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FÍSICA – ELETRICIDADE AULA 5 Profª Fernanda Fonseca CONVERSA INICIAL O eletromagnetismo permite que compreendamos efeitos da natureza e também que possamos produzir a energia elétrica que abastece diariamente nossas casas. O processo de produção dessa energia está relacionado ao funcionamento de geradores elétricos que se baseiam na indução eletromagnética. Nesta aula, discutiremos sobre esse fenômeno físico, buscando compreender a forma e os fatores envolvidos no processo de indução eletromagnética e de dispositivos eletrônicos indutores em circuitos elétricos. TEMA 1 – A LEI DE FARADAY E A LEI DE LENZ Buscando aprofundar-se ainda mais nos estudos de eletromagnetismo, Michael Faraday (que já havia investigado os efeitos das forças magnéticas em fios condutores de corrente elétrica) procurou verificar se corpos magnéticos (eletroímãs e ímãs) poderiam afetar ou gerar propriedades magnéticas em outros corpos condutores. Em um de seus experimentos, observou que, ao ligar a corrente elétrica em uma bobina, uma pequena corrente elétrica surgia em outra bobina próxima (veja na Figura 1 o esquema experimental montado por Faraday). Mas esse efeito era observado apenas imediatamente após ligar a corrente e desligá-la na primeira bobina. Referiu-se a esse efeito como indução. Entretanto, ainda em dúvida sobre a causa dos fenômenos, Faraday resolveu investigar se o efeito era criado por uma variação magnética (Dias; Martins, 2004). 3 Figura 1 – Experimento de Faraday para verificar a indução eletromagnética Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock. Por isso, em 1831, Faraday desenvolveu um experimento para verificar a indução de corrente elétrica criada pela movimentação de uma barra magnética no interior de uma bobina. Ao inserir o ímã no interior da bobina, observou que a agulha de um galvanômetro (instrumento utilizado para medir correntes elétricas) associado em série com a bobina se moveu. Ao retirar o ímã do interior da bobina, observou que a agulha do galvanômetro se moveu novamente, mas no sentido oposto (veja a Figura 2). Esse trabalho complementou a “descoberta do eletromagnetismo por Oersted, mostrando a existência de um fenômeno inverso (produção de efeitos elétricos pelo magnetismo) e fornecendo a base necessária para o desenvolvimento de uma nova área de pesquisas” (Dias; Martins, 2004, p. 529). 4 Figura 2 – Experimento de Faraday com corpo magnético Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock. A produção de uma corrente induzida observada na bobina decorre da formação de uma força eletromotriz (fem) induzida 𝜀𝑖𝑛𝑑 nas espiras. Outros cientistas também investigaram o fenômeno e perceberam que, havendo uma variação magnética em determinado local, essa fem existe mesmo se não existir o caminho condutor e mesmo se for incompleto, daí não existir corrente elétrica sendo transmitida (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). Essa variação magnética ocorre devido à inconstância do fluxo magnético pela superfície da bobina. E essa fem induzida é igual em intensidade à taxa de variação do fluxo magnético na bobina (Equação 1). 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑𝜙𝑀 𝑑𝑡 (1) O sinal negativo da Equação 1 foi explicado por Lenz, que, após o estudo de Faraday, observou que “a fem induzida tem sentido tal que se opõe, ou tende a se opor, à variação que a produz” (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). Como a indução da fem ocorre em oposição à variação do fluxo magnético no tempo, é inserido esse sinal negativo na Equação 1, sinalizando o efeito opositor (Figura 3). Figura 3 – Lei de Lenz 5 De maneira similar, podemos definir que a fem induzida média pode ser determinada pela variação do fluxo ∆𝜙𝑀 em um determinado intervalo de tempo t (Equação 2). 