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EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.a CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista Av. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 3 SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 07 18 28 40 50 62 74 84 98 111 118 VIAGEM PELA HISTÓRIA ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS – DA SUA GÊNESE AOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS MÍDIAS E COMPUTADORES NA EDUCAÇÃO – COMO TUDO COMEÇOU SABERES NECESSÁRIOS AOS EDUCADORES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO 4.0 MODALIDADES DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM: DIMENSÕES, RECURSOS E EXEMPLOS TEORIAS DE APRENDIZAGEM NA ERA DIGITAL E INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS ESTILOS DE APRENDIZAGEM, SEGUNDO O MÉTODO VAC, E SISTEMAS ADAPTATIVOS NA WEB MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO- APRENDIZAGEM TRADICIONAIS E CONSTRUTIVISTAS CRIAÇÃO DE TRILHAS DE APRENDIZAGENS USO DO COMPUTADOR E DE OUTROS RECURSOS MULTIMÍDIAS NA EDUCAÇÃO – DEFINIÇÃO DE SOFTWARES EDUCATIVOS AVALIAÇÃO DE SOFTWARES EDUCATIVOS – TENDÊNCIAS ATUAIS EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 SUMÁRIO AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 129 138 150 158 USO DE COMPUTADORES E OUTROS RECURSOS MULTIMÍDIA NA EDUCAÇÃO – SUGESTÕES DE FERRAMENTAS PLANOS DE AULAS COM TICS PROJETOS DE ENSINO COM TICS PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PARA A EaD EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 INTRODUÇÃO Prezada, Prezado, Me sinto honrada por participar com você desta disciplina “Educação e Novas Tecnologias”, porque, assim como você, acredito no potencial das tecnologias de informação e de comunicação (TDICs) para a ampliação das oportunidades educacionais em nosso país. Sabemos que a Educação 4.0/5.0 tem nos desafiado, cada vez mais, a rever práticas e buscar alternativas formativas, tendo em vista o nosso compromisso pedagógico, e com os nossos sonhos e projetos pessoais, acadêmico-profissionais, e institucionais em geral. Desejo fortemente que esta disciplina contribua com a ampliação de seus horizontes ao te seduzir para estudos, aprofundamentos e experiências na área. Nesta disciplina, você vai encontrar, e interagir, com diversas discussões acerca da educação deste século XXI, especialmente às relacionadas à apropriação pertinente das tecnologias e metodologias construtivistas e conectivistas. Nesse sentido, são seus objetivos: • Conhecer o percurso histórico e técnico das tecnologias. • Identificar a inserção dos recursos midiáticos na educação, reconhecendo o seu papel em processos ensino-aprendizagem. • Reconhecer características da Educação 4.0 / 5.0, com destaque para os saberes necessários à atuação dos profissionais da educação nesse contexto. • Diferenciar modalidades educacionais presenciais, à distância (EaD), remotas e híbridas. • Reconhecer as dimensões e os recursos presentes em ambientes virtuais de ensino-aprendizagem (AVAs). • Analisar teorias de aprendizagem: behaviorismo, construtivismo, conectivismo, andragogia, neuropedagogia, e teoria das Inteligências Múltiplas. • Saber aplicar com propriedade os estilos de aprendizagem: método visual, auditivo e cinestésico. • Desenvolver competências e habilidades para o trabalho com Metodologias Ativas. • Desenvolver práticas educativas com base em Metodologias Ativas. EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 • Aprender a utilizar Ambientes de Ensino-aprendizagem Adaptativos na Web (AdaptWeb). • Aplicar com propriedade metodologias de aprendizagem diferenciadas em sistemas adaptativos (u-learning). • Criar trilhas de aprendizagem. • Compreender o uso de algumas ferramentas para a mediação e a avaliação em ambientes na Internet. • Avaliar o uso de softwares na educação. • Utilizar computadores e outros recursos multimídia em processos educativos. • Elaborar planos de aulas, projetos de ensino e materiais didáticos para a EaD intermediados por TICs. Perceba que temos uma longa jornada pela frente, a qual espero que se configure como um importante contributo para você melhor lidar com os desafios inexoráveis da denominada pós-modernidade ou hipermodernidade. Afinal, em tempos contemporâneos, no século XXI, é difícil, ou quase impossível, pensar a educação desconsiderando a presença das TICs, não é mesmo? Então, preparado para a inovação? Vamos juntos nesta jornada? EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 AULA 1 VIAGEM PELA HISTÓRIA ATRAVÉS DAS TECNOLOGIAS – DA SUA GÊNESE AOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS 1.1 INTRODUÇÃO – PARA INICIAR A CONVERSA Atualmente, no século XXI, convivemos com várias tecnologias, não é mesmo? Você já parou para observar, atentamente, e pensar sobre todas as tecnologias que estão ao nosso redor, e com as quais lidamos, às vezes de forma íntima, às vezes nem tanto? De fato, são muitas e variadas tecnologias que são produzidas e utilizadas para objetivos específicos e, às vezes, até reinventadas para fins não projetados quando da sua criação. Afinal, temos um potencial e uma capacidade infinitos para transformar o que criamos em prol das nossas necessidades e dos nossos desejos, certo? Pois é... considerando-se a presença massiva de tantas tecnologias na contemporaneidade, é muito importante, especialmente como profissionais da educação, melhor compreender o que são tecnologias; as suas origens e o seu aprimoramento; e as suas implicações para o desenvolvimento societário, para o desenvolvimento da humanidade. Certamente, com esses conhecimentos, teremos melhores condições de nos apropriar criticamente e criativamente de tecnologias em nossos contextos ensino-aprendizagem. Dessa maneira, esta aula do nosso primeiro encontro tratará da presença das tecnologias no processo de desenvolvimento humano, desde a Antiguidade até o momento contemporâneo. Então, preparado para a nossa viagem? 1.2 TECNOLOGIAS E SUAS IMPLICAÇÕES CIVILIZATÓRIAS: da gênese à pós- modernidade Você já parou para pensar que o ser humano sempre teve que recorrer à determinados instrumentos para desenvolver as suas atividades físicas e cognitivas? Nesses termos, EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 desde a sua origem na Terra, as pessoas criaram, e ainda criam, recursos para transformar a natureza em função das suas necessidades. Considerando-se que as nossas necessidades são múltiplas, os recursos foram sendo aprimorados de forma a possibilitar aos homens a execução de novas tarefas; a satisfação de novas necessidades e novos desejos; e, sobretudo, o desenvolvimento cultural, conforme veremos. Afinal, as nossas necessidades e os nossos desejos são muitos, não é mesmo? Recorrendo à teoria clássica “Hierarquia de necessidades” do psicólogo e pesquisador norte-americano Abraham Maslow, situamos, pelos menos, cinco campos de necessidades humanas, conforme apresenta a figura seguinte. Título: Hierarquia de necessidades, segundo Maslow. Fonte: elaboradapela autora, com fundamentação em Maslow (1943). Maslow (1943) foi muito assertivo em sua teoria; afinal, tal como na música “Comida”, do grupo musical brasileiro Titãs, “[...] A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte [...]” (TITÃS, 1987, s/p). Pois bem... em termos gerais, podemos considerar tecnologia como qualquer artefato, qualquer objeto, criado pelos homens para tornar o seu trabalho mais leve e possível, libertando-os da passividade frente à natureza. Assim sendo, criamos tecnologias, por exemplo, para estender a nossa força física; para amplificar os nossos potenciais sensoriais; aumentar a nossa capacidade comunicacional; e, conforme Lévy (2006), desenvolver o nosso pensamento e a nossa inteligência sobre o mundo e a nossa existência nele. Assim sendo, o termo tecnologia, techné e logos (técnica e razão), não se limita apenas ao instrumento criado para mediar a ação humana, mas corresponde também ao conhecimento decorrente de um conjunto de técnicas específicas que auxiliam o EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 homem a estender sua ação no mundo. As tecnologias, ao mesmo tempo que são criadas para atender às necessidades humanas, geram também novas formas de produzir conhecimento. Considere, pois, que a produção de instrumentos vem evoluindo, desde a fabricação e uso de instrumentos de caça, por exemplo, até a produção de tecnologias sofisticadas, tais como os programas para computador desenvolvidos no contexto da Web 4.0/5.0, conforme veremos. Dessa forma, tal como afirma Chaves (2019, p. 17), “a tecnologia, neste sentido, não é algo novo, na verdade, é quase tão velha quanto o próprio homem, visto como homo creator”. Perceba que quando começamos a criar, e utilizar, uma tecnologia, mudamos o estado inicial das coisas, dos fenômenos, e iniciamos a cultura, ou melhor, as culturas. Ao criarmos tecnologias, transformarmos o mundo, e nunca mais fomos os mesmos. Portanto, a mudança da natureza por meio da ação concreta e simbólica dos homens, ou seja, do seu trabalho, através das tecnologias inventadas/aprimoradas, nos possibilitou a criação da História. Vejamos, então, a origem de algumas produções tecnológicas e a sua evolução nos períodos compreendidos entre a Antiguidade e a Idade Média. Na denominada pré-história, período compreendido entre 2.5 milhões de anos atrás a 3.500 a.C, iniciamos a produção de tecnologias, dentre as quais se destacam as relacionadas às técnicas de agricultura, as quais além de ampliarem a diversificação alimentícia, permitiram o abandono, ou pelo menos, a diminuição da cultura nômade. Ao lado disso, construímos recursos, tais como tijolos e utensílios domésticos, para a fixação dessas moradias. Começamos a “lançar mão” de peles de animais, por exemplo, para nos cobrir, criando as primeiras roupas da história da humanidade. Concebemos os primeiros barcos para deslocamentos e explorações (FAVA, 2016). E, é claro, não podemos esquecer da descoberta do fogo, a qual nos permitiu desenvolver, ainda mais, as nossas possibilidades existenciais. Veja só como que com ferramentas produzidas a partir de pedras, madeiras, ossos, começamos a criar o nosso mundo. Título: Imagem de um martelo sobre pedaços de troncos de árvores. Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/machado-eixo-axe-axis-4205990/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/machado-eixo-axe-axis-4205990/ EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 ISTO ESTÁ NA REDE Você conhece, ou já ouviu falar, do filme “A guerra do fogo”? Esse clássico da filmografia mundial discorre sobre a presença dos homens na terra há cerca de 80.000 anos atrás, em que para sobreviverem tiveram que lidar com um ambiente, por vezes, bastante hostil. Destaca-se, nesse filme, o processo de descoberta do fogo, a qual permitiu que aqueles humanos primitivos pudessem experimentar um salto evolucionário. Essa obra-prima pode ser assistida, em versão completa, com legendas ou em versão em português do Brasil, no Youtube através do link https:// www.youtube.com/watch?v=ibK3UI2YTDE. Vale a pena; anote aí a dica, ok? Na Antiguidade, período compreendido entre 3.500 a.C. até o século V, tivemos o aprimoramento de técnicas agrícolas, especialmente do arado, recurso para trabalhar o solo, pelos povos mesopotâmicos e egípcios. Inventamos a engenharia hidráulica através da criação de canais de irrigação para plantações. Desenvolvemos o transporte por meio de carruagens, tendo em vista que, nesse período, especificamente por volta de 3.500 a.C., engendramos a roda. Começamos a utilizar o vidro, o bronze e o cobre com intensidade, pois já tínhamos o fogo para trabalhar esses materiais. Ressalta- se, ainda, que aperfeiçoamos as armas ao criarmos, por exemplo, a catapulta e os primeiros carros de guerra. Tivemos a invenção da eletricidade estática por Tales de Mileto. Inventamos o primeiro alfabeto e as primeiras línguas (FAVA, 2016). Título: Imagem de suporte com registros da escrita cuneiforme. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/ca/Cuneiform_script2.jpg/320px-Cuneiform_script2.jpg https://www.youtube.com/watch?v=ibK3UI2YTDE https://www.youtube.com/watch?v=ibK3UI2YTDE https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/ca/Cuneiform_script2.jpg/320px-Cuneiform_script2.jpg EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 Título: Alfabeto grego da Antiguidade. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f9/Alfabeto_Grego.gif Você sabia que todas as letras que compõem o alfabeto ocidental tiveram por base o alfabeto grego, o qual sofreu modificações até chegar ao que temos na atualidade ocidental: A, B, C, D, E, F, G, H, I, J, K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, U, V, W, Y, X, Z? Continuando a nossa viagem pela história, situamos na Idade Média, período compreendido entre os séculos V e XV, a sofisticação de técnicas para a agricultura, tais como a criação de moinhos d’água; a invenção da pólvora e dos fogos de artifício pelos chineses (FAVA, 2016); as construções arquitetônicas mais complexas, com destaque para a Românica, porque oriunda de Roma/Itália, e a Gótica. Esclarecemos que, diferentemente do estilo Gótico, a arquitetura Românica caracterizava-se por construções horizontalizadas, com paredes mais grossas e com pouca luz, cujo principal objetivo era a defesa territorial. Ao contrário, no estilo Gótico prevalecia construções verticalizadas, considerando-se que os seus adeptos entendiam que quanto mais altas mais próximas estariam de Deus (GOMBRICH, 2012). Em fins do século XIII, inicia-se uma das revoluções mais transcendentes da história: a produção de papel , e, no século XV, a invenção da imprensa por Johann Gutenberg, o que possibilitou a impressão em larga escala. Imagine só o quão revolucionária foi, e ainda é, essa tecnologia. Título: Imagem de um dos primeiros exemplares da Bíblia impresso na História da humanidade. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b0/Gutenberg_Bible.jpg/800px-Gutenberg_Bible.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f9/Alfabeto_Grego.gif https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b0/Gutenberg_Bible.jpg/800px-Gutenberg_Bible.jpg EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 Essa revolução foi logo constatada no campo educacional, pois sabe-se que as obras, durante a Idade Média, eram restritas a poucos, dentre os privilegiados estavam os nobres, sacerdotes, estudiosos diretamente ligados aos mosteiros. ISTO ESTÁ NA REDE Como uma boa cinéfila, “louca” por cinema”, de plantão, tenho para você mais uma dica de um filme imperdível. Trata-se do “O Nome da Rosa”, inspirado na obra do italiano Umberto Eco, um dos maiores filósofos e semiólogos do século XX, início do XXI. Essaobra tem como eixo principal, em seu enredo, embates sobre livros e textos científicos e filosóficos guardados na biblioteca de um mosteiro, os quais não deveriam ser acessados pela população. A partir daí, a trama toma rumos surpreendentes, dentre os quais intrigas entre os monges que lá viviam, e até crimes contra a vida. Para assisti-lo, é só acessar https://www.youtube.com/ watch?v=GJG8r6o4eHU. E, é claro, preparar o coração e a mente, e separar a pipoca. Dando continuidade, lembro aqui Barbosa (2009) quando conta que, no contexto educacional, só fazia sentido aprender a ler, caso se pretendesse seguir a vocação religiosa. Nesse caso a criança era admitida na escola aos 7 anos onde o ensino era sobretudo oral: o mestre falava e instruía e a criança ouvia e memorizava, pois saber era saber de cor. A leitura era ensinada em latim e, para aprender, os escolares decoravam o Livro dos Salmos (BARBOSA, 2009, p. 98). Nesses termos, as práticas de leitura centravam-se na oralidade e baseavam-se, sobretudo, na leitura em voz alta. Nesse contexto, ressalta-se, também, uma prática didática conhecida até os dias atuais: o ditado. Você conhece? Já teve alguma experiência com ditados? Nessa prática pedagógica, o professor ditava, falava em voz alta alguma palavra para o aluno reproduzir, escrever em seu caderno, por exemplo. Contudo, a possibilidade de produção de livros em massa potencializou a elaboração, divulgação e, consequentemente, a ampliação e formação de leitores diversificados (FERREIRO, 2009). De acordo com Barbosa (2009, p. 104), se no período da Alta Idade Média “a relação do leitor se restringia a livros sacros – principalmente a Bíblia”, no fim da Idade Média e início dos tempos Modernos “o mercado começa a ser invadido por EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 grande quantidade de obras profanas – almanaques, calendários, contos populares e amorosos – com grande sucesso entre as camadas mais pobres da população”. Merece destaque que nessa época a demanda por escolas se acentua, pois mais pessoas queriam aprender a ler e a escrever; amplia-se o número de obras didáticas e de literatura infantil; aumenta-se o número de leitores (BARBOSA, 2009). Veja só como que tecnologias específicas contribuíram, sobremaneira, para definir novos rumos para a história da humanidade. Na Idade Moderna, período iniciado no século XV, tivemos inúmeros avanços tecnológicos em todos os setores da vida em sociedade. Logo no início da Idade Moderna, Galileu Galilei inventou um termômetro e construiu um telescópio, o qual permitiu novas descobertas astronômicas; e Isaac Newton publicou as suas leis físicas, com destaque para a Lei da Gravitação Universal (FAVA, 2016). No contexto da primeira Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra por volta de 1760, e marcada pela utilização de máquinas nos processos de trabalhos nas fábricas, sofisticamos instrumentos de transporte, de fabricação de produtos em larga escala, reorganizamos a nossa vida nas cidades (FAVA, 2016). Já no final do século XIX, Alexander Graham Bell patenteia o telefone, Thomas Edison patenteia a lâmpada elétrica incandescente, Karl Benz produz um carro com motor a gasolina, Albert Einstein explica o efeito fotoelétrico. Essas, dentre tantas outras invenções e inovações, impactaram, significativamente, os nossos modos de ser e estar no mundo. Imagine... Logo tivemos a segunda Revolução Industrial, nas décadas de 40 e 50 do século XX, e com ela uma explosão tecnológica sem precedentes na história da humanidade. A partir da década de 50 do século XX, iniciamos um período da história da humanidade conhecido como a “Era das invenções”, nos encontramos aí na Idade Contemporânea, a denominada Pós-Modernidade. Substituímos o ferro pelo aço, o que implicou na expansão industrial; ampliamos as nossas possibilidades comunicacionais através de dispositivos como o rádio e a televisão; criamos alternativas Título: Imagem de um telefone.Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/antiguidade-classico- elegante-tradicional-5378353/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/antiguidade-classico-elegante-tradicional-5378353/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/antiguidade-classico-elegante-tradicional-5378353/ EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 para o deslocamento, agora, em escala interplanetária; chegamos à Lua (FAVA, 2016). Esses são alguns dos inúmeros exemplos do que a evolução das tecnologias permitiu aos homens em termos de desenvolvimento. Título: Chegada do homem à Lua. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/239394536420194674/ Dentre todos os possíveis exemplos, temos que assinalar a invenção do computador na década de 40 desse século, e da Internet, por volta de 1954, após a Segunda Guerra Mundial, período denominado como “Guerra Fria” (FAVA, 2016). Cabe esclarecer que a Internet foi criada e utilizada pela inteligência militar norte-americana, nesse período, justamente para espiar o considerado “inimigo”. Ao lado disso, a Internet, sistema mundial de redes de computadores interconectados, também foi criada para fins de pesquisas, conforme esclarece Coelho (1999). A Internet surgiu a partir de um projeto da agência norte- americana Advanced Resecarch and Projects Agency (ARPA), uma instituição militar, objetivando conectar os computadores dos seus departamentos de pesquisa. A primeira iniciativa foi a ARPANET, em 1969, que interligava quatro instituições: Universidade da Califórnia, LA e Santa Bárbara, Instituto de Pesquisa de Stanford e Universidade de Utah. Desta experiência que perdurou na década de 70, nasceu o TCP/IP (Transmission Control Protocol / Internet Protocol), grupo de protocolos que é a base da Internet desde aqueles tempos até hoje. A Universidade da Califórnia de Berkeley implantou os protocolos TCP/ IP ao Sistema Operacional UNIX, possibilitando a integração de várias universidades a ARPANET. Nesta época, início da década de 80, redes de computadores de outros centros de pesquisa foram integrados à rede da ARPA. Em 1985, a entidade americana National Science Foundation (NSF) interligou os supercomputadores do seu centro de pesquisa, a NSFNET, que no ano seguinte entrou para a ARPANET. As duas espinhas dorsais (backbone) de uma nova rede foram então a ARPANET e a NSFNET junto com os demais computadores ligados a elas (COELHO, 1999, p. 29). https://br.pinterest.com/pin/239394536420194674/ EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 Contudo, os computadores e, especialmente, a Internet só se popularizaram na década de 90 do século XX. No Brasil, por exemplo, a partir de 1995. Pois bem, de lá pra cá muita coisa mudou, certo? Nesse sentido, analise a linha do tempo a seguir, a qual apresenta características das gerações da Internet. Título: Gerações da Internet. Fonte: elaborada pela autora. A evolução das tecnologias, também, implicou nas concepções explicativas sobre o termo. Atualmente, século XXI, “a tecnologia possui múltiplos significados que variam conforme o contexto, podendo ser vista como: artefato, cultura, atividade com determinado objetivo, processo de criação, conhecimento sobre uma técnica e seus respectivos processos, etc” (REIS apud ALMEIDA & MORAN, 2005, p. 40). Portanto, podemos situá-las como processos e produtos, cada vez mais, resultantes da ciência aplicada, dentre os quais se destacam as tecnologias de informação e comunicação (TICs). As TICs são frutos de um conjunto de tecnologias microeletrônicas, informáticas e de telecomunicações que potencializam a aquisição, a produção, o armazenamento, o processamento e a transmissão de dados na forma de imagem, vídeo, texto, áudio, desenvolvidas no interior das bases materiais e sociais da economia, da sociedade e da cultura (GONTIJO, 2008, p.37). EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIASPROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 Verifique, pois, que o contexto contemporâneo, definitivamente, é marcado por um movimento de transformações científicas e tecnológicas que se manifesta de forma intensa, com grande velocidade e difícil dimensionamento. Você já refletiu o quanto esse movimento pode impactar diversas áreas, considerando-se variáveis, tais como de ordem econômica, social, cultural, política, religiosa, institucional, filosófica e ecológica? Pense, por exemplo, nos contextos em que determinados e específicos setores se destacam, como, por exemplo, dos sistemas de comunicação e informação, com informatização veloz e praticamente generalizada na sociedade. A existência de uma nova e radical transformação em relação ao acesso e à produção cultural da linguagem impressa (livros, jornais, revistas, dentre outros) para uma cultura audiovisual e cibernética, em que produtos das tecnologias, tais como Inteligência Artificial (IA), compartilhamentos em nuvem, gamificação, metodologias ativas exercem grandes influências na vida das pessoas e nos vínculos que elas estabelecem. Levy (2006) argumenta que qualquer indivíduo, independentemente de sua origem geográfica ou social, mesmo não dispondo de grande poder econômico, desde que aplique um mínimo de competência técnica, pode investir no ciberespaço por sua própria conta, participar de comunidades virtuais de aprendizagem ou difundir, para um vasto público, toda informação que julgar digna de interesse. E confirmamos isso quando lembramos, por exemplo, de redes, tais como o TikTok ou Kwai, não é mesmo? Título: Imagem da tela inicial da rede TikTok. Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/anonimo-aplicacao-aplicativo-solicitacao-5081930/ https://www.pexels.com/pt-br/foto/anonimo-aplicacao-aplicativo-solicitacao-5081930/ EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 ANOTE ISSO O ciberespaço é um território societário que engloba práticas e representações de diversos grupos que dele fazem parte, e que nele atuam. É um lócus, sobretudo, de interações, em que as pessoas podem experimentar diversas possibilidades de ser e estar no mundo. Portanto, para além da sua dimensão pragmática informacional, é um espaço de comunicação, sociabilidade e reconfiguração de identidades. Lembre-se que é um espaço virtual, mas isso não o torna irreal, pois o virtual é, também, real, tendo em vista que existe de forma simbólica, a qual, inclusive, impacta, significativamente na vida material, ok? Assim, adentramos o “Admirável mundo novo” (HUXLEY, 2014), anunciado na obra de Aldous Huxley, em 1931, na qual o autor já problematizava possíveis repercussões da presença das tecnologias para a civilização. Vale aqui comentar que a série de filmes “Matrix” está bastante em sintonia com a perspectiva futurista analisada por Huxley lá na década de 40 do século XX. Aproveitando a deixa, você conhece a série? Nos encontramos, pois, no contexto da Web 4.0, e no campo educacional no da denominada Educação 4.0, porque intermediada, radicalmente, pela presença das TICs, especialmente das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDICs), com destaque para a Internet. Assunto para as nossas próximas aulas. 1.3 SÍNTESE DA AULA E ANÚNCIO DOS NOSSOS PRÓXIMOS PASSOS NA DISCIPLINA Bem..., fizemos uma breve viagem pela história, uma “ponte aérea”, através das tecnologias nela inventadas/produzidas/aprimoradas. Confirmamos que somos seres produtores de tecnologias, e vislumbramos como essas contribuíram, sobremaneira, para o nosso desenvolvimento. Chega a ser fantástico refletir sobre a produção e o uso das tecnologias, e como essas tiveram, e têm, implicações em nossas vidas, não é? Fato é que percebemos que as tecnologias atravessam a formação dos povos e que, portanto, do seu sustentáculo educacional, tornando-se, neste momento, século XXI, uma de suas bases pedagógicas, conforme veremos em nossa próxima aula. Assim sendo, discutiremos, em nossa próxima aula, a presença das tecnologias, com destaque para o computador, na educação. Por enquanto, ficamos por aqui, mas deixo, a título de reflexão, a seguinte mensagem para você “É tão urgente quanto necessária à compreensão correta da tecnologia, a que recusa entendê-la como obra diabólica ameaçando sempre os seres humanos ou a que a perfila como constantemente a serviço de seu bem-estar (FREIRE, 2000, p. 101). EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 AULA 2 MÍDIAS E COMPUTADORES NA EDUCAÇÃO – COMO TUDO COMEÇOU 2.1 INTRODUÇÃO – PARA INICIAR A CONVERSA Em nossa primeira aula, vimos que as tecnologias sempre estiveram presentes na vida do homem. Sendo consideradas como artefatos culturais, tal como discutimos, reconhecemos, também, a sua presença na educação desde tempos imemoráveis. Afinal de contas, desde os tempos mais remotos, os homens perceberam que só poderiam sobreviver, assim como as suas gerações posteriores, se transmitissem aos seus pares, aos membros da mesma espécie, conhecimentos por eles construídos. Assim sendo, configura-se a educação, a qual, tornando-se cada vez mais um processo formativo intencionado, requer de meios, objetos e técnicas para a sua realização. Portanto, as tecnologias sempre foram utilizadas de alguma maneira na educação. Contudo, a inserção de mídias e do computador, por exemplo, em processos ensino- aprendizagem, é relativamente recente, considerando-se o nosso tempo de existência neste mundo. Nesta aula, veremos aspectos desta inserção de recursos midiáticos e tecnológicos na educação brasileira. Vamos nessa? 