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i 
 
INSTITUTO SUPERERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 
 
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED 
 
 
ANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM: 
 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
 
 
 
 
4º Ano 
Disciplina: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL 
Código: ISCED41-CSOCCFG001 
Total Horas/1o Semestre:115 
Créditos (SNATCA): 5 
Número de Temas: 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ii 
 
 
 
 
Direitos de autor (copyright) 
Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), 
e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou 
total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, 
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto 
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). 
A não observância do acima estipulado, o infractor é passível a aplicação de processos 
judiciais em vigor no País. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) 
Direcção Académica 
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa 
Beira - Moçambique 
Telefone: +258 23 323501 
Cel: +258 82 3055839 
Fax: 23323501 
E-mail: isced@isced.ac.mz 
Website: www.isced.ac.mz 
 
 
 
mailto:isced@isced.ac.mz
http://www.isced.ac.mz/
 
 iii 
 
Agradecimentos 
O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos 
seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: 
Autor Abiba Mamade 
Coordenação 
Design 
Financiamento e 
Logística 
Revisão Científica e 
Linguística 
Ano de Publicação 
Local de Publicação 
 
Direcção Académica do ISCED 
Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) 
Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) 
 
Carmen Jacqueline Rassul Salato Coimbra 
 
2017 
 ISCED – BEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 iv 
 
ÍNDICE 
VISÃO GERAL 1 
Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional................................. 1 
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2 
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2 
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4 
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4 
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6 
Tarefas (avaliação e auto - avaliação) ............................................................................... 6 
Avaliação ........................................................................................................................... 7 
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA .............................................................................................. 9 
TEMA I. Ética e Moral ...................................................................................................... 9 
UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos ............................................................ 9 
UNIDADE Temática 1.3. Diferença entre Ética e Moral .................................................. 10 
UNIDADE Temática 1.1. Carácter Normativo da Ética .................................................... 12 
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 14 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 14 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 16 
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I .................................. 17 
TEMA II. Breve historial da ética .................................................................................... 18 
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18 
UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval ............................................................. 18 
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18 
UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 18 
UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 18 
UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 18 
UNIDADE Temática 2.1. Introdução ................................................................................ 18 
Introdução ....................................................................................................................... 18 
UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética ............................................................. 18 
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 20 
UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval .......................................................... 22 
UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 24 
UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 28 
UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 32 
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 34 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 35 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 37 
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO .................................................... 37 
TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS ...................................................................... 38 
UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38 
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 38 
UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 38 
UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 38 
UNIDADE Temática 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ....................... 38 
 
 v 
 
UNIDADE Temática 3. Introdução................................................................................... 38 
Introdução ....................................................................................................................... 38 
UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38 
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 40 
UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 46 
UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 46 
UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ..................... 53 
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 55 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO.................................................................................. 55 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 57 
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 58 
TEMA IV. Principios Ético ............................................................................................... 58 
UNIDADE Temática 4.2. Beneficiência ............................................................................ 60 
UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência ................................................................... 65 
UNIDADE Temática 4.3. Autonomia ................................................................................ 67 
UNIDADE Temática 4.4. Justiça ....................................................................................... 71 
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 73 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 73 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 75 
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 75 
UNIDADE Temática 5. Introdução................................................................................... 76 
Introdução ....................................................................................................................... 76 
TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL ....................................................................... 79 
UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia ............................................. 81 
UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão ................... 81 
UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional ............................................. 82 
UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética ................................................................ 83 
UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas ............................................................ 84 
UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código ............................................................................. 84 
UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética ...................................................... 85 
UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum ......................................... 86 
UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade ........................................... 91 
SUMÁRIO ........................................................................................................................ 98 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 99 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 100 
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO................................................... 100 
TEMA VI. ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES .......................................................................... 101 
UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético ...................................................... 102 
UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético ............................................... 103 
UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos ........................................................................ 110 
SUMÁRIO ...................................................................................................................... 111 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 112 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 113 
CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .......................................................... 114 
TEMA VII. ÉTICA NA PESQUISA COM SERES HUMANOS ........................................... 115 
UNIDADE Temática 7.1. O Consentimento Livre e Informado ...................................... 115 
UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................... 120 
 
 vi 
 
UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa .............................................................................. 124 
UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes......................... 125 
UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes ...................... 126 
Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos ............................................... 126 
UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos ..................................................... 130 
UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa .......................................................... 131 
UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa ............................................... 132 
Unidade Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica .................................... 133 
SUMÁRIO ...................................................................................................................... 135 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 136 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 137 
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................ 137 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 138 
 
 
 1 
 
VISÃO GERAL 
Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia 
Profissional 
Objectivos do Módulo 
Ao terminar o estudo deste módulo de Ética e Deontologia 
Profissional deverá ser capaz de: 
 
 
Objectivos 
Específicos 
 Explicar o carácter normativo da ética; 
 Reflectir sobre os principais problemas éticos; 
 Problematizar as várias teorias éticas; 
 Definir com clareza os conceitos: sujeito ético e 
consciência moral; 
 Caracterizar a pessoa como categoria ética; 
 Conhecer a importância da ética no relacionamento do 
homem com os seus semelhantes; 
 Distinguir a pessoa com o sujeito ético; 
 Relacionar a pessoa como categoria ética e os princípios 
éticos; 
 Apresentar o papel do profissional na sua actuação; 
 Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em 
contextos concretos; 
 Alistar os princípios éticos na actuação professional; 
 Apresentar o papel do pesquisador na sua actuação, no 
que se refere à confidencialidade e privacidade; Alistar os 
princípios éticos na actuação do pesquisador; 
 Identificar as responsabilidades dos Comités de Ética em 
Pesquisa; 
 Explicar o processo de avaliação de protocolos de pesquisa 
pelo Comité de Ética em Pesquisa; 
 Identificar os pontos à analisar na avaliação de riscos e 
benefícios nas pesquisas. 
 
 
 
 2 
 
Quem deveria estudar este módulo 
Este Módulo foi concebido para estudantes do 4º ano do curso de 
licenciatura em Administração Pública do ISCED e outros. Poderá 
ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram actualizar e 
consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-
vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá 
adquirir o manual. 
Como está estruturado este módulo 
Este módulo de Ética e Deontologia Profissional, para estudantes 
do 4º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do 
ISCED, está estruturado como se segue: 
Páginas introdutórias 
 Um índice completo. 
 Uma visão geral e detalhada dos conteúdos do módulo, 
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para 
melhorestudar. Recomendamos vivamente que leia esta 
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como 
componente de habilidades de estudos. 
Conteúdo desta Disciplina / módulo 
Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez 
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente 
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma 
introdução, objectivos, conteúdos. 
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são 
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só 
depois é que aparecem os exercícios de avaliação. 
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros 
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e 
actividades práticas, incluído estudo de caso. 
 
 
 3 
 
Outros recursos 
A equipa dos académicos a e pedagógicos do ISCED, pensando em 
si, num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e 
cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, 
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu 
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na 
biblioteca do seu Centro de Recursos mais material de estudos 
relacionado com o seu curso, tais como: Livros e/ou módulos, CD, 
CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico 
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital 
Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus 
estudos. 
 
AUTO-AVALIAÇÃO E TAREFAS DE AVALIAÇÃO 
Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final 
de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos 
exercícios de auto-avaliação, apresntam duas características: 
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, 
exercícios que mostram apenas respostas. 
Tarefas de avaliação são essencialmente semelhantes às de auto-
avaliação, mas sem mostrar os passos e obedecem a um grau 
crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a 
seguir a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos 
trabalhos de campo a serem entregue aos tutores/docentes para 
efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará 
do exame do fim do módulo. Pelo que, se o caro estudante fizer 
todos os exercícios de avaliação será uma grande vantagem. 
 
Comentários e sugestões 
Use este espaço é dedicado para dar sugestões valiosas, sobre 
determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de 
natureza diadáctico-Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou 
estar apresentadas. Pode ser que, graças as suas observações que 
em gozo de confiança classificamo-las de úteis, a próxima edição 
do módulo, venha a ser melhorado. 
 
 
 
 4 
 
Ícones de actividade 
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas 
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar 
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar 
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, 
uma mudança de actividade, etc. 
Habilidades de estudo 
O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a 
aprender. Aprender aprende-se. 
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para 
facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará 
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons 
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e 
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando 
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos 
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos 
estudos, procedendo como se segue: 
1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de 
leitura. 
2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 
3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e 
assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 
4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua 
aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 
5º Fazer TC (Trabalho de Campo) e algumas actividades práticas ou 
as de estudo de caso se exista. 
IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, 
respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido 
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de 
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: 
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo 
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da 
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num 
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em 
cada hora, etc. 
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido 
estudado durante um determinado período de tempo; Deve 
 
 5 
 
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao 
seguinte quando achar que já domina bem o anterior. 
Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler 
e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é 
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos 
conteúdos de cada tema, no módulo. 
Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por 
tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora 
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso 
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que 
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos 
das actividades obrigatórias. 
Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual 
obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento 
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado 
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, 
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência 
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai 
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente 
incapaz! 
Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma 
avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda 
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões 
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, 
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área 
em que está a se formar. 
Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que 
matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que 
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo 
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. 
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será 
uma necessidade para o estudo das diversas matérias que 
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar 
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as 
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, 
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a 
margem para colocar comentários seus relacionados com o que 
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir 
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; 
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado 
não conhece ou não lhe é familiar. 
 
 6 
 
Precisa de apoio? 
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o 
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas 
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis 
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página 
trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de 
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), 
via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta 
participando a preocupação. 
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes 
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua 
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da 
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC setorna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, 
estudante – CR, etc. 
As sessões presenciais são um momento em que você caro 
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff 
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED 
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste 
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza 
pedagógica e/ou administrativa. 
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% 
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida 
em que permite situar, em termos do grau de aprendizagem com 
relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa 
de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de 
debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, 
constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. 
Tarefas (avaliação e auto - avaliação) 
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e 
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é 
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues 
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. 
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não 
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do 
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de 
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da 
disciplina/módulo. 
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os 
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. 
 
 7 
 
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, 
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, 
respeitando os direitos do autor. 
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es), é 
considerado plágio, uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) 
palavras do texto de um autor, sem o citar a fonte é considerado 
plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos 
direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e 
seu autor (estudante do ISCED). 
Avaliação 
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, 
estando eles fisicamente separados e muito distantes do 
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja 
uma avaliação mais fiável e consistente. 
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com 
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os 
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial 
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A 
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de 
avaliação. 
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e 
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de 
frequência para ir aos exames. 
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e 
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no 
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, 
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. 
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da 
cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 
(dois) trabalhos e 1 (um) (exame). 
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados 
como ferramentas de avaliação formativa. 
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em 
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de 
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as 
recomendações, a identificação das referências bibliográficas 
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os 
objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de 
Avaliação. 
 
1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade 
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. 
 
 9 
 
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final do módulo o estudante deverá ser capaz de: 
 Definir a ética e moral; 
 Diferenciar a ética da Moral; 
 Caracterizar a ética e a moral; 
 Classificar a ética enquanto disciplina; 
 Nomear as diversas etapas históricas da ética; 
 Nomear as diversas etapas teóricas da ética; 
 Explicar o carácter normativo da ética; 
 Reflectir sobre os principais problemas éticos; 
 Problematizar as várias teorias éticas. 
 
TEMA I: ÉTICA E MORAL 
UNIDADE temática 1.1. Definição de Conceitos 
UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral 
UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética 
 
Introdução 
Sendo a moral é inseparável dos costumes humanos, os quais 
dependem de cada época, da região geográfica ou das circunstâncias. 
Neste sentido, a moral é mutável e relativa a determinadas práticas 
culturais, isto é, ela não é diferente dentro de toda forma de 
associação. Ex: na família, na classe social ou num estado. 
Para melhor compreensão dos conteúdos deste módulo, iremos começar 
por definir os conceitos chave, concretamente ética, moral é sujeito ético 
para melhor assimilação dos conteúdos neles apresentados. 
 
 10 
 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Definir o conceito de ética e moral; 
 Conhecer a relação entre a ética e a moral; e, 
 Conhecer as diferenças entre a ética e a moral. 
 
UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos 
A palavra ética provém do grego e tem dois significados: 
(1) Étimos – que significa hábitos e costumes; 
(2) Eros – que significa modo de ser ou carácter. 
A moral e a ética são conceitos diferentes, mas que inserem em si algo 
de comum: o sentido eminentemente prático. 
Segundo Costa te al. (1998), moral é o conjunto de regras, valores, 
proibições, crenças, tabus, impostos quer pela política, costumes 
sociais, a religião, quer pelas ideologias de uma sociedade, enquanto a 
ética é a reflexão sobre a moral. 
A moral nasce com a existência do homem, pois historicamente não se 
conhece nenhum povo, que não tivesse normas, regras ou rituais de 
conduta. 
Kant, (1988), define a ética como uma reflexão teórica sobre a moral e 
uma revisão racional e crítica sobre a validade da conduta humana. 
Por isso, a ética é uma justificação racional da moral, e remete-nos a 
ideias ou valores que procedem a partir da própria deliberação do 
homem. A ética é uma análise das regras morais. Também a ética 
pode ser entendida como uma filosofia moral, se entendermos a 
filosofia como um conjunto de conhecimentos racionalmente 
estabelecidos. 
 
UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral 
Actualmente tem-se discutido muito sobre a ética nos seguintes 
âmbitos: ética na saúde, na pesquisa, na educação, na política, entre 
outros campos. Perante esta situação levantamos uma questão. Afinal 
qual será a diferença entre a ética e a moral? 
A Ética provém do grego egos, que significava “morada”, “lugar em 
que vivemos” e passou a significar “o carácter”, “o modo de ser” que 
 
 11 
 
uma determinada pessoa ou grupo vai adquirindo ao longo da vida. 
Por outro lado, “moral” deriva do latim mos, mores que significava 
“costumes”, mas passou a significar também, “carácter”, ou “modo de 
ser”. Apesar dos termos ética e moral serem etimologicamente 
equivalentes, a moral é mesmo diferente da ética. 
“Moral é o conjunto de princípios, valores e normas que regulam a 
conduta humana em suas relações sociais num determinado momento 
histórico. O que pode ser considerado acto moral num determinado 
tempo, poderá não ser noutro”. Costa et al (1998:15). 
A moral é imposta pela sociedade, por exemplo pelo Código Civil, e 
outros códigos de conduta. Enquanto a ética implica na opção 
individual do sujeito. Isto é, requer adesãoíntima do sujeito a valores, 
princípios e normas morais. A pergunta básica da moral, – Ética e 
Deontologia, é “o que devemos fazer?”, enquanto a questão relativa a 
ética é “porque devemos fazer?”, ou seja, “que argumentos 
corroboram e sustentam o que estamos a aceitar como guia de 
conduta?” 
Neste sentido, o comportamento ético exige reflexão crítica diante de 
dilemas, na qual devem ser considerados, entre outros, os 
sentimentos, a razão, os patrimónios genéticos, a educação e os 
valores morais. 
Para Hermano (1993), a ética procura responder as seguintes 
questões: 
 Que devo escolher? 
 Há uma hierarquia de valores? 
 Que espécie de homem devo ser? 
 Que devo querer? 
 Que devo Fazer? 
A ética, embora historicamente recente, vem crescendo muito nestes 
últimos anos. As discussões de temas por ela abordados ocorrem em 
âmbito mundial. Esta é considerada uma área de conhecimento que 
faz estudo sistemático das dimensões morais das ciências e do cuidado 
da saúde, com base numa variedade de metodologias éticas num 
contexto multidisciplinar. Este tópico será desenvolvido nos capítulos 
subsequentes. 
O profissional deve ter em atenção a Ética, o ramo da ética encarregue 
pelas ciências biológicas. Este ramo da ética, dá especial atenção as 
pesquisas científicas avalia sob diferentes pontos de vistas os 
benefícios e riscos que a pesquisa poderá representar para o sujeito e 
a sociedade, obrigando os projectos de pesquisa a passarem pelos 
 
 12 
 
Comités de Ética a fim de serem analisados com maior profundidade. 
Os avanços verificados pela Ética nos últimos anos podem ser 
considerados extraordinários. Actualmente, o número de publicações 
relativamente à Ética aumentou, são publicações periódicas de novas 
investigações que surgem diariamente que abordam sobre os mais 
variados enfoques do tema, além de incontável a quantidade de 
eventos académicos oferecidos sobre a Ética em praticamente todas 
as partes do mundo. 
Para Costa te al (1998), é importante mencionar que a visão original da 
Ética focalizava-a como uma questão ou um compromisso mais global 
frente ao equilíbrio e preservação da relação dos seres humanos como 
ecossistema e a própria vida do planeta, diferente daquela que acabou 
difundindo-se e sedimentando-se nos meios científicos. 
Em suma, pode-se considerar que o termo foi mencionado pela 
primeira vez em 1971 por Van Potter, no seu livro "Ética: Ponte para o 
Futuro. 
 
UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética 
Kant (2001), a ética trata da normalização dos actos humanos segundo 
princípios últimos (que vão além do nosso entendimento) e racionais. 
A ética é um conhecimento que se preocupa com o fim a que se deve 
dirigir a conduta humana e os meios para alcançar este fim. Ela 
pretende explicar a validade das suas afirmações, procurando 
comprovar porque é que algo é bom ou mau, justo ou injusto, moral 
ou imoral desde uma perspectiva universal e necessária. 
Almeida (1998) acrescenta que, a ética é normativa porque é uma 
racionalização do comportamento humano, isto é, trata de um 
conjunto de princípios ou enunciados dados à luz da razão e que 
iluminam o caminho correcto/acertado da conduta. O carácter 
normativo da ética tem como fundamento um aspecto essencial da 
natureza humana, a saber: 
 O facto de o homem ser “imperfeito porém perfectível”. A 
razão para tal afirmação é a seguinte: se fossemos perfeitos e 
mantivéssemos na nossa perfeição, não teríamos problema 
moral, pois não estaríamos obrigados a desenvolver todas as 
nossas potencialidades. Por isso, os princípios éticos têm uma 
dimensão imperativa, por serem mandatos ou ordens que nos 
damos para movermo-nos na realização de actos que 
melhorem a nossa condição humana. Por outro lado, somos 
seres incompletos/imperfeitos que buscamos, tendemos a 
perfeição dirigindo as nossas acções ao que deve ser. 
 
 13 
 
Todavia, a perfeição não deve centrar-se apenas num aspecto da 
nossa personalidade porque a natureza humana é complexa. Ela deve 
englobar o espiritual, o físico, intelectual, volitivo (a vontade), afectivo, 
o estético, o social, etc. 
1. A perfeição espiritual desenvolve os aspectos que têm a 
ver com o enriquecimento da vida espiritual que possam 
engrandecer a alma, a esperança, fé, caridade, etc. 
2. A perfeição física deve ser vista como um complemento da 
alma. A alma e o corpo são duas manifestações distintas de 
uma mesma realidade. Daí surge o ditado popular Mente sã 
um corpo são. Quando a alma afecta o corpo surgem 
alterações nervosas. E quando o corpo afecta a alma 
podem surgir estados depressivos. Note que é 
indispensável o exercício físico, uma boa alimentação para 
o equilíbrio entre a alma e o corpo. 
3. A perfeição intelectual representa o desenvolvimento da 
mente, da inteligência, do conhecimento. O homem 
aperfeiçoa-se através da cultura, do estudo, da educação e 
só assim é que é capaz de julgar a validade das coisas. O 
homem deve buscar um conhecimento alargado das coisas 
(capacidade de se abstrair). 
4. A perfeição da vontade representa o que se deve separar 
dos desejos. A vontade deve ser vista como uma aliada da 
razão e não uma súbdita do desejo. É possível ser mais 
responsável, mais moderado, ter mais respeito sem nunca 
deixar de lado a razão. Daí a necessidade de aliar a desejo à 
razão, de modo que as nossas acções e decisões sejam bem 
pensadas; 
5. A perfeição afectiva está ligada às emoções, tem a ver com 
a bondade, benevolência, a compreensão, o carinho e a 
gratidão. É importante temperar a razão com o lado 
afectivo. O homem não deve ser dominado somente pelas 
paixões nas suas acções e decisões. No entanto, um 
homem que actua com base na paixão sem a razão corre 
risco de tornar-se cego, frio e calculista. As emoções devem 
ser conjugadas com uma dose de racionalidade. 
Normalmente quando a razão caminha sozinha torna-se 
cega, fria e calculista; 
6. A perfeição estética: o ser humano aperfeiçoa-se ao se 
relacionar como belo com o sublime. A perfeição estético 
torna o ser humano mais criativo, sensível e com maior 
capacidade de comunicar e de reflectir. A arte não deve ser 
nada que fique subjugada à pressão dos médios, ou apenas 
entendida em aspectos comerciais; 
 
 14 
 
7. A perfeição social: o relacionamento com os outros é 
fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Por 
isso, é no relacionamento que o homem promove e 
desenvolve capacidade como a amizade, a cooperação, a 
paz, a liberdade, a fraternidade, a dignidade, a igualdade e 
o pluralismo. Só através do relacionamento com os outros 
somos capazes de combater determinados anti-valores 
como: o individualismo, a intolerância, o egoísmo, etc. 
O desenvolvimento da personalidade humana deve ter em conta todas 
essas dimensões da sua personalidade. Nunca o individualismo deve 
ser tomado como um meio do homem impor as suas regras. 
 
SUMÁRIO 
Ética é a reflexão crítica sobre a moral, ela depende do sujeito. Porque 
ele pessoalmente reflecte e chega a conclusão pessoal do que vem a 
ser ou não ético. Isto é, Implica uma relação de si para consigo. 
A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento. 
Isto é, tem como problema definir o comportamento moral. 
A ética é uma ciência normativa porque trata da rectidão do 
comportamento. Ela versa sobre o bem e o mal, o correcto e o 
incorrecto, tendo como meta a perfeição da sociedade. É com base na 
racionalidade que se estipulam regras para a harmonia social. 
Quem estipula as normas é o homem para a melhoria da relação com 
os seus semelhantes. 
Tanto a ética como a moral visam a harmonia entre os seres humanos. 
Por outro lado, ambas estão relacionadas com os valores culturais do 
grupo social no qual o indivíduo se insere. Isto é, tem a finalidade de 
organizar as relações entre os sujeitos sociais representa todo 
comportamento moralque varia de acordo com o tempo e o lugar. O 
que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado 
tempo, poderá não ser noutro. 
O que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num 
determinado tempo, poderá não ser noutro. 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. Indique a alternativa correcta: 
a) A palavra moralidade vem do latim “mos” ou “moris” 
que significa costumes 
b) A palavra ética e moralidade são sinónimas e 
correspondem a mesma ideia 
 
 15 
 
c) As normas morais não variam a depender da cultura e 
do período histórico 
d) A palavra ética vem do latim e significa modos de ser. 
2. As normas morais variam a depender da cultura e do período 
histórico, também podem ser questionadas e destituídas. Isso 
significa que: 
a) Nós não podemos pensar sobre as normas morais que 
são impostas; 
b) Nós temos que concordar com as normas morais 
porque são as normas da nossa cultura; 
c) A moral é o conjunto de valores pelos quais as pessoas 
guiam os seus pensamentos e por isso está sujeita a 
mudanças a depender do país e do momento histórico 
em que as pessoas estão inseridas; 
d) Não agimos de forma “moral” se obedecermos as 
regras que a sociedade estabelece. 
3. Como podemos diferenciar a moral da ética: 
a) Não podemos diferenciar, são palavras sinónimas; 
b) Moral é o conjunto de valores e a ética é a reflexão 
sobre os valores; 
c) Moral é a prática da ética no nosso dia-á-dia; 
d) Moral é sinónimo da “ética aplicada”. 
4. Leia o texto abaixo: 
“Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses… 
portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar, 
mas da ignorância dos legisladores que sempre colocam o 
interesse particular em oposição ao geral. (…) Até hoje as mais 
belas máximas morais não conseguem traduzir nenhuma mudança 
nos costumes das nações. Qual é a causa? E que vícios de um povo 
estão, se ouso falar, escondidos no fundo da sua legislação” 
Helvetius 
Quais são as ideias principais contidas no fragmento acima? 
a) Não há nenhuma relação entre as Leis e os costumes, 
pois são os homens que fazem as Leis que os 
beneficiam; 
b) Para limitar os interesses humanos particulares, é 
preciso haver Leis que prefiram os interesses gerais; 
c) Os homens buscam os interesses e isso não significa 
que eles são maus; 
 
 16 
 
d) Há uma relação entre Leis e Costumes, pois as Leis 
permitem ou impedem que os homens cometam erros. 
5. O sujeito ético-moral é somente aquele que preenche os 
seguintes requisitos: 
a) É um ser consciente mas não precisa reconhecer a 
presença dos outros como sujeitos éticos iguais; 
b) Saber o que faz, conhecer as suas causas e os fins da 
sua acção, o significado de suas intenções, suas atitudes 
e a essência dos valores morais; 
c) Não precisa controlar interiormente os seus impulsos, 
suas inclinações e suas paixões, deixando-as fluir 
livremente; 
d) Dizer como as coisas são, o que são, e como são. 
Enunciar pois os juízos de facto; 
e) Ser responsável, mas não precisa reconhecer como 
autor da sua própria acção, nem avaliar os efeitos e as 
consequências dela sobre si e sobre os outros. 
6. O Moçambicano tem noção clara dos comportamentos éticos e 
morais adequados, mas vive na corrupção, diz a pesquisa. Se o 
país fosse resultado de padrões morais que as pessoas dizem 
aprovar. Portanto, o distanciamento entre o reconhecer e o 
cumprir efectivamente o que é moral, constitui uma 
ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais 
são: 
a) Decorrentes da vontade divina, e por esse motivo 
utópicas; 
b) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído 
de obrigação 
c) Amplas e vão para além da capacidade do indivíduo 
conseguir cumpri-las integralmente; 
d) Criadas pelo homem e concede a si mesmo a Lei a qual 
se deve submeter; 
e) Cumpridas por aqueles que se dedicam a cumprir 
integralmente as normas judiciais. 
 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
1. Define o conceito de ética e da Moral. 
2. Qual é a relação que existe entre a ética e a moral? 
 
 17 
 
3. Quais são as diferenças entre a ética e a moral? 
4. Qual é a relação entre a moral e a cultura? 
5. Porque é que a moral está relacionada com o contexto 
histórico? 
6. Porque é que se diz que a ética é normativa. 
 
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
UNIDADE I 
1. A 
2. C 
3. B 
4. B 
5. B 
6. D 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA II – PERPECTIVA HISTÓRICA DA ÉTICA 
 
 18 
 
UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética 
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega 
UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval 
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega 
UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna 
UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea 
UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência 
UNIDADE Temática 2.1.6. Meta – Ética 
UNIDADE Temática 2. Introdução 
Introdução 
 
Introdução Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da 
etimologia dos conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e 
moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida 
contextualizar o ambiente do surgimento de uma teoria ética. 
A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta 
moral é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no 
séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido 
mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma 
viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como 
primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, 
para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, 
mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê? 
 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Conhecer a história da ética e deontologia profissional; 
 Acompanhar a evolução da história da ética com o contexto, 
histórico, geográfico, sociocultural, político e religioso. 
 
UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética 
De acordo com Morri (1975), a existência de uma história da moral é 
 
 19 
 
sustentada considerando que cada sociedade tem sido caracterizada 
por um conjunto de regras, normas e valores. A história da Ética é 
complexa e exige alguns cuidados no seu estudo, uma vez que ela 
como disciplina filosófica é mais limitada no tempo e no material 
tratado do que a história das ideias morais da humanidade. 
A história das ideias morais da humanidade compreende o estudo de 
todas as normas que regularam a conduta humana desde os tempos 
pré-históricos até aos nossos dias. Esse estudo é filosófico ou 
histórico-filosófico e social. 
Kant (2001) acrescenta que, a história das ideias morais é um tema de 
que se ocupam a sociologia e a antropologia. A existência de ideias 
morais não implica a existência de uma disciplina particular, uma vez 
que podem estudar-se as atitudes e ideias morais de diversos povos, 
orientais, judeus, etc. Sem que o material resultante seja enquadrado 
na história da Ética. Assim, só existe história da Ética no âmbito da 
história da filosofia. 
A história da Ética adquire uma considerável amplitude. Por isso, é 
difícil com frequência estabelecer uma separação rigorosa entre os 
sistemas morais e – objecto próprio da. Isto porque a ética é um 
conjunto de normas e atitudes de carácter moral dominantes numa 
sociedade ou fase histórica. Assim, os historiadores da Ética limitaram 
seu estudo para aquelas ideias de carácter moral que possuem uma 
base filosófica, isto é, em vez de se darem simplesmente como 
supostas, são examinadas em seus fundamentos e são filosoficamente 
justificadas. A justificação não importa se é do âmbito metafísico ou 
teológico, mas que seja uma explicação racional das ideias ou das 
normas adoptadas. Dai, a razão dos historiadores da Ética seguiremos 
procedimentos tomados pelos historiadores da filosofia. 
Neste sentido, as doutrinas éticas fundamentais nascem e 
desenvolvem-se em diferentes épocas e sociedades, na busca de 
respostas aos problemas nas relações interpessoais, especificamente 
pelo valor moral e efectivo. 
Se olharmos para a história, notaremos uma grande diversidade de 
ideias morais no tempo. Triedros Nietzsche faz uma exposição da 
sucessão das doutrinas éticas quando afirma “aquilo que numa época 
parece mau, é quase sempre um restolho daquilo que na precedente 
época era considerado bom” (Nietzsche, 1977:99). 
As doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e 
sociedades como resposta aos problemas básicos apresentados pelas 
relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento 
moral efectivo. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os 
conceitos morais e a realidade humana social, sujeita historicamente a 
devir (a mudanças). 
 
 20 
 
As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas 
dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui 
propriamente a sua história. A Ética e História se relacionam. Cada 
doutrina esta em conexão com as anteriores (tomando posições 
contra elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), 
ou com as doutrinas posteriores - prolongando-se ou enriquecendo-se 
nelas. 
Quando os princípios, os valores ou as normas nela encarada entram 
em crise e exigem a sua justificação ou a sua substituição por outros. 
Surgindo assim, a necessidade de novas reflexões ou nova teoria moral 
porque os conceitos, valores e normas vigentes se tornaram 
problemáticos. 
Apesar de as doutrinas serem de uma determinada época e sociedade, 
podem ser tratadas de forma isolada, mas dentro de um sistema de 
mudança que constitui a sua própria história. Neste sentido, quando 
os princípios ou valores numa determinada época, regido por uma 
doutrina, entram em crise, requerendo a sua justificação ou 
substituição, surgindo deste modo, surge a necessidade de novas 
reflexões, podendo trazer ou não uma nova abordagem, visto que os 
valores e normas vigentes se tornam problemáticas. 
 
UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega 
Sob o ponto de vista formal, a história da Ética teve a sua origem na 
antiguidade grega através de Aristóteles (384-322 a. C) e suas ideias 
sobre a Ética e as virtudes éticas. Mesmo antes de Aristóteles, já foi 
possível encontrar na Grécia fragmentos de uma abordagem com base 
filosófica para os problemas morais e até entre os filósofos – pré-
socráticos encontram-se reflexões de carácter ético, por exemplo, 
quando pretendiam saber as razões do comportamento moral. 
Sócrates (470-399 a. C) considerou a questão da ética individual como 
problema filosófico central e a Ética como disciplina em torno da qual 
deveriam girar as reflexões filosóficas. Para Sócrates ninguém pratica 
voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso. Só age 
mal quem desconhece o bem porque todo o homem quando fica 
sabendo o que é o bem, reconhece-o racionalmente como tal e 
necessariamente passa a praticá-lo, e ao praticar o bem, o homem 
sente-se dono de si e consequentemente é feliz. Daí a velha máxima 
(frase socrática): Conhece-te a ti mesmo. Portanto, para Sócrates a 
virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das acções 
fundadas em valores morais, identificados pela inteligência e que 
impelem o homem a agir virtuosamente em direcção ao bem. 
Platão (427-347 a C) ao examinar a ideia do bem à luz da sua teoria 
das ideias subordinou a sua Ética a metafísica. A sua Ética está 
 
 21 
 
relacionada com sua filosofia política, porque para Platão a polis 
(cidade-estado) é o terreno propício para a vida moral. A sua Ética 
exerceu grande influência no pensamento religioso e moral do 
ocidente. 
Aristóteles (384-322 a C) organizou a Ética como disciplina filosófica e 
formulou a maior parte dos problemas que os filósofos morais se 
ocuparam: relação entre as normas e os bens entre a Ética individual e 
social; relação entre a vida prática e teórica, classificação das virtudes, 
etc. 
A concepção Ética de Aristóteles privilegia as virtudes (justiça, 
caridade e generosidade), tidas como propensas aos sentimentos de 
realização pessoal, aquele que age quanto simultaneamente beneficiar 
a sociedade em que vive. 
A Ética Aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a 
natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem 
natural do mundo – o naturalismo. Para Aristóteles, toda a actividade 
humana tende a um fim que é o bem supremo que seria resultado do 
exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim, o 
homem virtuoso é aquele que é capaz de deliberar e escolher o que é 
mais adequado para si e para os outros movidos por uma sabedoria 
prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência: por 
exemplo, tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isso 
somos levados mais facilmente para a concupiscência do que para a 
moderação. 
A Ética Aristotélica também esta relacionada com a sua filosofia 
política, uma vez que a comunidade social, política é o meio 
necessário para o exercício da moral. Somente nela pode realizar-se a 
ideia da vida teórica na qual se baseia a felicidade. Porque o homem 
moral só pode viver na cidade e é, portanto animal político ou social – 
zoom politicou. Apenas os deuses e os animais selvagens não tem 
necessidade da comunidade política para viver. O homem deve 
necessariamente viver em sociedade e não pode levar uma vida moral 
como indivíduo isolado, mas no seio de uma comunidade. Com a 
decadência do velho mundo greco-romano, surge o estoicismo e o 
epicurismo. Fundamenta-se na consciência colectiva, implícita no 
comportamento humano e social aceite por todos. 
Para Epicuro (341-270 a C), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo 
de uma vida feliz. Dai o surgimento da ideia do hedonismo que assume 
o prazer como princípio e fundamento da vida moral. Uma vez que 
existem muitos prazeres, nem todos são iguais e bons. É preciso 
escolher entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é 
necessário à posse de uma virtude sem a qual é impossível escolher. 
Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles prazeres 
que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não 
 
 22 
 
são corporais – fugazes e imediatos - mas os espirituais porque 
contribuem para a paz da alma. 
A virtude ética é prudência que leva o homem ou a mulher a escolher 
prazeres que não trazem perturbações, visto que o prazer é um bem 
que leva a uma vida feliz. 
Para os estóicos (Zenão, Séneca e Marco Aurélio), o homem é feliz 
quando aceita o seu destino com imperturbabilidade e resignação. O 
universo é um todo ordenado e harmonioso onde os sucessos 
resultam do cumprimento da lei natural, racional e perfeita. O bem 
supremo é viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem universal 
compreendida pela razão, sem se deixar levar pelas paixões, afectos 
interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que 
enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O 
estóico deixa de ser um cidadão da polis e passa a ser do cosmo. 
O ser humano é um cidadão do cosmo e o seu destino já está 
predeterminado. 
 
UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval 
Com o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil 
substituiu a escravidão. Assim o regime servil deu bases para a 
construção da sociedade feudal. A sociedade feudal era extremamente 
estratifica e hierarquizada. No entanto era uma sociedade 
fragmentada economicamente e politicamente na medida em que as 
estruturas deixadas pelo mundo antigo foram desfeitas e a igreja 
continuou sendo a única instituição organizada. É por este motivo que 
a religião se tornou o garante da unidade social do povo na época.Assim a igreja passou, além do poder espiritual e temporal, a 
monopolizar a vida intelectual. Evidentemente a Ética, neste período 
medieval, foi sujeita a conteúdos religiosos. 
Os filósofos cristãos, da época, tiveram uma dupla atitude diante da 
Ética: 
 Uma atitude Ecónoma que fundamenta-se em Deus e nos 
princípios morais. Deus criador, omnisciente e todo-poderoso. 
O homem como criatura de Deus tem seu fim último Nele que 
é o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a sua 
obediência e a sujeição a seus mandamentos – com carácter de 
imperativo supremo. 
 
Esta atitude aproveitou as ideias da ética grega platónica e estóicas 
inserindo-as na ética cristã. A Ética cristã é uma ética subordinada a 
religião num contexto em que a filosofia era considerada serva da 
teologia, isto é, a filosofia deveria ajudar na compreensão da teologia. 
 
 23 
 
A ética cristã é uma ética limitada por parâmetros religiosos e 
dogmáticos e tende a regular o comportamento dos homens com vista 
a uma outra vida (reino de Deus) colocando o seu fim ou objectivo 
fora do homem, mas na divindade. 
Ao pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem 
transcendental ou sobrenatural, onde possa viver uma vida feliz e 
plena, livre de desigualdades e injustiças do mundo terreno o 
cristianismo introduz uma ideia inovadora: a igualdade dos homens 
diante de Deus. Assim o homem é chamado a alcançar a perfeição e a 
justiça num mundo sobrenatural, o reino dos céus. Esta teoria absorve 
bastante o que Platão e Aristóteles postularam. 
Os filósofos cristãos mais marcantes na ética cristã são Santo 
Agostinho (354-430) e São Tomas de Aquino (1226-1274). Estes 
reflectem respectivamente as ideias de Platão e Aristóteles. Por 
exemplo, a purificação de Platão e a sua ascensão libertadora até 
elevar-se ao mundo das ideias tem correspondência na elevação 
ascética até Deus exposta por Santo Agostinho. A ética de S. Tomás de 
Aquino assemelha-se a Aristóteles na questão da contemplação e do 
conhecimento que permite alcançar o fim último. Para São Tomás o 
fim último é Deus. 
A história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde 
prevaleceram diversas doutrinas. Contudo, todas elas surgem como 
reacção a Ética Cristã que era excêntrica e teológica. A ética do 
renascimento é antropocêntrica. Isto é, o ser humano no centro das 
atenções. Portanto, ela procura reflectir o homem. Portanto, o 
renascimento faz uma viragem significativa na história da ética. 
Kant (2001) defende que esta viragem deveu-se as mudanças que o 
mundo sofreu nas esferas económicas, políticas e científicas. Na esfera 
económica, por exemplo, viu-se crescer de forma muito intensa o 
relacionamento de forças produtivas com o desenvolvimento 
científico. A relação entre a produção e a ciência propiciou o 
desenvolvimento da ciência. Este tema não será desenvolvido nesta 
unidade porque não faz parte desta disciplina. No entanto, esta 
relação fortaleceu a nova classe social – a burguesia – que lutava para 
se impor politicamente e economicamente. Este foi um período de 
grandes revoluções políticas (na Holanda, França e Inglaterra). O 
renascimento trouxe as seguintes consequências: 
 A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião); 
 As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos; 
 O estado separa-se da igreja; 
 Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus. 
Esta rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora 
 
 24 
 
vejamos: 
Nicolau Maquiavel (1469-1527) provocou uma revolução Ética ao 
romper com a moral cristã que impõe valores espirituais como 
superiores aos valores políticos. Isto é, o caracter normativo da ética, 
na qual a ética preocupa-se com o fim da conduta humana e com os 
meios para alcançar este fim. Para Maquiavel a adopção de uma moral 
própria em relação ao estado era fundamental. Para este, o que 
importa são os resultados e não a acção política em si mesma, 
adicionalmente, Maquiavel sugeriu sendo legítimo o uso da violência 
contra o que se opõe aos interesses estatais. Maquiavel pretende a 
aplicação de novos valores, onde o homem é centro de busca dos seus 
próprios valores e princípio. As ideias de Maquiavel tiveram bastante 
influência em Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se refere à 
Ética realista. 
 
UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna 
A teoria da ética moderna teve uma contribuição de vários autores. 
Em seguida descrevemos o desenvolvimento da ética moderna na 
visão de vários autores. 
Reme Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na 
filosofia e no homem que passaram a ser o centro de tudo, da política, 
da arte e da moral. Surgindo, desse modo, a Ética antropocêntrica. 
Thomas Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta 
em cada ser, de própria conservação como sendo o fundamento da 
moral e do direito. Para Hobbes, a vida do homem no estado de 
natureza - sem leis nem governo – era solitária, pobre, sórdida, 
embrutecida e curta, uma vez que os homens são por índole 
agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um desejo de 
ganho imediato. 
Para Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são 
melhores ou egoístas do que os selvagens: são apenas clarividentes se 
cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes. Segundo Hobbes o 
bom comportamento do homem deriva do seu egoísmo. Por exemplo, 
para Hobbes a explicação é simples: dois homens juntos têm mais 
facilidade de matar uma fera sem se ferirem. Esta é uma razão que 
explica a necessidade do homem de se auto conservar. 
Baruch de Espinosa (1632-1677), diz que: os homens tendem 
naturalmente a pensar apenas em si mesmos, nos seus desejos e 
opiniões. As pessoas sempre são conduzidas por suas paixões, as quais 
nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é uma acção 
necessitante da substância divina baseada na tendência de 
 
 25 
 
conservação e consecução de tudo o que é útil. 
Espinosa é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há 
uma diferença de pontos de vista, Deus é a única substância 
necessária, una, infinita, independente, simples e indivisível. Tem uma 
identidade, de atributos dos quais conhecemos apenas dois: a 
extensão e o pensamento. O mundo é o conjunto dos modos desses 
dois atributos. O homem é uma colecção de modos da extensão e do 
pensamento. A substância divina desenvolve-se segundo as leis 
necessárias da sua natureza. Deus é determinado por si mesmo, mas é 
determinado num sentido único e irrevogável. O livre arbítrio do 
homem reduz-se à ignorância das causas que determinam as suas 
acções. A verdadeira liberdade cria-se na medida em que o homem se 
liberta das suas paixões e, pela contemplação intelectual, identifica-se 
com Deus. Portanto, o princípio da moral identifica-se com Deus. 
Nesta época vigora o panteísmo, que se caracteriza na crença de que a 
natureza e Deus são idênticos, não acreditando num Deus criador. 
Para Kant (2001), a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda 
menos, oposto a ela. A virtude é a própria tendência natural para o 
auto conservação. O homem actua melhor e mais eficazmente quando 
se vale da razão, que é a busca útil e, por isso, a virtude humana está 
essencialmente ligada ao uso da razão. 
Segundo Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou 
impedem o entender. “A razão nada exige contra a natureza, mas ela 
mesma exige que cada um se ame a si próprio e procure o bem 
próprio, e deseje tudo o que verdadeiramente conduz o homem a uma 
maior perfeição e, de modo absoluto que cada um se esforce no que 
lhe diz respeito por conservar o seu próprio ser” (Ética, IV, 18). 
Em relação aos juízos morais, Donald (1999), refere que os padrões 
humanos de julgamento moral, na sua prática, são arbitrários e 
caprichosos. Quando se critica ou se avalia no homem, em qualquer 
aspectoprocede-se a um julgamento tomando por comparação a uma 
figura pessoalmente pré-concebida ou um ideal de homem, 
individualmente construída. Contudo, quando se julga um homem e se 
diz que ele poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma ilusória noção 
de liberdade, não poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado 
e daquilo que é. O estado ordinário da mente quando se procede a 
julgamentos morais é sempre de confusões e de ilusões. Então, como 
proceder? Espinosa refere que o modo de proceder ultrapassa os usos 
e a linguagem que condicionam o julgamento, que deverá ser através 
da experiência. 
John Locai (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a 
uma concepção de felicidade pública, uma vez que estabeleceu um 
liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública, e tornou a 
 
 26 
 
prática da virtude necessária a conservação da sociedade humana e 
visivelmente vantajosa por todos os que precisam tratar com as 
pessoas de bem. Isto é, agir para o bem comum. 
David Nume (1711-1776) nessa mesma linha de pensamento, Nume 
afirma que o fundamento da moral é a utilidade, isto é, a boa acção, 
aquela que proporciona felicidade e satisfação à sociedade. A utilidade 
responde a uma necessidade que leva o homem a promover a 
felicidade dos seus semelhantes. Ao invés de limitar os desejos 
humanos determinados pelo interesse pessoal (comida, dinheiro, 
glória, etc.). 
Nume acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a 
capacidade de sentir em si mesmo os sofrimentos e até as alegrias do 
outro. O que impossibilita traçar uma linha divisória nítida entre o 
interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora é possível 
encarar o interesse como se fosse um interesse pessoal. 
Emanuel Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da 
conduta na substância racional do homem. Nele, o conceito de dever é 
o ponto central da moralidade – hoje conhecido por deontologia. 
Para Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou 
boa intenção, aquilo que se põe livremente de acordo com o dever. O 
conhecimento do dever é a consequência da percepção pelo homem 
de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer – o 
imperativo categórico: a necessidade de respeitar todos os seres 
racionais na qualidade de fins em si mesmo. E o reconhecimento da 
existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de 
comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Trata 
portanto da existência de outros e das consequências dos seus actos. 
A humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do 
próximo sempre como um fim e nunca como um meio. 
A Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos 
práticos que possam ser universalizáveis, de tal maneira que os 
princípios que eu sigo possam valer para todos. “Age apenas segundo 
uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne 
lei universal”. Analisando a questão da corrupção, por exemplo, 
podemos questionar se tal procedimento deveria ser universalizado ou 
não. Se não podemos querer a universalização da corrupção, também 
não posso aceitá-la no aqui e agora. 
Em Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não 
interessando para nada um conhecimento racional da moral. A 
moralidade está tão afastada da pura sensibilidade como da 
racionalidade absoluta. Se o homem fosse apenas sensibilidade, as 
suas acções seriam determinadas pelos impulsos sensíveis. Se fosse só 
racionalidade seriam determinadas pela razão. Mas sendo o homem 
 
 27 
 
ao mesmo tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso 
como a razão. É nesta possibilidade de escolha que consiste a 
liberdade que o faz um ser moral. Kant vê o ser humano como um ser 
dotado de razão e de impulso e é nata. É nessa perspectiva onde surge 
a possibilidade de escolha (liberdade), que o faz o ser moral. 
Para viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade, 
submetendo-se aos impulsos sensíveis e evitando assumir qualquer 
desejo. Como ser racional, o homem deseja a felicidade, mas 
enquanto desejo, a felicidade não pode ser o fundamento de um 
imperativo moral. A resolução deste dilema está na acção da vontade: 
age de modo que a máxima da tua vontade possa sempre ser valor, 
como princípio da legislação universal. Esta fórmula constitui a Lei 
moral, valendo para todos os seres racionais. A relação de uma 
vontade com esta Lei é uma relação de dependência que se exprime 
numa obrigação – em obrigar a uma acção conforme com a Lei. Esta 
acção chama-se dever. A Lei moral é origem e fundamento do dever 
no homem. A acção moral do ser humano tem como objectivo final o 
bem supremo, então a virtude é o bem supremo e a condição de tudo 
que é desejável. 
Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade 
com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível. Por exemplo: 
obter qualquer vantagem ou evitar qualquer dano. A moralidade é a 
conformidade imediata da vontade com a Lei sem o recurso dos 
impulsos sensíveis. 
O amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a 
felicidade e acção que realiza a moralidade é a eliminação do egoísmo, 
isto é, contrapõe o eu e os seus impulsos a Lei moral. “Nós somos de 
certos membros legisladores de um reino moral tornado possível pela 
liberdade e representado pela razão prática como objecto de respeito: 
mas somos súbditos, não o soberano desse reino, e assim o 
desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar 
presunçosamente a autoridade da Lei, é já uma infidelidade ao espírito 
da Lei, mesmo quando se lhe observe a letra”. 
A acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo. 
Este bem supremo consiste, para o homem, que é um ser finito, na 
virtude e na união da virtude com a felicidade. A virtude é o bem 
supremo, a condição de tudo o que é desejável. 
A afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem 
tem consciência da lei moral e que por vezes se pode afastar dela. A 
afirmação de que o “homem é mau por natureza” significa que o que 
se disse vale para toda a espécie humana, o que não quer dizer que se 
trate de uma qualidade, mas de uma tendência para o mal em todos 
os homens, isto é, dos homens. Tal tendência para o mal é 
 
 28 
 
moralmente negativa - mal radical e inato na natureza humana. 
O mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode 
ser vencido, a fim de que o homem seja verdadeiramente livre nas 
suas acções. 
 
UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea 
Semelhantes a ética moderna, alguns autores contribuíram para o 
desenvolvimento da teoria da ética contemporânea. Em seguida 
descrevemos as contribuições desses autores. 
Triedros Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo 
pós-kantiano. A doutrina de Hegel tem uma tendência panteísta e é 
conhecida como idealismo absoluto porque o absoluto é a ideia, o 
pensamento puro, a abstracção lógica. 
Hegel compreende que a moral não é uma questão perene, mas 
complexa e dinâmica. Hegel trata de uma moral que muda algo que se 
mantém independentemente e acima dos conceitos que mudam, 
evoluem e se transformam enquanto ela se matem una, universal e 
intemporal. Para Hegel, a ética e a moral das pessoas enquanto seres 
culturais, determina-se pelas relações sociais que mediatizam as 
relações pessoais. 
O que é comum a todas as perspectivas e conceitos da moral é que o 
indivíduo providencia a sua própria moralidade e ao mesmo tempo 
clama por uma genuína universalidade. O que permite a sanção das 
nossas escolhas morais é em parte o facto de que o critério que 
governa as nossas escolhas, não é escolhido. É no contexto da ordem 
moral estabelecida numa comunidade bem ordenada que se podem 
encontrar os critérios éticos gerais e concordâncias com os seus. A 
autoridade Ética da sociedade não advém, porémdo seu poder real, 
mas dos seus conceitos que são encarados como normativos. 
Para Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de 
comunidade que em cada comunidade certos valores se provarão 
indispensáveis, adaptando uma posição diferente da linha sobre a 
objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus herdeiros posteriores. 
Do ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está 
aberta, mas para o indivíduo integrado numa sociedade não está. 
Cada sociedade impõe certos valores a si próprio e ao indivíduo, só 
havendo verdadeira possibilidade de escolha arbitrária ao indivíduo 
que não esteja integrado numa sociedade. 
Platão e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética, 
porque a descrevem dentro de uma sociedade de polis. Os 
individualistas do séc. XVIII vem o bem como a expressão dos seus 
 
 29 
 
sentimentos ou o mandato da sua razão individual porque se situam 
como se estivessem fora da sociedade em que vivem. A sociedade é 
por eles considerada apenas como um mero agregado de indivíduos. 
Mas Hegel levanta uma questão: o que é que, para o homem 
moderno, toma lugar da polis grega? 
Para Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e 
histórico é determinada pelas relações sociais que mediatizam as 
relações pessoais intersubjectivas. Assim, Hegel transforma a Ética 
numa filosofia de direito e divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e 
Ética objectiva (social). 
A Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética 
objectiva é formada pelos costumes, pelas leis e normas de uma 
sociedade. Entretanto, Hegel dividiu a sua obra de 1821, Filosofia do 
Direito, em três áreas: direito abstracto, a moral e a etnicidade. 
 Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e 
exprime-se na propriedade, que é a esfera exterior da sua 
liberdade; 
 A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se 
manifesta na acção; 
 A etnicidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais 
que regem a vida dos indivíduos e constituem os seus deveres. 
 
O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta 
entre a subjectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser 
realizado. Esta separação é resolvida pela ética, onde o bem se realiza 
de forma concreta e se torna existente. 
Donald, (1999) Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma 
limitação a subjectividade ou a liberdade abstracta do indivíduo, 
sendo, no entanto, a redenção do próprio indivíduo, dos seus impulsos 
e da sua subjectividade individual. 
No mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se 
realidade: “o sistema de direito é o reino da liberdade realizada, o 
mundo do espírito expresso por si mesmo, como uma segunda 
natureza.” Para que o direito - ética se realize e subsista é necessário 
que à vontade do indivíduo se reverta numa vontade mais vasta, 
universal, a qual se submeta por livre vontade. 
O homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético 
que é constituído pelo sistema de necessidades da sociedade civil. 
Para o Kant, o indivíduo está submetido a imperativos categóricos 
enquanto o indivíduo Emiliano procura os seus critérios morais nas 
normas da sociedade. 
Para Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética. 
 
 30 
 
Donald, (1999) A vontade individual subjectiva é determinada por uma 
vontade objectiva, impessoal, colectiva, social e pública que cria as 
diversas instituições sociais. Essa vontade regula e normaliza as 
condutas individuais através de um conjunto de valores e costumes 
vigentes numa determinada sociedade e numa determinada época. 
O ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um 
estado de direito que preserve os direitos dos homens e lhes cobre 
seus deveres onde a consciência moral e as leis do direito não estão 
separadas e nem em contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização 
dos valores, normas e leis de uma sociedade, condensadas na vontade 
objectiva, cultural por um sujeito moral que as aceite livre e 
espontaneamente através de uma vontade subjectiva individual. A 
vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade colectiva 
de uma cultura. 
Kart Marx (1818-1883) a moral é uma superstrutura ideológica, com 
função social que permite sacramentar as relações e condições de 
existência de acordo com os interesses da classe dominante. Numa 
sociedade dividida em classes antagónicas, a moral sempre terá um 
carácter de classe. Enquanto não se verificarem as condições reais 
para uma moral universal, válida para toda a sociedade não pode 
existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as 
sociedades. 
Para Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a 
imprimir um carácter universal a interesses particulares. 
Se a moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada 
historicamente a abolir a si mesmo como classe para ceder lugar a 
uma sociedade verdadeiramente humana, serve como passagem a 
uma moral universalmente humana. Os homens necessitam da moral 
assim como necessitam da produção, e cada moral cumpre sua função 
social de acordo com a estrutura social vigente. 
Entretanto torna-se necessária uma moral que não seja o reflexo de 
relações sociais alienadas para regular as relações entre os indivíduos 
tanto em vista das transformações da velha sociedade como para 
garantir a harmonia da emergente classe socialista. 
A transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a 
participação consciente dos homens. Porque, a nova moral com suas 
novas virtudes transforma-se numa nova necessidade. Assim, o 
homem deve interferir sempre na transformação da sociedade. 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral, 
seja a socrática, judaico-cristão ou moral burguesa. 
Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos 
os valores. O bom é o que favorece a força vital do homem, e tudo o 
 
 31 
 
que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, à vontade 
de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza ou o 
bom fornece a força e o mal a fraqueza. 
Nietzsche vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos 
valores, transmutando-os a todos. 
O pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos 
problemas abstractos da velha metafísica e dedicam-se as questões 
práticas sob o ponto de vista utilitarista. A verdade é o útil que ajuda a 
viver e a conviver. O bem é algo que conduz a obtenção eficaz de uma 
finalidade, que nos conduz a um êxito. Os valores, princípios e normas 
perdem seu conteúdo objectivo e o bem passa a ser aquilo que ajuda 
o homem nas suas actividades práticas, variando de acordo com as 
circunstâncias. O perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele 
tenta reduzir o comportamento moral a actos que conduzem apenas 
aos êxitos pessoais transformando-os numa variante utilitarista 
marcada apenas pelo egoísmo, rejeitando a existência de valores ou 
normas objectivas, criando uma distorção baseada na busca da 
vantagem particular onde o bom é o que ajuda o meu progresso e o 
meu sucesso particular. 
INRI Berços (1859-1941) distingue a moral: moral fechada e moral 
aberta. A moral fechada é o conjunto do que é permitido e do que é 
proibido para os indivíduos de uma sociedade tendo em vista o auto 
conservação da mesma. É imposta aos indivíduos e tem como 
finalidade tornar a vida em comum possível e útil a todos. Ela 
corresponde no mundo humano ao que é instinto em certas 
sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias 
sociedades. 
Donald, (1999) A moral aberta nasce do impulso criador supra-
racional. É a moral do amor, de liberdade e da humanidade universal 
que resulta de uma emoção criadora. Ela torna possível a criação de 
novos valores e de novas condutas em substituiçãodaquelas vigentes 
segundo a moral fechada. É a moral dos profetas, sábios, místicos 
inovadores e dos santos que inspiram a instauração de uma nova ética 
face a moral vigente. 
Na filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram 
o conceito de ética, adquirindo fortes traços de moral utilitarista. Os 
indivíduos devem buscar a felicidade e fazerem melhores escolhas 
entre as alternativas existentes. 
Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjectiva. Não 
contem afirmações verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos de 
um grupo. Mas o homem deve reprimir certos desejos e reforçar 
outros se pretende atingir a felicidade ou equilíbrio. 
Jurem Abertas (1924) faz uma revisão e actualização do marxismo 
 
 32 
 
capaz de dar conta das características do capitalismo avançadas na 
sociedade industrial contemporânea. Faz uma crítica a racionalidade 
dessa sociedade caracterizando-a de uma razão instrumental que visa 
apenas estabelecer os meios para se alcançar um fim determinado. O 
desenvolvimento técnico e a ciência voltada apenas à aplicação 
técnica acarretam a perda do próprio bem que estaria submetido às 
regras de dominação técnica do mundo actual. E necessário então a 
recuperação da dimensão humana de uma racionalidade instrumental 
baseada no agir comunicativo entre sujeitos livres, de carácter 
emancipador em relação à dominação técnica que distorce a 
possibilidade da acção comunicativa e produz relações assimétricas e 
impede uma interacção plena entre as pessoas. 
Abertas pretende fundar uma nova racionalidade, e recomenda a 
filosofia analítica da linguagem para sistematizar as condições do uso 
da linguagem livre em torno da teoria da acção comunicativa. 
Habermas busca uma teoria geral da verdade segundo a qual o critério 
da verdade é o consenso dos que argumentam e defende a ideia de 
que argumentar é uma tarefa eminentemente comunicativa porque o 
discurso intersubjectivo é o lugar próprio para a argumentação. O 
critério de verdade aceite por consenso e somente aquele que se 
estabelece sob condições ideais situação ideal de fala. O consenso é 
racional quando estabelecido numa condição de fala. Para tal 
estabeleceram-se regras cuja observação e condição para que se possa 
falar de um discurso verdadeiro, que são: 
 Todos os participantes tenham as mesmas chances de 
participar do diálogo; 
 Todos os participantes tenham as mesmas chances para a 
crítica. Estas são formas de eliminação dos factores de poder 
que poderiam perturbar a argumentação; 
 Todos os falantes deveriam ter chances iguais para expressar 
suas atitudes, sentimentos e intenções. 
 Serão admitidos ao discurso falantes que tenham as mesmas 
chances enquanto agentes para dar ordens e se opor, permitir 
e proibir, etc. 
 
Donald (1999) defende que, um diálogo sobre questões morais entre 
senhores e escravos, patrões e empregados, pais e filhos, violariam as 
condições da situação ideal da fala. Isto porque o discurso autêntico é 
aquele que ocorre com pessoas em situação igual, sob condições 
igualitárias do ponto de vista de participação no discurso. 
UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência 
Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos 
conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e moral, e do 
carácter normativo da ética, vamos de seguida contextualizar o 
 
 33 
 
ambiente do surgimento das teorias da ética. 
A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta 
moral é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no 
séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido 
mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma 
viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como 
primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, 
para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, 
mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê? 
Nesta cessão vamos demonstrar como a ética surgiu como uma 
ciência. Note que a ética como uma disciplina está dividida. No 
entanto, não devemos nos esquecer que a Ética é uma só. Estas 
classificações que descrevemos abaixo têm fins meramente didácticos. 
A ética como uma reflexão normativa sobre os actos humanos 
segundo princípios racionais faz parte da Ética Geral que tenta explicar 
questões como a liberdade, a natureza do bem e do mal, a virtude e a 
felicidade, entre outros aspectos. Por outro lado, existe a Ética 
Especial ou a Ética Aplicada que pretende levar à prática os 
fundamentos gerais da ética. Por isso, a ética pode ser: Ética Geral e 
Ética Especial ou Aplicada. 
De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Ética Geral é aquela, que 
procura explicar questões relacionadas com a liberdade, a natureza do 
bem e do mal, a felicidade, etc. Ela estuda todos esses aspectos no seu 
plano mais geral. A Ética Aplicada ou especial pode ser enquadrada em 
três planos: individual, familiar e social. A nível social a ética pode se 
subdividir em diversos ramos: ética internacional, económica, 
profissional, entre outros. No caso da ética profissional pode se falar 
da ética para ciências de saúde, ética para a comunicação; ética para a 
educação, ética para os psicólogos, ética para o jurista, ética na 
administração, etc. 
Na ética especial aplicamos os conteúdos da ética geral a uma 
realidade específica, isto é concreta. A ética especial pode ser: ética 
médica, ética do psicólogo, ética dos enfermeiros, ética dos 
professores, ética dos economistas, ética ambiental, ética dos 
auditores, etc. Portanto, a ética especial é a aplicação dos princípios 
gerais da ética a uma realidade ou tema específico. 
UNIDADE Temática 2.1.6. Meta - Ética 
De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Meta - ética é o estudo 
filosófico da natureza do julgamento moral. Ela busca o sentido pelo 
qual se denomina algo como certo ou errado (bom ou mau), incluindo 
o significado dos termos morais e a discussão de quando um 
 
 34 
 
julgamento moral é objectivo ou subjectivo. Também a Meta - ética é 
uma reflexão sobre a natureza dos próprios juízos éticos como: o que 
quer dizer bem moral? 
A Meta - ética estuda, ainda, outros temas como: 
 Objectividade da Moralidade; 
 A natureza da moralidade; 
 A natureza da responsabilidade e sua conexão com o livre 
arbítrio (a liberdade). 
O estudo da natureza do julgamento moral pode ser enquadrado nas 
seguintes disciplinas: a psicologia moral e epistemologia moral. 
De acordo com Kant, (2001), a Psicologia Moral interessa-se pelo 
estudo da motivação, da teoria das decisões e da ética descritiva. Por 
sua vez, a Epistemologia Moral estuda a natureza do conhecimento 
moral e a natureza dos argumentos morais. O estudo da natureza do 
argumento moral também é enquadrado na disciplina chamada Lógica 
Deôntica. A lógica deôntica estuda os princípios do raciocínio 
referente às obrigações, permissões, proibições, compromisso moral, 
etc. 
SUMÁRIO 
Emotivismo ou não cognitivistas: Defendem que, são efectivas 
expressões das emoções. A razão é inerente e somente a emoção é 
capaz de promover a rectidão para iniciar a acção moral; 
Racionalismo: a teoria de racionalismo dá mais importância a razão. 
Ela enfatiza o papel ou a importância da razão frente a experiência 
sensorial e do apelo a autoridade, como fundamento; 
Teorias Absolutistas: Estas teorias têm enfoque sobre as acções que 
podem ser consideradas erradas ou às vezes obrigatórias; 
Teorias do Comando Divino esta teoria afirma que todo axioma moral 
deriva do comando divino; 
Prescritivos: Defende que, os actos morais são empregados para guiar 
a acção e para dizer as pessoas o que deveriam fazer. É uma teoria 
sobre o significado de termos morais como: bom, certo ou dever. 
 
 35 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO1. Leia o texto abaixo: 
“… Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o 
homem é liberdade... Não encontramos diante de nós valores ou 
imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não 
temos nem atrás de nós, nem diante de nós o domínio luminoso 
dos valores. Justificações ou desculpas, estamos sós nós no 
domínio luminoso dos valores justificações e desculpas. É o que 
traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser sem 
desculpas e a ser livre, condenado porque não criou a si próprio, e 
no entanto, livre porque uma vez lançado ao mundo é responsável 
por tudo que fizer”. Os homens fazem a sua própria história, mas 
não fazem como querem, não a fazem como circunstâncias de sua 
escolha e sob aquelas com que se defrontam directamente legadas 
e transmitidas pelo passado” Karl Max 
a) Enquanto Sartre defende que há determinismo, Max 
defende que o homem é livre e independente das 
circunstâncias 
b) Sartre defende que não há determinismo e Max estabelece 
um meio-termo entre o determinismo e a total liberdade 
do homem; 
c) Quando Sartre afirma que o homem está condenado a ser 
livre, diz o mesmo que, quando Max defende que os 
homens fazem a sua própria história, mas não a fazem 
como querem; 
d) Sartre diz que o homem está limitado pela sua própria 
existência, enquanto Max afirma que o homem está 
limitado pelas condições históricas. 
2. Um dos problemas centrais da ética como disciplina filosófica, 
é a fundamentação da moral. Sobre essa questão, assinale a 
alternativa falsa. 
a) As teorias éticas são no final das contas esforços de 
investigação da possibilidade da fundamentação da 
moral, no entanto, isso não significa que toda a teoria 
ética aponte a razão como fundamento da moralidade; 
b) “O cientificismo não recusa uma fundamentação 
racional para a moral, pois prescreve que não há uma 
separação entre fatos e valores. A neutralidade 
axiológica própria da ciência, conforme Max Weber, 
permite que os valores possam ser captados na sua 
objetividade” 
c) “O cientificismo não recusa uma fundamentação 
 
 36 
 
racional para a moral, pois prescreve que não há uma 
separação entre fatos e valores. A neutralidade 
axiológica própria da ciência, conforme Max Weber, 
permite que os valores possam ser captados na sua 
objetividade”; 
d) “O pensamento débil ou pós-moderno rejeita a 
possibilidade de fundamentar a moral porque considera 
que a tradição filosófica foi vítima de um engano 
centrado na epistemologia. Não é possível uma razão 
totalizante, que forneça uma metanarrativa que integre 
os diversos aspectos do real. A razão é frágil, débil, 
própria da finitude de nossa condição. Valores éticos 
universais são formas de mascaramento da vontade de 
poder totalizante”. 
3. De entre os temas apresentados abaixo, qual deles não é tema 
da meta-ética? 
a) Objectividade da Moralidade; 
b) A natureza da moralidade; 
c) A natureza da responsabilidade e sua conexão com o 
livre arbítrio (a liberdade); 
d) A libertinagem. 
4. De entre as alternativas abaixo, qual delas melhor descreve a 
teoria do comando divino 
a) Tudo é comandado pelo homem; 
b) Tudo vem de Deus; 
c) Tudo é comandado pela Razão; 
d) Tudo é comandado pela emoção. 
5. De entre as alternativas abaixo, qual delas é verdadeira? 
a) Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a 
conformidade com a Lei, efectuada com um motivo 
natural sensível; 
b) Kant distingue ética e moralidade: A ética é a 
conformidade com a Lei, efectuada com um motivo 
natural sensível; 
c) Kant distingue ética. A ética é a conformidade com a 
Lei, efectuada com um motivo natural sensível; 
d) Kant distingue moral. A moral é a conformidade com a 
Lei, efectuada com um motivo natural sensível; 
6. De entre as alternativas abaixo, qual delas é verdadeira? 
a) O domínio da moralidade é caracterizado pela sua 
separação abstracta entre a subjectividade que deve 
 
 37 
 
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. 
b) O domínio da inmoralidade é caracterizado pela sua 
separação abstracta entre a subjectividade que deve 
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. 
c) O domínio da moralidade é caracterizado pela sua 
separação abstracta entre a objectividade que deve 
realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. 
d) Esta separação da moralidade não é resolvida pela 
ética, onde o bem se realiza de forma concreta e se 
torna existente. 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
1. Qual é a diferença entre a teoria racionalista e emotivista? 
2. Fale sobre as teorias do comando divino. 
3. Qual é a diferença entre a teoria prescritivista e absolutista? 
4. Fale das teorias de comando divino. 
5. Porquê é que se diz que a ética é uma disciplina Filosófica? 
Fundamente a sua resposta 
6. Partindo do princípio que a ética é a reflexão sobre a moral, 
porquê é que existem muitas teorias éticas? Fundamente a sai 
resposta. 
 
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO 
1. B 
2. B 
3. D 
4. B 
5. A 
6. A 
 
TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 
 
 38 
 
UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético 
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da 
Vida 
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da 
Vida 
 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa 
 UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros 
UNIDADE Temática 3.3.3. O significado ético da relação da pessoa com 
os outros 
UNIDADE Temática 3.3.3. O dever 
UNIDADE TEMÁTICA 3.3.3.1. A Coação e a Obrigatoriedade Moral 
 UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral 
 
Introdução 
Nesta unidade temática debruçar-nos-emos sobre a relação existente 
entre a ética e os Direitos humanos. Num olhar atento para o 
desenvolvimento histórico, a ética sempre esteve relacionada a 
questões de igualdade, de justiça e de respeito à dignidade. 
Entretanto, para que esses valores sejam garantidos, existe a 
necessidade de um universalismo moral, ou seja, pontos em comum 
para que se possa conviver em sociedade de forma harmoniosa, 
porém, respeitando as diferenças. Ou seja, é visível a necessidade de 
um mínimo moral comum a todos, não importando as diferenças, mas 
ressaltando o que há de comum entre os grupos. 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Descrever a vida humana como valor ético; 
 Descrever a vida humana como valor jurídico; 
 Analisar os direitos humanos face a defesa e protecção do ser 
humano; 
 Apresentar a conjugação existente entre a ética e os direitos 
humanos. 
 
UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético 
Para Costa et al (1998), qualquer acção humana que tenha algum 
reflexo sobre a vida das pessoas e seu meio ambiente, deve 
necessariamente implicar o reconhecimento de valores e uma 
avaliação de como estes poderão ser afectados. O primeiro desses 
valores é a própria pessoa, com as peculiaridades que são inerentes à 
sua natureza, inclusivamente as suas respectivas necessidades 
 
 39 
 
materiais, psíquicas e espirituais. 
Atenção, ignorar a valorização destes aspectos ao praticar actos que 
produzam algum efeito sobre a pessoa humana, seja directa ou 
indirectamente sobre ela através de modificações do meio em que ela 
existe, é neste caso reduzir a pessoa a uma condição de “coisa” ou 
“objecto”, retirando dela a sua dignidade. 
Esta situação é válida tanto para as acções do governo como para as 
actividades que afectam a natureza, para empreendimentos 
económicos, acções individuais ou colectivas, como também para 
criação e aplicação de tecnologia ou para qualquer actividade no 
campo da ciência. 
Entre os valores inerentesa condição humana está na “vida”. Embora 
sua origem permaneça um mistério, tendo-se conseguido, no máximo 
associar elementos que a produzem ou saber que em certas condições 
ela se produz, o que se tem como certo é que sem ela a pessoa 
humana não existe como tal, razão pela qual é de capital importância 
para a humanidade o respeito a origem, à conservação e a extinção da 
vida. 
Como foi assinalado por Aristóteles e por muitos outros pensadores, e 
as modernas ciências que se ocupam do ser humano e do seu 
comportamento o confirmam, o ser humano é associativo por 
natureza. Por necessidade material, psíquica (incluindo as 
necessidades intelectuais e afectivas), espiritual, todo o ser humano 
depende dos outros para viver, para desenvolver sua vida e para a sua 
sobrevivência. 
A percepção desse facto, é que faz da vida um valor, tanto nas 
sociedades que se consideram mais evoluídas e complexas quanto 
naquelas que são julgadas de simples e rudimentares, Costa et al. 
(1998). Deste modo, reconhecida a vida como um valor, foi que se 
chegou ao costume de respeitá-la, o que se tornou uma espécie de 
conduta para todos os povos, embora com algumas variações 
decorrentes de peculiaridades culturais existentes em cada uma delas. 
De acordo com Costa et al. (1998), independentemente de crenças 
religiosas ou de convicções filosóficas ou políticas, a vida é um valor 
ético. Na convivência necessária com outros seres humanos, cada 
pessoa é condicionada por esse valor e pelo dever de respeitá-lo, 
tenha ou não consciência do mesmo. A par disso, é oportuno lembrar 
que tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, editada pela 
ONU em 1948, quanto os Pactos de Direitos Humanos que ela aprovou 
em 1966 proclamam a existência de uma dignidade essencial e 
intrínseca, inerente à condição humana. 
 
