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2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.... ........................................................................................................... 3 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL .................................. 4 1.1 Definição global do serviço social ......................................................... 4 1.2 Dia a dia do profissional em assistência social ..................................... 6 2 DIREITOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL ......................................... 10 2.1 Fortalecimento da assistência social e efetividade dos direitos sociais 12 3 RELAÇÃO FAMÍLIA/COMUNIDADE/SOCIEDADE NO SERVIÇO SOCIAL ............................................................................................... 15 3.1 Família ................................................................................................. 16 3.2 Família e serviço social ....................................................................... 17 3.3 Família e sua respectiva função social ................................................ 19 3.4 Família e proteção social ..................................................................... 21 3.5 Família e políticas públicas de assistência social ................................ 23 3.6 A matricialidade sociofamiliar materializada nos programas de proteção básica e especial ............................................................................................. 27 4 REFERÊNCIAS ................................................................................... 34 3 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL 1.1 Definição global do serviço social Fonte: pinheiropreto.sc.gov.br Segundo Sousa (2015) pensar em referenciais genéricos, passa, desde logo, por definir o que é o Serviço Social. A construção do discurso sobre a definição do Serviço Social procura, segundo Vicente Faleiros, não só traduzir uma síntese enunciativa de elementos componentes do que se considera constituinte do Serviço Social, mas de articulá-lo com as determinações históricas e estruturais de sua construção e desconstrução (FALEIROS, 2011: 749 apud SOUSA, 2015, p. 14). Os discursos constituintes são os que, assumindo uma função na produção simbólica, reconhecem a sua própria autoridade de definição, têm como referência uma visão científica ou profissional, dão sentido a atos de reconhecimento e de legitimidade e procuram uma coesão em torno dos mesmos (POSSENTI; SOUZA-E- SILVA. apud. FALEIROS, 2011. apud. SOUSA, 2015). User Realce 5 A construção de uma definição sobre Serviço Social acompanha e decorre de dinâmicas de tensão e disputa, não só linguísticas, mas ideológicas e políticas, que põem em confronto diferentes projetos políticos (FALEIROS, 2011. apud. SOUSA, 2015). Para Nigel Hall, a definição global traduz parâmetros, funções e papéis da profissão na sociedade. Nesse contexto, a Associação Internacional de Escolas de Serviço Social (AIESS/IASSW) e a Federação Internacional dos Assistentes Sociais (FIAS/IFSW) acordaram proceder em 2013 a uma revisão da definição internacional de Serviço Social, desencadeando, para o efeito, um processo de consulta geral. O ponto da situação desta discussão se deu especificamente em 10 de abril de 2013 e já apontava para uma definição de serviço social, com a nota de que esta poderia ser ampliada a nível nacional e/ou regional. (SOUSA, 2015). Esta proposta, como ressaltou Sousa (2015), parecia vir ao encontro de algumas críticas que vinham sendo produzidas no seio da classe profissional6, sublinhando-se dois aspetos cruciais: [...] i) o assistente social é aqui entendido como facilitador da mudança social e não como o promotor da mesma – a expressão anterior podia levar a leituras equivocadas, com alguma carga messiânica, ficando mais clara a existência de outros atores com papel idêntico, entre os quais os próprios destinatários da ação; ii) na mesma linha, desaparece a expressão “o Serviço Social intervém” e é explicitada a estratégia de envolvimento das pessoas e estruturas, no enfrentamento das situações. (SOUSA, p. 15, 2015) O processo de consulta continuou, tendo sido realizadas sessões com esse objetivo também em Portugal, nomeadamente em Coimbra e Lisboa, com a participação de Susan Lawrence, Vice-Presidente da AIESS e Presidente da EASSW. O Comité Executivo da FIAS e o Conselho da AIESS deram, entretanto, por completo o processo de consulta, donde resultou a mais recente definição de Serviço Social, aprovada pelas duas organizações, em julho de 2014, em Melbourne, na qual ele é identificado como: Uma profissão baseada na prática e uma disciplina acadêmica que promove a mudança social e desenvolvimento, a coesão social e o empoderamento e libertação de pessoas. Princípios de justiça social, direitos humanos, User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 6 responsabilidade coletiva e respeito pela diversidade são fundamentais para o trabalho social. Apoiado em teorias do trabalho social, ciências sociais, ciências sociais, humanidades e conhecimento indígena, o trabalho social envolve pessoas e estruturas para enfrentar os desafios da vida e melhorar o bem-estar. A definição acima pode ser amplificada em níveis nacionais e / ou regionais. (IFSW & IASSW, 2014). Com esta proposta, é sublinhado pela primeira vez na definição global, que o Serviço Social é uma profissão e uma área científica. Por outro lado, é recuperada a ideia do Serviço Social enquanto promotor, e não apenas como facilitador, da mudança social e do desenvolvimento, da coesão social, do empoderamento e da autonomia das pessoas. Relativamente à definição anterior, releva-se a introdução de conceitos como o desenvolvimento, a coesão social, a responsabilidade coletiva e o respeito pela diversidade. É reiterada a ideia de que o Serviço Social está profundamente vinculado à justiça social, aos direitos humanos e ao reforço da emancipação das pessoas, para a promoção do bem-estar. (SOUSA, 2015). 1.2 Dia a dia do profissional em assistência social No Brasil, o Serviço Social surgiu no final da década de 1930, mas a profissão foi oficializada alguns anos depois, em 1957. Desde então, o assistente social atua no fortalecimento e apoio de indivíduos, famílias e comunidades no enfrentamento das questões sociais. Assim, o profissional da área é responsável por dialogar para facilitar o acesso às políticas públicas que melhor atendam às necessidades dos cidadãos. Para se pensar sobre o exercício profissional para além da aparência, a todo momento se faz necessário exercitar mentalmente o movimento entre singular e universal no que diz respeito aos elementos envolvidos no exercício profissional cotidiano e suasinterconexões com a dinâmica real da sociedade, bem como se pensar em objetivos imediatos e mediatos do exercício profissional, orientando cada pequena ação cotidiana a construções maiores (LACERDA, 2014, p. 24). Para Barroco (2003) a sociedade é uma totalidade organizada por várias totalidades cuja reprodução pressupõe uma totalidade maior que se efetua de formas peculiares, com regularidades próprias. (BARROCO, 2003. apud. LACERDA, 2014) User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 7 Portanto, ao analisar o cotidiano de trabalho dos assistentes sociais, consideramos-o como um todo agrupado sob outros complexos causais maiores: política social, estado, crise da estrutura de capital etc. À medida que a sociedade se torna mais complexa, esses setores podem adquirir certo grau de autonomia, o que dá a falsa impressão de que são independentes; mas esse é apenas o visual que tentamos transformar. Ao ler esse espaço ao ver o trabalho como categoria fundadora do homem, entendemos que é a partir da relação orgânica do homem com a natureza que se constrói a base social que, na modernidade, torna-se mais complexa, dada sua especificidade histórica: (...) o trabalho assalariado, cuja base é propriedade privada dos meios fundamentais de produção e a alienação do trabalho, duas categorias centrais para se desvendar a totalidade das relações humanas, ou sociedade, por meio da qual são fundados dois grupos de humanos: aqueles que exploram e aqueles que são explorados (LACERDA, 2014, p. 25). É nesse chão de intensas contradições tensionadas pela luta de classes que, segundo Lacerda (2014), o assistente social é chamado a centrar sua atuação nas questões levantadas e reconhecidas como “direito do usuário”, direito que deve buscar realizar por meio de ações profissionais individualizadas. Não se pode ignorar