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1 PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DA PRODUÇÃO AULA 1 Prof.a Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos! Nesta primeira aula de Planejamento, Programação e Controle da Produção se têm por objetivos: Apresentar o uso das ideias de PCP ao longo da história humana. Entender a lógica da visão sistêmica das organizações e de como os sistemas produtivos fazem parte desta lógica. Proporcionar o conhecimento dos vários tipos de sistemas produtivos. Compreender que sistemas produtivos distintos levam a modelos de planejamento e controle de produção igualmente distintos. Entende-se ser importante alcançar estes objetivos, na medida em que as empresas que desejam ser eficazes devem utilizar adequadamente os recursos à sua disposição. Para tanto, elas precisam planejar antecipadamente seus processos e controlá-los à medida que as ações são realizadas. De acordo com Santos (2015), sem a estruturação das ações de Planejamento, Programação e Controle da Produção não é possível eliminar desperdícios e aumentar os ganhos do sistema produtivo. Assim, nossas aulas serão dedicadas a conhecer um pouco mais sobre Planejar, Programar e Controlar a Produção! TEMA 1: VISÃO HISTÓRICA A história nos permite olhar o passado para melhor entender o presente. Este princípio vale para qualquer conceito criado e utilizado pela humanidade ao longo do tempo. Assim, vale a pena observar o caminho percorrido pelos conceitos de Planejamento e de Controle ao longo da História de forma a perceber sua importância ao longo do tempo e de como conceitos tão antigos continuam válidos e importantes para a gestão da produção. 3 Pode-se afirmar que as necessidades de controle e planejamento surgiram ao início da História da humanidade. A importância destes dois princípios de gestão, desde que o homem começa a se tornar sedentário, toma posse de terras e começa a viver em sociedade, é notória. Um dos primeiros momentos em que se constata o uso de controle pelos homens data aproximadamente de 3500 a.C., quando os sumérios começam a registrar situações do cotidiano, em especial, referentes a controle de posses, entre outras situações. No Egito Antigo (por volta de 2500 a.C.), o uso dos conceitos de planejamento e controle evolui ainda mais na medida em que a sociedade egípcia se refina e que as obras públicas ficam cada vez mais complexas. Planejamento, direção, organização em grupos, divisão de atividades, descrição detalhada de tarefas e mobilização de recursos humanos se tornam atividades fundamentais para que reis e faraós possam demonstrar seu poder e levar a cabo seus famosos projetos arquitetônicos e de engenharia, sendo que alguns destes projetos perduram até hoje, vide as pirâmides. Ao montar um dos primeiros sistemas semi-industriais de produção armamentista da História e desenvolver conceitos de logística para seus exércitos, os Romanos (por volta de 50 a.C.) também contribuem para aumentar a importância de conceitos de gestão na sociedade da época, pois seria impossível dominar um Império nas proporções alcançadas pelos romanos, sem um planejamento e controle. A expansão romana se dá, entre outros aspectos, pela quantidade de armas produzidas muito além do que já se tinha observado em qualquer outra civilização e pela construção de estradas por toda a Europa, facilitando a movimentação de exércitos e o transporte de recursos. Estas ações facilitam o planejamento e o controle dos movimentos de dominação romana frente a outros povos. A evolução no uso cotidiano dos conceitos de planejamento e controle só tem uma interferência, de acordo com Sprakel e Severiano Filho (1999), na Idade Média, quando crenças religiosas e misticismos impedem que a população tenha acesso a inovações técnicas. A vida cotidiana se torna menos pautada na 4 racionalidade. Mas vale lembrar que a igreja católica, poder dominante à época, vira modelo de estrutura organizacional e de hierarquia, que padroniza controles organizacionais. É a partir do desenvolvimento de estruturas hierárquicas como a da Igreja Católica, que as organizações têm com clareza as regras de relacionamento entre as pessoas que dela fazem parte. Para Sprakel e Severiano Filho (1999, p. 5), é com o Renascimento (século XV) que a evolução dos conceitos de planejamento e controle tem continuidade, pois se passa novamente a valorizar inovações, em uma sociedade com base na objetividade e na racionalidade. Assim, novidades tecnológicas, baseadas na mecânica, passam a ser valorizadas. Com isso há a criação de máquinas e equipamentos que darão início à Revolução Industrial, em especial a máquina a vapor. Efetivamente, o grande marco para as organizações produtivas e o uso de controle e planejamento se dá ao longo da Revolução Industrial. Este período da História se inicia por volta de 1760, na Europa, com a invenção da máquina a vapor. Essa máquina substitui o uso de esforços humanos e de aninais para a produção, com grande vantagem. Os processos manufaturados passam a ser industrializados, pois há a possibilidade de se produzir em grande escala tudo de que se precisa. Em uma década, passa-se a produzir, por exemplo, de um fio em uma roca de fiar, a centenas de fios, consumindo o mesmo tempo, em máquinas de tecelagem movidas a vapor. Surgem assim as grandes empresas, em grandes galpões, com centenas a milhares de trabalhadores em cada uma delas, trabalhadores estes que não tinham vivenciado a rotina de uma empresa e que, portanto, precisam ser conduzidos em suas atividades diárias para que os objetivos organizacionais fossem cumpridos. Nasce, com força, a proposta de divisão do trabalho, para facilitar a supervisão destes operários que, por sua vez, fariam tarefas cada vez mais específicas, com baixo grau de complexidade e de pensamento criativo. O auge da propagação desta ideia se dá com Adam Smith, que inicia sua obra “A riqueza das Nações”, publicada pela primeira vez em 1776, fazendo defesa à divisão do trabalho com seu exemplo da fábrica de alfinetes que multiplicava 5 várias vezes sua produtividade ao fazer com que cada operário tivesse uma única e específica tarefa. Ao início do século XX se vê grandes avanços em termos de gestão das indústrias por meio das propostas tayloristas-fordistas de Administração Científica, produção em massa, sedimentando de vez o uso dos princípios de controle e planejamento. Princípios valorizados na Europa passam a ser filosofia de vida nos Estados Unidos, que buscam modernidade e pragmatismo. Esta filosofia, nas empresas, era da padronização de procedimentos e de produtos, posto que estas empresas ainda viviam das ações empíricas de seus donos e de seus funcionários. Tais ações, conduzidas somente pelo conhecimento prático, começam a ser ajustadas pela proposta de práticas de gestão que delimitassem como cada tarefa deveria ser realizada, como capacitar os operários para realizar estas tarefas padronizadas, como organizar o sistema produtivo de tal forma que ele fosse cada vez mais eficaz e tivesse cada vez mais capacidade de prover grandes quantidades de produtos acabados, também padronizados. Esta proposta é claramente visível na obra de Taylor, “Princípios da Administração Científica”, publicada inicialmente em 1911, na qual o autor propõe o uso de métodos científicos para estabelecer a forma de se realizar uma tarefa, por meio da análise de tempos e movimentos. De lá para cá, esses princípios foram aprimorados até se chegar na atualidade na história do PCP, que começa na década de 1980, com o uso cada vez mais extensivo de computadores nas empresas, que propicia avanço em relação à forma de planejar e controlar a produção, facilitando muito as várias situações em que o PCP se utiliza de método de tentativa eerro. O uso de tecnologia, desde simuladores em Excel a sistemas organizacionais como ERPs (Enterprise Resource Planning), traz novas possibilidades de um planejamento mais rápido, com maior capacidade de projetar produções complexas, mais ajustado às necessidades organizacionais e, portanto, mais eficaz. 6 TEMA 2: VISÃO SISTÊMICA Visão sistêmica diz respeito à ideia de que, para se tomar decisões acertadas na organização e elaborar estratégias que alcancem os objetivos da empresa, há necessidade de se ter uma visão do todo organizacional. Pensar a empresa em partes que não se interligam pode gerar uma série de problemas e conflitos com as partes interessadas da organização. Partes interessadas ou stakeholders são todos os envolvidos com a organização, tais como: sócios/acionistas, clientes, força de trabalho, fornecedores, sociedade em geral. Dessa forma, independentemente do tipo de análise ou de ação que se está fazendo, é importante entender todo o contexto, pois o desempenho de um elemento organizacional sempre afeta não somente a própria organização, mas também outras partes interessadas. Um dos modelos mais recentes para a compreensão de uma visão sistêmica é o adotado pela FNQ (Fundação Nacional da Qualidade) em seu modelo de excelência da gestão (MEG), ilustrado na Figura 1, denominado Mandala do MEG. A mandala do MEG “simboliza a organização, que é um sistema vivo integrante de um ecossistema complexo, com o qual interage e do qual depende, adaptável ao ambiente, e sugere uma visão sistêmica da gestão organizacional.” (FNQ, 2016). Nela se pode observar cada um dos elementos que compõem o sistema organizacional. Assim, ao fazer a análise de uma empresa, pode-se observar que essa está imersa em informação e conhecimento (tanto internos, quanto externos); que