 40 
 
Depois do exposto, podemos verificar que a vida humana é mais do 
que a simples sobrevivência física, é a vida com dignidade, sendo esse 
o alcance de exigência ética de respeito à vida. A vida humana como 
um valor ético é vida com dignidade. 
A ética de um povo ou de um grupo social é um conjunto de costumes 
consagrados, informados por valores. 
A partir desses costumes é que se estabelece um sistema de normas 
de comportamento cuja obediência é geralmente reconhecida como 
necessária ou conveniente para todos os integrantes do corpo social. 
Por exemplo, se alguém, por conveniência ou mesmo por convicção 
pessoal, procura contrair ou efectivamente contraria uma dessas 
normas, este tem um comportamento antiético, presumivelmente 
prejudicial a outras pessoas do mesmo grupo sociocultural, ou até a 
todos os seres humanos. Assim, fica sujeito às sanções éticas previstas 
para questões de desobediência, podendo neste caso ser impedido de 
prosseguir na prática antiética ou, conforme as circunstancias, ser 
punido pelos danos que tenha causado ou ser obrigado a repará-los. 
Todos estes factores têm aplicação à protecção da vida no plano da 
ética, sem prejuízo da protecção resultante de seu reconhecimento 
como valor jurídico. 
 
UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida 
A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa. 
Direitos Humanos são os direitos do homem. São direitos que visam 
resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, 
direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a 
fraternidade, a liberdade, a dignidade da pessoa humana. No entanto, 
apesar de facilmente identificado, a construção de um conceito que o 
defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do tema. 
Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões 
absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de 
consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de 
poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana." 
São direitos que visam salvaguardar os valores mais preciosos da 
pessoa humana, tais como a solidariedade, a dignidade. 
Há que salientar que, os Direitos Humanos devem ser reconhecidos 
em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, 
independentemente do sistema social e económico que essa nação 
adopta”. 
 
 41 
 
Sendo assim, podemos entender "Por direitos humanos ou direitos do 
homem são, modernamente, isto é, aqueles direitos fundamentais que 
o homem possui pelo facto de ser homem, por sua própria natureza 
humana, pela dignidade que a ela é inerente”. 
Podemos afirmar, portanto, que Direitos Humanos constituem aqueles 
direitos inerentes à pessoa humana, que visam resguardar a sua 
integridade física e psicológica perante seus semelhantes e, perante o 
Estado em geral. De forma a limitar os poderes das autoridades, 
garantindo, assim, o bem-estar social através da igualdade, 
fraternidade e da proibição de qualquer espécie de discriminação. 
Todas as pessoas têm portanto direitos iguais. 
Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões 
absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de 
consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de 
poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana. 
Todas as pessoas têm direitos e são indiscutíveis e inalienáveis. 
Encontram-se descritos na Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, adoptada em 1948 pelas Nações Unidas. 
No final da Idade Média, no século XIII, aparece a grande figura 
conhecida no mundo inteiro, Santo Tomás de Aquino, que tem 
elevada importância para a recuperação do reconhecimento da 
dignidade essencial da pessoa humana. 
Muito embora, sendo um pensador cristão, Santo Tomás de Aquino 
retomou Aristóteles, sob muitos aspectos e procurou fixar conceitos 
universais. 
Dos estudos, pondo-se de parte alguns pontos de suas ideias que se 
apoiam em dogmas de fé, resultam noções fundamentais que foram e 
podem ser acolhidas mesmo por quem não aceite os princípios 
cristãos. Tomando neste caso, a vontade de Deus como fundamento 
dos direitos humanos, Santo Tomás de Aquino, condena as violências 
e as discriminações, dizendo que o ser humano possui Direitos 
Naturais que devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o 
direito de rebelião dos que forem submetidos a condições indignas. 
Nessa mesma época nasce a burguesia, uma nova força social, 
composta por plebeus que foram acumulando riqueza mas 
continuavam excluídos do exercício do poder político e, por isso, eram 
também vítimas de violências, discriminações e ofensas à sua 
dignidade. 
Durante alguns séculos foram ainda mantidos os privilégios da 
nobreza, que, associada à Igreja Católica, tornara-se uma considerável 
 
 42 
 
força política e usava a fundamentação teológica dos Direitos 
Humanos para sustentar que os direitos dos reis e dos nobres 
decorriam da vontade de Deus. E assim, estariam justificadas as 
discriminações e as injustiças sociais. Os séculos XVII e XVIII trouxeram 
elementos novos, que acabaram pondo fim aos antigos privilégios. 
No campo das ideias, surgiram grandes filósofos políticos, que 
reafirmaram a existência dos direitos fundamentais da pessoa 
humana, sobretudo os direitos à liberdade e à igualdade, mas dando 
como fundamento desses direitos a própria natureza humana, 
descoberta e dirigida pela razão. Isto favoreceu a eclosão de 
movimentos revolucionários que, associando a burguesia e a plebe, 
ambas interessadas na destruição dos seculares privilégios, levaram à 
derrocada do antigo regime e abriram caminho para a ascensão 
política da burguesia. 
Os pontos culminantes dessa fase revolucionária foram a 
independência das colónias Inglesas da América do Norte, em 1776 e a 
Revolução Francesa, que obteve a vitória em 1789. A nova situação 
criada a partir daí foi inteiramente favorável à burguesia, mas 
adiantou muito pouco para os que não eram grandes proprietários. 
Em 1789 foi publicada a Declaração dos Direitos doHomem, onde se 
afirmava, no seu primeiro artigo, que “todos os homens nascem e 
permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao mesmo tempo, 
admita “distinções sociais”, as quais, conforme a Declaração, deveriam 
ter fundamento na “utilidade comum” Costa et al. (1998). 
Logo foram achados os pretextos para essas distinções, instaurando-
se, desse modo, um novo tipo de sociedade discriminatória, com 
novas classes de privilegiados, estabelecendo-se enorme distância 
entre as camadas mais ricas da população, pouco numerosas, e a 
grande massa dos mais pobres. Sob o pretexto de garantir o direito à 
liberdade, esquecendo completamente a igualdade, foram criadas 
novas formas políticas que passaram a caracterizar o Estado liberal 
burguês, o mínimo possível de interferência nas actividades 
económicas e sociais, supremacia dos objectivos do capitalismo, com 
plena liberdade contratual, garantia da propriedade como direito 
absoluto, sem responsabilidade social, e ocupação de cargos e das 
funções públicas mais relevantes apenas por pessoas do sexo 
masculino e com independência económica. As diferenças devem 
portanto ser fonte de aprendizagem e de enriquecimento, e não 
motivo de descriminação. 
As injustiças acumuladas, as discriminações formalmente legalizadas, 
o uso dos órgãos do Estado para sustentar privilégios dos mais ricos e 
de seus serviçais acarretaram sofrimentos, miséria, violência e 
inevitáveis revoltas, agravadas pelas disputas, sobretudo de natureza 
 
 43 
 
económica, entre os participantes dos grupos sociais mais favorecidos, 
em âmbito nacional e internacional. 
Essa produção de injustiças teve como consequências a perda da paz, 
com duas guerras mundiais no século XX, chegando-se a extremos, 
jamais imaginados, de violência contra a vida e a dignidade da pessoa 
humana. 
Um aspecto paradoxal da história dos direitos humanos é que, apesar 
de serem direitos de todos os seres humanos, o que deveria levar à 
conclusão lógica de que nenhuma pessoa é contra os insumos, pois 
não é razoável que alguém se posicione contra seus próprios direitos, 
não é isso o que se tem verificado. Existem pessoas que colocam suas 
ambições pessoais, busca de poder, prestígio e riqueza acima dos 
valores humanos, sem perceber que desse modo eliminam qualquer 
barreira ética e semeiam a violência, criando insegurança para si 
próprias e para o seu património. 
Isto explica as violências na Idade Média, com o estabelecimento dos 
privilégios da nobreza e a servidão dos trabalhadores. Essa é, também, 
a raiz das agressões sofridas pelos índios da América Latina com a 
chegada dos europeus. 
Assinala-se também que existem pessoas ingénuas, mal informadas ou 
excessivamente temerosas, que não chegam a perceber o jogo 
malicioso dos dominadores, feito especialmente através dos meios de 
comunicação de massa. A defesa dos direitos humanos é apresentada 
como um risco para a sociedade, uma subversão dos direitos 
patrimoniais, aterrorizando-se essas pessoas com a afirmação de que 
a defesa dos mais pobres significa uma caminhada para a pobreza 
generalizada, pois existem bens suficientes para serem distribuídos. 
Outros, igualmente ingénuos, mal informados ou excessivamente 
temerosos, aceitam o argumento maldoso de que protestar contra a 
tortura, exigir que a pessoa suspeita, acusada ou condenada tenha 
respeitada a dignidade inerente à sua condição humana é fazer a 
defesa do crime. Está aí a outra espécie de pessoas que pensa ser 
contra direitos humanos, por não perceberem que esses são seus 
direitos fundamentais, que deveriam defender arduamente. 
As pessoas mal informadas podem deixar de lutar contra a violação da 
dignidade humana a alguém imerso nesta situação, e defender o 
crime. 
São também contra os direitos humanos os que, em nome do 
progresso científico de um futuro e incerto benefício da humanidade, 
ou alegando atitude piedosa em defesa da dignidade humana, pregam 
ou aceitam com facilidade a inexistência de limites éticos para as 
 
 44 
 
experiências científicas ou o uso dos conhecimentos médicos para 
apressar a morte de uma determinada pessoa. E assim estes últimos 
defendem a eutanásia e o suicídio assistido (considera-se suicídio 
assistido quando o médico ou qualquer pessoa do relacionamento do 
paciente lhe provê todo o material necessário para que se suicide, mas 
não realiza activamente o acto final, ela somente se assegura de que a 
dose ministrada irá matar e faz com que o paciente a aplique em si 
mesmo), que são formas de homicídio, atitudes que levam à 
antecipação da extinção da vida, que nenhuma norma de direitos 
humanos autoriza. Com o andar do tempo, a maior parte das pessoas 
estão a ficar mais consciencializadas da necessidade de luta pelos seus 
direitos. 
Um importante dado é que, por meio da experiência, da reflexão e, 
muitas vezes, do sofrimento, muitas pessoas de boa-fé, que julgavam 
contrárias aos direitos humanos, adquiriram consciência de sua 
contradição e mudaram de atitude. É necessário e oportuno ressaltar 
que, embora sem rapidez que seria ideal, vem aumentando sempre o 
número de pessoas consciencializadas, sendo necessário um trabalho 
de base que seja constante e esclarecido, como também estimulado 
de modo a que se acelere a ampliação do número de defensores dos 
direitos humanos em todo o mundo. 
 
3.1. UNIDADE Temática 3.3. Pessoa como Categoria Ética 
“Todos sabemos que somos animais da classe dos mamíferos, da 
ordem dos primatas, da familia dos hominideos, do género homo, da 
espécie sapiens, que o nossso corpo é uma máquina com trinta bilhões 
de células, controlada e procriada por um sistema genético que se 
constistuiu no decurso de uma longa evolução natural de 2 a 3 bilhões 
de anos, o cérebro com que pensamos, a boca com que falamos, a mão 
com que escrevemos, são órgãos biológicos, mas este conhecimento é 
tão inoperante como o que nos informa que o nosso organismos é 
constituído por combinações de carbono, de hidrogénio, de oxigénio e 
azoto”.(Morin, 1975: 15). 
O relato de Edgar Morin, acima citado, mostra-nos que somos 
diferentes relativamente aos outros animais. O homem é um ser capaz 
de dizer sim ou não a algo. Portanto, é o sujeito que manifesta a sua 
autonomia em relação a natureza e ao mundo que o rodeia. 
O homem possui qualidades que o constitui como um sujeito impar no 
universos dos outros animais tais como: a conscieência de si mesmo, 
reter opassado, prever o futuro, dar nomes aos objectos, 
ultrapassando os limites graças a sua imaginação. Fortes, (1995). 
Perante estes factos podemos concluir que a realidade humana não se 
 
 45 
 
limita no ser biológico, uma vez que exige e comporta outras vertentes 
como psicológica, social, cultural e moral. Por isso, o ser humano é o 
resultado de vários processos: biológicos, psicológicos, sociais, 
culturais e morais. Estes factores encontram- se conjugados numa 
complexa relação interindividual. 
É nesse contexto que o homem se descobre a si mesmo como um 
indivíduo pensante, e descobre a existência dos outros como a 
condição da sua existência. Falemos de seguida deste indivíduo 
biológico e social. 
Do ponto de vista da Ética, existe a consciência moral que é a 
faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do 
dever ou da interdição de se praticarem determinados actos, a 
aprovação ou remorso por havê-los praticado. 
A ética ou filosofia moral é a parte da Filosofia que se ocupa com a 
reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida 
moral. A instauração do mundo moral exige do homem a consciência 
crítica, que chamamos de consciência moral. Vidal, (2007). Trata-se do 
conjunto de exigências e das prescrições que reconhecemos como 
válidas para orientar a nossa escolha é a consciência que discerne o 
valor moral dos nossos actos. 
Para um acto ser considerado moral deveser livre, consciente, 
intencional. Mas é preciso que não seja um acto solitário e sim 
solidário. Costa, (1998). O acto moral supõe a solidariedade, a 
reciprocidade com aqueles com os quais nos comprometemos. E o 
compromisso não deve ser entendido como algo superficial e exterior, 
mas como o acto que deriva do ser total do homem, como uma 
promessa pela qual se encontra vinculado a comunidade. 
Dessa característica decorre a exigência da responsabilidade. É ser 
responsável, aquele que responde por seus actos, isto é, a pessoa 
consciente e livre assume a autoria do seu acto, reconhecendo-o como 
seu e respondendo pelas consequências dele. 
O comportamento moral é consciente, livre e responsável. É também 
obrigatório, e cria um dever. Fortes, (1995), mas a natureza da 
obrigatoriedade moral não reside na exterioridade; pois é moral 
justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a 
necessidade do cumprimento da norma. Mas a obediência a lei 
livremente escolhida não é prisão, ao contrário, é liberdade. Isto é, o 
ser consciente da disciplina e da obediência é um ser livre. A 
consciência moral avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, 
as interioriza como suas ou não, toma decisões e julga seus próprios 
actos. 
 
 
 46 
 
 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa 
A pessoa tem um valor absoluto que não pode ser instrumentalizado 
em função seja de que for. A pessoa não pode ser reduzida a simples 
meio, mas deve ser sempre considerada como um fim em si mesma. É 
a este carácter irrecusável que afirmamos que a pessoa tem um valor 
sagrado e absoluto. 
a)Singularidade 
A singularidade faz com que a pessoa possua uma essência individual 
que a torna única, irrepetível, insubstituível. Jamais existirá um outro 
Sócrates, Platão, o Galilleu igual ou indéntico àquele que conhecemos 
pela história. 
b)Autonomia 
A autonomia é uma propriedade que faz da pessoa o princípio das 
suas acções. Por isso, um ser autónomo é aquele que se rege pela sua 
prória lei. Esta característica confere a pessoa uma dignidade especial. 
Pois é por se sentir autónoma que a pessoa se sente sujeito, isto é, 
uma realidade distinta e superior ao mundo das coisas que a 
circundam. 
Importa referir que, a manifestação mais elevada da autonomia está 
na capacidade de se governar a si mesma, na capacidade de ser lei 
para si mesma, na capacidade do exercício da liberdade e auto - 
determinação. 
c)Abertura 
A abertura significa que apesar de ser um princípio do seu agir, a 
pessoa é um projecto aberto e comunicante: um projecto aberto ao 
mundo que o circunda, um projecto aberto aos outros que descobre 
como coexistente e coactuantes, um projecto aberto ao transcendente 
enquanto possibilidade de encontrar nessa abertura o sentido da vida. 
 
 UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros 
Nesta secção vamos falar em primeiro lugar da relação da pessoa com 
os outros. De seguida trataremos do significado ético desta relação. 
A pessoa é um Ser com os outros. Este é um primeiro dado da 
existência humana. Pois o ser humano vem ao mundo graças e 
mediação de outrem, cresce, vive e colabora com outrém. Esta relação 
com o outro é uma relação constituitiva da própria existência 
individual. Se o ser humano existe então ele está no mundo com os 
outros. 
De acordo com Vidal, (2007) a moralidade e a ética estão intimamente 
 
 47 
 
relacionados com os outros porque o sujeito com os outros, funda 
algum tipo de exiência moral e ética, a destacar: 
 A relação com o outro como concorrente; 
 A relação com o outro como contrato, e; 
 A relação com o outro, com um tu-como-eu, pela reciprocidade 
e harmonia . 
a) A relação com o outro como concorrente: ela depende bastante da 
forma como observamos o outro e do tipo de relação estabelecida. Se 
olhamos para o outro como (alguém alheio a mim), aquele com quem 
não tenho nada a ver, aquele que aparece no meu dia-a-dia como um 
concorrente com quem e contra quem devo competir. Isto é, como 
aquele que dispuda o meu lugar, como adversário e inimigo, então a 
relação com ele será de oposição, disputa, conflito e até mesmo de 
aniquilação. 
Nos dias de hoje é frequente observar que a relação com o outro é de 
oposição e guerra, precisamente porque encara-se o outro como o 
“outro”; estranho, como aquele que não tenho nada a ver. Observe-se 
o nosso dia-a-dia os conflitos, a concorrência desleal entre empresas, 
etc. 
b) A relação com o outro como contrato: esta ralação com o outro 
perspectiva o eu e o outro como apenas indivíduos que estabelecem 
contratos entre si poque não podem sobreviver um sem o outro, e 
porque precisam de encontrar uma forma de assegurar a defesa dos 
seus interesses distintos e antagónicos. 
Esta é uma dimensão individualista em que a relação com o outro tem 
um carácter de uma relação acidental e estratégica. Poranto, segundo 
essa visão eu preciso do outro para poder sobreviver e satisfazer as 
necessidades. Deste modo de relação com o outro ainda não satisfaz a 
dimensão moral ou ética de sermos-uns-com-os-outros. 
c)Relação com o outro, com um tu-como-eu: Esta perspectiva procura 
abordar o outro como um “outro-eu”, com um eu-como-eu, ou seja, 
um tu-como-eu aquém gratuitamente e com prazer concede a 
dignidade de pessoa. Esta relação está cheia de experiências. E, é na 
experiência de acolhimento, de reconhecimento, do amor, da 
amizade, do enamoramento que encontramos a dimensão mais 
profunda da relação com o outro como uma relação positiva e feliz, 
isto é, uma relação com enorme peso moral e ético. 
É nessas experiência que acabamos de referir e outras em que os 
outros tem efectivamente o sentido ético da responsabilidade por nós. 
É só nessa dimensão que encontramos o verdadeiro sentido ético de 
sermos-uns-com-os-outros. Pois, é por detrás do reconhecimento onde 
reside o outro que é um valor, que o outro tem dignidade própria, de 
 
 48 
 
que o outro é um imperativo ético e de que o outro pode assumir 
obrigações morais e arcar com a responsabilidade ética pelo seu bem-
estar e felicidade. 
 
UNIDADE Temática 3.3.3. O significado ético da relação da pessoa 
com os outros 
Nesta secção vamos acentuar o valor ético da pessoa e a sua 
importância na relação com os outros. 
A relação da pessoa com os outros só pode ter significado ético se a 
própria pessoa se apresentar como um valor ético. A pessoa é um fim 
autónomo do universo – porque é racional e livre. Por isso, o valor da 
pessoa emerge nas relações interpessoais. 
É na relação com os outros que a pessoa encontra os vínculos éticos 
mais profundos. Esses vínculos expressam-se de diversos níveis: 
 Em primeiro lugar, como respeito pela pessoa do outro, tal 
como se apresenta no encontro interpessoal. A pessoa é única, 
original, insubstituível. Ela é fim em si mesma e nunca pode ser 
instrumentalizada e reduzida a um simples meio seja do que 
for; 
 Em segundo lugar, a promoção como uma forma de libertação. 
Na relação interpessoal, o outro se apresenta, muitas vezes, 
em estado de alienação: é o pobre, o oprimido, o explorado, o 
esfomeado, o desempregado, etc. Face a estas situações é 
necessário agir sob o risco do significado ético da relação 
pessoal possa ficar reduzida a um mero moralismo forma. Por 
isso, a relação interpessoal é activa, criadora, libertadora. 
Portanto, o valor ético da pessoa é o fundamento de uma ética 
social e é o critério para se decidir sobre os deveres que a 
consciência moral nos impõe. 
 
Depois de termos abordado do significado ético da relação da pessoa 
com o outro, vamos de seguida explicar o problema da experiência do 
dever. 
 
UNIDADE Temática 3.3.3. O dever 
O dever tomado no sigular significado um imperativo que se impõe à 
liberdadecom carácter categórico. Neste sentido, o dever é sinónimo 
de obrigatoriedade moral. “A obrigatoriedade moral é um 
comportamento obrigatório e devido; isto é, o agente é obrigado a 
comporta-se de acordo com uma regra ou norma de acção e a excluir 
ou evitar os actos proibidos por ela”. Vázquez (2006: 179). Por isso, a 
 
 49 
 
obrigatoriedade moral impõe deveres à pessoa. 
Diferentemente dos outros comportamentos normativos, como o 
jurídico, o social, a vontade do agente moral é uma vontade livre. Este 
sujeito moral deve escolher com liberdade entre várias alternativas, as 
normas morais que exigem ser respeitadas por causa de uma 
convicção interior e não, como no direito, e na relação social que 
preconizam uma simples conformidade exterior, impessoal ou 
forçada. 
 
UNIDADE TEMÁTICA 3.3.3.1. A Coação e a Obrigatoriedade Moral 
O comportamento moral se nos apresenta como um comportamento 
livre e obrigatório e não existe um comportamento moral sem a 
liberdade. Costa, (1998). No entanto, a obrigação moral supõe 
necessariamente uma livre escolha. Quando a escolha não existe, da 
parte do sujeito, no caso de rígida determinação causal externa, não é 
admissível exigir do agente uma obrigação moral, já que não pode 
cumpri-la. Mas basta a possibilidade de escolher livremente para que 
se dê tal obrigação. Portanto, a obrigação moral deve ser assumida 
livre e internamente pelo sujeito e não imposta. Por isso, o factor 
pessoal é essencial na obrigação moral. Mas o factor pessoal está 
estreitamente ligado a questão social. Porque só pode haver obrigação 
para um indivíduo quando as suas decisões e os seus actos afectam os 
outros ou a sociedade inteira. A razão é simples, o meu 
comportamento tem repercussão a terceiros, por isso sou obrigado a 
realizar determinados actos e a evitar outros. “ (…) A obrigatoriedade 
moral tem um carácter social, porque se a norma deve ser aceita 
intimamente pelo indivíduo e este deve agir de acordo com sua livre 
escolha ou sua consciência do dever, a decisão pessoal não é algo que 
ele inventa, mas que encontra já estabelecido numa determinada 
sociedade. (…) As fronteiras daquilo que é obrigatório a fazer ou a não 
fazer, do devido ou não devido, não são modificadas pelo indivíduo, 
mas mudam de uma sociedade para outra; logo, o indivíduo decide e 
age no âmbito de uma obrigatoriedade socialmente dada”. (Vázquez, 
2006: 183). 
Esta obrigatoriedade moral transparece da conduta da linguagem 
humana. Todos os homens, em todas as formas culturais, sentem-se 
dirigidos, no seu agir, por normas, regras, leis que impõem a partir de 
interior – sem coacção externa. A obrigatoriedade está expressa na 
voz da consciência que ordena, condena, aprova ou censura o nosso 
agir. 
Inicialmente a obrigação pode identificar-se com a pressão social. 
Pouco a pouco emerge no processo de maturação ética a consciência 
do valor que justifica tal obrigação. Faseadamente, a obrigatoriedade 
 
 50 
 
moral proclama a sua autonomia face à pressão social. Por cima das 
leis do clã, da tribo, da cidade, apresentando-se à consciência leis que 
se impõem ao homem enquanto homem, as leis não escritas, não são 
fruto da pressão social, porque são anteriores à sociedade. No 
entanto, a obrigação moral não pode ser identificada com a pressão 
social, pois, para que a pressão social tenha um significado ético, é 
necessário que ela se apresente como um valor moral e que o sujeito 
sinta a obtigatoriedade de obedecer. 
Mas, não nos esqueçamos que a própria pressão social já pressupõe o 
valor moral, daí que presiste o problema.Um elemento associado a 
obrigação moral gera o remorso. O remorso é um sentimento 
desagradável, que causa mal-estar. Mas se entendermos o remorso 
nesse sentido estaremos fora do campo da moral e do significado 
ético. Então, como devemo entender o remorso? O remorso deve ser 
entendido como um sentimento desagradável que causa mal-estar 
merecido porque o dever foi violado. Somente neste sentido o 
remorso tem significado ético. 
Um outro elemento associado a obrigação moral é a sanção. A sanção 
só tem significado ético qunado justo é merecido. Por isso, a 
obrigatoriedade moral se apresenta como uma necessidade 
verdadeiramente original. É uma necessidade da liberdade. Portanto, 
o dever moral expressa-se no seguinte princípio: “o bem deve fazer-se 
e o mal deve evitar-se”. Este é um princípio abstracto e universal. Mas 
a questão que se coloca é a seguinte: qual é o bem que se deve fazer e 
o mal que se deve evitar? 
Todas as esferas da vida social estão sujeitas a alguns deveres como: 
deveres para connoscos mesmos, deveres para com a família, deveres 
para com os empregados, deveres para com a empresa, para com a 
sociedade, para com o trabalho, para com a vida política,entre outros 
deveres. 
Nesta secção vamos descrever aqueles deveres que nos parecem 
fundamentais para o nosso estudo: o dever para connosco mesmos e 
deveres para com os outros. 
a)Deveres para connosco mesmo 
Antes dos devres para com os outros, existem deveres para connoscos 
mesmo. Cada um de nós, como pessoa, tem o direito e o dever de 
procurar a sua realização integral. Costa, (1998). Assim temos o dever 
de conservar a vida, de manter a integridade física, de desenvolver e 
cultivar a liberdade, a inteligência, de evitar situações em que a 
dignidade humana se degrade. Portanto temos o dever de respeirar 
em nós mesmo o valor absoluto da pessoa humana que somos. 
b)Deveres para com os outros 
 
 51 
 
O outro é uma pessoa que deve ser respeitada e, se possível, amada. 
Costa, (1998). No entanto, temos que nos lembrar que na relação com 
o outro como pessoa implica a afirmação, a promoção e, muitas vezes, 
a libertação. 
Neste sentido, situa-se o dever querer o outro como pessoa, dever de 
promover a sua realização física, espiritual, moral, dever de o libertar 
de situações degradantes de exploração e opressão.Tendo em conta 
estes deveres para connnosco mesmo e para com os outros, podemos 
afirmar que tudo aquilo que atente sobre a dignidade humana, contra 
a vida humana são infâmias por isso a justiça e o amor devem sempre 
ser defendidos seja no quadro legal seja no contratual. 
Para entender o sentido de dever e de ligação do homem a orientação 
normativa de acção, temos de nos remeter ao social: a vida social 
impõe a cada um dos seus membros regras de conduta, modelos que 
vão determinar a acção. As dinâmicas sócio - económicas e políticas 
vão alterando esses modelos ao longo do tempo, verificaremos 
também que correspondem a diferentes concepções e experiências do 
dever. Vidal, (2007). 
No entanto, um aspecto permanece em comum: a conjuntura total da 
sociedade que pressiona o homem a agir de determinado modo, que o 
leva a interiorizar essa pressão e a regular as suas relações com os 
outros. Mas os problemas morais não se esgotam na acção, pois o que 
fundamenta a obrigação e interdição que o homem assume em cada 
época e em cada espaço cultural? 
A experiência moral apresenta-se sob duplo aspecto: desejável porque 
o cumprimento das normas, do bem tem um carácter gratificante; os 
valores quando interiorizados fazem parte de nos mesmos; são 
imanentes à nossa vontade. A experiência moral é imperativa porque 
se nos impõe como autoridade soberana, surge como um dever 
imposto do exterior à nossa consciência. Costa, (1998). 
Assim, o homem fundamenta a sua exigência moral em ideais, valores 
que vão construir-se como referências de acção. Mas há dois modos 
de conceber a acção moral: se dissermos, por exemplo, que 
cumprimos os chamados deveres (não roubo, não as 
responsabilidades, não mentir para conquistar prestigio social, viver 
em segurança, receber considerações em troca) a acção fundamentar-
se-á sobre o elemento de troca – ointeresse; mas se procedemos 
segundo princípios, independentemente de consequências possíveis, 
fundamentamos a acção moral em imperativos não fazendo-a 
depender de nenhum cálculo mediador. 
Para que haja conduta ética é preciso que haja o agente consciente, 
isto é, aquele que conhece a diferença entre o bem e o mal, o certo e 
o errado, o permitido e o proibido, a virtude e o vício. Fortes (1995). A 
consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também 
 
 52 
 
reconhece-se como capaz de julgar o valor dos actos e das condutas e 
de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso 
responsável por suas acções e seus sentimentos e pelas consequências 
do que faz e sente. 
A consciência moral manifesta-se na capacidade para deliberar diante 
de alternativas possíveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de 
alcança-se na acção. A consciência tem a capacidade de avaliar e pesar 
as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as 
consequências para si e para os outros, a conformidade entre meios e 
fins, a obrigação de respeitar o estabelecimento ou transgredi-lo. 
Clotet (2003). 
No entanto, a vontade é o poder deliberativo e decisório do agente 
moral. Para que se exerça tal poder sobre o sujeito moral, a vontade 
deve ser livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro 
nem pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas, ao 
contrário, deve ter poder sobre eles e elas. 
O campo ético é constituído pelos valores e pelas obrigações que 
formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. O 
principal constituinte da exigência ética é o sujeito moral. 
O sujeito ético só pode existir se preencher as seguintes condições de 
acordo com Fortes (1995): 
 Ser consciente de si e dos outros: deve ser capaz de reflectir e 
de reconhecer a existências dos outros como sujeitos iguais a 
ele; 
 Ser dotado de vontade: isto é, deve ter a capacidade para 
controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos 
e de capacidade para deliberar e decidir entre várias 
alternativas possíveis; 
 Ser responsável: isto é, deve ser capaz de reconhecer-se como 
autor da acção, avaliar os efeitos e as consequências dela sobre 
si e sobre os outros, assumindo-as bem como às suas 
consequências, respondendo por elas; 
 Ser livre: isto é, deve ser capaz de oferecer-se como causa 
interna de seus sentimentos, atitudes e acções, por não estar 
submetido a poderes externos. A liberdade não é tanto o poder 
para escolher entre vários possíveis, mas o poder para auto 
determinar-se, dando a si mesmo as regras de conduta. 
O campo ético é constituído por dois pólos internamente 
relacionados: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou 
virtudes éticas. 
Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a ética faz uma 
exigência essencial, qual seja, a diferença entre a passividade e a 
actividade. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus 
 
 53 
 
impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má 
sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um 
outro, não exercendo a sua própria consciência, vontade, liberdade e 
responsabilidade. 
Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como a 
cultura e a sociedade definem para si mesmas, o que julgam ser por 
exemplo, o crime, a violência, a corrupção, o mal, o vício e, como 
contrapartida, o que a mesma sociedade considera ser o bem e a 
virtude. 
Para além do sujeito moral, os valores e os fins morais, o campo ético 
é constituído ainda pelos meios – que o sujeito realiza os fins. Em 
ética, nem todos os meios são justificáveis, mas aqueles que estão de 
acordo com os fins da própria acção. Isto é, fins éticos exigem meios 
éticos. Por isso, a relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa 
moral não exista como um facto dado, mas é instaurada pela vida inter 
- subjectiva e social, precisando ser educada para os valores morais e 
para as virtudes. 
Se observarmos a nossa sociedade notaremos que ela possui códigos 
morais, isto é, um conjunto organizado de normas que prescrevem o 
que é moralmente valioso. E existem determinadas infracções que são 
consideradas reprováveis e condenadas pelos membros da própria 
sociedade. Costa, (1998). Por exemplo: a crueldade, a corrupção, o 
assassínio, entre outros. 
Mas que quer dizer? É que cada sociedade possui uma hierarquização 
normativa que é a expressão do escalonamento dos valores que uma 
sociedade preza. Gracia, (1989). Sendo as normas morais a 
manifestação dos valores morais a gravidade das infracções é aferida 
segundo a importância do valor que por elas é negado. Se damos mais 
valor ao respeito pela vida humana do que ao cumprimento das 
promessas, então o juízo moral acerca do homicídio, por exemplo, 
será mais duro e severo do que a reprovação da desonestidade. 
Por isso, uma norma moral é uma regra de comportamento que 
determina o que devemos fazer ou não fazer para que a nossa acção 
seja moralmente válida ou moralmente valiosa. Neste sentido, 
tomemos como exemplo a Privacidade como um valor, pode exprimir-
se numa norma moral através da qual assume a forma de dever: 
“respeita a privacidade de cada um”. Portanto, os valores aparecem 
como exigências, isto é, como algo que requer um esforço de 
concretização. Portanto, as normas morais são as formas mediante as 
quais uma certa sociedade pretende ver concretizados, vividos, os 
seus valores. 
 
 UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral 
Nesta secção vamos explicar a liberdade como fundamento do agir 
 
 54 
 
moral. 
Entre a liberdade e a moralidade existe uma relação intrínseca que faz 
da liberdade o fundamento do agir moral e deste o resultado e a 
expressão daquela. Um acto moral só pode ser moral se for 
incondicionalmente livre. Para Kant (1988), o acto moral é aquele que 
encontra o fim em sí mesmo, que é absoluto, praticado por obediência 
à lei prática, como o cumprimento do dever. 
A liberdade é a razão de ser da lei moral e a afirmação do sujeito que 
age como pessoa, com boa vontade e que, mesmo agindo por dever, 
age livremente pois obedece à sua própria lei. Por isso, para a 
liberdade é a condição da lei moral e a lei moral é a condição sob a 
qual primeiramente podemos nos tornar conscientes da liberdade. Daí 
que, a liberdade é a razão de ser da lei moral, e esta a razão de 
conhecer da liberdade. Portanto, se a liberdade fundamenta a Lei 
moral, então a lei moral manifesta a liberdade. 
Observemos a relação entre a liberdade e a moralidade, no dizer de 
Kant (1988: 95-96):“Não basta que atribuamos liberdade à nossa 
vontade, seja porque razão for, senão tivermos também razão 
suficiente para a atribuirmos a todos os seres racionais. Pois como a 
moralidade nos serve de lei somente enquanto somos seres racionais, 
tem ela que valer também para todos os seres racionais; e como não 
pode derivar-se senão da propriedade da liberdade, tem que ser 
demonstrada a liberdade como propriedade da vontade de todos os 
seres racionais, e não basta verificá-la por certas supostas experiências 
da natureza humana (se bem que isto seja absolutamente impossível e 
só possa ser demonstrado a priori), mas sim temos que demonstrá-la 
como pertencente à actividade dos seres racionais em geral e dotados 
de uma vontade. Digo, pois: Todo o ser que não pode agir senão sob a 
ideia da liberdade, é por isso mesmo, em sentido prático, 
verdadeiramente livre”. Valem todas as leis que estão 
inseparavelemente ligadas à liberdade, exactamente como se a 
vontade fosse definida como livre em si mesma e de modo válido na 
filosofia teórica. Portanto, todo o ser racional que tem uma vontade 
tem que atribuir-lhe necessariamente a ideia da liberdade, sob a qual 
ele unicamente pode agir. 
Ora é impossível pensarnuma razão que com a sua própria 
consciência recebesse de qualquer outra parte uma direcção a 
respeito dos seus juízos, pois que então o sujeito atribuiria a 
determinação da faculdade de julgar, não à sua razão, mas a um 
impulso. Ela tem de considerar-se a si mesma como autora dos seus 
princípios, independemente de influências estranhas; por conseguinte, 
como razão prática ou como vontade de um ser racional, tem de 
considerar-se a si mesma como livre; isto é, a vontade desse ser só 
pode ser uma vontade própria sob a ideia da liberdade, e, portanto, é 
preciso atribuir, em sentido prático, a tal vontade vinda de todos os 
 
 55 
 
seres racionais. 
 
