio e da aparente tranquilidade.
Sem perceber, tornei-me prisioneiro da solidão.
Cansado desta prisão, decidi me libertar. 
Fugi do castelo pelo subterrâneo, abrindo os calabouços, deixando livres
Os sentimentos
Os traumas 
E feridas
Fui me aventurar em outros reinos, tendo como companheira a minha 
Consciência.
96
TEMPO DE PÁSCOA 
Lucas Pedro, SJ 
Deus, nos cativas com dom de sua alegria.
A luz da ressurreição adentra as trevas
E ilumina com o esplendor da bondade.
As fraquezas se transformam em coragem
O cheiro podre dá lugar a Aloés
A vida se reveste de amor
Os dias difíceis dão lugar
A um silêncio misterioso
Que toca!
Acalenta!!
Cuida!!!
A divindade diviniza a a humanidade
Se experimenta aqui
Aquilo que depois se gozará para sempre
Deus é assim
Mistura de amor
Banhado com excesso de alegria
Pequenas e singelas gotas
Que harmonizam
Que pacificam
Alma ansiosa na busca
Do mistério
Onde está Deus?
Qual o caminho para encontrá-lo
Apenas nas orações
Sigo minha intuição
Guiado por suas moções.
97
PERDONAR
Juan Gutiérrez, SJ (Perú) 
Señor, cómo perdonar
cuando la memoria me distancia,
cuando no recuerdo haberlo hecho,
cuando no olvido la ofensa,
cuando no vuelvo al cotidiano
que me recuerda como hermano.
Cómo hacerlo
cuando no entiendo la ofensa, 
cuando no sé perdonarme,
cuando no lo pienso posible
cuando no imagino abrazar
sin vencerme a mí mismo.
Cómo lograrlo
cuando mi voluntad se instala,
cuando me paraliza la herida,
cuando hay palabras duras,
cuando mi deseo de perdonar
no llega a mis acciones. 
Señor, sí lo intento,
pero desearlo no basta,
pues no depende solo de mí
que la memoria no me hiera,
que entienda tu misericordia,
y que mi voluntad se mueva.
Señor hoy no puedo,
pero deseo desear perdonar
Tú nos inspiras y mueves
y cuando pueda será Gracia Tuya.
98
A VIDA É MISTÉRIO DE TRANSCENDÊNCIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
Eis que a prisão obscura onde me encontro me convida:
A Amar
A Esperançar 
A Sonhar 
Eis que meus olhos enxergam no cotidiano vácuo, 
A beleza de abrir a janela, e perceber que o cotidiano é transcendência de 
mistérios tangíveis...
Eis que minha vida é mais do que aquilo que se vê,
Minha vida é felicidade de desassossego. 
Eis que a vida é uma paz inquietante, uma hora ela afrouxa, uma hora solta...
Quem me dera conhecer todos os mistérios que corroem dentro de mim.
Eis que sou guiado por uma grande fome;
bendita seja a fome dentro de Minh ‘alma.
Não quero jamais que ela se acabe.
Perderia o gosto de sonhar 
De esperançar 
De amar
De buscar...
Eis que o homem é um ser inquietante, 
Inquieta-se tanto que sua alma só vive na busca de algo fora da materialidade.
Eis que o homem é uma realidade finita... 
Mas eis que é Deus o princípio e fim do homem
É o absoluto de toda minha subjetividade...
99
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura acrílica sobre tela. 
Arte narrativa sobre as ataduras: não ser tolhido, não perder sua capacidade 
de expressar, numa busca de liberdade e compreensão do outro. 
Não somos monstros, somos seres que buscamos estabelecer relações.
100
SEM IGUAL 
Álvaro Negromonte, SJ
Diante de ti, Senhor
Estive todo, completo em mim
A alegria me encheu o coração
Por teu amor-miserere sem fim 
Sou teu copeiro, sei que sou
Quero servir à mesa, cuidar
Mesmo que tenha sido infiel em alguns momentos
Teu toque de perdão vem me inundar
Não há outro igual a ti, Senhor!
Sem fim é o teu amor, o teu perdão
Diante da minha pequenez
Rasgo o peito de dor e gratidão. 
101
CORAÇÃO EXPANDINDO
Alan Cavalcante, SJ
Ajuda-me, Senhor, 
A compreender
Teu perdão.
Aquela compreensão
Simples, profunda
Inesgotável
Do coração.
Diante de ti
Minhas culpas
Autojulgamentos, remorsos
Já não encontram
Lugar.
Os lugares de minha
Vida se abrem
Para outra presença.
A reconciliação
O olhar amoroso
O abraço acolhido.
Da tua misericórdia
Se expande meu coração
Expande-se para que 
Mais possa amar.
102
OBRA: 
INÁCIO EM MANRESA 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre tecido. 1,20x2,50m – 2000.
103
MUITAS VEZES, SENHOR!
Higor Lima, SJ
Muitas vezes, Senhor!
Quase sempre a mente está cansada.
O coração está insensível.
Os juízos são falsos, preconceituosos.
Todos os dias Tu nos estendes a mão.
Todos os dias nos dais a oportunidade de tomarmos parte contigo.
Dividir o pão.
Dilatar o coração.
Sempre titubeamos.
Perdão, Senhor!
Por nossa falta de confiança,
Por nosso amor vacilante.
Ensina-nos o teu modo de amar,
Para que assim o Teu coração ame em nós e por meio de nós.
104
MIRADA DE MISERICORDIA
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)
Miras el mundo herido
y su dolor te rasga,
cual amor no correspondido.
Te duele nuestro pecado,
pero te duele más no perdonarnos.
Tu mirada se alegra,
porque cuando nos nombras
cada uno te vuelve su rostro.
Tu mirada embellece,
porque cuando nos perdonas
cado uno es más hermoso.
105
OBRA: 
CRISTO 
José Paulino Martins, SJ 
DESCRIÇÃO: 
Técnica mista sobre página de revista – 20x20cm – 2006. 
106
A VIDA EM MOVIMENTO
Agnaldo Duarte, SJ 
Nestes dias de vento
Sem destino e documento
Precisamos do acalento
Pra curar a dor só o tempo
Neste momento, só o tempo
Mas passa tão lento 
Precisamos do alento
Como o pão precisa do fermento 
Nestes movimentos o fermento 
Não é apenas um alimento
É preciso conhecer o sentimento 
Que atravanca o corpo por dentro 
Neste coração por dentro 
Palpita em contentamento 
A dor da gente é de sofrimento
Que grita vida adentro 
Nestes mares adentro
Além das bússolas me oriento 
Nas viagens sem mapas entro
Levo a esperança em dia cinzento 
Neste dia tão cinzento 
Que o sol se esconde no firmamento 
Mudança de comportamento 
O amor vive sempre em movimento.
107
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
108
PERDONAR
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)
Señor, cómo perdonar
cuando la memoria me distancia,
cuando no recuerdo haberlo hecho,
cuando no olvido la ofensa,
cuando no vuelvo al cotidiano
que me recuerda como hermano.
Cómo hacerlo
cuando no entiendo la ofensa, 
cuando no sé perdonarme,
cuando no lo pienso posible
cuando no imagino abrazar
sin vencerme a mí mismo.
Cómo lograrlo
cuando mi voluntad se instala,
cuando me paraliza la herida,
cuando hay palabras duras,
cuando mi deseo de perdonar
no llega a mis acciones. 
Señor, sí lo intento,
pero desearlo no basta,
pues no depende solo de mí
que la memoria no me hiera,
que entienda tu misericordia,
y que mi voluntad se mueva.
Señor hoy no puedo,
pero deseo desear perdonar
Tú nos inspiras y mueves
y cuando pueda será Gracia Tuya.
109
OBRA: 
NOSSA SENHORA DA RUA 
José Paulino Martins, SJ
110
TIERRA QUEBRADA
Jaime Andrés, SJ (Província do Equador)
Tierra quebrada
resuenan los tambores
mirada pura
Atardecer
las palabras tejidas
migas de pan.
111
CETICISMO MÍSTICO 
Rogério Barroso, SJ
Ecos vagos delineiam formas
Em abissos sonoros contidas
Avistam o Mistério que entorna
Além da sorte, o despertar da vida
Nada e Tudo se confundemNa peleja vão luzes projetadas
Inertes, descobrem e se fundem
Imagens falsas por si criadas
Decriptam da alma seus postos
Decompostas presenças na dor do crível
Retornam os seres análogos e opostos
Religa-se o Necessário ao possível
Da lida plena a sentença é ato
Dela se diz oração, de fato?
112
OBRA: 
CRIAÇÃO – PRINCÍPIO E FUNDAMENTO 
Rogério Barroso, SJ 
DESCRIÇÃO: 
Compensado naval, verniz vitral, purpurina dourada, 
filó de algodão, barbante.
113
MIRO ADELANTE
Benjamín González Buelta, SJ
Miro 
hacia atrás,
y veo 
mis dolores 
recientes 
e insepultos,
y toda mi vida
ambigua
y generosa
ya generosa
ya bajo la tierra 
sepultada
a paladas
de días
y de olvidos.
Miro 
adelante 
y me veo 
en la vida
que engendré ayer
al sembrarme, 
creciendo hoy 
delante 
de mí mismo, 
en la risa
sin trampa
de los niños, 
en el ritmo
de los jóvenes 
que estrenan
horizontes,
en las comunidades
que se unen
contra las fuerzas 
de la muerte.
Mi vida ya va 
en todos ellos
delante de mí
más fuerte que yo,
marcándome 
el camino
tirando de mis pasos.
Hoy,
en este instante,
escojo 
el futuro
y resucito. 
114
OBRA: 
Alexandre Raimundo, SJ
115
CABEÇA FORTE
Isaías Gomes, SJ
Levanto agradecendo a Deus por viver
Caminho com generosidade, tenho como andar
Me encontro, sei que posso presença-ser
Cresço, é possível amar, ser junto e cuidar 
Caio, às vezes esqueço, o amor-cuidado pode perecer 
Volto, com gratidão sei, é possível ainda continuar 
Paro, converso, reflito, penso, é real crer, para tudo ver
Entre começar, caminhar, encontrar, cair e voltar 
O quanto com Ele, elas e eles, me faço eu, forte para viver. 
116
ABRO MEUS OLHOS
Higor Lima, SJ
Abro meus olhos.
Me olho no espelho.
Penso que vejo, mas não vejo.
Nada vejo!
Vejo sim.
Olhos;
Nariz;
Boca;
Pelos; 
Cabelos.
Além dos poros, nada.
Ou quase nada.
Preciso de fôlego para mergulhar em mim.
Mas não acaba assim, triste fim.
É só o tempo da pupila se acostumar com a oscilação entre 
claridade e escuridão.
E os pulmões se acostumarem com o ar às vezes abundante na alta pressão, 
às vezes rarefeito na baixa pressão atmosférica que existe dentro de mim.
117
PREGUNTAS DE DIOS
Benjamín González Buelta, SJ
Donde estás?,
dice el Creador. 
¿Dónde está tu hermano?, 
dice el Padre. 
¿Quién te liberó?,
dice el Señor. 
¿Dónde están tus acusadores?, 
dice el Pastor. 
¿Por qué me persigues?, 
dice el Hermano. 
¿Por qué temes?,
dice el Amigo. 
Preguntas de Dios 
en nuestra tierra, 
como la lluvia 
que baja del cielo
y al cielo sube, 
preguntas eternas 
en la vida
que nos traen, 
en la muerte 
que se llevan. 
Acogidas 
como la lluvia,
ya nos van haciendo
eternidad ahora.
118
SEGUNDA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer 
O perdão, que é amor sempre renovado, reiterado e revivido; dom que persiste 
e se dá novamente, nos diz que não podemos conformar-nos com nenhuma 
banalidade e qualquer mediocridade. Somos feitos para algo grande, a vida nos é 
dada para um projeto maior. Temos que construir um Reino, que não é nosso, mas 
do Rei Eterno e Senhor Universal. Ele nos chama, nos convida para estar perto 
dele, junto dele, caminhando e vivendo. 
O convite da segunda semana é apaixonar-se. Como diz o Pe. Arrupe: 
quando nos apaixonamos, tudo passa a ser diferente: os horários, os critérios, as 
atitudes, as prioridades. O amor rege nossa vida desde que acordamos até que 
dormimos, desde que nascemos até que morremos. E esse amor tem nome: Jesus. 
Nesta segunda semana somos chamados a ver, ouvir, tocar, contemplar, respirar 
Jesus Cristo. 
Sua encarnação no ventre de Maria, seu nascimento em meio a deslocamentos 
e dificuldades, sua infância de alegria e graça, de obediência, liberdade e 
descobertas, sua vida pública de paixão e entrega pelo projeto do Reino do Pai. 
A graça a pedir é, como os primeiros discípulos, poder ver, ouvir, tocar, apalpar 
o Verbo da Vida. A Vida se manifestou e a nós foi dada a graça de conhecê-la e 
saber seu nome. Jesus de Nazaré é nossa vida. Nosso caminho, verdade e vida. 
Segui-lo aonde ele for é o sentido maior da nossa vida.
119
OBRA: 
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO: 
A Igreja, a que caminha na LUZ ( Toda a epopeia de Moisés no livro do Êxodo). 
MARIA, a que alcança o Céu e acolhe a DEUS (A Encarnação). 
120
“Conhecimento interno do Senhor 
que por mim se fez homem, para que 
mais o ame e o siga.” 
(EE 104)
A PALAVRA SE FEZ CARNE
Moisés Nonato , SJ
No silêncio... 
coração a galope.
Os olhos não veem, se inundam.
Os ouvidos não escutam, sentem.
O olfato não cheira, aspira.
Os lábios não beijam, soluçam.
O paladar... a salobro.
O tato não toca, pulsa.
Na carne,
o latejo da vida.
121
OBRA: 
FUGA PARA O EGITO 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre parede. Itaici. SP – 2013. 
122
RECOLHE NOS TEUS BRAÇOS
Lucimara Trevizan (Leiga inaciana)
Recolhe nos teus braços, Menino Deus, o meu amor.
Veja nos meus olhos a imensa fragilidade que sinto e sou.
Poderia enumerar tudo o que em mim é impossibilidade, fraqueza e solidão.
Te dou minha enorme fome de amar. 
Te dou o oceano de amor, dor, silêncio e saudade que me habitam.
Coloco aos teus pés minha vida.
Te amo. 
Essa é uma verdade que me constitui. 
Te amo antes de tudo.
Fica comigo nesse desassossego que não me deixa dormir. 
Fica comigo nesse vazio imenso e intenso que pulsa no silêncio dessa noite 
que invadiu o mundo. 
123
OBRA: 
UM MENINO NOS NASCEU, UM FILHO NOS FOI DADO, (IS 9,5) 
Lúcio Américo
124
OS MAIORES DESEJOS
Gabriel Araújo Pacheco
Os maiores desejos
E uma oferta...
Coração ardente,
Chamado,
À misericórdia imensa se entrega:
Eu me ofereço!
Quem és? E por que tanto me chamas?
Pela tua causa, luta, exemplo,
E pela fé,
Aqui estou!
Confiança que se encarna em resposta!
Eterno Rei e Senhor!
125
OBRA: 
INÁCIO EM MANRESA 
José Paulino Martins, SJ 
126
O BOM PASTOR CUIDA E CHAMA-ME
A CUIDAR DE SUAS OVELHAS
Paulo Vinícius da Silva Abreu, SJ
Tu és a porta, 
Tu és a voz,
Tu és quem dá vida e em abundância.
E eu, às vezes, por um motivo ou outro
Afasto-me de Ti, do teu rebanho.
Ouço outras vozes e as sigo em algum momento.
Perco-me, me vejo só
Sem a Tua presença.
Mas Tu não desistes de mim 
E assim sais a minha procura 
E com a Voz suave e serena, sais a me chamar.
Alegro-me com o Teu chamado, 
Com a Tua preocupação, 
Com o Teu cuidado para comigo.
Ó Senhor, bom pastor,
Tu que dás a vida por tuas ovelhas
Ajuda-me a não me afastar de Ti
E ensina-me a ter os teus gestos,
Para que, ao contrário do mercenário
Eu possa cuidar, abraçar, preocupar-me
Levar a tua misericórdia
E ensinar o teu mandamento, que é o amor,
A todo um rebanho de ovelhas.
Ajuda-me, Senhor, para que
Esses gestos não fiquem só no coração,
Mas que eu possa levá-los aqui e agora.
127
VOCACIÓN
José María Rodríguez Olaizola, SJ
A veces hay que ser árbol 
y dar sombra al caminante cansado.
Hay que ser agua, que alivie la sed de respuestas,
y fuego que arrase lo injusto, lo indigno, lo hueco.
Hay que ser roca que abrace los cimientos de lo duradero, 
tierra que acoja las posibilidades de la semilla, 
y océano, donde podamos zambullirnos, 
para renacer llenos de libertad y de esperanza.
Hay que ser canción que alivie los vacíos, 
y silencio habitado, que venza a la cháchara.
