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191TÓPICO 5 | TERMODINÂMICA 13. Transformações reversíveis e irreversíveis Denomina-se transformação reversível aquela em que, após seu término, o sistema pode retornar às suas condições iniciais pelo mesmo caminho, isto é, passando pelos mesmos estados intermediários, na sequência inversa daquela ocorrida na transformação inicial, sem interferência externa. A transformação será irreversível se o processo não puder satisfazer às condições citadas acima. Do exposto, podemos entender que a maioria dos processos naturais são ir- reversíveis, sendo o processo reversível apenas uma idealização teórica. Quando, por exemplo, misturamos dois gases diferentes, torna-se impossível voltar a separá-los sem uma intervenção externa; quando provocamos a expansão livre de um gás, ele não voltará espontaneamente a ocupar as condições iniciais. 14. Entropia Sabemos que a temperatura e a energia interna são duas variáveis de estado utilizadas na descrição do estado termodinâmico de um sistema. Em 1865, Rudolf Clausius usou pela primeira vez uma outra variável, que denominou entropia (S). Clausius observou que, se as Leis da Natureza puderem atuar, sem interferências, em um sistema, o mais provável é que os integrantes desse sistema tendam a uma disposição desordenada. Se, por exemplo, em uma viagem passamos por um bos- que e encontramos árvores alinhadas e separadas por distâncias praticamente iguais, vamos concluir que elas foram plantadas por alguém. Se, no entanto, esse bosque, em sua formação, ficou apenas sob as leis naturais, uma “desordem” no posicionamento das árvores é o que devemos esperar. Na sua mesa de estudo, o normal é encontrarmos seus objetos de uma forma desordenada, e o natural é que essa desordem aumente durante o seu estudo. A partir de observações como essas, Clausius estabeleceu a ideia de entropia como sendo uma medida dessa desordem. Como a entropia é uma medida da desordem e os sistemas físicos tendem para estados cada vez mais desordenados, podemos inferir que, em processos naturais (sujeitos apenas às Leis da Natureza), a entropia do Universo vem au- mentando ao longo do tempo. Essa poderia ser outra maneira de enunciarmos a 2a Lei da Termodinâmica. Segundo Clausius, quando estudamos a entropia como uma grandeza física na forma potencial, o importante não é sabermos o seu valor absoluto, mas sim a variação dessa grandeza durante uma transformação. Assim, ele definiu que a varia- ção de entropia (DS) de um sistema, quando se agrega uma quantidade de calor (Q), mediante um processo reversível (à temperatura absoluta constante T), é dada por: S Q T D 5 Caso a temperatura se altere durante o processo, somente poderemos determi- nar a variação de entropia por meio de cálculo infinitesimal, que foge do nível esta- belecido para o nosso curso. No entanto, quando ocorrem pequenas variações de temperatura, podemos mantê-la constante em seu valor médio e utilizar a expressão anterior, com boa aproximação, para o devido cálculo da variação da entropia. Do exposto, podemos concluir que: 1) Se um sistema recebe calor Q . 0, sua entropia aumenta e DS . 0. 2) Se um sistema libera calor Q , 0, sua entropia diminui e DS , 0. 3) Se um sistema não troca calor com o meio externo (transformação adiabá- tica), Q 5 0, a entropia do sistema não varia e DS 5 0. No Universo, a entropia está aumentando ao longo do tempo. K a u k o H e la v u o /S to n e /G e tt y I m a g e s 2CONECTEFis_MERC18Sa_U1_Top5_p160a207.indd 191 7/7/18 2:16 PM 192 UNIDADE 1 | TERMOLOGIA Máquina térmica O primeiro dispositivo que funcionava usando a força do vapor data do século I da Era Cristã. Um estudioso de nome Heron, que viveu em Alexandria, Egito, deixou um esboço da primeira “máquina térmica” de que se tem notícia, a eolípila. Essa máquina era uma esfera metálica, oca, encaixada em um cano, através do qual recebia vapor de uma caldeira. Em suas laterais encontravam-se dois canos em forma de L. O vapor entrava na esfera e saía pelos canos em L. Isso provocava o movimento de rotação do dispositivo. Esse “motor” não realizava trabalho, era apenas uma forma de se demonstrar a “força” do vapor. No século XVIII, mais precisamente em 1712, Thomas Newcomen (1662- -1729), nascido em Dartmouth, Inglaterra, mecânico de profissão, aperfeiçoou uma máquina inventada por seu sócio Thomas Savery (1650-1715), que seria utilizada na drenagem de minas. Essa máquina foi instalada com grande sucesso nas minas de carvão em Staffordshire, na Grã-Bretanha, e, por qua- se cinquenta anos, foi utilizada para evitar a inundação das galerias subter- râneas da área. No entanto, esse dispositivo tinha o inconveniente de gastar muito combustível, sendo usado apenas quando os outros meios de drenagem não estavam em funcionamento. Em 1765, coube ao engenheiro escocês James Watt (1736-1819) aperfeiçoar a máquina de pistão de Thomas Newcomen, criando um dispositivo mais eco- nômico e prático. Essa