2.2 INSERÇÃO DE RECURSOS MIDIÁTICOS E TECNOLÓGICOS NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: desafios, impasses e horizontes A utilização pedagógica de mídias na educação, ou seja, com intenções formativas, data da década de 20 do século XX, quando iniciamos o uso do rádio em processos ensino-aprendizagem. Exatamente em 1923, entusiasmado com o rádio como poderoso veículo de comunicação de massa, o antropólogo e professor Edgar Roquete Pinto EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 cria a Fundação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a qual desenvolvia programas educativos, com vistas a acabar com o analfabetismo no Brasil que naquela época era muito alto, atingia cerca de 65% da população. Ao lado disso, em 1930, o Ministério da Educação criou uma rádio educativa. Contudo, ambas experiências não prevaleceram, pois nelas se sobressaíram interesses comerciais da época (GONTIJO, 2008). O uso sistemático do rádio na educação retornou na década de 50 daquele século. Nesse momento, essa mídia foi, amplamente, utilizada no contexto do Movimento de Educação de Base (MEB). Você já ouviu falar desse Movimento? O MEB tinha como objetivo geral alfabetizar agricultores das regiões Norte e Nordeste do Brasil a partir da metodologia freiriana, pois foi criada pelo renomado educador brasileiro Paulo Freire. Aproveito aqui para te sugerir que conheça, em profundidade, essa metodologia, ok? Pois bem, nas décadas de 60 e 70 do século XX, iniciamos as primeiras experiências com TVs educativas no país. Perceba que esse momento se configura como um marco da história da educação a distância (EaD) no Brasil, modalidade educacional que será tratada em aulas posteriores. Vale a pena observar que essas mídias impactaram, significativamente, o imaginário social, provocando importantes transformações culturais. Afinal, tal como afirma Perrenoud (2000, p.125), elas “transformam espetacularmente não só a maneira de comunicação, mas também de trabalhar, de decidir, de pensar”. ANOTE ISSO Em termos gerais, entendemos a mídia como um conjunto de meios, instrumentos de informação e comunicação, a qual utiliza-se de plataformas, suportes diversos para veiculá-las, tais como rádio, televisão,jornal, Internet (SANTOS, 2016). Atualmente, no século XXI, experimentamos um mundo denominado como hipermidiático, assunto para próximas aulas, certo? Então, especialmente no processo formativo das crianças e dos adolescentes, as mídias exercem um papel mediador significativo, o qual devemos, como profissionais da educação, nos atentar e intervir. Nesse sentido, analise, por exemplo, esta constatação: EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 A educadora Kincheloe considera que uma das características da banalização da violência por parte da TV é que quando uma criança chega aos 12 anos já assistiu a mais de 100 mil assassinatos na televisão tornando-se praticamente impossível desvincular a sua realidade a que é mostrada na televisão, assim esse bombardeio de informações provoca o amadurecimento precoce das crianças, sem falar que esse meio de comunicação colabora com o distanciamento humano que contribui para o silêncio entre as pessoas [...] (CARVALHO & BARBIERE, 1998, p. 64). Assustador, não é mesmo? Título: Rádio e TV das décadas de 50/60 do século XX. Fonte: https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fretro-outdated-yellow-tv-set-from-70s-old- fm-radio-classic-golden-microphone-on-oak-gm1224839746-360313349 Nesse sentido, destaco as críticas empreendidas na Escola de Frankfurt/Alemanha, especialmente pelos intelectuais Theodor Adorno e Max Horkheimer, os quais criaram o conceito de indústria cultural, dentre outros, justamente para demonstrar como o sistema capitalista de produção utiliza as mídias para reproduzir a sua ideologia, ou seja, a reprodução do poder desigual entre classes. É muito importante que a gente reconheça isso em nosso dia-a-dia para que tenhamos melhores condições de lidar com esses processos e essas práticas de alienação, certo? Título: Imagem de personagens da série de TV “Vila Sésamo” da década de 70 do século XX. Fonte: https://www.istockphoto.com/br/foto/bonecos-coloridos-da-s%C3%A9rie-de-gergelim-gm1084426264-290966269 https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fretro-outdated-yellow-tv-set-from-70s-old-fm-radio-classic-golden-microphone-on-oak-gm1224839746-360313349 https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fretro-outdated-yellow-tv-set-from-70s-old-fm-radio-classic-golden-microphone-on-oak-gm1224839746-360313349 https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fretro-outdated-yellow-tv-set-from-70s-old-fm-radio-classic-golden-microphone-on-oak-gm1224839746-360313349 https://www.istockphoto.com/br/foto/bonecos-coloridos-da-s%C3%A9rie-de-gergelim-gm1084426264-290966269 https://www.istockphoto.com/br/foto/bonecos-coloridos-da-s%C3%A9rie-de-gergelim-gm1084426264-290966269 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 Na década de 50 do século XX, iniciam-se pesquisas sobre o uso desses recursos tecnológicos midiáticos na educação, bem como do computador, nos Estados Unidos da América do Norte. No Brasil, essas pesquisas iniciam-se por volta da década de 60 desse século. Essas pesquisas se alinhavam, especialmente, à Pedagogia Liberal Tradicional. Essa tendência pedagógica concebe o aluno como um ser passivo e desprovido de conhecimentos, vivências, histórias no processo ensino-aprendizagem. Nessa pedagogia, o professor é o detentor do saber e o aluno uma “página em branco” a ser preenchida com os conteúdos que o docente escolher para lhe transmitir. A sua aprendizagem tem por base a repetição e a memorização de conteúdos, nos moldes behavioristas. E a avaliação é sempre utilizada para a simples checagem dessas aprendizagens, também, usada como mecanismo de opressão e punição. Observe que esse modelo de avaliação implicou na construção de uma cultura avaliativa na escola que gera pavor em muitos de nós, não é mesmo? Esclarece-se que o behaviorismo ou comportamentalismo basicamente é uma corrente da psicologia, com forte influência na educação, que entende que o indivíduo constrói conhecimentos através do estímulo-resposta. Se você provocou o aluno para a realização de uma atividade, por exemplo, e ele a desenvolveu de forma satisfatória, a sua resposta será positiva, retribuída com um prêmio, tal como com um ok, um conceito A, uma “caneta azul”. Caso não, a resposta será negativa, retribuída com uma sanção, tal como com uma repreensão, um conceito baixo, uma “caneta vermelha”. Lembrando aqui que hoje, século XXI, temos os emoticons, as “carinhas” que retornamos para os alunos quando eles desenvolvem uma tarefa de forma satisfatória ou não. Veja só, não estou aqui fazendo juízo de valor, apenas uma constatação, ok? Essa teoria teve, e ainda o tem, forte influência no pensamento educacional brasileiro através das ideias do norte-americano Burrhus Frederic Skinner. Voltaremos a ela e as suas críticas em momento posterior quando formos tratar, especificamente, de metodologias de ensino, certo? Título: Imagens de alguns emoticons. Fonte: https://istockphoto.6q33.net/c/1263831/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fhand-choosing-green-happy-smiley-face- paper-cut-product-user-service-feedback-rating-gm1227064104-361755109 https://istockphoto.6q33.net/c/1263831/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fhand-choosing-green-happy-smiley-face-paper-cut-product-user-service-feedback-rating-gm1227064104-361755109 https://istockphoto.6q33.net/c/1263831/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fhand-choosing-green-happy-smiley-face-paper-cut-product-user-service-feedback-rating-gm1227064104-361755109 https://istockphoto.6q33.net/c/1263831/258824/4205?u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fhand-choosing-green-happy-smiley-face-paper-cut-product-user-service-feedback-rating-gm1227064104-361755109 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 Conforme essas pressuposições, as mídias, as tecnologias seriam um elemento reforçador para o aprendizado. Maggio assinala que: a psicologia da educação, aparecia centrada em buscas investigativas de forte caráter experimental. [...] A pesquisa da época aparecia centrada nos materiais, nos aparelhos e nos meios de instrução, apontando a comparação entre meios, a partir da elaboração de instrumentos para sua avaliação e seleção (MAGGIO, 2007, p. 14). Nesse contexto, o papel do professor passa a ser representado pela competência de manipular as condições do ambiente dos alunos, a fim de lhes assegurar o aprendizado. O papel dos alunos passa a ser o da recepção do conhecimento, tal como destacamos. Na década de 70, surgem outras concepções sobre o uso das tecnologias na educação, as quais tinham como foco os elementos sistêmicos da administração escolar. Segundo Maggio (2007, p.16), no enfoque sistemático a educação é concebida como o sistema ou a totalidade de subsistemas inter-relacionados. O sistema é um conjunto de dados vinculados entre si e com os dados do meio ambiente. Funciona relacionado com os propósitos para os quais foi criado. A preocupação central tem a ver com administrar, dirigir, controlar, regular, melhorar esses sistemas educacionais em geral ou alguns de seus subsistemas; ou os processos de aprendizagem, entendidos também como sistemas. A busca, neste enfoque, esta orientada para o acréscimo da eficiência e para o controle de que realmente se produzam os efeitos buscados. Pretende-se a regularidade. Não aparece à busca da contradição como o modo de avançar no conhecimento. Por esse enfoque, vincula-se o uso das tecnologias à resolução de todos os problemas do sistema educacional, na medida em que esse uso é considerado como determinante de resultados desejados e efetivos nos processospedagógicos. Nesses termos, a inserção das tecnologias nas escolas era pensada pelo viés puramente instrumental, utilitarista e pragmático. E é justamente nessa década, 70 do século XX, que tivemos o início, propriamente dito, da inserção de computadores nas escolas. Esclarecemos que as primeiras experiências de ensino auxiliadas pelo computador foram feitas usando terminais ligados a telas para escrever. Com as telas para escrever, a interação homem-máquina era muito limitada, bem diferente de hoje, não é