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1 SUMÁRIO 1 MEIO AMBIENTE CULTURAL .................................................................... 2 1.1 Princípios do Direito Ambientais ........................................................... 2 1.2 Meio Ambiente Artificial ........................................................................ 7 1.3 Conceito Estatuto da Cidade .............................................................. 10 1.4 Tutela Constitucional da Cidade do Âmbito Do Meio Ambiente Artificial. O Estatuto da Cidade ............................................................................................ 12 1.5 Direito Urbanístico .............................................................................. 17 1.6 Propriedade e solo urbanos ............................................................... 19 1.7 Instrumento de Política Urbana e Tutela ............................................ 21 2 PATRIMÔNIO CULTURAL ....................................................................... 23 2.1 Definições do património cultural e natural ......................................... 23 2.2 Decreto Lei nº 25 atualizado .............................................................. 31 3 TOMBAMENTO ........................................................................................ 39 3.1 Tombamento - Conceitos ................................................................... 39 4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFIA ................................................................. 46 2 1 MEIO AMBIENTE CULTURAL Fonte link:aloriodejaneiro.com 1.1 Princípios do Direito Ambientais Segundo o artigo 3º, da Lei nº 6.938/1981 meio ambiente é o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Havendo harmonia entre o veículo descrito e o conteúdo estrutural normativo do artigo 225, da Constituição Federal, podemos, firmar o entendimento que o veículo em questão foi recepcionado pela ordem constitucional vigente. Neste contexto, podemos conceituar meio ambiente como toda estrutura física ou não que influência e rege a vida em todas as suas formas. O Direito Ambiental é a ciência que estuda os problemas ambientais e suas interligações com o homem, visando a proteção do meio ambiente para a melhoria das condições de vida como um todo. Esta ciência teve origem nos primeiros estudos de ecologia, passou pelo surgimento da ciência educacional ambiental, até chegar a sua formação como mecanismo de proteção do meio ambiente. 3 O Direito Ambiental tem como base estudos complexos que envolvem várias ciências como biologia, antropologia, sistemas educacionais, ciências sociais, princípios de direito internacional entre outras, sendo fundamental que se tenha uma visão holística para o desenvolvimento de seu estudo, não se podendo ficar em conhecimentos fragmentados, sob pena de não conseguir atingir a finalidade principal que é a proteção do meio ambiente. O direito ao meio ambiente, a definição e o regime jurídico do meio ambiente e os princípios e objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente são os mais destacados fundamentos do Direito Ambiental, além das definições e conceitos de ecologia, biologia, antropologia, botânica e educação ambiental. Segundo o Decreto Lei n.º 6938 DE 31 DE AGOSTO DE 1981: Art 1º - Esta lei, com fundamento nos incisos VI e VII do art. 23 e no art. 235 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) e institui o Cadastro de Defesa Ambiental. (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990) No Brasil surgiu a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, de 31.8.81), um marco histórico no desenvolvimento do Direito Ambiental dando definições importantíssimas de meio ambiente, degradação da qualidade ambiental, poluição, poluidor e recursos ambientais, bem como instituiu um valioso mecanismo de proteção ambiental denominado estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e seu respectivo relatório ( RIMA ), instrumentos eficazes e modernos em termos ambientais mundiais. Seguiu-se a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347, de 24.7.85) que tutela os valores ambientais, disciplinando a ação civil pública de responsabilidade por danos causado ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Em 1988, a nossa Constituição Federal dedicou em seu título VIII- da Ordem Social, no capítulo VI, art. 225 normas direcionais da problemática ambiental, dando as diretrizes de preservação e proteção dos recursos naturais incluindo nelas a fauna e flora, bem como, entre outras medidas, normas de promoção da educação ambiental, definindo o meio ambiente como bem de uso comum do povo. Por sua vez a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, a Rio-92, como ficou conhecida, sacramentou em termos 4 mundiais a preocupação com a problemática ambiental, reforçando os princípios e regras para o combate à degradação ambiental, elaborando a Agenda 21, instrumento diretriz do desenvolvimento sustentável. Assim, o Direito Ambiental é importantíssimo para a garantia da qualidade de vida de nossa sociedade, sendo ao mesmo tempo uma garantia de preservação das demais formas de vida, bem como dos recursos florestais, hídricos e minerais de nosso país. Portanto, seu estudo deve ser difundido em todos os cursos universitários de direito, fornecendo a todos os profissionais uma noção básica de preservação do ambiente em que vivem e a forma de sua proteção, sendo está um dever de todos os cidadãos, conforme prevê a Constituição Federal em seu art.225 que a impõe ao Poder Público e à coletividade. Além disso a participação da sociedade na problemática ambiental tem também respaldo legal e deve ser incentivada. Devemos lembrar que o Brasil ainda possui grandes reservas florestais que guardam enorme potencial econômico e biológico, objeto de estudos no mundo todo, de forma que tem condições de projetar seu desenvolvimento em harmonia com a exploração de seus recursos naturais, preservando-os o melhor possível, nunca se esquecendo dos exemplos desastrosos de muitos países hoje chamados “desenvolvidos “, que se encontram em lastimável situação de degradação natural. Seus tristes exemplos não nos servem, podendo apenas ser tomados como parâmetros para se evitar o mesmo caminho que seguiram. Portanto, o Direito Ambiental é de suma importância e deve merecer atenção de todos nós. Princípios são os mandamentos básicos e fundamentais nos quais se alicerça uma ciência. São as diretrizes que orientam uma ciência e dão subsídios à aplicação das suas normas. Os princípios são considerados como normas hierarquicamente superiores as demais normas que regem uma ciência. Em uma interpretação entre a validade de duas normas, prevalece aquela que está de acordo com os princípios da ciência. Apesar de ser uma ciência jurídica nova, o Direito Ambiental já conta com princípios específicos que o diferenciam dos demais ramos do direito, apesar dos 5 autores divergirem um pouco na colocação dos princípios. Aliás, nomes de alguns princípios diferenciam de autor para a aturo. O meio ambiente natural ou físico é constituído pelos recursos naturais, como o solo, a água, o ar, a flora e a fauna, e pela correlação recíproca de cada um destes elementos com os demais. Esse é o aspecto imediatamente ressaltado pelo citado inciso I do art. 3º da Lei nº. 6938, de 31 de agosto de 1981. O meio ambiente artificial é o construído ou alterado pelo ser humano, sendo constituído pelos edifícios urbanos, que são os espaços públicos fechados, e pelos equipamentos comunitários, que são os espaços públicos abertos,como as ruas, as praças e as áreas verdes. O meio ambiente artificial é composto pelos espaços urbanos, o que não significa tratar-se apenas das edificações das cidades, dos prédios, ruas, equipamentos, mas também da parte “rural” como as praças, parques, jardins, ou seja, abrange os espaços habitáveis como um todo. Está respaldado nos arts. 182 e seguintes, 225, 21, XX, 5 dentre outros da Constituição Federal 88. Embora esteja mais relacionado ao conceito de cidade o conceito de meio ambiente artificial abarca também a zona rural, referindo-se simplesmente aos espaços habitáveis, visto que nele os espaços naturais cedem lugar ou se integram às edificações urbanas artificiais. O meio ambiente cultural é o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ecológico, científico e turístico e constitui-se tanto de bens de natureza material, a exemplo dos lugares, objetos e documentos de importância para a cultura, quanto imaterial, a exemplo dos idiomas, das danças, dos cultos religiosos e dos costumes de uma maneira geral. Embora comumente possa ser enquadrada como artificial, a classificação como meio ambiente cultural ocorre devido ao valor especial que adquiriu. O art. 215 da CF dispõe que o Estado protegerá o direito de todos ao pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional e o art. 216 da CF traz a definição de patrimônio cultural brasileiro como o conjunto formado de “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, [...]”