Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
19 R.I. (Revisão Intercalada) Literatura 1. (FUVEST) Não mais, musa, não mais, que a lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida, E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que mais se acende o engenho Não no dá a pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Duma austera, apagada e vil tristeza. Luis de Camões. Os Lusíadas. a) Cite uma característica típica e uma característica atípica da poesia épica, presentes na estrofe. Justifique. b) Relacione o conteúdo dessa estrofe com o momento vivido pelo Império Português por volta de 1572, ano da publicação de Os Lusíadas. 2. (UNICAMP 2021) Peroração, do latim perora tio, perorationis, de perorare, significa concluir, arrematar, acabar. Corresponde à parte final do sermão, caracterizada geralmente pela recapitulação, pela amplificação de uma ideia e pela comoção do auditório. Sua finalidade última é comover e mover os ouvintes, isto é, emocionar e mover o ânimo do público para a ação. (Adaptado de Flávio Antônio Fernandes Reis, “Peroração”. Disponível em www.edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/peroracao. Acessado em 06/10/2020.) “Mortos, mortos, desenganai estes vivos! Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos foram os vossos, quando entrastes e saístes pelas portas da morte. (...) Entre essas duas portas se acha subitamente o homem no momento da morte, sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde não sabe, e para sempre. Oh que transe tão apertado! Oh que passo tão estreito! Oh que momento tão terrível!” (Antonio Vieira, “Sermão de 1672”. Sermões de Quarta-feira de Cinza. A arte de morrer: São Paulo: Nova Alexandria,1994, p. 65.) a) Identifique e explique as duas estratégias retóricas utilizadas por Vieira ao encaminhar-se para a conclusão do Sermão de 1672. b) Com que sentimentos o pregador busca sensibilizar os ouvintes? Que ação procura estimular nos cristãos? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Triste Bahia Gregório de Matos Triste Bahia! Ó quão dessemelhante Estás e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado, Rica te vi eu já, tu a mi abundante. A ti trocou-te a máquina mercante, Que em tua larga barra tem entrado, A mim foi-me trocando, e tem trocado, Tanto negócio e tanto negociante. Deste em dar tanto açúcar excelente Pelas drogas inúteis, que abelhuda Simples aceitas do sagaz Brichote. Oh se quisera Deus que de repente Um dia amanheceras tão sisuda Que fora de algodão o teu capote! (MATOS, Gregório de. Seleção de Obras Poéticas. São Paulo: A Biblioteca Virtual do Estante Brasileiro/USP, 1998, p.5-6) 3. (UFJF-PISM 3 2021 - ADAPTADA) O soneto de Gregório de Matos apresenta uma crítica ao Brasil seiscentista, marcado pela desigualdade e colonialidade. A partir da leitura deste poema, responda: qual contradição é denunciada no poema? 4. (UNICAMP) O trecho abaixo corresponde à parte final do primeiro Sermão de Quarta-Feira de Cinza, pregado em 1672 pelo Padre Antonio Vieira. “Em que cuidamos, e em que não cuidamos? Homens mortais, homens imortais, se todos os dias podemos morrer, se cada dia nos imos chegando mais à morte, e ela a nós; não se acabe com este dia a memória da morte. Resolução, resolução uma vez, que sem resolução nada se faz. E para que esta resolução dure, e não seja como outras, tomemos cada dia uma hora em que cuidemos bem naquela hora. De vinte e quatro horas que tem o dia, por que se não dará uma hora à triste alma? Esta é a melhor devoção e mais útil penitência, e mais agradável a Deus, que podeis fazer nesta Quaresma. (...) Torno a dizer para que vos fique na memória: Quanto tenho vivido? Como vivi? Quanto posso viver? Como é bem que viva? Memento homo.” (Antonio Vieira, Sermões de Quarta-Feira de Cinza. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016, p.102.) a) Levando em conta o trecho acima e o propósito argumentativo do Sermão, explique por que, segundo Vieira, se deve preservar “a memória da morte”. b) Considere as perguntas presentes no trecho acima e explique sua função para a mensagem final do Sermão. 