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Capítulo
A ética
Grande parte do que já estudamos vincula-se a questões teóricas sobre o 
ser e o saber. Agora nos concentraremos em um conjunto de problemas que 
estão diretamente ligados ao fazer – isto é, à ação humana, ao comportamento 
das pessoas e às suas relações, entre si e com o mundo.
Você tem dúvidas, às vezes, sobre como deve agir ou se angustia pensando 
se procedeu corretamente com alguém? Vejamos se as reflexões da filosofia 
prática – conhecida como ética ou filosofia moral – podem ser de alguma ajuda 
nesse sentido.
 O que você sente ao ver 
essa cena? Você mataria 
um filho para cumprir 
uma ordem do ser em 
quem você mais confia e 
respeita (no caso, Deus)? 
Ou desobedeceria a ele 
para preservar o filho que 
você tanto ama e não se 
tornar um assassino?
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Abra‹o e Isaac (1634) – 
Rembrandt Van Rijn, óleo 
sobre tela. Cena bíblica em 
que Abraão está prestes a 
tirar a vida de seu filho isaac 
– atendendo a deus, que lhe 
pedira esse sacrifício como 
prova de sua obediência 
e sua fé –, mas um anjo 
segura sua mão e impede 
o desfecho trágico. 
Conceitos-chave
ética, moral, filosofia prática, ação, comportamento, 
valor, norma, coercibilidade, liberdade, consciência 
moral, juízo, escolha, bem, mal, responsabilidade, 
virtude, vício, determinismo, violência, instintivismo, 
socioambientalismo, conflito ético, niilismo ético, 
permissivismo moral, racionalismo ético, ética do 
equilíbrio, ética do livre-arbítrio, ética do dever, 
fundamentação histórico-social, fundamentação 
ideológica, ética discursiva
Questões
filosóficas
 O que é a moral?
 Quais são os fundamentos 
da moral?
 O que é a virtude? E o vício?
 Somos livres para escolher 
uma ação?
 Como viver para ser feliz?
326 Unidade 4 Grandes áreas do filosofar
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ÉTICA E MORAL
O problema da ação e dos valores
em nosso dia a dia, frequentemente nos de-
paramos com situações em que temos de fazer 
escolhas e tomar decisões. muitas vezes elas 
dependem daquilo que consideramos bom, justo 
ou correto. toda vez que isso ocorre, estamos 
diante de uma decisão que envolve um julga-
mento moral, a partir do qual vamos orientar 
nossa ação ou a ação de outras pessoas. Como 
afirmou o filósofo grego Aristóteles:
A característica específica do homem em compara-
ção com os outros animais é que somente ele tem o 
sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto e 
de outras qualidades morais. (Política, p. 15.)
Assim, o ser humano age no mundo de acordo 
com valores, isto é, a partir daquilo que tem maior 
importância ou é prioridade para ele segundo certos 
códigos morais. isso significa que as coisas e as 
ações que um indivíduo realiza podem ser hierar-
quizadas conforme as noções de bem e de justo 
compartilhadas por um grupo de pessoas, em de-
terminado momento histórico. em outras palavras, 
o ser humano é um ser moral: um ser capaz de 
avaliar sua conduta a partir de valores morais.
 Distinção entre moral e ética
o que é moral? e qual a diferença entre moral 
e ética?
embora os termos ética e moral por vezes 
sejam usados como sinônimos, é possível fazer 
uma distinção entre eles.
A palavra moral vem do latim mos, mor-, “costu-
mes”, e refere-se ao conjunto de normas que orien-
tam o comportamento humano tendo como base 
os valores próprios a uma comunidade ou cultura.
Como as comunidades humanas são distin-
tas entre si, tanto no espaço quanto no tempo, 
os valores também podem ser distintos de uma 
comunidade para outra, o que origina códigos 
morais diferentes.
Pertence ao vasto campo da moral a definição 
sobre questões fundamentais, como:
• o que devo fazer para ser justo?
• Quais valores devo escolher para guiar minha 
vida?
• Há uma hierarquia de valores que deve ser 
seguida?
• Que tipo de ser humano devo ser nas relações 
comigo mesmo, com meus semelhantes e com 
a natureza?
• Que tipo de atitudes devo praticar como pessoa 
e como cidadão?
A palavra ética, por sua vez, vem do grego 
ethikos, “modo de ser”, “comportamento”. Por-
tanto, etimologicamente, os dois termos querem 
dizer quase a mesma coisa.
no entanto, ética designa mais especificamen-
te a disciplina filosófica que investiga o que é a 
moral, como ela se fundamenta e se aplica. ou 
seja, a ética – ou filosofia moral – estuda os diversos 
sistemas morais elaborados pelos seres huma-
nos, buscando compreender a fundamentação 
das normas e interdições (proibições) próprias a 
cada um e explicitar seus pressupostos, isto é, as 
concepções sobre o ser humano e a existência 
humana que os sustentam.
1. Considerando a condição humanizada do 
cãozinho snoopy, o que você diria sobre os 
valores dos dois personagens desta tirinha?
Conexões
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327Cap’tulo 18 A Žtica
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nesse sentido, a ética é uma disciplina teórica 
que trata da prática humana – isto é, do comporta-
mento moral. no entanto, as reflexões éticas não 
se restringem à busca de conhecimento teórico 
sobre as ações e os valores humanos, cuja origem 
e desenvolvimento levantam questões de caráter 
sociológico, antropológico, religioso etc.
Como filosofia prática, isto é, disciplina teó-
rica com preocupações práticas, a ética orien-
ta-se também pelo desejo de unir o saber ao 
fazer, ou seja, busca aplicar o conhecimento 
sobre o ser para construir aquilo que deve ser. 
e, para isso, é indispensável boa parcela de co-
nhecimento teórico.
Veremos a seguir algumas concepções funda-
mentais no campo da ética, bem como as discus-
sões que despertam.
 Moral e direito
eis uma pergunta que talvez você esteja se fa-
zendo: “normas morais e normas jurídicas são a 
mesma coisa? Há diferença entre elas?”.
sabemos que as normas morais e as normas 
jurídicas são estabelecidas pelos membros da so-
ciedade e que ambas se destinam a regulamentar 
as relações nesse grupo de pessoas. Há, então, 
vários aspectos comuns entre normas morais e 
jurídicas. Por exemplo:
• apresentam-se como imperativos, ou seja, 
normas que devem ser seguidas por todos;
• buscam propor, por meio de normas, uma con-
vivência melhor entre os indivíduos;
• orientam-se pelos valores culturais próprios de 
determinada sociedade;
• têm um caráter histórico, isto é, mudam de 
acordo com as transformações histórico-sociais.
no entanto, a despeito dessas semelhanças, há 
diferenças fundamentais entre a moral e o direito:
• as normas morais são seguidas a partir das 
convicções de cada pessoa e do grupo social ao 
qual ela pertence, enquanto as normas jurídicas 
devem ser cumpridas sob pena de punição do 
estado em caso de desobediência;
• a punição, no campo do direito, está prevista na 
legislação, ao passo que, no campo da moral, a 
eventual sanção pode variar bastante, pois de-
pende fundamentalmente da consciência moral 
do sujeito que infringe a norma e dos códigos 
morais vigentes na sociedade em que ele vive;
• a esfera da moral é mais ampla, abrangendo 
diversos aspectos da vida humana, enquanto a 
esfera do direito restringe-se a questões espe-
cíficas nascidas da interferência de condutas 
sociais. o direito costuma ser regido pelo prin-
cípio de que tudo é permitido, exceto aquilo que 
a lei expressamente proíbe;
• a moral não se traduz em um código formal, 
enquanto o direito sim;
• o direito mantém uma relação estreita com o 
estado, enquanto a moral não apresenta ne-
cessariamente essa vinculação.
estátua com a 
representação 
tradicional da justiça, 
personificada como 
uma deusa desde a 
Antiguidade. Justo 
é aquilo que está 
em conformidade 
com o que é 
correto ou direito. 