.Tais dispositivos tutelam o meio ambiente cultural, 6 protegendo os bens materiais e imateriais que representam a identidade dos diferentes grupos que formam a sociedade brasileira. O meio ambiente do trabalho, considerado também uma extensão do conceito de meio ambiente artificial, é o conjunto de fatores que se relacionam às condições do ambiente de trabalho, como o local de trabalho, as ferramentas, as máquinas, os agentes químicos, biológicos e físicos, as operações, os processos, a relação entre trabalhador e meio físico. O cerne desse conceito está baseado na promoção da salubridade e da incolumidade física e psicológica do trabalhador, independente de atividade, do lugar ou da pessoa que a exerça. Assim, fixam-se regras de segurança em relação às máquinas para evitar acidentes aos trabalhadores; estabelecem- se critérios de contenção de ruídos, gases, calor, frio, radiação, pó e de limitação temporal e de exposição aos agentes agressivos. Obriga se o empregador a fornecer equipamento de proteção coletiva e individual para trabalhadores, inclusive quanto à exposição a explosivos e inflamáveis, estabelecendo adicionais pecuniários que compensam, pelo menos em tese, o risco à saúde e a própria integridade. Portanto, o meio ambiente é necessariamente algo que faz parte de nossas vidas e de que também fazemos parte. Está no problema da falta de esgoto sanitário, da falta de água, da energia elétrica, do ar poluído, da qualidade dos alimentos, da disposição dos vários tipos de lixo, do carro de som, dos panfletos dos políticos, da ventilação, do ordenamento das praças e quarteirões, da higiene e segurança no trabalho, do resguardo do patrimônio histórico e arqueológico, da proteção às danças e costumes, da defesa dos animais e das florestas, do transporte público, da arborização urbana, do consumo verde, da industrialização adequada etc. Sendo o meio ambiente artificial espaço físico aonde a pessoa humana reside e circula o seu equilíbrio importa na sadia qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, o exercício ou respeito da função social da cidade garante a eficácia imediata do princípio da dignidade da pessoa humana. 7 Neste ponto, o Estatuto da Cidade trouxe a denominada carga valorativa (artigo 225, CF) que enquadrou a cidade como meio ambiente, o qual, deve ser, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”. Assim, a veiculação do Estatuto da Cidade trouxe a obrigação das cidades sustentáveis, com intuito de preservar a qualidade de vida dos habitantes, mas com objetivo primordial de consagrar o princípio da dignidade da pessoa humana. 1.2 Meio Ambiente Artificial Fonte: s2.glbimg.com O meio ambiente artificial, também denominado humano, se encontra delimitado no espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações e congêneres, denominado, dentro desta sistemática, de espaço urbano fechado, bem como pelos equipamentos públicos, nomeados de espaço urbano aberto. Cuida salientar, ainda, que o meio-ambiente artificial alberga, ainda, ruas, praças e áreas verdes. O meio ambiente artificial é o construído ou alterado pelo ser humano, sendo constituído pelos edifícios urbanos, que são os espaços públicos fechados, e pelos equipamentos comunitários, que são os espaços públicos abertos, como as ruas, as praças e as áreas verdes. Embora esteja mais relacionado ao conceito de cidade o 8 conceito de meio ambiente artificial abarca também a zona rural, referindo-se simplesmente aos espaços habitáveis, visto que nele os espaços naturais cedem lugar ou se integram às edificações urbanas artificiais. Trata-se, em um primeiro contato, da construção pelo ser humano nos espaços naturais, isto é, uma transformação do meio-ambiente natural em razão da ação antrópica, dando ensejo à formação do meio-ambiente artificial. Além disso, pode-se ainda considerar alcançado por essa espécie de meio- ambiente, o plano diretor municipal e o zoneamento urbano. Nesta esteira, o parcelamento urbanístico do solo tem por escopo efetivar o cumprimento das funções sociais da sociedade, fixando regramentos para melhor aproveitamento do espaço urbano e, com isso, a obtenção da sadia qualidade de vida, enquanto valor agasalhado pelo princípio do meio ecologicamente equilibrado, preceituado na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Ora, não se pode olvidar que o meio-ambiente artificial é o local, via de regra, em que o ser humano se desenvolve, enquanto indivíduo sociável, objetivando-se a sadia qualidade de vida nos espaços habitados. Originalmente, a concepção de meio ambiente encaminha para duas origens: meio ambiente natural e meio ambiente artificial. O primeiro como já visto, formado a partir de tudo o que se encontra naturalmente constituído na natureza. O segundo, compor-se-ia pela materialização da atividade humana, através da sua interação com os agentes naturais e com seus semelhantes. Contudo, a divisão doutrinária majoritária, aponta para uma forma diferente de se conceber a atuação humana, dividindo-a em meio ambiente artificial e meio ambiente cultural. A Constituição Federal, em seu art. 216, estabeleceu a proteção a todos os bens que de alguma forma remetam à identidade, à memória e à ação de todos os grupos que formaram a sociedade brasileira. Assim, de uma forma geral, o Brasil foi culturalmente unificado, sendo todo e qualquer elemento cultural valorado da mesma forma, sem nenhum tipo de preferência ou distinção. E a identificação de bens culturais se dá através de um vínculo que remeta à essência de determinado grupo formador da sociedade brasileira. A proteção do meio ambiente cultural está intimamente ligada à noção de sadia qualidade de vida, de forma a preservar a vida em toda sua complexidade que requer 9 a manutenção da identidade e de todo o significado de um povo através de suas manifestações culturais. O conceito de meio ambiente adotado no presente coloca o homem e suas interações com o meio natural como parte integrante do amálgama de interações que a expressão comporta, sendo lógico, portanto, que as realizações e construções do homem – verdadeiras materializações da atividade humana – constituambens ambientais dignos de proteção a exemplo dos outros microbens. Por meio ambiente artificial, deve ser entendido o espaço urbano construído, ou seja, as cidades, com todos os seus elementos, incluídos, portanto o espaço urbano fechado e os espaços abertos, como as praças. O patrimônio artificial possui relevância tão extremada, que seu estudo e disciplina ultrapassam os limites do Direito Ambiental e se alocam juntamente com outro ramo da ciência jurídica, o Direito Urbanístico. De fato, o ambiente urbano comporta uma série de relações que precisam estar em efetivo equilibro para que a ordem se mantenha e todos seus elementos ajam dentro do papel esperado. Diferente dos ecossistemas naturais, o ambiente urbano não é capaz de absorver seus próprios resíduos, nem tampouco de existir sem afetar o meio ao seu redor. O meio ambiente artificial encontra-se normatizado nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal e Lei nº 10.257/2001 (Estatuto da Cidade). O Estatuto prescreve condutas de ordem pública e de interesse social relacionadas ao uso da propriedade urbana, para proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado delimitado ao perímetro urbano. O ambiente urbano é tutelado não como um todo, mas sim através de seus elementos. Várias legislações de ordem urbanísticas e ambientais incidem sobre o ambiente artificial, destacando-se no âmbito federal, além da Constituição Federal, a Lei 10.257/2000, a Lei 6.803/1980. Contudo é na esfera municipal que se verifica a maior relevância dos diplomas legais, através da edição do Plano Diretor respectivo. 10 1.3 Conceito Estatuto da Cidade Fonte Link: unieducar.org.br O Estatuto trata de um conjunto de princípios, no qual está expressa uma concepção de cidade e de planejamento e gestão urbana, e também de uma série de instrumentos que são os meios para atingir as finalidades desejadas. O Estatuto da Cidade pode ser definido como a lei federal de desenvolvimento urbano constitucionalmente, que regulamenta os instrumentos de política urbana que devem ser aplicadas pela União, Estados e especialmente pelos Municípios. A Lei n. 10.257/2001 está dividida em cinco Capítulos, sendo que o primeiro é o capítulo que trata das Diretrizes Gerais, o segundo dos Instrumentos da Política Urbana, o terceiro do Plano Diretor, o quarto da Gestão Democrática da Cidade e o último trata das Disposições Gerais. As principais características do Estatuto estão ligadas a atribuição aos municípios da implementação de planos diretores participativos para as suas cidades, definindo uma série de instrumentos urbanísticos que tem no combate à especulação imobiliária e na regularização fundiária dos imóveis urbanos seu principal objetivo. Vale ressaltar que o Estatuto é muito complexo, e seus instrumentos significam interferências em muitas instâncias do poder público, nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e também nas esferas federal, estadual e municipal, e da sociedade civil. 