clientes e sociedade envolvem a empresa, pois é com base na necessidade destas partes interessadas que a Liderança estabelecerá Estratégias e Planos para a organização. Após a formulação de Estratégia e Planos, Processos podem ser definidos e projetados para o alcance dos objetivos organizacionais. Definidos os processos, há a necessidade de colocá-los em prática, por meio das Pessoas, que devem ser selecionadas, 7 capacitadas e avaliadas periodicamente para que os processos aconteçam de maneira eficaz. A organização só terá conhecimento se seus processos são eficazes observando seus resultados, por meio de indicadores de desempenho que guiem as mudanças necessárias. Assim, toda a organização se encontra envolvida com a busca de melhoria contínua. Ao se ter as estratégias gerais da organização, essas serão desdobradas em estratégias funcionais, para cada uma das áreas/setores da empresa. Figura 1: Mandala do MEG Fonte: <http://www.fnq.org.br/avalie-se/metodologia-meg/modelo-de-excelencia-da-gestao> Em se tratando da área produtiva, o gestor de produção deve obter uma série de informações de cada uma das áreas da organização para que ele possa compreender o posicionamento estratégico da produção dentro do posicionamento estratégico da empresa e assim contribuir para o alcance dos objetivos gerais. Tubino (1997, p. 89) comenta que uma série de áreas (setores) das empresas auxilia com informações para a área da produção. Por exemplo: A área de Finanças conhece os custos com estoques, horas extras, novos equipamentos, entre outros custos. 8 A área de Marketing informa sobre o plano de vendas e a previsão de demanda para que se possa fazer o planejamento de produção. A área de Engenharia fornece as informações sobre padrões atuais de tempos e consumo de materiais para execução das tarefas. A área de Compras informa as necessidades de fornecimento externo. A área de Recursos Humanos apresenta plano de contratação e capacitação de pessoal. Até mesmo a própria área de Produção deve ter conhecimento de suas limitações de capacidade e instalações para que se possa fazer um plano de produção consistente. Fica claro então que todos os elementos que compõem a organização afetam e são afetados entre si. Assim, não é possível imaginar a área produtiva isolada das demais áreas organizacionais. Também não é possível imaginar a área da produção tomando decisões sem que a empresa como um todo tenha observado adequadamente o ambiente externo à empresa. As forças que atuam fora do sistema organizacional afetam os elementos internos ao sistema. Cabe ao gestor observar se forças do macroambiente, como a economia, as questões político-legais, a demografia, as tecnologias, o meio ambiente são forças favoráveis ou não à organização. Também há forças da concorrência, de clientes e de fornecedores que precisam ser analisadas. É preciso saber se estas forças atuam no sentido de aumentar a demanda da empresa ou reduzi-la. Finalmente, é importante conhecer as várias possibilidades de se produzir um mesmo produto, o que se denomina aqui de tipos de sistemas produtivos, pois cada um deles traz vantagens e desvantagens. É com base na análise de todas as variáveis aqui comentadas que se poderá propor a melhor forma de produzir, sempre ressaltando que cada empresa tem suas características próprias e que, para ter uma real vantagem competitiva em relação às suas concorrentes, a empresa precisa pensar seus 9 processos produtivos de acordo com estas suas características, sem se deixar levar por análises superficiais ou sem se deixar levar pela moda do momento. TEMA 3: TIPOS DE SISTEMA Existem muitas formas de se classificar os sistemas produtivos. Conforme Tubino (1999), as formas mais conhecidas de se classificar utilizam três categorias distintas: Pelo grau de padronização: nesta categoria distingue-se o processo produtivo de acordo com a produção, trabalhar com produtos padronizados ou trabalhar com produtos feitos sob medida. Pelo tipo de operação: nesta categoria o processo produtivo pode ser realizado de forma contínua ou pode ser realizado de forma discreta. Pela natureza do produto: nesta categoria o processo produtivo resulta em um bem ou resulta em um serviço. 3.1. Sistema de acordo com o grau de padronização Tubino (1999, p. 29) informa que produtos padronizados “são aqueles bens ou serviços que apresentam alto grau de uniformidade, são produzidos em grande escala, os clientes esperam encontrá-los sempre à sua disposição no mercado”, seus sistemas produtivos são padronizados em termos de recursos produtivos e de métodos de trabalho e controle. Já produtos sob medida são bens ou serviços desenvolvidos unicamente para um cliente específico. Assim não há estoques, mas, por outro lado, há possivelmente capacidade ociosa dos recursos produtivos, que ficam à espera do pedido do cliente. Essa capacidade ociosa existe porque no momento em que há a demanda real o prazo de entrega deve ser cumprido. 3.2. Sistema de acordo com o tipo de operação Na classificação por tipo de operação, Tubino (1999, p. 30) separa as operações em processo contínuo, conceituando-o como aquele em que a 10 produção resulta em um produto que não pode ser identificado individualmente, e em processo discreto, descrevendo-o como aquele cujo resultado é um produto isolado em lotes ou unidades. O autor cita ainda que o processo discreto ainda pode ser subdividido em processo repetitivo em massa, processo repetitivo em lote e processo por projeto. No Quadro 1, encontram-se resumidas as características de cada uma das subdivisões do processo discreto. Quadro 1: Características dos sistemas de produção Contínuo Repetitivo em massa Repetitivo em lotes Projeto Volume de produção Alto Alto Médio Baixo Variedade de produtos Pequena Média Grande Pequena Flexibilidade Baixa Média Alta Alta Qualificação da mão de obra Baixa Média Alta Alta LayoutPor produto Por produto Por processo Por processo Capacidade ociosa Baixa Baixa Média Alta Lead time Baixo Baixo Médio Alto Fluxo de informações Baixo Médio Alto Alto Produtos Contínuos Em lotes Em lotes Unitário Fonte: Tubino (1997, p. 29). Os processos contínuos acontecem quando o produto, seja um bem, seja um serviço, apresenta uma alta uniformidade. Exemplos deste tipo de produção são: o fornecimento de água tratada, a produção siderúrgica, o monitoramento de segurança 24 horas, entre outros. Como se pode observar, pelos exemplos, este tipo de sistema produtivo permite uma elevada automatização dos processos, mas há necessidade de um grande cuidado com 11 a manutenção de equipamentos, posto que, na maioria das vezes, não é possível parar a produção. Os processos produtivos em massa são aqueles processos discretos em que há produção de produtos altamente padronizados em grandes quantidades. Exemplos deste tipo de produção dizem respeito a bens como alimentos, tecidos, e serviços como transporte aéreo, entre outros. Este tipo de processo apresenta poucas alterações de projeto de produto, possibilitando a padronização de equipamentos e de operações. Os processos produtivos em lotes são aqueles processos discretos que estão relacionados com a produção de um volume médio de bens ou serviços, devido à natureza destes produtos. Exemplos deste tipo de produção são: as de bens como vestuário, calçados, ou serviços como o de restaurantes, entre outros. Uma característica deste tipo de sistema é sua dependência em relação às mudanças sociais sazonais. Novas modas, novos comportamentos, a mudança das estações do ano, entre outras situações delimitam o projeto e produção de novos produtos com uma frequência maior do que a de produção em massa. Assim, equipamentos e instalações devem ser mais flexíveis para atender esta demanda. Os processos produtivos por projeto são aqueles processos discretos que atendem uma necessidade específica do cliente. Exemplos deste tipo de produção são bens como vestidos de noiva, navios, ou serviços como um projeto de site para uma empresa. Neste sentido, são os requisitos do cliente que conduzem o planejamento do processo produtivo, exigindo alta flexibilidade e, por consequência, levando a uma ociosidade de recursos que só são utilizados quando da demanda específica. 3.3. Sistema de acordo com a natureza do produto Nesta classificação distingue-se o produto em bem e serviço. Quando o resultado da produção é algo tangível, trata-se de um bem. Quando o resultado da produção é algo intangível, trata-se de um serviço. 12 Tangível: algo que se pode tocar, que se pode contabilizar com facilidade, que é concreto. A maior diferença entre os dois sistemas encontra-se no fato de que o cliente não está presente no momento da produção de um bem, que pode ser estocado. Já na produção de um serviço, o cliente precisa estar presente, não há possibilidade de estocagem. Assim, para Tubino (1999, p. 32), enquanto a manufatura de bens é orientada para o produto, a prestação de serviços é orientada para a ação. Além desta gama de possibilidades é possível estabelecer uma caracterização mais genérica, de acordo com a saída dos produtos do sistema produtivo. De acordo com a forma como ela acontece, podem-se classificar os sistemas como empurrados ou puxados. O próximo tema trata com mais detalhes desta classificação. TEMA 4: SISTEMA PUXADO X SISTEMA EMPURRADO De uma maneira mais genérica, pode-se classificar os sistemas segundo o modo de saída dos produtos do processo produtivo. Esta classificação começa a ser possível somente a partir do lançamento da ideia de Just in Time pela indústria japonesa pós-Segunda Guerra Mundial, criando a forma de produção puxada. Antes deste fato, só havia produção empurrada. 