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Coleção de Artes Liberais Vol 3 Gramática-202-204


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Sobre a conjugação dos verbos
período ou ainda no mesmo verso. Quinto Cícero, naquele breve tratado 
em que transmite a Marcos, seu irmão, conselhos para se tornar cônsul, 
mistura os dois com grande freqüência; c. 8, 29: “Cura ut tui cupidi sint, 
elaborate, appetito, allegato, summo beneficio te affici ostendito" \Zela por 
que te desejem, aplica-te, procura, transmite, faz saber a todos que reconheces 
como é grande o benefício que te fazem]. Virgílio, Ecloga IX, v.23:
Tityre, dum redeo (brevis est Nwfpasce capellas; 
et potum pastas age, Tityre, et inter agendum 
occursare capro (cornu ferit ille) caveto.
[Títiro, até que eu volte (não é longa minha viagem), apascenta minhas 
cabras e depois de apascentá-las leva-as a tomar água, Títiro, e enquanto 
as levas cuida para não esbarrares no bode (ele machuca com o chifre)].
Plauto, Poenulus, ato V, cena 2, v. 116: Ago.: Mi patrue, salve\ Poen.: Et tu 
salveto, Agorastocles. [Agorástocles: Olá, meu tio! Pênulo: Olá a ti também, 
Agorástocles],
Porém, não é porque um é usado pelo outro ou porque têm ambos o 
mesmo significado no mesmo período que se deve concluir que haja apenas 
um único tempo. Os gregos, é certo, têm o seu presente, têm o seu aoristo 
primeiro e segundo, e não apenas usam o aoristo no lugar do presente, 
como ainda não raro inserem ambos no mesmo período e até no mesmo 
verso, com o mesmo significado; ninguém, porém, até hoje ousou fazer dos 
dois aoristos e do único presente um só tempo. Além disso, repara que 
os mais sérios autores às vezes usam o presente do subjuntivo no lugar 
do futuro do mesmo modo; nem por isso, contudo, alguém alguma vez 
afirmou tratar-se de um só tempo. “Mas”, dirá alguém, “as formas sunto, 
agunto [imperativo futuro de terceira pessoa do plural] são explicadas pelos 
gramáticos como sint, agant [subjuntivo presente de terceira pessoa do 
plural], e derivam do presente do indicativo acrescido da letra o”. Com este 
mesmo argumento aqueles que removem do imperativo o tempo futuro 
ensinarão também que valebis, curabis, exspectabis, e milhares de outras 
formas, são do tempo presente. Cícero, Ad Familiares, 1. VII, ep. 20, 2: 
“Sed valebis, meaque negotia videbis, meque, diis iuvantibus, ante brumam 
exspectabis' [Masfica bem, cuida os meus negócios, e, se assim quiserem os 
deuses, me espera antes do inverno]. Com efeito, esses gramáticos ensinam 
que tais formas foram usadas no lugar de vale, cura, exspecta. Tampouco a 
maneira por que se formam os tempos faz alguma diferença, uma vez que o 
futuro do indicativo deriva do presente, e o do subjuntivo, do pretérito. Nem 
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De verborum coniugatione
ut legito tu, legito ille, ut est apud Virgilium.y^w. V, v.314: Tertius Argolica 
hac galea contentus abito.
Nam si dicam: legito, legat, legito quidem est tempus futurum; legat vero 
praesens. Item tertia persona pluralis his regulis continetur. Indicativo 
modo tempore praesenti, tertia plurali, numero plurali o accipit et facit 
hanc personam imperativi modi per omnes coniugationes: amant, amanto\ 
docent, docento\ legunt, legunto\ nutriunt, nutriunto', quod servavere maiores, 
ut Horatius, Arte. poet, v, 100: Et quocumque volent animum auditoris 
agunto.
Nam, si diceret agant tempus praesens ostenderet non futurum”. Haec 
Servius ad verbum. Diomedes, cuius testimonio nituntur sententiam 
confirmare, copiose de futuro imperativi agit 1. I, p. 329, Atque inter alia 
ita inquit: “Quern sermonem nonnulli consueverunt Mandativum potius, 
quam imperativum dicere, quoniam praesenti tempore imperare solemus, 
ut flat, in futurum vero magis mandare". Haec ille. In qua sententia fuit 
Cornelius Fronto, p. 2197; sic enim in Differentiis ait: Videte, et Videtote. 