𝜀𝑖𝑛𝑑 𝑀É𝐷𝐼𝐴 = − ∆𝜙𝑀 ∆𝑡 (2) Vamos ver exemplos de aplicação dessas leis. Exemplo 1 O fluxo por meio de um anel é dado por 𝜙𝑀(𝑡) = 0,10 𝑡 2 − 0,4 𝑡, em que 𝜙𝑀 está em webers e t em segundos. Determine a fem induzida como função do tempo e o valor do fluxo e da fem induzida no instante inicial e no instante 4,0 s. Resolução Utilizando a Equação 1 para determinar a fem induzida: 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑𝜙𝑀 𝑑𝑡 ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑 𝑑𝑡 [0,10 𝑡2 − 0,4 𝑡] 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −[0,20 𝑡 − 0,40] Se 𝑡 = 0 𝑠 (instante inicial), tem-se que: 𝜙𝑀(0) = 0,10 (0) 2 − 0,4 (0) ⇒ 𝜙𝑀(0) = 0 𝑊𝑏 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −[0,20 (0) − 0,40] ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 = +0,40 𝑉 Se 𝑡 = 4,0 𝑠 (instante inicial), tem-se que: 𝜙𝑀(4,0) = 0,10 (4,0) 2 − 0,4 (4,0) ⇒ 𝜙𝑀(0) = 3,2 𝑊𝑏 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −[0,20 (4,0) − 0,40] ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −0,40 𝑉 6 Exemplo 2 Uma bobina com 2.000 espiras é alinhada de forma que seu plano fique perpendicular a um campo magnético uniforme de 0,5 × 10−4 𝑇. Se a área da espira é de 2 cm² e a resistência elétrica é de 10 m, qual a carga elétrica transferida pela espira se esta girar o plano 180° em relação à direção do campo magnético? Resolução Como o vetor área (A = 2 cm2 = 2 × 10−4m²) da espira forma inicialmente um ângulo de θ0 = 0°, o fluxo magnético inicial que atravessa a espira (com N = 2000 espiras) é dado por: M0 4 4 M0 5 M0 N B A cos0 2000 0,5 10 T 2 10 m² 1 2 10 Wb Com a espira rotacionada, o ângulo entre o vetor campo magnético e o vetor área da bobina passou a ser θ = 180°. De forma semelhante ao item anterior: Mfinal 4 4 Mfinal 5 Mfinal N B A cos180 2000 0,5 10 T 2 10 m² 1 2 10 Wb A diferença entre os fluxos ocorre porque há uma variação do campo magnético que atravessa o plano da espira causada pela rotação da bobina. É essa variação de fluxo que induz uma fem na bobina, conforme a Equação 2. 𝜀𝑖𝑛𝑑 𝑀É𝐷𝐼𝐴 = − ∆𝜙𝑀 ∆𝑡 𝜀𝑖𝑛𝑑 𝑀É𝐷𝐼𝐴 = − (−2 × 10−5 𝑊𝑏) − (2 × 10−5 𝑊𝑏) ∆𝑡 𝜀𝑖𝑛𝑑 𝑀É𝐷𝐼𝐴 = 4 × 10−5 ∆𝑡 𝑉 Para determinar a quantidade de carga ∆q, é necessário verificar a intensidade da corrente elétrica i na bobina. 𝑖 = ∆𝑞 ∆𝑡 = 𝜀𝑖𝑛𝑑 𝑀É𝐷𝐼𝐴 𝑅 7 ∆𝑞 ∆𝑡 = ( 4 × 10−5 ∆𝑡 𝑉) 10 × 10−3Ω ∆𝑞 ∆𝑡 = 4 × 10−5 (10 × 10−3Ω)∆𝑡 ∆𝑞 = 4 × 10−3𝐶 ⇒ ∆𝑞 = 4𝑚𝐶 TEMA 2 – OS GERADORES ELÉTRICOS A maior parte da energia elétrica usada atualmente é produzida por geradores elétricos, que permitem a produção de corrente alternada (da qual falaremos futuramente). De forma simplificada, um gerador consiste em uma bobina (com N espiras) girando em uma região com um campo magnético uniforme. As extremidades da bobina são conectadas a anéis que giram com ela, cujo contato com o circuito externo é feito por escovas de grafite em contato com os anéis (Figura 4). A bobina em rotação causa uma variação do fluxo magnético, o que induz uma fem na bobina. Essa fem é transmitida para um circuito externo. Veja que o fluxo magnético varia devido à variação do ângulo entre o vetor área normal ao plano da bobina (𝐴) e o campo magnético da região (�⃗⃗�). Esse ângulo varia em função do tempo em 𝜃 = 𝜔𝑡, em que é a velocidade angular de rotação da bobina e t é o tempo. 