4.1. Sistema de produção empurrado Para Bezerra (2010, p. 19), um sistema de produção puxado ocorre com base em previsão de demanda, no qual a produção acontece a partir do momento em que o setor produtivo recebe a informação de quanto produzir. Pronto, o produto fica à disposição do cliente, que pode comprá-lo ou não. Assim, não há garantias do que o que foi produzido será efetivamente vendido. Ainda segundo o autor, este tipo de sistema apresenta algumas características específicas, que são: 13 Instruções de produção vêm da previsão de demanda e são processadas por sistemas que planejem as necessidades de materiais com a necessária antecedência para o atendimento da demanda; Tempos de processamento já previamente conhecidos; Elevados estoques de itens em processo; Prazos mais longos de entrega. Tubino (1999, p. 34-36) comenta que este é o sistema de produção mais encontrado na prática. Explica que este sistema trabalha em layout do tipo departamental, no qual as máquinas são dispostas de acordo com as funções exercidas por cada uma. Assim, os trabalhadores são especializados em uma determinada função, uma determinada máquina. O fluxo de informações dentro do processo depende das informações do setor de Planejamento e Controle de Produção (PCP), que elabora um plano mestre de produção (PMP), gerando as ordens de montagem (OM), ordens de fabricação (OF), requisição de materiais (RM) e ordens de compra (OC), que acionam o sistema produtivo. Para que o sistema funcione adequadamente, normalmente utilizam-se softwares. Observe a Figura 2. Apesar de afirmar ser este o sistema mais usado, Tubino (1999, p. 34-36) tece uma série de críticas ao sistema empurrado, tais como a grande quantidade de produto em processo (WIP – work in process) estocado entre as operações, grandes áreas de armazenagem de peças e matéria-prima (PC/MP) no início do processo e de produto acabado (PA) ao final do processo. Esses estoques se devem ao fato de a produção não ter certeza de sua demanda. Dessa forma, para se precaver de demandas maiores do que as previstas, gera-se estoque em todos os postos de trabalho. Outra crítica tecida por Tubino diz respeito à rotatividade de mão de obra, posto que a superespecialização do funcionário não permite que ele aprenda outras tarefas além da sua, impedindo-o de uma possível progressão na carreira. Este tipo de situação também gera possíveis problemas de doenças do trabalho, pela repetição constante de movimentos. 14 Figura 2: Sistema de produção empurrado Fonte: Tubino (1999, p. 35). 4.2. Sistema de produção puxado O sistema de produção puxado diz respeito à filosofia Just in Time, que surge no Japão após a Segunda Guerra Mundial. Empresas, como a Toyota Motor Company, decidem que é possível eliminar os problemas apresentados pela produção empurrada, apresentados no item anterior, por meio da ideia de só produzir quando houver solicitação do cliente. Bezerra (2010, p. 20) descreve que o sistema de produção puxado tem por características: Instruções visuais de produção (kanban), disparadas somente quando há manifestação da demanda; Estoques reduzidos de produtos em processo; Prazos de entrega mais curtos. Tubino (1999, p. 38-39) acrescenta a estas características a descrição do layout, que passa a ser em formato de minifábricas, ou seja, é possível produzir uma família de produtos em uma única célula. Para operar a célula, há a necessidade de operadores polivalentes, que possam trabalhar em várias máquinas, dentro de um Templo de Ciclo (TC) pré-determinado. Segundo o 15 autor, neste sistema o PCP elabora o Plano mestre de produção (PMP) para dimensionar o número de kanbans e os ritmos de trabalho (por meio do Tempo de Ciclo), de modo a responder a uma demanda real sem a necessidade de contar com grandes estoques de produto. Observe a Figura 3. Santos (2015, p. 99) comenta ainda que no sistema JIT é necessário estabelecer o tamanho e o número de lotespara cada item, estabelecendo assim o número de kanbans necessário para que o sistema produtivo funcione e lembra que, por princípio, o sistema JIT trabalha com pequenos lotes, levando em conta o produto final a ser entregue ao cliente. Assim, o lote precisa incorporar as quantidades necessárias de cada elemento para montar o produto completo. Finalizando o tema, cabe ressaltar que as diferenças entre o sistema de produção empurrado e o sistema de produção puxado levam a tomadas de decisão na área da produção bastante distintas. Assim, é importante observar qual sistema está sendo usado na organização para poder estabelecer qual será o método de Planejamento, Programação e Controle de Produção! Figura 3: Sistema de produção puxado (JIT) Fonte: Tubino (1999, p. 37). 16 TEMA 5: TEORIA DAS RESTRIÇÕES OU TOC (THEORY OF CONTRAINTS) Existe ainda um terceiro tipo de sistema produtivo que deve ser considerado para se tratar de Planejamento, Programação e Controle da Produção. É o sistema que possui gargalos. Os gargalos surgem no sistema produtivo quando um processo antecedente é mais lento que seu processo posterior. Portanto, gargalos são fatores que restringem o processo de produção, impedindo-o de processar toda a demanda requerida (BEZERRA, 2010, p. 20). Assim, mesmo que todo o processo tenha capacidade para atender a demanda, por conta destes fatores restritivos, o sistema fica com a capacidade reduzida de acordo com a redução imposta pela restrição, como se pode observar na Figura 4. Figura 4: O gargalo como restrição do processo produtivo O estudo de sistemas que possuem gargalos é realizado em especial por meio da abordagem desenvolvida por Goldratt, em sua obra A Meta, publicada inicialmente em 1984. Neste livro, Goldratt desenvolve o conceito de teoria das restrições, em que o autor explica o conceito de restrição e recomenda que, para tratar de gargalos, se deve medir as taxas de produção; identificar o gargalo; tratar o gargalo; e voltar ao primeiro passo, pois é possível que haja gargalos menores que só surgirão após a eliminação do gargalo inicial. 17 Goldratt havia desenvolvido na década de 1970 um software, o OPT - Optimized Production Technology. Conforme o software sofre alterações e melhorias ao longo do tempo, Goldratt vai desenvolvendo uma série de princípios que se tornam a filosofia OPT, ou seja, a filosofia da tecnologia de produção otimizada. Esta filosofia trata da ideia de que a empresa precisa ter conhecimento de sua situação financeira, tendo em vista que o objetivo de qualquer empresa é o lucro. Para tanto o OPT trabalha com indicadores financeiros, dentre eles o lucro líquido, o retorno sobre o investimento e o fluxo de caixa. Também trabalha com indicadores de desempenho operacional, sendo importantes o indicador de taxa de produção de produtos, o indicador de inventário e o indicador de custos operacionais por seu impacto direto nos indicadores financeiros. Para Lustosa et al. (2011, p. 230), “o OPT é uma técnica computadorizada que auxilia a produção de sistemas produtivos, ao ritmo ditado pelos recursos mais fortemente carregados, ou seja, os gargalos”. Isso se explica pela situação de que se a taxa de atividade em qualquer parte do sistema for maior do que a do gargalo, itens produzidos não poderão ser utilizados. Por outro lado, se a taxa de trabalho é planejada abaixo do ritmo do gargalo, todo o sistema estará sendo subutilizado. Assim, ao se propor utilizar a filosofia da Teoria das Restrições nas organizações, deve-se observar os seguintes princípios: Balancear o fluxo e não a capacidade, pois a capacidade pode sofrer alterações com imprevistos, mas o fluxo produtivo deve seguir a demanda de mercado; O nível de utilização de um recurso não gargalo não é determinado pelo seu próprio potencial, e sim por outra restrição do sistema, como um gargalo ou restrições de mercado. A utilização e ativação de um recurso não são sinônimos, pois a utilização diz respeito ao uso de um recurso não gargalo em um volume igual ou inferior ao do gargalo, e a ativação se refere ao uso de um recurso não gargalo em volume superior ao requerido pelo gargalo. 18 Uma hora perdida no gargalo é uma perdida no sistema inteiro, visto ser o gargalo quem determina o fluxo de todo o sistema. Uma hora economizada onde não é gargalo, apenas uma ilusão, pois o gargalo não dará continuidade a esta hora ganha em outro lugar do sistema, gerando estoques. Os gargalos governam o ganho e o inventário, já que são as restrições que determinam o ritmo do sistema e o volume de estoques. O lote de transferência não pode e muitas vezes não deve ser igual ao lote de processamento, na medida em que os lotes de transferência dizem respeito ao fluxo, enquanto os lotes de processamento dizem respeito ao recurso no qual será trabalhado. O lote de processamento dever ser variável e não fixo, diferente dos sistemas tradicionais em que o lote tem exatamente o mesmo tamanho em todas as operações. Os programas devem ser estabelecidos, considerando todas as restrições simultaneamente, assim analisam-se todos os lead times sob a ótica do resultado final destes tempos. Para Cox III e Spencer (2008), a teoria das restrições pode ser utilizada na prática de um PCP, utilizando o método criado pelos autores, denominado Método de programação Tambor-Pulmão-Corda. O Tambor seria o gargalo produtivo, pois é ele quem determina o ritmo de produção de produção de todo o processo. Assim, se o posto anterior ao posto gargalo trabalha num ritmo superior, vai ser criar estoques intermediários desnecessários. Por outro lado, se o posto de trabalho posterior trabalhar num ritmo menor que o gargalo, isso reduz a taxa de produção do sistema como um todo. Pulmão denomina um estoque extra de forma a manter o gargalo sempre abastecido, independente de problemas em etapas anteriores. Assim, entende-se que é possível ter estoque intermediário, maior que o de outros postos, para o gargalo. 