Portanto, o sentido 
de justiça está 
baseado em valores 
estabelecidos, 
como os de poder 
epaz, cooperação 
e solidariedade. As 
normas jurídicas 
deveriam tender à 
realização dos ideais 
de justiça, embora 
nem sempre isso 
ocorra. (Coleção 
particular.)
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2. observe os detalhes dessa estátua. destaque 
os elementos simbólicos que, na sua interpre-
tação, configuram a ideia de justiça. justifique 
cada um deles.
Conexões
de todas essas diferenças entre moral e direito, 
talvez uma mereça maior destaque: a coercibili-
dade da norma jurídica, que conta com a força e a 
repressão potencial do estado (através da ação da 
justiça e da polícia) para ser obedecida pelas 
pessoas. A norma moral, por sua vez, não é sus-
tentada pela coerção do estado, o que quer dizer 
que necessita, de certo modo, da aceitação de 
cada indivíduo ou grupo social para ser cumpri-
da. Por isso, como depende da escolha de cada um, 
a norma moral costuma ser vinculada, por alguns 
filósofos, à ideia de liberdade.
328 Unidade 4 Grandes áreas do filosofar
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 Moral e liberdade
Pode parecer estranho vincular a ideia de norma 
moral à ideia de liberdade, você não acha? mas 
podemos explicar essa relação. Preste atenção.
Conforme vimos antes (no capítulo 4), a 
consciência talvez seja a melhor característica 
que distingue o ser humano dos outros animais. 
ela permite o desenvolvimento do saber e da 
racionalidade, que se empenha em separar o 
falso do verdadeiro.
Além dessa consciência racional, lógica, o 
ser humano possui também consciência mo-
ral, isto é, a faculdade de observar a própria 
conduta e julgar (isto é, formular juízos) sobre 
os atos passados, presentes e as intenções fu-
turas. observe que a palavra julgar vem do la-
tim judicare, “avaliar”, “ponderar” – ou seja, 
julgar é atribuir um valor, um peso para cada 
coisa que se apresenta.
note também que é somente depois de julgar 
que a pessoa tem condições de escolher, entre as 
circunstâncias possíveis, suas ações e seu próprio 
caminho na vida. e é justamente essa possibilidade 
que cada indivíduo tem de escolher seu caminho, 
de construir sua maneira de ser e sua história que 
chamamos liberdade.
Liberdade e responsabilidade 
Assim, se consciência moral e liberdade es-
tão intimamente relacionadas, só tem sentido 
julgar moralmente a ação de uma pessoa se 
essa ação foi praticada em liberdade. Quando 
não se tem escolha (ou liberdade), quando se é 
coagido a praticar uma ação, é impossível de-
cidir entre o bem e o mal (que é o que faz a 
consciência moral). A decisão, nesse caso, é 
imposta pelas forças coativas, isto é, que de-
terminam uma conduta. exemplo: tendo o filho 
sequestrado, o pai cumpre ordens do seques-
trador; portanto, sua ação é determinada pela 
coação do criminoso.
Quando, porém, estamos livres para escolher 
entre esta ou aquela ação e fazemos uma escolha, 
tornamo-nos responsáveis pelo que praticamos e 
podemos ser julgados moralmente por isso.
observemos que o termo responsabilidade 
vem do latim respondere, “responder”, e significa 
estar em condições de responder pelos atos pra-
ticados, isto é, de justificá-los e assumi-los. É 
essa responsabilidade, enfim, que pode ser jul-
gada pela consciência moral do próprio indivíduo 
ou do seu grupo social.
Virtude e vício
uma propriedade comumente atribuída à 
consciência moral é a de que ela nos fala como 
uma voz interior, geralmente nos inclinando para 
o caminho da virtude. mas o que é virtude?
A palavra virtude deriva do latim virtus – “força 
ou qualidade essencial” – e significa, no contexto 
da moral, a qualidade ou a ação que dignifica o ser 
humano. e qual é essa qualidade ou ação?
Há muitas interpretações sobre esse tema, 
mas podemos dizer, basicamente, que é a prática 
constante do bem de forma consciente, livre e 
responsável. Assim, por exemplo, são consideradas 
virtudes a polidez, a lealdade, a prudência, a justiça, 
a coragem, a generosidade.
À ideia de virtude opõe-se a de vício, que con-
siste na prática do mal, correspondendo ao uso da 
liberdade sem responsabilidade moral. Assim, são 
considerados vícios a violência, a deslealdade, a in-
sensatez, a injustiça, a covardia, a mesquinhez etc.
Analisando essa relação entre responsabilidade 
e virtude, erich Fromm concluiu que a responsabi-
lidade primordial do ser humano está relacionada 
com a própria condição humana, isto é, com a reali-
zação de suas potencialidades de vida. Assim:
A temperança (século XVi) – Hendrick Goltzius e 
Cornelis de Visscher. de acordo com a tradição desde 
Platão, as virtudes capitais são a justiça, a prudência, a 
fortaleza e a temperança. esta última é a qualidade de 
quem é moderado. É pela moderação que dominamos 
os prazeres, em vez de a eles nos submetermos.
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329Capítulo 18 A Žtica
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O bem é a afirmação da vida, o desenvolvimento 
das capacidades do homem. A virtude consiste em 
assumir a responsabilidade por sua própria existên-
cia. O mal constitui a mutilação das capacidades 
do homem; o vício reside na irresponsabilidade 
perante si mesmo. (Análise do homem, p. 30.)
 Liberdade versus 
determinismo
Agora que explicamos por que alguns filósofos 
vinculam moral e liberdade, bem como liberdade 
e responsabilidade, talvez você se pergunte: “mas 
somos realmente livres para decidir?”, “e, se somos, 
que liberdade é essa?”.
do ponto de vista da discussão filosófica, pode-
mos sintetizar três respostas diferentes para esses 
problemas: uma que enfatizou o determinismo, 
outra que destacou o papel da liberdade e uma ter-
ceira que procurou estabelecer uma dialética entre 
os dois termos. Vejamos cada uma.
concepção determinista de liberdade proposta por 
Thomas Hobbes (que abordamos no capítulo 15).
Ênfase na liberdade
Para essa via de interpretação, o ser humano é 
sempre livre. embora os defensores dessa posição 
admitam a existência das determinações de origem 
externa – sociais – e interna – como desejos, impul-
sos etc. –, eles sustentam a tese de que o indivíduo 
possui uma liberdade moral que está acima dessas 
determinações. Assim, apesar de todos os fatores 
sociais e subjetivos que atuam sobre cada indivíduo, 
ele sempre possui uma possibilidade de escolha e 
pode estabelecer por si mesmo sua ação (liberdade 
autoderterminada).
A maior expressão dessa concepção filosófica 
acerca da liberdade é encontrada no pensamento 
do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), 
que afirmou que “o homem está condenado a ser 
livre” (O existencialismo é um humanismo, p. 9). 
(Reveja sua argumentação no capítulo 17.)
Dialética entre liberdade 
e determinismo
segundo essa via de interpretação, o ser humano 
é determinado e livre ao mesmo tempo. determinis-
mo e liberdade não se excluem, mas se comple-
mentam. nessa perspectiva, não faz sentido pensar 
em uma liberdade absoluta nem em uma negação 
absoluta da liberdade. Vejamos por quê.
