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19 R.I. (Revisão Intercalada) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o poema de Murilo Mendes (1901-1975) para responder à(s) questão(ões) a seguir. O pastor pianista Soltaram os pianos na planície deserta Onde as sombras dos pássaros vêm beber. Eu sou o pastor pianista, Vejo ao longe com alegria meus pianos Recortarem os vultos monumentais Contra a lua. Acompanhado pelas rosas migradoras 1Apascento os pianos: gritam E transmitem o antigo clamor do homem Que reclamando a contemplação, Sonha e provoca a harmonia, Trabalha mesmo à força, E pelo vento nas folhagens, Pelos planetas, pelo andar das mulheres, Pelo amor e seus contrastes, Comunica-se com os deuses. (As metamorfoses, 2015.) 1apascentar: vigiar no pasto; pastorear. 7. (Unesp 2018) a) Explique por que se pode afirmar que o verso inicial desse poema opera uma perturbação ou quebra do discurso lógico. b) Sem prejuízo para o sentido dos versos, que expres- sões poderiam substituir os termos “onde” (2º verso da 1ª estrofe) e “pelo” (4º verso da 3ª estrofe), res- pectivamente? 8. (Fuvest 2013) Leia o seguinte poema. TRISTEZA DO IMPÉRIO Os conselheiros angustiados ante o colo ebúrneo das donzelas opulentas que ao piano abemolavam “bus-co a cam-pi-na se-re-na pa-ra-li-vre sus-pi-rar”, esqueciam a guerra do Paraguai, o enfado bolorento de São Cristóvão, a dor cada vez mais forte dos negros e sorvendo mecânicos uma pitada de rapé, sonhavam a futura libertação dos instintos e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático. Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, tal como os caracteriza o poema de Drummond, ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua? Explique resumidamente. 9. (Ufmg 2012) Leia estes trechos: TRECHO 1 O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe tia barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito eterno, como se diz nas autopsias; o interno não aguenta tinta. ACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo, 1997. p. 3. TRECHO 2 Desse antigo verão que me alterou a vida restam ligeiros traços apenas. E nem deles posso afirmar que efetivamente me recorde. O hábito me leva a criar um ambiente, imaginar fatos a que atribuo realidade. RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record. 1984. p. 26. A partir da leitura desses trechos, explique como, em cada uma das obras referidas, o narrador aborda as possibilidades de a escrita reconstituir o passado. 10. (Unicamp 2012) Os trechos a seguir foram extraídos de Memó- rias de um sargento de milícias e Vidas secas, respectivamente. O som daquela voz que dissera “abra a porta” lan- çara entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E não foi sem razão; era ela o anúncio de um grande aperto, de que por certo não poderiam escapar. Nesse tempo ainda não estava organizada a polícia da cidade, ou antes estava-o de um modo em harmonia com as tendências e ideias da época. O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo o que 20 R.I. (Revisão Intercalada) dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa alçada não haviam testemu- nhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça era infalível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim uma espécie de inquirição policial. Entretanto, faça- mos-lhe justiça, dados os descontos necessários às ideias do tempo, em verdade não abusava ele muito de seu poder, e o empregava em certos casos muito bem empregado. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 21.) Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano: – Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro? Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira: – Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, con- tanto, etc. É conforme. Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obede- cido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia. (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 28.) a) Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas entre o Major Vidigal, de Memórias de um sargento de milícias, e o soldado amarelo, de Vidas secas? b) Como essas semelhanças e diferenças se relacionam com as características de cada uma das obras? 11. (Unicamp 2012) O excerto abaixo foi extraído do poema Balada Feroz, de Vinícius de Moraes. (...) Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo engolindo as cidades Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à visão dos amores miseráveis Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas Por onde passou a miséria da condição dos escravos e dos gênios. (...) Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te levem E quando a decomposição dos campos de guerra te ferir as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária Cava a terra por entre as tumefações e se encontra- res um velho canhão soterrado, volta E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores que comem as fezes verdes das estradas. (...) Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos avaros o ouro E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza! E com todo esse pus, faz um poema puro E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida E ri e canta dos que pasmados o abrigarem E dos que por medo dele te derem em troca a mulher e o pão. Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta E dança, porque dançar é o destino da pureza Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto obsceno Carne morta ou carne viva – toma! Agora falo eu que sou um! (Vinícius de Moraes, Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 51-53.) a) Como é próprio do modernismo poético, os versos acima contrariam a linguagem mais depurada e as imagens mais elevadas da lírica tradicional. Como podemos definir as imagens predominantes em Balada feroz? A que se referem tais imagens? b) Qual é o papel da poesia e do poeta diante da reali- dade representada? 