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Texto Poético, Intertextualidade e Interdiscursividade IT0142 - (Enem) An�ode Poesia, não será esse o sen�do em que ainda te escrevo: flor! (Te escrevo: flor! Não uma flor, nem aquela flor-virtude – em disfarçados urinóis). Flor é a palavra flor; verso inscrito no verso, como as manhãs no tempo. Flor é o salto da ave para o voo: o salto fora do sono quando seu tecido se rompe; é uma explosão posta a funcionar, como uma máquina, uma jarra de flores. MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento). A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poé�ca de a) uma palavra, a par�r de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados. b) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX. c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poé�ca. d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-cien�fico pós-Revolução Industrial. e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico. IT0125 - (Enem) Falso moralista Você condena o que a moçada anda fazendo e não aceita o teatro de revista arte moderna pra você não vale nada e até vedete você diz não ser ar�sta Você se julga um tanto bom e até perfeito Por qualquer coisa deita logo falação Mas eu conheço bem o seu defeito e não vou fazer segredo não Você é visto toda sexta no Joá e não é só no Carnaval que vai pros bailes se acabar Fim de semana você deixa a companheira e no bar com os amigos bebe bem a noite inteira Segunda-feira chega na repar�ção pede dispensa para ir ao oculista e vai curar sua ressaca simplesmente Você não passa de um falso moralista NELSON SARGENTO. Sonho de um sambista. São Paulo: Eldorado, 1979. As letras de samba normalmente se caracterizam por apresentarem marcas informais do uso da língua. Nessa letra de Nelson Sargento, são exemplos dessas marcas 1@professorferretto @prof_ferretto a) “falação” e “pros bailes”. b) “você” e “teatro de revista”. c) “perfeito” e “Carnaval”. d) “bebe bem” e “oculista”. e) “curar” e “falso moralista”. IT0134 - (Enem) O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem. BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro; Best Seller. 2008. O sujeito poé�co ques�ona o uso do vocábulo “enseada” porque a a) terminologia mencionada é incorreta. b) nomeação minimiza a percepção subje�va. c) palavra é aplicada a outro espaço geográfico. d) designação atribuída ao termo é desconhecida. e) definição modifica o significado do termo no dicionário. IT0138 - (Enem) As atrizes Naturalmente Ela sorria Mas não me dava trela Trocava a roupa Na minha frente E ia bailar sem mais aquela Escolhia qualquer um Lançava olhares Debaixo do meu nariz Dançava colada Em novos pares Com um pé atrás Com um pé a fim Surgiram outras Naturalmente Sem nem olhar a minha cara Tomavam banho Na minha frente Para sair com outro cara Porém nunca me importei Com tais amantes [...] Com tantos filmes Na minha mente É natural que toda atriz Presentemente represente Muito para mim CHICO BUARQUE. Carioca. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2006 (fragmento). Na canção, Chico Buarque trabalha uma determinada função da linguagem para marcar a subje�vidade do eu lírico ante as atrizes que ele admira. A intensidade dessa admiração está marcada em: a) “Naturalmente/ Ela sorria/ Mas não me dava trela”. b) “Tomavam banho/ Na minha frente/ Para sair com outro cara”. c) “Surgiram outras/ Naturalmente/ Sem nem olhar a minha cara”. d) “Escolhia qualquer um/ Lançava olhares/ Debaixo do meu nariz”. e) “É natural que toda atriz/ Presentemente represente/ Muito para mim”. IT0139 - (Enem) TEXTO I Terezinha de Jesus De uma queda foi ao chão Acudiu três cavalheiros Todos os três de chapéu na mão O primeiro foi seu pai O segundo, seu irmão O terceiro foi aquele A quem Tereza deu a mão BATISTA, M. F. B. M.; SANTOS, I. M. F. (Org.). Cancioneiro da Paraíba. João Pessoa: Grafset, 1993 (adaptado). TEXTO II Outra interpretação é feita e par�r das condições sociais daquele tempo. Para a ama e para a criança para quem cantava a can�ga, e música falava do casamento como um des�no natural na vida da mulher, na sociedade brasileira do século XIX, marcada pelo patriarcalismo. A música prepara a moça para o seu des�no não apenas inexorável, mas desejável; o casamento, estabelecendo uma hierarquia de obediência (pai, irmão mais velho, marido), de acordo com a época e circunstâncias de sua vida. Disponível em: h�p://provsjose.blogspot.com.br. Acesso em: 5 dez. 2012. 2@professorferretto @prof_ferretto O comentário do Texto II sobre o Texto I evoca a mobilização da língua oral que, em determinados contextos, a) assegura existência de pensamentos contrários à ordem vigente. b) mantém a heterogeneidade das formas de relações sociais. c) conserva a influência sobre certas culturas. d) preserva a diversidade cultural e comportamental. e) reforça comportamentos e padrões culturais. IT0124 - (Enem) Sinhá Se a dona se banhou Eu não estava lá Por Deus Nosso Senhor Eu não olhei Sinhá Estava lá na roça Sou de olhar ninguém Não tenho mais cobiça Nem enxergo bem Para que me pôr no tronco Para que me aleijar Eu juro a vosmecê Que nunca vi Sinhá […] Por que talhar meu corpo Eu não olhei Sinhá Para que que vosmincê Meus olhos vai furar Eu choro em iorubá Mas oro por Jesus Para que que vassuncê Me �ra a luz. CHICO BUAROUE; JOÃO BOSCO. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2011 (fragmento). No fragmento da letra da canção, o vocabulário empregado e a situação retratada são relevantes para o patrimônio linguís�co e iden�tário do país, na medida em que a) remetem à violência �sica e simbólica contra os povos escravizados. b) valorizam as influências da cultura africana sobre a música nacional. c) rela�vizam o sincre�smo cons�tu�vo das prá�cas religiosas brasileiras. d) narram os infortúnios da relação amorosa entre membros de classes sociais diferentes. e) problema�zam as diferentes visões de mundo na sociedade durante o período colonial. IT0145 - (Enem) Querido diário Hoje topei com alguns conhecidos meus Me dão bom-dia, cheios de carinho Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus Eles têm pena de eu viver sozinho [...] Hoje o inimigo veio me espreitar Armou tocaia lá na curva do rio Trouxe um porrete a mó de me quebrar Mas eu não quebro porque sou macio, viu HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento). Uma caracterís�ca do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico Buarque é o(a) a) diálogo com interlocutores próximos. b) recorrência de verbos no infini�vo. c) predominância de tom poé�co. d) uso de rimas na composição. e) narra�va autorreflexiva. IT0146 - (Enem) Primeira lição Os gêneros de poesia são: lírico, sa�rico, didá�co, épico, ligeiro. O gênero lírico compreende o lirismo. Lirismo é a tradução de um sen�mento subje�vo, sincero e pessoal. É a linguagem do coração, do amor. O lirismo é assim denominado porque em outros tempos os versos sen�mentais eram declamados ao som da lira. O lirismo pode ser: a) Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte. b) Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres. c) Eró�co, quando versa sobre o amor. 3@professorferretto @prof_ferretto O lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e o epicédio. Elegia é uma poesia que trata de assuntosfitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos.) IT0859 - (Unesp) Leia o trecho do conto “A menina, as aves e o sangue”, do escritor moçambicano Mia Couto (1955– ). Aconteceu, certa vez, uma menina a quem o coração ba�a só de quando em enquantos. A mãe sabia que o sangue estava parado pelo roxo dos lábios, palidez nas unhas. Se o coração estancava por demasia de tempo a menina começava a esfriar e se cansava muito. A mãe, então, se afligia: roía o dedo e deixava a unha intacta. Até que o peito da filha voltava a dar sinal: – Mãe, venha ouvir: está a bater! A mãe acorria, debruçando a orelha sobre o peito estreito que soletrava pulsação. E pareciam, as duas, presenciando pingo de água em pleno deserto. Depois, o sangue dela voltava a calar, resina empurrando a arrastosa vida. 25@professorferretto @prof_ferretto Até que, certa noite, a mulher ganhou para o susto. Foi quando ela escutou os pássaros. Sentou na cama: não eram só piares, chilreinações. Eram rumores de asas, brancos drapejos de plumas. A mãe se ergueu, pé descalço pelo corredor. Foi ao quarto da menina e joelhou-se junto ao leito. Sen�u a transpiração, reconheceu o seu próprio cheiro. Quando lhe ia tocar na fronte a menina despertou: – Mãe, que bom, me acordou! Eu estava sonhar pássaros. A mãe sor�u-se de medo, aconchegou o lençol como se protegesse a filha de uma maldição. Ao tocar no lençol uma pena se desprendeu e subiu, levinha, volteando pelo ar. A menina suspirou e a pluma, algodão em asa, de novo se ergueu, rodopiando por alturas do tecto. A mãe tentou apanhar a errante plumagem. Em vão, a pena saiu voando pela janela. A senhora ficou espreitando a noite, na ilusão de escutar a voz de um pássaro. Depois, re�rou- se, adentrando-se na solidão do seu quarto. Dos pássaros selou-se o segredo, só entre as duas.[...] Com o tempo, porém, cada vez menos o coração se fazia frequente. Quase deixou de dar sinais à vida. Até que essa imobilidade se prolongou por consecu�vas demoras. A menina falecera? Não se vislumbravam sinais dessa derradeiragem. Pois ela seguia pra�cando vivências, brincando, sempre cansadinha, resfriorenta. Uma só diferença se contava. Já à noite a mãe não escutava os piares. – Agora não sonha, filha? – Ai mãe, está tão escuro no meu sonho! Só então a mãe arrepiou decisão e foi à cidade: – Doutor, lhe respeito a permissão: queria saber a saúde de minha única. É seu peito... nunca mais deu sinal. O médico corrigiu os óculos como se entendesse rec�ficar a própria visão. Clareou a voz, para melhor se autorizar. E disse: – Senhora, vou dizer: a sua menina já morreu. – Morta, a minha menina? Mas, assim...? – Esta é a sua maneira de estar morta. A senhora escutou, mãos juntas, na educação do colo. Anuindo com o queixo, ia esbugolhando o médico. Todo seu corpo dizia sim, mas ela, dentro do seu centro, duvidava. Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a re�rada da vida? E o médico, lhe amparando, já na porta: – Não se entristonhe, a morte é o fim sem finalidade. A mãe regressou à casa e encontrou a filha entoando danças, cantarolando canções que nem existem. Se chegou a ela, tocou-lhe como se a miúda inexis�sse. A sua pele não desprendia calor. – Então, minha querida não escutou nada? Ela negou. A mãe percorreu o quarto, vasculhou recantos. Buscava uma pena, o sinal de um pássaro. Mas nada não encontrou. E assim, ficou sendo, então e adiante. Cada vez mais fria, a moça brinca, se aquece na torreira do sol. Quando acorda, manhã alta, encontra flores que a mãe depositou ao pé da cama. Ao fim da tarde, as duas, mãe e filha, passeiam pela praça e os velhos descobrem a cabeça em sinal de respeito. E o caso se vai seguindo, estória sem história. Uma única, silenciosa, sombra se instalou: de noite, a mãe deixou de dormir. Horas a fio a sua cabeça anda em serviço de escutar, a ver se regressam as vozearias das aves. (Mia Couto. A menina sem palavra, 2013.) A linguagem poé�ca, o emprego de neologismos e as marcas de oralidade, que podem ser iden�ficados no texto de Mia Couto, caracterizam também a prosa do seguinte escritor brasileiro: a) Guimarães Rosa. b) Graciliano Ramos. c) Machado de Assis. d) Euclides da Cunha. e) Aluísio de Azevedo. IT0861 - (Unesp) Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636- 1696). A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar à praça e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres", Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.) 1 Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros “homens nobres”. O soneto de Gregório de Matos cons�tui um exemplo da sua poesia de teor 26@professorferretto @prof_ferretto a) nostálgico. b) sa�rico. c) metalinguís�co. d) mís�co. e) encomiás�co. IT0862 - (Unesp) Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636- 1696). A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar à praça e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres", Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.) 