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Revisão Intercalada (R I) - Livro 3-019-021

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Questões resolvidas

10. (Unicamp 2012)

Os trechos a seguir foram extraídos de Memórias de um sargento de milícias e Vidas secas, respectivamente.

O som daquela voz que dissera “abra a porta” lançara entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E não foi sem razão; era ela o anúncio de um grande aperto, de que por certo não poderiam escapar. Nesse tempo ainda não estava organizada a polícia da cidade, ou antes estava-o de um modo em harmonia com as tendências e ideias da época. O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo o que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa alçada não haviam testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça era infalível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim uma espécie de inquirição policial. Entretanto, faça-mos-lhe justiça, dados os descontos necessários às ideias do tempo, em verdade não abusava ele muito de seu poder, e o empregava em certos casos muito bem empregado.

(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 21.)

Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano:
– Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?
Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira:
– Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.

(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 28.)

a) Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas entre o Major Vidigal, de Memórias de um sargento de milícias, e o soldado amarelo, de Vidas secas?

b) Como essas semelhanças e diferenças se relacionam com as características de cada uma das obras?

11. (Unicamp 2012)

O excerto abaixo foi extraído do poema Balada Feroz, de Vinícius de Moraes.

(...) Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo engolindo as cidades
Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à visão dos amores miseráveis
Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas
Por onde passou a miséria da condição dos escravos e dos gênios. (...)
Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te levem
E quando a decomposição dos campos de guerra te ferir as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária
Cava a terra por entre as tumefações e se encontra-res um velho canhão soterrado, volta
E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores que comem as fezes verdes das estradas.
(...)
Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos avaros o ouro
E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza!
E com todo esse pus, faz um poema puro
E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida
E ri e canta dos que pasmados o abrigarem
E dos que por medo dele te derem em troca a mulher e o pão.
Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta
E dança, porque dançar é o destino da pureza
Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto obsceno
Carne morta ou carne viva – toma! Agora falo eu que sou um!

(Vinícius de Moraes, Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 51-53.)

a) Como é próprio do modernismo poético, os versos acima contrariam a linguagem mais depurada e as imagens mais elevadas da lírica tradicional. Como podemos definir as imagens predominantes em Balada feroz? A que se referem tais imagens?

b) Qual é o papel da poesia e do poeta diante da realidade representada?

12. (Pucrj 2017)

Justifique a classificação de Vidas secas como uma narrativa representativa do regionalismo neorrealista que marcou a segunda fase do modernismo brasileiro.

O trecho pertence à parte de Vidas secas intitulada “Festa”, na qual se narra a ida da família de sertanejos, acompanhada da cachorra Baleia, à cidade, onde deve participar de uma festividade pública. Consi- derada esta questão no contexto do livro, como se passa essa participação e o que ela mostra a respeito da socialização da família?

a) O trecho pertence à parte de Vidas secas intitulada “Festa”, na qual se narra a ida da família de sertanejos, acompanhada da cachorra Baleia, à cidade, onde deve participar de uma festividade pública. Consi- derada esta questão no contexto do livro, como se passa essa participação e o que ela mostra a respeito da socialização da família?

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Questões resolvidas

10. (Unicamp 2012)

Os trechos a seguir foram extraídos de Memórias de um sargento de milícias e Vidas secas, respectivamente.

O som daquela voz que dissera “abra a porta” lançara entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E não foi sem razão; era ela o anúncio de um grande aperto, de que por certo não poderiam escapar. Nesse tempo ainda não estava organizada a polícia da cidade, ou antes estava-o de um modo em harmonia com as tendências e ideias da época. O major Vidigal era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo o que dizia respeito a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa alçada não haviam testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça era infalível; não havia apelação das sentenças que dava, fazia o que queria, ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim uma espécie de inquirição policial. Entretanto, faça-mos-lhe justiça, dados os descontos necessários às ideias do tempo, em verdade não abusava ele muito de seu poder, e o empregava em certos casos muito bem empregado.

(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 21.)

Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano:
– Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro?
Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira:
– Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.

(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 28.)

a) Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas entre o Major Vidigal, de Memórias de um sargento de milícias, e o soldado amarelo, de Vidas secas?

b) Como essas semelhanças e diferenças se relacionam com as características de cada uma das obras?

11. (Unicamp 2012)

O excerto abaixo foi extraído do poema Balada Feroz, de Vinícius de Moraes.