11 No Estatuto ocorreram diversas inovações que se situam em três campos: a) um conjunto de novos instrumentos de natureza urbanística voltada para criar as formas de uso ocupação do solo; b) a ampliação das possibilidades de regularização das posses urbanas; c) uma nova estratégia de gestão que incorpora a ideia da participação direta do cidadão em processos decisórios sobre o destino da cidade. O Estatuto que estabelece regras para legalizar invasões, favelas e loteamentos irregulares, no entanto, somente os que estiverem localizados em áreas privadas. O usucapião urbano particular e coletivo permitirá a distribuição de títulos de propriedades aos que moram a cinco anos em terrenos privados de até duzentos e cinquenta metros quadrados. Além disso, diversos artigos foram vetados que permitiam o usucapião urbano em terras públicas. Vale comentar que o Estatuto tem uma proposta inédita de agregar valores impregnados de justiça, democracia e solidariedade, e assim insere-se em um contexto de barreira à imobilidade e à inércia, representando um marco fundamental de conscientização e mudanças de comportamento a médio e a longos prazos à disposição de todo cidadão brasileiro. Além disso, o estatuto está aliando a busca permanente do desenvolvimento urbano em bases sustentáveis ao esforço contínuo de instauração da justiça social e ambiental nas cidades, e por consequência o Estatuto opõe-se à destruição do ambiente e ao aviltamento do homem, o que representa um imenso desafio para o País e suas instituições. É evidente que as constantes normas do Estatuto, apesar de ligadas mais diretamente ao campo do direito urbanístico e não do direito ambiental, apresentam repercussões evidentes na proteção não apesar do meio ambiente construído, mas também do meio ambiente natural. As grandes cidades têm como um dos grandes desafios o controle processo de expansão e desenvolvimento urbanos. Tal problema surge nas cidades que tem uma expansão demográfica e de negócios, sob um contexto de concentração de renda e grande parte da população de baixa renda. Por exemplo, o crescimento econômico periférico, que é o caso do Brasil, via de regra vem acompanhado de um crescimento de população de baixa renda, que chega em busca de oportunidades de emprego e sobrevivência, mas não tem condições de instalar-se nas regiões mais bem equipadas e infra estruturadas das 12 cidades. Por isso, está população acaba criando um bloco ilegal nas cidades, tais como: favelas, cortiços, ocupações em áreas de risco e em periferias longínquas, em geral à margem dos investimentos públicos. 1.4 Tutela Constitucional da Cidade do Âmbito Do Meio Ambiente Artificial. O Estatuto da Cidade Fonte link:4.bp.blogspot.com Conforme prescreve o artigo 225 da Constituição Federal, o meio ambiente ecologicamente equilibrado está relacionado com a dignidade da pessoa humana, ou seja, o equilíbrio do meio ambiente a efetivação do princípio da dignidade da pessoa humana. Sendo o meio ambiente artificial cidade -o espaço físico aonde a pessoa humana reside e circula o seu equilíbrio importa na sadia qualidade de vida de seus habitantes. Equilíbrio do meio ambiente artificial é cristalizado pela entrega do piso vital mínimo aos seus habitantes, bem como respeito as regras capitalistas (trabalho, comercio e etc), bem como aspectos intrínsecos (intimidade, religião, lazer e etc) Neste sentido, as regras constitucionais delimitadas ao campo de incidência espacial das cidades prescreverão condutas positivas e negativas impostas aos entes federativos com intuito de proteger o meio ambiente artificial para glorificação do princípio da dignidade da pessoa humana. 13 Pois bem, tratando-se de cidade, os regramentos estatuídos nos artigos 182, 183 e 225, da Constituição Federal autorizaram o legislador ordinário a veicular o denominado Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) com intuito de disciplinar, de forma correta, a propriedade urbana, para o equilíbrio do meio ambiente artificial. O Estatuto da Cidade vem trazendo uma carga de valor jurídico-social refletindo os ditames do artigo 225, da CF, ou seja, traz a cidade como meio ambiente, o qual, deve ser, “bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. O Estatuto da Cidade, portanto, regulamenta o uso do imóvel urbano sob uma perspectiva ambiental, relativizando o direito à propriedade que não pode ser exercido ao bel prazer do proprietário, tampouco de forma absoluta, sem qualquer restrição. A propriedade urbana, com o advento desta lei passa a se vincular a sua função social (artigo 182, §§ 1º e 2º da C.F.), garantindo, desta forma, o desenvolvimento urbano de forma sustentável, respeitando, ainda os direitos e garantias fundamentais e o princípio da dignidade da pessoa humana, coibindo práticas como especulação imobiliária, construções em áreasde riscos ou insalubres, entre outras. Após a veiculação do Estatuto da Cidade a propriedade urbana passou a caracteriza-se como elemento ambiental e componente do meio ambiente artificial: o meio ambiente artificial passa a receber uma tutela mediata (revelada pelo art. 225 da Constituição Federal, em que encontramos a proteção geral ao meio ambiente enquanto tutela da vida em todas as suas formas, centrada na dignidade da pessoa humana) e uma tutela imediata (que passa a receber tratamento jurídico aprofundado em decorrência da regulamentação dos arts. 182 e 183), relacionando-se diretamente às cidades. É, portanto, impossível desvincular de vida, assim como o direito à satisfação dos valores da dignidade da pessoa humana e da própria vida.” O artigo 2º do regramento urbano prescreve as seguintes diretrizes: “I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações; II – gestão democrática por meio da participação da população e de associações representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano; 14 III – cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade no processo de urbanização, em atendimento ao interesse social; IV – planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente; V – oferta de equipamentos urbanos e comunitários, transporte e serviços públicos adequados aos interesses e necessidades da população e às características locais; VI – ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar: a) a utilização inadequada dos imóveis urbanos; b) a proximidade de usos incompatíveis ou inconvenientes; c) o parcelamento do solo, a edificação ou o uso excessivos ou inadequados em relação à infraestrutura urbana; d) a instalação de empreendimentos ou atividades que possam funcionar como polos geradores de tráfego, sem a previsão da infraestrutura correspondente; e) a retenção especulativa de imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização; f) a deterioração das áreas urbanizadas; g) a poluição e a degradação ambiental; VII – integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o desenvolvimento socioeconômico do Município e do território sob sua área de influência; VIII – adoção de padrões de produção e consumo de bens e serviços e de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do Município e do território sob sua área de influência; IX – justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do processo de urbanização; X – adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, de modo a privilegiar os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais; 15 XI – recuperação dos investimentos do Poder Público de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos; XII – proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; XIII – audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população; XIV – regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais; XV – simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas edilícias, com vistas a permitir a redução dos custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais; XVI – isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização, atendido o interesse social.” As diretrizes, bem como os demais regramentos contidos na norma estrutural urbana condicionam a propriedade ao meio ambiente como o todo, para sadia qualidade de vida das pessoas que circulam na cidade. Assim, o Estatuto da Cidade criou a obrigação da existência de cidades sustentáveis, “que deverá assegurar, como importantíssima diretriz da política urbana no Brasil, os direitos básicos de brasileiros e estrangeiros residentes no País no que se refere à relação pessoa humana/lugar onde se vive”. Para concluímos, o Estatuto da Cidade, para garantia do direito a cidades