1 Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros “homens nobres”. No soneto, o eu lírico enraíza na cidade da Bahia a figuração tradicional do desconcerto do mundo. No quadro da economia colonial, esse desconcerto do mundo mostra-se associado a um momento crí�co da produção a) do açúcar. b) da borracha. c) do ouro. d) do café. e) do algodão. IT0863 - (Unesp) Leia o soneto “Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia”, do poeta Gregório de Matos (1636- 1696). A cada canto um grande conselheiro, Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, Para o levar à praça e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres", Posta nas palmas toda a picardia, Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres: E eis aqui a cidade da Bahia. (Gregório de Matos. Poemas escolhidos, 2010.) 1 Trazidos sob os pés os homens nobres: na visão de Gregório de Matos, os mulatos em ascensão subjugam com esperteza os verdadeiros “homens nobres”. No soneto, verifica-se rima entre palavras de classes grama�cais diferentes a) em “vizinha”/“esquadrinha” (2ª estrofe) e em “nobres”/“pobres” (3ª/4ª estrofes). b) em “vinha"/“cozinha” (1ª estrofe) e em “olheiro”/“terreiro” (2ª estrofe). c) em “conselheiro”/“inteiro” (1ª estrofe) e em “olheiro”/“terreiro” (2ª estrofe). d) em “conselheiro”/“inteiro” (1ª estrofe) e em “vizinha”/“esquadrinha” (2ª estrofe). e) em “desavergonhados”/“mercados” (3ª/4ª estrofes) e em “nobres”/“pobres” (3ª/4ª estrofes). IT0874 - (Unesp) Leia a letra da canção “Foi um rio que passou em minha vida”, de Paulinho da Viola, gravada em 1970. Se um dia Meu coração for consultado Para saber se andou errado Será di�cil negar Meu coração tem mania de amor Amor não é fácil de achar A marca dos meus desenganos ficou, ficouSó um amor pode apagar Porém Há um caso diferente Que marcou um breve tempo Meu coração para sempre Era dia de carnaval 27@professorferretto @prof_ferretto Eu carregava uma tristeza Não pensava em novo amor Quando alguém que não me lembro anunciou Portela, Portela O samba trazendo alvorada Meu coração conquistou Ah, minha Portela Quando vi você passar Sen� meu coração apressado Todo o meu corpo tomado Minha alegria a voltar Não posso definir aquele azul Não era do céu Nem era do mar Foi um rio que passou em minha vida E meu coração se deixou levar (www.paulinhodaviola.com.br) Na canção, o eu lírico a) tem consciência de que a Portela também se caracteriza como um novo desengano. b) acredita que um novo amor, por se assemelhar a um rio, mostra-se volúvel. c) acredita que um novo amor seja capaz de apagar uma an�ga desilusão amorosa. d) tem consciência de que a Portela, por sua inconstância, será um novo amor efêmero. e) acredita que a Portela, por ser indefinível, não se caracteriza como um novo amor. IT0877 - (Unesp) Leia o soneto do poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage. Olha, Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes Os Zéfiros1 brincar por entre as flores? Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos2 ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores! Naquele arbusto o rouxinol suspira; Ora nas folhas a abelhinha para. Ora nos ares, sussurrando, gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah!, tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a noite me causara. (Manuel Maria Barbosa du Bocage. Poemas escolhidos, 1974.) 1 Zéfiro: vento que sopra do ocidente. 2 ósculo: beijo. A paisagem retratada no soneto cons�tui um tópico recorrente na poesia a) realista. b) român�ca. c) naturalista. d) arcádica. e) simbolista. IT0878 - (Unesp) Leia o soneto do poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage. Olha, Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes Os Zéfiros1 brincar por entre as flores? Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos2 ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores! Naquele arbusto o rouxinol suspira; Ora nas folhas a abelhinha para. Ora nos ares, sussurrando, gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah!, tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a noite me causara. (Manuel Maria Barbosa du Bocage. Poemas escolhidos, 1974.) 1 Zéfiro: vento que sopra do ocidente. 2 ósculo: beijo. No soneto, a capacidade de transfigurar a paisagem retratada é atribuída pelo eu lírico a) aos Amores. b) à noite. c) a Marília. d) à tristeza. e) aos pastores. IT0880 - (Unesp) 28@professorferretto @prof_ferretto Leia o soneto do poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage. Olha, Marília, as flautas dos pastores, Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes Os Zéfiros1 brincar por entre as flores? Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos2 ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores! Naquele arbusto o rouxinol suspira; Ora nas folhas a abelhinha para. Ora nos ares, sussurrando, gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah!, tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a noite me causara. (Manuel Maria Barbosa du Bocage. Poemas escolhidos, 1974.) 1 Zéfiro: vento que sopra do ocidente. 2 ósculo: beijo. Na linguagem literária, visando obter maior expressividade, pode-se empregar um tempo verbal em lugar de outro. É o que ocorre nos seguintes versos: a) “Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes / Os Zéfiros brincar por entre as flores?” (1ª estrofe) b) “Ora nas folhas a abelhinha para. / Ora nos ares, sussurrando, gira.” (3ª estrofe) c) “Mas ah!, tudo o que vês, se eu não te vira, / Mais tristeza que a noite me causara.” (4ª estrofe) d) “Olha, Marília, as flautas dos pastores, / Que bem que soam, como estão cadentes!” (1ª estrofe) e) “Vê como ali, beijando-se, os Amores / Incitam nossos ósculos ardentes!” (2ª estrofe) IT0893 - (Unicamp) Considere os versos abaixo dos poemas “Sen�mento do mundo” e “Noturno à janela do apartamento”, de Carlos Drummond de Andrade, ambos publicados no livro Sen�mento do mundo. esse amanhecer mais noite que a noite. (Carlos Drummond de Andrade. Sen�mento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.12.) Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite. Nenhum pensamento de infância, nem saudade nem vão propósito. Somente a contemplação de um mundo enorme e parado. A soma da vida é nula. Mas a vida tem tal poder: na escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência... A alma severa se interroga e logo se cala. E não sabe se é noite, mar ou distância. Triste farol da Ilha Rasa. (Idem, p. 71.) Considerando a obra Sen�mento do mundo em seu conjunto e tendo em vista que os primeiros versos transcritos pertencem ao poema que abre e dá �tulo ao livro de Drummond, e que o segundo poema, citado integralmente, corresponde ao fechamento do volume, é correto afirmar que a) a oposição de base dos poemas reside nas imagens contrapostas de luz e trevas, manifestando o tema do pessimismo acerca da condição humana. b) o percurso figura�vo dos poemas é marcado apenas pelas imagens da noite, associadas às ideias de nega�vidade e de esperança para a humanidade. c) a unidade de sen�do do conjunto dos textos poé�cos reside na clássica oposição entre luz e trevas, sendo que o percurso figura�vo manifesta o tema da maldade. d) as imagens de luz e trevas significam a luta eterna entre o bem e o mal, o que se confirma no verso “Suicídio, riqueza, ciência”, que sugere o impasse do eu lírico. IT0894 - (Unicamp) Considere os versos abaixo dos poemas “Sen�mento do mundo” e “Noturno à janela do apartamento”, de Carlos Drummond de Andrade, ambos publicados no livro Sen�mento do mundo. esse amanhecer mais noite que a noite. (Carlos Drummond de Andrade. Sen�mento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.12.) 29@professorferretto @prof_ferretto Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite. Nenhum pensamento de infância, nem saudade nem vão propósito. Somente a contemplação de um mundo enorme e parado. A soma da vida é nula. Mas a vida tem tal poder: na escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência... A alma severa se interroga e logo se cala. E não sabe se é noite, mar ou distância. Triste farol da Ilha Rasa. (Idem, p. 71.) A visão de mundo do eu lírico em Drummond é marcada pela ironia e pela dúvida constante, cujo saldo final é nega�vo e melancólico (“Triste farol da Ilha Rasa”). Tal perspec�va assemelha-se à do a) personagem Leonardo, do romance Memórias de um sargento de milícias. b) personagem Carlos, da obra Viagens na minha terra. c) narrador do romance O cor�ço. d) narrador do romance Memórias póstumas de Brás Cubas. IT0896 - (Unicamp) Rua da Liberdade – São Paulo – SP – 1937 Pobre alimária O cavalo e a carroça Estavam atravancados no trilho E como o motorneiro se impacientasse Porque levava os advogados para os escritórios Desatravancaram o veículo E o animal disparou Mas o lesto carroceiro Trepou na boleia E cas�gou o fugi�vo atrelado Com um grandioso chicote (Oswald de Andrade, Pau Brasil. São Paulo: Globo, 2003, p.159.) A imagem e o poema revelam a dinâmica do espaço na cidade de São Paulo na primeira metade do século XX. Qual alterna�va abaixo formula corretamente essa dinâmica? 30@professorferretto @prof_ferretto a) Trata-se da ascensão de um moderno mundo urbano, onde coexis�am harmonicamente diferentes temporalidades, funções urbanas, sistemas técnicos e formas de trabalho, viabilizando-se, dessemodo, a coesão entre o espaço da cidade e o tecido social. b) Trata-se de um espaço agrário e acomodado, num período em que a urbanização não �nha se estabelecido, mas que abrigava em seu inters�cio alguns vetores da modernização industrial. c) Trata-se de um espaço onde coexis�am dis�ntas temporalidades: uma atrelada ao ritmo lento de um passado agrário e, outra, atrelada ao ritmo acelerado que caracteriza a modernidade urbana. d) Trata-se de uma paisagem urbana e uma divisão do trabalho �picas do período colonial, pois a metropolização é um processo desencadeado a par�r da segunda metade do século XX. IT0899 - (Unicamp) Cem anos depois Vamos passear na floresta Enquanto D. Pedro não vem. D. Pedro é um rei filósofo, Que não faz mal a ninguém. Vamos sair a cavalo, Pacíficos, desarmados: A ordem acima de tudo. Como convém a um soldado. Vamos fazer a República, S em barulho, sem li�gio, Sem nenhuma guilho�na, Sem qualquer barrete frígio. Vamos, com farda de gala, Proclamar os tempos novos, Mas cautelosos, fur�vos, Para não acordar o povo. (José Paulo Paes, O melhor poeta da minha rua, em Fernando Paixão (sel. e org.), Para gostar de ler. São Paulo: Á�ca, 2008, p.43.) O tom irônico do poema em relação à história do Brasil põe em evidência a) o modo como a democracia surge no Brasil por interferência do Imperador. b) a maneira despó�ca como os republicanos trataram os símbolos nacionais. c) a postura inconsequente que sempre caracterizou os governantes do Brasil. d) a forma astuciosa como ocorreram os movimentos polí�cos no Brasil. IT0902 - (Unicamp) Morro da Babilônia À noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua Geral). Quando houve revolução, os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recrea�vo, como uma gen�leza do morro. (Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.) No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond de Andrade, a) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de modo indireto, metonimicamente, pela referência ao Morro da Babilônia. b) o sen�mento do mundo é representado pela percepção par�cular sobre a cidade do Rio de Janeiro, aludida pela metáfora do Morro da Babilônia. c) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha- se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza a figura de es�lo denominada paronomásia. d) a referência ao Morro da Babilônia produz, no percurso figura�vo do poema, um oxímoro: a relação entre terror e gen�leza no espaço urbano. IT0908 - (Unicamp) Caligrafia (Arnaldo Antunes) 31@professorferretto @prof_ferretto Arte do desenho manual das letras e palavras. Território híbrido entre os códigos verbal e visual. A caligrafia está para a escrita como a voz está para a fala. A cor, o comprimento e espessura das linhas, a disposição espacial, a velocidade dos traços da escrita correspondem a �mbre, ritmo, tom, cadência, melodia do discurso falado. Entonação gráfica. Assim como a voz apresenta a efe�vação �sica do discurso (o ar nos pulmões, a vibração das cordas vocais, os movimentos da língua), a caligrafia também está in�mamente ligada ao corpo, pois carrega em si os sinais de maior força ou delicadeza, rapidez ou len�dão, brutalidade ou leveza do momento de sua feitura. (Adaptado de h�ps://www.arnaldoantunes.com.br. Acessado em 12/07/2016.) Em Caligrafia, o autor a) estabelece uma relação de causa e efeito entre caligrafia e voz. b) sugere uma relação de oposição entre caligrafia e voz. c) projeta uma relação de gradação entre caligrafia e voz. d) apreende uma relação de analogia entre caligrafia e voz. IT0912 - (Unicamp) “O Sinhô foi açoitar sozinho a negra Fulô. A negra �rou a saia e �rou o cabeção, de dentro dêle pulou nuinha a negra Fulô. Essa negra