Unas veces hay que ser hogar al que regresar,
y otras veces, puerta que se abre a la tormenta.
Dios es el árbol y el agua, la roca, la tierra y el mar. 
Dios es canto y silencio, hogar que acoge 
y puerta que nos conduce a nuevas historias.
Pero hacen falta guías 
que consagren sus días a buscar ese tesoro.
Hay quien se dedica a sembrar, encender, 
forjar, regar, compartir y acompañar.
Hay trovadores que cantan con palabras prestadas, 
cauces de agua ajena que trae vida verdadera.
Hay maestros con muchas preguntas y pocas respuestas,
que ayudan a otros a descubrir el Misterio.
Soñadores de un bien posible, 
que convierten su amor en puente,
para acercar a hermano conhermano,
para unir al ser humano con Dios.
Apóstoles, con pies de barro 
y corazón de fuego.
Que nunca nos falten.
128
POUCO OU NADA
André Araújo, SJ
Quis pegar a palavra no ar.
Flecha disparada
não tencionava ferir.
Acreditava mais no homem
que o homem em si.
Tinha outras na aljava
para momentos assim,
de maior lucidez,
quando a estupidez
dá lugar à ação.
Disparava e acertava
nas verdades necessárias.
Flecha como aquela
não sangrava.
Tanto melhor,
não tinha mesmo inspiração
para um Sebastião.
Seria pior,
fosse soldado ou rei,
era café pequeno,
desses que batem cabeça,
pregam a Lei
e ainda disputam
um lugar no Reino.
Um vai negar,
o outro vai trair.
De mim o que se dirá?
Temo em perguntar
pelo medo
de não suportar ouvir.
No entanto,
em poucas linhas, o espanto:
“Enche tuas talhas,
a dimensão do teu voo é eterna,
não meças com o pó da terra
o que teu coração carrega,
se te dispersares no pequeno,
o que é grande escapará
naturalmente aos teus olhos,
não te impeça a curva de tuas asas
o voo pleno por entre os mundos,
deixa entre as nuvens o que segrega
o teu existir profundo
cair sobre os espaços da matéria.
O resto, pouco ou nada...
129
QUANDO VACILO
Jerfferson Amorim, SJ
Quando vacilo,
tu acolhes as minhas incertezas.
Quando me escondo,
tu continuas iluminando o caminho, para que eu não esqueça de onde vim.
Quando procuro as sombras,
tu brilhas como o sol, não por fora, mas desde dentro do meu interior, 
fazendo-me ver que tu me tens.
E assim me sinto todo teu
como centelha de vida que
irradia a tua presença.
 
Teu olhar me acolhe sem me incriminar.
Acercas-te de mim e jamais me oprimes com a tua presença.
Tu pavimentas as minhas conquistas.
E fortaleces os meus passos.
Quando te vejo, o coração palpita.
Quando te sinto, confirmas a certeza de que vives em mim!
Quando me convidas a dar-me todo, respeitas o meu passo que é resposta ainda 
medida e parcial, porque sou como Pedro na manhã da ressurreição: 
tu me amas?
Tu sabes tudo, tu sabes que te quero, que gosto de ti, que sou teu amigo!
130
FALTA TÃO POUCO PARA QUE EU
Francys Adão, SJ
Falta tão pouco para que eu
termine a travessia do deserto
e entre na terra da Promessa
E tantos cansaços já me paralisam
tantas solidões me aprisionam
tantas lamentações me atrofiam
Mas Tu passas por mim
e não és indiferente
à minha miséria e dor
Tu vês e me fazes ver
a vida nova que posso ter
o desejo escondido em mim
a força para levantar e andar
Se acolho Teu olhar
escuto Tua Palavra
e obedeço ao Teu convite
já não há paralisia, mas movimento
já não há pecado, mas perdão
já não há ruptura, mas relação
Pois o Amor sempre me resgata
põe-me de pé
devolve-me a mim mesmo
e ao novo Caminho
que me faz cada dia mais
um filho querido do Alto
um irmão entre tantos irmãos.
131
NO NOS LLAMES
Benjamín González Buelta, SJ
no nos llames
para aclarar las sombras
con velas frágiles
protegido de los vientos
con las palmas de la mano,
no ser puros espejos
que reflejan las luces ajenas,
estrellas citadas
dependiente de otros soles,
que como amamos la noche
hacer brillar las superficies
con reflejos fugaces
a tu gusto.
nos ofreces
sé luz desde dentro,
cuerpos iluminados
con tu fuego insaciable
en la médula ósea
arbustos en llamas
en las soledades del desierto
que buscan el futuro
secuelas de casa
que une a los amigos
compartiendo pan y pescado
o relámpago profético
rasca la noche
tan dueño de la muerte.
nos ofreces
sé la luz de la gente
Hoguera de Pentecostés
en combustión persistente
de nuestros dias
iluminado por tu espíritu,
sé ligero en ti,
que tu eres la luz,
inseparablemente fusionado
nuestro fuego con tu fuego.
132
PRECE À MÃE NEGRA
Solange do Carmo e Eduardo Calil (Teóloga, ex aluna da Faje)
Ó mãe preta,
Preta igual aos negros da senzala, 
Igual à pele dos torturados, 
Roxeada pelos hematomas. 
Convosco podem se sentir 
Irmanados os sujos mendigos, 
Os pobres que se arrastam pela sarjeta 
E reviram os lixões, 
Os que não se sentem vistos.
Olhai pra estes que são invisíveis, 
Perambulai com os pobres nos 
caminhos 
Da indiferença, 
Sede companheira dos mendigos.
Sarai as feridas também dos 
torturados, 
E libertai os negros da senzala.
Tocai conosco 
O tambor da libertação. 
E aos de pele clara, 
Que não têm olhos para a senzala 
— não é onde estamos todos? —
Que deixem a ilusão de ser melhores, 
Mais puros... 
Ajudai-nos, mãe preta,
a fazer a grande festa da comunhão. 
A do teu Filho,
Onde somos todos irmãos. 
Já tocam os tambores da alegria,
Entoam-se hinos de festa, 
Há pão! Pão à revelia.
E o mendigo e o torturado curado 
Levam junto a mão ao mesmo pedaço. 
Há dança, há gozo, 
Os corpos se entrelaçam não na luta, 
Mas no abraço. 
Nesse banquete, 
Os saciados pedem perdão 
Para quem só restou migalhas. 
Os fortes se redimem com os 
enfraquecidos. 
Os violentos beijam os pés de suas 
vítimas.
Só assim, Mãe Preta, 
Seremos seus devotos, 
Porque seguidores do teu Filho, 
pobre e torturado.
133
OBRA: 
Lúcio Américo 
DESCRIÇÃO:
Que seu amor nos encontre, Mãe Aparecida,
nos dias de sol e nas noites sem estrelas.
Que seu acalanto ilumine nosso caminho
e revele o rosto de Deus nesse chão tão seu.
134
DA PARTE DE DEUS 
Carlos César, SJ
Há circunstâncias,
surpresas e mudanças. 
Da minha parte, 
há recusa, 
aceite, 
idas e vindas. 
Mas a promessa de Deus não muda. 
Há constância.
Se cumpre, 
permanece e eterniza.
Da parte de Deus, 
Há sempre amor, 
paciência, 
presença e ternura. 
E isso basta!
135
OS LLAMO AMIGOS 
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ 
No esperéis de mí
mentiras o adulación.
No escucharéis palabras 
fáciles, pero engañosas,
ni os envolveré en silencios 
cómodos, pero cómplices.
No os ofrezco 
todas las ventajas
al menor de los costes,
cómodos plazos 
para la justicia,
o triunfo
sin batalla.
No tendréis, en mí,
una caricatura 
del amor 
a medias.
Os llamo amigos,
y al hacerlo, os prometo
hondura, pasión, y verdad.
Os ofrezco mi cruz y mi cielo, 
mi amor y mi fuego, 
mi luz y mi tiempo.
Os presento mi camino,
mis pasos
y mi evangelio.
Cuando os sintáis
preparados, 
os espero.
136
OBRA: 
INÁCIO EM PARIS 
 José Paulino Martins, SJ 
137
TUA CAUSA
Eduardo Carvalho, SJ
Jesus, como suportaste tanta perseguição
E o abandono de teus amigos 
Quando mais precisou deles?
Tudo por causa de um Sonho
Sonho de um Reino 
Sem injustiças
De paz e de amor
Onde o pão alimenta a todos
Onde a criança é criança
Onde a mulher não é explorada
Onde o idoso não jaz solitário 
Ensina-me, Senhor, 
A ter a Tua coragem
Denunciar os grilhões que privam a muitos 
Da liberdade 
Da vida digna
Faz-me sentir a dor dos que sofrem
E dar voz a tantos outros excluídos
Ajuda-me a ser coerente com o anel que carrego
Mantendo minha fidelidade à Tua Causa
Porque Tua Causa
Vale a Vida.
138
VOZ DO PASTOR
João Júnior
Chama-me
com tua voz de Pastor.
Chama-me pelo nome
e ajuda-me a crer
que, para além desse mar de angústia
e dessa solidão de indiferença,
em que nem números somos mais,
de tantos que já perdemos
para a morte ou para a apatia,
ao menos para ti,
ainda somos um “tu”
com nome e história,
com lágrima e esperança.
E leva-me para longe
das paredes seguras às quais,
um dia, penhorei a liberdade.
E, atento à tua voz, Pastor,
que me recorda o nome que me aviva,
o meu,
eu possa te seguir
pelas travessias sempre escorregadias
de ser eu mesmo.
Lá onde não há “rebanho”,
massa informe,
mas sempre “tu” e sempre “eu”,
naquilo único que faz viver:
o amor que me faz ver-te, enamorado,
e me faz ver-me, apaziguado.
139
OBRA: 
BOM PASTOR 
 Luís Renato Carvalho, SJ 
140
¿A QUIÉN IREMOS?
José María Rodríguez Olaizola, SJ
Un día decidimos subir a tu barca,
confiarte el timón.
Desde entonces
navegamos por la vida
y escuchamos sonidos diversos,
el ruido del trueno 
que anuncia la tormenta,
los cantos de sirena 
que prometen paraísos imposibles,
el bramido de un mar poderoso
que nos recuerda nuestra fragilidad,
las conversaciones al atardecer
con distintos compañeros de viaje,
los nombresde lugares 
que aún no hemos visitado,
y los de aquellos sitios 
a los que no volveremos.
A veces nos sentimos tentados
de abandonar el barco,
de cambiar de ruta,
de refugiarnos en la seguridad
de la tierra firme.
Pero, Señor, 
¿a quién iremos…
si solo tú puedes ayudarnos 
a poner proa 
hacia la tierra del amor
y la justicia?
141
APAIXONAR-SE PELAS COISAS NOVAS EM CRISTO
Davidson Braga, SJ
Apaixonei-me por Jesus Cristo.
Não pela imagem dele que carrego 
comigo desde a infância. 
Mas pelas vezes em que ele se 
apresenta a mim como um 
jovem inquieto, 
questionando o fariseu que há em 
mim e meu apego às leis. 
Vejo-me apaixonado por ele quando, 
deitado em seu leito de morte, 
ele me olha com esperança. 
Com mais esperança do que costumo 
ter todos os dias, 
apesar de minha saúde e de todos 
os recursos a que tenho acesso. 
Estou perdidamente apaixonado 
por sua pobreza, seu despojamento, 
sua liberdade. 
Ele não me cobra nada. 
Apenas se dá por inteiro, sem reservas. 
Quando ele vem a mim menino, 
com sorriso e olhar curioso, 
com respostas surpreendentes e 
inusitadas. 
Quando ele me recebe em sua casa 
e me serve o melhor peixe, o melhor 
açaí, a farinha especial. 
Quando conta suas histórias, suas 
lutas, seus sonhos. 
Em todos esses momentos fico como 
bobo, admirando-o. 
Em tudo isso me vejo apaixonado 
por ele. 
Esta manhã outra vez ele veio a mim. 
Olhou-me com tanto amor e com 
esperança de me ver novamente 
em breve. 
Ah, esse Deus Encarnado, este eterno 
verbo amar. 
Deixou-me apaixonado quando 
decidiu atravessar este mar comigo, 
sem nem mesmo me conhecer. 
Confiou em mim e me perguntava 
se eu apreciava sua companhia. 
Deixou sua mãe, seu povo 
e veio caminhar comigo por estradas 
que não conhecíamos. 
Este mesmo Jesus que, companheiro 
de longa jornada, 
decide partir outra vez e trilhar 
novos caminhos. 
Desapegado. 
Ele me encanta todas as manhãs. 
Abre meus olhos. 
Cura minha cegueira. 
Destapa meus ouvidos e endireita 
minha coluna. 
142
OBRA: 
PANTOCRATOR 
 Luís Renato Carvalho, SJ 
143
NASCEU-NOS O ENCANTO
Moisés Nonato, SJ
Alegria por todo canto.
Pranto em nenhum canto.
Canto em cada canto.
Nasceu-nos hoje o Encanto.
Tão bom é o Encanto
Que até o desencanto transforma,
Em verbo: des-encantar.
tirar dos cantos,
Sair dos guetos, entrar no Canto.
Como os pastores, outrora,
Saídos dos seus cantos 
Ao som de todos os cantos
De anjos e arcanjos,
De querubins e serafins...
Desencantando-se para se encantarem.
Quem disse que nada há de bom no desencanto?
Depende de como o enxergamos:
Se substantivo, imutável,
Se Verbo, transitivo.
O primeiro, elege Herodes;
O segundo, move pastores. 
144
OBRA: 
NASCIMENTO DO MENINO JESUS 
 José Paulino Martins, SJ 
145
NO SILÊNCIO
Moisés Nonato, SJ
No silêncio...
coração a galope.
Os olhos não veem, se inundam.
Os ouvidos não escutam, sentem.
O olfato não cheira, aspira.
Os lábios não beijam, soluçam.
O paladar... salobro.
O tato não toca, pulsa.
Na carne,
o latejo da vida.
146
SALTO PROFÉTICO 
Alberto Luna, SJ (Paraguai) 
“Cuando tu saludo llegó a mis oídos
el niño saltó de alegría en mi seno” 
(Lucas 1,44). 
Visítanos, María, 
desde tus ojos radiantes 
corre hacia nosotros
con los brazos abiertos. 
Abrázanos y despierta
un salto de audacia,
una palabra, un grito, 
una danza nueva
desde el vientre de la tierra. 
Salúdanos, María, 
míranos niña indígena,
joven campesina, 
adolescente negra, 
muchacha de barrio. 
Muéstranos tu rostro, 
las cicatrices de esperanza
en tus manos de obrera, 
de tejedora silente, 
de lavandera de dolores, 
hechicera sanadora 
de hierbas medicinales.
Tu rostro de luna nueva, 
huerto de flores tempranas
donde brota chicha y maíz, 
caricia y canto de cuna
en la choza de cartón. 
Inclínate a besarnos, María, 
madre a destiempo, 
embarazada de Dios. 
Abriga nuestro desconcierto
abandonado a su suerte, 
huérfano de abrazos, 
sin lugar para hospedarse. 
Migrante indocumentada
de mirada suplicante, 
desempleada en riesgo,
maquiladora explotada. 
Ven hacia nosotros 
llena de gracia, 
déjanos oír tu voz, 
acércanos a tu pecho, 
hasta el ombligo de la tierra
en su danza de parto. 
Canta conotros, 
agita nuestro aliento, 
y al ritmo del Espíritu
despierten las palabras, 
salten los acordes vivos
de una profecía nueva. 
147
OBRA: 
NOSSA SENHORA 
Luís Renato Carvalho, SJ 
148
TU DESEJAS QUE A TUA E A NOSSA VIDA
Francys Adão, SJ
Tu desejas que a Tua e a nossa vida
levem a Lei e os Profetas
a seu pleno cumprimento
Para isso Tu nos fazes enxergar
Teu jeito de ler as Escrituras Santas
reconhecendo que
o caminho para a Vida 
é feito de letras
mas também de vírgulas
é permeado de palavras
mas também de respiros
é repleto de ações
mas também de repouso
Nestes tempos atribulados por
uma estranha enfermidade respiratória 
ajuda-nos a reconhecer nesta pausa 
em nossos ritmos acelerados
uma nova oportunidade de mergulho
no amor e no dom de si
Pois verdade seja dita
já havíamos esquecido 
que as vírgulas da vida
abrem em nós espaços 
para Teu Respiro santo
E sem essa Brisa suave
nos afastamos do Teu Céu.
149
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ 
DESCRIÇÃO: 
Desenho sobre papel. 
Gravura retrata as várias expressões dos jovens dentro 
da catequese narrativa. Um trabalho junto aos jovens das comunidades. 
Toda a beleza expressa no movimento do corpo. 
150
LLAMA -REY ETERNAL
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)
Llamas a los que quieres.
A quien ves desde las entrañas
y elijes para anunciar tu Reino
sin borrar sus fragilidades.
Tú ¡llama! Somos tuyos.
Susurras nuestros nombres.