19 No caso de o pulmão não estar abastecido, gera-se a necessidade dos postos anteriores produzirem para supri-lo. Dessa forma, entende-se que a Corda irá puxar a produção para abastecer o Pulmão, segundo o ritmo do Tambor. Figura 5: Tambor-pulmão-corda SÍNTESE Nesta aula pode-se observar que distintos sistemas produtivos levarão a decisões distintas quanto a Planejamento, programação e controle da produção. Para tanto, foram estabelecidos os seguintes objetivos: Apresentar o uso das ideias de PCP ao longo da história humana. Este objetivo foi trabalhado no tema 1, no qual foram descritas ações relacionadas à ideia de controle e de planejamento que foram usadas ao longo do tempo, desde o início da história humana até os dias atuais. Entender a lógica da visão sistêmica das organizações e de como os sistemas produtivos fazem parte desta lógica. Este objetivo foi trabalhado no tema 2, no qual se apresentou o conceito usado pela Fundação Nacional da Qualidade (PNQ) da Mandala do MEG (Modelo de Excelência em Gestão). Proporcionar o conhecimento dos vários tipos de sistemas produtivos. Este objetivo foi trabalhado nos temas 3, 4 e 5 em que se apresenta classificações utilizados por Tubino (1999) e por Golddrat para descrever os diversos sistemas produtivos. MP A B C Tambor Corda Pulmão 20 Percebe-se, assim, que o Planejamento, a programação e o controle da produção estão presentes nas atividades produtivas humanas e que precisam ser entendidos para que as organizações tenham condição de ter o máximo de competitividade possível. REFERÊNCIAS BEZERRA, C. A. Técnicas de planejamento, programação e controle da produção: aplicações e planilhas eletrônicas. Curitiba: IBPEX, 2010. COX III, J. F.; SPENCER,M. S. Manual da Teoria das Restrições. Porto Alegre: Bookman, 2008. FNQ. Fundação Nacional da Qualidade. Disponível em: http://www.fnq.org.br/avalie-se/metodologia-meg/modelo-de-excelencia-da- gestao. Acesso em 08/08/2016. SANTOS, A. P. L. Planejamento, programação e controle da produção. Curitiba: Intersaberes, 2015. SPRAKEL, E. B.; SEVERIANO FILHO, C. A evolução dos sistemas de PCP sob a ótica da engenharia de produção. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep1999_a0654.pdf. Acesso em 08/08/2016. TUBINO, D. F. Planejamento e controle da produção. São Paulo: Atlas, 1997. ______. Sistemas de produção: a produtividade no chão de fábrica. Porto Alegre: Bookman, 1999. 1 PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DA PRODUÇÃO AULA 2 Prof.a Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos! Nesta segunda aula de Planejamento, Programação e Controle da Produção se têm por objetivos: Compreender que uma boa previsão de demanda garante melhores planejamento e programação da produção; Conhecer vários métodos de previsão de demanda. Estes objetivos nos remetem a um real problema para quem trabalha com planejamento da produção, qual seja, saber da demanda futura com antecedência suficiente para que o sistema de produção tenha condições de atendê-la sem a formação de estoques que não serão consumidos ou em quantidade além da demanda. (BEZERRA, 2010, p. 50). Assim, nesta aula vamos conhecer mais sobre o que significa Demanda, como gerir esta demanda, qual as ações necessárias para fazer uma boa previsão qualitativa ou quantitativa e aprenderemos a fazer os cálculos necessários para as previsões quantitativas. TEMA 1: GESTÃO DE DEMANDA Para que as empresas tomem decisões sobre quanto produzir, elas precisam ter conhecimento do quanto irão vender. No caso dos sistemas empurrados, esse conhecimento não é prévio, a empresa não sabe exatamente quanto irá vender de um determinado produto. Se a empresa não tem esta informação, como ela decide sobre quanto produzir? É neste momento que surge o conceito de demanda e de previsão de demanda. Demanda é a quantidade de um produto que os consumidores desejam adquirir, ao longo do tempo. Previsão de demanda é uma inferência sobre o futuro do que a empresa acredita que os consumidores queiram em termos de quantidade de produto. 3 Como as empresas não podem esperar até ter certeza de quanto vão vender, elas precisam se antecipar. Assim, para Corrêa et al. (2000, p. 227- 229), a demanda da empresa precisa ser gerenciada, não pode ser simplesmente imaginada, deduzida. Os autores entendem que os principais elementos desta gestão são: Habilidade para prever a demanda: a empresa precisa ter e saber utilizar ferramentas para cálculo de demanda futura que sejam adequados ao comportamento de vendas desta empresa. Para tanto há a necessidade de constituir uma boa base de dados históricos de vendas, bem como de informações sobre as variações de comportamento do produto ao longo do tempo. Além disso, é preciso acumular informação sobre as variáveis externas que possam influenciar no comportamento da demanda. Canal de comunicação com o mercado: este canal deve ser utilizado pela empresa não somente com o intuito de vender, mas também o de colher informações com o cliente e o mercado como um todo para auxiliar de forma mais direta na construção da base de dados necessária à previsão da demanda. Poder de influência sobre demanda: não basta prever a demanda. Uma boa gestão de demanda em qualquer organização passa pela ação de modificar a demanda de acordo com a capacidade da empresa para tanto. Habilidade de prometer prazos: quem gere a demanda deve garantir a confiabilidade das entregas. A atividade relacionada aos prazos de entrega depende do tipo de produção (para estoque, sob encomenda ou montagem contra pedido). Habilidade de priorização e alocação: pode ocorrer de a empresa não conseguir atender a toda a demanda em um determinado período. Assim há a necessidade de decidir a quais clientes atender no prazo e quais clientes não atender no prazo. 4 Todas estas informações e ações são elementos importantes para que a empresa possa elaborar um plano mestre de produção que seja coerente com as ações da área comercial da empresa, bem como com um plano de vendas adequado à situação da área de produção. Assim a empresa atua com uma visão sistêmica, que possibilita menos problemas de gestão em todas as áreas. A gestão de demanda deve ser atribuída a uma pessoa ou área responsável dentro da organização. Para a escolha desta pessoa/área, deve se levar em conta que, independentemente de quem será o responsável pela área, o importante é que o processo em si seja estabelecido por meio de informação de todas as áreas envolvidas, e que estas trabalhem de forma cooperativa e estejam comprometidas em repassar informações fidedignas, no tempo adequado. De um modo geral, as organizações preferem que esta responsabilidade seja atribuída à área comercial, tendo em vista seu conhecimento do mercado de atuação da empresa. No entanto, se a área comercial for muito voltada somente às vendas, vale a pena a empresa pensar em treinar a força de trabalho desta área ou criar uma área específica para cuidar da gestão da demanda. Para Corrêa et al. (2000, p. 233), esta área específica pode estar ligada a uma diretoria comercial, industrial ou até mesmo financeira, desde que tenha autonomia para captar e seja capaz de articular todas as informações necessárias. Para que se possa gerir a demanda de maneira adequada, também é necessário que se entenda com que tipo de demanda se está trabalhando. Conforme Jacobs e Chase (2009), a demanda pode ser dividida em dois tipos: dependente e independente. A demanda dependente diz respeito àquela ocasionada em um produto ou serviço pela demanda de outros produtos ou serviços. Por exemplo, para se produzir 1000 patins, há a necessidade de se ter disponíveis 4000 rodas. Assim, a demanda das rodas depende da demanda dos patins. Já a 5 demanda independente não será obtida de outros produtos, mas sim das vendas futuras. (JACOBS; CHASE, 2009, p. 263). Os autores complementam que, no caso da demanda dependente, a empresa não tem poder de decisão ou de interferência. Apenas deve supri-la. Já para a demanda independente, a empresa pode, como já dito neste capítulo, gerenciá-la. Dessa forma, tudo o que foi comentado até o momento vale para demanda independente. Para Tubino (1999), a demanda ainda pode ser classificada de acordo com o prazo de previsão. Previsões de demanda de longo prazo seriam usadas em estratégia de produção, para o desenvolvimento de planos de produção. Previsões de médio a curto prazos seriam usadas em situação de nível operacional, para o planejamento mestre de produção e o plano mestre de produção. TEMA 2: SISTEMA DE PREVISÃO DE DEMANDA Já sabemos que as empresas precisam ter uma noção de suas demandas futuras para que possam planejar adequadamente sua produção. Como este é um processo dinâmico, ou seja, com mudanças ao longo do tempo, é necessário que a empresa se prepare para que a previsão de demanda aconteça de forma eficaz e adequada. O processo de previsão de demanda acontecerá de maneira mais consistente se a empresa tiver um sistema para tanto. De acordo com Corrêa et al. (2000, p. 234), um “sistema de previsão de demanda é o conjunto de procedimentos de coleta, tratamento e análise de informações que visa gerar uma estimativa das vendas futuras [...]”