Prévia do material em texto
Em razão da queda nas exportações desde 2011, para fazer frente à diminuição no preço das commodities no mercado internacional e também à formação dos novos e grandes blocos comerciais estruturados recentemente, o Brasil vem procurando estabelecer novos acordos comerciais. Observe o mapa (figura 8). EQUADOR CÍRCULO POLAR ÁRTICO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO TRÓPICO DE CÂNCER OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO ÍNDICO OCEANO ATLÂNTICO 0° 0° PALESTINA M E R ID IA N O D E G R E E N W IC H ISRAEL 1996 1997 2002 2005 2005 2007 2009 2010 África do Sul, Namíbia, Botsuana, Lesoto e Suazilândia (Sacu)2008 Egito2010 Palestina2011 Acordos tarifários firmados pelo Brasil (por meio do Mercosul) Acordos tarifários negociados, mas ainda sem vigência 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Acordos tarifários que o Brasil deseja negociar Acordos de compras gover namentais que o Brasil está negociando União Europeia Ampliação do acordo com o México Ampliação do acordo com Cuba México Peru Colômbia Tunísia Canadá Líbano EFTA (Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein) México Peru Colômbia, Equador e Venezuela Índia Israel Chile Bolívia Cuba 1 2 3 4 5 6 9 10 8 7 N 0 2.360 km Figura 8. Brasil: acordos comerciais em negociação – 2015 MULTINACIONAIS BRASILEIRAS O protecionismo é uma prática utilizada pelos países desenvolvidos em vários setores nos quais suas empresas não são competitivas. Diversos produtos agropecuários brasilei- ros e de outros setores, como da indústria siderúrgica, enfrentam restrições para ingressar nos mercados estadunidense, da União Europeia e do Japão. Esses países, muitas vezes, utilizam-se do chamado protecionismo disfarçado, como você viu no capítulo anterior. Nesse contexto, mas não somente por conta do protecionismo, empresas brasilei- ras vêm ampliando sua atuação em outros países, com abertura de filiais e compra de outras empresas: são as multinacionais brasileiras. Esse processo é chamado de internacionalização de empresas e também vem ocorrendo com as franquias dos setores de alimentação, grifes de roupas, locação de veículos, entre outras. Observe o gráfico da página ao lado (figura 9). Algumas das multinacionais brasileiras são: Embraer (fabricante de aviões); Itaú/ Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil (bancos); Marfrig, Brasil Foods e JBS Friboi (alimentos); Suzano e Fíbria (papel e celulose); Alpargatas (calçados e lonas para caminhões); Petrobras (petróleo e derivados); Vale (mineração); Odebrecht, Mendes Junior e Camargo Correa (construção civil); Ambev – que se uniu à Interbrew, da Bélgica (bebidas), dando origem à AB InBev; Gerdau, CSN e Usiminas (aço). Caso veja necessidade, comentar com os estudantes sobre empresas de outros setores: Sabó (autopeças); Ci&T Software e Stefanini IT Solutions (tecnologia da informação); Marco- polo (veículos automotores e carroce- rias); Metalfrio (refrigeradores); Natura (cosméticos e higiene pessoal); Tigre (material de construção); Agrale (veí- culos automotores e implementos); Azaleia (calçados); Localiza (locação de veículos), Vivenda do Camarão e Giraffas (alimentação), Cia. Hering (lojas de roupas), Fitesa (fabricante de não tecidos para descartáveis higiê- nicos e médicos), que, inclusive, em 2015 era a empresa mais internacio- nalizada, ou seja, com mais de 70% de sua receita originária do exterior. Fonte: Folha de S.Paulo, 7 ago. 2015, p. A-17 D A C O S T A M A P A S 120 Unidade 2 | Economia mundial e globaliza•‹o TS_V2_U2_CAP05_108_123.indd 120 17/05/16 19:35 Nesse grupo não se desta- cam as empresas de tecnologia de ponta, mas elas estão distri- buídas por todos os continentes, sendo que somente o continente sul-americano concentra mais de 80% delas, com destaque para a Argentina. A China é o país fora das Américas com mais filias de multinacionais brasileiras. BALANÇO DE PAGAMENTOS O balanço de pagamentos é a soma de todas as transações econômicas realizadas por um país com o resto do mundo. Essas transações envolvem o comércio de bens (balança comercial), o comércio de serviços (fretes, turismo, comércio eletrônico, ser- viços de telecomunicações, aluguel de satélite e outros equipamentos, venda de informações, royalties) e empréstimos internacionais com o FMI, o Banco Mundial ou outra instituição financeira. Há também um grupo de transações correntes na balança de pagamentos que é o movimento de capitais, formado por empréstimos, financiamentos e investimentos, inclusive os IEDs (Investimentos Estrangeiros Diretos). No balanço de pagamentos estão incluídas também as rendas remetidas por pessoas que trabalham em outro país (transações unilaterais), além dos juros pagos sobre a dívida externa. Em geral, o maior responsável por essa dívida nos países é o governo. Na série de acordos que o Brasil realizou com o FMI, entre o final do século XX e o início do século XXI, o país se comprometeu a reduzir gastos, para economizar recur- sos necessários para o pagamento dos juros (superávit primário). Leia o Entre aspas. A dívida pública no Brasil atingiu valores elevados nas últimas décadas, e todo o esforço realizado para atingir as metas de superávit primário estabelecidas pelo FMI, o qual envolve até corte de gastos sociais em saúde, educação e infraestrutura, foi insuficiente para pagar os juros, acarretando déficit. Em fevereiro de 2008, a imprensa deu grande destaque ao fato de o Brasil, pela primeira vez ao longo de sua história, ter se tornado um país credor do sistema financeiro internacional. As reservas internacionais e os depósitos em bancos no exterior, entre outros, superavam em cerca de 4 bilhões de dólares a dívida externa total (ou dívida externa bruta), que no mesmo mês era de aproximadamente 180 bilhões de dólares. Nesse contexto, com estabilidade econômica e dívidas, tanto internas como exter- nas, sob controle, a nota do Brasil nas três principais agências de avaliação de risco, Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, entrou para o patamar de grau de investimento (capacidade de bom pagador). Entretanto, a partir de 2014, esse cenário de estabilidade econômica com controle das dívidas do governo se alterou de modo significativo, como visto anteriormente. Com dívida pública em elevação, inflação ascendente, crescimento do PIB negativo, as três principais agências de risco baixaram a nota de avaliação do Brasil para grau especulativo, tirando o selo de bom pagador, entre 2015 e 2016. Esclareça aos estudantes que royalty é o valor cobrado sobre o uso de marcas (franchising), de patentes, exploração de recursos naturais, direitos autorais etc. Dívida externa Soma dos débitos contraídos pelo governo e por empresas de um país no exterior. Super‡vit prim‡rio Ocorre quando o valor que o governo arrecada com impostos, taxas e tarifas é superior às despesas, como o pagamento de funcionários públicos, aposentados e inves- timentos em educação, saúde, cultura e outros. Esse dinheiro é destinado ao pagamento da dívida pública. O superávit primário indica a capacidade que um país tem de honrar seus compromissos. Por outro lado, o corte excessivo nos gastos do governo na tenta- tiva de aumentar o superávit primário impossibilita investi- mentos em infraestrutura, não contribui para o crescimento econômico e inviabiliza o aten- dimento às deman- das sociais. Figura 9. Mundo: presença das multinacionais brasileiras – 2015 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 81% 70% 16% 21% 26% 29% 33% 36% América do Sul América do Norte Europa África América Central e Caribe Ásia Oriente Médio Oceania E m p re s a s q u e p o s s u e m s u b s id iá ri a s o u fr a n q u ia s n e s s a s r e g iõ e s ( em % ) Fonte: Fundação Dom Cabral. Ranking FDC das Multinacionais Brasileiras 2015. p. 55. Disponível em: <www.fdc.org.br>.Acesso em: jan. 2016. L U IZ F E R N A N D O R U B IO 121Capítulo 5 – Questão do desenvolvimento e Brasil no mundo globalizado TS_V2_U2_CAP05_108_123.indd 121 17/05/16 19:35 Indicadores socioambientais “No oeste paranaense, um grupo de municípios decidiu elaborar um conjunto de indicadores de qualidade de vida. Identificaram como indicadores a taxa de analfabetismo, o déficit habitacional, a taxa de favelamento, a taxa