A liberdade é sempre uma liberdade concreta. 
isso quer dizer que ela ocorre em cada indivíduo, 
que desenvolve sua vida sob a influência de um 
conjunto de fatores objetivos, os quais podem 
compreender desde suas necessidades naturais 
como ser humano até os costumes e as normas 
estabelecidos na sociedade em que vive, por meio 
da educação e da cultura em geral. sua liberdade, 
portanto, é restringida por fatores objetivos que 
cercam sua existência factual. no entanto, todo in-
divíduo sempre poderá atuar no sentido de alargar 
as possibilidades dessa liberdade, e isso será tanto 
mais eficiente quanto maior for sua consciência a 
respeito desses fatores.
essa concepção é encontrada no pensador ho-
landês Espinosa e nos filósofos alemães Hegel e 
Marx. Apesar das muitas diferenças entre seus 
pensamentos, o ponto em comum é a ideia de que 
a liberdade é a compreensão da necessidade (dos 
determinismos). no final do capítulo você encon-
trarátextos de alguns pensadores mencionados, 
defendendo essas três posições filosóficas acerca 
da liberdade.
Ênfase no determinismo 
de acordo com essa via de interpretação, a li-
berdade não existe, pois o ser humano seria sem-
pre determinado, seja por sua natureza biológica 
(necessidades e instintos), seja por sua natureza 
histórico-social (leis, normas, costumes). em ou-
tras palavras, as ações individuais seriam causa-
das e determinadas por fatores naturais ou cons-
trangimentos sociais, e a liberdade seria apenas 
uma ilusão.
essa concepção encontra-se presente no pen-
samento de filósofos materialistas do século XViii, 
tais como os franceses Helvetius (1715 -1771) e 
Holbach (1723-1789), ambos influenciados pela 
marionete sendo sustentada e movida por pessoa oculta 
mediante cordéis. será que nos movemos em nossas vidas 
como esse boneco? serão nossas escolhas realmente 
nossas, isto é, livres e autênticas?
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330 Unidade 4 Grandes áreas do filosofar
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Origens da violência e da maldade
Quando se fala em violência ou 
maldade, uma das primeiras coisas 
em que pensamos é, por exemplo, no 
ladrão de casas e carros, no assassino 
sanguinário, enfim, nos inúmeros cri-
minosos que agridem pessoas e as-
saltam o patrimônio alheio. Podemos 
pensar também na violência dentro da 
família, geralmente contra mulheres 
e crianças.
menos comum é pensarmos na 
violência institucionalizada pelos sis-
temas de exploração social, isto é, a 
violência cruel dos salários de fome, 
da falta de moradia, do desamparo à 
saúde pública, do descaso pela educa-
ção, do preconceito racial etc. Violên-
cias surdas que oprimem milhões de 
pessoas “sem vez” e ainda “sem voz”.
temos também a violência do ser 
humano contra a natureza, provocando 
graves desequilíbrios ecológicos. e, por fim, há ainda a violência do indivíduo contra si próprio, em que o 
suicídio costuma ser apontado como exemplo extremo.
então, em um sentido amplo, podemos dizer que a violência ou a maldade são formas de desrespeito, 
agressão e destruição praticadas pelo indivíduo contra si próprio, contra outras pessoas (sociedade) ou 
contra a natureza. 
mas quais são as causas do mal? Responder a essa questão não é tarefa fácil. ela atormentou filósofos 
de todos os tempos, que sempre tiveram grandes dificuldades ao abordá-la (reveja no capítulo 7, por 
exemplo, a discussão entre Hobbes e Rousseau sobre o ser humano em estado de natureza). de modo 
geral, é possível identificar duas respostas antagônicas sobre as causas da violência ou da maldade, 
fornecidas pela psicologia e pela psicanálise:
• instintivista – afirma que a violência humana, concretizada nas guerras, nos crimes, na opressão social, na 
conduta autodestrutiva, é provocada por instintos inatos decorrentes da fisiologia básica do ser humano. 
esse instinto agressivo sempre busca sua descarga e aproveita as ocasiões favoráveis para se manifestar. 
no grupo de pensadores que enfatizaram o aspecto instintivo da violência humana, destacam-se o austríaco 
konrad lorenz (1903-1989), criador da etologia, e Sigmund Freud (1856-1939), criador da psicanálise. 
Há, entretanto, inúmeras divergências entre as concepções desses estudiosos;
• socioambientalista – nega que a violência seja um atributo inato do ser humano. Afirma que o 
comportamento individual (pacífico ou violento) é moldado pelo ambiente em que o sujeito vive, isto 
é, pelas condições sociais, econômicas, políticas e culturais de sua existência. Assim, as diferenças 
de conduta entre as pessoas seriam o resultado das distintas condições socioambientais que cada 
uma teria enfrentado durante sua vida. no grupo socioambientalista destaca-se a corrente dos 
psicólogos behavioristas (do inglês behavior, “comportamento”), fundada pelo estado-unidense J. B. 
Watson (1878-1958) e desenvolvida pelo também estado-unidense B. F. Skinner (1904-1990).
Para os instintivistas, o ser humano reproduz os impulsos orgânicos de sua espécie. o indivíduo repete 
o passado filogenético. Para os socioambientalistas, o ser humano reproduz a influência do ambiente em 
que vive. o indivíduo vincula-se ao padrão cultural da sociedade em que está inserido e tende a repeti-lo.
Além dos instintivistas e dos socioambientalistas, há outra posição que sustenta a tese de que o ser 
humano não é um títere ou uma marionete, que só reage passivamente ao ambiente (socioambientalismo), 
nem um ser aprisionado pelos instintos filogenéticos (instintivismo). o ser humano seria mais que tudo 
isso: é multideterminado, é um sistema complexo. Por isso, age e reage, cria e copia sentidos para a vida. 
e o problema da origem do mal segue aberto.
tinta vermelha lançada por ativistas mancha as escadarias da Assembleia 
legislativa do Rio de janeiro como parte das manifestações populares 
contra a violência na cidade, ocorridas em março de 2007. Como devemos 
agir diante da maldade e da violência?
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 Transformações da moral
dissemos que o sistema moral de cada grupo 
social é elaborado ao longo do tempo de acordo 
com os valores reconhecidos por aquele grupo 
como significativos para a convivência social.
em um primeiro momento, esses valores são 
adquiridos pelos indivíduos como uma herança 
cultural. Cada pessoa assimila, desde a infância, 
as noções do que é bom e desejável, assim como 
do que é ruim, desaconselhável ou repugnante. 
de acordo com esses valores, passará a julgar 
como bom ou mau seu próprio comportamento e 
o dos outros.
no entanto, é importante notar que, apesar 
desse caráter social, a moral tem também um 
aspecto pessoal, como salientaram vários filósofos. 
ou seja, embora herdemos um conjunto estabele-
cido de normas morais, chega um momento em 
nossas vidas em que podemos refletir sobre elas, 
aceitá-las consciente e livremente ou rejeitá-las. 
Por isso dissemos anteriormente, na comparação 
entre normas morais e normas jurídicas, que o 
comportamento moral caracteriza-se essencial-
mente pela livre escolha do indivíduo. isso significa 
que a liberdade é a base, a condição de possibilidade 
da conduta verdadeiramente moral.
em sua relação com a sociedade, o indivíduo 
pode reafirmar e consolidar a moralidade exis-
tente. mas pode também negá-la e, dessa forma, 
contribuir para a transformação dessa moralidade. 
Assim, podemos caracterizar essa relação entre 
sociedade e indivíduo como dialética, ou seja, de 
mútua influência entre dois polos:
• de um lado, há um ser singular que é levado 
pela educação à universalidade expressa nos 
costumes e normas morais. isso significa que 
cada indivíduo assimila os princípios morais 
concebidos pelos grupos sociais e consolidados 
até então como próprios do ser humano;
• de outro lado, estão aqueles que, não assimilan-
do passivamente esses princípios, se propõem a 
examiná-los e questioná-los à luz de novas con-
dições histórico-sociais, podendo então decidir 
por interferir em sua formulação e acabar trans-
formando as normas e os costumes morais.