que as necessidades não são pessoais, pois são comuns a um grupo de pessoas no mesmo movimento histórico de exploração pelo trabalho - a refração da "questão social" - e que as respostas a essas necessidades são fruto de direitos sendo violado. pela luta de classes, pela reprodução capitalista do Estado burguês, pela organização do aparato institucional constitutivo da política social. Na esfera terminal dessa execução há um conjunto de trabalhadores (médicos, enfermeiros, pedagogos, psicólogos etc.) que colocam sua capacidade física e mental para o trabalho a serviço das políticas sociais, incluindo os assistente sociais, cujo compromisso ético-político propõe ações vinculadas à emancipação humana, questão cada vez mais premente, sobretudo no âmbito da crise estrutural do capital que caminha para a extinção da humanidade (MÉSZÁROS, 2009 apud LACERDA 2014). Essa tarefa não é simples, uma vez que a atividade profissional se dá no Estado burguês, as políticas sociais visam viabilizar direitos para manter o status quo - User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 8 contribuir para a transformação da sociedade, trabalho assalariado e exploração latente, pré-requisito para a reprodução desta empresa. O compromisso ético-político assumido tras preocupação em relação a emancipação humana, de forma que para que esse compromisso se traduza em ações efetivas, existe a necessidade de uma poderosa capacidade de compreensão do real além de percepção nas causalidades dadas as contradições além das possibilidades transgressoras. Para esta análise, a noção de usuários como "vítimas do sistema" não contribui para isso, pois do ponto de vista fatalista imobiliza o sujeito sem autonomia nem capacidade de reação. O sujeito não é o carrasco de sua condição, o culpado dos desafios que ele tem que ir para a reeducação, para se reintegrar à sociedade. Ainda de acordo com o que Lacerda (2014, p. 26) elucida cada um de nós é o resultado do contexto histórico em que estamos inseridos e das reações que trazemos a ele, das alternativas que escolhemos, dos valores que orientam nosso fazer essa escolha e fazer acontecer. Para compreender a natureza humana, não há afirmação mais radical que a de de que “o homem é síntese de suas relações sociais, objetiva e subjetivamente. A posição que ocupa na divisão social do trabalho configura as condições materiais de existência, e é nessa que os sujeitos fazem suas histórias e se constituem objetiva e subjetivamente. (Marx, 2006. apud. LACERDA, 2014) Lacerda (2014) afirma que estamos vivendo o cotidiano de uma sociedade capitalista alienada, em que a liberdade é medida por contas bancárias, pois todas as necessidades são satisfeitas pelo mercado mundial, e nesta condição, os impotentes têm poucas alternativas, todas precárias, mas sempre há avenidas que podem ser alargadas, especialmente quando se trata de atividades coletivas. Sabemos que a construção coletiva da concepção de direito é um desafio sobremaneira complexo num país como o Brasil, de democracia débil, valores conservadores e um povo acostumado desde a colonização a aceitar e pagar pelos rumos coletivos que as elites tomam, no interior do capitalismo dependente (FERNANDES, 2005. apud. LACERDA, 2014) O qual em consonância com os interesses da burguesia nacional e internacional. User Realce User Realce 9 A própria leitura que se desenrola deve mostrar que não há técnica mágica capaz de efetivar na prática os direitos oficialmente concedidos, em nome de manobras históricas concretas, impediu: a escassez de trabalhadores decorreu das peculiaridades do modo de produção capitalista. No entanto, o sistema não é afetado por nenhuma política social, satisfazendo parcialmente as necessidades da classe trabalhadora devido à exploração do trabalho. O orçamento público disponível para isso, pano de fundo de uma disputa em que a classe trabalhadora se juntou timidamente, tem recursos irrisórios. Como tal, a prestação de serviços e benefícios será sempre aquém do necessário para a classe trabalhadora e, em essência, contribui para perpetuar a carência de usuários, especialmente na América Latina, onde políticas elaboradas por organismos internacionais. a nível mundial. servir o grande capital, agir como imperialista, nunca incitar a tensão em favor da classe trabalhadora na luta de classes. Em contraste, no continente ditador, o patriarcal, o patriarcal, o coronelista, etc. Nesse sentido, tais políticas têm viés reacionário, são usadas para política barata e usam recursos que inevitavelmente alimentam uma infinidade de parasitas de vários tamanhos (empresários do sexo masculino têm "relações estreitas" com o Estado; políticos, empresários da fé; titulares de cargos autorizados , etc.), é um recurso suficiente apenas para esse fim, independentemente da existência de lei formal e dos recursos necessários para implementá-la. É natural, portanto, que os usuários, os assalariados pobres, devam sofrer intervenções específicas para que possam sobreviver em suas vidas precárias, como força de trabalho. Apesar destas limitações, deve-se reconhecer que, mesmo assim, a leitura do profissional dos elementos constitutivos de sua prática profissional. É fundamental para ampliar suas habilidades e atenção às necessidades dos cidadãos pergunta: (...) apreender o usuário dentro de suas condições materiais e perceber as refrações da “questão social” é a única forma de superar preconceitos e a psicologização da “questão social”, possibilitando recobrar a perspectiva de totalidade da questão em tela, procedendo os encaminhamentos e intervenções mais adequadas; perceber o Estado e as políticas sociais no âmbito da luta de classes enquanto se domina a burocracia e a técnica são fundamentais para gerar respostas criativas (LACERDA, 2014, p. 27). Esse classificador aproxima o projeto de ciência do terreno histórico em que se User Realce User Realce User Realce 10documenta o trabalho do assistente social, reproduz um conjunto de relações causais, mas não o próprio trabalho profissional. depois de ler as relações causais postuladas. Compreender o dia-a-dia do trabalho do assistente social requer compreender o lugar das telecomunicações do assistente social no quotidiano das instituições burguesas. O Serviço Social é um importante ator no campo da atuação dos Direitos Sociais e da Proteção Social, facilita a promoção mais ampla das intervenções para o enfrentamento dos problemas sociais articulando a acessibilidade aos Direitos Sociais. A profissão é um instrumento de intervenção na realidade humana e social e atua nos diversos níveis das políticas de proteção social. 2 DIREITOS SOCIAIS E SERVIÇO SOCIAL Segundo Andrade et al (2015) os direitos sociais podem ser definidos como (...) aqueles fundamentados na igualdade social, econômica e cultural entre os cidadãos, visando à estabilidade social com melhor qualidade de vida e igualdade social entre classes, de modo que cada um tenha direito à saúde, educação, moradia, lazer, assistência social etc., ocorrendo à efetivação dos mesmos por meio de instituições prestadoras desses serviços (ANDRADE et al, 2015, p. 2). De acordo com Telles (TELLES, 1999. apud. ANDRADE et al., 2015), a própria Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Organização das Nações Unidas – ONU, de 1948, reconhece que tais direitos, associados aos direitos civis e políticos, têm status de direitos humanos, na medida em que a vida com plena dignidade não pode ser dissociada do usufruto deste conjunto de direitos, o que nos remete à definição clássica de cidadania, apresentada por Thomas Marshall (MARSHALL, 1967. apud. ANDRADE et al., 2015). Marshall (1967) entende a cidadania como a conjugação de três elementos básicos, os quais ele chama de elemento civil, elemento político e elemento social. Podemos referirmo-nos a estes elementos como direitos, onde o direito civil é referente à liberdade individual como o direito de ir e vir, da propriedade privada, da justiça, dentre outros. O direito político, por sua vez, denota a participação política e ativa do cidadão, como eleitor dos seus representantes ou responsável e/ou participante de instituições políticas (ANDRADE et al., 2015). Por fim, os direitos sociais, colocados em evidência, referem-se a um direito User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 11 mínimo de bem estar abrangendo também o (...) econômico e segurança ao direito de participar, por completo, na herança social e levar a vida de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade (MARSHALL, 1967. apud. ANDRADE et al., 2015). Portanto, os direitos sociais