(...) Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo engolindo as cidades
Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à visão dos amores miseráveis
Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas
Por onde passou a miséria da condição dos escravos e dos gênios. (...)
Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te levem
E quando a decomposição dos campos de guerra te ferir as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária
Cava a terra por entre as tumefações e se encontra-res um velho canhão soterrado, volta
E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores que comem as fezes verdes das estradas.
(...)
Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos avaros o ouro
E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza!
E com todo esse pus, faz um poema puro
E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida
E ri e canta dos que pasmados o abrigarem
E dos que por medo dele te derem em troca a mulher e o pão.
Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta
E dança, porque dançar é o destino da pureza
Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto obsceno
Carne morta ou carne viva – toma! Agora falo eu que sou um!

(Vinícius de Moraes, Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 51-53.)

a) Como é próprio do modernismo poético, os versos acima contrariam a linguagem mais depurada e as imagens mais elevadas da lírica tradicional. Como podemos definir as imagens predominantes em Balada feroz? A que se referem tais imagens?

b) Qual é o papel da poesia e do poeta diante da realidade representada?

12. (Pucrj 2017)

Justifique a classificação de Vidas secas como uma narrativa representativa do regionalismo neorrealista que marcou a segunda fase do modernismo brasileiro.

O trecho pertence à parte de Vidas secas intitulada “Festa”, na qual se narra a ida da família de sertanejos, acompanhada da cachorra Baleia, à cidade, onde deve participar de uma festividade pública. Consi- derada esta questão no contexto do livro, como se passa essa participação e o que ela mostra a respeito da socialização da família?

a) O trecho pertence à parte de Vidas secas intitulada “Festa”, na qual se narra a ida da família de sertanejos, acompanhada da cachorra Baleia, à cidade, onde deve participar de uma festividade pública. Consi- derada esta questão no contexto do livro, como se passa essa participação e o que ela mostra a respeito da socialização da família?

