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Sobre a conjugação dos verbos período ou ainda no mesmo verso. Quinto Cícero, naquele breve tratado em que transmite a Marcos, seu irmão, conselhos para se tornar cônsul, mistura os dois com grande freqüência; c. 8, 29: “Cura ut tui cupidi sint, elaborate, appetito, allegato, summo beneficio te affici ostendito" \Zela por que te desejem, aplica-te, procura, transmite, faz saber a todos que reconheces como é grande o benefício que te fazem]. Virgílio, Ecloga IX, v.23: Tityre, dum redeo (brevis est Nwfpasce capellas; et potum pastas age, Tityre, et inter agendum occursare capro (cornu ferit ille) caveto. [Títiro, até que eu volte (não é longa minha viagem), apascenta minhas cabras e depois de apascentá-las leva-as a tomar água, Títiro, e enquanto as levas cuida para não esbarrares no bode (ele machuca com o chifre)]. Plauto, Poenulus, ato V, cena 2, v. 116: Ago.: Mi patrue, salve\ Poen.: Et tu salveto, Agorastocles. [Agorástocles: Olá, meu tio! Pênulo: Olá a ti também, Agorástocles], Porém, não é porque um é usado pelo outro ou porque têm ambos o mesmo significado no mesmo período que se deve concluir que haja apenas um único tempo. Os gregos, é certo, têm o seu presente, têm o seu aoristo primeiro e segundo, e não apenas usam o aoristo no lugar do presente, como ainda não raro inserem ambos no mesmo período e até no mesmo verso, com o mesmo significado; ninguém, porém, até hoje ousou fazer dos dois aoristos e do único presente um só tempo. Além disso, repara que os mais sérios autores às vezes usam o presente do subjuntivo no lugar do futuro do mesmo modo; nem por isso, contudo, alguém alguma vez afirmou tratar-se de um só tempo. “Mas”, dirá alguém, “as formas sunto, agunto [imperativo futuro de terceira pessoa do plural] são explicadas pelos gramáticos como sint, agant [subjuntivo presente de terceira pessoa do plural], e derivam do presente do indicativo acrescido da letra o”. Com este mesmo argumento aqueles que removem do imperativo o tempo futuro ensinarão também que valebis, curabis, exspectabis, e milhares de outras formas, são do tempo presente. Cícero, Ad Familiares, 1. VII, ep. 20, 2: “Sed valebis, meaque negotia videbis, meque, diis iuvantibus, ante brumam exspectabis' [Masfica bem, cuida os meus negócios, e, se assim quiserem os deuses, me espera antes do inverno]. Com efeito, esses gramáticos ensinam que tais formas foram usadas no lugar de vale, cura, exspecta. Tampouco a maneira por que se formam os tempos faz alguma diferença, uma vez que o futuro do indicativo deriva do presente, e o do subjuntivo, do pretérito. Nem 201 De verborum coniugatione ut legito tu, legito ille, ut est apud Virgilium.y^w. V, v.314: Tertius Argolica hac galea contentus abito. Nam si dicam: legito, legat, legito quidem est tempus futurum; legat vero praesens. Item tertia persona pluralis his regulis continetur. Indicativo modo tempore praesenti, tertia plurali, numero plurali o accipit et facit hanc personam imperativi modi per omnes coniugationes: amant, amanto\ docent, docento\ legunt, legunto\ nutriunt, nutriunto', quod servavere maiores, ut Horatius, Arte. poet, v, 100: Et quocumque volent animum auditoris agunto. Nam, si diceret agant tempus praesens ostenderet non futurum”. Haec Servius ad verbum. Diomedes, cuius testimonio nituntur sententiam confirmare, copiose de futuro imperativi agit 1. I, p. 329, Atque inter alia ita inquit: “Quern sermonem nonnulli consueverunt Mandativum potius, quam imperativum dicere, quoniam praesenti tempore imperare solemus, ut flat, in futurum vero magis mandare". Haec ille. In qua sententia fuit Cornelius Fronto, p. 2197; sic enim in Differentiis ait: Videte, et Videtote. Videte imperat. Videtote mandat. Agunto, amanto, legunto et caetera huius generis negat Diomedes hoc loco esse mandativa, sine futuri