mesmo? EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 De acordo com Valente e Almeida (1997, s/p), a história “oficial” da informática na educação nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas experiências na UFRJ, UFRGS e UNICAMP. Nos anos 80 se estabeleceu através de diversas atividades que permitiram que essa área hoje tenha uma identidade própria, raízes sólidas e relativa maturidade. [...] Entretanto, a implantação do programa de informática na educação no Brasil inicia-se com o primeiro e segundo Seminário Nacional de Informática em Educação, realizados respectivamente na Universidade de Brasília em 1981 e na Universidade Federal da Bahia em 1982. Esses seminários estabeleceram um programa de atuação que originou o EDUCOM e uma sistemática de trabalho diferente de quaisquer outros programas educacionais iniciados pelo MEC. No caso da Informática na Educação as decisões e as propostas nunca foram totalmente centralizadas no MEC. Eram fruto de discussões e propostas feitas pela comunidade de técnicos e pesquisadores da área. A função do MEC era a de acompanhar, viabilizar e implementar essas decisões. Portanto, a primeira grande diferença do programa brasileiro em relação aos outros países, como França e Estados Unidos, é a questão da descentralização das políticas. Ressalta-se que, nesse contexto, o EDUCOM atuava com base no reconhecimento de que o computador deveria facilitar a aprendizagem e não automatizá-la; perspectiva que o diferenciava da ideia que prevaleceu em décadas anteriores quando muitos consideravam que as tecnologias deveriam assumir o lugar de “máquinas de ensinar”. Certamente, esse reconhecimento constituiu-se como um enorme desafio na prática, pois, se antes prevalecia uma pedagogia centrada nos moldes behavioristas, comportamentalistas etc, tal como vimos, nesse momento desenvolvemos um novo “olhar” acerca das abordagens educacionais. Contudo, a introdução da informática na educação encontrou resistências, especialmente por parte da comunidade docente. Por um lado, alguns professores consideravam que os computadores reforçariam o ensino comportamentalista, tecnicista, assumindo o papel de “máquinas de ensinar”, podendo, até mesmo, tomarem o seu lugar. Por outro lado, outros professores acreditavam que os computadores resolveriam todas as demandas ensino-aprendizagem, os reconhecendo como uma espécie de panaceia, uma “cura”, educacional. EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 ANOTE ISSO Fica aqui uma dica de obra para você, trata-se do livro “Apocalípticos e Integrados” de Umberto Eco, autor que vimos em nossa primeira aula. Lembra? A título de introdução, os “apocalípticos” seriam aquelas pessoas que acreditam que as tecnologias desumanizam o ensino e, portanto, o seu uso resultaria no pleno repasse de conteúdos. Já os “integrados” seriam aquelas pessoas que idolatram o uso de tecnologias na educação, pois acreditam que o seu mero uso é o suficiente para a qualidade do ensino-aprendizagem. Título: Capa do livro “Apocalípticos e Integrados” de Umberto Eco. Fonte: https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.amazon.com.br%2FApocal%25C3%25ADpticos-Integrados-Humberto-Eco%2 Fdp%2F8497933869&psig=AOvVaw0WqdL7RjX3H5kDbINXtjF0&ust=1633818046009000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCJjEvtXsu_ MCFQAAAAAdAAAAABAD Assim como Cysneiros (2008), entendemos que ambas ideias são equivocadas, constituindo-se como mitos em torno da introdução e presença das tecnologias na educação. Afinal, a presença de aparato tecnológico na sala de aula não garante mudanças na forma de ensinar e aprender. A tecnologia deve servir para enriquecer o ambiente educacional, propiciando a construção de conhecimentos através de uma atuação ativa, crítica e criativa por parte de alunos e professores (BRASIL, 1998, s/p). https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.amazon.com.br%2FApocal%25C3%25ADpticos-Integrados-Humberto-Eco%2Fdp%2F8497933869&psig=AOvVaw0WqdL7RjX3H5kDbINXtjF0&ust=1633818046009000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCJjEvtXsu_MCFQAAAAAdAAAAABAD https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.amazon.com.br%2FApocal%25C3%25ADpticos-Integrados-Humberto-Eco%2Fdp%2F8497933869&psig=AOvVaw0WqdL7RjX3H5kDbINXtjF0&ust=1633818046009000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCJjEvtXsu_MCFQAAAAAdAAAAABAD https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.amazon.com.br%2FApocal%25C3%25ADpticos-Integrados-Humberto-Eco%2Fdp%2F8497933869&psig=AOvVaw0WqdL7RjX3H5kDbINXtjF0&ust=1633818046009000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCJjEvtXsu_MCFQAAAAAdAAAAABAD https://www.google.com.br/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.amazon.com.br%2FApocal%25C3%25ADpticos-Integrados-Humberto-Eco%2Fdp%2F8497933869&psig=AOvVaw0WqdL7RjX3H5kDbINXtjF0&ust=1633818046009000&source=images&cd=vfe&ved=0CAsQjRxqFwoTCJjEvtXsu_MCFQAAAAAdAAAAABAD EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 Nos termos de Coelho et al. (2007), estudos de pesquisadores da área demonstram que o uso do computador na educação contribui com mudanças significativas quando introduzem ou reforçam um paradigma que promove aprendizagem ao invés de ensino, que coloca o controle do processo nas mãos do aprendiz e que auxilia o professor a compreender que a educação é um processo de construção de conhecimento (COELHO ET. AL, 2007, p. 32). Pois bem, na última década do século XX, tivemos a implementação do programa de maior envergadura na área até então: o Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo). O ProInfo foi criado pelo Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Estado de Educação a Distância (SEED) da época, com o objetivo de introduzir a informática nas escolas públicas estaduais e municipais do Brasil, atingindo alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (BRASIL, 1997). Política essa que não foi efetiva na prática, especialmente pela fragilidade da formação pedagógica de professores para o uso das tecnologias em sala de aula, e pelo sucateamento de computadores que foi constatado em boa parte das escolas no país, dentre outros motivos (GONTIJO ET. AL, 2003). Título: Imagem de computadores sucateados. Fonte: https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?sharedID=1982588&u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fold-monitors-and- computer-parts-gm517521238-89528157 Outra iniciativa governamental importante no período foi a implementação do “Programa Sociedade da Informação”, apresentado no conhecido “Livro Verde” (TAKAHASHI, 2000). Nesse documento, ressalta-se a importância da alfabetização digital no país, entendendo-a como o desenvolvimento de habilidades básicas para o uso do computador e da Internet, a qual já estava “chegando” nas escolas brasileiras. https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?sharedID=1982588&u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fold-monitors-and-computer-parts-gm517521238-89528157 https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?sharedID=1982588&u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fold-monitors-and-computer-parts-gm517521238-89528157 https://istockphoto.6q33.net/c/1982588/258824/4205?sharedID=1982588&u=https%3A%2F%2Fwww.istockphoto.com%2Fphoto%2Fold-monitors-and-computer-parts-gm517521238-89528157 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.ACYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 ISTO ESTÁ NA REDE Que tal conhecer, caso não conheça, o “Livro Verde” em sua íntegra? Ele é um importante marco da história das políticas de tecnologias em áreas como educação, saúde, cultura, trabalho, transportes, dentre outras, em nosso país. Para tanto, acesse: https://livroaberto.ibict.br/handle/1/434. Viramos o século e com ele, ainda, permanecemos enfrentando os enormes desafios de trabalhar com tecnologias na educação, especialmente considerando que nesse momento, final do século XX, início do XXI, estávamos no contexto da Web 2.0, conforme vimos em nossa primeira aula. Dessa forma, reconhecemos que falar de alfabetização digital não é mais suficiente, tendo em vista as inúmeras possibilidades tecnológicas que se anunciaram e vêm se consolidando no campo educacional (SANCHO & HERNÁNDEZ, 2014). .Atualmente, no século XXI, somos, enquanto profissionais da educação, desafiados a trabalhar pedagogicamente com diversas tecnologias, em diversas modalidades educacionais, tal como discutiremos. Portanto, nos parece mais sensato, neste contexto, falarmos de letramento tecnológico, letramento digital, literacia digital. Para fins desta aula, precisamos que o letramento tecnológico ou digital implica não somente o uso da tecnologia como consumidor e cliente, mas a atuação do indivíduo como agente de informações em diferentes mídias e hipermídias, como produtor e leitor de diferenciados textos e hipertextos, com capacidades analíticas de significados em âmbitos culturais diversos, em processos educacionais diversos. Termo análogo ao de letramento tecnológico, literacia digital trata-se do conjunto de habilidades e competências para o uso apropriado das tecnologias, o que implica ler, compreender, avaliar, apresentar, representar e trocar informações; comunicar-se e participar de redes virtuais (JOAQUIM, VÓVIO E PESCE, 2020). A literacia digital engloba a autoconscientização de como as tecnologias impactam a vida do homem em sociedade, nos termos da figura seguinte. Título: Ciclo básico da literacia digital. Fonte: elaborada pela autora, com fundamentação em FCT (2021). https://livroaberto.ibict.br/handle/1/434 https://livroaberto.ibict.br/handle/1/434 