12. (Pucrj 2017) Justifique a classificação de Vidas secas como uma narrativa representativa do regionalismo neorre- alista que marcou a segunda fase do modernismo brasileiro. 13. (Fuvest 2017) Leia o trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos, para, em seguida, responder ao que se pede. Aí Fabiano parou, sentou-se, lavou os pés duros, procurando retirar das gretas fundas o barro que lá havia. Sem se enxugar, tentou calçar-se – e foi uma dificuldade: os calcanhares das meias de algo- dão formaram bolos nos peitos dos pés e as botinas de vaqueta resistiram como virgens. Sinha Vitória levantou a saia, sentou-se no chão e limpou-se também. Os dois meninos entraram no riacho, esfregaram os pés, saíram, calçaram as chineli- nhas e ficaram espiando os movimentos dos pais. Sinha Vitória aprontava-se e erguia-se, mas Fabiano soprava arreliado. Tinha vencido a obstinação de uma daquelas amaldiçoadas botinas; a outra emper- rava, e ele, com os dedos nas alças, fazia esforços inúteis. Sinha Vitória dava palpites que irritavam o marido. Não havia meio deintroduzir o diabo do calcanhar no tacão. A um arranco mais forte, a alça de trás rebentou-se, e o vaqueiro meteu as mãos pela borracha, energicamente. Nada conseguindo, levantou-se resolvido a entrar na rua assim mesmo, 21 R.I. (Revisão Intercalada) coxeando, uma perna mais comprida que a outra. Com raiva excessiva, a que se misturava alguma esperança, deu uma patada violenta no chão. A carne comprimiu-se, os ossos estalaram, a meia molhada rasgou-se e o pé amarrotado se encaixou entre as paredes de vaqueta. Fabiano soltou um sus- piro largo de satisfação e dor. a) O trecho pertence à parte de Vidas secas intitulada “Festa”, na qual se narra a ida da família de sertane- jos, acompanhada da cachorra Baleia, à cidade, onde deve participar de uma festividade pública. Consi- derada esta questão no contexto do livro, como se passa essa participação e o que ela mostra a respeito da socialização da família? b) O tratamento narrativo dado aos eventos apresenta- dos no trecho confere a ele um tom que contrasta com o que é dominante, no conjunto de Vidas secas. Qual é esse tom? Explique sucintamente. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) seguintes baseiam-se na primeira parte do poema TERCETOS, do parnasiano Olavo Bilac (1865-1918), e num trecho de MACUNAÍMA, do modernista Mário de Andrade (1893-1945). TERCETOS, I Noite ainda, quando ela me pedia Entre dois beijos que me fosse embora, Eu, com os olhos em lágrimas, dizia: “Espera ao menos que desponte a aurora! Tua alcova é cheirosa como um ninho... E olha que escuridão há lá por fora! Como queres que eu vá, triste e sozinho, Casando a treva e o frio de meu peito Ao frio e à treva que há pelo caminho?! Ouves? é o vento! é um temporal desfeito! Não me arrojes à chuva e à tempestade! Não me exiles do vale do teu leito! Morrerei de aflição e de saudade... Espera! até que o dia resplandeça, Aquece-me com a tua mocidade! Sobre o teu colo deixa-me a cabeça Repousar, como há pouco repousava... Espera um pouco! deixa que amanheça!” - E ela abria-me os braços. E eu ficava. (In: BILAC, Olavo. POESIAS. 27ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francis- co Alves, 1961. p.158-159.) MACUNAÍMA O herói vivia sossegado. Passava os dias marupiara na rede matando formigas taiocas, chupitando goli- nhos estalados de pajuari e quando agarrava can- tando acompanhado pelos sons gotejantes do cot- cho, os matos reboavam com doçura adormecendo as cobras os carrapatos os mosquitos as formigas e os deuses ruins. De-noite Ci chegava rescendendo resina de pau, sangrando das brigas e trepava na rede que ela mesmo tecera com fios do cabelo. Os dois brincavam e depois ficavam rindo um pro outro. Ficavam rindo longo tempo, bem juntos. Ci aromava tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza. - Puxa! como você cheira, benzinho! que ele murmuriava gozado. E escancarava as nari- nas mais. Vinha uma tonteira tão macota que o sono principiava pingando das pálpebras dele. Porém a Mãe do Mato inda não estava satisfeita não e com um jeito de rede que enlaçava os dois convidava o companheiro pra mais brinquedo. Morto de soneira, infernizado, Macunaíma brincava pra não desmentir a fama só, porém quando Ci queria rir com ele de satisfação: -Ai! que preguiça!... que o herói suspirava enfarado. E dando as costas pra ela adormecia bem. Mas Ci queria brincar inda mais... Convidava convidava... O herói ferrado no sono. Então a Mãe do Mato pegava na txara e cotu- cava o companheiro. Macunaíma se acordava dando grandes gargalhadas estorcegando de cócegas. - Faz isso não, oferecida! - Faço! - Deixa a gente dormir, meu bem. - Vamos brincar. - Ai! que preguiça!... E brincavam mais outra vez. (In: ANDRADE, Mário de. MACUNAÍMA - O HERÓI SEM NENHUM CA- RÁTER. 4ª. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1965. p.22-23.) 14. (Unesp 2000) Tendo em mente que Olavo Bilac e Mário de Andrade são representantes autênticos, respectivamente, dos estilos parnasiano e modernista, a) apresente um aspecto do discurso de MACUNAÍMA que possa ser considerado não apenas diferente, mas opositivo ao discurso parnasiano exemplificado pelo poema de Bilac; b) estabeleça, ainda sob a ótica dos estilos de época, uma diferença entre os dois textos na abordagem do tema do amor.