sustentáveis, prescreveu as seguintes diretrizes: (i) direito à terra urbana: distribuição dos habitantes em determinado espaço territorial e a forma que serão distribuídos; (ii) direito à moradia: direito a espaço delimitado (específico) de conforto e respeito as regras constitucionais de intimidade; (iii) direito ao saneamento ambiental: vinculo o ente federativo a assegurar as condições mínimos para garantir a saúde dos habitantes da cidade; 16 (iv) direito à infraestrutura urbana: reflete “direito material metaindividual organizado a partir da tutela jurídica do meio ambiente artificial, revele a necessidade de uma ‘gerência’ da cidade por parte do Poder Público municipal vinculada a planejamento previamente discutido não só com o Poder Legislativo mas com a população, com a utilização dos instrumentos que garantem a gestão democrática das cidades, explicados nos arts. 43 e 45 do Estatuto da Cidade exatamente no sentido de integrar juridicamente as cidades ao Estado Democrático de Direito” (v) direito ao transporte: reflete os meios necessários para livre circulação da pessoa humana dentro do perímetro municipal (vi) direito aos serviços públicos: humanização e isonomia na prestação de serviços públicos; (vii) direito ao trabalho: espelho nas prescrições do art. 6º da CF (piso vital mínimo); (viii) direito ao lazer: idem; Ao longo do trabalho, para melhor entendimento do tema, analisamos conceitos básicos do Direito Ambiental e sua evolução até os dias atuais onde se apresenta como um novo ramo do direito capaz de coibir práticas indiscriminadas de poluição e degradação, primando pelo desenvolvimento sustentável. Da evolução do Direito Ambiental e da preocupação de tutelar o meio ambiente como um todo e não apenas preservar e tutelar os recursos naturais surgiu o Estatuto da Cidade, instrumento regulador da Política de Desenvolvimento Urbano. Ressaltamos que o Estatuto da Cidade surgiu, ainda, para regulamentar os artigos 182 e 183 da nossa Constituição Federal, gozando, portanto, de respaldo constituicional. O Estatuto da Cidade inquestionavelmente desempenha papel primordial na tutela do meio ambiente artificial, traçando e regulamentado as políticas de desenvolvimento urbanos, criando instrumentos garantidores para tanto, dentre eles os tão comentados Plano Diretor e o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) progressivo no tempo, entre tantos outros. Concluímos, com base nos estudos realizados que não é mais possível fecharmos os olhos ao caos urbano que tem se instalado em nossos municípios: favelas, poluição visual e sonora, crescimento sem planejamento e infraestrutura, enchentes etc. E, o Estatuto da Cidade, surge com inovações e regulamentações 17 imprescindíveis à tutela do meio ambiente artificial, criandopara tanto, instrumentos eficazes e possíveis de serem realizados, bastando para tanto apenas vontade política, responsabilidade do Poder Público e participação popular. Trata-se, portanto, de instrumento normativo capaz de coibir possíveis injustiças e abusos em busca de uma nova ética ambiental. Almejamos desta forma que o presente trabalho possa orientar todos aqueles que se interessam pelas questões ambientais no que tange ao papel do Estatuto da Cidade e esperamos que este instrumento normativo seja utilizado corretamente e respeitado por todos. 1.5 Direito Urbanístico Fonte link: static.panoramio.com O Direito Urbanístico está intrinsecamente ligado às questões relacionadas ao meio ambiente, pois trata de diretrizes que visam ordenar os conglomerados humanos para possibilitar uma vida comunitária saudável. Nesse sentido o meio ambiente sadio deve ser observado no Direito Urbanístico. Daí porque a colocação deste tema em um programa que visa a educação ambiental global. O novo direito urbanístico possui várias definições, como: o Direito Urbanístico 18 Objetivo consiste no conjunto de normas que tem por objetivo organizar os espaços habitáveis, de modo a propiciar melhores condições de vida ao homem na comunidade direito Urbanístico como ciência é o ramo do direito público que tem por objeto expor, interpretar e sistematizar as normas e princípios disciplinadores dos espaços habitáveis” (José Afonso da Silva. Direito Urbanístico Brasileiro. 2ª ed. rev. atual. 2ª tiragem. Malheiros. São Paulo: 1997. p. 42). O direito urbanístico trata de aspectos fundamentais para o bem-estar das pessoas, que são os relativos ao meio ambiente construído (Victor Carvalho Pinto. Notas Introdutórias ao Direito Urbanístico, Ministério Público do Estado de São Paulo. Temas de Direito Urbanístico. Caohurb. São Paulo: 1999. p. 145)já, nossa definição para direito urbanístico é ” o ramo do Direito que regula a atividade estatal concernente à ordenação dos espaços habitáveis no meio ambiente urbano”. OS Objetivos principais do direito urbanístico: disciplinar o ordenamento urbano. disciplinar o uso e ocupação do solo urbano; criar e disciplinar áreas de interesse especial; coordenar a ordenação urbanística da atividade edilícia coordenar a utilização de instrumentos de intervenção urbanística. Os princípios do direito urbanístico são: Princípio do urbanismo como função pública; Princípio da conformação da propriedade urbana; Princípio da harmonia das norma urbanísticas; Princípio da afetação; Princípio da justa distribuição dos benefícios e ônus derivados da atuação urbanística. Dentre as instituições do direito urbanístico ressaltam-se: planejamento urbanístico; parcelamento do solo urbano urbano ou urbanizável; zoneamento do uso de solo; ocupação do solo; reparcelamento 19 1.6 Propriedade e solo urbanos Tem-se no art. 5º, incs. XXII e XXIII, da Constituição Federal que é garantido o direito de propriedade, e que esta atenderá a sua função social. Assim, as limitações administrativas impostas pelo Poder Público, com seu poder de polícia, encontram escopo no artigo constitucional supramencionado. Do mesmo modo as limitações da propriedade urbana, que deverá albergar interesses privativos do seu titular e interesses públicos e sociais. Fonte link: direitosurbanos.files.wordpress.com Plano diretor O Plano diretor pode ser definido como “um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano. O objetivo do Plano Diretor não é resolver todos os problemas da cidade, mas tentar ser um instrumento para a definição de uma estratégia para a intervenção imediata, e assim estabelecer princípios de ação para o conjunto dos agentes na construção da cidade. É importante comentar a relação do Plano Diretor com o Estatuto, que determina que será ele o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana e deverá englobar o território do Município como um todo. 20 A Constituição de 1988 define como obrigatórios os Planos Diretores para cidades com população acima de 20.000 habitantes. Além disso, o Estatuto reafirma esse objetivo do estabelecimento do Plano Diretor como instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana. Vale ressaltar que o planejamento do Plano Diretor na esfera local ressurge, com vigor, nos anos 1990. Para além da exigência constitucional, o intenso crescimento das cidades brasileiras reforça o papel do planejamento local como importante instrumento para organização das ações governamentais, visando o bem- estar coletivo e a justiça social. A visão atual do Plano Diretor no século XXI difere bastante de sua concepção dos anos 1990. A transformação de mero documento administrativo com pretensão de resolução de todos os problemas locais, desconsiderando as práticas sociais quotidianas, o Plano Diretor assume a função de, como instrumento, interferir no processo de desenvolvimento local, a partir da compreensão integradora dos fatores políticos, econômicos, financeiros, culturais, ambientais, institucionais, sociais e territoriais que condicionam a situação encontrada no Município. No século XXI o Plano Diretor é instrumento obrigatório para municípios com população que tem mais de 20.000 habitantes, estes situados em regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas, em áreas de interesse turístico, ou em áreas sob influência de empreendimentos de grande impacto ambiental. No entanto, os municípios que não estão incluídos em qualquer destas categorias precisam dispor obrigatoriamente de um Plano diretor, se o poder público pretender aplicar os instrumentos previstos no capítulo de Reforma Urbana da Constituição de 1988. O Plano Diretor deverá conter, no mínimo: a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado: a) o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; b) o direito de preempção; c) a outorga onerosa do direito de construir; d) as operações urbanas consorciadas; e) a transferência do direito de construir. Em 2007 o Brasil possui 5.561 municípios. Deste total, 4.172 possuem cidades com até vinte mil habitantes. Os demais, 1.389 municípios, abrigam cidades com mais de vinte mil habitantes. Portanto, todos estes estão obrigados a elaborar seu Plano Diretor. Importante comentar uma característica dos atuais planos diretores é que eles necessariamente consideram a participação da população, seja na sua elaboração, 21 no seu acompanhamento, seja em sua revisão. A participação da população pode ocorrer de distintas maneiras, como, por exemplo, nos processos de discussão das potencialidades e identificação dos problemas existentes na escala local, através de conselhos, comitês ou comissões de representantes de variados segmentos da população, do empresariado e das diferentes esferas de governo. Etapas da elaboração do plano diretor Estudos preliminares; Diagnóstico Plano de diretrizes; Instrumentação do plano. Função do plano diretor: sistematizar o desenvolvimento físico; sistematizar o desenvolvimento econômico; sistematizar o desenvolvimento social do território. Objetivos principais do plano diretor, como: promover a ordenação dos espaços habitáveis reurbanização de bairros alargamento de vias públicas construção de vias expressas ordenar os espaços destinados às industrias ordenar a construção de casas populares; ordenar a distribuição de redes de esgotos o saneamento; retificação um rios e urbanização de suas margens o zoneamento; o arruamento; os loteamentos. 