Nombres que sueñan e inquietas
a cambiar por ellos y por el pueblo,
sin desmerecer cualidades.
Entonces, ¡llama! Aquí estamos.
Llamas sin promesas.
Nuestro seguro es desgastarnos más,
porque no todos asumen tu llamado
y nos quitan sus posibilidades.
¡Sigue llamando! podremos sumarnos.
¡Llama! susurra fuerte
hasta que lleguemos a estar contigo,
hasta gastarnos por Ti intensamente;
porque sin Ti, todo esfuerzo es vacío.
Por favor, ¡Llama!
151
OBRA: 
INÁCIO EM ROMA 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre tela.
152
O JOVEM POBRE 
(MT 19, 16-30)
Álvaro Negromonte, SJ
Sou o avesso, o contrário
Não pergunto o que devo fazer de bom
Porque a resposta é amar sem condições
E ainda não aprendi a assim agir
Para que meu coração se abra à luz
Neste encontro de intimidade com Jesus
Não parto triste, não tenho bens
Sou deserdado deste mundo tão cruel
Mas sinto o coração arder em brasa
Quando mesmo tão fechado no meu eu
Ainda escuto que irei herdar o céu
Não vou embora, não pretendo ir sozinho
Ficarei ao teu lado, ó do impossível
Ter deixado casa, irmãos, pais, campos e filhos
Não me faz melhor que outros, isto eu sei
Que sou o homem pobre que chamaste
Para seguir atrás de ti, meu Deus e amigo.
153
SEGUINDO A ESTRELA 
Odair José Durau, SJ
Três homens sábios atraídos por uma estrela,
deixaram a segurança e puseram-se a caminho.
Guiados por esse astro encontraram um Menino.
Como “secretário” anotava todos os detalhes desta grande epopeia.
Após o encontro, chegou o momento de oferecer os presentes.
Cada um ofertava o que possuía de melhor para aquela criança.
Chegada a minha vez, ofereci o livro das anotações da viagem.
Na verdade, era o meu livro, a minha história,
a busca de um coração que tinha procurado e, enfim, agora encontrado.
A peregrinação não pode parar.
Assim como os magos seguiram outro caminho,
continuarei seguindo os rabiscos daquela criança no meu livro.
Agora já não quero mais guiar, mas ser guiado por este Menino.
Quem sou eu para decidir o caminho?
Desejo seguir a trilha totalmente aberta tendo o Menino como guia.
Quero aventurar-me no desconhecido.
Com o cajado preparado com as iniciais do nome do Menino, do meu e de meus 
companheiros, seguirei a estrela.
Seguir a estrela é uma experiência de fé.
Passo a passo acompanhava como Deus se revelava.
Dava-me conta de que meu coração não era suficiente,
o amor deum Deus apaixonado é uma escola de humanidade.
154
GASTA-TE 
James Castro, SJ
Vem e gasta tua voz
Levanta altivo o teu grito
Em nome de um povo aflito
E não bradaremos a sós.
Vem e gasta-te de ouvir
Clamores e o choro profundo
Dos esquecidos do mundo
Que aos céus não podem subir.
Gasta-te por estares vendo
Tamanha dor e injustiça
Impostas por tanta cobiça
Ao povo que vai padecendo
Vem, sente o cheiro da morte
A impregnar teu nariz
Já tão comum ao infeliz
Largado à sua própria sorte.
Gasta teu toque e tua pele
No pranto que encharca este chão,
Nos calos que a enxada na mão
Ao Cristo no outro revele.
Gasta-te, assim, totalmente
Por todos que gastos já estão.
Gastando-se inteiro, e então
Inteiro estarás novamente.
155
ESPERA
Benjamín González Buelta, SJ
Esperaré a que crezca 
El árbol,
y me dé sombra. 
Pero abonaré la espera
con mis hojas secas. 
Esperaré a que brote 
El manantial, 
y me dé agua. 
Pero despejaré mi cauce 
de memorias enlodadas. 
Esperaré a que apunte 
la aurora 
y me ilumine. 
Pero sacudiré mi noche 
de postraciones y sudarios. 
Esperaré a que llegue 
lo que llegue 
lo que no sé,
y me sorprenda. 
Pero vaciaré mi casa
de todo lo enquistado. 
Y al albonar el árbol, 
despejar el cauce, 
sacudir la noche 
y vaciar la casa,
la tierra y el lamento 
se abrirán a la esperanza.
156
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
157
ENCARNADO
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)
Miras el mundo herido
y el dolor llega a tu intimidad.
Te duele nuestras infidelidades,
pero te duele más no salvarnos.
Y te haces como uno de nosotros.
Irrumpes encarnado
abrazando nuestra vulneravilidad,
entre fríos y humedades,
entre enos y chuvascos,
entre carencia y asombros.
Encarnado muestras tu modo.
Involucrando a la humanidad,
perdonando nuestras pasividades,
caminando junto a nosotros,
acariciando nuestros rostros.
158
OBRA: 
NOSSA SENHORA OCRE 
Luís Renato Carvalho, SJ
159
CAMINHAR CONTIGO 
Alan Cavalcante, SJ 
Tenho dúvidas se
Alcancei teus passos.
Ou se Tu, amavelmente,
Te aproximaste dos meus.
Os meus passos são vacilantes, 
têm receios das incertezas.
Os teus me convidam a ver
Onde e como tu vives.
Tudo o que fazes é inesperado.
Desconhecido.
Me desconcerta.
E pouco a pouco
Tu te revelas
Caminhando conosco
Porque compartilhas
De nossa
Humanidade.
E mesmo em silêncio
Faz-me desejar
Caminhar Contigo.
160
OBRA: 
OS DISCÍPULOS DE EMAÚS 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre Eucatex. 48x30cm – 2012.
161
OPRÓBIOS, HUMILHAÇÕES, AFRONTAS 
Higor Lima, SJ
Opróbios, humilhações, afrontas, 
vexame, desonra, injúrias, ofensas.
Promessa pesada. 
Desejo leve.
Te peço, mas não quero.
Me é concedido, mas não vivo,
Blasfemo.
O amor há de ser reconhecido.
Quando diante das similaridades titubeio,
Fracasso.
O que pode sustentar tão grande desejo?
(Anotações dos EE 146)
162
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho a caneta esferográfica sobre papel. 
Arte sobre os Exercícios Espirituais – Uma visão sobre Jerusalém... 
Uma janela, uma lágrima, uma mão estendida, por fim a cidade 
e os últimos acontecimentos.
163
O SENHOR DEUS
Franklin Alves, SJ
“O Senhor Deus chamou o ser humano: ‘Ondes estás?’, disse ele. ‘Ouvi teu passo 
no jardim’, respondeu o ser humano; ‘tive medo porque estou nu...’”
Tive medo...
Meus medos cabem todos na minha mão! Tenho pequenos cinco medos que se 
confundem com meus dedos.
Tenho medo da morte! Parece ser o menor de todos os meus medos, por isso, ele 
se desdobra no dedo mínimo.
Tenho medo da liberdade! Vizinho da morte, este medo se desdobra no dedo 
anelar.
Tenho medo da solidão! Maior de todos os meus medos, ele se desdobra no 
dedo médio.
Tenho medo da verdade! Apontar o dedo? Tenho medo! Por isso, ele se desdobra 
no dedo indica-dor.
Por fim, tenho medo de ter medos! Talvez este seja o mais forte de todos os meus 
medos e por isso ele se desdobra no dedo polegar.
Meus medos cabem todos na minha mão!
“Ondes estás? Ouvi teu passo no jardim; tive medo...”
Fechei minha mão, tentando conter meus medos!
Dobrei meus dedos, dobrei meus medos ao fechar a minha mão formando um 
punho com o qual queria golpear a mim mesmo.
Fechei meus olhos e entendi que errei porque apenas “ouvi o teu passo no 
jardim” e não a tua voz que gritava meu nome.
Foi, então, que te vi, vindo com teus passos leves sobre as águas e escutei a tua 
voz que me dizia: “sou eu, não tenhais medo”. Nem mesmo o medo de ter medos!
Abri meus olhos e fechei minhas mãos, dobrei meus medos, transformando 
meus dedos em arma letal! Punhos fechados para lutar e vencer!
 “O Senhor Deus chamou... Onde estás?”
164
EXPERIÊNCIA DE AMOR 
Renato Correia, SJ
O Amor
Quer ser amado.
Amor que é encontro
Quanto mais me deixo experimentar 
Maior será minha entrega
Ao Amor obediente,
Ser fiel ao correspondente deste amor
Ao amor indiferente,
Indiferença que me fala de liberdade,
Que não quer nada do que sua vontade não me oferece. 
Só assim poderei experimentar o amor de verdade
O amor que me identifica com o Amado.
Amor que gera entrega, livre e gratuita
Capaz de gastar a vida.
O amor quer ser amado.
165
BAJO TU BANDERA
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)
Verdadero y sumo capitán,
desde un lugar humilde
escoges a tus amigos
para proclamar justicia.
Conquistas bajo una bandera 
que promete solo pobreza
oprovios y humillaciones,
porque tu Reino es servicio.
Deseas conquistar a todos:
estados, condiciones y personas,
porque amas tu creación
y bajo tu bandera será cuidada.
Estar bajo tu bandera
es dejanos conquistar por Ti,
es conquistar a muchos
por una creación fraterna.
166
LIBERTAD CREADORA 
Benjamín González Buelta, SJ 
Cuando apresamos 
las cosas y a las personas, 
nos convertimos
en carceleros,
que también tienen
que estar en la cárcel 
para que no se les escape
ningún preso. 
Cuando dejamos 
volar al pájaro,
rodar el oro
y alejarse a los seres 
que más queremos,
vivimos libres 
para ir a cualquier parte 
y estrenar el futuro
donde aparezca el reino. 
167
FOTOGRAFIA: 
MIGRANTE 
Dimas Oliveira, SJ
168
PAI-NOSSO DA TERRA
Luan Amorim, SJ 
Pai dos marginalizados e dos vulneráveis,
Abbá de todos e todas que estais na terra.
Bendito seja vosso nome que pulsa no coração
de todos homens e mulheres de boa-vontade.
Que se realize no hoje de nossa história, o vosso projeto de vida plena.
Seja feito o vosso sonho esperançoso,
de uma humanidade de Justiça e reconciliação, em nossa casa comum.
O Pão da mesa da Palavra, da Eucaristia e do Cotidiano seja para todos e todas!
Perdoa as nossas ofensas contra os descartados e excluídos do nosso mundo, 
que gritam por dignidade.
Assim como nos comprometemos em ser irmãos e irmãs, como fostes 
de cada um de nós no alto da cruz.
E não nos deixeis cegar com o poder do antirreino,
Mas livrai-nos da apatia que dilacera o nosso sim!
Amém, Axé, Awere, Aleluia!
169
OBRA: 
SANTA CEIA 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílico sobre tela. 145x94 cm – 2013.
170
CONTRALUZ
Alberto Luna, SJ
(Contemplación del nacimiento / José como “esclavito indigno”)
No, José.
No han venido a verte a ti. 
Es a ella, la paloma, 
y en el nido, a su pichón, 
a quien todos quieren ver. 
Es la estrella de este niño
parpadeando en su regazo 
como en un cielo de nubes,
a quien cantan y celebran. 
No, José. 
Tu sigue juntando leña
y busca un poco de agua. 
Ve si encuentras una manta, 
algo de pan con leche tibia. 
No dejes que en la noche fría 
se nos apague la estrella. 
171
OBRA: 
FUGA PARA O EGITO 
José Paulino Martins, SJ 
DESCRIÇÃO:
Acrílica sobre parede (detalhe). SP Itaici – 2013. 
172
OS EMIGRANTES 
Ir. Francisco Fagundes, SJ
Emigrantes, todos somos. 
Possuímos nossos sonhos,
De chegarmos um dia, 
Na pátria prometida
Para nós oferecida, 
Enchendo-nos de euforia!
Existem emigrantes,
Vítimas inocentes,
Deixando seus lares,
Buscando a proteção 
Tendo só uma intenção:
Buscar a normalidade. 
173
FOTOGRAFIA: 
MIGRAÇÃO 
Dimas Oliveira, SJ 
174
QUEMSOU?
Isaias Gomes, SJ
Quem sou?
Me afasto e me retiro, mas trago alguém comigo, não posso descer sozinho
subo as montanhas, entre companhia, pedras, escuros e buscas, desço para mim
estou só, mas estou acompanhado, porém, a partir daqui, desço sozinho,
não sei por que, não queria. Por que eles vieram? Podem ver o que vejo? 
Sentir o que sinto?
Talvez, não tanto quanto, mas podem ver algo, sem eles eu não veria. 
Vejo que outros vieram, estes bem mais velhos e de mais longe. 
O que querem? Me deixar sozinho também? 
Eles me disseram: há tempos que esperávamos por você. 
Agora me entendo, sinto-me acompanhado por estes mais distantes.
Subo e vejo que os de agora, mesmo cansados, me esperam. 
175
VAMOS FUGIR...
Thalisson Bomfim 
Quem sou?
Pensava que o Egito era negro.
Que era filho da mãe África.
Mas como uma família de brancos 
foge para o Egito, que é na África, 
sem ser reconhecida?
Não sei! Só sei que me contaram assim!
Vi aquela família fugindo no meio da 
madrugada.
Fugindo por medo. Medo da morte e 
da ganância pelo poder.
Para onde iriam?
Para o Egito, mas qual lugar do Egito?
Para casa de quem?
Como seria o sustento daquela família?
Tinham uma criança no colo.
Como seria a vida desses três? Não sei!
Vendo aquela família me lembrei de 
algumas outras famílias.
Famílias que fogem de seu país por 
medo da guerra.
Da fome. Da sua etnia. 
Da orientação sexual.
Hoje chamamos essas pessoas de 
refugiados.
Aqueles três que foram fugidos para 
o Egito não seriam refugiados?
Pensei que Herodes tivesse morrido.
Mas vejo-o na Venezuela, nos Estados 
Unidos na América, Coreia do Norte...
O Herodes de ontem é o Herodes 
de hoje!
Quantas famílias e vidas ainda serão 
ceifadas em nome do deus dinheiro, 
do deus poder?
Outro mundo é possível!
O que estamos esperando para 
fazê-lo acontecer?
O Deus menino nos contou 
como fazer.
Vem!
Vamos derrubar os Herodes do poder!
O Deus menino que fugiu para 
o Egito está conosco.
Ele cresceu e nos chama a construir 
o novo mundo.
Sejamos ousados!
Não tenhamos medo!
176
OBRA: 
TEOTÓKOS 
José Paulino Martins, SJ
177
E O VERBO SE FEZ CARNE 
MENINO 
Renato Correia, SJ
Deus,
Trindade Deus 
Se encarna,
Se faz um de nós.
Para quem ele veio?
Para quem ele vem?
Se fez pequeno e frágil
Na pureza de um menino. 
Risco tremendo Deus corre. 
Todo menino quer ser homem logo. 
Todo homem, na sua autossuficiência, 
Pensa que é Deus.
Mas Deus... 
Deus quis ser menino! 
Maranathá!
178
JUNTOS VAMOS REMANDO
Germán Méndez, SJ (México)
Juntos vamos remando,
en esta nuestra barca;
donde me dejas elegir
la dirección.
Juntos vamos remando,
hacia la voz del Padre;
a donde me has
invitado a remar.
Y si, en pleno mar,
temo a la tormenta;
es porque me asusta
llegar a verte dormido.
Mas en medio de la duda,
entre el llanto y la zozobra;
soy yo quien duerme,
y sueña verte dormido.
Pero cuando despierto,
sigues ahí en calma;
volvemos a tomar los remos
y juntos seguimos remando.
179
 
Engraçado... vão plantando a morte, vai brotando a Vida!
ACAMPOU ENTRE NÓS...
André Araújo, SJ
O semeador saiu
lançando grãos de manhã.
Era um ato de coragem
quase vã
desafiar daquele jeito
as erosões.
Saía
e, de mãos cheias,
dispersava o que tivesse,
toda hora do dia,
sem que juízo houvesse
de chão,
de tempo bom
ou ventania.
Plantava sem escolher,
porque outro regaria
e nenhum faria crescer.
Servo inútil,
incansável,
fazia o que devia fazer.
E quando em Sião
silenciaram-se as lágrimas,
viu-se a abundância
do trigo,
do vinho novo
e do azeite,
viu-se encherem-se as torrentes
e os cativos regressarem
com os seus feixes.
Nosso rosto
iluminou-se de sorrisos,
nossos lábios, de canções.
A Alegria armou sua tenda
em nossa casa
e fez morada
em nossos corações.
Brotava a geração do Homem Novo,
a voz do povo
consolava multidões.
Porque num dia,
trivial como o de hoje,
alguém saiu
pra semear nas erosões.
180
OBRA: 
SAGRADA FAMÍLIA 
Luís Renato de Carvalho, SJ
181
MI OFRENDA
Germán Méndez, SJ (México)
Señor, quiero que cuando llegue a ti,
Te entregue una ofrenda casi vacía,
Que luzca incompleta y rota,
Que se aprecie poco agradable y hasta inútil.
