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Autores: Profa. Ivy Judensnaider Prof. Maurício Manzalli Colaboradores: Prof. Fabio Gomes da Silva Prof. Flávio Celso Müller Martin Prof. Livaldo dos Santos Economia e Negócios Professores conteudistas: Ivy Judensnaider / Maurício Felippe Manzalli Ivy Judensnaider: Economista pela Fundação Armando Álvares Penteado, mestra pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Programa de Estudos Pós-Graduados em História da Ciência. Atualmente é professora da Universidade Paulista – UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração, onde coordena o curso de Ciências Econômicas no Campus Marquês (SP). Também atua no setor de publicações, dirigindo a editora eletrônica arScientia, e é autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na web. Maurício Felippe Manzalli: Economista pela Universidade Paulista – UNIP e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor da UNIP nos cursos de Ciências Econômicas e Administração e também é coordenador do curso de Ciências Econômicas na mesma universidade. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) J95 Judensnaider, Ivy Economia e Negócios. / Ivy Judensnaider; Maurício Felipe Manzalli - São Paulo: Editora Sol. 140 p. il. Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-015/11, ISSN 1517-9230. 1.Economia 2.Negócios 3.Mercado I.Título CDU 330.3 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Batista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Alessandro de Paula Sumário Economia e Negócios APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 O QUE É ECONOMIA, AFINAL? .....................................................................................................................11 1.1 Economia: conceito e contexto .......................................................................................................11 1.2. O desenvolvimento da economia enquanto área do saber ............................................... 22 2 FOI SEMPRE ASSIM? ...................................................................................................................................... 26 2.1 Nos dias de hoje .................................................................................................................................... 27 2.1.1 Os bens ........................................................................................................................................................ 27 2.1.2 O fluxo circular da renda e do produto ......................................................................................... 28 2.1.3 A organização da atividade econômica ......................................................................................... 31 2.2 Há muito tempo ................................................................................................................................... 34 3 A ÉTICA DO CAPITAL ....................................................................................................................................... 39 3.1 O empreendedorismo ......................................................................................................................... 39 3.2 A construção histórica do espírito empreendedor ................................................................. 42 4 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO ..................................................................................................... 47 Unidade II 5 O SISTEMA CAPITALISTA E OS MERCADOS ........................................................................................... 63 5.1 O que são estruturas de mercado?................................................................................................ 63 5.2 Como se formaram os grandes oligopólios? ............................................................................. 67 6 A CRISE DE 1929, O SISTEMA CAPITALISTA E A MÃO VISÍVEL DO ESTADO.............................. 74 6.1 A crise ........................................................................................................................................................ 74 6.2 A intervenção do Estado ................................................................................................................... 78 Unidade III 7 A ECONOMIA E OS NEGÓCIOS NO SÉCULO XX ................................................................................... 90 7.1 A inflação dos anos 1970 .................................................................................................................. 90 7.2 O discurso globalizador ...................................................................................................................... 96 8 O QUE AINDA HÁ PARA DISCUTIR? .......................................................................................................105 8.1 As fronteiras de possibilidade de produção .............................................................................105 8.2 A determinação do ponto de equilíbrio entre oferta e demanda .................................. 110 8.3 Crescimento versus desenvolvimento ........................................................................................ 112 8.4 Estado mínimo versus welfare state ........................................................................................... 117 7 APRESENTAÇÃO Caro aluno, O livro-texto que aqui apresentamos servirá de apoio ao estudo da disciplina Economia e Negócios. Note que ele está dividido em três unidades. Em cada uma delas você encontrará: a) Textos explicativos que elucidam a matéria. b) Resumos do conteúdo estudado; c) Exercícios comentados; d) Tópicos para refletir, em que convidamos você a pensar sobre assuntos da atualidade; e) A seção Saiba Mais, em que indicamos filmes e livros que, de alguma forma, complementam os temas investigados. Não deixe de explorar essas sugestões, garantimos que você irá ampliar seu conhecimento sobre os temas apresentados e que essa ampliação será extremamente útil, não apenas na questão específica da disciplina, mas na sua vida profissional. f) Os Lembretes – anotações pontuais que o remetem a alguma informação já conhecida– e as Observações – apontamentos que chamam sua atenção para algum ponto que merecer ser destacado sobre o assunto em desenvolvimento – são recursos que reforçam algumas questões que quisemos salientar. Cada unidade foi estruturada visando a objetivos específicos. Na Unidade I, você entrará em contato com conceitos introdutórios da economia. E, a partir desses conceitos, seráconvidado a refletir sobre a importância do conhecimento econômico e sobre a construção histórica do mundo em que vivemos. O conteúdo dessa unidade é formado por: conceitos relacionados às ciências econômicas e à economia de mercado; a importância do estudo da economia; a questão dos recursos escassos versus necessidades ilimitadas; os recursos de produção; as perguntas fundamentais: o quê e quanto, como e para quem produzir; a categorização de bens; o fluxo circular da renda e de produto; a organização da atividade econômica; a transição do feudalismo para a economia de mercado. Os objetivos dessa unidade também levarão você a entrar em contato com os aspectos históricos referentes à construção do mundo dos negócios tal qual o conhecemos hoje. Essa análise vai permitir- lhe refletir sobre a realidade atual e sobre o ambiente econômico em que vivemos. O conteúdo dessa unidade, portanto, abrange também: o empreendedorismo; a transição do feudalismo para a economia de mercado; as transformações éticas exigidas por um novo tempo; os setores da economia; o processo de industrialização e a Revolução Industrial; os autores clássicos. São objetivos da Unidade II: pô-lo em contato com a formação dos grandes oligopólios. A assimilação dessas informações vai permitir-lhe refletir sobre as atuais estruturas de mercado, tanto do ponto de 8 vista do consumidor quanto da perspectiva do administrador. Você entenderá, ainda, as relações entre as crises do capital e as estruturas de mercado, bem como compreenderá o papel do Estado como regulador do mercado. Compõem o conteúdo dessa unidade: as estruturas de mercado: concorrência perfeita, oligopólio, monopólio e concorrência monopolista; a crise do capital do final do século XIX; a formação dos grandes oligopólios; a teoria marxista e a oposição ao capitalismo; crise de 1929 e a intervenção do Estado na economia: a investigação das variáveis macroeconômicas. Por fim, os objetivos da Unidade III complementam e aprofundam a matéria até aqui apresentada. Nessa unidade você poderá compreender o processo de inflação e as dificuldades pelas quais passaram todos os países (desenvolvidos e em desenvolvimento) na década de 1970. Você também tomará contato com alguns temas da atualidade de grande repercussão que, sabemos, têm influência direta no nosso cotidiano, nos nossos empregos e na nossa renda. Nessa unidade você encontrará o seguinte conteúdo: as variáveis macroeconômicas e as causas da inflação; o discurso globalizador; as fronteiras de possibilidades de produção; a determinação do preço de equilíbrio; o crescimento versus o desenvolvimento; o Estado mínimo e o welfare state. Nossa proposta, portanto, não é a de tão somente transferir-lhe um conjunto predeterminado de saberes. As escolhas metodológicas e didáticas a partir das quais o livro-texto foi confeccionado incluem o aperfeiçoamento do espírito crítico e o desenvolvimento das capacidades e habilidades de produção e geração de conhecimento. Dessa forma, você poderá notar que os conteúdos econômicos estão sempre entrelaçados aos contextos sócio-históricos que os geraram, bem como aos problemas do cotidiano e do ambiente dos negócios. Esperamos que você aprecie o texto e que, a partir dele, possa conhecer o mundo econômico e seus impactos no ambiente de negócios. Bom trabalho! INTRODUÇÃO As necessidades da vida cotidiana implicam o conhecimento de economia por todos, independentemente da área profissional ou da formação acadêmica. Assim, qualquer indivíduo tem noções de microeconomia e de macroeconomia, mesmo que não saiba exatamente do que tratam esses saberes. Em outras palavras, todos nós nos deparamos com aspectos relacionados à formação de preços, às estruturas de mercado, às questões de escassez de bens e serviços, à inflação, ao desempenho de determinados setores da economia e aos níveis de desenvolvimento e crescimento das nações. As manchetes de jornais evidenciam esta nossa afirmação. Dê uma olhada nos seguintes títulos: “Faltam materiais de construção em razão do aquecimento do mercado”; “O setor terciário da economia é o que mais cresce”; “O monopólio no fornecimento de matéria-prima poderá 9 ser quebrado”; “As mudanças na tabela progressiva do Imposto de Renda poderão impactar a demanda de alimentos”; “A inflação volta a preocupar o Banco Central”. Esses títulos abordam aspectos do mundo econômico capazes de provocar profundas influências na vida de todos. Não é à toa que cada vez mais os jornais não especializados façam a cobertura do mundo econômico, geralmente em cadernos especiais. Da mesma forma, não é à toa que ganhadores do Nobel de Economia costumem ter tanto destaque na mídia quanto personalidades do mundo das artes. É claro que, para efeito desta disciplina, nossa expectativa vai além do conhecimento genérico que a população tem sobre o tema econômico. Por isso, vamos ao significado do termo economia, título dado ao capítulo inicial desta apostila. 11 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 1 O QUE É ECONOMIA, AFINAL? Para entendermos do que trata a economia, partiremos do contexto em que se desenrolam as relações econômicas. Em especial, vamos nos reportar a um evento ocorrido em passado recente para, a partir dele, compreender de que forma o mundo econômico funciona. 1.1 Economia: conceito e contexto Em outubro de 2008, o mundo foi atingido pela notícia de que uma nova crise econômica assolava o planeta, com consequências tão trágicas quanto as da quebra da bolsa americana em 1929. Segundo Judensnaider (2009), Delfim Netto, em palestra proferida na Universidade Paulista, opinou que estaríamos vivendo mais uma das tantas crises da história do capitalismo. ”O mundo não vai acabar”, nas palavras do economista. Do ponto de vista da economia de mercado, isso é absolutamente correto. Ainda de acordo com a autora: Desde o século XVIII, o mundo vem caminhando lentamente para se organizar sobre estruturas básicas que são conhecidas como sendo de economias de mercado. De forma simplificada, e considerando o período dos setecentos até o século XXI, poderíamos identificar três grandes momentos de inflexão do capital, a saber, a primeira grande depressão do final do século XIX, a grande depressão dos anos 1930 e as crises do final da década de 1970. Em cada uma delas, o sistema de mercado deu um jeito de resolver a situação: inicialmente, “avançou” em direção a novos mercados por meio de estratégias imperialistas, e que isso tenha acabado em guerra é assunto com o qual economistas do mainstream não costumam se preocupar. Na de 1930, entre as duas grandes guerras mundiais, o capital, reconhecendo a inabilidade das suas mãos invisíveis, atribuiu ao Estado o papel de tirar a economia de mercado do imenso buraco em que havia se metido. Depois, cansado da imobilidade à qual estava sujeito por força da mão visível do Estado, arquitetou o grande discurso da globalização, sedimentando, ao longo da trilha, os caminhos para a liberdade do capital através de incursões militares em países estrangeiros e da institucionalização de organismos financeiros internacionais. Que mundo econômico é esse e como o instrumental teórico da economia nos permite conhecê-lo e nele operar? Vejamos, inicialmente, do que trata a economia. Unidade I 12 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Economia é uma palavra derivada do grego oikosnomos (oikos = casa; nomos = lei) e representa a administração de uma casa, entendida como um patrimônio particular, uma empresa ou um Estado. Dessa forma, a ciência econômica estuda as relações entre famílias, empresas e governo para compreender os fenômenos que norteiamo funcionamento do mundo em que vivemos. A preocupação central dessa ciência social é a análise da produção de bens e da distribuição da renda, dado o problema da escassez de recursos e as necessidades ilimitadas dos indivíduos. Entendido o que é economia, vejamos alguns exemplos de problemas econômicos básicos de nosso cotidiano. Por exemplo, a forma como distribuímos nossa renda, proveniente de nosso salário, diante da grande quantidade de mercadorias e serviços dos quais necessitamos para a manutenção da vida. Apresentado dessa forma, parece bastante simples, pois sabemos o quanto ganhamos, qual nosso salário e do que necessitamos durante uma semana, um mês, um ano etc. Vamos, porém, pensar com mais calma: para que tenhamos algum salário, torna-se necessária nossa participação em alguma atividade produtiva, seja trabalhando em alguma indústria, numa loja de comércio ou prestando algum serviço. Além disso, uma série de outras variáveis determinam os modos por meio dos quais distribuiremos nossa renda. Observação Quer “visualizar” um exemplo sobre o tema? Então leia a rubrica Saiba Mais. Lá indicamos uma comédia muito interessante, que retrata os esforços de uma dona de casa para prover sua família e suas necessidades peculiares. O enredo proporciona, ainda, uma excelente oportunidade para a compreensão dos mecanismos de crédito no mundo moderno. Saiba mais Sobre o assunto, sugerimos que veja o filme Rosalie vai às compras. Dir. Percy Adlon, 90 minutos, 1989. Como ilustração, listamos a seguir alguns problemas econômicos que a ciência econômica está preocupada em explicar e que interferem no nosso cotidiano: • como a fixação da taxa de câmbio impacta a vida das empresas e a do cidadão comum? • o que ocorre com a renda da população diante de um anúncio do governo sobre uma elevação nas taxas de juros? 13 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 • por que o preço da gasolina sobe quando um determinado país não tem capacidade suficiente para produzi-la? • por que a renda da região Norte-Nordeste de nosso país tende a ser menos concentrada do que a renda da região Sul-Sudeste? • por que o PIB de um país cresce conforme a sociedade consome maior quantidade de mercadorias? • quais são os fatores explicativos da subida dos preços dos chocolates na proximidade da Páscoa? • por que um governo que gasta mais do que arrecada tem dificuldades de financiar seus déficits? • qual a importância para a vida de cada um dos brasileiros quando um país vende uma empresa estatal ao capital internacional? • o que significa inflação? • o que é desemprego? Aparentemente, cada uma dessas questões em nada impacta nossa vida individual. No entanto, pensemos na seguinte situação: em um determinado período, em alguma manchete de jornal impresso ou pelos telejornais, é anunciada a seguinte informação: o balanço de pagamentos do ano de 2010 apresentou superávit de zilhões de reais, e esse superávit é proveniente dos saldos positivos da balança comercial, demonstrando que as exportações da economia do país em questão foram maiores que suas importações. Mas, por que as exportações foram maiores do que as importações? Podemos levantar algumas hipóteses: 1) As exportações desse país foram maiores em 2010, pois nesse ano as empresas nacionais produziram uma quantidade maior de mercadorias do que no ano anterior; 2) As exportações desse país foram maiores em 2010, pois nesse ano o consumo por parte dos seus habitantes foi menor; assim, uma forma de se desfazer dos estoques de mercadorias produzidas foi exportar; 3) As exportações desse país foram maiores em 2010, pois nesse ano o governo adotou medidas que favoreceram as exportações, desvalorizando a taxa de câmbio, por exemplo. Observamos que, para apenas uma pergunta, elaboramos três possíveis respostas que somente poderão ser efetivamente consideradas como certas e verdadeiras depois de analisados os números da realidade concreta. 14 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Vejamos outro exemplo. A figura 1, a seguir, mostra-nos a pegada ecológica (área necessária para produzir o que consumimos em termos de recursos naturais e absorver as emissões de carbono) que deixamos na Terra. Valor ideal Região / País -- Pegadas em ha por pessoa 1,8 Se cada pessoa vivesse neste padrão, de quantos planetas precisaríamos 1 América do Norte USA Canadá América Latina Brasil Argentina 9,4 9,6 7,6 2,0 2,1 2,3 5,22 5,33 4,22 1,11 1,16 1,27 África África do Sul Somália Europa (UE) Alemanha Suécia 1,1 2,3 0,4 4,8 4,5 6,1 0,61 1,27 0,22 2,66 2,56 3,38 Ásia Pacífica Japão China Índia Austrália 1,3 4,4 1,6 0,8 6,6 0,72 2,44 0,88 0,44 3,66 Figura 1 - Pegada ecológica O que a figura expressa? Ela revela que, quanto maior o crescimento do país, maior é a pegada ecológica. Indica que, no caso dos países em desenvolvimento, a pegada ecológica é menor. Para podermos concluir algo a respeito dos dados apresentados, podemos levantar algumas hipóteses: Saiba mais Sobre a questão desenvolvimento/ecologia/globalização/aquecimento, sugerimos que veja o documentário Uma verdade inconveniente. Dir. Davis Guggenheim, 100 minutos, 2006. 15 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Observação No documentário indicado, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore discute questões relativas ao aquecimento global e apresenta algumas ideias sobre sustentabilidade. Lembrete Protocolo de Kyoto (1997) – acordo em que os 189 países signatários se comprometem a controlar a emissão de gases que agravam o aquecimento global por meio do aumento do efeito estufa. Você deve lembrar-se que os Estados Unidos não aceitaram assiná-lo. 1) O crescimento econômico degrada o ambiente; 2) O crescimento econômico não implica condições favoráveis de qualidade de vida; 3) O crescimento econômico é incompatível com a ideia de sustentabilidade a longo prazo. Novamente, podemos ter várias possíveis respostas que, somente a partir da utilização do positivismo e não do lado normativo da economia, serão efetivamente consideradas como corretas se observada a realidade, ainda que esses dados devessem ser analisados a partir de determinadas percepções a respeito do que significam qualidade de vida e sustentabilidade. Mais: provavelmente teremos que diferenciar crescimento de desenvolvimento econômico. É sobre isso, também, que trata a economia. Utilizando a contribuição de um renomado economista, Paul Samuelson, chegamos ao seguinte conceito: Economia é o estudo de como os homens e a sociedade decidem, com ou sem a utilização do dinheiro, empregar recursos produtivos escassos, que poderiam ter aplicações alternativas, para produzir diversas mercadorias ao longo do tempo e distribuí-las para consumo, agora e no futuro, entre diversas pessoas e grupos da sociedade. Ela analisa os custos e os benefícios da melhoria das configurações de alocação de recursos (SAMUELSON, 1979, p. 3). Talvez, a partir desse conceito, seja difícil pensar em como os problemas econômicos afetam o nosso cotidiano. Vamos, então, partir para uma análise que nos tome, a nós, indivíduos, como base. Pense, primeiramente, em sua renda. Se você trabalha, ou seja, se participa de alguma atividade produtiva, recebe um salário que chamaremos de renda. Esse seu salário, seja ele qual for, será distribuído entre todas as suas necessidades de consumo. Salário é a sua renda, e suas categorias de consumo dizem respeito às suas despesas; portanto, estamos descrevendo seu orçamentoparticular. 16 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Vamos supor que sua renda seja destinada ao pagamento de contas de luz, água, telefone, alimentação, moradia, transporte, lazer, vestuário etc. Após alocar sua renda entre todas essas categorias de despesa, ainda pode ter sobrado uma parcela que você poupará para consumo futuro. Mas, agora, você está cursando uma universidade e as mensalidades serão incorporadas a essa cesta de consumo, ou seja, o valor das mensalidades concorrerá por uma parcela de sua renda, assim como concorre o quanto você gasta com alimentos, moradia, transporte, lazer etc. Nesse caso, você introduziu mais uma categoria de gasto para uma mesma renda. Sem pensar muito, para que consiga dar conta de efetuar todos os seus pagamentos, você deverá distribuir cada parcela de sua renda para cada um de seus gastos. Esse simples exemplo já ilustra uma parte do conceito dado por Samuelson, ou seja, a economia estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados. Nesse exemplo bastante simples – que vale também para a nossa realidade e a de mais uma grande quantidade de brasileiros –, o emprego de recursos escassos é ilustrado por nossa renda, e os usos alternativos, pela nossa cesta de consumo ou por tudo aquilo em que gastamos nossa renda. Pensemos agora não mais do ponto de vista individual, mas sim do de uma família formada por pai, mãe e filhos, ou seja, uma unidade familial. Essa família precisa ser mantida: vestir-se, alimentar-se, morar, locomover-se. Ela tem, conjuntamente, uma cesta de consumo que deve ser atendida por meio de uma renda, a renda familiar, já que em nosso exemplo cada um dos membros da família participa de alguma atividade produtiva. Portanto, a renda familiar deve dar conta de responder a toda e qualquer categoria de gastos da família. Cada entrada de dinheiro será chamada de renda; cada saída de dinheiro – quer dizer, os pagamentos efetuados pela família – será denominada despesa. Eis aí então o orçamento familiar. Vamos transferir o foco para as dimensões de uma empresa. Ela pode produzir mercadorias e vendê-las diretamente aos seus consumidores. Segundo Ferguson (1983), vários livros-texto conceituam produção como a criação de utilidades, em que utilidade significa a capacidade de um bem ou serviço satisfazer a uma necessidade humana. Partindo da noção de que as empresas são agentes maximizadores de resultados, a Teoria da Firma procura estudar e responder a como as empresas combinam a utilização dos fatores de produção necessários à criação de coisas úteis e o quanto gastam para produzir bens e serviços. Diante disso, pode-se pensar apenas no caso de uma empresa comercial, comprando mercadorias produzidas por outras empresas e vendendo diretamente aos consumidores, ou ainda uma prestadora de algum serviço. Quando uma empresa produz certa mercadoria – mesas, por exemplo – ela necessita de meios de produção, dos bens necessários à execução de sua atividade produtiva. Para produzir determinada mercadoria, necessita comprar meios de produção e pagará por essa aquisição. Em nosso exemplo simples da produção de mesas, essa empresa hipotética precisa adquirir fórmica, madeira, ferro, parafusos, colante, além de dispor de uma grande quantidade de máquinas e ferramentas. Também precisa contratar pessoas para trabalhar. Quando essa empresa adquire os meios de produção, ela tem um custo com a produção. Esse custo será dado pela multiplicação de duas variáveis: o preço de cada uma das mercadorias que adquire e as 17 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 quantidades das mercadorias adquiridas. Portanto, ela tem um custo de produção, uma despesa com sua produção. Imaginando que as empresas não produzem mercadorias para satisfazer suas próprias necessidades de consumo, essa empresa empreenderá todos os seus esforços para vender sua produção. Quando essa empresa vende o que produz, recebe uma quantidade de dinheiro proveniente da venda. A essa quantidade de dinheiro daremos o nome de receita de vendas, que nada mais será do que a multiplicação de duas variáveis: o preço da mercadoria e a quantidade de mercadorias vendidas. Então, quando mencionamos as receitas e as despesas empresariais, estamos falando do orçamento empresarial. De forma nítida, estamos tratando de trocas. Empresas produzindo mercadorias para consumo da sociedade em troca de recursos – monetários, no caso – a serem aplicados novamente na produção de mais mercadorias, e assim por diante. Por outro lado, temos as pessoas trabalhando para empresas, indivíduos que, em troca de sua força de trabalho, recebem salário na forma de dinheiro e cujo destino é o consumo de mais mercadorias. Para Jorge e Moreira (1990, p. 27), “qualquer que seja a forma de organização da atividade econômica de uma comunidade, (...) seus objetivos são muito semelhantes: busca-se otimizar a satisfação do indivíduo, de um lado, e, de outro, maximizar a eficiência produtiva”. Estamos, portanto, em condições de entender o que é, afinal, economia de mercado. Economia de mercado é, conforme Jorge e Moreira (1990, p. 29), aquele espaço em que impera a propriedade privada dos bens de produção, ao lado de decisões sobre o que e quanto produzir, fundamentadas no mercado e nos preços. As atividades econômicas são, portanto, dirigidas e controladas unicamente por empresas privadas, que competem entre si. Daí a alcunha de ‘economia de mercado’, porque o mercado é o habitat natural das empresas. Segundo Luxemburg (1970), as empresas, em regimes capitalistas de produção, existem não para satisfazer as necessidades de consumo da sociedade, mas, sim, para valorizar o capital investido; elas existem, portanto, para gerar lucros. Procurarão aumentar as quantidades vendidas de suas mercadorias via aumento da produção e, para tanto, procurarão utilizar a menor quantidade possível de recursos. Dessa forma, buscarão gastar cada vez menos com a quantidade de meios de produção que adquirem para, muitas vezes, aumentar a quantidade de lucros que obtêm. Portanto, as empresas também sofrem com a limitação de recursos à disposição diante de suas categorias de despesas. Já ilustramos o cidadão individual, as famílias e as empresas. E com relação ao governo? Ele, de forma muito simplificada, tem algumas obrigações e também alguns direitos. Por obrigações, deve prover bens públicos como energia, transporte e saneamento básico. Deve construir escolas, estradas, hospitais, pagar aposentadorias e pensões, além de uma série de obrigações sobre as quais não nos estenderemos neste momento. Ainda, o governo legisla a respeito de questões 18 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 trabalhistas ou contratuais e também arrecada recursos da população na forma de impostos. Portanto, o governo, por meio de sua arrecadação, aufere uma receita. Para prover bens públicos à sociedade, esse governo também tem custos com tal provisão, ou seja, ele gasta e tem despesa com sua atividade. Tratamos, então, do orçamento do governo, orçamento do setor público, representado por suas receitas e despesas. Da mesma forma que um indivíduo procura organizar da melhor maneira possível seu orçamento particular, as famílias também o fazem, assim como as empresas. Com o governo não será diferente: ele procurará alocar da melhor forma seus recursos disponíveis diante da grande quantidade de itens de gasto que tem à sua frente. Salvo algumas exceções, não podemos afirmar quenossa família tradicional adquire tudo aquilo de que tem vontade. O mesmo ocorre com as empresas e com os governos. Por que não podemos afirmar isso? Pelo simples fato da escassez. Qual escassez? A escassez de recursos necessários para a aquisição de todas as mercadorias disponíveis ao consumo. Segundo Samuelson (1979), a ciência econômica existe para dar conta de responder a um grande problema: o da escassez de recursos frente a uma grande quantidade de mercadorias e diante da ilimitada necessidade de consumo dos indivíduos. Portanto, o conflito surge da seguinte forma: Recursos limitados x necessidades ilimitadas A quais recursos estamos nos referindo? Aos recursos produtivos, também denominados fatores de produção. Esses elementos, indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais, serão chamados de terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial. • por terra, entendem-se as terras destinadas à agricultura e pecuária, ou seja, terras cultiváveis, florestas, minas e outros produtos provenientes da utilização do solo. • por trabalho, entende-se a mão de obra empregada na produção de mercadorias ou na prestação de serviços; portanto, o homem. • por capital, entende-se o capital financeiro, ou seja, o dinheiro necessário para dar impulso a qualquer empreendimento industrial, comercial ou de qualquer outro tipo. Também consideramos como capital as máquinas, os equipamentos e as instalações. Assim, o capital assume duas formas: a monetária e a física. • por tecnologia, entendem-se as máquinas e os equipamentos necessários à produção das mais diversas mercadorias. Também chamamos de tecnologia as técnicas de produção utilizadas pelas empresas, ou seja, o know-how relativo à técnica de produção e ao conhecimento científico. • por capacidade empresarial, entendem-se as habilidades e as ações empresariais, quer dizer, os atos do empreendedorismo dos empresários ou daquelas pessoas dispostas a empreender um novo investimento ou que estão aptas a abrir uma empresa. 19 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Observação Repare que todos os fatores listados são utilizados na produção de bens e serviços. Portanto, todo e qualquer tipo de produção depende, em maior ou menor grau, de cada fator. Cada fator de produção tem uma remuneração diferente em termos de denominação, conforme podemos ver na figura 2. Terra Aluguel Trabalho Salário Capital Juros Tecnologia Direito de propriedade Capacidade empresarial Lucros Figura 2 – Fatores de produção e suas remunerações Cada um desses fatores de produção – quando empregados na produção de qualquer mercadoria – deve receber alguma remuneração. Assim, para Nogami e Passos (2003): • à remuneração do fator de produção terra damos o nome de aluguel. • à remuneração do fator de produção trabalho chamaremos salário. 20 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 • o capital recebe sua remuneração sob a forma de juros. • a tecnologia utilizada na produção de mercadorias recebe a remuneração em forma de direito à propriedade (royalties). • a capacidade empresarial recebe lucros na forma de remuneração. Os fatores de produção utilizados na economia são remunerados e a essa remuneração, vista como um todo, damos o nome mais amplo de renda. Lembrete Recorde-se de que a questão econômica fundamental reside no problema da produção e da distribuição da produção. Essa é uma investigação bastante importante na ciência econômica. Já temos, então, condições de afirmar que a renda de uma sociedade é limitada diante da quantidade de categorias de consumo que ela enfrenta. Ademais, as empresas sempre procuram criar mercadorias novas que chamem a atenção de novos consumidores, criando novos hábitos de consumo ou produzindo, de forma diferente, antigas mercadorias. Então, estamos diante de um dilema. Como, afinal, administrar os recursos escassos de forma a atender às necessidades ilimitadas? Quer dizer, estamos perguntando como responder às seguintes questões: O que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Essas três perguntas básicas, que, à primeira vista, são bastante simples, nos remetem às noções de recursos escassos e necessidades ilimitadas. Então, podemos dizer que o problema econômico fundamental origina-se da escassez de recursos, objeto de investigação da ciência econômica. Vejamos. Se as empresas precisam produzir mercadorias como uma forma de remunerar o capital que é investido – e isso passa pela venda das mercadorias produzidas –, e se os consumidores precisam, dada sua renda escassa ou limitada, alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas, então resta às empresas produzir mercadorias que são procuradas. Todos os recursos necessários para a produção são escassos, assim como o são os recursos que as famílias têm para dar conta de todas as suas necessidades. Isso significa que a sociedade, como um todo, deve ser capaz de organizar um sistema que assegure a produção de bens e serviços suficientes para a sua sobrevivência. Mais: a sociedade deve ser capaz 21 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 de ordenar os frutos de sua produção para permitir não só a continuidade da produção, mas também a distribuição do resultado da produção de forma equitativa entre todos os seus membros. Como a procura por recursos para a produção significa a distribuição dos próprios frutos da produção, a tarefa é monumental. Assim, a resolução dos problemas relacionados à produção e à distribuição da produção é traduzida no problema econômico fundamental, que gera as três questões anteriormente apresentadas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? O que e quanto produzir? Para Nogami e Passos (2003), a questão referente ao que e quanto produzir diz respeito a quais mercadorias devem ser produzidas pelas empresas de um país e em que quantidades. Responder a esse questionamento significa conhecer o tipo de mercadoria que é procurada por uma coletividade e as quantidades dessa mercadoria que são (ou serão) consumidas. É mais importante produzir alimentos ou investir em produção energética? Como produzir? A questão referente ao como produzir diz respeito à mobilização de esforços, ou seja, a qual técnica de produção utilizar na produção de determinadas mercadorias. Responder a esse questionamento significa conhecer as tecnologias disponíveis: cada mercadoria possui uma técnica de produção diferenciada das demais. Umas necessitam de maior quantidade de matéria-prima; outras, de maior quantidade de máquinas e equipamentos; outras demandam grande quantidade de mão de obra em seu processo de produção. Imaginemos, por exemplo, a diferença entre os processos de produção de automóveis e daquele pão francês que compramos na padaria mais próxima de nossa casa. Devem ser diferentes. São diferentes. Uma utiliza grande quantidade de robô e tecnologia, enquanto a outra é mais intensiva na utilização de mão de obra, trabalho. Afinal, quanto usar de cada recurso disponível, de forma a obter o máximo, evitar desperdícios e ter garantida a sustentabilidade da produção? Deve-se preferir usar mão de obra intensiva ou é preferível usar máquinas para aumentar a produtividade? (BESANKO e BRAEUTIGAM, 2004). Para quem produzir? A questão referente ao para quem produzir diz respeito às opções políticas que, necessariamente, devem ser feitas. A quem priorizar? A qual segmento da sociedade devemos atender? De todas as demandas feitas por uma sociedade, qual deve serprioritária e qual deve ser postergada? Quem precisa de mais serviços de saúde: a população dos centros urbanos ou da periferia? Devemos construir escolas de Ensino Fundamental ou Ensino Médio? Quais são, afinal, as necessidades mais prioritárias e a quem devemos atender primeiro? Dessa forma, o como produzir diz respeito à alocação de esforços: não basta que homens e mulheres sejam postos a trabalhar; eles devem trabalhar nos lugares certos a fim de produzir os bens e serviços de que a sociedade necessite. Assim, além de assegurarem uma quantidade suficientemente grande de esforço social, as instituições econômicas da sociedade devem garantir uma alocação viável desse esforço social. Dessa forma, a pergunta referente ao para quem produzir diz respeito à distribuição do produto (NOGAMI e PASSOS, 2003). Nem sempre a sociedade obtém êxito na alocação adequada de seus esforços. Ela pode produzir carros a mais ou a menos ou dedicar suas necessidades/energias à produção de artigos de luxo, enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de alimentos. Esses fracassos podem afetar o problema da produção de modo tão sério quanto o fracasso em mobilizar uma quantidade adequada de esforços, pois uma sociedade viável deve produzir não apenas bens, mas os bens certos. Não somente deve produzir, mas produzir da maneira correta. Não só atender às necessidades, mas atender àquelas 22 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 mais urgentes e socialmente prioritárias. O ato de produzir, em si e por si mesmo, não responde aos requisitos para a sobrevivência. Além disso, a sociedade deve distribuir esses bens para que o processo de produção possa ter continuidade. Em outras palavras, se uma sociedade quiser assegurar seu constante reaproveitamento material, deverá distribuir sua produção de modo a manter não só a capacidade, mas também a disposição de se continuar trabalhando. Assim, reencontramos o foco da investigação econômica dirigido ao estudo das instituições humanas dedicadas à produção e distribuição de riqueza. É disso que se ocupa a ciência econômica. Por meio de suas teorias, ela conjuga ideias e definições do objeto a ser investigado, estabelece as condições em que cada uma dessas teorias se sustenta para, a partir de argumentos, dar respostas sobre o comportamento dos objetos de investigação, ou seja, para construir hipóteses sobre o funcionamento da realidade concreta. Agora, estamos mais habilitados a ilustrar o campo de observação dessa ciência. Ela: • estuda as atividades econômicas que envolvem o emprego de moeda e a troca entre indivíduos, empresas e governo; • observa o comportamento das empresas, que produzem de modo eficiente, reduzindo custos para obter lucros; • observa o comportamento do consumidor, tendo em vista os preços, a renda de que dispõem e a oferta de bens e serviços. Lembrete Retomemos, então, o teor do conceito de Samuelson (1979, p. 3): a economia, como ciência, estuda o emprego de recursos escassos entre usos alternativos, com o fim de obter os melhores resultados, seja na esfera da produção de bens ou na prestação de serviços. Falta entendermos, finalmente, como essa disciplina se desenvolveu ao longo do tempo e como é confundida com o seu próprio objeto, a economia de mercado. 