1.7 Instrumento de Política Urbana e Tutela A política urbana tem entre suas diretrizes gerais a garantia do direito as cidades sustentáveis, o planejamento do desenvolvimento dascidades, para evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente, e 22 a adequação dos instrumentos de política econômica, tributária e financeira e dos gastos públicos aos objetivos do desenvolvimento urbano, privilegiando os investimentos geradores de bem-estar geral e a fruição dos bens pelos diferentes segmentos sociais (art. 2º, I, IV e X, do Estatuto da Cidade). Os instrumentos para o planejamento municipal estão previstos no art. 4º do Estatuto. O plano diretor é de suma importância para a política de desenvolvimento urbano, sendo parte integrante do processo de planejamento municipal. O plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades do plano diretor (art. 40, § 1º do Estatuto). O poder público municipal pode exigir do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, podendo utilizar os seguintes instrumentos: a) parcelamento ou edificação compulsórios; b) imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; e c) desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública (art. 182, § 4º, CRFB/1988). Constata-se que o Estatuto da Cidade traçou normas gerais de direito urbanístico, para cumprimento da função social da propriedade e do adequado parcelamento do solo, objetivando alcançar o equilíbrio do meio ambiente urbano. A utilização dos instrumentos para alcance desses objetivos depende da elaboração, por parte dos Municípios, do plano diretor e de leis específicas. No caso das cidades que não estão obrigadas a instituir o plano diretor (art. 41, do Estatuto da Cidade), pode-se admitir a utilização de tais instrumentos desde que a matéria esteja disciplinada noutra lei 23 2 PATRIMÔNIO CULTURAL Fonte link::brasileiros.com.br 2.1 Definições do património cultural e natural Patrimônio cultural é um conjunto de bens materiais e imateriais representativos da cultura de um grupo ou de uma sociedade. Para que se entenda esse conceito e sua relação com as identidades, torna-se necessário, antes de tudo, refletir acerca do conceito de “cultura”. O senso comum identifica cultura como o domínio de certos conhecimentos e habilidades que permitem a algumas pessoas compreender e usufruir de bens ditos superiores, como obras de arte, literatura erudita, espetáculos teatrais, etc. Para muitos, culto é aquele que tem informações e conhecimentos formais. O conceito antropológico de cultura, entretanto, estende essa noção a todos os seres humanos, postulando que todos os homens são portadores de capacidades, sendo, portanto, capazes de desenvolver atividades complexas, como é o caso da linguagem. Partindo da oposição homem/natureza, é possível demonstrar que os comportamentos humanos são artificialmente produzidos e que há muito pouco de transmissão genética orientando esses comportamentos, que são apreendidos socialmente, a partir das vivências grupais. 24 A partir desse conceito antropológico de cultura, assim, é possível inferir que os comportamentos humanos são informados por necessidades materiais, utilitárias e também simbólicas. Verificando isso na prática, observa-se que no interior do Ceará um camponês constrói uma casa de taipa utilizando o seu saber, elementos retirados da natureza (que estão ao seu dispor) e de acordo com as suas condições. Essa edificação satisfaz uma necessidade imediata, utilitária, de segurança e proteção contra as intempéries. Quanto à titularidade, o patrimônio pode ser de propriedade pública ou privada. Público é aquele cuja titularidade pertence a um órgão direto ou indireto da administração pública, não importando a esfera de que se trate. Nesta categoria se enquadram, também, aqueles bens que já fizeram parte do patrimônio de alguém individualmente (órbita privada) ou mesmo de uma pessoa jurídica, mas que pela desapropriação acabaram recaindo sobre a proteção do ente público. Acontece que as necessidades desse trabalhador não se encerram por aí. Logo no pequeno e modesto cômodo de entrada de sua casa, ele fixa retratos de sua família, ao lado de imagens do coração de Jesus e de Padre Cícero Romão Batista. Que necessidade esses artefatos preenchem? Necessidades simbólicas, de proteção contra infortúnios os mais diversos: doenças, mau-olhado ou quebrantos, etc. Saindo do interior e buscando em Fortaleza, um grande centro urbano, um outro exemplo. Um jovem de cerca de 20 anos, de classe média, estudante da UNIFOR, usa uma tatuagem de dragão em seu corpo. Apesar de diferir radicalmente do significado que a tatuagem possui para comunidades ditas “primitivas”, essa tatuagem do jovem estudante também cumpre funções ritualísticas, com forte carga de simbolismo: tem um apelo estético e serve para identificá-lo com pessoas que ele admira; serve, ainda, para situá-lo no interior de um determinado grupo. Por mais sanções que esse jovem receba, em especial dos mais velhos e conservadores, que vêm nessa tatuagem um sinal de rebeldia, ele transgride as normas e assume uma identidade, em parte conferida por esse signo. Pelo que foi dito até aqui se conclui que a antropologia afastou o caráter elitista da noção de cultura e estendeu-o ao conjunto de ações desenvolvidas pelos seres humanos em sua busca de sobrevivência. Colocou, ainda, em pé de igualdade as necessidades utilitárias e simbólicas que orientam o comportamento humano. 25 Na década de 1970, quando se expandiu o conceito de patrimônio cultural e intensificou-se a internacionalização dos valores e referências para seu tratamento, também cresceram os desafios para todos os envolvidos na preservação, em especial os profissionais que compõem os corpos técnicos dos órgãos de proteção ao patrimônio, uma vez que, referenciados no contínuo processo de transformação social e de culturas, lhes cabe escolher critérios, conceitos operacionais e procedimentos metodológicos que, com isonomia e coerência, permitam atribuir valores culturais aos bens estudados. Desde a década de 1990 o patrimônio cultural e natural tem sido cada vez mais reconhecido como um instrumento poderoso para se salvaguardar a independência, a soberania e as identidades culturais dos povos latino-americanos. No entanto, os grandes desafios para aqueles que se dedicam à defesa dos bens culturais não se circunscrevem à descoberta dos meios eficazes para o desenvolvimento da educação patrimonial ou da educação ambiental, mas englobam o despertar da consciência e do apreço a esses bens. Segundo o Decreto Lei n.