. Esta estimativa pode estar relacionada ao produto especificamente, medido em unidades, ou famílias de produtos, em algum tipo de unidade de tempo como semanas, meses, trimestres, semestres, etc. Um sistema de previsãode demanda necessita de uma série de informações. Inicialmente é necessário definir o objetivo que está associado a esta previsão de demanda. É a partir da definição do objetivo que se determina qual o nível de precisão necessária, quem estará envolvido no processo de 6 determinação da demanda, quais são os prazos que se tem para realizar a previsão, bem como outros recursos necessários para se realizar todo o processo. A partir da determinação do objetivo, pode-se iniciar o levantamento das principais informações que sustentarão a previsão de demanda. Segundo Corrêa et al. (2000, p. 234-235), a coleta de dados deve conter os seguintes itens: Dados históricos de vendas, de todos os períodos a serem considerados na previsão; Informação de comportamento anormal ou irregular em situações de vendas anteriores; Dados de variáveis que auxiliem no entendimento do comportamento relativo a vendas passadas; Dados do momento atual relativos a variáveis que afetam a demanda agora ou no futuro; Previsão de situação futura de variáveis que afetam a demanda futura; Informação sobre a situação econômica atual e futura na qual a empresa está imersa; Informações de clientes que possam sugerir como será seu comportamento em compras futuras; Informações sobre a concorrência e como ela afeta a demanda da empresa; Informações sobre a área comercial que possam alterar o comportamento de compras futuro. Resumindo, a empresa precisa ter dados históricos de vendas e informações sobre fatos passados, presentes e futuros que possam influenciar no comportamento de compras do cliente. Na figura 1, Corrêa et al. (2000) ilustram um sistema genérico de previsão de vendas. Nesta figura, os autores explicam como funciona este sistema, em que inicialmente se tem a coleta e um tratamento estatístico dos 7 dados de vendas e outros dados e informações relevantes que possam auxiliar no entendimento do comportamento de venda, de acordo com o que foi descrito no parágrafo acima. Os responsáveis das principais áreas envolvidas no processo devem se reunir para realizar este tratamento de todas as informações e dados coletados de modo que haja comprometimento de todos com a previsão, para que haja maior qualidade no processo e legitimação dos resultados alcançados. Figura 1: Sistema genérico de previsão de vendas Fonte: Corrêa et al. (2000, p. 236). 8 Este é um modelo genérico. Para os cálculos da previsão de demanda, devemos observar o horizonte de tempo em que pretendemos trabalhar. Cada horizonte de tempo possui um modelo mais adequado para o cálculo da previsão. A forma mais simples de se calcular demanda é realizada pelo método do último período, em que simplesmente se repete o valor de vendas do período anterior como previsão para o período seguinte. Este método não leva em consideração informações internas e externas importantes, citadas anteriormente, que afetam o histórico de consumo dos produtos da empresa. Existem métodos mais elaborados, que levam em consideração outras informações além da venda do período anterior. Veremos estes métodos nos próximos temas. Além dos métodos que se utilizam de dados numéricos e de cálculos para previsão de demanda, ou seja, métodos quantitativos, também é possível inferir a demanda por meio de métodos qualitativos. Os métodos qualitativos utilizam a experiência de pessoas que conhecem o comportamento de compras dos clientes e que podem ter uma ideia sobre a demanda futura quando não há dados disponíveis ou os dados não são confiáveis. Mas antes de conhecermos mais profundamente os métodos mais comuns de previsão de demanda, vamos assistir ao vídeo sobre Sistemas de Previsão de Demanda, com a professora Dayse. TEMA 3: PREVISÃO COM BASE EM MÉDIAS De acordo com Santos (2015, p. 30), a previsão com base em médias é mais utilizada para antever demanda de curto prazo. Por curto prazo se entende até cerca de quatro meses. Por ser curto prazo, tomamos como base a ideia de que haverá uma continuidade do passado em relação ao futuro. Entende-se que tendências de crescimento, estabilidade ou redução, 9 sazonalidade ou repetições cíclicas possivelmente se apresentarão como em ciclos anteriores. Assim, estas características nos levam à busca de um modelo que se adeque a elas. Primeiro deve se observar o comportamento dos dados. Para Corrêa et al. (2000), são quatro as possibilidades de comportamento: Permanência: sem aumento, decréscimo ou sazonalidade observada nas vendas; Sazonal com permanência: sem aumento ou decréscimo nas vendas, mas com sazonalidade; Trajetória: observa-se aumento ou decréscimo com taxa uniforme nas vendas, sem sazonalidade; Trajetória com sazonalidade: observa-se aumento ou decréscimo com taxa uniforme nas vendas, com sazonalidade. Cada uma destas situações conduz à utilização de um modelo matemático diferente. Para a situação mais simples, o método mais básico, o da média móvel aritmética. A média móvel aritmética consiste na soma das demandas anteriores dividida pela quantidade de períodos escolhidos. A escolha da quantidade de períodos para o cálculo da previsão deve ser realizada de acordo com a continuidade da demanda. Assim, a média móvel aritmética pode ser obtida pela seguinte fórmula: 𝑀𝑚𝑛 = ∑ 𝐷𝑖 𝑛 𝑖=1 𝑛 Em que: 𝑀𝑚𝑛= média móvel de n períodos. 𝐷𝑖 = demanda ocorrida no período i. 𝑛 = número de períodos. 𝑖 = índice do período (i = 1, 2, 3, ...). 10 Por exemplo: Vamos admitir que a demanda de um determinado produto nos últimos quatro meses teve o seguinte comportamento: Período 1 2 3 4 Demanda 30 27 35 40 Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo da previsão a média móvel aritmética dos quatro últimos períodos? Resolvendo: Usando a fórmula de média móvel aritmética teremos: 𝑀𝑚4 = 27 + 30 + 35 + 40 4 𝑀𝑚4 = 33 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 33 unidades. Outra possibilidade é o uso da média móvel geométrica. A média móvel geométrica, assim como a média móvel aritmética, envolve cálculos simples, e a escolha da quantidade de períodos a ser utilizada baseia-se na comparação da demanda prevista com a demanda efetiva, pois quanto mais distante o período de previsão em relação ao período de coleta de dados menor a confiabilidade destes dados. O modelo de cálculo de média móvel geométrica é o seguinte: 𝑀𝑚𝑛= √𝐷…𝑛 Por exemplo: Vamos utilizar os mesmos valores do exemplo anterior: 11 Período 1 2 3 4 Demanda 27 30 35 40 Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo da previsão a média móvel aritmética? Resolvendo: Usando a fórmula de média móvel geométrica teremos: 𝑀𝑚4 = √27 ∗ 30 ∗ 35 ∗ 40 4 𝑀𝑚4 = 32,63 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 32,63 unidades. Caso se queira considerar os valores de venda mais recentes, mais relevantes para a previsão de demanda, é possível usar o método da média móvel ponderada, considerando pesos distintos para os valores de demanda disponíveis, fazendo com que os últimos resultados sejam mais relevantes do que os resultados mais afastados no tempo. Assim, considera-se que os valores mais recentes serão mais confiáveis para a previsão da demanda do que os valores mais afastados no tempo. A média móvel ponderada pode ser obtida pela seguinte fórmula: 𝑀𝑚𝑛 = ∑ 𝐷𝑖 𝑛 𝑖=1 ∗ 𝑝𝑖 Em que: 𝑀𝑚𝑛= média móvel de n períodos. 𝐷𝑖 = demanda ocorrida no período n. 𝑝𝑖 = peso atribuído ao período n. 𝑛 = número de períodos. 12 𝑖 = índice do período (i = 1, 2, 3, ...). Por exemplo: Vamos utilizar os mesmos valores do primeiro exemplo. Período 1 2 3 4 Demanda 27 30 35 40Vamos admitir que, para a média móvel, o período mais recente tenha ponderação de 50%, o período 3 tenha 30%, o período 2 tenha 20% e o período 1 tenha 10%. Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo da previsão a média móvel ponderada? Resolvendo: Usando a fórmula de média móvel ponderada teremos: 𝑀𝑚4 = 27 ∗ 0,1 + 30 ∗ 0,2 + 35 ∗ 0,3 + 40 ∗ 0,5 𝑀𝑚4 = 39,2 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 39,2 unidades. TEMA 4: PREVISÃO DE DEMANDA COM TENDÊNCIA DEFINIDA O modelo de previsão com base em regressão linear costuma ser usado em estimativas de médio prazo em que há uma tendência quanto à demanda. O cálculo da estimativa da tendência é feito por meio de uma equação que descreve este movimento futuro. Pela maior aplicabilidade, devido à maior facilidade do método, usa-se com mais frequência a análise de tendência linear. A técnica mais simples para esta análise baseia-se no uso de equação linear. 13 Conforme Santos (2015), este método consiste em manipular uma variável independente. Essa variável é um fator que vai sendo testado de forma experimental, enquanto as variáveis dependentes são as respostas, que serão medidas ou registradas ao longo do uso do método. Usa-se neste método uma equação linear de primeiro grau do tipo: Y = a + bX Figura 2: regressão Y = a + bX Fonte: <http://estatisticax.blogspot.com.br/2008/05/regresso-linear-simples-mtodo-dos.html>. Nesta equação, “Y” é a variável dependente, e “X” é a variável independente. O “a” representa a intersecção da reta com o eixo y, e o “b” representa a inclinação da reta, como podemos ver na Figura 2. Mais precisamente: Y = previsão de demanda para o período X; a = ordenada à origem, ou intercepção no eixo dos Y; b = coeficiente angular; X = período (partindo de X = 0) para previsão. 