 Piaget: o desenvolvimento 
da razão e da moral
essas concepções sobre as transformações da 
moralidade encontram eco nas análises do episte-
mólogo e psicólogo da educação suíço Jean Piaget 
(1896-1980), fundador da psicologia genética. de 
acordo com sua Teoria Cognitiva, desde o nasci-
mento o ser humano passa por um processo de 
desenvolvimento intelectual, afetivo e moral que 
pode ser dividido em quatro grandes estágios:
• Estágio sensório-motor (do nascimento até os 
2 anos) – corresponde ao período anterior ao 
uso da linguagem, quando a criança manifes-
ta esquemas mentais simples, marcados pela 
associação entre percepção sensorial e ações 
motoras, tais como sugar, abrir e fechar a mão, 
puxar e jogar pequenos objetos, locomover-se 
etc. Aqui, a criança “tudo relaciona a seu corpo 
como se ele fosse o centrodo mundo, mas um 
centro que a si mesmo ignora” (Piaget, A episte-
mologia genética, p. 15). no plano da moralida-
de, a criança vive o período da anomia, isto é, 
da ausência de normas. É a fase pré-moral, na 
qual a consciência ainda não é capaz de com-
preender e aceitar normas morais.
• Estágio pré-operacional (dos 2 aos 7 anos) – cor-
responde ao período em que, gradativamente, a 
criança começa a empregar a linguagem, mas 
permanece centrada em si mesma. Por isso, não 
consegue manter diálogos efetivos com o outro, 
um exemplo das transformações da moralidade é a 
Parada do orgulho lGbt (lésbicas, Gays, bissexuais e 
transgêneros). nessa fotografia de 2012, o evento realizado 
em são Paulo reuniu cerca de três milhões de pessoas e 
contou com o apoio de diversas organizações da sociedade 
civil e autoridades. décadas atrás um evento como esse 
seria impensável.
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apenas formas de monólogo interior (consigo 
mesma) ou coletivo (junto com o outro). ou seja, 
ela fala consigo ou com outras pessoas sem, no 
entanto, interagir plenamente com elas. nesta 
fase, um cabo de vassoura pode “virar” um ca-
valo, uma bicicleta, um automóvel e, em segui-
da, perder todo o significado que lhe havia sido 
atribuído, transformando-se em uma espada 
ou em qualquer outra coisa. A criança recusa 
ter a satisfação de seus desejos adiada, geral-
mente não gosta de compartilhar brinquedos 
e resiste às restrições à sua liberdade de agir. 
no plano moral, a criança começa a entrar no 
período da heteronomia, isto é, da norma ex-
terna, que vem de fora, do outro, do adulto. A 
consciência passa a aceitar algumas normas, 
mas sem absorvê-las e incorporá-las como 
atos de compreensão abrangente.
• Estágio das operações concretas (dos 7 aos 12 
anos) – corresponde ao período em que, com o 
pensamento ainda guiado por objetos concretos, 
a criança passa do monólogo ao diálogo, a uma 
troca mais efetiva de ideias com o outro. Às ativida-
des individuais somam-se os esportes coletivos, 
a criança adquire mais sociabilidade, demonstra 
maior capacidade para obedecer normas que 
regulam jogos ou brincadeiras. o desejo de ven-
cer se traduz em competitividade, mas a derrota 
frequentemente ainda não é aceita e se manifes-
ta em reações de choro, agressividade e raiva. 
no campo moral, a criança vai consolidando o 
período da heteronomia.
• Estágio das operações formais (a partir dos 12 
anos) – corresponde ao período em que a criança 
adquire capacidade para dispensar a referência a 
objetos concretos, passando ao pensamento for-
mal abstrato. isso lhe permite formular hipóteses, 
pressupor coisas e deduzir sequências de causas 
e efeitos. Para raciocinar em uma operação de adi-
ção, a criança não precisa mais contar seus dedos, 
pedrinhas, laranjas, maçãs etc. ocorre então o de-
senvolvimento do raciocínio hipotético-dedutivo, 
que permitirá ao ser humano pensar além das 
coisas que estão diante de seus sentidos (visão, 
audição etc.). A partir daqui, desenvolve-se o pen-
samento sobre temas complexos e amplos, como 
os tratados pela arte, ciência e filosofia. Abre-se 
a porta para o questionamento e a possibilidade 
de transformações do modo de ser e de viver de 
um povo em determinados contextos históricos. 
no plano moral, além de assimilar e compreen-
der as normas externas, a consciência também 
começa a elaborar códigos de conduta próprios. 
É o surgimento da autonomia, da capacidade 
de fazer escolhas por conta própria. A diferença 
em relação ao estágio anterior é que “a norma 
passa a ser refletida, criticada, questionada em 
sua validade, reinterpretada e redefinida pelos 
membros do grupo, que pode, inclusive, decidir 
modificá-la consensualmente” (Freitag, Sociedade 
e consciência – um estudo piagetiano na favela 
e na escola, p. 50).
 escolhas morais
Vemos, portanto, que as condutas dos indivíduos 
podem variar entre dois extremos – o do consenti-
mento e o da negação da moral vigente –, consti-
tuindo o que podemos chamar escolhas morais.
na escolha moral estão em jogo tanto fatores 
objetivos como subjetivos. os fatores objetivos 
relacionam-se a costumes e normas já estabele-
cidos, bem como à educação e à cultura em geral. 
os fatores subjetivos, por sua vez, estão ligados à 
ideia de liberdade e de responsabilidade pessoal.
uma primeira possibilidade de escolha é a da 
ação moralmente boa ou correta, que ocorre 
quando o indivíduo assume conscientemente uma 
mulher orienta menina em período importante de construção 
da moralidade de um indivíduo. o adulto transmite informação 
junto com valores, e a criança os absorve indiscriminadamente. 
na imagem, o que revela a linguagem corporal das duas? 
Cuidado, insubmissão, poder?
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333Capítulo 18 A Žtica
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norma moral e a cumpre, reconhecendo-a como 
legítima. É o caso, por exemplo, de alguém que 
trata as pessoas de maneira respeitosa, porque 
entende que todos merecem respeito.
em oposição a essa opção está a ação mo-
ralmente má ou incorreta, ou seja, aquela que 
contraria determinada norma moral sem, con-
tudo, contestá-la como norma universal. É como 
se o indivíduo abrisse uma exceção para agir 
contra a norma. Por exemplo, uma pessoa fala 
mal de outra por algum motivo banal, embora 
reconheça que não gostaria de ser malfalada por 
outras pessoas.
outra possibilidade ocorre quando o indivíduo 
recusa conscientemente uma norma moral por 
entendê-la inadequada ou ilegítima. essa situa-
ção se caracteriza como um conflito ético, que 
aponta para uma ruptura com a moral vigente. É o 
caso, por exemplo, das mulheres que usaram 
saias com um comprimento bem menor do que o 
considerado adequado pela sociedade de seu 
tempo, confrontando a moral vigente quanto ao 
grau “permitido” de exposição pública do corpo.
diferente do conflito ético é a situação de 
niilismo ético, que se caracteriza pela negação 
radical de todo e qualquer valor moral. o per-
missivismo moral, por sua vez, seria uma versão 
deteriorada e individualista do niilismo ético, na 
qual, por trás da negação dos valores vigentes, 
escondem-se interesses particulares.
1. embora sejam usadas muitas vezes como sinô-
nimos, que significados específicos possuem as 
palavras moral e ética?
2. em sua opinião, quais são as grandes questões 
que a ética procura investigar e responder no 
mundo de hoje? Comente.
3. sintetize:
a) em que são semelhantes as normas morais e 
as normas jurídicas?
b) o que as distingue?
c) A que campo de estudo pertence cada uma?
4. Procure expressar o que você entendeu da relação 
entre moral e liberdade, usando os conceitos: cons-
ciência moral, juízo, escolha, liberdade.
5. só faz sentido julgar moralmente a ação de uma 
pessoa se essa ação foi praticada em liberdade. 