5. (UNICAMP) Leia o soneto abaixo, de Luís de Camões: “Cá nesta Babilônia, donde mana matéria a quanto mal o mundo cria; cá donde o puro Amor não tem valia, que a Mãe, que manda mais, tudo profana; cá, onde o mal se afina e o bem se dana, e pode mais que a honra a tirania; cá, onde a errada e cega Monarquia cuida que um nome vão a desengana; cá, neste labirinto, onde a nobreza, com esforço e saber pedindo vão às portas da cobiça e da vileza; 20 R.I. (Revisão Intercalada) cá neste escuro caos de confusão, cumprindo o curso estou da natureza. Vê se me esquecerei de ti, Sião!” (Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/bv000164.pdf. Acessado em 08/09/2015.) a) Uma oposição espacial configura o tema e o significado desse poema de Camões. Identifique essa oposição, indicando o seu significado para o conjunto dos versos. b) Identifique nos tercetos duas expressões que contemplam a noção de desconcerto, fundamental para a compreensão do tema do soneto e da lírica camoniana. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO SONETO [Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundo] Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. (MATOS, Gregório. Obras completas de Gregório de Matos. Salvador: Janaína, 1969, 7 volumes.) 6. (UFRJ) Todo soneto apresenta a estruturação: tese, antitese e síntese. Com base nessa informação, faça o seguinte: a) Explique de que maneira a síntese do soneto de Gregório de Matos vincula-se ao projeto estético do Barroco. b) Descreva como a relação entre os sentimentos de “alegria” e “tristeza” ganha novo sentido no desenrolar do soneto. 7. (UNICAMP) Na seguinte cena do Auto da Barca do Inferno, o Corregedor e o Procurador dirigem-se à Barca da Glória, depois de se recusarem a entrar na Barca do Inferno. Corregedor: Ó arrais dos gloriosos, passai-nos neste batel! Anjo: Ó pragas pera papel, pera as almas odiosos! Como vindes preciosos, sendo filhos da ciência! Corregedor: Ó ! habeatis clemência e passai-nos como vossos! Joane (Parvo): Hou, homens dos breviairos, rapinastis coelhorum et perniz perdiguitorum e mijais nos campanairos ! Corregedo:r Ó! Não nos sejais contrairos, Pois nom temos outra ponte! Joane (Parvo): Beleguinis ubi sunt? Ego latinus macairos. pera: para habeatis: tende homens dos breviairos: homens de leis Rapinastis coelhorum/Et perniz perdiguitorum: Recebem coelhos e pernas de perdiz como suborno Beleguinis ubi sunt?: Onde estão os oficiais de justiça? Ego latinus macairos: Eu falo latim macarrônico (Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno. São Paulo: Ateliê Editorial, 1996, p. 107-109.) a) De que pecado o Parvo acusa o homem de leis (Corregedor)? Este é o único pecado de que ele é acusado na peça? b) Com que propósito o latim é empregado pelo Corregedor? E pelo Parvo? 8. (FUVEST) E chegando à barca da glória, diz ao Anjo: BRÍSIDA. Barqueiro, mano, meus olhos, prancha a Brísida Vaz! ANJO. Eu não sei quem te cá traz... BRÍSIDA. Peço-vo-lo de giolhos! Cuidais que trago piolhos, anjo de Deus, minha rosa? Eu sou Brísida, a preciosa, que dava as môças aos molhos. A que criava as meninas para os cônegos da Sé... Passai-me, por vossa fé, meu amor, minhas boninas, olhos de perlinhas finas! (...) Gil Vicente, “Auto da barca do inferno”. (Texto fixado por S. Spina) a) No excerto, a maneira de tratar o Anjo, empregada por BrísidaVaz, relaciona-se à atividade que ela exercera em vida? Explique resumidamente. b) No excerto, o tratamento que Brísida Vaz dispensa ao Anjo é adequado à obtenção do que ela deseja - isto é, levar o Anjo a permitir que ela embarque? Por quê? 9. (FUVEST) Tu, só tu, puro amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano. (Camões, “Os Lusíadas” - episódio de Inês de Castro) _________________________________________ 21 R.I. (Revisão Intercalada) Molesta = lastimosa; funesta. Pérfida = desleal; traidora. Fero = feroz; sanguinário; cruel. Mitiga = alivia; suaviza; aplaca. Ara = altar; mesa para sacrifícios religiosos. a) Considerando-se a forte presença da cultura da Antiguidade Clássica em “Os Lusíadas”, a que se pode referir o vocábulo “Amor”, grafado com maiúscula, no 50. verso? b) Explique o verso “Tuas aras banhar em sangue humano”, relacionando-o à história de Inês de Castro. 