devem, de acordo com Andrade: possibilitar o suprimento das carências sociais, viabilizando as necessidades básicas a fim de promover uma vivência saudável da população. A vigência desses direitos remete- nos ao início da formação de uma sociedade justa e igualitária, em que todos os cidadãos têm acesso a um conjunto de direitos. (Andrade et al. 2015, p. 3) Aliás, é válido ressaltar que o Serviço Social, enquanto profissão inscrita na divisão sociotécnica do trabalho, se faz socialmente necessário na medida em que medeia a relação capital e trabalho e se compromete com a defesa intransigente dos direitos humanos. Dentre os princípios fundamentais que norteiam a profissão de assistente social, podemos mencionar a ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras (CFESS, 1993. apud. ANDRADE et al., 2015). Para Andrade et al (2015) o Serviço Social possui uma grande responsabilidade para a emancipação das classes sociais, tendo em vista o disposto em seu código de ética. Para eles, esse trabalho inclui o atendimento direto aos usuários nas instituições, o posicionamento sociopolítico em favor do direito e da justiça, bem como o apoio e participação dos movimentos sociais e organizações populares, buscando a democracia e direitos de cidadania. Nos diferentes espaços sócio-ocupacionais, o assistente social lida com direitos e trabalha planejando, executando e avaliando políticas sociais, as quais são uma forma de materialização desses direitos. Por isso, a atuação profissional se faz extremamente necessária para que os usuários conheçam e tenham acesso aos bens e serviços sociais. As orientações, encaminhamentos, contatos internos e externos, são meios de viabilização desse acesso (ANDRADE et al., 2015). A atuação comprometida e propositiva deste profissional tende a contribuir para a qualidade do espaço público, para o controle social e, em última instância, para a construção de uma nova ordem social (VASCONCELOS, 2001. apud. ANDRADE et al., 2015). User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 12 O assistente social atua como um grande articulador, ao passo em que seu conhecimento da gama de direitos sociais, das instituições e dos caminhos necessários faz com que o usuário usufrua da herança social. 2.1 Fortalecimento da assistência social e efetividade dos direitos sociais O modelo institucional adotado pelo Brasil a partir da Constituição de 1988 (CF/1988), segundo o qual mudanças foram implementadas na seguridade social para tornar a proteção social mais abrangente – além do vínculo empregatício -, demonstra expressamente (art. 6º da Constituição) o caráter abrangente e o desejo vinculativo de que o Estado brasileiro observasse alguns valores no tocante à existência de políticas sociais capazes de promover alterações na estrutura social (PEREIRA, S. 2014). Todavia, as mudanças normativas e institucionais não se mostraram suficientes para alterar o contexto de desigualdade social observado na sociedade brasileira, cabendo ainda reflexões que apontem na direção da concretização dos direitos sociais. Para reforçar a relevância do fortalecimento da assistência social nesse contexto e na esteira de demonstrar a relação entre essa política social e a efetividade dos direitos sociais, os dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD) – Indicadores Sociais, de 2011 (disponibilizada em novembro de 2013), realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN), são bastante elucidativos. Naquele ano, o DF tinha 18,3% de domicílios com famílias de baixa renda (renda per capita de até meio salário mínimo), sendo que na Região Administrativa XXV (SCIA/Estrutural) esse índice era de 50,4%, ao passo que na Região Administrativa XVI (Lago Sul) não havia moradores de baixa renda.(CODEPLAN. apud. COSTA; SILVA; SANTOS, 2016) Referidos dados evidenciam a intensa desigualdade social presente no Distrito Federal, uma realidade também do Brasil, o que não somente justifica como impõe a necessidade de reflexões sobre políticas sociais que sejam capazes de reduzir a desigualdade, garantir direitos e conferir cidadania (COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). No âmbito do governo federal, tem-se o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que integra a política de assistência social. User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 13 Como benefício constitucionalmente previsto, O BPC é voltado aos idosos e aos deficientes, pessoas que não possuem condições de trabalhar. Ademais, O BPC constitui uma garantia de renda básica, no valor de um salário mínimo, [...] [e] é processador de inclusão dentro de um patamar civilizatório que dá ao Brasil um lugar significativo em relação aos demais países que possuem programas de renda básica, principalmente na América Latina. Trata-se de uma garantia de renda que dá materialidade ao princípioda certeza e do direito à assistência social (PNAS, 2004. apud. COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). A despeito da desigualdade social ainda acentuada no Brasil, é possível observar que os programas assistenciais desenvolvem importante papel na redução da desigualdade e na efetivação de direitos, seja diretamente, como é o caso das condicionalidades no Programa Bolsa Família, seja indiretamente pela garantia de renda mínima conferida pelo BPC (COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). Por exemplo, no Distrito Federal, de acordo com o Diagnóstico do Desenvolvimento Social do Distrito Federal de 2012: A quantidade de idosos e de deficientes inseridos no BPC aumentou continuamente entre os anos de 2007 e 2011. Nesse período, o número de idosos beneficiários passou de 14.983 para 21.257, enquanto o número de deficientes passou de 16.126 para 23.019. Esses dados sugerem que o BPC está cada vez mais alcançando o público ao qual é destinado, seja ele de idosos ou de deficientes (CODEPLAN, 2012. apud. COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). Ao mesmo tempo, “É possível observar que, entre 2007 e 2010, o percentual de famílias extremamente pobres diminuiu, passando de 2,71% em 2007 para 1,60% em 2010. [...] Quanto ao percentual de famílias pobres, foi possível verificar também sua diminuição, passando de 6,06% para 3,56% em 2009” (CODEPLAN, 2012. apud. COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). Os dados acima demonstram, para Costa, Silva e Santos (2016), uma clara relação entre a execução de políticas de assistência, mormente de transferência de renda, e a mobilidade social com o combate à pobreza, o que se mostra como primeiro passo para o acesso aos demais direitos sociais. Portanto, o impacto da política pública de assistência social na realidade dos necessitados é diretamente proporcional ao crescimento de sua implementação. É através da assistência social que o Estado Social cumpre seu dever de garantir condições mínimas de uma existência humana digna. Robert Alexy, citando o Tribunal Constitucional Federal alemão, numa decisão de 1975, diz: User Realce User Realce User Realce 14 (...) claro que a assistência aos necessitados é um dos deveres inquestionáveis do Estado Social. Isso necessariamente inclui o auxílio social aos cidadãos que, em virtude de fragilidades físicas ou psíquicas, enfrentam obstáculos para o seu desenvolvimento pessoal e social, e não estão em condições de se sustentar sozinhos. A comunidade estatal tem que lhes garantir no mínimo as condições básicas para uma existência humana digna (COSTA; SILVA; SANTOS, 2016, p. 21). Não se pode olvidar que a assistência social não se resume a políticas de transferência de renda, embora elas sejam um exemplo de política social. “A política social é mais ampla e visa a proteção social, que é uma forma de enfrentar o desrespeito aos direitos sociais perpetrados pela desigualdade social que caracteriza o modo de produção capitalista” (COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). Na verdade, conceder protagonismo somente aos programas de transferência de renda, em detrimento dos serviços sociais básicos tem como consequência o enfraquecimento do Estado, “ao precarizar suas políticas e reduzi-las a ações emergenciais” (PEREIRA, 2010. apud. COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). Além de estigmatizar seu público-alvo por torna-lo merecedor com base no critério da miséria e por fazer jus a um benefício na contramão do direito (PEREIRA, 2010. apud. COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). O fortalecimento da política social deve ser acompanhado do aprofundamento da participação da sociedade civil nos processos decisórios