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 Tendo em vista a necessidade histórica do letramento tecnológico/literacia digital, não queremos que as tecnologias sirvam apenas como equipamentismo pedagógico, mas como um constructo para a sua inovação. Afinal, no contexto da hipertextualidade contemporânea, a qual abordaremos em breve, as pedagogias têm cada vez mais sido desafiadas a se repensar. Isso demanda um compromisso de todos para que as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos utilizem as tecnologias de forma crítica e criativa, e, ao mesmo tempo, requer dos profissionais da educação um trabalho que as coloque à serviço das aprendizagens dos seus interlocutores, parceiros de aprendizagens, assunto para a nossa próxima aula. 2.3 SÍNTESE DA AULA E ANÚNCIO DOS NOSSOS PRÓXIMOS PASSOS NA DISCIPLINA Vivemos em um mundo que, tal como assinala Franco (2007, p. 12), Mais do que nunca o homem recorre à tecnologia, agora como auxiliar, no que ele considerava sua aptidão mais nobre: a inteligência. O homem não é mais “naturalmente” apto, talvez nunca tenha sido, para buscar as informações de que necessita. Para acessa-las busca o auxílio de técnicas e de objetos técnicos. Assim sendo, vimos, nesta aula, que, apesar de leituras diferenciadas acerca das tecnologias, a inserção de mídias, do computador etc na educação foi inevitável. Afinal, ainda que lentamente, especialmente a escola não pôde ficar a reboque do seu tempo. Contudo, percebemos que a simples inclusão desses recursos na educação não é suficiente para provocar mudanças substantivas, em termos de qualidade, em processos educativos. Ora, essas só podem ocorrer a partir de decisões e ações que nenhuma máquina poderá fazer. E entendemos aqui que essas mudanças demandam muitas decisões e ações, dentre elas o desenvolvimento/aprimoramento de determinadas capacidades, em termos de competências e habilidades, por parte dos educadores. Assunto que abordaremos em nossa próxima aula. EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 AULA 3 SABERES NECESSÁRIOS AOS EDUCADORES NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO 4.0 3.1 INTRODUÇÃO – PARA INICIAR A CONVERSA Em nossas duas primeiras aulas, vimos que as relações socioculturais, em todos os tempos históricos, foram intermediadas por tecnologias. E que as transformações sócio-políticas ocorridas, especialmente no século XX, com destaque para a produção de tecnologias da informação e da comunicação (TICs), condicionaram a organização de uma sociedade profundamente entrelaçada a essas tecnologias. Assim sendo, nos parece que não cabe mais uma visão puramente instrumentalista das tecnologias, a qual as concebem apenas como técnicas a serem utilizadas pelos homens. Entendemos, pois, que, em tempos pós-modernos, é, cada vez mais, necessário as reconhecer como produtos e processos que se configuram no interior de práticas socioculturais, oriundas de um emaranhado de conhecimentos aplicados, produzidos e gerenciados pelos sujeitos (FAINHOLC, 2003). Esse panorama histórico, portanto, requer, cada vez mais, o desenvolvimento/ aprimoramento de saberes necessários à uma atuação humana condizente com o seu tempo histórico. No caso dos profissionais da educação, isso torna-se, ainda mais premente, tendo em vista que somos corresponsáveis por esse desenvolvimento em outras pessoas. Nesse sentido, na aula de hoje, iremos discutir aspectos importantes de capacidades, em termos de competências e habilidades, a serem construídas ou reforçadas por educadores no contexto da Educação 4.0. Vamos começar? EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 3.2 DIMENSÕES FORMATIVAS IMPORTANTES PARA A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE Na realidade presente, configurada nas duas primeiras décadas do século XXI, na qual as TICs têm um papel ativo e co-estruturante de novas formas de aprender e de conhecer, situa-se a denominada Educação 4.0, a qual já abordamos, ainda que sinteticamente, nas aulas anteriores. A Educação 4.0 está diretamente ligada à quarta revolução industrial e é caracterizada, radicalmente, pela relação dos sujeitos com o uso crítico e criativo, e com a produção, o da cultura audiovisual e cibernética. A Educação 4.0 baseia-se, sobretudo, no potencial humano, ancorado nas TICs, para lidar com a grande quantidade de dados e informações (Big Data) produzidas diariamente, em escala global; no conceito de learning by doing (aprender fazendo); e no protagonismo das pessoas em seus processos de aprendizagens, ou seja, em um olhar que reconhece o sujeito como ativo e não passivo na relação pedagógica; conforme apresenta a figura seguinte. Título: Fundamentos básicos da Educação 4.0. Fonte: elaborada pela autora. Entendemos que, neste contexto da Educação 4.0, não se trata mais de usar as tecnologias na educação a qualquer preço, mas de acompanhar, consciente e deliberadamente, uma mudança da civilização, colocando a descoberto, profundamente, as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educativos tradicionais, notadamente os papéis dos profissionais da educação e dos estudantes. Isso significa que a questão fundamental não é se a escola, ou demais instituições formativas, devem ou não trabalhar com as TICs, mas como deve fazê-la, isto é, de que modo elas poderão contribuir, efetivamente, para a inovação e o desenvolvimento da atividade educativa. Seria, pois, um erro, tratar dessas tecnologias apenas como fator de modernização da educação, sem levar em conta que as tecnologiasaplicadas à educação devem EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 obedecer a um projeto pedagógico consistente e coerente com as suas finalidades, tendo uma roupagem eficiente, que se contraponha aos processos ineficazes e anacrônicos de uma educação de ontem, para um aluno inexistente, pretensamente situado em uma sociedade idealizada, mas sim para o aluno de hoje (FAVA, 2016). Título: Menina no contexto da Educação 4.0. Fonte: https://www.istockphoto.com/br/foto/pupila-f%C3%AAmea-construindo-carro-rob%C3%B3tico-na-aula-de-ci%C3%AAncias-gm1206218645-347795804 Por esta razão, quando se fala, atualmente, e se fala muito, em tecnologias na educação, não se pode reduzi-las à produtos ou equipamentos, tal como temos discutido. Nada mais alienante, nesse cenário, do que o equipamentismo inconsequente, partindo-se do falso pressuposto de que a última invenção, sacrificando objetivos fundamentais, seria a última panaceia para a educação. Pois bem... o uso das tecnologias na educação se refere à exigência desafiadora de colocá-las a serviço das aprendizagens, ou seja, de um processo educativo capaz de ajudar o estudante a ser um sujeito apto a viver o presente e, ao mesmo tempo, ser agente e construtor do amanhã. Isso significa, de um lado, considerá-lo como sujeito da educação e, do outro, representa o ressignificar dos compromissos da educação com o novo protagonismo dos estudantes e dos educadores (FAVA, 2016). Afinal, a educação que se define como uma prática social de natureza cultural não pode se privar da utilização das tecnologias que, se bem utilizadas, possibilitarão a melhoria da qualidade do processo de construção de conhecimentos e desenvolvimento dos sujeitos (FAVA, 2016). Assim, compreendemos que a apropriação das TICs na educação deve estar a serviço de processos educativos que potencializem o reconhecimento do valor dos profissionais da educação e do protagonismo dos alunos. Para tanto, deve estar em sintonia com um projeto educacional que evidencie o compromisso da educação com a construção de habilidades e competências individuais e coletivas, nos termos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2018). https://www.istockphoto.com/br/foto/pupila-f%C3%AAmea-construindo-carro-rob%C3%B3tico-na-aula-de-ci%C3%AAncias-gm1206218645-347795804 https://www.istockphoto.com/br/foto/pupila-f%C3%AAmea-construindo-carro-rob%C3%B3tico-na-aula-de-ci%C3%AAncias-gm1206218645-347795804 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 Essa construção demanda que diferenciemos informação de conhecimento. Nesse sentido, analise a próxima figura. Título: Contraponto entre informações e conhecimentos. Fonte: elaborada pela autora. Observe que, enquanto as informações se apresentam de maneira estanque e sem conexão entre elas, os conhecimentos se constroem de forma processual e em redes de informações que dialogam, produzindo sentidos para os sujeitos. Nesse contexto, eu te pergunto: e a educação não é justamente um processo sociocultural, sobremaneira, indutor para que os sujeitos construam conhecimentos? Pense nisso. ISTO ESTÁ NA REDE Que tal assistir à uma entrevista com Manuel Castells no programa televisivo Roda Viva? O sociólogo espanhol Manuel Castells é autor da trilogia “A Sociedade em Rede”, dentre tantas outras obras. Essa trilogia é uma das obras mais lúcidas e assertivas sobre o mundo “informacional” que se anuncia e se fortalece no século XX. Vale muito a pena! Então, para atuarmos, com responsabilidade, no cenário aqui colocado, precisamos desenvolver/aprimorar determinadas capacidades, em termos de competências e habilidades (BEHAR, 2013). Pensamos aqui em uma formação, nos termos de Nóvoa (2002, p. 26), que estimule “uma perspectiva crítico-reflexivo, que forneça aos profissionais da educação os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada”. Para esse autor, é necessário pensar essa formação numa perspectiva globalizante, pois o professor ou qualquer outro especialista do campo educacional é uma pessoa, EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 com seus sentimentos, suas crenças, seus conhecimentos. Assim, é fundamental