1.2. O desenvolvimento da economia enquanto área do saber Quando as ciências econômicas passam a existir como área específica do conhecimento e do saber? É geralmente aceito pelos economistas que a economia ganha corpo e musculatura com o advento da Revolução Industrial e com o desenvolvimento dos mecanismos de mercado de formação de preço e alocação dos recursos de produção. Seu estatuto de ciência é estabelecido já no século XIX e, desde então, economistas debatem incansavelmente sobre seu objeto de estudo, sua metodologia, seu campo de atuação e seus limites, o que só demonstra a vitalidade e a energia desse corpus científico. 23 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Os atos econômicos precedem a existência da economia como ciência. Do ponto de vista antropológico, o ser humano vem estabelecendo relações de troca com seu grupo e com a natureza desde sempre, assim o fazendo, em parte, para garantir as condições materiais necessárias a sua sobrevivência. Havia, em período anterior ao século XVIII (data que marca o nascimento da economia), atividade econômica, e sobre ela foram escritas obras e realizados estudos. Por que, então, entender que a economia investiga uma determinada forma de organização econômica, qual seja, aquela que resulta das relações existentes no mercado? Saiba mais Quer ver uma obra interessante sobre a evolução da humanidade? Então aceite nossa sugestão e assista ao filme A guerra do fogo. Dir. Jean-Jacques Annaud, 100 minutos, 1981. Uma resposta possível é que apenas a partir do nascimento da economia de mercado tornou-se possível falar em atos econômicos com interesses e objetivos essencialmente econômicos; as relações sociais passaram a ser explicadas em razão de um sistema econômico organizado. Antes disso, seriam as relações sociais as variáveis explicativas das formas de produção material. Do ponto de vista histórico, Heilbroner (1987, p. 27) afirma que a humanidade conseguiu resolver os problemas de produção e distribuição de três maneiras apenas. Ou seja, dentro da enorme diversidade das instituições sociais que guiam e dão forma ao processo econômico, o economista descortina apenas três tipos abrangentes de sistemas que, separadamente ou em combinação, habilitam a humanidade a resolver seu desafio econômico. Esses três grandes tipos sistêmicos podem ser designados como economias governadas pela tradição, pelo mando e pelo mercado. Observação A belíssima obra do diretor francês, indicada no Saiba Mais, mostra os diferentes estágios do desenvolvimento social da espécie humana. Embora ele tenha tomado a liberdade de colocar todos os estágios como se tivessem ocorrido simultaneamente, você poderá perceber o valor e a importância de cada transformação e o quanto nossa sociedade e nosso modo de viver foram historicamente construídos ao longo do tempo. Antes da economia de mercado, o chefe de família provê sua prole porque isso é o que a sociedade espera dele. As trocas se realizam não para o lucro, mas para a sobrevivência material. O governo distribui a riqueza para os cidadãos, por que esse é o seu papel. É apenas com o advento do capitalismo que os fatores de produção (mão de obra, terra, conhecimento técnico, capacidade empresarial e dinheiro, entre outros) não apenas se dirigem ao mercado, mas fazem mesmo parte dele. 24 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O que fazer, então, com os atos econômicos anteriores às sociedades capitalistas, ou que nelas não estejam inseridos? Normalmente são transferidos, como objeto de estudo, para os antropólogos econômicos, embora essa transição não ocorra de forma tranquila, nem para os economistas nem tampouco para os antropólogos. Digamos então que, para fins desta disciplina, basta não confundirmos a economia (ciência) com o próprio sistema de mercado. Não há relação de sinonímia entre as duas. Economia é (ou tem a pretensão de ser) a ciência que investiga como fatores escassos de produção são alocados para a produção de bens e serviços que se destinam a saciar necessidades ilimitadas. Economia de mercado, por outro lado, é a maneira pela qual – nas sociedades capitalistas – a reprodução material das sociedades passou a se processar, por meio de instituiçõesorientadas exclusivamente para objetivos econômicos, como os mercados (CERQUEIRA, 2001). Nestes, o padrão implica a existência de trocas que produzam preços, ou seja, “trocas realizadas como resultado de barganha, de uma negociação, em que cada parte é livre para buscar sua vantagem e não tem que se submeter, por exemplo, a preços preestabelecidos por algum agente regulador externo” (idem, p. 400). Portanto, compreenderemos que, na economia de mercado, toda a organização da produção é confiada aos mercados, que compõem um sistema autorregulado: indivíduos perseguindo apenas seu interesse pessoal ofertam e demandam mercadorias, fazendo com que estes bens alcancem um preço determinado. As decisões sobre o que e quanto produzir serão tomadas com base apenas nos preços informados pelos mercados, que sinalizam as expectativas de ganho em cada processo produtivo. Da mesma maneira, a distribuição do produto depende apenas de preços, já que eles formam os rendimentos de cada indivíduo: aluguel e salários são os preços do uso da terra e da força de trabalho; o lucro é a diferença entre o preço do produto e os preços dos insumos necessários para sua produção. Em resumo, a reprodução material da sociedade depende de que tudo alcance um preço, ou seja, se comporte como uma mercadoria, inclusive a terra e o trabalho (idem, p. 402). Em nossa opinião, a economia surge como ciência não apenas porque a estrutura econômica passa a ser a de mercado (quer dizer, porque finalmente há o que se investigar), mas porque as condições do pensamento científico daquele momento permitem que ela, como um saber, se organize de forma sistemática e autônoma, e porque, àquele momento (e, de forma hegemônica, até os dias de hoje), o que há para se investigar são justamente as relações que se estabelecem no mercado. Quer dizer que, embora isso acrescente dificuldade à investigação econômica, há que se considerar, porém, que o sistema de mercado foi historicamente construído, não sendo “uma entidade acima do tempo e do espaço” (SILVEIRA, 2007, p. 8). Da mesma forma, os pressupostos comportamentais de racionalidade econômica (autointeresse e propensão para o lucro) não são “naturais”, mas socialmente construídos. Finalmente, há economia sem mercado? Os economistas não são unânimes na resposta a essa pergunta, mas, a despeito de ser extremamente interessante, esse debate extrapola os limites da nossa disciplina. Assim, assumiremos que, segundo os parâmetros científicos da modernidade, a economia nasceu à época de Adam Smith, no século XVIII, sendo Riqueza das nações um texto fundador (e sobre o qual falaremos mais adiante), obra que marca “uma mudança na natureza da reflexão sobre os temas 25 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 econômicos, não tanto pela criação de novos conceitos, mas pelo estabelecimento de um novo arranjo dos conceitos, de um novo ponto de vista” (CERQUEIRA, 2001, p. 397). Fazemos aqui um aparte para citar um dado revelador sobre o crescimento econômico no país mais populoso do mundo, a China – nação que, segundo previsão da Comissão Nacional de População e Planejamento Familiar, principal agência demográfica chinesa, antes do final de 2015 estará com 1,390 bilhão de habitantes. Pois bem, segundo a revista Veja (edição de 16 de agosto de 2010), “a China superou o Japão como a segunda maior economia do mundo no segundo trimestre desse ano – e tudo indica que os chineses vão se firmar no posto até o fim de 2010. Nos oito primeiros anos do século XXI, o crescimento econômico chinês atropelou o japonês. Segundo dados do Banco Mundial, a China cresceu 261% no período, enquanto o Japão, apenas 5%”. Saiba mais Se você quiser se aprofundar no assunto, sugerimos a leitura da revista eletrônica ComCiência, nº 99, ano 2008. Nessa edição, a publicação discute com bastante propriedade as questões relativas à sustentabilidade e ao consumo. Disponível em: <http://www.comciencia.br/comciencia/ ?section=8&edicao=36>. Acesso em: 23 mar. 2011. Você sabia que qualquer cidadão pode acompanhar o orçamento da União? Se você quiser conhecer como a União planeja e executa as políticas públicas e como os recursos financeiros que detém são distribuídos, consulte o site do Senado Federal: <http://www9.senado.gov.br/portal/page/portal/ orcamento_senado>. Acesso em: 23 mar. 2011. Para refletir Vamos pensar um pouco mais? Veja as seguintes situações e reflita conforme o sugerido. Situação – Proposta a redução do ISS para transporte coletivo1. Tramita na Câmara o Projeto de Lei Complementar (PLP) 24/7, que prevê a redução da alíquota máxima do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) incidente sobre serviços de transporte coletivo de passageiros. 1Disponível em: <http://www.direito2.com.br/acam/2007/jul/25/proposta-a-reducao-do-iss-para-transporte- coletivo>. Acesso em: 1º nov. 2010. 26 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Pela proposta, apresentada pelo deputado Sérgio Brito (PDT-BA), a alíquota será reduzida de 5% para 2% sobre o serviço referente ao transporte público municipal. O autor lembra que a alta tributação contribui para a elevação do preço das passagens. “O valor das tarifas de transporte urbano no Brasil impede o acesso de muitos brasileiros ao serviço”, disse. De acordo com estudo da Associação Nacional de Transportes Públicos e do Ministério das Cidades, cerca de 35% da população se desloca a pé, muitas vezes por não ter condições para pagar o transporte. Além disso, acrescenta o parlamentar, outro estudo mostra que as famílias com renda de até cinco salários mínimos chegam a comprometer até 22% de seus ganhos com transporte coletivo. Proposta: como essa situação pode ser discutida em termos dos três problemas econômicos fundamentais (o que produzir, como produzir, para quem produzir)? Situação – Lixo reciclável recuperado no país ainda é pouco, diz secretário2. Enquanto cada brasileiro produz, em média, 920 gramas de lixo sólido por dia, a quantidade de lixo reciclável que é recuperada, seja na coleta seletiva seja por catadores, chega apenas a 2,8 kg por ano, por habitante. “É um volume baixo em relação ao que é produzido, porque, na verdade, a coleta seletiva atinge um percentual só do volume produzido”, afirmou em entrevista o secretário nacional de Saneamento Ambiental, Leodegar Tiscoski. Apesar do baixo índice de coleta seletiva, o secretário disse que a quantidade de lixo produzido pode ser considerada boa. “Só que nos países desenvolvidos, esses volumes tendem a diminuir, uma vez que já existe uma política de redução da produção de lixo, (...) porque há uma redução na produção e há uma seleção prévia desse lixo, do que não vai para o aterro, mas para a reciclagem.” Proposta: como essa situação pode ser discutida em termos dos três problemas econômicos fundamentais (o que produzir, como produzir, para quem produzir)? 2 FOI SEMPRE ASSIM? No mundo em que vivemos, estamos acostumados a ter à nossa disposição vários produtos e serviços que atendem às nossas necessidades cada vez mais diversas. Faz parte do nosso cotidiano, portanto, a existência de várias alternativas e, mais importante, de várias alternativas para cada uma das espécies de produto ou serviço que consumimos. Temos escolhas, em suma. Ainda, entendemos essa situação como absolutamente normal, e de tal forma que nem sequer nos questionamos a respeito de como as empresas fazem para produzir, distribuir e vender tanta variedade. 2Disponível em: <http://www.empreendedor.com.br/content/quantidade-de-lixo-recicl%C3%A1vel-recuperado- no-brasil-ainda-%C3%A9-pequena-diz-secret%C3%A1rio>. Acesso em: 1º nov. 2010. 27 ECONOMIA E NEGÓCIOSRe vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 2.1 Nos dias de hoje As empresas usam o termo SKU para designar a unidade de manutenção de estoque, quer dizer, para identificar cada um dos diferentes itens do estoque que, do ponto de vista da logística, fica associado a um código de identificação. Só para que você tenha uma ideia: em artigo publicado em 6 de agosto de 2010, um site3 dedicado aos negócios de hipermercados afirmou que a proliferação de itens em alguns mercados já apresenta desafios tanto para os supermercados quanto para a indústria, principalmente as que atuam em muitos segmentos. Um exemplo é a Unilever, que, globalmente, tomou a decisão de reduzir seu portfólio de marcas e versões. (...) Em 2008, a empresa tinha mil SKUs. Atualmente tem 850. É impressionante como a sociedade é capaz de produzir e consumir tantos bens! Mas, afinal, o que são bens? E o que são serviços? 2.1.1 Os bens De uma forma bastante simplificada, dizemos que os bens representam algo material, enquanto os serviços representam o intangível. Os bens são divididos entre livres e econômicos. Por bens livres, entendemos aqueles que são consumidos sem requerer qualquer contraprestação como pagamento por sua utilização. Vamos exemplificar: o ar que respiramos, o sol que nos aquece, a chuva que irriga nossas plantações, o vento que movimenta as nuvens. Enfim, há uma infinidade de bens que são livres e que, de alguma forma, nos auxiliam na produção de determinadas mercadorias, bem como na manutenção da vida das pessoas. Com esses bens não nos preocuparemos, justamente pelo motivo de não requererem a contraprestação por seu pagamento. Outro motivo para não nos preocuparmos diz respeito ao fato de que existem poucos bens ainda possíveis de serem considerados livres. Como afirma Schwarz (2009, p. 43), “a globalidade dos recursos naturais já há muito deixou de ser formada por bens livres ou gratuitos, dado terem vindo a assumir, ao longo do tempo, o estatuto de mercadorias”4. Já os bens econômicos serão alvo de especial atenção, pois requerem contraprestação de pagamento por sua utilização e são divididos nas seguintes categorias: de consumo, intermediários e de capital. Os bens de consumo podem ser classificados como duráveis e não duráveis. Um aparelho televisor, por exemplo, é categorizado como bem de consumo durável, assim como um automóvel ou um computador. Serão considerados bens de consumo não durável aqueles que se destroem enquanto são utilizados, ou seja, quando o consumo leva à sua destruição: é o caso de alimentos, roupas, calçados, canetas etc. Os bens de consumo duráveis ou não duráveis atendem diretamente as necessidades de consumo da sociedade, pois já estão prontos para isso. 3Disponível em: <http://www.elojas.com.pt/artigos/o-que-e-o-sku-de-um-produto>. Acesso em: 1º nov. 2010. 4Disponível em: <http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/egg/v14n3/v14n3a04.pdf>. Acesso em: 1º nov. 2010. 28 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Os bens intermediários, por sua vez, serão transformados em bens de consumo por meio do processo de produção. São exemplos as matérias-primas utilizadas nas mais diferentes produções de mercadorias. Para fazer um pão francês, torna-se necessária a utilização de meios de produção, de matérias-primas e de bens intermediários. Por exemplo a farinha que, juntamente com outros ingredientes e bens intermediários, será transformada em pão. Dessa forma, os bens intermediários são utilizados para satisfazer indiretamente as necessidades de consumo da sociedade, pois passarão por um processo de transformação até chegarem à categoria de bens de consumo, duráveis ou não duráveis. Finalmente, temos os bens de capital. São máquinas e equipamentos utilizados para produzir outros bens e que também atendem indiretamente às necessidades da sociedade. Lembrete Não se esqueça: toda vez que empregarmos a palavra bens estaremos nos referindo a bens e serviços. Conforme afirmamos anteriormente, a ciência econômica, por se preocupar com a escassez de recursos diante das necessidades ilimitadas, também é uma ciência voltada aos problemas de escolha, ou seja, procura explicar que tipos de mercadoria devem ser produzidos, portanto escolhidos, em atendimento às necessidades da sociedade. Não é por outro motivo que foi enunciado o problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Agora, como decidir qual quantidade de aviões ou de sapatos deve ser produzida? Só de aviões e de sapatos vive uma sociedade? Sabemos que não. Então, como isso é resolvido? A resolução desse problema passa pela organização da atividade econômica. Antes de explicarmos como a atividade econômica é organizada, vamos investigar as relações entre a produção de mercadorias e o seu consumo. 2.1.2 O fluxo circular da renda e do produto Afirmamos, em passagens anteriores, que as empresas produzem mercadorias com o objetivo de vendê-las e de, a partir da venda desses produtos, tirar algum proveito de lucro. Para que as empresas consigam vender os artigos produzidos, é necessária a existência de consumidores capazes de comprá-los; isso somente será possível se eles tiverem recursos suficientes, aos quais já denominamos como renda. Vejamos então na figura 3 o modelo esquemático do fluxo circular da renda que representa o funcionamento de uma economia de mercado. 29 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Gastos ($) (=PIB) Receitas ($) (=PIB) Mercado de produtos Bens e serviços comprados Bens e serviços vendidos Fluxo de bens e serviços Famílias Empresas Fluxo de dinheiro Terra, capital, trabalho e empreendedorismo Insumos para a produção Mercado de fatores de produção Renda ($) (=PIB) Salários, aluguéis, juros e lucros ($) (PIB) Modelo do fluxo circular da renda e do produto Figura 3 – Fluxo circular de renda Esse fluxo circular de renda, ainda que de maneira bastante simplificada, representa o funcionamento de uma economia de mercado. Para Hubbard e O’Brien (2009, p. 106), esse modelo: (...) deixa de fora o importante papel do governo na compra de bens das empresas e na realização de pagamentos, como os de seguridade social ou seguro-desemprego, para as famílias. A figura também deixa de fora o papel exercido pelos bancos, pelos mercados de ações e de títulos de dívida e por outras partes do sistema financeiro, que é o de ajudar o fluxo de fundos dos credores para os mutuários. A figura também não mostra que alguns bens e serviços comprados são produzidos em países estrangeiros e que alguns bens e serviços produzidos por empresas domésticas são vendidos para famílias estrangeiras. Outra questão de vital importância: o modelo pressupõe uma economia entre dois setores, ou seja, considerando somente o relacionamento de empresas e famílias. Essa é uma simplificação que deve ser levada em consideração, já que, conforme afirma Schwarz (2009, p. 41): A economia deve ser vista como um sistema aberto, embutido na sociedade e no ambiente natural, que depende, para seu funcionamento e evolução, da existência não só de um quadro organizacional, como de fluxos permanentes de materiais, de energia e de informação: matérias-primas, combustíveis fósseis, água, ar etc. que são por ela capturados, depois 30 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 transformados em bens e serviços aptos a satisfazerem asnecessidades humanas e, por fim, devolvidos à origem na forma de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Estudemos, portanto, nosso modelo simplificado. As empresas destinam bens e serviços às famílias. Dessa forma, as empresas são representadas por todos os produtores ou vendedores de mercadorias, e as famílias representam os consumidores de mercadorias. Como consomem os bens e serviços que são destinados pelas empresas, as famílias também destinam algo a estas últimas. Nesse caso, elas geram as receitas das empresas. As receitas representam as formas de pagamento dos bens e serviços que são efetuados pelas famílias. Para que as empresas produzam bens e serviços que serão destinados às famílias, necessitam empregar fatores de produção. Elas precisam, então, adquirir terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial, recursos esses que são providos pelas famílias. Estas destinam fatores de produção às empresas, e como estas precisam remunerar a utilização desses fatores de produção, também há a contrapartida: as empresas fazem a remuneração dos fatores de produção que foram destinados às famílias. O total dessa remuneração é denominado renda. Ordenando então esses movimentos temos: Empresas destinam bens e serviços para o consumo das famílias → Famílias geram receitas para as empresas, provenientes do consumo de bens e serviços → Famílias destinam fatores de produção às empresas → Empresas geram renda para as famílias, provenientes da utilização de fatores de produção. Observação Se você conseguir entender o funcionamento do fluxo circular da renda, saberá como funciona, de forma genérica, a economia de qualquer país. Voltemos ao fluxo circular da renda anteriormente apresentado: na linha interna dele há o destino de bens e serviços das empresas para as famílias, ao mesmo tempo em que existe também o destino de fatores de produção das famílias para as empresas. A essa linha interna chamaremos fluxo real ou fluxo de bens e serviços, conforme ali indicado. Na linha externa há a geração de receitas, por parte das famílias, para as empresas, ao mesmo tempo em que há a geração, por parte das empresas, de rendas para as famílias. Esses movimentos são chamados de fluxo monetário ou, simplificadamente, fluxo de dinheiro. Percebemos, então, que o fluxo monetário complementa o fluxo real, sendo válido também o contrário. Nesse fluxo circular da renda apresentamos o relacionamento monetário e real entre empresas e famílias, considerando as empresas como produtoras e/ou vendedoras e as famílias como consumidoras. Mas temos que pensar também de outra forma. 31 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 As empresas, para produzirem suas mercadorias, necessitam, muitas vezes, adquirir bens intermediários ou de capital de outras empresas. Portanto, as empresas, além de serem vendedoras, também são compradoras, empreendendo então um relacionamento entre os fluxos monetários e reais entre as próprias empresas. Para as famílias vale outro raciocínio, pois elas também destinam fatores de produção a outras famílias, empreendendo relação tanto monetária quanto real entre si. No fluxo circular da renda, portanto, temos relacionamento empresa-família, empresa-empresa, família-empresa e família-família. No relacionamento empresa-família, as empresas utilizam os fatores de produção das famílias e as remuneram por isso. No relacionamento família-empresa, as famílias utilizam os bens e os serviços que são produzidos pelas empresas e as remuneram por isso. No relacionamento empresa-empresa, as empresas adquirem bens e serviços de outras empresas, gerando receitas de umas para as outras. Por fim, no relacionamento família-família, elas adquirem e destinam seus fatores de produção de umas para as outras, ensejando então fluxos real e monetário entre esses agentes econômicos. Passemos, então, a analisar as formas de organização da sociedade econômica, ou, então, a forma em que as sociedades se organizam para poder cumprir o fluxo circular da renda. 2.1.3 A organização da atividade econômica Estabeleceremos aqui duas formas de organização da atividade econômica: uma descentralizada, predominante nas economias ocidentais, e uma centralizada, personificada no caso cubano (um dos últimos exemplos de economias centralizadas que temos à disposição). A forma descentralizada, também chamada de economia de mercado, reúne três elementos principais: livre iniciativa, presença do Estado e elementos de uma economia capitalista. Vamos examinar detidamente cada um desses elementos. No caso da livre iniciativa, nenhum agente econômico – empresas como produtoras ou vendedoras de mercadorias ou famílias como fornecedoras de fatores de produção e consumidores de mercadorias – se preocupa em desempenhar o papel de gerenciar o bom funcionamento do sistema de preços. Ocupam-se, isso sim, em resolver, isoladamente, seus próprios negócios e sobreviver apenas no ambiente concorrencial imposto pelos mercados, tanto na venda e compra de produtos finais como na dos fatores de produção. É um jogo econômico, baseado em sinais dados por preços formados nos diversos mercados. Trata-se, no fundo, de um agir egoísta que, no conjunto, resolve inconscientemente os problemas básicos da coletividade. Há uma espécie de mão invisível agindo sobre os mercados, operando como um coordenador das atividades econômicas e sociais. A ação conjunta dos indivíduos e das empresas permite que centenas de milhares de mercadorias sejam produzidas como um fluxo constante, mais ou menos voluntariamente, sem uma direção central. A livre iniciativa ajuda a responder ao problema econômico fundamental: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? 32 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O que e quanto produzir é decidido pela procura dos consumidores no mercado, ou seja, são os consumidores quem dão sinais de mercado às empresas do que elas precisam produzir. Assim, o agente principal nesse processo é o consumidor, pois sua atuação determinará quais produtos serão produzidos. Já a questão de como produzir é determinada pela concorrência entre os produtores e pelo emprego do método de fabricação mais eficiente ou mais barato, e o produtor mais eficiente derrotará o produtor mais ineficiente. Por fim, a questão para quem produzir será respondida pela oferta e demanda no mercado de fatores de produção, ou seja, pelo montante de renda individual. Voltemos ao fluxo circular da renda anteriormente apresentado. A livre iniciativa opera conforme demonstrado pelo fluxo, ou seja, as famílias dão sinais de mercado às empresas do que elas necessitam consumir e, portanto, sinalizam o que elas devem produzir. Para tanto, as empresas também dão sinais de mercado de que é necessário empregar fatores de produção (terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial) e em quais quantidades. Dos sinais de mercado, do que produzir e do quanto empregar de fatores de produção, temos a determinação dos preços das mercadorias e dos fatores de produção. Portanto, a livre iniciativa também pode ser chamada de sistema de preços, ou seja, o fluxo circular da renda (ou o sistema de preços) coordena as decisões de milhões de unidades econômicas. Então, além de o fluxo circular da renda demonstrar os fluxos monetário e real, também evidencia a existência de um mercado de bens e de fatores. Sempre que as empresas destinam bens e serviços às famílias, estamos trabalhando com um mercado de bens, em que serão estabelecidos os preços das mercadorias transacionadas, bem como suas quantidades. E sempre que as famílias destinam fatores de produção às empresas, estamos trabalhandocom um mercado de fatores de produção, no qual são estabelecidos os preços de tais fatores, bem como as quantidades utilizadas pelas empresas. O sistema de preços determina preços e quantidade de equilíbrio, pois os consumidores estabelecem os preços máximos que desejam pagar pelo consumo das mercadorias, ao passo que os produtores estabelecem os preços mínimos que desejam remunerar pela utilização dos fatores de produção. Qual o papel do Estado nesse modelo? No que diz respeito à presença, dadas as imperfeições apresentadas pelo sistema de preços da livre iniciativa, ele surge para regulamentar essas atividades. Com relação aos elementos de uma economia capitalista, esse sistema caracteriza-se por uma organização econômica baseada na propriedade privada dos meios de produção, isto é, dos bens de produção ou de capital. Reunir elementos de uma economia capitalista significa aglutinar os elementos que compõem o capitalismo, sistema de capital que se valoriza, que são os seguintes: 33 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 • capital; • propriedade privada dos meios de produção, dada a existência do capitalista; • divisão do trabalho por meio da especialização do trabalho e da mecanização da produção; • existência da moeda. Revisando o que foi apresentado anteriormente, podemos dizer que vivemos numa sociedade baseada nas trocas, as quais se dão por meio do mercado. Nessa sociedade, o agente busca individualmente solucionar o seu problema econômico por meio das trocas. Para isso, ele racionalmente dá em troca à sociedade – no mercado – o que detém, recebendo em troca – também no mercado – o que necessita e não detém. Ou seja, nessa sociedade, para Smith (1983, p. 50): não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Dirigimo-nos não a sua humanidade, mas a sua autoestima, e nunca lhes falamos das nossas próprias necessidades, mas das vantagens que advirão para eles. Portanto, nessa sociedade, de forma anárquica – afinal, cada agente cuida de si –, emerge o bem-estar coletivo. Uma vez que cada um cuida de si, vemos que a competição é um fator inerente e determinante numa economia de mercado: todos os agentes se movimentam pelo interesse próprio, fazendo escolhas racionais no intuito de obter mais poder de mercado que os demais agentes e, com isso, minimizar as suas restrições na busca da maximização do seu benefício individual. Quanto à segunda forma de organização da atividade econômica, ou seja, a forma centralizada, quem responde ao problema econômico fundamental é um órgão planejador central. Apenas para dar um exemplo: desde a revolução que destituiu Batista e levou Fidel Castro ao poder cubano, é o governo quem decide o que cada um deve produzir e o que cada agente deve consumir. O princípio que norteia essas decisões é o socialista, que prevê que cada um deve contribuir/consumir de acordo com sua capacidade e seu trabalho. Do ponto de vista prático, as vendas são realizadas através de libretas, criadas em 1962, as quais representam o conjunto de mercadorias que podem ser consumidas por pessoa. A esse respeito, comenta Piñeda (apud CARCANHOLO e NAKATANI, 2001, p. 142)5 que a quantidade e os tipos de produtos foram os seguintes: em todo o território nacional, 2 libras de gordura comestível, óleo ou banha de porco, ao mês; 6 libras de arroz por pessoa ao mês; 13,5 libras de feijão de qualquer tipo, de grão-de-bico, de ervilhas ou de lentilhas, por pessoa, nos nove meses seguintes. Na cidade de Havana, (...) uma barra de sabão 5Disponível em: <http://www.ejournal.unam.mx/pde/pde128/PDE12807.pdf>. Acesso em: 1º nov. 2010. 34 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 por pessoa ao mês; um pacote médio de detergente por pessoa ao mês; um sabonete por pessoa ao mês; um tubo grande de creme dental para cada duas pessoas ao mês. Na cidade de Havana, três quartos de libra de carne de gado por pessoa por semana; 2 libras de frango por pessoa ao mês; meia libra de peixe de escama, limpo e em posta, por pessoa ao mês; cinco ovos por pessoa ao mês; um litro de leite diário para cada criança de menos de sete anos e um litro diário para cada 5 pessoas maiores de 7 anos. A pergunta a ser respondida agora é: qual o tipo de sistema da maior parte das economias nos dias de hoje? Dizemos que elas são mistas e que combinam características das economias de mercado e das centralizadas. Para Hubbard e O’Brien (2009, p. 66),”uma economia mista ainda é, primordialmente, uma economia de mercado, com a maioria das decisões econômicas sendo resultantes da interação entre compradores e vendedores em mercados, mas em uma economia mista, o governo desempenha um papel significativo na alocação dos recursos”. Lembrete Na economia brasileira de nosso tempo prevalece a economia mista, ou economia de mercado, como organizadora das atividades econômicas. 