Quiero que de ella no salga más;
Ni para ornato ni aprecio sea servible,
Quiero darte lo último que quede.
¿No sería esta ofrenda grata a ti?
Sí, una patena ya vacía,
De donde cuantos hermanos hayas querido
Se hayan servido ya de mí.
182
 
É preciso amar muito para entender de dor. 
Para bom entendedor: “amar não acaba...”
PARA BOM ENTENDEDOR...
André Araújo, SJ
“A vida não é para amadores!”
Desculpem-me os entendedores.
A vida é para amadores!
Para entender de dores...
Amar e amar bonito.
Acolher do pobre o grito.
Ouvir o irmão aflito.
Aprender de infinito.
Não passar indiferente.
Enxergar o indigente.
Amar o negligente.
Saber mais da nossa gente
que ensina compaixão,
que foge da opressão,
que não vive de ilusão.
Amor assim não acaba, não!
Isto eu quero, meu Senhor!
Quero ser entendedor.
Quero entender da dor.
Quero ser um amador.
Hoje eu quis até parar,
quis desistir, quis chorar,
mas também quis avançar:
ver a vida começar!
Me dá coragem e uns anos
pra vencer medos e enganos,
para reparar os danos,
fazer amar os insanos.
Teu povo vai resistir!
Tua gente vai sorrir!
Quem não ama vai cair...
Amar: é questão de existir! 
183
 DEI-TE TUDO
Claudia Honorio (Leiga inaciana)
Dei-te meu coração
Dei-te minhas histórias
Dei-te minhas lágrimas
Dei-te minhas alegrias
Dei-te os restos de meus dias, o que quer que isso viesse a significar.
Dei-te Tudo
Não te dei coisas grandes e difíceis,
Dei-te meu coração e o resto dos meus dias, o que quer que isso viesse a 
significar.
Dei-te Tudo
Dei-te a doçura e a beleza na amargura atravessada.
Dei-te as lágrimas secas, mas o coração molhado.
Dei-te Tudo
O que quer que isso viesse a significar.
184
Desolado en Las Brisas…
ERES
Cristian Viñales SJ (Chile)
¿A qué te pareces?
A un rey eterno han dicho,
quizás un niño y gris llorar,
¿Quién digo hoy que eres?
Horizonte, atardecer del mar,
extensas y eternas avenidas
en el oleaje plata, inmensidad.
Eres, fugaces e inéditos colores,
íntimo en mis ojos, 
rojo luminoso, 
eres sello y regalo personal.
Eres, hambre de caminarte,
esta nostalgia de futuro, 
 el día que se va,
y la belleza que insinúa el infinito,
de seguro, si no eres allí estas.
Eres, esta tarde impredecible,
distinta en todo a las demás,
las que también eres,
quien te mire y en cualquier lugar.
Eres tan tu que te imploro
y en el aire cariñoso vas cargando,
esta súplica de siempre, 
tan mía, tan poco original.
Quisiera alcanzar a agradecerte,
previo aquel instante ingrato,
en que ya no serás quien eres
y esta oscura angustia mía,
fría vuelve desde el mar.
¿Ahora que pareces Atardecer?
Eres, quien yo perdí de vista
y mil dedos señalando desde el cielo,
esto que yo parezco,
 sin sentido y soledad.
185
OBRA: 
É PRIMAVERA 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Técnica mista. 64x47cm – 2007.
186
 RE-MAR
Marcos Sacramento, SJ
Voltar ao mar
Navegar. 
Ancorar. 
Descer da barca para consertar as redes e a vela costurar. Finda o dia e 
o coração unificado descansa sob o Teu olhar. 
No avançar da noite, uma voz que chama. Desperta! Arde a chama que 
aponta e guia para outro mar. 
Rema sem se adiantar ao Espírito. 
Rema confiando e esperando no Pai.
Rema mar adentro com o Filho para servir e amar.
187
 CHEIRO DE SAUDADE
James Castro, SJ 
Pra minha história contar
Não trago nada na mão.
De caixa não vou tirar,
De saco nem matulão.
Hoje o que trago comigo
E agora escancaro contigo
É o fundo do meu coração
Nasci no belo Sertão,
Foi lá também que cresci.
Ao ver seu rachado chão
Da seca nunca esqueci.
Seguindo a fé da família,
Andando na mesma trilha
A ter esperança aprendi.
Tive uma infância feliz,
Banho de chuva eu tomei.
Um monte de amigos eu fiz,
Com eles sorri e chorei.
Queimado, bila e pião,
Carrinho de rolimã, garrafão.
De tudo isso eu brinquei.
Depois o amor juvenil
Me veio quando adolescente.
Ainda assim me feriu
Aquele namoro inocente.Aprendi, pois, pela dor
Que aquele tal de amor
Machuca e maltrata a gente.
Chegou então o momento
De noutro céu eu voar.
Já feito o discernimento,
Bem longe eu fui estudar.
E mesmo de casa distante,
Ainda simples estudante,
O mundo eu queria mudar.
A vida foi sendo tocada,
Meus planos tornando reais.
Mas quando olhava pra estrada
Pensava: “falta algo mais”.
Era de Deus o chamado,
Mas eu, teimoso danado
Olhava sempre pra trás.
Meus planos estavam indo
Mas tudo largar decidi.
De Deus o apelo ouvindo
Confesso não mais resisti.
 (continua)
188
Fazendo de mim peregrino,
Com coração de menino,
Seguir Jesus escolhi.
Ao longo dessa vida minha
Quantas pessoas passaram.
Olhando quando se caminha
Histórias que se cruzaram.
Choros sorrisos e abraços,
Na tranquilidade ou percalços
A minha história marcaram.
Diante de tantas janelas
Minha vida fiz conhecer.
Sem tranca, ferrolho ou tramela
Bem verdadeiro vou ser.
E agora encerramos assim:
Com um pouco de você em mim 
E um pouco de mim em você!
 CHEIRO DE SAUDADE
(continuação)
189
OBRA: 
José Maria Fernandes Machado, SJ
190
DA PARTE DE DEUS
Carlos César, SJ 
Há circunstâncias,
surpresas e mudanças. 
Da minha parte, 
há recusa, 
aceite, 
idas e vindas. 
Mas a promessa de Deus não muda. 
Há constância.
Se cumpre, 
permanece e eterniza.
Da parte de Deus, 
Há sempre amor, 
paciência, 
presença e ternura. 
E isso basta!
191
OBRA: 
FUGA PARA O EGITO 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre parede (detalhe). Itaici. SP – 2013. 
192
SEDUÇÃO
Eliomar Ribeiro, SJ
Aproximou-se de mim
Com palavras encantadoras
Disse meu nome carinhosamente
Olhou-me nos olhos com ternura
Soprou segredos em meus ouvidos
Tocou meus lábios com suavidade
Fez meu corpo tremer de prazer
Alegrou meu coração
Amou-me apaixonadamente
Abraçou meus medos
Encheu de paz minha solidão
Reacendeu desejos adormecidos
Clareou a noite das minhas incertezas
Fui seduzido!
Já não tenho dúvidas:
A verdadeira vida
Nasce da entrega total
Ao Deus da Vida!
193
HASTA ENCONTRARTE
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ (Espanha)
Todo el mundo te busca, 
aunque a menudo ni lo sabe.
Ese anhelo de plenitud,
esa ansia de abrazo,
la orfandad de a veces,
la pasión, la furia,
el baile con el tiempo
que es la vida,
la curiosidad, la imaginación,
la voluntad inquebrantable de crear,
todo eso es búsqueda.
Tenemos sed de ti,
una avidez insaciable 
si no nos zambullimos
en tus aguas. Y hambre, 
de justicia y evangelio,
de ternura y futuro,
que engañamos 
al ocultarnos
en refugios insuficientes.
No queda otra que salir
de nuevo
a la intemperie
a la tormenta
a la verdad
para seguir buscando.
Hasta encontrarte.
194
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Pintura acrílica sobre tela estucada. 
A arte da simplicidade, o narrar simplesmente. 
O anunciar, o encontrar, o jeito de ser... 
195
BATISMO DE JESUS
Eduardo Carvalho, SJ
Aproxima-te da fila, Nazareno
Vai com o povo 
Simples
Pobre
Pecador
Espera a Tua vez com paciência
Para que toda a justiça seja cumprida
Tuas sandálias já gastas
Tu mesmo as tiras
E entra com reverência e expectativa
Nas águas do Jordão
E mergulha
Sob o rio 
Tudo se cala
Num instante 
De paz e quietude
Ao sair
Ao abrir os olhos
Com a água fria 
Escorrendo pelo rosto
Rompe-se o Céu 
Numa voz 
De amor
“Este é meu Filho amado, em quem me 
pus o meu agrado!”
Arde Teu coração
Tu és o Filho de Deus
O Amado do Pai
Vem, Senhor! Espalha esse Amor
Faz de nós
Teus irmãos e irmãs
E anuncia o reinado de Teu Pai
196
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho a caneta esferográfica sobre papel.
 Arte sobre os Exercícios Espirituais – o instante do batismo nas águas do rio Jordão. 
O desprender das vestes, a nudez, nas águas o nascimento, o feto conectado 
à Árvore da vida. A gota de sangue que cai da mão fendida. O Cristo nu pode ser 
um escândalo, mas é a força do amor que transparece, é vida. 
197
VENID A MÍ
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ (Espanha)
«Venid a mí», bramó la tormenta, 
invitándonos a adentrarnos 
en su intemperie llena de posibilidades.
«Venid a mí», dijo la luz, 
alejando de nosotros 
el temor a la sombra.
«Venid a mí», propuso la esperanza, 
convertida en caricia 
para quienes andaban cansados y afligidos.
«Venid a mí», exclamó la pasión, 
prometiendo un nuevo fuego 
al rescoldo de corazones que en otro tiempo ardieron.
«Venid a mí», exigió la justicia, 
herida – en las víctimas –
por tanta mentira dicha en su nombre.
«Venid a mí», susurró el silencio, 
mostrando, con los brazos abiertos, 
una forma distinta de cantar.
«Venid a mí», gritó la soledad, 
cansada de deserciones y abandono.
«Venid a mí», pidió el dolor, 
ofreciendo su rostro herido 
para que la compasión lo acunase.
«Venid a mí», llamó el dios de los encuentros.
Y fuimos. A veces vacilantes, 
con toda nuestra inseguridad a cuestas.
Pero fuimos.
198
ANDAR NA PRAIA
Jeferson Albuquerque, SJ
Como é bom andar na praia
Ali onde a areia se encontra com o mar
Onde o som do mar, no ar me deixa levar
Como é bom andar na praia
Onde os pés se encontram com o mar
E o mar se encontra com os pés.
Pés que caminham
Como é bom,
Alguns passos só na areia
Outros com o mar
Assim é a experiência de Deus
Como andar na praia
Deus, como o mar, sempre está lá
Ora, nós encontramos Deus
E nesse encontro ele me refresca
Ora, estou só na areia, 
mas o mar, tal como Deus, 
está logo ali.
199
CORAÇÃO DE PEREGRINO
Carlos César, SJ
Sigo em minha incessante busca,
E meu coração de peregrino, tu, 
Senhor, o conheces. 
A cada passo dado,
Um punhado de nomes 
De dores e risos
acertos e erros.
Contigo aprendi o sabor dos caminhos 
novos, 
Sem esquecer a beleza
 e a dureza dos caminhos antigos. 
A cada passo dado,
Encontros e recomeços. 
Algumas memórias que evocam 
plenitude 
E outras que preferia esquecer. 
Como peregrino, 
Contigo e por ti,
Aprendi a oferecer e pedir ajuda.
Nos caminhos sem atalho
Ao teu lado lutei.
Aprendi a discernir batalhas
E a caminhar com mãos calejadas e pés 
cansados.
Te peço, Senhor, 
Que os meus pés ao andar
Marquem teu passo. 
Que meu coração ao buscar, 
Encontre o seu. 
Tu és o Caminho.
Meu ponto de chegada e de partida.
200
FOTOGRAFIA: 
José Paulino Martins, SJ
201
UM A UM
Francys Adão, SJ
Um a um
meus sentidos são recriados
em Tua Presença
Porque para Ti
tudo em minha humanidade 
é um portal
que me conduz ao Reino
que me abre aos outros
que me eleva ao Céu
Respeitando meus processos
Tu me afastas
dos ruídos da multidão
Tu me aproximas
de Teu Silêncio curativo
Tu restauras 
minha humanidade enferma
com o toque firme e suave
de Tua humanidade santa
Peço-Te, Senhor
que diante de minha vida de
homem aberto pela Graça
portador de uma Palavra
nascida da Escuta
Teus filhos possam reconhecer
o Dom que Tu és e
o Bem que Tu fazes
para cada pessoa que
inteiramente agradecida
escolhe amar-Te e seguir-Te.
202
OBRA: 
 Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Detalle del dibujo del Ciego de nacimiento.
203
É A TI QUE EU PROCURO, SENHOR!
Paulo Vinícius da Silva Abreu, SJ (Noviço)
É a ti que eu procuro, Senhor!
Tu, que curas minhas cegueiras espirituais
Para que eu enxergue o teu caminho e te siga.
Tu, que desatrofias minha mão e todo o meu ser.
Tu, que me vês em cima de uma árvore
E pedes que eu desça, não só da árvore,
Mas dos meus orgulhos e egos, para que contigo
Espalhe a boa nova do Reino e construa um mundo de paz.
É a ti que eu procuro, Senhor!
Tu, que te disfarças de alguém,
Me vês jogado pelo caminho, vens ao meu encontro,
Me levantas, cuida de mim e diz: coragem!
Tu, que passas do meu lado e me chamas a te seguir
Para ser sinal de misericórdia por onde eu passar.
Tu, que me chamas a andar sobre as águas,
Apesar das minhas fraquezas e debilidades.
Mesmo que deitado em uma maca,
Com a ajuda de alguém, passo pela multidão,
Desço pelo telhado e digo com confiança:
“É a ti que eu procuro, Senhor!”,
Que me chamas a mais amar e servir os meusirmãos,
Os que estão à margem.
204
SOZINHO
Francys Adão, SJ
Sozinho
vivo em lugares rasos
Contigo
vou às aguas profundas
Sozinho
conheço a frustração do nada
Contigo
espanto-me com a abundância
Sozinho
temo a ruptura de minhas redes
Contigo
descubro a salvação da partilha
Sozinho
olho para minha indignidade
Contigo
escuto Teu convite ao Novo
Como poderia
ser tão insensato
a ponto de escolher a solidão 
ao invés de Tua companhia?
Sim, eu Te seguirei
até o fim de meus dias
e descobrirei novas maneiras
de criar contigo
redes indestrutíveis
de uma humanidade reconciliada
pelo Teu Amor.
205
OBRA: 
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO: 
 Quadro dos Exercícios Espirituais: 
“Do caos à Revelação “ – O Chamado dos Apóstolos. 
206
TERCEIRA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer 
Como em toda vida verdadeiramente humana, a vida de Jesus também 
conheceu a dor e a morte. E nesta terceira semana somos convidados a contemplar 
a paixão e a morte de Jesus. Abrir-nos ao mistério de sua dor, da injustiça que 
o condena, da sua passagem por uma provação inexplicável. Somos aqui 
introduzidos no sofrimento injustificável de um inocente. 
Surpresos e perplexos, veremos o Verbo da vida reduzido ao silêncio, o 
Filho do Deus Altíssimo atado, supliciado, silenciado e condenado, submetido a 
torturas como em tantos porões de tantos cárceres, de tantos regimes de força, 
outros inocentes passam pelas mesmas dores. A divindade parece esconder-se e 
calar-se. A injustiça parece vencer e ter a última palavra. 
Na Cruz estão com ele dois ladrões, lado a lado. Ao pé da Cruz sua mãe 
e outras mulheres, e o discípulo amado. Seus discípulos o deixaram sozinho. 
O justo fica sozinho quando as forças do mal se desatam e querem sangue. 
Jesus está sozinho e sozinho exala seu último suspiro. E nós somos convidados a 
segui-lo aí, como o seguimos quando começou seu ministério na Galileia, quando 
fazia sinais, curas e prodígios poderosos, quando ressuscitava mortos, andava 
sobre as águas, multiplicava pães e encantava multidões. 
Agora há que acompanhá-lo em sua solidão e sua morte. Buscando aprender 
de sua paciência, de sua entrega fiel, de seu amor inesgotável, de seu perdão 
sem limites. Acompanhando Maria, fazemos silêncio, em comunhão com todas 
as mães que perderam seus filhos para a violência e a injustiça. Calamo-nos com 
seu silêncio.
207
OBRA: 
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO: 
 Inserção plena no Mistério Pascal.
208
OLHANDO PRO CRUCIFICADO (EE 53)
Creômenes Tenório Maciel, SJ
Olhando pro Crucificado…
A morte se anuncia. 