º 25 de 1937: Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Se for verdade que as identidades latino-americanas podem ser conservadas por meio da preservação de seu patrimônio, a educação patrimonial e ambiental pode contribuir para avivar a consciência do valor cultural e simbólico de distintos bens. A educação nesse campo deve iniciar-se pela percepção direta de que o patrimônio não se restringe somente aos bens culturais móveis e imóveis representativos da memória nacional, como monumentos, igrejas ou edifícios públicos. Pelo contrário, o conceito de patrimônio cultural é muito mais amplo, não se circunscreve aos bens materiais ou às produções humanas, ele abarca o meio ambiente e a natureza, e ainda se faz presente em inúmeras formas de manifestações culturais intangíveis. Desse modo, a educação patrimonial e ambiental torna-se tarefa prioritária, uma vez que consiste em revelar a diversidade e pontuar as mudanças culturais, sociais e ambientaisque se vêm processando com o passar dos tempos, sem 26 dissimular os conflitos de interesses dos distintos segmentos sociais. O ensino e a aprendizagem na esfera do patrimônio devem tratar a população como agentes histórico-sociais e como produtores de cultura. Para isso deve valorizar os artesanatos locais, os costumes tradicionais, as expressões de linguagem regional, a gastronomia, as festas, os modos de viver e sentir das diversas etnias latino-americanas. A educação patrimonial e ambiental deve ser conduzida de modo a contemplar a pesquisa, o registro, a exploração das potencialidades dos bens culturais e naturais no campo da memória, das raízes culturais e da valorização da diversidade. Fonte link:portal.iphan.gov.br À medida que o cidadão se percebe como parte integrante do seu entorno, tende a elevar sua autoestima e a valorizar a sua identidade cultural. Essa experiência permite que esse cidadão se torne um agente fundamental da preservação do patrimônio em toda sua dimensão. O conhecimento adquirido e a apropriação dos bens culturais por parte da comunidade constituem fatores indispensáveis no processo de conservação integral ou preservação sustentável do patrimônio, pois fortalece os sentimentos de identidade e pertencimento da população residente, e ainda, estimula a luta pelos seus direitos, bem como o próprio exercício da cidadania. Analisar que a própria dinâmica social impõe a transformação dos conceitos, entre nós, a definição do que será integrado ao universo de bens culturais protegidos 27 pelo poder público continua se ressentindo de adequações que atendam a atual amplitude do conceito “patrimônio cultural” e o aproxime das expectativas e finalidades que lhes são atribuídas pela sociedade. Estas são, sem dúvida, bastante apontadas daquelas da década de 1930, quando os bens, fossem obras de arte, edificações, ou núcleos e cidades históricas, eram avaliados tendo como referência a representação simbólica da nação brasileira. No século XVIII, a nação, entidade subjetiva que apoiou a afirmação dos estados modernos e sua soberania fundada na ideia do progresso, se tornara personagem da escrita da História e foco da narrativa patrimonialista, esta construída por meio dos suportes materiais de memória. Assim, a ideia de patrimônio articulou-se à de monumento, de excepcionalidade artística e arquitetônica, e ao passado como um tempo histórico acabado, estático, apartado do presente. Posteriormente, percebido como representação da cultura das sociedades, o patrimônio passou a ser visto como parte das disputas nelas manifestas e recolocou-se como memória e fator de qualidade de vida, o que exige do poder público ações e projetos que o efetivem como tal a partir de novas referências conceituais. No Brasil, ao deslocar a compreensão do patrimônio cultural da nação para a sociedade, a Constituição de 1988 foi ao encontro das tentativas já realizadas de transformação e ampliação das ações preservacionistas, a partir de uma renovação conceitual que as dinamizassem e atendesse a percepção do patrimônio como um campo cultural em constante movimento, característica inteligível a partir da colaboração entre várias áreas de conhecimento sobre a sociedade. A compreensão expressa na Carta, do patrimônio como um fato social, abriu espaço para a proteção dos aspectos subjetivos nele representados e para a diversidade cultural e de experiências. Abriu espaço para a memória como alimento para o processo contínuo de formação da autoimagem que diferencia os indivíduos e os grupos sociais e étnicos; abriu espaço para ações de proteção a bens culturais considerarem a construção do patrimônio cultural como um campo político em que as informações pretéritas compõem sentidos para o passado, fazendo-o circular no presente como informação que explicita lugares sociais. 28 Fonte link:turismoadaptado.files.wordpress.com A essa reinterpretação do que é patrimônio cultural soma-se àquela de paisagem, no sentido definido pelo geógrafo Milton Santos, como um conjunto de formas que expressam heranças sucessivas das relações entre o homem e a natureza. Assim como os espaços nela inclusos, as paisagens são produtos da cultura, resultam da ação humana, compõem o ambiente. Tal perspectiva converge para as medidas de extensão do tombamento à proteção de áreas de importância ambiental, na década de 1970, encabeçadas por Aziz Ab’Saber, geógrafo e membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (Condephaat). Outro passo decisivo do novo lugar do patrimônio cultural foi o de sua compreensão como um direito fundamental e difuso, uma vez que de interesse de toda a sociedade. Estudos realizados, entre outros, pelo jurista José Afonso da Silva, forneceram a conceituação jurídica necessária à adoção de mecanismos de defesa e proteção ao meio ambiente, neste incluso o patrimônio cultural, como essencial à sadia qualidade de vida, a que todos têm direito. Cultura é, assim, um processo em constante transformação, diverso e muito rico, pois significa desenvolvimento de um grupo social, uma coletividade, uma 29 comunidade; fruto do esforço conjunto pelo aprimoramento de valores espirituais e materiais. E não é outra a visão quando se aborda o conceito de cultura, como elemento formador do meio ambiente. Desde a década de 1970, baseada em uma visão ampla de meio ambiente, também ganhou força a ideia de integração entre as ações de preservação e planejamento territorial. As mudanças das formas de pensar o lugar do patrimônio cultural na sociedade tiveram repercussões no campo jurídico e no campo do planejamento urbano. Isso significa que a sociedade e o poder público passaram a endossar a ideia de que preservar não tem apenas efeitos materiais, relativos ao pleno uso do direito de propriedade ou ao estado de conservação, mas também outros de ordem subjetiva, uma vez que, além de interferir no meio ambiente, preservar implica interferir na percepção individual e coletiva do universo social e suas relações simbólicas. A preservação causa impactos no exercício da urbanidade e no imaginário que orienta a percepção da cidade, propiciando, ou não, a aproximação entre ela e seus moradores, por meio de mecanismos de reconhecimento de espaços e remissão às experiências aí já vividas. Em São Paulo, apesar da incorporação pelos órgãos de preservação das noções que então se consolidavam, parte substancial de sua prática permaneceu fundada na metodologia correspondente ao conceito de patrimônio histórico- arquitetônico, o que tendeu a aumentar a distância entre as expectativas de grande parte da sociedade e os atuais resultados das ações públicas de proteção a bens culturais. A unidades ou conjuntos edificados, referências da história e da arquitetura, como vias de conhecimento do passado. Buscavam-se novos parâmetros de atribuição de valores culturais não exclusivamente históricos ou arquitetônicos a partir da historicidade dos espaços, daquilo que nele ficara marcado cumulativamente no decorrer do tempo e que representa a constante transformação da sociedade. 30 Fonte link:www.diariodecaratinga.com.br Dessa forma o patrimônio seria um veículo de aproximação entre o presente e o passado da sociedade. Esses bens foram ao longo do tempo construídos ou desenvolvidos pelas sociedades. Estão, intimamente relacionados com a identidade do local e representam uma importante fonte de pesquisa atual. Através do patrimônio histórico podemos, portanto, conhecer a história e tudo que a envolve. Por exemplo, a arte, as tradições, os saberes e a cultura de determinado povo. A categoria patrimônio é um potente instrumento analítico para entender a vida social e cultural no mundo atual, quando utilizamos o conceito patrimônio culturalé a dimensão cultural do patrimônio que estamos querendo discutir; ao mesmo tempo em que, e isto se percebe muito pouco, também estamos falando da dimensão patrimonial da cultura. O patrimônio cultural deve ser entendido como um campo de lutas a que diversos atores comparecem construindo um discurso que seleciona, se apropria de práticas e objetos e as expropria. Assim, falar de patrimônio cultural é mais complexo do que pode parecer à primeira vista, precisamente porque o patrimônio cultural é fruto de relações sociais definidas, historicamente situadas e, ao mesmo tempo, é corporificado em alguma manifestação concreta, seja conceitualmente definida como material ou imaterial. 