14 Conforme Santos (2015, p. 36), o método de previsão de demanda com base em regressão linear simples é uma excelente ferramenta matemática para realizar as projeções futuras da demanda, tornando possível para a empresa planejar adequadamente suas ações de mercado. Vale lembrar que as previsões envolvem probabilidade estatística e, portanto, não são exatas. Por isso, é necessário que o gestor realize o monitoramento constante dos dados e faça as projeções rotineiramente. Por exemplo: Vamos utilizar os mesmos valores do primeiro exemplo. Qual será a demanda para o período 5, empregando para o cálculo a previsão de demanda com tendência definida? Resolvendo:’ Inicialmente temos que calcular os coeficientes “a” e “b” da equação linear: 𝑏 = 𝑛 (∑𝑋𝑌) − (∑𝑋)(∑𝑌) 𝑛(∑𝑋2) − (∑ 𝑋)² 𝑎 = ∑𝑌 − 𝑏 (∑𝑋) 𝑛 Semana (X) Demanda (Y) ∑ X ∑ X2 XY 1 27 1 1 27 2 30 3 5 60 3 35 6 14 105 4 40 10 30 160 ∑ 132 352 15 Empregando as fórmulas: 𝑌 = 𝑎 + 𝑏𝑋 𝑌 = 22 + 4,4 ∗ 5 = 44 Resposta: a previsão de demanda do produto para o próximo período (período 5) é de 44 unidades. TEMA 5: PREVISÃO COM BASE NO MÉTODO DELPHI Até o momento vimos métodos de previsão quantitativos que se baseiam em dados históricos para poder antever o futuro. Estes métodos funcionam muito bem para períodos estáveis no curto e médio prazo, e atendem as necessidades de planejamento das empresas nestas situações (estabilidade e prazos não muito longos). No entanto, a complexidade de nossa sociedade tem aumentado de tal forma que, em muitos momentos, é impossível para uma empresa contar com estas condições para prever sua demanda, utilizando somente métodos quantitativos. As turbulências políticas e econômicas, a velocidade das mudanças tecnológicas e da modificação dos desejos e necessidades das pessoas contribuem para que o uso de técnicas tradicionais não seja suficiente para uma adequada previsão de demanda. Dessa forma, é necessário buscar uma visão prospectiva, em que o futuro possa ser determinado por tendências históricas interligadas a eventos incertos. Assim, Cardoso et al. (2005, p. 64) propõe que, se o futuro não está definido pelo passado, é possível agir sobre as variáveis que o afetam para construir futuros desejados e/ou nos afastar de futuros indesejados, envolvendo não somente técnicas quantitativas, mas também a comunicação e a negociação entre os diversos agentes que possam atuar sobre este futuro. 16 O método Delphi é uma das técnicas mais utilizadas para realizar estudos prospectivos. Seu nome é uma referência ao oráculo de Delfos, famoso local histórico no qual se faziam predições que determinaram muitas decisões de líderes da Grécia Antiga. O método Delphi é um método qualitativo de previsão que, conforme Santos (2015, p. 37), consiste na aplicação de questionários a especialistas, em várias rodadas, buscando identificar possíveis cenários futuros de acordo com o conhecimento que estes especialistas têm acerca da situação que se pretende prever. Após cada uma das rodadas, faz-se uma análise estatística dos dados obtidos. Com base nesses resultados se faz um novo questionário para distribuir ao grupo. Após cada iteração, observa-se se há variação significativa nas respostas. Quando acabam as variações entende-se que o processo está encerrado. Cardoso et al. (2005, p. 67) comentam que são necessárias três condições para assegurar a autenticidade do método: (a) deve ser assegurado o anonimato dos respondentes, para evitar a influência prévia de uns sobre os outros e eventuais constrangimentos devido a mudanças de opinião durante o processo; (b) retorno (feedback) das respostas, para que os especialistas possam, conhecendo as opiniões do grupo, reavaliar e aprofundar suas visões; e (c) tratamento estatístico das respostas, para que cada especialista possa se posicionar em relação ao grupo. O tratamento estatístico também é necessário para que a equipe de coordenação possa acompanhar a evolução das respostas em direção ao consenso. Quanto ao consenso é importante ressaltar que nem sempre ele acontecerá em todas as questões, sem que isso prejudique o processo em sua totalidade. Entre as principais vantagens do método Delphi, Cardoso et al. (2005, p. 68) destacam: (a) a reflexão individual e coletiva sobre os temas tratados, sem as desvantagens que reuniões presenciais costumam apresentar, em especial o 17 predomínio de algumas opiniões individuais em detrimento das opiniões dos demais indivíduos e do grupo; (b) a integração e a sinergia de ideias e visões entre os especialistas e consequentemente dos setores, organizações e visões que estes representam; (c) a agregação de conhecimento ao processo, não só pelas respostas, que incorporam esforço de reflexão e opiniões de especialistas nos temas tratados, mas também porque o próprio processo propõe, por meio das rodadas, a reformulação e o aprimoramento das questões formuladas. Mas também há desvantagens que devem ser levadas em consideração ao se escolher o método: Dificuldade na elaboração do questionário: é necessário um grande conhecimento do tema em pauta para a elaboração do questionário, determinando o uso de dados disponíveis sobre o assunto, com o cuidado de não se ter nenhum tipo de viés ou ambiguidade nas questões; Dificuldades nas respostas: as respostas exigem grande grau de concentração dos especialistas e as sucessivas rodadas acabam por causar fadiga e, por consequência, uma alta desistência dos especialistas ao longo do processo. Há também a possibilidade de alguns especialistas não se sentirem confortáveis para responder algumas das perguntas; Prazos: considerando todos os procedimentos, como elaboração do questionário, aplicação, tabulação, entre outros, o prazo é da ordem de 4 a 6 meses. Assim, há necessidade de um planejamento adequado para que o método possa ser válido. A aplicação do Método Delphideve seguir algumas etapas pré-estabelecidas para aumentar a confiabilidade do método e a consistência das informações geradas. A Figura 3 explica a sequência de etapas do método. 18 Figura 3: Etapas do Método Delphi Fonte: Santos, 2015, p.38 19 SÍNTESE Nesta aula abordamos uma etapa fundamental do PPCP, a previsão de demanda. Em especial nos sistemas empurrados de produção, nos quais ainda não sabemos qual a demanda real. Para que possamos planejar as ações de produção, precisamos estimar quanto devemos produzir. Esta estimativa pode ser obtida por uma série de métodos, tanto quantitativos quanto qualitativos. Dentre os métodos quantitativos destacamos as séries temporais, utilizando média, e as técnicas com base em correlações. Para os métodos qualitativos, exemplificamos o Método Delphi. Vale ressaltar que existe uma série de outros métodos não exemplificados aqui, posto que buscamos mostrar dentre os mais utilizados, aqueles de mais simples execução. É fundamental observar a sequência para realizar uma previsão correta, que é: escolher o modelo de previsão; coletar e analisar os dados; selecionar a técnica de previsão – qualitativa ou quantitativa – séries temporais ou correlações; obter as previsões; monitorar o modelo. REFERÊNCIAS BEZERRA, C. A. Técnicas de planejamento, programação e controle da produção: aplicações e planilhas eletrônicas. Curitiba: IBPEX, 2010. CARDOSO, L. R. A. et al. Prospecção de futuro e Método Delphi: uma aplicação para a cadeia produtiva da construção habitacional. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 63-78, jul./set. 2005. CORRÊA, H. L. et al. Planejamento, programação e controle da produção: MRP II/ERP. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. JACOB, F. R.; CHASE, R.B. Administração da produção e operações: o essencial. Porto Alegre: Bookman, 2009. 20 SANTOS, A. P. L. Planejamento, programação e controle da produção. Curitiba: Intersaberes, 2015. PLANEJAMENTO, PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DA PRODUÇÃO AULA 3 Prof.a Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos! Nesta aula de Planejamento, Programação e Controle da Produção temos por objetivo conhecer alguns conceitos-chave do PPCP, que são: Planejamento estratégico da produção, Plano de Produção, Planejamento-Mestre de Produção (PMP) e gestão de estoques. Além de conhecer os conceitos será possível entender como aplicá-los na rotina do sistema produtivo, compreendendo a relação entre o planejamento das várias ações necessárias para que se possa efetivar a produção de um determinado item. Assim, também, é objetivo desta aula entender a elaboração dos vários planos e planejamentos aqui conceituados, bem como perceber a relevância de conhecer ferramentas de gestão de estoques que dão suporte às ações planejadas. TEMA 1: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DE PRODUÇÃO Ao iniciar este estudo sobre o planejamento da produção, cabe entender como as ações dos processos produtivos são pensadas e elaboradas em relação aos planos estratégicos da organização como um todo. Ao se pensar estrategicamente as ações de uma empresa, há que se respeitar uma hierarquia. Estratégias empresariais (da empresa como um todo) são suportadas por estratégias das áreas de negócio da empresa que, por sua vez, são suportadas por estratégias funcionais (estratégias das diversas áreas que compõem a empresa), como as estratégias de marketing, finanças, recursos humanos, produção, entre outras. Cada área contribui para que a estratégia geral da empresa possa ser alcançada. Assim, ao se configurar uma estratégia empresarial, deve-se desdobrá-la em várias ações para cada grande área da empresa, dentre elas a Produção, conforme ilustrado na Figura 1. 