Loucura! Uns dizem.
Escândalo! Outros gritam. 
(1Cor 1, 23)
Olhando pro Crucificado...
A dúvida assola.
Por que o Criador se fez carne? 
Por que deixou a eternidade? 
Por que padecer neste vale 
de sombras da morte? 
(EE 53; Sal 22, 4)
Olhando pro Crucificado...
Aquele que se fez pecado, 
O louco amor de Deus se torna 
mais claro.
Não poupou seu filho único, 
Pra um dia ver um mundo reconciliado. 
(2Cor 5,20; João 3, 16)
Olhando pro Crucificado...
Vejo em suas chagas meus pecados, 
Acordo minha voz com a voz do 
peregrino de Loyola e declaro:
Por Cristo que fiz, que farei, que faço? 
(EE 53)
Olhando pro Crucificado...
Com Deus me sinto reconciliado
N’Aquele que carregou nossos 
pecados.
Vivo na justiça, declaro: 
“eis que venho... com prazer faço vossa 
vontade, Senhor”
Eis minha oferta de amor. 
(1Pd 2, 24; Sal 39, 8-9; Heb 10, 7, 9).
“Considerar o que Cristo nosso Senhor 
padece na humanidade.” 
(EE 195)
209
OBRA: 
VIA SACRA – MORRER 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
210
ARIDEZ
Moisés Nonato, SJ
Vendo a beleza das flores à minha volta,
sonhei que o meu amor por Ti fosse:
belo, esplendoroso, vicejante.
Em meu chão, porém, aridez.
Desnudaste-me como catingueira do sertão.
Murcha a flor de meu deserto,
que mais podia esperar?
Feito cacto, enraizei-me.
Sem muito me turbar,
Centrado na água, 
que é vida em mim, cuidar.
Verde esperança, beleza árida.
Vigor, firmeza, constância.
Assim o meu Amor,
de flor, em cacto se converte.
Firme, não fenece,
amanhece.
211
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho lápis grafite sobre papel. 
Arte que expressa a oração de Jesus no horto das oliveiras. 
212
PAIXÃO 
Renato Correia Santos, SJ
Dor
Sofrimento
Humilhação
Paixão
E para quê?
Para assumir a forma humana
Na radicalidade da limitação:
A morte!
E morte violenta.
Consequência de opções históricas 
De seu messianismo 
Morto e executado pelos deuses da morte. Por amor,
Amor de entrega,
Se converte em liberação 
Para toda a humanidade.
Eu,
Discípulo anônimo,
Que um dia ouviu seu chamado, 
Agora contemplo seu martírio. 
Quanta tristeza invade meu coração! 
No silêncio 
Deixo-me impactar
Pelo mistério da sua Paixão.
Olhar fixo naquele homem
Que um dia prometi seguir até a morte. 
A Paixão Dele
É a paixão do mundo. 
213
OBRA: 
VIA SACRA – DESPIR 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
214
MOSTRA-ME (EZ 16)
Álvaro Negromonte, SJ
Por ti, Senhor,
Que devo fazer?
Que fiz e que faço
Desta vida que conservaste?
Desci aos porões contigo
Enfrentamos as minhas trevas, juntos
Reconheço e me arrependo
De não ter amado com todo o meu ser
Doe-me a alma porque há muitos vendo
Veem o íntimo das minhas entranhas
Movidas pelos afetos e desejos baixos
Se julgam vencedores de minha vida
Por pensarem que em seus esquemas me encaixo
Mas tu, Senhor, vens me salvar em teus braços, que me livras
Soltando-me dos laços que meu coração criou.
215
OBRA: 
VIA SACRA – VERÔNICA 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
216
EXPIRAR LA VIDA
– VIERNES SANTO –
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)
¿Expirar solo en la cruz?
Parecía esconderse tu divinidad,
pero sin darnos cuenta,
tu cruz ilumina lo entregado,
días tras día, persona a persona;
apasionado en una dispocisión 
a darnos todo, sin reserva.
Expiraste tu vida en cruz,
pero ya nos la habías dado
expirándola en lo cotidiano:
no teniendo posada en Belén;
naciendo en un pesebre;
siendo familia migrante;
perdido y cuestionando
la indiferencia del Templo;
convirtiendo agua en alegría;
colocándote al final de la fila;
liberando en sábados;
bienaventurando excluidos;
llamando a entusiastas;
curando enfermos maldecidos;
misericordiando, dignificando,
y comprendiendo fragilidades.
Toda una vida dada día tras día;
pero, provocando envídias
y rasgando falsas vestiduras
en quienes idearon tu cruz,
por no recordar el Padre Nuestro,
que comparte nuestra humanidad
para expirar la vida entre nosotros.
217
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Desenho a lápis grafite sobre papel. 
Arte sobre Missão da Terra. Um peregrinar constante, um traçar caminhos pelas 
veredas do sertão. Mãos, braços, olhares, cruzes, são vida das tantas pessoas, são 
sentimentos que precisam ser narrados. São rostos, são rabiscos, são ternuras. 
218
EU TENHO O CÁLCULO
Francys Adão, SJ
Eu tenho o cálculo
ela, o excesso
Eu tenho o protocolo
ela, o transbordamento
Eu tenho a razão
ela, o amor
Como posso entender-Te
se não me deixo tocar
pelo gesto dela?
Como compreenderei
Tua santa Unção
se não consigo me inebriar
com o perfume dela?
Como acolherei
Teu Dom radical
se não me alegro com 
a qualidade da entrega dela?
Que a generosidade desta mulher
me provoque a amar mais
sem medir
sem temer
sem deixar restos
Só assim eu poderei ser
Teu companheiro fiel
diante do escândalo
de Tua Cruz.
219
OBRA: 
VIA SACRA – MULHERES 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
220
VIENES
Alberto Luna, SJ
Con los estigmas de la vergüenza
del condenado y del paria.
Vienes de abajo de la tierra,
del sepulcro ajeno sin nombre. 
Vienes con tu presencia negada 
y despreciada, sobreponiéndote.
Vienes desde el fondo oscuro 
del fracaso y las decepciones.
Desde los pedestales caídos 
y las ilusiones frustradas. 
Vienes subiendo tercamente 
desde los infiernos del asco,
después de vomitar veneno
y beber las heces del imperioen calabozos putrefactos. 
Vienes afirmando tu rostro
como la memoria enterrada 
de una pesadilla subversiva.
Con la cicatriz de la desgracia
como un trofeo de guerra,
del lado de los que pierden. 
Vienes entre los escombros 
demolidos de la esperanza. 
En el lugar de los ausentes.
Vienes. 
221
SABER PERMANECER
Isaías Gomes, SJ
Saber permanecer
Se eu soubesse que ia ser tão assim, não teria seguido.
Se eu soubesse que iria sofrer tanto no final, não teria me alegrado no início.
Se eu soubesse que iria ficar tão difícil de suportar, não teria suportado antes.
Se eu soubesse prever o futuro, o tempo, os sentimentos, as emoções e a 
angústia... não teria sentido primeiro.
Se eu soubesse... se eu soubesse o que eu sei hoje, não sei o que faria... 
agora, apenas permaneço... 
222
OBRA: 
CIRENEU 
José Maria Fernandes Machado, SJ
223
AQUELE QUE ME LAVA TAMBÉM ME POSSUI
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ 
Lava-me, Senhor...
Lava-me porque meu ser precisa ser despido 
Me espanta teu proceder 
Inquieta-me no mais profundo de minha alma
Preciso ainda aprender o que é estar vazio, pobre
Lava-me, Senhor...
Transfigura-me na minha nudez 
Despe o meu ser cansado e une meu coração ao teu
Desvela-me e torna-me teu amigo íntimo
Lava-me, Senhor...
Lava minha cabeça
Lava minhas mãos 
Lava meus pés 
Possui a mim, meu corpo, 
todos os meus sentidos...
Possui o mais íntimo de mim, o que é desconhecido, 
Minha parte oculta que só teu olhar é capaz de conhecer 
E faze-me transfigurar no amor;
Pois a razão de tudo o que existe dentro das minhas entranhas é amar...
Amar até chegar à plenitude do meu vazio, 
Da minha pobreza existencial 
que me torna mais íntimo de ti e dos outros.
224
¿SERÉ YO?
José María Rodríguez Olaizola, SJ
¿Seré yo, Maestro,
quien afirme
o quien niegue?
¿Seré quien te venda
por treinta monedas
o seguiré a tu lado
con las manos vacías?
¿Pasaré alegremente
del «hossannah» 
al «crucifícalo»,
o mi voz cantará
tu evangelio?
¿Seré de los que tiran la piedra
o de los que tocan la herida?
¿Seré levita, indiferente
al herido del camino,
o samaritano conmovido
por su dolor?
¿Seré espectador
o testigo? 
¿Me lavaré las manos 
para no implicarme,
o me las ensuciaré
en el contacto con el mundo?
¿Seré quien se rasga las vestiduras
y señala culpables,
o un buscador humilde de la verdad?
225
ATÉ QUANDO, SENHOR?
Guilherme Kaique, SJ
“Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.” (Jo 19, 1)
Até quando, Senhor?
Irmãos nossos vão sofrer
a mesma morte que tu?
Até quando, Senhor?
Vamos olhar pro Gólgota
e ver jovens sonhadores pendurados?
Até quando, Senhor?
Nós fugiremos de ti,
porque não queremos olhar?
Até quando nós
não O deixarmos
provocar mudanças em nós!
Até quando o Senhor
em nós continuar
de mãos atadas!
Até quando nós
não nos dermos conta
de que somos nós 
a força D’Ele para transformar...
Até quando, Senhor? (...)
226
OBRA: 
ATÉ QUANDO SENHOR? 
Guilherme Kaique, SJ
DESCRIÇÃO: 
Técnica mista: aquarela e nanquim, 297x210 mm – 2021.
227
O AMOR É A LEI
Carlos César, SJ
O veredito de Deus está dado:
É amor até o fim 
E ponto! 
Nele não há meias verdades.
É Aquele que É.
É promessa, 
É vida doada,
É ternura consumada em serviço. 
E por mais que tentem,
Usurpem, 
Enganem, 
Ou distorçam, 
Nem mesmo a força das leis vigentes
Pode ir contra a força
Da Lei do Amor de Deus.
228
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho a caneta esferográfica sobre papel. 
Arte sobre os Exercícios Espirituais. A janela diante da mulher adúltera 
que seria apedrejada. Os braços presos, a mulher... os escritos no chão e as 
pedras que foram deixadas... na janela, uma pedra e algumas gotas de lágrima. 
Fora do muro, a árvore da vida desponta. Não tem como 
não me curvar diante deste encontro surpreendente.
229
O AMANTE
Jackson A. Carvalho, SJ
Fidelidade extremada 
De uma vida doada, amor
E por isso ferida.
Se perguntas: de sentido perdido!
Teu corpo comunhão!
Tua face ferida, macerada
Da maior dor sentida,
Da vida perdida.
Teu andar cambaleante
Pelas ruas, às costas carregas
do que não fizeste,
do vil de cada um de nós.
Jesus,
olhar para ti é causa de vergonha e graça!
Por que sobre ti
do vil de mim e de cada um carregaste.
Portanto, nos assumiste.
Mesmo assim, 
qual para a mulher aos teus pés que te suplicava, 
tu olhaste para nós com amor
limpaste as nossas feridas com as tuas,
salvaste-nos!
Oh fidelidade bendita! Jesus.
Deus te glorificou com a vida plena!
Não te abandonou.
E a nós deu tua vida
O Amor se espalhou!
230
FOTOGRAFIA: 
IGREJA NOSSA SENHORA APARECIDA – BH 
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
231
LA SUPLICA DE LA COPA 
Cristian Viñales SJ (Chile)
Vacíame de mí, Señor
de mi soberbia hazme libre,
de mis ilusiones despiértame,
que yo brille vacío de mí.
Vacíame,
del veneno que me tienta,
del fantasma que me acecha
susurrando lo que pudo ser
cantando la gesta 
de la copa vacía de ti.
Vacío,
lluévete en mí,
por esta grieta dolorosa,
cuélate suave y lléname
así vengan todos a embriagarse de ti:
Quien quiera destrozarme,
y quien me quiera compartir.
Pero que beba el pobre,
y con esta copa en su boca,
mire atento el agua viva,
y se refleje en ti.
232
OBRA: 
NOSSA SENHORA DA SOLIDÃO 
José Paulino Martins, SJ 
233
“AMOR-SIN-LÍMITES”
Germán Méndez, SJ (México)
Me amaste,
Y fui.
Me amaste,
Y existí.
Miro al horizonte,
Y mi mirada
Encuentra un límite:
Es tu amor.
Miro a mi interior,
Y en mi barro
Encuentro mi límite:
Ahí también está tu amor.
Miro a mi interior,
Y en mi barro
 está tu huella:
soy fragilidad poderosa.
Miro al horizonte,
Y pasando mi mirada
Estás tú, Amor-sin-límites:
Poder tan frágil.
En mi barro, tu amor
No halla límites,
En el horizonte, tu amor
No cesa de llenarlo todo.
Bendita mi fragilidad,
Es huella de tu amor;
Bendita tu fragilidad,
Es huella de tu humanidad.
Bendita mi fortaleza,
Es fruto de tu amor;
Bendito tu poder,
Es llama eterna de vida.
Bella oscuridad
Donde luce el lucero,
Bella penumbra
Donde brilla la esperanza.
Bello pesar
Donde me siento sostenido,
Bendita cruz,
Benditos clavos. 
234
OBRA: 
Adaptações de desenhos de Claúdio Pastro 
feitas por Rodrigo Souza Silva
235
HOJE TU ESTÁS CALADO 
Francys Adão, SJ
Hoje Tu estás calado
Tu, a Palavra
disseste tudo o que tinhas a dizer
Mas Teu Silêncio também fala
Hoje é shabbat, dia do repouso
Para a fé, o mundo existe porque 
Teu Pai quis criar, trabalhando
Mas para que o Amor possa brotar 
livremente neste mundo criado
Teu Pai quis gerar, parando
O Amor verdadeiro nunca se impõe
Ele crê e espera
Ontem e hoje os poderes mundanos 
ignoram esta lógica e
têm dificuldade de entendê-la
Tu, o Filho amado
sempre amaste, trabalhando
mas também aprendeste do Pai
o Mistério de amar, parando
Quanto a mim
serei eu capaz de
parar e repousar, por amor?
Em Teu Silêncio
ajuda-me a crer, a esperar e
pouco a pouco a aprender a amar
Pois neste Sábado
nas profundezas de nossos túmulos
algo radicalmente novo 
é gerado em nossa humanidade 
cansada, amedrontada e ferida
E quem sabe
ao chegar o fim desta noite
meu coração estará pronto
para enxergar o brilho
de Tua Luz que não se apaga. 
236
OBRA: 
VIA SACRA – TÚMULO 
 José Maria Fernandes Machado, SJ
237
MADRE DE LOS DÍAS INCIERTOS
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ
Cuando muerda el frío,
ateridos, inseguros,
anhelando la hoguera
y sintiendo temor, 
siéntate con nosotros, 
madre,
en el hogar.
Cuéntanos la historia,
de una muchacha
que no temió
la llamada
que cambiaba todo.
Háblanos de aquel «Hágase» 
que abría la puerta sellada
del perdón y la esperanza.
Y de los días inciertos,
de las miradas difíciles,
de las dudas, tan humanas.
Evoca, para nosotros,
aquella intemperie 
que fue cuna de la Vida.
Enséñanos tú,
maestra del silencio,
a guardar en el corazón
las respuestas intuidas
que germinan 
en fe inquebrantable.
Hasta la cruz.
Y más allá.
Cuando muerda el frío,
envuélvenos, 
señora, con tu manto.
238
OBRA: 
 Alexandre Raimundo deSouza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Desenho a lápis grafite sobre papel. 
Arte sobre Nossa Senhora Aparecida. Esta arte é a junção de outros desenhos. 
300 anos de história desde as correntes abertas do negro escravizado. 
Mãe Negra, vestida com a coroa dos traçados destas terras, lembranças 
das mulheres com cestos na cabeça. Intercede por tantas situações. 
239
O QUE VOCÊ PROCURA?
Franklin, SJ
Caminhava cabisbaixo e ligeiro... parecia procurar algo.
— O que você procura, menino?!
— Procuro uma razão pra não morrer, disse o cabisbaixo menino.
— Mas... você caminha muito rápido! Difícil encontrar algo!
— Por que você caminha ligeiro, menino inquieto?!
— Caminho ligeiro porque já não me sinto parte de nenhum lugar. Carrego uma 
saudade profunda, mas não sei de quê... parece que perdi algo que não consigo 
encontrar...
Caminhava saudoso o cabisbaixo ligeiro menino.
— Ei, menino!! Procurar com a razão uma razão pra não morrer, não parece 
muito razoável.
— A razão tornou-se uma ilusão, talvez, por isso não tenho mais razão pra viver, 
disse o ligeiro menino.
— Ei, menino sem razão! Vai embora pra onde?!