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19
R.I. (Revisão Intercalada) 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
Leia o poema de Murilo Mendes (1901-1975) para 
responder à(s) questão(ões) a seguir.
O pastor pianista
Soltaram os pianos na planície deserta
Onde as sombras dos pássaros vêm beber.
Eu sou o pastor pianista,
Vejo ao longe com alegria meus pianos
Recortarem os vultos monumentais
Contra a lua.
Acompanhado pelas rosas migradoras
1Apascento os pianos: gritam
E transmitem o antigo clamor do homem
Que reclamando a contemplação,
Sonha e provoca a harmonia,
Trabalha mesmo à força,
E pelo vento nas folhagens,
Pelos planetas, pelo andar das mulheres,
Pelo amor e seus contrastes,
Comunica-se com os deuses.
(As metamorfoses, 2015.)
1apascentar: vigiar no pasto; pastorear.
7. (Unesp 2018)
a) Explique por que se pode afirmar que o verso inicial 
desse poema opera uma perturbação ou quebra do 
discurso lógico.
b) Sem prejuízo para o sentido dos versos, que expres-
sões poderiam substituir os termos “onde” (2º verso 
da 1ª estrofe) e “pelo” (4º verso da 3ª estrofe), res-
pectivamente? 
8. (Fuvest 2013)
Leia o seguinte poema.
TRISTEZA DO IMPÉRIO
Os conselheiros angustiados
ante o colo ebúrneo
das donzelas opulentas
que ao piano abemolavam
“bus-co a cam-pi-na se-re-na
pa-ra-li-vre sus-pi-rar”,
esqueciam a guerra do Paraguai,
o enfado bolorento de São Cristóvão,
a dor cada vez mais forte dos negros
e sorvendo mecânicos
uma pitada de rapé,
sonhavam a futura libertação dos instintos
e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus 
de Copacabana, com rádio e telefone automático.
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, 
tal como os caracteriza o poema de Drummond, ao 
protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, 
de Machado de Assis.
b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado 
imperial ao presente de seu próprio tempo, qual é 
a percepção da história do Brasil que o poeta revela 
ser a sua? Explique resumidamente.
9. (Ufmg 2012)
Leia estes trechos: 
TRECHO 1 
O meu fim evidente era atar as duas pontas 
da vida, e restaurar na velhice a adolescência. 
Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o 
que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é 
diferente. Se só me faltassem os outros, vá; um homem 
consola-se mais ou menos das pessoas que perde; 
mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui 
está é, mal comparando, semelhante à pintura que 
se põe tia barba e nos cabelos, e que apenas conserva 
o hábito eterno, como se diz nas autopsias; o interno 
não aguenta tinta. 
ACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro. São Paulo: Globo, 1997. p. 
3. 
TRECHO 2 
Desse antigo verão que me alterou a vida restam 
ligeiros traços apenas. E nem deles posso afirmar que 
efetivamente me recorde. O hábito me leva a criar um 
ambiente, imaginar fatos a que atribuo realidade. 
RAMOS, Graciliano. Infância. Rio de Janeiro: Record. 1984. p. 26.
A partir da leitura desses trechos, explique como, 
em cada uma das obras referidas, o narrador aborda 
as possibilidades de a escrita reconstituir o passado. 
10. (Unicamp 2012)
Os trechos a seguir foram extraídos de Memó-
rias de um sargento de milícias e Vidas secas, 
respectivamente.
O som daquela voz que dissera “abra a porta” lan-
çara entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. 
E não foi sem razão; era ela o anúncio de um grande 
aperto, de que por certo não poderiam escapar. Nesse 
tempo ainda não estava organizada a polícia da 
cidade, ou antes estava-o de um modo em harmonia 
com as tendências e ideias da época. O major Vidigal 
era o rei absoluto, o árbitro supremo de tudo o que 
20
R.I. (Revisão Intercalada) 
dizia respeito a esse ramo de administração; era o 
juiz que julgava e distribuía a pena, e ao mesmo 
tempo o guarda que dava caça aos criminosos; nas 
causas da sua imensa alçada não haviam testemu-
nhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele 
resumia tudo em si; a sua justiça era infalível; não 
havia apelação das sentenças que dava, fazia o que 
queria, ninguém lhe tomava contas. Exercia enfim 
uma espécie de inquirição policial. Entretanto, faça-
mos-lhe justiça, dados os descontos necessários às 
ideias do tempo, em verdade não abusava ele muito 
de seu poder, e o empregava em certos casos muito 
bem empregado. 
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias. 
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 21.) 
Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e 
bateu familiarmente no ombro de Fabiano: 
– Como é, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um 
lá dentro? 
Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, 
procurando as palavras de seu Tomás da bolandeira: 
– Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, con-
tanto, etc. É conforme. 
Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era 
autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obede-
cido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, 
desejava pouco e obedecia. 
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 28.) 
a) Que semelhanças e diferenças podem ser apontadas 
entre o Major Vidigal, de Memórias de um sargento 
de milícias, e o soldado amarelo, de Vidas secas? 
b) Como essas semelhanças e diferenças se relacionam 
com as características de cada uma das obras? 
11. (Unicamp 2012)
O excerto abaixo foi extraído do poema Balada 
Feroz, de Vinícius de Moraes. 
(...) Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo 
engolindo as cidades 
Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à 
visão dos amores miseráveis 
Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das 
fossas 
Por onde passou a miséria da condição dos escravos 
e dos gênios. (...) 
Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te 
levem 
E quando a decomposição dos campos de guerra te 
ferir as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária 
Cava a terra por entre as tumefações e se encontra-
res um velho canhão soterrado, volta 
E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores 
que comem as fezes verdes das estradas. 