2.2 Há muito tempo Supermercados, bens de capital e de consumo, economias centralizadas e de mercado. Esse é o cenário que vemos nos dias de hoje, mas, é claro, nem sempre foi assim. Como chegamos à sociedade de mercado ou à economia de mercado? Se realizarmos uma viagem no tempo e nos percebermos em plena Idade Média (aproximadamente do século V ao XV), veremos outro mundo: reis, senhores feudais, cavaleiros, servos e clérigos. Assim estava organizada a sociedade durante o feudalismo, uma estrutura que iria sofrer abalos contínuos até se degradar totalmente, num processo que levaria alguns séculos para se completar. Do período áureo do feudalismo, a imagem mais lembrada é a do feudo, grande propriedade trabalhada por camponeses que aram não apenas a terra arrendada, mas também a do senhor. Nesse sistema, o castelo ocupa um lugar de destaque: é nele que mora o senhor e sua família. O feudo, unidade autossuficiente, é o espaço em que ocorrem as relações de vassalagem entre o servo e o seu senhor. No sistema feudal, o servo não é um escravo: não pode ser vendido ou ter sua família desmembrada; ele faz parte da propriedade e só se transfere se a terra for vendida. O servo muda de senhor, mas não de terra, portanto, não pode ser expulso nem dela escapar. A esse respeito, nos diz Huberman (1986, p. 10): 35 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O senhor do feudo, como o servo, não possuía a terra, mas era, ele próprio, arrendatário de outro senhor, mais acima na escala. O servo, aldeão ou cidadão “arrendava” sua terra do senhor do feudo que, por sua vez, “arrendava” a terra de um conde, que já a “arrendara” de um duque que, por seu lado, a “arrendara” do rei. E, às vezes, ia ainda mais além, e um rei “arrendava” a terra a outro rei! A relação de vassalagem, inclusive, é transferida hereditariamente, de pai para filho: o filho será servo daquele a quem seu pai e seu avô serviram, isto é, de quem também foram servos. O feudo tem suas próprias regras e leis, que devem ser rigorosamente obedecidas. O senhor feudal é quem decide sobre casamentos, litígios e conflitos. Em algumas regiões da Europa, o senhor feudal tem o direito “da primeira noite”, ou seja, desvirginar a noiva que more em sua propriedade, ou que será esposa de alguém que more nas suas terras. Longe de ser mero capricho, esse direito consagra o seu papel de senhor absoluto e também a continuidade da vassalagem por meio da suspeita em relação à paternidade dos filhos do servo. Saiba mais Sugerimos, sobre o assunto, o filme Coraçãovalente. Dir. Mel Gibson, 177 minutos, 1995. O enredo, apesar de algumas imprecisões históricas, retrata bem a relação de vassalagem. Relata, ainda, as lutas e os conflitos na Escócia do século XIII. O dinheiro, quando existente, é acumulado de forma improdutiva. Todo o necessário para a sobrevivência pode ser produzido dentro do próprio feudo. O comércio é incipiente e ocorre à base de escambo: trocam-se mercadorias, sem que o dinheiro necessariamente seja utilizado como meio de pagamento ou padrão de referência. Existem, inclusive, várias moedas, cada uma delas vigente numa determinada região e sem referência cambial com outras moedas. Observação Repare que o feudalismo também é conhecido como uma forma de organização da atividade econômica. A pergunta que ocorre naturalmente é: como, dessa organização econômica, poderia surgir posteriormente algo como o sistema de mercado? Foram vários os fatores que, com o tempo, criaram rachaduras e fissuras irreversíveis no sistema feudal. Um deles foi as Cruzadas, expedições cristãs armadas em direção ao Oriente cujo objetivo era a reconquista da Terra Santa. Os cruzados precisavam de provisões e, ao longo do seu percurso, foram organizados entrepostos comerciais e feiras. Aliás, aos poucos, as Cruzadas deixavam de ter apenas um significado religioso para se 36 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 transformarem em verdadeiras expedições de saque e exploração das cidades comerciais orientais. Ao longo dos séculos, cada vez mais esse comércio iria resultar no estabelecimento de grandes feiras e, em torno delas, cidades surgiriam. Nesse sentido, acrescenta Huberman (idem, p. 32): É importante observar a diferença entre os mercados locais semanais dos primeiros tempos da Idade Média e essas grandes feiras dos séculos XII ao XV. Os mercados eram pequenos, negociando os produtos locais, em sua maioria, agrícolas. As feiras, ao contrário, eram imensas e negociavam mercadorias por atacado, que provinham de todos os pontos do mundo conhecido. A feira era o centro distribuidor onde os grandes mercadores, que se diferenciavam dos pequenos revendedores errantes e artesãos locais, compravam e vendiam as mercadorias estrangeiras procedentes do Oriente e Ocidente, Norte e Sul. Os senhores feudais, donos das terras onde se realizavam as feiras, recebiam comissões pelos negócios lá efetuados: as atividades comerciais eram bem-vindas, porque traziam lucro e prosperidade. O crescimento dessas atividades também faria surgir a figura dos trocadores de dinheiro, responsáveis pela troca e pelo câmbio entre as várias unidades monetárias. Aos poucos, a economia sem mercado transformava-se em economia de vários mercados, já se distanciando do sistema autossuficiente dos feudos. Devagar, cindia-se a estrutura feudal de imobilidade social: surgiam comerciantes e “banqueiros”, crescia a população urbana, livre das amarras da vassalagem e da relação visceral com a terra. Essa população exerceria pressão por leis menos arbitrárias do que as do senhor feudal, porque precisava de liberdade para se mover, comerciar, vender e comprar. Da mesma forma, o camponês se distanciava do senhor feudal, já que seu excedente agora podia ser negociado e transformado em dinheiro. O senhor feudal, que não compreendia essa nova realidade, era forçado a conviver com a revolta de trabalhadores nas suas terras. A riqueza agora não significava a propriedade possuída, mas o dinheiro amealhado. Aliás, a percepção de que a terra seria também mercadoria passível de ser vendida daria o golpe de morte no sistema feudal. Os mercadores se reúnem em corporações, titulares de direitos monopolistas que tratarão de normatizar as atividades, comerciais (nas feiras) ou profissionais, e às suas leis os membros estarão sujeitos, sob pena de expulsão. Os artesãos e outros profissionais também se organizarão em corporações, chamadas de guildas. Estas funcionam como centros nos quais o aprendiz é treinado no ofício, segundo as normas e tradições da categoria. Esse treinamento, que chega a durar mais de uma década, assegura-lhe o conhecimento das artes secretas do seu ofício, além do direito de exercer sua profissão e ter proteção em caso de necessidade. Os meios de produção (ferramentas e utensílios necessários para a fabricação das mercadorias) pertencem aos artesãos, que não apenas produzem, mas também comercializam o fruto do seu trabalho. O espírito é de fraternidade, e não de concorrência: se um membro resolvesse introduzir alguma inovação, todos deveriam ter acesso a essa mudança. “Patentes” ou “diferenciais produtivos” são tidos como práticas desleais e passíveis de punição. Em guildas, reúnem-se padeiros, pintores, curtidores de couro, ferreiros, açougueiros, fruteiros, cirurgiões, jornaleiros, entalhadores, costureiros, sapateiros, e, ainda de acordo com Huberman (idem, p. 68): 37 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Supervisores das corporações faziam viagens regulares de inspeção, nas quais examinavam os pesos e as medidas usados pelos membros, os tipos de matérias-primas e o caráter do produto acabado. Todo artigo era cuidadosamente inspecionado e selado. Essa fiscalização rigorosa era considerada necessária para que a honra da corporação não fosse manchada, prejudicando com isso os negócios de todos os seus membros. As autoridades municipais, por sua vez, a exigiam como proteção ao público. Para maior proteção desse público, algumas corporações marcavam seus produtos com o “justo preço”. As guildas acabariam por se desintegrar ao longo do tempo, e o justo preço seria substituído pelo preço de mercado, mas, àquele momento, a existência das corporações era o que permitia o exercício da atividade artesanal, a sobrevivência dos artesãos nos centros urbanos e a regulação de uma atividade que se distanciava, pouco a pouco, das tradições e dos costumes feudais. Outro fator de fundamental peso no processo de deterioração do sistema feudal foi o surgimento das nações. Se o senhor feudal já não dava conta de proteger a população (seu poder havia diminuído com a perda de terras, servos e com os gastos de expedições ao Oriente), era necessário que alguém tomasse para si a tarefa de funcionar como poder central. Quem o fará será o rei, aliado das cidades na luta contra os senhores feudais. Será ele quem arregimentará um exército profissional e tratará de armá-lo e treiná-lo. Impostos são instituídos e passam a ser recolhidos, e esse montante servirá ao rei para o exercício do seu poder, mesmo que a partir de determinado momento esse seja um poder subtraído das próprias cidades e dos comerciantes. Com isso, de acordo com Huberman (idem, p. 86): Os camponeses que desejavam cultivar seus campos, os artesãos que pretendiam praticar seu ofício e os mercadores que ambicionavam realizar seu comércio – pacificamente – saudaram essa formação de um governo central forte, bastante poderoso para substituir os numerosos regulamentos locais por um regulamento único, de transformar a desunião em unidade. O rei serve de símbolo para a unidade nacional, e as nações passam a lutar por seus territórios e pela formação de sua identidade: língua, moeda e legislação nacionais, conquistas estas que passam a ser guiadas e conduzidas pela unidade central de poder. Será o rei também o responsável pelo empreendimento ultramarino, de descoberta, povoamento e exploração do Novo Mundo, que fornecerá a matéria-prima, depois, para as indústrias nascentes, e que consumirá as mercadorias produzidas nas metrópoles. Falta agora uma nova ética, um conjunto de valores morais que possam nortear e conduzir os agentes em direção ao trabalho,à acumulação do capital, ao lucro. É o que discutiremos a seguir. 38 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais Rembrandt, pintor holandês do século XVII, retratou alguns membros dessas corporações. Na tela A ronda noturna, ele mostra a corporação dos oficiais bacamartes. Disponível em: <http://www.uncp.edu/home/rwb/rembrandt_nightwatch>. Acesso em: 29 dez. 2010. Na obra Lição de anatomia do prof. Tulp, a corporação dos cirurgiões. Disponível em: <http://www.biol.unlp.edu.ar/images/ anatomia/anatomia-rembrandt.jpg>. Acesso em: 29 dez. 2010. No quadro Os membros da guilda dos alfaiates, como sugere o título, vemos os alfaiates reunidos em seu sindicato. Disponível em: <http://www.abcgallery.com/R/rembrandt/rembrandt121.html>. Acesso em: 29 dez. 2010. O próprio Rembrandt foi membro de uma guilda, a dos pintores. Para refletir Veja as seguintes situações abaixo e reflita, conforme o sugerido. Situação – Tradição da agricultura familiar se mantém em Nova Friburgo6. Gilmar Cardinot e o irmão, Gilberto, formam a quinta geração dos Cardinot em Nova Friburgo. Quando o primeiro membro da família chegou da Suíça, no século XIX, trouxe com ele uma tradição: o amor pelo campo. O trabalho na lavoura é uma herança que vem da Europa. Tudo é feito em parceria entre os irmãos, que também recebem a ajuda de um primo. Para eles, a união no trabalho é sinal de prosperidade. O terreno de 14 hectares fica na localidade que leva o nome da família suíça, Cardinot, na zona rural de Nova Friburgo. Em torno de 10 produtos são cultivados no local, principalmente hortaliças. Nesse período, chegam a colher mais de 900 pés de brócolis por dia. E com tanto trabalho, a ajuda da família é essencial para contornar um problema: a dificuldade de encontrar mão de obra. A agricultura familiar é tradição em Nova Friburgo. A maioria das propriedades é de pequeno e médio porte. E corresponde a 90% das lavouras do município, segundo a Secretaria de Agricultura. Uma tendência nacional, já que 60% dos alimentos que consumimos são produzidos por agricultores familiares. Proposta: é possível afirmar que o sistema de tradição desaparecerá, um dia, por completo? 6Disponível em: <http://intertvonline.globo.com/rj/noticias.php?id=9644>. Acesso em: 1º nov. 2010. 39 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Situação – O que Cuba tem a ensinar7. O governo cubano anunciou a demissão de 500 mil servidores públicos, o equivalente a 10% da força de trabalho total da ilha. Ao mesmo tempo, serão reduzidas as restrições à iniciativa privada, justamente para absorver toda essa turma de barnabés. Segundo Havana, o objetivo da medida é tornar a economia mais eficiente – uma semana depois de Fidel Castro ter declarado que o modelo cubano “não funciona mais nem para Cuba”. Enquanto isso, a Venezuela de Hugo Chávez, discípulo mais fiel de Fidel, continua estatizando avidamente o país. E o Brasil de Lula e Dilma aposta cada vez mais no Estado como agente econômico. Como a revolucionária Cuba está mostrando, e a Venezuela chavista já sabe bem, esse modelo tem fôlego curto, porque os recursos que deveriam ser investidos em infraestrutura são drenados para custear a gigantesca máquina pública. Sem esses investimentos, não é possível sustentar o crescimento econômico no longo prazo. Proposta: é possível afirmar que o sistema de mercado prevalecerá sobre outros modos de organização da atividade econômica? 3 A ÉTICA DO CAPITAL 3.1 O empreendedorismo Um dos empresários mais icônicos do século XX, Bill Gates iniciou sua carreira praticamente na garagem de casa. Com um perfil que hoje chamamos de nerd (geniozinho), ele e seu colega Paul Allen programavam computadores aos 15 anos de idade, quando esse equipamento era utilizado apenas por grandes empresas. Depois de ter entrado e saído de Harvard sem conseguir se formar, Gates deu o grande passo na sua vida: convenceu a gigantesca IBM a adotar seu software, o MS-DOS, como programa operacional dos computadores pessoais que começavam a ser projetados e produzidos. O resto, como se sabe, é história: na última década do século XX, Bill Gates já era o homem mais rico do mundo. Apesar da crise de 2008, a Microsoft, empresa que ele criou, é uma das maiores do planeta. No quadro 1, podemos compará-la a outros grandes conglomerados. Saiba mais Sugerimos, sobre o assunto, o filme Piratas do Vale do Silício. Dir. Martyn Burke, 95 minutos, 1999. Originalmente feito para a TV, narra a trajetória de Bill Gates e da Microsoft. 7Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/o-que-cuba-tem-a-ensinar/>. Acesso em: 1 de novembro de 2010. 40 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Maiores lucros entre empresas de capital aberto dos Estados Unidos e da América Latina, em 2009 Empresa Setor Lucro líquido(em US$ bilhões) País 1º Exxon Mobil Petróleo e gás 19,280 EUA 2º Petrobras Petróleo e gás 16,645 Brasil 3º Microsoft Corp Software e dados 16,258 EUA 4º Wal Mart Stores Comércio 13,495 EUA 5º Intl Buses Machines Eletrônicos 13,425 EUA 6º Goldman Sachs Bancos 13,385 EUA 7º Procter & Gamble Química 13,050 EUA 8º A&T Telecomunicações 12,843 EUA 9º Wells Fargo Bancos 12,275 EUA 10º Johnson & Johnson Química 12,266 EUA Quadro 1 – Lucros das empresas de capital aberto, em 2009 Afinal, o que é necessário para ser um grande empreendedor? Quais as características que alguém deve reunir para, iniciando a vida profissional em condições extremamente modestas, construir um verdadeiro império? Segundo a versão digital da revista Veja, a receita do sucesso de Bill Gates envolve: a inovação e a visão, que transformaram a sua empresa numa gigante global com tentáculos que se estendem por todos os lados. Gates obteve a façanha de garantir que a companhia tivesse presença e relevância por toda parte dentro do mundo da tecnologia – o que rendeu processos e outras dores de cabeça ligadas à acusação de concorrência desleal com seus rivais. A fama de querer controlar o mundo digital e ganhar todas as disputas mudou Gates, que trocou de tática e tentou melhorar a imagem da companhia desde a série de processos. Mas o criador da Microsoft não se acomodou: continuou buscando chances de ampliar as atividades e os serviços da empresa8. Na atualidade, dias de intensa concorrência e competitividade, ser empreendedor é uma necessidade. Se novos mercados não forem conquistados, se antigos mercados não forem preservados, se os clientes não estiverem satisfeitos, se o concorrente conseguir alguma vantagem, se qualquer uma dessas coisas ocorrer, o fracasso é certo e inevitável. Tanto é assim que, na maior parte das escolas de economia e administração, as qualidades e competências empreendedoras são estimuladas e treinadas. No caso específico da economia brasileira, o espírito empreendedor é vital para que possamos recuperar as grandes oportunidades perdidas quando do início da globalização: estamos falando da década inflacionária de 1980 e dos reajustes macroeconômicos de 1990. Apesar das imensas dificuldades, ainda assim o Brasil vem obtendo resultados positivos no que diz respeito ao empreendedorismo, conforme pode ser visto na tabela 1 que se segue. 8Disponível em: <http://veja.abril.com.br/quem/buffett-gates.shtml>. Acesso em: 1º nov. 2010. 41 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Empreendedorismo OBrasil é o quinto país em população adulta com empresas estabelecidas há mais de 3,5 anos e o décimo em empreendimentos novos. Mais de 42 meses 1º Filipinas 2º Indonésia 3º Tailândia 4º Peru 5º Brasil 19,7% 17,6% 15,2% 12,4% 12,1% Iniciantes 1º Peru 2º Colômbia 3º Filipinas 4º Jamaica 5º Indonésia 6º China 7º Tailândia 8º Uruguai 9º Austrália 10º Brasil 40,1% 22,5% 20,4% 20,3% 19,3% 16,2% 15,2% 12,6% 12% 11,6% A maioria dos novos empreendedores opta por atividades já conhecidas e com grande concorrência: Novidade Concorrentes Empresas estabelecidas Empresas novas Empresas estabelecidas Empresas novas 85,3% ninguém considera a atividade nova 81,3% ninguém considera a atividade nova 73,2% muitos concorrentes 65,1% muitos concorrentes nova para alguns 7,1% nova para todos 12,3% nova para todos 6,4% nova para alguns nenhum concorrente 3,2% nenhum concorrente 3,2% poucos concorrentes 23,6% poucos concorrentes 30,5%7,6% Fonte: Sebrae <http://www.sebraepr.com.br/gc/images/empreendedorismo.gif> Acesso em: 1 nov. 2010. Tabela 1 – O mapa do empreendedorismo Se é tão fundamental que sejamos empreendedores, como saber quais competências devemos desenvolver? Os vários estudos desenvolvidos por administradores, economistas e psicólogos sociais listam algumas características de extrema importância: O que é um empreendedor? O empreendedor deve ter iniciativa, ser persistente, estar comprometido com o seu negócio, exigir qualidade e eficiência, correr riscos calculados, estabelecer metas e buscar informações, planejar e monitorar sistematicamente seu empreendimento, manter uma rede de contatos para que novas oportunidades possam ser aproveitadas, ser persuasivo, ter independência e autoconfiança. Fácil, não é? No quadro 2 a seguir, cada uma dessas características é explicada em termos das atitudes que as compõem. Iniciativa Age de maneira proativa. Busca novas oportunidades. Aproveita oportunidades fora do comum, com um comportamento de aceitação de riscos. Persistência Não desiste diante de dificuldades. Reavalia seus planos. Foca energias na execução de seu plano de ação. Comprometimento Chama para si a responsabilidade sobre sucessos e fracassos. É um facilitador para sua equipe. Tem visão de futuro. Exigência de qualidade e eficiência Procura minimizar custos e está atento ao mercado. Procura sempre surpreender seus clientes. Está atento a prazos e qualidade de entrega. Riscos calculados Avalia alternativas e oportunidades. Tem uma boa gestão de resultados. Aceita desafios, mas avalia os riscos. 42 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Estabelecimento de metas Estabelece e acompanha indicadores de resultados para seu negócio. Tem visão de longo prazo. Busca de informações Tem um bom acompanhamento de mercado e está próximo ao seu cliente. Conhece seu negócio e investiga novas oportunidades. Busca especialistas para orientá-lo em relação ao seu negócio. Planejamento e monitoramento sistemático Age por etapas para cumprir seu plano de negócio. Adéqua seu plano de negócio às variáveis externas do mercado. Busca informações financeiras do passado para orientar o futuro. Persuasão e rede de contatos Forma rede de contatos e procura utilizá-la no desenvolvimento de seu negócio. Mantém e alimenta sua rede de contatos. Independência e autoconfiança Desenvolve seu negócio de forma autônoma. É uma pessoa otimista e determinada. Sabe aonde quer chegar. Quadro 2 – Características empreendedoras Observação Repare que um empreendedor não nasce pronto. Embora tenha certa “inteligência” ou aplique de forma produtiva sua inteligência, algumas características devem ser reunidas para se tornar empreendedor. Acreditamos que, a esta altura, você deverá estar se perguntando: foi sempre assim? Sempre, historicamente, agimos em busca do lucro? Fomos sempre empreendedores? Temos que responder a isso negativamente. 3.2 A construção histórica do espírito empreendedor As ideias de lucro, competição e empreendedorismo foram historicamente construídas. Quer dizer, houve um tempo em que não era assim. Para Huberman (1986, p. 47): A moderna noção de que qualquer transação comercial é lícita desde que seja possível realizá-la não fazia parte do pensamento medieval. O homem de negócios bem-sucedido de hoje, que compra pelo mínimo e vende pelo máximo, teria sido duas vezes excomungado na Idade Média. O comerciante, porque exercia um serviço público necessário, tinha direito a uma boa recompensa e a nada mais do que isso. Portanto, se quisermos compreender como nos transformamos em seres sedentos por sucesso e lucro, devemos retroceder à transição de uma sociedade que se baseava na noção do justo preço para outra que perseguia o sucesso econômico. É possível supor que tal transição fosse requerer uma mudança drástica na maneira de pensar e agir: era necessária uma nova ética. “A suspeita e o constrangimento que cercavam as ideias de lucro, mudança e mobilidade social devem dar lugar a novas ideias que encorajem essas mesmas atitudes e atividades” (HEILBRONER, 1987, p. 64). Apenas para que você tenha uma ideia, até o fim da Idade Média a Igreja Católica havia sido a responsável pela difusão e manutenção dos valores morais. Apoiada no texto sagrado, ela defendia a vida como passagem transitória pela Terra, passagem que apenas deveria servir de preparo para a vida na eternidade. Quase como encomenda para aqueles tempos de imobilidade social, ela defendia o conformismo às condições dadas. Claro que, embora denunciasse o ganho e a usura, a Igreja era depositária de muitas fortunas feudais, mas isso não a impedia de reprovar, e com muita convicção, os perigos das “atividades mundanas a que a carne, demasiado fraca, sucumbia” (idem, p. 78). 43 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Assim, conforme afirma Huberman (1986, p. 47): A Igreja ensinava que, se o lucro do bolso representava a ruína da alma, o bem-estar espiritual é que estava em primeiro lugar. “Que lucro terá o homem, se ganhar todo o mundo e perder sua alma?” Se alguém obtivesse numa transação mais do que o devido, estaria prejudicando a outrem, e isso estava errado. São Tomás de Aquino, o maior pensador religioso da Idade Média, condenou a “ambição do ganho”. Embora se admitisse, com relutância, que o comércio era útil, os comerciantes não tinham o direito de obter numa transação mais do que o justo pelo seu trabalho. Não apenas era pecado buscar o lucro ou o ganho pessoal, como também trabalhar além do necessário para satisfazer as necessidades mais básicas. Quem tivesse o suficiente para viver e, não obstante, continuasse a trabalhar incessantemente, “seja para conseguir uma posição social melhor, seja para viver mais tarde sem trabalhar, ou para que seus filhos se tornassem homens de riqueza e importância – todos esses estavam dominados por uma avareza, sensualidade ou orgulho condenáveis” (HUBERMAN, 1986, p. 47). Mais: a ideia de obter uma vantagem em relação ao seu concorrente (se é que existia esse conceito) era simplesmente inimaginável. Como novamente afirma Huberman (idem, p. 67) Assim como se precaviam da interferência estrangeira em seu monopólio, as corporações tinham também o cuidado de evitar, entre si, práticas desonestas que pudessem causar prejuízos a terceiros. Nada de competição mortal entre amigos, é o que realmente significa o item 3 dos estatutos dos curtidores. O membro da corporação não podia furtar um jornaleiro ou o aprendiz de seu mestre. Também era tabu a prática comercial, hoje muito difundida, de obsequiar o cliente ou suborná-lo paraconseguir realizar um negócio. Em 1443, a corporação dos padeiros de Corbie, na França, determinou que ninguém daria bebidas ou faria qualquer outra gentileza a fim de vender seu pão, sob pena de pagar uma multa de 60 soldos. Como se pode perceber, a mudança que introduziria uma nova forma de pensar deveria ser ampla e irreversível. Aqui, é importante um parêntese: muitos historiadores mencionam a Reforma Protestante como condição mais que necessária para a expansão da ética do capitalismo. Nossa posição é outra: O que explica o desenvolvimento do capitalismo em dado momento histórico? Junto com outros fatores já mencionados (urbanização, formação dos Estados nacionais, intensificação do comércio, viagens ultramarinas, fortalecimento do poder monárquico, por exemplo), as transformações religiosas criariam a sinergia para as mudanças que já estavam ocorrendo e para as mudanças que ainda ocorreriam. Ou seja, não se trata aqui de uma relação causal simples (Reforma/capitalismo), mas de uma relação em que as revoluções religiosas surgiriam no já intrincado mosaico histórico do período como parte integrante (e interdependente) de outras relações existentes. 44 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O que se sabe é que o calvinismo e a Reforma provocaram uma mudança na forma de ver o mundo, introduzindo uma nova ética e conclamando a todos para uma nova moral. Encontraremos em Heilbroner (1987, p. 79) que em contraste com os teólogos católicos, propensos a considerar a atividade humana como coisa fútil e vã, os calvinistas santificavam e aprovavam o esforço humano como uma espécie de indicador de valor espiritual. De fato, cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem dedicado ao seu trabalho: “vocacionado” para ele, por assim dizer. Daí, a fervorosa entrega de cada um a sua própria vocação, muito ao contrário de evidenciar um afastamento dos fins religiosos, passou a ser considerada uma evidência da dedicação à vida religiosa. O comerciante enérgico e empreendedor era, aos olhos calvinistas, um homem piedoso, não um ímpio; e desta identificação de trabalho e virtude não foi necessário mais que um passo para se desenvolver a noção de que, quanto mais bem-sucedido um homem fosse na vida, mais virtuoso e mais valor ele tinha. Não apenas o trabalho era meritório, e a ele todos deveriam se dedicar. O que essa nova moral prega é que a piedade e a virtude podem ser reconhecidas nas formas como se usa a riqueza. Quer dizer: nada de luxo, jogos, hábitos faustosos. Se o trabalho é sagrado, sagrado também é o seu fruto, e os homens devem viver uma vida ascética, de simplicidade e parcimônia. [o calvinismo] fez da poupança, da abstinência consciente do usufruto da renda, uma virtude. Fez do investimento, do uso da poupança para fins produtivos, um instrumento tanto de devoção como de lucro. Justificou até, com vários quids e quos, o pagamento de juros. De fato, o calvinismo estimulou uma nova concepção de vida econômica. Em lugar do antigo ideal de estabilidade social e econômica, de se conhecer e manter o “lugar” de cada um, conferiu respeitabilidade a um ideal de luta, de aperfeiçoamento e progresso material, de crescimento econômico (idem, p. 80). Ou, nas palavras de Max Weber (1996, p. 21), que no século XIX estudou a fundo a relação entre a religião e o capitalismo (identificando algo que denominou de espírito do capitalismo): De fato, o summum bonum dessa ética, o ganhar mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver é, acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o indivíduo parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como um meio para a satisfação de suas necessidades materiais. Essa inversão daquilo que chamamos de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio guia do capitalismo, tanto quanto soa estranha para todas as pessoas que não estão sob a influência capitalista. 45 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Estava aberto o caminho para a busca do lucro, para o progresso material, para o desenvolvimento capitalista. Lembrete Lembre-se que o capitalismo, enquanto modo de organização da produção que se opõe ao feudalismo, é fruto de uma construção e evolução histórica. O garoto empreendedor que criou o Facebook9 Quem poderia imaginar que um estudante de 19 anos pudesse tornar-se bilionário, em cinco anos, com um site de relacionamento criado sem maiores pretensões, que era quase um brinquedo? Para surpresa do mundo, esse é exatamente o caso de Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook. “Tudo começou em 2004, quando eu era aluno da Universidade de Harvard. Eu não tinha a menor ideia de que o Facebook seria um sucesso mundial ao lançar o site de relacionamento, que era pouco mais do que um brinquedo, mas que hoje tem mais de 250 milhões de usuários, 70% deles fora dos Estados Unidos”, conta Zuckerberg, que, além de criador, é o executivo principal (CEO) da empresa. Saiba mais Você pode encontrar informações importantes sobre empreendedorismo no site do Sebrae (<http://www.sebrae.com.br>. Acesso em: 23 mar. 2011). Lá estão disponíveis dados sobre os mais diversos setores, bem como sobre procedimentos para se abrir um negócio próprio. Também poderá localizar o Sebrae mais perto em sua cidade e contar, pessoalmente, com o auxílio de consultores treinados para a abertura de novos negócios ou para negócios já existentes. Aceite nossa sugestão e veja o filme A rede social. Dir. David Fincher, 117 minutos, 2010. Ele narra a história da criação do Facebook, dando ênfase especial à capacidade de criação, de inventividade e de empreendedorismo dos jovens no século XXI. Para refletir Vamos pensar um pouco mais? Importante tópico para discussão acerca dos novos empreendimentos, da busca de novos mercados e de lucros crescentes, é o caso das incubadoras de negócios. Para Medeiros (1995), os polos 9Disponível em: <http://www.ethevaldo.com.br/Generic.aspx?pid=1239>. Acesso em: 1º nov. 2010. 46 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 científico-tecnológicos, ou polos tecnológicos, resultam de quatro componentes: universidades ou institutos de pesquisa especializados em pelo menos uma inovação tecnológica; aglomerado de empresas do mesmo ramo; projetos de inovação tecnológica apoiados pelo governo e estrutura organizacional facilitadora da troca de informações entre empresas, academia e governo. As empresas que participam dos polos tecnológicos, as chamadas empresas de base tecnológica, aproveitam os recursos humanos, os laboratórios e os equipamentos que são pertencentes às instituições de ensino. Trata-se de creche ou incubadora de empresas, que abriga os inovadores até superarem as barreiras administrativas, técnicas e mercadológicas (Medeiros, 1995) na obtenção de produtividade e de competitividade que será medida não só via preço, mas também por um conjunto de fatores, como organização da produção, qualidade dos produtos, capacidade técnica e adaptabilidade às condições sociais de trabalho (CANO, 1995). O papel central desses polos tecnológicos é o de aproximar as relações tecnológicas, tanto no âmbito nacional quanto no internacional.Não são criados por decreto, mas podem decorrer do estímulo do governo e da comunidade científica. Também resultam do interesse dos empreendedores pelo novo segmento, desejosos de aproveitar as facilidades das novas tecnologias de comunicação e do menor tamanho das empresas. Nesse sentido, ressalta Cano (1995), representam novos espaços, onde as empresas de base tecnológica crescem e se consolidam. Trata-se de um grupo industrial novo, cujas necessidades locacionais tendem a ser diversas das existentes nas indústrias antigas. Considere agora o proposto a seguir: Situação – Uma incubadora de empresas busca oferecer às pequenas empresas apoio estratégico durante os primeiros anos de existência. As primeiras incubadoras de empresas surgiram no Brasil na década de 1980 e, desde então, o seu número vem crescendo sensivelmente. Segundo dados da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologia Avançada (Anprotec), existem hoje cerca de 150 incubadoras espalhadas pelo Brasil, número que mal chegava a 10 em 1991. Estima-se em cerca de 1.100 o número de empresas residentes nessas incubadoras, o que representa a geração de aproximadamente 6.100 novos empregos. Basicamente, o objetivo de uma incubadora é reduzir a taxa de mortalidade das pequenas empresas. Para isso, as incubadoras oferecem um ambiente flexível e encorajador, em que é disponibilizada uma série de facilidades para o surgimento e crescimento de novos empreendimentos, a um custo bem menor que o de mercado, na medida em que esses custos são rateados e, às vezes, subsidiados. Outra razão para a maior chance de sucesso de empresas instaladas em uma incubadora é que o processo de seleção capta os melhores projetos e seleciona os empreendedores mais aptos, o que naturalmente amplia as possibilidades de sucesso dessas empresas10. Proposta: pelo descrito no texto da situação, bem como pelo apresentado anteriormente, quais seriam as formas ideais de apoio das incubadoras às pequenas e médias empresas? 10Adaptado de texto disponível em: <http://www.e-commerce.org.br/incubadoras.php>. Acesso em: 1º nov. 2010. 47 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Leia o texto a seguir. Situação: concorrência entre celulares inteligentes aperta em 2010, dizem analistas11 A expansão na demanda por celulares inteligentes novos e mais baratos ajudou a alimentar uma recuperação no mercado de celulares, como um todo, no final do ano passado, mas a rivalidade por uma participação nesse lucrativo negócio será feroz em 2010, com a chegada de muitos fabricantes novos ao mercado. “O mercado de celulares inteligentes [smartphones] será muito competitivo em 2010”, disse o analista Neil Mawston, do grupo de pesquisa Strategy Analytics (SA). “A guerra dos celulares inteligentes será boa notícia para os consumidores, mas a feroz competição inevitavelmente pressionará os preços e as margens de lucro dos produtores”, disse ele. Os grupos sul-coreanos Samsung Electronics e LG Electronics, segundo e terceiro maiores fabricantes mundiais de celulares, planejam elevar fortemente suas vendas – muito baixas no segmento de celulares inteligentes – enquanto novos concorrentes, como Huawei e Dell, reforçam suas linhas. Proposta: seria possível imaginar tal situação no ambiente da Europa pré-capitalista? 4 O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO Observe o gráfico e a tabela a seguir. O gráfico 1 mostra, em termos mundiais, o comportamento dos setores agropecuário, industrial e de serviços. A tabela 2 indica a distribuição da população brasileira por setor da economia. %100 80 60 40 20 0 1800 1900 2000 Primário Terciário Secu ndár io Gráfico 1 – Setores da economia 11Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u687574.shtml>. Acesso em: 1º nov. 2010. 48 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Distribuição dos trabalhadores brasileiros pelos setores da economia (em %) Ano Setor 1950 1960 1970 1980 1991 2000 Primário 60,7 54,2 44,2 29,9 23,2 20,6 Secundário 13,1 12,7 17,8 24,4 23,8 20,0 Terciário 26,2 33,1 38,0 45,7 53,0 59,4 Fonte: IBGE. Anuário estatístico do Brasil: 2001. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Tabela 2 – População brasileira por setor da economia Os setores são o resultado da divisão da economia. Para essa divisão, são utilizados os critérios de produtos produzidos e os modos de produção associados a essa produção. O setor primário reúne a produção realizada por meio da exploração dos recursos da natureza. Assim, o setor primário envolve a agricultura, a mineração, o extrativismo vegetal e a pecuária. Como você pode perceber, é o setor responsável pela matéria-prima que será utilizada pela indústria. Ter uma economia baseada em grande parte no setor primário representa riscos porque, em primeiro lugar, é o setor que produz mercadorias que agregam menos valor; em segundo, é um setor que depende das condições naturais para que possa se desenvolver; em terceiro, é o setor mais vulnerável à flutuação de preços nos mercados internacionais, já que normalmente envolve commodities. O setor secundário é o da indústria, setor de transformação, responsável pela produção de todos os produtos industrializados que consumimos. Geralmente, uma proporção elevada de participação do setor secundário em um país revela desenvolvimento econômico, já que a exportação dos produtos industrializados é favorecida pelo elevado valor agregado que esses produtos costumam apresentar. O setor de serviços, que pertence ao setor terciário, corresponde à produção dos bens intangíveis sobre os quais já falamos anteriormente: serviços de educação, saúde, bancários, comerciais, entre outros. Costumamos distinguir, nesse setor, três subáreas: a) o terciário inferior, que representa o comércio varejista e o serviço doméstico; b) o terciário superior, que indica os serviços de bancos e seguros, ou seja, que envolvem maior nível técnico; e c) o terciário tecnológico, que abarca serviços tecnológicos e de ensino. É evidente que, quanto maior o setor de serviços de uma economia, mais desenvolvida e aparelhada ela é do ponto de vista tecnológico. Lembrete Note que há elevada interdependência entre os setores. Cada um deles, para poder bem funcionar, depende do bom desempenho dos outros. Ademais, há transferência de produção de um para outro. O que os quadros exibem? O gráfico 1 mostra que o setor primário vem caindo em termos de participação desde o século XIX. Também revela que o setor secundário cresceu até a década de 1960, perdendo importância a partir dessa data. Em contrapartida, percebe-se que o setor de serviços 49 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 vem crescendo cada vez mais. A tabela 2 repete, com algumas poucas diferenças, a situação descrita anteriormente. Observa-se no Brasil a diminuição da participação do setor primário e a transferência do setor secundário, em termos de importância, para o setor terciário, que vem crescendo de forma consistente e sistemática. Parece razoável, então, imaginarmos que em algum momento do nosso passado, o processo de industrialização foi ganhando o espaço antes reservado à agricultura e às outras atividades extrativas. O período em que esse processo efetivamente teve início, e a partir do qual se desenvolveu, é aquele que corresponde ao final do século XVIII até o século XIX. Nesse momento, embora as velhas estruturas fabris continuassem a conviver com modernas técnicas produtivas (e isso aconteceria por um bom tempo), grandes invenções revolucionavama indústria: máquina de fiar, tear mecânico, máquina a vapor, lançadeira volante, patentes para técnicas diversas de fundição, bombeamento de minas e obras hidráulicas. Todas essas inovações transformariam as atividades das indústrias de lã e siderurgia, embora em algumas áreas o trabalho ainda ocorresse em pequenas firmas que empregavam poucos trabalhadores (nessas, o empregador não era o grande capitalista, mas o empreiteiro intermediário). A manutenção desses padrões de indústria domiciliar, inclusive, significaria demora na consagração de um caráter homogêneo da classe trabalhadora, ora envolvida nos processos produtivos das grandes indústrias, ora ainda vinculada aos sistemas dos ofícios e pequenas unidades produtoras. A Revolução Industrial pode ser descrita como “uma série contínua de transformações que perdurou além mesmo do século XIX, em vez de ser descrita como uma modificação feita de uma só vez” (DOBB, 1987, p. 269). Observação É importante salientar que não se deve cometer o erro de entender a Revolução Industrial como algo que tenha ocorrido de repente, em determinada data, a partir dali tudo se modificando. É claro que, “uma vez vinda a transformação crucial, o sistema industrial embarcou em toda uma série de revoluções na técnica de produção, como traço notável de uma época do capitalismo amadurecido” (idem, p. 270). Afinal, as invenções acarretavam especialização do trabalho que, assim dividido, possibilitava inovações. Em resumo, podemos descrever a Revolução Industrial como um processo cumulativo e irreversível em termos de produtividade, concentração da produção, acumulação e propriedade do capital. Por que ela ocorre inicialmente na Inglaterra? Muitos são os fatores: o país havia enriquecido enormemente com o comércio e a pirataria, e a riqueza encontrava-se distribuída entre a burguesia comercial. Além disso, o cercamento das terras transformara o que antes era feudo ancestral em fonte de retorno, em recurso de produção, e foi a forma como “a Inglaterra ‘racionalizou’ sua agricultura e finalmente escapou da ineficiência do sistema manorial tradicional” (HEILBRONER e MILBERG, 2008, p. 67). Ainda, com a expulsão dos arrendatários e camponeses, o cercamento acabaria por fornecer a mão de obra para as fábricas e manufaturas, bem como os consumidores para os produtos então fabricados 50 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 e colocados à venda. De fato, além do extraordinário desenvolvimento na ciência e na engenharia que tem lugar na Inglaterra, outra série de fatores ainda pode explicar a origem da Revolução Industrial ali: alguns são tão fortuitos quanto os imensos recursos das minas de carvão e ferro existentes em solo inglês; outros tão propositais quanto o desenvolvimento de um sistema nacional de patentes que, de forma deliberada, estimulou e protegeu o próprio ato de inventar. Iniciada a revolução, ela se autoalimentou. As novas técnicas (em especial na indústria têxtil) simplesmente acabaram com a concorrência do fabrico artesanal no mundo, aumentando assim de forma inimaginável os próprios mercados (idem, p. 83). Saiba mais Os filmes Elizabeth, Dir. Shekhar Kapur, 125 minutos, 1998, e Elizabeth, a era de ouro, Dir. Shekhar Kapur, 114 minutos, 2007 são sugestões excelentes sobre o assunto. Em ambos é tratada a questão religiosa na Inglaterra, bem como são retratados os esforços para que o país alcançasse o crescimento e a riqueza por meio das ações de um poder central: a rainha. Sobre esse período, há farta documentação: “o século da imprensa ao alcance de todos e da disseminação quase universal da alfabetização nos legou fontes documentárias de uma abundância até agora superior à de qualquer outro século anterior” (DOBB, 1987, p. 257), embora a complexidade da sociedade e do mundo resultantes da Revolução Industrial introduzam dificuldades imensas ao trabalho do historiador econômico. De forma resumida, aquele seria o século em que se organizariam estruturas sociais bastante específicas, a população aumentaria (principalmente em função da queda da mortalidade resultante das melhorias nas técnicas de saúde pública), o mercado se expandiria por meio da divisão do trabalho e dos acréscimos na produtividade, as invenções transformariam as cidades e a produção. O desenvolvimento científico também era notável e as sociedades destinadas ao culto e transmissão do saber se espalhavam por toda a Europa. Embora, durante muito tempo, tenha prevalecido na história econômica geral certa “leitura” que manteve indústria e universidade em esferas distintas, algumas evidências apontam para a existência de uma estreita relação entre elas, em especial na Inglaterra, “local de um entusiasmo peculiar pela ciência e engenharia” (idem, p. 83): será lá, por exemplo, que surgirão a Royal Society (presidida por Isaac Newton) e a Philosophical Society of Edinburgh, inaugurada em 1737, e que tinha entre seus mantenedores e membros vários grandes proprietários de terra. Afinal, “não menos importante foi o entusiasmo da aristocracia inglesa da terra pela agricultura científica: os donos de terra ingleses deixaram claro um interesse em questões como rotatividade das colheitas e fertilizantes” (ibidem). Quanto ao perfil das instituições bancárias naquele instante, temos duas interpretações distintas: uma, que privilegia o papel da atividade bancária comercial; outra, que reconhece a importância das 51 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 operações financeiras dos bancos, especialmente no tocante às operações de crédito para industriais e empresários. De qualquer forma, deve-se reconhecer: não havia ainda o conceito dos bancos como agentes para captação de poupança e recursos com o objetivo explícito de agenciar fundos para investimentos. O capital era acumulado e as indústrias cresciam, mas isso ocorria porque os salários eram mantidos em patamares extremamente baixos e porque “agricultores donos de terra e fabricantes prósperos (apesar de toda sua ostentação) foram, sem dúvida, poupadores importantes, que abriram caminho para que quantias substanciais fossem colocadas em mais e novos investimentos de capital” (idem, p. 95). Entre 1775 e 1875, o mundo experimentou um “vasto boom secular”, caracterizado por progresso econômico, embora desigual se comparados países ou mesmo diferentes setores industriais. Os trabalhadores passaram a se concentrar num só lugar, a fábrica; o processo de produção transformou-se em coletivo; o trabalho passou a ser meio mecânico, meio humano. Do operário não era mais esperada vontade própria ou aptidão especial (como nos velhos tempos, em que a ferramenta era passiva nas mãos do trabalhador), mas tão somente a destreza e obediência às exigências das máquinas. Também, segundo Dobb (1987, p. 262), era agora necessário capital para financiar o equipamento complexo requerido pelo novo tipo de unidade de produção; e criara-se um papel para um tipo novo de capitalista, não mais apenas como usuário ou comerciante em sua loja ou armazém, mas como capitão de indústria, organizador e planejador das operações da unidade de produção, corporificação de uma disciplina autoritária sobre um exército de trabalhadores que, destituídos de sua cidadania econômica, tinham de ser coagidos ao cumprimento de seus deveres onerosos a serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do supervisor do patrão. Saiba mais Sobre o assunto, veja o filme Tempos modernos. Dir. Charles Chaplin, 87 minutos, 1936. Obra-prima de Chaplin, o filme mostra, com humor e elegância, a submissão do homem à máquina por causa do processo de industrialização. É um clássico imperdível! As invençõesse entrelaçavam com as necessidades prementes das indústrias e, impulsionadas pelo espírito prático e comercial dos capitalistas, mudavam a feição da economia e das estruturas sociais. O aumento populacional e a crescente proletarização tornariam a força de trabalho não apenas uma mercadoria, mas uma mercadoria disponível e disposta a se empregar em troca de salários que permitissem a sobrevivência, mesmo que em condições não exatamente favoráveis. Os cercamentos de terra e o êxodo da população rural também engrossariam as fileiras de trabalhadores dispostos a se empregar nas grandes indústrias e, posteriormente, as invenções que economizam tempo e trabalho já superavam a expansão do exército proletário. A acumulação do capital, portanto, excedia o crescimento da oferta de trabalho. 52 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O uso intensivo nas fábricas de maquinário – resultado de um incessante processo de inovação tecnológica – e a expansão de uma classe trabalhadora, explorada e assalariada, configuravam uma crescente atividade econômica já bem distante da economia comercial e mercantil dos séculos XVII e XVIII. Nada nesse novo mundo parecia justificar algo além de um profundo e imenso pessimismo em relação ao “progresso” da sociedade e à “evolução” da humanidade (pessimismo esse visível nas obras de Malthus e Ricardo), mas alguns viam no cenário oitocentista motivos para otimismo e esperança de dias melhores e de um futuro mais promissor. Saiba mais Sugerimos a leitura das obras de Charles Dickens. O autor, de forma magnífica, soube mostrar a Inglaterra pobre e miserável do século XIX. Entre seus livros recomendamos Tempos difíceis e Oliver Twist. Este último, com o mesmo nome, foi transformado em filme. Dir. Roman Polanski, 130 minutos, 2005. Ao mesmo tempo em que as degradadas e imundas cidades inglesas viam circular trabalhadores esfomeados e que viviam em condições totalmente insalubres, ao mesmo tempo em que pensadores e a elite empresarial discutiam o terrível futuro que aguardava a humanidade (em especial, a fome resultante da explosão populacional e da escassez de terras aráveis e produtivas), outros pensadores e capitalistas buscavam alternativas que confirmassem a possível existência de um sistema social justo dentro (e a partir do) contexto de industrialização e da economia de mercado. Numa época em que se transpirava a crença na ideia do progresso, essas alternativas podiam tanto incluir sonhos extravagantes quanto projetos – às vezes mais, outras menos – mirabolantes. Saint-Simon e seus seguidores pregariam a construção de uma pirâmide social em que se ganharia em função do trabalho útil para a sociedade. Fourier escreveria sobre as falanges, locais parecidos com hotéis, onde todos viveriam e “todos teriam que trabalhar, é claro, porém poucas horas por dia. Mas ninguém tentaria escapar do trabalho, porque cada qual estaria fazendo o que mais gostava” (HEILBRONER, 1996, p. 118). Exemplos de iniciativas mais “pragmáticas” incluiriam, por exemplo, a fábrica de Nova Lanark, localizada nas redondezas de Glasgow, de propriedade de Robert Owen (1771-1858). Capitalista, Owen mostrava ojeriza ao uso do dinheiro e à propriedade privada (e esse ódio à propriedade privada também seria visível entre os seguidores de Saint-Simon) e, posteriormente, também proporia a criação das aldeias de cooperação, comunidades de pobres onde estes poderiam se tornar “produtores de riqueza se tivessem chance de trabalhar e seus hábitos sociais deploráveis podiam se transformar com facilidade em hábitos virtuosos sob a influência de um ambiente decente” (ibidem). Finalmente, o pensamento econômico (entendido como a maneira pela qual o homem tenta compreender as relações de produção dentro dos processos de geração, distribuição e circulação de riqueza) refletiria essas transformações. Ou melhor, procuraria compreender e analisar a renda da terra, os salários, os lucros, as taxas de juros, as melhores formas de administrar a riqueza de uma nação. 53 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Não à toa, nasce nesse instante a economia política. Formada a partir das elucubrações dos filósofos europeus imersos no ambiente do Iluminismo, essa área do saber ganha status de ciência com as obras de Cantillon (Ensaio sobre a natureza do comércio, 1763) e Adam Smith (A riqueza das nações, 1776). Os primeiros modelos econômicos dignos de tal nome apareceram na França a partir de 1758, nas obras dos fisiocratas. O Quadro econômico, de Quesnay, é considerado o primeiro modelo de fluxo de renda da história do pensamento econômico. O autor, curiosamente, era médico: sua teoria sobre fluxo da moeda trazia para o campo da atividade econômica as regras da circulação do sangue no corpo humano. O que acontecia no macrocosmo repetia-se no microcosmo, e a mesma ordem natural responsável por manter os planetas no céu também cuidaria da harmonia econômica terrestre. Até mesmo por inspiração dessas obras, e para com elas dialogar e se opor, Adam Smith (1723-1790) buscou sistematizar o conhecimento até então desenvolvido a respeito da riqueza. Observação Smith transformou A riqueza das nações no primeiro manual de economia política que reunia desde a teoria do valor até os mais sofisticados conceitos de política comercial externa à época. Saiba mais Se você quiser se aprofundar no assunto, sugerimos a leitura do texto A mão invisível de Júpiter e o método newtoniano de Smith, de Hugo E. A. da Gama Cerqueira. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ee/v36n4/ a01v36n4.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011. Ainda que valorizado pela capacidade de sintetizar conceitos de outros autores, faltou originalidade a Smith em conceitos como o da divisão do trabalho e o das vantagens absolutas do comércio exterior. É importante salientar que essas primeiras obras, ou da fisiocracia ou dos clássicos, surgem em oposição ao pensamento mercantilista então vigente. O mercantilismo dizia respeito às doutrinas preconizadas pelos Estados nacionais em relação à origem da riqueza, bem como às melhores condutas para a expansão econômica e militar. Para os mercantilistas, a origem da riqueza estava no acúmulo de ouro e prata. Com as exportações, conseguia-se metal; as importações, ao contrário, significavam o envio de metal para outras nações. Como uma determinada nação poderia conseguir esse superávit? Quanto mais poderosa ela fosse, quanto mais rotas comerciais estivessem sob o seu domínio, quanto maior a dependência de suas colônias em relação à metrópole, tanto maiores seriam as possibilidades de acumular ouro e prata (BRUE, 2006). É claro que essa política requeria um Estado forte. Também necessitava do espírito nacionalista e de um conjunto de instituições militares capazes de dar conta da ação expansionista. Segundo Brue (2006, p. 14), 54 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 “armadas poderosas e frotas mercantes eram um requisito absoluto”. Um governo centralizado bastante forte era outra exigência: fazia-se necessário um controle governamental rigoroso para dar conta das políticas e das metas mercantilistas, esse controle tornando-se visível através da concessão de monopólios, da edição de leis protecionistas e da elaboração e fiscalização de normas que regulamentassem a produção e a distribuição de mercadorias. As importações eram rigorosamente controladas, quando não proibidas, e a fixação de preços dos produtos nacionais no mercado interno obedecia às exigências da política mercantilista.Pedágios, impostos e regulamentações eram instrumentos de ação do Estado, tendo em vista o acúmulo de metal. “Os mercantilistas não eram a favor do livre-comércio interno, no sentido de permitir às pessoas se envolverem em qualquer comércio que desejassem. Pelo contrário, preferiam concessões de monopólio e privilégios comerciais exclusivos, sempre que pudessem obtê-los” (idem, p. 15). Em oposição ao mercantilismo, os fisiocratas combaterão as práticas mercantilistas. A oposição ocorre principalmente em relação ao excesso de regulamentação e de normatização representado pela ação governamental, tão necessário para pôr em prática a política expansionista e acumuladora de metal precioso. São os fisiocratas que introduzirão (ao menos no campo econômico) a ideia de ordem natural. Até por influência da mecânica newtoniana, acreditava-se numa ordem da natureza que se responsabilizaria por manter tudo em equilíbrio. A oposição ardorosa à regulamentação e intervenção do Estado na economia explica o lema fisiocrata: laissez-faire, laissez-passer (deixe fazer, deixe passar). Portanto, os governos nunca deveriam estender sua interferência nos assuntos econômicos além do mínimo absolutamente essencial para proteger a vida e a propriedade e para manter a liberdade de adquirir. Assim, os fisiocratas se opunham a quase todas as restrições feudais, mercantilistas e governamentais, favorecendo a liberdade do comércio interno, bem como o livre-comércio exterior (idem, p. 35). Finalmente, é importante salientar a importância que a agricultura tem no pensamento fisiocrático: é ela a responsável pela produção de riqueza através da geração de excedente, sendo o comércio e a indústrias estéreis, apesar de úteis. São os pensadores clássicos que irão consagrar uma forma de “ler” economia diferente da de seus antecessores. As preocupações desses primeiros glosadores podem, de acordo com os historiadores do pensamento econômico, resumir-se a três categorias: produção, distribuição e circulação de riqueza. Consolidou-se, também a partir da escola clássica, a concepção de uma riqueza nacional como decorrência evidente da própria consolidação do Estado burguês na Europa oitocentista. O debate sobre a origem e a natureza do valor, por outro lado, fechou questão na tese ricardiana do valor-trabalho incorporado. Os principais pensadores dessa escola foram, além do já citado Ricardo, Jean-Baptiste Say e Thomas Malthus. Segundo Brue (idem, p. 49), a doutrina clássica é geralmente chamada de liberalismo econômico. Suas bases são liberdade pessoal, propriedade privada, iniciativa individual, empresa privada e interferência mínima do governo. O termo liberalismo deve ser considerado em seu contexto histórico: as ideias clássicas eram 55 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 liberais, em contraste com as restrições feudais e mercantilistas sobre a escolha de profissões, transferências de terra, comércio e assim por diante. Entre os principais pressupostos clássicos, destacam-se a interferência mínima do Estado na economia, o comportamento econômico individual baseado no autointeresse (e as ideias de Smith contidas em Teoria dos sentimentos morais são modelares dessa forma de pensar) e a busca por leis explicativas que pudessem dar conta dos fatos econômicos. Também é importante ressaltar que, para os clássicos, não é apenas a agricultura que pode criar riqueza: a origem desta se encontra em todos os ramos da atividade econômica. Adam Smith (1723-1790) é o precursor dos autores clássicos, inclusive por estabelecer um padrão de análise que seria reproduzido por seus sucessores (o sumário de A riqueza das nações, sua principal obra, é seguido quase à risca nos escritos de Malthus e Ricardo). Para ele, a riqueza de uma nação é medida pela produção total anual de um país que será consumida por um determinado número de pessoas. Portanto, a riqueza é dada pela relação entre a produção anual e a população. O que gera a riqueza é a divisão do trabalho, e o processo gerador da riqueza só encontra limites no tamanho do mercado; quer dizer, a divisão do trabalho continuará ocorrendo até o limite das possibilidades do tamanho do mercado. Para Smith, outra característica é fundamental para a compreensão do sistema econômico: a tendência ao equilíbrio natural, tal como pode ser observado na natureza física. Ele resulta do comportamento egoísta que, voltado para o bem-estar individual, acaba por gerar o bem-estar social. Como isso ocorre? Saiba mais Sobre a questão do autointeresse, sugerimos a leitura do texto A fábula das abelhas: vícios privados, benefícios públicos, de Eduardo Gianetti da Fonseca, disponível em: <http://pt.braudel.org.br/publicacoes/ braudel-papers/05.php>. Acesso em: 23 mar. 2011. Para Smith, se cada agente buscar seu próprio interesse, terá que considerar o interesse do outro: seria o exemplo de um comerciante que acaba por diminuir o preço de sua mercadoria se os clientes optam por outro comerciante que venda mais barato. Ainda, a busca do progresso individual, motivada pelo autointeresse, traria o crescimento das cidades, o aumento da eficiência econômica e o acúmulo da riqueza material. Smith seria, então, responsável pela tentativa de compreensão do sistema econômico como um todo, particularmente no que diz respeito à alocação de recursos para os fatores de produção, aos mecanismos de autorregulação do mercado e ao modelo de crescimento. Segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 75), Smith mostrou que o sistema de mercado é um processo autorregulador. A bela consequência de um mercado competitivo é que ele é seu próprio 56 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 guardião. Se preços ou lucros saírem de seus níveis “naturais”, determinados pelos custos, haverá forças que os reconduzirão à linha. Surge, então, um paradoxo curioso. O mercado competitivo, que tem em seu ápice a liberdade econômica individual, é ao mesmo tempo o mais rígido supervisor econômico. Alguns anos mais tarde, Jean Baptiste Say (1767-1832) desenvolveria algumas dessas ideias precursoras, porém, agregando à fundadora teoria do valor a questão do valor de uso e da utilidade. Considerando-se discípulo de Smith, levaria o conceito de equilíbrio natural do mercado a um patamar superior. Lembrete Para Say, jamais haveria superprodução ou depressão. A economia de mercado tinha como característica o fato de a oferta criar sempre uma demanda da mesma magnitude. Se o produtor, tomado individualmente, apenas produzia o que pudesse ser trocado pela produção de outro, isso “teria de ser verdade para os agregados da oferta e da demanda, quer dizer, a oferta agregada teria de ser igual à demanda agregada” (HUNT, 2005, p. 130). O mercado se equilibraria automaticamente, e esse mecanismo passou a ser chamado Lei de Say; contra essa lei, manifestaram-se alguns economistas: Bentham, Marx, Keynes e, antes deles, Malthus. O foco de Thomas Malthus (1766-1834) é outro: o que o preocupa é a fome e a imensa miséria dos trabalhadores. Como consequência dos desenvolvimentos da Revolução Industrial, a acumulação do capital e da renda da terra se fazem a partir da apropriação do salário dos trabalhadores; assim, Malthus escreve sobre o momento do confronto dentro da elite econômica entre os interesses do capital agrário e do capital industrial, ainda nascente. Os proprietários de terra querem impostos altos de importação para os cereais para que possam praticar elevados preços internos. Os capitães de indústrias querem os cereais vendidos a preços menores para que não tenham que recompor os salários. Os pobres e miseráveis perdem, aos poucos, a parca ajuda financeiradas paróquias. Malthus analisa o crescimento populacional e o aumento da produção de alimentos e chega à seguinte conclusão: “não há como essa conta ’bater’. A população cresce a taxas geométricas, enquanto a produção de alimentos cresce a uma taxa aritmética”. Observação Ideias não nascem sós: evidência disso é a série de estudos que vem sendo feita para investigar a relação entre as ideias de Malthus e as de Charles Darwin. Ambos partiram de uma mesma realidade e suas obras apresentam aproximações interessantes. Afinal, ambos buscaram compreender os processos de seleção natural e de sobrevivência da espécie humana. 57 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais Se você quiser ler mais sobre o assunto levantado na Observação, sugerimos O conceito da natureza em a origem das espécies, de Anna Carolina K. P. Regner. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702001000400 010&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em: 23 mar. 2011. Os estudos de Malthus indicavam: em pouco tempo haveria milhões de esfomeados, a não ser que se pudesse contar com o providencial auxílio das guerras, das pragas e das pestes. Para Malthus, essa era a tendência natural da humanidade: “independentemente do êxito conseguido pelos reformadores, em suas tentativas de modificar o capitalismo, a atual estrutura de proprietários ricos e trabalhadores pobres reapareceria inevitavelmente” (HUNT, 2005, p. 69). Essa divisão de classes era, segundo Malthus, uma consequência inevitável da lei natural. Hunt (ibidem) cita Malthus: “parecia que, pelas leis inevitáveis da natureza, alguns seres humanos teriam de passar necessidade. Essas eram as pessoas infelizes que, na grande loteria da vida, tinham tirado um bilhete em branco”. David Ricardo (1772-1823) compartilhava com Malthus essa visão de mundo. Discordava, porém, no restante: embora houvesse uma enorme amizade pessoal entre os dois, eram inimigos intelectuais. Ricardo concordava com a ideia de o crescimento populacional ser responsável pela “corrosão” salarial do trabalhador, sempre levando esse salário ao nível de subsistência. No entanto, Ricardo complementou a teoria de renda da terra malthusiana. Para Ricardo, “o preço dos cereais, em relação ao preço das mercadorias industrializadas, era regulado pela tendência do trabalho e do capital, quando empregados em terras cada vez menos férteis, a produzir cada vez menos cereais” (idem, p. 87). Quer dizer, eram as terras menos férteis que determinavam a renda das terras mais férteis. As ideias desses fundadores das ciências econômicas são ainda debatidas e analisadas à exaustão: do tempo em que a economia política buscava por um estatuto de ciência que a diferenciasse da filosofia moral, as obras desses autores ainda trazem as marcas – indeléveis – de um período em que juízo moral e ciência podiam – e deviam – estar próximos. Você sabia? A seguir, citamos três trechos pinçados de obras de três estudiosos e escritores de peso. Ao contrário do que se imagina, a Revolução Industrial não correspondeu a invenções técnicas que fossem fruto de desenvolvimentos científicos notáveis. Na verdade, segundo Hobsbawm, em A era das revoluções (p. 22), suas invenções técnicas foram bastante modestas, e sob hipótese alguma estavam além dos limites de artesãos que trabalhavam em suas 58 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 oficinas ou das capacidades construtivas de carpinteiros, moleiros e serralheiros: a lançadeira, o tear, a fiadeira automática. Nem mesmo sua máquina cientificamente mais sofisticada, a máquina a vapor rotativa de James Watt (1784), necessitava de mais conhecimentos de física do que os disponíveis então havia quase um século (...) e podia contar com várias gerações de utilização prática de máquinas a vapor, principalmente nas minas. Já Adam Smith, usando o exemplo de uma fábrica de alfinetes, mostrou, em A riqueza das nações, como a divisão de trabalho gerava riqueza por meio do aumento da produtividade: Um operário desenrola o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se três ou quatro operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas, as quais, em algumas manufaturas, são executadas por pessoas diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa duas ou três delas. (...) Se, porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro, e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo 1. A substituição crescente da mão de obra por maquinário gerava desemprego, e a revolta era de tal monta que, ao final do século XVIII e nos primeiros anos do século XIX era comum ocorrerem invasões de fábricas por hordas de trabalhadores. Conforme afirma Heilbroner (1996, p. 102-3), “fábricas destruídas espalhavam-se pelo campo, e a cada uma o comentário era ‘Ned Ludd passou por aqui’. O boato era que um rei Ludd ou um general Ludd estava dirigindo as atividades da turba. Não era verdade, claro. Os luddites, como eles eram chamados, inflamavam-se pelo puro e espontâneo ódio às fábricas, que viam como prisões, e ao trabalho assalariado, que desprezavam. (...) Para a maior parte dos observadores (...), as classes baixas estavam escapando do controle e era preciso agir severamente para acabar com a situação. E, para as classes altas, aqueles acontecimentos pareciam indicar que um violento e terrificante Armageddon se aproximava”. Resumo Antes que você faça os exercícios, vamos relembrar os pontos mais importantes já discutidos até agora. Como área do conhecimento, a economia surge simultaneamente à formação da economia de mercado e à formação dos Estados nacionais. 59 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 A economia estuda as formas por meio das quais a sociedade utiliza recursos escassos e finitos para atender às necessidades ilimitadas. Chamamos de fatores de produção os recursos terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial. A terra é remunerada pelo aluguel, o trabalho pelo salário, o capital pelos juros, a tecnologia pelos direitos de propriedade e a capacidade empresarial pelos lucros. Aos economistas são atribuídas as respostas às perguntas o quê e quanto, como e para quem produzir os bens e serviços necessitados pela sociedade. Os serviços são intangíveis e os bens são tangíveis. Os bens (livres ou econômicos) podem ser classificados em bens de consumo (duráveis ou não duráveis), intermediários e de capital. Bens e serviços são produzidos no fluxo circular do produto, que tem correspondente no fluxo circular de renda. A atividade econômica se organiza sob a forma da livre iniciativa, sob a forma centralizada ou, o que é mais comum, sob a forma mista. A economia de mercado surge como resultado da degradação do feudalismo; assim, são importantes os aspectos relacionados às Cruzadas, ao processo de urbanização, à formação dos Estados nacionais e às explorações marítimas. No mundo em que vivemos, o empreendedorismo é vital para o sucesso no mundo dos negócios. No entanto, não nascemos empreendedores:essa competência se torna importante a partir de determinadas condições históricas. A Reforma Protestante trouxe o código de ética necessário para o mundo surgido a partir da degradação do feudalismo. Assim, trouxe a ética que resultaria das transformações ocorridas com a Revolução Industrial. A respeito desse novo mundo, Adam Smith, J. Baptiste Say, David Ricardo e Thomas Malthus escreveriam suas obras fundadoras: os textos clássicos da economia. 60 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Exercícios Questão 1. “O que levou as panificadoras a funcionarem por 24 horas? O que levou postos de combustíveis a oferecerem serviços de conveniência? O que levou uma empresa a criar pizzas refrigeradas para serem aquecidas no aparelho de micro-ondas? O que será que levou uma empresa de chocolate a colocar um brinquedo dentro de um doce em formato de ovo?” (SANT’ANNA, s. d.). As características empreendedoras imprescindíveis para a concretização dessas iniciativas inovadoras foram: I - Habilidade em buscar informações e conhecimentos. II - Propriedade de capital próprio, suficiente para o empreendimento. III - Propensão à iniciativa. IV - Sensibilidade para correr riscos calculados. V - Ser jovem, forte e cheio de energia. Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas: A) I, III e IV. B) III e V. C) Todas as afirmativas estão corretas. D) I e III. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa A. Análise das afirmativas: Afirmativa I: correta. Justificativa: as atitudes que estão relacionadas ao empreendedorismo e, mais especificamente, à habilidade em buscar informações, são aquelas que dizem respeito ao bom acompanhamento de mercado, à proximidade com o cliente, ao conhecimento do seu negócio e à prontidão para investigar novas oportunidades. Também é fundamental pedir, quando necessário, orientação junto aos especialistas sobre o seu negócio e o seu mercado. 61 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Afirmativa II: incorreta. Justificativa: ter o dinheiro como o fator mais importante para montar uma empresa é um mito, pois, se as outras peças e o talento estão no lugar, o dinheiro virá. O dinheiro é como o pincel e a tinta para um pintor: nas mãos certas produzem maravilhas. Afirmativa III: correta. Justificativa: a propensão à iniciativa permite agir proativamente, buscar novas oportunidades e aproveitar outras que sejam fora do comum, com um comportamento de aceitação de riscos. Afirmativa IV: correta. Justificativa: sensibilidade para correr riscos calculados inclui avaliar alternativas e oportunidades. Também inclui uma boa gestão de resultados e a aceitação de desafios desde que, claro, sejam avaliados os riscos. Afirmativa V: incorreta. Justificativa: a afirmativa de que empreendedores devem ser jovens e cheios de energia é um grande mito. Essas qualidades podem ajudar, mas idade não é barreira. O que é essencial é possuir conhecimento relevante, experiência e contatos que facilitem reconhecer e agarrar uma oportunidade. Questão 2. “Quase 44% da renda dos brasileiros da classe D são gastos com despesas básicas, como alimentação, transporte e contas de consumo. Os números são da pesquisa feita pela Quorum Brasil com 400 paulistanos com renda familiar de até R$ 1.020. A alimentação é o tipo de gasto que possui maior peso nas despesas dessas famílias, representando 15,5% da renda. Em segundo lugar, aparecem as contas de água, luz, telefone e gás, que consomem 14,7% do salário. Ainda no primeiro grupo de prioridades no direcionamento dos recursos da família estão as despesas com transporte, para onde vão 13,3% do dinheiro. Outras prioridades, depois dos gastos de primeira necessidade, são os gastos com cartão de crédito, que consomem 12,4% de sua renda, seguidos por moradia, aluguel e financiamento (11,9%), prestações em lojas (11,6%) e despesas com saúde e remédios (11,3%). Ao todo, esses gastos secundários somam 47,2% da renda das famílias da classe D. As despesas com lazer e passeio aparecem apenas no terceiro grau de prioridade, consumindo, segundo os entrevistados, 9,2% do orçamento mensal. A pesquisa “A Classe D e seus Desejos e Despesas” foi feita na cidade de São Paulo, em setembro de 2010, com homens e mulheres entre 25 e 50 anos de idade que trabalham e têm renda de até dois salários mínimos” (adaptado de RIBEIRO, 2010). 62 Unidade I Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Ao analisar a situação apresentada, pode-se relacioná-la, diretamente, com as afirmativas: I - As empresas, em regimes capitalistas de produção, existem para satisfazer as necessidades de consumo da sociedade e, em segundo plano, para valorizar o capital investido. II - Os consumidores precisam, dada sua renda escassa ou limitada, alocar de forma eficiente as suas categorias de despesas. III - A Teoria da Firma procura estudar e responder como as empresas combinam a utilização dos fatores de produção necessários à criação de coisas úteis e o quanto gastam para produzir bens e serviços. IV - A sociedade nem sempre obtém êxito na alocação adequada de seus esforços. Pode produzir carros e artigos de luxo, enquanto uma grande quantidade de pessoas necessita de produtos mais urgentes e socialmente prioritários. V - A tecnologia tem aumentado a independência do homem em relação à satisfação de suas necessidades. Assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas: A) I, II e III. B) II e IV. C) III e V. D) I, II, III e V. E) I, II, IV e V. Resolução desta questão na Plataforma. 