Comente essa afirmação e dê exemplos.
6. discorra sobre a virtude e o vício. Analise-os, 
compare-os e dê exemplos para cada um a partir 
de seu cotidiano.
7. Como se expressa, no âmbito da moral, a relação 
dialética entre o indivíduo e a sociedade? Quando 
ocorrem transformações nas normas morais?
8. segundo a teoria de Piaget, uma criança com 
menos de 12 anos está pronta para ser responsa-
bilizada moralmente por suas ações? justifique 
sua resposta.
9. Com base nas distinções feitas neste capítulo, ana-
lise e compare as seguintes escolhas morais:
a) a ação correta e a ação incorreta;
b) a ação incorreta e a que expressa conflito ético;
c) o niilismo ético e o permissivismo ético.
anáLise e enTenDiMenTo
1. Liberdade versus determinismo
o ser humano é determinado e livre ao mesmo tempo. determinismo e liberdade não se excluem, mas 
se complementam. liberdade é, em parte, a compreensão da necessidade. Você concorda com esse ra-
ciocínio? Por quê? Você se sente livre? Reflita sobre esse assunto e elabore uma dissertação sobre ele.
2. V’cio ou conflitoŽtico
Hoje em dia, novas práticas, como as da engenharia genética, ou antigas proibições, como o aborto, têm 
gerado muitas discussões éticas. É possível observar que, na maioria das vezes em que surge uma nova 
proposta de conduta, aqueles que se opõem a ela a veem como um “mal, vício ou corrupção”. no entanto, 
passada a fase do “conflito ético”, tal proposta pode se tornar moralmente aceita pela sociedade.
Pesquise o assunto e identifique pelo menos três casos de práticas que foram um dia – ou ainda consti-
tuem – conflitos éticos. depois apresente-os aos colegas e faça seu juízo a respeito de cada caso.
ConVersa fiLosófiCa
334 Unidade 4 Grandes áreas do filosofar
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ÉTICA nA hIsTóRIA
Algumas concepções da filosofia moral
humano, o que o diferencia dos demais animais? 
sua alma racional. o ser humano é essencialmente 
razão. e é na razão, portanto, que devem ser funda-
mentadas as normas e costumes morais. Por isso, 
dizemos que a ética socrática é racionalista. o indi-
víduo que age conforme a razão age corretamente.
Platão desenvolveu o racionalismo ético inicia-
do por sócrates, aprofundando a diferença entre 
corpo e alma. Argumentava que o corpo, por ser a 
sede de desejos e paixões, muitas vezes desvia o 
indivíduo de seu caminho para o bem. Assim, de-
fendeu a necessidade de uma depuração do mundo 
material para alcançar a ideia de bem. segundo 
Platão, o ser humano não consegue caminhar em 
busca da perfeição agindo sozinho. necessita, 
portanto, da sociedade, da pólis. no plano ético, 
o indivíduo bom é também o bom cidadão.
depois do período clássico grego, o estoicis-
mo desenvolveu uma ética baseada na procura 
da paz interior e no autocontrole individual, fora 
dos contornos da vida política. Assim, o princípio 
da ética estoica é a apatia (apatheia), atitude de 
entendimento de tudo o que acontece, e o amor ao 
destino (amor fati), porque tudo faria parte de um 
plano superior guiado por uma razão universal 
que a tudo abrangeria. desse modo, atingia-se a 
ataraxia, ou imperturbabilidade da alma.
A ética do epicurismo, de forma semelhante, 
defendia a atitude de desvio da dor e procura do 
prazer espiritual, do autodomínio e a paz de espí-
rito (ataraxia). 
Ética do equilíbrio
Aristóteles também desenvolveu uma reflexão 
ética racionalista, mas sem o dualismo corpo-al-
ma platônico. Procurou construir uma ética mais 
realista, mais próxima do indivíduo concreto. Para 
tanto, perguntou-se sobre o fim último do ser hu-
mano. Para o que tendemos? e respondeu: para a 
felicidade. todos nós buscamos a felicidade.
e o que entende Aristóteles por felicidade? Para 
o filósofo, a felicidade não se confunde com o sim-
ples prazer, o prazer das sensações ou o prazer 
proporcionado pela riqueza e pelo conforto material. 
A felicidade última e maior se encontraria na 
vida teórica, que promove o que há de mais es-
sencialmente humano: a razão.
o indivíduo que se desenvolve no plano teórico, 
contemplativo, pode compreender a essência da 
felicidade e, de forma consciente, guiar sua condu-
Vejamos, de forma resumida, algumas das re-
flexões éticas que marcaram os grandes períodos 
históricos. Para isso, retomaremos aspectos do 
pensamento de alguns filósofos estudados ante-
riormente. daremos destaque às concepções de 
Aristóteles, na Antiguidade, Santo Agostinho, na 
idade média, e Immanuel Kant, na idade moderna.
 antiguidade: ética grega
A preocupação com os problemas éticos teve 
início de forma mais sistematizada na época de 
sócrates, filósofo também conhecido como “o pai 
da moral”. Vejamos o que disseram os principais 
filósofos gregos desse período sobre essa questão.
os sofistas afirmavam que não existem normas 
e verdades universalmente válidas. tinham, portan-
to, uma concepção ética relativista ou subjetivista.
Ao contrário dos sofistas, Sócrates sustentou a 
existência de um saber universalmente válido, que 
decorre do conhecimento da essência humana, a 
partir da qual se pode conceber a fundamentação 
de uma moral universal. e o que é essencial no ser 
Pintura em vaso que retrata o episódio mítico em 
que o herói ateniense teseu mata o minotauro (1813). 
(bibliothèque des Arts décoratifs, Paris, França.) os 
antigos gregos desenvolveram uma ética racionalista 
na qual a razão deveria prevalecer sobre as paixões e os 
desejos individuais. o mal, as paixões desenfreadas, a 
iniquidade, a que os gregos denominavam hybris, eram 
representadas pelas personagens monstruosas que 
deveriam ser vencidas pelos heróis de sua mitologia.
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ta. mas isso, no contexto histórico da Grécia antiga, 
seria privilégio de uma minoria. segundo o filósofo, 
a pessoa comum, aquela que não pode se dedicar 
à atividade teórica, aprenderia a agir corretamente 
pelo hábito, isto é, por meio da prática constante e 
reiterada de ações.
Assim, agir corretamente seria praticar as vir-
tudes. e o que seria a virtude? em sua obra Ética a 
Nicômaco, Aristóteles explica:
A excelência moral [virtude moral], então, é uma 
disposição da alma relacionada com a escolha de 
ações e emoções, disposição esta consistente num 
meio-termo determinado pela razão. Trata-se de 
um estado intermediário, porque nas várias formas 
de deficiência moral há falta ou excesso do que é 
conveniente tanto nas emoções quanto nas ações, 
enquanto a excelência moral encontra e prefere o 
meio-termo. (p. 42)
A coragem, por exemplo, seria uma virtude si-
tuada entre a covardia (a deficiência) e a temeri-
dade (o excesso). Assim, o filósofo propôs uma 
ética do meio-termo, na qual a virtude consistiria 
em procurar o ponto de equilíbrio entre o excesso 
e a deficiência. 
mas observe que esse ponto de equilíbrio não é 
fixo, isto é, não pode ser estabelecido de antemão, 
pois varia de acordo com a circunstância ou ocasião 
(onde, quando, quanto, com quem, com o quê, como 
etc). Por exemplo: não é exatamente coragem reagir 
em um assalto a mão armada. ou seja, não é esse 
tipo de atitude que garante a excelência moral de 
uma pessoa. Como explicou Aristóteles:
[...] tanto o medo como a confiança, o apetite, a ira, 
a compaixão e em geral o prazer e a dor, podem ser 
sentidos em excesso ou em grau insuficiente; e, num 
caso como no outro, isso é um mal. Mas senti-los 
na ocasião apropriada, com referência aos objetos 
apropriados, para com as pessoas apropriadas, pelo 
motivo e da maneira conveniente, nisso consistem o 
meio-termo e a excelência característicos da virtude. 