8 Figura 4 – Gerador elétrico Crédito: Studio BKK/Shutterstock. Diante disso, podemos entender que o fluxo magnético pode ser escrito em função do tempo pela Equação 3. 𝜙𝑀 = 𝑁 ∙ 𝐵 ∙ 𝐴 ∙ cos 𝜃 ⇒ 𝜙𝑀 = 𝑁 ∙ 𝐵 ∙ 𝐴 ∙ cos(𝜔𝑡) (3) Essa relação nos permite determinar a fem induzida causadora da corrente alternada (Equação 4). 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑𝜙𝑀 𝑑𝑡 ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑 𝑑𝑡 [𝐵 ∙ 𝐴 ∙ cos(𝜔𝑡)] 𝜀𝑖𝑛𝑑 = +𝜔 ∙ 𝑁 ∙ 𝐵 ∙ 𝐴 ∙ 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡) { 𝜀𝑖𝑛𝑑= 𝜀𝑚𝑎𝑥 ∙ 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡) 𝜀𝑚𝑎𝑥 = 𝜔 ∙ 𝑁 ∙ 𝐵 ∙ 𝐴 (4) 9 Exemplo Uma bobina circular de raio 2 cm tem 500 espiras e gira em uma região de campo magnético uniforme de 0,2 T. a) Qual é a máxima fem gerada quando a bobina gira a 100 rev/s? b) Em que instante a fem induzida é de 50 V? Resolução Podemos determinar a área da superfície da bobina e a velocidade angular: 𝑅 = 2,00 𝑐𝑚 = 2,00 × 10−2 𝑚 → 𝐴 = 4,00𝜋 × 10−4 𝑚² 𝐵 = 0,2 𝑇 𝑣 = 100 𝑟𝑒𝑣 𝑠 → 𝜔 = 100 ∙ 2𝜋 𝑟𝑎𝑑 1𝑠 = 200𝜋 𝑟𝑎𝑑/𝑠 𝑁 = 500 𝑒𝑠𝑝𝑖𝑟𝑎𝑠 a) A partir desses dados, podemos determinar a fem máxima pela Equação 4. 𝜀𝑚𝑎𝑥 = 𝜔 ∙ 𝑁 ∙ 𝐵 ∙ 𝐴 𝜀𝑚𝑎𝑥 = (200𝜋 𝑟𝑎𝑑 𝑠 ) ∙ 500 ∙ (0,2 𝑇) ∙ (4,00𝜋 × 10−4 𝑚2) 𝜀𝑚𝑎𝑥 = 78,96 𝑉 b) Para determinar o instante de tempo t em que a fem induzida é de εind = 50 V, utilizamos a Equação 4. 𝜀𝑖𝑛𝑑 = 𝜀𝑚𝑎𝑥 ∙ 𝑠𝑒𝑛 (𝜔𝑡) ⇒ 𝑡 = 𝑎𝑟𝑐 𝑠𝑒𝑛 ( 𝜀𝑖𝑛𝑑 𝜀𝑚𝑎𝑥⁄ ) 𝜔 𝑡 = 𝑎𝑟𝑐 𝑠𝑒𝑛 (50 𝑉 78,96 𝑉⁄ ) 200𝜋 𝑟𝑎𝑑 𝑠 𝑡 = 0,6857 𝑟𝑎𝑑 200𝜋 𝑟𝑎𝑑 𝑠 𝑡 = 1,09 × 10−3 𝑠 → 𝑡 = 1,09 𝑚𝑠 10 TEMA 3 – CORRENTES PARASITAS Quando um campo magnético varia em uma região na qual foi posicionada uma placa condutora, as cargas livres existentes nela reagem em resposta a essa variação, criando correntes elétricas denominadas correntes de Foucault. Essas correntes parasitas são criadas em material condutor plano paramagnético ou diamagnético (Cattani; Vannucci, 2014), conforme são mostradas as correntes induzidas circulares na placa condutora da Figura 5. Figura 5 – Correntes de Foucault Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock. Essas correntes parasitas podem ser indesejáveis em alguns casos, mas úteis em outros. Como provocam perda de energia decorrente do efeito Joule, quando a corrente elétrica é transmitida no material da placa, que dissipa a energia para o ambiente, esse efeito pode ser um problema. Por esse motivo, buscaram-se formas de reduzir essa perda aumentando a resistência dos caminhos possíveis para as correntes parasitas. Uma forma de fazer isso é utilizar placas compostas por pequenas lâminas condutoras fixas umas às outras por uma cola isolante, que acaba por confinar as correntes parasitas nas pequenas lâminas individualmente. “Os grandes anéis de correntes parasitas são quebrados, e a energia perdida é significativamente reduzida” (Tipler, 2000, p. 276). Outra forma de reduzir essas correntes é utilizando uma grade condutora em vez de uma placa condutora fechada (veja a Figura 6). Materiais condutores 11 que não são paramagnéticos nem diamagnéticos não sofrem os efeitos das correntes de Foucault. Figura 6 – Grade redutora dos efeitos das correntes de Foucault Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock. As mesmas correntes de Foucault que causam a perda de energia de um sistema podem ser utilizadas para desenvolver freios e amortecedores eletromagnéticos. Um exemplo é o caso dos freios eletromagnéticos utilizados em alguns vagões, que utilizam as correntes parasitas para criar uma força de oposição ao movimento, desacelerando o vagão (Figura 7). Figura 7 – Uso de freios eletromagnéticos em