63 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Unidade II 5 O SISTEMA CAPITALISTA E OS MERCADOS 5.1 O que são estruturas de mercado? Afinal, o que vem a ser mercado? Mercado é um local de encontro entre alguém que oferece algo para outro alguém que necessita desse algo. Assim, mercado é um local de trocas: trocas de produtos, de serviços, de informações. Podemos pensar, por exemplo, no mercado de trabalho. O trabalho aqui já foi definido como um fator de produção; como fator primordial de produção de que as empresas necessitam e um fator primordial de produção para que a sociedade possa obter renda. O mercado de trabalho é constituído pôr ofertantes de força de trabalho – mão de obra – e demandantes de tal fator. Como as empresas necessitam do trabalho para por em prática seu processo produtivo, ofertam vagas para que sejam preenchidas pelas famílias que oferecem às empresas a sua riqueza, o trabalho. Assim, de forma conduzida pela mão invisível, conforme explicado por Adam Smith, as empresas e as famílias se encontram em tal mercado. Mas, onde se dá tal encontro? Não necessariamente em um espaço ou local específico. Portanto, entende‑se por mercado um local imaginário onde são efetuadas tais trocas. Outro exemplo é o mercado de crédito. Ele é constituído por agentes superavitários, ou seja, poupadores, que colocam à disposição dos bancos um volume de moeda para que seja emprestada a deficitários. Tais agentes necessitados de moeda recorrem ao mercado de crédito para obter esse recurso. Esse mercado é mais visível, pois é percebido nas atividades dos bancos e das sociedades de crédito. Podemos ainda classificar os mais diversos mercados em concentrados e não concentrados. Faremos isso para melhor entender como se dá o padrão de concorrência entre empresas. É nesse âmbito que entra a discussãosobre estruturas de mercado para que, a partir disso, possamos melhor entender como são divididas as mais variadas atividades econômicas e de que forma são identificadas as diversas empresas existentes num sistema econômico. Tal classificação dá‑se em razão do poder exercido por algum agente econômico – no caso, poder de compradores e de vendedores, mais especificamente, por parte dos vendedores. As várias formas ou estruturas de mercado dependem, fundamentalmente, de três características: a) Número de empresas que compõe o mercado; b) Tipo de produto; c) Existência de barreiras ao acesso de novas empresas. 64 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 São basicamente quatro as estruturas de mercado mais predominantes: o mercado de concorrência perfeita, o de monopólio, a concorrência monopolística e o oligopólio. O mercado não concentrado, é representado pelo chamado mercado de concorrência perfeita. Para que um mercado seja classificado assim, algumas características devem ser reunidas. Um mercado de concorrência perfeita é aquele em que há grande número de vendedores (empresas), de tal sorte que uma empresa, isoladamente, é insignificante, não afeta os níveis de oferta de mercado e, consequentemente, o preço de equilíbrio. O mercado de concorrência perfeita é um mercado atomizado, pois é composto de um número expressivo de empresas e de compradores, como se fossem átomos. Além disso, reúne outras características, como: a) Grande quantidade de compradores para uma grande quantidade de vendedores; b) Produto homogêneo; c) Mercado transparente; d) Liberdade aos agentes econômicos quanto à entrada e à saída de novos participantes; e) Mercado atomizado. Nesse mercado, no longo prazo, não existem lucros extraordinários (em que as receitas superam os custos), mas apenas os chamados lucros normais, que representam a remuneração implícita do empresário. Do ponto de vista da teoria microeconômica, a estrutura de concorrência perfeita é uma construção teórica, simplificadora da realidade. Mas, construção teórica ou não, o fato é que uma empresa atuando nesse mercado também terá o objetivo de lucro. Melhor ainda, terá como objetivo a maximização de seu lucro e, dessa forma, precisa decidir quais quantidades produzidas são aquelas que atingem o objetivo. Como se trata de um mercado em que há muitos vendedores de um mesmo produto, a margem de manobra em relação ao preço de venda da mercadoria fica bastante prejudicada, sendo, dessa forma, o preço estabelecido pelo mercado. Nenhuma firma, isoladamente, tem condições de alterar o preço ou praticar valor superior ao estabelecido. Contudo, acatando o preço dado pelo mercado, ela poderá vender o quanto puder, limitada apenas por sua estrutura de custos. Em uma concorrência perfeita – como as quantidades demandadas e ofertadas da mercadoria dependem de muitos compradores e de muitos vendedores – o preço da mercadoria é estabelecido a partir do encontro das curvas de demanda e oferta. Portanto, o preço da mercadoria é estabelecido pelo mercado e, a partir disso, as firmas seguem o valor estabelecido. Dessa forma, são também chamadas de 65 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 seguidoras ou tomadoras de preços. De forma oposta à do mercado de concorrência perfeita, temos o mercado de monopólio, quer dizer, o mercado em que existe um único poder, já representando o mercado concentrado. O mercado de monopólio apresenta condições diametralmente opostas às da concorrência perfeita. Nele existe, de um lado, um único empresário dominando inteiramente a oferta, e, de outro, todos os consumidores. Não há, portanto, produto substituto perfeito ou concorrente. Nesse caso, ou os consumidores se submetem às condições impostas pelo vendedor ou simplesmente deixam de consumir o produto. Para existir monopólio deve haver barreiras que impeçam a entrada de novas firmas no mercado. Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo o monopólio puro ou natural uma delas. Esse caso ocorre quando o mercado, por suas próprias características, exige a instalação de grandes plantas industriais que operam normalmente com economias de escala e custos unitários bastante baixos, possibilitando à empresa cobrar preços baixos por seu produto, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de novos concorrentes. Podemos ainda elencar como barreiras o elevado volume de capital requerido para montar uma indústria monopolista, as marcas e patentes, o controle de matéria‑prima básica, bem como as instituições. A legislação brasileira acerca do tema proíbe a existência de monopólio, permitido apenas para aqueles segmentos de mercado em que, para perfeito funcionamento, deva existir apenas uma empresa. São os chamados monopólios institucionais ou estatais, considerados estratégicos ou de segurança nacional. Observa‑se atualmente, porém, que há uma movimentação para que segmentos monopolizados sejam privatizados. Como existem barreiras à entrada de novas empresas, os lucros extraordinários devem persistir também no longo prazo nos mercados monopolizados. Nessa estrutura de mercado, a curva de demanda da empresa é a própria curva de demanda do mercado como um todo. Ao ser exclusiva no mercado, a empresa não estará sujeita aos preços vigentes. Isso não significa, porém, que poderá aumentar os preços indefinidamente. Deve, pois sim, de alguma forma, se adequar aos padrões de demanda dos consumidores. Outra estrutura de mercado é aquela formada pelos oligopólios. O oligopólio é um tipo de estrutura caracterizada por um pequeno número de empresas que dominam a oferta de mercado, como o da indústria automobilística, ou então, no qual há um grande número de empresas com poucas dominando o mercado, como a indústria de bebidas. No oligopólio, tanto as quantidades ofertadas quanto os preços são fixados entre as empresas, muitas vezes, por meio de conluios ou cartéis (NOGAMI e PASSOS, 2003). Normalmente, as empresas discutem suas estruturas de custos, embora isso não ocorra com relação a sua estratégia de produção e de marketing. Há uma empresa líder que, via de regra, fixa o preço, respeitando as estruturas de custos das demais, e há empresas satélites que seguem as regras ditadas pelas líderes. Esse é o modelo chamado de liderança de preços. 66 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Quanto aos objetivos da empresa oligopolista de maximização de resultados, a teoria microeconômica aborda duas correntes: aquela apresentada pela teoria marginalista e a apresentada pela organização industrial. Pela abordagem neoclássico‑marginalista, a maximização de lucros se dá por: LT = RT – CT onde: LT = lucro total; RT = receita total; CT = custo total De acordo com essa abordagem, basta que os custos de produção sejam menores do que as receitas de vendas para que haja lucros para a empresa oligopolista. A abordagem industrial não enfatiza a maximização de lucros pura e simples, mas, sim, a maximização do mark‑up. A teoria do mark‑up repousa na constatação empírica de que as empresas não conseguem prever adequadamente a demanda por seu produto e, portanto, suas receitas, mas conhecem seus custos. Difere da teoria marginalista, segundo a qual a empresa, para fixar seu preço no lucro máximo, precisa prever também as receitas, o que envolve conhecer a demanda por seu produto para igualar suas receitas marginais aos custos marginais. Para que a empresa chegue ao preço de venda, deverá então ter em mente seus custos de produção e saber qual sua taxade mark‑up. Então: p = (1 + m)c onde: p = preço do produto; m = taxa de mark‑up, que é uma porcentagem sobre os custos diretos; c = custo direto unitário Dessa forma, o mark‑up será dado pela diferença entre a receita de vendas e os custos diretos. A taxa de mark‑up deve cobrir, além dos custos diretos, os custos fixos; deve também atender uma certa taxa de rentabilidade desejada pela empresa oligopolista. A concorrência monopolista é uma estrutura intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio, mas que não se confunde com o oligopólio. Na concorrência monopolista há um número relativamente grande de empresas com poder concorrencial, porém, com segmentos de mercado e produtos diferenciados, seja por características físicas, pelas embalagens ou pela prestação de serviços. Tais empresas detêm alguma margem de manobra para fixação dos preços, que não é muito ampla, uma vez que existem produtos substitutos no mercado. Essas características acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preço de seu produto, embora o mercado seja competitivo. O quadro 3, a seguir, resume características acerca das estruturas de mercado. 67 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais Temos à disposição uma literatura bastante vasta sobre as estruturas de mercado. Recomendamos que você leia Políticas de concorrência: tendências recentes e o estado da arte no Brasil, de Lucia Helena Salgado. Disponível em: <http://getinternet.ipea.gov.br/pub/td/1995/td_0385.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011. Na obra a autora discute políticas antitrustes. Também sugerimos a leitura do texto Do vinho ao café: aspectos sobre a política de diferenciação, de Alexandre Macchione Saes, que analisa o caso da diferenciação de produtos em dois diferentes mercados. Disponível em: <ftp://ftp.sp.gov.br/ftipea/publicacoes/tec1‑0206.pdf>. Acesso em 23 mar. 2011. Estrutura Número de empresas Tipo de produto Condições de entrada e saída Influência sobre o preço Exemplos Concorrência perfeita Muitas Produto homogêneo Fácil Nenhuma, pois são tomadoras de preços Alguns produtos agrícolas Monopólio Uma Produto único sem substituto próximo Difícil Forte Serviços de energia elétrica Concorrência monopolista Muitas Produto diferenciado Fácil Leve Comércio varejista, restaurantes, farmácias Oligopólio Poucas Homogêneo ou diferenciado Difícil Considerável Homogêneo: alumínio Diferenciado: automóveis Quadro 3 – Resumo das características das estruturas de mercado12 Lembrete Guarde bem: o estudo das estruturas de mercado divide a economia em mercados concentrados e não concentrados. Certifique‑se de que reconhece facilmente as características de cada um deles. 5.2 Como se formaram os grandes oligopólios? O século XIX (conhecido como o século da paz), impulsionado pelo crescimento econômico, progresso tecnológico e pelos desenvolvimentos políticos advindos da Revolução Francesa, seria o século das interpretações da razão. Nesse momento, o império britânico assentará suas bases, e a conta de tamanho desenvolvimento será paga depois, com a crise do final do século e as lutas dos trabalhadores que, 12Nogami e Passos (2003). 68 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 inspirados pelos ideais socialistas, procurariam melhorar as condições de trabalho. Também será paga nas duas últimas décadas do século e no início do século seguinte, com os movimentos do capital em busca de novos mercados nas colônias e com o imperialismo econômico que acabaria por provocar a I Guerra Mundial. No campo das ciências, buscava‑se um único e mesmo método para o encontro da verdade, independentemente da área do conhecimento: era a nova ciência que fascinava a todos. A ciência do século XIX seria aquela resultante das heranças do Renascimento mesclada às do Iluminismo e em que se notaria o caráter preferencialmente mecanicista e o uso da matemática como linguagem. Afinal, se o universo era um grande organismo, faltava apenas descobrir uma grande lei que explicasse o seu funcionamento e, do ponto de vista do estudo da economia política, isso significava buscar a demonstração matematicamente rigorosa da superioridade da ordem burguesa e do sistema de mercado: essa será a principal razão para a busca de uma formalidade metodológica que conferiria à economia o mesmo estatuto de ciência da física e para a utilização constante de metáforas derivadas da física e da biologia para estudos de pensamento econômico. Essa quantificação também virá sob a forma de estatísticas e recenseamentos que não mais se dedicam exclusivamente à administração pública, passando a municiar de dados os que pretendem estudar a sociedade a partir de um método racional e científico. O desenvolvimento das técnicas e dos instrumentos para mensuração estatística permitirá aos primeiros órgãos e instituições oficialmente responsáveis pelas pesquisas estatísticas a descrição de todas as facetas da sociedade, numa verdadeira “febre” de contagem: nascimentos, óbitos, doenças (que serviriam de material para os higienistas), preços, produção, animais, condenados por crimes, prostituição, uso do solo, da água e do ar. Esses seriam os números que subsidiariam a compreensão da realidade a partir de leis explicativas. Na Inglaterra vitoriana, as leis que já existiam (as de Adam Smith, Malthus e Ricardo) sobre a distribuição econômica “eram poucas, mas definitivas. Essas leis pareciam explicar não apenas como a produção da sociedade tendia a ser distribuída, mas também como ela devia ser distribuída” (HEILBRONER, 1996, p. 120). A crise surgiria como resultado da expansão da produção acompanhada de redução da lucratividade dos negócios: saturação paulatina de novas oportunidades, rapidez na acumulação de capital, limites para extração da mais‑valia, tudo contribuiu para a gestação da crise que romperia ao final do século XIX, aparentemente tão promissor nos seus primórdios. Ao final do século XIX, a concorrência, antes bem‑vinda, agora sugeria a criação de mecanismos de defesa contra a redução de preços e de margens de lucro. “Essa maior preocupação com os perigos da concorrência sem barreiras veio numa época em que a crescente concentração da produção, principalmente na indústria pesada, lançava os alicerces de uma centralização maior da propriedade e do controle da política dos negócios” (DOBB, 1987, p. 310). Surgem trustes, associações de produtores industriais e cartéis. Necessitadas de mercado, as empresas europeias (especialmente as de capital britânico) irão exportar bens de capital para a Ásia, a África e a América. 69 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Esse impulso será dado com a exploração do salitre no Chile, com a construção de ferrovias e portos no Brasil, no México, no Japão, no Canadá e na Argentina: se o capital já não pode ser traduzido em acumulação nos seus locais de origem, irá ser exportado para o exterior, e lá produzirá os lucros tão desejados pelos empresários. Saiba mais Sugerimos a leitura de Santa Maria de Iquique, há cem anos, de Ivy Judensnaider, em que a autora relata o ocorrido nas minas de salitre do Chile no começo do século XX. Disponível em: <http://www.arscientia.com. br/materia/ver_materia.php?id_materia=442>. Acesso em: 23 mar. 2011. Como o pensamento econômico irá refletir sobre essa nova realidade? Inspirados pela visão dos sucessivos levantes operários (levantes esses que encontrariam seu ápice em 1848) e pela possibilidade de entender e resolver os problemas oriundosda acumulação capitalista, Marx e Engels irão propor a análise do capitalismo, advogando sua inexorabilidade rumo à destruição. A concepção materialista da história, escreveu Engels (apud HEILBRONER, 1996, p. 138): (...) origina‑se do princípio de que a produção, e com a produção a troca de seus produtos, é a base de toda ordem social; que em cada sociedade que apareceu na história a distribuição dos produtos, e com ela a divisão da sociedade em classes ou Estados, é determinada pelo que é produzido, como é produzido e como o produto é trocado. De acordo com essa concepção, as causas finais das mudanças sociais e das revoluções políticas devem ser vistas, não na mente dos homens nem em seu crescente impulso em direção da eterna verdade e da justiça, mas sim nas mudanças das maneiras de produção e de troca; devem ser vistas não por meio da filosofia, mas sim da economia da época concernente. Marx e Engels empreenderam forte ataque contra as teses clássicas, desmascarando a exploração da classe burguesa sobre os trabalhadores e dando início a uma corrente de pensamento que extrapolou a própria economia e ainda hoje se revela muito influente. Marx, em sua clássica obra O capital, de 1867, ao desenvolver conceitos como mais‑valia, capital variável, capital constante, exército industrial de reserva e composição orgânica do capital, entre outras contribuições, modificou a análise do valor, principalmente a teoria do valor trabalho. Nas fábricas, jornadas desumanas de trabalho. Fazemos um parêntese no pensamento de Marx para citar uma passagem do livro A riqueza do homem, de Leo Huberman, representativa do que era considerado normal, no século XIX, em termos de duração de um dia de trabalho em uma fábrica inglesa: 70 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 As crianças agora trabalhavam em fábricas, sob a direção de um supervisor cujo emprego dependia da produção que pudesse arrancar de seus pequenos corpos, com horários e condições estabelecidos pelo dono da fábrica, ansioso por lucros. Até mesmo um senhor de escravos das Índias Ocidentais poderia surpreender‑se com o longo dia de trabalho das crianças. Um deles, falando a três industriais de Bradford, disse: “Sempre me considerei infeliz pelo fato de ser dono de escravos, mas nunca, nas Índias Ocidentais, pensamos ser possível haver ser humano tão cruel que exigisse de uma criança de 9 anos trabalhar 12 horas e meia por dia, e isso, como os senhores reconhecem, como hábito normal” (HUBERMAN, 1986, p. 192). Saiba mais O trabalho infantil ainda é uma tragédia nos nossos tempos. Se você quiser saber mais sobre o combate ao trabalho infantil, leia o conteúdo do site do Ministério do Trabalho e Emprego e, em particular, as publicações que ali estão sobre o assunto. Disponível em <http://www.mte.gov.br/trab_ infantil/default.asp>. Acesso em: 23 mar. 2011. Para Marx, o valor da força de trabalho é determinado, como no caso de qualquer outra mercadoria, pelo tempo e pelo trabalho necessário à produção, consequentemente, à reprodução de tal mercadoria. Utilizando esse critério de valor, Marx analisou a acumulação de capital, a distribuição da renda, as crises econômicas e, por fim, as contradições do capitalismo como sistema de produção de mercadorias. A obra de Karl Marx (1818‑1883) é extremamente complexa, envolvendo, além da análise do funcionamento da economia capitalista, a apresentação de um método de investigação próprio (o materialismo histórico) que, posteriormente, serviu de instrumental para várias outras áreas do saber. Para desenvolver a sua explicação teórica do desenvolvimento do capitalismo, Marx partiu de Smith e Ricardo. Segundo Hunt (2005), Marx considerava Mill um oponente intelectual a quem era necessário respeitar; em relação a Malthus, Bentham, Senior e Say, ele “quase que se limitou a criticá‑los” (idem, p. 194): esses autores careciam de uma visão histórica das atividades econômicas e do desenvolvimento social, e suas obras resultavam em análises fracas e descontextualizadas em relação aos modos de produção e às suas condições particulares em determinados períodos de tempo. Observação Marx faz uma previsão: o capitalismo se destruirá por si mesmo. A produção não planejada, a desorganização do sistema, constantes oscilações de preços, tudo conspiraria para a inexorável crise. 71 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O sistema, simplesmente, era complexo demais; desencaixava‑se de maneira constante, perdia o ritmo, produzia determinada mercadoria em excesso e outra de menos. A segunda, o capitalismo deveria produzir seu sucessor sem o saber. Dentro de suas grandes fábricas ele precisaria não apenas criar a base técnica para o socialismo — produção racionalmente planejada —, mas teria, além disso, que criar uma classe bem treinada e disciplinada que viria a ser o agente do socialismo, o amargurado proletariado. Por sua própria essência dinâmica, o capitalismo iria produzir a própria queda e, no processo, alimentaria o inimigo (HEILBRONER, 1996, p. 141). Algumas das principais ideias de Marx podem ser assim resumidas: a) O capital era responsável pela geração de lucros para uma específica e especial classe social; b) O conceito de harmonia social só era possível se fosse tomada como pressuposto a existência de apenas uma relação econômica: a troca; c) As mercadorias tinham um valor de uso (criado pelo trabalho útil) e um valor de troca (criado pelo valor abstrato), este último sendo expresso em termos de preço monetário; ainda, “o valor de uso não poderia ser a base do valor de troca” (HUNT, 2005, p. 198). Tendo “estabelecido a ligação entre o valor de troca de uma mercadoria e ‘a quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção’, Marx (...) mostrou as condições sócio‑históricas específicas necessárias para os produtos do trabalho humano se transformarem em mercadorias” (idem, p. 200); d) Enquanto numa sociedade não capitalista o fluxo de troca poderia ser descrito por mercadoria –dinheiro–mercadoria (quer dizer, o processo envolvia a troca com o objetivo de adquirir outras mercadorias para uso), numa sociedade capitalista o fluxo caracterizava‑se por dinheiro–mercadoria –dinheiro’ (ou seja, o capital permitia a produção de mercadorias que, trocadas, geravam mais dinheiro); a diferença entre dinheiro e dinheiro’ era a mais‑valia, gerada no processo de produção e que tinha como origem o fato de os capitalistas comprarem um conjunto de mercadorias (fatores de produção, incluindo o trabalho que o operário vendia como mercadoria) por um valor abaixo daquele representado pelo conjunto de mercadorias vendidas (resultantes do processo produtivo). Essa análise levou Marx a concluir que a única forma de o capitalista sobreviver era acumulando cada vez mais capital; a luta pela sobrevivência geraria concentração econômica e faria com que a taxa de lucro tendesse à queda, provocando crises setoriais, alienação e miséria da classe operária (idem, p. 224). Saiba mais Germinal. Dir. Claude Berri, 160 minutos, 1993. Filme baseado na obra homônima de Emile Zola, retrata a situação dos mineiros franceses ao final do XIX, especialmente as condições insalubres de trabalho associadas aos baixos salários. Vale a pena assistir! 72 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Mais: Marx definiria a acumulação de capital como sendo a retransformação ou a utilização da mais‑valia, produzida pela força de trabalho, no próprio processo produtivo. Essa acumulação teriaseu ritmo dependente da composição orgânica do capital, que era a relação entre o chamado capital constante, derivado do valor dos meios de produção, e o capital variável, advindo do valor da força de trabalho. Quanto maior a parcela do capital total destinada ao capital constante em relação ao capital variável, maior seria a acumulação do capital total. Como se daria o processo de acumulação de capital e as crises dela decorrentes? O capitalismo levava à criação de empresas cada vez maiores, pertencentes a um número cada vez menor de proprietários. Como a taxa de lucro tendia à diminuição, a única forma de compensar essa queda era aumentar a exploração do trabalhador, mantendo os salários ao nível de subsistência. À medida que o capital era acumulado, aumentava‑se o valor dos outros meios de produção que não o trabalho. Os operários sem emprego formariam o exército industrial de reserva e competiriam pelos poucos postos de trabalho. O capital, então, passaria a controlar o trabalho; aumentaria a alienação e a pobreza em geral. Aos operários, portanto, apenas restaria destruir o capitalismo. Marx estava certo? Segundo Hunt (idem, p. 233), o capitalismo sobreviveu a muitas profecias posteriores a sua morte (...). Não podemos esperar que Marx ou qualquer outro pensador tenha sido um vidente infalível da sequência exata e da ocasião exata dos acontecimentos futuros. O capitalismo – ou qualquer outro modo de produção social – é muito complexo para permitir previsões feitas com base em adivinhações. Marx, porém, apresentou uma análise estruturada, bem como inúmeros esclarecimentos teóricos e históricos concretos, que continuam, comprovadamente, muito úteis até hoje. O final do século XIX, portanto, é um tempo de mudanças: emergem as grandes corporações econômicas com tendência monopolística (fazendo desaparecer o capitalismo concorrencial) e o Estado passa a interferir cada vez mais na vida econômica da sociedade. Temos, agora, não apenas o contexto a partir do qual se gerou a grande depressão da década de 1870, mas também o instrumental analítico para compreendê‑la em toda a sua extensão. O que se tornou conhecido como a Grande Depressão, iniciada em 1873, interrompida por surtos de recuperação em 1880 e 1888, e continuada em meados da década de 1890, passou a ser encarado como um divisor de águas entre dois estágios do capitalismo: aquele inicial e vigoroso, próspero e cheio de otimismo aventureiro, e o posterior, mais embaraçado, hesitante e, diriam alguns, mostrando já as marcas de senilidade e decadência (DOBB, 1987, p. 300). Se os mercados são tão necessários para a sobrevivência do capital, as nações desenvolvidas irão entrar em guerra para disputá‑los. 73 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais Se você quiser lembrar os fatos relacionados à Primeira Grande Guerra, consulte o texto disponível em: <http://www.curso‑objetivo.br/vestibular/ roteiro_estudos/primeira_guerra_mundial.aspx>. Acesso em 23 mar. 2011. Para refletir Vamos pensar um pouco mais? O texto a seguir trata do monopólio estatal e do oligopólio privado. Situação – Do monopólio estatal ao oligopólio privado. Sem concorrência no mercado, operadoras cobram altas taxas da população por serviços insatisfatórios13. Passaram‑se oito anos desde a privatização do Sistema Telebrás, estatal que controlava a telefonia fixa brasileira, cujo ramo de atividade foi dividido entre as empresas Telemar, Brasil Telecom e Telefônica. A proposta de privatização que, em tese, pretendia estimular a concorrência justa, criou um oligopólio de corporações. As pequenas empresas, chamadas espelho, que detêm concessões limitadas, não conseguem concorrer com as grandes operadoras. De acordo com dados de um estudo feito por um dos diretores da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), José Pereira Filho, em julho do ano passado, Telemar, Telefônica e Brasil Telecom possuiam 93% do mercado. As empresas‑espelho, mesmo sendo aproximadamente 60, administravam apenas 7% desse mercado. A falta de concorrência é mantida porque as três grandes concessionárias atuam em regiões diferentes do país, tendo assim consumidores distintos. Mesmo com o domínio do mercado na telefonia fixa e sem o risco de perderem clientes para outras empresas, os serviços prestados são os campeões de reclamação nos serviços de proteção ao consumidor. “Acredito que alguns fatores levaram a essa situação. A ideia inicial era de que as empresas‑espelho entrariam no mercado, não teriam concessões, portanto não teriam obrigações, como acontece com as concessionárias. Por outro lado, as concessionárias teriam suas obrigações. Entendia‑se que as empresas autorizadas, por entrarem no mercado sem essas obrigações de universalização, teriam o interesse de atender a todos os clientes. Mas elas acabaram optando pelo mercado corporativo, que é mais lucrativo. Como elas não são obrigadas a oferecer o serviço para todos os grupos, optaram pelo grupo que oferece mais lucratividade”, explica Daniela Batalha, advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Proposta: os termos monopólio e oligopólio estão sendo usados corretamente pelo autor do texto? 13Disponível em: <http://sinttel.org/noticias/b2.htm>. Acesso em: 1º nov. 2010. 74 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 6 A CRISE DE 1929, O SISTEMA CAPITALISTA E A MÃO VISÍVEL DO ESTADO 6.1 A crise A revista Veja publicou o texto a seguir sobre o famoso outubro de 192914: Um alvoroço incomum nos arredores da Bolsa de Valores de Nova York chamou a atenção do comissário de polícia da cidade, Grover Whalen, na última quinta‑feira, dia 24. Por volta das 11 horas, um rugido cavernoso começou a escapar do edifício. Alguns minutos depois, já não era possível identificar se o bramido vinha de dentro ou de fora da Bolsa; uma multidão estrepitosa tomara as cercanias de Wall Street e Broad Street, como formigas rodeando um torrão de açúcar esquecido na pia da cozinha. Alarmado, o comissário logo enviou um destacamento especial para a região. A turba, contudo, não representava uma ameaça à ordem pública, como o oficial perceberia mais tarde. Com olhares horrorizados e incrédulos, os nova‑iorquinos, espremidos uns aos outros, estavam inertes. Eles apenas esperavam, não se sabe ao certo quem ou o quê. Era o pânico. Dentro do prédio, a consternação era semelhante e estava ainda mais evidente na agitada face de corretores e operadores, protagonistas e testemunhas do acontecimento que pode mudar os rumos da economia mundial. Símbolo maior da pujança econômica dos Estados Unidos, o mercado de ações, que se tornou verdadeira mania nacional nesta década gloriosa para os americanos, via seu baluarte, a rica e poderosa Bolsa de Nova York, despedaçar‑se em poucos minutos naquela que já entrou para os anais como a “quinta‑feira negra”. Uma onda súbita e sem precedentes de vendas tomou de assalto o pregão nova‑iorquino. Ações outrora valorizadas simplesmente não encontravam novos compradores, nem mesmo por verdadeiras ninharias. Os preços dos papéis, fossem eles da United States Steel ou da American Telephone and Telegraph, caíam vertiginosamente, arrastando com eles as economias, esperanças e sonhos de milhares de americanos levados à bancarrota instantânea. A notícia dizia respeito à quebra da bolsa da maior economia do mundo em 1929, que, por sua dimensão, disseminou a crise por todos os continentes. Para Dobb (1987, p. 322), o que ruía era o sonho de um paraíso econômico: 14O primeiro número da revista Veja impressa foi publicado em 1968. Por meio da internet, porém, sob o nome Veja na História, a publicação tem colocado à disposição dosinteressados edições especiais sobre fatos históricos relevantes que aconteceram no mundo nas mais diversas épocas, como o crash na Bolsa de Nova York. Disponível em: <http://veja.abril. com.br/historia/crash‑bolsa‑nova‑york/especial‑quebrou‑panico‑acoes‑wall‑street.shtml>. Acesso em: 1º nov. 2010. 75 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais Recomendamos fortemente a leitura do livro As vinhas da ira, de John Steinbeck, editora Record. Romance de 1939 em que o autor narra a trajetória dos camponeses sem trabalho que vagam pelo território americano em busca de alguma oportunidade de sobrevivência. Os próprios fatos desses anos sombrios, com suas falências repentinas, fábricas abandonadas e filas de gente a pedir pão, forçaram nos espíritos já refeitos a conclusão de que algo – muito mais fundamental do que uma adaptabilidade lenta de desordenadas relações de preços – devia estar errado no sistema econômico, e que a sociedade capitalista teria sido tomada por algo com todos os sinais de ser uma doença crônica que ameaçava tornar‑se fatal. Vejamos as origens da crise. Aquele era um tempo em que a atividade econômica tinha como principal característica a produção de massa, resultante de “métodos de fluxo contínuo, pelos quais o movimento do produto através de suas etapas sucessivas é governado por um só processo mecânico” (idem, p. 357). O antigo artesão, o produtor independente da máquina e o agente que operava a máquina, todos eles são substituídos por máquinas que operam e comandam a produção, máquinas essas apenas supervisionadas pelo homem. A produção se torna um processo de equipe, mecanizado e que não pode variar, já que é ditado pelo processo mecânico unificado. Como era o ambiente econômico nas primeiras décadas do século XX? Tudo parecia funcionar perfeitamente, de acordo com a ideia mítica da “mão invisível”, faltando tão somente aguardar os movimentos do mercado que conciliariam os interesses da demanda e da oferta. No entanto, não foi isso que se observou. Elevação do grau de monopolização das empresas, rigidez de preços, manutenção das margens de lucro, redução do emprego como estratégia para redução de custos e otimismo infundado: essa era uma mistura improvável, mas que, ocorrendo, levaria o mundo ao colapso de 1929. Se havia redução da demanda e, portanto, formação dos estoques em níveis acima dos normais, utilizava‑se a redução da produção (e do emprego, em consequência) como instrumento corretivo; os preços, no sistema monopolista, estavam “dados” e não seriam alterados, da mesma forma que não se alteraria a taxa de lucros dos capitalistas. De acordo com Dobb (idem, p. 360), ainda havia outro fator a ser considerado: Na medida em que o processo de produção se torna um todo unificado, em vez de uma coleção de unidades atomísticas, impõe‑se pelo menos um tamanho mínimo, abaixo do qual uma fábrica não pode operar. E, na medida em que os custos fixos ou gerais são aumentados, enquanto os custos diretos ou primários (ou variáveis) são simultaneamente rebaixados, a praticabilidade de variar a produção de uma dada fábrica (por exemplo, pela sua dotação com uma força de trabalho menor) fica ao mesmo tempo reduzida. 