temporis: siquidem docet futurum imperativi proprie secundam personam utriusque numeri tantum habere, et has voces praesenti attribuit: quamvis easdem voces in declinandis verbis semper futuro, ut caeteri omnes grammati, attribuat. Sed, ut eo unde digressi sumus, redeamus, licet praesens, et futurum, ut dixi, reciprocentur, mutuasque tradant operas, videas tamen autores saepe futuro proprie utentes. Cic ad Atticum, 1. IV, ep. 8, 4: “Ubi nihil erit quod scribas, id ipsum scribito. Idem ad eundem, 1. I, ep. 12, 4: “Tu velim saepe ad nos scribas, si nullam rem habebis, quod in buccam venerit, scribito". Idem ad Fam., 1. XVI, ep. 6, 1: “Cum valetudinis rationem, ut spero, habueris, habeto etiam navigationis” Idem 1. II, c. 33, 81: “Cum haec confessus eris quae in foro palam Syracusis in ore atque in oculis provinciae gesta sunt, negato sane, si voles, pecuniam accepisse”. IdemAz Vatinium, c. 4, 10: “Turn memoriter 202 Sobre a conjugação dos verbos tampouco Sérvio está de acordo com eles, pois ensina, In Donati Artem II, com os mais eloqüentes argumentos que agant é do tempo presente, agunto, do futuro. Diz ele: “O imperativo tem apenas dois tempos: o presente e o futuro, etc.”; e pouco depois: “Ao tempo futuro falta a primeira pessoa, tanto singular quanto plural; a segunda e a terceira compartilham a mesma forma, pois se diz legito tu assim como legito ille, como lemos em Virgílio, Eneida V, v. 314: Tertius Argolica hac galea contentus abito [O terceiro vá embora satisfeito com o capacete argólico]. Pois se eu disser legito e legat, legito será do tempo futuro, legat, do presente. A terceira pessoa do plural está encerrada também nestas regras. A terceira pessoa do modo indicativo no tempo presente recebe a desinência o e faz esta forma de terceira pessoa do modo imperativo em todas as conjugações: de amant, amanto', de docent, docento', de legunt, legunto\ de nutriunt, nutriunto. Esta regra foi observada pelos antigos, como Horácio na Arte Poética, v. 100: E levem o espírito do ouvinte aonde queiram. Pois se dissesse agant, seria o tempo presente, não futuro”. Até aqui reproduzí as palavras de Sérvio. Diomedes, em cuja autoridade baseiam sua opinião, trata em abundância do imperativo, 1.1, e, entre outras coisas, fala isto: “Tal forma muitos costumam chamar de mandativa em vez de imperativa, pois no tempo presente costumamos dar ordens \imperare\, no futuro, confiar com alguma missão \m andaref. Isto é o que diz Diomedes. Desta mesma opinião foi Cornélio Frontão; no seu livro sobre as Diferenças entre nomes e entre verbos, diz assim: “Videte e videtote’. videte dá uma ordem, videtote encarrega alguém de uma missão”. Diomedes nega que agunto, amanto, legunto e outras formas do mesmo tipo sejam de modo mandativo ou do tempo futuro, pois ensina que o futuro do imperativo contém em sentido próprio apenas a segunda pessoa dos dois números; estas formas, por sua vez, ele as inclui no presente, ainda que nas declinações dos verbos as coloque, como os demais gramáticos, entre as formas do futuro. Mas para voltar ao ponto de onde partimos, ainda que o presente e o futuro possam ser usados sem diferença de significado e tome um a função do outro, verás também que os autores amiúde usam o futuro em sentido próprio. Cícero, adAtticum, 1. IV, ep. 8, 4: “Ubi nihil erit quod scribas, id ipsum scribito" [Quando nada tiveres para escrever, escreve isto mesmo]. E no livro I, ep. 12, 4: “Tu velim saepe ad nos scribas; si rem nullam habebis quod in buccam venerit, scribito" [Quanto a ti, eu gostaria que nos escrevesses com freqüência; ainda que não te venha nada à boca, escreve]. E ad Fam., 1. XVI, ep. 6,1: “Cum valetudinis rationem, ut spero, habueris, habeto etiam navigationis” [Quando recuperares a saúde, como espero, acha também um tempo para navegar para cá]. E nas Verrinas, 1. II, c. 33, 81: “Cum 203