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Autora: Profa. Nádia Fátima Gibrim Colaboradores: Prof. Juliano Rodrigo Guerreiro Prof. Flávio Buratti Gonçalves Profa. Christiane Mazur Doi Biossegurança Professora conteudista: Nádia Fátima Gibrim Nutricionista e docente titular da Universidade Paulista (UNIP) Jundiaí-SP, ministrando disciplinas para os cursos da área da saúde. Graduação em Nutrição pela UNIP e em Economia Doméstica (Universidade Federal de Viçosa (UFV-MG). Mestrado em Tecnologia de Alimentos (UFV-MG) e doutorado em Alimentos e Nutrição pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP). Especialista em Qualidade e Segurança Alimentar pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SP) e especialista em Nutrição Clínica Funcional pela Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul-SP). Foi consultora do Senai-SP em segurança alimentar e implantação de sistemas de qualidade. Nutricionista da Atenção Básica na Prefeitura de Jundiaí. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G447b Gibrim, Nádia Fátima. Biossegurança / Nádia Fátima Gibrim. – São Paulo: Editora Sol, 2022. 120 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Legislação. 2. Equipamentos. 3. Processos. I. Título. CDU 614.4 U514.42 – 22 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Sandra Miessa Reitora em Exercício Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Profa. Dra. Marina Ancona Lopez Soligo Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Claudia Meucci Andreatini Vice-Reitora de Administração Prof. Dr. Paschoal Laercio Armonia Vice-Reitor de Extensão Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades do Interior Unip Interativa Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Aline Ricciardi Vitor Andrade Sumário Biossegurança APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 BIOSSEGURANÇA ...............................................................................................................................................9 1.1 Níveis de biossegurança ................................................................................................................... 10 2 PERIGOS .............................................................................................................................................................. 15 2.1 Perigos físicos ........................................................................................................................................ 19 2.2 Perigos químicos ................................................................................................................................... 22 2.3 Perigos biológicos ................................................................................................................................. 25 2.4 Perigos ergonômicos ........................................................................................................................... 28 3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO ................................................................................................................. 33 3.1 Equipamentos de proteção individual (EPI)............................................................................... 33 3.2 Equipamentos de proteção coletiva (EPCs) ............................................................................... 38 4 LEGISLAÇÃO EM BIOSSEGURANÇA .......................................................................................................... 42 4.1 Histórico ................................................................................................................................................... 43 4.2 Lei n. 11.105/2005 ................................................................................................................................ 44 4.3 Engenharia genética ........................................................................................................................... 45 4.4 Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) ........................................................................... 46 4.5 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) ...................................................... 47 4.6 Qualidade em biossegurança ........................................................................................................... 51 4.7 Boas Práticas de Laboratório (BPL) e Procedimento Operacional Padrão (POPs) ..........51 Unidade II 5 SEGURANÇA COM RADIOISÓTOPOS ........................................................................................................ 60 5.1 Radioisótopos mais utilizados na medicina (CARDOSO, s.d.) ............................................. 60 5.2 Efeitos biológicos das radiações ionizantes .............................................................................. 63 5.3 Eliminação de rejeitos ........................................................................................................................ 64 6 BIOTERISMO ...................................................................................................................................................... 64 6.1 Necessidades básicas de um biotério ........................................................................................... 66 6.2 Biossegurança em biotérios de experimentação ..................................................................... 70 7 LEVANTAMENTO DE RISCOS NO AMBIENTE DE TRABALHO ........................................................... 72 7.1 Avaliação qualitativa .......................................................................................................................... 73 7.2 Avaliação quantitativa ....................................................................................................................... 74 7.3 Limites de tolerância ........................................................................................................................... 74 7.4 Mapa de riscos ....................................................................................................................................... 74 7.5 Risco ocupacional – acidentes com materiais perfurocortantes ..................................... 76 7.6 Gerenciamento de resíduos em serviços de saúde ................................................................. 78 8 PROCEDIMENTOS GERAIS DE DESCONTAMINAÇÃO ......................................................................... 82 8.1 Graus de descontaminação .............................................................................................................. 83 8.2 Processos físicos de desinfecção .................................................................................................... 83 8.3 Processos químicos de desinfecção .............................................................................................. 85 8.4 Esterilização ............................................................................................................................................86 8.5 Classificação dos artigos médico-hospitalares ........................................................................ 89 8.6 Recolhimento e desativação de resíduos do laboratório ..................................................... 90 8.7 Rotulagem de resíduos de laboratório ........................................................................................ 92 8.8 Prevenção de incêndios ..................................................................................................................... 99 7 APRESENTAÇÃO A disciplina Biossegurança tem como objetivo oferecer subsídios para o profissional da área da saúde analisar sua conduta no que diz respeito às questões de segurança durante sua atuação profissional. Essa segurança é em relação a si mesmo, à comunidade, ao meio ambiente e ao seu próprio objeto de trabalho, seja ele um paciente, um animal ou um organismo geneticamente modificado, tanto na prática clínica e hospitalar quanto na pesquisa. A partir das informações apresentadas, o profissional terá condição de diferenciar perigos aos quais está exposto bem como a probabilidade de sua ocorrência. Aprenderá sobre o sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que utiliza muito esses conceitos. Apresentamos as legislações importantes para avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos, bem como o programa de gerenciamento de riscos, a fim de elaborar o mapa de riscos. O profissional da área da saúde se capacitará a identificar os principais agentes físicos, químicos, biológicos e ergonômicos que causam risco tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente. Essa análise é a base de todo o conhecimento em biossegurança e é aplicável a qualquer ambiente de trabalho. O profissional também conhecerá a simbologia de risco e o uso de equipamentos de proteção individual e coletiva a fim de realizar práticas laboratoriais e clínicas adequadas em relação à segurança da saúde humana. Além disso, aprenderá sobre a Lei de Biossegurança no que diz respeito à manipulação de organismos geneticamente modificados, e terá noções sobre infecções hospitalares e níveis de biossegurança laboratorial, com suas aplicações e requisitos. A disciplina também inclui dados sobre procedimentos de descontaminação e como aplicá-los a artigos médico-hospitalares, bem como sobre o manejo de resíduos de serviços de saúde. INTRODUÇÃO Esta disciplina abordará conteúdos importantes para a biossegurança, apresentados em duas unidades. Na unidade I, são abordados conceitos de biossegurança, os níveis de classificação, bem como ações e barreiras necessárias. Apresentamos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos associados às atividades laborais exercidas por profissionais da área da saúde. A seguir, estão os conceitos de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). São também abordados, nessa unidade, os equipamentos de proteção individual (EPIs) e de proteção coletiva (EPCs); boas práticas de laboratório e os procedimentos operacionais padronizados (POPs). 