76 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O otimismo infundado, que mencionamos anteriormente, encontrava apoio nos lucros obtidos em operações na bolsa de valores: os lucros eram tão imensos, que todos compravam ações. Do padeiro ao motorista de ônibus, todos compravam ações, embalados pelo sonho da prosperidade rápida e sem riscos, sequer imaginando que o fim estava muito mais próximo do que se imaginava. Mas, por qual motivo? Desde muito, o governo americano incentivava o cidadão a participar do mercado acionário. Afinal, o crescimento da produção industrial americana havia ocorrido à custa de uma grande quantidade de dinheiro aplicado em bolsa de valores por meio de aquisição de ações de empresas. É no mercado financeiro que as empresas, ao disponibilizar ações para negociação, conseguem elevar seu capital e investir no crescimento da produção. É nesse tipo de mercado que agentes superavitários encontram formas alternativas de valorizar suas riquezas, deixando‑as à disposição dos empresários que investirão mais e mais na produção de coisas úteis. Ao final do processo, o empresário vende sua produção e repassa parte dos lucros aos agentes superavitários que acreditaram no “negócio”. Simples e bonito, não? Nem sim, nem não! O fato de as empresas utilizarem o mercado acionário como forma de angariar recursos para aumentos de produção é louvável, assim como é promissor o fato de pessoas acreditarem e apostarem na produção alheia como forma de valorização do capital. O que não está correto, ou pelo menos não se mostrou correto à época, foi a ânsia capitalista de querer acumular mais e mais capital, a ponto de algumas pessoas hipotecarem seus imóveis para arriscar lucros alvissareiros no mercado financeiro. Ora, para que lucros maiores sejam repartidos entre mais pessoas, maiores deverão ser os lucros das empresas, ou seja, sua margem de lucro será, portanto, maior que sua rentabilidade como negócio. Vimos em páginas anteriores certa tendência para a mecanização da produção. Para que a produção seja mecanizada, o homem dá espaço para a máquina. Quem recebe salários para trocar sua remuneração por produtos? Homens ou máquinas? Pensemos mais um pouco. Com o processo de acumulação e concentração do capital aliado aos aumentos de eficiência e produtividade da produção – permitidos pelo crescente uso da maquinaria – um volume de produtos cada vez maior é lançado ao mercado para consumo. Façamos, então, a conta. As empresas industriais desempregam pessoas. As empresas industriais aumentam as quantidades de produtos produzidos. Quem compra? Quem gera receitas às empresas? De que forma essas empresas serão lucrativas? Como devolverão o capital anteriormente investido, agora crescido em função dos lucros prometidos? Ademais, grande quantidade de consumidores não estava interessada em comprar e adquirir produtos, mas em investir seu dinheiro na produção! Percebe? Assim, quando os escombros foram varridos, o estrago era assustador. Em dois insanos meses o mercado perdera todo o terreno que ganhara em dois anos delirantes; US$ 40 bilhões em valores haviam simplesmente desaparecido. Houve também o fato de que o americano médio usara sua prosperidade de forma suicida; ele se hipotecara até o pescoço, esticara seus recursos de forma perigosa sob a tentação de compras a prestação e acabara por selar o próprio destino comprando 77 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 avidamente fantásticas quantidades de ações — cerca de 300 milhões de quotas, é a estimativa — com dinheiro emprestado (HEILBRONER, 1996, p. 233). O sistema monopolista também impedia a entrada de novas empresas, e a queda de investimentos logo se faria sentir. Capacidade ociosa: esse seria o resultado da adoção desse conjunto de práticas, e a ociosidade seria não apenas de equipamentos e ativos imobilizados, mas especialmente da mão de obra, que se caracterizaria como exército industrial de reserva de dimensões alarmantemente ampliadas. Os Estados Unidos, antes reconhecidos como oásis do mundo para se viver, passaram a ser identificados como geradores de crises. Os milhões de desempregados eram como uma embolia na circulação vital da nação; e enquanto sua evidente existência argumentava com mais força do que qualquer texto para demonstrarque algo estava errado no sistema, os economistas retorciam as mãos, espremiam os cérebros e invocavam o espírito de Adam Smith, mas não conseguiram estabelecer qualquer diagnóstico nem remédio. Desemprego — este tipo de desemprego — simplesmente não se encontrava na lista dos possíveis problemas do sistema; era absurdo, irracional e, portanto, impossível. Mas estava ali. (HEILBRONER, 1996, p. 234). O mecanismo da crise está representado no quadro 4 a seguir. Mecanismo da crise de 1929 Subconsumo e superprodução Desemprego Quebra dos rendimentos Baixa de preços Quebra dos lucros Falências industriais e comerciais Diminuição do crédito Falências bancárias Quebra das ações Quadro 4 –O mecanismo da crise 78 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O que fazer com o mundo que não caminhava automaticamente para o equilíbrio, tal como preconizado e previsto pelo liberalismo que marcara a gênese da investigação econômica? O que fazer com as teorias explicativas da época, notadamente na figura de Jean Baptist Say, de que a oferta cria sua própria procura e que as economias tendem ao equilíbrio geral? Várias foram as estratégias que inspirariam os governantes dos mais diversos países do mundo e romperiam com determinados paradigmas do pensamento econômico. A partir das guerras mundiais, entremeadas pela crise de 1929 e pela Grande Depressão, a teoria econômica convencional passou a ser objeto de investigação e passível de mudança. A partir das catástrofes causadas pela Grande Depressão, há uma ruptura com a ciência clássica, pois os chamados economistas clássicos acreditavam que as economias de mercado tinham a capacidade de, sem a interferência do governo, utilizar de maneira eficiente os recursos disponíveis, ou seja, produzir esses recursos com pleno emprego. A partir do momento em que as economias atingissem o ponto de pleno emprego, o produto da economia e o emprego já estariam determinados, representando então a efetiva disponibilidade de recursos. 6.2 A intervenção do Estado A macroeconomia até então prevalecente sugeria a existência de uma tendência automática ao pleno emprego de recursos e, dessa forma, à inexistência de desemprego de trabalhadores. Mas, por conta principalmente da Grande Depressão dos anos de 1930, a evidência empírica mostrava pessoas buscando constantemente emprego sem alcançar sucesso. Costuma‑se creditar à quebra da bolsa de valores a responsabilidade pela Grande Depressão dos anos 1930, mas é importante notar outros acontecimentos da economia americana da época que, conjugados à euforia especulativa, acabaram por gerar a crise. Um desses acontecimentos foi um revés no setor agrícola. Este, característico de um mercado de concorrência perfeita, produz um bem com demanda inelástica em relação ao preço e à renda. O que isso significa? Que se, por exemplo, baixar sobremaneira o preço da alface, o seu consumo não aumentará na mesma magnitude. O mesmo ocorre em função da renda. Como a sociedade vinha se industrializando, era natural que os salários dos trabalhadores da indústria fossem maiores em comparação aos trabalhadores agrícolas. Assim, e diante do fato de as sociedades estarem mais concentradas nos centros urbanos em detrimento dos rurais, o consumo de produtos industrializados era maior do que o dos produtos agrícolas, gerando uma crise de superprodução agrícola e diminuindo os lucros dos empresários desse setor. Atrelado ao setor industrial, que remunerava o trabalho conforme sua produtividade, surgiu outro setor: o de serviços, que dava suporte e assistência às indústrias. Para que as empresas do setor de prestação de serviços tivessem condições de trabalhar, necessitavam de trabalhadores que seriam “roubados” do setor da indústria. Tais trabalhadores somente mudariam de emprego se a relação de salário fosse melhor, ou seja, se o setor de serviços pagasse salários mais elevados do que a indústria. Dessa forma, os lucros no setor de serviços eram muito baixos para pagamentos de salários elevados, comparativamente aos salários industriais. 79 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Em 1933, Roosevelt assumiu a presidência dos Estados Unidos e uma pesada herança: 17 milhões de desempregados. Para achar uma saída para a crise, sua equipe elaborou um plano que passou a ser conhecido como New Deal (Novo Acordo). Caberia ao Estado intervir na economia, vigiando o mercado e os empresários, corrigindo as distorções e monitorando as atividades nas bolsas de valores. Basicamente, o New Deal procurou consertar o desequilíbrio na economia por meio de algumas estratégias: a) Criação de um portentoso e ambicioso programa de obras públicas a serem executadas por órgãos públicos e empresas estatais: foram construídas estradas, escolas, hospitais, aeroportos e toda uma infinidade de obras de infraestrutura; b) Criação da Previdência Social e elaboração de leis sociais para a proteção dos trabalhadores e desempregados; c) Criação do salário mínimo; d) Diminuição da jornada de trabalho e manutenção dos salários; e) Compra de estoques de cereais e sua posterior queima, para manter a remuneração dos setores da economia envolvidos com o setor primário; f) Arbitragem dos conflitos entre empresários, forçando‑os a concretizar acordos sobre os níveis de produção e preços; g) Renegociação e perdão das dívidas dos pequenos proprietários; h) Concessão de crédito aos fazendeiros. A proposta do New Deal foi a de aumentar a capacidade de consumo da sociedade sem que, num mesmo momento, fosse aumentada a capacidade de produção das empresas. A preocupação maior de Roosevelt era a de proporcionar à sociedade novos tempos de consumo e produção. Para tanto, as ações citadas permitiram ao governo transferir renda para a sociedade. Acompanhe o raciocínio acerca da construção de infraestrutura mencionada anteriormente. Para que o governo possa construir escolas, por exemplo, precisa inicialmente de um espaço geográfico, um local físico. Para tanto, pode adquirir uma fábrica fechada em função da crise anterior. Assim, o governo repassa, por meio da compra de um imóvel, determinada renda a uma família que pode voltar ao mercado de consumo. Essa escola agora precisa ser construída. Então, o governo adquire do mercado de construção civil todos os materiais necessários à construção. Precisará contratar pessoas que trabalharão nas obras, pedreiros, marceneiros, pintores e demais profissionais. Cada um desses profissionais receberá um salário como forma de remuneração de 80 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 sua atividade. Portanto, voltam a receber renda e também podem voltar ao mercado de consumo de mercadorias. E, assim por diante. Os empresários, por seu turno, incentivados também pelo governo com subsídios à produção, voltam a ter ímpeto para continuar seus negócios, percebendo agora que a sociedade também tem capacidade de retorno ao mercado de consumo. Assim, empresas voltam a empregar outras pessoas e retomam a produção anteriormente freada em função da crise. É um círculo. Todas essas medidas conjugadas geraram um aumento no nível de emprego da economia, forçando o aumento da produção e da contratação de empregados, a manutenção da atividade econômica e o controle das tensões sociais. Sob efeito da crise, qual a solução para o capital? A resposta é: o Estado. O Estado, finalmente, salvava o capital: acabava a era da crença no equilíbrio natural e automático do mercado. Experimentaríamos o períodochamado de welfare state, estado de bem‑estar social, em que caberia ao Estado o resgate da sociedade. Observação Repare aqui numa coisa, conforme avançamos em nossa disciplina, percebemos que há certa mudança no papel do Estado na economia: de instrumento de uso pela classe dominante para regulador da atividade econômica. Um economista britânico se proporia a traduzir essa nova situação dentro dos rigores do pensamento econômico: seu nome era John Maynard Keynes, e o seu trabalho, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda, foi tão brilhante, que ainda hoje ele adjetiva parcela considerável dos economistas do mainstream15. Keynes mostrava que, contrariamente aos resultados apontados pela teoria clássica, as economias capitalistas não tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Assim, deveriam ser abertas oportunidades para a ação governamental: por meio dos clássicos instrumentos de política econômica, caberia ao governo direcionar a economia rumo à utilização total dos recursos. A análise de Keynes partiu do estudo da riqueza de uma nação. Segundo ele, a medida de riqueza de uma nação é sua renda. E renda, aqui, não é um conceito estático, porque ela se transfere de mãos no processo de produção e consumo de mercadorias; na verdade, é essa transferência que revitaliza a economia. Parte da renda é gasta no consumo de bens e serviços; outra parte é poupada, ou em bancos ou por meio da aquisição de ações. De qualquer forma, é esperado que essa renda retorne ao sistema, via concessão de empréstimos ou por meio de financiamentos para a expansão das atividades produtivas. 15Ainda nos dias de hoje, uma boa parte da heterodoxia econômica se autointitula de “keynesiana”. 81 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O problema surge porque essa comunicação entre poupança e investimento não é automática. O fluxo circular da renda não funciona de forma automática. “E aí está a possibilidade de depressão. Se nossas poupanças não forem investidas por empresas com negócios em expansão, nossas rendas vão declinar. Estaremos na mesma espiral de contração como estaríamos se tivéssemos congelado nossas poupanças guardando‑as no colchão” (HEILBRONER, 1996, p. 248). A economia fica paralisada, segundo Keynes. Ele ainda descobriria mais uma coisa: a depressão e a crise da bolsa haviam acabado com o montante de poupanças. De fato, sequer havia renda para o consumo, quanto menos para poupança. A maior consequência era que a economia encontrava‑se em uma condição de paralisia exatamente quando precisava ser mais dinâmica. Pois, se não havia excedente de poupanças, não havia pressão na taxa de juros para encorajar os negociantes a pedir empréstimos. Se não havia empréstimos e gastos com investimentos, não havia ímpeto de expansão. (...) Assim, dava‑se o paradoxo da pobreza em meio à fartura e à anomalia de homens e máquinas sem ter o que fazer (idem, p. 252). O que fazer nessa situação de paralisia? Keynes elaboraria teoricamente o que se tentara antes, e de forma bem‑sucedida, com o New Deal americano. Assim, cabia ao governo tirar a economia do fundo do poço, investindo e criando empregos. Ao criar empregos, criaria renda para consumo e poupança. Criando demanda, criaria estímulos para que a oferta fizesse a produção retomar seu crescimento. O governo deveria investir em obras públicas, mesmo que fosse apenas para cavar buracos que, posteriormente, fossem tapados: a prioridade era criar emprego. Em outras palavras, “os projetos de obras públicas atacariam o problema com uma faca de dois gumes: ajudando diretamente a manter o poder de compra das pessoas, que de outra forma permaneceriam desempregadas, e liderando o caminho para a retomada da expansão privada dos negócios” (idem, p. 256). Era, afinal, a “mão visível” do Estado colocando ordem no mercado, ordem essa que outra mão invisível lograra não conseguir. Assim, diante desse contexto, Keynes apresenta O princípio da demanda efetiva como novidade para o pensamento econômico da época. Os resultados obtidos foram satisfatórios. Como pode ser visto no gráfico 2 a seguir, a economia americana voltou a crescer, e nesse crescimento se manteria até a década de 1970. Observe: a linha pontilhada corresponde ao crescimento americano. As barras verticais correspondem ao crescimento da economia brasileira. 82 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 19 01 19 04 19 07 19 10 19 13 19 16 19 19 19 22 19 25 19 28 19 31 19 34 19 37 19 40 19 43 19 46 19 49 19 52 19 55 19 58 19 61 19 64 19 67 19 70 19 73 19 76 19 79 19 82 19 85 19 88 19 91 19 94 19 97 20 00 20 03 8 7 6 5 4 3 2 1 0 ‑1 ‑2 Tendência secular do crescimento no Brasil e nos Estados Unidos (1900-2005) HPTRENDBR HPTRENDUS Gráfico 2 – Crescimento no Brasil e nos Estados Unidos Faltava ordenar ainda alguns mecanismos, e isso ocorreria em Bretton Woods: uma sequência de acordos determinariam algumas regras de relacionamento monetário entre os países. Escaldados pelo efeito dominó da crise de 1929 e ainda sob a comoção da II Guerra Mundial, os países industrializados iriam estabelecer normas para a paridade cambial, tornando as moedas indexadas ao dólar e este ancorado na conversibilidade ao ouro. Ainda como resultado de Bretton Woods, surgiriam o Banco Internacional de Reconstrução de Desenvolvimento (BIRD), constituinte do Banco Mundial, e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Conforme Manzalli e Gomes (2006, p. 89‑90), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional são dois importantes organismos criados para promover a coordenação de políticas entre países, notadamente na área financeira, mas muitas vezes tal coordenação ocorre em detrimento de interesses de sociedades. Com o avanço do comércio de longa distância na Europa, surge certa tendência de que as coordenações financeiras, predominantemente administradas por famílias dos comerciantes locais, passem a desempenhar um papel primordial na definição dos interesses políticos e econômicos de diversos grupos no continente. Com o tempo, o desenvolvimento do comércio privado de moedas e instrumentos financeiros 83 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 organiza‑se em cidades que ganham status de centros financeiros, e estes, agora, passam a influenciar governos e diversos grupos sociais em muitas localidades onde, no início do século XX, o poder econômico de Londres fazia‑se sentir em vastas regiões do globo. De acordo com Sandroni (1996), o FMI foi criado em 1944 para tentar promover a cooperação monetária entre todos os países do mundo. Essa iniciativa partiu da necessidade de equilibrar paridades monetárias justas entre diferentes moedas, evitando desvalorizações concorrenciais e formando um grande fundo com recursos dos países membros. Esses recursos seriam utilizados em favor de países que encontrassem dificuldades nos pagamentos internacionais, principalmente aqueles que apresentavam recorrentes déficits em sua conta de transações correntes. Uma das principais funções do Fundo era regular as paridades das moedas. Tinha o objetivo essencial de presidir um regime internacional de câmbio praticamente fixo, promovendo a cooperação monetária internacional mediante uma instituição permanente que servisse de mecanismo para consulta e colaboração sobre problemas monetários. Em seu instrumento constitutivo estabeleceu‑se, ainda, que recursos financeiros do Fundo seriam oferecidos temporariamente aos países membros para proporcionar‑lhesoportunidades de corrigir desequilíbrios no seu balanço de pagamentos, sem recorrer a desvalorizações cambiais, consideradas destrutivas da prosperidade internacional (Manzalli e Gomes, 2006, p. 96). Já o Banco Mundial, instituição financeira internacional ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), e também criada em 1944, tinha como propósito o financiamento de projetos de recuperação e de promoção de desenvolvimento econômico dos países atingidos pela guerra (Sandroni, 1996). Na prática, esse papel ficou a cargo do chamado Plano Marshall, e o banco passou a lidar de modo crescente com o tema do desenvolvimento econômico e a atuar, sobretudo, junto aos países subdesenvolvidos (BAUMANN, 2004). Formalmente, seu intuito era canalizar capital para investimentos que permitissem elevar a produtividade das empresas, o padrão de vida das pessoas e as condições de trabalho nos países membros. Assim, a preocupação primordial do Banco Mundial seria aquela ligada à melhoria das condições de vida da população, quer dizer, às questões de cunho qualitativo (e não quantitativo‑financeiro, a exemplo do FMI). Conforme salientam Manzalli e Gomes (2006), o objetivo básico do Banco Mundial era o de auxiliar na reconstrução e no desenvolvimento de territórios dos países membros atingidos pela destruição da guerra. Esse objetivo deveria ser atendido por meio de atividades dedicadas a: a) Prover capital para fins produtivos; b) Promover o investimento externo privado; 84 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 c) Complementar o investimento privado mediante o fornecimento de capital para fins produtivos; d) Promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comércio internacional; e) Manter o equilíbrio nos balanços de pagamento mediante o incentivo internacional a investimentos para o desenvolvimento de recursos produtivos. Os resultados das políticas keynesianas logo se fariam sentir e a economia americana viveria o seu período de maior riqueza e crescimento. No Brasil, também se adotaria estratégia parecida à do New Deal: ao tempo de Getúlio Vargas, a produção de café seria comprada pelo governo apenas para remunerar os fatores de produção empregados. Depois, esse café seria queimado, em vez de ser colocado no mercado, abaixando ainda mais o preço do produto. Comprava‑se café não para revendê‑lo, mas apenas para manter a remuneração de setores importantes da economia. Em sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, Keynes explicaria a necessidade de investir na criação de empregos como medida para manter a demanda agregada e evitar a queda da produção. Se fosse necessário, que se cavassem buracos e se os cobrissem novamente. Ou, nas palavras dele: “Cavar buracos no chão, à custa da poupança, não só aumentará o emprego como também a renda nacional em bens e serviços úteis”. Para refletir Veja o texto abaixo e reflita, conforme o proposto. Situação – Numa entrevista concedida nos anos 1970, Golbery do Couto e Silva, então Ministro Chefe da Casa Civil, afirmou que a maior ou menor intervenção do Estado na economia assemelhava‑se aos movimentos cardíacos de sístole e diástole, o que os tornava, portanto, inexoráveis com o passar do tempo.16 Proposta: em que situações você acha ser importante a intervenção do Estado na economia? Vamos pensar um pouco mais? Observe o trecho da entrevista de Fernando Ferrari Filho, professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador do CNPq, sobre a situação proposta: 16Disponível em: <http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/3/14/idas‑e‑vindas‑do‑setor‑ de‑petroleo>. Acesso em: 23 mar. 2011. 85 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Situação – “Keynes nunca deixou de viver, no aspecto figurativo. Entre os anos 1950 e 1970, o mundo passou por um período de prosperidade jamais visto, conciliando crescimento econômico e estabilização de preços. E, queiramos ou não, essa prosperidade se alicerçou em concepções de caráter keynesiano, ou seja, políticas monetárias e fiscais extremamente expansionistas, controle de capitais e estabilidade das taxas de câmbio. Foram as regras do sistema criado em Bretton Woods, na década de 1940. (...) Eu diria que não há ninguém mais moderno que o Keynes para explicar as dificuldades atuais e para nos fazer entender que essas crises financeiras do capitalismo não são anômalas. Elas tendem a se repetir por períodos. Os economistas que são céticos ao Keynes, o são porque nunca o leram. Segundo ponto: é aquilo que você falou. As pessoas se apoiam no Keynes, se reportam às ideias dele, como agora, defendendo políticas fiscalistas, políticas de injeção de liquidez, como se fosse para solucionar um problema de curto prazo. Ou seja, hoje existe uma “aceitabilidade” de Keynes, para remediar os problemas. Pegando a sua expressão, na visão dessas pessoas, Keynes é só para o tempo em que durar a chuva. Por quê? Porque entendem que os mercados tendem a seguir uma lógica definida. Entendem que políticas fiscais e políticas monetárias de cunho essencialmente keynesiano devem ser utilizadas em épocas de crise, de depressão, mas não devem ser utilizadas em épocas de prosperidade. Acreditam que o mercado funciona na lógica da normalidade e só veem relevância no Estado keynesiano dentro de uma lógica de depressão. Essa é, infelizmente, a percepção.” 17 Proposta: o que podemos concluir a respeito da atualidade das ideias keynesianas? Resumo Antes que você faça os exercícios, vamos relembrar os pontos mais importantes já discutidos até agora: O mercado é o local de encontro entre quem oferece bens e serviços e quem procura bens e serviços. Portanto, é um local de trocas. A concorrência perfeita, o oligopólio, o monopólio e a concorrência monopolista são as estruturas de mercado mais comuns. 17Disponível em: <http://consultorfelix.wordpress.com/2009/03/12/fernando‑ferrari‑quem‑diria‑agora‑todos‑sao‑ keynesianos>. Acesso em: 1º nov. 2010. 86 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O oligopólio se formou a partir das dificuldades enfrentadas pelo capitalismo ao final do século XIX. Karl Marx, sob o impacto das condições miseráveis dos trabalhadores e das dificuldades pelas quais passava o capitalismo, escreve sua obra O capital, rompendo com a lógica do liberalismo clássico e criando uma vertente alternativa de análise. Embora sua teoria não tenha sido aceita pelo mainstream, algumas de suas previsões se concretizaram: o capitalismo passaria por inúmeras crises. A crise de 1929 ensejou uma mudança na compreensão do papel do Estado: agora, cabia a ele intervir, regulando as atividades econômicas e conduzindo o sistema ao equilíbrio e ao pleno emprego. Keynes elabora sua obra sob influência desses acontecimentos. A crise de 1929 e as guerras mundiais criam as condições para o surgimento do FMI e do Banco Mundial: a partir desse momento, o capital se organiza em termos mundiais. EXERCÍCIOS Questão 1. (Adaptada do Enade – História – 2008) Figura 4 Leia o trecho: “(...) o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas, comunicações e movimentos de bens, dinheiro e pessoas, ligando os países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido. [...] Sem isso não haveria um motivo especial para que os Estados europeus tivessem um interesse algo mais que fugaz nas questões,digamos, da bacia do rio do Congo, ou tivessem se empenhado em disputas diplomáticas em torno de algum atol do Pacífico. Essa globalização. da economia não era nova, embora tivesse se acelerado consideravelmente nas décadas centrais do século” (HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios: 1875‑1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 95) 87 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O texto faz referência à expansão imperialista europeia no século XIX. Uma característica desse movimento de conquista de novos mercados que ocorre nos Oitocentos é: Assinale a alternativa correta: A) A ausência do Estado protecionista na criação de uma economia global única. B) A criação de uma economia global única no contexto do crescimento industrial europeu. C) A ausência de concorrência entre os países mais industrializados. D) O favorecimento social das regiões coloniais com a ampliação dos investimentos europeus. E) Os benefícios econômicos proporcionados às massas descontentes dos impérios. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas: A) Alternativa incorreta. Justificativa: a ausência do Estado protecionista na criação de uma economia global única inverte a natureza do processo encabeçado pelo Estado em proteger a sua economia. B) Alternativa correta. Justificativa: foi isso o que suscitou o interesse de países europeus em expandir os seus domínios, incentivando o interesse em outras áreas geográficas fora de seus domínios territoriais, e assim, o crescimento do imperialismo econômico. C) Alternava incorreta. Justificativa: havia extrema concorrência entre os países mais industrializados, tanto que esses conflitos acabariam por gerar a I Guerra Mundial. D) Alternativa incorreta. Justificativa: não havia qualquer favorecimento em relação às regiões coloniais. E) Alternativa incorreta. Justificativa: não havia preocupação nenhuma em proporcionar benefícios às massas descontentes, o que contribuiu com a crise do final do século e com as lutas dos trabalhadores, que, inspirados pelos ideais socialistas, procurariam melhorar as condições de trabalho. 88 Unidade II Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Questão 2. Leia o trecho: “(...) Em 3 de setembro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova York atingiu os índices mais elevados que jamais seriam vistos nos vinte anos seguintes, para apenas algumas semanas depois, ser palco da mais devastadora crise que o sistema capitalista passou, através dos desdobramentos do que se chamou “o crack de Wall Street”. Um sentimento geral de otimismo e confiança no sistema americano, fez com que o público em geral acreditasse que o preço das ações e demais títulos continuasse a subir indefinidamente, o que tornava imperativa a compra, para se poder usufruir da era de prosperidade. Se até fevereiro de 1928 a alta do preços dos papéis seguiu, grosso modo, o aumento assinalado dos lucros das empresas, a partir dessa data, ela foi sustentada apenas pela onda especulativa. Essa onda era encorajada por afirmações otimistas de homens de negócios e autoridades governamentais, como a do presidente Coolidge em 4 de dezembro de 1928, de que “nenhum Congresso dos EUA jamais reunido (...) se viu com uma prosperidade mais agradável que essa que parece agora”, que serviu para prontamente restaurar a confiança, abalada pelo colapso do setor de construção civil em meados de 1928. (...) Havia chegado um ponto em que os compradores não mais levavam em conta o valor intrínseco dos títulos, procurando aumentar seu patrimônio pela simples posse de ações quaisquer. Isso naturalmente supervalorizava todos os papéis. Nessas condições, mesmo as ações das empresas mais sólidas encontravam‑se supervalorizadas, e as ações de segunda linha haviam atingido preços injustificáveis, muito além de seu valor patrimonial ou de sua capacidade de remunerar, através de dividendos, os capitais aplicados. Essa situação, reflexo nítido das condições artificiais do crescimento da economia norte‑americana durante a década de 1920, não poderiam prolongar‑se indefinidamente: seu ponto de equilíbrio rompeu‑se em outubro de 1929 (...)” (REZENDE, 2007). Considere as afirmativas que se seguem: I ‑ A especulação monetária da época exigiu um sentimento de confiança e de otimismo, e a convicção de que as pessoas comuns estavam destinadas a ser ricas. Tal sentido era fortalecido pelo endosso das autoridades e dos fatos de enriquecimento aparentes. II ‑ A ocorrência da crise gerada em 1929 serviu para colocar em cheque a doutrina da Lei de Say, mostrando que a renda não é necessariamente gasta ou investida, e de que a economia não tende ao equilíbrio. III ‑ O crack da Bolsa de Valores de Nova York pode ser considerado como resultado natural de uma década de desenvolvimento econômico, em que a demanda e oferta agregadas foram influenciadas por financiamento de consumo, produto de espetacular desenvolvimento do mercado de crédito americano nos anos 1920. IV – Agrega‑se aos fatores que contribuíram para a Depressão dos anos 1930: a crise de superprodução engendrada no setor primário da economia da época. Após a leitura do texto sugerido, da consideração das afirmativas propostas e da discussão apresentada nesta Unidade acerca do assunto, assinale a alternativa que contém as afirmativas corretas: 89 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 A) I e II. B) II e III. C) I, III e IV. D) III e IV. E) Todas as afirmativas estão corretas. Resolução desta questão na Plataforma. 90 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Unidade III 7 A ECONOMIA E OS NEGÓCIOS NO SÉCULO XX 7.1 A inflação dos anos 1970 No mundo pós‑guerra, os avanços da ciência podiam ser traduzidos em técnicas e tecnologias que não necessitam ser compreendidos pelos usuários finais (HOBSBAWM, 1995). A física quântica, desenvolvida por Einstein no começo do século, estava agora aplicada nos produtos do cotidiano e, para utilizá‑los, não era necessário entender a teoria subjacente. A luta pela existência na Terra, impulsionada pela Guerra Fria, lançou as sementes para a corrida espacial: americanos e soviéticos disputavam, senão um lugar ao sol, ao menos um lugar na imortalidade do espaço. A segunda metade do século XX também assistiria ao debate e à especulação sobre o próprio caráter do processo de conhecimento científico. Das teorias sobre falseabilidade de Popper, passando pela investigação das revoluções cientificas e quebras de paradigma de Kuhn, os cientistas se perguntariam: o conhecimento leva à certeza ou apenas nos aproximamos, probabilisticamente, da verdade? É possível algum conhecimento certo e seguro sobre o mundo que nos cerca? Existe avanço no conhecimento científico? É a história da ciência uma linha de sucessivos aprimoramentos ou estamos sempre rompendo com o pensamento do passado? Como lidar com esse saber que, ao mesmo tempo em que se produz em circunstâncias e processos ainda desconhecidos, pode provocar o fim da humanidade? Aos poucos, formava‑se uma nova mentalidade que tinha como escopo compreender os impactos sociais dos desenvolvimentos científicos, e que se construía a partir da percepção de que vivíamos em um mundo destinado ao progresso e, ao mesmo tempo, à destruição. Já o sistema de mercado na segunda metade do século XX é sinônimo de inconteste riqueza e desenvolvimento. Para os Estados Unidos, os anos posterioresao final da II Guerra haviam sido nada mais do que a continuidade da estupenda performance que beneficiou o país nos anos de conflito armado, embora tenha sido notável o fato de que as taxas de crescimento fossem lentas, comparativamente às de outras nações. As economias dos países desenvolvidos caminhavam em direção ao plano emprego, finalmente atingido nos anos 1960: a crença era de crescimento e prosperidade contínua, não havendo por que duvidar que o desenvolvimento dessa década não se reproduzisse na década posterior (HOBSBAWM, 1995). Mesmo as nações do bloco não capitalista cresciam, e a fome e miséria ainda não se faziam visíveis, apesar dos indícios de explosão populacional e de exclusão dos povos do Terceiro Mundo na repartição do bolo dourado do capitalismo (e essa exclusão se confirmaria nos anos 1980, apesar das taxas elevadas de crescimento na década de 1970 de países como o Brasil). Na década de 1960, a produção de manufaturas produzidas no mundo já havia se quadruplicado e o comércio mundial dos produtos da industrialização havia se multiplicado por dez (HOBSBAWM, 1995). 