3 Figura 1: Hierarquia de estratégias de uma empresa Fonte: o autor. Há uma série de informações necessárias para o estabelecimento das estratégias produtivas, tanto internas quanto externas à organização. Estas informações podem ser observadas na Figura 2. Figura 2: Entradas necessárias para o planejamento da produção Fonte: Souza (2010, p. 6). 4 As estratégias de produção, conforme Tubino (1999), devem fornecer à empresa características produtivas que devem suportar, assim como as demais áreas, a busca de vantagem competitiva da empresa. Para tanto, estabelecem-se alguns parâmetros de desempenho que a organização deve atingir. Estes parâmetros são denominados critérios de desempenho. Estes são itens relevantes para esta manutenção de vantagem competitiva. Esses critérios de desempenho da produção encontram-se descritos no Quadro 1. Vale comentar que além dos citados no quadro, outros critérios vêm sendo incorporados, nos últimos anos, ao que se deve considerar quando se estabelece estratégias produtivas. Um exemplo desses critérios são a inovatividade, que é a capacidade de introduzir de forma rápida novos produtos no sistema produtivo, visto que em determinados setores, como no caso dos eletrônicos, a questão do produto parecer diferente de maneira muito rápida é fundamental para a sobrevivência do negócio. Outro exemplo de critério é a sustentabilidade, já que a questão da responsabilidade socioambiental tem sido mais fortemente cobrada pela sociedade, de uma forma geral, das empresas nos últimos anos. Quadro 1: critérios de desempenho da produção Critérios de desempenho Descrição Custo Produzir bens/serviços a um custo mais baixo do que a concorrência Qualidade Produzir bens/serviços com desempenho de qualidade melhor que a concorrência Desempenho de entregas Ter confiabilidade e velocidade nos prazos de entrega dos bens/serviços melhores que a concorrência Flexibilidade Ser capaz de reagir de forma rápida a eventos repentinos e inesperados Fonte: Tubino (1999, p. 23). 5 Uma vez que a empresa define com quais critérios de desempenho pretende trabalhar, surge a necessidade de definir as ações em cada uma das áreas de decisão do processo produtivo. As áreas de decisão são apresentadas no Quadro 2. As ações definidas devem ser coerentes com os critérios de desempenho escolhidos pela empresa. Tubino (1999, p. 25) esclarece esta situação ao citar que a empresa, ao priorizar o critério de flexibilidade, por exemplo, deve privilegiar o setup rápido de máquinas e os pequenos lotes quanto às ações relativas às instalações, capacidade de produção e tecnologia; bem como a polivalência nas ações relativas a recursos humanos. Quadro 2: áreas de decisão da produção Áreas de decisão Descrição Instalações Qual a localização geográfica, tamanho, volume e mix de produção, que grau de especialização, arranjo físico e forma de manutenção Capacidade de produção Qual seu nível, como obtê-la e incrementá-la Tecnologia Quais equipamentos e sistemas, com que grau de automação e flexibilidade, como atualizá-la e disseminá-la Integração vertical O que a empresa produzirá internamente, o que comprará de terceiros, e qual política implementar com fornecedores Organização Qual a estrutura organizacional, nível de centralização, formas de comunicação e controles das atividades Recursos Humanos Como recrutar, selecionar, contratar, desenvolver, avaliar, incentivar e remunerar a mão de obra Qualidade Atribuição de responsabilidades, que controles, 6 normas e ferramentas de decisões empregar, quais os padrões e formas de comparação Planejamento e controle da produção Que sistema de PCP empregar, que política de compras e estoques, que nível de informatização das informações, que ritmo de produção manter e formas de controle Novos produtos Com que frequência lançar, como desenvolver e qual a relação entre produtos e processos. Fonte: Tubino (1999, p. 25).Estruturada a estratégia de produção, pode-se elaborar um plano de longo prazo direcionando os recursos do processo produtivo para o alcance das estratégias planejadas. A este plano de longo prazo denominamos plano de produção, que será discutido no próximo tema. TEMA 2: PLANO DE PRODUÇÃO O plano de produção serve de apoio para projetar os níveis de produção, de estoques, de recursos humanos, de máquinas e instalações necessários para atender à demanda de bens e serviços previstos para produção em determinado período. Para tê-lo em mãos, há necessidade de se realizar uma análise estratégica referente à Produção, que provém do diagnóstico estratégico da organização como um todo. Então, o plano de produção é resultado das decisões estratégicas da empresa. Uma vez definidos os critérios de desempenho geral, pode-se definir o desempenho esperado pela produção e definir as políticas de ação de acordo com cada área de decisão do sistema produtivo, elaborando-se assim um plano de longo prazo, o plano de produção, cujo objetivo é direcionar os recursos produtivos para as estratégias escolhidas. 7 Para se elaborar o plano de produção, há uma série de informações necessárias que devem ser coletadas para defini-lo. No Quadro 3, são apresentadas estas informações. Quadro 3: Informações para elaboração do plano de produção Informações Descrição Recursos Equipamentos, instalações, força de trabalho, taxa de produção Previsão de demanda Demanda prevista para as famílias de itens Políticas alternativas Subcontratações, turnos extras, postergação da produção, estoques, ... Dados de custos Produção normal, armazenagem, subcontratações, turno extra... Fonte: Tubino (1997, p. 50). Tubino (1997, p. 50-51) comenta que há a possibilidade de atuar sobre alguns destes itens de forma a manter equilibrada a taxa de demanda em relação à taxa de produção, de forma a atender com mais eficácia as necessidades dos clientes. Por exemplo, é possível modificar a taxa de demanda utilizando ações de redução de preços, promoções ou outras alternativas para estímulo da demanda nos períodos de baixo consumo. Por outro lado, para aumentar as taxas de produção, é possível determinar horas extras, aumentar quantidade de turnos, subcontratar, contratar operários temporários. Também é possível reduzir a produção reduzindo horários de trabalho, extinguindo turnos, antecipando férias, oferecendo lay-off (suspensão temporária do trabalho), entre outras práticas, de acordo com a legislação do local. Com base nestas variações de taxa de demanda e taxa de produção, Tubino (1997, p. 51) comenta que é possível adotar três alternativas distintas para o plano de produção, que são: 8 Manter uma taxa de produção constante: neste caso, independente das variações de demanda, matem o plano de produção em níveis constantes. O aspecto positivo está na manutenção do ritmo produtivo, fazendo com que os recursos sejam mais eficientes. Por outro lado, o aspecto negativo é a geração de estoques quando a demanda for menor do que a produção, gerando custos. Há ainda a questão das características dos produtos. Alguns produtos não podem ser armazenados, por serem frágeis, pela sua vida útil, por serem serviços, não se adequando a esta alternativa. Manter uma taxa de produção casada com a demanda: nesta alternativa a opção é que a quantidade produzida seja exatamente igual a demanda, acompanhando suas modificações ao longo do tempo. Esta é a alternativa ideal para serviços ou bens perecíveis. No entanto, sistemas produtivos de uma forma geral têm dificuldade com variações de mão de obra e outros recursos em curto espaço de tempo, pois estas alterações geram custos altos. Variar a taxa de produção em patamares: nesta alternativa, combinam-se as duas alternativas anteriores, procurando acompanhar a demanda ao alterar a taxa de produção de tempos em tempos em patamares que permitam a manutenção do ritmo de produção sem gerar grandes estoques. Para se preparar um plano de produção, normalmente o planejador irá se valer de suas experiências anteriores em relação ao produto para poder realizá-lo. Há a possibilidade de usar técnicas matemáticas, mas o mais comum é se utilizar de técnicas informais de tentativa e erro, pois o número de variáveis é muito grande, e nem sempre se consegue tratar adequadamente questões político-estratégicas em modelos matemáticos. No entanto, nas duas situações a intenção é gerar um plano de produção que atenda aos objetivos estratégicos da empresa e que gere o menor custo possível. Tubino (1997, p. 53) nos apresenta os passos básicos para se gerar um plano de produção. São eles: Agrupar os produtos em famílias afins; 9 Estabelecer o horizonte e os períodos de tempo a serem incluídos no plano; Determinar a previsão da demanda destas famílias para os períodos, no horizonte de planejamento; Determinar a capacidade de produção pretendida por período, para cada alternativa disponível (turno normal, turno extra, subcontratações, etc.); Definir as políticas de produção e estoques que balizarão o plano, como manter um estoque de segurança, não atrasar entregas, buscar estabilidade da mão de obra por um determinado período; Determinar os custos de cada alternativa de produção disponível; Desenvolver planos de produção alternativos e calcular os custos decorrentes; Analisar as restrições de capacidade produtiva; Eleger o plano mais viável estrategicamente. Vale explicar o conceito de família de itens no plano de produção. A ideia é de agregar, juntar itens com características parecidas para facilitar o planejamento, por exemplo, parafusos. Esta atribuição facilita a busca do item em sistemas informatizados e pode ser feita no plano de produção, pois o mesmo, por ser utilizado no planejamento tático para o médio