vagões Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock. 12 Na Figura 7, é possível observar que Um grande eletroímã é posicionado no veículo sobre os trilhos. Se o ímã é energizado por uma corrente em suas bobinas, correntes parasitas são induzidas nos trilhos pelo movimento do ímã, e as forças magnéticas produzem uma força de arraste no ímã que serve para frear o vagão. (Tipler, 2000, p. 276) Os eletroímãs fixados na base do vagão induzem correntes parasitas nos trilhos metálicos sobre os quais o vagão se desloca. Essas correntes induzidas, por sua vez, geram forças opostas ao sentido no seu movimento, e por isso essa força acaba desacelerando o veículo. A criação de correntes parasitas ocorre porque campos magnéticos variáveis produzem campos elétricos. TEMA 4 – AUTOINDUÇÃO E INDUTÂNCIA MÚTUA A passagem de corrente elétrica variável em uma bobina pode causar a indução de um fem na própria bobina, assim como duas (ou mais) bobinas próximas que conduzem corrente elétrica podem se influenciar induzindo fem uma à outra, mutuamente. Vamos falar mais sobre esses fenômenos. 4.1 Autoindutância Veja que uma bobina, quando conduz corrente elétrica, produz um campo magnético ao seu redor. Esse campo é proporcional à intensidade dessa corrente elétrica i, mas terá uma magnitude diferente em cada ponto da superfície, dependendo também do seu formato e dimensões. Esse campo magnético, produzido pela bobina condutora, também cria um fluxo magnético 𝜙𝑀 pela superfície limitada da própria bobina, dado pela Equação 4. Na Equação 5, a constante de proporcionalidade L (que depende da forma geométrica da bobina) é denominada autoindutância (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). A unidade de medida dessa grandeza é o henry (1 𝐻 = 1 𝑊𝑏 𝐴 = 1 𝑇 ∙ 𝑚2 𝐴 ). 𝜙𝑀 = 𝐿 ∙ 𝑖 (5) 13 No caso de um solenoide com N espiras e de comprimento l, a autoindutância pode ser determinada pela relação mostrada na Equação 6. 𝐿 = 𝜙𝑀 𝑖 = 𝑁² ∙ 𝜇0 ∙ 𝐴 𝑙 (6) Em que A é a área das espiras que compõem o solenoide, e 𝜇0 é a permeabilidade magnética no vácuo (𝜇0 = 4𝜋 × 10 −7 𝐻/𝑚). Como a variação da corrente gera um fluxo que varia no tempo e, consequentemente, causa uma variação na autoindutância, uma fem autoinduzida 𝜀𝑖𝑛𝑑 (Equação 7) pode ser produzida na bobina. Quando a autoindução é significativa, essa bobina é chamada de indutor, podendo ser utilizada em diferentes circuitos que exploram suas características de autoindutância (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑𝜙𝑀 𝑑𝑡 ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 = − 𝑑 𝑑𝑡 [𝐿 ∙ 𝑖] 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 (7) Exemplo Uma corrente elétrica que percorre uma bobina com 7,5 H de autoindutância é aumentada de 1 mA em 200 mA/s. Nesse caso, qual será o fluxo magnético por meio da bobina e fem autoinduzida? Resolução Sendo L = 7,50 H, como a autoindutância e a corrente elétrica inicial i = 1,00 mA = 1,00 × 10−3 A, podemos determinar o fluxo magnético pela Equação 5. 𝜙𝑀 = 𝐿 ∙ 𝑖 𝜙𝑀 = (7,50 𝐻) ∙ (1,00 × 10 −3 𝐴) 𝜙𝑀 = 0,750 𝑊𝑏 Como a corrente elétrica sofre variação em uma taxa crescente de di dt = +200 mA s = +200 × 10−3A/s, a fem autoinduzida na bobina pode ser determinada pela Equação 7. 