8 Na unidade II, são abordados os seguintes temas: segurança de radioisótopos, seu uso em medicina, os efeitos biológicos e cuidados na eliminação de rejeitos; bioterismo e biossegurança em biotérios de experimentação; levantamento de riscos no ambiente de trabalho, avaliações qualitativas e quantitativas dos riscos, limites de tolerância e mapa de riscos. Além desses tópicos, são apresentados o gerenciamento de resíduos dos serviços de saúde; os procedimentos e graus de descontaminação, bem como seu monitoramento. Os artigos médico-hospitalares são apresentados considerando sua classificação, forma de recolhimento e desativação, quando pertinente. São abordados, também, rotulagem adequada dos resíduos de laboratório, símbolos de risco químico e, por fim, tópicos importantes associados à prevenção de incêndios. Toda e qualquer atividade humana expõe os indivíduos a esforços físicos e riscos de acidentes. Assim, se considerarmos que passamos mais tempo no ambiente de trabalho que em qualquer outro, precisaremos pensar nos efeitos que a atividade profissional causa à saúde. Dependendo da atividade profissional e considerando características inerentes ao tipo de trabalho, há exposição do trabalhador a produtos químicos, radiações, doenças e solicitações físicas repetitivas em níveis acima do aceitável, podendo provocar desgastes ao corpo em curto, médio e longo prazos, muitas vezes, incapacitando o indivíduo ao exercício da profissão. Desse modo, nas ciências da saúde, os profissionais estão expostos a condições especiais para as quais há que se ter conhecimento dos requisitos de biossegurança. A biossegurança é uma área interdisciplinar da ciência cujo objetivo é proteger tanto o trabalhador como o objeto de trabalho dos riscos inerentes à atividade do profissional. São objetos de trabalho o paciente, o material de pesquisa, o alimento processado, os animais e plantas tratados, bem como o meio ambiente. Como pretende a proteção de indivíduos, em alguns momentos, a biossegurança também esbarra em questões relacionadas à bioética, segundo Goldim (1997). A Lei n. 11.105/2005, mais conhecida como Lei da Biossegurança, deixa essa característica muito clara. O estudo da biossegurança visa, sempre, à prevenção de riscos ou, se não for possível, à contenção dos agentes perigosos. A partir do estudo dos mecanismos de ação desses agentes, são estabelecidos os procedimentos seguros de ação. Antes de prosseguirmos no estudo da biossegurança, vale a pena ressaltar que a maioria dos acidentes de trabalho é decorrente de imperícia, negligência e, até mesmo, imprudência dos operadores, portanto, a regra de ouro na prevenção de acidentes é atenção e bom senso. 9 BIOSSEGURANÇA Unidade I 1 BIOSSEGURANÇA A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (BRASIL, 2010) define biossegurança como condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente. Compreende um conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando a saúde do homem, dos animais, a preservação do meio ambiente e a qualidade dos resultados (TEIXEIRA; VALLE, 1996). As “boas práticas”, expressão muito citada por profissionais, referem-se aos procedimentos seguros de trabalho. Esses procedimentos são estabelecidos com antecedência, baseando-se em normas técnicas, na legislação vigente, no histórico da atividade ou, simplesmente, na prática e no bom senso. É muito importante que o estabelecimento de regras de boas práticas seja feito com antecedência, pois a função principal de qualquer procedimento de segurança é evitar o acidente. Qualquer atividade após o acidente serve somente para a redução de danos. As atividades desempenhadas por profissionais na área da saúde apresentam riscos associados ao próprio trabalho, com exposição a microrganismos patogênicos, materiais perfurocortantes, produtos químicos e farmacêuticos, entre outros. Trabalhar seguindo os procedimentos estabelecidos pelas boas práticas é fundamental para a segurança do profissional e para a qualidade da atividade desempenhada, reduzindo os desvios e a variabilidade dos resultados. O conceito de “boas práticas” vale para qualquer ramo de atividade, ajustando-se conforme os requisitos específicos: boas práticas de fabricação, boas práticas de laboratório, boas práticas de preparação etc. Todos os procedimentos são descritos no Manual de Boas Práticas, em que também estão os Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs). Lembrete Biossegurança é uma área multidisciplinar da ciência. Envolve conhecimentos de física, química, microbiologia, antropometria, fisiologia, legislaçãotrabalhista e qualquer outra disciplina que se faça necessária. 10 Unidade I Saiba mais O capítulo 1 do livro indicado a seguir trata de biossegurança e boas práticas laboratoriais: BORBA, C. M. et al. Biossegurança e boas práticas laboratoriais. In: MOLINARO, E. M.; CAPUTO, L. F. G.; AMENDOEIRA, M. R. R. (orgs.). Conceitos e métodos para a formação de profissionais em laboratórios de saúde. Rio de Janeiro: EPSJV, 2009. p. 21-66. (v. 1). Disponível em: https://rb.gy/tqdriu. Acesso em: 17 jan. 2022. 1.1 Níveis de biossegurança Existem quatro níveis de biossegurança: NB-1, NB-2, NB-3 e NB-4. São apresentados em ordem crescente, considerando o maior grau de contenção e complexidade do nível de proteção. Cada um desses níveis requer ações e técnicas aliadas às barreiras físicas nos espaços de manipulação, pesquisa e ensino, de forma a garantir proteção integral para as pessoas e para o ambiente. Consistem em combinações de práticas e técnicas de laboratório, instalações e equipamentos de segurança, adequados às atividades realizadas, considerando as vias de transmissões documentadas ou suspeitas de agentes infecciosos, bem como a dinâmica das atividades desempenhadas no local. A cada nova informação que possa sugerir a virulência, a patogenicidade, bem como os padrões de resistência a antibióticos, as práticas usuais deverão ser ajustadas com maior ou menor rigidez, visando a qualidade do processo de trabalho e a redução dos riscos de contaminação. Observação Aqui serão apresentadas algumas características para diferenciar cada nível de biossegurança. Caso seja preciso projetar um laboratório completo, é necessário consultar normas específicas para isso. Nível de Biossegurança 1 (NB-1) Nesse nível, estão dispensadas as indicações de barreiras de tipo primárias ou secundárias, com exceção de uma pia para higienizar antebraços e mãos. É considerado um nível básico de contenção, sendo priorizadas as medidas padrões de microbiologia. Os laboratórios classificados como NB-1 são projetados para trabalhos com agentes biológicos de classe de risco 1. São locais apropriados para o treinamento educacional ou para o treinamento de técnicos e de professores nas técnicas laboratoriais. 11 BIOSSEGURANÇA As boas práticas de laboratório consistem na principal contenção para esses laboratórios, incluindo a especificação adequada do uso de equipamento de proteção individual (EPI), como aventais de manga comprida e luvas descartáveis. As cabines de segurança biológica (CSB) e fluxo laminar não são exigidas nesse nível de biossegurança. O Manual de Boas Práticas deve conter a especificação dos desinfetantes e produtos de limpeza, com a respectiva concentração de uso. As salas devem ser separadas da área de passagem de pessoas por portas simples, com revestimentos feitos com materiais que facilitem a limpeza, laváveis e não podem ser porosos. O esgoto do laboratório pode ser descartado na rede pública. Ainda considerando as instalações, devem existir pias para limpeza das mãos, lava-olhos e um chuveiro de emergência. As bancadas não podem ter emendas na superfície e devem ser resistentes ao ataque de produtos químicos. Deve existir um local para armazenamento de produtos de uso imediato, e o espaço entre as bancadas deve permitir a circulação de pessoas. Os funcionários devem ter local específico para guardar objetos pessoais e aventais. O símbolo de risco biológico deve ser colocado na porta do laboratório, conforme apresentado na figura seguinte: Risco Biológico Entrada permitida somente para pessoal autorizado Nível de segurança biológica: ..........1 Profissional responsável: ..................1 Em caso de emergência, chamar por: Telefone interno: Telefone residencial: A permissão para entrar no laboratório deve ser solicitada ao responsável acima citado Figura 1 – Símbolo de risco biológico colocado em portas de laboratório Adaptada de: http://tiny.cc/8emnuz. Acesso em: 17 jan. 2022. 