Fulô! Essa negra Fulô! Ó Fulô! Ó Fulô! Cadê, cadê teu Sinhô que Nosso Senhor me mandou? Ah! Foi você que roubou, foi você, negra Fulô? Essa negra Fulô!” (Jorge de Lima, Poesias Completas, v.1. Rio de Janeiro/Brasília: J.Aguilar e INL, 1974, p. 121.) “A Sinhá mandou arrebentar-lhe os dentes: Fute, Cafute, Pé-de-pato, Não-sei-que-diga, avança na branca e me vinga. Exu escangalha ela, amofina ela, amuxila ela que eu não tenho defesa de homem, sou só uma mulher perdida neste mundão. Neste mundão. Louvado seja Oxalá. Para sempre seja louvado.” (Idem, p.164.) Essas duas cenas de ciúmes concluem dois textos diferentes de Jorge de Lima. A primeira pertence ao conhecido poema modernista “Essa negra Fulô”; a segunda, ao poema “História”, de Poemas Negros (1947). Em relação a “Essa negra Fulô”, o poema “História”, especificamente, representa a) a reiteração da denúncia das relações de poder, muito arraigadas no sistema escravocrata, que colocam no mesmo plano violências raciais e sexuais. b) a passagem de uma caracterização da mulher negra como sedutora para uma postura solidária em relação à escrava, que explicita as estratégias compensatórias de que se vale para sobreviver. c) a permanência de uma visão pitoresca sobre a situação da mulher negra nos engenhos de açúcar, que oculta os mecanismos de poder que garan�am sua exploração. d) a superação da visão idílica da vida na senzala, graças a uma postura realista e social, que revela a violência das relações entre senhores e escravos. IT0915 - (Unicamp) Transforma-se o amador na coisa amada, Por virtude do muito imaginar; Não tenho, logo, mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, Que mais deseja o corpo de alcançar? Em si somente pode descansar, Pois com ele tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim como a alma minha se conforma, Está no pensamento como ideia; E o vivo e puro amor de que sou feito, Como a matéria simples busca a forma. (Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.) Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascen�sta de ideias do filósofo grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano 32@professorferretto @prof_ferretto a) é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta em uma alma única e perfeita. b) é confirmado nos dois úl�mos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na matéria simples que deseja. c) é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisa amada é a ausência de desejo. d) é contrariado nos dois úl�mos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na sua condição de ideia. IT0918 - (Unicamp) O poema abaixo é de autoria do poeta Augusto de Campos, integrante do movimento concre�sta. Nesse poema, nota-se uma técnica de composição que consiste a) na disposição arbitrária de anagramas, sem produzir uma relação de sen�do com o �tulo do poema. b) na disposição exaus�va de anagramas, sem produzir uma relação de sen�do com o �tulo do poema. c) na disposição arbitrária de anagramas, para produzir uma relação de sen�do com o �tulo do poema. d) na disposição exaus�va de anagramas, para produzir uma relação de sen�do com o �tulo do poema. IT0951 - (Fuvest) E Jerônimo via e escutava, sen�ndo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta;era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapo� mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. Aluísio Azevedo, O cor�ço. Em que pese a oposição programá�ca do Naturalismo ao Roman�smo, verifica-se no excerto — e na obra a que pertence — a presença de uma linha de con�nuidade entre o movimento român�co e a corrente naturalista brasileira, a saber, a a) exaltação patrió�ca da mistura de raças. b) necessidade de autodefinição nacional. c) aversão ao cien�ficismo. d) recusa dos modelos literários estrangeiros. e) idealização das relações amorosas. IT0952 - (Fuvest) O OPERÁRIO NO MAR Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso polí�co, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. 33@professorferretto @prof_ferretto E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma san�dade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do mundo. Atente para as seguintes afirmações rela�vas ao texto de Drummond, considerado no contexto da obra a que pertence: I. A referência inicial aos modos de se representar o operário sugere uma crí�ca do poeta aos estereó�pos presentes na literatura da época em que o texto foi escrito. II. O alcance simbólico da figura do operário depende, inclusive, do fato de que, no texto, ele é cons�tuído por tensões que o fazem, ao mesmo tempo, comum e extraordinário, familiar e enigmá�co, próximo e longínquo etc. II. A imagem do operário que anda sobre o mar pode simbolizar a criação prodigiosa de um mundo novo — a “vida futura” —, igualmente anunciado em símbolos como o das “mãos dadas”, o da “aurora”, o do “sangue redentor”, também presentes no livro. Está correto o que se afirma em a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III. IT0953 - (Fuvest) O OPERÁRIO NO MAR Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso polí�co, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma san�dade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do mundo. Embora o texto de Drummond e o romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, assemelhem-se na sua especial atenção às classes populares, um trecho do texto que NÃO poderia, sem perda de coerência formal e ideológica, ser enunciado pelo narrador do livro de Jorge Amado é, sobretudo, o que está em: 34@professorferretto @prof_ferretto a) “Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa.” b) “Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros (...).” c) “Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando.” d) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca.” e) “Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos.” IT0974 - (Unicamp) Leia abaixo duas passagens do poema “Olá! Negro”, de Jorge de Lima. “A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro! E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes. Com os teus songs, com os teus lundus!” (...) "Não basta iluminares hoje as noites dos brancos com teus jazzes. Olá, Negro! O dia está nascendo! O dia está nascendo ou será a tua gargalhada que vem vindo?” (Jorge de Lima, Poesias completas. v. I, Rio de Janeiro / Brasília: J. Aguilar / INL, 1674, p. 180181.) Considerando o livro Poemas negros como um todo e a poé�ca de Jorge de Lima, é correto afirmar que o úl�mo verso citado a) manifesta o desprezo do negropela situação decadente da cultura do branco. b) realiza a aproximação entre a alegria do negro e uma ideia de futuro. c) remete à vingança do negro contra a violência a que foi subme�do pelo branco. d) funciona como um lamento, já que o nascer do dia não traz jus�ça social. IT0977 - (Unicamp) GÊNESIS (INTRO) Deus fez o mar, as árvore, as criança, o amor O homem me deu a favela, o crack, a trairagem As arma, as bebida, as puta Eu? Eu tenho uma Bíblia velha, uma pistola automá�ca Um sen�mento de revolta Eu tô tentando sobreviver no inferno (Racionais Mc's, Sobrevivendo no infamo. São Paulo: Companhia das Letras, 2018,p.45) "Gênesis" é a segunda canção do álbum Sobrevivendo no Inferno. É antecedida pela invocação de uma outra canção, in�tulada "Jorge da Capadócia”, de Jorge Ben. É coreto afirmar que as evocações dos elementos religiosos nesse álbum a) legi�mam a violência social a que estão subme�dos os pobres. b) dificultam a tomada de consciência da população negra. c) ar�culam as esferas é�ca e esté�ca da experiência humana na poesia. d) dissimulam a hipocrisia moral das pessoas religiosas. IT1007 - (Fuvest) Bem-vinda! “Eram faíscas suas palavras que me queimavam em doses homeopá�cas durante todas as noites... Foram longos anos, dia após dia perdendo um pouco mais minha autoes�ma, abrindo mão das roupas que gostava, dos estudos, do trabalho e das amigas fazendo de tudo pra evitar brigas, mas ele sempre dizia que a culpa era minha. Até que um dia, me empurrou, me acuou como se eu pudesse caber em qualquer fresta, encurralada, me mandou ficar calada e, com medo, obedeci. Eu pedia desculpa toda vez depois de falar como se fosse um defeito de nascença querer me colocar. A minha casa se tornou um ambiente tão hos�l e eu, prisioneira das minhas próprias ideias, acreditando que o amor era isso, esse abismo, onde só um fala e o outro, fica omisso. Precisei �rar forças de lugares sagrados pra me afastar e reagir, recolher meus pedaços. Meus olhos encheram de mar, eu desaguei, decidi não mais me calar, denunciei! E depois do silêncio quebrado, meus pensamentos em guerra cessaram, recuperei o fôlego e ouvi meu coração sendo grato. Encontrei em mim um porto seguro, entendi que meu corpo é meu lar e, no caminho até ele, escolho quem anda comigo e quem convido pra entrar. Hoje, quando olho pra dentro, vejo uma nova mulher renascendo, eu celebro sua chegada e contemplo essa nova vida. Sem medo, abro a janela de casa 35@professorferretto @prof_ferretto e, com olhar de quem há tanto tempo esperava, te pego pela mão e digo: Seja bem-vinda!” Mel Duarte. Colmeia - Poemas Reunidos. A expressão bem-vinda usada no �tulo e repe�da no úl�mo verso faz alusão a) ao aprisionamento da mulher que não consegue se libertar do poderio masculino. b) à guerra interior e à falta de forças da mulher oprimida, que aceita sua condição. c) ao renascimento da mulher que alcança, após a opressão, coragem para encontrar-se a si mesma. d) ao rebaixamento da mulher que se cala e se desculpa, perdendo aos poucos sua autoes�ma. e) à força da mulher que, mesmo hos�lizada, tem poder para fazer entrar em sua casa quem a encurralava. IT1008 - (Fuvest) Bem-vinda! “Eram faíscas suas palavras que me queimavam em doses homeopá�cas durante todas as noites... Foram longos anos, dia após dia perdendo um pouco mais minha autoes�ma, abrindo mão das roupas que gostava, dos estudos, do trabalho e das amigas fazendo de tudo pra evitar brigas, mas ele sempre dizia que a culpa era minha. Até que um dia, me empurrou, me acuou como se eu pudesse caber em qualquer fresta, encurralada, me mandou ficar calada e, com medo, obedeci. Eu pedia desculpa toda vez depois de falar como se fosse um defeito de nascença querer me colocar. A minha casa se tornou um ambiente tão hos�l e eu, prisioneira das minhas próprias ideias, acreditando que o amor era isso, esse abismo, onde só um fala e o outro, fica omisso. Precisei �rar forças de lugares sagrados pra me afastar e reagir, recolher meus pedaços. Meus olhos encheram de mar, eu desaguei, decidi não mais me calar, denunciei! E depois do silêncio quebrado, meus pensamentos em guerra cessaram, recuperei o fôlego e ouvi meu coração sendo grato. Encontrei em mim um porto seguro, entendi que meu corpo é meu lar e, no caminho até ele, escolho quem anda comigo e quem convido pra entrar. Hoje, quando olho pra dentro, vejo uma nova mulher renascendo, eu celebro sua chegada e contemplo essa nova vida. Sem medo, abro a janela de casa e, com olhar de quem há tanto tempo esperava, te pego pela mão e digo: Seja bem-vinda!” Mel Duarte. Colmeia - Poemas Reunidos. Assinale a alterna�va que apresenta uma correspondência correta entre os versos destacados e os recursos u�lizados para evidenciar a dor expressa no poema. a) “Eram faíscas suas palavras que me queimavam em/ doses homeopá�cas/ durante todas as noites...” – conotação: o predica�vo “faíscas” e a forma verbal “queimavam” estão sendo usados em sen�do figurado, enfa�zando seu sofrimento. b) “Até que um dia, me empurrou, me acuou/como se eu pudesse caber em qualquer fresta, /encurralada” – an�tese: os elementos “empurrou”, “acuou” e “encurralada” potencializam de forma contraditória seu sofrimento. c) “acreditando que o amor era isso, esse abismo, onde só/ um fala e o outro, fica omisso” – metonímia: o uso do aposto “esse abismo”, referindo-se a “amor”, expressa literalmente seu sofrimento. d) “Precisei �rar forças de lugares sagrados/ pra me afastar e reagir, recolher meus pedaços” – pleonasmo: o complemento “meus pedaços” reforça o significado do verbo “recolher”, acentuando seu sofrimento. e) “Meus olhos encheram de mar, eu desaguei, /decidi não mais me calar, denunciei!” – paronímia: os verbos “encher” e “desaguar” são elementos de significação próxima que dão ênfase a seu sofrimento. IT1010 - (Fuvest) Carlos Drummond de Andrade foi o criador de uma obra lírica que, ao mesmo tempo, se aproxima e se afasta do Modernismo de 1922, propondo, a par�r de traços desse movimento, uma poé�ca original. Com base no exposto, em Alguma poesia (1930), 36@professorferretto @prof_ferretto a) os aspectos prosaicos da linguagem modernista ganham expressão