de atendimento com água tratada, a taxa de coleta e de tratamento de esgotos, o consumo de energia elétrica, o percen- tual de coleta seletiva de lixo, o índice de área verde na cidade, a mortalidade infantil, a esperança de vida ao nascer, a taxa de homicídios, o nível de emprego, a renda per capita e alguns outros. Cada um desses indicadores pode ter diversos sentidos. No entanto, tomados como bateria, permitem ter uma noção simples e clara da evolução da qualidade de vida na cidade. Na cidade de Jacksonville, nos Estados Unidos, as ONGs locais elaboram anual- mente um relatório sobre a qualidade de vida na cidade [...]. Em outros termos, em vez de votar no candidato que distribui mais camisetas na véspera da eleição, a população pode passar a votar no administrador que apresenta resultados concretos em termos de melhoria da qualidade de sua vida. Tomados no seu conjunto, indicadores sistemati- zados constituem um poderoso instrumento de conhecimento da realidade. [...] Um conjunto típico de indicadores nos é forne- cido pelo Banco Mundial, que publica anualmente o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial. Mas o Banco Mundial considera que no centro do processo do desenvolvimento está o PIB e, em consequência, concentra os seus indicadores na medição da produ- ção econômica [...]. Desenvolvimento humano A partir de 1990, as Nações Unidas resolveram mudar o raciocínio. Primeiro, vendo que o PIB não basta para saber se um país está bem ou não, acres- centaram indicadores de educação e de saúde: nas- ceu assim o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo, inverteram a prioridade das coisas: enquanto o Banco Mundial achava que a educação é coisa boa, pois as pessoas trabalhariam melhor nas empresas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que elabora anualmente o Relatório sobre o Desenvolvimento Humano, con- sidera que ter uma vida com saúde, educação, cul- tura, habitação, segurança e meio ambiente é o que queremos. Ou seja, o objetivo é o socioambiental e as empresas são apenas um meio. Essa virada teve grande importância, pois colocou o ser humano e o seu meio ambiente no centro das preocupações. […] O próprio mundo empresarial teve de começar a se adaptar: não basta um banco, por exemplo, encher o bolso dos seus acionistas. A sua atividade está sendo socialmente útil? Os direitos trabalhistas estão sendo respeitados? O seu produto melhora a quali- dade de vida da sociedade? Nascia assim um conjunto de metodologias de elaboração de indicadores que permitem hoje avaliar a responsabilidade social e ambiental das empresas. Esse tipo de avaliação per- mite que se hierarquizem as empresas em função da sua utilidade social e ambiental e que as pessoas possam, por exemplo, fazer aplicações financeiras em função dessa utilidade, ou comprar de empresas que não utilizem agrotóxicos e assim por diante. […] Na realidade, gerar instrumentos que per- mitam à população avaliar o ‘progresso genuíno’ e a sua qualidade de vida, o que Jean Gadrey chama de ‘performance societal’, tende a reequilibrar os critérios de decisão na sociedade.” DOWBOR, Ladislau. Indicadores sistematizados constituem um poderoso instrumento de conhecimento da realidade. Almanaque socioambiental 2008. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2007. p. 446-447. Vale comentar com os estudantes que, em junho de 2012, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) elaborou um novo indicador para classificar os países, que considera informações referentes ao capital humano, natural e manufaturado de 20 países, a fim de, possivelmente, substituir o PIB (Produto Interno Bruto), que tem um caráter mais restrito, pois considera apenas o aspecto econômico. 1. Qual é a importância dos indicadores para a sociedade? 2. Que crítica o autor faz em relação aos indicadores que valorizam a produção econômica? 3. Por que recentemente os indicadores tornaram-se instrumentos fundamentais nas políticas de desenvolvimento? 4. Você conhece ou faz uso de algum desses indicadores? Comente. 122 Unidade 2 | Economia mundial e globalização TS_V2_U2_CAP05_108_123.indd 122 17/05/16 19:35