(Ética a Nicômaco, p. 273.)
também é importante notar que, tanto em Pla-
tão como em Aristóteles, a ética estava vinculada à 
vida política. Aristóteles refere-se mesmo à política 
como um meio da ética, pois, sendo o ser humano, 
por natureza, um ser sociopolítico, necessitaria da 
vida em comum para alcançar a felicidade como 
plenitude de seu bem-estar.
 idade Média: ética cristã
o que diferencia radicalmente a ética cristã da 
ética grega são dois pontos:
• abandono da visão mundana – a ética cristã 
deixa de lado a ideia de que o fim último da vida 
humana está neste mundo. Com isso, centrou a 
busca da perfeição moral no amor a deus;
• emergência da subjetividade – acentuando a 
tendência já esboçada na filosofia de estoicos e 
epicuristas, a ética cristã tratou a moral do ponto 
de vista estritamente pessoal, como uma relação 
entre cada indivíduo e Deus, isolando-o de sua 
condição social e atribuindo à subjetividade uma 
importância até então desconhecida.
os filósofos medievais herdaram alguns ele-
mentos da tradição filosófica grega, reconfigu-
rando-os no interior de uma ética cristã. Santo 
Tomás de Aquino (século Xiii), por exemplo, re-
cuperou da ética aristotélica a ideia de felicidade 
como fim último do ser humano, mas cristiani-
zou essa noção ao identificar Deus como a fonte 
dessa felicidade.
Ética dolivre-arbítrio
santo Agostinho (354-430) transformou a ideia 
de depuração da alma da filosofia de Platão na ideia 
da necessidade de elevação ascética para com-
preender os desígnios de deus. também a ideia 
da imortalidade da alma, presente em Platão, foi 
retrabalhada pelo filósofo sob a perspectiva cristã.
Os sete pecados capitais: ganância (c. 1595) – jacques 
de backer. Para o catolicismo, os sete vícios principais 
do ser humano são: soberba (ou vaidade), ganância 
(ou avareza), luxúria, ira, gula, inveja e preguiça. na 
ganância ou avareza – representada na imagem acima 
– dá-se mais importância aos bens materiais que aos 
espirituais, o que constituiria uma inversão grave dos 
valores cristãos. 
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mas a ética agostiniana destaca-se por outro 
conceito. Ao tentar explicar como pode existir o 
mal se tudo vem de deus – e deus é bondade 
infinita –, santo Agostinho introduziu a ideia de 
liberdade como livre-arbítrio, isto é, a noção de 
que cada indivíduo tem a possibilidade de escolher 
como agir, de acordo com sua própria vontade. 
Portanto, pode optar livremente por aproximar-se 
de deus ou por afastar-se dele. o afastamento de 
deus seria o mal, de acordo com o filósofo (reveja 
a esse respeito o capítulo 13).
isso significa que, com a noção de livre-arbítrio, 
de escolha individual, Agostinho acentuou o papel 
da subjetividade humana nas coisas do mundo. o 
livre-arbítrio seria o meio pelo qual o ser humano 
exerce sua liberdade, que consiste em escolher en-
tre o bem e o mal. de outro lado, esse conceito esva-
ziou a noção grega de liberdade como possibilidade 
de realização plena dos indivíduos em seu meio so-
cial. em outras palavras, diminuiu a importância da 
dimensão social da liberdade, e esta passou a ter 
um caráter mais pessoal, subjetivo, individualista.
 idade Moderna: ética 
antropocêntrica
Com o final da idade média, marcado pelo Re-
nascimento, o ser humano torna-se novamente 
o centro de interesse por meio do humanismo, 
conforme vimos no capítulo 14. no terreno da refle-
xão ética, esse fato orientou uma nova concepção 
moral, centrada na autonomia humana.
no Iluminismo, essa orientação fica mais evi-
dente, pois os filósofos passam a defender a ideia 
de que a moral deve ser fundamentada não mais 
em valores religiosos, e sim naqueles oriundos da 
compreensão do que é a natureza humana.
A concepção mais expressiva do período mo-
derno a respeito da natureza humana é a de uma 
natureza racional, que encontra em kant sua for-
mulação mais bem-acabada.
Ética do dever 
em seus textos Crítica da razão prática e Funda-
mentação da metafísica dos costumes, o filósofo 
alemão immanuel kant (1724-1804) aponta a ra-
zão humana como uma razão legisladora, capaz 
de elaborar normas universais, uma vez que cons-
titui um predicado universal dos seres humanos, 
isto é, uma capacidade comum a todos. As normas 
morais teriam, portanto, sua origem na razão.
embora, em kant, as normas morais devam ser 
obedecidas como deveres, a noção kantiana de 
dever confunde-se com a própria noção de liber-
dade. isso ocorre porque, em seu pensamento, o 
indivíduo que obedece a uma norma moral atende 
à liberdade da razão, ou seja, àquilo que a razão, 
no uso de sua liberdade, determinou como correto. 
dessa forma, a sujeição à norma moral é o reco-
nhecimento de sua legalidade, conferida pelos 
próprios indivíduos racionais.
kant reforça essa ideia ao dizer que um ato só 
pode ser considerado moral quando praticado de 
forma autônoma, consciente e por dever. Com isso, 
acentua o reconhecimento do dever como uma 
expressão da racionalidade humana, única fonte 
legítima da moralidade. A clareza dessa ideia é 
assim expressa pelo filósofo:
Age apenas segundo uma máxima [um princípio] 
tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se 
torne lei universal. (Fundamentação da metafísica 
dos costumes, p. 59.)
essa exigência é denominada por kant de impe-
rativo categórico, ou seja, é uma determinação im-
perativa, que deve ser observada sempre, em toda e 
qualquer decisão ou ato moral que venhamos a pra-
ticar. em outras palavras, o filósofo quer dizer que 
nossa ação deve ser tal que possa ser universaliza-
da, ou seja, realizada por todos os outros indivíduos 
sem prejuízo para a humanidade. se não puder 
ser universalizada, não será moralmente correta 
e só acontecerá como exceção, nunca como regra. 
Vejamos como kant se expressa a esse respeito:
Se prestarmos atenção ao que se passa em nós mes-
mos sempre que transgredimos qualquer dever, des-
cobriremos que na realidade não queremos que a 
nossa máxima se torne lei universal, porque isso nos 
é impossível; o contrário dela é que deve univer-
salmente continuar a ser lei; nós tomamos apenas 
a liberdade de abrir nela uma exceção para nós. 
(Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 63.)
e por que realizamos atos contrários ao dever 
e, portanto, contrários à razão? kant dirá que é 
porque nossa vontade é também afetada pelas 
inclinações – que são os desejos, as paixões, os 
medos –, e não apenas pela razão. Por isso ele 
afirma que devemos educar a vontade para al-
cançar a boa vontade, que seria aquela guiada 
unicamente pela razão.
em resumo, a ética kantiana é uma ética formal 
ou formalista, pois postula o dever como norma 
universal, sem se preocupar com a condição indivi-
dual, em que cada um se encontra diante desse de-
ver. em outras palavras, kant nos dá a forma geral 
da ação moralmente correta (o imperativo categóri-
co), mas não diz nada acerca de seu conteúdo, não 
diz o que devemos fazer em cada situação concreta.