dar espaço nessa formação para a interacção entre as dimensões pessoais e profissionais, permitindo aos professores e demais profissionais da educação apropriar-se dos seus processos de formação e dar-lhes um sentido no quadro das suas histórias de vida (NÓVOA, 2002, p. 26). (Grifos nossos). De acordo com pesquisas recentes (ARARIPE, 2020), essa formação, no contexto da Educação 4.0, requer que os atores da educação se apropriem de algumas dimensões tecnológicas, nos termos da figura seguinte. Título: Ciclo de dimensões tecnológicas a serem apropriadas pelos atores da educação. Fonte: elaborada pela autora, com base em Araripe (2020). A dimensão “Tecnologia digital” se refere ao desenvolvimento de capacidades por esses sujeitos para: 1) apresentar e representar dados e informações no mundo digital/ciberespaço; 2) compreender o que é, ainda, que sinteticamente, hardware (parte física dos computadores) e software (parte lógica dos computadores – sistemas e aplicativos); 3) entender os fundamentos conceituais da Internet e das redes virtuais em geral. A dimensão “Cultura digital” se relaciona à construção de capacidades desses sujeitos para: 1) aprimorar, constantemente, o seu letramento tecnológico/digital; 2) usar de forma responsável e com compromisso social as TICs e as redes virtuais em geral; 3) compreender crítica e criativamente essas tecnologias em contextos específicos. Por fim, a dimensão “Pensamento computacional” diz respeito ao seu desenvolvimento para tratar dados e informações; e para resolver problemas de forma eficiente. Essa dimensão tem sido cada vez mais discutida na educação, tendo em vista a explosão EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 de dados (Big Data) que precisam ser organizados, processados, transformados e analisados, em escalas variadas. Você já pensou, por exemplo, sobre a quantidade de dados nos formatos de textos, imagens, vídeos, conteúdos de redes sociais diversas, dentre outros, que a humanidade produz diariamente? Imagine que você faça uma consulta, neste momento, sobre um assunto de destaque ocorrido nos últimos dias, em um buscador na Internet: quantos conteúdos aparecerão? Veja, por exemplo, o resultado que tive ao pesquisar sobre conteúdos acerca da educação, publicados no buscador Google, nas últimas 24 horas, no Brasil. Título: Imagem do print da tela resultante de pesquisa sobre conteúdos relativos à educação, publicados no buscador Google, em um período de 24 horas, no Brasil. Fonte: extraída pela autora de https://www.google.com.br/search?q=educa%C3%A7%C3%A3o&sxsrf=AOaemvK_yzfCp7N2VEDBZbTKXvnFrQQK0w:16337982487 34&source=lnt&tbs=qdr:d&sa=X&ved=2ahUKEwjP6__h5L3zAhXYqZUCHXzXBskQpwV6BAgBEDM&biw=1242&bih=545&dpr=1.1. É preciso, pois, saber extrair o valor das informações para construir significados a partir delas e para melhor intermediar esses junto aos estudantes, não é mesmo? ANOTE ISSO Nesse sentido, sugiro que você participe de redes educacionais, grupos de trabalho (newsgroups) em plataformas variadas, círculos de aprendizagem em comunidades da sua área e cursos de curta ou longa duração em universidades online, pois esses espaços têm demonstrado um grande potencial em relação à formação/ capacitação de profissionais da educação. Nunca deixe de acompanhar o que está acontecendo, pois as mudanças na área são velozes. Para tanto, explore, por exemplo, o site da Rede Nacional Ciência para a Educação (Rede CpE) através do link: http://cienciaparaeducacao.org/ . https://www.google.com.br/search?q=educa%C3%A7%C3%A3o&sxsrf=AOaemvK_yzfCp7N2VEDBZbTKXvnFrQQK0w:1633798248734&source=lnt&tbs=qdr:d&sa=X&ved=2ahUKEwjP6__h5L3zAhXYqZUCHXzXBskQpwV6BAgBEDM&biw=1242&bih=545&dpr=1.1https://www.google.com.br/search?q=educa%C3%A7%C3%A3o&sxsrf=AOaemvK_yzfCp7N2VEDBZbTKXvnFrQQK0w:1633798248734&source=lnt&tbs=qdr:d&sa=X&ved=2ahUKEwjP6__h5L3zAhXYqZUCHXzXBskQpwV6BAgBEDM&biw=1242&bih=545&dpr=1.1 https://www.google.com.br/search?q=educa%C3%A7%C3%A3o&sxsrf=AOaemvK_yzfCp7N2VEDBZbTKXvnFrQQK0w:1633798248734&source=lnt&tbs=qdr:d&sa=X&ved=2ahUKEwjP6__h5L3zAhXYqZUCHXzXBskQpwV6BAgBEDM&biw=1242&bih=545&dpr=1.1 http://cienciaparaeducacao.org/ http://cienciaparaeducacao.org/ EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 Dando continuidade às nossas tratativas, ressalto que o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB, 2020), com fundamentação na BNCC, tem indicado que os profissionais da educação aprimorarem níveis de desenvolvimento para atuarem na Educação 4.0 de forma que percorram um caminho do nível emergente até o avançado, nos termos do quadro 1. Níveis de Desenvolvimento Emergente Básico Intermediário Avançado Reconhece a importância das tecnologias educacionais Diferencia tecnologias educacionais e a sua importância em contextos pedagógicos específicos. Envolve os estudantes em atividades com o apoio das tecnologias e em atividades de autoria. Integra as tecnologias digitais ao currículo para a personalização do ensino e da aprendizagem. Entende contribuições das tecnologias educacionais para o ensino personalizado e adaptativo. Utiliza tecnologias educacionais e softwares educacionais/educativos de forma sazonal. Aplica atividades diferenciadas com o suporte de tecnologias digitais, atendendo às necessidades de cada estudante. Cria experiências de aprendizagem de forma regular com o suporte de tecnologias educacionais. Quadro 1 Níveis de desenvolvimento da apropriação das tecnologias na educação, segundo CIEB (2020) Fonte: CIEB (2020), adaptado pela autora. Constatamos que nos níveis emergente e básico, os profissionais da educação são capazes de identificar, distinguir e compreender o uso apropriado das TICs em experiências de aprendizagem. Já nos níveis intermediário e avançado já desenvolveram capacidades para planejar e integrar essas tecnologias às suas práticas de ensino, considerando, especialmente, um processo personalizado e adaptado aos alunos, tendo em vista as suas necessidades e particularidades. Sugiro que você analise o quadro para verificar em que nível melhor se encaixa. Mas fique tranquilo, pois trataremos do desenvolvimento/aprimoramento, em termos práticos, em aulas posteriores, combinado? Título: Professor em uma aula, com a utilização de tecnologias. Fonte: https://www.istockphoto.com/br/foto/professor-entre-mi%C3%BAdos-da-escola-usando-computadores-em-classe-gm1045327744-279734471 https://www.istockphoto.com/br/foto/professor-entre-mi%C3%BAdos-da-escola-usando-computadores-em-classe-gm1045327744-279734471 https://www.istockphoto.com/br/foto/professor-entre-mi%C3%BAdos-da-escola-usando-computadores-em-classe-gm1045327744-279734471 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 É preciso, também, que você aprimore competências e habilidades técnicas e tecnológicas; de mediação; e gerenciais, nos termos do quadro 2. Competências e Habilidades Capacidades Técnicas e Tecnológicas Criar e gerir e-mails, criando listas de distribuição; fóruns de discussão, incluindo a postagem de comentários, respostas às mensagens dos alunos e a criação de novos tópicos de conversação; programas de chat, que permitem a comunicação em tempo real (síncrona); Websites, adaptando ferramentas de desenvolvimento de sites, blogs, redes sociais; ferramentas de vídeo e audioconferência; Wikis; personalizar a página da sua disciplina e seus conteúdos; inserir imagens, áudio, vídeo, equações e outros elementos multimídia numa página; utilizar repositórios para disponibilização de conteúdos; criar lições de sequência adaptável ao processo de aprendizagem dos alunos; elaborar testes interativos; disponibilizar um enunciado e uma area para os alunos submeterem um trabalho e consultar a avaliação e feedback; utilizar a atividade glossário de forma criativa adaptando-a a outras finalidades; dinamizar workshops que promovam a motivação, o trabalho colaborativo e a avaliação entre pares; organizar os alunos em grupos e agrupamentos para dividir a disciplina e as atividades em turmas e/ ou grupos de trabalho etc.; configurar outras funcionalidades como o acesso condicional a atividades, as condições para a conclusão das atividades e da disciplina, os inquéritos de avaliação, as sondagens de opinião e a aprendizagem baseada em competências e em projetos. De mediação Comunicação interpessoal para apoiar, orientar e incentivar o aluno on-line por meio da sua experiência de aprendizagem; facilitação e envolvimento do aluno no processo de aprendizagem, especialmente no início; questionamento adequado; ouvir e dar feedback; fornecer orientação e apoio aos alunos; gestão de discussões on-line; construir equipes on-line; construção de relacionamento, principalmente de um-para-um nas relações professor/aluno; motivação; assumir atitude positiva para o ensino on-line; ser inovador e experimental; ser proativo; identificação da capacidade de autoaprendizagem do aluno e de estar disponível para a mudança. Gerenciais De gestão do tempo; criar e manter diretrizes para o processo de aprendizagem, tais como o tipo e frequência de comunicação com o aluno; planejamento: estabelecer parâmetros para o professor e os alunos trabalharem em conjunto, olhando para o curso/módulo on-line; controlar eficazmente o processo de aprendizagem e tomar medidas, quando necessário; rever o processo de ensino e aprendizagem para identificar as alterações e melhorias; se adaptar e mudar o ensino e os cursos para atender às necessidades específicas dos alunos e promover a diversidade on-line. Quadro 2 Competências e habilidades gerais para a atuação dos profissionais da educação em ambientes intermediados por tecnologias Fonte: Gontijo (2020). Sugiro que, neste momento, você