(...) 
Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, 
aos avaros o ouro 
E para que apodreçam como porcos, injeta-os de 
pureza! 
E com todo esse pus, faz um poema puro 
E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida 
E ri e canta dos que pasmados o abrigarem 
E dos que por medo dele te derem em troca a mulher 
e o pão. 
Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta 
E dança, porque dançar é o destino da pureza 
Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande 
gesto obsceno 
Carne morta ou carne viva – toma! Agora falo eu 
que sou um! 
(Vinícius de Moraes, Antologia Poética. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2009, p. 51-53.) 
a) Como é próprio do modernismo poético, os versos 
acima contrariam a linguagem mais depurada e as 
imagens mais elevadas da lírica tradicional. Como 
podemos definir as imagens predominantes em 
Balada feroz? A que se referem tais imagens? 
b) Qual é o papel da poesia e do poeta diante da reali-
dade representada? 
12. (Pucrj 2017)
Justifique a classificação de Vidas secas como uma 
narrativa representativa do regionalismo neorre-
alista que marcou a segunda fase do modernismo 
brasileiro. 
13. (Fuvest 2017)
Leia o trecho de Vidas secas, de Graciliano Ramos, 
para, em seguida, responder ao que se pede.
Aí Fabiano parou, sentou-se, lavou os pés duros, 
procurando retirar das gretas fundas o barro que 
lá havia. Sem se enxugar, tentou calçar-se – e foi 
uma dificuldade: os calcanhares das meias de algo-
dão formaram bolos nos peitos dos pés e as botinas 
de vaqueta resistiram como virgens. Sinha Vitória 
levantou a saia, sentou-se no chão e limpou-se 
também. Os dois meninos entraram no riacho, 
esfregaram os pés, saíram, calçaram as chineli-
nhas e ficaram espiando os movimentos dos pais. 
Sinha Vitória aprontava-se e erguia-se, mas Fabiano 
soprava arreliado. Tinha vencido a obstinação de 
uma daquelas amaldiçoadas botinas; a outra emper-
rava, e ele, com os dedos nas alças, fazia esforços 
inúteis. Sinha Vitória dava palpites que irritavam 
o marido. Não havia meio deintroduzir o diabo do 
calcanhar no tacão. A um arranco mais forte, a alça 
de trás rebentou-se, e o vaqueiro meteu as mãos 
pela borracha, energicamente. Nada conseguindo, 
levantou-se resolvido a entrar na rua assim mesmo, 
21
R.I. (Revisão Intercalada) 
coxeando, uma perna mais comprida que a outra. 
Com raiva excessiva, a que se misturava alguma 
esperança, deu uma patada violenta no chão. A 
carne comprimiu-se, os ossos estalaram, a meia 
molhada rasgou-se e o pé amarrotado se encaixou 
entre as paredes de vaqueta. Fabiano soltou um sus-
piro largo de satisfação e dor.
a) O trecho pertence à parte de Vidas secas intitulada 
“Festa”, na qual se narra a ida da família de sertane-
jos, acompanhada da cachorra Baleia, à cidade, onde 
deve participar de uma festividade pública. Consi-
derada esta questão no contexto do livro, como se 
passa essa participação e o que ela mostra a respeito 
da socialização da família?
b) O tratamento narrativo dado aos eventos apresenta-
dos no trecho confere a ele um tom que contrasta 
com o que é dominante, no conjunto de Vidas secas. 
Qual é esse tom? Explique sucintamente. 
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 
A(s) questão(ões) seguintes baseiam-se na primeira 
parte do poema TERCETOS, do parnasiano Olavo 
Bilac (1865-1918), e num trecho de MACUNAÍMA, 
do modernista Mário de Andrade (1893-1945).
TERCETOS, I
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
“Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!
Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!
Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!
Morrerei de aflição e de saudade...
Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! deixa que amanheça!”
- E ela abria-me os braços. E eu ficava.
(In: BILAC, Olavo. POESIAS. 27ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francis-
co Alves, 1961. p.158-159.)
MACUNAÍMA
 O herói vivia sossegado. Passava os dias marupiara 
na rede matando formigas taiocas, chupitando goli-
nhos estalados de pajuari e quando agarrava can-
tando acompanhado pelos sons gotejantes do cot-
cho, os matos reboavam com doçura adormecendo 
as cobras os carrapatos os mosquitos as formigas e 
os deuses ruins.
 De-noite Ci chegava rescendendo resina de pau, 
sangrando das brigas e trepava na rede que ela 
mesmo tecera com fios do cabelo. Os dois brincavam 
e depois ficavam rindo um pro outro.
Ficavam rindo longo tempo, bem juntos. Ci aromava 
tanto que Macunaíma tinha tonteiras de moleza.
 - Puxa! como você cheira, benzinho!
que ele murmuriava gozado. E escancarava as nari-
nas mais. Vinha uma tonteira tão macota que o sono 
principiava pingando das pálpebras dele. Porém a 
Mãe do Mato inda não estava satisfeita não e com 
um jeito de rede que enlaçava os dois convidava o 
companheiro pra mais brinquedo. Morto de soneira, 
infernizado, Macunaíma brincava pra não desmentir 
a fama só, porém quando Ci queria rir com ele de 
satisfação:
 -Ai! que preguiça!...
que o herói suspirava enfarado. E dando as costas 
pra ela adormecia bem. Mas Ci queria brincar inda 
mais... Convidava convidava... O herói ferrado no 
sono. Então a Mãe do Mato pegava na txara e cotu-
cava o companheiro. Macunaíma se acordava dando 
grandes gargalhadas estorcegando de cócegas.
 - Faz isso não, oferecida!
 - Faço!
 - Deixa a gente dormir, meu bem.
 - Vamos brincar.
 - Ai! que preguiça!...
 E brincavam mais outra vez.
(In: ANDRADE, Mário de. MACUNAÍMA - O HERÓI SEM NENHUM CA-
RÁTER. 4ª. ed. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1965. p.22-23.)
14. (Unesp 2000)
Tendo em mente que Olavo Bilac e Mário de Andrade 
são representantes autênticos, respectivamente, dos 
estilos parnasiano e modernista,
a) apresente um aspecto do discurso de MACUNAÍMA 
que possa ser considerado não apenas diferente, 
mas opositivo ao discurso parnasiano exemplificado 
pelo poema de Bilac;
b) estabeleça, ainda sob a ótica dos estilos de época, 
uma diferença entre os dois textos na abordagem do 
tema do amor.

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