para que se ultrapasse os estágios do respeito e da proteção aos direitos e se torne factível a efetiva garantia e uma verdadeira promoção dos direitos sociais, contexto esse que promove emancipação de indivíduos e coletividades como parte de seu empoderamento (COSTA; SILVA; SANTOS, 2016). User Realce User Realce 15 3 RELAÇÃO FAMÍLIA/COMUNIDADE/SOCIEDADE NO SERVIÇO SOCIAL Fonte: google.com Segundo Souza e Silva a família tem sido cada vez mais requisitada pelo Estado a assumir responsabilidades na gestão de determinados segmentos como criança, adolescente, idosos e portadores de necessidades especiais, conforme estabelece nos estatutos de todos os segmentos existentes, que é dever da família, da comunidade, da sociedade civil e do estado, assegurar atendimento e garantia de direitos dos mesmos. Portanto, na situação contemporânea, de acordo com as autoras supracitadas, não se pode definir um “modelo” de família a ser seguido e uma única forma de trabalho com a mesma, pois ela possui particularidades e diferentes formas de enfrentamento das consequências do processo de produção capitalista e das transformações na sociedade consumista, determinadas pelo próprio sistema de produção que repercuti no consumo, na dinâmica social, comunitária e familiar, na vida e na classe social, que a família está inserida. O desafio das políticas públicas que visam a proteção social é pensar e repensar a família buscando superar velhas ações e concepções centradas na focalização e estratificação da proteção social a partir das famílias. Percebe-se, portanto, que a família é tida como a base que afetará diretamente User Realce 16 o indivíduo enquanto membro da comunidade e da sociedade. Por isso, para o Serviço Social a família é o foco de interesse, nesse sentido, considerando que o objeto de trabalho dos assistentes sociais são as expressões da questão social e que as ações destes profissionais incidem diretamente na construção da proteção social na perspectiva dos direitos, obviamente o foco de interesse central do Serviço Social é a relação família e proteção social. Refletir sobre a família no campo da proteção social, sugere reconhecer que a família, na dimensão simbólica, multiplicidade e organização, é importante à medida que subsidia a compreensão sobre o lugar que lhe é conferido na configuração da proteção social de uma sociedade, em determinado momento histórico. Para pensar em trabalho com famílias, portanto, é importante identificar quais as tendências predominantes na inclusão da família, no campo da política social, enquanto sujeito destinatário. Diante de tais considerações, uma vez vislumbrada a importância da Família para a sociedade e para a comunidade, no próximo capítulo o estudo será centrado na Família e sua relação com o Serviço Social. 3.1 Família Fonte: viralagenda.com A família se define como uma instituição que se organiza socialmente, dentro da qual está vinculado o ser humano através do nascimento, casamento e filiação, de User Realce User Realce User Realce User Realce 17 acordo com os costumes, configurações políticas do Estado e da cultura da época onde está integrada (MALUF, 2010. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Sob a ótica antropológica, a função de unir um homem (sexo masculino) e uma mulher (sexo feminino) com sua posterior procriação apresenta a família como um fenômeno universal que está inserido nas diversas sociedades (ROUDINESCO, 2003. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Ela é vista como o agrupamento de pessoas que se unem parentalmente ou através de relação conjugal impregnada de propósitos comuns e afetividade, possibilitando ao indivíduo um desenvolvimento subjetivo (MALUF, 2010. apud. BARRETO; RABELO, 2015). No entanto, a estrutura familiar se modifica amplamente, conforme a evolução histórica, incluindo as variáveis econômicas, religiosas ou sociopolíticas de cada época, para, além de assegurar a sobrevivência da espécie, promover o desenvolvimento psicossocial (ZAMBERLAM, 2001. apud. BARRETO; RABELO, 2015). De acordo com a Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002, o conceito de família foi se tornando diferente das formulações passadas tendo em vista as novas concepções dos seus componentes, cujamulher passa a alcançar os mesmos direitos que o marido. Reconhece, inclusive, a união estável e a monoparentalidade, também, como uma entidade familiar e não só a família “legítima” constituída pelos laços matrimoniais (Maluf, 2010 apud BARRETO; RABELO, 2015). Desse modo, a família vem se constituindo como pequeno grupo social, no qual estão inseridas diversas relações conjugais e ou parentais aliadas ao compromisso, afeto e partilha entre seus membros. (BARRETO; RABELO, 2015). 3.2 Família e serviço social A família é considerada um sujeito de intervenção do Serviço Social. No Brasil ele nasce intrinsecamente ligada aos movimentos de ação social, em uma proposta de apostolado social ao lado das famílias subalternas, sobretudo a família operaria. (ABRAHÃO; PARRÃO, 2019) Segundo Mioto (2010) é no período da consolidação da profissão que o trabalho com famílias ganha impulso. Foi basicamente no Método do Serviço Social de Caso, onde procurava-se ajustar os indivíduos ao meio social para o benefício dele User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 18 e da sociedade em geral. Os problemas sociais eram vistos como responsabilidades dos próprios indivíduos. Percebe-se que os assistentes sociais ainda seguiam uma orientação positivista e funcionalista na abordagem das famílias. Neste caminho os assistentes sociais aprimoraram suas técnicas com o objetivo de controlar os modos de vida das famílias. Essa perspectiva deu continuidade até o momento em que a teoria de Marx passa a ser discutida pelos profissionais. (ABRAHÃO; PARRÃO, 2019) Diante disso, surge uma nova forma de pensar e trabalhar a família. As demandas trazidas pelos sujeitos deixam de ser discutidas como problemas individuais e passam a ser observadas como frutos do sistema social vigente. Assim, torna-se possível desvincular-se da ideia que as necessidades expressas na família e pelas famílias são “casos de família” e, por conseguinte, as questões que afligem as famílias não se circunscrevem no campo da competência ou incompetência desse sujeito. (MIOTO, 2010. apud. ABRAHÃO; PARRÃO, 2019) Neste sentido, a profissão passa a buscar uma nova ordem societária, comprometida eticamente com uma transformação social. No ano de 1990 a família no Serviço Social tem pouca visibilidade comparada aos direitos sociais e políticas sociais. Contudo, no ano de 1979 no CBASS conhecido como “Congresso da Virada” a família ganha destaque sendo tema principal deste evento. Além do mais, no ano de 2000 a política social brasileira adquire estruturas dentro da proposta do bem-estar social, onde a família passa ser enfatizada. Sendo assim, as contradições são explicitadas neste momento. Ao mesmo tempo em que a profissão se constitui em uma área de bastante conhecimento, também se mostra frágil diante da intervenção profissional. Neste contexto, surge a necessidade de se planejar novas formas de intervenção do Serviço Social em relação à família. A busca de práticas mediadas pelo projeto profissional não está apenas no domínio do pensamento. Trata-se de identificar na realidade e definir/ priorizar/realizar estratégias e ações e atividades que se impõem e que são essenciais e indispensáveis, não só ao acesso às políticas sociais como direito do cidadão e dever do Estado, mas também aos processos de formação, mobilização e organização das massas trabalhadoras, tendo em vista sua participação no controle social dos serviços prestados e na imposição de limites ao capital [...] (VASCONCELOS, 2015, p.432) User Realce User Realce User Realce 19 3.3 Família e sua respectiva função social Nas sociedades primitivas, o instinto sexual foi a base da formação dos primeiros grupos sociais sem a preocupação da finalidade da união. Entretanto, com a existência da prole e o crescimento da cultura, criou-se uma organização social para garantir ao indivíduo a capacidade de ser funcional e saudável (MALUF, 2010. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Consequentemente, a família evoluiu através de três fases distintas: a conservação do patrimônio familiar; a organização das funções e da afetividade, assim como, a prioridade na realização íntima de dois indivíduos (ROUDINESCO, 2003. apud. BARRETO; RABELO, 2015). No governo romano, a família se apresentava como uma forte estrutura social organizada, cujos membros eram unidos na submissão ao chefe (o pai) que exercia plenos poderes de controlar a vida dos filhos (independentemente da idade) em relação ao casamento, ao divórcio, aos bens, podendo vender ou abandoná-los. Entretanto, na idade média, essa situação começou a mudar com a influência do Cristianismo através de uma nova concepção de moral que tornava a figura do pai mais humana, sendo a representação da igreja predominante na formulação de novas bases sobre a família, tornando sagrada a união matrimonial (MALUF, 2010. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Na modernidade, com o surgimento da indústria, a família teve que se adequar à nova realidade de produção de trabalho, levando os pais, dentro da família nuclear, a se dividirem nas tarefas e, consequentemente, diminuir o cuidado com a educação dos filhos (ZAMBERLAM, 2001. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Na contemporaneidade, por sua vez, a família ocidental ainda se apresenta como o agrupamento humano organizado mais sólido da sociedade, mesmo não sendo mais submetida a diversos segmentos sociais (ROUDINESCO, 2003. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Demonstra se estabelecer cada vez mais RABELO (2015), organizada como pequeno grupo que através do apoio econômico, físico, social e afetivo oferecidos aos seus membros, busca promover uma estabilidade social como um núcleo que se propaga continuamente. User Realce User Realce User Realce User Realce 20 Devido à mudança de costumes, a família vem priorizando o afeto como um apoio que tem o objetivo de valorizar o ser humano em sua dignidade e subjetividade. Por isso, a contemporaneidade se apresenta, conforme a Constituição Federal e o Código Civil, como a época mais preparada para manter as diversas modalidades de família, assim como novas configurações que já vem sendo legisladas em vários países, como a família homoafetiva e outras (MALUF, 2010. apud. BARRETO; RABELO, 2015). Essas novas formulações se apresentam com considerável flexibilidade de papéis entre os sexos: (...) mulher oficial de forças armadas, homem dono-de-casa, mãe e pai solteiros, mulher chefe de família, casais homossexuais masculinos ou femininos, parceiros masculinos mais jovens, casal sem filhos por opção, produção independente, bebê de proveta e demais possibilidades que a evolução científica permite ou está em vias de possibilitar, tal como a discutida clonagem humana. (NEGREIROS e FÉRES-CARNEIRO, 2004. apud. BARRETO; RABELO, 2015) Entretanto, com o favorecimento da liberdade de escolhas, das livres relações de afeto dentro das diversas estruturações, surgiram, também, desequilíbrios em determinadas relações, no que se refere à parento-filial. Os desequilíbrios ocorrem segundo porque a família vista no passado com grande autoritarismo cedeu o seu espaço à família em desordem no presente, cujos conflitos íntimos extinguem a imagem, principalmente, do pai autoritário, desvelando um ser na sua individualização. Na sociedade, cada membro ou grupo nela inserido, necessita assumir uma função que lhe atribua a importância de sua participação e permanência nessa esfera. A família, portanto, se implica nessa construção, conforme suas funções representativas. (BARRETO; RABELO, 2015). Nesse aspecto, as funções biológica e psicossocial da família, de certa forma, estão fortemente ligadas, visto que o objetivo de proteger e conservar colabora na edificação de subjetividade em cada pessoa que se vincula, originando todo o processo decultura (ZAMBERLAM, 2001 apud BARRETO; RABELO, 2015). Desse modo, a função social da família consiste na proteção dos seus membros, fornecendo afeto e segurança e contribuindo para o desenvolvimento da subjetividade, conforme o período histórico onde se encontra, com o propósito de aprender a interagir no meio social estruturando o indivíduo na sua formação e User Realce User Realce 21 socialização (MALUF, 2010 apud BARRETO; RABELO, 2015). Com isso, a família tem como função básica, educar, socializar e suprir as necessidades dos seus membros dentro de uma estrutura familiar interativa qualificada, com a qual envolve a comunhão de afetos e responsabilidades com a tarefa de transmitir a outros (BATISTA & TEODORO, 2012 apud BARRETO; RABELO, 2015). De acordo com essa perspectiva, faz-se necessário um comprometimento contínuo dos seus membros, no sentido de assumir os devidos papéis, levando-se em conta as diferenças pessoais e a importância de se buscar compreender as diversas manifestações subjetivas de cada indivíduo nesse âmbito. (BARRETO; RABELO, 2015) Por fim, imperioso ressaltar que a família, que antes era de inteira responsabilidade da mulher, tornou-se responsabilidade de todos os seus membros como dito, assim como do estado e da sociedade (ABRAHÃO; PARRÃO, 2019). 3.4 Família e proteção social Segundo Abrahão e Parrão (2019) os avanços na proteção social à família também são vistos em relação aos direitos da família. De acordo com o art. 226 da Constituição Federal de 1988 a família constitui-se base da sociedade e merece especial proteção do Estado. A proteção social deve ser garantida a todos os membros da família seja direcionada a mulher, ao homem, ao idoso, a criança e ao adolescente, todos sem distinção, dispõe dos amparos legais existentes. Proteção social - o sentido de proteção (protectione do latim) supõe antes de mais nada tomar a defesa de algo, impedir sua destruição, sua alteração. Nesse sentido a ideia de proteção contém um caráter preservacionista – não da precariedade, mas da vida – supõe apoio, guarda, socorro e amparo. Este sentido preservacionista é que exige tanto as noções de segurança social como de direitos sociais. (SPOSATI, 2015. apud. ABRAHÃO; PARRÃO, 2019). A proteção é de suma importância para a preservação integral à vida. E esta, deve garantir a segurança de sobrevivência; acolhimento; e de convívio familiar. Portanto, pensar em trabalho com famílias requer o reconhecimento das principais tendências que predominam a incorporação desta no campo da política social User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 22 enquanto seu sujeito destinatário. (ABRAHÃO; PARRÃO, 2019) Pode-se dizer, de acordo com Abrahão e Parrão (2019), que há duas grandes tendências a serem destacadas: proposta familista e proposta protetiva. No primeiro caso (proposta familista), a necessidade de satisfação do indivíduo encontra-se na família e no mercado, somente quando estes falham é que ocorre a interferência pública. Ou seja, a política pública ocorre de forma compensatória, em virtude da falência no provimento de condições básicas para a sobrevivência. Esse conceito de falência familiar é definido no desenvolvimento do capitalismo e, segundo Regina Celia Mioto (2010, p. 170 apud ABRAHÃO; PARRÃO, 2019), com a separação entre casa e empresa, se conformou uma nova forma de família (família nuclear burguesa). Neste momento, os conflitos gerados na esfera da produção, são jogados para dentro da família. Problemas advindos da insuficiência de recursos como o desemprego, por exemplo, são vistos como “problemas de família”. Essa concepção, procedente do ideário neoliberal é uma: Proposição que se realiza numa realidade onde se esta cada vez mais distante da possibilidade da família contar um manancial de recursos suficientes para responder as necessidades de seus membros e as expectativas que lhes são colocadas. (MIOTO, 2010. apud. ABRAHÃO; PARRÃO, 2019). Em conformidade a isto, notamos a impossibilidade da família ter uma posição central em relação à proteção social. É nítida a regressão da participação do Estado em relação à provisão de bem-estar. (ABRAHÃO; PARRÃO, 2019) Diferentemente da proposta familista, a proposta protetiva afirma que a proteção é efetivada por meio dos direitos sociais. E mediante esta efetivação a cidadania caminhara para a consolidação da justiça e equidade social. Neste aspecto, as políticas públicas referem-se à socialização antecipada dos custos enfrentados pela família, antes que se atinja sua “falência”. (ABRAHÃO; PARRÃO, 2019) Essas propostas apresentam projetos de política social, onde envolve a participação de profissionais e dentre estes, o papel do assistente social. User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 23 3.5 Família e políticas públicas de assistência social O novo cenário da assistência social chama atenção pela centralidade que a família ocupa no debate e organização da política, tendo na matricialidade sociofamiliar um eixo estruturante estabelecido na PNAS (Ministério, 2004). A matricialidade sociofamiliar se refere à centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de