14 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −(7,50 𝐻) (+200 × 10−3𝐴 𝑠 ) 𝜀𝑖𝑛𝑑 = −1,5 𝑉 4.2 Indutância mútua Quando temos duas bobinas condutoras que estejam próximas (mesmo em circuitos distintos), a corrente elétrica que atravessa a primeira bobina gera um campo magnético 𝐵1⃗⃗⃗⃗⃗ na região da segunda bobina, que se soma vetorialmente ao campo magnético 𝐵2⃗⃗ ⃗⃗⃗ dessa segunda bobina, uma vez que ela mesma conduz corrente elétrica. É o campo magnético resultante da soma desses campos que constitui o fluxo magnético por meio da segunda bobina (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). Para entender melhor esse processo, vamos observar a Figura 8. Figura 8 – Indução mútua Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock. 15 Veja que na Figura 8, no primeiro caso, a Bobina 1 está mais próxima da Bobina 2. Por esse motivo, o campo magnético gerado pela Bobina 1 afeta a região em que a Bobina 2 se encontra. Já no segundo caso, a Bobina 1 está mais distante da Bobina 2 e, por esse motivo, a Bobina 2 não é afetada pelo campo magnético gerado pela corrente elétrica da primeira bobina. Por isso, observaremos o efeito da indução mútua apenas em bobinas próximas. O fluxo magnético que atravessa a bobina também depende da geometria dos doiscircuitos (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). Podemos determinar o fluxo magnético pela Bobina 2, por exemplo, pela Equação 8. Nessa equação, 𝜙𝑀 12 representa o fluxo magnético devido ao campo magnético 𝐵1⃗⃗⃗⃗⃗, criado pela Bobina 1 na Bobina 2, e 𝑖1 é a intensidade da corrente elétrica transmitida pela Bobina 1. 𝜙𝑀 12 = 𝑀12 ∙ 𝑖1 (8) A constante de proporcionalidade 𝑀12 representa a indutância mútua dos dois circuitos. Podemos então definir que a fem induzida 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 na Bobina 2 (devido à corrente elétrica na Bobina 1) é dada pela Equação 9. 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = − 𝑑𝜙𝑀 12 𝑑𝑡 ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = − 𝑑 𝑑𝑡 [𝑀12 ∙ 𝑖1] 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = −𝑀12 𝑑𝑖1 𝑑𝑡 (9) Da mesma forma que a Bobina 1 interfere na Bobina 2, o contrário também é válido. A Bobina 2, devido à condução de corrente elétrica, gera um campo magnético na região da Bobina 1, alterando o fluxo magnético com essa bobina. Podemos, então, definir o fluxo magnético 𝜙𝑀 21, devido ao campo magnético 𝐵2⃗⃗ ⃗⃗⃗ na Bobina 1, pela Equação 10, na qual adotamos 𝑖2 como a intensidade da corrente elétrica transmitida pela Bobina 2. 𝜙𝑀 21 = 𝑀21 ∙ 𝑖2 (10) A constante de proporcionalidade 𝑀21 representa a indutância mútua dos dois circuitos. Podemos, então, definir que a fem induzida 𝜀𝑖𝑛𝑑 1 na Bobina 1, devido à corrente elétrica na Bobina 2, é dada pela Equação 11. 𝜀𝑖𝑛𝑑 1 = − 𝑑𝜙𝑀 21 𝑑𝑡 ⇒ 𝜀𝑖𝑛𝑑 1 = − 𝑑 𝑑𝑡 [𝑀21 ∙ 𝑖2] 16 𝜀𝑖𝑛𝑑 1 = −𝑀21 𝑑𝑖2 𝑑𝑡 (11) Os valores de 𝑀12 e 𝑀21 sempre são idênticos. Por isso denotaremos apenas como M, mesmo que as bobinas não sejam idênticas, podendo reescrever as Equações 9 e 11 como a Equação 12. Essa indutância mútua, da mesma forma que a autoindutância, também é medida em henry. 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = −𝑀 𝑑𝑖1 𝑑𝑡 𝑒 𝜀𝑖𝑛𝑑 1 = −𝑀 𝑑𝑖2 𝑑𝑡 (12) Exemplo A indutância mútua entre duas bobinas é de 2,45 × 10−4 𝐻. Se a corrente elétrica em uma bobina decresce com uma taxa de 2 mA/s, qual será a fem induzida em outra bobina nas proximidades? Resolução Como a indutância mútua é de M = 2,45 × 10−4 H, e sabendo que a taxa de variação da corrente na primeira bobina é de di1 dt = −2 mA s = −2 × 10−3A/s, podemos determinar a fem induzida na Bobina 2 pela Equação 10. 