— Sinto-me fruto de um erro, talvez, por isso passei minha curta vida 
procurando acertar... eu, um erro! Disse o ligeiro, cabisbaixo, saudoso menino 
que procurava uma razão pra não se matar.
O menino viu que as pessoas grandes que caminhavam a sua frente se 
desviavam de algo que havia no chão. O menino parou de ser ligeiro... viu que 
havia uma poça d`água no chão. Parou para olhar aquela poça d`água tranquila 
e escura que parecia profunda... refletia um pedaço do seu rosto, um pedaço do 
céu e um pedaço de um lampião apagado.
Abaixou-se e escreveu com a ponta do dedo seu nome – menino – sobre a água 
que se transformou em pequenas confusas ondas que misturaram os pedaços 
do céu, do lampião e do seu rosto...
— Agora, disse o menino, encontrei o que procurava!
240
TU MESA
– JUEVES SANTO – 
Juan Gutiérrez, SJ (Perú)
Nos dijiste que tu Reino
era un gran banquete
y esa tarde lo confirmó.
Te sentaste con los tuyos
que no eran pocos
ni mucho menos iguales.
En tu mesa caben todos.
El que descansa en tu hombro
y el que te traiciona;
los de promesas impetuosas
y los prudentes reflexivos;
los jóvenes que renuevan
y los mayores que sostienen;
los que enferman, hieren, 
y se inclinan a curar;
los que esperan acomodarse
y los que ya se duermen
por haber servido contigo;
el que aporta sus bienes
y el que no los tiene;
los miedosos que te abandonan 
o las valientes invisibilizadas.
Todos, hombres y mujeres, Juan 
que te conocen como amigo,
hermano y salvador.
En tu mesa nos heredas
un ministerio que es servicio.
Y siendo primero te haces último,
te levantas dejando el confort,
te despojas de tu imagen
y te ciñes todo lo necesario.
Te inclinas para contemplarnos 
en nuestros pies cansados,
lavando falsas humildades
y secando heridas con caricias.
En tu mesa nos envías,
Dispuestos a tener parte contigo
en la pena y en la gloria,
porque esos pies lavados
han de caminar para lavar a otros;
rehabilitando pasos esperanzados
que no se vencen fácilmente;
pasos que misericordian debilidades;
y sirven al que no puede solo:
pasos comprometidos con tu Reino.
241
OBRA: 
BODAS DE CANÁ 
 José Paulino Martins, SJ
242
“SEDIENTO” 
Germán Augusto Méndez Ceval, SJ
En tu último suspiro,
Ahí en esa cruz clavado,
Los pulmones soltando
El último de tus alientos;
Ahí te entregas llorando,
 vuelves la mirada abajo,
y duele, te duele tanto.
Ves a quienes amas,
Te entregaste en vida,
A quienes te entregan
A la muerte en el madero;
Y lloras tu dolor,
Gimes a tu Padre,
Y no dejas de mirarles.
Tu boca está sedienta,
La lengua pegada,
Pero más sediento
Está tu corazón;
Ama sin ser amado,
Mueres sediento,
Sediento de amor.
¿De qué sirves, fiel sirviente,
Invisible en el madero,
Cuando todo muere
Con tu aliento?
¿De qué sirves, hijo amado,
Cuando el cielo calla
Y la tierra escupe?
Tu cuello se dobla,
Pesa tanto la espina,
Y en tus brazos
Midiendo el amor todo;
Clavado te entregas,
Amándolo todo,
Atrayéndolo todo.
Y con tu muerte se rasga un velo,
La luz que cegaba: ilumina,
Volvemos todos a casa
Con dolor golpeando el pecho;
Si tanto nos ama tu Padre,
Si nada tú te guardaste,
¿por qué nos cuesta tanto amarte?
243
OBRA: 
O NASCIMENTO DA IGREJA 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre papel. 42x29cm –1997.
244
GESTOS
Claudia Honorio (Leiga inaciana)
A vocação é o amor
Fugir do quê?
Fugir do que está no coração
Esta vocação que é amor.
Gestos de amor que irão longe
Gestos para sair da opressão.
Gestos para sair da angústia interior.
Gestos de alegrias
Gestos que fazem o coração crescer de todo lado.
Fugir do quê? Deus é Amor.
245
OBRA: 
EM MEMÓRIA DE MIM 
 Jobson Ramos, SJ
246
TRAS EL DISCURSO
Tomás Browne Urzúa, SJ
Tras el discurso
los abrazos
las promesas
las sonrisas
los aplausos
Tras las firmas
y diplomas
las estatuas
estandartes 
y canciones,
asoma
de reojo
esa duda
capaz de destruirlo todo.
247
QUARTA SEMANA
Maria Clara Lucchetti Bingemer 
 Tudo começou com um rumor. Ele está vivo. As mulheres viram. Ele não 
está no túmulo. Os discípulos não deram crédito. Afinal, mulher gosta de inventar 
história, fala demais... Mas os que foram ao túmulo... viram tudo como elas 
disseram. Será que tinham razão? 
O rumor cresceu e começou a transformar corações e vidas. Os medrosos 
se converteram em intrépidos. Os fugitivos voltaram ao seio da comunidade. 
Os desolados e desesperados sentiram seu coração quente. Os incrédulos 
confessaram e adoraram seu Senhor e seu Deus. Os escondidos saíram à praça 
pública e anunciaram que ele ressuscitara como disse e cantaram aleluias. 
A alegria passou a reinar em lugar da dor. E nós somos chamados a entrar 
nessa alegria, a alegrar-nos com a alegria do Mestre que cumpriu suas promessas, 
com a misericórdia do Deus que jamais nos abandonou. Entramos no rastro dessa 
alegria, procurando dar fruto, testemunhar, mostrar a todos seus verdadeiros e 
santíssimos efeitos. 
Alegrar-se com a alegria do Senhor Ressuscitado, isso precisamos aprender. 
Aprender que a alegria permanece mesmo quando há dor, mesmo quando a 
tribulação se aproxima, mesmo quando parece impossível sorrir. 
A quarta semana nos inicia nessa alegria sem fim, mostrando uma realidade 
toda ela transfigurada pelo amor do Deus que é vida em si mesmo e que com a 
Ressurreição de Seu Filho nos diz que sua última palavra não é a morte, mas a 
vida, não é o pranto, mas a alegria. 
248
OBRA: 
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS 
José Maria Fernandes Machado, SJ
DESCRIÇÃO: 
Ressuscitado – A Plena Revelação do sentido da Vida.
249
“Sentir intensa e profunda alegria 
por tanta glória e gozo de Cristo 
nosso Senhor.” 
(EE 221)
 “Vamos ressuscitando sem saber...” mas é preciso olhar 
para aprender a ver!
OLHAI E VEDE!
André Araújo, SJ
Não pude conter o susto
quando vi o pão partido
muito antes da Ceia.
O pão vivo descido,
ali, pra quem quisesse ver.
Como não tinha visto a mesa posta?
Como não havia percebido
que, ali,
naquela hora mesma,
o Menino envolto em faixas
era comida e bebida
no cocho dos animais?
Sim!
Manjedoura é palavra bonita demais,
a gente até se esquece
e só se lembra
numas horas banais...
Pois foi assim:
tomaram-no,
abençoaram-no,
partiram-no
e o banquete estava pronto.
Enviaram-no!
Difícil de entender?!
Nova gramática
para as palavras antigas,
acostumadas às velhas
relações sintáticas.
Outro enunciado
bem mais arrojado
que essa pragmática.
Com esse jeito novo
de habitar o mundo:
palavra-verbo-comida,
as estruturas mudam no profundo.
Muda o gesto 
a Palavra da Vida,
a maneira de conjugar; 
 (continua)
250
muda o modo de se alimentar,
a forma de viver;
muda o jeito de querer.
Se não mudar,
o risco de olhar e não ver
é grande mesmo!
Não vê o agricultor,
não vê o trigo e a flor,
não vê a uva pisada,
não vê o cordeiro,
não vê nada,
nem o Pão,
nem a Palavra
e a porta se abrindo,
autocomunicando-se e atraindo,
chamando pra mais perto
os sedentose os famintos,
consolando e repartindo.
Não vê quem chamou,
nem quem preparou,
não vê os comensais.
Olha e não o reconhece
urgente em tantas mesas,
presente em tanta prece,
pedindo que não nos faltem mais
o Pão e a Palavra,
maior riqueza,
tamanha delicadeza!
O risco é grande:
entra e se senta,
mas não se contenta,
passa fome,
não bebe nem come...
 “OLHAI E VEDE!
(continuação)
251
OBRA: 
COLHEITA 
Jobson Ramos, SJ
252
PASCUA
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ
La losa está apartada.
La luz se desparrama
por la tierra.
Que no se rindan
los buscadores
de amaneceres.
No hay noche eterna.
No hay victoria para el mal.
El sepulcro está vacío.
La tristeza, bailando,
se transforma
en alegría.
El muro sellado
es ahora ventana.
Al otro lado, muestra
un paisaje desconocido.
Dicen que el Amor
pasea por la tierra nueva.
Aparece a quien lo llama.
Solo hay que pronunciar
su nombre 
con fe.
Su nombre 
sobre todo nombre.
Aparecido.
Cicatrizado.
Resucitado.
253
ENTARDECER… AMANHECER!
Gabriel Araújo Pacheco
Entardecer...
O medo,
Desde as entranhas faz estremecer.
Fechamento, isolamento,
Do entardecer o medo ameaça.
Logo, a mudança,
Inesperada, inexplicável, indefinível.
Presença rara, sopro, paz,
Que do medo faz impulso,
Impulso vital, ressuscitador.
As dúvidas
Daqueles (e também nós, que por memória e chamado somos neles)
Dos incrédulos,
Dúvidas encontram um convite:
Que seja pessoa de fé!
Um aventurar-se, de fato,
Caminho de confiança.
Do medo à alegria
Do medo à saída.
Arriscar-se!
Risco de uma vida por paz (paz não tranquila, não fácil, mas instigante).
Uma vida pela paz,
Para consolar, liberar,
Ressuscitar...
Amanhecer!
254
FOTOGRAFIA: 
PÔR DO SOL 
Régis Sarto, SJ
255
RESSURREIÇÃO
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
O silêncio...
A solidão...
A noite escura...
Irrompida por uma grande novidade. 
Trago-te aromas, perfumes
Quero embalsamar teu corpo e tocar tuas feridas
O raiar do sol...
A pedra...
A surpresa...
Venho a ti com pressa, como quem tem sede de Companhia
Quero na liberdade da solidão ressurgir junto contigo,
O túmulo... 
O vazio...
O olhar...
Busco-te no silêncio, no vazio cheio de petrificação interior 
Onde tu estás? 
No mais íntimo de mim, ordenando o ser e o viver.
O abandono...
O medo...
A surpresa... 
És tu caminhando em meu jardim,
Irrompendo as barreiras entre o tempo e a eternidade,
nutrindo minha esperança;
Ressurgindo minha vida de tua inexaurível presença
Fazendo-me contemplar e comungar de tuas profundezas.
256
FOTOGRAFIA: 
PRIMAVERA 
Ir. Lucemberg Lima de Oliveira, SJ
257
MANHÃ DA RESSURREIÇÃO 
Luan Amorim, SJ 
Doce jardineiro sinto a necessidade de encontrar contigo.
Quero como Maria de Magdala escutar o sussurro de tua voz,
E perceber que depois de uma longa jornada,
Possa ver teu rosto!
E ao voltar meu coração a ti,
Anseio ser criança aprendiz, que se encanta com cada saber novo.
Quero simplesmente te dizer:
Que sou terra árida e sedenta, que muitas vezes dá frutos insuficientes.
Mas sei, que tu, divino cultivador 
Conheces com grande habilidade o laborioso cuidado da terra,
Com tuas mãos silenciosas e ternas.
Faz de mim aquele jardim daquela manhã,
E permite que eu escute meu nome em teus lábios
E como Maria possa dizer:
É o Senhor!
258
OBRA: 
José Paulino Martins, SJ
DESCRIÇÃO: 
Acrílica sobre tela. 
Nossa Senhora das Candeias, da luz, Luzia, luz guia – 2017.
259
ALÉGRATE
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)
Alégrate! Esa es la noche
en que el silencio fúnebre
fue salvíficamente quebrado.
La muerte ya no es fin, solo paso;
la soledad se hace abrazo;
las lágrimas dibujan sonrisas;
y el miedo se hace anuncio
de un Reino siempre actual.
Amanecimos ante lo imposible:
su tumba quedó vacía,
y sus lienzos gritan vivamente
que Dios no habita la muerte,
que Dios devuelve la esperanza,
que Dios nunca abandona,
que Dios no solo crea,
sino que levanta de la nada.
Alégrate! Ya no está entre piedras.
Nos espera en nuestros caminos,
entre los nuestros y necesitados,
entre las dudas y las certezas.
Resucitó para habitarnos
de esperanza y buenos deseos,
de misericordia, consuelo
y deseos de servirle.
Ya es Emanuel Resucitado,
El Dios con nosotros,
por siempre.
260
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
El Cristo Resucitado lleva las marcas de la cruz. 
Los colores fuertes expresan la fuerza del amor.
261
TUDO É DOM
Jeferson Albuquerque, SJ
Antes de eu começar
Deus já sabia onde ia terminar
Tudo é dom
O que julgo ser meu, 
Na verdade apenas está comigo
Todos os talentos eu apenas possuo,
Na verdade, tudo é de Deus
Tudo é dom.
262
CONSOLAÇÃO
Eliomar Ribeiro, SJ
Um cheiro de alecrim e cravo inebriou-me
Devo ter sonhado com plantas, doces, celebrações
São as primeiras horas da manhã de mais um dia
Sol claro, de primavera, entrando pela janela
Sem pedir licença e sem nenhuma modéstia
Gosto bom salivando na boca da história
A memória caminha a passos lentos
O coração acelera porque vive de desejos
Mais um dia de estudos, de saudades, de sonhos
A imagem da pombinha bebendo água na fonte
Desperta em mim uma sede insaciável de comunhão
A melodia encantadora das entranhas amazônicas
Toca o ouvido com toadas, rostos, flores, bichos e matas
Carrego comigo um balaio lotado de encantos
Às vezes penso que devia ter nascido mágico
Para enxugar cada lágrima derramada sem razão
Olho o mundo e vejo tanta falta de cuidado
Sei que devo continuar utopicamente cantando
Do chão regado em sangue a flor brota mais forte
No encontro com o Amado a palavra certa e preciosa:
“Maravilhas o Senhor fez por nós, encheu-nos de alegria!”
263
OBRA: 
NOSSA SENHORA COLIBRIS 
Luís Renato Carvalho, SJ
264
 
Dizem que estou ameaçado de morte. Um dia vou morrer. 
Mas ando flertando com a vida...
AMEAÇA DE VIDA
André Araújo, SJ
Acostumara-se tanto ao sofrimento
que ser feliz soava como uma afronta
ou uma ofensa ao mundo.
Era tão comum sentir-se ameaçado de 
morte
que uma ameaça de vida constrangia.
Ameaça devida:
ver os sinais da Alegria
na menor das vagas,
ver no que está morto
a vida que viria.
Não é essa a confiança
que depositamos na semente?
Em vez de viver morrendo um pouco 
cada dia,
seria diferente
experimentar que ressuscitava toda 
hora.
Esse era o maior desafio:
descobrir que vivia
e revivia sem saber,
assim, ao menor sinal,
como num atentado amoroso:
o cego, o coxo, o surdo,
o homem da mão seca,
a menina que dorme e o filho da viúva,
a pecadora,
o amigo sepultado há quatro dias,
os epiléticos e os atormentados,
a imensa multidão dos famintos,
uma mulher da Samaria,
um publicano,
um homem caído à beira do caminho,
um fariseu na estrada para Damasco,
a dívida paga,
a casa pra morar,
o novo emprego,
o pão de cada dia,
a mãe recuperada,
o menino que nasceu sadio,
a febre que cessou,
a hemorragia que estancou,
a aprovação no concurso,
a cirurgia que correu bem,
a escola pública e de qualidade,
o sistema único de saúde garantido,
o desenvolvimento sustentável,
a economia criativa,
os artistas e a cultura popular,
a fraternidade e a dignidade humana,
 (continua)
265
o migrante, a viúva e o órfão 
socorridos,
as religiões, a diversidade e as etnias 
respeitadas,
a paz universal,
a ecologia integral,
a verdade da utopia,
realizando-se no milagre,
no esforço de cada dia,
nas ações mínimas
e na política responsável.
Tudo o que existe
canta e ameaça viver!
Por desaforo,
decidiu não morrer!
Ainda que o que se ofereça
seja forjado entre lágrimas.
Vejo a morte carregar a vida!
Luto sem substantivo,
quero o Verbo renascendo
todo dia na primeira pessoa
que se une a outras tantas
entre mim e você.
Prepare-se!
É uma ameaça com Vida! 