10. (FUVEST) Oh! Maldito o primeiro que, no mundo, Nas ondas vela pôs em seco lenho! Digno da eterna pena do Profundo, Se é justa a justa Lei que sigo e tenho! Nunca juízo algum, alto e profundo, Nem cítara sonora ou vivo engenho, Te dê por isso fama nem memória, Mas contigo se acabe o nome e a glória. (Camões, “Os Lusíadas”) a) Considerando este trecho da fala do velho do Restelo no contexto da obra a que pertence, explique os dois primeiros versos, esclarecendo o motivo da maldição que, neles, é lançada. b) Nos quatro últimos versos, está implicada uma determinada concepção da função da arte. Identifique essa concepção, explicando-a brevemente. 11. (UFLA) Leia os seguintes fragmentos de “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga. Texto 1 Verás em cima de espaçosa mesa Altos volumes de enredados feitos; Ver-me-ás folhear os grandes livros, E decidir os pleitos. Texto 2 Os Pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado; Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja me tem o próprio Alceste. Responda: a) Em qual dos fragmentos o sujeito lírico é caracterizado de acordo com a convenção arcádica? b) Explique. 12. (UFV) Ao evidenciar as tendências do Arcadismo brasileiro, Antônio Cândido conclui: A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada ao desenvolvimento da cultura urbana, que, opondo as linhas artificiais da cidade à paisagem natural, transforma o campo num bem perdido, que encarna facilmente os sentimentos de frustração. (CÂNDIDO, Antônio. “Formação da literatura brasileira.” São Paulo: Martins, 1959. p.54. v.I) A partir de uma reflexão sobre a afirmativa transcrita acima, fale sobre as manifestações da Natureza na poesia árcade: TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO A(s) questão(ões) seguintes referem-se a um fragmento do poema satírico CARTAS CHILENAS, atribuído ao poeta neoclássico Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), e a uma passagem do romance A LUNETA MÁGICA, do romântico Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). CARTAS CHILENAS A lei do teu contrato não faculta que possas aplicar aos teus negócios os públicos dinheiros. Tu, com eles, pagaste aos teus credores grandes somas! Ordena a sábia Junta que dês logo da tua comissão estreita conta; o chefe não assina a portaria, não quer que se descubra a ladroeira, porque te favorece, ainda à custa dos régios interesses, quando finge que os zela muito mais que as próprias rendas. Por que, meu Silverino? Porque largas, porque mandas presentes, mais dinheiro. ......................................................................... Agora, Fanfarrão, agora falo contigo, e só contigo. Por que causa ordenas que se faça uma cobrança tão rápida e tão forte contra aqueles que ao Erário só devem tênues somas? Não tens contratadores, que ao rei devem de mil cruzados centos e mais centos? Uma só quinta parte que estes dessem, não matava do Erário o grande empenho? O pobre, porque é pobre, pague tudo, e o rico, porque é rico, vai pagando sem soldados à porta, com sossego! Não era menos torpe, e mais prudente, que os devedores todos se igualassem? Que, sem haver respeito ao pobre ou rico, metessem no Erário um tanto certo, à proporção das somas que devessem? Indigno, indigno chefe! Tu não buscas o público interesse. Tu só queres mostrar ao sábio augusto um falso zelo, poupando, ao mesmo tempo, os devedores, os grossos devedores, que repartem contigo os cabedais, que são do reino. (In: GONZAGA, Tomás Antônio. POESIAS - CARTAS CHILENAS. Edição crítica de M. Rodrigues Lapa. Rio de Janeiro: INL, 1957. p.264 e 266-267.)
Compartilhar