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Lições de Educação Clássica, Liberal e Católica Prof. Clistenes Hafner Fernandes do Instituto Hugo de São Vítor Otium, Catulle, tibi molestum est, Otio exsultas nimiumque gestis, Otium et reges prius et beatas Perdidit urbes. (Catulli carmen LI) Lição I Meu aluno, Sim, chamo-te assim porque não sei teu nome e porque acredito que, se tens este livro em mãos, queres estudar comigo. Qual a diferença entre tu te matriculares num curso e leres um livro? Formalmente, nenhuma. Eu preferiria que estivéssemos frente a frente, pois nada substitui o contato direto do aluno com o professor. Mas já que não é possível, resolvi te escrever estas aulas para que possas, mesmo à distância temporal ou espacial, aprender o que tenho a ensinar. Tenho, pois, algo a ensinar-te. 13 Clístenes Hafner Fernandes Caso contrário, não teria decidido tornar-me professor há alguns anos. Nunca entendi aquela conversa mole de quem diz que professor não está ali para ensinar. Há inúmeros problemas que surgem pelo fato de eu não te conhecer: não sei a tua idade, não conheço a tua fé, não sei ao que aspiras. Sendo assim, peço desculpas se eu for muito genérico ao abordar temas dos quais uma boa exposição depende do conhecimento que temos do interlocutor. O professor precisa de um dom pentecostal ao ensinar, um dom de línguas. Peço ao Espírito Santo que ilumine e abrase o meu e o teu entendimento; o meu para que bem diga, e o teu para que bem escutes. Fora isso, no que depender de mim enquanto criatura, porei grande esforço ao usar os meios que me são oferecidos pelos longos séculos de tradição educacional que me precedem, pois espero que, ao fim destas lições, tu tenhas te convencido de que o caminho da docência precisa sempre de homens novos, que gastem suas vidas conduzindo homens ainda mais novos para fora da caverna de modo a enxergarem o mundo sob o Sol que tudo ilumina. Estas páginas contêm lições sobre educação; é um livro de pedagogia. O nível do discurso que adoto aqui é retórico. Não se trata de uma pesquisa, pois carece das inúmeras referências citadas a exaustão que tornam um texto enfadonho e quase ilegível. Não é um tratado filosófico, pois carece do rigor da argumentação lógica. Por outro lado, também não é um texto poético, pois não lido com o que poderia ser ou ter sido, mas antes com o que deveria ser a partir daquilo que é ou foi; este texto é, como eu disse, retórico. Se é um texto retórico, precisa cumprir com os fins da Arte Retórica. Estas lições precisam ensinar (ou persuadir), mover (hoje em dia, é uma pena, dizemos “motivar”) e deleitar. Este último é o mais difícil dos fins, entretanto, porei todo o esforço em cumpri-lo. A Retórica é uma arte importante para o ofício de um pedagogo. Outro motivo pelo qual adoto um discurso retórico está no título: lições. A Retórica é uma arte quase morta que só tem interessado alguns poucos críticos literários e um número menor ainda de pesquisadores da publicidade e da propaganda. Ela está morta como estão mortos o 14