12 Unidade I Nível de Biossegurança 2 (NB-2) Estão presentes nesse nível agentes de risco moderado que podem estar associados a patologias de gravidade variável em humanos. Sangue e demais líquidos corporais estão presentes. Utilizam-se os EPIs indicados no NB-1 e barreiras primárias e secundárias. É aplicável aos laboratórios clínicos, de diagnóstico e outros laboratórios onde o trabalho é realizado com maior espectro de agentes nativos de risco moderado, presentes na comunidade e que estejam associados a uma patologia humana de gravidade variável. Os laboratórios NB-2 são projetados para trabalhar com agentes biológicos de classe de risco 2. Com boas técnicas de microbiologia, esses agentes podem ser usados de maneira segura em atividades conduzidas sobre uma bancada aberta, uma vez que o potencial para a produção de borrifos e aerossóis é baixo. Também deve ser dada atenção especial para procedimentos que envolvam a manipulação de objetos perfurocortantes. Os procedimentos envolvendo alto potencial para a produção de salpicos ou aerossóis que possam aumentar o risco de exposição desses funcionários devem ser conduzidos com a CSB. Outras barreiras primárias, como escudos para borrifos, proteção facial, aventais e luvas, devem ser utilizadas de maneira adequada. O laboratório de NB-2 deve atender a todos os requisitos indicados para o NB-1, com mais algumas exigências. Deve ser instalado longe da área de passagem pública e suas portas devem ter fechamento automático. O acesso de pessoas deve ser restrito, e os indivíduos que têm acesso devem ter um controle maior sobre sua saúde, por meio do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). Os cantos entre paredes, piso e teto devem ser arredondados, e os revestimentos devem ser não porosos e resistentes ao uso de desinfetantes. É permitido que exista recirculação de ar no sistema de ventilação e ar-condicionado, entretanto, esse ar deve ser filtrado e descartado longe de prédios habitados e de locais de circulação de pessoas. Devem ser evitadas as tubulações aparentes, todavia, caso isso não seja possível, os suportes de tubulação devem garantir espaço suficiente para a limpeza de todas as superfícies. As bancadas de trabalho devem estar engastadas na parede, de modo a não ser possível o acúmulo de sujidades entre ambas. As pias e os lavatórios devem possuir sistema automático de acionamento. A CSB deve ser de classe II e é necessário que se mantenha o registro de seu uso. Assim, toda manipulação que tenha a possibilidade de geração de aerossol, como o uso de centrífuga, moinho e a manipulação de frascos pressurizados, deve ser feita dentro da CBS. Os técnicos que trabalham nesses laboratórios passam por treinamento específico no manejo de patógenos e são supervisionados por profissionais qualificados para a função. Durante os procedimentos ali realizados, o acesso ao laboratório é limitado. 13 BIOSSEGURANÇA Nível de Biossegurança 3 (NB-3) Os laboratórios NB-3, ou de contenção, destinam-se ao trabalho com agentes de risco biológico da classe 3. São microrganismos que acarretam elevado risco individual e baixo risco para a comunidade. É aplicável para laboratórios clínicos, de diagnósticos, de pesquisa ou de produção. Apresenta requisitos de controle e segurança mais rígidos em relação aos níveis 1 e 2. Nesses laboratórios só devem ser admitidos funcionários com experiência em NB-2. A equipe profissional deve ser treinada para manejo de agentes patogênicos, além de ser supervisionada por profissional altamente qualificado, com grande experiência com esses agentes. Outra questão muito importante refere-se à manutenção do laboratório, a ser feita por empresas especializadas e com o acompanhamento dos funcionários. Nesses locais, são realizados trabalhos com agentes nativos ou exóticos, com potencial de transmissão por via respiratória e que podem causar infecções sérias e potencialmente fatais. Os riscos primários causados aos trabalhadores que lidamcom esses agentes incluem a autoinoculação, a ingestão e a exposição aos aerossóis infecciosos. Esse nível de contenção exige a intensificação dos programas de boas práticas laboratoriais e de segurança, além da existência obrigatória de dispositivos de segurança e de sistema de pressão negativa para a exaustão e filtração do ar do interior do laboratório. Considerando que envolve o risco de infecções graves e potencialmente fatais, que podem ser contraídas pelas vias respiratórias, todas as manipulações devem ser conduzidas com barreiras primárias e secundárias. Os pesquisadores devem usar roupas de proteção específicas para essa área e equipamentos de proteção individual. Todos os envolvidos no processo de manipulação devem passar por exames sorológicos periódicos. Todas as manipulações laboratoriais deverão ser realizadas em uma CSB ou em outro equipamento de contenção, como uma câmara hermética de geração de aerossóis. As barreiras secundárias para esse nível incluem acesso controlado ao laboratório e sistemas de ventilação que minimizem a liberação de aerossóis infecciosos do laboratório. O laboratório NB-3 deve ser posicionado em uma área isolada do edifício, com uma antessala com portas duplas, com acesso controlado por fechaduras de segurança. Deve ser incluída no projeto uma sala específica para troca de roupas. O sistema de ventilação e ar-condicionado é projetado de modo a permitir seu isolamento e as janelas devem ser herméticas para que seja possível uma desinfecção gasosa, se necessário. Nos acessos ao laboratório, são necessárias pias para lavagem das mãos, providas de torneiras de acionamento automático. Os sistemas de água e esgoto apresentam válvulas antirrefluxo. O esgoto deve ser tratado com desinfetante antes de ser lançado no sistema público. Nesses laboratórios, a autoclave deve ser instalada dentro do laboratório, e as centrífugas e bombas de vácuo devem ser equipadas com filtros de ar de alta capacidade. 14 Unidade I Vale ressaltar a importância da existência de planos de emergência, formalizando procedimentos contra derramamentos e escapes, sendo esses acidentes de notificação obrigatória. Nível de Biossegurança 4 (NB-4) Esses laboratórios são projetados para manipular agentes biológicos com classe de risco 4. Trata-se de alto risco e de mais difícil tratamento em caso de contágio. O isolamento do ambiente e dos trabalhadores em relação aos organismos infecciosos deve ser completo. O planejamento e a construção das dependências, bem como as práticas e os equipamentos de segurança, são aqueles aplicáveis às atividades que envolvam agentes exóticos perigosos com alto risco de provocarem doenças fatais em indivíduos. Vale lembrar que esses agentes podem ser transmitidos via aerossóis e que para alguns deles ainda não existem vacinas ou terapia disponível até o momento. Os riscos primários aos trabalhadores que manuseiam agentes do NB-4 incluem exposição respiratória aos aerossóis infecciosos, exposição da membrana mucosa ou da pele com algum tipo de lesão às gotículas infecciosas e à autoinoculação. Todas as manipulações de materiais potencialmente infecciosos utilizados para efetuar diagnósticos, substâncias isoladas e animais natural ou experimentalmente infectados apresentam alto risco de exposição e infecção aos funcionários de laboratório, à comunidade e ao meio ambiente. O completo isolamento dos trabalhadores de laboratórios em relação aos materiais infecciosos contidos nos aerossóis é realizado em CSB ou com um macacão individual suprido com pressão de ar positivo, conforme apresentado a seguir. Figura 2 – Procedimento efetuado em cabine de segurança biológica em laboratório de nível de biossegurança 4 (NB-4) Disponível em: http://tiny.cc/aemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022. 15 BIOSSEGURANÇA Instalações de nível de biossegurança 4 são construídas em um prédio separado ou em uma área completamente isolada, contando com ventilação e sistemas de gerenciamento de lixo que evitem a liberação de agentes viáveis no meio ambiente. Os sistemas de ar-condicionado devem oferecer pressão do ar negativa dentro do prédio, o que visa garantir, em caso de vazamento, que o ar interno não saia do edifício. O acesso às áreas controladas deve ser feito por portas duplas e antessala com controle da pressurização do ambiente. Saiba mais Microrganismos de classe de risco 4 ou instalações com procedimentos de segurança semelhantes ao NB-4 sempre foram inspiração para filmes. Vale assistir: CONTÁGIO. Direção: Steven Soderbergh. Estados Unidos: Warner Bros, 2011. 116 min. EPIDEMIA. Direção: Wolfgang Petersen. Estados Unidos: Warner Bros, 1995. 127 min. 2 PERIGOS Antes do estabelecimento das normas de boas práticas, é muito importante conhecer os perigos associados ao tipo de atividade laboral a serem prevenidos com a adoção dessas práticas. Para exemplificar, é de conhecimento de todos a importância de lavar as mãos, embora o bom senso indique que o procedimento de lavar as mãos, usado por um mecânico, seja diferente daquele executado por um médico antes de iniciar uma cirurgia. Isso parece óbvio, considerando as atividades executadas pelos dois profissionais. Se o médico não lavar as mãos adequadamente, vai expor o paciente a risco aumentado de infecção durante e após a cirurgia, até mesmo com possibilidade de complicações e óbito. No caso do mecânico, o fato de não lavá-las adequadamente poderá, na pior das hipóteses, deixá-las sujas de graxa. Assim, o procedimento para higienização das mãos executado pelo médico deve ser bem mais rigoroso do que o utilizado pelo mecânico. Ainda considerando a lavagem das mãos, esse procedimento foi relembrado continuamente durante a pandemia do coronavírus (Covid-19) como forma de prevenção do contágio. É um procedimento de fácil execução e uma maneira efetiva de prevenir a disseminação de doenças, tendo em vista que pode interromper a disseminação de pessoa a pessoa, bem como para a comunidade etc. 16 Unidade I O Michaelis – Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa online (PERIGO, 2022) define o verbete perigo como “situação que ameaça a existência ou integridade de uma pessoa ou coisa; risco”. Para melhor entendimento, faremos uma diferenciação entre perigo e risco: • Perigo: qualquer agente que cause danos à saúde ou à integridade física das pessoas, podendo ser classificado, quanto à severidade, em baixo, médio ou alto. • Risco: refere-se à probabilidade de ocorrência do perigo, podendo também ser classificado em baixo, médio ou alto. Considerando perigo e risco, veja a situação a seguir: ao atravessar a rua, existe o perigo do atropelamento. Se for uma rua com pouco movimento (probabilidade baixa), na qual os carros passam em baixa velocidade (severidade do atropelamento baixa), o risco de atravessar a rua é baixo. Porém, se for uma rodovia muito movimentada, com carros em alta velocidade, o risco da travessia é alto, e a severidade também. Essa diferenciação entre perigo e risco é útil particularmente para quem trabalha com alimentos. Na área de alimentos, existe um sistema de controle de higiene e segurança alimentar chamado APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle), que utiliza muito esses conceitos. Trata-se de uma ferramenta de gestão da qualidade com caráter preventivo, com abordagem sistemática que visa identificar pontos críticos de controle dos perigos biológicos, químicos e físicos durante as etapas de produção de alimentos, para os quais existem medidas corretivas a serem aplicadas em caso de desvio dos parâmetros esperados de segurança. Os princípios do sistema APPCC são aceitos e reconhecidos internacionalmente. Todos os perigos associados ao processo produtivo são analisados considerando risco de ocorrência e severidade. Para cada ponto crítico de controle identificado, existem ações corretivas a serem aplicadas em caso de desvios do que seria a situação adequada, possibilitando o retorno aos padrões de qualidadeestabelecidos e a garantia de segurança do alimento produzido. Existem sistemas adaptados para diferentes linhas produtivas: APPCC Mesa, para produção de refeições; o APPCC Indústria, aplicável às indústrias de alimentos e o APPCC Campo, para o controle das atividades agrícolas de produção. Para o seguimento Mesa, o plano é feito por conjunto de preparações com características similares, enquanto no seguimento Indústria de Alimentos existe um plano para cada tipo de alimento produzido. Vale ressaltar que os sete princípios do sistema APPCC são os mesmos para os diferentes setores produtivos e são executados de modo sequencial, conforme apresentado a seguir: • Análise de perigos e medidas preventivas. • Identificação dos pontos críticos de controle. 17 BIOSSEGURANÇA • Estabelecimento dos limites críticos. • Estabelecimento dos procedimentos de monitoração. • Estabelecimento das ações corretivas. • Estabelecimento dos procedimentos de verificação. • Estabelecimento dos procedimentos de registro. O sistema APPCC é uma ferramenta muito importante utilizada no gerenciamento de riscos de segurança de alimentos. Permite identificar riscos e implantar controles para gerenciá-los em toda a sua cadeia de suprimentos durante a produção. Atende aos requisitos do Codex Alimentarius, comissão estabelecida pela Organização Mundial da Saúde e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, reunindo normas, diretivas e códigos de práticas alimentares internacionais para garantir o comércio justo. Considerando que o sistema APPCC fornece ferramentas de gestão de riscos, ele pode ser utilizado para atender aos requisitos da ISO 22000, norma para Gestão de Segurança de Alimentos. A Portaria n. 6.735, de 10 de março de 2020 aprova a nova redação da Norma Regulamentadora n. 9 (NR-9) para Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos, conforme segue: Art. 1º A Norma Regulamentadora n. 09 (NR-09) – Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos passa a vigorar com a redação constante do Anexo I desta Portaria. Art. 2º Determinar que a Norma Regulamentadora n. 09 seja interpretada com a tipificação de NR Geral. Art. 3º Na data da entrada em vigor desta Portaria, fica revogado o art. 1º da Portaria SSST n. 25, de 29 de dezembro de 1994 (BRASIL, 2020b). A NR-9 do Ministério do Trabalho estabelece os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos quando identificados no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), previsto na NR-1, e subsidiá-lo quanto às medidas de prevenção para os riscos ocupacionais. Para efeito dessa NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. 18 Unidade I Consideram-se agentes físicos as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, bem como o infrassom e o ultrassom. Os agentes químicos são substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, como poeiras, fumaças, névoas, neblinas, gases e vapores, ou, a depender da natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou serem absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão. Ainda, para efeito dessa norma, consideram-se agentes biológicos bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. Já a Portaria n. 25/1994, do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1994), ao regulamentar a elaboração do mapa de riscos, considera a existência de cinco categorias de riscos: agentes físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes (mecânicos). Já os agentes ergonômicos são caracterizados pela falta de adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas do trabalhador. Os agentes de acidentes são os arranjos físicos inadequados ou deficientes, máquinas e equipamentos, ferramentas defeituosas, inadequadas ou inexistentes, eletricidade, sinalização, perigo de incêndio ou explosão, transporte de materiais, edificações, armazenamento inadequado etc. A maior parte dos autores apresenta os perigos e os classifica sem dar maiores explicações sobre os critérios utilizados para sua classificação. Além disso, dependendo da área de trabalho, os perigos são considerados de maneira diferente. Exemplificando, um biólogo não considera um inseto da mesma forma que um nutricionista, o que pode gerar divergências quanto à classificação de alguns perigos. Vale ressaltar que essa classificação é didática e existe para facilitar o raciocínio sobre a execução da atividade profissional. Identificar a presença do perigo é muito mais importante do que classificá-lo. Para este estudo, consideraremos os perigos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos. Nos critérios de classificação foram consideradas as medidas preventivas. Saiba mais Você aprenderá mais sobre a utilização de APPCC na indústria de alimentos conhecendo o artigo: RIBEIRO-FURTINI, L. G.; ABREU, L. R. Utilização de APPCC na indústria de alimentos. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 30, n. 2, p. 358-363, mar./abr. 2006. Disponível em: https://bit.ly/33oxHGr. Acesso em: 17 jan. 2022. 19 BIOSSEGURANÇA 2.1 Perigos físicos São considerados perigos físicos: • Qualquer sólido estranho à atividade exercida, encontrado em níveis e dimensões inaceitáveis. • Objetos e ferramentas perfurocortantes. • Ruídos intensos, radiações ionizantes, temperaturas excessivas, pressão e ambiente anormal. • Insetos e outros. Essa classe de perigos possui como característica principal provocar a ruptura da pele e de tecidos. A pele é a principal barreira de proteção do corpo humano, sendo impermeável tanto a fluidos quanto a microrganismos. Com a sua ruptura, existe a possibilidade de contaminações por esses perigos, que costumam ser muito mais graves. Os perigos físicos podem ser prevenidos por meio de barreiras físicas que impedem a ação do agente como apresentado a seguir: telas nas janelas impedem a entrada de insetos; tampas de panela impedem a queda de fragmentos na comida; superfícies espelhadas impedem a propagação da radiação; luvas grossas impedem que as mãos se queimem, entre outras. O que normalmente causa estranheza a quem está iniciando o estudo da biossegurança é a classificação de insetos como perigos físicos, e não como perigos biológicos. Para melhor esclarecer, os insetos podem representar perigo de três formas: • Como vetores de doenças, sendo considerado como perigo o microrganismo causador da doença, e não o inseto que provoca a ruptura da pele. • Como agente transmissor, no momento da picada, de substâncias irritantes ou venenosas. • Quando está presente no alimento pode, na maior parte dos casos, provocar uma engasgadura. Vale lembrar que o principal perigo provocado por um animal é a ruptura da pele provocada pela mordida ou por arranhões, o que permitirá a entrada de veneno ou de microrganismos. Os perigos físicos têm diversas origens. Vamos apresentar algumas delas a seguir: Pedaços de vidro São gerados por quebra de utensílios de cozinha ou vidraria de laboratório. Como maneira de prevenir esse perigo, é necessário sempre verificar a existência de trincas, principalmente em vidrarias que sofrerão choques térmicos por variações bruscas de temperatura. No caso, o vidro sofrerá variações dimensionais não uniformes, podendo provocar estilhaçamento. Os fragmentos de borosilicato, material 20 Unidade I muito utilizado na confecção de vidraria de laboratório, são muito cortantes e devem ser manuseados com muito cuidado. Joias, objetos de adorno, fios de cabelo e esmalte Esse perigo é típico da manipulação de alimentos. Em algumas operações,os trabalhadores dependem do tato e não podem usar luvas, por exemplo, na determinação do ponto de corte durante a fabricação de queijos. Nesse tipo de operação, o esmalte pode soltar fragmentos no alimento, e anéis, brincos ou colares podem se soltar sobre o alimento, representando um perigo para quem for consumi-lo. A Resolução n. 216/2004 (ANVISA, 2004) e a Portaria CVS 5 (SÃO PAULO, 2013) proíbem que manipuladores de alimentos utilizem qualquer tipo de adornos no trabalho. O trabalhador não deve fazer uso desses adornos no ambiente de trabalho, além disso, pelos, fios de cabelo ou de bigode devem ser contidos com o uso de toucas e máscaras faciais, também