elabore uma lista das competências e habilidades, apresentadas no “quadro 2”, que você já desenvolveu e/ou está desenvolvendo. Vamos abordá-las, em termos práticos, ao longo da nossa disciplina, ok? Também abordaremos competências e habilidades específicas essenciais requeridas à atores, tais como professores e tutores, nos termos de Behar (2013), certo? EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 ANOTE ISSO Basicamente, habilidades se referem ao “saber fazer”. Por exemplo: eu sei criar e gerir emails. Contudo, o fato de eu saber criar e gerir e-mails não faz de mim uma pessoa que utiliza tecnologias para me comunicar com efetividade. Assim, situamos as competências. As competências dizem respeito ao conjunto de habilidades que mobilizo em determinada situação específica para alcançar fins específicos. Por exemplo: para me comunicar com efetividade, na Internet, preciso colocar em prática diversas habilidades, diversos conhecimentos e diversas atitudes de forma que eu exerça essa ação de maneira competente. Ratificamos aqui que o processo ensino-aprendizagem viabilizado por tecnologias, conforme veremos, pode fundamentar novas práticas pedagógicas, em termos de qualidade e inclusão educacional. Porém, já que a tecnologia não é mágica, tal como temos pontuado, há a necessidade de se incentivar e capacitar adequadamente os educadores e gestores para dela se apropriarem, nos termos dos quadros apresentados. Para tanto, faz-se necessário que esses profissionais desenvolvam a fluência em TICs como capacidade específica para alcançarem conhecimentos mais aprofundados, que transcendam o nível da alfabetização digital para o do letramento tecnológico/ digital, nos termos que anunciamos em nossa última aula. Coelho (2012) explica que: [...] as tecnologiasparticipam intimamente na construção de práticas de letramento. Fazemos materiais textuais através de papel, quadro de giz ou tela eletrônica, por exemplo. Continuamos a redefinir o que se conta como texto através dessas tecnologias. Ler livros ou ler na tela do computador é uma junção complexa de tecnologias com outras práticas socioculturais. O computador, por exemplo, não é apenas um novo mecanismo de alta tecnologia que demanda letramento, mas é a extensão de uma longa história de práticas de letramento através de outras tecnologias (COELHO, 2012, p. 23). Para a autora, o letramento tecnológico envolve a ideia de formação para a fluência em TICs, ou seja, uma formação que possibilite aos sujeitos construir capacidades para utilizar e reformular as informações, expressar-se criativa e apropriadamente, e construir conhecimentos. Para ela, há, pelo menos, dois níveis possíveis de formação nesse contexto: EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 [...] ficam assim definidos dois níveis na formação tecnológica: um inicial, de alfabetização digital mais centrado no uso como cliente, e outro, mais especializado, de fluência em tecnologias de informação e de comunicação, mais centrado na ideia do letramento tecnológico (COELHO, 2012, p. 11). O uso fluente dessas tecnologias, ou seja, o letramento tecnológico envolve [...] a compreensão de como conhecimentos, ideias e informações são estruturados em diferentes mídias e gêneros de comunicação; a compreensão de como essas estruturas afetam leituras e usos de informações pelas pessoas em diferentes contextos socioculturais e na vida cotidiana; o domínio de habilidades técnicas e analíticas com as quais as pessoas negociam na prática os sistemas de significados nos diversos contextos socioculturais; a compreensão de como e porque vários grupos sociais têm acesso diferente e desigual ao letramento e ao conhecimento e como isto se relaciona com interesses de classe e de grupos (COELHO, 2012, p. 12). Título: Imagem de uma tela de computador, com pessoas explorando alguns dos seus recursos. Fonte: https://www.istockphoto.com/br/vetor/%C3%B0%C3%B1%C3%B01-2%C3%B03-4%C3%B0-1-2%C3%B1%C3%B0%CE%BC-rgb-gm1274867768-375682065 Para finalizar o nosso encontro de hoje, gostaria, ainda, de falar um pouco da Educação 5.0. Você está se perguntando o que é essa tal de Educação 5.0? Ou você já conhece os seus preceitos? Por via das regras, vamos tratar um pouco sobre eles? A Educação 5.0, tal como a Educação 4.0, considera que as tecnologias são essenciais no processo de construção de conhecimentos, tendo em vista que o século XXI é, radicalmente, marcado pelas inter-relações entre homem e máquina. Contexto esse que engloba, tal como temos assinalado, robótica, ciências de dados, armazenamento de conteúdos em nuvem, gamificação, cultura maker (faça você mesmo), dentre outras, em processos educativos em escala global. Contudo, a Educação 5.0 emerge apostando nas competências socioemocionais (soft skills) como parte integral da nova era digital e da educação do futuro. Educação do futuro entre aspas, porque as soft skills já têm sido requeridas pelo mundo de trabalho e desenvolvida por meio de iniciativas diversas. Mas o que será mesmo essas tais soft skills? https://www.istockphoto.com/br/vetor/%C3%B0%C3%B1%C3%B01-2%C3%B03-4%C3%B0-1-2%C3%B1%C3%B0%CE%BC-rgb-gm1274867768-375682065 https://www.istockphoto.com/br/vetor/%C3%B0%C3%B1%C3%B01-2%C3%B03-4%C3%B0-1-2%C3%B1%C3%B0%CE%BC-rgb-gm1274867768-375682065 EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 Primeiramente vamos saber o que são hard skills para então diferenciar as expressões e o que elas englobam, ok? As hard skills são as suas competências e habilidades técnicas, tecnológicas e teóricas construídas ao longo da sua formação, em cursos de graduação, pós-graduação, extensão etc. Essas competências e habilidades construídas são chanceladas por uma instituição através de um diploma ou um certificado. Produtos esses que apresentamos em nossos currículos Vitae, Lattes, em nosso perfil no LinkedIn, para recrutadores em processos seletivos, por exemplo. Já as soft skills são o conjunto de competências e habilidades que direcionam, ou mesmo sustentam, o seu comportamento. Por exemplo: você está em uma reunião de trabalho e um colega apresenta uma abordagem sobre o assunto tratado, a qual você não concorda. Caso você o escute com respeito, se coloque no lugar dele e reconheça que os assuntos podem ser abordados sob diferentes perspectivas, você tem umas das importantes soft skills: a empatia. Dentre as inúmeras soft skills que o mundo do trabalho, e porquê também não dizer o mundo da vida, tem exigido de nós, pelo menos 10 delas têm se destacado: comunicação, resiliência, liderança, empatia, colaboração, criatividade, proatividade, ética, pensamento crítico e positivo. Quais você, ainda, acrescentaria? Quais dessas você tem melhor desenvolvidas? Bora aprimorá-las? 3.3 SÍNTESE DA AULA E ANÚNCIO DOS NOSSOS PRÓXIMOS PASSOS NA DISCIPLINA Bem... são tantas as exigências e tantos os requisitos para o trabalho dos profissionais da educação, neste contexto, que muitas vezes nos assustamos, não é mesmo? Como você se sente diante disso? Muitas vezes nos sentimos frágeis, com medo e até mesmo incapacitados diante de tantas demandas... Me sinto assim por vezes. Contudo, este é um caminho que nos parece sem volta e, portanto, precisamos continuar caminhando. Para tanto, além do desenvolvimento de competências e habilidades, temos que nos fortalecer como profissionais da educação, nas categorias das quais fazemos parte e como sociedade em geral. Afinal, não estamos aqui à toa, não é verdade? Nesse sentido, vimos, nesta aula, alguns aspectos, em termos de competências e habilidades, a serem desenvolvidos/aprimorados pelos profissionais da educação. EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 Enfim... os avanços tecnológicos e os seus processos nos desafiam cada vez mais, pois agregam novas exigências às nossas pedagogias, especialmente considerando- se as diversas modalidades educacionais presentes no contexto da Educação 4.0. Assunto para a nossa próxima aula. É hora, pois, de transformarmos paradigmas educativos circunscritos à ideia de que a educação é mera transmissão da informação, e assumirmos o nosso papel histórico na educação: contribuir com um outro mundo possível por meio do uso crítico e criativo das tecnologias. Vamos nessa! EDUCAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS PROF.A CYNTHIA RÚBIA BRAGA GONTIJO FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 AULA 4 MODALIDADES DE ENSINO- APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA 4.1 INTRODUÇÃO – PARA INICIAR A CONVERSA As modalidades educacionais - presencial, a distância, remota e híbrida - estão sendo, cada vez mais, debatidas, tanto pelo Estado, quanto pela Sociedade, especialmente neste contexto de Educação 4.0. Você já deve ter observado, ou mesmo presenciado e participado, de discussões acalentadas acerca dessas modalidades, seja em blogs, webinários, lives, sites oficiais, redes virtuais de aprendizagem diversas, dentre outros espaços. Mas para você já está claro o entendimento sobre as mesmas? Na aula de hoje iremos precisar essas modalidades, destacando as suas características, contribuições e desafios. Vamos lá? 4.2 EDUCAÇÃO PRESENCIAL, A DISTÂNCIA, HÍBRIDA E ENSINO REMOTO A educação presencial, também conhecida como convencional, tradicional ou face a face, já conhecemos bem, não é? Afinal, a nossa formação, pelo menos no nível da Educação Básica (Infantil, Fundamental e Média) ocorreu em seus moldes, ou seja, em um ambiente físico em que o processo ensino-aprendizagem ocorria através de contato físico entre um professor, em geral agente central da dinâmica pedagógica, e um aluno. Título: Imagem de
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