lírica a par�r de um sujeito poé�co que repropõe, em versos livres, a nostalgia român�ca da infância idealizada. b) o sujeito poé�co incorpora, sob a perspec�va de uma lírica de raiz subje�va, vários procedimentos es�lís�cos das vanguardas modernistas, em especial a escrita automá�ca e o surrealismo. c) a tópica literária do desconcerto do mundo ganha uma reconfiguração moderna, a par�r de um sujeito poé�co que, mais do que revelar um mundo às avessas, focaliza o seu desajuste frente à realidade. d) o nacionalismo literário, tão �pico da revisão empreendida pela primeira geração modernista sobre a realidade brasileira, apresenta-se como eixo temá�co de cunho ufanista. e) a paisagem mineira, no espaço literário, é configurada pelo sujeito poé�co como ambiente bucólico e refúgio privilegiado para os seus desajustes frente ao “vasto mundo”. IT1014 - (Fuvest) “Se a derrama for lançada, há levante, com certeza. Corre-se por essas ruas? Corta-se alguma cabeça? Do cimo de alguma escada, profere-se alguma arenga? Que bandeira se desdobra? Com que figura ou legenda? Coisas da Maçonaria, do Paganismo ou da Igreja? A San�ssima Trindade? Um gênio a quebrar algemas? Atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas, entre sigilo e espionagem, acontece a Inconfidência.” Os versos de Cecília Meireles, no Romanceiro da Inconfidência, remetem a) à insurreição promovida por maçons e reinóis, adeptos do iluminismo, contra a cobrança do quinto real sobre a exploração de diamantes na Capitania de Minas Gerais. b) à possibilidade de sublevação mo�vada pela defesa da liberdade, por indivíduos de diferentes setores de Minas Gerais, ante a ameaça de cobrança de impostos metropolitanos. c) à disputa entre católicos apoiadores do recolhimento do dízimo nas Minas Gerais e republicanos defensores da suspensão de impostos cobradospelo Estado e pela Igreja. d) ao movimento de setores reacionários da sociedade mineira, responsáveis por conspirar contra os idealizadores da Conjuração e denunciar os seus planos de revolução. e) à trapaça e delação, que fizeram parte da Conjuração e ocorreram em razão das discrepâncias ideológicas dos denunciantes em relação aos rebelados. IT1016 - (Fuvest) “Brasil, meu Brasil brasileiro Meu mulato inzoneiro Vou cantar-te nos meus versos O Brasil, samba que dá Bamboleio, que faz gingar O Brasil do meu amor Terra de Nosso Senhor Brasil, pra mim Ô, abre a cor�na do passado Tira a mãe preta do cerrado Bota o Rei Congo no congado Brasil, pra mim (...) Ô! Esse coqueiro que dá coco Onde eu amarro a minha rede Nas noites claras de luar Brasil, pra mim Ô! Ouve essas fontes murmurantes Onde eu mato a minha sede E onde a lua vem brincar Ô! Este Brasil lindo e trigueiro É o meu Brasil, brasileiro Terra de samba e pandeiro Brasil, pra mim” A canção Aquarela do Brasil foi composta por Ari Barroso e lançada no ano de 1939. Sua letra permite iden�ficar temas que guardam afinidades com a polí�ca cultural do Estado Novo, podendo ser destacada a 37@professorferretto @prof_ferretto a) discriminação em relação a afrodescendentes. b) exaltação das virtudes naturais e nacionais. c) concepção civilizatória assentada na religião católica. d) valorização da cultura cabocla e do regionalismo. e) escolha do malandro como símbolo nacional. 38@professorferretto @prof_ferrettotristes. Nênia é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta. Era declamada junto à fogueira onde o cadáver era incinerado. Endecha é uma poesia que revela as dores do coração. Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares. Epicédio é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma pessoa morta. CESAR, A. C. Poé�ca, São Paulo: Companhia das Letras, 2013. No poema de Ana Cris�na Cesar, a relação entre as definições apresentadas e o processo de construção do texto indica que o(a) a) caráter descri�vo dos versos assinala uma concepção irônica de lirismo. b) tom explica�vo e con�do cons�tui uma forma peculiar de expressão poé�ca. c) seleção e o recorte do tema revelam uma visão pessimista da criação ar�s�ca. d) enumeração de dis�ntas manifestações líricas produz um efeito de impessoalidade. e) referência a gêneros poé�cos clássicos expressa a adesão do eu lírico às tradições literárias. IT0129 - (Enem) Uma ouriça Se o de longe esboça lhe chegar perto, se fecha (convexo integral de esfera), se eriça (bélica e mul�espinhenta): e, esfera e espinho, se ouriça à espera. Mas não passiva (como ouriço na loca); nem só defensiva (como se eriça o gato) sim agressiva (como jamais o ouriço), do agressivo capaz de bote, de salto (não do salto para trás, como o gato): daquele capaz de salto para o assalto. Se o de longe lhe chega em (de longe), de esfera aos espinhos, ela se desouriça. Reconverte: o metal hermé�co e armado na carne de antes (côncava e propícia), as molas felinas (para o assalto), nas molas em espiral (para o abraço). MELO NETO, J. C. A educação pela pedra.Rio de Janeiro; Nova Fronteira, 1997 Com apuro formal, o poema tece um conjunto semân�co que metaforiza a a�tude feminina de a) tenacidade transformada em brandura. b) obs�nação traduzida em isolamento. c) inércia provocada pelo desejo platônico. d) irreverência cul�vada de forma cautelosa. e) desconfiança consumada pela intolerância. IT0133 - (Enem) Quebranto às vezes sou o policial que me suspeito me peço documentos e mesmo de posse deles me prendo e me dou porrada às vezes sou o porteiro não me deixando entrar em mim mesmo a não ser pela porta de serviço [...] às vezes faço questão de não me ver e entupido com a visão deles sinto-me a miséria concebida como um eterno começo fecho-me o cerco sendo o gesto que me nego a pinga que me bebo e me embebedo o dedo que me aponto e denuncio o ponto em que me entrego. às vezes!... CUTI. Negroesia. Belo Horizonte: Mazza. 2007 (fragmento). Na literatura de temá�ca negra produzida no Brasil, é recorrente a presença de elementos que traduzem experiências históricas de preconceito e violência. No poema, essa vivência revela que o eu lírico a) incorpora sele�vamente o discurso do seu opressor. b) submete-se à discriminação como meio de fortalecimento. c) engaja-se na denúncia do passado de opressão e injus�ças. d) sofre uma perda de iden�dade e de noção de pertencimento. e) acredita esporadicamente na utopia de uma sociedade igualitária. 4@professorferretto @prof_ferretto IT0137 - (Enem) O mundo revivido Sobre esta casa e as árvores que o tempo esqueceu de levar. Sobre o curral de pedra e paz e de outras vacas tristes chorando a lua e a noite sem bezerros. Sobre a parede larga deste açude onde outras cobras verdes se arrastavam, e pondo o sol nos seus olhos parados iam colhendo sua safra de sapos. Sob as constelações do sul que a noite armava e desarmava: as Três Marias, o Cruzeiro distante e o Sete-Estrelo. Sobre este mundo revivido em vão, a lembrança de primos, de cavalos, de silêncio perdido para sempre. DOBAL, H. A província deserta.Rio de Janeiro: Artenova, 1974. No processo de recons�tuição do tempo vivido, o eu lírico projeta um conjunto de imagens cujo lirismo se funda menta no a) inventário das memórias evocadas afe�vamente. b) reflexo da saudade no desejo de voltar à infância. c) sen�mento de inadequação com o presente vivido. d) ressen�mento com as perdas materiais e humanas. e) lapso no fluxo temporal dos eventos trazidos à cena. IT0131 - (Enem) Eu sobrevivi do nada, do nada Eu não exis�a Não �nha uma existência Não �nha uma matéria Comecei exis�r com quinhentos milhões e quinhentos mil anos Logo de uma vez, já velha Eu não nasci criança, nasci já velha Depois é que eu virei criança E agora con�nuei velha Me transformei novamente numa velha Voltei ao que eu era, uma velha PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org.). Reino dos bichos e dos animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009. Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade da expressão lírica manifesta-se na a) representação da infância, redimensionada no resgate da memória. b) associação de imagens desconexas, ar�culadas por uma fala delirante. c) expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências de alteridade. d) incorporação de elementos fantás�cos, explicitada por versos incoerentes. e) transgressão à razão, ecoada na desconstrução de referências temporais. IT0126 - (Enem) Retrato de homem A paisagem estrita ao apuro do muro feito vértebra a vértebra e escuro. A geração dos pelos sobre a casca e os rostos em seus diques de sombra repostos. Os poços com seu lodo de ira e de tensão: entre cimento e fronte – um vão. As setas se a�ram às margens de ninguém, ilesas a si mesmas retêm. Compassos de evasão entre falange e rua sondando a solitude nua. E na armadura de coisa salobra, um só segredo: a polpa toda é fruição de medo. ARAÚJO, L.C. Cantochão. Belo Horizonte: Imprensa Publicações – Governo do Estado de Minas Gerais, 1967. No poema, a descrição lírica do objeto representado é orientada por um olhar que 5@professorferretto @prof_ferretto a) desvela sen�mentos de vazio e angús�a sob a aparente austeridade. b) expressa desilusão ante a possibilidade de superação do sofrimento. c) contrapõe a fragilidade emocional ao uso desmedido da força �sica. d) associa a incomunicabilidade emocional às determinações culturais. e) privilegia imagens relacionadas à exposição do dinamismo urbano. IT0136 - (Enem) O farrista Quando o almirante Cabral Pôs as patas no Brasil O anjo da guarda dos índios Estava passeando em Paris. Quando ele voltou de viagem O holandês já está aqui. O anjo respira alegre: “Não faz mal, isto é boa gente, Vou arejar outra vez.” O anjo transpôs a barra, Diz adeus a Pernambuco, Faz barulho, vuco-vuco, Tal e qual o zepelim Mas deu um vento no anjo, Ele perdeu a memória... E não voltou nunca mais. MENDES. M. História do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1992 A obra de Murilo Mendes situa-se na fase inicial do Modernismo, cujas propostas esté�cas transparecem, no poema, por um eu lírico que a) configura um ideal de nacionalidade pela integração regional. b) remonta ao colonialismo assente sob um viés iconoclasta. c) repercute as manifestações do sincre�smo religioso. d) descreve a gênese da formação do povo brasileiro. e) promove inovações no repertório linguís�co. IT0141 - (Enem) Receita Tome-se um poeta não cansado, Uma nuvem de sonho e uma flor, Três gotas de tristeza, um tom dourado, Uma veia sangrando de pavor. Quando a massa já ferve e se retorce Deita-se a luz dum corpo de mulher, Duma pitada de morte se reforce, Que um amor de poeta assim requer. SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997. Os gêneros textuais caracterizam-se por serem rela�vamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunica�vo. Esse texto cons�tui uma mescla de gêneros, pois a) introduz procedimentos prescri�vos na composição do poema. b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita. c) explora elementos temá�cos presentes em uma receita. d) apresenta organização estrutural �pica de um poema. e) u�liza linguagem figurada na construção do poema. IT0135 - (Enem) Contranarciso em mim eu vejo o outro e outro e outro enfim dezenas trens passando vagõescheios de gente centenas o outro que há em mim é você você e você assim como eu estou em você eu estou nele em nós e só quando estamos em nós estamos em paz mesmo que estejamos a sós LEMINSKI, P. Toda poesia. São Paulo: Cia. das Letras. 