SUMÁRIO 
A declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das 
Nações Unidas afirma que: “Todos os seres humanos nascem livres e 
iguais e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir 
uns para com os outros em espírito de fraternidade”. 
O que se convencionou chamar de “Direitos Humanos”, são 
exactamente os direitos correspondentes à dignidade dos seres 
humanos. São direitos que possuímos não porque o Estado assim 
decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos, 
por intermédio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais 
pleonástico que isso possa parecer, são direitos que possuímos pelo 
simples facto de que somos “Seres Humanos”. 
Os Direitos Humanos são uma ideia política com base moral e que 
estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça, 
igualdade e democracia. Eles são uma expressão do relacionamento 
que deveria prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre 
indivíduos e Estados. 
Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, 
grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema 
social e económico que essa nação adopta. 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. De entre as alternativas abaixo, escolha a que melhor define os 
direitos humanos. 
a) São direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da 
pessoa humana; 
b) São direitos que visam defender a pessoa sem a dar a devida 
dignidade; 
c) Os direitos Humanos não tem nenhuma relação com a 
dignidade humana; 
d) Todas as alternativas anteriores são correctas. 
2.Faça a correspondência dos espaços em branco com as alternativas a 
baixo apresentadas: 
No final da ------------- no século XIII, aparece a grande figura conhecida 
 
 56 
 
no mundo inteiro, -------------, que tem elevada importância para a 
recuperação do reconhecimento da dignidade essencial da pessoa 
humana. 
a) Modernismo, Aristóteles; 
b) Renascimento, Kant; 
c) Idade média, São Tomás de aquino; 
d) Todas as alternativas anteriores estão correctas. 
3. Tendo em conta a declaração universal dos direitos humanos, é 
correcto afirmar que: 
a) Todos seres humanos são diferentes entre si, por isso os 
direitos humanos vão de acordo com as categorias das 
pessoas; 
b) Todos os seres humanos nascem livres e iguais e em direitos; 
c) Todas as alternativas anteriores são correctas; 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
3. Quanto a relação entre a ciência e os direitos Humanos, é 
correcto afirmar que: 
a) Não é contra os direitos humanos os que, em nome do 
progresso científico de um futuro e incerto benefício da 
humanidade; 
b) É contra os direitos humanos os que, em nome do 
progresso científico de um futuro e incerto benefício da 
humanidade; 
c) Todas as alternativas anteriores estão correctas; 
d) Nenhuma das respostas. 
4. No que concerne aos Direitos humanos, podemos afirmar 
positivamente o seguinte: 
a) Os Direitos Humanos são uma ideia política com base 
imoralidade e que estão intimamente relacionados com 
os conceitos de injustiça; 
b) Os Direitos Humanos não são uma ideia política com base 
moralidade e que estão intimamente relacionados com 
os conceitos de justiça; 
c) Os Direitos Humanos são uma ideia política com base 
moralidade e que estão intimamente relacionados com 
os conceitos de justiça; 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
5. Os direitos Humanos são: 
 
 57 
 
a) Os Direitos Humanos não são universais por isso não 
devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou 
pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema 
social e económico que essa nação adopta. 
b) Os Direitos Humanos são restritos por isso, não devem 
ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou 
pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema 
social e económico que essa nação adopta. 
c) Os Direitos Humanos são restritos por isso devem ser 
reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, 
pobre ou rico, independentemente do sistema social e 
económico que essa nação adopta. 
d) Os Direitos Humanos são universais devem ser 
reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, 
pobre ou rico, independentemente do sistema social e 
económico que essa nação adopta. 
 
 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
1. Qual é a importância dos direitos 
humanos? 
2. Qual foi o papel de Santo Tomás de 
Aquino na consagração de Direitos Humanos? 
3. Qual é a relação entre o exercício 
profissional do psicólogo e domínio dos direitos 
humanos? 
4. Justifique com base num exemplo 
concreto a seguinte afirmação: Praticar actos 
que produzam algum efeito sobre a pessoa 
humana, seja directa ou indirectamente sobre 
ela através de modificações do meio em que ela 
existe, é neste caso reduzir a pessoa a uma 
condição de “coisa” ou “objecto”, retirando dela 
a sua dignidade? 
5. “Todos os homens nascem e 
permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao 
mesmo tempo, admita “distinções sociais”, as 
quais, conforme a Declaração, deveriam ter 
fundamento na “utilidade comum” Costa et al. 
(1998). Fundamente. 
6. “A obrigatoriedade moral é um 
 
 58 
 
comportamento obrigatório e devido”. Vázquez 
(2006: 179). Comente a afirmação. 
 
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO 
1. A 
2. C 
3. B 
4. B 
5. C 
6. D 
TEMA IV: PRINCÍPIOS ÉTICOS 
UNIDADE TEMÁTICA 4.1.Beneficência 
UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência 
UNIDADE Temática 4.3. Autonomia 
UNIDADE Temática 4.4. Justiça 
Introdução 
 
A presente unidade temática dedicar-se-á aos principios éticos, sendo 
uma das unidades temáticas chaves, na medida em que os princípios 
éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e genérico, que 
expõem os grandes conceitos e os principais critérios do campo ético 
pelos quais se orientamas relações humanas. Por esta razão é que no 
final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de: 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Conhecer os principais principios éticos; 
 Conhecer a correlação entre os princípios éticos e a 
actuação profissional; 
 Enquadrar os principais principios éticos e a sua 
correlação com os Direitos Humanos. 
Com o surgimento da Ética, na década de 70, era necessário 
 
 59 
 
estabelecer uma metodologia para analisar os casos concretos e os 
problemas éticos que emergiam na vida prática. 
Beauchamp e James, citados por Costa et al (1998), em 1976 
publicaram um livro denominado “Principles of Ethics”, onde expõem 
uma teoria fundamentada em quatro princípios básicos, que a partir 
de então, torna-se fundamental para o desenvolvimento da Ética e 
ditaria uma forma peculiar de definir e planear os valores envolvidos 
nas relações dos profissionais e seus pacientes. 
É de salientar que estes quatro princípios que servem como regras 
gerais para orientar a tomada de decisão frente aos problemas éticos 
e para ordenar os argumentos nas discussões de casos. 
Os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e 
genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do 
campo ético pelos quais se orientamasrelações humanas. Costa, 
(1998). 
Para que os princípios éticos se efectivem, exige-se a 
responsabilidade nos deveres do ser humano para com o outro e 
todos para com a humanidade. 
O senso de humanidade é inerente e fundamental à Ética. O 
pensamento ético remete ao pensar de forma solidária, assumir uma 
postura íntegra frente ao outro e, consequentemente, frente à 
sociedade e `a natureza. Gracia, (1989). 
Com base nestas colocações, é possível afirmar que, sendo a ética uma 
reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação 
das acções que envolvem a vida e o viver. Nesta perspectiva, podem 
ser destacados os seguintes princípios éticos segundo Silva, (1997): 
Promoção da justiça e da equidade; 
Respeito à dignidade humana; 
Promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral; 
Respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos. 
Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes, pelas quais o 
homem rege o seu comportamento, tendo em vista uma filosofia 
moral dignificante traduzida pela integridade das condutas pessoais, 
pela não -discriminação das pessoas, pelo respeito mútuo e pelo 
tratamento digno. Fortes, (1995). Portanto, os princípios se justificam 
 
 60 
 
em razão de sua capacidade de articular e orientar decisões e acções 
tendo como finalidade, a busca de valores orientada para a realização 
do ideal de vida humana. 
Com o reconhecimento do respeito à dignidade humana, a tem um 
sentido humanista, estabelecendo um vínculo com a justiça. Os 
direitos humanos, decorrentes da condição humana e das 
necessidades fundamentais de toda pessoa humana, referem-se à 
preservação da integridade e da dignidade dos seres humanos e à 
plena realização de sua personalidade. Portanto, a Ética anda aliada 
aos direitos humanos. 
Os princípios éticos anteriormente mencionados referem-se aos 
princípios gerais, estando neles subjacentes outros princípios. Iremos 
nos concentrar nos mais importantes e serão abordados de a seguir. 
 
UNIDADE TEMÁTICA 4.1.Beneficência 
De acordo com Costa et al (1998), a Beneficência no seu significado 
filosófico moral, quer dizer fazer o bem. 
A beneficência assegura o bem-estar das pessoas, agindo 
positivamente quanto aos seus importantes e legítimos interesses, na 
medida do possível evitando-lhes danos. Este princípio se ocupa do 
bem-estar dos pacientes, Grisard (2006). 
A Beneficência, conforme alguns dos autores representativos da 
Filosofia moral que usaram o termo, é uma manifestação da 
Benevolência. A Benevolência tem sido, porém, um conceito bem mais 
utilizado. Os moralistas britânicos dos séculos XVIII e XIX que 
debruçaram especialmente sobre o conceito, destacando-se: 
Shaftesbury, Joseph Butler, Francis Hutcheson, David Hume e Jeemy 
Bentham. Vidal, (2007). 
Butler, por exemplo, diz que existe no homem, de forma primária, um 
princípio natural de benevolência ou da procura e realização do bem 
nos outros e que, do mesmo modo, temos propensão a cuidar da 
nossa própria vida, saúde e bens particulares. Para Costa et al (1998), 
este argumento é considerado como sendo uma crítica à teoria de 
Thomas Hobbes, que defende que, a natureza humana é dominada 
pelas forças do egoísmo e da competição. 
Ora, o egoísmo não é o único dinamismo natural do ser humano, pois 
 
 61 
 
toda a pessoa normal apresenta sentimentos para com os outros seres 
que com ela convivem, por exemplo, a simpatia, gratidão, 
generosidade e benevolência, que impulsionam a prática do que é 
bom para os outros e para o bem público. 
Platão, Aristóteles e Kant, outorgam um papel secundário à 
benevolência, pois priorizam em suas respectivas teorias o papel da 
razão. Para eles, a benevolência, vincada ao sentimento e às paixões 
tende para um protagonismo menor. 
Silva, (1997). Defende que, forma geral, para estes autores, a 
benevolência apresenta as seguintes características: 
É uma disposição emotiva que tenta fazer bem aos outros; 
É uma qualidade boa do carácter das pessoas; 
É uma virtude humana; 
É uma disposição para agir de forma correcta com os demais; 
De forma geral, todos os seres humanos normais a possuem. 
Nas primeiras três décadas do século XX, William David Ross, citado 
por Costa et al (1998), desenvolveu uma ética normativa, conhecida 
como a ética dos deveres num primeiro momento ou numa primeira 
consideração. A ética normativa de Ross apresenta uma lista de 
deveres que têm a particularidade de serem independentes uns dos 
outros, tais como, deveres de deveres da fidelidade, reparação, 
gratidão, justiça, beneficência, aperfeiçoamento pessoal e não 
maleficência. 
Entretanto, poderá alguém de repente encontrar-se diante de dois 
deveres num primeiro momento ou numa primeira consideração ao 
mesmo tempo. Diante do dilema, terá que decidir-se por um dos dois. 
Por esse motivo, podemos afirmar claramente que o dever num 
primeiro momento ou numa primeira consideração, ainda que muito 
importante ou incontestável, não tem carácter absoluto. Este dever 
refere-se a uma situação moral determinada, é um dever que deve ser 
cumprido, a não ser que entre em conflito com um dever igual ou mais 
forte. O mesmo caso ou problema em questão poderia também ser 
considerado sob influência ou condicionamento de um outro tipo de 
dever. 
Por exemplo, na prática profissional quando se trata da situação de 
 
 62 
 
amputação de um membro de um indivíduo, sempre devemos, numa 
primeira consideração não causar mal ao paciente, como ter que 
mutilá-lo. Mas nesta situação, o dever mais importante será manter a 
vida, mesmo que com a qualidade inferior, ou seja, para manter o 
indivíduo vivo é inevitável que se ampute um dos seus membros, caso 
contrário o indivíduo poderá morrer. 
Depois de tudo exposto, vale a pena destacar: a beneficência, sob 
nome de benevolência, como sendo um dos elementos exponenciais 
da filosofia moral Britânica dos séculos XVIII e XIX e de grande 
repercussão na Ética. Onde Beneficência tanto a Não - Maleficência 
constitui deveres independentes e condicionais (ou não absolutos), 
conforme a classificação de Ross. 
Para Costa et al (1998), o princípio da beneficência tem como regra 
norteadora da prática médica, odontológica, psicológica e da 
enfermagem, entre outras, do paciente, o seu bem-estar e seus 
interesses, de acordo com os critérios do bem fornecidos pela 
Medicina, Odontologia, Psicologia e Enfermagem. 
Fundamenta-se no princípio da beneficência a imagem que perdurou 
do médico ao longo da história, e que está fundada na tradição 
Hipocrática “usarei o tratamento para o bem dos enfermos, segundo 
minha capacidade e juízo, mas nunca para fazer o mal e a injustiça”. 
(Costa; 1998). A Beneficência tem sido associada à excelência 
profissional desde os tempos da medicina grega e esta expressa no 
juramento acima apresentado por Hipócrates. 
Hipócrates é considerado por muitos, uma das figuras mais 
importantes da história da saúde, frequentemente considerado "Pai 
Da Medicina". Era um asclepíade, isto é, membro de uma família que 
durante várias gerações praticara os cuidados em saúde. 
O princípio da benevolência tenta num primeiro momento a 
promoção da saúde e prevenção da doença e, em segundo lugar, pesa 
os bens e os males buscando a prevalência do bem. O exercício 
profissional das pessoas tem uma finalidade moral, implícita em todo 
o seu agir, entendida principalmente em termos de benevolência. 
Gracia, (1989). 
Os profissionais procuram o bem-estar do paciente conforme o que 
entendem que pode ser bom no caso ou situação apresentada. 
A benevolência no seu sentido estrito deve ser entendida, conforme o 
 
 63 
 
Relatório Belmont, como uma dupla obrigação, primeiramente a de 
não causar danos e, em segundolugar, a de maximizar o número de 
possíveis benefícios minimizando os prejuízos. 
No Relatório Belmont, focalizado na protecção dos seres humanos na 
pesquisa médica e na pesquisa sobre a conduta, as obrigações de 
benevolência são próprias dos pesquisadores em particular e da 
sociedade de forma geral, pois esta deve zelar sobre os riscos e 
benefícios decorrentes das pesquisas sobre a humanidade. 
É evidente que o médico e demais profissionais de saúde não podem 
exercer o princípio da benevolência de modo absoluto. A benevolência 
tem também os seus limites, o primeiro dos quais é a dignidade 
individual intrínseca a todo ser humano. 
Falando de benevolência, é importante acrescentar que é difícil poder 
demonstrar claramente onde fica o limite entre a beneficência como 
obrigação ou dever e beneficência como ideal ético que deve animar a 
consciência moral de qualquer profissional. 
Além disso, ainda que o princípio da beneficência seja 
importantíssimo, ele próprio torna-se incapaz de demonstrar que a 
decisão do profissional de saúde deve sempre anular a decisão do 
paciente, sendo essa uma característica dos deveres num primeiro 
momento ou deveres numa primeira consideração. Essa constitui uma 
das razões pelas quais foi afirmado que eles não são absolutos, mas 
sim condicionais ou dependentes da situação ou ponto de vista com 
que são afirmados. 
Existe uma série de situações na prática do profissional de saúde, nas 
quais o princípio da beneficência deve ser aplicado com cautela de 
modo a não prejudicar o paciente ou as pessoas que com ele se 
relacionam, ou seja, seus familiares Silva, (1997). 
Assim: 
No caso de um determinado tratamento, quando é que devemos dizer 
a verdade e como dizer a verdade? 
Até quando aliviar o sofrimento do paciente? 
Em que medida a autonomia do paciente está sendo respeitada? 
No caso de recusa do tratamento pelo paciente, deve o médico intervir 
quando as consequências serem mortais para o paciente, como na 
 
 64 
 
necessidade de transfusão de um paciente crente (Testemunhas de 
Jeová)? 
O que fazer perante um paciente adulto incapaz? 
Perante o exposto, é importante acrescentar que o princípio da 
beneficência pode motivar e justificar o uso de uma determinada 
técnica médica em benefício de uma certa comunidade, ou de 
indivíduos pertencentes a uma determinada região ou pais. Neste 
caso, dizer a verdade ao paciente ou aos seus familiares constitui uma 
ameaça ou uma ajuda à autonomia do paciente? 
Atenção, sob o aspecto de beneficência, de forma geral, dizer a 
verdade contribuiria para uma tomada de decisões conscientes e 
devidamente fundamentadas no que se refere ao tratamento, à 
administração de bens, às relações humanas, ao sentido da vida e 
possíveis crenças religiosas. 
A beneficência, como já foi dito, quer dizer o fazer o bem. De uma 
maneira prática, isto significa que os profissionais de saúde, psicólogos 
entre outros profissionais, têm a obrigação moral de agir para o 
benefício do outro, neste caso específico, o paciente ou cliente. 
Este conceito, quando é utilizado na área de cuidado de saúde, que 
engloba todas as profissões das ciências biomédicas, significa fazer o 
que é melhor para o paciente ou cliente, não só do ponto de vista 
técnico - assistencial, mas também do ponto de vista ético. Fortes, 
(1995). É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais ao 
serviço do paciente, considerando na tomada de decisão a 
minimização dos riscos e a maximização dos benefícios do 
procedimento a realizar. 
Uma coisa está patente, o princípio da beneficência obriga o 
profissional de saúde a ir mais além da Não - Maleficência (não causar 
danos intencionalmente) e exige que o mesmo contribua 
significativamente para o bem-estar dos seus pacientes, promovendo 
acções visíveis, tais como: 
De modo a prevenir e remover o mal ou dano, entendido neste caso 
como doença e incapacidade; 
De modo a fazer o bem, entendido aqui como a saúde física, emocional 
e mental. 
A beneficência requer neste caso, acções positivas ou seja, é 
 
 65 
 
necessário que o profissional da área actue em virtude de beneficiar o 
seu paciente. Além disso, é preciso avaliar a utilidade do acto, pesando 
nos benefícios versus riscos e/ou custos. 
 
 
 
UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência 
As origens do princípio da Não - Maleficência, remontam também à 
tradição Hipocrática: “cria o hábito de duas coisas: socorrer ou, ao 
menos, não causar danos” (Costa et al, 1998). 
Para Grisard (2006), o princípio da Não - Maleficência obriga o 
profissional a minimizar o mal às pessoas e, sempre que possível, 
remover completamente as causas de dano. 
Beauchamp e Childress, citados por Costa et al (1998), reclassificaram 
a Não - Maleficência ou obrigação de não causar danos, e beneficência 
ou obrigação de prevenir danos, retirar danos e promover o bem-estar 
dos sujeitos. As exigências mais comuns da Lei e da moralidade não 
consistem na prestação de serviços senão em restrições, expressas 
geralmente de forma negativa, por exemplo, não roubar. 
Na maioria das vezes, o princípio de Não - Maleficência envolve 
abstenção, já o princípio da beneficência requer acção concreta Silva, 
(1997). Nem sempre o princípio da Não - Maleficência é entendido 
correctamente, pois a sua prioridade pode ser questionada. Na prática 
da medicina pode, por vezes, causar danos para a obtenção de um 
benefício maior. 
Os próprios pacientes seriam os primeiros a questionar a prioridade 
moral da beneficência. Vidal, (2007). Por exemplo, um paciente com 
cancro num dos braços, ele poderá perder, como forma de salvar a sua 
vida. Um paciente com uma doença grave deverá submeter-se a 
diversos riscos, incluindo possivelmente a possibilidade de ficar estéril, 
de modo a ter uma chance razoável de sobrevivência. É evidente que o 
interesse principal não é nem cortar o braço nem a esterilidade, mas 
sim, garantir a plena saúde geral do paciente. 
Estes são casos típicos da denominada teoria moral do duplo efeito e 
recomenda-se portanto, que nos diversos casos, que se examine 
 
 66 
 
conjuntamente os princípios da beneficência e da Não - Maleficência. 
Não sendo assim, está claro que os médicos se recusariam a intervir 
sempre que houvesse um risco ameaçador e grave. Mais uma coisa é 
clara, a dor ou dano causado a um paciente, uma vida humana só 
poderia ser justificada pelo profissional de saúde, no caso de ser o 
próprio paciente a primeira pessoa beneficiada. 
Devem passar a segundo ou terceiro plano os benefícios para os 
outros pacientes ou a sociedade em geral, o primeiro beneficiário 
deve ser sempre o paciente, isto é algo incontestável. 
Convém observar que o princípio “não causar danos” nem sempre tem 
sido interpretado da mesma forma, mudando neste caso de acordo 
com as diversas circunstâncias históricas e as instituições. Tem 
acontecido, às vezes, que o interesse primeiro dos profissionais, 
principalmente na área de saúde tem sido não causar danos à 
profissão para manter a boa imagem da mesma perante a sociedade. 
O conceito, “não causar danos”, é utilizado frequentemente como 
uma exigência moral da profissão, que se não cumprido, coloca o 
profissional de saúde numa situação de má prática negligente da 
medicina ou das demais profissões da área biomédica. Gracia, (1989). 
De acordo com o princípio da Não - Maleficência, o profissional de 
saúde tem o dever de, intencionalmente, não causar mal e/ou danos a 
seu paciente. Considerando por muitos como princípio fundamental 
da tradição hipocrática da ética médica. 
A Não - Maleficência tem importância porque, muitas vezes, o risco de 
causar danos é inseparável de uma acção ou procedimento que está 
moralmente indicado. Vidal, (2007). No exercício da medicina,este 
facto é muito comum, pois quase toda intervenção diagnóstica ou 
terapêutica envolve o risco do dano. Por exemplo, uma simples 
retirada de sangue para realizar um teste diagnóstico tem o risco de 
causar hemorragia no local. De ponto de vista ético, este dano pode 
estar justificado se o benefício esperado com o resultado deste exame, 
for maior que o risco de hemorragia. 
A intenção do procedimento, é beneficiar o paciente e não causar-lhe 
o sangramento no seu corpo Quanto maior o risco de causar dano, 
maior e mais justificado deve ser o objectivo do procedimento para 
que este possa ser considerado um acto eticamente correcto. 
 
 67 
 
 
UNIDADE 4.3. Autonomia 
Um dos problemas fundamentais na relação entre o profissional e o 
paciente ou cliente centra-se na tomada de decisão, principalmente 
no que se refere aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. 
O dilema geralmente se impõe nas várias situações, como por 
exemplo: 
A decisão deve ser do profissional preparado na arte de curar e que 
melhor conhece os convenientes e inconvenientes de cada conduta, 
ou seja, aquele que sabe mais? 
Ou do paciente/cliente, porque é o dono do seu próprio destino e, 
portanto, deve decidir o que quer para si? 
Este ponto crucial das discussões éticas implica na formulação de 
outras questões tais como: 
Qual deve ser a postura do médico ou profissional de saúde no que se 
refere ao esclarecimento do paciente? 
Deve contar-lhe com detalhes o diagnóstico e o prognóstico, bem 
como as condutas diagnósticas e terapêuticas? 
Deve, sempre, obter do paciente o consentimento para a realização 
dessas condutas? 
De acordo com Costa et al (1998), autonomia é um termo derivado do 
grego “auto” (próprio) e “nomos” (lei, regra, norma). Significa auto 
governo, autodeterminação da pessoa de tomar decisões que afectem 
sua vida, sua saúde, sua integridade física e psíquica, suas relações 
sociais. Refere-se neste caso, a capacidade de o ser humano decidir o 
que é “bom”, ou o que é seu “bem-estar”. 
O princípio da autonomia constitui a denominação mais comum pela 
qual é conhecido o princípio do respeito às pessoas, este exige que 
aceitemos, que elas auto – determinem – se, ou sejam autónomas, 
quer na sua escolha, quer nos seus actos. Este princípio requer que o 
profissional respeite a vontade do paciente ou do seu representante, 
bem como seus valores morais e crenças. O mesmo reconhece o 
domínio do paciente sobre a própria vida e o respeito à sua intimidade 
(Grisard; 2006), Desta forma, podemos entender também que a 
autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar 
algo que ela julga ser importante e melhor para si mesma, aquilo que 
ela julga ser importante para o seu bem-estar. 
As condições para se exercer esta autodeterminação são as seguintes: 
 
 68 
 
Capacidade de agir intencionalmente, o que pressupõe compreensão, 
razão e deliberação para poder decidir com alguma autoridade, 
coerência entre as alternativas que se apresentam; 
Liberdade no sentido de estar livre de qualquer influência controladora 
para a tomada de decisão. 
O respeito, a autonomia significa acima de tudo ter a consciência 
deste direito do indivíduo possuir um projecto de vida próprio, de 
apresentar seus pontos de vista e suas convicções. Fortes, (1995). 
Deste modo, respeitar a autonomia, constitui em última análise, 
preservar os direitos fundamentais do homem, aceitando o pluralismo 
ético-social que existe na actualidade. 
A pessoa autónoma é aquela que tem a liberdade de pensamento, é 
livre de coacções internas ou externas para poder escolher as 
alternativas que lhe são apresentadas. Vidal, (2007). 
Para que exista uma acção autónoma, isto é, liberdade de decidir, ou 
optar, é também necessária a existência de alternativas de acção ou 
que seja possível que o agente as crie, pois se existe apenas um único 
caminho a ser seguido, uma única forma de algo ser realizado, isto faz 
com que não haja autonomia. 
Além da liberdade de opção, o acto autónomo também pressupõe 
haver liberdade de acção, requer que a pessoa seja capaz de agir 
conforme as suas escolhas e suas decisões. Logo, quando não se 
verifica liberdade de pensamento, nem opções, quando se tem apenas 
uma única alternativa de escolha, esta acção empreendida não pode 
ser julgada autónoma. 
Salientar que, o respeito pela autonomia da pessoa conjuga-se com o 
princípio da dignidade humana, aceitando que o ser humano é um fim 
em si mesmo, não somente um meio de satisfação de interesses de 
terceiros, comerciais, industriais ou dos próprios profissionais e 
serviços de saúde. Portanto, respeitar a pessoa autónoma pressupõe a 
aceitação do pluralismo ético-social, característico do tempo. 
A autonomia expressa-se como princípio de liberdade moral, que pode 
ser desta forma formulado: 
Todo ser humano é agente moral autónomo e como tal deve ser 
respeitado por todos os que mantém as posições morais distintas 
Nenhuma moral pode impor-se aos seres humanos contra os ditames 
de sua consciência. 
Certamente que não se deve esperar que a autonomia individual seja 
total, completa. Visto que, a autonomia completa constitui um ideal. 
Longe de se imaginar que a liberdade individual possa ser total, que 
não existam nas relações sociais forte grau de controlo, de 
 
 69 
 
condicionamentos e restrições à acção individual. Mas, se o homem 
não é um ser totalmente autónomo isto necessariamente não significa 
que sua vida esteja totalmente determinada por emoções, factores 
económicos e sociais ou influências religiosas. 
Apesar de todos os condicionantes, o ser humano pode se mover 
dentro de uma margem própria de decisão e acção. O ser humano não 
nasce autónomo, torna-se autónomo e para isto contribuem variáveis 
estruturais biológicas, psíquicas e socioculturais. Porém, existem 
pessoas que, de forma transitória ou permanente, têm a sua 
autonomia reduzida, como por exemplos as crianças, os sujeitos 
portadores de perturbação mental e do comportamento, sujeitos sob 
intoxicação, sob efeito de drogas e em estado de coma. 
Um sujeito autónomo pode agir não automaticamente em 
determinadas circunstâncias. Por isso, a avaliação de sua livre 
manifestação decisória é uma das mais complexas questões éticas 
impostas aos profissionais de saúde. Gracia (1989). 
Importa referir que, desordens como alterações físicas, podem reduzir 
a autonomia do paciente, podendo neste caso, comprometer a 
apreciação e a racionalidade das decisões a serem tomadas. Nas 
situações de autonomia reduzida, cabe a terceiros, familiares ou 
mesmo aos profissionais de saúde decidirem pelo indivíduo não 
autónomo. 
O conceito legal de competência está intimamente relacionado ao 
conceito de autonomia. Geralmente não se costuma questionar a 
competência de decisão de um paciente quando a sua decisão 
concorda com as dos profissionais de saúde. Ao contrário, somente 
quando a sua decisão não está em concordância com a dos 
profissionais, como no caso de recusa em submeter-se a um 
determinado procedimento que foi indicado pelos profissionais, aí é 
que a questão da validade da decisão é questionada. 
O julgamento de competência e incompetência de uma determinada 
pessoa, deve ser dirigido a cada acção particular e não a todas as 
decisões que a pessoa deve tomar em sua vida, mesmo com aqueles 
indivíduos legalmente considerados como incompetentes. 
No âmbito legal, presume-se que um adulto é competente até que o 
Poder Judiciário o considere incompetente e restrinja os seus direitos 
civis, mas no campo da ética raramente se julga uma pessoa de 
incompetente com respeito a todas as esferas de sua vida. Mesmo 
indivíduos que são considerados incapazes para certas decisões ou 
para certos campos de actuação, são competentes para decidir sobre 
algo em outras circunstâncias. 
Na prática assistencial, o princípioda autonomia tem sido aquele que 
obriga o profissional de saúde a disponibilizar para o paciente a mais 
 
 70 
 
completa informação possível, com intuito de promover uma 
compreensão adequada do problema, condição essencial para que o 
paciente possa tomar uma decisão mais consciente. 
 
UNIDADE Temática 4.4. Justiça 
Este princípio ético resume-se na perspectiva da justiça distributiva, 
impondo a distribuição equitativa dos benefícios decorrentes da 
participação da pesquisa por todos os participantes e os demais Silva, 
(1997). 
Para Grisard (2006), o princípio da justiça preceitua a equidade na 
distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da 
medicina ou das actividades na área da saúde. Assim como o princípio 
da autonomia é atribuído ao paciente e o da beneficência ao médico, 
o princípio da justiça pode ser postulado, além das pessoas vinculadas 
à assistência médica directa (médico, enfermeiro, familiares e 
pacientes), por terceiros como sociedades de defesa dos direitos das 
crianças e da vida. 
De acordo com Costa et al (1998), por um longo período da história da 
humanidade, prevaleceu a ideia da Lei natural como norma das 
relações entre os seres humanos. Somente na modernidade a justiça 
deixou de ser concebida como condição natural e se transformou em 
decisão moral. 
No que se refere a justiça, ouve uma evolução como valor intrínseco 
de uma Lei natural para um bem decidido em termos de um contracto 
social. Este novo pacto passou a ditar normas de relação entre o 
súbito e o soberano não mais pela submissão, mas sim por uma 
decisão livre. O homem comum agora desconsidera a lei natural como 
fonte autêntica de poder e impõe sua decisão moral como única e 
exclusiva norma de justiça. 
No final do século XVII, pode-se destacar Jonh Lock que descreveu 
como direitos primários de todo o ser humano os seguintes: direito à 
vida, direito à saúde, direito à integridade física, direito à liberdade e à 
propriedade. Clotet, (2003). Está claro que no campo da saúde, este 
novo enfoque trouxe mudanças significativas. 
O Princípio da Justiça é normalmente interpretado através da visão da 
justiça distributiva. A perspectiva da justiça compensatória não é 
muito utilizada pelos diferentes autores da área da Ética. 
 A justiça distributiva é uma questão de tratamento comparativo 
de indivíduos. Vidal, (2007). Podemos considerar de injustiça, se num 
caso em que havendo dois indivíduos semelhantes, em condições 
semelhantes, o tratamento dado a um fosse pior ou melhor do que o 
 
 71 
 
dado ao outro indivíduo nas mesmas circunstâncias, aí estaríamos 
perante um caso de plena injustiça. O problema por solucionar é saber 
quais as regras de distribuição ou de tratamento comparativo em que 
devemos apoiar nosso agir. 
Numerosos critérios foram propostos, tais como: a justiça considera 
nas pessoas as virtudes ou méritos; a justiça trata os seres humanos 
como iguais, no sentido de distribuir os benefícios igualmente entre 
eles, a justiça trata as pessoas de acordo com suas necessidades, suas 
capacidades ou tomando em consideração tanto umas quanto outras. 
O Relatório Belmont colocava a seguinte ponderação ao respeito do 
princípio da justiça: 
Quem deve receber os benefícios da pesquisa e os riscos que ela 
acarreta? 
Esta é uma questão de justiça, no sentido de “distribuição justa” ou “o 
que é merecido”. 
Neste caso, podemos verificar que uma injustiça ocorre quando um 
benefício que uma pessoa merece é negado sem uma boa razão, ou 
quando algum encargo lhe é imposto indevidamente. 
Todos os indivíduos são iguais e devem ser tratados com equidade ou 
igualdade. Vidal, 2007). Existem muitas formulações amplamente 
aceites de como distribuir os benefícios e os encargos aos indivíduos, 
de modo a que evitemos a injustiça. Cada uma delas faz alusão a 
algumas propriedades relevantes sobre as quais os benefícios e 
encargos devam ser distribuídos. 
Por exemplo: 
Atribuir a cada pessoa uma parte igual do que exista; 
Atribuir a cada pessoa de acordo com a sua necessidade; 
 Atribuir os benefícios a cada pessoa de acordo com o seu esforço 
individual; 
Atribuir os benefícios a cada pessoa de acordo com a sua contribuição 
à sociedade; 
Atribuir a cada pessoa os benefícios de acordo com o seu mérito. 
No que se refere aos princípios éticos relacionados à saúde pública, 
destacamos os seguintes: 
 
Promoção da justiça e da equidade nas populações; 
 
 72 
 
Respeito à dignidade humana; 
Promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral; 
Respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos. 
 
Neste caso, considera-se injusta e não ética a frequente utilização de 
pesquisados provenientes de camadas mais desfavorecidas que não 
poderão se beneficiar dos resultantes positivos das pesquisas em que 
tomaram parte. Tal pode ampliar as condições de iniquidade 
existentes nas sociedades. 
Atenção! Para casos similares, deve haver justificativas éticas na 
utilização de usuários de serviços públicos, de pessoas e grupos sociais 
vulneráveis, de modo a evitar injustiças. Existem populações que são 
maioritariamente vulneráveis e necessitam de protecção especial, às 
necessidades particulares destas populações. 
Importa referir que é injusto recrutar selectivamente pessoas para 
participar como sujeitos de pesquisa simplesmente porque elas são 
pessoas de baixa renda, e sendo assim, elas tornam-se mais fáceis de 
serem manipuladas e induzidas a aceitar em troca de ganhos 
modestos. Na medida em que, as pesquisas com seres humanos 
envolvem risco (biológicos, psíquicos e sociais) e o dano eventual 
poderá ser imediato ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a 
colectividade. 
De acordo com a declaração de helsinki - 1964/2000, citado por Silva, 
(1997). Alguns princípios básicos devem ser seguidas em pesquisas ou 
investigações com seres humanos, dentre elas destacam-se as 
seguintes: 
É dever do pesquisador/investigador proteger a vida, a saúde, a 
dignidade e a integridade do ser humano; 
O projecto de pesquisa, métodos e técnicas devem atender a 
protocolos experimentais reconhecidos, apoiar-se em profundo 
conhecimento da literatura e ser aprovado por um Comité de Ética em 
Pesquisa; 
Avaliar riscos e benefícios, a importância do objectivo deve ser maior 
que o risco ao sujeito de pesquisa; 
Ser realizada por um profissional qualificado com comprovativos; 
Existir possibilidade de benefício para a população em geral; 
Os indivíduos devem ser voluntários livres, esclarecidos e protegidos 
na sua individualidade e confidencialidade das informações que 
 
 73 
 
fornecem no âmbito da pesquisa; 
Cuidados especiais com sujeitos em relação de dependência. 
 
 
SUMÁRIO 
Os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e 
genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do 
campo ético pelos quais se orientamas relações humanas. Com base 
nestas colocações, é possível afirmar que, sendo a ética uma reflexão 
compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das 
acções que envolvem a vida e o viver. 
Nesta perspectiva, podem ser destacados os seguintes princípios 
éticos, tais como: promoção da justiça e da equidade, respeito à 
dignidade humana, promoção do bem-estar dos indivíduos e da 
população em geral e respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos, 
sendo a ética uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar 
sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver. 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. Os princípios éticos tiveram o seu advento, com a publicação 
do livro denominado “Principles of Ethics em: 
a) 1876 
b) 1976 
c) 1976 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
2. De entre as alternativas abaixo, qual é a que melhor explica a 
importância dos princípioséticos? 
a) Servem como dogma na tomada de decisão frente aos 
problemas éticos; 
b) Servem como regras contraditórias na orientar a tomada de 
decisão frente aos problemas éticos; 
c) Servem como regras gerais que só atrapalham no processo de 
tomada de decisão frente aos problemas éticos; 
d) Servem como regras gerais para orientar a tomada de decisão 
 
 74 
 
frente aos problemas éticos. 
 
3. Tendo em conta os princípios éticos, é correcto afirmar que: 
a) Ética uma reflexão compartilhada, complexa e 
interdisciplinar sobre a adequação das acções que 
envolvem a vida e o viver; 
b) Ética uma reflexão simples e interdisciplinar sobre a 
adequação das acções que envolvem a vida e o viver. 
c) Ética não é uma reflexão compartilhada, complexa e 
interdisciplinar sobre a adequação das acções que 
envolvem a vida e o viver. 
d) Nenhuma das alternativas anteriores. 
 
4. Quanto ao princípio da beneficência, é correcto afirmar que: 
a) A Beneficência é uma manifestação da Benevolência; 
b) A Beneficência não tem uma correlação coma a 
Benevolência; 
c) A Beneficência não depende da Benevolência; 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
5. Tendo em conta o princípio da não – maleficência é correcto 
afirmar o seguinte: 
a) Obriga o profissional a minimizar o mal às pessoas e, 
sempre que possível, remover completamente as 
causas de dano; 
b) Obriga o profissional a maximizar o mal às pessoas e, 
sempre que possível, remover completamente as 
causas de dano; 
c) Obriga o profissional a anotar o mal às pessoas e, 
sempre que possível, remover completamente as 
causas de dano; 
d) Nenhuma das respostas. 
6. Tendo em conta o principio da autonomia, é correcto afirmar 
que: 
a) Este princípio requer que o profissional respeite os 
princípios profissionais; 
b) Este princípio requer que o profissional não respeite a 
vontade do paciente ou do seu representante, tenha 
apenas em conta o que aprendeu no seu curso 
enquanto ciência, se não a vida não anda; 
 
 75 
 
c) Este princípio requer que o profissional respeite a 
vontade do paciente ou do seu representante 
d) Nenhuma das respostas anteriores 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
 
1. Justifique com base num exemplo a seguinte afirmação! E faça 
uma crítica a mesma. “Os grupos socioeconomicamente 
vulneráveis, os mais desprovidos de recursos, têm menos 
alternativas de escolha em suas vidas, o que geralmente vai afectar 
o desenvolvimento do seu potencial de ampla autonomia”. 
Demonstre através de exemplos concretos o valor do termo 
consentimento livre e esclarecido para os indivíduos. 
2. Comente! O princípio da justiça exige ou preceitua a equidade na 
distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da 
medicina ou das actividades na área da saúde, bem como noutras 
áreas. 
3. Existem situações na prática médica nas quais o princípio da 
beneficência deve ser aplicado com cautela, de modo a não 
prejudicar o paciente ou as pessoas que com ele se relacionam. 
4. De acordo com o estudado, aponte a importância da aplicação dos 
princípios da beneficência e Não - Maleficência para o paciente e 
seus familiares. 
5. Na sua opinião, qual destes princípios (beneficência e Não - 
Maleficência) será o mais importante na prática profissional? 
Fundamente 
6. Defina sujeito ético. 
7. 
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO 
1. B 
2. D 
3. A 
4. A 
5. C 
6. C 
 
 
 
 76 
 
TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL 
UNIDADE Temática 5.1. Definição e Caracterização da Deontologia e da 
Profissão 
UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia 
UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional 
UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética 
UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas 
UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código 
UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética 
UNIDADE Temática 5.4.2.1.Códigos Formais 
UNIDADE Temática 5.4.2.1.1. Códigos de Profissões Cognatas 
UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum 
UNIDADE TEMÁTICA 5.6. Virtudes Profissionais 
UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade 
 
Introdução 
A deontologia profissional é importante para a harmonia social, na medida 
em que é com base na deontologia profissional que um bom atendimento 
ao paciente acontece. A ética profissional tem como princípio a 
imparcialidade, a empatia, a compreensão, a benevolência, a seriedade, o 
sigilo, o rigor, o zelo, a diplomacia entre outras virtudes éticas que ajudam 
o paciente/cliente, a entidade empregadora, os colegas de trabalho e a 
sociedade em geral. 
No campo profissional muitas vezes o profissional depara-se com 
informações confidenciais relativas à vida dos pacientes ou clientes. Por 
outro lado, exigem do profissional atitudes e comportamentos para zelar 
pelo bom nome da instituição, do próprio profissional e respeitar a vida 
humana. 
Salientar que o trabalho é de natureza social, na medida em que, trabalha-
se com o objectivo de servir alguém, seja paciente ou cliente. Por isso, na 
sua actuação, o profissional deve ter sempre um pensamento social. Isto é, 
um pensamento virado para a harmonia, na medida em que o trabalho é 
um dever social, não apenas pelo que se produz em termos de serviços ou 
produtos. A profissão é, acima de tudo, um dever social. Portanto, o 
profissional deve ter consciência do impacto positivo ou negativo que a sua 
 
 77 
 
actuação pode trazer para a sociedade no geral. 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Definir confidencialidade e privacidade; 
 Descrever a confidencialidade e a privacidade na actividade 
profissional; 
 Apresentar o papel do profissional na sua actuação; 
 Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em 
contextos concretos; 
 Alistar os princípios éticos na actuação profissional. 
 
A ética profissional tem como premissa o melhor relacionamento do 
profissional com os seus clientes e com outros profissionais, levando em 
conta valores como a dignidade humana, auto-realização e sociabilidade 
(Silva e Seroai, 1998: 78). 
 
O profissional deve estar em contínua relação com o código de ética, que 
pode ser entendido como uma relação de práticas de comportamento que 
se espera que sejam observadas no exercício da profissão. O código de ética 
tem como objectivo habilitar o profissional a adoptar uma atitude pessoal, 
de acordo com os princípios éticos. Tais princípios dizem respeito à 
responsabilidade perante a sociedade e para com os deveres da profissão. 
 
No código de ética profissional são detalhados os conceitos básicos 
relacionados com os direitos e deveres dentro de uma profissão e que sejam 
cumpridos. Estabelecido o Código de Ética, cada profissional deve 
subordinar-se sob pena de incorrer em transgressão, punível pelo órgão 
competente, incumbido de fiscalizar o exercício profissional. Tal código 
assume um papel relevante na garantia da qualidade dos serviços 
prestados, bem como na conduta profissional. 
 
Em condições normais a profissão tem um carácter benéfico para quem a 
exerce e ao mesmo tempo está dirigida a outros, que também se verão 
beneficiados. Na essência, a profissão tem como finalidade o bem comum e 
o interesse público (Kotler, 1997). Portanto, a actividade profissional deve 
ser desenvolvida de maneira estável e honesta em interacção com outros, 
em conformidade com a própria vocação e respeitando a dignidade da 
pessoa humana. 
Todas as profissões têm como raiz o processo da divisão do trabalho. 
Entretanto, todo o trabalho deve ser digno, merecer um profundo respeito e 
tem que ser retribuído de forma justa. 
Com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sob o auspício das 
 
 78 
 
Nações Unidas, podem ser consideradosos seguintes artigos (23 e 24) em 
torno da dignidade do trabalho: 
Artigo 23.1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do seu 
trabalho, às condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção 
contra o desemprego. 
2. Toda a pessoa tem direito, sem discriminação alguma, a salário igual por 
igual trabalho. 
3. Toda a pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e 
satisfatória, que assegure a si como à sua família uma existência conforme a 
dignidade humana e que será completada, em casos necessários, por 
qualquer outro meio de protecção social. 
4. Todas as pessoas têm direito a fundar sindicatos e a sindicar-se para a 
defesa dos seus interesses. 
Artigo 24. Toda pessoa tem direito ao descanso, ao desfrute dos tempos 
livre, a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas 
pagas. 
Os direitos humanos implicam uma ética porque sempre se relacionam de 
uma forma ou de outra com os seres humanos: umas de formas indirectas, 
nomeadamente as actividades que têm a ver com objectos como a 
construção de pontes e edifícios, a reparação de automóveis, de 
equipamentos, entre outros. Outras, com exigências mais acentuadas 
porque têm como referência o homem. Assim, algumas profissões 
relacionam-se directamente com os seres humanos, como é o caso de 
professores, educadores, psicólogos, médicos, juristas, gestores, entre 
outros. Para estas profissões é mais evidentes as implicações éticas da sua 
profissão, porque devem cuidar os seus semelhantes não como um objecto, 
mas como pessoa (Kotler, 1997). Por isso, a liberdade, a consciência e a 
responsabilidade são pressupostos básicos e necessários para a efectivação 
da consciência moral e da experiência ética. É por isso que todo a actividade 
profissional é revestida de uma dimensão ética. Portanto, o profissional 
pode ser chamado a explicar-se e a justificar-se, abrindo a possibilidade de 
um julgamento por uma instância exterior ao sujeito da acção, que pode ser 
uma instituição ou a própria comunidade. De facto, toda a acção profissional 
é dirigida de alguém para alguém, tendo em vista o bem-estar da sociedade. 
E é nesta característica da acção que existe uma relação intrínseca entre a 
responsabilidade pelas acções praticadas e a ética, especialmente no campo 
profissional. 
 
 
UNIDADE Temática 5.1. Definição e Caracterização da Deontologia e da Profissão 
Na presente secção vamos descrever algumas definições sobre a profissão. 
 
 79 
 
Uma profissão define-se, entre outros aspectos, como uma prática 
constante de um ofício ou um exercício habitual de uma tarefa ao serviço 
dos outros. (Silva et al, 1998). Observemos como este autor caracteriza 
alguns aspectos que envolvem o exercício profissional: 
 A profissão tem, além de utilidade para o indivíduo, uma 
expressão social e moral; 
 Em quase todas as profissões liberais existe um grande valor 
social. O que varia é a sua forma de actuação e a natureza 
qualitativa dos serviços perante as necessidades humanas; 
 A profissão traz benefícios recíprocos aquém a prática e aquém 
a recebe. Nesta relação implica sempre uma conduta ligada aos 
princípios éticos específicos. 
 
O Estado e a sociedade, com as suas instituições, grupos, classes e 
indivíduos, criam deveres éticos específicos e definem a conduta 
relativa a cada um, o que não significa que as obrigações éticas se 
confundem com as obrigações legais, impostas pelo poder do Estado 
ou do Direito. Por isso, a reflexão sobre as acções realizadas no 
exercício de uma profissão devem iniciar bem antes da prática 
profissional. 
A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência, já deve 
ser permeada por esta reflexão. A escolha de uma profissão é, por 
vezes, uma questão de opção. Mas ao escolhê-la, seja em que 
circunstância for, o conjunto de deveres para com essa profissão 
passam a ser obrigatórios. Geralmente, escolhe-se a carreira 
profissional sem conhecer o conjunto de deveres que estão presentes 
(Kotler, 1997). Assim, em toda a fase de formação profissional, a 
aprendizagem das competências e habilidades referentes a prática 
específica numa determinada área, deve incluir uma reflexão. Ao 
completar a formação no nível superior a pessoa faz um juramento, 
que significa a sua adesão e comprometimento com a categoria 
profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto 
moral da chamada Ética Profissional. Esta adesão voluntária a um 
conjunto de regras estabelecidas constitui a forma mais adequada 
para o exercício profissional. 
A reflexão do exercício profissional que temos vindo a abordar deve 
comportar as seguintes questões: 
 Estou sendo um bom profissional? 
 Estou a agir adequadamente? 
 Realizo correctamente a minha actividade? 
 
Sabemos que a conduta humana pode tender ao egoísmo, isto é, para 
os interesses puramente individuais. Para deixarem de ser egoístas, os 
interesses do profissional devem estar alinhados à sociedade. Para tal 
é preciso que se acomode a norma, porque estas devem estar 
 
 80 
 
apoiadas em princípios e virtudes. Com as atitudes virtuosas podemos 
garantir o bem comum. Daí que a ética tem sido o caminho justo, 
adequado para o benefício geral, ao voltar-se para a reflexão das 
normas que possam guiar a nossa conduta para o bem comum. Por 
outro lado, a conduta profissional pode tornar-se agressiva e 
inconveniente e esta é uma das fortes razões pelas quais os códigos de 
ética quase sempre buscam maior abrangência, de modo a inibir tais 
comportamentos inadequados ao exercício da profissão. Daí que a 
ética de cada profissão depende dos deveres ou da “deontologia ” que 
cada profissional aplica aos casos concretos que se podem apresentar 
no âmbito pessoal ou social. 
Na presente secção vamos definir o conceito de deontologia (ética 
profissional) bem como a sua relação com a profissão. 
De acordo com Silva et al (1998), podemos definir Deontologia como 
sendo o estudo do dever e das obrigações Mas antes de irmos ao 
pormenor desta definição, façamos uma reflexão usando a via 
etimológica. 
Etimologicamente, Deontologia é uma palavra de origem grega de 
Néon - o necessário, o conveniente, o devido, o obrigatório; e lógia – 
estudo ou conhecimento. Portanto, a Deontologia é um conjunto de 
comportamentos exigidos aos profissionais que muitas vezes não 
estão codificados numa regulamentação jurídica. 
Neste sentido, a deontologia é uma ética profissional de obrigações 
práticas, baseadas numa acção livre da pessoa, no seu carácter moral, 
carente de uma legislação pública. Por outro lado, ela seria um 
tribunal que julga a actuação do profissional no exercício das suas 
actividades. 
A deontologia traduz o cumprimento dos deveres que se apresentam a 
cada um na posição que ocupa na vida profissional, e que estão 
presentes como um compromisso na consciência moral, com respeito 
à profissão. Entretanto, a ética profissional traduz um campo de 
estudo em relação directa com a Filosofia, disciplina que 
historicamente lhe deu origem e alimenta a discussão sobre a Moral e 
os fundamentos da acção humana; bem com o Direito, uma vez que é 
ele quem orienta a relação com a normatividade das acções, 
transformadas em leis ou códigos, e dispõe sobre a distribuição da 
justiça aos envolvidos em conflitos de toda ordem. 
 
UNIDADE Temática 5.2. Origem Do Conceito Deontologia 
Como referimos na secção anterior, o conceito deontologia provém do 
grego doem, defuntos, dever e lotos - tratado, ciência. 
 
 81 
 
No entanto o vocábulo entrou em uso quando Bentham deu a sua 
Science of morality de 1834, o título de deontology. Para Bentham 
(1834), deontologia era a sua doutrina utilitarista dos deveres. Depois, 
o conceito de Deontologia foi usado especialmente para designar as 
doutrinas sobre determinadas classes de deveres, relativos a 
profissõesou situações sociais. 
A deontologia é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma 
realidade específica. Se ainda se recorda, na unidade I vimos que a 
ética é uma só. No entanto, por questões didácticas ela pode ser 
dividida em ética geral e aplicada. A deontologia é uma ética aplicada. 
Por isso podemos encontrar uma deontologia para médicos, 
economistas, psicólogos, agrónomos, gestores 
O vocábulo deontologia também significa o obrigatório, o justo, o 
adequado. Portanto, a Deontologia pode ser definida como sendo a 
ciência que estabelece normas directoras das actividades profissionais 
sob o signo de rectidão moral ou honestidade, estabelecendo o bem a 
fazer e o mal a evitar, no exercício de uma profissão. Portanto, a 
deontologia profissional elabora sistematicamente os ideais e as 
normas que devem orientar a actividade profissional. 
UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão 
De acordo com Hitt (1990), cada profissão tem uma deontologia que 
deve ter o seguinte esquema básico de conduta profissional: 
a)Na área da profissão 
A deontologia prevê como norma fundamental, nomeadamente zelar 
pela competência e honestidade pelo bom nome ou reputação da 
profissão, na busca honesta comprometida pelo bem da sociedade, 
através dos meios que essa profissão proporciona. 
b)Na área da ordem profissional: 
Na relação com os seus pares e colegas da profissão deve-se criar um 
culto de lealdade e solidariedade profissional evitando críticas 
levianas, competição e concorrência desleal; de toda e qualquer acção 
dos colegas e sem nunca ferir a verdade, a justiça, ou a moral. Assim, 
as máfias, pactos de silêncio e sociedades secretas não são necessários 
para o exercício profissional. 
c)Na área dos clientes, usuários profissionais: 
Esta área diz respeito aos que são usuários dos serviços profissionais. 
Nela encontramos 3 (três) normas fundamentais: 
 Execução íntegra do serviço conforme o combinado com o usuário: 
sempre que o pedido seja moralmente lícito no plano objectivo e 
não vá contra o bem comum ou de terceiros ou do próprio 
solicitante, o profissional deve esclarecer o cliente, mostrando as 
inconveniências existentes e os procedimentos para melhor 
execução. Posteriormente pode deixar o cliente decidir e assumir 
 
 82 
 
toda a responsabilidade pelas consequências, excepto se houver 
prejuízos ao bem comum ou a terceiros; 
 A remuneração justa: o valor cobrado a um cliente deve ser 
idêntico ao cobrado a todos os clientes. Contundo, nada impede 
que se prestem serviços a menor preço ou mesmo gratuitamente, 
em casos de necessidade financeira do usuário; 
 O Sigilo Profissional: o que se vem a conhecer do íntimo e pessoal 
no exercício da profissão faz parte do segredo confiado e só se 
pode usar para melhor prestação de serviços e não para outros 
fins. Exceptuam-se situações graves e urgentes, de perigo para o 
cliente, para si, para terceiros ou para o bem comum. A título de 
exemplo, as informações prestadas durante uma consulta a um 
médico, a um advogado ou a um psicólogo têm um carácter 
confidencial. 
 
Podemos concluir que, sendo a ética inerente à vida humana, a sua 
importância é bastante evidenciada na vida profissional. Cada 
profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades 
sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. A ética é ainda 
importante porque na acção humana o fazer e o agir estão 
interligados. O fazer diz respeito à competência e à eficiência que todo 
profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir 
refere-se à conduta do profissional, isto é, ao conjunto de atitudes que 
deve assumir no desempenho de sua profissão. 
UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional 
A Ética Profissional estuda e regula o relacionamento do profissional 
com o seu cliente, utente, paciente ou usuário, visando a dignidade 
humana e a construção do bem-estar no contexto sociocultural onde 
exerce sua profissão. Sendo a ética inerente à vida humana, a sua 
importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada 
profissional tem responsabilidades individuais e sociais que envolvem 
pessoas que dela se beneficiam. 
Na sociedade actual, lamentavelmente, o sucesso económico passou a 
ser a medida de todas as coisas. Apenas a riqueza e o poder contam e 
separam os vencedores dos vencidos. As pessoas tendem a ser 
materialistas e individualistas e, por isso, menos responsáveis e 
solidárias (Kotler, 1997). Neste contexto, muitos gestores de empresas 
ingenuamente, pensam que para a ética ocorrer dentro de uma 
empresa, basta distribuir folhetos contendo um código que todos 
magicamente seguirão. Para exercê-la no contexto empresarial, mais 
do que palavras, é necessária acção. 
 
Pensar em ética é pensar de forma, antes de tudo, reflexiva. É não se 
sentar em cima de respostas prontas. Para viver eticamente em 
qualquer ambiente é preciso primeiro mergulhar dentro de si mesmo, 
assumir as escolhas e lutar por um mundo melhor. Acreditar que a 
 
 83 
 
felicidade é possível, já que esse é o objectivo maior da ética. 
 
É do interesse das empresas agir sempre de maneira ética. Todos os 
melhores funcionários e fornecedores, tenderão a preferir as 
empresas com melhores princípios éticos. E os clientes que têm 
critério, que sabem escolher, dificilmente serão leais a um produto de 
menor qualidade, ou a um serviço que seja pouco eficiente. A ética 
está directamente relacionada com valores morais, com o bem e o 
mal, o que é certo ou errado. Entretanto, de acordo com Nash (1993) 
existem muitas razões para a recente promoção da ética no 
pensamento empresarial. Os administradores percebem os altos 
custos impostos pelos escândalos nas empresas: multas pesadas, 
quebra da rotina normal, baixo moral dos empregados, aumento da 
rotatividade, dificuldades de recrutamento, fraude interna e perda de 
confiança pública na reputação da empresa. 
 
UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética 
Na presente secção vamos reflectir acerca do processo da 
formalização ética. Para resolver contradições e outras situações entre 
organizações ou mesmo entre pares há necessidade de uma 
formalização ética. 
A formalização ética aparece como o sinal mais evidente de 
compromisso de boa conduta assumida por uma organização (Marcier, 
2003). É essencialmente uma via de reafirmação da liderança que nela 
encontra o meio de clarificar certos problemas e de realizar o seu 
velho sonho de convergência dos fins da organização. 
Passemos então à definição: 
A formalização ética “consiste em colocar explicitamente por escrito os 
ideais, os valores, os princípios e as prescrições de uma organização, 
enunciando os seus valores e comportando uma dimensão ética” (Silva 
t al, 1998). 
A formalização ética é um veículo muito importante para estabelecer 
princípios éticos. Entretanto na prática profissional, o comportamento 
ético é directamente afectado pelo clima ético2 que reina na 
organização. Todavia, as influências do clima sobre as decisões 
dependem de duas dimensões: 
 
2 Clima ético é a percepção compartilhada dos empregados sobre os padrões éticos – 
valores, práticas e procedimentos – da empresa organização ou instituição, e como 
eles são aplicados no relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na 
interacção dela com os seus stakeholders (parte interessada ou interveniente). Reflecte 
tanto o conteúdo moral das decisões — o que deve ser feito – quanto o processo e a 
prática de tais decisões — como deve ser feito. 
 
 84 
 
 Do conteúdo: as normas que se ligam ao comportamento ético 
e os comportamentos que são aceitáveis ou não; 
 Da sua forma ou poder: do grau de controlo que exerce sobre o 
comportamento. 
São vários os factores que contribuem para comportamentos nãoéticos: 
 Comportamento dos superiores; 
 Comportamento dos colegas na organização; 
 Práticas éticas em vigor na profissão; 
 Clima moral da sociedade; 
 Política formal da organização; 
 Necessidade financeira pessoal. 
 
UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas 
O processo de formalização ética envolve o conhecimento das infra-
estruturas éticas. 
A infra-estrutura ética: é uma combinação de processos e estruturas 
organizacionais que em conjunto constituem o requisito mínimo para 
o compromisso ético genuíno. (Silva et al, 1998). 
Existem três (3) constituintes básicos a saber: 
 O código; 
 A comissão; 
 A carta dos clientes. 
 
UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código 
Depois de termos apresentado na secção anterior as infra-estruturas 
éticas, em seguida iremos reflectir sobre cada uma delas. 
Um código de ética profissional é um conjunto de princípios que 
encoraja ou proíbe certas condutas profissionais. Os códigos de ética 
são prescrições normativas que justificam certos objectivos e padrões 
de comportamento. Todas as profissões têm princípios éticos acerca 
do meio apropriado para os profissionais se comportarem em relação 
ao público e a cada colega (Arruda at.al, 2000). Portanto, o código 
constitui uma garantia de explicação dos preceitos éticos. Por isso, não 
se pode infringir um código que não existe. 
O código de ética adquire um mérito adicional quando +e precedido 
por discussões sérias que promovam a compreensão e reforcem o 
 
 85 
 
compromisso relativamente a princípios acordados. Daí que muitos 
códigos são denominados códigos de conduta, isto é, lidando com o 
que se deve fazer. Porém, os códigos são derivações da mente 
humana e uma imposição ao colectivo. Eles partilham os diferentes 
valores que os proponentes lhes atribuem. A necessidade de tais 
normas deriva de um fracasso da boa vontade. Se todos gostassem do 
próximo como de si mesmos e se comportassem segundo os princípios 
mais elevados, os códigos pouco seriam necessários. 
 
Tipos de Códigos de Ética 
Os códigos de ética apresentam diversas características a destacar: um 
código deve ser formal, de qualidade fixa, de limitação espacial, de 
limitação temporal e códigos de profissões cognatas. 
 
Códigos Formais 
Usam-se códigos formais para se captar e codificar a experiência. Estes 
fazem uma declaração de princípios que se destinam a servir de linhas 
de orientação para acções éticas (Marcier, 2003). A sociedade opera 
em dois códigos: um corresponde às leis, estatutos e regulações 
formais; o outro corresponde ao nosso discernimento social informal e 
mais geral. Quando alguém infringe as regras informais pensamos nas 
sanções legais que podem ser aplicadas. 
Os códigos de ética têm de ser de qualidade fixa. De nada valeria 
dispor de uma série de códigos de penitência variável. Imaginem uma 
organização de profissionais (ex: gestores, psicólogos com diversas 
divisões). Seria bastante inadequado que uma das divisões fosse 
orientada por um conjunto de regras, enquanto uma outra aplicasse 
um conjunto diferente e menos restrita de normas éticas. Tal prática 
equivaleria a uma utilização cínica da ética como expediente. Contudo 
temos reconhecer que os princípios que afectam a psicologia clínica 
não são relevantes para a psicologia organizacional (Arruda et. al, 
2000). Nestes casos, há princípios prevalentes e princípios de 
orientação subordinados exclusivamente a determinadas profissões. O 
que é perfeitamente aceitável. Não é aceitável a noção de normas 
artificiais. 
Uma questão importante é a de saber se os princípios éticos devem ou 
não ser limitados pelo tempo ou circunstância. Será que é possível 
tomar uma decisão ética sem referência ao contexto social? Fora do 
espaço cultural, consideremos como exemplos: o trabalho numa 
organização em que o ponto de referência organizacional pode não 
ser consistente com o código profissional; locais que defendem um 
ponto de vista minoritário (como clubes homossexuais de sexo único). 
Importa referir que os princípios éticos se aplicam mais no longo prazo 
 
 86 
 
do que no curto., Uma vez que o comportamento ético é bom para o 
negócio da profissão. O comportamento ético não afecta o benefício 
imediato, mas as perspectivas a longo prazo. As pessoas têm memória 
mais duradoura para os comportamentos mais extraordinários, 
nomeadamente para as boas acções e para o comportamento mal-
intencionado. Aqueles que se comportam bem são lembrados por um 
tempo extraordinariamente longo. Aqueles que se comportam mal 
descobrem em tempos posteriores que o céu se torna escuro quando 
a poeira assenta, isto é, colhem sempre resultados amargos em traça 
do seu mal comportamento. 
O comportamento ético destina-se ao longo curso. Portanto, o recém-
chegado à prática privada não sobreviverá à margem de um código de 
ética. Planear ou gerir uma prática exige uma consideração da ética, 
tanto quanto exige a consideração dum planeamento financeiro 
(Arruda et.al, 2000). 
A moralidade e a ética distinguem-se de diversas formas: a moralidade 
traduz um conjunto penetrativo de valores; A ética é a formalização de 
princípios para orientar o comportamento e aplicável a grupos ou 
circunstâncias particulares, como psicólogos lidando com clientes. 
 
UNIDADE Temática 5.4.2.1.1. Códigos de Profissões Cognatas 
(profissões do mesmo ramo, ou seja, profissões de áreas comuns, 
como por exemplo: médicos, enfermeiros, psicólogos, psiquiatras) 
Também temos Códigos de Profissões Cognatas: há profissões que 
trabalham estreitamente com diversos ramos da economia. 
 
UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum 
Na presente secção vamos falar acerca do que existe de comum nos 
códigos de conduta profissional para psicólogos. 
Os códigos de conduta profissionais para psicólogos têm muito em 
comum, qualquer que seja o país de origem. A diferença mais notável 
é o grau relativo de abrangência. Notemos que a obra de Kultgen 
(1988 apud Francis, 2004) apresenta uma análise das características 
comuns dos códigos. Os códigos de ética apresentam as seguintes 
características comuns: 
 Competência; objectividade; e honestidade relativa a 
qualificações; 
 Lealdade para com o cliente, empregador ou instituição, 
evitamento de conflitos de interesses e de suborno; 
 Direitos territoriais de colegas; cooperação; atribuição de 
 
 87 
 
crédito adequado; competição justa; 
 Supervisão de colegas; denúncias de conduta imprópria; 
prevenção de práticas não autorizadas; 
 Protecção da honra e dignidade da profissão; divulgação dos 
seus méritos; 
 Evitamento de danos a terceiros, ao público, ao ambiente; 
 Alargamento do conhecimento; investigação; publicação 
 Não exploração de clientes, estudantes, sujeitos de 
investigação e animais; 
 Veracidade nas declarações públicas; 
 Envolvimento em actividades comunitárias não relacionadas 
com a profissão; 
 Desenvolvimento profissional contínuo; 
 Disponibilização dos serviços àqueles que deles necessitam. 
 
UNIDADE TEMÁTICA 5.6. Virtudes Profissionais 
Todos devemos ser éticos tanto na vida profissional como familiar, 
entre outras relações em sociedade, que nada mais é do que ser 
honesto, responsável pela nossa conduta. Daí que ser ético é viver 
sempre com a consciência tranquila. Actuar eticamente vai muito além 
de não roubar ou não defraudar a empresa, pois, qualquer decisão 
ética tem por trás um conjunto de valores fundamentais a ter em 
conta. De acordo com Velasquez (1998), a ética envolve os seguintes 
valores: 
 
a) Honestidade: é a conduta que obriga ao respeito e à lealdade para 
com o bem de terceiros. Um profissional comprometido com a 
ética não se deixa corromper em nenhum ambiente, ainda que 
seja obrigado a viver e conviver com ele. A honestidade deve ser 
praticada também na competição, isto é, todas as promoçõesde 
vendas devem seguir os princípios de honestidade na competição, 
baseando-se pelo respeito aos concorrentes, consoante 
naturalmente aceito no mundo dos negócios e em respeito à Lei; 
b) Coragem: ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a defender-
se dignamente quando está consciente de seu dever. Ajuda a não 
ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente 
quando estas forem de real interesse para outrem ou para o bem 
comum. Significa ainda ousar tomar decisões indispensáveis e 
importantes, para a eficiência do trabalho, sem levar em conta a 
opinião da maioria; 
c) Humildade: a humildade dá ao profissional a possibilidade de 
 
 88 
 
crescer. Só assim o profissional consegue ouvir o que os outros 
têm a dizer e reconhecer que o sucesso individual é resultado do 
trabalho da equipa. O profissional precisa de ser humilde para 
admitir que não é dono da verdade e que o bom senso e a 
inteligência são propriedades de um grande número de pessoas. 
Portanto, representa a auto-análise que todo o profissional deve 
praticar em função de sua actividade profissional, a fim de 
reconhecer melhor as suas limitações. Trata-se de buscar a 
colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver esta 
necessidade e dispor-se a aprender, numa busca constante de 
aperfeiçoamento; 
d) A honestidade: está relacionada com a confiança que nos é 
depositada, com a responsabilidade perante o bem de terceiros e a 
manutenção de seus direitos. É muito fácil cair na falta de 
honestidade quando existe a fascinação pelos lucros rápidos, 
privilégios e benefícios fáceis, ou pelo enriquecimento ilícito em 
cargos que outorgam autoridade. Portanto, a honestidade é a 
primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não 
admite relatividade, tolerância; 
e) Sigilo: é a completa reserva quanto a tudo o que se sabe e que lhe 
é revelado ou o que veio a saber por força da execução do 
trabalho; O respeito pela vida das pessoas, dos negócios ou das 
empresas deve ser desenvolvido na formação nos profissionais, 
pois trata-se de algo muito importante. Uma informação sigilosa é 
algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é 
obrigatória. Revelar detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos 
locais de trabalhos, em geral, nada interessa a terceiros. Por outro 
lado, existe o agravante de que planos e projectos de uma 
empresa ainda não colocados em prática possam ser copiados e 
colocados no mercado pela concorrência, antes que a empresa 
tenha tido oportunidade de lançá-los. Por outro lado, documentos, 
registos contáveis, planos de marketing, pesquisas científicas, 
hábitos pessoais, entre outros, devem ser mantidos em sigilo e a 
sua revelação pode representar sérios problemas para a empresa 
ou para os clientes do profissional. 
f) Integridade: é agir dentro dos seus princípios éticos, seja em 
momentos de instabilidade financeira, seja na hora de apresentar 
óptimas soluções; 
g) Tolerância e Flexibilidade: Um óptimo profissional é aquele que 
ouve as pessoas e avalia as situações sem preconceitos. 
h) Legalidade: todos os lucros devem estar de acordo com a lei. Estes 
princípios são estabelecidos para complementar os controles legais 
e não para substituí-los. 
i) Interesses do Consumidor: Todas as acções do Marketing 
Promocional devem ser honestas, respeitando a integridade do 
 
 89 
 
consumidor, e devem ser vistas como tal. Nenhuma pessoa 
engajada na promoção deve abusar da boa-fé do consumidor ou 
explorar as técnicas, meios e instrumentos promocionais em seu 
detrimento. 
j) Satisfação do Consumidor: Todas e quaisquer acções 
promocionais devem ser planificadas e implementadas de tal 
maneira a evitar quaisquer frustrações dos consumidores. 
k) Imparcialidade: Todo os planos e projectos promocionais que 
envolvem competições devem prever total imparcialidade no 
julgamento, sem preconceitos de raça, credo ou religião, 
permitindo a todos os participantes, indistintamente, 
equanimidade de participação. 
l) Interesse Público: as promoções de vendas não podem conflituar 
com o interesse público, evitando-se ser demasiadamente 
provocante, conter estímulo à violência ou comportamento anti-
social, prejuízo para a propriedade ou causar incómodo ou insulto 
a qualquer cidadão. 
m) Veracidade: a apresentação da promoção deve ser clara, honesta, 
fácil de entender, contendo sempre todos os dados principais de 
participação, aqueles a quem se destina. 
n) Limitações: todo e qualquer facto que possa interferir na decisão 
de participar ou não de uma promoção, deve ser claramente 
comunicado ao interessado, e de tal maneira que este possa 
avaliar antes de se submeter a qualquer compra de bens, ideias ou 
serviços. 
o) Dignidade: O que se defende aqui é que quando há um conflito 
entre a questão do tratamento da pessoa como meio para um fim 
e o seu tratamento como um fim em si mesma, o último princípio 
deve prevalecer. Muitas vezes vemos os clientes/pacientes 
individuais como um meio para assegurar o nosso modo de vida 
profissional. Em posições em que interesses do cliente/pacientes 
estejam em conflito com maiores lucros, devem tratar os 
interesses do cliente/pacientes como prevalecentes. Os 
clientes/pacientes não existem para fornecer sustento, mas para 
serem ajudados. Este caso é um exemplo primo da resolução de 
conflitos e de interesses. Um exemplo simultâneo de conduta 
incorrecta e de comportamento não ético seria ridicularizar 
alguém que se tivesse acabado de fazer uma confidência 
profissional. Por isso é necessário notar que a cortesia é parte 
essencial do tratamento digno das pessoas. 
p) Privacidade: a privacidade do consumidor deve ser protegida e as 
promoções devem ser implementadas respeitando-se o direito dos 
consumidores a terem razoável privacidade, e evitando-se que 
estes tenham quaisquer problemas ou aborrecimentos. O 
Promotor não pode fazer uso do nome, endereço e imagem do 
 
 90 
 
consumidor na divulgação dos resultados das promoções, sem sua 
expressa autorização, salvo nos casos em que claramente fique 
estabelecido que ao participar da promoção, ele autoriza 
automaticamente o uso de seu nome e imagem. Promotores que 
usam listagens contendo nomes de consumidores devem 
assegurar que estas listas sejam correctas, eliminando o nome do 
consumidor que requisitar sua exclusão; 
q) Perseverança: É uma qualidade difícil de encontrar, mas 
necessária, pois todo o trabalho está sujeito a incompreensões, 
insucessos e fracassos que precisam ser superados, prosseguindo o 
profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou 
mágoas. 
r) Prudência: Todo o trabalho, para ser executando, exige muita 
segurança. A prudência faz com que o profissional analise 
situações complexas e difíceis com mais facilidade e de forma mais 
profunda e minuciosa, o que contribui para a maior segurança, 
principalmente das decisões. A prudência é indispensável 
principalmente nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os 
julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis; 
s) Sinceridade: a essência da sinceridade é que as coisas devem ser o 
que pretendem ser e não serem escondidas. Este princípio deve 
ser honrado, mas não necessariamente em todo o particular, a 
atitude “eu sei o que é melhor”, implica sérios perigos. O conselho 
é ser sincero e honesto, a menos que haja uma razão muito forte 
para não o fazer. A sinceridade está ligada à privacidade, a que 
todos os códigos fazem menção, precisamente porque toda a 
pessoa tem direito à privacidade pessoal, salvo em circunstâncias 
especiais (por exemplo, quando o cliente solicita a divulgação ou 
quando imposto por Lei); 
t) Preços, Ofertas, Vantagens, Descontos: as ofertas, as condições 
de vantagens e descontos, assim como as condições de preço e 
pagamento devem assegurar informações suficientemente claras, 
correctas, precisas, semsugerir dubiedade de interpretações pelos 
consumidores, e obedecendo-se rigidamente à legislação do País. 
 
Os deveres de uma profissão são obrigatórios. Devem ser levadas em 
conta as qualidades pessoais que também concorrem para o 
enriquecimento de sua actuação profissional, algumas delas 
facilitando o exercício da profissão. Muitas dessas qualidades poderão 
ser adquiridas com esforço e boa vontade, aumentando neste caso o 
mérito do profissional que, no decorrer da sua actividade profissional, 
consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las 
ao lado dos deveres profissionais. 
 
 
 91 
 
UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade 
A privacidade neste caso limita o acesso às informações de um 
determinado paciente, à sua intimidade. Ela representa a garantia à 
preservação do seu anonimato e do seu resguardo. Por outro lado, a 
confidencialidade é a garantia do resguardo das informações dadas 
pessoalmente em confiança e a protecção contra a sua revelação não 
autorizada. 
De acordo com Costa et al. (1998), no Juramento de Hipócrates já se 
afirmava: "qualquer coisa que eu veja ou ouça, profissional ou 
privadamente, que deva não ser divulgada, conservará em segredo e 
não contarei a ninguém". 
O direito à privacidade não se extingue com a morte do indivíduo. 
Portanto, a confidencialidade é um dever que todos os profissionais de 
saúde devem observar e manter mesmo após a morte do paciente. 
Numa pesquisa, por exemplo, são utilizados dados constantes em 
questionários, entrevistas, processos e bases de dados para um fim 
específico. Essas informações não deverão ser utilizadas para outros 
fins. 
A confidencialidade, embora uns dos preceitos morais mais antigos da 
prática médica, continua a ser um tema extremamente actual no 
exercício da relação dos profissionais de saúde com os seus pacientes. 
Salientar que, a confidencialidade se refere à responsabilidade sobre 
as informações recebidas ou obtidas em exames e observações, no 
caso de pesquisa por exemplo, por parte de um pesquisador e sua 
equipe em relação a dados pessoais do sujeito. E, por sua vez, a 
privacidade deriva da autonomia e engloba a intimidade da vida 
privada, a honra das pessoas, significando que a pessoa tem direito de 
limitar a exposição do seu corpo, da sua imagem, dados de um 
processo, julgamentos expressos em questionários, etc. (Manual 
operacional para comités de ética em pesquisa, 2007). 
 
De acordo com Eduards (1988, citado por Costa et al., 1998) não é 
difícil para um profissional de saúde entender que a confidencialidade 
é um dos pilares fundamentais à sustentação de uma relação de 
confiança com um paciente. É esta garantia que faz com que os 
pacientes procurem auxílio profissional quando necessitam, sem medo 
de repercussões económicas ou sociais, que possam advir de seu 
estado de saúde. 
As informações fornecidas pelos pacientes, em postos de saúde ou 
consultórios privados, bem como os resultados de exames e 
procedimentos realizados com finalidade diagnóstica ou terapêutica, 
são de sua propriedade. 
Importa referir que o pesquisador deve estabelecer e salvaguardar de 
forma segura a confidencialidade dos dados de pesquisa. Por exemplo: 
 
 92 
 
os indivíduos participantes devem ser informados dos limites da 
capacidade do pesquisador em salvaguardar a confidencialidade e das 
possíveis consequências da quebra da mesma. Se a pesquisas 
envolverem dados institucionais deve-se, da mesma forma, preservar 
a privacidade e confidencialidade. 
Os profissionais, em especial de saúde, que entram em contacto com 
as informações dos pacientes têm apenas autorização para o acesso às 
mesmas em função de sua necessidade profissional, mas não o direito 
a usá-las livremente. Dessa forma, os profissionais somente deverão 
ter acesso às informações que, efectivamente, contribuam ao 
atendimento do paciente. 
 
Para Costa et al. (1998), a garantia da preservação do segredo das 
informações, além de uma obrigação legal contida no Código Penal e 
na maioria dos Códigos de Ética profissional, é um dever de todos os 
profissionais, e das instituições. Este conceito foi proposto por David 
Ross (1930). Ele propunha que não há, nem pode haver, regras sem 
excepção. 
De acordo com Costa et al. (1998), a preservação das informações é 
um compromisso de todos e para todos. Portanto, existe a 
necessidade de os profissionais de saúde protegerem as populações 
vulneráveis através de políticas claras sobre o uso das informações 
geradas ao longo de seu atendimento pelo sistema de saúde. 
 
Muitos autores e códigos utilizam indistintamente o termo sigilo. A 
palavra sigilo pode ter o significado de mera ocultação ou de 
preservação de informações. Os segredos dizem respeito à intimidade 
da pessoa, deve ser mantido e preservado adequadamente. A palavra 
sigilo tem sido cada vez menos utilizada. A sua utilização em diferentes 
idiomas tem caracterizado cada vez mais os aspectos de ocultação e 
menos os de preservação. 
A omissão de informações é uma situação que permite verificar a 
diferença entre segredo e sigilo. Não são raras situações em que, 
familiares de pacientes, solicitam aos médicos que omitam 
informações ou mintam aos mesmos, principalmente na situação de 
diagnóstico de doenças malignas. Neste caso, o médico estará 
mantendo uma informação em sigilo, quando deveria comunicá-la a 
quem de direito. Muitas das vezes, observa-se que os pacientes 
também pedem para que os médicos omitam ou mintam para as suas 
famílias, por variados motivos. 
Importa referir que, a segunda circunstância, em que o profissional de 
saúde recebe o pedido para omitir informações ao pedido do paciente, 
pode ser encarada como um claro exercício de sua autonomia, 
preservando sua intimidade e segredos. A primeira solicitação, mentir, 
pode constituir-se num acto eticamente inadequado. Recomenda-se 
aos profissionais de saúde que tenham nestas situações muita 
prudência ao abordar os seus familiares. Portanto, este deverá 
entender bem os aspectos psicodinâmicos envolvidos e discuti-los 
 
 93 
 
claramente com a família ou com o paciente, conforme o caso, antes 
de tomar uma decisão séria como esta: enganar deliberadamente 
alguém. 
Muitas vezes as informações médicas são primeiro relatadas às 
famílias e, posteriormente, aos pacientes. Em alguns países de 
formação mais individualista, o paciente, de maneira quase que 
obrigatória, terá primeiramente acesso às informações e, então 
decidirá se alguém mais compartilhará das mesmas consigo ou não. 
Como foi abordado nas unidades anteriores, a questão do dilema 
ético, na realidade, não está situado entre revelar ou não o 
diagnóstico ao paciente, ou qualquer outra informação relevante, mas 
sim na forma e momento de revelar tal informação. 
Vale a pena relembrar que a garantia recíproca de comunicar a 
verdade e de não ser enganado, ou seja a veracidade, é um dos 
princípios básicos sobre os quais se estabelece a relação médica e 
paciente. Deve contudo se salientar que a preservação de segredos 
está associada tanto à questão da privacidade quanto da 
confidencialidade. 
A privacidade, mesmo quando não há vínculo directo, impõe ao 
profissional o dever de resguardar as informações com as quais teve 
contacto e de preservar na própria pessoa do paciente, atitude que 
pode ser considerada como sendo um dever institucional. A 
confidencialidade, por sua vez, pressupõe que o paciente revele 
informações directamente ao profissional, que passa a ser o 
responsável pela preservação das mesmas. 
As crianças e os adolescentes têm, tal como um adulto, o mesmo 
direito de preservação de suas informações pessoais, de acordo com a 
sua capacidade, mesmo em relação a seus pais ou responsáveis. 
Com relação aos pacientes idosos, especial atenção deve ser dada à 
revelação de informação aos familiares e, especialmente,aos 
cuidadores. Estes deverão receber apenas as informações necessárias 
para o desempenho de suas actividades de rotineiras ou seja, de dia a 
dia. 
Para Costa et al. (1998), o termo confidencialidade tem origem na 
palavra confiança, que é a base para um bom vínculo terapêutico. O 
paciente confia que seu médico ou psicólogo irá preservar tudo que 
lhe for relatado, tanto que revela informações que outras pessoas, 
com as quais convive, sequer supõem existir. 
É extremamente importante salientar que os deveres do terapeuta 
para com a preservação dos dados, informações de um paciente não 
cessam com a morte deste, nem com o facto de ser uma pessoa 
pública. O profissional não deve sequer em momento algum confirmar 
uma informação que já é de domínio público. Os familiares, por sua 
vez, não têm o direito de acesso e, muito menos, de obrigar o 
terapeuta a fornecer estas informações ou dados que devem 
permanecer resguardadas. Neste tipo de situação, o profissional 
somente poderá dizer à família, ou a qualquer outra pessoa que venha 
a solicitar este tipo de informações, “que está impedido de atender a 
 
 94 
 
estes pedidos por motivos morais e legais, justificando a sua conduta 
sob o ponto de vista da adequação moral ética”. 
As instituições têm a obrigação de manter um sistema seguro de 
protecção aos documentos que contenham registos com informações 
de seus pacientes. As normas e rotinas de restrição de acesso aos 
processos de utilização de senhas de segurança em sistemas 
informatizados devem ser continuamente aprimoradas. Por sua vez, o 
acesso de terceiros envolvidos no atendimento aos pacientes, como 
por exemplo seguradoras e outros prestadores de serviços, deve 
merecer especial atenção sendo apenas disponibilizada a estes a 
informação estritamente necessária. 
A título de exemplo podemos verificar que, em média, durante um 
internamento clínico habitual em hospitais norte-americanos, 75 
diferentes pessoas lidam com o processo de um determinado paciente 
(Costa et al. 1998). 
Os profissionais, assim como todos os demais funcionários 
administrativos (secretárias de unidade, funcionários do sector de 
arquivo de processos, de sectores de internamento, da área de 
facturação e de contas dos pacientes, entre outros) que entram em 
contacto com as informações, têm o mesmo comprometimento, ou 
seja, apenas autorização para o acesso às mesmas em função de sua 
necessidade profissional, mas não o direito de usá-las livremente 
(Costa et al., 1998). 
Neste caso, cabe às instituições e profissionais responsáveis pelo 
atendimento dos pacientes, especialmente aos médicos e psicólogos, 
um importante papel educativo e formativo no processo de 
manutenção das informações pertencentes exclusivamente aos 
pacientes. 
De acordo com Goldim et al. (1997, citado por Costa et al., 1998), a 
garantia da preservação da privacidade deve limitar o acesso à própria 
pessoa, à sua intimidade. Deve impedir que um paciente seja 
observado sem a devida autorização. Isto é extremamente importante 
no atendimento de pacientes em Ginecologia, por exemplo, tendo em 
vista o tipo de exposição a que são submetidas na maioria dos exames 
físicos realizados de rotina. Muitas vezes, o espaço de intimidade 
destas pacientes é invadido por diferentes pessoas com as quais nunca 
tiveram qualquer contacto prévio. Esta situação se agrava quando o 
atendimento ocorre num hospital de ensino, onde, além dos 
profissionais qualificados, surgem também alunos que participam do 
processo. 
No que se refere a questão da privacidade e da confidencialidade na 
actividade clínica em psicologia, o psicólogo no exercício da sua 
actividade deve: 
 Respeitar o direito à privacidade e à confidencialidade de todos os 
seus pacientes sem discriminação, independentemente da raça, 
situação social, económica, familiar e laboral; 
 No exercício da sua profissão o psicólogo tem o dever de explicar 
 
 95 
 
ao cliente que medidas serão tomadas para proteger a sua 
confidencialidade. 
 O profissional tem o estrito dever de proteger a confidencialidade 
de toda a informação a que tem acesso no exercício da sua 
profissão. 
 Se o profissional considera que não estão reunidas as condições 
que lhe permitam garantir a confidencialidade, deve recusar ou 
terminar a relação profissional com o cliente. 
No exercício da profissão, o profissional deve tomar todas as medidas 
adequadas para assegurar que a sua equipa de trabalho compreenda e 
respeite efectivamente o dever da confidencialidade. 
Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu 
departamento é bem-sucedido. Defende a organização, toma medidas 
concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho em fazer parte da 
organização, fala positivamente sobre ela e defende-a contra críticas. 
Lealdade não quer dizer necessariamente fazer o que a pessoa ou 
organização quer que você faça. Lealdade não é sinónima de 
obediência cega. (SÁ. 2005) 
Lealdade significa fazer críticas construtivas, mas mantendo-as dentro 
do âmbito da organização. Significa agir com a convicção que o seu 
comportamento vai promover os legítimos interesses da organização. 
Assim, ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você 
acha que poderá prejudicar a organização, a equipa de funcionário. 
Entretanto, é possível ser leal a uma organização ou a uma equipe 
mesmo que você discorde dos métodos usados para alcançar 
determinados objectivos. Na verdade, seria desleal deixar de expressar 
o sentimento de que algo está errado, se é isso que você sente. 
A competência é o exercício do conhecimento de forma adequada e 
persistente a um trabalho ou profissão (Srour 2003). Devemos buscá-
la sempre. Já dizia Aristóteles “a função de um citarista é tocar citara, 
e a de um bom citarista é tocá-la bem”. 
Temos que buscar continuamente a competência profissional em 
qualquer área de actuação. Portanto, os profissionais devem ser 
incentivados a buscar competências e mestria através do 
aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos. 
Porque o conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e 
práticas profissionais constituem pré-requisitos para a prestação de 
serviços de boa qualidade. Nem sempre é possível acumular todo 
conhecimento exigido por determinadas tarefas, mas é necessário que 
se tenha postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida 
capacitação para executá-los. 
A compreensão é uma qualidade que ajuda muito o profissional, 
porque é bem aceite pelos que dele dependem, em termos de 
 
 96 
 
trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no 
relacionamento profissional. (SÁ. 2005). É bom não confundir 
compreensão com fraqueza, para que o profissional não se deixe levar 
por opiniões ou atitudes, nem sempre válidas para eficiência do seu 
trabalho, para que não se percam os verdadeiros objectivos a serem 
alcançados pela profissão. 
Importa referir que a compreensão precisa, muitas vezes, de ser 
condicionada pela prudência. No exercício da sua função, o 
profissional deve reconhecer e aceitar as diferenças entre pessoas sem 
qualquer discriminação baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e 
etnia, situação socioeconómica, educação, condição de saúde, opções 
política, moral, estado civil ou orientação sexual, tendo como alicerce 
as suas actividades profissionais no respeito absoluto pela dignidade e 
pelos direitos da pessoa humana. Isto é, o profissional deve agir com 
imparcialidade, uma qualidade tão importante e que assume as 
características do dever, pois destina-se a se contrapor aos 
preconceitos, a reagir contra os mitos e a defender os verdadeiros 
valores sociais e éticos, assumindo uma posição justa nas situações 
que terá que enfrentar. (Velasquez, 1998). 
Para ser justo é preciso ser imparcial. Logo a justiça depende muito da 
imparcialidade. A essência dos valores éticosenvolve a equidade das 
relações. O poder detido pelos profissionais é marcado pela 
necessidade de fazer da cortesia e da dignidade em relação aos 
clientes, parte essencial do trabalho profissional. Por exemplo: um 
consultor profissional deve tratar os clientes com consideração porque 
se não o fizer prejudicaria o cliente, e prejudica igualmente a 
reputação do profissional e da profissão. Portanto, não pode existir 
uma situação em que de um lado, tem todos os direitos e o outro lado, 
todos os deveres. 
Há necessidade que exista equidade entre interlocutores e nas 
informações. Isso porque a noção da ética profissional está ligado à 
noção de definição de fronteiras e de transgressões dos cânones 
aceitáveis que se aplicam entre pessoas. Face à disparidade de poder 
entre o profissional e o cliente, as fronteiras têm de ser definidas 
claramente. Quando tais fronteiras são transgredidas, verificam-se 
significativas consequências negativas para o cliente/paciente e o 
profissional. 
Neste caso apresentado, além de estar em questão a equidade, estão 
em causa outros princípios como: o sigilo, a transparência. Por outro 
lado, o profissional deve estar ciente que, com o seu trabalho, deve 
buscar e criar condições para o desenvolvimento do potencial humano 
existente em cada pessoa, em direcção a uma crescente autonomia e 
a modos de vida mais satisfatórios e realizadores, e saber que a 
relação profissional contém aspectos confidenciais. A obrigação de 
guardar segredo recai sobre toda a informação pessoal acerca de um 
 
 97 
 
paciente/cliente e das suas circunstâncias de vida. 
Quando o profissional utiliza dados confidenciais em publicações, 
aprendizagem, mantém o anonimato dos seus pacientes, camuflando 
as informações pessoais. Portanto, há necessidade de garantir a 
reserva dos registos e arquivos com informações confidenciais sobre 
os seus pacientes (Velasquez, 1998). 
No trabalho com grupos ou famílias, o profissional deve apresentar o 
sigilo como responsabilidade de todos os participantes. O profissional 
deve manter confidencial a informação que possui particularmente 
sobre os membros desses grupos. Por exemplo, o Psicólogo, ao 
realizar testes de avaliação deve respeitar o direito de informação do 
paciente, explicando-lhe detalhadamente os objectivos e os 
resultados, interpretações, conclusões e respectivas fundamentações. 
Em toda a informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma 
linguagem que este possa compreender e disponibiliza-se para prestar 
todos os esclarecimentos que o paciente julgar necessários. 
Importa referir que, quando os testes são efectuados a pedido de 
terceiros, o psicólogo informa o sujeito da avaliação, das conclusões e 
dos conteúdos do seu relatório. No relatório são incluídas apenas 
informações pertinentes aos objectivos que conduziram à realização 
dos testes. O Profissional, ao iniciar o relacionamento profissional com 
um paciente, informa-o das suas qualificações e métodos de trabalho. 
Utilizando uma linguagem clara, confirma que o paciente 
compreendeu integralmente as informações, de modo a que possa 
exercer o seu direito de consentimento informado. 
No caso de trabalhar com pessoas incapazes de dar um consentimento 
informado, como por exemplo crianças ou doentes mentais, o 
psicólogo obtém o consentimento do representante legal desses 
pacientes e actua sempre no sentido de salvaguardar o melhor 
interesse destes (Hitt, 1990). Tendo conhecimento que o paciente ou o 
potencial paciente já tem um outro acompanhamento profissional 
semelhante, o psicólogo clarifica cuidadosamente a situação, 
minimizando o risco de conflito ou confusão. Sem perder de vista o 
bem-estar do paciente, pode, ainda, pedir-lhe autorização para falar 
com o outro profissional. 
Em caso algum, o profissional deve aliciar alguém que já seja paciente 
de um outro profissional. Por exemplo, na sua actividade profissional 
não deve terminar a relação profissional por mero prazer. Deve 
terminar quando o paciente já não está claramente a se beneficiar 
dela. Portanto, se o profissional não possuir as condições pessoais ou 
contextuais para iniciar ou continuar a manter uma relação 
profissional com um paciente, assegura o seu acompanhamento por 
 
 98 
 
um colega, salvaguardando o direito de assistência do paciente. 
Há necessidade de o profissional manter com os seus pacientes um 
relacionamento estritamente profissional. Consciente do grande poder 
de influência que a sua profissão proporciona, não explora nem 
alimenta a dependência dos seus pacientes e evita as relações que 
possam prejudicar o seu discernimento e intervenção profissional. Em 
particular, deve recusar qualquer forma de intimidade sexual com os 
seus pacientes ou atitudes que influenciem os valores pessoais destes 
(Velasquez, 1998). O profissional só deve prestar serviços para os 
quais tenha recebido formação adequada. Caso não tenha qualificação 
deve recomendar para o profissional qualificado para o efeito. 
Sendo da sua responsabilidade a manutenção dos mais altos padrões 
de competência e desempenho profissional, o profissional mantém 
actualizados os seus conhecimentos científicos e técnicos relacionados 
com os serviços que disponibiliza. Quando as circunstâncias 
profissionais o exigem, o profissional deve procurar conhecimentos, 
conselho e treino com profissionais ou grupos específicos. O 
profissional não deve esquecer que, para manter o mais alto nível de 
desempenho profissional, precisa investir de forma contínua no seu 
desenvolvimento, como pessoa e profissional. Isto é, deve ser sensível 
aos valores da comunidade em que está inserido, e conduzir o seu 
comportamento pessoal com grande prudência para que não tenha 
consequências negativas no desempenho profissional e na 
credibilidade dos colegas e da sua profissão. 
O profissional deve procurar manter com os colegas e demais 
profissionais relações caracterizadas pelo respeito, confiança, lealdade 
e colaboração. A solidariedade profissional constitui um compromisso 
essencial para a actividade profissional. Em quaisquer relações com 
outros profissionais trabalha-se exclusivamente na esfera da sua 
competência, reconhecendo as áreas específicas e independentes das 
outras profissões. Mesmo quando não existem relações formais com 
profissionais de outras áreas, o profissional tudo deve fazer para que 
sejam assegurados outros serviços profissionais de que os seus 
pacientes necessitem. 
SUMÁRIO 
Ética profissional habilita o profissional a adoptar uma atitude pessoal, 
de acordo com os princípios éticos, através do código de ética que 
regula os direitos e deveres de cada profissão, na medida em que a 
profissão deve ter em conta o bem comum e o interesse público 
porque sempre se relacionam de uma forma ou de outra com os seres 
humanos tendo em conta a liberdade, a consciência e 
responsabilidade. 
 
 99 
 
A Ética Profissional estuda e regula o relacionamento do profissional 
visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto 
sociocultural em que se insere. 
Códigos Formais 
 Leis: 
 Estatutos; 
 Regulamentos formais. 
 
O código encoraja ou proíbe certas condutas profissionais. O código é 
uma garantia de explicação dos preceitos éticos. Por isso, não se pode 
infringir um código que não existe. 
A formalização ética consiste em colocar explicitamente por escrito os 
valores, os princípios e as prescrições de uma organização. 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. Quanto aos códigos de ética, é correcto afirmar que: 
a) Código de ética que regula os direitos e deveres de cada 
profissão 
b) Código de ética que desregula os direitos e deveres de 
cada profissão 
c) Código de ética que regula os direitos e desregula 
deveres de cada profissão 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
2. Qual dos princípios éticos abaixo se enquadracom a afirmação 
que se segue: é agir dentro dos seus princípios éticos, seja em 
momentos de instabilidade financeira, seja na hora de 
apresentar óptimas soluções 
a) Honestidade 
b) Sigilo 
c) Integridade 
d) Coragem 
3. De que princípio ético a afirmação que se segue está a 
retratar? 
a) Dignidade 
b) Privacidade 
c) Interesse público 
d) Nenhuma das respostas 
 
 100 
 
Assinale com V as afirmações verdadeira ou com F as falsas 
4. Honestidade consiste na completa reserva quanto a tudo o que 
se sabe e que lhe é revelado ou o que veio a saber por força da 
execução do trabalho. 
5. Sigilo profissional consiste em para admitir que não é dono da 
verdade 
6. Coragem consiste em defender-se dignamente quando está 
consciente de seu dever 
 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
 
1. O que entende por profissão? 
2. O que entende por deontologia profissional? 
3. Qual é a diferença entre ética e deontologia 
profissional? 
4. Qual é a relação entre a profissão e deontologia? 
5. Qual é a importância da deontologia profissional? 
6. Qual é a importância do código de ética na actuação 
profissional? 
CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. A 
2. C 
3. C 
4. F 
5. F 
6. V 
 
 
 
TEMA VI: ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES 
UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético 
UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético 
UNIDADE Temática 5.2.Dilemas Éticos 
 
 
 101 
 
UNIDADE Temática 6. Introdução 
Introdução 
 
Para uma companhia ser respeita e admirada por todos os seus 
públicos, é fundamental adotar um compromisso moral de 
transparência e ética na condução de todas as suas práticas. Eu 
costumo dizer que moral é aquilo que você faz quando alguém está a 
observar e ética é você continuar fazendo o que é certo mesmo sem 
ninguém te observar. 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Conhecer a importância de uma cultura organizacional ética; 
 Conhecer a importância do clima ético nas organizações; 
 Relação entre o clima e a cultura organizacional; 
 Conhecer a relação entre o clima ético e sucesso 
organizacional. 
Embora hoje tenhamos o conhecimento que as empresas procuram 
produzir bens e serviços necessários e desejados e distribuir esses 
bens e serviços aos membros da sociedade, a ética é chamada a dar 
um contribuição na relação entre: o patronato e o trabalhador e na 
relação entre o profissional e os seus clientes. É desta forma que a 
ética empresarial ou dos negócios está enquadrada no vasto campo da 
ética. 
Velásquez (1998) entende a ética empresarial como um estudo de 
padrões morais e como eles são aplicados aos sistemas e organizações 
por meio dos quais a sociedade moderna produz e distribui bens e 
serviços e às pessoas que trabalham nessas organizações. Assim, a boa 
empresa não é apenas aquela que apresenta lucro, mas a que oferece 
um ambiente moralmente gratificante, em que as pessoas boas 
podem desenvolver seus conhecimentos especializados e suas 
virtudes. Para aprimorar a ética nas organizações é preciso 
compreender como se dá o processo de tomada de decisão, e 
reconhecer que existem escolhas a serem feitas com respeito aos 
meios e aos fins empresariais. Essas escolhas devem ser 
fundamentadas essencialmente pela ética. Portanto, determinadas 
acções são julgadas éticas ou antiéticas por um conjunto de indivíduos 
ou grupos, internos ou externos à organização, os chamados 
stakeholders3. Os stakeholders avaliam a conduta, formam os juízos de 
valor e influenciam na aceitação ou rejeição das actividades e atitudes 
das empresas por parte da sociedade. 
 
3 Os stakeholders são pessoas que tem ou reivindicam propriedade, direitos ou 
interesses numa organização. 
 
 102 
 
A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um 
grupo desenvolve ao aprender como lidar com os problemas de 
adaptação externa e integração interna. E esses princípios são 
considerados meios básicos e válidos para serem ensinados aos novos 
membros como a forma mais correcta de perceber, pensar e sentir em 
relação a um determinado problema (Arruda, at al, 2002). Entre a 
cultura organizacional e o clima organizacional existe uma relação 
intrínseca, e, o clima ético, enquanto manifestação observável da 
cultura organizacional, afecta a forma como as decisões são tomadas. 
Por isso, o clima ético identifica os sistemas de controlo normativos da 
organização, direcciona o processo de tomada de decisão e orienta às 
respostas aos dilemas éticos. Os dilemas éticos podem ser definidos 
como situações em que uma pessoa precisa escolher entre duas ou 
mais alternativas desejáveis. Para um problema se tornar um dilema 
ético, ele deve ter as seguintes características: 
 Não pode ser resolvido utilizando-se dados empíricos; 
 Precisa causar tanta perplexidade que fica difícil decidir quais 
factos e dados são necessários na tomada de decisão; 
 Os resultados do problema precisam afectar mais do que a 
situação imediata; 
 Deve haver efeitos de longo alcance. 
O clima ético é representado por valores, práticas e procedimentos 
que envolvem comportamentos e atitudes morais das instituições. 
Assim, o clima ético prevê tanto o conteúdo moral das decisões – o 
que deve ser feito; quanto o processo e a prática de tais decisões – 
como deve ser feito no relacionamento dos indivíduos dentro da 
empresa ou instituição. 
Por isso, o clima ético é o conjunto de expectativas percebidas e 
exigidas nas organizações. O clima ético define, ainda, os valores e os 
comportamentos esperados numa organização. 
 
 
UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético 
De acordo com Srour (2003) existem 4 dimensões ligadas ao clima 
ético. Estas dimensões compreendem: 
 Confiança ou responsabilidade; 
 Comportamento percebido pelos pares; 
 Consequências recebidas pela violação das normas; 
 E a natureza das práticas comerciais. 
 
 103 
 
Por isso, um bom clima ético proporciona um bom ambiente 
psicológico de trabalho e afecta positivamente o comportamento dos 
colaboradores. Portanto, o clima ético constitui a percepção partilhada 
dos colaboradores sobre os padrões éticos – valores, práticas e 
procedimentos da empresa, e como eles são aplicados no 
relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na 
relação como os seus stakeholders. 
 
UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético 
Na presente secção pretendemos fazer uma abordagem de alguns 
indicadores do clima ético nas organizações. Assim, iremos nos basear 
no modelo apresentado por Frank Navran citado por Arruda, at al. 
(2002) que contempla uma série de indicadores que são apresentados 
em seguida: 
 
a) Indicador I: sistemas formais 
Há muito tempo, os filósofos parecem estar de acordo com a ideia 
que, para que o processo de tomada de decisão seja eficaz, são 
necessárias regras. Tais regras de comportamento estão associadas à 
profissão, e ao relacionamento que possibilitem harmonia na 
convivência social. 
Tom Morris4 (1998 apud Arruda, 2000: 28) entende que a ética é o 
cumprimento de regras. Sob essa perspectiva, a empresa que almeje 
ser ética deve divulgar declarações precisas definindo as regras e deve 
criar procedimentos de verificação para assegurar que todos na 
organização as estão cumprindo. Há muitas empresas que elaboram 
manuais de ética para seus funcionários e indicam representantes que 
garantam a ética ou a conformidade, supervisionando a conduta de 
todos os empregados. 
A experiência das organizações que utilizaram esse procedimento 
mostrou uma redução substancial do clima de incerteza, o que 
contribuiu sobremaneira para a consecução dos resultados num clima 
construtivo. 
Para Pérez López5 (1998 apud Arruda, 2000: 28), um sistema decontrolo pode determinar o que é preciso fazer numa posição, ou 
mesmo na empresa, para se alcançar os resultados esperados. Como 
consequência, serão atribuídos prémios, castigos ou outras formas de 
resposta. Grande parte da literatura sobre organizações, 
particularmente empresas, concentra-se nos sistemas formais de 
controlo, procurando defini-los e estruturá-los em função dos 
 
4 MORRIS, Tom. A nova alma do negócio: como a filosofia pode melhorar a 
produtividade de sua empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 
5 PÉREZ LÓPEZ, Juan António. Liderazgo y ética en la dirección de empresas: la nueva 
empresa del siglo XXI. Bilbao, España Deusto, 1998. p. 52-54. 
 
 104 
 
problemas a serem resolvidos, como dispor os recursos, etc. No 
entanto, tradicionalmente, os sistemas formais apresentam 
limitações, cujas raízes se encontram na falta de uma definição 
adequada dos objectivos ou em indicadores insuficientes. 
Os incentivos para que as pessoas rendam mais, advindos dos sistemas 
formais, serão tão grandes ou maiores que os dos próprios sistemas 
formais. De um modo geral, os sistemas de controlo formal levam as 
pessoas a limitar-se ao puro cumprimento das obrigações, a uma 
postura de apatia e indiferença. Por essa razão, as empresas 
necessitam de uma conduta livre. Se quiserem alcançar seus 
verdadeiros objectivos, e não apenas o mero cumprimento de umas 
normas. 
Hitt6 (1990 apud Arruda, 2000) afirma que as funções de gestão 
deveriam ser assumidas de acordo com um volume considerável de 
regras, independentemente das pessoas, já que o objectivo da 
burocracia é racionalizar a função de liderança. Isso pressupõe boa 
estrutura, normas e, acima de tudo, objectividade. A característica 
emocional da pessoa a exercer as funções de gestão pode definir a 
maior ou a menor objectividade do processo. Por isso, cada gerente 
deve-se esforçar especialmente para eliminar toda e qualquer 
subjectividade e sentimentalismo no desempenho de sua função. 
De acordo com Frank Navran (citado por Arruda, 2000), os sistemas 
formais da organização correspondem aos métodos, às políticas e aos 
procedimentos que claramente identificam qual é o negócio, quando, 
como, e porque ele se realiza. Quando os sistemas formais contêm um 
direccionamento ético claro, os funcionários têm uma compreensão 
correcta das expectativas e exigências. 
Quando esses sistemas não são claros ou quando a mensagem ética 
varia entre os sistemas, os indivíduos buscam outro ponto de 
referência para uma orientação definitiva, uma dimensão tipicamente 
de liderança. Quando os sistemas não se referem à questão ética, a 
mensagem é que não existe um padrão ético. Isso deixa os 
funcionários totalmente dependentes de seus valores pessoais e do 
comportamento observável dos outros. 
b) Indicador II: mensuração 
De acordo com Nash7 (1993 apud Arruda, 2000: 29), muitos dos 
sistemas mais comuns de incentivos, formas de comunicar os 
objectivos e a hierarquia motivam o funcionário da organização. Por 
essa razão, convém examinar as repercussões de uma eventual auto-
satisfação, para reforçar o carácter objectivo da gerência, o foco na 
 
6 HITT, William D. Ethics and leadership: putting theory into practice. Columbus, OH: 
Battelle, 1990. P.149. 
7 NASH, Laura. Ética nas empresas: boas intenções à parte. São Paulo: Makron Books, 
1993. 
 
 105 
 
criação de valor e no incentivo de opiniões divergentes para corrigir 
uma tendência ao interesse próprio e o desenvolvimento do raciocínio 
e das habilidades para o relacionamento. 
Melé8 (1997 apud Arruda, 2000: 29) lembra que, ao trabalhar numa 
organização, tanto o gerente como os funcionários cooperam com 
outras acções realizadas por outras pessoas da empresa, de modo que 
essa cooperação também contribua para a moralidade dos actos com 
os quais coopera. Assim, as regras ou normas definidas podem evitar 
que haja cumplicidade por parte de todos os gerentes e funcionários, 
e um sistema de avaliação pode assegurar maior nível de ética na 
organização. 
Para Navran, de todos os sistemas formais, as medidas são os meios 
mais críticos que a organização possui para comunicar às pessoas o 
que realmente é importante. As pessoas tendem a prestar mais 
atenção àquilo que é avaliado e medido, pois é justamente o 
mensurável que a organização traduz em recompensa. O uso de 
sistemas formais de avaliação depende de sistemas precisos de 
medição, além de uma clara definição de responsabilidades de cada 
interveniente numa organização. Esses sistemas de medição devem 
ser percebidos como precisos e representativos do trabalho de uma 
pessoa ou de uma equipa. Isso significa que a integridade dos sistemas 
é tão importante quanto a sua estrutura. Os sistemas formais 
contribuem para a congruência ética até o ponto em que se revelam 
confiáveis para representar as reais expectativas da organização. 
 
 
c) Indicador III: liderança 
Hambrick et al. (1998 apud Arruda, 2000) definem a liderança da 
maneira que julgaram mais aproveitável para a empresa: 
 Modéstia para constantemente duvidar, estar aberto e escutar; 
 Preocupação com o desempenho; 
 Sentido de responsabilidade, não privilégio; 
 Sincronia com os valores e objectivos da organização e 
capacidade de vivê-los, articulá-los e procurar com constância 
que outros os sigam também. 
 Predisposição para provocar mudanças em tudo, excepto nos 
objectivos e valores básicos. 
 
As acções e os comportamentos dos líderes pesam significativamente 
mais que suas palavras ou políticas escritas. Quando as mensagens 
não são congruentes, os funcionários ficam a ponderar qual delas deve 
ser considerada. A sinceridade dos líderes acima do supervisor 
imediato é posta em dúvida. As pessoas são forçadas a se apoiar em 
opiniões de seus pares/colegas ou em suas próprias crenças para 
descrever os limites de um comportamento eticamente adequado. 
 
8 MELÉ, Domènec. Ética en la dirección de empresas. Barcelona, España: IESE, 1997. 
 
 106 
 
Então, têm que contrabalançar essas visões com aquilo que acreditam 
ser o que a organização realmente quer ou espera. 
 
d) Indicador IV: negociação 
Uma das realidades difíceis de se medir e quantificar é o sentido de 
união no local de trabalho. Ele estimula as pessoas a iniciarem o seu 
trabalho pontualmente, a manterem o ritmo até o final do dia e evitar 
o distanciamento. Os melhores líderes desenvolvem a unidade por 
meio da atenção consistente aos funcionários, fazendo-os 
participantes da aventura e da organização. O respeito pela 
singularidade leva à união entre todos, o que garante mais satisfação e 
qualidade no trabalho (Morris, 1998 apud Arruda, 2000:30). 
O sentido de unidade facilita acordos sempre que os planos devam ser 
mudados ou que as opiniões estejam divergindo entre si. É a base da 
negociação. 
Para Navran, em toda a organização, os funcionários rotineiramente se 
dedicam à negociação como estratégia para resolver um conflito. 
Negociam prazos, compromissos, alocação de recursos, atribuição de 
tarefas e exigências específicas. Quando a negociação com um cliente, 
um par ou um supervisor é percebida como uma situação de ganho e 
perda, o sistema de valores internos das pessoas ajuda a determinar 
os limites da negociação. A integração dos valores organizacionais à 
negociação ajuda a mudar o foco para resultados mutuamente 
benéficos. A negociação torna-se um processo para desenvolver 
óptimas soluções, em vez de uma competição para determinar quem 
ganhará ou quem perderá. 
e) Indicador V: imparcialidades 
Arruda (2000) comenta que uma organização burocrática não pode 
dar lugar aos favores políticos, por exemplo. Conceder cargos a 
conhecidos ou parentes simplesmente porquesão seus amigos está 
completamente em desacordo com os princípios básicos em que a 
empresa foi estabelecida. Todas as indicações deveriam se pautar por 
considerações objectivas das qualificações técnicas. Essa objectividade 
pode ser conseguida pela selecção de novos funcionários por meio de 
testes escritos, para evitar o favorecimento e subjectividade. 
Para Navran, a organização tem suas exigências formais e informais 
para alcançar o sucesso. Essas são as expectativas que a organização 
tem para com seus colaboradores. 
Quanto mais explícita e congruente for, maior facilidade o colaborador 
terá para avaliá-las, comparando-as com os seus valores e suas 
crenças pessoais a respeito do que é certo ou errado. Os funcionários 
também comparam as expectativas com as suas próprias percepções a 
respeito de suas capacidades pessoais. Juntas, essas comparações 
 
 107 
 
formam a base de motivação dos colaboradores para ir ao encontro 
das exigências da organização, visando a alcançar o sucesso. 
 
f) Indicador VI: consistência 
Ferrell e Gardiner (1991 apud Arruda, 2000) atribuem uma 
responsabilidade grande aos líderes no que diz respeito a padrões de 
conduta ética para sua equipa. O reforço desse comportamento pode 
ser demonstrado pelo reconhecimento das atitudes correctas, sua 
respectiva comunicação e pela séria correcção para os que se 
afastarem das normas éticas. A consistência fortalece-se com a 
lealdade, com o apoio e confiança do líder que pessoalmente dá 
exemplos de conduta e que tem a humildade de rectificar quando 
erra. 
A consistência ética ocorre quando todas as palavras e acções da 
organização levam as pessoas a concluir que o mesmo conjunto de 
valores éticos é válido a qualquer momento. Quando a organização é 
inconsistente, o funcionário não tem certeza do que deve pensar. 
Nesses casos, as circunstâncias individuais são usadas para definir o 
que é provavelmente exigido ou esperado. A falta de certeza, leva a 
um comportamento auto-protector por medo de fazer o que está 
errado, torna-se um factor primário de motivação. A atitude de evitar 
erros costuma reduzir o desempenho em cada categoria. 
 
g) Indicador VII: chaves para o sucesso 
Se os funcionários trabalham para manter um clima amigável e 
harmonioso nas actividades de cada dia, com consistência, respeito, 
iniciativa e reconhecimento, a experiência de cada um favorece o 
estabelecimento de uma cultura empresarial ética, pois as pessoas são 
mais importantes que os produtos. 
A bondade é o único investimento que sempre recompensa, tanto em 
termos pessoais como em crescimento geral da organização (Morris, 
1998). 
Para Navran (citado por Arruda, 2000) há chaves para o sucesso em 
toda organização. Na maioria das vezes, tais chaves incluem o trabalho 
intenso, a auto-motivação e os resultados excelentes. No entanto, elas 
não se limitam a isso. Muitas organizações possuem as suas próprias e 
específicas chaves de sucesso. Elas podem ser muito apropriadas: 
associação com um produto novo, apoio a um mentor ou experiência 
em certas posições-chaves. As questões éticas surgem quando essas 
chaves de sucesso específicas não são universalmente acessíveis, 
quando entram em conflito com a posição ética declarada pela 
 
 108 
 
organização ou com os valores pessoais amplamente aceites pelos 
funcionários. Quando isso ocorre, o sucesso é percebido como 
reservado a um pequeno grupo, com um critério de selecção além do 
controle do indivíduo. 
 
h) Indicador VIII: serviço ao cliente 
Os funcionários que se sentem honradamente tratados tendem a 
transmitir a mesma honra e o mesmo respeito em seus contactos com 
clientes actuais e potenciais, fornecedores e consumidores. Quando 
existe mau trato, é comum que esse mal-estar também se reflicta fora 
da empresa, na forma de lidar com os clientes e fornecedores e com 
outras pessoas com as quais os funcionários têm contacto fora da 
empresa. Essa atitude pode dificultar a manutenção ou a abertura de 
negócios para a empresa. Assim, é pouco provável que, ao longo 
prazo, um comprador venha a fazer negócios, ainda que o produto 
seja bom, se na empresa fornecedora as pessoas se manifestam de 
forma má (Morris, 1998). 
Quase toda a organização reconhece a importância da satisfação do 
cliente. Para isso, também realiza treinamentos quando uma 
organização tem um padrão ético para seus clientes e outro para seus 
funcionários. Os problemas podem surgir. Os funcionários estão numa 
situação muito especial de verificar como a organização os trata e 
como ela espera ou exige que tratem os clientes. Se essas expectativas 
não forem congruentes ou coerentes cria-se uma tensão na 
organização que pode resultar num mau atendimento aos clientes e 
em níveis crescentes de insatisfação dos funcionários. 
 
i) Indicador IX: comunicação 
Uma das principais razões para que exista a gerência é para que as 
regras sejam comunicadas e reforçadas numa empresa. A primeira 
tarefa de gerência deveria consistir em conhecer e aprender bem as 
normas da organização, estudando-as atenciosa e intensamente, 
pedindo esclarecimentos aos superiores e comprometendo-se a 
memorizar todo o manual de operações. A tarefa seguinte é 
comunicar essas regras aos seus subordinados e a qualquer 
empregado recentemente contratado. Quando surgem dúvidas 
específicas quanto à aplicação das regras, cabe ao gerente comunicar 
com a maior rapidez possível a interpretação correcta e os critérios 
estabelecidos. Uma forma de reforçar as normas da empresa é 
comunicar, também, o seu eventual cumprimento, seu respectivo 
transgressor e a sua punição (Hitt:1990). 
Toda organização possui expectativas e exigências em relação a seus 
 
 109 
 
funcionários. Quando a empresa não consegue comunicar eficazmente 
aquilo que espera de seus empregados, reduz-se a probabilidade de 
que ela alcance os resultados esperados. 
As pessoas precisam de informações, de orientação e de reforço. 
Necessitam conhecer as posições, os padrões éticos da empresa e o 
que é considerado uma conduta correcta dos funcionários num amplo 
espectro de situações com as quais poderão se defrontar. Além disso, 
precisam sentir-se coerentes com tais exigências. Por fim, os 
funcionários devem saber a quem se dirigir para obter respostas às 
suas preocupações éticas quando se defrontam com uma situação 
nova ou diferente. 
 
j) Indicador X: influência dos pares 
Morris (1998) afirma que, se um grupo não adoptar um 
comportamento ético, cada funcionário sofrerá forte pressão para se 
comportar da mesma forma. No local de trabalho, se as pessoas se 
acostumarem a aparar as arestas, a adaptar a verdade, a agir por mero 
interesse pessoal, significando actuar de forma não ética, e se seus 
pares tenderem a negligenciar o que realmente é verdadeiro nas 
pessoas, cada funcionário se sentirá pressionado a ter a mesma 
conduta que os colegas. A dificuldade de remar contra a corrente não 
pode ser duradoura. É preciso fazer todo o possível para minimizar 
associações de cada funcionário com pessoas de má índole, de mau 
carácter ou de má vontade, seguindo o conselho de muitos grandes 
pensadores. 
A influência dos colegas existe em quase todos os negócios, indústrias 
e profissões. As pessoas contam com seus colegas para direcção, 
validação e reforço. Quando a organização falha em comunicar 
adequadamente seus padrões éticos e suas expectativas, os 
funcionários compensarão essa falha aumentando sua confiança no 
apoio dado pelos colegas. A organização pode influenciar o apoio dos 
colegas se, efectivamente, utilizar os colegas como parte do sistema 
informal de comunicação e de educação. A empresa deve encorajar e 
incentivar os líderes informais, cujas posições e padrões éticos apoiam 
as metas desejadas na organização. A influência dos colegas pode-se 
tornar uma parte do sistema de consistência ética comoum todo. 
 
k) Indicador XI: consciência ética 
Esse indicador de clima ético não está definido no Modelo de Navran. 
Mas este indicador tem em conta, o aspecto político que em algumas 
empresas pode prejudicar o profissionalismo de uma equipe e implicar 
prejuízos para a organização. De acordo com Arruda, at al. (2002). Nas 
 
 110 
 
empresas, às vezes, as relações pessoais ou a influência política são 
muito mais valorizadas que a preparação técnico-profissional dos 
funcionários. Na relação chefe - subordinado, o uso da autoridade 
pode, inclusive, levar ao aparecimento de frequentes casos de assédio 
sexual. Outro desvio que por vezes pode ocorrer é o de serem 
encobertas receitas da empresa, para não cumprir obrigações fiscais. 
Da mesma forma, o suborno acaba sendo entendido como um mal 
necessário, usado para garantir a competitividade da empresa. Por se 
tornar usual, o pagamento de suborno, presentes, etc. Acaba não 
sendo considerado uma falta de ética dessa empresa. 
Um gestor pode sentir-se constrangido diante de situações que 
possam por em causa a consciência pessoal de alguém na empresa. 
Sua habilidade administrativa é testada na forma de processar e 
comunicar de forma aturada as informações. Se a imagem da 
organização é de invulnerabilidade, pode resultar humilhante admitir 
o fracasso diante de outros, informando-lhes o erro cometido. Quanto 
mais baixo o nível hierárquico do gestor, maior será a sua tendência a 
esconder as más notícias ou dúvidas a respeito de uma questão, por 
medo de ficar claro o seu erro (Arruda, 2000). 
 
UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos 
O processo de tomada de decisão surge na medida em que 
encontramos os dilemas – os dilemas éticos. Vamos de seguida definir 
o que são dilemas éticos. 
Dilemas Éticos podem ser definidos como situações em que uma 
pessoa precisa escolher entre duas ou mais alternativas desejáveis. 
Para um problema se tornar um dilema ético ele deve ter três 
características: 
 Não pode ser resolvido utilizando-se dados empíricos; 
 Precisa causar tanta perplexidade que fica difícil decidir que 
factos e dados são necessários na tomada de decisão; 
 Os resultados do problema precisam afectar mais do que a 
situação imediata; deve haver efeitos de longo alcance. 
 Exemplo de um dilema ético: 
 “Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro. 
Um medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico 
dessa cidade podia salvar-lhe a vida. A descoberta do 
medicamento tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que 
agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse 
remédio. Henrique, o marido da mulher que estava a morrer, foi ter 
com as pessoas, suas conhecidas, para que lhe emprestassem o 
 
 111 
 
dinheiro pedido pelo farmacêutico. Foi ter, então, com ele, contou-
lhe para lhe vender o medicamento por um preço mais barato. 
Pediu também ao farmacêutico para deixar levar o medicamento, 
pagando mais tarde a metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O 
farmacêutico respondeu que não, que tinha descoberto o 
medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua descoberta. 
Henrique, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o 
medicamento, ficou desesperado e estava a pensar em assaltar a 
farmácia e roubar o medicamento para tratar a sua mulher”. 
Qual é a motivação moral que leva Henrique a pensar em roubar o 
medicamento? Caso roube o medicamento e caso não roube 
estaria Henrique agindo correctamente? 
 No geral, os projectos apresentados para avaliação dos CEPs, os 
pontos que com maior frequência são considerados eticamente 
incorrectos são os relativos ao consentimento livre e esclarecido, ao 
uso de placebo (convicções que acabam tendo efeitos terapêuticos. 
Exemplo: quando alguém fica doente, e fica convicta que se pode 
curar a sua doença aplicando uma injecção. Se um médico injectar 
ao doente uma seringa com a penas água sem medicamento 
nenhum, o doente pode sentir o efeito psicológico de ausência de 
dor, pelo facto de acreditar na cura. Trata-se de convicções, neste 
caso do poder dos medicamentos, que têm efeitos terapêuticos) e à 
participação de pessoas em situação de vulnerabilidade. 
 
SUMÁRIO 
Todos os actos que os profissionais praticam regem-se por normas 
estritas, no que diz respeito a áreas tão sensíveis como a garantia da 
confidencialidade e privacidade dos dados relativos aos pacientes. 
Em relação à Privacidade e Confidencialidade, os profissionais têm 
uma base obrigatória e tomam precauções para proteger a informação 
confidencial obtida ou fornecida pelo indivíduo. 
Os profissionais só podem divulgar informação confidencial com o 
apropriado consentimento do paciente ou outra pessoa legalmente 
autorizada e que está a favor do mesmo, a menos que seja proibido 
pela lei, só divulgando a informação confidencial sem o consentimento 
do indivíduo no caso de serem mandatados pela lei. 
Atenção! Os profissionais, quando consultam os colegas, não podem 
revelar informação confidencial que possam levar a uma identificação 
exacta do paciente, investigadores participantes, outra pessoa ou 
organização com quem tenham uma relação de confidencialidade, a 
 
 112 
 
menos que eles tenham conseguido o seu prévio consentimento. 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. De entre as afirmações abaixo apresentadas, qual é a que 
melhor descreve o conceito de cultura organizacional? 
a) A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos 
básicos que um grupo desenvolve ao aprender como 
lidar com os problemas de adaptação externa e 
integração interna; 
b) A cultura organizacional não é o conjunto de 
pressupostos básicos que um grupo desenvolve ao 
aprender como lidar com os problemas de adaptação 
externa e integração interna; 
c) A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos 
básicos que um grupo desenvolve ao aprender como 
lidar com os problemas de adaptação interna e 
integração interna; 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
 
2. Quanto a ética e comunicação organizacional, é correcto 
afirmar que: 
a) Uma das principais razões para que exista a gerência é 
para comunicar e reforçar a empresa; 
b) . Uma das principais razões para que exista a gerência é 
para controlar e reforçar a empresa 
c) Uma das principais razões para que exista a gerência é 
vigiar as regras e reforçar numa empresa. 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
3. Quando ao marketing e a ética, é correcto afirmar que: 
a) O marketing e a ética surgem como consequência do 
decrescente interesse pelo papel dos negócios na 
sociedade; 
b) O marketing e a ética surgem como consequência da falta 
de interesse pelo papel dos negócios na sociedade. 
c) O marketing e a ética surgem como consequência do 
crescente interesse pelo papel dos negócios na sociedade; 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
 
 
 113 
 
4. De entre as alternativas abaixo, qual delas melhor define o 
Marketing ético? 
a) Marketing é um processo social por meio do qual as 
pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo que está 
sendo vendido; 
b) Marketing é um processo social por meio do qual as 
pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo que 
necessitem; 
c) Todas as alternativas anteriores; 
d) Nenhuma das respostas. 
5. De entre as alternativas abaixo, qual é a que melhor define a 
regra de ouro nas relações laborais? 
a) Agir em relação aos outros da mesma forma que você 
adquira maior lucro possível; 
b) Agir em relação aos outros da mesma forma que você 
espera que as outras pessoas ajam em relação a você; 
c) Todas as alternativas anteriores; 
d) Nenhuma das alternativas anteriores. 
6. De entre os factores abaixo apresentados, qual deles não 
influencia no processo de tomada de decisão? 
 Identificação da gravidade 
 Factores individuais 
 Cultura organizacional 
 Terceiros significativosa) Riscos 
b) Cultura organizacional; 
c) Oportunidade 
d) Nenhuma das respostas anteriores. 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
1. Qual é a diferença entre o clima ético e a cultura 
organizacional? 
2. Explique a importância do clima ético nas organizações. 
3. Explique os seguintes indicadores do clima ético: consciência 
ética e sistemas formais? 
4. Fale da negociação como indicador ético na organização. 
5. Concorda com a abordagem apresentada por Navran acerca da 
liderança e sua influência no clima ético da organização? 
Justifique a sua resposta. 
6. Explique a importância da ética no marketing. 
 
 114 
 
 
 
 
CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. A 
2. A 
3. C 
4. B 
5. B 
6. D 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEMA VII: ÉTICA NA Pesquisa com Seres Humanos 
UNIDADE Temática 7.1.O Consentimento Livre e Informado 
 
 115 
 
UNIDADE Temática 7.2.O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa 
UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes 
UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes 
Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos 
UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos 
UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa 
UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa 
UNIDADE Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica 
Introdução 
 
 
Um dos problemas fundamentais em pesquisas ocorre na relação 
entre o pesquisador e o grupo alvo da pesquisa, e principalmente na 
tomada de decisão, bem como no que se refere aos procedimentos. 
Razão pela qual reservamos este espaço ao longo desta unidade para 
tratarmos da ética em pesquisa com seres humanos 
 
Objectivos 
Específicos 
 
 No final o estudante deverá ser capaz de: 
 Conhecer a importância da ética na pesquisa com os seres 
humanos; 
 Conhecer a postura do pesquisador e os cuidados que o mesmo 
deve ter para não ferir os princípios éticos; 
 Conhecer a estrutura do termo de consentimento livre e 
informado. 
Este ponto crucial das discussões éticas implica na formulação de 
outras questões tais como: 
 Qual deve ser a postura do pesquisador no que se refere ao 
esclarecimento dos envolvidos na pesquisa? 
 Deve contar-lhe com detalhes os procedimentos relacionados 
com a pesquisa bem como os objectivos da pesquisa? 
Deve, sempre, obter do grupo alvo da pesquisa o consentimento para 
a realização da pesquisa? 
 
 116 
 
 
UNIDADE Temática 7.1.O Consentimento Livre e Informado 
A pessoa tem o direito de consentir ou recusar de participar da 
pesquisa ou de qualquer situação que afecte ou venha a afectar a sua 
integridade físico-psíquica ou social. (Costa et al; 1998). 
Grisard (2006) acrescenta que, o consentimento informado é uma 
ampliação do princípio da autonomia, constituindo o primeiro passo 
na prática da Ética e preceitua a informação clara e correcta dos 
pacientes, e sua compreensão para obter seu consentimento com 
relação aos procedimentos médicos necessários à sua assistência. A 
utilização deve ser estimulada e exigida cada vez mais, sendo 
fundamental neste caso em todos os projectos de pesquisa. 
O consentimento informado consiste num instrumento para se tentar 
assegurar a autonomia do sujeito da pesquisa, através da obtenção da 
sua decisão a participação, seu correcto uso pressupõe a 
concordância, sem qualquer coerção, após fornecimento e 
compreensão da informação sobre os procedimentos. 
O consentimento é uma decisão voluntária, verbal ou escrita, 
protagonizada por pessoa autónoma e capaz, tomada após um 
processo informativo, para a aceitação da pessoa para participar na 
pesquisa ou experiência, isto é, através de pesquisas científicas, 
consciente de seus riscos, benefícios e possíveis consequências. 
Portanto, o consentimento livre significa aceitação racional para a 
participação na pesquisa. 
Importa referir que, o consentimento deve ser dado livremente e 
conscientemente, sem ser obtido mediante práticas de coação física, 
psíquica, moral, por meio de simulação ou práticas enganosas, ou 
quaisquer outras formas de manipulação impeditivas da livre 
manipulação da vontade pessoal. Isto é, deve ser livre de restrições 
internas, causadas por distúrbios psicológicos e livre de coerções 
externas, por pressão familiares, de amigos e principalmente dos 
profissionais em especial os da àrea de saúde. 
O consentimento livre requer que os participantes da pesquisa sejam 
estimulados a perguntar, a manifestar suas expectativas e preferências 
aos pesquisadores. 
Em todo caso, aceita-se que o profissional exerça uma acção 
persuasiva, mas não coerciva ou manipulativa de factos ou dados. A 
persuasão é entendida como tentativa de introduzir a decisão de uma 
pressão por meio de apelos, isto é, a razão deve ser validada 
eticamente. Porém, a manipulação ou tentativa de fazer com que a 
pessoa realize o que o manipulador pretende, sem que o manipulado 
saiba, deve ser eticamente rejeitado. 
Para assumir o consentimento, o paciente deve reunir determinadas 
 
 117 
 
condições tais como: dispor de informações suficientes, compreender 
as informações adequadamente, encontrar-se livre para decidir de 
acordo com seus próprios valores, ter capacidade plena para decidir 
sobre a questão. 
O consentimento só é moralmente aceite quando está fundamentado 
em quartos (04) elementos principais: 
 Informação; 
 Competência; 
 Entendimento; 
 Voluntariedade. 
A informação é a base das decisões autónomas do paciente, e, é 
necessária para que ele possa consentir ou recusar as medidas ou 
procedimentos que lhe foram propostos. 
O consentimento requer informação adequada que possa ser 
compreendida pelos pacientes. Importa referir que, a pessoa pode até 
ser informada, mas, nem sempre significa que esteja esclarecida. Caso 
não compreenda o sentido das informações fornecidas, 
principalmente quando estas não forem adaptadas ao seu contexto 
cultural. 
Para facilitar a compreensão, as informações devem ser simples, 
aproximativas, inteligíveis, leais e respeitosas, ou seja, devem estar 
dentro dos padrões acessíveis ao nível intelectual e cultural do 
paciente, pois quando indevidas e mal organizadas resultam em baixo 
potencial informativo e em desinformação. 
O paciente tem o direito moral de ser esclarecido sobre a natureza e 
objectivos dos procedimentos diagnósticos, preventivos ou 
terapêuticos, ser informado da duração dos tratamentos ou da 
experimentação, dos benefícios, prováveis desconfortos, 
inconvenientes e possíveis riscos físicos, psíquicos, económicos e 
sociais que possa existir. 
A informação a ser fornecida ao indivíduo deve conter os riscos 
normalmente previsíveis em função da experiência habitual e dos 
dados estatísticos, não sendo preciso que sejam informados de riscos 
excepcionais ou raros. 
Na prática da pesquisa, apresentam-se três (03) padrões de 
informação: 
 O primeiro é o padrão da “prática em pesquisa”, onde o 
profissional revela aquilo que um colega consciencioso e 
razoável teria informado em iguais ou similares circunstâncias. 
Nesta padronização, a revelação das informações é determinada pelas 
regras habituais e práticas tradicionais de cada profissão. E, é o 
profissional que estabelece o balanço entre as vantagens e os 
 
 118 
 
inconvenientes da informação, assim como os tópicos a serem 
discutidos bem como a magnitude de informação a ser revelada a cada 
um deles. 
Ao nosso ver, este padrão de informação negligência o princípio ético 
da autonomia do paciente, pois o profissional de normalmente utiliza 
parâmetros já estabelecidos por sua categoria, não adaptando 
individualmente as informações aos reais interesses de cada indivíduo. 
 O segundo padrão encontradoé o da “pessoa razoável”, que se 
fundamenta sobre as informações que uma hipotética pessoa 
razoável, mediana, necessita saber sobre determinadas 
condições de saúde e propostas terapêuticas. 
Esta abordagem apresenta uma definição abstracta do que seria 
pessoa razoável, isto é, um ser médio num determinado contexto 
sociocultural. Por outro lado, podemos entender que o padrão da 
“pessoa razoável” tende a negligenciar o princípio da autonomia do 
paciente. 
 O terceiro padrão, o último é denominado “orientação ao 
grupo alvo da pesquisa” ou “padrão subjectivo” 
A utilização deste tipo de padrões requer por parte do profissional 
descobrir o que realmente o indivíduo gostaria de conhecer e o 
quanto gostaria de participar das decisões, isto com base nos seus 
conhecimentos e na arte da sua prática e observando as condições 
emocionais do paciente e factores socioculturais relacionados. 
Do ponto de vista ético, a informação a ser transmitida ao paciente é 
mais ampla do que exigem as normas legais e as decisões dos tribunais 
que tendem a acatar a validade dos dois primeiros padrões de 
informação anteriormente apresentados. 
A pessoa autónoma também tem o direito de “não ser informada”. Ser 
informado é um direito e não uma obrigação para o paciente. Ele tem 
o direito de recusar ser informado. Nestes casos, nos pesquisadores 
devem questioná-lo sobre quais parentes ou amigos quer que sirvam 
como canais das informações. É certo que o indivíduo capaz tem o 
direito de não ser informado, quando assim for sua vontade expressa. 
O respeito ao princípio da autonomia orienta que se aceite a vontade 
pessoal do paciente, impedindo que os pesquisadores lhe forneçam 
informações desagradáveis e autorizando que estes últimos tomem 
decisões nas situações concernentes do grupo alvo da pesquisa. 
De modo a validar-se o direito, dos envolvidos nas pesquisas, estes 
devem ter clara compreensão que constitui um dever do pesquisador 
informá-lo sobre os procedimentos propostos, que têm o direito moral 
e legal de tomar decisões sobre a sua própria vida. Deve também 
compreender que os pesquisadores não podem iniciar um 
procedimento sem a sua autorização, excepto nos casos de perigo de 
vida eminente, e finalmente, o direito de decisão inclui o de consentir 
 
 119 
 
ou de recusar a submissão a um determinado procedimento. 
Então, a partir do preenchimento desses pressupostos, o paciente 
pode escolher não querer ser informado ou, alternativamente, que as 
informações sejam dadas a terceiros, ou ainda querer emitir seu 
consentimento sem receber determinadas informações. Além de livre 
e esclarecido, o consentimento deve ser renovável quando ocorram 
significativas modificações no panorama do caso, que se diferenciam 
daquele em que foi obtido o consentimento inicial. Isto é, quando o 
consentimento inicial é tido como permanente e imutável, mesmo que 
ocorram modificações importantes no estado de saúde, pode se estar 
a violar a vontade autónoma do indivíduo. Podemos ainda salientar 
que o consentimento dado anteriormente não é imutável, pode ser 
modificado ou mesmo revogado a qualquer instante, por decisão livre 
e esclarecida da pessoa assistida, sem que a ela sejam contrapostas 
sanções morais ou administrativas. 
Para Costa et al (1998), geralmente a acção do pesquisador em 
situações de emergência, em que os indivíduos não consegue exprimir 
suas preferências ou dar o seu consentimento, fundamentam-se no 
princípio da beneficência, assumindo o papel de protector natural do 
indivíduo por meio de acções positivas em favor da vida e da saúde. 
Nas situações de emergência aceita-se a noção da existência de 
consentimento presumido ou implícito, pelo qual supõe-se que a 
pessoa, se estivesse de posse de sua real autonomia e capacidade, se 
manifestaria favorável as tentativas de resolução do seu problema em 
especial em pesquisas na área de saúde. 
De um modo geral, existem cinco (05) principais circunstâncias 
excepcionais que limitam a obtenção do consentimento informado: 
 A incapacidade: tanto das crianças e dos adolescentes como 
aquela causada em adultos por definição da consciência e 
graves patologias neurológicas e psiquiátricas; 
 As situações de urgências médicas, quando se precisa agir e 
não se pode obter o consentimento pontual; 
 A obrigação legal de declaração das doenças de notificação 
compulsória; 
 Um risco grave para a saúde das outras pessoas e de si mesma, 
cuja identidade é desconhecida; 
 Quando o paciente se recusa a ser informado e participar das 
decisões. 
Na pesquisa com seres humanos, podemos verificar que relativamente 
ao consetimento, o Código de Nuremberg -1947, destaca para sua 
efectivação dez (10) principais artigos, dos quais apresentamos em 
seguida cinco (05) deles: 
1. O consentimento voluntário do ser humano é 
 
 120 
 
absolutamente essencial e indispensável para a 
pesquisa; 
2. A pesquisa deve produzir resultados vantajosos para a 
sociedade; 
3. A pesquisa deve ser conduzida de maneira a evitar todo 
sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer 
materiais nos sujeitos; 
4. A pesquisa deve ser conduzida apenas por profissionais 
cientificamente qualificados e competentes; 
5. O sujeito da pesquisa deve ter a liberdade de se retirar 
no decorrer do estudo. 
 
UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
De acordo com Costa et al. (1998), fornecer um texto de 
consentimento livre e esclarecido para ser seguido, pode não ser 
adequado. Alguns requisitos, entretanto são básicos e não devem ser 
esquecidos quando da redacção desse documento. Os elementos 
essenciais de um termo de consentimento livre e esclarecido devem 
ser apresentados de seguinte forma: 
1. Deve conter uma linguagem simples, clara, objectiva e ter em 
atenção o grupo alvo de modo a garantir acessibilidade na 
leitura e compreensão; 
2. Os Consentimentos Livres e Esclarecidos devem abordar com 
clareza os seguintes aspectos: 
a) Os procedimentos que serão utilizados, bem como os 
objectivos pretendidos e justificativas; 
b) Apresentar os desconfortos, riscos possíveis e os benéficos 
esperados, para a pessoa e para a sociedade em geral; 
c) Métodos e técnicas alternativas existentes; 
d) Liberdade do paciente/utente em recusar ou retirar seu 
consentimento, sem qualquer penalização e/ou prejuízo à sua 
assistência; 
e) Assinatura/impressão digital ou identificação do 
paciente/utente. 
EXEMPLO 
De modo a clarificar as ideias referentes ao consentimento, nos 
propusemos a elaborar um exemplo que nos permitirá melhor 
compreensão acerca do mesmo. 
Exemplo (1): 
Pretende-se fazer uma pesquisa com adolescentes para estudar a 
 
 121 
 
certos sintomas que estavam a apresentar. Porém, para que a 
pesquisa ocorra, a equipe de pesquisadores precisa te ter autorização 
dos pais ou educadores dos mesmos. 
A criança queixava-se de dores constantes de cabeça, dores 
musculares, falta de apetite, perda de peso, diarreia entre outros 
sintomas. 
Feitos estudos, os pesquisadores concluíram que as mesmas estão a 
desenvolver uma doença degenerativa que necessitava de uma 
intervenção urgente para administrar suplementos alternativos e 
evasivos para garantir o prolongamento da vida do menor. 
Tendo em conta o cenário acima relatado, várias questões 
fundamentais são lançadas: 
a) Como usar os princípios éticos sem ferir com a 
autonomia do menor? 
b) Quem deve decidir e porquê? 
c) 
Atenção! 
Neste caso concerto, de modo a responder os princípios éticos 
estabelecidos, temos que em primeiro lugar pedir o consentimento do 
paciente/utente. Então, como se trata de um menor de 14 anos de 
idade, de acordo com a Lei moçambicana, este não possui autonomia 
para decidir, aí recorremos ao seu pai ou encarregado de educação 
para decidir, para autorizar que o grupo de pesquisadores (médicos)inicie com o tratamento com vista a salvar a vida da criança. 
Sendo assim, o consentimento informado neste caso, será assinado 
pelo pai ou encarregado de educação da criança, caso ele concorde 
com as propostas de intervenção médica sugeridas pela Unidade 
Sanitária ou seja, grupo médico. 
Para tal, o termo de consentimento deve respeitar mais ou menos o 
seguinte formato: 
Primeiro: Identificação da instituição responsável pela pesquisa 
Exemplo: 
 República de Moçambique 
 Empresa W 
 Departamento Administrativo 
 
 122 
 
Segundo: Título: Termo de Consentimento Informado 
Terceiro: Conteúdo do documento 
Exemplo (2): 
 O Sector de Administrativo da empresa W, vem através 
desta pedir a permissão do encarregado de 
educação/pai do menino (a) X para participar na 
pesquisa sobre o papel da criança no desenvolvimento 
da cultura de poupança, com a duração de t 
horas/dia/meses. O objectivo da pesquisa é o de ajudar 
as famílias através de hábitos sustentável de gestão de 
pequenas moedas por parte das crianças dos 11 anos 
em diante, como forma de desenvolvermos nos futuros 
jovens hábitos sustentáveis de gestão financeira no 
futuro. Os procedimentos de pesquisa serão as 
seguintes: (deve-se descrever os benefícios), sendo que 
em alguns casos tem-se verificado os seguintes efeitos 
colaterais/adversos (descrever os efeitos neste caso). 
Tendo em conta o exposto, agradecemos que após uma leitura e 
esclarecimento das possíveis dúvidas, assina abaixo nos locais 
indicados. 
Sim concordo_________ Não concordo___________ 
 
O pai ou encarregado de educação (assinatura legível) 
________________________________ 
N.B: deve-se tirar uma cópia da sua identificação e anexa ao termo 
assinado. 
Este exemplo é geralmente aplicável em pesquisas no contexto 
hospitalar ou seja, na presença de uma determinada doença e pede-se 
permissão a quem de direito para se poder intervir. 
Atenção! 
Em caso de pesquisas com população a prior sadios, onde não se 
pretende fazer nenhuma intervenção clínica, pede-se permissão 
apenas para o indivíduo participar na entrevista ou na pesquisa. 
Na pesquisa tanto em qualquer área, o consentimento informado é 
igualmente utilizado para obter a permissão do sujeito ou indivíduo 
 
 123 
 
para participar no estudo ou experiência. No entanto, sempre que 
tiver menores de 18 anos, a permissão é sempre pedida ao pai ou 
encarregado de educação ou outro adulto que seja seu responsável. 
Porém, apresentamos a seguir um modelo de termo de consentimento 
informado aplicado numa situação de pesquisa que envolve seres 
humanos. 
Exemplo (2): 
Consentimento informado aplicados no contexto de pesquisa com 
seres humanos a prior sadios, sem necessidade de intervenção clínica. 
TEMA/ TÍTULO DA PESQUISA: Avaliação da Ansiedade aos Exames nos 
Estudantes finalistas do Curso de Contabilidade do ISCED. 
 
CONSENTIMENTO INFORMADO 
A Direcção Académica do ISCED, pretende avaliar os níveis de 
Ansiedade dos Finalistas com o objectivo de verificar os graus de 
associação com as notas obtidas nas defesas das monografias 
científicas apresentadas na faculdade. 
Para o efeito, vimos por meio desta pedir a sua permissão para 
responder a 2 questionários de 12 perguntas cada, um com aspectos 
ligados a Ansiedade e outro a Depressão. Não existem respostas certas 
nem erradas, apenas terá que descrever o seu estado emocional nas 
últimas 2 semanas, neste caso deve escolher dentre 3 alternativas, a 
que melhor lhe descreve. Pode desistir se achar que a tarefa não é 
interessante, no entanto se achar do seu interesse agradecemos o 
favor de não deixar nenhuma questão por responder. 
A sua identificação será preservada pois, o questionário terá um 
código numérico que irá identificá-lo, e os dados recolhidos serão 
utilizados apenas para fins estatísticos. 
Se estiver disposto e concordar com a tarefa, assine por favor dando a 
sua permissão. Caso não esteja disposto ou não concorde com a tarefa 
proposta, assine igualmente recusando a sua participação. 
Maputo, aos ____ de ___ de 20___ 
 
Sim, concordo Não, não concordo 
 
 124 
 
_______________ _____________________ 
 
___/__/___ ___/__/_____ 
 
Atenção! 
O consentimento deve apresentar sempre um cabeçalho que identifica 
a instituição que pretende desenvolver o estudo, caso seja um 
trabalho pessoal o investigador deve-se identificar no corpo do 
consentimento. 
Para tal, podemos analisar o modelo de consentimento informado 
proposto para uma pesquisa: 
 
UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa 
A realização de um projecto de pesquisa envolve aspectos de 
confidencialidade e privacidade em todas as suas etapas. Desde o 
planeamento até a divulgação, o pesquisador e todas as demais 
pessoas que vierem a se envolver têm o compromisso de resguardar 
as informações, ou seja, de impedir que as mesmas sejam utilizadas de 
forma inadequada. 
Durante a fase de planeamento a preservação das informações entre 
os membros da equipa é fundamental, pois o projecto ainda não foi 
apresentado. 
Da mesma forma, os Comités de Ética em Pesquisa, em todas as 
instâncias, assumem o compromisso com a preservação das 
informações a eles submetidas. Quando forem utilizados consultores 
“ad hoc”, esta característica deve constar formalmente na solicitação 
do parecer. (Costa et al. 1998). 
Durante a execução do projecto devem ser mantidas todas as 
propostas contidas no mesmo, ou seja, a não identificação dos 
indivíduos pesquisados, a preservação de suas imagens, o uso 
específico para a finalidade do projecto, bem como os pesquisadores, 
entre si, devem igualmente ter uma garantia sobre as informações 
durante a execução do projecto. 
Nenhuma informação pode ser divulgada por membros isolados, 
mesmo que sob a forma de “cartas ao editor” ou “temas livres”, salvo 
quando toda a equipa autorize tal situação. 
Na divulgação, o importante é a garantia de que todos os participantes 
tiveram as suas identidades preservadas na íntegra. Os editores de 
revistas científicas, por sua vez devem garantir a preservação dos 
conteúdos, durante a tramitação do artigo. 
 
 125 
 
 
UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes 
De acordo com Goldim (1990), nas situações em que se trata de 
crianças e adolescentes, sob o ponto de vista legal, são considerados 
incapazes. Porém, moralmente, podem ser considerados como 
portadores de autonomia crescente e, segundo vários autores, a partir 
dos doze anos de idade, como não passíveis de distinção de um adulto 
capaz, ou seja, a autonomia começa a constituir-se uma realidade 
quando o indivíduo neste caso concreto atinge os doze anos de idade. 
Para considerar uma pessoa autónoma, são necessárias duas 
condições. Primeiramente, ela deve possuir a capacidade para 
compreender, analisar logicamente uma situação (racionalização) e 
habilidade para escolher entre várias hipóteses (deliberação) com o 
objectivo de decidir-se intencionalmente por uma das alternativas que 
lhe são apresentadas. Em segundo lugar, esta escolha só poderá ser 
considerada autónoma, própria, se a pessoa estiver livre de qualquer 
influência para tomar esta decisão (voluntariedade). 
O princípio de respeito à autonomia baseia-se na dignidade da pessoa 
e, em consequência, há um dever moral de tratar as pessoas como um 
fim em si e nunca utilizá-las apenas como um meio para atingir 
determinado objectivo. É o reconhecimento do direito da pessoa de 
ter opiniões e agir segundo seus valores e convicções, de possuir um 
projecto de vida e felicidade baseado em escolhas próprias. 
Os responsáveis legais têm o direito de aceder as informações 
constantes no processo de seus dependentes. A relação profissional 
com as crianças e adolescentesdeve ser pautada pelos princípios de 
respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo Estatuto da Criança e 
do Adolescente e pelos Códigos de Ética das diferentes categorias. 
Os adolescentes podem ser atendidos sozinhos, caso desejem, 
independente da idade, em um espaço privado de consulta, em que 
será reconhecida a sua autonomia e individualidade, e será estimulada 
a responsabilidade crescente com a sua saúde integral. 
O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de maturidade, 
autonomia e risco do adolescente e estes aspectos devem ser 
avaliados em conjunto com o adolescente. Tanto a aderência cega à 
confidencialidade como a ausência total da mesma são 
comportamentos indesejáveis para a ética e para a lei. 
As crianças e adolescentes têm o direito de ter a sua imagem e 
identidade preservadas. A confidencialidade de seus dados, assim 
como o acesso aos mesmos, também deve ser garantida. (Goldim, 
1990). 
A ética pode constituir um elemento central na equipa multidisciplinar 
ajudando a reflectir sobre os aspectos fundamentais no processo de 
 
 126 
 
tomada de decisão quer sobre problemas de natureza sócio - 
emocional quer a respeito de alguns aspectos da intervenção psico - 
pedagógica bem como tratamento, numa abordagem extremamente 
humanizada em adolescentes e crianças. 
Os pesquisadores têm a responsabilidade de procurar proteger as 
famílias e as crianças da curiosidade científica impedindo a 
multiplicação de estudos, com invasão da privacidade e à custa de um 
dispêndio emocional suplementar para estes indivíduos. 
Ao pesquisador compete ainda a responsabilidade de promover a 
divulgação da informação sobre o problema, combater os 
preconceitos, participar em campanhas de prevenção, mobilizar as 
instituições para o apoio às famílias e às crianças com necessidades 
educativas especiais. 
 
UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes 
Para Costa et al. (1998), os documentos com as informações obtidas 
durante a pesquisa são armazenados, os dados podem estar arquivado 
em papel ou informatizado, a finalidade é facilitar a manutenção e o 
acesso às informações que os pacientes fornecem, durante a pesquisa 
ou contexto de trabalho normal. 
Os processos não podem ser retirados da instituição, pois podem 
acarretar prejuízos na eventualidade de um atendimento ao próprio 
paciente. Por exemplo, as autoridades policiais não têm acesso aos 
dados constantes no processo, pois isto caracterizaria uma invasão de 
privacidade. No caso de autoridade judicial, devidamente justificada e 
solicitada por escrito em documento oficial, as informações poderão 
ser fornecidas, mas não enviados os documentos originais do 
processo. Outro exemplo é o dos pesquisadores na área de educação, 
que também utilizam os dados do processo com finalidade académica, 
que são essenciais à formação de novos profissionais. Este acesso é 
eticamente adequado, desde que especificamente vinculado às 
actividades de ensino e aprendizagem; qualquer outro uso implica 
quebra de privacidade somente pode ter acesso ao processo do 
paciente após ter elaborado um projecto e o mesmo ter sido aprovado 
pelo Comité de Ética em Pesquisa. 
Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos 
A questão da ética na pesquisa envolvendo seres humanos há algum 
tempo preocupa os cientistas e as pessoas de uma maneira geral. 
Em geral, quando se pensa no assunto, o foco se concentra nas 
pesquisas. (Goldim, 1990). 
Compreende-se, até certo ponto, que as pesquisas, em geral, podem 
ter consequências imediatas; além de mais, principalmente na área 
médica, onde existe uma tradição ética de vinte e cinco (25) séculos, 
 
 127 
 
há constante preocupação com esse aspecto. 
Na verdade, a experimentação em especial com com seres humanos 
ocorreu e vem ocorrendo em muitas outras áreas, muitas vezes sem a 
devida preocupação com os aspectos éticos. Faz-se experimentação 
com seres humanos (nem sempre com as devidas premissas científicas 
ou básicas e, no geral, atingindo colectividades). 
O ser humano muitas das vezes, é sujeito a inovações que nem 
passaram pelo crivo de experimentação prévia e só se torna evidente 
o fenómeno quando surgem complicações. A pesquisa com seres 
humanos tem sido feita ao longo dos séculos, com diferentes padrões 
de ética e de qualidade, em todo o mundo. 
De um lado, deve-se assegurar, por meio da experimentação, a 
aplicabilidade dos novos conhecimentos para o bem da humanidade e, 
de outro, devem-se criar mecanismos de salvaguarda para evitar os 
abusos da experimentação, a " fazer o ser humano de cobaia". 
Actualmente nas sociedades contemporâneas, é moralmente 
inadmissível que se utilize indistintamente seres humanos como se 
fossem cobaias de laboratório. Mas, para que se possa proteger ou 
promover a saúde da população, muitas vezes é moralmente 
necessário realizar experimentos controlados com seres humanos. É 
nesse dilema que se baseia a discussão da ética em pesquisa com 
seres humanos: entre o respeito à dignidade humana e a necessidade 
de experimentação imposta pelo desenvolvimento tecnocientífico, que 
representa benefício para a humanidade. 
Se houve um tempo em que muitos pesquisadores acreditavam que 
sua firme determinação de fazer o bem, sua integridade de carácter e 
seu rigor científico eram suficientes para assegurar o carácter ético de 
suas pesquisas, nos dias de hoje esta concepção já não é mais aceita, 
deve-se no entanto avaliar se os seus procedimentos não ferem a 
dignidade humana. 
A necessidade de criação de mecanismos de controlo sobre a 
experimentação com seres humanos tornou-se aguda quando tomou-
se conhecimento dos abusos cometidos nos campos de concentração, 
durante a Segunda Guerra Mundial. Foram comprovados assassinatos, 
torturas e outros actos de brutalidade no decorrer dos experimentos 
científicos. 
De salientar que os responsáveis pelos abusos foram julgados e 
condenados por crimes de guerra e por crimes contra a humanidade. 
O ser humano pode também estar sendo objecto (e não sujeito) de 
pesquisa, sem que o saiba; podem ocorrer situações em que só a 
posterior os cientistas e o ser humano submetido à experimentação 
tomam conhecimento de que houve uma “experimentação humana”. 
Nos dias de hoje, o ser humano tem o poder, graças aos avanços 
verificados em ciências, de interferir e até dominar sectores ou áreas 
de importância vital (ou mortal), poder sobre a reprodução (até 
mesmo a concepção sem sexo), sobre a hereditariedade (terapêuticas 
genéticas), sobre as neurociências (transplante de células nervosas, 
condicionamentos psico-farmacológicos), clonagem. 
 
 128 
 
A possibilidade da aplicação indevida dos conhecimentos, da ciência e 
da tecnologia, podendo levar até à destruição da humanidade, foi um 
dos factores que deu origem ao neologismo proposto por Potter 
“Ética”, o qual tem hoje uma conotação, mais ampla. 
Todas essas considerações, apontam para a oportunidade e 
necessidade de se discutir a questão da experimentação com seres 
humanos, de modo a permitir que os avanços da ciência e da 
tecnologia em benefício da humanidade, tendo contudo, como centro 
de preocupação, o respeitam pela dignidade do ser humano. 
O Brasil constitui uma referência a considerar em questões de garantia 
da ética em pesquisas desenvolvidas com seres humanos, como 
podemos verificar no seguinte texto apresentado pelo De acordo com 
Goldim, (1990), como foi já abordado, no Brasil, os aspectos éticos 
envolvidos em actividades de pesquisa que envolvam seres humanos 
estão regulados pelas directrizes e Normas de Pesquisa com seres 
humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de 
Saúde, estabelecida em Outubro de 1996. De salientar, que estas 
Directrizes foram detalhadas para pesquisas envolvendo novos 
fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos. Novas 
resoluções estãosendo elaboradas para tratar de outras áreas 
temáticas especiais. 
Neste âmbito, o objectivo maior da avaliação ética de projectos de 
pesquisa é garantir três princípios básicos: a beneficência, o respeito à 
pessoa e a justiça. Nesta garantia devem ser incluídas todas as pessoas 
que possam vir a ter alguma relação com a pesquisa, seja o sujeito da 
pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a mesma se 
desenvolve e, em última análise, a sociedade como um todo. 
A avaliação baseia-se, pelo menos, em quatro pontos fundamentais: 
na qualificação da equipa de pesquisadores e do próprio projecto; na 
avaliação da relação risco - benefício; no consentimento informado e 
na avaliação prévia por um Comité de Ética. 
A qualificação da equipa de pesquisadores deve avaliar a competência 
dos seus membros para planificar, executar e divulgar adequadamente 
um projecto de pesquisa. A adequação metodológica do projecto de 
pesquisa é fundamental. Um projecto inadequado acarreta riscos e 
custos sem que seus resultados possam ser realmente utilizados, 
devido a deficiências no método. Devem ser esgotadas todas as 
possibilidades de obter dados por outros meios, utilizando simulações, 
animais antes de utilizar seres humanos. 
Na pesquisa com seres humanos os pesquisadores devem dar 
garantias de que os dados obtidos serão utilizados apenas para fins 
científicos, preservando na totalidade a privacidade e a 
confidencialidade. E identificação e o uso de imagens somente 
poderão ser feitos com uma autorização expressa do indivíduo 
http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm#áreas temáticas
http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm#áreas temáticas
http://www.ufrgs.br/bioetica/benefic.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/justica.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/tuekegee.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/tuekegee.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/wetter.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/janetpa.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/variola.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/conspesq.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/cep.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/animrt.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/privacid.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/confiden.htm
 
 129 
 
pesquisado. 
Na avaliação da relação risco - benefício entram em jogo tanto o 
princípio da Não - Maleficência como o da beneficência. O dano 
irreparável ou a possibilidade de morte, decorrente do projecto, 
impedem a realização da pesquisa. 
Caso o risco real exceder ao previsto o projecto deve ser interrompido 
e revisto. Os projectos podem ser caracterizados tanto pelo risco 
quanto pelo benefício. A classificação pode basear-se na Não - 
Maleficência, utilizando o risco associado aos procedimentos (risco 
mínimo e risco maior que o mínimo). O critério da beneficência, 
quando utilizado, avalia se o indivíduo terá ou não ganhos 
terapêuticos com o estudo. 
Habitualmente, a avaliação dos riscos envolvidos no projecto é 
relacionada apenas aos indivíduos pesquisados, não sendo realizada, 
no projecto qualquer consideração com relação aos pesquisadores e 
trabalhadores envolvidos. 
O consentimento informado é um meio de garantir a voluntariedade 
dos participantes, isto é, é uma busca de preservar a autonomia de 
todos os sujeitos. Desta forma, o consentimento informado deve ser 
livre e voluntário, pressupondo-se que o indivíduo esteja plenamente 
capaz para exercer a sua vontade. 
Para tal, importa salientar que o termo de consentimento informado 
deve ser visto como uma garantia plena de que a participação do 
indivíduo numa determinada pesquisa é efectivamente voluntária, 
claro, se ele aceitar deve ser merecedor de elogios, mas se negar a sua 
participação não é passível de qualquer censura ou desaprovação. 
O outro aspecto a considerar na pesquisa com seres humanos diz 
respeito a avaliação prévia do projecto por um Comité de Ética em 
Pesquisa independente. Neste Comité devem participar pesquisadores 
de reconhecida competência, além de representantes da comunidade. 
Deve ser garantida a participação de homens e mulheres. O Comité 
deve avaliar os aspectos éticos do projecto de pesquisa assim como a 
integridade e a qualificação da equipe de pesquisadores, como iremos 
desenvolver mais em diante. 
 
UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos 
 O pesquisador no exercício da sua função deve reconhecer e 
aceitar as diferenças entre pessoas sem qualquer discriminação 
baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia, situação 
socioeconómica, educação, condição de saúde, opções 
políticas ou morais, estado civil ou orientação sexual. O 
http://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/beneprov.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/naomalef.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/benefic.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/fialurid.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/riscomin.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/riscomin.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/competen.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/cep.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/cep.htm
http://www.ufrgs.br/bioetica/res24097.htm
 
 130 
 
pesquisador deve ter como suporte em suas actividades 
profissionais o respeito absoluto pela dignidade e pelos direitos 
da pessoa humana; 
 O pesquisador deve estar ciente que, com o seu trabalho, deve 
buscar e criar condições para o desenvolvimento do potencial 
humano existente em cada pessoa, em direcção a uma 
crescente autonomia e a modos de vida mais satisfatórios e 
realizadores; 
 O pesquisador deve saber que, a relação de pesquisa é, pela 
sua própria natureza, confidencial. A obrigação de guardar 
sigilo recai sobre toda a informação pessoal acerca dos 
indivíduos envolvidos na pesquisa; 
 O pesquisador, quando utiliza dados confidenciais em 
publicações, intervenções públicas, investigação ou situações 
de ensino e aprendizagem, deve manter o anonimato dos 
colaboradores de pesquisa; 
 O pesquisador deve garantir a reserva dos registos e arquivos 
com informações confidenciais sobre os seus pacientes; 
 No trabalho com grupos famílias ou comunidades o 
pesquisador deve apresentar o sigilo como responsabilidade de 
todos os participantes. E manter confidencial a informação que 
possui particularmente sobre os membros desses grupos; 
 O pesquisador, ao realizar provas ou testes de avaliação, deve 
respeitar o direito de informação do paciente, explicando-lhe 
detalhadamente os objectivos e os resultados, interpretações, 
conclusões e respectivas fundamentações. Em toda a 
informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma 
linguagem que este possa compreender e disponibiliza-se para 
prestar todos os esclarecimentos que o paciente julgar 
necessários; 
 O pesquisador ao iniciar a pesquisa deve informar as suas 
qualificações e métodos de trabalho. Utilizando uma linguagem 
clara, devendo confirmar que o paciente compreendeu 
integralmente as informações, de modo a que possa exercer o 
seu direito de consentimento informado; 
 Trabalhando com pessoas incapazes de dar um consentimento 
informado ou com menores, o pesquisador obtém o 
consentimento do representante legal desses pacientes e actua 
sempre no sentido de salvaguardar o melhor interesse destes; 
 O pesquisador deve manter com o grupo alvo da pesquisa um 
relacionamento estritamente profissional. Consciente do 
grande poder de influência que a sua profissão proporciona, 
não explora nem alimenta a dependência dos seus pacientes e 
evita as relações que possam prejudicar o seu discernimento e 
intervenção profissional. Em particular, recusa qualquer forma 
 
 131 
 
de intimidade sexual com os seus pacientes ou atitudes que 
influenciemos valores pessoais destes; 
 O pesquisador só presta serviços para os quais tenha recebido 
formação adequada caso não tenha qualificação deve 
recomendar para o profissional qualificado para o efeito; 
 O pesquisador deve ser sensível aos valores da comunidade em 
que está inserido, e conduzir o seu comportamento pessoal 
com grande prudência para que não tenha consequências 
negativas no desempenho profissional e na credibilidade dos 
colegas e da sua profissão; 
 O pesquisador deve procurar-se em manter com os colegas e 
demais profissionais relações caracterizadas pelo respeito, 
confiança, lealdade e colaboração; 
 Em quaisquer relações com outros profissionais, o psicólogo 
trabalha exclusivamente na esfera da sua competência, 
reconhecendo as áreas específicas e independentes das outras 
profissões; 
 Mesmo quando não existem relações formais com profissionais 
de outras áreas, o Psicólogo, quando necessário, tudo deve 
fazer para que sejam assegurados outros serviços profissionais 
de que os seus pacientes necessitam. 
 
UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa 
A análise da validade ética das pesquisas se concretiza nos Comités de 
Ética em Pesquisa, CEP das instituições. O Comité de Ética em Pesquisa 
(CEP) é uma equipa de profissionais interdisciplinar e independente, 
que deve existir nas instituições que realizam pesquisas envolvendo 
seres humanos, criado para defender os interesses dos sujeitos da 
pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no 
desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos (Normas e 
Directrizes Regulamentadoras da Pesquisa Envolvendo Seres 
Humanos). Manual operacional para comités de ética em pesquisa 
(2007). 
O objectivo do comité de pesquisa é o de preservar a dignidade e 
integridade do ser humano e contribuir para o desenvolvimento 
científico. Porém, colocando em primeira ordem a dignidade do ser 
humano. Se em nome do avanço científico for colocado em causa a 
dignidade humana é considerado acto não ético. É importante que 
esse aspecto seja salientado porque existem se não for tida em conta 
a componente ética o comité de ética deixa de ser considerado desta 
forma e passa a ser tido como comité de análise. 
 
O CEP é responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos 
éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos. Este papel 
 
 132 
 
está bem estabelecido nas diversas directrizes éticas internacionais 
(Declaração de Helsínquia, Directrizes Internacionais para as Pesquisas 
Biomédicas envolvendo Seres Humanos), directrizes estas que 
ressaltam a necessidade de revisão ética e científica das pesquisas 
envolvendo seres humanos, visando salvaguardar a dignidade, os 
direitos, a segurança e o bem-estar do sujeito da pesquisa. 
Desta maneira “toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser 
submetida à apreciação de um Comité de Ética em Pesquisa” e cabe à 
instituição onde se realizam pesquisas a constituição do CEP. 
O CEP também contribui para a qualidade das pesquisas e para a 
discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento institucional, 
social da comunidade. Contribui ainda para a valorização do 
pesquisador que recebe o reconhecimento de que sua proposta é 
eticamente adequada. 
O CEP, ao emitir parecer independente e consistente, contribui ainda 
para o processo educativo dos pesquisadores, da instituição e dos 
próprios membros do Comité. 
Finalmente, o CEP exerce papel consultivo e, em especial, papel 
educativo para assegurar a formação continuada dos pesquisadores da 
instituição e promover a discussão dos aspectos éticos das pesquisas 
em seres humanos. 
Dessa forma, cabe ao CEP promover actividades, tais como seminários, 
palestras, jornadas, cursos e estudo de protocolos de pesquisa. 
 
UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa 
O CEP é um órgão institucional e tem primariamente a 
responsabilidade de apreciar os protocolos de pesquisas a serem 
desenvolvidos em sua instituição. 
Toda pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida a uma 
reflexão ética no sentido de assegurar o respeito pela identidade, 
integridade e dignidade da pessoa humana bem como a prática da 
solidariedade e justiça social. 
A partir de 1975, na revisão da Declaração de Helsínquia, se admitiu a 
necessidade de analisar os problemas morais que surgem nas 
pesquisas, e se estabeleceu: o desenho e o desenvolvimento de cada 
procedimento experimental envolvendo o ser humano devem ser 
claramente formulados em um protocolo de pesquisa, o qual deverá 
ser submetido à consideração, discussão e orientação de um comité 
especialmente designado, independente do investigador e do 
patrocinador. 
Estes comités desempenham um papel central, não permitindo que 
nem pesquisadores nem patrocinadores sejam os únicos a julgar se 
seus projectos estão de acordo com as orientações aceites. 
Dessa forma, seu objectivo é proteger as pessoas, sujeitos das 
pesquisas, de possíveis danos, preservando seus direitos e 
assegurando à sociedade que a pesquisa vem sendo feita de forma 
eticamente correcta. 
 
 133 
 
O grande desenvolvimento das ciências biomédicas tem possibilitado 
enorme poder de intervenção sobre a vida humana. Além disso, tem-
se tornado mais e mais difícil distinguir a pesquisa de suas aplicações, 
o que coloca a ciência estreitamente ligada à indústria e à economia. 
Inseridas num mundo capitalista, onde os investimentos exigem 
retorno rápido, as pesquisas também sofrem as pressões de mercado. 
Tais fatos, associados à expansão do sector de comunicações e à busca 
de consolidação dos direitos sociais a partir do princípio da cidadania 
plena, trazem à tona dilemas éticos para os envolvidos com a ciência 
e, mais ainda, para a 
Sociedade como um todo. 
Torna-se, portanto, cada vez mais relevante e imprescindível a 
avaliação do projecto de pesquisa por uma terceira parte, 
considerando-se princípios éticos minimamente consensuais. 
“Os Comités de Ética em Pesquisa não devem se restringir a uma 
instância burocrática, mas constituir-se em espaços de reflexão e 
monitorização de condutas éticas, de explicitação de conflitos e de 
desenvolvimento da competência ética da sociedade. Os CEPs 
deveriam ser constituídos de forma a favorecer o aporte dos pontos de 
vista de todos os envolvidos, bem como permitir a inclusão dos 
diversos interesses, seja de pesquisadores, patrocinadores, sujeitos da 
pesquisa e da comunidade”, Manual operacional para comités de ética 
em pesquisa. (2007). 
 
 
UNIDADE Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica 
Certamente que existem vários modelos de avaliação do desenho e da 
metodologia. 
Então, por que avaliar o desenho e a metodologia do projecto? 
A revisão ética de toda e qualquer pesquisa envolvendo seres 
humanos não poderá ser dissociada de sua análise científica. 
Não se justifica submeter seres humanos a riscos inutilmente e toda a 
pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. Se o projecto de 
pesquisa for inadequado do ponto de vista metodológico, é inútil e 
eticamente inaceitável. 
Algumas vezes, esta avaliação pelo CEP pode ser difícil. Nesses casos 
recorre-se a consultores “ad hoc”, a expressão “ad hoc” é de origem 
Latina, significa literalmente “para isto”, um instrumento “ad hoc” é 
uma ferramenta elaborada especificamente para uma determinada 
ocasião ou situação pontual "cada caso é um caso", algo feito “ad hoc” 
ocorre ou é feito somente quando a situação assim o exige ou o torna 
desejável ao invés de ser planificado e preparado antecipadamente ou 
fazer parte de um plano mais elaborado. 
Muitas instituições, criam Comissões Científicas específicas para 
realizar esta tarefa, e só encaminham o protocolo de pesquisa para 
avaliação ética após sua aprovação metodológica, o que, entretanto, 
 
 134 
 
não exclui a responsabilidade do CEP pela aprovação integral do 
protocolo de pesquisa.A avaliação de riscos e benefícios que podem ser antecipados envolve 
uma série de passos. 
 
O CEP deve: 
1) Identificar os riscos associados à pesquisa e diferenciá-los dos 
que os sujeitos estariam expostos pelos procedimentos 
assistenciais; 
2) Verificar se foram tomadas as medidas necessárias para 
minimizar os riscos previsíveis (considerando as dimensões 
física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual); 
3) Identificar os prováveis benefícios que podem advir da 
pesquisa; 
4) Verificar se os riscos estão numa proporção razoável em 
relação aos benefícios para os sujeitos da pesquisa; 
5) Assegurar que os potenciais sujeitos receberão uma adequada 
e acurada descrição e informação dos riscos, desconfortos ou 
benefícios que podem ser antecipados; 
6) Determinar intervalos de relatórios periódicos a ser 
apresentados pelo pesquisador e, quando for o caso, que os 
pesquisadores coloquem à disposição do CEP os dados 
necessários para acompanhamento do projecto. 
 
O CEP deve realçar a importância do processo de consentimento livre 
e esclarecido e não só a assinatura do Termo de Consentimento, que 
somente deverá ser obtida após o sujeito da pesquisa estar 
suficientemente esclarecido de todos os possíveis benefícios e riscos e 
fornecidas todas as informações pertinentes à pesquisa. 
Assim, o protocolo deve conter a descrição dos procedimentos para 
esclarecimento do sujeito (informação individual, em grupos, 
palestras, vídeos, etc.) e por quem será feito, verificando-se a 
necessidade da interposição de pessoa que não o pesquisador. 
Podem ainda ser necessários recursos do orçamento da pesquisa para 
a adequada realização da etapa. 
A assinatura do TCLE constitui apenas um momento do processo de 
consentimento e não obrigatoriamente o momento final, uma vez que 
todo consentimento, além de livre e esclarecido, também é renovável 
e revogável. Solicitar 
 
SUMÁRIO 
As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências 
éticas e científicas fundamentais e observar os seguintes princípios 
 
 135 
 
éticos na pesquisa: 
 Consentimento Livre e Esclarecido; 
 Ponderação entre Riscos e Benefícios, 
 Relevância social da pesquisa. 
O Comité de Ética em Pesquisa é o órgão institucional que tem por 
objectivo proteger o bem-estar dos indivíduos pesquisados 
(sujeitos da pesquisa). 
Os Comités são interdisciplinares, constituídos por profissionais de 
ambos os sexos, e muitas das vezes com pelo menos um 
representante da comunidade que tem por função avaliar os 
projectos de pesquisa que envolvam a participação de seres 
humanos. E está inserido nos mecanismos de controlo social para a 
busca de tratamento humanizado com os sujeitos envolvidos nas 
pesquisas. 
Sua missão é proteger os sujeitos envolvidos directamente na 
pesquisa, garantindo a todos que os seus interesses serão 
considerados acima dos interesses da ciência, da pesquisa. 
O Comité exerce também um papel consultivo e, em especial, 
educativo para assegurar a formação contínua dos pesquisadores, 
e promove a discussão dos aspectos éticos das pesquisas com 
seres humanos, através de seminários, palestras, jornadas 
científicas, cursos e estudo de protocolos de pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. De acordo com a afirmação que se segue: “a pessoa 
tem o direito de consentir ou recusar de participar da 
pesquisa ou de qualquer situação que afecte ou venha a 
afectar a sua integridade físico-psíquica ou social”. Do 
que se trata? 
a) Consentimento; 
b) Consentimento livre 
c) Consentimento livre e informado 
 
 136 
 
d) Nenhuma das respostas 
2. Qual das alternativas abaixo não se enquadra com o 
consentimento livre e informado? 
a) Os procedimentos que serão utilizados, bem 
como os objectivos pretendidos e 
justificativas devem ser claros para os 
participantes da pesquisa; 
b) Devem ser informados os desconfortos, 
riscos possíveis e os benéficos esperados, 
para a pessoa e para a sociedade em geral; 
c) O paciente tem liberdade em recusar ou 
retirar seu consentimento, sem qualquer 
penalização e/ou prejuízo à sua assistência 
d) Nenhuma das Respostas. 
3. Tendo em conta a afirmação que se segue: a pesquisa 
deve ser conduzida apenas por profissionais 
cientificamente qualificados e competentes. A mesma 
retrata: 
a) Consentimento livre 
b) Autonomia 
c) Ética em pesquisa 
d) Nenhuma das respostas anteriores 
Assinale com V as alternativas correctas, e com F as alternativas falsas 
4. O princípio de respeito à autonomia baseia-se na 
dignidade da pessoa e, em consequência, há um dever 
moral de tratar as pessoas como um fim em si e nunca 
utilizá-las apenas como um meio para atingir 
determinado objectivo. 
5. Os responsáveis legais não têm o direito de aceder as 
informações constantes no processo de seus 
dependentes. 
6. O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de 
maturidade, autonomia e risco do adolescente e estes 
aspectos devem ser avaliados em conjunto com o 
adolescente. 
7. 
EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 
 
1. Justifique com base num exemplo a seguinte afirmação! E 
 
 137 
 
faça uma crítica a mesma. Os grupos socioeconomicamente 
vulneráveis, os mais desprovidos de recursos, têm menos 
alternativas de escolha em suas vidas, o que geralmente vai 
afectar o desenvolvimento do seu potencial de ampla 
autonomia. 
2. Comente! O princípio da justiça exige ou preceitua a 
equidade na distribuição de bens e benefícios o que se refere 
ao exercício da medicina ou das actividades na área da saúde, 
bem como noutras áreas. 
3. Com base em dois exemplos concretos, demonstre a 
importância da confidencialidade e da privacidade em 
pesquisas. Apresente quatro (4) exemplos concretos em que se 
pode quebrar a confidencialidade do paciente e justifique cada 
um dos casos arrolados. 
4. Qual é a importância do consentimento livre em pesquisa? 
5. A informação dos procedimentos pelos quais o indivíduo ira 
passar em pesquisa em importante? Porquê? Fundamente com 
base em exemplos concretos. 
6. Qual deve ser o papel do pesquisador quando o grupo alvo da 
pesquisa for uma criança? 
7. 
CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 
1. C 
2. D 
3. C 
4. V 
5. F 
6. V 
 
BIBLIOGRAFIA 
 ARRUDA, M ta al. (2007). Fundamentos de Ética Empresarial e 
Económica. 3ªed São Paulo: Editora Atlas. 
 MERCIER, S. (2003) Ética nas Empresas. Porto: Edições 
Afrontamento. VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira. 
 ARISTÓTELES, (2007). Ética a Indomado. São Paulo: Editora 
Martim Clarete. 
 RONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto 
Piaget. 
 
 138 
 
 LOURENÇO, J & Vicente, J. (1995) Do Vivido ao Pensado. Porto: 
Porto Editora. 
 ALMEIDA, J. R. (1998) Os Valores ético -políticos, Porto: Edições 
Salesianas, s/d 
 KANT, E. (1988). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. 
Lisboa: edições 70. 
 KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de 
Bolsito. 
 MORIN, E. (1975). Paradigma Perdido. Lisboa: Publicações 
Europa - América. 
 RODRIGUES. L. (2003) Filosofia. 10º Ano. Lisboa: Plátano 
Editora.

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