nova máquina a vapor passou a substituir a força animal e humana no funcionamento das máquinas indus- triais, deflagrando o período histórico denominado Revolu- ção Industrial, que transformou toda a estrutura social da Europa. Em 1830, após sua morte, funcionavam, só na In- glaterra, mais de 10 000 máquinas a vapor. Em 1814, o inglês George Stephenson (1781-1848) encontrou outra utilidade para as máquinas térmicas de Watt: movimentar uma loco- motiva, revolucionando o transporte de pessoas e de bens produzidos pelas indústrias. Ampliando o olhar A figura ao lado é uma gravura do século XIX que mostra o “motor” inventado por Heron de Alexandria, a eolípila. Essa é a primeira “máquina a vapor” de que se tem notícia. (Coleção particular) Retrato de James Watt, pintado por Carl Frederick von Breda em 1792. National Portrait Gallery, Londres. tração vapor condensado válvula B válvula A água fria cilindro vapor de água condensador pistão caldeira Na figura ao lado, podemos observar um esquema que representa uma das primeiras máquinas térmicas idealizada por James Watt. A água aquecida na caldeira entrava em ebulição e o vapor se expandia, provocando o movimento de um pistão que, acoplado a uma roda, desencadeava o movimento de um eixo. Ligadas a esse eixo, várias máquinas industriais funcionavam e, assim, produziam os bens de consumo da época. G ra n g e r/ O th e r Im a g e s B a n c o d e i m a g e n s /A rq u iv o d a e d it o ra S P L /L a ti n s to ck 2CONECTEFis_MERC18Sa_U1_Top5_p160a207.indd 192 7/7/18 2:16 PM 193TÓPICO 5 | TERMODINÂMICA A geladeira Há evidências de que, desde muito cedo, os seres humanos que viviam em regiões muito frias observaram que o resfriamen- to dos alimentos conseguia conservá-los por mais tempo. Com o deslocamento das populações pelo mundo, esse conhecimento se espalhou. Porém, foi somente no século XIX, precisamente em 1834, que Jacob Perkins (1766-1849) patenteou um compressor que podia solidificar a água, produzindo gelo artificialmente. A uti- lização desse compressor possibilitou que algumas indústrias prosperassem, como as cervejarias. Os comerciantes de carne agora podiam mandar seus produtos para os mais distantes países. No início do século XX, em 1902, o americano Willis Carrier (1876-1950) instalou em uma gráfica, na cidade de Nova York, o primeiro aparelho de ar condicionado, que permitia res- friar e controlar a umidade do ambiente. No início da década de 1920, surgiram nos Estados Unidos os primeiros refrigeradores domésticos, que logo se popularizaram. Hoje, no Brasil, mais de 80% das residências têm geladeira. O funcionamento de uma geladeira baseia-se em um processo de transferência de calor de uma fonte fria para uma quente. Esse pro- cesso não é espontâneo. É necessária uma energia externa, em for- ma de trabalho (no compressor), para que essa transferência possa ocorrer. A geladeira possui, portanto,uma fonte fria (o congelador) e outra quente (o radiador), que se encontra na parte externa traseira, em forma de serpentina. O fluido operante usado é o fréon, que vaporiza a baixa pressão no congelador e se condensa a alta pressão no radiador. O mecanismo utilizado para reduzir a pressão no congelador é uma válvula; para aumentar a pressão no radiador, o mecanismo é um compressor, muito parecido com aquele que Perkins inventou. Observe que o fréon retira calor do interior da geladeira ao se vaporizar no congelador e libera calor para o ambiente no radiador, quando se condensa ao ser comprimido pelo compressor. As partes principais do mecanismo de uma geladeira: A. Compressor: o fréon entra no estado gasoso com baixa pressão e sai com alta pressão, já condensado. B. Válvula: um tubo estreito (capilar) que diminui a pressão do vapor. C. Radiador: serpentina externa (localizada na parte traseira) na qual o vapor se liquefaz, liberando calor para o ambiente. D. Congelador: o fréon no estado líquido se vaporiza ao absorver calor do interior da geladeira. TA , TB |QB| 5 |QA| 1 τ f onte quente (TB) τ QA QB f onte fria (TA) máquina frigorífica Este esquema representa uma máquina frigorífica. Espontaneamente, a fonte fria não transfere energia para a fonte quente. Assim, é necessário “forçar” essa transferência pela realização de trabalho sobre o sistema. A energia recebida pela fonte quente é a soma da energia retirada da fonte fria com o trabalho realizado sobre a máquina. Fotografia de geladeira do final do século XIX. Na parte superior era colocado gelo, que, ao resfriá-la, fazia o papel do atual congelador. Na parte interna útil, o ar que se aquecia retirando calor dos alimentos subia por convecção e era resfriado na face interna superior. C A D B A c e rv o d o a u to r/ A rq u iv o d a e d it o ra B a n c o d e i m a g e n s / A rq u iv o d a e d it o ra B a n c o d e i m a g e n s /A rq u iv o d a e d it o ra 2CONECTEFis_MERC18Sa_U1_Top5_p160a207.indd 193 7/7/18 2:16 PM
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