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27 Os desafios do aprendizado da leitura e escrita

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Os desafios do aprendizado da leitura e escrita 
 
No Brasil, até os anos 1960 do século XX, predominava o discurso 
da “maturidade para a alfabetização”. Em outras palavras, a aprendizagem da 
leitura e da escrita resultaria de um “amadurecimento” de certas habilidades, 
de modo que “o ensino” estaria condicionado a esse “desabrochar natural” 
que, supostamente, deveria ocorrer em torno dos seis ou sete anos. Acreditava-
se, ainda, que a criança não teria qualquer interesse em ler e escrever até 
essa idade e que tentativas de a alfabetizar antes disso eram vistas até 
mesmo como prejudiciais ao seu desenvolvimento, já que as crianças não 
estariam prontas para essa aprendizagem. 
Em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990), a 
alfabetização passa a ser “entendida como instrumento eficaz para a aprendiza
gem, para o acesso e para a elaboração da informação, para criação de novos 
conhecimentos e para a participação na própria cultura. Se tomarmos como 
ponto de partida essa definição, constatamos que nela está explícita a ideia de 
que a aprendizagem da leitura e da escrita se torna um instrumento que permitirá 
o indivíduo ter acesso à informação e criar conhecimentos. 
Ao interpretar e produzir textos escritos em diferentes gêneros, o aprendiz 
é levado a se indagar sobre quem escreve e em que situação escreve; o que se 
escreve; a quem o texto se dirige e com que intenções; quais os efeitos que o 
texto procura produzir no leitor, etc. Essas indagações favorecem a 
compreensão de como as relações sociais são representadas e constituídas na 
e por meio da escrita. Dessa forma, tais questionamentos possibilitam a 
ampliação de nossa compreensão do mundo das relações políticas, econômicas 
e sociais, para as quais nos chamava a atenção Paulo Freire. Trabalhar a 
alfabetização na perspectiva do letramento é, portanto, uma opção política. 
Acreditar que é possível alfabetizar letrando é um aspecto a ser refletido, pois 
não basta compreender a alfabetização apenas como a aquisição de uma 
tecnologia. 
 
O ato de ensinar a ler e a escrever, mais do que possibilitar o simples 
domínio de uma tecnologia, cria condições para a inserção do sujeito em práticas 
sociais de consumo e produção de conhecimento e em diferentes instâncias 
sociais e políticas. 
As discussões em torno da alfabetização e do letramento não se 
configuram num modismo passageiro, e sim em importantes temáticas a 
serem debatidas e articuladas no trabalho em sala de aula. O modo como o 
professor conduz o seu trabalho é crucial para que a criança construa o 
conhecimento sobre o objeto escrito e adquira certas habilidades que lhe 
permitirão o uso efetivo do ler e do escrever em diferentes situações sociais. 
Desse fato, decorre a necessidade de haver um diálogo contínuo entre 
professores, pesquisadores e formadores de professores, na busca de 
alternativas pedagógicas que possibilitem modificar esse quadro. Defende-se, 
então, a importância da formação continuada como espaço privilegiado desse 
diálogo, em que o estudo das especificidades e articulação dos processos de 
alfabetização e letramento seja aprofundado. 
Independentemente das didáticas e metodologias a serem utilizadas 
ou defendidas por professores, pesquisadores ou autores de livros de 
alfabetização, o que não podemos relegar a um segundo plano é que a 
alfabetização, na perspectiva do letramento, não é um mito, é uma realidade. 
Cabe às escolas e aos professores alfabetizadores ter consciência da 
concepção sobre alfabetização/letramento a ser adotada, para que se torne mais 
claro quais procedi- mentos metodológicos deverão ser utilizados.

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