 AMEAÇA DE VIDA
(continuação)
266
CONTAGIAR ALEGRÍA
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)
Te veo pasar y no me abrasas
con tu calor galopante, 
porque hay quién sufre y llora,
porque hay enfermos, hambre,
soledades y egoísmo.
Con todo esto no puedo alegrarme,
me sientotímido para abrazarte.
Porque quien quiera abrazarte.
querrá transformarlo todo,
mirar con esperanza,
percibir la bondad del otro,
reconocerse con posibilidades,
compartir oportunidades,
reír con los amigos,
reemprender el camino,
y soñar una nueva ruta.
Y cuando te abracemos en tu ruta,
ayúdanos a contagiarte a otros,
con mensajes que griten, 
con carcajadas transparentes,
compartiendo pensamientos,
trasmitiendo sentimientos
y sumándome a proyectos
que alegren a muchos.
Debo dejar mi timidez,
no dejarte pasar de largo;
porque vale la pena sentirte,
compartirte y alegrarme
con otros, contigo.
267
DO PERFUME DA MORTE AO PERFUME DA VIDA
Agnaldo Duarte, SJ
Com a paixão sentimos o mau cheiro da morte
Com a Páscoa sentimos o perfume da vida
Para que tanto desperdício de perfume?
Para que tanto mau cheiro no coração?
O perfume que custou acima de 300 denários
300 denários custou o mau cheiro da traição
Ela fez o que pôde: ungiu meu corpo com o perfume da sua consolação
Ele foi aos chefes: traiu-me com o mau cheiro da sua acusação
E assim...
Espalhou-se o perfume da vida onde existia o mau cheiro da morte
Alastrou-se o perfume da solidariedade onde existia o mau cheiro da fome
Propagou-se o perfume do diálogo onde existia o mau cheiro da dureza
Anunciou-se o perfume da reconciliação onde existia o mau cheiro da rispidez
Promoveu-se o perfume da justiça onde existia o mau cheiro da impunidade
Expandiu-se o perfume da esperança onde existia o mau cheiro do medo
Difundiu-se o perfume da dignidade onde existia o mau cheiro da obscenidade
Estendeu-se o perfume do acolhimento onde existia o mau cheiro do desafeto
Distribuiu-se o perfume do alimento onde existia o mau cheiro da miséria 
Proclamou-se o perfume da Ressurreição onde existia o mau cheiro da violência 
Enfim...
Espalhou-se a Palavra que é Vida, que gera vida e nos mantém vivos
Que não nos permite viver com o mau cheiro do desânimo 
Absorvidos pelas desilusões
Derrubados pela força da morte
Com a Páscoa sentimos o perfume da vida
Compreendemos que a esperança sempre floresce 
No instante que se experimenta o perfume do Eterno dentro do nosso ser.
268
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO:
Pintura acrílica sobre tela. 
Arte da vida! Ser cordeiro, ser passagem, ter coragem 
e ser simplesmente amor. Mistério que dá sentido. 
269
ENCUÉNTRAME…
Alberto Luna, SJ
En la madrugada del desconcierto,
después de la pesadilla nocturna,
entre los escombros de mis sueños.
Crúzate en mi camino desorientado,
perdido de la pista de tus huellas,
volviendo a mi rutina vacía y seca.
Asoma por la ventana tu mirada,
porque mi puerta está trancada
bajo siete llaves de hielo amarillo.
Acércame el costado atravesado
y las manos heridas a los ojos
engrillados por mis dudas ciegas.
Porque estoy solo en el entierro
de mis rosales marchitos,
bajo esa piedra imposible.
Empuña el cuchillo de fuego,
hiere de muerte a la noche
sepultada bajo mis párpados.
Alcánzame, jardinero del paraíso,
ese alto fruto, maduro y deseado,
que no tengo altura para tomar. 
270
MIRAR DE NUEVO
Juan Gutiérrez, SJ (Província do Perú)
Señor queremos mirar de nuevo.
Toma nuestra libertad,
para silenciar nuestras distracciones 
y reemprender tu servicio y misión.
Señor toma nuestra memoria,
para recordar cómo nos hablas
en el silencio cotidiano.
Señor toma nuestro entendimiento,
para comprender los ruidos
que no nos dejan escuchar tu voz.
Señor toma nuestra voluntad,
para parar y escuchar
para mirar de nuevo.
271
TEMPO E PROFECIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
Neste novo tempo nascerá uma haste,
Surgirá também um rebento de uma flor
Haveremos de nos encantar com a beleza 
Haveremos de nos espantar com tal mistério
A profecia tornar-se-á habitação, morada da esperança.
Os desanimados
Os tristes
Os humildes 
Viverão com os corações inclinados e sentirão fome do horizonte. 
Neste novo tempo uma flor irá desabrochar
A esperança nos acompanhará 
O surgimento da vida anunciará 
Um rumor entre o tempo e a eternidade.
272
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
273
CONTEMPLAÇÃO PARA ALCANÇAR O AMOR 
Ao final do itinerário dos Exercícios Espirituais, o exercitante é devolvido ao 
mundo criado, do qual na verdade nunca saiu. Está agora banhado da luz da 
revelação de Jesus Cristo, Rei Eterno e Senhor do Universo inteiro. Redescobre 
a criação e seu lugar nela banhado nesse mistério da Encarnação, vida, morte 
e ressurreição de seu Senhor. A contemplação do final dos Exercícios – dita 
“para alcançar o amor” – abre o panorama de toda a criação diante do olhar do 
exercitante banhado pela luz crística. 
A experiência de Inácio é, assim, marcada por uma teologia da “descida” e 
do aniquilamento divinos. Todos os bens “descem” do alto, a Majestade divina 
pode ser encontrada nas “coisas” mais pequenas e humildes. O lugar de Deus, 
tal como percebido por Inácio, não é, portanto, outro, senão “todas as coisas”, 
essas “coisas” onde a graça divina habita, resgatando e salvando. O Deus de toda 
glória e majestade “desce” e se faz menor, no interior de sua Criação pecadora, 
chamando o ser humano a entrar também nesse movimento de seguimento de 
Jesus Cristo e de serviço sem limites para ser introduzido no amor propício e 
glorioso do Pai.
O Deus de Inácio de Loyola é, portanto, um Deus-amor, que se dá e se 
comunica de maneira real e operante ao homem, enquanto amor, que o “serve” 
pelas obras salvíficas que realiza no mundo. Lançando o olhar sobre toda a 
Criação, o convite é perceber Deus, enquanto princípio vital, enquanto sopro 
que anima e dá “ser”, “crescimento” e “sensação” a tudo que existe (EE 235). 
Olhando tudo que o circunda e em tudo encontrando a Deus como origem e 
interioridade mais profunda percebe-se, então, a natureza e história humanas 
como habitadas pelo próprio Deus.
 (continua)
274
Esta presença de Deus nos seres e nas coisas encontra seu ponto máximo 
no ser humano, de quem Deus faz “templo seu” (EE 235). Essa centralidade 
antropológica no meio do mundo ganha ainda maior peso, se vista do ponto 
de vista da Encarnação do Verbo de Deus. O significado e o valor das coisas 
tornam-se radicalmente alterados pela presença do Cristo nelas. Mesmo as mais 
radicais negatividades ontológicas ou religiosas são transvalorizadas, devido à 
presença de Deus nelas até a inabitação do Espírito que faz do ser humano seu 
templo. A Encarnação torna-se assim o mais alto instante de presença de Deus 
na sua criação e no homem, mas, de uma certa maneira, também não a esgota. 
O que Deus fez em Jesus Cristo é indicativo do que faz e continua fazendo pelo 
homem, em todas as coisas e em seus templos de carne, escrevendo a nova lei 
do amor em seus corações.
 CONTEMPLAÇÃO PARA ALCANÇAR O AMOR
(continuação)
275
“O amor é comunicação de ambas 
as partes. Isto é, quem ama dá e comunica 
o que tem ou pode a quem ama. 
Por sua vez, quem é amado dá 
e comunica ao que ama.” 
(EE 231)
AGORA
Jobson Ramos, SJ
Para o mundo que sofre uma dor que demora
Um sonho perdido, a criança que chora
Do fogo aquecido dos dias de outrora
Só resta essa chama apagando lá fora
A mão afagando o coração na aurora
Aquele que já não sustenta a hora
Na flor prevalece, porém, o amor
Já não se adia a esperança, é agora
Vem,
Faz florescer
Faz florear
Um simples botão é capaz, sim, de mudar
Um olhar
Esperançar.
276
OBRA: 
AGORA 
Jobson Ramos, SJ
277
SÓ MUDA DE LADO...
Eduardo Henriques, SJ
É pra passar a vida toda,
Pois aí está tudo da vida!
Colcha de retalhos infinita,
Só quando completa, orna.
Completa quando?
No amanhã do hoje,
No hoje amanhecido sempre.
Seu nome é:
Eternidade...
278
OBRA: 
INÁCIO EM PARIS 
José Paulino Martins, SJ
279
 
Que vida nova é essa que começamos agora?! 
Quem é esse Anônimo que me consola?
“TEM DEUS!” 
André Araújo, SJ
Quando Ele chegou,
a mesa do café estava posta.
Fumegava o bule esmaltado
e o coração parecia sossegado.
Veio perguntando por mim,
Ela mostrava-se
mais preocupadado que triste.
“Desde então, ele está assim”.
Falou com voz firme
e apontou para mim.
Eu dormia,
e Ele foi me acordar,
como sempre fazia.
Tocou-me o rosto
e me fez um carinho.
Não acreditei no que via.
Era Ele mesmo!
Como podia?!
Sentei-me depressa,
deu-me um abraço forte,
quis saber o que havia.
Contei, chorei
e me desculpei,
disse que o decepcionaria.
Ele sorriu,
claro que já sabia
e pôs a mão no meu peito;
consertou alguma coisa,
lá bem do seu jeito.
Ela olhava de longe
seus meninos crescidos.
Sorria,
senti sua ternura.
Como podia?!
Não tinha amargura,
era toda alegria!
Com Ela aprenderia
o que importa
até o final dos meus dias.
Um seria para o outro
verdadeira companhia. 
Algo acontecia
num lugar
que não se vê muito bem.
Levantei,
beijei-a na testa,
tomei um banho,
tomamos café.
Era assim
e não era estranho,
era mais um carinho
e um cafuné.
 (continua)
280
Pois é...
Como não ter Deus?!
Pegamos um livro,
que Ele quis ler,
e Ela, sorrindo,
veio logo ver:
“Com Deus existindo,
tudo dá esperança:
sempre um milagre é possível,
o mundo se resolve.
Mas, se não tem Deus [...]
é o aberto perigo
das grandes e pequenas horas,
não se podendo facilitar”.
E continuou devagar:
“Tendo Deus, é menos grave
se descuidar um pouquinho,
pois, no fim dá certo.
Mas, se não tem Deus,
então, a gente não tem licença
de coisa nenhuma!
Porque existe dor.”
Ela me olhou,
aprendi com amor
e ainda hoje Ela insiste,
num modo de me alegrar:
“Deus existe
mesmo quando não há.”
 “TEM DEUS!” 
(continuação)
281
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
282
ONDE ESTÁS
Jackson A. Carvalho, SJ
Ouvi tua voz
por entre árvores que balançam,
pássaros que cantam, 
no zumbido da abelha,
dentro do coração atento,
no assobiar do vento,
nuvem em movimento.
Ouvi tua voz
No silêncio imposto,
Em um guerrear sem sentido,
Na ferida exposta,
De um gesto te aproprias.
Ouvi tua voz
nas incelenças entoadas,
nas novenas dos santos,
no pedido de chuva, 
na maré transbordada.
Ouvi tua voz
na família ferida,
a pobreza sentida,
da comida garantida, 
tua voz se ouvia.
283
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Rabisco – grafite sobre papel. 
Simplesmente simples, apenas um pouco de saudade.
284
QUIOSQUE!
Heber Salvador de Lima, SJ
Aqui está o novo Quiosque
Pr’a nossa felicidade, 
quase no meio de um bosque, 
no coração da cidade. 
Será sempre um bom presente 
Ao surgir dor ou cansaço;
quando mal-estar se sente
o quiosque nos dá um abraço!
Foi feito com muita arte
num jardim e seu esplendor
que o cerca de toda parte 
e até faz dele uma flor! 
Vamos usá-lo p’ra cantos, 
pr’a jogos e refeições, 
talvez p’ra momentos santos 
de piedosas orações. 
Obrigado, Senhor Deus,
Pelo quiosque que nos deste!
Para estes velhinhos teus
É um gozo quase celeste!
Aqui estará nossa idade
em serena quietude 
pois paz e felicidade
têm jeito de juventude!
285
O NOVO DAS MESMAS COISAS
Carlos César, SJ
Todo dia a mesma coisa:
Nada mais parece surpreender.
O mesmo trabalho, 
As mesmas pessoas. 
Os mesmos dilemas, 
Os velhos problemas disfarçados. 
Viver a rotina,
Superar a mesmice, 
Amar de novo as mesmas pessoas,
Reinventar o fazer, 
Insistir no crer,
E não deixar que o desânimo ganhe a batalha. 
Na rotina que não muda, 
Eu mudo.
Desde o meu interior, eu mudo. 
286
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
287
PERMANECER
José Maria Rodríguez Olaizola, SJ
Hoy todo fluye,
todo cambia,
todo trae fecha de caducidad.
Maldito presente absoluto
que se nos ha instalado dentro,
como un intruso,
ocupando las estancias
de la memoria y la esperanza
con su ahora
cargado de exigencias.
Y así, huérfanos de historias
y vacíos de futuro,
somos presa
de los estados de ánimo,
tan cambiantes.
Nos devoran las crisis
en tiempo menguante.
Nada perdura.
Ni el amor.
Ni las promesas que hicimos
y que recibimos.
Ni la confianza
en el para siempre.
No sabemos conjugar
el verbo permanecer,
y exigimos
que todo, hasta Dios,
cambie a nuestra medida.
Así no hay viña que crezca y dé fruto.
Devuélvenos, Señor,
la conciencia
de tu tiempo y tu presencia.
Enséñanos a ser sarmientos
de la vid, que eres Tú.
Devuélvenos la fe,
Tú que calmas las tormentas.
288
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
289
LIBERDADE
Jobson Ramos, SJ
Eis um sonho, um desejo
Não meu, nem teu: nosso
Ser leve, suave, singelo
Voar sem destino certo
Pousar quando quiser
Parar.
Contemplar
Sentir
Voar de novo e repetir o mesmo ciclo quantas vezes quiser
Borboletear
Metamorfosear
Eis um sonho
Um desejo.
290
OBRA: 
BORBOLETA 
Jobson Ramos, SJ
DESCRIÇÃO: 
Tudo que nos toca nos afeta, nos transforma. 
Deixemo-nos afetar pelo que é belo.
291
EN TU NOMBRE
Alberto Luna, SJ
En el nombre del mar 
de las olas y la espuma. 
En el nombre del sol 
de la luna y las estrellas. 
Me crece en el pecho tu nombre.
Padre, repite el raudal de mis venas.
Padre creador, resuena, 
su eco me habita y llena. 
Padre protector de los pequeños, 
Padre que cuidas a los tuyos
y encuentras tu alegría plena 
al verlos crecer en libertad,
al reflejar en ellos tu bondad. 
En el nombre de la flor
del fruto y la semilla, 
en el nombre de la casa
de la mesa y el jardín. 
Se dilatan los ojos al verte, compañero,
rostro de luz abierto y transparente, 
maestro de vida, pastor sincero, 
de todo poder en el servicio. 
Jesús, oigo tu nombre como lluvia
que me empapa y fecunda de ternura.
Brota tu verbo erguido en mi aliento 
y me lanzo al camino peregrino,
amigo de sudores de los pobres, 
hasta llegar a Emaús contigo 
en la mesa ardiente de pan y vino,
el corazón anclado para siempre en ti. 
En el nombre del fuego
de las llamas y la chispa, 
en el nombre de la fiesta
la música y la danza. 
Como el perfume de una sonrisa
te deslizas en la neblina discreta, 
en las pupilas intuitivas, 
en la alegría de las cosas nuevas. 
Espíritu Santo, inteligencia amorosa, 
poeta que das nombre a la alegría. 
Infundes en todas mis fibras 
al cosmos en cada aliento. 
Me haces uno y solidario, 
comprometido con todos 
para que venga tu Reino. 
En el nombre de la tierra
de los ríos y del bosque.
En el nombre del encuentro
del beso y el abrazo.
Amén. 
292
OBRA: 
CRISTO AMARELO 
José Paulino Martins, SJ
293
ALTAR E OFERENDA
Álvoro Negromonte, SJ
O que sou e o que tenho
Que sentido tem, se não moenda?
Se guardo sonhos, desejos e vontades
E não coloco no altar a oferenda?
Chegar ao lugar, autodeserto
Construir e reconstruir como uma renda
Perguntar se aqui devo ficar
Sem medo de propor uma outra estrada
Para a Maior Glória tão desejada
Fazer de si altar e oferenda
Ver o mundo com outro olhar menino
Como cordeiro pronto para doar a vida
Será a vontade que me acena?