assistência social (MINISTÉRIO, 2004. apud. FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015). A matricialidade sociofamiliar representa um avanço no sentido de uma concepção ampliada de família, o que representa a não fragmentação do atendimento ao se pensar o indivíduo em seu contexto familiar. Ao eleger a matricialidade sócio familiar como pilar do SUAS, a Política Nacional de Assistência Social enfoca a família em seu contexto sociocultural e em sua integralidade. Neste sentido, para realizar o trabalho social com as famílias é necessário focar todos os seus membros e suas demandas, reconhecer suas próprias dinâmicas e as repercussões da realidade social, econômica, cultural vivenciadas por elas.” (SOUZA, 2010. apud. FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015) Todavia, a centralidade na família oculta a forte responsabilização e culpabilização sobreposta aos seus membros de prover seu bem-estar. Se observa nas políticas sociais, especificamente na política de assistência social, que estas [...] fornecem serviços para reforçar as tradicionais funções da família, de proteção social, aumentando a dependência dos indivíduos da família e exigindo-se delas mais responsabilidades e serviços, como condição para poder ter acesso a algum benefício ou serviço público. (Teixeira, 2009. apud FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015) Em se tratando da responsabilização, essa recai principalmente sobre a mulher-mãe, historicamente identificada com a figura de protetora, cuidadora e administradora das expressões da questão social. É a mulher no âmbito da família que responde pelas condicionalidades dos programas socioassistenciais, pela participação em reuniões de grupos de convivência, pelo cuidado dos filhos, doentes e idosos, etc. Também se oculta nesse processo os conflitos e contradições de classe e a desresponsabilização do Estado na garantia dos direitos sociais (FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015). User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 24 Segundo Pereira (2010) o objetivo da política social em relação à família não deve ser o de pressionar as pessoas para que elas assumam responsabilidades além de suas forças e de sua alçada, mas o de oferecer-lhes alternativas realistas de participação cidadã. Para Teixeira (2009) no Brasil, a política dirigida à família, mesmo que ofereça proteção, o faz para que ela possa proteger seus membros, o que reforça as suas funções protetivas e a dependência do indivíduo das relações familiares, reforçando o “familismo”, ao invés de ser desfamiliarizante.Este formato de matricialidade sociofamiliar não leva em conta que a família também possa ser um espaço de desproteção. Baseia-se somente em um modelo central e nuclear de família protetora, que zela pelo bem comum sem levar em consideração os demais fatores, como aponta Teixeira (2009): [...] Parte-se sempre do pressuposto de um papel ideal e universal da família, aquele protetivo (das funções especializadas na formação da personalidade, educação e socialização, tal como definidas por Parsons, como típicas da família nuclear), que a caracteriza e que deve ser desempenhado independentemente dos seus formatos, das condições de vida e acesso aos serviços sociais. (TEIXEIRA, 2009, p.5) Fritzen, Moser e Pezzo (2015) assinalam ainda que o fato da família ser vista como instância primeira de proteção social, descarta a possibilidade de entender as contradições presentes em seu interior. Segundo eles, muitas dessas famílias são produtoras de violências, de abandono, e tão pouco oferecem um espaço de segurança e acolhida a seus membros. Nesse sentido se questiona qual o papel das políticas sociais na reprodução dessa categorização unilateral de famílias? Em se tratando do trabalho social com famílias na atual política de assistência social, Mioto (2014) identifica tensões nesse campo. Se a definição de família adotada na NOB/SUAS (Ministério, 2012) inclui diferentes formas de se “fazer família”, a definição orientadora não garante por si só a operacionalidade do trabalho desenvolvido pelos técnicos, já que o mesmo pode ser crivado por elementos pessoais da experiência familiar dos profissionais, convicções religiosas ou mesmo pelo senso comum, produzindo um trabalho profissional marcado por pré-conceitos e julgamentos de ordem moral, em direção oposta à perspectiva inclusiva e acolhedora que se quer imprimir no contexto do SUAS (MIOTO, 2014, p. 7). User Realce User Realce User Realce 25 Outro foco de tensão no campo do trabalho com famílias identificado por Mioto (2014) diz respeito às diferentes apreensões teórico-metodológicas pelas quais podem ser concebidos os elementos que definem famílias. Essas distintas apreensões determinam diferenças nas formas de condução do trabalho social. Nesse sentido, Mioto (2014) aponta os processos de responsabilização da família e a garantia da defesa da cidadania social; e a perspectiva do controle social e da garantia dos direitos. Para a autora essas tensões vão se revelar diretamente no encaminhamento do trabalho social com famílias (Mioto, 2014, p. 8). Paralelo a este eixo estruturante da política de assistência social está sendo implementada a vigilância socioassistencial. Esta tem função protetiva que visa reconhecer nos territórios as vulnerabilidade e riscos sociais que atingem as famílias, bem como analisar os serviços, programas e benefícios socioassistenciais existentes, adequando-os de acordo com as demandas sociais locais e municipais (FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015). A LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social, 1993) foi alterada em 2011 para a inserção da vigilância socioassistencial entre as funções de proteção da política de assistência social. A vigilância visa analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimização e danos (FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015). A vigilância deve orientar-se pelos princípios que compõem o modelo de proteção social não contributiva: universalidade; matricialidade sociofamiliar, descentralização compartilhada; territorialização e intersetorialidade ao mesmo tempo em que atua fundamentalmente em conjunto com as demais proteções estabelecidas pela política de assistência social: defesa de direitos e proteção social. Na NOB/SUAS, a vigilância socioassistencial é assinalada como uma das funções da política de assistência social, que deve ser realizada por intermédio da produção, sistematização, análise e disseminação de informações territorializadas. De acordo com as Orientações Técnicas da Vigilância Socioassistencial: User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 26 A Vigilância deve apoiar atividades de planejamento, organização e execução de ações desenvolvidas pela gestão e pelos serviços, produzindo, sistematizando, analisando informações territorializadas sobre: as situações de vulnerabilidade e risco que incidem sobre famílias e indivíduos; os padrões de oferta de serviços e benefícios socioassistenciais, considerando questões afetas ao padrão de financiamento, ao tipo, volume, localização e qualidade das ofertas e das respectivas condições de acesso. (MINISTÉRIO, 2014. apud. FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015) Assim, para alcançar seus objetivos a Vigilância Socioassistencial deve lançar mão de uma grande variedade de fontes e instrumentos de informação [...] trabalha tanto com dados coletados de forma qualitativa ou quantitativa e de forma primária ou secundária. (Ministério, 2014. apud. FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015). Entre os principais instrumentos e fontes de informação para a vigilância socioassistencial encontram-se: O Cadastro Nacional do SUAS – CadSUAS; Censo SUAS, Busca Ativa; Registro Mensais de Atendimentos – RMA, Prontuário SUAS; Consulta; Seleção e Extração de Informações do CadÚnico – CECAD; Sistema de Identificação de Domicílios em Vulnerabilidade – IDV; Matriz de Informações Sociais e Relatórios de Informações Sociais – MI-SAGI e RI-SAGI; SuasWEB entre outros instrumentos. A vigilância também se apropria de dados e indicadores sociais que podem ser operacionalizados como catalisadores das demandas e necessidades sociais das famílias e indivíduos. Contudo, muitas dessas ferramentas ainda estão em processo de apropriação e construção, não se aferindo realidade à atuação da vigilância socioassistencial em todos os entes federados (FRITZEN; MOSER; PEZZO, 2015). A vigilância socioassistencial surge frente a necessidade de subsidiar as ações da política de assistência social e tem como proposta ser uma função especializada e pública nas ações de monitoramento, avaliação e análise dos dados, indicadores, mapas, diagnósticos dentre tantas outras ferramentas que perpassam a rede de User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 27 serviços no SUAS. Nesse sentido, de acordo com Fritzen, Moser e Pezzo (2015), a vigilância tem um papel fundamental ao dar visibilidade e mensurar as demandas sociais das famílias em seus territórios. Entretanto, historicamente o trato com as famílias na assistência social se deu de modo autoritário, fiscalizador, com o intuito de controlar suas dinâmicas. É preciso questionar sobre a permanência de atuações conservadoras que se inserem na vigilância socioassistencial, ao promover ações fiscalizatórias sobre as famílias e ao “pacificar” os movimentos e as lutas sociais. Nesse contexto, Fritzen, Moser e Pezzo (2015) registram que apesar dos avanços observados, considera-se que a vigilância socioassistencial pode acabar refletindo retrocessos em suas ações. 