conhecidas como bigodeiras, e aventais com mangas compridas. Para homens com muitos pelos no braço, recomenda-se o uso de mangotes. Fragmentos metálicos, parafusos, porcas Os parafusos foram criados para permitir a desmontagem dos equipamentos. Assim, é bom lembrar que nenhum parafuso fica apertado para sempre. É muito importante que todos os equipamentos passem por manutenções preventivas para verificação do aperto de parafusos. Esse perigo pode estar associado a vários tipos de equipamentos, tendo em vista os sucessivos ciclos de aquecimento e resfriamento, com dilatação e retração das peças, levando ao afrouxamento de parafusos. Pragas Incluem-se nesse grupo os insetos, roedores, parasitas externos (pulgas e carrapatos), pássaros e morcegos. Os programas de controles de pragas, sob responsabilidade de empresas qualificadas, previnem a presença de pragas. Além disso, são bastante efetivas as barreiras físicas como telas de proteção nas janelas, ralos sifonados e telas entre as telhas e as paredes. Essas últimas para impedir que pombos e morcegos se alojem sob os telhados das edificações. Superfícies aquecidas e geradores de chama A presença de fornos e chapas aquecidas é comum, tanto em laboratórios quanto em cozinhas. Tendo em vista que é fácil para pessoas desavisadas se queimarem em superfícies aquecidas, tais equipamentos devem ser isolados termicamente e serem instalados em áreas de pouca circulação de pessoas, ventiladas e livres de materiais voláteis ou termossensíveis. Para fogões e bicos de Bunsen, é muito importante também a manutenção preventiva, com verificação constante da integridade das válvulas e mangueiras de gás. O sistema de tubulações que alimentam esses equipamentos deve ser dotado de diversas válvulas de bloqueio nos ramais, bem como 21 BIOSSEGURANÇA de válvula geral para isolar o fornecimento de gás, caso necessário. Na operação desse sistema, as válvulas devem ser abertas, em sequência, a partir do ponto fornecedor até o ponto consumidor e depois devem serem fechadas na ordem inversa. Torna-se necessário ter atenção redobrada para nunca inverter esse procedimento. Superfícies refrigeradas, trabalhos com nitrogênio líquido ou com despressurização rápida de gases A identificação visual dessas superfícies é facilitada pelo acúmulo de condensado e por formação de neve, o que não diminui o perigo de acidentes graves. O congelamento da água contida dentro das células provoca a formação de cristais de gelo que rompem a parede celular, provocando a destruição do tecido. A manipulação dessas superfícies deve ser feita com muito cuidado, utilizando-se luvas específicas e pinças. Radiação ionizante Considera-se radiação ionizante toda forma de radiação com energia suficiente para arrancar os elétrons dos átomos, como as radiações alfa, beta, gama e os raios X. As reações do indivíduo à exposição de radiação são dependentes de vários fatores, entre os quais, estão a quantidade de radiação recebida, os efeitos cumulativos de várias exposições, do estado geral do indivíduo, bem como do dano físico provocado, como as queimaduras. É bom lembrar que as radiações ionizantes podem provocar alterações no DNA ou em substâncias associadas ao metabolismo. Caso essa alteração não leve à morte celular ou não possa ser reparada pelos sistemas celulares, será propagada para as próximas gerações de células. Nos locais onde se trabalha com esse tipo de radiação, as portas e paredes devem ser revestidas de materiais que absorvem a radiação, enquanto os operadores devem utilizar aventais específicos para essa finalidade. Os acessos a essas áreas devem ser adequadamente sinalizados. Vale ressaltar que gestantes não podem trabalhar nesse tipo de atividade. Laser O laser está se disseminando em diversas áreas, entre as quais, estão a medicina e os procedimentos estéticos. Mesmo sabendo que o feixe de laser é bastante direcionado, é preciso considerar algumas questões importantes para a segurança de todos os envolvidos em sua utilização. Devido ao espalhamento da luz quando passa por coloides, efeito Tyndall, ou pelo reflexo da luz em superfícies polidas, parte da luz pode chegar aos olhos do trabalhador. A principal proteção contra os efeitos do laser é o uso de óculos de proteção coloridos para bloquear comprimentos de onda específicos. Perfurocortantes A manipulação desses materiais só deve ser feita por pessoas capacitadas, equipadas com proteções adequadas, como é o caso da luva cota de malha de aço. A superfície cortante ou a ponta do 22 Unidade I instrumento nunca deve ser apontada na direção do trabalhador, e sua atenção não deve ser desviada durante a operação. Como material clínico, os perfurocortantes devem ser descartados em recipientes exclusivamente destinados a esse fim. 2.2 Perigos químicos Considerando-se apenas o descrito na NR-9 e na Portaria n. 25/1994, para ser considerada um perigo químico, a substância deve penetrar no organismo. Porém, serão incluídos nessa análise os riscos de explosão e incêndios provocados pela má manipulação dos produtos químicos. Se os perigos químicos são originados de manipulação errada de produtos químicos, então, para prevenir-se dessa classe de perigos, é muito importante que o trabalhador conheça as características dos produtos manipulados. Segundo a Chemical Abstract Service (ACS, 2022), uma divisão da American Chemical Association responsável por coletar informações sobre produtos químicos, existem cerca de 70 milhões de substâncias químicas diferentes e, por melhor que o profissional esteja preparado, é impossível conhecer todos os detalhes sobre a manipulação de todos esses produtos. A Lei n. 6.514/1977, no art. 197, estabelece que: Os materiais e substâncias empregados, manipulados ou transportados nos locais de trabalho, quando perigosos ou nocivos à saúde, devem conter, no rótulo, sua composição, recomendações de socorro imediato e o símbolo de perigo correspondente, segundo a padronização internacional (BRASIL, 1977). Essa padronização foi fixada pela ABNT na norma NBR 14725 (ABNT, 2012a; 2012b). Nas partes 3 e 4 desta norma, estão estabelecidas as informações que devem constar no rótulo e na Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). A FISPQ é um documento que traz as informações necessárias para a criação de procedimentos adequados de manipulação de produtos químicos, em outras palavras, para boas práticas de laboratório. Os perigos químicos são avaliados de acordo com suas características físico-químicas, reatividade, toxidade, condições de manipulação, possibilidade de exposição e vias de penetração no organismo. Trata-se de uma análise bem completa e complexa (BINSFELD, 2004). Nesse estudo, chamaremos a atenção para quatro dessas características: a difusividade no ar, a inflamabilidade, a toxidade e a ecotoxidade. A difusividade no ar é a capacidade de uma substância de se espalhar pelo ar. Se o produto químico se espalhar facilmente pelo ar, ele se torna muito difícil de ser contido, e um incêndio ou uma nuvem tóxica pode tomar grandes dimensões. Dois parâmetros dão uma indicação de como um produto vai se difundir pelo ar: • Pressão de vapor: é a pressão que o vapor faz quando está em equilíbrio com o líquido em uma evaporação. Quanto maior a pressãode vapor, mais volátil o produto e maior é a difusão. 23 BIOSSEGURANÇA • Densidade relativa do vapor: refere-se à densidade da substância em relação à densidade do ar, na mesma temperatura. Vapores menos densos que o ar são facilmente carregados por correntes de ar e se dissipam na atmosfera. Vapores mais densos tendem a ficar concentrados no ambiente e apresentam maior risco. A inflamabilidade é a capacidade de o produto químico incendiar-se. Essa capacidade pode ser avaliada baseando-se em três parâmetros: • Inflamabilidade no ar: refere-se aos limites superior e inferior de concentração (porcentagem em massa) dentro dos quais o produto torna-se inflamável. Fora desses limites, o produto não se incendeia; dentro deles, qualquer fonte de calor é suficiente para provocar um incêndio. • Ponto de fulgor: é a temperatura na qual um produto químico liberta vapor suficiente para entrar em combustão com a ajuda de uma fonte de calor externa. Sem essa fonte, a chama se extingue. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de combustão. • Temperatura de ignição: é a temperatura na qual o produto químico entra em combustão sem o auxílio de uma fonte de ignição. Quanto mais baixo o ponto de fulgor, maior o risco de combustão espontânea. A toxidade é a capacidade de um produto químico produzir efeitos nocivos, tanto no meio ambiente quanto nos organismos vivos. A ABNT, na norma NBR 14725, diferencia as informações sobre a toxidade entre informações toxicológicas e informações ecológicas. A FISQP pode fornecer diversos parâmetros de informações toxicológicas, sendo os mais comuns: • Toxidade aguda: faz referência a exposições de curta duração, na ordem de segundos, minutos ou horas. Normalmente, é apresentada a DL50, por via oral, para ratos. Esse parâmetro indica a dose mínima necessária para matar 50% de uma população de cobaias. A DL50 não fornece detalhes sobre os mecanismos de ação do produto em humanos, mas serve como comparativo entre os diversos produtos químicos. Quanto menor a DL50, mais letal é o produto. • Toxidade crônica: refere-se a exposições de longo prazo, com duração de dias, meses ou anos. São indicados os sintomas provocados pela longa exposição ao produto. • Limite de exposição ocupacional: concentração máxima de um produto químico no meio ambiente sem que ocorram prejuízos à saúde do trabalhador. Existem várias definições em relação ao tempo de exposição do trabalhador, resultando