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = −𝑀 𝑑𝑖1 𝑑𝑡 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = −(2,45 × 10 −4 𝐻)(−2 × 10−3𝐴/𝑠) 𝜀𝑖𝑛𝑑 2 = +4,90 × 10 −7 𝑉 TEMA 5 – OS INDUTORES NOS CIRCUITOS ELÉTRICOS Da mesma forma que um capacitor armazena energia elétrica, indutor é um dispositivo que armazena energia magnética. Esses dispositivos têm várias aplicações. Uma delas é como redutor de picos de tensão, como no caso de raios, em que grandes indutores geram uma fem induzida em oposição ao aumento de tensão e suprimem as variações bruscas de corrente elétrica (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). Na Figura 9 você pode ver a representação de um indutor em um circuito. 17 Figura 9 – Representação de indutor em circuito elétrico Fonte: Ilhamjb23/Shutterstock. O objetivo do indutor é criar uma corrente elétrica em oposição à variação da corrente elétrica do circuito. Por isso, é utilizado mesmo em circuitos de corrente contínua, pois tem a função de mantê-la constante. Em lâmpadas fluorescentes, os indutores são ligados em série para limitar a corrente no circuito, uma vez que o aquecimento do gás das lâmpadas reduz a resistência do dispositivo e aumenta a corrente no circuito. Também permite que esse tipo de lâmpada funcione em tensão alternada (cujos valores oscilam com frequência de 60 Hz), evitando que o gás deixe de estar ionizado quando a tensão é nula (Halliday; Resnick; Walker, 1996; Tipler, 2000; Young; Freedman, 2015). Ao criar um campo magnético, um indutor que conduz corrente elétrica i armazena energia magnética. Essa energia pode ser determinada pela Equação 11. 𝑈𝑀 = 1 2 𝐿 ∙ 𝑖2 (11) 5.1 Circuito RL Um circuito RL é composto por um resistor e um indutor, como na Figura 10. Entretanto, essa análise pode ser feita em qualquer circuito, uma vez que todos têm resistência e autoindutância. 18 Figura 10 – Circuito RL Utilizando as leis de Kirchhoff para analisar o circuito da Figura 10, podemos definir que: 𝑉𝑓𝑜𝑛𝑡𝑒 + 𝑉𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑜𝑟 + 𝑉𝑖𝑛𝑑𝑢𝑡𝑜𝑟 = 0 𝜀0 − 𝑖 ∙ 𝑅 − 𝐿 𝑑𝑖 𝑑𝑡 = 0 𝑖 = 𝜀0 𝑅 (1 − 𝑒− 𝑅𝑡 𝐿⁄ ) (13) Considerando que, no instante t=0 s, a corrente no circuito é nula (e depois cresce até o valor máximo de 𝑖𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙), podemos definir que: { 𝑖𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 = 𝜀0 𝑅 𝜏 = 𝐿 𝑅 ⇒ 𝑖 = 𝑖𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 (1 − 𝑒 −𝑡 𝜏⁄ ) (14) em que é a constante de tempo do circuito. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos o fenômeno de indução eletromagnética e como dispositivos indutores afetam diferentes circuitos elétricos. Observamos que a variação do campo magnético (e consequentemente do fluxo magnético), devido à passagem de correntes elétricas variáveis em bobinas, pode causar efeitos em outros dispositivos próximos e na própria bobina, por causa dessa indução. 19 REFERÊNCIAS CATTANI, M.; VANNUCCI, A. Correntes de Foucault: aspectos básicos. Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 1-8, 2014. DIAS, V. S.; MARTINS, R. A. Michael Faraday: o caminho da livraria à descoberta da indução eletromagnética. Ciência & Educação, Bauru, v. 10, n. 3, p. 517-530, 2004. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: eletromagnetismo. Tradução de SOTERO, D. H. S.; COSTAMILAN, G. B. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996. v. 3. ROCHA, J. F. M. (Org.) Origens e evolução das ideias da física. Salvador: EDUFBA, 2002. TIPLER, P. A. Física para cientistas e engenheiros: eletricidade, magnetismo e ótica. Tradução de MACEDO, H.; BIASI, R. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. YOUNG, H. D.; FREEDMAN, R. A. Física III, Sears e Zemansky: eletromagnetismo. 14. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015.
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