3.6 A matricialidade sociofamiliar materializada nos programas de proteção básica e especial De acordo com o falado no tópico anterior, há na PNAS (2004) e NOB/SUAS (2005) uma inovação significativa na concepção de família, que se define como um “grupo unido por laços conjugais, filiais ou fraternais/afetivos” (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014, p. 102). Tal novidade contribui para romper com os estigmas construídos, reconhecer a inexistência de um modelo idealizado de família e admitir a sua capacidade plural de compor arranjos. Mas, conforme Cronemberger e Texeira (2014) pregam, ela é conservadora em termos das expectativas em relação à família e suas funções, contradição que seexpressa na condução do trabalho social com famílias. Na proteção básica, o trabalho com famílias deve considerar novas referências para a compreensão dos diferentes arranjos familiares..., partindo do suposto de que são funções básicas das famílias: prover a proteção e a socialização dos seus membros; constituir-se como referências morais, de vínculos afetivos e sociais; de identidade grupal, além de ser mediadora das relações dos seus membros com outras instituições sociais e com o Estado (BRASIL, 2005. apud. CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). O principal serviço de proteção social básica do SUAS, que materializa a centralidade na família, é o PAIF, ofertado por meio dos serviços socioassistenciais, socioeducativos e de convivência, e os projetos de preparação para a inclusão User Realce User Realce User Realce User Realce 28 produtiva voltados às famílias, membros e indivíduos, conforme as necessidades identificadas no território. O PAIF é realizado exclusivamente pelo poder público nos CRAS e tem por perspectiva “o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, o direito à proteção social básica e ampliação da capacidade de proteção social e prevenção de risco no território de abrangência do CRAS” (BRASIL, 2005. apud. CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). O PAIF, criado em 18 de abril de 2004 (Portaria nº 78) pelo MDS aprimorou a proposta do Plano Nacional de Atendimento Integrado à Família (PNAIF), implantado, em 2003, pelo governo federal. Em 19 de maio de 2004, o PAIF tornou-se “ação continuada da Assistência Social”, passando a integrar a rede financiada pelo governo federal (Decreto 5.085/2004), saindo de programa para serviço (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Dentre os pressupostos do PAIF, destaca-se: 1- a família como modelo idealizado, inexiste, mas sim famílias que resultam de uma pluralidade de arranjos e rearranjos, estabelecidos pelos integrantes; 2- a família deve ser apoiada pela proteção social de assistência social e ter acesso a condições para responder ao dever de sustento, guarda e educação de suas crianças, adolescentes e jovens à proteção dos seus membros em vulnerabilidade, principalmente idosos e pessoas com deficiência; 3- o fortalecimento de possibilidades de convívio, educação e proteção social da família não restringe as responsabilidades públicas dessa proteção para com os indivíduos e a sociedade (BRASIL, 2006. apud. CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Segundo o parecer de Cronemberger e Texeira (2014) aparecem, no texto legal, as mesmas contradições da PAS porque o princípio é o mesmo, com avanços e recuos. Avanços porque se rompe com a ideia de modelo idealizado de família nuclear, e recuo porque, no segundo pressuposto, impõem-se limites e condicionalidades a um sujeito para receber proteção social. Ainda, segundo referidos autores, oferece-se apoio e exige-se que a família realize ações no seu âmbito restrito, atribuídas genericamente a todos os tipos familiares, independentemente das condições de vida e das formas de convivência. Isso se dá apesar da tentativa de não desresponsabilizar o poder público. Na proteção social especial presente no SUAS, o CREAS é a unidade pública e estatal de abrangência municipal ou regional que oferta, obrigatoriamente, o PAEFI. De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, a Proteção Social Especial de Média Complexidade inclui o PAEFI, o Serviço User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 29 Especializado em Abordagem Social, o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias e o Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua. Compete ao CREAS ofertar e referenciar serviços especializados de caráter continuado para famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos e por violência, expressa em maus-tratos, negligência, abandono, discriminações, entre outras. A busca é a de resgatar vínculos familiares e sociais rompidos, apoiando-se a construção ou reconstrução de projetos pessoais e sociais. Na verdade, a centralidade da família no CREAS tem como objeto: [...] compreender, em um determinado contexto, como se constroem e se expressam as relações familiares entre seus membros. Essa perspectiva não visa responsabilizar a família e seus componentes no tocante às vicissitudes que vivenciam no seu cotidiano, mas contextualizar a situação vivida e recolocar o papel do Estado como provedor de direitos por meio das políticas sociais, fornecendo instrumentos de apoio e sustentação necessários para a proteção social das famílias (BRASIL, 2011. apud. CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Isso significa um avanço pelo reconhecimento de que as vicissitudes e infortúnios que acometem as famílias em situação de risco social e pessoal não são de responsabilidade delas, o que recoloca o papel do Estado como provedor de direitos e responsável pela proteção social. O PAEFI, por exemplo, oferta serviços de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça e violação de direitos. Esses serviços, ofertados nos CREAS, têm como objetivos: i) O fortalecimento da função protetiva da família; ii) A construção de possibilidades de mudança e transformação em padrões de relacionamento familiares e comunitários com violação de direitos; iii) A potencialização dos recursos para a superação da situação vivenciada e a reconstrução de relacionamentos familiares, comunitários e com o contexto social, ou construção de novas referências, quando for o caso; iv) O empoderamento e a autonomia; v)O exercício do protagonismo e da participação social; vi) O acesso das famílias e indivíduos a direitos socioassistenciais e à rede de proteção social; vii) A prevenção de agravamentos e da institucionalização (BRASIL, 2011. apud. CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). São, por sua vez, objetivos do PAEFI: User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 30 i) Contribuir para o fortalecimento da família no desempenho de sua função protetiva; ii) Processar a inclusão das famílias no sistema de proteção social e nos serviços públicos, conforme as necessidades; iii)Contribuir para restaurar e preservar a integridade e as condições de autonomia dos usuários; iv)Contribuir para romper com padrões violadores de direitos no interior da família; v)Contribuir para a reparação de danos e da incidência deviolação de direitos; vi)Prevenir a reincidência de violações de direitos (BRASIL, 2009. apud. CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Nesse contexto, Cronemberger e Texeira (2014) destacam que os objetivos do CREAS e do PAEFI também demarcam peculiaridades de retrocessos na condução de uma política que deveria ser desfamilizante quando reafirma a necessidade de fortalecimento e potencialização da função protetiva da família, mesmo