em diversos parâmetros. O mais comum é o TLV-TWA (Threshold Limit Value – Time Weighted Average), parâmetro de origem americana que indica a concentração para uma jornada de 8 horas diárias e 40 horas semanais. A ecotoxidade é a ação dos produtos químicos quando liberados no meio ambiente, sobre os constituintes vivos dos ecossistemas. O Ibama, na Portaria n. 84 de 1996, indica os seguintes parâmetros para avaliação do potencial de dano ao meio ambiente (IBAMA, 1996): 24 Unidade I • Bioacumulação: descreve a capacidade de um produto apresentar concentrações nos organismos mais elevadas do que no meio. Isso significa que os organismos estão acumulando o produto químico. • Persistência: está relacionada à degradabilidade do produto no ambiente. Essa degradação pode se dar pela ação de microrganismos (biótica) ou por processos químicos de oxidação, hidrólise ou outros (abiótica). • Transporte: refere-se aos processos físicos de transporte de massa. A difusão no solo e na água e a solubilidade influenciam esse parâmetro. • Toxidade a diversos organismos: DL50 aplicada a organismos típicos de cada meio, por exemplo, de organismos aquáticos. • Potencial mutagênico: capacidade de um produto químico causar no DNA danos que não se conseguem reparar no momento da replicação celular, portanto, a alteração é transmitida para as gerações seguintes. • Potencial teratogênico: capacidade de um produto químico provocar danos em fetos em desenvolvimento. Esses danos podem ser malformações, alterações neurológicas ou mesmo a perda da gravidez. • Potencial carcinogênico: capacidade de um produto químico causar câncer. No trabalho rotineiro no laboratório, conhecem-se os produtos químicos que serão manipulados. Esses produtos são adquiridos junto aos fabricantes ou distribuidores, que são obrigados a fornecer a FISPQ. Já na produção de alimentos, a bioacumulação e a persistência são parâmetros fundamentais, e nem o manipulador nem o consumidor final do alimento tem controle sobre isso. Quem for analisar os perigos químicos associados à produção de alimentos deve considerar toda a cadeia produtiva, conforme apresentado a seguir. Por exemplo, a produção de um iogurte com frutas pode ser contaminada por várias fontes: • Se o leite vier de um produtor que não isola as vacas que estão passando por tratamento veterinário, aquele vai conter traços de antibiótico. • Se a geleia de frutas adicionada ao iogurte contiver uma quantidade grande de sorbato de potássio, o iogurte terá uma quantidade deste fungicida acima do limite de tolerância legal. • Se os lubrificantes da máquina de envase não forem adequados para o uso alimentício, o iogurte terá traços de hidrocarbonetos. Não adianta executar ações preventivas apenas na manipulação do alimento, sendo também muito importante considerar a seleção do fornecedor. O fornecedor deve ter qualidade assegurada e ser auditado pelo contratante, com frequência determinada conforme a necessidade. 25 BIOSSEGURANÇA No caso de alimentos, os perigos químicos podem ser introduzidos ainda no campo por meio de práticas inadequadas na aplicação, acondicionamento e descarte de agrotóxicos e antibióticos ou no desrespeito à legislação que regulamenta o uso desses produtos. Além disso, considerando o processo produtivo dos alimentos, se acontecerem falhas na limpeza e sanitização dos equipamentos utilizados, restarão resíduos que se tornarão contaminantes do processo seguinte que utilizarão a mesma linha de produção. São considerados perigos químicos associados à produção e manipulação de alimentos: • metais pesados (chumbo, cobre, cádmio, mercúrio, entre outros), que podem ser incorporados aos alimentos por meio da água de irrigação; • fertilizantes inadequados ou em excesso; • lubrificantes e aditivos de caldeiras; • conservantes em excesso; • traços de produtos de limpeza e sanitização de utensílios; • antibióticos; • pesticidas. É importante ressaltar que as toxinas geradas por microrganismos presentes nos alimentos podem ser consideradas perigos biológicos. Apesar de serem substâncias químicas, sua prevenção depende da prevenção dos microrganismos geradores. 2.3 Perigos biológicos Os perigos biológicos são aqueles que causam infecções, caracterizadas pela invasão e multiplicação de organismos indesejáveis no objeto de trabalho ou no próprio trabalhador. Lembrete Os perigos biológicos têm de ser conhecidos na mesma proporção que as medidas de prevenção de sua ocorrência devem ser implantadas. Para a identificação correta de uma infecção, vários fatores precisam ser avaliados: • o tipo de agente infeccioso; • a quantidade inoculada desse agente; 26 Unidade I • a resistência natural do ambiente a esse agente; • o estado de saúde do sujeito contaminado. Note que somente a presença do organismo indesejável não é suficiente para caracterizar uma infecção. O problema maior é a multiplicação desse organismo. Isso vale tanto para microrganismos quanto para parasitas internos e em qualquer objeto de trabalho, mas, para facilitar o entendimento, vamos analisar essa questão para microrganismos no corpo humano saudável. Existem duas razões para que a multiplicação dos microrganismos seja considerada o maior problema: • O corpo humano possui uma capacidade de combate a essas infecções, então, uma inoculação pequena não representaria risco. • Alguns microrganismos produzem toxinas que são termorresistentes. Essas toxinas vão se acumulando e não podem ser eliminadas de alimentos ou meiosde cultura por processos térmicos. O processamento de higienização de materiais e equipamentos inclui a limpeza, desinfecção e esterilização, sendo fundamental conhecer e saber classificar os materiais a serem higienizados, bem como os desinfetantes químicos e seus potenciais de ação. Vale lembrar que para o bom processamento dos artigos utilizados, a limpeza é fundamental (HIRATA; MANCINI FILHO, 2002; MASTROENI, 2005). Em alguns procedimentos biotecnológicos industriais, a eliminação parcial dos microrganismos de equipamentos e do ambiente garante, sem nenhum prejuízo, a qualidade do produto. Por melhor que seja o processo de descontaminação, existe sempre uma probabilidade de sobrevivência de microrganismos. Esse tema será mais bem analisado quando forem apresentadas as técnicas de descontaminação. A prevenção dos perigos biológicos é fundamental para evitar a multiplicação dos microrganismos e a inoculação. Na área de alimentos, também podem ser considerados como perigos biológicos os parasitas internos e as toxinas produzidas por alguns tipos de fungos e bactérias. Um dos parâmetros mais importantes no estabelecimento da vida útil de um alimento é o binômio tempo/temperatura de processamento. Os alimentos com pH acima de 4,5 e atividade de água superior a 0,85, chamados alimentos de baixa acidez, normalmente, exigem tratamentos térmicos muito mais rigorosos do que para alimentos com pH menor do que 4,5, nos quais não ocorre desenvolvimento de patógenos. 27 BIOSSEGURANÇA Em pH maior que 4,5, pode ocorrer crescimento do Clostridium botulinum, bactéria esporulada que produz uma neurotoxina de elevada letalidade ao homem, quando encontra condições ideais no alimento processado. Essas condições são pH maior do que 4,5, ambiente anaeróbico, presença de umidade e nutrientes. As características de resistência térmica dos esporos desse microrganismo são bem conhecidas e são utilizadas para o cálculo do processo de esterilização na indústria de alimentos. Vale ressaltar que as toxinas produzidas por todos os subgrupos são destruídas nas seguintes utilizando-se aquecimento a 80 ºC durante 20 a 30 minutos, 85 ºC durante 5 minutos, ou 90 ºC durante alguns segundos. As células vegetativas, os esporos e as toxinas de C. botulinum não são destruídos pela congelação. A ocorrência desses perigos é evitada criando condições no alimento ou ambiente para que o microrganismo gerador da toxina não se desenvolva. Então, por facilidade, considera-se esse perigo como sendo biológico. O Manual de Segurança em Laboratório, da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2004), sugere que sejam considerados os seguintes parâmetros na avaliação dos perigos biológicos: • Patogenicidade do agente: capacidade de o microrganismo causar doenças. Outro parâmetro semelhante a ser considerado é a virulência, associada à mortalidade causada por esse agente. • Dose infecciosa: quantidade mínima inoculada de um microrganismo capaz de provocar uma doença. • Via de exposição: os mecanismos mais comuns são a inoculação direta (por acidentes com agulhas), a inalação de aerossóis (quando alguém espirra ou tosse), o contato com membranas ou mucosas e a ingestão. • Concentração do agente: uma grande quantidade de material contaminado a ser manipulado significa uma grande concentração do agente infeccioso e, portanto, maior risco de contaminação. • Informação disponível: agentes infecciosos exóticos ou pouco conhecidos implicam riscos maiores. • Tipo de atividade executada: se a atividade executada, por exemplo, o uso de ultrassom, gerar aerossóis, o risco de contaminação e o raio de ação do agente são maiores. • Disponibilidade de profilaxia: agentes infecciosos cujas doenças possuem algum tipo de tratamento ou vacina apresentam menores riscos que os microrganismos cujas doenças não possuem tratamento. 