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CASO CLÍNICO - NEUROPARASITOSE Nos Estados Unidos, um homem de 65 anos compareceu em um hospital local apresentando confusão, alterações de comportamento e convulsões. O paciente era um fazendeiro aposentado, até então saudável, e não tomava nenhuma medicação. Durante a admissão encontrava-se afebril e demonstrava problemas de memória e dificuldade em ler. O paciente relatou ter feito uma viagem à Tailândia 5 meses antes. Uma ressonância magnética com contraste do cérebro revelou uma lesão em anel de 16 mm no lobo occipital esquerdo, rodeado por edema. O paciente foi tratado com Levetiracetam e transferido para o departamento de Neurocirurgia com suspeita de um abscesso cerebral. Foram realizados exames laboratoriais de cultura e microscopia com coloração de Gram e de Ziehl (azul metileno) que não revelaram presença de micro-organismos descartando possíveis infecções por bactérias. Fez-se, ainda, a retirada de materiais para biópsia da lesão que mostrou necrose, sem sinais de abcesso ou malignidade, e não havia exudato visível. Foi iniciado tratamento com meropenem, ácido fusídico e metronidazol, mas o paciente não apresentou melhora. Uma tomografia computadorizada com contraste feita 2 semanas depois mostrou aumento das lesões. Uma cirurgia foi feita e uma secção de 30 mm de tecido foi removido. As análises microbiológicas e histopatológicas foram similares à primeira biópsia. Os sintomas neurológicos progrediram, e o paciente apresentava dificuldades em exercer atividades diárias. Cinco dias após a cirurgia, o paciente foi transferido ao departamento de Doenças Infecciosas para investigações mais profundas. Uma história mais detalhada do paciente revelou que ele havia feito várias viagens à Tailândia para visitar sua namorada, e após isso foi feito um teste para VIH que deu positivo. Além disso, relatou que na fazenda mantinha atividade diária no manejo de animais e que cães e gatos circulavam no peridomicílio. Informou ainda que boa parte das hortaliças e frutas eram oriundas da própria fazenda. A contagem de células T CD4 foi de 20 células por microlitro (normal: 390-1700 células). A contagem de glóbulos brancos estava normal assim como a dosagem de proteína C reativa (PCR) também, porém o exame clínico ainda revelou confusão mental, memória pobre e falta de consciência de sua própria condição. O exame de fezes não evidenciou a presença de parasitos e o exame de urina não estava alterado. Foi solicitado exame de sequenciamento de DNA para verificar a presença de bactérias, fungos e parasitos que revelou 99% (16S) e 100% (D2LSU) de compatibilidade com sequências de um determinado protozoário, normalmente oportunista em pacientes com SIDA. Foi realizado diagnóstico molecular (reação da cadeia da polimerase – PCR) nas biópsias iniciais junto com análise histológica usando um anticorpo específico para esse micro-organismo para confirmar o diagnóstico, além de exame sorológico (IgG positivo/IgM negativo). No exame, histopatológico revelou processo inflamatório crônico circundando material necrótico, permeado por células linfomononucleares, a maioria das quais, macrófagos vacuolizados (células grânulo gordurosas). Após diagnóstico confirmado o paciente foi tratado com sulfadiazina e pirimetamina, além de terapia antirretroviral. As condições clínicas do paciente melhoraram após o tratamento. Perguntas 1 - Qual foi o diagnóstico encontrado após exames moleculares? Quais as características do micro- organismo achado? 2- Qual foi a finalidade do uso de Levetiracetam para o tratamento do paciente? Essa escolha foi adequada? 3- O contexto de vida do paciente foi relevante para se chegar ao diagnóstico final? 4- Por que os exames laboratoriais feitos inicialmente não revelaram a presença de micro-organismos? 5- Por que o segundo grupo de medicamentos prescritos não foi eficiente? 6- Qual a relevância da contagem de células T CD4 para o quadro clinico do paciente? 7- Quais informações a dosagem de PCR e o leucograma podem fornecer? 8- Após descoberto o diagnóstico, o tratamento com pirimetamina e sulfadiazina foi adequado? Por que? 9-Discuta o valor da sorologia, do exame molecular PCR e do sequenciamento para o diagnóstico deste parasito. 10-Como a SIDA pode afetar o quadro clínico desta parasitose?