com vínculos já violados. “É como se a solução para o problema fosse a falta de proteção social exercida pelas famílias ou seu uso inadequado, tentando-se ajustá-la nos intramuros familiares” (p. 104). Ora, embora a família seja um dos agentes de violação de direitos, ela o faz por desconhecimento, traços culturais patriarcais, pelo uso de álcool e outras drogas, associados ao desemprego, à precariedade de condições de vida, e à falta de expectativas sociais (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014, p. 104). O primeiro objetivo do PAEFI, segundo os autores citados, é contraditório em relação aos demais, mas avançado quando reconhece a necessidade do empoderamento e autonomia das famílias, o exercício da participação social, articulação com serviçossocioassistenciais de proteção básica, a busca de reparação dos danos e a prevenção da reincidência das violações de direitos. Eles reforçam que a proteção social especializada deve se dirigir à família que, enquanto espaço contraditório e ambíguo, pode constituir um dos espaços de violação de direitos, submissões e violências. Essa situação requer trabalho educativo de reabilitação para a convivência familiar, mas sem cair em culpabilizações estéreis. Ao Estado cabe, nesse contexto, prover serviços especializados de tratamento das situações provocadoras de violação e incluir os membros familiares naqueles que, de fato, alterem-lhes a condição de risco social e carências extremas, buscando construir relações sociais e familiares menos assimétricas, e mais horizontais, fundadas no respeito mútuo e na cultura de direitos (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Essa duvidosa proteção social à família, reconhecida de um lado como direito e, de outro, como significante parceria, exige contrapartidas do grupo, ampliando-se as responsabilidades familiares ao invés de independentizar os User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce User Realce 31 indivíduos dos seus cuidados e recursos, como seria próprio de uma política desfamiliarizante. Isso dá sustentáculo à ideia de que a proteção social se desvia da rota da garantia do direito quando, para ser concretizada, requer parceria (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014, p. 105). A ausência ou a limitada rede de atenção socioassistencial, sua filantropização e precarização, e a retomada da família como parte essencial dela, com funções potencializadas para prevenir os riscos sociais, padecem de um acentuado conservadorismo, considerando que famílias pobres acumulam vulnerabilidades e fragilidades e precisam de serviços inclusivos e socioeducativos emancipatórios, os únicos capazes de oferecer à política social uma perspectiva preventiva e de investimento social (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). A centralidade da família na política social, em especial na assistência social, ocorre para Cronemberger e Texeira (2014) num cenário marcado, de um lado, pelos movimentos sociais que lutavam pela desinstitucionalização das práticas assistenciais e, de outro, pelo avanço das propostas neoliberais de redução do Estado e o retorno das demandas de proteção social para canais naturais como família e mercado. Para os autores em questão, as influências neoliberais e a manutenção da intervenção do Estado cada vez mais focalizada geraram um novo modelo de proteção social, que envolve o mix público/privado ou o pluralismo de bem-estar social, reafirmado na noção de rede socioassistencial. Não significa, segundo eles, dizer que o modelo da PNAS e da NOB/SUAS seja conservador e neoliberal, até porque, é uma tentativa de efetivação da PAS como política pública. Entretanto, elas absorvem, no seu desenho, a nova cultura ou o consenso no modo de fazer política social, envolvendo o mix público/privado na composição das redes. O privado, a sua vez, é também a própria família, as comunidades e organizações não governamentais, tomadas como parceiros, sendo função do poder público coordenar, financiar e potencializar essa rede, na qual se espera, por parte da família, a utilização de seus recursos e sua solidariedade e o cumprimento das funções clássicas de sustento, socialização, educação e cuidados, o que amplia o trabalho das mulheres, historicamente responsabilizadas por esses serviços (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Ressalta-se que muitas das novas formas de organização familiar, como as famílias chefiadas por mulheres, as monoparentais, ou a de um único provedor em situação de trabalho precário e irregular acumulam pobreza, vulnerabilidades e User Realce 32 dificuldades de cuidados aos membros dependentes, sendo-lhes impossível atuar de forma preventiva. Responsabilizá-las ainda mais e potencializar-lhe funções clássicas, de acordo com Cronemberger e Texeira (2014), só aumentaria o sentimento de culpa por não poder cumpri-las, conforme as expectativas sociais. Cronemberger e Texeira (2014), assinalam que a crítica mais contundente à afirmação da família como referência das políticas públicas, na atualidade, está associada à regressão da participação do Estado na provisão de bem-estar e a consequente privatização das respostas às refrações da questão social, tomadas agora como “casos de famílias”. Ou seja, segundo eles, desvia-se da rota da garantia dos direitos sociais por meio de políticas públicas de caráter universal e entra-se na rota da focalização das políticas públicas, nos segmentos mais pauperizados da população, em parceria com as organizações não governamentais de assistência. Nesse sentido, fortalece-se significativamente o privado, como instância de provisão de bem-estar, apostando nas organizações da sociedade civil e da família como provedoras de serviços (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). Destarte, Cronemberger e Texeira (2014) defendem que a proteção social primária deve permanecer no âmbito das relações informais guiadas pelo amor, solidariedade e cooperação (exceto quando destrutivas e geradoras de violação de direitos), de modo que a função de uma política pública é oferecer serviços de proteção básica e especial que sejam preventivos ou especializados e trabalho socioeducativo emancipatório, não apostando, potencializando e fortalecendo essas funções da família como forma de prevenir e tratar os problemas sociais. Como destacado, a família protege, regida pelos princípios de afetividade, cooperação e solidariedade, pois é uma unidade especializada de vínculos e relações de pertencimento que não precisa ser formalizada, administrada ou responsabilizada pelo Estado. As restrições formais imputadas à família são formas de responsabilizá- la e punir a que não cumpra os ditames impostos pelas legislações. Em relação à direção da centralidade na família, a PNAS/2004 ora a reconhece como sujeito de direitos e sujeita à proteção social, ora a toma como agente de proteção social natural e informal, que tem de ser potencializada com novas competências para cuidar melhor de seus integrantes e minimizar a necessidade de serviços públicos, reduzindo-se as demandas ao Estado (CRONEMBERGER; 33 TEXEIRA, 2014). Mesmo dito isso, o SUAS representa uma clara possibilidade de avanço na sua organização e no seu legítimo reconhecimento como política de seguridade social, ainda que existam diversas questões a serem discutidas e repensadas, como a matricialidade sociofamiliar, que passa a ter papel de destaque no âmbito do SUAS e merece ser melhor decifrada, debatida e redefinida (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). O próprio esboço da incorporação do PAIF e PAEFI como serviço, caracterizando, assim, ações de natureza continuada e com financiamento regulado é um avanço e demanda novas perspectivas de trabalho social com famílias, numa dimensão de efetivação de direitos e numa lógica de emancipação e protagonismo social (CRONEMBERGER; TEXEIRA, 2014). 34 4 REFERÊNCIAS ABRAHÃO, Eduarda Bastos; PARRÃO, Juliene Aglio de Oliveira. Família contemporânea: estratégias de trabalho para o serviço social. In: III Congresso Internacional de Política Social e Serviço Social: Desafios Contemporâneos; IV Seminário Nacional De Território e Gestão De Políticas Sociais; III Congresso de Direito à Cidade e Justiça Ambiental. Londrina/PR, de 02 a 05 de Julho de 2019. ANDRADE et al. Direitos sociais e formação profissional em serviço social: uma leitura a partir do Curso de Serviço Social da UFAM. In: VII Jornada Internacional Políticas Públicas. São Luís/MA, 25-28 ag./2015. BARRETO, Maria José; RABELO, Aline Andrade. 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