28 Unidade I Os microrganismos também são classificados de acordo com o potencial de risco que apresentam: • Classe 1: os microrganismos que não apresentam nenhum risco de causar doenças. Contudo, isso não significa que eles não apresentam riscos, pois, no caso de alimentos, por exemplo, eles podem ser deteriorantes. • Classe 2: agentes patogênicos que não causam doenças graves em humanos ou animais. Essas doenças possuem um tratamento eficaz, e o risco de a infecção se alastrar é pequeno. • Classe 3: microrganismos que causam doenças graves que podem levar à morte tanto em homens como em animais, mas cuja propagação é limitada. Existem tratamentos e medidas de prevenção. • Classe 4: agentes patogênicos que causam doenças graves, com risco de morte para humanos ou animais, e que são transmitidos facilmente, principalmente por via aérea. 2.4 Perigos ergonômicos A medicina do trabalho foi criada no século XVII com os trabalhos do médico italiano Bernardino Ramazzini, que descreveu as primeiras doenças de origem profissional em uma série de monografias que tratavam de problemas oculares, auditivos e de postura. No final do século XIX, Frederick W. Taylor introduziu o conceito de administração científica, preocupando-se com a forma mais eficiente de execução do trabalho, demonstrando a importância da antropometria no projeto do ambiente de trabalho. Em 1914, o francês Jules Amar publica o livro O motor humano, a primeira obra a fornecer as bases fisiológicas do trabalho muscular e sua relação com as atividades profissionais. Esse livro é considerado a primeira obra sobre ergonomia. A definição da Associação Internacional de Ergonomia (IEA) para ergonomia é, conforme tradução retirada do site da Abergo (Associação Brasileira de Ergonomia): [...] uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema (ABERGO, s.d.). Atividade profissional é uma série de relações, estímulos e respostas que o trabalhador estabelece com o objeto de seu trabalho. Essas relações ocorrem tanto no âmbito mental quanto no físico; quando essas solicitações ultrapassam a capacidade do trabalhador, aumenta-se o risco de acidente ou de danos na saúde. Portanto, a análise ergonômica não pode ser restrita apenas a um aspecto. Ela tem que ser multidisciplinar e deve incluir as características pessoais de cada trabalhador. 29 BIOSSEGURANÇA A atividade sensorial e mental não é tão óbvia quanto a atividade física, mas existe em toda ação humana, por mais simples que pareça. Na atividade mental, a psicofisiologia e a psicologia do trabalho forneceram parâmetros para a análise do trabalho a serem avaliados: • Detecção da informação: a informação deve ser fornecida acima do limiar de percepção do trabalhador e deve permanecer por tempo suficiente para que se torne um estímulo. • Interpretação da informação: a informação deve ser clara, não pode dar margem a ambiguidades e deve satisfazer a expectativa do trabalhador. • Frequência de decisões: em um trabalho monótono, o nível de atenção do trabalhador cai drasticamente, resultando em omissões; por outro lado, em um trabalho que exige muitas decisões, a capacidade de o trabalhador reconhecer informações e resolver problemas decai ao longo do tempo. • Tempo de resposta: um ser humano não consegue memorizar muitas informações simultâneas, correndo o risco de esquecimentos ou de alterações na resposta. Já para a análise da atividade física, precisam ser considerados: • O limiar de força do trabalhador: os músculos executam trabalhos dinâmicos (estendendo ou flexionando) ou estáticos (imobilizando segmentos ósseos). Para cada tipo de esforço, o músculo tem uma capacidade máxima. Utilizam-se, durante o trabalho, apenas 15 a 20% da força máxima. Quando esse limiar é ultrapassado, surge a fadiga, caracterizada por dores, tremores ou dificuldades na precisão dos movimentos. • O ritmo de trabalho: pausas curtas e frequentes são mais eficientesque pausas longas e mais raras na recuperação física. • A postura de trabalho: significa imobilização de partes do corpo para a execução da atividade física. Algumas posturas resultam em um esforço físico maior, porém são necessárias para viabilizar o trabalho devido à exigência de força física, precisão de movimentos, ritmo de execução ou disponibilidade de espaço. • As condições de conforto ambiental: o trabalhador só pode conservar sua integridade física se seu organismo suportar as condições impostas pelo ambiente. Temperatura, umidade e velocidade do ar afetam diretamente a sudorese e a regulagem de temperatura do corpo. O nível de ruídos pode provocar danos ao sistema auditivo (risco físico), mas também interfere na execução de tarefas mentais mais complexas. A luminosidade também interfere na quantidade de informações obtidas pelo olho. Sob vibrações, o equilíbrio é perturbado e a acuidade visual diminui. A NR-17, do Ministério do Trabalho, trata da ergonomia no ambiente de trabalho, mas se concentra apenas em seu aspecto físico. O objetivo dessa norma é “estabelecer parâmetros que permitam a 30 Unidade I adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (BRASIL, 2021). Essa norma apresenta parâmetros de controle para: • levantamento, transporte e descarga de materiais pesados: o trabalhador deve receber treinamento adequado, a carga especificada para mulheres e menores deve ser menor que a carga especificada para homens, e a carga deve ser compatível com a força do trabalhador; • mobiliário: o local de trabalho deve ser planejado para garantir as distâncias recomendadas de mãos, pés, pernas, olhos e ser compatível com a movimentação necessária ao trabalho; • equipamentos: os equipamentos que formam um posto de trabalho devem ser adequados às condições psicofisiológicas do trabalhador e à natureza do trabalho; • organização do trabalho: nos locais onde haja trabalhos que exijam concentração e atividade intelectual, como salas de controle, laboratórios e escritórios, recomenda-se o controle do ruído e das condições de conforto térmico. Desde a sua publicação, a norma passou por uma ampla revisão em 1990, e, posteriormente, por quatro alterações pontuais. A primeira revisão foi publicada pela Portaria MTPS n. 3.751, de 23 de novembro de 1990, que conferiu nova redação à norma. A última alteração da norma foi realizada por meio da Portaria MTB n. 876, de 24 de outubro de 2018, para ajuste do subitem 17.5.3.3, referente à disposição sobre iluminância, em função do cancelamento da norma técnica ABNT NBR 5413 (BRASIL, 2021). A partir dessa publicação, a norma passou a referenciar a Norma de Higiene Ocupacional n. 11 (NHO 11) – Avaliação dos Níveis de Iluminamento em Ambientes de Trabalho Internos. Conforme agenda regulatória definida, a NR-17 foi atualizada, com sua nova redação válida a partir de 3 de janeiro de 2022. LER/Dort A expressão LER (Lesões por Esforços Repetitivos) surgiu oficialmente no Brasil em 1997, com a publicação da Portaria n. 4.062/1987, que reconheceu a tenossinovite como uma doença relacionada ao trabalho. A tenossinovite é uma inflamação dos tendões e das membranas que recobrem os tendões, provocando dor, falta de força e inchaço no local. Essa doença foi chamada, muitas vezes, de tenossinovite do digitador (BRASIL, 2001a). 31 BIOSSEGURANÇA Aqui, vale fazer uma diferenciação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (apud BRASIL, 2001a), os distúrbios de saúde relacionados à atividade laboral se dividem em duas categorias: doença profissional e doença relacionada ao trabalho. As doenças profissionais são aquelas inerentes à atividade profissional, pois não há como o trabalhador atuar sem estar exposto ao agente causador da doença. Um exemplo disso é o cantor de rock: não é possível cantar em uma apresentação sem estar exposto a um som extremamente alto, o que ocasiona perdas auditivas. Aqui, há uma relação direta entre causa e efeito. No caso das doenças relacionadas ao trabalho, não é possível identificar um agente específico entre os que estão relacionados à atividade profissional. É o caso do professor, que usa a voz como instrumento de trabalho. A utilização da voz está condicionada ao comportamento da classe, à matéria dada, à hidratação da garganta, à umidade relativa do ar, ao seu período de descanso, enfim, a uma gama enorme de fatores. A expressão LER passou a ser usada indiscriminadamente, abrangendo os distúrbios ou doenças do sistema músculo-esquelético-ligamentar, relacionadas ou não ao trabalho. Nesse panorama, a expressão se tornou imprecisa, e os diagnósticos muitas vezes deixaram de ser tendinite ou bursite e passaram a ser LER (BARBOSA, 2009). Em 1998, por meio da Ordem de Serviço INSS/DSS n. 606, foi adotada a terminologia Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho (Dort), equiparando-a à LER, para respeitar a literatura já existente na época. A partir daí, as expressões LER e Dort aparecem juntas, na forma LER/Dort. Apesar dessa equiparação, para efeito de continuidade histórica da literatura publicada, a Ordem de serviço DSS n. 606/1998 justifica a mudança de terminologia afirmando que [...] o termo LER é genérico, e o médico deve sempre procurar determinar o diagnóstico específico. Como se refere a diversas patologias distintas, torna-se difícil estabelecer o tempo necessário para uma lesão persistente passar a ser considerada como crônica. Além disso, até a mesma patologia pode se instalar e evoluir de forma diferente, dependendo dos fatores etiológicos. Com todas essas limitações, o que se pode dizer é que as Lesões causadas por Esforços Repetitivos são patologias, manifestações ou síndromes patológicas que se instalam insidiosamente em determinados segmentos do corpo, em consequência de trabalho realizado de forma inadequada. Assim, o nexo é parte indissociável do diagnóstico que se fundamenta numa boa anamnese ocupacional e em relatórios de profissionais que conhecem a situação de trabalho, permitindo a correlação do quadro clínico com a atividade ocupacional efetivamente desempenhada pelo trabalhador, donde a proposta da nova terminologia Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – Dort (BRASIL, 1998). 