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Os desafios do aprendizado da leitura e escrita No Brasil, até os anos 1960 do século XX, predominava o discurso da “maturidade para a alfabetização”. Em outras palavras, a aprendizagem da leitura e da escrita resultaria de um “amadurecimento” de certas habilidades, de modo que “o ensino” estaria condicionado a esse “desabrochar natural” que, supostamente, deveria ocorrer em torno dos seis ou sete anos. Acreditava- se, ainda, que a criança não teria qualquer interesse em ler e escrever até essa idade e que tentativas de a alfabetizar antes disso eram vistas até mesmo como prejudiciais ao seu desenvolvimento, já que as crianças não estariam prontas para essa aprendizagem. Em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos (1990), a alfabetização passa a ser “entendida como instrumento eficaz para a aprendiza gem, para o acesso e para a elaboração da informação, para criação de novos conhecimentos e para a participação na própria cultura. Se tomarmos como ponto de partida essa definição, constatamos que nela está explícita a ideia de que a aprendizagem da leitura e da escrita se torna um instrumento que permitirá o indivíduo ter acesso à informação e criar conhecimentos. Ao interpretar e produzir textos escritos em diferentes gêneros, o aprendiz é levado a se indagar sobre quem escreve e em que situação escreve; o que se escreve; a quem o texto se dirige e com que intenções; quais os efeitos que o texto procura produzir no leitor, etc. Essas indagações favorecem a compreensão de como as relações sociais são representadas e constituídas na e por meio da escrita. Dessa forma, tais questionamentos possibilitam a ampliação de nossa compreensão do mundo das relações políticas, econômicas e sociais, para as quais nos chamava a atenção Paulo Freire. Trabalhar a alfabetização na perspectiva do letramento é, portanto, uma opção política. Acreditar que é possível alfabetizar letrando é um aspecto a ser refletido, pois não basta compreender a alfabetização apenas como a aquisição de uma tecnologia. O ato de ensinar a ler e a escrever, mais do que possibilitar o simples domínio de uma tecnologia, cria condições para a inserção do sujeito em práticas sociais de consumo e produção de conhecimento e em diferentes instâncias sociais e políticas. As discussões em torno da alfabetização e do letramento não se configuram num modismo passageiro, e sim em importantes temáticas a serem debatidas e articuladas no trabalho em sala de aula. O modo como o professor conduz o seu trabalho é crucial para que a criança construa o conhecimento sobre o objeto escrito e adquira certas habilidades que lhe permitirão o uso efetivo do ler e do escrever em diferentes situações sociais. Desse fato, decorre a necessidade de haver um diálogo contínuo entre professores, pesquisadores e formadores de professores, na busca de alternativas pedagógicas que possibilitem modificar esse quadro. Defende-se, então, a importância da formação continuada como espaço privilegiado desse diálogo, em que o estudo das especificidades e articulação dos processos de alfabetização e letramento seja aprofundado. Independentemente das didáticas e metodologias a serem utilizadas ou defendidas por professores, pesquisadores ou autores de livros de alfabetização, o que não podemos relegar a um segundo plano é que a alfabetização, na perspectiva do letramento, não é um mito, é uma realidade. Cabe às escolas e aos professores alfabetizadores ter consciência da concepção sobre alfabetização/letramento a ser adotada, para que se torne mais claro quais procedi- mentos metodológicos deverão ser utilizados.
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