337Capítulo 18 A Žtica
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 idade Contemporânea: 
ética do indivíduo concreto
A reflexão ética na idade Contemporânea (sé-
culos XiX e XX) desdobrou-se em uma série de 
concepções distintas acerca do que seja a moral e 
sua fundamentação. seu ponto comum é a recusa 
de uma fundamentação exterior, transcendental 
para a moralidade, centrando no indivíduo con-
creto a origem dos valores e das normas morais.
um dos primeiros passos na formulação de uma 
ética do indivíduo concreto foi dado por Hegel, em 
sua crítica ao formalismo de kant.
fundamentação histórico-social
Como diversos autores contemporâneos, o filó-
sofo alemão Friedrich Hegel (1770-1831) questio-
nou o formalismo da ética kantiana. Para ele, ao 
não levar em consideração a história e a relação 
do indivíduo com a sociedade, a ética de kant não 
apreende os conflitos reais existentes nas decisões 
morais. kant teria considerado a moral apenas 
como uma questão pessoal, íntima e subjetiva, 
na qual o sujeito deve se decidir entre suas incli-
nações (desejos, medos etc.) e sua razão.
de acordo com Hegel, portanto, a moralidade 
assume conteúdos diferenciados ao longo da 
história das sociedades, e a vontade individual 
seria apenas um dos elementos da vida ética de 
uma sociedade em seu conjunto. A moral seria o 
resultado da relação entre o indivíduo e o conjunto 
social. e em cada momento histórico a moral se 
manifestaria tanto nos códigos normativos como, 
implicitamente, na cultura e nas instituições 
sociais. desse modo, Hegel vinculou a ética à 
história e à sociedade.
3. A declaração dos direitos Humanos, do sé-
culo XViii, expressa que “todos os homens 
são iguais perante a lei”. declara também 
que devem ser garantidas ao ser humano 
as liberdades de expressão, de reunião e de 
pensamento. Com base nisso, o que causa o 
efeito cômico na imagem acima? Relacione 
sua resposta à filosofia moral de kant.
Conexões
os chamados direitos humanos sintetizam os valores 
considerados fundamentais pelas sociedades ocidentais 
contemporâneas – pelo menos em teoria, como parece 
querer dizer a charge acima.
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fundamentação ideológica
o filósofo alemão karl marx (1818-1883) en-
tendia a moral como uma produção social que 
atende a determinada demanda da sociedade. e 
essa demanda deve contribuir para a regulação 
das relações sociais.
Como as relações sociais se transformam ao 
longo da história, transformam-se também os 
indivíduos e as moralidades que regulam essas 
relações. isso quer dizer que marx compreende 
a moral como uma forma de consciência própria 
a cada momento do desenvolvimento da exis-
tência social.
Assim, os valores que fundamentam as normas 
morais derivam da existência social e, portanto, 
não são absolutos, não valem de forma universal 
para todos os indivíduos e para todos os tempos. 
Vestindo véu, a atleta Woroud sawalha correu, pela 
Palestina, os 800 metros nos jogos olímpicos de 2012, em 
londres. será que existem “formas corretas” de vestir-se 
em cada situação? ela não deveria ter usado o véu?
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A liberdade, por exemplo, embora seja um valor 
universal, teve interpretações diferenciadas ao 
longo da história.
É justamente com base no conceito de liberdade 
que marx mostra como os valores morais, que são 
concebidos em meio a determinada forma de exis-
tência social, também refletem essa existência. de 
acordo com a declaração dos direitos do Homem, 
do final do século XViii, a liberdade é o poder que o 
indivíduo tem de fazer tudo que não prejudique os 
direitos dos outros, tomando-os como iguais pe-
rante a lei e ignorando a diferença social entre eles. 
na análise do filósofo, esse sentido de liberdade, 
forjado pela modernidade, reflete a existência de 
indivíduos isolados, competitivos, ou seja, formados 
por uma sociabilidade que estimula a competitivi-
dade e a concorrência como valores.
Assim, a moral seria, para marx, uma das 
formas assumidas pela ideologia dominante 
em uma sociedade, pois difunde determinados 
valores que são necessários à manutenção dessa 
sociedade. o filósofo procurou mostrar, portanto, 
que toda moral tem uma fundamentação ideoló-
gica (se necessitar, reveja o tema da ideologia, es-
tudado no capítulo 7).
Ética discursiva
outra busca de respostas e fundamentação 
para uma ética contemporânea desenvolveu-se 
no campo da análise da linguagem.
o filósofo alemão jürgen Habermas (1929-) é 
um dos maiores representantes dessa corrente, 
com sua ética discursiva, ou seja, fundada no diá-
logo e no consenso entre os sujeitos. o que se 
buscaria nesse diálogo é a razão que, tendo sido 
reconhecida pelos participantes do diálogo, serviria 
como fundamentação última para a ação moral.
Como vimos anteriormente (no capítulo 17), o 
conceito de razão em Habermas não é o mesmo 
do iluminismo. trata-se de uma razão comunica-
tiva, que não existe pronta nem acabada, mas que 
se constrói a partir de uma argumentação que leva 
a um entendimento entre os indivíduos. É uma 
razão interpessoal e não subjetiva; é uma razão 
processual e não definitiva e acabada.
Para que essa argumentação leve a um enten-
dimento real entre os indivíduos, é necessário que 
o diálogo seja um diálogo livre, sem constrangi-
mentos de qualquer ordem, e que o convencimento 
se dê a partir de argumentos válidos e coerentes.
A ética discursiva de Habermas é, portanto, 
uma aposta na linguagem e na capacidade de en-
tendimento entre as pessoas na busca de uma 
ética democrática e não autoritária, baseada em 
valores consensualmente aceitos e validados.
A grande questão que permanece em relação 
a essa proposta ética é quanto às condições de 
realização de um diálogo livre e igualitário na so-
ciedade de hoje, marcada pela desigualdade e pelo 
constrangimento.
Campo de refugiados de 
yida, sudão do sul (2012). 
o que temos que ver 
com isso? Para o filósofo 
australiano contemporâneo 
Peter singer, “devemos 
considerar as 
consequências tanto do 
que fazemos como do 
que decidimos não fazer. 
[...] o sofrimento dessas 
crianças, ou de seus pais, 
é tão terrível como nossa 
própria dor em situação 
semelhante; portanto 
não podemos fugir à 
responsabilidade por esse 
sofrimento pelo fato de que 
não tenhamos sido seus 
causadores. onde tantos 
passam tanta necessidade, 
viver indulgentemente na 
luxúria não é moralmente 
neutro, e não basta que não 
tenhamos matado ninguém 
para que nos tornemos 
cidadãos decentes do 
mundo”. (Writings on ethical 
life, p. xvi; tradução nossa.)
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Carta da Terra
Quais serão os parâmetros éticos do século XXi?
nos primeiros anos deste século, sob os auspícios da onu, foi elaborada por uma comissão interna-
cional de estudiosos a Carta da Terra, documento que pretende ser um código ético planetário, capaz 
de orientar pessoas e povos do mundo em busca de um desenvolvimento sustentável. transcrevemos 
a seguir o preâmbulo dessa Carta, no qual se destacam valores éticos como a integridade ecológica, a 
justiça social e econômica, a democracia e a paz.
Preâmbulo
“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve 
escolher o seu futuro. À medida que o mundo se torna cada vez mais interdependente e frágil, o futuro 
enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer 
que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma 
comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável 
global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura 
da paz. Para chegar a esse propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade 
uns para com os outros, para com a grande comunidade da vida e para com as futuras gerações.
Terra, nosso lar
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comuni-
dade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra 
providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade 
da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos os 
seus sistemas ecológicos, de uma rica variedade de plantas e animais, de solos férteis, de águas puras e de ar 
limpo. O meio ambiente global, com seus recursos finitos, é uma preo cupação comum de todas as pessoas. 
A proteção da vitalidade, da diversidade e da beleza da Terra é um dever sagrado.
A situação global
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos 
e uma maciça extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento 
não estão sendo divididos equitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, 
a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causa de grande sofrimento. O crescimento sem 
precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança 
global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.
Desafios para o futuro
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição 
e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos 
de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano 
será primariamente voltado a ser mais, não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para 
abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está 
criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafiosambientais, 
econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.
Responsabilidade universal
Para realizar essas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, 
identificando-nos com toda a comunidade terrestre, bem como com nossa comunidade local. Somos, ao 
mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão 
ligadas. Cada um compartilha da responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem-estar da família 
humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda 
a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da 
vida e com humildade, considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza.
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Necessitamos com urgência de uma visão compartilha-
da de valores básicos para proporcionar um fundamento 
ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos 
na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos 
interdependentes, visando um modo de vida sustentável 
como critério comum, pelos quais a conduta de todos os 
indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições 
transnacionais será guiada e avaliada.”
Disponível em: <http://people.ufpr.br/ndga.pcu/ 
Carta%20da%20Terra.pdf>. Acesso em: 20 out. 2015.
se cada pessoa, cidade ou país fizer a sua parte, é 
bem provável que o mundo melhore. Como assinalou o 
filósofo irlandês edmund burke (1729-1797), ninguém 
comete erro maior do que não fazer nada porque só 
pode fazer pouco, pois tudo o que é necessário para o 
triunfo do mal é que as pessoas nada façam.
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10. Por que a ética do período clássico grego é consi-
derada racionalista? justifique com exemplos das 
concepções éticas dos filósofos desse período.
11. Aristóteles explicava a virtude como o meio-termo 
entre dois vícios. Com base nessa afirmação, ex-
plique a ética aristotélica.
12. Por que a ética do período medieval é chamada de 
cristã? Quais são os aspectos que a caracterizam 
como cristã e que a diferenciam da ética grega?
13. Para santo Agostinho, a virtude é o bom uso da 
liberdade de escolha, do livre-arbítrio. Com base 
nessa afirmação, explique a ética agostiniana.
14. Por que a ética da idade moderna pode ser con-
siderada uma ética antropocêntrica? Vincule sua 
resposta a uma interpretação da seguinte frase 
de Voltaire, um filósofo desse período, em seu 
Tratado de metafísica (cap. 9): “ser desprezado 
por aqueles com quem se vive é coisa que ninguém 
pôde e jamais poderá suportar. talvez seja esse o 
maior freio que a natureza tenha posto nas injus-
tiças dos homens”.
15. Para kant, a virtude é a força das máximas do 
indivíduo na realização de seu dever. Com base 
nessa afirmação, explique a ética kantiana.
16. desde o início do período contemporâneo, a refle-
xão ética radicalizou a recusa de uma fundamenta-
ção transcendental para a moralidade. seu ponto 
de partida passou a ser não o ser humano ideal, 
mas o indivíduo concreto e social, com suas neces-
sidades, desejos, limitações e aberturas. sintetize 
como se expressa essa tendência nas concepções 
éticas dos seguintes filósofos:
a) Hegel;
b) marx;
c) Habermas.
anáLise e enTenDiMenTo
3. ƒtica global
“Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve 
escolher o seu futuro. [...] Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada 
no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.” 
(Preâmbulo da Carta da Terra).
Que momento crítico é esse? Você sente que pode escolher o seu futuro? Você acredita que sua escolha 
pode afetar o futuro do mundo? está disposto ou disposta a somar forças com o resto da humanidade? 
Como? Você acredita nos princípios propostos pela Carta da terra? Por quê? Reflita sobre todas essas 
perguntas e discuta sua opinião e suas sugestões com colegas.
ConVersa fiLosófiCa
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(uFmG) leia estes quadrinhos. kant estabelece que as ações das pessoas, para serem realmente éticas, 
devem pautar-se no seguinte princípio, denominado imperativo categórico: “Age apenas segundo uma 
máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” (kant. Fundamentação da 
metafísica dos costumes. tradução de Paulo Quintela. são Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 224.)
Redija um texto, re lacionando as declarações do garoto Calvin ao imperativo categórico kantiano. justifique 
sua resposta.
Abril despedaçado (2001, brasil/França/suíça, direção de Walter salles)
no sertão brasileiro, duas famílias brigam pela posse da terra, perpetuando um ciclo de vingança e violência, 
mas ao receber ordens de seu pai para vingar a morte do irmão mais velho, tonho começa a romper com 
essa tradição arcaica.
A língua das mariposas (1999, espanha, direção de josé luis Cuerda)
durante o período de perseguições aos adversários do fascismo na espanha, garoto vive importante ano 
de sua vida: começa a frequentar a escola, tem um ótimo professor e faz muitos amigos. o prazer próprio 
da idade do garoto, bem como o medo, a violência e a traição são alguns dos ingredientes deste drama.
Central do Brasil (1998, brasil, direção de Walter saiies jr.)
trata da amizade entre uma mulher e um menino em busca de seu pai. Partindo da apatia e da indiferença 
moral que caracteriza o brasil de hoje, destaca a importância dos atos individuais no resgate da cidadania.
Em um mundo melhor (2009, dinamarca/suécia, direção de susanne bier)
médico vive entre dois mundos diferentes: sua casa na dinamarca e seu trabalho em um campo de refugiados 
na áfrica. nesses cenários, ele e sua família têm de fazer escolhas difíceis.
O labirinto do fauno (2006, espanha, dirigido por Guilherme del toro)
uma garota apaixonada por contos de fadas vai morar com sua mãe e seu padrasto. Certa noite, é levada a um 
fauno (ser mitológico dos bosques, metade homem, metade cabra), que lhe propõe uma série de desafi os.
PROPOSTAS FINAIS
De olho na universidade
sessão cinema
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342 Unidade 4 Grandes áreas do filosofar
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leia com atenção os três blocos de textos que seguem, nos quais estão expressas concepções diferentes 
sobre a liberdade. Pesquise os autores e depois responda às questões propostas.
1. O determinismo
Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses... Portanto, não é da maldade dos homens 
que é preciso se queixar, mas da ignorância dos legisladores, que sempre colocaram o interesse particular 
em oposição ao geral. [...] Até hoje, as mais belas máximas morais não conseguiram produzir nenhuma 
mudança nos costumes das nações. Qual é a causa? É que os vícios de um povo estão, se ouso falar, sempre 
escondidos no fundo da legislação. Na Nova Orleans, as princesas podem, quando elas se cansam de seus 
maridos, repudiá-los para se casarem com outros. Neste lugar, não encontramos mulheres falsas, porque elas 
não têm nenhum interesse em ser falsas. 
Helvetius, em Marx e engels, Sagrada família, p. 130.
2. A relação entre liberdade e determinismo
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de 
sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. 
Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, p. 329.
3. A liberdade
Dostoievski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Aí se situa o ponto de partida do 
existencialismo.
Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe; fica o homem, por conseguinte, abandonado,já que não 
encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas 
para ele.
Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza 
humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade.
Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem 
o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, 
justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.
É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si 
próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer.
O existencialista não crê na força da paixão. Não pensará nunca que uma bela paixão é uma torrente 
devastadora que conduz fatalmente o homem a certos atos e que, por conseguinte, tal paixão é uma desculpa. 
Pensa, sim, que o homem é responsável por essa sua paixão.
O existencialista não pensará também que o homem pode encontrar auxílio num sinal dado sobre a Terra, 
e que o há de orientar; porque pensa que o homem decifra ele mesmo esse sinal como lhe aprouver.
Pensa, portanto, que o homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a inventar o homem.
sartre, O existencialismo é um humanismo, p. 9.
1. destaque, no texto do primeiro bloco, as ideias que podem ser consideradas defesas do determinismo 
absoluto nas ações humanas.
2. destaque, no segundo bloco, as ideias que podem ser consideradas defesas da existência de uma 
relação dialética entre liberdade e determinismo nas ações humanas.
3. destaque, no texto do terceiro bloco, as ideias que podem ser consideradas defesas da liberdade 
absoluta nas ações humanas.
Para pensar
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