Videte imperat. Videtote mandat. Agunto, amanto, legunto et caetera huius 
generis negat Diomedes hoc loco esse mandativa, sine futuri temporis: 
siquidem docet futurum imperativi proprie secundam personam utriusque 
numeri tantum habere, et has voces praesenti attribuit: quamvis easdem 
voces in declinandis verbis semper futuro, ut caeteri omnes grammati, 
attribuat. Sed, ut eo unde digressi sumus, redeamus, licet praesens, et 
futurum, ut dixi, reciprocentur, mutuasque tradant operas, videas tamen 
autores saepe futuro proprie utentes.
Cic ad Atticum, 1. IV, ep. 8, 4: “Ubi nihil erit quod scribas, id ipsum 
scribito. Idem ad eundem, 1. I, ep. 12, 4: “Tu velim saepe ad nos scribas, 
si nullam rem habebis, quod in buccam venerit, scribito". Idem ad Fam., 1. 
XVI, ep. 6, 1: “Cum valetudinis rationem, ut spero, habueris, habeto etiam 
navigationis” Idem 1. II, c. 33, 81: “Cum haec confessus eris quae in foro 
palam Syracusis in ore atque in oculis provinciae gesta sunt, negato sane, 
si voles, pecuniam accepisse”. IdemAz Vatinium, c. 4, 10: “Turn memoriter 
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Sobre a conjugação dos verbos
tampouco Sérvio está de acordo com eles, pois ensina, In Donati Artem II, 
com os mais eloqüentes argumentos que agant é do tempo presente, agunto, 
do futuro. Diz ele: “O imperativo tem apenas dois tempos: o presente e 
o futuro, etc.”; e pouco depois: “Ao tempo futuro falta a primeira pessoa, 
tanto singular quanto plural; a segunda e a terceira compartilham a mesma 
forma, pois se diz legito tu assim como legito ille, como lemos em Virgílio, 
Eneida V, v. 314: Tertius Argolica hac galea contentus abito [O terceiro vá 
embora satisfeito com o capacete argólico].
Pois se eu disser legito e legat, legito será do tempo futuro, legat, do 
presente. A terceira pessoa do plural está encerrada também nestas regras. A 
terceira pessoa do modo indicativo no tempo presente recebe a desinência 
o e faz esta forma de terceira pessoa do modo imperativo em todas as 
conjugações: de amant, amanto', de docent, docento', de legunt, legunto\ de 
nutriunt, nutriunto. Esta regra foi observada pelos antigos, como Horácio 
na Arte Poética, v. 100: E levem o espírito do ouvinte aonde queiram.
Pois se dissesse agant, seria o tempo presente, não futuro”. Até aqui 
reproduzí as palavras de Sérvio. Diomedes, em cuja autoridade baseiam 
sua opinião, trata em abundância do imperativo, 1.1, e, entre outras coisas, 
fala isto: “Tal forma muitos costumam chamar de mandativa em vez de 
imperativa, pois no tempo presente costumamos dar ordens \imperare\, no 
futuro, confiar com alguma missão \m andaref. Isto é o que diz Diomedes. 
Desta mesma opinião foi Cornélio Frontão; no seu livro sobre as Diferenças 
entre nomes e entre verbos, diz assim: “Videte e videtote’. videte dá uma ordem, 
videtote encarrega alguém de uma missão”. Diomedes nega que agunto, 
amanto, legunto e outras formas do mesmo tipo sejam de modo mandativo 
ou do tempo futuro, pois ensina que o futuro do imperativo contém em 
sentido próprio apenas a segunda pessoa dos dois números; estas formas, 
por sua vez, ele as inclui no presente, ainda que nas declinações dos verbos 
as coloque, como os demais gramáticos, entre as formas do futuro. Mas para 
voltar ao ponto de onde partimos, ainda que o presente e o futuro possam 
ser usados sem diferença de significado e tome um a função do outro, verás 
também que os autores amiúde usam o futuro em sentido próprio.
Cícero, adAtticum, 1. IV, ep. 8, 4: “Ubi nihil erit quod scribas, id ipsum 
scribito" [Quando nada tiveres para escrever, escreve isto mesmo]. E no livro 
I, ep. 12, 4: “Tu velim saepe ad nos scribas; si rem nullam habebis quod 
in buccam venerit, scribito" [Quanto a ti, eu gostaria que nos escrevesses 
com freqüência; ainda que não te venha nada à boca, escreve]. E ad Fam., 1. 
XVI, ep. 6,1: “Cum valetudinis rationem, ut spero, habueris, habeto etiam 
navigationis” [Quando recuperares a saúde, como espero, acha também 
um tempo para navegar para cá]. E nas Verrinas, 1. II, c. 33, 81: “Cum 
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