Mudar o rumo, vencer não e buscar sins
Para desejar e ensinar ser altar e oferenda.
294
LO INDECIBLE 
Tomás Browne Urzúa, SJ (Chile) 
La vida
no es otra cosa
que el balbuceo de una guagua
Y una madre que la mira
sin entender
lo entiende todo.
295
OBRA: 
NOSSA SENHORA DA PAZ 
José Paulino Martins, SJ 
296
CÁLICE
José Fernandes, SJ
Venha, ó eterno amor,
Falar das coisas do coração,
Fazer germinar belezas,
Da barriga da mãe terra.
Venha, espírito de vida,
Inundar rios em ondas
De maré alta com
Carícias de terno amor.
Venha na mansidão do 
Amanhecer,
Filtrando o sol,
Nas frescas da mata escura.
Venha, irmão das gentes,
Filho bonito da senhora,
Mãe da palavra paz,
Tão cheia de luar
Na noite da humanidade…
Venha força da natureza,
Encher as mãos 
Com os grãos da vida nova.
Chuva mansa nos cabelos
Lavando corações,
Em miúdas e fecundas gotas.
Varrendo medos acumulados
Dos lixos nos beirais da vida.
Venha, Venham!
Beber com a gente,
O cálice da alegria
Do licoroso vinho-doce mel
No oco do Jequitibá!
297
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
298
COTIDIANO
Renata Sales (Grupo OPA)
Céu azul
Aberto
Ergo as mãos
Ofereço
Dobro os joelhos
Rezo
As palavras
Silencio
Recolho os braços
Quieto
Deito o olhar
Contemplo
Vejo escrita 
A Palavra
Ouço a voz
que me 
Consola.
299FOTOGRAFIA: 
Ir. Lucemberg Lima de Oliveira, SJ
300
DESEO
Alberto Luna, SJ
Sólo en mitad de la mañana
el banco de la plaza calla,
recostado, sin más afanes 
que perder la mirada, 
dilatar el pecho, aspirar
el aroma inédito que pasa
en los rostros de la calle. 
La quietud desata 
el silencio de las manos,
apaga los ecos de las voces. 
Al vuelo de las palomas
el corazón busca una nube
que no se lleve el viento, 
un sendero en el horizonte
para darle pies al deseo.
301
 
Eu sinto que Alguém trabalha... e minha vergonha é tanta que, 
agradecido, pego papel e caneta. Esse inventário não vai ter fim!
INVENTÁRIO DE CONSTRANGIMENTOS
André Araújo, SJ
Como olhar e não ver o Amor?!
Olho os porquinhos no chiqueiro,
o quarador e o abacateiro,
os pés-de-moleque e as cocadas,
as comidas na casa da avó,
os bloquetes da rua coloridos
com cacos de tijolo de tudo que era 
cor,
as flores apanhadas na beira do rio,
a água da biquinha,
o banho de mangueira,
a água no telhado pra aguentar o calor,
as brincadeiras na rua; 
nós rodando bombril,
subindo nas árvores, apanhando 
frutas,
comendo os doces e os biscoitos da 
avó;
eu cuidando das galinhas,
tratando da cachorrinha;
nós brincando de gangorra,
passeando no sítio, 
com o tio tirando leite,
chupando cana, nadando na piscina;
eu descobrindo os livros; 
com a tia moendo o milho, fazendo 
fubá,
torrando café, comendo broa;
eu levando almoço pra pai, dormindo 
de tarde,
indo trabalhar, andando de ônibus,
os amigos, os grupos de jovens,
a crisma e a liturgia, a pastoral,
a escola plural,
a universidade,
a literatura, a língua estrangeira,
as viagens, a poesia,
o terço, a solidariedade,
a pesquisa, as aulas, a Companhia,
os pobres, a Filosofia,
as artes, a Teologia,
uma nova gramática de relações,
o sacerdócio, o Nordeste,
o enunciado e as enunciações,
o ser da linguagem, a ficção,
o povo, a Missão,
o acompanhamento, a Consolação.
O dia em que vi minha tia
 (continua)
302
subindo as escadas lá de casa,
com o pé quebrado e de bunda no 
chão,
vencendo
degrau por degrau,
um a um,
com todo sofrimento,
porque queria me ver
antes que eu fosse embora,
senti o que era ser amado
até o mais profundo constrangimento.
Todo mundo quis ajudar,
e ela não quis auxílio de ninguém.
Por medo de se machucar,
subiu devagar,
descansou, me abraçou,
lembro que a gente chorou.
Muita história pra contar...
Mas não dá pra esquecer:
muita coisa misturada!
Não fico parado
no alto da escada,
caminho,
vou longe nesse sentimento,
às vezes, sem prumo,
desalinho,
perco rumo
e haja papel
pra adiar o esquecimento;
nada vai faltar
no meu itinerário,
tudo vai ficar
forte, vivo e denso,
registrado aqui
nesse meu inventário...
 INVENTÁRIO DE CONSTRANGIMENTOS
(continuação)
303
NO ALTO DA COLINA
Igor Cristiano Oliveira, SJ
Na casa do alto da colina
O serenar desperta o amanhã, 
O fogão de lenha reúne os amigos, 
Memórias despertam sorrisos, pura nostalgia... 
É um aquecer a vida, esquentar nossas friezas. 
Na casa do alto da colina 
O entardecer anuncia aurora 
O pôr do sol provoca calmaria na alma
Tudo lá se interliga num movimento singular.
Na casa do alto da colina 
o anoitecer é uma liturgia, 
a estrelas, o luar, tudo revela o absoluto. 
No alto da colina nos permitimos ser encontrados pelo mistério. 
304
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ 
305
NO BAILAR DAS ONDAS
Ozires Vieira de Sousa, SJ
Contemplem o mar!
O azul do céu
A tonalidade da água, 
Às vezes azul, outras vezes verdes,
Mas a espuma é sempre branca
Fruto do vai e vem ritmado pelo vento.
Há uma intensidade para além da força das ondas
Há um mistério espiritual nesse ritmo
É a natureza nos falando de seus segredos divinos
Por que é tão difícil contemplá-la
E escutá-la?
306
FOTOGRAFIA: 
Thiago Augusto Coelho
307
PRESENÇA
José Fernandes, SJ
Foi um instante…
Passou como nuvem errante
Fazendo sombra
No ensolarado dia.
Aquela constante presença
Nos passos da vida
Trazendo alento
Na carcomida memória 
Perdida no tempo.
Foi apenas um instante,
Faísca de doces lembranças,
O vulto no espelho
Do eu que me habita.
Onde foi aquele que fui,
Esquecido de ser?!
Uma presença de não sei,
Embaraçada no tempo
De antigas memórias,
Como musgo aderido
Nas pedras do caminho,
Fazendo-se escorregadio.
Voltar ao início,
Refazer caminhos,
Recolher o que se perdeu
Nos vão das pedras,
Limpar e polir
As velhas lembranças,
Revelando a presença
Daquele que é e sempre foi 
Mas que se perdeu
Na ironia do esquecimento meu
Ressuscitar exalando vida
Reviver o que se quer viver
Sonhar a eterna presença
De ser.
308
EPIFANIA
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ 
Era uma segunda-feira, uma segunda-feira normal,
Normal como os outros dias.
Na segunda-feira em que a alma parece sentir falta de um gesto gratuito. 
Caminhava apressadamente, como alguém que sentia pressa de vencer o 
cansaço exaustivo do cotidiano; 
Estava vazio... corpo oco. 
Não sentia nada, absolutamente nada. 
Parecia não me pertencer, era como se meu corpo não estivesse unido 
à minha alma, 
Era como se minha alma não tivesse unido a minha poesia...
Foi quando passei por uma árvore de ipê
e contemplei um tapete belíssimo de flores, 
coisa que os olhos não se acostumam a ver,
nem o corpo costuma sentir.
Por um instante uma pétala de flor caiu em meus ombros e... eu achei Deus 
de uma grande fineza. Meu dia mudou com aquele instante, eu queria morar 
dentro daquele instante; aprendi que é preciso deixar-se ser tocado.
309
FOTOGRAFIA: 
IPÊ 
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
310
ESPALDA DURA
Jaime Andrés, SJ (Equador)
Espalda dura
caminando los andes
corazón grande.
311
DEUS UNIFICADOR DE SENTIDOS
Igor Cristiano Oliveira, SJ
Toca em meus ouvidos, Senhor, 
Para que não seja surdo aos teus gritos. 
Toca em meus ouvidos, Senhor, 
Para que meu corpo se incline em profunda reverência. 
Toca em meus olhos, Senhor, 
Para que não seja insensível a tua beleza manifestada nas tuas criaturas. 
Toca em meus olhos, Senhor, 
Para perceber que tu brincas conosco em nosso ser criança. 
Toca, unifica meus sentidos aos teus, Senhor,
E faze-me poetizar à Vida.
312
PAISAJE
Alberto Luna, SJ
El filo de luz rasga el horizonte
y desviste el misterio de la noche,
abre las compuertas de los ojos
y derrama nombres en los labios.
Entre la bruma recién nacida
las gaviotas llaman a las olas. 
Se despereza en la cañada
la verde quietud de los cipreses. 
La brisa fresca inunda la vista 
al soplo colorido de las flores. 
El sol preside el rito originario
con su cortejo de nubes claras. 
Como un eco de los ladridos
se oye al queltehue en el llano. 
El paisaje vuela hacia adentro 
y se posa en mi asombro niño, 
trae a la playa de mis manos 
guijarros pálidos, algas dormidas.
Como en una caracola antigua 
resuena el mar en mis orillas,
venda con su velo de espuma 
las heridas sufridas en la arena.
313
FOTOGRAFIA: 
Régis Sarto, SJ
314
NO UN DIOS SOLO
Benjamín González Buelta, SJ
Solo Dios basta
pero un Dios
al que no basta 
andar él solo
por todo el universo.
Dios se nos acerca
en cada ser el cosmos,
que es para nosotros
hogar, alimento, 
tarea y horizonte.
¡comuníon cósmica 
que nos une a dios
en la vida que nos llena
a través de los sentidos,
don y presencia suya 
en nosotros sin medida!
dios nuestro, en la comunión
que se gesta con todos
sin sobrantes ni descanso,
en el vientre maternal
de la historia jadeante.
Dios libre y único 
en el último rincón 
de callada intimida, 
donde cada persona 
se hace consistente.
dios eclipsado,
donde sólo nos quedan 
sus huella,
tan leves como aliento
de niño marginal,
tan fuertes como un sismo 
que cuartea el alma
y los imperios.
dios del tú a tú 
en el instante 
transfigurado,
donde todo los demás 
se ilumina desde dentro
en su verdad,
o se desvanece vacío 
en su apariencia.
sólo dios basta 
pero un Dios 
al que no basta
andar él solo
por todo el universo. 
315
BAUTIZA MIS SENTIDOS
Benjamín González Buelta, SJ
Bautiza mis sentidos
No amanezcas, Señor,
que aun mis ojos
no aprendieron a verteen medio de la noche.
No me hables, Señor
que aun mis oidos
no pueden escucharte
en los ruidos de la vida.
No me abraces, Señor
que aun mi cuerpo
no te fijes en tu piel
en abrazos y en la brisa.
No me endulces, Señor
que aun mi garganta
no saborea tu ternura,
en medio de lo amargo.
No me perfumes, Señor,
que aun mi nariz
no hueles tu presencia
en medio de la miseria.
bautiza mis sentidos
con el curso lento
de tu gracia encarnada,
fluyendo a través de mi cuerpo.
316
FOTOGRAFIA: 
PRIMAVERA 
Igor Cristiano Oliveira Nascimento, SJ
317
O VIAJANTE PEDE O RUMO
Paulo Veríssimo, SJ
O viajante pede o rumo
Ao prumo da história
Para poder chegar
Onde viver é amar
O tempo revela o destino do homem
Cuja força de andar faz seguir
Feliz como quem já chegou
Onde viver é não parar
Viver é amar sem parar.
318
OBRA: 
Alexandre Raimundo de Souza, SJ
DESCRIÇÃO: 
Tres milagros de Jesús, la Samaritana en el pozo, agua viva que mata la sed. 
Lázaro, Jesús le devolvió la vida. El ciego de nacimiento, Jesús ha hecho barro 
con la saliva y polvo de tierra y le abrió los ojos. (Narrativas segundo San Juan).
320
INACIAR
Luiz Beltrão
A decisiva aventura não é risco. É escultura.
É terra seca tornar-se argila, pedra dura moldar-se bilha.
Todo início é exercício. Maior batalha, ceder muralha.
Pobre tíbia, mero símbolo, de fato címbalo que percutia:
“Qual é teu rumo? Valeu a pena? E se morrer dessa gangrena, como será 
pós sepultura?”
E no balanço do percorrido, muda o senhor, troca o sentido.
Levanta. Manca. Tropeça. Avança.
Luz e querer.
Depõe sua capa. A forja é a lapa.
Jerusalém é ir além. 
Pois Quem o chama merece e clama por nada aquém de todo o ser.
Eis o inciso do Peregrino:
remar preciso, leve e menino, 
mas sempre em busca de precisão. 
Processo eterno, inacabado, 
em quatro tempos, fio trançado.
Contemplo o templo que pulsa dentro. A graça age na decisão.
O resto é espera, é confiança.
E qual criança fazer-me dom 
pelo chamado imerecido.
No mar, a nau. Terceiro grau.
Inaciar o Reino aqui, com fundamento, discernimento, 
justiça e paz, cada vez mais.
Junto com outros, pobres e loucos,
sob a bandeira do Cristo amigo.
321
A NATUREZA ME FEZ ASSIM
Felipe de Assunção Soriano, SJ
A natureza me fez assim...
O senhor era outro,
A cidade era outra,
A senhora era outra,
Outro era o Reino...
Os companheiros eram outros,
As armas eram outras,
As terras eram outras,
As glórias eram outras,
Outros eram os meios...
Se uma ferida foi o estopim,
Se dessa dor uma eleição,
Toda ferida esconde uma missão.
322
PEREGRINO, SÓ?
Guilherme Augusto Siebeneichler
Peregrino, só?
Peregrino só,
Que tanto busca?
Pelo que tanto anseia?
O que lhe dá forças?
Faz a travessia de campos
De florestas, de montes e montanhas
Quilômetros seguidos de quilômetros
Escorre o suor de seus passos já 
errantes
Cansado, senta-se
No coracão, nomes, rostos, cheiros e 
cores
Sabe que não está solitário
Brota um sorriso no rosto
E no caminho
Dá passos silenciosos dentro de si
Não se trata da distância,
Mas a chama que arde e faz caminhar
E então, vem a noite
Com ela, as estrelas e a lua
Silenciosos cristais do mistério
E o coração queima novamente com a 
beleza
A cada passo,
Pegadas no chão, na areia, na lama
Marcas da continuidade do mistério
E mais nomes, rostos, cheiros e cores
Aqui, não é saber
É saborear
Não é antes, nem depois
É agora.
323
AS FERIDAS
Felipe de Lima França
Cristo, 
nenhum osso te foi quebrado 
Inácio, 
uma bala quebrou tua perna 
Cristo ficou chagado 
Inácio ficou manco 
Do fracasso 
a vida 
um processo 
um apelo 
uma vocação 
uma missão 
a salvação 
E eu estou inteiro 
E o mundo está ferido 
No sofrimento do inocente 
O Senhor chama um nome 
De quem? 
324
JERUSALÉM
Luisinho Vieira e Roberto Mesquita Ribeiro (Grupo OPA)
Vou para longe, vou. Vou onde 
Deus mandar.
Seja o limite do mundo, ou para 
outro lugar.
Quero poder partir, quero me 
encontrar.
Sonho em correr todo o mundo, 
na mão de Deus caminhar.
Jerusalém... A vida eu entrego a Deus.
Jerusalém, meus sonhos são 
todos teus.
Quando deixei meu lar, promessa 
recebi.
Recebo mais que entrego, Deus 
mesmo vem se ofertar.
Caminho pra servir, sirvo pra encontrar.
Só me encontro no mundo, fazendo o 
mundo mudar.
Jerusalém... A vida eu entrego a Deus.
Jerusalém, meus sonhos são 
todos teus.
Não sei se vou chegar. Acho que não 
tem fim.
Que não tem fim minha sede: desejo 
de caminhar...
Se acho que consegui, penso em 
me instalar.
Deus me convida: em frente. 
É hora de enfrentar!
Jerusalém... A vida eu entrego a Deus.
Jerusalém, meus sonhos são 
todos teus.
Em cada ir e vir, todo recomeçar.
Encontro minha verdade: 
Jerusalém procurar.
Jerusalém jardim, meta que Deus 
me deu.
Estrela que eu contemplo, templo 
onde vou habitar.
Jerusalém... A vida eu entrego a Deus.
Jerusalém, meus sonhos são 
todos teus.
Inácio Santo.
325
OBRA: 
Rogério Barroso, SJ

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