prazo, trabalha com aproximações quanto às quantidades. O Plano de produção é utilizado em formato de planilhas, como a que segue na Figura 3. Figura 3: Tabela de Plano de Produção Período 1° trim 2° trim 3° trim 4° trim Total Demanda Produção Normal Turno extra Subcontratação Produção – 10 Demanda Estoques Inicial Final Médio Atrasos Custos $ Produção Normal Turno extra Subcontratação Estoques Atrasos Total $ Fonte: Tubino (1997, p. 55). Finalizando a questão do Plano de Produção é importante analisar a capacidade de produção. Se os recursos disponíveis e previstos não forem suficientes para atender a demanda, mais recursos devem ser planejados ou o plano reduzido. Por outro lado, se os recursos forem excessivos e gerarem ociosidade, a demanda planejada pode ser aumentada, ou os recursos excessivos podem ser dispensados. Esta análise permite ao gestor tomar decisões sobre mudanças em instalações físicas, compra de equipamentos, inclusão de turno de trabalho, admissão e treinamento de mão de obra, contratos de fornecimento, terceirização, entre outros. TEMA 3: PLANO MESTRE DE PRODUÇÃO (PMP) O planejamento-mestre da produção, para Tubino (1997), é o encarregado de desmembrar o plano estratégico da produção em planos específicos de produtos acabados, direcionando assim as etapas de programação e de execução das atividades operacionais da empresa 11 (montagem, fabricação e compras). Conforme o planejamento avança no horizonte de tempo, as demandas que eram somente uma previsão começam a se tornarem pedidos firmes. Pedido firme é aquele que não sofrerá mais alterações, pois o contrato de fornecimento já está fechado. Lustosa et al. (2008, p. 130) comentam que a partir deste momento é possível saber exatamente que tipo de produto específico de determinada família será vendido. Assim,é com base no planejamento-mestre que a empresa assume os compromissos de montagem dos produtos acabados, fabricação das partes manufaturadas internamente e compra das matérias primas, produzidas por fornecedores externos. Como resultado do planejamento, tem-se um plano, denominado plano mestre de produção (PMP). O PMP transforma as informações do Plano de Produção (de longo prazo) em informações para as atividades operacionais do dia a dia da produção. Assim como o plano de produção, o PMP também é obtido por meio de tentativa e erro. Inicia-se um plano e busca-se verificar a disponibilidade de recursos para a execução. Caso seja viável, autoriza-se o plano, em caso contrário, refaz-se o PMP até chegar numa solução adequada. O PMP se diferencia do Plano de produção pelo nível e agregação dos produtos e pelo período de validade do planejamento. Enquanto o Plano de Produção trabalha com meses até semestres, o PMP é mais imediato quanto ao tempo, trabalhando com semanas, normalmente. Quanto ao nível de agregação, como o objetivo do PMP é estabelecer as ações em curto prazo, já não possibilita mais o uso de famílias de itens, ou seja, tratará dos produtos individualmente. Dessa forma, o plano mestre de produção é o elo entre o planejamento de produção, no nível tático, e o planejamento operacional (MRP), como se pode observar na Figura 4. As áreas envolvidas com o PMP são aquelas mais associadas ao processo produtivo, como Finanças, Marketing, Engenharia, Produção, Compras, Recursos Humanos. Tubino (1997, p. 89) apresenta as informações que cada área dispõe para se realizar o planejamento mestre, quais sejam: Finanças coordenam os custos com estoques, horas extras, novos 12 equipamentos; Marketing passa o plano de vendas e a previsão de demanda para o período; Engenharia fornece os padrões de tempos e consumo de materiais para realização das tarefas; Produção delineia suas limitações de capacidade e de instalações; Compras informa necessidades de fornecimento externo; RH expõe plano de contratação e treinamento de pessoal. Figura 4: Hierarquização dos planos Fonte: Tubino (1997, p. 89). Para a elaboração do plano mestre de produção, utilizam-se planilhas como as da Figura 5. Tubino (1997, p. 90) descreve as informações que compõem a planilha, que são: Demanda prevista: é a previsão de demanda do item para os próximos meses, de acordo com o período de planejamento projetado. Demanda confirmada (ou pedido firme): são as quantidades confirmadas pelos clientes, ou seja, as quantidades reais a se produzir dentro do horizonte de tempo. Normalmente essa informação está disponível somente para os períodos iniciais do plano, pois não há muita antecedência no prazo dos pedidos pelos clientes. 13 Recebimento programado: quantidades do item que já foram programadas anteriormente e que estão previstas para darem entrada dentro do horizonte de planejamento do PMP. Estoque projetado: na linha de estoque projetado, tem-se a informação do estoque disponível do período anterior. Para o estoque projetado, faz-se o cálculo de quanto irá sobrar de estoques no final de cada semana, com base nos estoques iniciais de cada período, nas previsões ou nos pedidos firmes (demanda confirmada) e nas necessidades de produção. Estoques mínimos ou de segurança podem ser configurados para que o PMP os considere no cálculo de produção. PMP: quantidade e período planejados para a produção do item. Deve-se levar em conta aqui que, normalmente, se trabalhará com lotes econômicos de produção. Dificilmente se projeta o PMP com o número exato de itens que precisam ser produzidos para atender ao pedido firme. No exemplo da Figura 5, temos que o lote econômico é de 100 unidades do item. O cálculo de quando e quanto produzir de um lote de itens e de quanto é o estoque projetado utiliza como dado a maior quantidade de demanda já disponível para o período. Assim, na Semana 1 do mês de janeiro, usou-se o valor de demanda confirmada para os cálculos e nos períodos subsequentes utilizou-se o valor da demanda prevista. A partir do momento em que os estoques não são suficientes para suprir a maior demanda, projeta-se a produção do lote econômico. Figura 5: Exemplo de planilha do PMP Mês JANEIRO FEVEREIRO Semana 1 2 3 4 1 2 3 4 Demanda prevista 50 50 50 50 60 60 60 60 Demanda confirmada 55 40 10 5 0 0 0 0 Recebimento programado 100 Estoque Projetado 5 50 100 50 100 40 80 20 60 PMP 100 100 100 100 14 Fonte: Tubino (1997, p. 90) Gerado o plano inicial, é necessário testá-lo ao longo do período para verificar sua viabilidade e autorizar seu prosseguimento, pois ajustes de médio prazo podem ocorrer. TEMA 4: GESTÃO DE ESTOQUES Conforme Tubino (1997, p. 103), a gestão de estoques é uma das primeiras atividades na programação da produção, pois, para definir o quanto comprar e o quanto produzir para atender a demanda, é necessário saber o que já existe em termos de estoque no sistema produtivo. Ordens de compra, montagem ou produção só serão emitidas após esta verificação. Em especial no sistema empurrado, ter uma boa gestão de estoques pode atenuar os efeitos negativos que os estoques causam nas organizações. Problemas como o comprometimento de recursos monetários e de espaço, de danificação de itens em estoque, entre outras situações podem ser amenizadas se as decisões sobre o estoque forem corretas. Segundo Tubino (1997), os estoques são criados para garantir a independência entre etapas produtivas, permitir uma produção constante, possibilitar o uso de lotes econômicos, reduzir os lead time produtivos, como fator de segurança, bem como para obter vantagens de preço, ou seja, de um modo geral os estoques são criados para absorver problemas do sistema produtivo. Por outro lado, Tubino (1997) afirma que um dos melhores indicadores de desempenho de um sistema produtivo é o seu giro de estoques. Conforme o autor, quanto maior o giro de estoques, mais eficiente o sistema, e cita como exemplo a Toyota, cujo giro se dá em quatro horas. Se o sistema não for reabastecido neste período a fábrica para. Tubino compara a Toyota com outras automobilísticas dizendo que o normal nestas é um giro de dois meses. Estoque é o acúmulo armazenado de recursos materiais em um sistema de produção. Bezzera (2013, p. 40-41) comenta que é possível classificar os 15 estoques de diferentes formas, de acordo com características específicas apresentadas por eles, como: Estoque de proteção ou isolador: este estoque existe para compensar as imprecisões relativas à previsão de demanda, que podem não se cumprir de acordo com o planejado. Então este estoque compensa possíveis variações de demanda. Estoque de ciclo: este tipo de estoque ocorre quando alguns processos não conseguem fornecer simultaneamente todos os itens que produz para compor um determinado produto em uma operação multiestágio, tendo que produzir cada item por vez. Assim se produz e armazena cada item até o momento de usá-lo no produto final. Estoque de antecipação: é o estoque que ocorre quando se antecipa a produção para atender a uma demanda futura esperada, como é o caso das demandas sazonais, ou quando o fornecimento é inconstante. Nestas situações as flutuações na demanda são significativas, mas previsíveis. Estoque de canal: este é um estoque em trânsito, que já está alocado para o cliente, e que ainda não foi entregue. Alguns exemplos são aqueles estoques que se encontram em caminhões de transporte, nos correios, nos aviões, entre outros, antes de chegar ao cliente. Outra forma de classificar estoques pode ser feita pela característica do material estocado. Nesta linha, Corrêa et al. (2000) classificam os estoques como: Estoque de matéria-prima: os itens a serem transformados são estocados por
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