91 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Ainda, os Estados Unidos impulsionavam o crescimento de outras nações, particularmente os perdedores da II Guerra – Alemanha Ocidental e Japão –, e as guerras intervencionistas (Coreia e Vietnã, por exemplo) saciavam as necessidades expansionistas e de mercado das grandes corporações transnacionais. Mesmo os organismos internacionais criados ao final da década de 1940 (Fundo Monetário Internacional – FMI e Banco Mundial) estavam a serviço das políticas hegemônicas norte‑americanas, até porque justificadas pelo êxito econômico de tais políticas. Não havia tampouco qualquer temor em relação ao esgotamento dos recursos ambientais, esgotamento esse provocado pelo uso indiscriminado de fontes fósseis de energia: apenas anos depois, o primeiro choque do petróleo impulsionaria, de forma mais institucionalizada, as preocupações ambientais que se alastrariam pelo mundo nos anos 1980 e 1990, embora, a princípio, a fragilidade e dependência das economias industrializadas em relação ao petróleo tenham gerado apenas revolta pelo aumento “absurdo” do preço do combustível; mesmo programas de pesquisa de fontes alternativas de energia não seriam geradas em função de preocupações ambientais, mas tão somente para diminuir os impactos dessa relação de dependência que parecia mortalmente ameaçada (como o programa de álcool no Brasil, explicitado no II PND). Tanto quanto em outros momentos da história, o progresso se fazia perceber pelas inovações tecnológicas decorrentes dos desenvolvimentos científicos, e o uso da terra e de seus recursos nada mais era do que fruto do direito legítimo de o ser humano habitar o mundo e dele retirar o necessário, ou o mais que necessário. Os números relativos à posse de automóveis, telefones e outros bens industrializados (grande parte deles usando a tecnologia desenvolvida durante os anos de guerra) provavam o crescimento econômico e a disseminação do bem‑estar para todos aqueles que houvessem adotado (por bem ou por mal) o modelo capitalista como exemplo. O crescimento desmedido camuflava outra realidade, a de que parcelas cada vez maiores da população estariam desempregadas em breve, especialmente em função do uso intensivo da tecnologia. Nesse cenário, portanto, não havia por que se duvidar de que o sistema de mercado não fosse a razão de ser da própria economia e, a partir desse ponto de vista, tudo aquilo que teria sido obstáculo ao surgimento da economia de mercado também seria responsável pelos obstáculos ao desenvolvimento da economia como ciência. Essa situação iria mudar? A crise se faria anunciar em meados da década de 1970, com o esgotamento das políticas que combinavam liberalismo econômico e bem‑estar social (que, na Europa, significou a eleição de vários governos social‑democratas), e com o esquecimento das lições do período entreguerras e da Depressão. O frágil equilíbrio entre o crescimento da produção e a capacidade de consumir a riqueza estava por implodir (HOBSBAWM, 1995). A aliança entre o livre mercado e os mecanismos de controle do Estado (desde que não socialista ou comunista) havia sustentado os anos dourados do capitalismo no século XX, e as teorias econômicas keynesianas agora já não conseguiriam mais salvar as economias à beira de processos inflacionários, desemprego e queda de produção. Que processo inflacionário é esse? 92 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Observação Ou em função do aumento do petróleo, da Guerra do Vietnã, ou por causa da quebra mundial de safras em 1973, os preços apresentaram violenta variação naquele período, elevando‑se de forma generalizada. Embora a história já houvesse contabilizado outros momentos de inflação, eram apenas passageiros e transitórios, diferentes daqueles que penalizavam todas as economias do mundo, independentemente do grau de desenvolvimento. Agora, a inflação passava a ser considerada como crise. Uma crise monetária de excesso de moeda em circulação. Aquela inflação de meados da década de 1970 parecia ter se transformado em problema crônico: em vez da vulnerabilidade à depressão, parecia agora que o capitalismo estava diante de outra vulnerabilidade, a da inflação. O que se seguiu é do conhecimento de todos: ativos monetários sofrendo erosão, falências, tentativas de conter o processo via tributação ou via recessão, adoção de estratégias ortodoxas e heterodoxas. Tudo se tentou para secar a água que transbordava sem parar dos diques financeiros. Observação O que é inflação? A inflação é caracterizada pela contínua, persistente e generalizada expansão do nível geral de preços. O processo de expansão dos preços, por sua vez, resulta em uma perda do poder aquisitivo da moeda e pode, com isso, causar sérios distúrbios à economia e à sociedade de forma geral. Geralmente, o processo inflacionário prejudica as classes mais pobres da população, na medida em que beneficia as classes mais ricas, levando ao aumento do nível de desigualdade social (MANKIW, 2008). Em períodos de inflação elevada, a moeda deixa de desempenhar uma de suas funções. Por funções da moeda entendem‑se meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Com a inflação, a última função da moeda, reserva de valor, fica prejudicada em decorrência do poder de compra ao longo do tempo. Imagine a seguinte situação: hoje você adquire um artigo qualquer, digamos uma bolsa, e paga por esse artigo o valor de R$ 100,00. Se amanhã, para adquirir a mesma bolsa, for necessário pagar o valor de R$ 130,00, houve inflação e, dessa forma, torna‑se necessário maior quantidade de moeda para adquirir a mesma mercadoria. O excesso de moeda na economia pode ocorrer quando o governo incorre em déficit no orçamento ou aplica uma política expansionista com o interesse de aumentar a liquidez da economia. Bresser‑Pereira e Nakano (1991, p. 74) explicam bem a relação déficit, moeda e inflação: 93 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 A forma mais linear de explicar a inflação é aquela que parte do déficit do orçamento do Estado para explicar o aumento da quantidade de moeda, o qual, por sua vez, determinaria a elevação dos preços. Na verdade, da mesma forma que a moeda, o déficit público também pode ser considerado um fator endógeno, uma consequência mais do que uma causa da inflação. O déficit público só seria uma causa ou fator acelerador de inflação se o aumentodas despesas governamentais (ou a redução dos impostos) levar a uma pressão da demanda agregada sobre a oferta em condições de pleno emprego e plena capacidade. Nos gráficos 3 e 4, a seguir, podemos ver a inflação americana e as estatísticas de sua conta corrente. Inflação EUA 16 14 12 10 8 6 4 2 0 % 19 60 19 62 19 64 19 66 19 68 19 70 19 72 19 74 19 76 19 78 19 80 anos Gráfico 3 – Inflação nos Estados Unidos Vê‑se claramente que, entre 1960 e 1966, a inflação americana apresenta basicamente o mesmo patamar; entre 1968 e 1970, há ligeira elevação e, no período que se seguiu até meados de 1973, uma posterior queda. Com a eclosão da crise do petróleo, há uma subida expressiva nos índices de inflação que, apesar de arrefecer entre 1975‑76, mostra nova tendência de subida na década seguinte. Possivelmente, a explicação para tal fato envolve a expansão de gastos públicos para financiar a produção, expansão essa que vinha se acumulando desde o período do New Deal e desde a ação deliberada do Estado em recuperar a economia. Tais políticas expansionistas, combinadas com novas emissões de moeda para pagamentos mais vultosos em barris de petróleo, contribuíram para o excesso de moeda em circulação e, dessa forma, para o crescimento dos preços das mercadorias. O gráfico 3 retrata os recorrentes déficits em conta‑corrente que a economia americana novamente experimentaria. 94 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Conta-corrente EUA M ilh õe s de U SD Data 15000 10000 5000 0 –5000 –10000 –15000 –20000 19 62 19 60 19 64 19 66 19 68 19 70 19 72 19 74 19 76 19 78 19 80 Gráfico 4 – Conta‑corrente nos Estados Unidos Com efeito, percebe‑se que, até o início da década de 1970, a economia americana apresentava superávits em conta‑corrente, saldos modestos, mas positivos. Desse período em diante, percebe‑se grande oscilação de déficits e superávits. Agora: por que existe inflação? Quais suas causas? Podemos dizer que há, genericamente, três tipos de inflação: de demanda, de custos e inercial. Observação Por inflação de demanda, entende‑se uma subida de preços de produtos influenciada pelo crescimento da demanda desse produto hipotético. Conforme Samuelson (1979), a inflação de demanda, ou de consumo, é causada pelo crescimento dos meios de pagamento não acompanhado pelo crescimento da produção. Nesse caso, os preços tendem a aumentar devido à limitação da oferta de bens, levando assim a um novo patamar de preços. Conforme destaca Ribeiro (1990), uma das características da inflação de demanda é que ela ocorre em períodos de expansão da economia. Exemplo disso foi o milagre econômico brasileiro, no qual o governo investiu fortemente na industrialização do país, elevando os níveis de produção e superando períodos anteriores. Como consequência direta, ocorreu queda no desemprego e aumento do consumo, este último caracterizado pelo poder de compra dos agentes em razão do aumento de renda acompanhado da crescente oferta de trabalho. 95 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Há também a inflação causada por um choque de oferta. Observação A inflação de oferta ocorre quando os custos de produção aumentam, ou seja, quando se paga mais para produzir determinados bens ou para ofertar determinados serviços. Esses aumentos podem ser causados por pagamento de salários, se forem reajustados acima da correção monetária do período, ou por força dos sindicatos, ou pela carga tributária incidente sobre a produção ou sobre os custos dos insumos básicos de produção, ou pelos preços dos aluguéis, ou pela condição climática desfavorável que diminui a produção de produtos agrícolas, entre outros. A esse tipo de inflação chamamos inflação de custos. Outro ponto que merece atenção é o poder que as empresas monopolistas possuem de causar uma alta generalizada dos preços: por terem o domínio do mercado, elevam o preço de seu produto, obrigando a população a gastar mais em determinado bem. Nesse caso, o aumento dos preços não diminuirá a quantidade demandada do bem por se tratar de um produto inelástico, ou seja, aquele produto que sofre pouca ou nenhuma variação nas quantidades demandadas em função de qualquer variação em seu preço. O outro tipo de inflação, a inercial, é caracterizada por evoluir mesmo em período de recessão. Observação A inflação inercial difere das outras justamente por atingir determinado estágio inflacionário e ser alimentada pela capacidade das empresas de manter seus lucros, mesmo com o aumento dos custos, situação essa que gera um conflito distributivo. Uma observação a ser feita acerca da inflação inercial é que ela tende a se manter em determinado patamar por um determinado período, depois volta a crescer e, finalmente, estabiliza‑se em um novo patamar por algum tempo. Esse processo ocorre porque as correções dos preços satisfazem os agentes por um determinado tempo, ou seja, essas correções elevam a participação dos agentes na renda. Países da América Latina sofreram muito com todo o processo inflacionário desenvolvido pelas economias mundiais durante a década de 1970 e a seguinte, 1980. Chegaram a desenvolver um fenômeno conhecido como hiperinflação. Até a década de 1980, o Brasil viveu sob um padrão de desenvolvimento que promoveu a industrialização e proporcionou elevadas taxas de crescimento do produto. Nesse modelo, o Estado promovia o desenvolvimento, mas à custa da fragilização da economia, já que o endividamento externo aumentava cada vez mais. A crise da dívida externa causou o fim do padrão de financiamento anterior, bem como do modelo de desenvolvimento. 96 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais Para que você possa compreender melhor o processo inflacionário no Brasil, sugerimos a leitura de alguns textos complementares. Sobre o Plano Cruzado, leia “Inflação inercial e Plano Cruzado”, de Luiz Carlos Bresser‑Pereira. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/23‑2. pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011. Sobre o Plano Collor, leia “Hiperinflação e estabilização no Brasil: o primeiro Plano Collor”, de Luiz Carlos Bresser‑Pereira e Yoshiaki Nakano. Disponível em: <http://www.rep.org.br/pdf/44‑6.pdf>. Acesso em: 23 mar. 2011. Sobre o Plano Real, sugerimos a leitura de “A economia e a política do Plano Real”, de Luiz Carlos Bresser‑Pereira. Disponível em: <http://www.rep. org.br/pdf/56‑10.pdf>. Acesso em: 23 de mar. 2011. Na mesma América Latina, por exemplo, só se conseguiu efetivar o controle da inflação já em meados da década de 1990, com a compreensão do mecanismo de inércia inflacionária. Para o mundo, ficou a herança do fim dos acordos de Bretton Woods: pressionados pela inflação de sua própria moeda, os Estados Unidos não podiam mais manter a paridade com o ouro. Um novo mundo estava prestes a surgir. 7.2 O discurso globalizador Durante o século XVI, período em que se desenvolve a Revolução Comercial e ocorre a consolidação do pensamento mercantilista, as teorias explicativas das relações comerciais prescreviam que cada nação deveria exportar o máximo e importar o mínimo para que fosse mantido saldo positivo em sua balança comercial. Nesse contexto, o comércio longínquo era visto como fonte de riqueza dos países. Conforme Dowbor (1990) e Singer (1989), esse comércio trazia dois efeitos sobre a estrutura sociopolítico‑econômica da Europa. O primeiro desses efeitos era o fluxo de metais preciosos para a Europa, pois a quantidade de ouro chegou a dobrar em meados do séculoXVI. Como a produção de bens pouco se alterava, havia uma elevação de preços e redução dos rendimentos dos senhores feudais, pois nessa época, os senhores feudais recebiam as contribuições anuais dos servos ainda em trabalho e em produtos, mas a forma dominante já era de simples pagamento, em moeda, de uma taxa fixa por pessoa. Ao dobrar a quantidade de ouro, enquanto a produção de bens permanecia pouco alterada, os preços duplicaram (...), reduzindo pela metade os rendimentos dos senhores feudais (DOWBOR, 1990, p. 26‑27). 97 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O segundo desses efeitos era o reforço da produção, uma vez que a rápida acumulação de capital nas mãos dos comerciantes e a abertura dos mercados internos criam uma situação em que há ao mesmo tempo a procura pela produção e a procura pelos meios para desenvolver esta produção (idem). O comércio internacional, por meio da abertura dos portos, passava a ser encarado como uma disputa por uma quantidade, necessariamente limitada, de metal precioso, disputa na qual cada país só poderia obter vantagens à custa dos demais. Enquanto no século XVI os mercantilistas ainda viam a aquisição de ouro e da prata como forma mais importante de enriquecer o país, a própria necessidade de dispor de cada vez mais produtos para exportar e adquirir o ouro gerou outra visão em relação ao que seria a fonte de riqueza: a capacidade de produzir. No século XVIII, a Inglaterra tinha um mercado interno comparativamente muito desenvolvido, em que se procurava produzir cada vez mais, para vender a preços mais baixos e obter lucros crescentes. Além disso, a busca por maiores lucros, conjugada com o aumento das vendas, foi também estimulada pela demanda externa por bens produzidos na Inglaterra, dando motivos para a explosão de inovações tecnológicas então ocorridas (HUNT, 2005). Como vimos em páginas anteriores, a Revolução Industrial fez com que se generalizasse a utilização da tecnologia ao desenvolver a produção de ferramentas, especializando e modernizando a produção manufatureira, promovendo nos países desenvolvidos o processo de enriquecimento cumulativo, conquistando novos mercados a cada progresso técnico da sua indústria, invadindo diversas partes do mundo com produtos manufaturados e estimulando a industrialização (DOWBOR, 1990). Em 1776, com A riqueza da nações, de Adam Smith e, em 1817, com Princípios de economia política e tributação, de David Ricardo, ocorre uma transformação no pensamento econômico. Incorporando os fatos e os valores da Revolução Industrial, forma‑se a teoria clássica do liberalismo. Segundo ela, entre outros aspectos, os capitalistas não deviam buscar a intervenção do Estado central na economia, dado o declínio de políticas mercantilistas que dependiam de forte regulamentação do Estado. Assim, o sistema econômico livre do Estado permitia que cada capitalista e cada trabalhador buscasse o seu próprio interesse no mercado. Há o início do período em que se aconselha o laisse‑faire, laissez‑passer, que Dowbor (1990) identifica como a recomendação da irrestrita abertura dos portos, mercados – entre as nações –, fato que, na época, favorecia o poder industrial inglês. A abertura dos portos, ou dos mercados, seria importante, pois, como enfatiza Smith (1996, p. 77), quando o mercado é muito reduzido, ninguém pode sentir‑se estimulado a dedicar‑se inteiramente a uma ocupação porque não pode permutar toda a parcela excedente de sua produção que ultrapassa seu consumo pessoal pela parcela de produção do trabalho alheio, da qual tem necessidade. 98 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Ainda para Smith (1996, p. 420), (...) com plena segurança, achamos que a liberdade do comércio, sem que seja necessária nenhuma atenção especial por parte do governo, sempre nos garantirá o vinho de que temos necessidade; com a mesma segurança podemos estar certos de que o livre comércio sempre nos assegurará o ouro e a prata que tivermos condições de comprar ou empregar, seja para fazer circular nossas mercadorias, seja para outras finalidades. O que é possível depreender disso? Com esse argumento podemos concluir que o comércio externo beneficiaria todos os países participantes, já que, em primeiro lugar, daria escoamento para a produção excedente de manufaturados caso não existisse demanda interna; em segundo lugar, valorizaria, no mercado externo, mercadorias que poderiam tornar‑se supérfluas no mercado interno, e em terceiro lugar, o comércio externo provocaria a elevação da produção, “aumentando assim a renda e a riqueza reais da sociedade” (SMITH, 1996, p. 430). Conforme Manzalli (2000), já na segunda metade do século XIX a economia dos países então desenvolvidos atingiu a maturidade e, nos tempos e nos padrões de um capitalismo industrial ainda caracterizado por mercados dominados por empresas de porte relativamente pequeno, alcançou também um grau elevado de evolução tecnológica. Importantes mudanças se verificam nos setores de siderurgia, metalurgia, mecânica e ferrovias e, com a capacidade produtiva crescente nessas indústrias, aumenta‑se a necessidade de mercados para o escoamento da produção e a necessidade de matérias‑primas baratas. É um tempo em que os países desenvolvidos passam a fornecer aos países subdesenvolvidos estradas de ferro e pequeno equipamento industrial. Assim, as economias capitalistas mais avançadas conseguiam exportar os processos que haviam sido o eixo principal de sua expansão e modernizavam a extração de matérias‑primas via exploração intensiva. Se fosse possível aqui fazer um apanhado das teorias explicativas da importância das relações internacionais entre países, retomaríamos a teoria das vantagens absolutas, de Smith, e a teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo: cada país deveria se especializar na produção de mercadorias com maiores vantagens naturais ou adquiridas na produção. Poderíamos nos apoiar também nas ideias dos mercantilistas que pregavam que o comércio exterior era uma maneira de obter mais metais preciosos. Ademais, com as teorias neoclássicas do comércio internacional, bem como com as teorias marxistas, veríamos que a tendência à internacionalização da economia seria uma ideia e um fato antigo e, conforme as economias se especializavam em determinados produtos e trocavam esses produtos entre si, conseguiam atingir um nível mais elevado de produtividade, consumo e acumulação de capital, ainda que com distribuição não homogênea entre os países envolvidos no processo (MANZALLI, 2000). Desse modo, o conceito de internacionalização está ligado à possibilidade de comércio entre países, facilitado pelo desenvolvimento dos meios de transporte, e resultando na interdependência de uma economia às outras, com relação a mercados. Por que estamos tratando disso? Porque vivemos na era da globalização, se assim for possível chamá‑la. 99 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Saiba mais O filme Wall street, poder e cobiça (dir. Oliver Stone, 126 minutos, 1987) é icônico: nele são retratadas as atitudes e os novos valores morais do período da globalização. Vale a pena assistir e entrar em contato com a cultura do tatcherismo e do reaganismo daquele momento. De acordo com Chesnais (1996) e Mattei (1997), o termo globalização surgiu no início dos anos 1980, nas escolas americanas de administração de empresas, dando significado a uma nova ordem mundial única, representando um processo de interdependência e interação entre paísese povos no que diz respeito às relações produtivas, comerciais, financeiras, tecnológicas e culturais, interligando o mundo a partir dos meios de comunicação. Conforme Manzalli (2000), podemos entender que o processo de internacionalização diz respeito à capacidade de os países manterem relações comerciais entre si, seja no âmbito da produção, no das informações ou no financeiro, na medida em que se dá o desenvolvimento do capitalismo e, portanto, da concorrência: afinal, torna‑se necessária a manutenção de boas relações internacionais. Já o processo de globalização, para o mesmo autor, pode ser entendido como um aprofundamento do processo de internacionalização, uma vez que as relações internacionais são um processo extremamente antigo. A diferença é que, agora, há o desenvolvimento de um maior padrão tecnológico e concorrencial, bem como há maior facilidade advinda dos meios de comunicação e transportes: visto dessa forma, o processo de globalização significaria, portanto, maior intensidade na interdependência entre economias. Lembrete Da mesma forma que estamos vivendo a era da globalização, vivemos também a era em que o Estado não mais se apresenta como nos tempos do welfare state. Vemos agora um retorno às práticas liberais de períodos anteriores. Inspirado no liberalismo dos séculos XVIII e XIX, o neoliberalismo de agora reafirma valores que “defendem a menor intromissão do Estado na dinâmica de mercado, devendo o poder público se voltar para um conjunto limitado de tarefas, tais como a defesa nacional, a regulação jurídica da propriedade e a execução de algumas políticas sociais” (BARBOSA, 2006, p. 88). Quase que em oposição ao estado do bem‑estar, aqui se preconiza o estado mínimo: mínima intervenção, mínimas barreiras ao livre‑comércio, impostos mínimos, benefícios sociais mínimos. Sobreviverão os países que melhor souberem aproveitar as oportunidades do mercado. Sobreviverão as empresas que mais rapidamente encontrarem vantagens competitivas. Sobreviverão os que forem mais capazes. 100 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Tal mudança no comportamento do Estado, de interventor para neoliberal, dá‑se por causa do período de crise vivenciado pelas economias capitalistas dos anos 1980, da década perdida e do período de elevação do endividamento público. Também concorre para essa mudança o processo de inflação galopante, sendo ela a maior característica do período. Como o Estado acaba assumindo, de forma generalizada, boa parcela de culpa em relação à estagnação que se seguiu ao período pós‑milagres, a década de 1990 será a dos ajustes: fiscal, monetário e administrativo. Tais ajustes requererão certo distanciamento do Estado como produtor de mercadorias que, para tanto, adotará a privatização como regra dominante. Da mesma forma, o Estado não mais se coloca como “o pai da sociedade”, mas apenas como regulador da economia. Assim, retornaremos ao período do marginalismo e da liberdade ao agente econômico, ficando para este último as decisões de produção e de comercialização da produção. O período do neoliberalismo será bem‑visto por uns, como uma nova forma de gerenciamento da economia, e, por outros, como um retrocesso com relação às conquistas sociais do passado. Da mesma forma que a era da globalização solicita modernidade, não só em termos de produção e comercialização da produção, mas também no âmbito político, deixa em seu rastro terrorismo, fome, guerra, governos ditatoriais. Todos esses são fatores que criam obstáculos à globalização econômica. Entre outros conceitos de globalização, Ianni (1997) traz para discussão conceitos inovadores que nos remetem a diferentes pontos de vista sobre aspectos sociais, econômicos, políticos e até religiosos. Vejamos: O problema da globalização, em suas implicações empíricas e metodológicas, ou históricas e teóricas, pode ser colocado de modo inovador, propriamente heurístico, se aceitamos refletir sobre algumas metáforas produzidas precisamente pela reflexão e imaginação desafiadas pela globalização. Na época da globalização, o mundo começou a ser taquigrafado como “aldeia global”, “fábrica global”, “terrapátria”, “nave espacial”, “nova Babel”, entre outras expressões. São metáforas razoavelmente originais, suscitando significados e implicações. Povoam textos científicos, filosóficos e artísticos. São emblemáticas, formuladas precisamente no clima mental aberto pela globalização. Dizem respeito às distintas possibilidades de prosseguimento de conquistas e dilemas da modernidade e expressam inquietações sobre o presente e ilusões sobre o futuro (IANNI, 1997, p. 15‑16). Baumann (1996) sustenta que a dificuldade em conceituar o que realmente designa o processo de globalização está na variedade de significados que se têm atribuído às transformações, já que se trata de um processo que impacta diversas áreas da economia. Para ele, o start inicial para a globalização ocorreu por causa de alguns acontecimentos e das condições favoráveis ao crescimento do comércio internacional pós‑II Guerra Mundial. A economia mundial tem passado por transformações desde o pós‑guerra: na esfera técnico‑produtiva, dado o avanço tecnológico; na esfera financeira, dado o movimento de “financeirização da riqueza”, ou, como chama Chesnais (1996), dada a “indústria das finanças”; na esfera comercial, cujo fluxo do comércio mundial é altamente crescente; e, na esfera 101 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 organizacional das empresas, provocando uma mudança de paradigma produtivo nas economias capitalistas. Conforme Manzalli (2000), todas essas transformações são decorrentes de um ajuste macroeconômico e industrial que foi efetuado por países centrais – leia‑se Estados Unidos, Japão e Alemanha – logo após a II Guerra Mundial, como resposta à crise financeira internacional derivada do primeiro choque do petróleo em 1973. A crise do petróleo, promovida pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), fez com que diversas economias capitalistas entrassem em decadência por conta dos elevados endividamentos gerados pela subida do preço desse fator de produção. Com o aumento do preço do barril do petróleo, diversos países passaram por crises recorrentes em balanço de pagamentos devido à maior quantidade de dólares que eram requeridos para pagamento de importações de petróleo, insumo de produção utilizado de forma intensa por empresas. Baumann (1996) sustenta que algumas áreas sofreram mudanças advindas dos movimentos da globalização e diz ser necessário conhecer seus aspectos estritamente econômicos. No campo comercial e produtivo, é importante levar em consideração os fluxos de investimentos externos diretos entre empresas transnacionais e suas subsidiárias, já que essas últimas contribuem em grande parte para a atividade econômica mundial. Mas, se o fim da história é o aqui e agora, se a Guerra Fria teve fim, se o receituário de Washington é tão bom, como será possível que um modelo como o globalizador possa encontrar dificuldades na sua propagação pela aldeia global? Talvez porque, mesmo em tempos de paz (se é que se pode chamar de pacífico o século em que vivemos), “a construção de uma economia de mercado e instituições democráticas não é tarefa fácil” (BARBOSA, 2006, p. 84). Corrupção, desmandos e eleições fraudulentas parecem conspirar contra os valores democráticos. Alguns adversários dos valores neoliberais, se não conspiram, ao menos torcem para que o projeto globalizador dê com os burros n’água. Mas, afinal, o que é neoliberalismo? O termo surge na escola austríaca do pensamento econômico com a figura de Friedrich August von Hayeke seu O caminho da servidão, mas, como prática, somente anos mais tarde. Essa escola de pensamento pregava, inicialmente, a menor participação do Estado na condução da economia, dando total importância às leis de mercado como aquelas que levariam as economias capitalistas ao equilíbrio. A crença de que problemas recorrentes como subdesenvolvimento, inflação e endividamento público são consequências da ineficiência da gestão governamental é levada a cabo diante das políticas de privatização e transferência ao capital privado de empresas estatais, até então consideradas não rentáveis por alguns e, por outros, verdadeiros “elefantes”. Somam‑se a isso políticas fiscais contracionistas, como a elevação de tributação e a diminuição de despesas e investimentos, e as políticas monetárias também restritivas (caracterizadas pela elevação das taxas de juros com o interesse de diminuir investimentos produtivos e de aumentar a expansão do crédito favorável ao capital especulativo). 102 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Outro tipo de política também será usado, o da política cambial, em favorecimento às importações de mercadorias com o objetivo de fazer com que o empresariado nacional baixe os preços de venda de sua produção. Outro objetivo dessa política será o de aumentar a saída de dinheiro do país, via pagamento de importações, fazendo com que seja diminuída a renda interna e, consequentemente, diminuída a circulação de moeda nas economias nacionais. Observação Como resultado das políticas neoliberais, vê‑se avanço em questões econômicas como a da estabilidade de preços, mas poucos avanços com medidas e consequências favoráveis à esfera social. No âmbito do neoliberalismo, a sociedade fica em segundo plano. O que importa, realmente, é a estabilidade financeira. Aparentemente, muito da fala neoliberal não encontrou eco nos diversos continentes em que se propagou, quer dizer, muito do receituário neoliberal se perdeu no caminho em função da recusa do paciente ao qual se pretendeu administrá‑lo: assim é que, apesar do discurso globalizador, os Estados nacionais continuam firmes e fortes. Assim é que, apesar da defesa da mão invisível do mercado, o Estado vem sendo chamado para apagar o fogo das crises cíclicas e globais do capital. Contrariamente à teoria do fim das barreiras geográficas, é ao Estado que foi atribuída a tarefa de impedir que o processo de globalização instaure uma sociedade segmentada entre incluídos e excluídos. Para isso, os Estados nacionais (...) [investem] em ciência e tecnologia, qualificação profissional, (...) [e estimulam] os seus sistemas produtivos, aumentando a competitividade do país, além de erradicar os bolsões de miséria (BARBOSA, 2006, p. 92). A ação conjunta de organismos internacionais e multilaterais também é, ao mesmo tempo, disseminadora e controladora do fenômeno da globalização. Embora a intervenção econômica aconteça por meio do FMI e do Banco Mundial, outros organismos vêm buscando formas alternativas de auxílio aos países em desenvolvimento ou em dificuldades: são os fóruns, as organizações não governamentais, as diversas agências da ONU e até mesmo bancos e instituições privadas. A OMC, herdeira dos primeiros acordos do GATT (sigla em inglês para Acordo Geral de Tarifas e Comércio), também tem se pautado no sentido de funcionar como tribunal das contendas comerciais entre países. Afinal, “se não forem criadas novas leis e mecanismos que permitam maior autonomia e maior participação no crescimento do comércio para os países subdesenvolvidos, cedo ou tarde estes países” (BARBOSA, 2006, p. 97) poderão optar por outros modelos de desenvolvimento. O discurso neoliberal também encontra dificuldades para garantir sua hegemonia ideológica ao não responder de forma adequada ao problema da fome e da miséria que assolam o mundo. Segundo Judensnaider (2009), informações da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) revelam que 103 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 são aproximadamente 920 milhões de famintos no mundo e, desse total, aproximadamente trinta por cento são crianças. Na Cúpula do Milênio, a meta estabelecida era de reduzir a fome pela metade até o ano de 2015. Entre as recomendações da Força‑Tarefa Contra a Fome, preconizou‑se o planejamento e execução de políticas integradas para agricultura, nutrição e desenvolvimento rural, acesso à terra, intensificação de pesquisas, apoio à pequena propriedade e à agricultura de subsistência, programas de assistência e proteção com foco nas grávidas, lactantes, bebês e crianças, restauração e conservação dos recursos naturais essenciais para a segurança alimentar. Ao final de 2008, já se considerava a meta impossível de ser atingida (...)18 É a fome que pode ser mapeada e o quadro revelado por esse mapa é extremamente desfavorável do ponto de vista da desigualdade social: evidência empírica disso é a ocorrência de verdadeiros bolsões de fome nas regiões centrais da África e da Ásia. Saiba mais Sugerimos fortemente que você assista Diamantes de sangue. Dir. Edward Zwick, 143 minutos, 2006. O filme mostra a situação de miséria e vulnerabilidade de Serra Leoa. Miséria gera mais miséria. Coincidentemente, é também a região africana a que mais sofre com a escassez de água, esse bem que um dia foi livre de valor econômico e que, no futuro, provavelmente será o mais precioso da humanidade. É a contrapartida à promessa de um mundo justo, em que as riquezas se distribuiriam naturalmente, sob a força das mãos invisíveis da economia do mercado. Segundo Barbosa (2006, p. 107), o aumento da desigualdade entre países ricos e pobres e o crescimento da pobreza tanto nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos esteve relacionado à abertura dos mercados e ao crescimento desordenado da esfera financeira, propiciando a expansão do desemprego e do emprego informal na grande maioria dos países, ainda que em ritmos e com significados diferentes. Segundo Ianni (1997, p. 205), “a sociedade global é o cenário mais amplo do desenvolvimento desigual, combinado e contraditório (...), que se expressa em diversidades, localismos, singularidades, particularismos ou identidades”. E, tão complexas são as suas características que, desde 1990, economistas 18Qual o custo de um programa sério como esse? Algumas fontes mensuram que seriam necessários aproximadamente 25 milhões de dólares por ano para a obtenção dessas metas até 2015. Bem menos que os 3 trilhões de dólares estimados por Joseph Stiglitz e Linda J. Bilmes em relação ao custo da guerra no Iraque até agora e detalhadamente estudados em A guerra de US$ 3 trilhões – o custo real do conflito no Iraque. 104 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 vêm procurando estudar as diferenças sociais a partir de outros parâmetros que não os de Produto Interno Bruto (PIB) ou renda média. Assim, desenvolveu‑se o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que busca medir o desenvolvimento humano a partir de algumas variáveis: Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi‑lo pelo poder de compra da moeda de cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra), que eliminaas diferenças de custo de vida entre os países (PNUD Brasil)19. O IDH varia de zero a um, de tal forma que, quanto mais próximo de zero, menor o desenvolvimento humano, e quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento do ponto de vista não apenas do avanço econômico, mas de outras características, como as sociais, as culturais e as políticas, indicadoras da qualidade de vida. A tabela 3 indica a posição dos países com maior, menor e médio IDH. Índice de desenvolvimento humano 2005 Desenvolvimento humano alto Desenvolvimento humano médio Desenvolvimento humano baixo 1 Noruega 11 Japão 63 Brasil 169 Burundi 2 Islândia 15 Reino Unido 72 Albânia 170 Etiópia 3 Austrália 16 França 75 Venezuela 171 República Centro‑Africana 4 Luxemburgo 18 Itália 85 China 172 Guiné‑Bissau 5 Canadá 20 Alemanha 88 Paraguai 173 Chade 6 Suécia 34 Argentina 113 Bolívia 174 Mali 7 Suíça 37 Chile 127 Índia 175 Burkina Fasso 8 Irlanda 46 Uruguai 176 Serra Leoa 9 Bélgica 47 Costa Rica 177 Níger 10 Estados Unidos 52 Cuba 53 México Tabela 3 – Índice de Desenvolvimento Humano, 2005 É a aldeia global, o grande cinema multidimensional em que cidadãos de primeira linha assistem ao mundo das primeiras poltronas confortáveis, enquanto os restantes se comprimem para tentar enxergar algo. É o capitalismo em que se observam diferentes riquezas e semelhantes misérias, e que chega aos nossos olhos como uma fotografia precisa das diferenças e desigualdades sociais desse admirável mundo novo que, por enquanto, reside apenas nas nossas esperanças. 19Disponível em: <http://www.pnud.org.br/idh/ >. Acesso em: 23 mar. 2011. 105 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 8 O QUE AINDA HÁ PARA DISCUTIR? 8.1 As fronteiras de possibilidade de produção Se a crise de 2008 já nos parece coisa do passado, suas repercussões, especialmente em termos dos índices de emprego, ainda não o são. Segundo Marco Cintra, economista, o relatório da OIT aponta que em economias ricas como os Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Japão, entre outras, os desempregados adicionais poderão variar entre 4 milhões e 11 milhões de pessoas. No Leste e Sul da Ásia, o desemprego pode atingir entre 8 milhões e 26 milhões de trabalhadores. Na Europa Oriental, Oriente Médio e África, esse contingente ficaria entre 3 milhões e 10 milhões. (...) Os dados da OIT revelam que a turbulência econômica mundial iniciada nos Estados Unidos terá um impacto mais devastador sobre o mercado de trabalho nos países ricos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o número de desempregados hoje já é de 12,5 milhões de pessoas, sendo que esse contingente era de pouco mais de 7 milhões em 2007. Na Europa, o desemprego atingiu 8% em dezembro do ano passado, a mais alta dos últimos dois anos, e no Japão, a indústria anuncia com frequência cortes de funcionários e a estimativa é que cerca de 30 mil dekasseguis voltem ao Brasil por conta disso20. Além disso, outros dados e estatísticas não nos permitem vislumbrar o futuro brilhante outrora anunciado pelo Consenso de Washington. Embora o sistema capitalista esteja mais vivo do que nunca, vozes de políticos, economistas e demais cientistas vêm se pronunciando no sentido de alertar: há que se tomar cuidado com os desníveis criados pela própria atividade econômica, desníveis esses que funcionam quase como desconexões criadas pelo próprio sistema de mercado. São três os principais focos do problema. O primeiro se refere à relação entre produção e emprego. Num mundo onde a concorrência e o mercado impelem as empresas em direção à inovação e produtividade, é esperado que o aumento da produção não necessariamente esteja correlacionado ao aumento do emprego. A tecnologia aumenta a produção, mas não cria postos de trabalho, ao menos não na mesma proporção. O uso de maquinário na agricultura e indústria diminui as oportunidades de uso intensivo de mão de obra e o desemprego torna‑se alarmante, relegando à margem milhões e milhões de trabalhadores que deixam de consumir até mesmo o mínimo necessário para a sobrevivência. O segundo problema diz respeito ao desnível entre produção e recursos naturais. São esses os recursos que, juntamente com o capital, a mão de obra, a tecnologia e a capacidade empresarial, determinam as combinações possíveis das curvas de possibilidades de produção, bem como os avanços ou retrocessos de suas fronteiras. 