32 Unidade I As doenças enquadradas nesse grupo compreendem uma heterogeneidade de distúrbios funcionais e/ou orgânicos, que manifestam em seu portador sintomas comuns, muitas vezes, inespecíficos, como: • fadiga muscular; • dor; • parestesia; • sensação de peso; • mal-estar; • processos inflamatórios em tendões, ligamentos e bursas sinoviais; • contraturas musculares etc. O desenvolvimento da LER/Dort está relacionado a diversas causas. Então, é muito importante analisar cada caso e determinar quais os fatores de risco envolvidos de forma direta ou indireta na ocorrência. Esses fatores de riscos são determinados por meio de anamnese feita pelo médico do trabalho, procurando identificar as interações entre os possíveis fatores de riscos e se essa interação é capaz de ultrapassar a capacidade de regeneração do tecido muscular, mesmo se o funcionamento deste esteja parcialmente mantido. Nesta caracterização, é importante observar alguns elementos, como: • a região anatômica e a biomecânica associada a ela; • a intensidade do esforço; • a organização temporal do trabalho (a duração do ciclo de trabalho e a distribuição das pausas); • a adequação do posto de trabalho; • o conforto ambiental; • a carga estática; • a invariabilidade da tarefa; 33 BIOSSEGURANÇA • as exigências de atenção, provocando aumento de tensão muscular ou reação mais generalizada de estresse; • os fatores psicossociais ligados ao trabalho, como percepções relativas à carreira, à carga e ao ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho. As LER/Dort são doenças de notificação obrigatória. Quando o médico dotrabalho suspeitar de uma LER/Dort, deve emitir uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) para o INSS, mesmo que a doença não provoque a incapacitação do trabalhador ou gere o seu afastamento. A CAT é um documento utilizado pelo INSS para a obtenção de dados relativos aos acidentes do trabalho e às doenças ocupacionais. O objetivo dessa captação é fornecer informações para o enquadramento das empresas segundo os graus de risco no ambiente do trabalho para o cálculo da contribuição da empresa ao INSS, destinada ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência dos acidentes e subsidiar políticas de prevenção e fiscalização das empresas. Observação A sigla Dort foi introduzida para substituir a sigla LER por dois motivos: primeiro porque a maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema musculoesquelético não apresenta evidências de lesão em qualquer estrutura; a segunda razão é que além do esforço repetitivo, outros tipos de sobrecargas podem ser nocivas para o trabalhador. 3 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO 3.1 Equipamentos de proteção individual (EPI) A CLT surgiu como necessidade institucional após a criação da Justiça do Trabalho em 1939. Ela é chamada de Consolidação das Leis Trabalhistas, em vez de Código das Leis Trabalhistas, porque seu objetivo foi apenas reunir a esparsa legislação trabalhista já existente na época, consolidando-a. A assinatura do documento foi em 1º de maio de 1943. Os equipamentos de proteção individual (EPIs) e de proteção coletiva (EPCs) para laboratórios são de uso obrigatório. O uso de EPIs no Brasil é regulamentado pela NR-6 da Portaria n. 3.214/1978, do Ministério do Trabalho e Emprego. No universo das NRs, quem regulamenta os equipamentos de proteção individual é a NR-6. A empresa é obrigada a fornecer gratuitamente aos empregados EPIs adequados ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento. Cabe ao empregador orientar e treinar o trabalhador sobre o uso adequado, a guarda e conservação e, principalmente, exigir seu uso. 34 Unidade I Um EPI é um dispositivo de uso individual do trabalhador. Seu objetivo é proteger a saúde e manter a segurança dos colaboradores de todas as áreas do laboratório. Constitui medida contra substâncias irritantes e tóxicas, agentes infecciosos, materiais perfurocortantes e materiais submetidos a aquecimento ou congelamento. O uso de EPIs é um direito do profissional de saúde e seu uso de maneira correta deve ser orientado. Esses equipamentos podem ser descartáveis ou não e devem estar à disposição dos profissionais em número suficiente, de forma que seja garantido o imediato fornecimento ou reposição. Os itens obrigatórios para os colaboradores de laboratórios de análises clínicas são jalecos, luvas, máscaras ou respiradores, óculos de segurança ou protetores faciais. Se houver ruídos além dos níveis permitidos, deve haver também protetores de ouvido para trabalhos muito demorados. Uma situação que ocorre constantemente em estabelecimentos de saúde, e que expõe outras pessoas a riscos desnecessários, é o uso dos equipamentos de proteção individual fora do ambiente para o qual o seu uso está previsto. Essa situação vai contra a NR-6, que indica a importância de usá-los apenas para a finalidade a que se destinam e responsabilizar-se por sua guarda e conservação. Os EPIs não devem ser utilizados fora da área técnica. Os EPIs devem apresentar o Certificado de Aprovação (CA) comprovando que esse equipamento foi devidamente testado e está apto para comércio e uso. Antes de ser destinado à comercialização, todo o equipamento de proteção deve passar por testes de conforto, resistência, durabilidade etc. É um processo que deve ser realizado pelas empresas fabricantes e/ou importadoras de EPIs. Após ser aprovado nesses testes por laboratórios credenciados, o EPI recebe o Certificado de Aprovação (CA), o que garante que o equipamento fornecido aos trabalhadores é de qualidade e será efetivo na hora de protegê-los. Vale ressaltar que só podem ser comercializados no Brasil aqueles que possuam um CA; o fabricante só obtém esse certificado se tiver um laudo fornecido por um laboratório credenciado pelo Inmetro para sua avaliação. Equipamentos de proteção à cabeça A touca de proteção serve tanto para proteger o usuário quanto o produto manuseado. Protege o usuário por evitar o contato do cabelo com máquinas que possam colocar em perigo o trabalhador ao ter contato e, eventualmente, sugar, puxar ou enroscar-se nos cabelos. Já no caso de proteção de produto, a touca capilar evita que cabelos caiam no produto manuseado, o que gera o risco de contaminação. 35 BIOSSEGURANÇA Figura 3 – Touca descartável Disponível em: https://bit.ly/3IHanTl. Acesso em: 17 jan. 2022. Os protetores faciais protegem o rosto do trabalhador contra impactos, respingos, substâncias nocivas, fagulhas e outros materiais biológicos. Também podem proteger contra radiações, dependendo do material, espessura e cor do visor. A) B) Figura 4 – Protetor facial Disponível em: A) http://tiny.cc/eemnuz; B) http://tiny.cc/gemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022. Os óculos de segurança servem para proteger o trabalhador em atividades que possam causar ferimentos nos olhos provenientes de impacto de partículas, respingos; em trabalhos que possam causar irritação nos olhos e outras lesões decorrentes da ação de líquidos agressivos e da ação de radiações perigosas. A figura a seguir mostra um modelo de óculos de segurança. Vale ressaltar que a diversidade de formas dos óculos corresponde à diversidade de aplicações de segurança. A aplicação dos óculos de segurança é específica, e a utilização de um modelo em uma aplicação para o qual ele não tenha sido projetado não garante a segurança. 36 Unidade I Figura 5 – Óculos de segurança Disponível em: http://tiny.cc/iemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022. As máscaras são proteções para as vias respiratórias. Da mesma forma que os óculos de proteção, as máscaras são específicas para o tipo de contaminante. Elas também apresentam diversas formas construtivas, e sua especificação depende de diversos fatores. Quando o profissional atuar em procedimentos com risco de geração de aerossol nos pacientes com infecção suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2019), deve utilizar a máscara de proteção respiratória (respirador particulado) com eficácia mínima na filtração de 95% de partículas de até 0,3 (tipo N95, N99, N100, PFF2 ou PFF3) (BRASIL, 2020d). A máscara deverá estar bem ajustada à face e nunca deve ser compartilhada entre profissionais. Acentua-se que forma de uso, manipulação e armazenamento deve seguir as recomendações do fabricante. A) B) Figura 6 – Máscara cirúrgica (A) e KN-95 (B) Disponível em: A) https://bit.ly/3fKfkOI; B) http://tiny.cc/kemnuz. Acesso em: 17 jan. 2022. 37 BIOSSEGURANÇA Alguns tipos de máscaras trabalham filtrando o ar exterior, conforme os modelos mostrados nas figuras a seguir. Figura 7 – Máscara filtrante Disponível em: https://bit.ly/3rFv23f. Acesso em: 17 jan. 2022. Equipamentos de proteção para o tronco Aventais, capas e outras vestimentas especiais de proteção para trabalhos em que haja perigo de lesões provocadas por riscos de origem radioativa, biológica ou química. Figura 8 – Avental para proteção contra radiação Disponível em: Avental RX Panorâmico para Paciente Adulto - CSR (dentalcremer.com.br). Acesso em: ? 38 Unidade I Figura 9 – Jaleco descartável para uso em laboratórios e serviços de saúde 3.2 Equipamentos de proteção coletiva (EPCs) É importante ressaltar que a responsabilidade coletiva é um conceito que todos os colaboradores de um laboratório precisam respeitar, independentemente dos tipos de produtos manipulados no local. Todos os participantes do grupo são igualmente responsáveis pelo uso dos equipamentos de proteção coletiva, quando necessário. Os profissionais não podem renunciar aos equipamentos de proteção individual. Como o próprio
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