2013. A busca pela iden�dade cons�tui uma faceta da tradição literária, redimensionada pelo olhar contemporâneo. No poema, essa nova dimensão revela a 6@professorferretto @prof_ferretto a) ausência de traços iden�tários. b) angús�a com a solidão em público. c) valorização da descoberta do “eu” autên�co. d) percepção da empa�a como fator de autoconhecimento. e) impossibilidade de vivenciar experiências de pertencimento. IT0127 - (Enem) Senhor Juiz O instrumento do “crime” que se arrola Nesse processo de contravenção Não é faca, revólver ou pistola, Simplesmente, doutor, é um violão. Será crime, afinal, será pecado, Será delito de tão vis horrores, Perambular na rua um desgraçado Derramando nas praças suas dores? Mande, pois, libertá-lo da agonia (a consciência assim nos insinua) Não sufoque o cantar que vem da rua, Que vem da noite para saudar o dia. É o apelo que aqui lhe dirigimos, Na certeza do seu acolhimento Juntada desta aos autos nós pedimos E pedimos, enfim, deferimento Disponível em: www.migalhas.com.br. Acesso em: 23 set. 2020 (adaptado). Essa pe�ção de habeas corpus, ao transgredir o rigor da linguagem jurídica, a) permite que a narra�va seja obje�va e repleta de sen�dos denota�vos. b) mostra que o cordel explora termos próprios da esfera do direito. c) demonstra que o jogo de linguagem proposto atenua a gravidade do delito. d) exemplifica como o texto em forma de cordel compromete a solicitação pretendida. e) esclarece que os termos “crime” e “processo de contravenção” são sinônimos. IT0130 - (Enem) A viagem Que coisas devo levar nesta viagem em que partes? As cartas de navegação só servem a quem fica. Com que mapas desvendar um con�nente que falta? Estrangeira do teu corpo tão comum quantas línguas aprender para calar-me? Também quem fica procura um oriente. Também a quem fica cabe uma paisagem nova e a travessia insone do desconhecido e a alegria di�cil da descoberta. O que levas do que fica, o que, do que levas, re�ro? MARQUES, A. M. In: SANT’ANNA, A (Org.). Rua Aribau. Porto Alegre: Tag, 2018. A viagem e a ausência remetem a um repertório poé�co tradicional. No poema, a voz lírica dialoga com essa tradição, repercu�ndo a a) saudade como experiência de apa�a. b) presença da fragmentação da iden�dade. c) negação do desejo como expressão de culpa. d) persistência da memória na valorização do passado. e) revelação de rumos projetada pela vivência da solidão. IT0123 - (Enem) O pavão vermelho Ora, a alegria, este pavão vermelho, está morando em meu quintal agora. Vem pousar como um sol em meu joelho quando é estridente em meu quintal a aurora. Clarim de lacre, este pavão vermelho sobrepuja os pavões que estão lá fora. É uma festa de púrpura. E o assemelho a uma chama do lábaro da aurora. É o próprio doge a se mirar no espelho. E a cor vermelha chega a ser sonora neste pavão pomposo e de chavelho. Pavões lilases possuí outrora. Depois que amei este pavão vermelho, os meus outros pavões foram-se embora. COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura. 2001. 7@professorferretto @prof_ferretto Na construção do soneto, as cores representam um recurso poé�co que configura uma imagem com a qual o eu lírico a) revela a intenção de isolar-se em seu espaço. b) simboliza a beleza e o esplendor da natureza. c) experimenta a fusão de percepções sensoriais. d) metaforiza a conquista de sua plena realização. e) expressa uma visão de mundo mís�ca e espiritualizada. IT0143 - (Enem) Esses chopes dourados [...] quando a geração de meu pai ba�a na minha a minha achava que era normal que a geração de cima só podia educar a de baixo batendo quando a minha geração ba�a na de vocês ainda não sabia que estava errado mas a geração de vocês já sabia e cresceu odiando a geração de cima aí chegou esta hora em que todas as gerações já sabem de tudo e é péssimo ter pertencido à geração do meio tendo errado quando apanhou da de cima e errado quando bateu na de baixo e sabendo que apesar de amaldiçoados éramos todos inocentes. WANDERLEY, J. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Obje�va, 2001 (fragmento). Ao expressar uma percepção de a�tudes e valores situados na passagem do tempo, o eu lírico manifesta uma angús�a sinte�zada na a) compreensão da efemeridade das convicções antes vistas como sólidas. b) consciência das imperfeições aceitas na construção do senso comum. c) revolta das novas gerações contra modelos tradicionais de educação. d) incerteza da expecta�va de mudança por parte das futuras gerações. e) crueldade atribuída à forma de punição pra�cada pelos mais velhos. IT0132 - (Enem) o que será que ela quer essa mulher de vermelho alguma coisa ela quer pra ter posto esse ves�do não pode ser apenas uma escolha casual podia ser um amarelo verde ou talvez azul mas ela escolheu vermelho ela sabe o que ela quer e ela escolheu ves�do e ela é uma mulher então com base nesses fatos eu já posso afirmar que conheço o seu desejo caro watson, elementar: o que ela quer sou euzinho sou euzinho o que ela quer só pode ser euzinho o que mais podia ser FREITAS, A. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2013. No processo de elaboração do poema, a autora confere ao eu lírico uma iden�dade que aqui representa a a) hipocrisia do discurso alicerçado sobre o senso comum. b) mudança de paradigmas de imagem atribuídos à mulher. c) tenta�va de estabelecer preceitos da psicologia feminina. d) importância da correlação entre ações e efeitos causados. e) valorização da sensibilidade como caracterís�ca de gênero. IT0122 - (Enem) Se for possível, manda-me dizer: – É lua cheia. A casa está vazia – 8@professorferretto @prof_ferretto Manda-me dizer, e o paraíso Há de ficar mais perto, e mais recente Me há de parecer teu rosto incerto. Manda-me buscar se tens o dia Tão longo como a noite. Se é verdade Que sem mim só vês monotonia. E se te lembras do brilho das marés De alguns peixes rosados Numas águas E dos meus pés molhados, manda-me dizer: – É lua nova – E reves�da de luz te volto a ver. HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. das Letras, 2018 Falando ao outro, o eu lírico revela-se vocalizando um desejo que remete ao a) ce�cismo quanto à possibilidade do reencontro. b) tédio provocado pela distância �sica do ser amado. c) sonho de autorrealização desenhado pela memória. d) julgamento implícito das a�tudes de quem se afasta. e) ques�onamento sobre o significado do amor ausente. IT0128 - (Enem) Toca a sirene na fábrica, e o apito como um chicote bate na manhã nascente e bate na tua cama no sono da madrugada. Ternuras da áspera lona pelo corpo adolescente. É o trabalho que te chama. Às pressas tomas o banho, tomas teu café com pão, tomas teu lugar no bote no cais do Capibaribe. Deixas chorando na esteira teu filho de mãe solteira. Levas ao lado a marmita, contendo a mesma ração do meio de todo o dia, a carne-seca e o feijão. De tudo quanto ele pede dás só bom-dia ao patrão, e recomeças a luta na engrenagem da fiação. MOTA, M. Canto ao meio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. Nesse texto, a mobilização do uso padrão das formas verbais e pronominais a) ajuda a localizar o enredo num ambiente está�co. b) auxilia na caracterização �sica do personagem principal. c) acrescenta informações modificadoras às ações dos personagens. d) alterna os tempos da narra�va, fazendo progredir as ideias do texto. e) está a serviço do projeto poé�co, auxiliando na dis�nção dos referentes. IT0140 - (Enem) Soneto VII Onde estou? Este sí�o desconheço: Quem fez tão diferenteaquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo �mido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! COSTA, C. M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012. No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma a) angús�a provocada pela sensação de solidão. b) resignação diante das mudanças do meio ambiente. c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido. d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem. e) empa�a entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra. IT0144 - (Enem) Sem acessórios nem som Escrever só para me livrar de escrever. Escrever sem ver, com riscos sen�ndo falta dos acompanhamentos com as mesmas lesmas 9@professorferretto @prof_ferretto e figuras sem força de expressão. Mas tudo desafina: o pensamento pesa tanto quanto o corpo enquanto corto os conec�vos corto as palavras rentes com tesoura de jardim cega e bruta com facão de mato. Mas a marca deste corte tem que ficar nas palavras que sobraram. Qualquer coisa do que desapareceu con�nuou nas margens, nos talos no atalho aberto a talhe de foice no caminho de rato. FREITAS FILHO, A. Máquina da escrever: poesia reunida e revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003. Nesse texto, a reflexão sobre o modo cria�vo aponta para uma concepção de a�vidade poé�ca que põe em evidência o(a) a) angus�ante necessidade de produção, presente em “Escrever só para me livrar/ de escrever”. b) imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de foice/ no caminho de rato”. c) agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes/ com tesoura de jardim/ cega e bruta”. d) inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina:/ o pensamento pesa/ tanto quanto o corpo”. e) conflituosa relação com a inspiração, presente em “sen�ndo falta dos acompanhamentos/ e figuras sem força de expressão”. IT0395 - (Enem PPL) O fim da história Não creio que o tempo Venha comprovar Nem negar que a História Possa se acabar Basta ver que um povo Derruba um czar Derruba de novo Quem pôs no lugar É como se o livro dos tempos pudesse Ser lido trás pra frente, frente pra trás Vem a História, escreve um capítulo Cujo �tulo pode ser “Nunca Mais” Vem o tempo e elege outra história, que escreve Outra parte, que se chama “Nunca É Demais” “Nunca Mais”, “Nunca É Demais”, “Nunca Mais” “Nunca É Demais”, e assim por diante, tanto faz Indiferente se o livro é lido De trás pra frente ou lido de frente pra trás GILBERTO GIL. In: Parabolicamará. Rio de Janeiro: WEA, 1991. Considerando-se o jogo de oposições presente nessa letra e canção, infere-se que a narra�va histórica a) está sujeita a diferentes interpretações. b) é construída pela relação causa e efeito. c) sucede-se em espaços de tempos cíclicos. d) limita-se a fatos relevantes de um grupo social. e) desenvolve-se em torno de uma mesma temá�ca. IT0396 - (Enem PPL) Jon Lord, fundador do DeepPurple, era um caso raro na música. Depois de uma carreira bem-sucedida como tecladista de duas das maiores bandas de rock do planeta, aposentou-se em 2002 para compor peças eruditas. Para ele, clássico e popular eram apenas aspectos de uma mesma en�dade, a boa música. O caminho era quase natural. Tendo aprendido a tocar os clássicos no piano, Lord apaixonou-se pelo rock ao ouvir Buddy Holly e começou a tocar em combos de jazz, rhythm’n’blues e depois rock. Em 1969, aos 27 anos, ele compôs, com a ajuda do maestro Malcolm Arnold, um Concerto para grupo e orquestra, temperando a estrutura de uma peça erudita com a eletricidade agressiva da fase mais cria�va do Deep Purple, a mesma equipe que comporia Smoke on the Water em 1972. SOARES, M. Jon Lord foi um pioneiro na fusão entre rock e erudito. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 16 nov. 2021 (adaptado). A circulação do tecladista Jon Lord (1941-2012) entre gêneros aparentemente distantes como o rock e a música erudita foi possível porque ele a) conheceu muitos países e culturas ao longo das constantes viagens em turnê. b) superou eventuais barreiras esté�cas ao se abrir para novos es�los musicais. c) aventurou-se em novas esté�cas musicais após a aposentadoria da banda. d) reconheceu a limitação de possibilidades de composição da música popular. e) adaptou-se a um repertório musical mais amplo diante do sucesso do grupo. IT0424 - (Enem PPL) Da calma e do silêncio 10@professorferretto @prof_ferretto Quando eu morder a palavra, por favor, não me apressem, quero mascar, rasgar entre os dentes, a pele, os ossos, o tutano do verbo, para assim versejar o âmago das coisas... [...] Quando meus pés abrandarem na marcha, por favor, não me forcem. Caminhar para quê? Deixem-me quedar, deixem-me quieta, na aparente inércia. Nem todo viandante anda estradas, há mundos submersos, que só o silêncio da poesia penetra. EVARISTO, C. Poemas de recordação e outros movimentos. Rio de Janeiro: Malê, 2021 (fragmento). Na reflexão sobre mo�vos e soluções do trabalho com a palavra, o eu lírico defende que a poesia a) reflete as limitações inerentes à sua matéria-prima. b) é um produto relacionado ao sen�mento de angús�a. c) exige o engajamento social para a sua plena realização. d) requer um tempo próprio de amadurecimento e plenitude. e) deve desvincular-se de questões de inspiração meta�sica. IT0492 - (Enem PPL) Razão de ser Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê. LEMINSKI, P. Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2013. Ao abordar o próprio processo de criação, o poeta recorre a exemplificações com o propósito de representar a escrita como uma a�vidade que a) requer a cria�vidade do ar�sta. b) dispensa explicações racionais. c) independe da curiosidade do leitor. d) pressupõe a observação da natureza. e) decorre da livre associação de imagens. IT0520 - (Enem PPL) As cartas de amor deveriam ser fechadas com a língua. Beijadas antes de enviadas. Sopradas. Respiradas. O esforço do pulmão capturado pelo envelope, a letra tremendo como uma pálpebra. Não a cola isenta, neutra, mas a espuma, a gen�leza, a gripe, o contágio. Porque a saliva acalma um machucado. As cartas de amor deveriam ser abertas com os dentes. CARPINEJAR, F. Como no céu. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2005. No texto predomina a função poé�ca da linguagem, pois ele registra uma visão imaginária e singularizada de mundo, construída por meio do trabalho esté�co da linguagem. A função cona�va também contribui para esse trabalho na medida em que o enunciador procura a) influenciar o leitor em relação aos sen�mentos provocados por uma carta de amor, por meio de opiniões pessoais. b) definir com obje�vidade o sen�mento amoroso e a importância das cartas de amor. c) alertar para consequências perigosas advindas de mensagens amorosas. d) esclarecer como devem ser escritas as mensagens sen�mentais nas cartas de amor. e) produzir uma visão ficcional do sen�mento amoroso presente em cartas de amor. 11@professorferretto @prof_ferretto IT0522 - (Enem PPL) TEXTO I A dupla Claudinho e Buchecha foi formada por dois amigos de infância que eram vizinhos na comunidade do Salgueiro. Os cantores iniciaram sua carreira ar�s�ca no início dos anos 1990, cantando em bailes funk de São Gonçalo (RJ), e fizeram muito sucesso com a música Fico assim sem você, em 2002. Buchecha trabalhoupor um bom tempo como office boy e Claudinho atuou como peão de obras e vendedor ambulante. Disponível em: h�p://dicionariompb.com.br. Acesso em: 19 abr. 2018 (adaptado). TEXTO II Ouvi a canção Fico assim sem você no rádio e me apaixonei instantaneamente. Quando isso acontece comigo, não posso fazer nada a não ser trazer a música pra perto de mim e então começar a cantar e tocar sem parar, até que ela se torne minha. A canção caiu como uma luva no repertório do disco e eu contava as horas pra poder gravá-la. CALCANHOTTO, A. Fico assim sem você. Disponível em: www.adrianapar�mpim.com.br. Acesso em: 19 abr. 2018 (adaptado). A letra da canção Fico assim sem você, que circulava em meios populares, veiculada pela grande mídia, começou a integrar o repertório de crianças cujas famílias �nham o hábito de ouvir o que é conhecido como MPB. O novo público que passou a conhecer e apreciar essa música revela a a) legi�mação de certas músicas quando interpretadas por ar�stas de uma parcela específica da sociedade. b) admiração pelas composições musicais realizadas por sujeitos com pouca formação acadêmica. c) necessidade que músicos consagrados têm de buscar novos repertórios nas periferias. d) importância dos meios de comunicação de massa na formação da música brasileira. e) função que a indústria fonográfica ocupa em resgatar músicas da periferia. IT0537 - (Enem PPL) Biografia de Pasárgada Quando eu �nha meus 15 anos e traduzia na classe de grego do D. Pedro II a Ciropédia fiquei encantado com o nome dessa cidadezinha fundada por Ciro, o An�go, nas montanhas do sul da Pérsia, para lá passar os verões. A minha imaginação de adolescente começou a trabalhar, e vi Pasárgada e vivi durante alguns anos em Pasárgada. Mais de vinte anos depois, num momento de profundo desânimo, saltou-me do subconsciente este grito de evasão: “Vou-me embora pra Pasárgada!” Imediatamente sen� que era a célula de um poema. Peguei do lápis e do papel, mas o poema não veio. Não pensei mais nisso. Uns cinco anos mais tarde, o mesmo grito de evasão nas mesmas circunstâncias. Desta vez, o poema saiu quase ao correr da pena. Se há belezas em “Vou-me embora pra Pasárgada!”, elas não passam de acidentes. Não construí o poema, ele construiu-se em mim, nos recessos do subconsciente, u�lizando as reminiscências da infância — as histórias que Rosa, minha ama-seca mulata, me contava, o sonho jamais realizado de uma bicicleta etc. BANDEIRA, M. I�nerário de Pasárgada. São Paulo: Global, 2012. O texto é um depoimento de Manuel Bandeira a respeito da criação de um de seus poemas mais conhecidos. De acordo com esse depoimento, o fazer poé�co em “Vou- me embora pra Pasárgada!” a) acontece de maneira progressiva, natural e pouco intencional. b) decorre de uma inspiração fulminante, num momento de extrema emoção. c) ra�fica as informações do senso comum de que Pasárgada é a representação de um lugar utópico. d) resulta das mais fortes lembranças da juventude do poeta e de seu envolvimento com a literatura grega. e) remete a um tempo da vida de Manuel Bandeira marcado por desigualdades sociais e econômicas. IT0541 - (Enem PPL) Canção No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas... Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas. Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre o mesmo rosto. Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas, a tudo quanto existe alheias. Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento, e perderam a cor que �nham e a lembrança do movimento. E o sorriso que eu te levava 12@professorferretto @prof_ferretto desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim. MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo fundada na a) contradição entre a vontade da espera pelo ser amado e o desejo de fuga. b) expressão do desencanto diante da impossibilidade da realização amorosa. c) associação de imagens díspares indica�vas de esperança no amor futuro. d) recusa à aceitação da impermanência do sen�mento pela pessoa amada. e) consciência da inu�lidade do amor em relação à inevitabilidade da morte. IT0543 - (Enem PPL) A Esbraseia o Ocidente na agonia O sol... Aves em bandos destacados, Por céus de ouro e púrpura raiados, Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia... Delineiam-se além da serrania Os vér�ces de chamas aureolados, E em tudo, em torno, esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia. Um mundo de vapores no ar flutua... Como uma informe nódoa avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua. A natureza apá�ca esmaece... Pouco a pouco, entre as árvores, a lua Surge trêmula, trêmula... Anoitece. CORRÊA, R. Disponível em: www.brasiliana.usp.br. Acesso em: 13 ago. 2017. Composição de formato fixo, o soneto tornou-se um modelo par�cularmente ajustado à poesia parnasiana. No poema de Raimundo Corrêa, remete(m) a essa esté�ca a) as metáforas inspiradas na visão da natureza. b) a ausência de emo�vidade pelo eu lírico. c) a retórica ornamental desvinculada da realidade. d) o uso da descrição como meio de expressividade. e) o vínculo a temas comuns à An�guidade Clássica. IT0555 - (Enem PPL) As montanhas correm agora, lá fora, umas atrás das outras, hos�s e espectrais, desertas de vontades novas que as humanizem, esquecidas já dos an�gos homens lendários que as povoaram e dominaram. Carregam nos seus dorsos poderosos as pequenas cidades decadentes, como uma doença aviltante e tenaz, que se aninhou para sempre em suas dobras. Não podendo matá-las de todo ou arrancá-las de si e vencer, elas resignam-se e as ocultam com sua vegetação escura e densa, que lhes serve de coberta, e resguardam o seu sonho imperial de ferro e ouro. PENNA, C. Fronteira. Rio de Janeiro: Ar�um, 2001. As soluções de linguagem encontradas pelo narrador projetam uma perspec�va lírica da paisagem contemplada. Essa projeção alinha-se ao poé�co na medida em que a) explora a iden�dade entre o homem e a natureza. b) reveste o inanimado de vitalidade e ressen�mento. c) congela no tempo a prosperidade de an�gas cidades. d) destaca a esté�ca das formas e das cores da paisagem. e) captura o sen�do da ruína causada pela extração mineral. IT0560 - (Enem PPL) Quantos há que os telhados têm vidrosos E deixam de a�rar sua pedrada, De sua mesma telha receiosos. Adeus, praia, adeus, ribeira, De regatões tabaquista, Que vende gato por lebre Querendo enganar a vista. Nenhum modo de desculpa Tendes, que valer-vos possa: Que se o cão entra na igreja, É porque acha aberta a porta. GUERRA, G. M. In: LIMA, R. T. Abecê de folclore. São Paulo: Mar�ns Fontes, 2003 (fragmento). Ao organizar as informações, no processo de construção do texto, o autor estabelece sua intenção comunica�va. Nesse poema, Gregório de Matos explora os ditados populares com o obje�vo de 13@professorferretto @prof_ferretto a) enumerar a�tudes. b) descrever costumes. c) demonstrar sabedoria. d) recomendar precaução. e) cri�car comportamentos. IT0567 - (Enem PPL) E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governador do Estado] a serraria, o descaroçador e o estábulo. Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o banheiro carrapa�cida. De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar. — Pois sim senhor. Quando V. Exa. vier aqui outra vez, encontrará essa gente aprendendo car�lha. RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1991. O fragmento do romance de Graciliano Ramos dialoga com o contexto da Primeira República no Brasil, ao focalizar o(a) a) derrocada de prá�cas clientelistas. b) declínio do an�go atraso socioeconômico. c) liberalismo desapartado de favores do Estado. d) fortalecimento de polí�cas públicas educacionais. e) aliança entre a elite agrária e os dirigentespolí�cos. IT0573 - (Enem PPL) Filha do compositor Paulo Leminski lança disco com suas canções “Leminskanções” dá novos arranjos a 24 composições do poeta Frequentemente, a cantora e compositora Estrela Ruiz é ques�onada sobre a influência da poesia de seu pai, Paulo Leminski, na música que ela produz. “A minha infância foi música, música, música”, responde veementemente, lembrando que, antes de poeta, Leminski era compositor. Estrela frisa a faceta musical do pai em Leminskanções. Duplo, o álbum soma Essa noite vai ter sol, com 13 composições assinadas apenas por Leminski, e Se nem for terra, se transformar, que tem 11 parcerias com nomes como sua mulher, Alice Ruiz, com quem compôs uma única faixa, Itamar Assumpção e Moraes Moreira. BOMFIM, M. Disponível em: h�p://cultura.estadao.com.br. Acesso em: 22 ago. 2014 (adaptado). Os gêneros textuais são caracterizados por meio de seus recursos expressivos e suas intenções comunica�vas. Esse texto enquadra-se no gênero a) biografia, por fazer referência à vida da ar�sta. b) relato, por trazer o depoimento da filha do ar�sta. c) no�cia, por informar ao leitor sobre o lançamento do disco. d) resenha, por apresentar as caracterís�cas do disco. e) reportagem, por abordar peculiaridades sobre a vida da ar�sta. IT0580 - (Enem PPL) esse cão que me segue é minha família, minha vida ele tem frio mas não late nem pede ele sabe que o que eu tenho divido com ele, o que eu não tenho também divido com ele ele é meu irmão ele é que é meu dono bicho se é por des�no sina ou sorte só faltando saber se bicho decente bicho de casa, bicho de carro, bicho no trânsito, se bicho sem norte na fila se bicho no mangue, se bicho na brecha se bicho na mira, se bicho no sangue catar papel é profissão, catar papel revela o segredo das coisas, tem muita coisa sendo jogada fora muita pessoa sendo jogada fora. OLIVEIRA, V. L. O músculo amargo do mundo. São Paulo: Escrituras, 2014. No poema, os elementos presentes do campo de percepção do eu lírico evocam um realinhamento de significados, uma vez que a) emerge a consciência do humano como matéria de descarte. b) reside na eventualidade do acaso a condição do indivíduo. c) ocorre uma inversão de papéis entre o dono e seu cão. d) se instaura um ambiente de caos no mosaico urbano. e) se atribui aos rejeitos uma valorização imprevista. IT0584 - (Enem PPL) Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as; �nha gasto muito dinheiro, precisava casar, mas casar com uma menina ingênua e pobre, porque é nas classes pobres que se encontra mais vergonha e menos bandalheira. Ora, Maria do Carmo parecia-lhe uma criatura simples, sem essa tendência fatal das mulheres modernas para o adultério, uma menina que até chorava 14@professorferretto @prof_ferretto na aula simplesmente por não ter respondido a uma pergunta do professor! Uma rapariga assim era um caso esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma sociedade roída por quanto vício há no mundo. Ia concluir o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria seriamente no caso. A Maria do Carmo estava mesmo a calhar: pobrezinha, mas inocente... CAMINHA, A. A normalista. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 16 maio 2016. Alinhado às concepções do Naturalismo, o fragmento do romance de Adolfo Caminha, de 1893, iden�fica e destaca nos personagens um(a) a) compleição moral condicionada ao poder aquisi�vo. b) temperamento inconstante incompa�vel com a vida conjugal. c) formação intelectual escassa relacionada a desvios de conduta. d) laço de dependência ao projeto de reeducação de inspiração posi�vista. e) sujeição a modelos representados por estra�ficações sociais e de gênero. IT0587 - (Enem PPL) Talvez julguem que isto são voos de imaginação: é possível. Como não dar largas à imaginação, quando a realidade vai tomando proporções quase fantás�cas, quando a civilização faz prodígios, quando no nosso próprio país a inteligência, o talento, as artes, o comércio, as grandes ideias, tudo pulula, tudo cresce e se desenvolve? Na ordem dos melhoramentos materiais, sobretudo, cada dia fazemos um passo, e em cada passo realizamos uma coisa ú�l para o engrandecimento do país. ALENCAR, J. Ao correr da pena. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 12 ago. 2013. No fragmento da crônica de José de Alencar, publicada em 1854, a temá�ca nacionalista constrói-se pelo elogio ao(à) a) passado glorioso. b) progresso nacional. c) inteligência brasileira. d) imponência civilizatória. e) imaginação exacerbada. IT0596 - (Enem PPL) Tenho visto criaturas que trabalham demais e não progridem. Conheço indivíduos preguiçosos que têm faro: quando a ocasião chega, desenroscam-se, abrem a boca e engolem tudo. Eu não sou preguiçoso. Fui feliz nas primeiras tenta�vas e obriguei a fortuna a ser-me favorável nas seguintes. Depois da morte do Mendonça, derrubei a cerca, naturalmente, e levei-a para além do ponto em que estava no tempo de Salus�ano Padilha. Houve reclamações. —Minhas senhoras, Seu Mendonça pintou o diabo enquanto viveu. Mas agora é isto. E quem não gostar, paciência, vá à jus�ça. Como a jus�ça era cara, não foram à jus�ça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralí�co de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz. Violências miúdas passaram despercebidas. As questões mais sérias foram ganhas no foro, graças às chicanas de João Nogueira. Efetuei transações arriscadas, endividei-me, importei maquinismos e não prestei atenção aos que me censuravam por querer abarcar o mundo com as pernas. Iniciei a pomicultura e a avicultura. Para levar os meus produtos ao mercado, comecei uma estrada de rodagem. Azevedo Gondim compôs sobre ela dois ar�gos, chamou- me patriota, citou Ford e Delmiro Gouveia. Costa Brito também publicou uma nota na Gazeta, elogiando-me e elogiando o chefe polí�co local. Em consequência mordeu-me cem mil réis. RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1990. O trecho, de São Bernardo, apresenta um relato de Paulo Honório, narrador-personagem, sobre a expansão de suas terras. De acordo com esse relato, o processo de prosperidade que o beneficiou evidencia que ele 15@professorferretto @prof_ferretto a) revela-se um empreendedor capitalista pragmá�co que busca o êxito em suas realizações a qualquer custo, ignorando princípios é�cos e valores humanitários. b) procura adequar sua a�vidade produ�va e função de empresário às regras do Estado democrá�co de direito, ajustando o interesse pessoal ao bem da sociedade. c) relata aos seus interlocutores fatos que lhe ocorreram em um passado distante, e enumera ações que põem em evidência as suas muitas virtudes de homem do campo. d) demonstra ser um homem honrado, patriota e audacioso, atributos ressaltados pela realização de ações que se ajustam ao princípio de que os fins jus�ficam os meios. e) amplia o seu patrimônio graças ao esforço pessoal, contando com a sorte e a capacidade de inicia�va, sendo um exemplo de empreendedor com responsabilidade social. IT0598 - (Enem PPL) — Recusei a mão de minha filha, porque o senhor é… filho de uma escrava. — Eu? — O senhor é um homem de cor!… Infelizmente esta é a verdade… Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio: — Já vê o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi muito escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor porém não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!… Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses. AZEVEDO, A. O mulato. São Paulo: Escala, 2008. Influenciada pelo ideário cien�ficista do Naturalismo, a obra destaca o modo como o mulato era visto pela sociedade de finsdo século XIX. Nesse trecho, Manoel traduz uma concepção em que a a) miscigenação racial desqualificava o indivíduo. b) condição econômica anulava os conflitos raciais. c) discriminação racial era condenada pela sociedade. d) escravidão negava o direito da negra à maternidade. e) união entre mes�ços era um risco à hegemonia dos brancos. IT0606 - (Enem PPL) Chamou-me o bragan�no e levou-me pelos corredores e pá�os até ao hospício propriamente. Aí é que percebi que ficava e onde, na seção, na de indigentes, aquela em que a imagem do que a Desgraça pode sobre a vida dos homens é mais formidável. O mobiliário, o vestuário das camas, as camas, tudo é de uma pobreza sem par. Sem fazer monopólio, os loucos são da proveniência mais diversa, originando-se em geral das camadas mais pobres da nossa gente pobre. São de imigrantes italianos, portugueses e outros mais exó�cos, são os negros roceiros, que teimam em dormir pelos desvãos das janelas sobre uma esteira esmolambada e uma manta sórdida; são copeiros, cocheiros, moços de cavalariça, trabalhadores braçais. No meio disto, muitos com educação, mas que a falta de recursos e proteção a�ra naquela geena social. BARRETO, L. Diário do hospício e O cemitério dos vivos. São Paulo: Cosac& Naify, 2010. No relato de sua experiência no sanatório onde foi interno, Lima Barreto expõe uma realidade social e humana marcada pela exclusão. Em seu testemunho, essa reclusão demarca uma a) medida necessária de intervenção terapêu�ca. b) forma de punição indireta aos hábitos desregrados. c) compensação para as desgraças dos indivíduos. d) oportunidade de ressocialização em um novo ambiente. e) conveniência da invisibilidade a grupos vulneráveis e periféricos. IT0614 - (Enem PPL) A madrasta retalhava um tomate em fa�as, assim finas, capaz de envenenara todos. Era possível entrever o arroz branco do outro lado do tomate, tamanha a sua transparência. Com a saudade evaporando pelos olhos, eu insis�a em jus�ficar a economia que administrava seus gestos. Afiando a faca no cimento frio da pia, ela cortava o tomate vermelho, sanguíneo, maduro, como se degolasse cada um de nós. Seis. O pai, amparado pela prateleira da cozinha, com o suor desinfetando o ar, tamanho o cheiro do álcool, reparava na fome dos filhos. Enxergava o manejo da faca desafiando o tomate e, por 16@professorferretto @prof_ferretto certo, nos pensava devorados pelo vento ou tempestade, segundo decretava a nova mulher. Todos os dias — co�dianamente — havia tomate para o almoço. Eles germinavam em todas as estações. Jabu�caba, manga, laranja, floresciam cada uma em seu tempo. Tomate, não. Ele fru�ficava, con�nuamente, sem demandar adubo além do ciúme. Eu desconhecia se era mais importante o tomate ou o ritual de cortá-lo. As fa�as delgadas escreviam um ódio e só aqueles que se sentem intrusos ao amor podem tragar. QUEIRÓS, B. C. Vermelho amargo. São Paulo: Cosac & Naify, 2011. Ao recuperar a memória da infância, o narrador destaca a importância do tomate nos almoços da família e a ação da madrasta ao prepará-lo. A insistência nessa imagem é um procedimento esté�co que evidencia a a) saudade do menino em relação à sua mãe. b) insegurança do pai diante da fome dos filhos. c) raiva da madrasta pela indiferença do marido. d) resistência das crianças quanto ao carinho da madrasta. e) convivência conflituosa entre o menino e a esposa do pai. IT0617 - (Enem PPL) Fazer 70 anos Fazer 70 anos não é simples. A vida exige, para o conseguirmos, perdas e perdas no ín�mo do ser, como, em volta do ser, mil outras perdas. […] Ó José Carlos, irmão-em-Escorpião! Nós o conseguimos… E sorrimos de uma vitória comprada por que preço? Quem jamais o saberá? ANDRADE, C. D. Amar se aprende amando. São Paulo: Círculo do Livro, 1992 (fragmento). O pronome oblíquo “o”, nos versos “A vida exige, para o conseguirmos” e “Nós o conseguimos”, garante a progressão temá�ca e o encadeamento textual, recuperando o segmento a) “Ó José Carlos”. b) “perdas e perdas”. c) “A vida exige”. d) “Fazer 70 anos”. e) “irmão-em-Escorpião”. IT0680 - (Enem PPL) Ave a raiva desta noite A baita lasca fúria abrupta Louca besta vaca solta Ruiva luz que contra o dia Tanto e tarde madrugada. LEMINSKI, P. Distraídos venceremos. São Paulo: Brasiliense, 2002 (fragmento). No texto de Leminski, a linguagem produz efeitos sonoros e jogos de imagens. Esses jogos caracterizam a função poé�ca da linguagem, pois a) obje�vam convencer o leitor a pra�car uma determinada ação. b) transmitem informações, visando levar o leitor a adotar um determinado comportamento. c) visam provocar ruídos para chamar a atenção do leitor. d) apresentam uma discussão sobre a própria linguagem, explicando o sen�do das palavras. e) representam um uso ar�s�co da linguagem, com o obje�vo de provocar prazer esté�co no leitor. IT0695 - (Enem PPL) Fogo frio O Poeta Fogo frio A névoa que sobe dos campos, das grotas, do fundo dos vales, é o hálito quente da terra friorenta. O Lavrador Engana-se, amigo. Aquilo é fumaça que sai da geada. O Poeta Fumaça, que eu saiba, somente de chama e brasa é que sai! O Lavrador E, acaso, a geada não é fogo branco caído do céu, tostando tudinho, crestando tudinho, queimando tudinho, sem pena, sem dó? FORNARI, E. Trem da serra. Porto Alegre: Acadêmica, 1987. Neste diálogo poé�co, encena-se um embate de ideias entre o Poeta e o Lavrador, em que 17@professorferretto @prof_ferretto a) a vitória simbólica é dada ao discurso do lavrador e tem como efeito a renovação de uma linguagem poé�ca cristalizada. b) as duas visões têm a mesma importância e são equivalentes como experiência de vida e a capacidade de expressão. c) o autor despreza a sabedoria popular e traça uma caricatura do discurso do lavrador, simplório e repe��vo. d) as imagens contraditórias de frio e fogo referidas à geada compõem um paradoxo que o poema não é capaz de organizar. e) o discurso do lavrador faz uma personificação da natureza para explicar o fenômeno climá�co observado pelos personagens. IT0667 - (Enem PPL) O rap cons�tui-se em uma expressão ar�s�ca por meio da qual os MCs relatam poe�camente a condição social em que vivem e retratam suas experiências co�dianas. SOUZA, J.; FIALHO, V. M.; ARALDI, J. Hip hop: da rua para a escola. Porto Alegre: Sulina, 2008. O “relato poé�co” é uma caracterís�ca fundamental desse gênero musical, em que o a) MC canta de forma melodiosa as letras, que retratam a complexa realidade em que se encontra. b) rap se limita a usar sons eletrônicos nas músicas, que seriam responsáveis por retratar a realidade da periferia. c) rap se caracteriza pela proximidade das notas na melodia, em que a letra é mais recitada do que cantada, como em uma poesia. d) MC canta enquanto outros músicos o acompanham com instrumentos, tais como o contrabaixo elétrico e o teclado. e) MC canta poemas amplamente conhecidos, fundamentando sua atuação na memorização de suas letras. IT0709 - (Fuvest) Tempo de nos aquilombar É tempo de caminhar em fingido silêncio, e buscar o momento certo no grito, aparentar fechar um olho evitando o cisco e abrir escancaradamente o outro. É tempo de fazer os ouvidos moucos para os vazios lero-leros, e cuidar dos passos assuntando as vias, ir se vigiando atento, que o buraco é fundo. É tempo de ninguém se soltar de ninguém, mas olhar fundo na palma aberta a alma de quem lhe oferece o gesto. O laçar de mãos não pode ser algemas, sim acertada tá�ca, necessário esquema. É tempo de formar novos quilombos, em qualquer lugar que estejamos e que venham dias futuros, salve 2020 A mís�ca quilombola persiste afirmando: "a liberdade é uma luta constante". Conceição Evaristo. Jornal O Globo, 31/12/2019. Considerando o enfoque do texto na denúncia social, o eu lírico revela, predominantemente, a) a crí�ca às reações da nossa sociedade frente aos problemas que ficaram no passado. b) as jus�fica�vas para a segregação social no mundo contemporâneo. c) as tensões sociais presentes há tempos, sob a luzdos embates do momento atual. d) a importância de contornar os problemas sociais do passado. e) as peculiaridades das diferentes classes sociais ao enfrentar os problemas sociais atuais. IT0714 - (Fuvest) O SOBREVIVENTE Impossível compor um poema a essa altura da evolução [da humanidade. Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de [verdadeira poesia O úl�mo trovador morreu em 1914. Tinha um nome de que ninguém se lembra mais. Há máquinas terrivelmente complicadas para as [necessidades mais simples. Se quer fumar um charuto aperte um botão. Paletós abotoam-se por eletricidade. Amor se faz pelo sem fio. Não precisa estômago para digestão. Um sábio declarou a O jornal que ainda falta muito para a�ngirmos um nível razoável de cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto. Os homens não melhoraram e matam-se como percevejos. Os percevejos heroicos renascem. Inabitável o mundo é cada vez mais habitado. 