31 Fonte link:www.cvc.com.br 2.2 Decreto Lei nº 25 atualizado CAPÍTULO I DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL Art. 1º Constituem o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. § 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos separada ou agrupada mente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4º desta lei. § 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pelo natureza ou agenciados pelo indústria humana. Art. 2º A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessoas naturais, bem como às pessoas jurídicas de direito privado e de direito público interno. Art. 3º Excluem-se do patrimônio histórico e artístico nacional as obras de origem estrangeira: 32 1) que pertençam às representações diplomáticas ou consulares acreditadas no país; 2) que adornem quaisquer veículos pertencentes a empresas estrangeiras, que façam carreira no país; 3) que se incluam entre os bens referidos no art. 10 da Introdução do Código Civil, e que continuam sujeitas à lei pessoal do proprietário; 4) que pertençam a casas de comércio de objetos históricos ou artísticos; 5) que sejam trazidas para exposições comemorativas, educativas ou comerciais: 6) que sejam importadas por empresas estrangeiras expressamente para adorno dos respectivos estabelecimentos. Parágrafo único. As obras mencionadas nas alíneas 4 e 5 terão guia de licença para livre trânsito, fornecida pelo Serviço ao Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. CAPÍTULO II DO TOMBAMENTO Art. 4º O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber: 1) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º. 2) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica; 3) no Livro do Tombo das Belas Artes, as coisas de arte erudita, nacional ou estrangeira; 4) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras. § 1º Cada um dos Livros do Tombo poderá ter vários volumes. § 2º Os bens, que se incluem nas categorias enumeradas nas alíneas 1, 2, 3 e 4 do presente artigo, serão definidos e especificados no regulamento que for expedido para execução da presente lei. 33 Art. 5º O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se fará de ofício, por ordem do diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, afim de produzir os necessários efeitos. Art. 6º O tombamento de coisa pertencente à pessoa natural ou à pessoa jurídica de direito privado se fará voluntária ou compulsoriamente. Art. 7º Proceder-se-á ao tombamento voluntário sempre que o proprietário o pedir e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietário anuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para a inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo. Art. 8º Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário se recusar a anuir à inscrição da coisa. Art. 9º O tombamento compulsório se fará de acordo com o seguinte processo: 1) o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente, notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, ou para, si o quiser impugnar, oferecer dentro do mesmo prazo as razões de sua impugnação. 2) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado. que é fatal, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por simples despacho que se proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo. 3) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma, dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do tombamento, afim de sustentá-la. Em seguida, independentemente de custas, será o processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso. Art. 10. O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, será considerado provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livro do Tombo. 34 Parágrafo único. Para todas os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta lei, o tombamento provisório se equiparará ao definitivo. CAPÍTULO III DOS EFEITOS DO TOMBAMENTO Art. 11. As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios, inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades. Parágrafo único. Feita a transferência, dela deve o adquirente dar imediato conhecimento ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Art. 12. A alienabilidade das obras históricas ou artísticas tombadas, de propriedade de pessoas naturais ou jurídicas de direito privado sofrerá as restrições constantes da presente lei. Art. 13. O tombamento definitivo dos bens de propriedade particular será, por iniciativa do órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, transcrito para os devidos efeitos em livro a cargo dos oficiais do registro de imóveis e averbado ao lado da transcrição do domínio. § 1º No caso de transferência de propriedade dos bens de que trata este artigo, deverá o adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de multa de dez por cento sobre o respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate de transmissão judicial ou causa mortis. § 2º Na hipótese de deslocação de tais bens, deverá o proprietário, dentro do mesmo prazo e sob pena da mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar para que tiverem sido deslocados. § 3º A transferência deve ser comunicada pelo adquirente, e a deslocação pelo proprietário, ao Serviço do Patrimônio Histórico e ArtísticoNacional, dentro do mesmo prazo e sob a mesma pena. Art. 14. A. coisa tombada não poderá sair do país, senão por curto prazo, sem transferência de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Art. 15. Tentada, a não ser no caso previsto no artigo anterior, a exportação, para fora do país, da coisa tombada, será esta sequestrada pela União ou pelo Estado em que se encontrar. 35 § 1º Apurada a responsabilidade do proprietário, ser-lhe-á imposta a multa de cinquenta por cento do valor da coisa, que permanecerá sequestrada em garantia do pagamento, e até que este se faça. § 2º No caso de reincidência, a multa será elevada ao dobro. § 3º A pessoa que tentar a exportação de coisa tombada, além de incidir na multa a que se referem os parágrafos anteriores, incorrerá, nas penas cominadas no Código Penal para o crime de contrabando. Art. 16. No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o respectivo proprietário deverá dar conhecimento do fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por cento sobre o valor da coisa. Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinquenta por cento do dano causado. Parágrafo único. Tratando-se de bens pertencentes à União, aos Estados ou aos municípios, a autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa. Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de cinquenta por cento do valor do mesmo objeto. Art. 19. O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a necessidade das mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importância em que for avaliado o dano sofrido pela mesma coisa. § 1º Recebida a comunicação, e consideradas necessárias as obras, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará executá-las, a expensas da União, devendo as mesmas ser iniciadas dentro do prazo de seis meses, ou providenciará para que seja feita a desapropriação da coisa. 36 § 2º À falta de qualquer das providências previstas no parágrafo anterior, poderá o proprietário requerer que seja cancelado o tombamento da coisa. (Vide Lei nº 6.292, de 1975) § 3º Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e conservação ou reparação em qualquer coisa tombada, poderá o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las e executá- las, a expensas da União, independentemente da comunicação a que alude este artigo, por parte do proprietário. Art. 20. As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-los sempre que for julgado conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criar obstáculos à inspeção, sob pena de multa de cem mil réis, elevada ao dobro em caso de reincidência. Art. 21. Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional. CAPÍTULO IV DO DIREITO DE PREFERÊNCIA Art. 22. Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes a pessoas naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e os municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) § 1º Tal alienação não será permitida, sem que previamente sejam os bens oferecidos, pelo mesmo preço, à União, bem como ao Estado e ao município em que se encontrarem. O proprietário deverá notificar os titulares do direito de preferência a usá-lo, dentro de trinta dias, sob pena de perdê-lo. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) § 2º É nula alienação realizada com violação do disposto no parágrafo anterior, ficando qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a sequestrar a coisa e a impor a multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e ao adquirente, que serão por ela solidariamente responsáveis. A nulidade será pronunciada, na forma da lei, pelo juiz que conceder o sequestro, o qual só será levantado depois de pagar a multa e se qualquer dos titulares do direito de preferência 37 não tiver adquirido a coisa no prazo de trinta dias. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) § 3º O direito de preferência não inibe o proprietário de gravar livremente a coisa tombada, de penhor, anticrese ou hipoteca. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) § 4º Nenhuma venda judicial de bens tombados se poderá realizar sem que, previamente, os titulares do direito de preferência sejam disso notificados judicialmente, não podendo os editais de praça ser expedidos, sob pena de nulidade, antes de feita a notificação. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) § 5º Aos titulares do direito de preferência assistirá o direito de remissão, se dela não lançarem mão, até a assinatura do auto de arrematação ou até a sentença de adjudicação, as pessoas que, na forma da lei, tiverem a faculdade de remir. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) § 6º O direito de remissão por parte da União, bem como do Estado e do município em que os bens se encontrarem, poderá ser exercido, dentro de cinco dias a partir da assinatura do auto do arrematação ou da sentença de adjudicação, não se podendo extrair a carta, enquanto não se esgotar este prazo, salvo se o arrematante ou o adjudicante for qualquer dos titulares do direito de preferência. (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015) (Vigência) CAPÍTULO V DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 23. O Poder Executivo providenciará a realização de acordos entre a União e os Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas à proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e para a uniformização da legislação estadual complementar sobre o mesmo assunto. Art. 24. A União manterá, para a conservação e a exposição de obras históricas e artísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornarem necessários, devendo outrossim providenciar no sentido de favorecer a instituição de museus estaduais e municipais, com finalidades similares. Art. 25. O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional procurará entendimentos com as autoridades eclesiásticas, instituições científicas, históricas ou 38 artísticas e pessoas naturais o jurídicas, com o objetivo de obter a cooperação das mesmas em benefício do patrimônio histórico e artístico nacional. Art. 26. Os negociantes de antiguidades, de obras de arte de qualquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossim apresentar semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas e artísticas que possuírem. Art. 27. Sempre que os agentes de leilões tiverem de vender objetos de natureza idêntica à dos mencionados no artigo anterior,deverão apresentar a respectiva relação ao órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob pena de incidirem na multa de cinquenta por cento sobre o valor dos objetos vendidos. Art. 28. Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta lei poderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenha sido previamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de cinquenta por cento sobre o valor atribuído ao objeto. Parágrafo único. A. autenticação do mencionado objeto será feita mediante o pagamento de uma taxa de peritagem de cinco por cento sobre o valor da coisa, se este for inferior ou equivalente a um conto de réis, e de mais cinco mil réis por contos de réis ou fração, que exceder. Art. 29. O titular do direito de preferência gosa de privilégio especial sobre o valor produzido em praça por bens tombados, quanto ao pagamento de multas impostas em virtude de infrações da presente lei. Parágrafo único. Só terão prioridade sobre o privilégio a que se refere este artigo os créditos inscritos no registro competente, antes do tombamento da coisa pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Art. 30. Revogam-se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1937, 116º da Independência e 49º da República. 39 3 TOMBAMENTO Fonte link:arquivos.tribunadonorte.com.br 3.1 Tombamento - Conceitos A palavra tombamento, tem origem portuguesa e significa fazer um registro do patrimônio de alguém em livros específicos num órgão de Estado que cumpre tal função. Ou seja, utilizamos a palavra no sentido de registrar algo que é de valor para uma comunidade protegendo-o por meio de legislação específica. Com a intenção de proteger bens que possuam valor histórico, artístico, cultural, arquitetônico, ambiental e que, de certa forma, tenham um valor afetivo para a população, é que se tem o instituto do tombamento, caracterizado pela intervenção do Estado na propriedade, e regulamentado por normas de Direito Público. Dentre os precedentes normativos dispostos na legislação brasileira acerca do tombamento e da proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural, destaca-se o Decreto – Lei nº. 25 de 30 de novembro de 1937, que ordena a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e a Lei nº. 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os Monumentos Arqueológicos e Pré – Históricos. Diversos conceitos podem ser adotados. Como o de José Cretella Júnior que diz que o tombamento: 40 “É restrição parcial ao direito de propriedade, realizada pelo Estado com a finalidade de conservar objetos móveis e imóveis, considerados de interesse histórico, artístico, arqueológico, etnográfico ou bibliográfico relevante. Restrição parcial do direito de propriedade, localiza-se no início de uma escala de limitações em que a desapropriação ocupa o ponto extremo”. Ou ainda, o do Departamento do Patrimônio Histórico do Município de São Paulo, pelo qual Tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados”. Tombamento visa proteger patrimônio, mas o que seria patrimônio? De acordo com o Dicionário Aurélio, patrimônio é bem, ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido para determinada localidade, região, país, ou para a humanidade, e que, ao se tornar em protegidos, como pôr exemplo pelo tombamento, devem ser preservados para o usufruto de todos os cidadãos”. O conceito constitucional de patrimônio cultural, encontra-se disposto no artigo 216 da Constituição Federal, não se tratando de uma enumeração taxativa, e sim meramente exemplificativa: “Art. 216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico – culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico”. O tombamento pode ter por objeto bens móveis e imóveis que tenham interesse cultural ou ambiental para a preservação da memória e outros referenciais coletivos em diversas escalas, desde uma que se refira a um Município, como uma em âmbito 41 mundial. Estes bens podem ser: fotografias, livros, acervos, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, bairros, cidades, regiões, florestas, cascatas Fonte link: abrilviagemeturismo.files.wordpress.com É indicado que durante o processo, o tombamento seja realizado em conjuntos significativos, como por exemplo, um ecossistema para a preservação de uma ou mais espécies, podendo inclusive, reforçar a proteção em torno de áreas protegidas por legislação ambiental nos âmbitos estadual e federal. Na esfera federal, o tombamento é realizado pela União, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN. Na esfera estadual, tomando o Paraná por exemplo, realiza-se pela Secretaria de Estado da Cultura – CPC. Já na esfera municipal, é realizado quando as administrações dispuserem de leis específicas. O processo de tombamento poderá ocorrer inclusive, em âmbito mundial, o qual será realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, cujo bem será reconhecido como Patrimônio da Humanidade. O bem objeto de tombamento não terá sua propriedade alterada, nem precisará ser desapropriado, pelo contrário, porém, deverá manter as mesmas características que possuía na data do tombamento. Seu objetivo é a proibição da destruição e da descaracterização desse bem, não havendo dessa forma, qualquer impedimento para a venda, aluguel ou herança de um bem tombado, desde que continue sendo preservado. 42 Se o proprietário tiver a intenção de vender o bem, deverá previamente, notificar a instituição que efetuou o tombamento para atualizar os dados, e por ventura, exercer seu direito de preferência para a compra do bem. A preservação dos bens culturais ou ambientais, se dá, impedindo principalmente a sua destruição. Portanto, aquele que ameaçar ou destruir um bem tombado estará sujeito a processo judicial, que poderá definir multas, medidas compensatórias ou até a reconstrução do bem como se encontrava na data do tombamento, de acordo com a sentença final do processo. Além do tombamento, a preservação de bens históricos, artísticos e culturais pode se dar por meio do inventário, registrando-se as principais características de bens culturais e ambientais; os Municípios devem promover o desenvolvimento das cidades sem a destruição do patrimônio; as leis orgânicas podem criar leis específicas que estabeleçam a redução de impostos municipais aos proprietários de bens declarados tombados, a fim de incentivar a preservação de tais bens. A área de proteção localizada nas proximidades do imóvel tombado, determinada entorno, deve ser delimitada juntamente com o processo de tombamento, com o fim de preservar o ambiente em que está o imóvel, e impedir que novos elementos reduzam sua visibilidade, afetem as interações sociais tradicionais ou ameacem sua integridade. Cabe ao órgão que efetuou o tombamento estabelecer os limites e as diretrizes para as
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