20Disponível em: <http://www.dm.com.br/materias/show/t/desemprego_no_mundo_e_no_brasil>. Acesso em: 1º nov. 2010. 106 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Para Judensnaider (2009), segundo o WWF‑Brasil, o balanço das condições ambientais revela que “caso o modelo atual de consumo e degradação ambiental não seja superado, é possível que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos será o dobro do que a Terra pode oferecer”21. A mesma fonte afirma: nossa pegada ecológica (área necessária para produzir o que consumimos em termos de recursos naturais e absorver as emissões de carbono) excede perto de 30% a capacidade de regeneração do mundo. Essa é a crise real. Uma estatística interessante (também divulgada pelo WWF‑Brasil) mostra que uma camiseta de algodão requer 2.900 litros de água para ser produzida. A permanecerem as atuais taxas de consumo e crescimento populacional, o esgotamento dos recursos hídricos mundiais pode ocorrer por volta de 2053. A calota de gelo polar no Ártico está desaparecendo em função do aquecimento global, e só não desaparecerá totalmente porque é provável que as reservas mundiais de petróleo e gás natural não sejam suficientes para produzir a quantidade necessária de dióxido de carbono que possa derretê‑la por completo. Mesmo as fontes mais otimistas são categóricas ao afirmar: ainda que possamos identificar e explorar novos poços de petróleo, é quase certo que este século será o último da era do petróleo. Observação Como continuar produzindo, e cada vez mais, se os estoques de recursos naturais são finitos? Essa se torna uma questão fundamental em economia, e da sua resposta dependemos para traçar as curvas de fronteiras de possibilidades de produção. Vejamos: as necessidades dos indivíduos são renovadas a cada momento e, por isso, ilimitadas. No entanto, os recursos pertencentes a um sistema econômico são escassos, limitados. Portanto, é necessário escolher para ter as respostas àquelas três perguntas básicas: o que e quanto produzir? Como produzir? Para quem produzir? Nosso problema é de escolha em função da escassez. De acordo com Wessels (2002, p. 11), escassez “significa que não podemos satisfazer todos os nossos desejos. Ela nos obriga a escolher quais necessidades iremos satisfazer e quais não. Mas como fazemos essa escolha?”. Um instrumento que pode nos auxiliar é representado pela curva de possibilidade de produção (CPP), visto abaixo: 21Sugerimos a consulta aos dados disponíveis em < www.wwf.org.br/informacoes/index.cfm?uNewsID=16180>. Acesso em: 1º nov. 2010. Nesse site, encontra‑se disponível também o download do Relatório Planeta Vivo 2008. 107 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 B A C D E café milho Gráfico 5 – Curva de possibilidade de produção Vamos supor, inicialmente, que num sistema econômico exista somente a produção de duas mercadorias: café e milho. As quantidades de café estão representadas no eixo vertical e as quantidades de milho, no eixo horizontal. Portanto, Y = toneladas de café X = toneladas de milho Essa CPP, tambémchamada de curva de transformação, mostra as quantidades máximas que podem ser produzidas das duas mercadorias em um sistema econômico, dadas as combinações ótimas entre os seus fatores de produção disponíveis. Dito de outra forma, ao simplificarmos demasiadamente a realidade, estamos supondo que, para a produção de café e de milho, seja necessária a utilização de quantidades de fatores de produção e que, nesse caso, todos os recursos disponíveis na economia estejam sendo usados na produção dessas duas mercadorias. Estamos afirmando que todas as quantidades disponíveis de terra, trabalho, capital, tecnologia e capacidade empresarial foram destinadas à produção das máximas quantidades de cada uma dessas mercadorias em atendimento às necessidades de consumo da população. Vejamos o que representa cada um dos pontos marcados. Os pontos A, B e C são as combinações possíveis (e máximas) de produção das duas mercadorias. O ponto B mostra que há produção das duas mercadorias, tanto de café quanto de milho, e o ponto C indica que há produção das duas mercadorias, mas que a produção de uma só pode aumentar em detrimento da produção da outra. 108 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 A origem dos dois eixos mostra que não há qualquer produção, nem de café nem de milho. Dessa forma, se houvesse um ponto situado na origem, ele representaria o total desemprego de recursos. Já o ponto D mostra a capacidade ociosa da economia, pois seria como se por ele passasse uma CPP imaginária, ou seja, um ponto para dentro daquela CPP que representa as quantidades máximas que essa economia pode produzir diante da disponibilidade total de fatores de produção. O ponto D indica que há fatores de produção disponíveis que não estão sendo utilizados. Por fim, temos o ponto E, posicionado à direita na CPP. Ele seria alcançado em uma situação de longo prazo, quando fossem aumentadas as quantidades de fatores de produção disponíveis na economia. O ponto E demonstra que houve um deslocamento das possibilidades de produção da economia no sentido de um aumento simultâneo nas quantidades produzidas das duas mercadorias. Vejamos outro exemplo numérico (tabela4 ): Pontos Toneladas de milho Toneladas de café A 0 14 B 1 12 C 2 10 D 3 7 E 4 0 Tabela 4 – Possibilidades alternativas de produção de café e milho A tabela mostra que podemos produzir tanto milho quanto café. Caminhando entre os pontos marcados, teremos que, no ponto A, enquanto essa economia hipotética produz catorze toneladas de café, nenhuma produção de milho é possível, pois todos os fatores de produção (terra, capital, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial) foram empregados para a produção do primeiro. No ponto B, temos uma diminuição na quantidade produzida de café para ocorrer um aumento na quantidade produzida de milho. Nesse caso, a produção de café foi diminuída em duas toneladas para que fosse aumentada uma tonelada na produção de milho. Em C, temos a produção de duas toneladas de milho e dez toneladas de café. Ao passarmos a economia para o ponto D, temos uma nova combinação da produção dessas duas mercadorias. Agora, são três toneladas de milho para a produção de sete toneladas de café. Finalmente, em E teremos quatro toneladas de milho para nenhuma produção de café, situação contrária à do ponto A, ou seja, em E todos os fatores de produção foram destinados à produção de milho e nenhum para café. Ao olharmos novamente para a tabela anterior, percebemos que, à medida que aumentamos a produção de uma das mercadorias, necessariamente diminuímos a da outra. O que isso quer dizer? Conforme aumentamos a produção de café, deixamos de utilizar fatores para a produção de milho e, portanto, uma menor quantidade de milho deve ser produzida. Dito de outra forma, quando aumentamos a produção de café, mostramos que uma maior quantidade de fatores de produção foram empregados na produção deste e, assim, restam poucos fatores disponíveis para a produção de milho. Logo, a produção deste diminui. 109 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Ainda sobre a tabela, podemos perceber que, na passagem de A para o ponto B, aumentamos em uma quantidade a produção de milho, porém diminuímos em duas toneladas a produção de café. Algo parecido acontece quando a economia passa do ponto B para o ponto C. Agora, para produzir duas toneladas de milho, torna‑se necessário diminuir em mais duas unidades a produção de café, passando então de uma produção de doze para dez. Continuando a observar os dados da tabela, percebemos que a passagem do ponto C para o ponto D requer sacrificar ainda mais a produção de café para que a produção de milho aumente. A relação agora é que, para poder produzir três toneladas de milho é necessário diminuir em três toneladas a produção de café. Em E, anula‑se a produção de café e todos os fatores de produção disponíveis na economia foram destinados à produção de milho. Da CP e da tabela apresentada, chegamos a mais um importante conceito em economia: o de custo de oportunidade. Observação De acordo com Wessels (2002, p. 11), “o custo de qualquer recurso (incluindo dinheiro, tempo, energia e bens) é o valor que os economistas chamam de custo de oportunidade: o valor mais alto daquilo que os mesmos recursos poderiam ter se fossem produzidos em outro lugar”. Assim, o conceito de custo de oportunidade diz respeito às quantidades de uma mercadoria que deixam de ser produzidas para que sejam produzidas maiores quantidades de outra mercadoria. O custo de oportunidade pode ser entendido também como uma taxa de sacrifício: para satisfazer às necessidades de consumo da sociedade por uma maior quantidade de determinada mercadoria, devemos sacrificar essa mesma sociedade com a menor produção de alguma outra mercadoria. Podemos dizer que, quando aumentamos em uma unidade a produção de milho, ou seja, quando passamos a economia do ponto A para o B, sacrificamos a sociedade em duas toneladas de café. Há, portanto, um custo de oportunidade de duas toneladas de café para a produção de uma tonelada de milho. Quando essa economia avança do ponto C para o D, o custo de oportunidade de se produzir milho aumenta. Passa agora a ser de três toneladas de café, ou seja, foram aumentadas as taxas de sacrifício ao trocar a produção de café pela de milho. Ainda para Wessels (2002, p. 11), devido à escassez, não podemos fazer tudo o que queremos nem podemos resolver todos os nossos problemas. Em outras palavras, estamos diante de compensações ou, no jargão econômico, de trade‑offs. Podemos fazer alguma coisa, mas não outras. O custo de oportunidade é uma medida 110 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 daquilo que poderia ter sido feito de outra maneira. Ele nos orienta na realização das compensações corretas. Podemos ainda conceituar o custo de oportunidade como o que deixamos de produzir de uma mercadoria para que seja aumentada a quantidade produzida de alguma outra. A pergunta que você deve estar se fazendo agora é: como calcular o custo de oportunidade da degradação ambiental? 8.2 A determinação do ponto de equilíbrio entre oferta e demanda Dizemos que a demanda reflete a escolha do consumidor. Quais as variáveis que afetam essa escolha? De forma simplificada, são as seguintes: a) A renda: quanto o consumidor tem disponível para a aquisição de bens e serviços necessários; b) Os preços dos bens e serviços: quanto custarão, para o consumidor, os bens e serviços dos quais ele tem necessidade; c) Suas preferências:que marcas o consumidor prefere. Das alternativas existentes no mercado, quais são as suas prediletas; d) A relação de “substitutibilidade” ou complementaridade entre os bens e os serviços que o consumidor deseja comprar: o bem que ele deseja pode ser substituído por outro? O bem que ele quer consumir precisa ser consumido em conjunto com outro? Como você pode ver, são muitos os fatores que determinam a demanda de um bem ou de um serviço. Para simplificar mais, faremos o seguinte: consideraremos, para a nossa análise, apenas a quantidade demandada de um bem em relação ao seu preço. Ao representarmos essa relação, teremos a curva abaixo: P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6 Q7 Q8 Quantidade Preço Gráfico 6 – A curva de demanda 111 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 O gráfico da página anterior nos permite visualizar que à medida que o preço sobe, a quantidade de demandada diminui. Isso é possível de ser constatado no mundo real: quanto maior o preço, menos as pessoas irão consumir determinado bem ou serviço. Por isso a inclinação da curva de demanda é negativa. O que pode provocar um deslocamento da curva de demanda? Mudanças naquelas variáveis que havíamos deixado de fora da nossa análise. Dessa forma, mudanças na renda, nos preços dos bens substitutos e complementares e mudanças nos padrões de preferência provocarão deslocamentos da curva de demanda. Da mesma forma como a curva de demanda é formada a partir das preferências dos consumidores, a de oferta se explica pelas escolhas que as empresas fazem no esforço de oferecer bens e serviços ao mercado. Como as empresas decidem quais as quantidades a ofertar ao mercado? São inúmeras as variáveis: a) Os preços praticados no mercado; b) O quanto de lucro elas pretendem no mercado; c) A estrutura de custos da produção dos bens e serviços; d) A concorrência; e)A oferta e os preços dos fatores de produção. Para que possamos simplificar nossa análise, consideraremos a quantidade ofertada de um bem ou serviço como função única e exclusiva dos preços. Se representarmos essa relação, teremos a curva abaixo. O Pv Px Preço 0 Qx Qv Quantidade Gráfico 7 – A curva de oferta 112 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Como você pode verificar, a curva de oferta tem inclinação positiva. Isso quer dizer que quanto maiores os preços praticados no mercado, mais a empresa terá interesse em ofertar os bens e serviços. O que pode provocar um deslocamento da curva de oferta? Mudanças naquelas variáveis que havíamos deixado de fora da nossa análise. Dessa forma, mudanças na concorrência e na oferta de fatores de produção podem deslocar a curva da oferta para a direita ou para a esquerda. Como ocorre então a situação de equilíbrio entre a demanda e a oferta? Graficamente, ela se identifica com o ponto de encontro entre as duas funções. Veja no gráfico abaixo: Preço p1 p* p2 E QS QD 0 QD1 QD2 Q* QS2 QS1 Quantidade Gráfico 8 – O encontro entre as curvas de oferta e procura É importante ressaltar que essa situação de equilíbrio é uma construção teórica. No mercado real, no mundo real, o que temos são movimentos em torno desse ponto de equilíbrio. Quer dizer, esse ponto de equilíbrio é uma meta ideal para o mercado consumidor e para o mercado vendedor. Do ponto de vista teórico, o ponto de equilíbrio representa a situação em que, a um determinado preço e a uma determinada quantidade, compradores e ofertantes ficam igualmente satisfeitos. 8.3 Crescimento versus desenvolvimento Outro fator ainda deve ser considerado: há tempos, economistas percebem que são imensas as diferenças entre crescimento e desenvolvimento. Se o primeiro significa apenas o aumento da renda per capita, o segundo implica conhecer os beneficiários do aumento da renda. Em outras palavras, desenvolvimento requer distribuição de renda, para que o crescimento não seja concentrador ou excludente. Ainda, desenvolvimento requer respeito ambiental, já que isso está intrinsecamente ligado às condições de sustentabilidade da atividade econômica. Vejamos com mais detalhes. Há muito os economistas discutem as diferenças entre os conceitos de desenvolvimento e crescimento. O debate nasceu da percepção de que, apesar das elevadas taxas de desempenho econômico, vários países apresentavam baixos níveis de qualidade de vida dos seus habitantes. Essa análise fez com que os economistas elaborassem outras medidas de mensuração que não as meramente quantitativas de produção, ou de “crescimento”. Quer dizer, buscou‑se entender 113 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 o que poderia determinar o padrão de qualidade de vida, estabelecendo‑se, então, que esse padrão seria mensurador do desenvolvimento humano (incluído aí o desenvolvimento econômico); a partir daí, criaram‑se indicadores para que o padrão pudesse ser determinado. De uma forma extremamente simplificada, buscou‑se entender não apenas o tamanho do “bolo” (representativo da produção de bens e serviços), mas o quanto ele poderia saciar a fome das pessoas. O raciocínio é simples: o fato de um bolo ser grande ou pequeno não significa que ele tem condições de saciar a fome das pessoas. Se forem poucas pessoas, é possível que todas fiquem satisfeitas; se o bolo for pequeno, se as pessoas forem poucas, mas uma delas ficar com metade, a satisfação será menor. O mesmo raciocínio vale para um bolo grande e um contingente enorme de pessoas. Ainda, se o bolo aumentar, mas o número de pessoas aumentar mais do que o crescimento do bolo, é bem provável que a insatisfação persista. Observação O crescimento seria dado pelo “tamanho do bolo”; em contrapartida, o desenvolvimento seria dado pela saciedade das pessoas ao se alimentarem dele. Mais: não seria suficiente o “tamanho médio” de cada fatia do bolo para que se pudesse concluir pela saciedade ou não das pessoas; precisaria se saber o quanto de justiça teria sido utilizada para a divisão do bolo. Vejamos então as medidas de crescimento e desenvolvimento. a) Medidas de crescimento: o Produto Nacional Bruto (PNB) e o PIB O PNB e o PIB são medidas que possibilitam mensurar o “tamanho do bolo”. O PNB per capita e o PIB per capita dão a noção de média de apropriação do produto por habitante: o PNB per capita dá o valor de cada parcela de PNB apropriada por habitante; da mesma forma, o PIB per capita dá o valor de cada parcela do PIB apropriada por habitante. Vejamos, então, a diferença entre os dois conceitos: O PIB representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços produzidos no país (ou na região considerada) em determinado período de tempo. Para o seu cálculo, ele descarta a renda do exterior, tanto a recebida quanto a enviada. Considerando‑se N o número de habitantes, o PIB per capita será dado por: PIB per capita = PIB/N O PNB difere do PIB porque considera tanto as rendas enviadas para o exterior quanto as recebidas do exterior. Assim: PNB = PIB – Ree (receita enviada para o exterior) + Rre (receita recebida do exterior). O PNB per capita será dado por: PNB per capita = PNB/N 114 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Nos países em desenvolvimento, o PNB é menor do que o PIB. Isso ocorre porque, nessas nações, há considerável remessa de lucros para o exterior. b) Medidas de desenvolvimento: o IDH, a curva de Lorenz e o índice de Gini •O IDH A mensuração do desenvolvimento humano, feita por meio do IDH, sobre o qual já falamos, contrapõe‑se ao conceito de crescimento econômico. Parte‑se do princípio de que, “para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana” (PNUD Brasil). O índice desenvolvido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen leva em conta: a) O PIB per capita (corrigido pelo poder de compra da moeda); b) A longevidade (medida pela expectativa de vida ao nascer); c) A educação (avaliada pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em instituições de ensino). O IDH é interpretado da seguinte forma: IDH de 0,9 a 1,0 = desenvolvimento humano muito elevado IDH de 0,8 a 0,899 = desenvolvimento humano elevado IDH de 0,5 a 0,799 = desenvolvimento humano médio IDH de 0,1 a 0,499 = desenvolvimento humano baixo Portanto, quanto mais próximo de um, maior será o desenvolvimento humano. Segundo o relatório do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado em novembro do ano passado, o Brasil ocupa a 73ª posição entre 169 países no IDH 201022. Os cinco primeiros colocados são, pela ordem, Noruega, Austrália Nova Zelândia, Estados Unidos e Irlanda. Os cinco últimos são Zimbábue, República Democrática do Congo, Níger, Mali e Burkina Faso. (...) Segundo o documento, o IDH do Brasil apresenta “tendência de crescimento sustentado ao longo dos anos”. (...) Ainda de acordo com o relatório, o rendimento anual dos brasileiros é de US$ 10.607 e a expectativa de vida é de 72,9 anos. A escolaridade é de 7,2 anos de estudo e a expectativa de vida escolar é de 13,8 anos. 22A equipe de profissionais que elaboraram o IDH 2010 adotou metodologia nova para chegar aos índices publicados. Veja em Notas Técnicas o cálculo dos índices de desenvolvimento humano – apresentação gráfica. Disponível em: <http:// hdr.undp.org/en/media/HDR_2010_PT_TechNotes_reprint.pdf>. 115 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 • A curva de Lorenz A curva de Lorenz, representada a seguir, forma‑se pela união dos pontos bidimensionais obtidos pelos eixos X e Y: no eixo X, temos a proporção acumulada da população; no eixo Y, a da renda apropriada (IPECE, 2006). a b A B C 100% y 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% x Gráfico 9 – Curva de Lorenz Se a distribuição for perfeita, teremos a curva na forma de uma reta de 45 graus: por exemplo, 20% da população se apropriarão de 20% da renda. Assim, quanto maior a “barriga” (a área representada por a), mais desigual será a distribuição de renda. Na figura, por exemplo, aproximadamente 50% da população se apropria de 20% da renda. • O índice de Gini O índice de Gini, segundo o PNUD Brasil, mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. Seu valor varia de zero, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a um, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula). Assim, o índice é uma medida que objetiva “corrigir” os valores médios obtidos por meio do quociente entre produto e população. Ele não representa o “tamanho médio da fatia do bolo”, mas quão justa é a divisão do bolo. Veja novamente a figura relativa à curva de Lorenz. Geometricamente, o índice de Gini é obtido pelo quociente entre a e a soma entre a e b, da seguinte forma: 116 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 G = a / (a + b) Se a desigualdade é zero, quer dizer, se a distribuição de renda é perfeita, a é igual a zero; portanto, G = 0. Se, hipoteticamente, um único indivíduo se apropriar de toda a renda, ß tenderá a zero e G tenderá a um. Quanto maior a “barriga” representada por a, maior será o valor de G. Um exemplo interessante para compreendermos, na prática, a diferença entre crescimento e desenvolvimento é o caso da China. Há anos, esse país vem conquistando elevados índices de crescimento do seu PIB, como se pode ver no gráfico 10: Média do período = 10,1% Previsão % 16 14 12 10 8 6 4 2 0 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 9,2 14,2 14,0 13,1 10,9 10,0 9,3 7,8 7,6 8,4 8,3 9,1 10,0 10,1 9,9 8,6 8,2 Gráfico 10 – PIB na China, de 1991 a 2007 É provável que esse crescimento tenha implicado melhora no padrão de qualidade de vida da população, especialmente porque o crescimento populacional no país vem se mantendo constante e porque o seu IDH se situa no bloco daqueles países de desenvolvimento médio. Ainda, a China foi a nação cujo IDH alcançou maiores taxas de crescimento nos últimos anos: em 1990, era de 0,607; em 2006, de 0,762. No entanto, esse crescimento significa desenvolvimento sustentável? Não necessariamente. Segundo Thomas e Calan (2010, p. 25), o rápido crescimento econômico da China tornou‑se uma faca de dois gumes. Embora os 1,3 bilhão de residentes estejam gozando de maior prosperidade, a qualidade dos recursos, como ar, água e solo do país, tem se deteriorado severamente. Apesar de significantes somas terem sido dedicadas à limpeza ambiental, alguns danos ecológicos ainda ocorrem, praticamente sem fiscalização alguma. De fato, muitos dos esforços atuais para mitigar a poluição focaram os pontos altamente visíveis, os grandes centros urbanos, como Pequim e Xangai, deixando as cidades menores e as comunidades rurais amargurarem uma desproporcional exposição à água contaminada e ao ar poluído naquele país. (...) Na China, o dano ambiental tem se tornado tão severo que seu avanço econômico está sendo comprometido 117 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 pela falta de água limpa, produtividade baixa associada a problemas de saúde induzidos pela poluição e outros danos que limitam a produção. Economistas estimam que esse efeito seja de até 7% do PIB chinês ao ano, um considerável aumento, se considerarmos os 3% ao ano na década de 1990. 8.4 Estado mínimo versus welfare state Finalmente, o terceiro problema está relacionado aos conflitos entre os modelos de Estado mínimo e welfare state (estado do bem‑estar). Observação Entre o Estado que nada intervém na economia e o Estado que chama para si a tarefa de planejar e orientar a atividade econômica há variantes. Segundo Sachs (1994, p. 11‑12), são necessárias formas de articulação entre as esferas de ação pública e privada, transcendendo a dicotomia simplista Estado x mercado e explorando‑se diversos modi operandi com a participação de formas de organização, propriedades lucrativas (públicas, cooperativas, comunitárias) e não lucrativas (privadas, individuais e coletivas); [é necessária a] busca por novas formas de parceria entre os protagonistas sociais do desenvolvimento, com atenção especial à cooperação entre autoridades públicas, empresas e organizações civis que ofereçam proposições concretas ao postulado de participação popular em processos de desenvolvimento, explorando com esse fim as várias experiências sociais — passado e presente — em auto‑organização, ajuda mútua e ação coletiva. Dessa forma, é necessária a percepção dos seguintes aspectos: a) Desenvolvimento pressupõe interdependência entre a democracia social, a ambiental e a econômica; b) O emprego deve ser estimulado, seja pela valorização do trabalho dealto valor social agregado, seja pela concessão de empréstimos aos países em desenvolvimento condicionados pela aplicação dos recursos em projetos de mão de obra intensiva; c) Os países devem fazer acordos sobre proteção ambiental: o desrespeito e a degradação ambiental não podem permitir vantagens comparativas e de mercado. Segundo Yunus (2008, p. 223), “a dinâmica da concorrência capitalista é tal que as organizações que não prejudicam o meio ambiente e as relações sociais podem ter uma desvantagem no mercado, pelo menos no curto prazo, ao passo que aquelas que economizam dinheiro poluindo à vontade poderão levar vantagem”; 118 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 d) O pequeno empreendimento deve ser fortalecido, em detrimento aos investimentos em empresas de grande porte. Ainda, deve‑se estimular a agricultura familiar e os minifúndios; e) O fim da fome e da pobreza deve ser a meta de todos os países, e os desenvolvidos devem escolher formas de alocação de recursos que obedeçam aos critérios de sustentabilidade social, ambiental e econômica, especialmente avaliadas a partir do prisma social. Observação Entre a crença na eficácia da “mão invisível do mercado” e a fé na centralização e na planificação econômica há outras possibilidades. Horrorizado com a fome e com a imobilidade social em Bangladesh, um economista acabou criando um banco especializado no fornecimento de empréstimos a pobres. Esses empréstimos, concedidos preferencialmente a mulheres (já que elas seriam mais pródigas na utilização dos recursos em prol do bem‑estar da família), hoje já atingiram 80% das famílias pobres, e a expectativa é que a totalidade seja alcançada até 2010. Hoje, o Banco Grameen oferece empréstimos a praticamente sete milhões de pobres, 97% deles mulheres, em 73 mil aldeias de Bangladesh. O Banco Grameen oferece às famílias pobres empréstimos sem caução para a geração de renda, para a habitação, empréstimo estudantil e financiamento de microempresas, além de fornecer a seus clientes uma série de produtos atraentes, como poupança, fundos de previdência e seguros. Desde que surgiram em 1984, os empréstimos habitacionais foram usados para a construção de 640 mil casas. (...) Desde a inauguração, o banco concedeu empréstimos num total aproximado de seis bilhões de dólares. A taxa de liquidação dos empréstimos é de 99%. Em geral, o Banco Grameen obtém lucro. Ele não depende financeiramente de terceiros e não recebe dinheiro de doações desde 1995. Os depósitos e os recursos próprios do Banco Grameen atualmente chegam a 143% de todos os empréstimos em aberto. De acordo com uma pesquisa interna do banco, 58% dos nossos tomadores de empréstimo ultrapassaram a linha da pobreza (YUNUS, 2008, p. 240). Saiba mais Pelo projeto do Banco Grameen, Muhammad Yunus ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2006. A trajetória da criação do banco está brilhantemente escrita na obra O banqueiro dos pobres, de autoria dele e de Alan Jolis, São Paulo: Ática, 2008. Sugerimos fortemente sua leitura, já que se trata de uma iniciativa bem‑sucedida de erradicação da pobreza dentro dos termos da própria economia de mercado. 119 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Para refletir Vamos pensar um pouco mais? Veja a situação a seguir e reflita. Situação: Acredito que podemos criar um mundo sem pobreza, porque ela não é criada pelos pobres. Ela é criada e mantida pelo sistema econômico e social que elaboramos para nós mesmos; as instituições e os conceitos que fazem parte desse sistema; as políticas que seguimos. (YUNUS, 2008, p. 246) Proposta: O que você pensa a respeito da afirmação de Yunus? Resumo Antes que você faça os exercícios, vamos relembrar os pontos mais importantes já discutidos até agora: A partir de 1970, as economias de todo o mundo passam a sofrer com o processo de inflação (processo caracterizado pelo aumento do nível de preços e pela perda do poder aquisitivo da moeda). A inflação surge sob diferentes formas: inflação de demanda, de oferta e inercial. Resolvido o problema inflacionário, o mundo desenvolvido passa a disseminar o discurso globalizador: também conhecido como neoliberalismo, esse discurso defenderá o receituário de não intervenção do Estado na economia. Como consequência da globalização, nota‑se o aumento da pobreza e da desigualdade social. Em razão disso, os economistas desenvolvem parâmetros que, em vez de mensurar o crescimento, buscam medir o desenvolvimento econômico. Assim, temos uma série de problemas ainda a resolver: a) Dado que os recursos são finitos e escassos, há que se equacionar as dificuldades de expansão das fronteiras de produção; 120 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 b) Considerando que o modelo de oferta e de demanda que nos permite a identificação do ponto de equilíbrio é apenas teórico e ideal, temos que criar as condições que se traduzam em satisfação para consumidores e ofertantes de bens e serviços; c) Considerando as diferenças entre crescimento e desenvolvimento, temos que criar as condições para que esses dois processos ocorram simultaneamente; d) Considerando a distância entre o Estado mínimo e o Welfare State, temos que criar as condições mais adequadas para a participação do Estado na economia. EXERCÍCIOS Questão 1. Analise o seguinte texto: “ (...) no gráfico 1, temos a evolução da renda média da população economicamente ativa para as décadas de 60, 70, 80 e 90, tendo 1960 como base. No gráfico 2, temos as Curvas de Lorenz para os mesmos períodos. Lembre‑se: “a Curva de Lorenz é a curva que se forma pela união dos pontos bi‑ dimensionais onde em um eixo (eixo y) temos a proporção acumulada da renda apropriada, e no outro eixo (eixo x) a proporção acumulada da população. Quando a distribuição é perfeita, a Curva de Lorenz assume a forma de uma reta de 45º. Nesse caso, a proporção da renda apropriada é sempre igual à proporção acumulada da população: 10% da população ganha 10% da renda, 20% da população ganha 20% da renda etc” (adaptado de BARROS e MENDONÇA, s. d.). 1960 1970 1980 1990 0 50 100 150 250 200 Ano Re nd a m éd ia Gráfico 11: Nível de renda média da população economicamente ativa 121 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1970 1990 1980 1960 Gráfico 12: Curva de Lorenz FONTES: Construído com base nos dados dos Censos Dermográficos de 1960, 1970, 1980 e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios de 1990 (a distribuição utilizada é a da população economicamente ativa segundo a renda individual). A análise do texto e dos gráficos apresentados permite afirmar que: I – Entre 1960 e 1970, a desigualdade social aumentou, embora a renda média tenha crescido. II – Entre 1960 e 1970, a desigualdade social diminuiu em função do aumento da renda média. III – A renda média é um bom indicador de igualdade social. Assinale a alternativa que contém a(s) afirmativa(s) correta(s): A) I. B) II. C) III. D) I e III. E) I e II. Resposta correta: alternativa A. 122 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Análise das afirmativas: Afirmativa I: correta. Justificativa:a renda média efetivamente cresceu da década de 1960 para 1970; ainda, como o segundo gráfico nos mostra, a “barriga” da Curva de Lorenz aumentou, indicando um aumento da desigualdade social. Afirmativa II: incorreta. Justificativa: embora a renda média tenha crescido no período indicado, a desigualdade social aumentou, conforme pode ser observado no segundo gráfico. Afirmativa III: incorreta. Justificativa: como vimos no livro‑texto, a renda média, per si, não é um bom indicador de igualdade social. Afinal, na média, a população pode ter ficado mais rica; no entanto, se a riqueza ficou concentrada, a desigualdade social só fez aumentar. Questão 2. Leia o texto, o gráfico e a tabela que seguem: “(...) O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq, com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da “felicidade” das pessoas, nem indica “o melhor lugar no mundo para se viver”. Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi‑lo pelo poder de compra da moeda em cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (Paridade do Poder de Compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um (...).” (adaptado de SEM, 1999). A seguir, são apresentados o gráfico de IDH e a tabela com a expectativa de vida ao nascer nos estados brasileiros em 2005: 123 ECONOMIA E NEGÓCIOS Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 ID H RO AC AM RR PA AP TO MA PI CE RN PB PE AL SE BA MG ES RJ SP PR SC RS MS MT GO DF 0,9 0,85 0,8 0,75 0,7 0,65 0,6 Estados brasileiros Gráfico 13 – IDH ‑ Estados brasileiros 2005 Fonte: PNUD/Fundação João Pinheiro. Esperança de vida ao nascer Anos de vida esperados – Brasil (2005) UF Anos de vida esperados Rondônia 70,63 Acre 70,81 Amazonas 71,03 Roraima 69,3 Pará 71,39 Amapá 69,75 Tocantins 70,69 Maranhão 66,83 Piauí 68,17 Ceará 69,58 Rio Grande do Norte 69,75 Paraíba 68,26 Pernambuco 67,52 Alagoas 65,95 Sergipe 70,27 Bahia 71,44 Minas Gerais 74,1 Espírito Santo 73,14 Rio de Janeiro 72,44 São Paulo 73,66 Paraná 73,51 Santa Catarina 74,78 124 Unidade III Re vi sã o: - Di ag ra m aç ão : E ve rt on - 2 9/ 04 /1 1 // Re di m en sio na m en to - G er al do - C or re çã o: M ár ci o - 17 /0 1/ 20 12 Rio Grande do Sul 74,5 Mato Grosso do Sul 73,19 Mato Grosso 72,57 Goiás 72,82 Distrito Federal 74,87 Quadro 5 – Fonte: IBGE/Projeções demográficas preliminares Após a análise dos dados anteriores, julgue as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta. I ‑ Não existe relação entre o IDH e a expectativa de vida ao nascer, pois os únicos fatores utilizados para o cálculo do IDH são a longevidade, a educação e a renda. II ‑ Em 2005, o estado brasileiro com menor IDH foi o que apresentou a menor expectativa de vida ao nascer, e o estado brasileiro com maior IDH foi o que apresentou a maior expectativa de vida ao nascer. III ‑ Em 2005, os estados brasileiros com mesmos IDHs apresentavam as mesmas expectativas de vida ao nascer. IV ‑ Em relação aos estados brasileiros, em 2005, a diferença percentual do menor IDH para o maior IDH, e a diferença percentual da menor expectativa de vida ao nascer para a maior expectativa de vida ao nascer, são iguais. Assinale a alternativa que contém a(s) afirmativa(s) correta(s): A) II. B) II e III. C) I. D) II, III e IV. E) Todas as afirmativas estão corretas. Resolução desta questão na Plataforma. 125 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 PEGADA ECOLÓGICA. Disponível em: <http://assets.wwf.org.br/img/original/mapa.jpg>. Acesso em: 4 nov. 2010. Figura 3 FLUXO CIRCULAR DE RENDA. Disponível em: <http://www.mises.org.br/images/articles/2008/ Novembro%2008/figure1.jpg>. Acesso em: 1º nov. 2010. Figura 4 SEM‑TÍTULO. Fonte: <http://images‑partners.google.com>. Quadro 1 LUCROS DAS EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO EM 2009. Disponível em: <http://blig.ig.com.br/_dias_/ files/2010/03/Lucros_22‑03.jpg>. Acesso em: 1° nov. 2010. Quadro 2 CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS. Disponível em: <http://empretec.sebrae.com.br/2009/10/27/ as‑10‑caracteristicas‑do‑empreendedor>. Acesso em: 1º nov. 2010. Quadro 3 RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DAS ESTRUTURAS DE MERCADO. Adaptado de Nogami e Passos (2003). Quadro 4 O MECANISMO DA CRISE. Disponível em: <http://fernandonogueiracosta.files.wordpress. com/2010/07/3_‑crise‑de‑29‑grande‑depressao11.jpg>. Acesso em: 1º nov. 2010. Quadro 5 ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER ‑ANOS DE VIDA ESPERADOS – BRASIL (2005). 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