18@professorferretto @prof_ferretto E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo [dilúvio (Desconfio que escrevi um poema.) Carlos Drummond de Andrade. Alguma Poesia, 1930. Entre o primeiro e o úl�mo verso, há uma aparente contradição, que, todavia, não se sustenta porque a) os entraves à plenitude lírica são removidos. b) os trovadores ainda inspiramos enamorados. c) a sabedoria controla o poder das máquinas. d) os heróis sempre ressuscitam neste mundo. e) a poesia resiste à nega�vidade do seu tempo. IT0715 - (Fuvest) [...] Um sino de vidro claro, uma ampola cristalina e contrá�l, flutua calma no seu caminho. “Peixinho, peixinho, deixe-a ir! Peixinho, peixinho, se apresse em fugir!” Ali atrás, longos fios transparentes se arrastam e os olhos do peixinho a um banquete convidam. “Serão, por acaso, minhocas o que eu vejo de repente?” “Peixinho, peixinho, deixe-me alertar! Peixinho, peixinho, não se deixe enganar!” Próximo demais o peixinho chegou: “Ai, ai, ai, agora ela me pegou! Firme me amarrou e não consigo me soltar! Firme me envolve e arde de matar!” [...]. Tradução e adaptação de Flavia Souza, Stefano Hagen e Luiz Fontes. O fragmento de poema apresentado foi escrito pelo naturalista Fritz Müller para suas filhas. O trecho do poema permite afirmar que a predação é realizada por um/uma a) camarão. b) água-viva. c) tubarão. d) lula. e) plâncton. IT0721 - (Fuvest) O QUINTO IMPÉRIO Triste de quem vive em casa, Contente com o seu lar, Sem que um sonho, no erguer de asa, Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar! Triste de quem é feliz! Vive porque a vida dura. Nada na alma lhe diz Mais que a lição da raiz — Ter por vida a sepultura. Eras sobre eras se somem No tempo que em eras vem. Ser descontente é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! E assim, passados os quatro Tempos do ser que sonhou, A terra será teatro Do dia claro, que no atro Da erma noite começou. Grécia, Roma, Cristandade, Europa — os quatro se vão Para onde vai toda idade. Quem vem viver a verdade Que morreu D. Sebas�ão? Fernando Pessoa. Mensagem. De acordo com o texto, a ideia de felicidade, também nuclear em outros poemas de Mensagem, a) alimenta as aspirações humanas. b) compreende-se como superação da morte. c) iden�fica-se com o des�no heroico. d) compõe a mediocridade co�diana. e) situa-se como finalidade da existência. IT0722 - (Fuvest) “Migna terra tê parmeras Che ganta inzima o sabiá. As aves che stó aqui, Tambê tu�os sabi gorgeá. (...) Os rio lá sô maise grandi Dus rio di tu�as naçó; I os ma�o si perdi di vista, Nu meio da imensidó.” BANANÉRE, Juó. “Migna terra”. La Divina Increnca. São Paulo: Irmãos Marrano Editora, 1924 Assinale a alterna�va que melhor expressa as relações entre o poema e a inserção social de imigrantes italianos 19@professorferretto @prof_ferretto no Brasil. a) O poema traça uma analogia entre a paisagem natural da Itália e do Brasil, sob os olhos de um imigrante. b) A referência à oralidade era um reconhecimento à contribuição desta comunidade para a nova literatura brasileira. c) O poema tema�za a revolta dos imigrantes camponeses italianos ao chegarem nas fazendas de café. d) O caráter lírico presente no poema indica a emo�vidade e o desejo de aceitação por parte dos imigrantes. e) A linguagem adotada no poema expressava uma maneira caricata de representar o idioma daquela comunidade. IT0726 - (Fuvest) Nun'Álvares Pereira Que auréola te cerca? É a espada que, volteando, Faz que o ar alto perca Seu azul negro e brando. Mas que espada é que, erguida, Faz esse halo no céu? É Excalibur, a ungida, Que o Rei Artur te deu. 'Sperança consumada, S. Portugal em ser, Ergue a luz da tua espada Para a estrada se ver! Fernando Pessoa. In: “A Coroa”, Parte I, Mensagem. A primeira parte de Mensagem, organizada como um correla�vo poé�co do Brasão das Armas de Portugal, perfila uma série de figuras mí�cas e históricas que teriam sido responsáveis pela formação nacional portuguesa. A seleção de Nun'Álvares Pereira para ocupar o lugar da Coroa a) sugere, pela imagem do halo de luz, que a verdadeira nobreza é de espírito. b) destaca, através da referência ao mito arturiano, o seu sangue bretão. c) dis�ngue, por meio do substan�vo “ ́ sperança”, um regente digno de seu posto. d) enaltece, pela repe�ção da palavra espada, a guerra como estrada para o futuro. e) indica, associada ao adje�vo “consumada”, uma visão desenganada da história. IT0757 - (Fuvest) Confidência do Itabirano Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem [horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, �ve gado, �ve fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do mundo. Tendo em vista que o poema de Drummond contém referências a aspectos geográficos e históricos determinados, considere as seguintes afirmações: I. O poeta é “de ferro” na medida em que é na�vo de região caracterizada pela existência de importantes jazidas de minério de ferro, intensamente exploradas. II. O poeta revela conceber sua iden�dade como tributária não só de uma geografia, mas também de uma história, que é, igualmente, a da linhagem familiar a que pertence. III. A ausência de mulheres de que fala o poeta refere se à ampla predominância de população masculina, na zona de mineração intensiva de que ele é originário. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) III, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III. 20@professorferretto @prof_ferretto IT0758 - (Fuvest) Confidência do Itabirano Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem [horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, �ve gado, �ve fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira éapenas uma fotografia na parede. Mas como dói! Carlos Drummond de Andrade, Sen�mento do mundo. No texto de Drummond, o eu lírico a) considera sua origem itabirana como causadora de deficiências que ele almeja superar. b) revela se incapaz de efe�vamente comunicar se, dado o caráter férreo de sua gente. c) ironiza a si mesmo e sa�riza a rus�cidade de seu passado semirrural mineiro. d) dirige se diretamente ao leitor, tornando assim patente o caráter confidencial do poema. e) cri�ca, em chave modernista, o bucolismo da poesia árcade mineira. IT0761 - (Fuvest) Examine a figura. Os versos de Carlos Drummond de Andrade que mais adequadamente traduzem a principal mensagem da figura acima são: a) b) c) d) e) IT0780 - (Unesp) Leia um poema do português Eugênio de Castro (1869- 1944). MÃOS Mãos de veludo, mãos de már�r e de santa, O vosso gesto é como um balouçar de palma; O vosso gesto chora, o vosso gesto geme, o vosso [gesto canta! Mãos de veludo, mãos de már�r e de santa, 21@professorferretto @prof_ferretto rolas à volta da negra torre da minh'alma. Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes, Caridosas Irmãs do hospício da minh'alma, O vosso gesto é como um balouçar de palma, Pálidas mãos, que sois como dois lírios doentes... Mãos afiladas, mãos de insigne formosura, Mãos de pérola, mãos cor de velho marfim, Sois dois lenços, ao longe, acenando por mim, Duas velas à flor duma baía escura. Mimo de carne, mãos magrinhas e graciosas, Dos meus sonhos de amor, quentes e brandos ninhos, Divinas mãos que me heis coroado de espinhos, Mas que depois me haveis coroado de rosas! Afilhadas do luar, mãos de rainha, Mãos que sois um perpétuo amanhecer, Alegrai, como dois ne�nhos, o viver Da minha alma, velha avó entrevadinha. (Obras poé�cas, 1968.) Verifica-se certa liberdade métrica na construção do poema. Na primeira estrofe, tal liberdade comprova-se pela a) construção do hendecassílabo fora dos rígidos modelos clássicos. b) variedade do verso decassílabo e do verso alexandrino. c) presença de um verso com número menor de sílabas que os alexandrinos. d) desobediência aos padrões de pontuação tradicionais do decassílabo. e) presença de dois versos com número maior de sílabas que os alexandrinos. IT0792 - (Unesp) Carpe diem: Esse conhecido lema, extraído das Odes do poeta la�no Horácio (65 a.C.-8 a.C.), sinte�za expressivamente o seguinte mo�vo: saber aproveitar tudo o que se apresente de posi�vo (mesmo que pouco) e transitório. (Renzo Tosi. Dicionário de sentenças la�nas e gregas, 2010. Adaptado.) Das estrofes extraídas da produção poé�ca de Fernando Pessoa (1888-1935), aquela em que tal mo�vo se manifesta mais explicitamente é: a) b) c) d) e) IT0796 - (Unesp) Des�nada unicamente à exportação, em função da qual se organiza e mantém a exploração, tal a�vidade econômica desenvolveu-se à margem das necessidades próprias da sociedade brasileira. No alvorecer do século XIX, essa a�vidade econômica, que se iniciara sob tão brilhantes auspícios e absorvera durante cem anos o melhor das atenções e dos esforços do país, já tocava sua ruína final. Os prenúncios dessa ruína já se faziam aliás sen�r para os observadores menos cegos pela cobiça desde longa data. De meados do século XVIII em diante, essa a�vidade econômica, contudo, não fizera mais que declinar. 22@professorferretto @prof_ferretto (Caio Prado Júnior. Formação do Brasil contemporâneo, 1999. Adaptado.) A a�vidade econômica a que o texto se refere está presente em: a) b) c) d) 23@professorferretto @prof_ferretto e) IT0804 - (Unesp) Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa. Onde estou? Este sí�o desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado, E em contemplá-lo, �mido, esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado; Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! (Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.) Considerando o contexto histórico-geográfico de produção do soneto, as transformações na paisagem assinaladas pelo eu lírico relacionam-se à seguinte a�vidade econômica: a) indústria. b) extra�vismo vegetal. c) agricultura. d) extra�vismo mineral. e) pecuária. IT0814 - (Unesp) Leia a letra da canção “Bom conselho”, de Chico Buarque, composta em 1972. Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inú�l dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado: Quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade (www.chicobuarque.com.br). Na canção, o eu lírico modifica uma série de provérbios bastante conhecidos. A maioria das formulações originais desses provérbios contém um apelo a) ao livre-arbítrio. b) ao o�mismo. c) à solidariedade. d) ao conformismo. e) à transgressão. IT0840 - (Unesp) Leia o poema de Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). O Azulão e os �co-�cos Do começo ao fim do dia, um belo Azulão cantava, e o pomar que atento ouvia o seus trilos de harmonia, [5] cada vez mais se enflorava. Se um �co-�co e outras aves vaiavam sua canção... mais doce ainda se ouvia a flauta desse Azulão. [10] Um papagaio, surpreso de ver o grande desprezo, do Azulão, que os desprezava, um dia em que ele cantava e um bando de �co-�cos [15] numa algazarra o vaiava, lhe perguntou: “Azulão, olha, dize-me a razão 24@professorferretto @prof_ferretto por que, quando estás cantando e recebes uma vaia [20] desses garotos joviais, tu con�nuas gorgeando e cada vez canta mais?!” Numas volatas sonoras, o Azulão lhe respondeu: [25] “Caro Amigo! Eu prezo muito esta garganta sublime e esta voz maravilhosa... este dom que Deus me deu! Quando, há pouco, eu descantava, [30] pensando não ser ouvido nestes matos por ninguém, um Sabiá*, que me escutava, num capoeirão, escondido, gritou de lá: — meu colega, [35] bravos! Bravos... muito bem! Pergunto agora a você: quem foi um dia aplaudido pelo príncipe dos cantos de celestes harmonias, [40] (irmão de Gonçalves Dias, um dos cantores mais ricos...) — que caso pode fazer das vaias dos �co-�cos?” *Nota do editor: Simbolicamente, Rui Barbosa está representado neste Sabiá, pois foi a “Águia de Haia” um dos maiores admiradores de Catulo e prefaciador do seu livro Poemas bravios. (Poemas escolhidos, s/d.) Na fala do papagaio, dos versos de números 16 a 22, uma das formas verbais não apresenta, como deveria, flexão correspondente à mesma pessoa grama�cal das demais. Trata-se de a) con�nuas. b) dize. c) canta. d) recebes. e) estás. IT0851 - (Unesp) Carpe diem. É um lema la�no que significa, lato sensu, “aproveita bem o dia” ou “aproveita o momento fugaz”. Esta expressão tem paralelo em línguas modernas, como no inglês: “Take �me while �me is, for �me will away”. (Carios Alberto de Macedo Rocha, Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, 2011. Adaptado) Tal lema manifesta-se mais explicitamente nos seguintes versos de Fernando Pessoa: a) Hoje, Neera, não nos escondamos, Nada nos falta, porque nada somos. Não esperamos nada E temos frio ao sol. b) A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós- próprios. c) Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no [Universo...Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra [qualquerPor que eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura... d) Sofro, Lídia, do medo do des�no. A leve pedra que um momento ergue As lisas rodas do meu carro, aterra Meu coração. e) Vem sentar- se comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente