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i INSTITUTO SUPERERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4º Ano Disciplina: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL Código: ISCED41-CSOCCFG001 Total Horas/1o Semestre:115 Créditos (SNATCA): 5 Número de Temas: 7 ii Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado, o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz mailto:isced@isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ iii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Autor Abiba Mamade Coordenação Design Financiamento e Logística Revisão Científica e Linguística Ano de Publicação Local de Publicação Direcção Académica do ISCED Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Carmen Jacqueline Rassul Salato Coimbra 2017 ISCED – BEIRA iv ÍNDICE VISÃO GERAL 1 Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional................................. 1 Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2 Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2 Ícones de actividade ......................................................................................................... 4 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6 Tarefas (avaliação e auto - avaliação) ............................................................................... 6 Avaliação ........................................................................................................................... 7 OBJECTIVOS DA DISCIPLINA .............................................................................................. 9 TEMA I. Ética e Moral ...................................................................................................... 9 UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos ............................................................ 9 UNIDADE Temática 1.3. Diferença entre Ética e Moral .................................................. 10 UNIDADE Temática 1.1. Carácter Normativo da Ética .................................................... 12 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 14 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 14 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 16 CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I .................................. 17 TEMA II. Breve historial da ética .................................................................................... 18 UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval ............................................................. 18 UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 18 UNIDADE Temática 2.1. Introdução ................................................................................ 18 Introdução ....................................................................................................................... 18 UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética ............................................................. 18 UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 20 UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval .......................................................... 22 UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 24 UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 28 UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 32 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 34 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 35 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 37 CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO .................................................... 37 TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS ...................................................................... 38 UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38 UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 38 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 38 UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 38 UNIDADE Temática 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ....................... 38 v UNIDADE Temática 3. Introdução................................................................................... 38 Introdução ....................................................................................................................... 38 UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38 UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 40 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 46 UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 46 UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ..................... 53 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 55 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO.................................................................................. 55 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 57 CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 58 TEMA IV. Principios Ético ............................................................................................... 58 UNIDADE Temática 4.2. Beneficiência ............................................................................ 60 UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência ................................................................... 65 UNIDADE Temática 4.3. Autonomia ................................................................................ 67 UNIDADE Temática 4.4. Justiça ....................................................................................... 71 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 73 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 73 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 75 CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 75 UNIDADE Temática 5. Introdução................................................................................... 76 Introdução ....................................................................................................................... 76 TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL ....................................................................... 79 UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia ............................................. 81 UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão ................... 81 UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional ............................................. 82 UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética ................................................................ 83 UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas ............................................................ 84 UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código ............................................................................. 84 UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética ...................................................... 85 UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum ......................................... 86 UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade ........................................... 91 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 98 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 99 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 100 CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO................................................... 100 TEMA VI. ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES .......................................................................... 101 UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético ...................................................... 102 UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético ............................................... 103 UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos ........................................................................ 110 SUMÁRIO ...................................................................................................................... 111 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 112 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 113 CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .......................................................... 114 TEMA VII. ÉTICA NA PESQUISA COM SERES HUMANOS ........................................... 115 UNIDADE Temática 7.1. O Consentimento Livre e Informado ...................................... 115 UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................... 120 vi UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa .............................................................................. 124 UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes......................... 125 UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes ...................... 126 Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos ............................................... 126 UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos ..................................................... 130 UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa .......................................................... 131 UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa ............................................... 132 Unidade Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica .................................... 133 SUMÁRIO ...................................................................................................................... 135 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 136 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 137 CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................ 137 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 138 1 VISÃO GERAL Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional Objectivos do Módulo Ao terminar o estudo deste módulo de Ética e Deontologia Profissional deverá ser capaz de: Objectivos Específicos Explicar o carácter normativo da ética; Reflectir sobre os principais problemas éticos; Problematizar as várias teorias éticas; Definir com clareza os conceitos: sujeito ético e consciência moral; Caracterizar a pessoa como categoria ética; Conhecer a importância da ética no relacionamento do homem com os seus semelhantes; Distinguir a pessoa com o sujeito ético; Relacionar a pessoa como categoria ética e os princípios éticos; Apresentar o papel do profissional na sua actuação; Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em contextos concretos; Alistar os princípios éticos na actuação professional; Apresentar o papel do pesquisador na sua actuação, no que se refere à confidencialidade e privacidade; Alistar os princípios éticos na actuação do pesquisador; Identificar as responsabilidades dos Comités de Ética em Pesquisa; Explicar o processo de avaliação de protocolos de pesquisa pelo Comité de Ética em Pesquisa; Identificar os pontos à analisar na avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas. 2 Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 4º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED e outros. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem- vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. Como está estruturado este módulo Este módulo de Ética e Deontologia Profissional, para estudantes do 4º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral e detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhorestudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas, incluído estudo de caso. 3 Outros recursos A equipa dos académicos a e pedagógicos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu Centro de Recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso, tais como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. AUTO-AVALIAÇÃO E TAREFAS DE AVALIAÇÃO Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação, apresntam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação são essencialmente semelhantes às de auto- avaliação, mas sem mostrar os passos e obedecem a um grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregue aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, se o caro estudante fizer todos os exercícios de avaliação será uma grande vantagem. Comentários e sugestões Use este espaço é dedicado para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que, graças as suas observações que em gozo de confiança classificamo-las de úteis, a próxima edição do módulo, venha a ser melhorado. 4 Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo) e algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se exista. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve 5 estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar. 6 Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC setorna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto - avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. 7 Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es), é considerado plágio, uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar a fonte é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. 9 OBJECTIVOS DA DISCIPLINA Objectivos Específicos No final do módulo o estudante deverá ser capaz de: Definir a ética e moral; Diferenciar a ética da Moral; Caracterizar a ética e a moral; Classificar a ética enquanto disciplina; Nomear as diversas etapas históricas da ética; Nomear as diversas etapas teóricas da ética; Explicar o carácter normativo da ética; Reflectir sobre os principais problemas éticos; Problematizar as várias teorias éticas. TEMA I: ÉTICA E MORAL UNIDADE temática 1.1. Definição de Conceitos UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética Introdução Sendo a moral é inseparável dos costumes humanos, os quais dependem de cada época, da região geográfica ou das circunstâncias. Neste sentido, a moral é mutável e relativa a determinadas práticas culturais, isto é, ela não é diferente dentro de toda forma de associação. Ex: na família, na classe social ou num estado. Para melhor compreensão dos conteúdos deste módulo, iremos começar por definir os conceitos chave, concretamente ética, moral é sujeito ético para melhor assimilação dos conteúdos neles apresentados. 10 Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Definir o conceito de ética e moral; Conhecer a relação entre a ética e a moral; e, Conhecer as diferenças entre a ética e a moral. UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos A palavra ética provém do grego e tem dois significados: (1) Étimos – que significa hábitos e costumes; (2) Eros – que significa modo de ser ou carácter. A moral e a ética são conceitos diferentes, mas que inserem em si algo de comum: o sentido eminentemente prático. Segundo Costa te al. (1998), moral é o conjunto de regras, valores, proibições, crenças, tabus, impostos quer pela política, costumes sociais, a religião, quer pelas ideologias de uma sociedade, enquanto a ética é a reflexão sobre a moral. A moral nasce com a existência do homem, pois historicamente não se conhece nenhum povo, que não tivesse normas, regras ou rituais de conduta. Kant, (1988), define a ética como uma reflexão teórica sobre a moral e uma revisão racional e crítica sobre a validade da conduta humana. Por isso, a ética é uma justificação racional da moral, e remete-nos a ideias ou valores que procedem a partir da própria deliberação do homem. A ética é uma análise das regras morais. Também a ética pode ser entendida como uma filosofia moral, se entendermos a filosofia como um conjunto de conhecimentos racionalmente estabelecidos. UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral Actualmente tem-se discutido muito sobre a ética nos seguintes âmbitos: ética na saúde, na pesquisa, na educação, na política, entre outros campos. Perante esta situação levantamos uma questão. Afinal qual será a diferença entre a ética e a moral? A Ética provém do grego egos, que significava “morada”, “lugar em que vivemos” e passou a significar “o carácter”, “o modo de ser” que 11 uma determinada pessoa ou grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por outro lado, “moral” deriva do latim mos, mores que significava “costumes”, mas passou a significar também, “carácter”, ou “modo de ser”. Apesar dos termos ética e moral serem etimologicamente equivalentes, a moral é mesmo diferente da ética. “Moral é o conjunto de princípios, valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações sociais num determinado momento histórico. O que pode ser considerado acto moral num determinado tempo, poderá não ser noutro”. Costa et al (1998:15). A moral é imposta pela sociedade, por exemplo pelo Código Civil, e outros códigos de conduta. Enquanto a ética implica na opção individual do sujeito. Isto é, requer adesãoíntima do sujeito a valores, princípios e normas morais. A pergunta básica da moral, – Ética e Deontologia, é “o que devemos fazer?”, enquanto a questão relativa a ética é “porque devemos fazer?”, ou seja, “que argumentos corroboram e sustentam o que estamos a aceitar como guia de conduta?” Neste sentido, o comportamento ético exige reflexão crítica diante de dilemas, na qual devem ser considerados, entre outros, os sentimentos, a razão, os patrimónios genéticos, a educação e os valores morais. Para Hermano (1993), a ética procura responder as seguintes questões: Que devo escolher? Há uma hierarquia de valores? Que espécie de homem devo ser? Que devo querer? Que devo Fazer? A ética, embora historicamente recente, vem crescendo muito nestes últimos anos. As discussões de temas por ela abordados ocorrem em âmbito mundial. Esta é considerada uma área de conhecimento que faz estudo sistemático das dimensões morais das ciências e do cuidado da saúde, com base numa variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar. Este tópico será desenvolvido nos capítulos subsequentes. O profissional deve ter em atenção a Ética, o ramo da ética encarregue pelas ciências biológicas. Este ramo da ética, dá especial atenção as pesquisas científicas avalia sob diferentes pontos de vistas os benefícios e riscos que a pesquisa poderá representar para o sujeito e a sociedade, obrigando os projectos de pesquisa a passarem pelos 12 Comités de Ética a fim de serem analisados com maior profundidade. Os avanços verificados pela Ética nos últimos anos podem ser considerados extraordinários. Actualmente, o número de publicações relativamente à Ética aumentou, são publicações periódicas de novas investigações que surgem diariamente que abordam sobre os mais variados enfoques do tema, além de incontável a quantidade de eventos académicos oferecidos sobre a Ética em praticamente todas as partes do mundo. Para Costa te al (1998), é importante mencionar que a visão original da Ética focalizava-a como uma questão ou um compromisso mais global frente ao equilíbrio e preservação da relação dos seres humanos como ecossistema e a própria vida do planeta, diferente daquela que acabou difundindo-se e sedimentando-se nos meios científicos. Em suma, pode-se considerar que o termo foi mencionado pela primeira vez em 1971 por Van Potter, no seu livro "Ética: Ponte para o Futuro. UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética Kant (2001), a ética trata da normalização dos actos humanos segundo princípios últimos (que vão além do nosso entendimento) e racionais. A ética é um conhecimento que se preocupa com o fim a que se deve dirigir a conduta humana e os meios para alcançar este fim. Ela pretende explicar a validade das suas afirmações, procurando comprovar porque é que algo é bom ou mau, justo ou injusto, moral ou imoral desde uma perspectiva universal e necessária. Almeida (1998) acrescenta que, a ética é normativa porque é uma racionalização do comportamento humano, isto é, trata de um conjunto de princípios ou enunciados dados à luz da razão e que iluminam o caminho correcto/acertado da conduta. O carácter normativo da ética tem como fundamento um aspecto essencial da natureza humana, a saber: O facto de o homem ser “imperfeito porém perfectível”. A razão para tal afirmação é a seguinte: se fossemos perfeitos e mantivéssemos na nossa perfeição, não teríamos problema moral, pois não estaríamos obrigados a desenvolver todas as nossas potencialidades. Por isso, os princípios éticos têm uma dimensão imperativa, por serem mandatos ou ordens que nos damos para movermo-nos na realização de actos que melhorem a nossa condição humana. Por outro lado, somos seres incompletos/imperfeitos que buscamos, tendemos a perfeição dirigindo as nossas acções ao que deve ser. 13 Todavia, a perfeição não deve centrar-se apenas num aspecto da nossa personalidade porque a natureza humana é complexa. Ela deve englobar o espiritual, o físico, intelectual, volitivo (a vontade), afectivo, o estético, o social, etc. 1. A perfeição espiritual desenvolve os aspectos que têm a ver com o enriquecimento da vida espiritual que possam engrandecer a alma, a esperança, fé, caridade, etc. 2. A perfeição física deve ser vista como um complemento da alma. A alma e o corpo são duas manifestações distintas de uma mesma realidade. Daí surge o ditado popular Mente sã um corpo são. Quando a alma afecta o corpo surgem alterações nervosas. E quando o corpo afecta a alma podem surgir estados depressivos. Note que é indispensável o exercício físico, uma boa alimentação para o equilíbrio entre a alma e o corpo. 3. A perfeição intelectual representa o desenvolvimento da mente, da inteligência, do conhecimento. O homem aperfeiçoa-se através da cultura, do estudo, da educação e só assim é que é capaz de julgar a validade das coisas. O homem deve buscar um conhecimento alargado das coisas (capacidade de se abstrair). 4. A perfeição da vontade representa o que se deve separar dos desejos. A vontade deve ser vista como uma aliada da razão e não uma súbdita do desejo. É possível ser mais responsável, mais moderado, ter mais respeito sem nunca deixar de lado a razão. Daí a necessidade de aliar a desejo à razão, de modo que as nossas acções e decisões sejam bem pensadas; 5. A perfeição afectiva está ligada às emoções, tem a ver com a bondade, benevolência, a compreensão, o carinho e a gratidão. É importante temperar a razão com o lado afectivo. O homem não deve ser dominado somente pelas paixões nas suas acções e decisões. No entanto, um homem que actua com base na paixão sem a razão corre risco de tornar-se cego, frio e calculista. As emoções devem ser conjugadas com uma dose de racionalidade. Normalmente quando a razão caminha sozinha torna-se cega, fria e calculista; 6. A perfeição estética: o ser humano aperfeiçoa-se ao se relacionar como belo com o sublime. A perfeição estético torna o ser humano mais criativo, sensível e com maior capacidade de comunicar e de reflectir. A arte não deve ser nada que fique subjugada à pressão dos médios, ou apenas entendida em aspectos comerciais; 14 7. A perfeição social: o relacionamento com os outros é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Por isso, é no relacionamento que o homem promove e desenvolve capacidade como a amizade, a cooperação, a paz, a liberdade, a fraternidade, a dignidade, a igualdade e o pluralismo. Só através do relacionamento com os outros somos capazes de combater determinados anti-valores como: o individualismo, a intolerância, o egoísmo, etc. O desenvolvimento da personalidade humana deve ter em conta todas essas dimensões da sua personalidade. Nunca o individualismo deve ser tomado como um meio do homem impor as suas regras. SUMÁRIO Ética é a reflexão crítica sobre a moral, ela depende do sujeito. Porque ele pessoalmente reflecte e chega a conclusão pessoal do que vem a ser ou não ético. Isto é, Implica uma relação de si para consigo. A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento. Isto é, tem como problema definir o comportamento moral. A ética é uma ciência normativa porque trata da rectidão do comportamento. Ela versa sobre o bem e o mal, o correcto e o incorrecto, tendo como meta a perfeição da sociedade. É com base na racionalidade que se estipulam regras para a harmonia social. Quem estipula as normas é o homem para a melhoria da relação com os seus semelhantes. Tanto a ética como a moral visam a harmonia entre os seres humanos. Por outro lado, ambas estão relacionadas com os valores culturais do grupo social no qual o indivíduo se insere. Isto é, tem a finalidade de organizar as relações entre os sujeitos sociais representa todo comportamento moralque varia de acordo com o tempo e o lugar. O que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado tempo, poderá não ser noutro. O que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado tempo, poderá não ser noutro. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. Indique a alternativa correcta: a) A palavra moralidade vem do latim “mos” ou “moris” que significa costumes b) A palavra ética e moralidade são sinónimas e correspondem a mesma ideia 15 c) As normas morais não variam a depender da cultura e do período histórico d) A palavra ética vem do latim e significa modos de ser. 2. As normas morais variam a depender da cultura e do período histórico, também podem ser questionadas e destituídas. Isso significa que: a) Nós não podemos pensar sobre as normas morais que são impostas; b) Nós temos que concordar com as normas morais porque são as normas da nossa cultura; c) A moral é o conjunto de valores pelos quais as pessoas guiam os seus pensamentos e por isso está sujeita a mudanças a depender do país e do momento histórico em que as pessoas estão inseridas; d) Não agimos de forma “moral” se obedecermos as regras que a sociedade estabelece. 3. Como podemos diferenciar a moral da ética: a) Não podemos diferenciar, são palavras sinónimas; b) Moral é o conjunto de valores e a ética é a reflexão sobre os valores; c) Moral é a prática da ética no nosso dia-á-dia; d) Moral é sinónimo da “ética aplicada”. 4. Leia o texto abaixo: “Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses… portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar, mas da ignorância dos legisladores que sempre colocam o interesse particular em oposição ao geral. (…) Até hoje as mais belas máximas morais não conseguem traduzir nenhuma mudança nos costumes das nações. Qual é a causa? E que vícios de um povo estão, se ouso falar, escondidos no fundo da sua legislação” Helvetius Quais são as ideias principais contidas no fragmento acima? a) Não há nenhuma relação entre as Leis e os costumes, pois são os homens que fazem as Leis que os beneficiam; b) Para limitar os interesses humanos particulares, é preciso haver Leis que prefiram os interesses gerais; c) Os homens buscam os interesses e isso não significa que eles são maus; 16 d) Há uma relação entre Leis e Costumes, pois as Leis permitem ou impedem que os homens cometam erros. 5. O sujeito ético-moral é somente aquele que preenche os seguintes requisitos: a) É um ser consciente mas não precisa reconhecer a presença dos outros como sujeitos éticos iguais; b) Saber o que faz, conhecer as suas causas e os fins da sua acção, o significado de suas intenções, suas atitudes e a essência dos valores morais; c) Não precisa controlar interiormente os seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, deixando-as fluir livremente; d) Dizer como as coisas são, o que são, e como são. Enunciar pois os juízos de facto; e) Ser responsável, mas não precisa reconhecer como autor da sua própria acção, nem avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros. 6. O Moçambicano tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive na corrupção, diz a pesquisa. Se o país fosse resultado de padrões morais que as pessoas dizem aprovar. Portanto, o distanciamento entre o reconhecer e o cumprir efectivamente o que é moral, constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais são: a) Decorrentes da vontade divina, e por esse motivo utópicas; b) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação c) Amplas e vão para além da capacidade do indivíduo conseguir cumpri-las integralmente; d) Criadas pelo homem e concede a si mesmo a Lei a qual se deve submeter; e) Cumpridas por aqueles que se dedicam a cumprir integralmente as normas judiciais. EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Define o conceito de ética e da Moral. 2. Qual é a relação que existe entre a ética e a moral? 17 3. Quais são as diferenças entre a ética e a moral? 4. Qual é a relação entre a moral e a cultura? 5. Porque é que a moral está relacionada com o contexto histórico? 6. Porque é que se diz que a ética é normativa. CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I 1. A 2. C 3. B 4. B 5. B 6. D TEMA II – PERPECTIVA HISTÓRICA DA ÉTICA 18 UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência UNIDADE Temática 2.1.6. Meta – Ética UNIDADE Temática 2. Introdução Introdução Introdução Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida contextualizar o ambiente do surgimento de uma teoria ética. A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê? Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Conhecer a história da ética e deontologia profissional; Acompanhar a evolução da história da ética com o contexto, histórico, geográfico, sociocultural, político e religioso. UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética De acordo com Morri (1975), a existência de uma história da moral é 19 sustentada considerando que cada sociedade tem sido caracterizada por um conjunto de regras, normas e valores. A história da Ética é complexa e exige alguns cuidados no seu estudo, uma vez que ela como disciplina filosófica é mais limitada no tempo e no material tratado do que a história das ideias morais da humanidade. A história das ideias morais da humanidade compreende o estudo de todas as normas que regularam a conduta humana desde os tempos pré-históricos até aos nossos dias. Esse estudo é filosófico ou histórico-filosófico e social. Kant (2001) acrescenta que, a história das ideias morais é um tema de que se ocupam a sociologia e a antropologia. A existência de ideias morais não implica a existência de uma disciplina particular, uma vez que podem estudar-se as atitudes e ideias morais de diversos povos, orientais, judeus, etc. Sem que o material resultante seja enquadrado na história da Ética. Assim, só existe história da Ética no âmbito da história da filosofia. A história da Ética adquire uma considerável amplitude. Por isso, é difícil com frequência estabelecer uma separação rigorosa entre os sistemas morais e – objecto próprio da. Isto porque a ética é um conjunto de normas e atitudes de carácter moral dominantes numa sociedade ou fase histórica. Assim, os historiadores da Ética limitaram seu estudo para aquelas ideias de carácter moral que possuem uma base filosófica, isto é, em vez de se darem simplesmente como supostas, são examinadas em seus fundamentos e são filosoficamente justificadas. A justificação não importa se é do âmbito metafísico ou teológico, mas que seja uma explicação racional das ideias ou das normas adoptadas. Dai, a razão dos historiadores da Ética seguiremos procedimentos tomados pelos historiadores da filosofia. Neste sentido, as doutrinas éticas fundamentais nascem e desenvolvem-se em diferentes épocas e sociedades, na busca de respostas aos problemas nas relações interpessoais, especificamente pelo valor moral e efectivo. Se olharmos para a história, notaremos uma grande diversidade de ideias morais no tempo. Triedros Nietzsche faz uma exposição da sucessão das doutrinas éticas quando afirma “aquilo que numa época parece mau, é quase sempre um restolho daquilo que na precedente época era considerado bom” (Nietzsche, 1977:99). As doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como resposta aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efectivo. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os conceitos morais e a realidade humana social, sujeita historicamente a devir (a mudanças). 20 As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história. A Ética e História se relacionam. Cada doutrina esta em conexão com as anteriores (tomando posições contra elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), ou com as doutrinas posteriores - prolongando-se ou enriquecendo-se nelas. Quando os princípios, os valores ou as normas nela encarada entram em crise e exigem a sua justificação ou a sua substituição por outros. Surgindo assim, a necessidade de novas reflexões ou nova teoria moral porque os conceitos, valores e normas vigentes se tornaram problemáticos. Apesar de as doutrinas serem de uma determinada época e sociedade, podem ser tratadas de forma isolada, mas dentro de um sistema de mudança que constitui a sua própria história. Neste sentido, quando os princípios ou valores numa determinada época, regido por uma doutrina, entram em crise, requerendo a sua justificação ou substituição, surgindo deste modo, surge a necessidade de novas reflexões, podendo trazer ou não uma nova abordagem, visto que os valores e normas vigentes se tornam problemáticas. UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega Sob o ponto de vista formal, a história da Ética teve a sua origem na antiguidade grega através de Aristóteles (384-322 a. C) e suas ideias sobre a Ética e as virtudes éticas. Mesmo antes de Aristóteles, já foi possível encontrar na Grécia fragmentos de uma abordagem com base filosófica para os problemas morais e até entre os filósofos – pré- socráticos encontram-se reflexões de carácter ético, por exemplo, quando pretendiam saber as razões do comportamento moral. Sócrates (470-399 a. C) considerou a questão da ética individual como problema filosófico central e a Ética como disciplina em torno da qual deveriam girar as reflexões filosóficas. Para Sócrates ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso. Só age mal quem desconhece o bem porque todo o homem quando fica sabendo o que é o bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo, e ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e consequentemente é feliz. Daí a velha máxima (frase socrática): Conhece-te a ti mesmo. Portanto, para Sócrates a virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das acções fundadas em valores morais, identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir virtuosamente em direcção ao bem. Platão (427-347 a C) ao examinar a ideia do bem à luz da sua teoria das ideias subordinou a sua Ética a metafísica. A sua Ética está 21 relacionada com sua filosofia política, porque para Platão a polis (cidade-estado) é o terreno propício para a vida moral. A sua Ética exerceu grande influência no pensamento religioso e moral do ocidente. Aristóteles (384-322 a C) organizou a Ética como disciplina filosófica e formulou a maior parte dos problemas que os filósofos morais se ocuparam: relação entre as normas e os bens entre a Ética individual e social; relação entre a vida prática e teórica, classificação das virtudes, etc. A concepção Ética de Aristóteles privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas aos sentimentos de realização pessoal, aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. A Ética Aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem natural do mundo – o naturalismo. Para Aristóteles, toda a actividade humana tende a um fim que é o bem supremo que seria resultado do exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim, o homem virtuoso é aquele que é capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros movidos por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência: por exemplo, tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isso somos levados mais facilmente para a concupiscência do que para a moderação. A Ética Aristotélica também esta relacionada com a sua filosofia política, uma vez que a comunidade social, política é o meio necessário para o exercício da moral. Somente nela pode realizar-se a ideia da vida teórica na qual se baseia a felicidade. Porque o homem moral só pode viver na cidade e é, portanto animal político ou social – zoom politicou. Apenas os deuses e os animais selvagens não tem necessidade da comunidade política para viver. O homem deve necessariamente viver em sociedade e não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas no seio de uma comunidade. Com a decadência do velho mundo greco-romano, surge o estoicismo e o epicurismo. Fundamenta-se na consciência colectiva, implícita no comportamento humano e social aceite por todos. Para Epicuro (341-270 a C), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo de uma vida feliz. Dai o surgimento da ideia do hedonismo que assume o prazer como princípio e fundamento da vida moral. Uma vez que existem muitos prazeres, nem todos são iguais e bons. É preciso escolher entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é necessário à posse de uma virtude sem a qual é impossível escolher. Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não 22 são corporais – fugazes e imediatos - mas os espirituais porque contribuem para a paz da alma. A virtude ética é prudência que leva o homem ou a mulher a escolher prazeres que não trazem perturbações, visto que o prazer é um bem que leva a uma vida feliz. Para os estóicos (Zenão, Séneca e Marco Aurélio), o homem é feliz quando aceita o seu destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo ordenado e harmonioso onde os sucessos resultam do cumprimento da lei natural, racional e perfeita. O bem supremo é viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar pelas paixões, afectos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico deixa de ser um cidadão da polis e passa a ser do cosmo. O ser humano é um cidadão do cosmo e o seu destino já está predeterminado. UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval Com o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil substituiu a escravidão. Assim o regime servil deu bases para a construção da sociedade feudal. A sociedade feudal era extremamente estratifica e hierarquizada. No entanto era uma sociedade fragmentada economicamente e politicamente na medida em que as estruturas deixadas pelo mundo antigo foram desfeitas e a igreja continuou sendo a única instituição organizada. É por este motivo que a religião se tornou o garante da unidade social do povo na época.Assim a igreja passou, além do poder espiritual e temporal, a monopolizar a vida intelectual. Evidentemente a Ética, neste período medieval, foi sujeita a conteúdos religiosos. Os filósofos cristãos, da época, tiveram uma dupla atitude diante da Ética: Uma atitude Ecónoma que fundamenta-se em Deus e nos princípios morais. Deus criador, omnisciente e todo-poderoso. O homem como criatura de Deus tem seu fim último Nele que é o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a sua obediência e a sujeição a seus mandamentos – com carácter de imperativo supremo. Esta atitude aproveitou as ideias da ética grega platónica e estóicas inserindo-as na ética cristã. A Ética cristã é uma ética subordinada a religião num contexto em que a filosofia era considerada serva da teologia, isto é, a filosofia deveria ajudar na compreensão da teologia. 23 A ética cristã é uma ética limitada por parâmetros religiosos e dogmáticos e tende a regular o comportamento dos homens com vista a uma outra vida (reino de Deus) colocando o seu fim ou objectivo fora do homem, mas na divindade. Ao pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem transcendental ou sobrenatural, onde possa viver uma vida feliz e plena, livre de desigualdades e injustiças do mundo terreno o cristianismo introduz uma ideia inovadora: a igualdade dos homens diante de Deus. Assim o homem é chamado a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural, o reino dos céus. Esta teoria absorve bastante o que Platão e Aristóteles postularam. Os filósofos cristãos mais marcantes na ética cristã são Santo Agostinho (354-430) e São Tomas de Aquino (1226-1274). Estes reflectem respectivamente as ideias de Platão e Aristóteles. Por exemplo, a purificação de Platão e a sua ascensão libertadora até elevar-se ao mundo das ideias tem correspondência na elevação ascética até Deus exposta por Santo Agostinho. A ética de S. Tomás de Aquino assemelha-se a Aristóteles na questão da contemplação e do conhecimento que permite alcançar o fim último. Para São Tomás o fim último é Deus. A história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde prevaleceram diversas doutrinas. Contudo, todas elas surgem como reacção a Ética Cristã que era excêntrica e teológica. A ética do renascimento é antropocêntrica. Isto é, o ser humano no centro das atenções. Portanto, ela procura reflectir o homem. Portanto, o renascimento faz uma viragem significativa na história da ética. Kant (2001) defende que esta viragem deveu-se as mudanças que o mundo sofreu nas esferas económicas, políticas e científicas. Na esfera económica, por exemplo, viu-se crescer de forma muito intensa o relacionamento de forças produtivas com o desenvolvimento científico. A relação entre a produção e a ciência propiciou o desenvolvimento da ciência. Este tema não será desenvolvido nesta unidade porque não faz parte desta disciplina. No entanto, esta relação fortaleceu a nova classe social – a burguesia – que lutava para se impor politicamente e economicamente. Este foi um período de grandes revoluções políticas (na Holanda, França e Inglaterra). O renascimento trouxe as seguintes consequências: A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião); As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos; O estado separa-se da igreja; Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus. Esta rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora 24 vejamos: Nicolau Maquiavel (1469-1527) provocou uma revolução Ética ao romper com a moral cristã que impõe valores espirituais como superiores aos valores políticos. Isto é, o caracter normativo da ética, na qual a ética preocupa-se com o fim da conduta humana e com os meios para alcançar este fim. Para Maquiavel a adopção de uma moral própria em relação ao estado era fundamental. Para este, o que importa são os resultados e não a acção política em si mesma, adicionalmente, Maquiavel sugeriu sendo legítimo o uso da violência contra o que se opõe aos interesses estatais. Maquiavel pretende a aplicação de novos valores, onde o homem é centro de busca dos seus próprios valores e princípio. As ideias de Maquiavel tiveram bastante influência em Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se refere à Ética realista. UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna A teoria da ética moderna teve uma contribuição de vários autores. Em seguida descrevemos o desenvolvimento da ética moderna na visão de vários autores. Reme Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na filosofia e no homem que passaram a ser o centro de tudo, da política, da arte e da moral. Surgindo, desse modo, a Ética antropocêntrica. Thomas Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta em cada ser, de própria conservação como sendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes, a vida do homem no estado de natureza - sem leis nem governo – era solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, uma vez que os homens são por índole agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um desejo de ganho imediato. Para Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são melhores ou egoístas do que os selvagens: são apenas clarividentes se cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes. Segundo Hobbes o bom comportamento do homem deriva do seu egoísmo. Por exemplo, para Hobbes a explicação é simples: dois homens juntos têm mais facilidade de matar uma fera sem se ferirem. Esta é uma razão que explica a necessidade do homem de se auto conservar. Baruch de Espinosa (1632-1677), diz que: os homens tendem naturalmente a pensar apenas em si mesmos, nos seus desejos e opiniões. As pessoas sempre são conduzidas por suas paixões, as quais nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é uma acção necessitante da substância divina baseada na tendência de 25 conservação e consecução de tudo o que é útil. Espinosa é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há uma diferença de pontos de vista, Deus é a única substância necessária, una, infinita, independente, simples e indivisível. Tem uma identidade, de atributos dos quais conhecemos apenas dois: a extensão e o pensamento. O mundo é o conjunto dos modos desses dois atributos. O homem é uma colecção de modos da extensão e do pensamento. A substância divina desenvolve-se segundo as leis necessárias da sua natureza. Deus é determinado por si mesmo, mas é determinado num sentido único e irrevogável. O livre arbítrio do homem reduz-se à ignorância das causas que determinam as suas acções. A verdadeira liberdade cria-se na medida em que o homem se liberta das suas paixões e, pela contemplação intelectual, identifica-se com Deus. Portanto, o princípio da moral identifica-se com Deus. Nesta época vigora o panteísmo, que se caracteriza na crença de que a natureza e Deus são idênticos, não acreditando num Deus criador. Para Kant (2001), a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda menos, oposto a ela. A virtude é a própria tendência natural para o auto conservação. O homem actua melhor e mais eficazmente quando se vale da razão, que é a busca útil e, por isso, a virtude humana está essencialmente ligada ao uso da razão. Segundo Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou impedem o entender. “A razão nada exige contra a natureza, mas ela mesma exige que cada um se ame a si próprio e procure o bem próprio, e deseje tudo o que verdadeiramente conduz o homem a uma maior perfeição e, de modo absoluto que cada um se esforce no que lhe diz respeito por conservar o seu próprio ser” (Ética, IV, 18). Em relação aos juízos morais, Donald (1999), refere que os padrões humanos de julgamento moral, na sua prática, são arbitrários e caprichosos. Quando se critica ou se avalia no homem, em qualquer aspectoprocede-se a um julgamento tomando por comparação a uma figura pessoalmente pré-concebida ou um ideal de homem, individualmente construída. Contudo, quando se julga um homem e se diz que ele poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma ilusória noção de liberdade, não poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado e daquilo que é. O estado ordinário da mente quando se procede a julgamentos morais é sempre de confusões e de ilusões. Então, como proceder? Espinosa refere que o modo de proceder ultrapassa os usos e a linguagem que condicionam o julgamento, que deverá ser através da experiência. John Locai (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a uma concepção de felicidade pública, uma vez que estabeleceu um liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública, e tornou a 26 prática da virtude necessária a conservação da sociedade humana e visivelmente vantajosa por todos os que precisam tratar com as pessoas de bem. Isto é, agir para o bem comum. David Nume (1711-1776) nessa mesma linha de pensamento, Nume afirma que o fundamento da moral é a utilidade, isto é, a boa acção, aquela que proporciona felicidade e satisfação à sociedade. A utilidade responde a uma necessidade que leva o homem a promover a felicidade dos seus semelhantes. Ao invés de limitar os desejos humanos determinados pelo interesse pessoal (comida, dinheiro, glória, etc.). Nume acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a capacidade de sentir em si mesmo os sofrimentos e até as alegrias do outro. O que impossibilita traçar uma linha divisória nítida entre o interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora é possível encarar o interesse como se fosse um interesse pessoal. Emanuel Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da conduta na substância racional do homem. Nele, o conceito de dever é o ponto central da moralidade – hoje conhecido por deontologia. Para Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou boa intenção, aquilo que se põe livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever é a consequência da percepção pelo homem de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer – o imperativo categórico: a necessidade de respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins em si mesmo. E o reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Trata portanto da existência de outros e das consequências dos seus actos. A humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do próximo sempre como um fim e nunca como um meio. A Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos práticos que possam ser universalizáveis, de tal maneira que os princípios que eu sigo possam valer para todos. “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Analisando a questão da corrupção, por exemplo, podemos questionar se tal procedimento deveria ser universalizado ou não. Se não podemos querer a universalização da corrupção, também não posso aceitá-la no aqui e agora. Em Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não interessando para nada um conhecimento racional da moral. A moralidade está tão afastada da pura sensibilidade como da racionalidade absoluta. Se o homem fosse apenas sensibilidade, as suas acções seriam determinadas pelos impulsos sensíveis. Se fosse só racionalidade seriam determinadas pela razão. Mas sendo o homem 27 ao mesmo tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso como a razão. É nesta possibilidade de escolha que consiste a liberdade que o faz um ser moral. Kant vê o ser humano como um ser dotado de razão e de impulso e é nata. É nessa perspectiva onde surge a possibilidade de escolha (liberdade), que o faz o ser moral. Para viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade, submetendo-se aos impulsos sensíveis e evitando assumir qualquer desejo. Como ser racional, o homem deseja a felicidade, mas enquanto desejo, a felicidade não pode ser o fundamento de um imperativo moral. A resolução deste dilema está na acção da vontade: age de modo que a máxima da tua vontade possa sempre ser valor, como princípio da legislação universal. Esta fórmula constitui a Lei moral, valendo para todos os seres racionais. A relação de uma vontade com esta Lei é uma relação de dependência que se exprime numa obrigação – em obrigar a uma acção conforme com a Lei. Esta acção chama-se dever. A Lei moral é origem e fundamento do dever no homem. A acção moral do ser humano tem como objectivo final o bem supremo, então a virtude é o bem supremo e a condição de tudo que é desejável. Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível. Por exemplo: obter qualquer vantagem ou evitar qualquer dano. A moralidade é a conformidade imediata da vontade com a Lei sem o recurso dos impulsos sensíveis. O amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a felicidade e acção que realiza a moralidade é a eliminação do egoísmo, isto é, contrapõe o eu e os seus impulsos a Lei moral. “Nós somos de certos membros legisladores de um reino moral tornado possível pela liberdade e representado pela razão prática como objecto de respeito: mas somos súbditos, não o soberano desse reino, e assim o desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar presunçosamente a autoridade da Lei, é já uma infidelidade ao espírito da Lei, mesmo quando se lhe observe a letra”. A acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo. Este bem supremo consiste, para o homem, que é um ser finito, na virtude e na união da virtude com a felicidade. A virtude é o bem supremo, a condição de tudo o que é desejável. A afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem tem consciência da lei moral e que por vezes se pode afastar dela. A afirmação de que o “homem é mau por natureza” significa que o que se disse vale para toda a espécie humana, o que não quer dizer que se trate de uma qualidade, mas de uma tendência para o mal em todos os homens, isto é, dos homens. Tal tendência para o mal é 28 moralmente negativa - mal radical e inato na natureza humana. O mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode ser vencido, a fim de que o homem seja verdadeiramente livre nas suas acções. UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea Semelhantes a ética moderna, alguns autores contribuíram para o desenvolvimento da teoria da ética contemporânea. Em seguida descrevemos as contribuições desses autores. Triedros Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo pós-kantiano. A doutrina de Hegel tem uma tendência panteísta e é conhecida como idealismo absoluto porque o absoluto é a ideia, o pensamento puro, a abstracção lógica. Hegel compreende que a moral não é uma questão perene, mas complexa e dinâmica. Hegel trata de uma moral que muda algo que se mantém independentemente e acima dos conceitos que mudam, evoluem e se transformam enquanto ela se matem una, universal e intemporal. Para Hegel, a ética e a moral das pessoas enquanto seres culturais, determina-se pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais. O que é comum a todas as perspectivas e conceitos da moral é que o indivíduo providencia a sua própria moralidade e ao mesmo tempo clama por uma genuína universalidade. O que permite a sanção das nossas escolhas morais é em parte o facto de que o critério que governa as nossas escolhas, não é escolhido. É no contexto da ordem moral estabelecida numa comunidade bem ordenada que se podem encontrar os critérios éticos gerais e concordâncias com os seus. A autoridade Ética da sociedade não advém, porémdo seu poder real, mas dos seus conceitos que são encarados como normativos. Para Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de comunidade que em cada comunidade certos valores se provarão indispensáveis, adaptando uma posição diferente da linha sobre a objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus herdeiros posteriores. Do ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está aberta, mas para o indivíduo integrado numa sociedade não está. Cada sociedade impõe certos valores a si próprio e ao indivíduo, só havendo verdadeira possibilidade de escolha arbitrária ao indivíduo que não esteja integrado numa sociedade. Platão e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética, porque a descrevem dentro de uma sociedade de polis. Os individualistas do séc. XVIII vem o bem como a expressão dos seus 29 sentimentos ou o mandato da sua razão individual porque se situam como se estivessem fora da sociedade em que vivem. A sociedade é por eles considerada apenas como um mero agregado de indivíduos. Mas Hegel levanta uma questão: o que é que, para o homem moderno, toma lugar da polis grega? Para Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e histórico é determinada pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais intersubjectivas. Assim, Hegel transforma a Ética numa filosofia de direito e divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e Ética objectiva (social). A Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética objectiva é formada pelos costumes, pelas leis e normas de uma sociedade. Entretanto, Hegel dividiu a sua obra de 1821, Filosofia do Direito, em três áreas: direito abstracto, a moral e a etnicidade. Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e exprime-se na propriedade, que é a esfera exterior da sua liberdade; A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se manifesta na acção; A etnicidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais que regem a vida dos indivíduos e constituem os seus deveres. O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a subjectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. Esta separação é resolvida pela ética, onde o bem se realiza de forma concreta e se torna existente. Donald, (1999) Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma limitação a subjectividade ou a liberdade abstracta do indivíduo, sendo, no entanto, a redenção do próprio indivíduo, dos seus impulsos e da sua subjectividade individual. No mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se realidade: “o sistema de direito é o reino da liberdade realizada, o mundo do espírito expresso por si mesmo, como uma segunda natureza.” Para que o direito - ética se realize e subsista é necessário que à vontade do indivíduo se reverta numa vontade mais vasta, universal, a qual se submeta por livre vontade. O homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético que é constituído pelo sistema de necessidades da sociedade civil. Para o Kant, o indivíduo está submetido a imperativos categóricos enquanto o indivíduo Emiliano procura os seus critérios morais nas normas da sociedade. Para Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética. 30 Donald, (1999) A vontade individual subjectiva é determinada por uma vontade objectiva, impessoal, colectiva, social e pública que cria as diversas instituições sociais. Essa vontade regula e normaliza as condutas individuais através de um conjunto de valores e costumes vigentes numa determinada sociedade e numa determinada época. O ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um estado de direito que preserve os direitos dos homens e lhes cobre seus deveres onde a consciência moral e as leis do direito não estão separadas e nem em contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização dos valores, normas e leis de uma sociedade, condensadas na vontade objectiva, cultural por um sujeito moral que as aceite livre e espontaneamente através de uma vontade subjectiva individual. A vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade colectiva de uma cultura. Kart Marx (1818-1883) a moral é uma superstrutura ideológica, com função social que permite sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os interesses da classe dominante. Numa sociedade dividida em classes antagónicas, a moral sempre terá um carácter de classe. Enquanto não se verificarem as condições reais para uma moral universal, válida para toda a sociedade não pode existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as sociedades. Para Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a imprimir um carácter universal a interesses particulares. Se a moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada historicamente a abolir a si mesmo como classe para ceder lugar a uma sociedade verdadeiramente humana, serve como passagem a uma moral universalmente humana. Os homens necessitam da moral assim como necessitam da produção, e cada moral cumpre sua função social de acordo com a estrutura social vigente. Entretanto torna-se necessária uma moral que não seja o reflexo de relações sociais alienadas para regular as relações entre os indivíduos tanto em vista das transformações da velha sociedade como para garantir a harmonia da emergente classe socialista. A transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a participação consciente dos homens. Porque, a nova moral com suas novas virtudes transforma-se numa nova necessidade. Assim, o homem deve interferir sempre na transformação da sociedade. Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral, seja a socrática, judaico-cristão ou moral burguesa. Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos os valores. O bom é o que favorece a força vital do homem, e tudo o 31 que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, à vontade de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza ou o bom fornece a força e o mal a fraqueza. Nietzsche vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos valores, transmutando-os a todos. O pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos problemas abstractos da velha metafísica e dedicam-se as questões práticas sob o ponto de vista utilitarista. A verdade é o útil que ajuda a viver e a conviver. O bem é algo que conduz a obtenção eficaz de uma finalidade, que nos conduz a um êxito. Os valores, princípios e normas perdem seu conteúdo objectivo e o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem nas suas actividades práticas, variando de acordo com as circunstâncias. O perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele tenta reduzir o comportamento moral a actos que conduzem apenas aos êxitos pessoais transformando-os numa variante utilitarista marcada apenas pelo egoísmo, rejeitando a existência de valores ou normas objectivas, criando uma distorção baseada na busca da vantagem particular onde o bom é o que ajuda o meu progresso e o meu sucesso particular. INRI Berços (1859-1941) distingue a moral: moral fechada e moral aberta. A moral fechada é o conjunto do que é permitido e do que é proibido para os indivíduos de uma sociedade tendo em vista o auto conservação da mesma. É imposta aos indivíduos e tem como finalidade tornar a vida em comum possível e útil a todos. Ela corresponde no mundo humano ao que é instinto em certas sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias sociedades. Donald, (1999) A moral aberta nasce do impulso criador supra- racional. É a moral do amor, de liberdade e da humanidade universal que resulta de uma emoção criadora. Ela torna possível a criação de novos valores e de novas condutas em substituiçãodaquelas vigentes segundo a moral fechada. É a moral dos profetas, sábios, místicos inovadores e dos santos que inspiram a instauração de uma nova ética face a moral vigente. Na filosofia contemporânea, os princípios do liberalismo influenciaram o conceito de ética, adquirindo fortes traços de moral utilitarista. Os indivíduos devem buscar a felicidade e fazerem melhores escolhas entre as alternativas existentes. Bertrand Russell (1872-1970) afirma que a ética é subjectiva. Não contem afirmações verdadeiras ou falsas. É a expressão dos desejos de um grupo. Mas o homem deve reprimir certos desejos e reforçar outros se pretende atingir a felicidade ou equilíbrio. Jurem Abertas (1924) faz uma revisão e actualização do marxismo 32 capaz de dar conta das características do capitalismo avançadas na sociedade industrial contemporânea. Faz uma crítica a racionalidade dessa sociedade caracterizando-a de uma razão instrumental que visa apenas estabelecer os meios para se alcançar um fim determinado. O desenvolvimento técnico e a ciência voltada apenas à aplicação técnica acarretam a perda do próprio bem que estaria submetido às regras de dominação técnica do mundo actual. E necessário então a recuperação da dimensão humana de uma racionalidade instrumental baseada no agir comunicativo entre sujeitos livres, de carácter emancipador em relação à dominação técnica que distorce a possibilidade da acção comunicativa e produz relações assimétricas e impede uma interacção plena entre as pessoas. Abertas pretende fundar uma nova racionalidade, e recomenda a filosofia analítica da linguagem para sistematizar as condições do uso da linguagem livre em torno da teoria da acção comunicativa. Habermas busca uma teoria geral da verdade segundo a qual o critério da verdade é o consenso dos que argumentam e defende a ideia de que argumentar é uma tarefa eminentemente comunicativa porque o discurso intersubjectivo é o lugar próprio para a argumentação. O critério de verdade aceite por consenso e somente aquele que se estabelece sob condições ideais situação ideal de fala. O consenso é racional quando estabelecido numa condição de fala. Para tal estabeleceram-se regras cuja observação e condição para que se possa falar de um discurso verdadeiro, que são: Todos os participantes tenham as mesmas chances de participar do diálogo; Todos os participantes tenham as mesmas chances para a crítica. Estas são formas de eliminação dos factores de poder que poderiam perturbar a argumentação; Todos os falantes deveriam ter chances iguais para expressar suas atitudes, sentimentos e intenções. Serão admitidos ao discurso falantes que tenham as mesmas chances enquanto agentes para dar ordens e se opor, permitir e proibir, etc. Donald (1999) defende que, um diálogo sobre questões morais entre senhores e escravos, patrões e empregados, pais e filhos, violariam as condições da situação ideal da fala. Isto porque o discurso autêntico é aquele que ocorre com pessoas em situação igual, sob condições igualitárias do ponto de vista de participação no discurso. UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida contextualizar o 33 ambiente do surgimento das teorias da ética. A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê? Nesta cessão vamos demonstrar como a ética surgiu como uma ciência. Note que a ética como uma disciplina está dividida. No entanto, não devemos nos esquecer que a Ética é uma só. Estas classificações que descrevemos abaixo têm fins meramente didácticos. A ética como uma reflexão normativa sobre os actos humanos segundo princípios racionais faz parte da Ética Geral que tenta explicar questões como a liberdade, a natureza do bem e do mal, a virtude e a felicidade, entre outros aspectos. Por outro lado, existe a Ética Especial ou a Ética Aplicada que pretende levar à prática os fundamentos gerais da ética. Por isso, a ética pode ser: Ética Geral e Ética Especial ou Aplicada. De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Ética Geral é aquela, que procura explicar questões relacionadas com a liberdade, a natureza do bem e do mal, a felicidade, etc. Ela estuda todos esses aspectos no seu plano mais geral. A Ética Aplicada ou especial pode ser enquadrada em três planos: individual, familiar e social. A nível social a ética pode se subdividir em diversos ramos: ética internacional, económica, profissional, entre outros. No caso da ética profissional pode se falar da ética para ciências de saúde, ética para a comunicação; ética para a educação, ética para os psicólogos, ética para o jurista, ética na administração, etc. Na ética especial aplicamos os conteúdos da ética geral a uma realidade específica, isto é concreta. A ética especial pode ser: ética médica, ética do psicólogo, ética dos enfermeiros, ética dos professores, ética dos economistas, ética ambiental, ética dos auditores, etc. Portanto, a ética especial é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma realidade ou tema específico. UNIDADE Temática 2.1.6. Meta - Ética De acordo com Lourenço & Vicente (1995), a Meta - ética é o estudo filosófico da natureza do julgamento moral. Ela busca o sentido pelo qual se denomina algo como certo ou errado (bom ou mau), incluindo o significado dos termos morais e a discussão de quando um 34 julgamento moral é objectivo ou subjectivo. Também a Meta - ética é uma reflexão sobre a natureza dos próprios juízos éticos como: o que quer dizer bem moral? A Meta - ética estuda, ainda, outros temas como: Objectividade da Moralidade; A natureza da moralidade; A natureza da responsabilidade e sua conexão com o livre arbítrio (a liberdade). O estudo da natureza do julgamento moral pode ser enquadrado nas seguintes disciplinas: a psicologia moral e epistemologia moral. De acordo com Kant, (2001), a Psicologia Moral interessa-se pelo estudo da motivação, da teoria das decisões e da ética descritiva. Por sua vez, a Epistemologia Moral estuda a natureza do conhecimento moral e a natureza dos argumentos morais. O estudo da natureza do argumento moral também é enquadrado na disciplina chamada Lógica Deôntica. A lógica deôntica estuda os princípios do raciocínio referente às obrigações, permissões, proibições, compromisso moral, etc. SUMÁRIO Emotivismo ou não cognitivistas: Defendem que, são efectivas expressões das emoções. A razão é inerente e somente a emoção é capaz de promover a rectidão para iniciar a acção moral; Racionalismo: a teoria de racionalismo dá mais importância a razão. Ela enfatiza o papel ou a importância da razão frente a experiência sensorial e do apelo a autoridade, como fundamento; Teorias Absolutistas: Estas teorias têm enfoque sobre as acções que podem ser consideradas erradas ou às vezes obrigatórias; Teorias do Comando Divino esta teoria afirma que todo axioma moral deriva do comando divino; Prescritivos: Defende que, os actos morais são empregados para guiar a acção e para dizer as pessoas o que deveriam fazer. É uma teoria sobre o significado de termos morais como: bom, certo ou dever. 35 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO1. Leia o texto abaixo: “… Por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade... Não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós o domínio luminoso dos valores. Justificações ou desculpas, estamos sós nós no domínio luminoso dos valores justificações e desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser sem desculpas e a ser livre, condenado porque não criou a si próprio, e no entanto, livre porque uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo que fizer”. Os homens fazem a sua própria história, mas não fazem como querem, não a fazem como circunstâncias de sua escolha e sob aquelas com que se defrontam directamente legadas e transmitidas pelo passado” Karl Max a) Enquanto Sartre defende que há determinismo, Max defende que o homem é livre e independente das circunstâncias b) Sartre defende que não há determinismo e Max estabelece um meio-termo entre o determinismo e a total liberdade do homem; c) Quando Sartre afirma que o homem está condenado a ser livre, diz o mesmo que, quando Max defende que os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; d) Sartre diz que o homem está limitado pela sua própria existência, enquanto Max afirma que o homem está limitado pelas condições históricas. 2. Um dos problemas centrais da ética como disciplina filosófica, é a fundamentação da moral. Sobre essa questão, assinale a alternativa falsa. a) As teorias éticas são no final das contas esforços de investigação da possibilidade da fundamentação da moral, no entanto, isso não significa que toda a teoria ética aponte a razão como fundamento da moralidade; b) “O cientificismo não recusa uma fundamentação racional para a moral, pois prescreve que não há uma separação entre fatos e valores. A neutralidade axiológica própria da ciência, conforme Max Weber, permite que os valores possam ser captados na sua objetividade” c) “O cientificismo não recusa uma fundamentação 36 racional para a moral, pois prescreve que não há uma separação entre fatos e valores. A neutralidade axiológica própria da ciência, conforme Max Weber, permite que os valores possam ser captados na sua objetividade”; d) “O pensamento débil ou pós-moderno rejeita a possibilidade de fundamentar a moral porque considera que a tradição filosófica foi vítima de um engano centrado na epistemologia. Não é possível uma razão totalizante, que forneça uma metanarrativa que integre os diversos aspectos do real. A razão é frágil, débil, própria da finitude de nossa condição. Valores éticos universais são formas de mascaramento da vontade de poder totalizante”. 3. De entre os temas apresentados abaixo, qual deles não é tema da meta-ética? a) Objectividade da Moralidade; b) A natureza da moralidade; c) A natureza da responsabilidade e sua conexão com o livre arbítrio (a liberdade); d) A libertinagem. 4. De entre as alternativas abaixo, qual delas melhor descreve a teoria do comando divino a) Tudo é comandado pelo homem; b) Tudo vem de Deus; c) Tudo é comandado pela Razão; d) Tudo é comandado pela emoção. 5. De entre as alternativas abaixo, qual delas é verdadeira? a) Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível; b) Kant distingue ética e moralidade: A ética é a conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível; c) Kant distingue ética. A ética é a conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível; d) Kant distingue moral. A moral é a conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível; 6. De entre as alternativas abaixo, qual delas é verdadeira? a) O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a subjectividade que deve 37 realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. b) O domínio da inmoralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a subjectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. c) O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a objectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. d) Esta separação da moralidade não é resolvida pela ética, onde o bem se realiza de forma concreta e se torna existente. EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Qual é a diferença entre a teoria racionalista e emotivista? 2. Fale sobre as teorias do comando divino. 3. Qual é a diferença entre a teoria prescritivista e absolutista? 4. Fale das teorias de comando divino. 5. Porquê é que se diz que a ética é uma disciplina Filosófica? Fundamente a sua resposta 6. Partindo do princípio que a ética é a reflexão sobre a moral, porquê é que existem muitas teorias éticas? Fundamente a sai resposta. CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO 1. B 2. B 3. D 4. B 5. A 6. A TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS 38 UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros UNIDADE Temática 3.3.3. O significado ético da relação da pessoa com os outros UNIDADE Temática 3.3.3. O dever UNIDADE TEMÁTICA 3.3.3.1. A Coação e a Obrigatoriedade Moral UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral Introdução Nesta unidade temática debruçar-nos-emos sobre a relação existente entre a ética e os Direitos humanos. Num olhar atento para o desenvolvimento histórico, a ética sempre esteve relacionada a questões de igualdade, de justiça e de respeito à dignidade. Entretanto, para que esses valores sejam garantidos, existe a necessidade de um universalismo moral, ou seja, pontos em comum para que se possa conviver em sociedade de forma harmoniosa, porém, respeitando as diferenças. Ou seja, é visível a necessidade de um mínimo moral comum a todos, não importando as diferenças, mas ressaltando o que há de comum entre os grupos. Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Descrever a vida humana como valor ético; Descrever a vida humana como valor jurídico; Analisar os direitos humanos face a defesa e protecção do ser humano; Apresentar a conjugação existente entre a ética e os direitos humanos. UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético Para Costa et al (1998), qualquer acção humana que tenha algum reflexo sobre a vida das pessoas e seu meio ambiente, deve necessariamente implicar o reconhecimento de valores e uma avaliação de como estes poderão ser afectados. O primeiro desses valores é a própria pessoa, com as peculiaridades que são inerentes à sua natureza, inclusivamente as suas respectivas necessidades 39 materiais, psíquicas e espirituais. Atenção, ignorar a valorização destes aspectos ao praticar actos que produzam algum efeito sobre a pessoa humana, seja directa ou indirectamente sobre ela através de modificações do meio em que ela existe, é neste caso reduzir a pessoa a uma condição de “coisa” ou “objecto”, retirando dela a sua dignidade. Esta situação é válida tanto para as acções do governo como para as actividades que afectam a natureza, para empreendimentos económicos, acções individuais ou colectivas, como também para criação e aplicação de tecnologia ou para qualquer actividade no campo da ciência. Entre os valores inerentesa condição humana está na “vida”. Embora sua origem permaneça um mistério, tendo-se conseguido, no máximo associar elementos que a produzem ou saber que em certas condições ela se produz, o que se tem como certo é que sem ela a pessoa humana não existe como tal, razão pela qual é de capital importância para a humanidade o respeito a origem, à conservação e a extinção da vida. Como foi assinalado por Aristóteles e por muitos outros pensadores, e as modernas ciências que se ocupam do ser humano e do seu comportamento o confirmam, o ser humano é associativo por natureza. Por necessidade material, psíquica (incluindo as necessidades intelectuais e afectivas), espiritual, todo o ser humano depende dos outros para viver, para desenvolver sua vida e para a sua sobrevivência. A percepção desse facto, é que faz da vida um valor, tanto nas sociedades que se consideram mais evoluídas e complexas quanto naquelas que são julgadas de simples e rudimentares, Costa et al. (1998). Deste modo, reconhecida a vida como um valor, foi que se chegou ao costume de respeitá-la, o que se tornou uma espécie de conduta para todos os povos, embora com algumas variações decorrentes de peculiaridades culturais existentes em cada uma delas. De acordo com Costa et al. (1998), independentemente de crenças religiosas ou de convicções filosóficas ou políticas, a vida é um valor ético. Na convivência necessária com outros seres humanos, cada pessoa é condicionada por esse valor e pelo dever de respeitá-lo, tenha ou não consciência do mesmo. A par disso, é oportuno lembrar que tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, editada pela ONU em 1948, quanto os Pactos de Direitos Humanos que ela aprovou em 1966 proclamam a existência de uma dignidade essencial e intrínseca, inerente à condição humana. 40 Depois do exposto, podemos verificar que a vida humana é mais do que a simples sobrevivência física, é a vida com dignidade, sendo esse o alcance de exigência ética de respeito à vida. A vida humana como um valor ético é vida com dignidade. A ética de um povo ou de um grupo social é um conjunto de costumes consagrados, informados por valores. A partir desses costumes é que se estabelece um sistema de normas de comportamento cuja obediência é geralmente reconhecida como necessária ou conveniente para todos os integrantes do corpo social. Por exemplo, se alguém, por conveniência ou mesmo por convicção pessoal, procura contrair ou efectivamente contraria uma dessas normas, este tem um comportamento antiético, presumivelmente prejudicial a outras pessoas do mesmo grupo sociocultural, ou até a todos os seres humanos. Assim, fica sujeito às sanções éticas previstas para questões de desobediência, podendo neste caso ser impedido de prosseguir na prática antiética ou, conforme as circunstancias, ser punido pelos danos que tenha causado ou ser obrigado a repará-los. Todos estes factores têm aplicação à protecção da vida no plano da ética, sem prejuízo da protecção resultante de seu reconhecimento como valor jurídico. UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa. Direitos Humanos são os direitos do homem. São direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, ou seja, direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade, a dignidade da pessoa humana. No entanto, apesar de facilmente identificado, a construção de um conceito que o defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do tema. Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana." São direitos que visam salvaguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, tais como a solidariedade, a dignidade. Há que salientar que, os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação adopta”. 41 Sendo assim, podemos entender "Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, isto é, aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo facto de ser homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente”. Podemos afirmar, portanto, que Direitos Humanos constituem aqueles direitos inerentes à pessoa humana, que visam resguardar a sua integridade física e psicológica perante seus semelhantes e, perante o Estado em geral. De forma a limitar os poderes das autoridades, garantindo, assim, o bem-estar social através da igualdade, fraternidade e da proibição de qualquer espécie de discriminação. Todas as pessoas têm portanto direitos iguais. Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Todas as pessoas têm direitos e são indiscutíveis e inalienáveis. Encontram-se descritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada em 1948 pelas Nações Unidas. No final da Idade Média, no século XIII, aparece a grande figura conhecida no mundo inteiro, Santo Tomás de Aquino, que tem elevada importância para a recuperação do reconhecimento da dignidade essencial da pessoa humana. Muito embora, sendo um pensador cristão, Santo Tomás de Aquino retomou Aristóteles, sob muitos aspectos e procurou fixar conceitos universais. Dos estudos, pondo-se de parte alguns pontos de suas ideias que se apoiam em dogmas de fé, resultam noções fundamentais que foram e podem ser acolhidas mesmo por quem não aceite os princípios cristãos. Tomando neste caso, a vontade de Deus como fundamento dos direitos humanos, Santo Tomás de Aquino, condena as violências e as discriminações, dizendo que o ser humano possui Direitos Naturais que devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de rebelião dos que forem submetidos a condições indignas. Nessa mesma época nasce a burguesia, uma nova força social, composta por plebeus que foram acumulando riqueza mas continuavam excluídos do exercício do poder político e, por isso, eram também vítimas de violências, discriminações e ofensas à sua dignidade. Durante alguns séculos foram ainda mantidos os privilégios da nobreza, que, associada à Igreja Católica, tornara-se uma considerável 42 força política e usava a fundamentação teológica dos Direitos Humanos para sustentar que os direitos dos reis e dos nobres decorriam da vontade de Deus. E assim, estariam justificadas as discriminações e as injustiças sociais. Os séculos XVII e XVIII trouxeram elementos novos, que acabaram pondo fim aos antigos privilégios. No campo das ideias, surgiram grandes filósofos políticos, que reafirmaram a existência dos direitos fundamentais da pessoa humana, sobretudo os direitos à liberdade e à igualdade, mas dando como fundamento desses direitos a própria natureza humana, descoberta e dirigida pela razão. Isto favoreceu a eclosão de movimentos revolucionários que, associando a burguesia e a plebe, ambas interessadas na destruição dos seculares privilégios, levaram à derrocada do antigo regime e abriram caminho para a ascensão política da burguesia. Os pontos culminantes dessa fase revolucionária foram a independência das colónias Inglesas da América do Norte, em 1776 e a Revolução Francesa, que obteve a vitória em 1789. A nova situação criada a partir daí foi inteiramente favorável à burguesia, mas adiantou muito pouco para os que não eram grandes proprietários. Em 1789 foi publicada a Declaração dos Direitos doHomem, onde se afirmava, no seu primeiro artigo, que “todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao mesmo tempo, admita “distinções sociais”, as quais, conforme a Declaração, deveriam ter fundamento na “utilidade comum” Costa et al. (1998). Logo foram achados os pretextos para essas distinções, instaurando- se, desse modo, um novo tipo de sociedade discriminatória, com novas classes de privilegiados, estabelecendo-se enorme distância entre as camadas mais ricas da população, pouco numerosas, e a grande massa dos mais pobres. Sob o pretexto de garantir o direito à liberdade, esquecendo completamente a igualdade, foram criadas novas formas políticas que passaram a caracterizar o Estado liberal burguês, o mínimo possível de interferência nas actividades económicas e sociais, supremacia dos objectivos do capitalismo, com plena liberdade contratual, garantia da propriedade como direito absoluto, sem responsabilidade social, e ocupação de cargos e das funções públicas mais relevantes apenas por pessoas do sexo masculino e com independência económica. As diferenças devem portanto ser fonte de aprendizagem e de enriquecimento, e não motivo de descriminação. As injustiças acumuladas, as discriminações formalmente legalizadas, o uso dos órgãos do Estado para sustentar privilégios dos mais ricos e de seus serviçais acarretaram sofrimentos, miséria, violência e inevitáveis revoltas, agravadas pelas disputas, sobretudo de natureza 43 económica, entre os participantes dos grupos sociais mais favorecidos, em âmbito nacional e internacional. Essa produção de injustiças teve como consequências a perda da paz, com duas guerras mundiais no século XX, chegando-se a extremos, jamais imaginados, de violência contra a vida e a dignidade da pessoa humana. Um aspecto paradoxal da história dos direitos humanos é que, apesar de serem direitos de todos os seres humanos, o que deveria levar à conclusão lógica de que nenhuma pessoa é contra os insumos, pois não é razoável que alguém se posicione contra seus próprios direitos, não é isso o que se tem verificado. Existem pessoas que colocam suas ambições pessoais, busca de poder, prestígio e riqueza acima dos valores humanos, sem perceber que desse modo eliminam qualquer barreira ética e semeiam a violência, criando insegurança para si próprias e para o seu património. Isto explica as violências na Idade Média, com o estabelecimento dos privilégios da nobreza e a servidão dos trabalhadores. Essa é, também, a raiz das agressões sofridas pelos índios da América Latina com a chegada dos europeus. Assinala-se também que existem pessoas ingénuas, mal informadas ou excessivamente temerosas, que não chegam a perceber o jogo malicioso dos dominadores, feito especialmente através dos meios de comunicação de massa. A defesa dos direitos humanos é apresentada como um risco para a sociedade, uma subversão dos direitos patrimoniais, aterrorizando-se essas pessoas com a afirmação de que a defesa dos mais pobres significa uma caminhada para a pobreza generalizada, pois existem bens suficientes para serem distribuídos. Outros, igualmente ingénuos, mal informados ou excessivamente temerosos, aceitam o argumento maldoso de que protestar contra a tortura, exigir que a pessoa suspeita, acusada ou condenada tenha respeitada a dignidade inerente à sua condição humana é fazer a defesa do crime. Está aí a outra espécie de pessoas que pensa ser contra direitos humanos, por não perceberem que esses são seus direitos fundamentais, que deveriam defender arduamente. As pessoas mal informadas podem deixar de lutar contra a violação da dignidade humana a alguém imerso nesta situação, e defender o crime. São também contra os direitos humanos os que, em nome do progresso científico de um futuro e incerto benefício da humanidade, ou alegando atitude piedosa em defesa da dignidade humana, pregam ou aceitam com facilidade a inexistência de limites éticos para as 44 experiências científicas ou o uso dos conhecimentos médicos para apressar a morte de uma determinada pessoa. E assim estes últimos defendem a eutanásia e o suicídio assistido (considera-se suicídio assistido quando o médico ou qualquer pessoa do relacionamento do paciente lhe provê todo o material necessário para que se suicide, mas não realiza activamente o acto final, ela somente se assegura de que a dose ministrada irá matar e faz com que o paciente a aplique em si mesmo), que são formas de homicídio, atitudes que levam à antecipação da extinção da vida, que nenhuma norma de direitos humanos autoriza. Com o andar do tempo, a maior parte das pessoas estão a ficar mais consciencializadas da necessidade de luta pelos seus direitos. Um importante dado é que, por meio da experiência, da reflexão e, muitas vezes, do sofrimento, muitas pessoas de boa-fé, que julgavam contrárias aos direitos humanos, adquiriram consciência de sua contradição e mudaram de atitude. É necessário e oportuno ressaltar que, embora sem rapidez que seria ideal, vem aumentando sempre o número de pessoas consciencializadas, sendo necessário um trabalho de base que seja constante e esclarecido, como também estimulado de modo a que se acelere a ampliação do número de defensores dos direitos humanos em todo o mundo. 3.1. UNIDADE Temática 3.3. Pessoa como Categoria Ética “Todos sabemos que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da familia dos hominideos, do género homo, da espécie sapiens, que o nossso corpo é uma máquina com trinta bilhões de células, controlada e procriada por um sistema genético que se constistuiu no decurso de uma longa evolução natural de 2 a 3 bilhões de anos, o cérebro com que pensamos, a boca com que falamos, a mão com que escrevemos, são órgãos biológicos, mas este conhecimento é tão inoperante como o que nos informa que o nosso organismos é constituído por combinações de carbono, de hidrogénio, de oxigénio e azoto”.(Morin, 1975: 15). O relato de Edgar Morin, acima citado, mostra-nos que somos diferentes relativamente aos outros animais. O homem é um ser capaz de dizer sim ou não a algo. Portanto, é o sujeito que manifesta a sua autonomia em relação a natureza e ao mundo que o rodeia. O homem possui qualidades que o constitui como um sujeito impar no universos dos outros animais tais como: a conscieência de si mesmo, reter opassado, prever o futuro, dar nomes aos objectos, ultrapassando os limites graças a sua imaginação. Fortes, (1995). Perante estes factos podemos concluir que a realidade humana não se 45 limita no ser biológico, uma vez que exige e comporta outras vertentes como psicológica, social, cultural e moral. Por isso, o ser humano é o resultado de vários processos: biológicos, psicológicos, sociais, culturais e morais. Estes factores encontram- se conjugados numa complexa relação interindividual. É nesse contexto que o homem se descobre a si mesmo como um indivíduo pensante, e descobre a existência dos outros como a condição da sua existência. Falemos de seguida deste indivíduo biológico e social. Do ponto de vista da Ética, existe a consciência moral que é a faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdição de se praticarem determinados actos, a aprovação ou remorso por havê-los praticado. A ética ou filosofia moral é a parte da Filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral. A instauração do mundo moral exige do homem a consciência crítica, que chamamos de consciência moral. Vidal, (2007). Trata-se do conjunto de exigências e das prescrições que reconhecemos como válidas para orientar a nossa escolha é a consciência que discerne o valor moral dos nossos actos. Para um acto ser considerado moral deveser livre, consciente, intencional. Mas é preciso que não seja um acto solitário e sim solidário. Costa, (1998). O acto moral supõe a solidariedade, a reciprocidade com aqueles com os quais nos comprometemos. E o compromisso não deve ser entendido como algo superficial e exterior, mas como o acto que deriva do ser total do homem, como uma promessa pela qual se encontra vinculado a comunidade. Dessa característica decorre a exigência da responsabilidade. É ser responsável, aquele que responde por seus actos, isto é, a pessoa consciente e livre assume a autoria do seu acto, reconhecendo-o como seu e respondendo pelas consequências dele. O comportamento moral é consciente, livre e responsável. É também obrigatório, e cria um dever. Fortes, (1995), mas a natureza da obrigatoriedade moral não reside na exterioridade; pois é moral justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a necessidade do cumprimento da norma. Mas a obediência a lei livremente escolhida não é prisão, ao contrário, é liberdade. Isto é, o ser consciente da disciplina e da obediência é um ser livre. A consciência moral avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, as interioriza como suas ou não, toma decisões e julga seus próprios actos. 46 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa A pessoa tem um valor absoluto que não pode ser instrumentalizado em função seja de que for. A pessoa não pode ser reduzida a simples meio, mas deve ser sempre considerada como um fim em si mesma. É a este carácter irrecusável que afirmamos que a pessoa tem um valor sagrado e absoluto. a)Singularidade A singularidade faz com que a pessoa possua uma essência individual que a torna única, irrepetível, insubstituível. Jamais existirá um outro Sócrates, Platão, o Galilleu igual ou indéntico àquele que conhecemos pela história. b)Autonomia A autonomia é uma propriedade que faz da pessoa o princípio das suas acções. Por isso, um ser autónomo é aquele que se rege pela sua prória lei. Esta característica confere a pessoa uma dignidade especial. Pois é por se sentir autónoma que a pessoa se sente sujeito, isto é, uma realidade distinta e superior ao mundo das coisas que a circundam. Importa referir que, a manifestação mais elevada da autonomia está na capacidade de se governar a si mesma, na capacidade de ser lei para si mesma, na capacidade do exercício da liberdade e auto - determinação. c)Abertura A abertura significa que apesar de ser um princípio do seu agir, a pessoa é um projecto aberto e comunicante: um projecto aberto ao mundo que o circunda, um projecto aberto aos outros que descobre como coexistente e coactuantes, um projecto aberto ao transcendente enquanto possibilidade de encontrar nessa abertura o sentido da vida. UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros Nesta secção vamos falar em primeiro lugar da relação da pessoa com os outros. De seguida trataremos do significado ético desta relação. A pessoa é um Ser com os outros. Este é um primeiro dado da existência humana. Pois o ser humano vem ao mundo graças e mediação de outrem, cresce, vive e colabora com outrém. Esta relação com o outro é uma relação constituitiva da própria existência individual. Se o ser humano existe então ele está no mundo com os outros. De acordo com Vidal, (2007) a moralidade e a ética estão intimamente 47 relacionados com os outros porque o sujeito com os outros, funda algum tipo de exiência moral e ética, a destacar: A relação com o outro como concorrente; A relação com o outro como contrato, e; A relação com o outro, com um tu-como-eu, pela reciprocidade e harmonia . a) A relação com o outro como concorrente: ela depende bastante da forma como observamos o outro e do tipo de relação estabelecida. Se olhamos para o outro como (alguém alheio a mim), aquele com quem não tenho nada a ver, aquele que aparece no meu dia-a-dia como um concorrente com quem e contra quem devo competir. Isto é, como aquele que dispuda o meu lugar, como adversário e inimigo, então a relação com ele será de oposição, disputa, conflito e até mesmo de aniquilação. Nos dias de hoje é frequente observar que a relação com o outro é de oposição e guerra, precisamente porque encara-se o outro como o “outro”; estranho, como aquele que não tenho nada a ver. Observe-se o nosso dia-a-dia os conflitos, a concorrência desleal entre empresas, etc. b) A relação com o outro como contrato: esta ralação com o outro perspectiva o eu e o outro como apenas indivíduos que estabelecem contratos entre si poque não podem sobreviver um sem o outro, e porque precisam de encontrar uma forma de assegurar a defesa dos seus interesses distintos e antagónicos. Esta é uma dimensão individualista em que a relação com o outro tem um carácter de uma relação acidental e estratégica. Poranto, segundo essa visão eu preciso do outro para poder sobreviver e satisfazer as necessidades. Deste modo de relação com o outro ainda não satisfaz a dimensão moral ou ética de sermos-uns-com-os-outros. c)Relação com o outro, com um tu-como-eu: Esta perspectiva procura abordar o outro como um “outro-eu”, com um eu-como-eu, ou seja, um tu-como-eu aquém gratuitamente e com prazer concede a dignidade de pessoa. Esta relação está cheia de experiências. E, é na experiência de acolhimento, de reconhecimento, do amor, da amizade, do enamoramento que encontramos a dimensão mais profunda da relação com o outro como uma relação positiva e feliz, isto é, uma relação com enorme peso moral e ético. É nessas experiência que acabamos de referir e outras em que os outros tem efectivamente o sentido ético da responsabilidade por nós. É só nessa dimensão que encontramos o verdadeiro sentido ético de sermos-uns-com-os-outros. Pois, é por detrás do reconhecimento onde reside o outro que é um valor, que o outro tem dignidade própria, de 48 que o outro é um imperativo ético e de que o outro pode assumir obrigações morais e arcar com a responsabilidade ética pelo seu bem- estar e felicidade. UNIDADE Temática 3.3.3. O significado ético da relação da pessoa com os outros Nesta secção vamos acentuar o valor ético da pessoa e a sua importância na relação com os outros. A relação da pessoa com os outros só pode ter significado ético se a própria pessoa se apresentar como um valor ético. A pessoa é um fim autónomo do universo – porque é racional e livre. Por isso, o valor da pessoa emerge nas relações interpessoais. É na relação com os outros que a pessoa encontra os vínculos éticos mais profundos. Esses vínculos expressam-se de diversos níveis: Em primeiro lugar, como respeito pela pessoa do outro, tal como se apresenta no encontro interpessoal. A pessoa é única, original, insubstituível. Ela é fim em si mesma e nunca pode ser instrumentalizada e reduzida a um simples meio seja do que for; Em segundo lugar, a promoção como uma forma de libertação. Na relação interpessoal, o outro se apresenta, muitas vezes, em estado de alienação: é o pobre, o oprimido, o explorado, o esfomeado, o desempregado, etc. Face a estas situações é necessário agir sob o risco do significado ético da relação pessoal possa ficar reduzida a um mero moralismo forma. Por isso, a relação interpessoal é activa, criadora, libertadora. Portanto, o valor ético da pessoa é o fundamento de uma ética social e é o critério para se decidir sobre os deveres que a consciência moral nos impõe. Depois de termos abordado do significado ético da relação da pessoa com o outro, vamos de seguida explicar o problema da experiência do dever. UNIDADE Temática 3.3.3. O dever O dever tomado no sigular significado um imperativo que se impõe à liberdadecom carácter categórico. Neste sentido, o dever é sinónimo de obrigatoriedade moral. “A obrigatoriedade moral é um comportamento obrigatório e devido; isto é, o agente é obrigado a comporta-se de acordo com uma regra ou norma de acção e a excluir ou evitar os actos proibidos por ela”. Vázquez (2006: 179). Por isso, a 49 obrigatoriedade moral impõe deveres à pessoa. Diferentemente dos outros comportamentos normativos, como o jurídico, o social, a vontade do agente moral é uma vontade livre. Este sujeito moral deve escolher com liberdade entre várias alternativas, as normas morais que exigem ser respeitadas por causa de uma convicção interior e não, como no direito, e na relação social que preconizam uma simples conformidade exterior, impessoal ou forçada. UNIDADE TEMÁTICA 3.3.3.1. A Coação e a Obrigatoriedade Moral O comportamento moral se nos apresenta como um comportamento livre e obrigatório e não existe um comportamento moral sem a liberdade. Costa, (1998). No entanto, a obrigação moral supõe necessariamente uma livre escolha. Quando a escolha não existe, da parte do sujeito, no caso de rígida determinação causal externa, não é admissível exigir do agente uma obrigação moral, já que não pode cumpri-la. Mas basta a possibilidade de escolher livremente para que se dê tal obrigação. Portanto, a obrigação moral deve ser assumida livre e internamente pelo sujeito e não imposta. Por isso, o factor pessoal é essencial na obrigação moral. Mas o factor pessoal está estreitamente ligado a questão social. Porque só pode haver obrigação para um indivíduo quando as suas decisões e os seus actos afectam os outros ou a sociedade inteira. A razão é simples, o meu comportamento tem repercussão a terceiros, por isso sou obrigado a realizar determinados actos e a evitar outros. “ (…) A obrigatoriedade moral tem um carácter social, porque se a norma deve ser aceita intimamente pelo indivíduo e este deve agir de acordo com sua livre escolha ou sua consciência do dever, a decisão pessoal não é algo que ele inventa, mas que encontra já estabelecido numa determinada sociedade. (…) As fronteiras daquilo que é obrigatório a fazer ou a não fazer, do devido ou não devido, não são modificadas pelo indivíduo, mas mudam de uma sociedade para outra; logo, o indivíduo decide e age no âmbito de uma obrigatoriedade socialmente dada”. (Vázquez, 2006: 183). Esta obrigatoriedade moral transparece da conduta da linguagem humana. Todos os homens, em todas as formas culturais, sentem-se dirigidos, no seu agir, por normas, regras, leis que impõem a partir de interior – sem coacção externa. A obrigatoriedade está expressa na voz da consciência que ordena, condena, aprova ou censura o nosso agir. Inicialmente a obrigação pode identificar-se com a pressão social. Pouco a pouco emerge no processo de maturação ética a consciência do valor que justifica tal obrigação. Faseadamente, a obrigatoriedade 50 moral proclama a sua autonomia face à pressão social. Por cima das leis do clã, da tribo, da cidade, apresentando-se à consciência leis que se impõem ao homem enquanto homem, as leis não escritas, não são fruto da pressão social, porque são anteriores à sociedade. No entanto, a obrigação moral não pode ser identificada com a pressão social, pois, para que a pressão social tenha um significado ético, é necessário que ela se apresente como um valor moral e que o sujeito sinta a obtigatoriedade de obedecer. Mas, não nos esqueçamos que a própria pressão social já pressupõe o valor moral, daí que presiste o problema.Um elemento associado a obrigação moral gera o remorso. O remorso é um sentimento desagradável, que causa mal-estar. Mas se entendermos o remorso nesse sentido estaremos fora do campo da moral e do significado ético. Então, como devemo entender o remorso? O remorso deve ser entendido como um sentimento desagradável que causa mal-estar merecido porque o dever foi violado. Somente neste sentido o remorso tem significado ético. Um outro elemento associado a obrigação moral é a sanção. A sanção só tem significado ético qunado justo é merecido. Por isso, a obrigatoriedade moral se apresenta como uma necessidade verdadeiramente original. É uma necessidade da liberdade. Portanto, o dever moral expressa-se no seguinte princípio: “o bem deve fazer-se e o mal deve evitar-se”. Este é um princípio abstracto e universal. Mas a questão que se coloca é a seguinte: qual é o bem que se deve fazer e o mal que se deve evitar? Todas as esferas da vida social estão sujeitas a alguns deveres como: deveres para connoscos mesmos, deveres para com a família, deveres para com os empregados, deveres para com a empresa, para com a sociedade, para com o trabalho, para com a vida política,entre outros deveres. Nesta secção vamos descrever aqueles deveres que nos parecem fundamentais para o nosso estudo: o dever para connosco mesmos e deveres para com os outros. a)Deveres para connosco mesmo Antes dos devres para com os outros, existem deveres para connoscos mesmo. Cada um de nós, como pessoa, tem o direito e o dever de procurar a sua realização integral. Costa, (1998). Assim temos o dever de conservar a vida, de manter a integridade física, de desenvolver e cultivar a liberdade, a inteligência, de evitar situações em que a dignidade humana se degrade. Portanto temos o dever de respeirar em nós mesmo o valor absoluto da pessoa humana que somos. b)Deveres para com os outros 51 O outro é uma pessoa que deve ser respeitada e, se possível, amada. Costa, (1998). No entanto, temos que nos lembrar que na relação com o outro como pessoa implica a afirmação, a promoção e, muitas vezes, a libertação. Neste sentido, situa-se o dever querer o outro como pessoa, dever de promover a sua realização física, espiritual, moral, dever de o libertar de situações degradantes de exploração e opressão.Tendo em conta estes deveres para connnosco mesmo e para com os outros, podemos afirmar que tudo aquilo que atente sobre a dignidade humana, contra a vida humana são infâmias por isso a justiça e o amor devem sempre ser defendidos seja no quadro legal seja no contratual. Para entender o sentido de dever e de ligação do homem a orientação normativa de acção, temos de nos remeter ao social: a vida social impõe a cada um dos seus membros regras de conduta, modelos que vão determinar a acção. As dinâmicas sócio - económicas e políticas vão alterando esses modelos ao longo do tempo, verificaremos também que correspondem a diferentes concepções e experiências do dever. Vidal, (2007). No entanto, um aspecto permanece em comum: a conjuntura total da sociedade que pressiona o homem a agir de determinado modo, que o leva a interiorizar essa pressão e a regular as suas relações com os outros. Mas os problemas morais não se esgotam na acção, pois o que fundamenta a obrigação e interdição que o homem assume em cada época e em cada espaço cultural? A experiência moral apresenta-se sob duplo aspecto: desejável porque o cumprimento das normas, do bem tem um carácter gratificante; os valores quando interiorizados fazem parte de nos mesmos; são imanentes à nossa vontade. A experiência moral é imperativa porque se nos impõe como autoridade soberana, surge como um dever imposto do exterior à nossa consciência. Costa, (1998). Assim, o homem fundamenta a sua exigência moral em ideais, valores que vão construir-se como referências de acção. Mas há dois modos de conceber a acção moral: se dissermos, por exemplo, que cumprimos os chamados deveres (não roubo, não as responsabilidades, não mentir para conquistar prestigio social, viver em segurança, receber considerações em troca) a acção fundamentar- se-á sobre o elemento de troca – ointeresse; mas se procedemos segundo princípios, independentemente de consequências possíveis, fundamentamos a acção moral em imperativos não fazendo-a depender de nenhum cálculo mediador. Para que haja conduta ética é preciso que haja o agente consciente, isto é, aquele que conhece a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido, a virtude e o vício. Fortes (1995). A consciência moral não só conhece tais diferenças, mas também 52 reconhece-se como capaz de julgar o valor dos actos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsável por suas acções e seus sentimentos e pelas consequências do que faz e sente. A consciência moral manifesta-se na capacidade para deliberar diante de alternativas possíveis, decidindo e escolhendo uma delas antes de alcança-se na acção. A consciência tem a capacidade de avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as consequências para si e para os outros, a conformidade entre meios e fins, a obrigação de respeitar o estabelecimento ou transgredi-lo. Clotet (2003). No entanto, a vontade é o poder deliberativo e decisório do agente moral. Para que se exerça tal poder sobre o sujeito moral, a vontade deve ser livre, isto é, não pode estar submetida à vontade de um outro nem pode estar submetida aos instintos e às paixões, mas, ao contrário, deve ter poder sobre eles e elas. O campo ético é constituído pelos valores e pelas obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, isto é, as virtudes. O principal constituinte da exigência ética é o sujeito moral. O sujeito ético só pode existir se preencher as seguintes condições de acordo com Fortes (1995): Ser consciente de si e dos outros: deve ser capaz de reflectir e de reconhecer a existências dos outros como sujeitos iguais a ele; Ser dotado de vontade: isto é, deve ter a capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis; Ser responsável: isto é, deve ser capaz de reconhecer-se como autor da acção, avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros, assumindo-as bem como às suas consequências, respondendo por elas; Ser livre: isto é, deve ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e acções, por não estar submetido a poderes externos. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder para auto determinar-se, dando a si mesmo as regras de conduta. O campo ético é constituído por dois pólos internamente relacionados: o agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes éticas. Do ponto de vista do agente ou sujeito moral, a ética faz uma exigência essencial, qual seja, a diferença entre a passividade e a actividade. Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus 53 impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de um outro, não exercendo a sua própria consciência, vontade, liberdade e responsabilidade. Do ponto de vista dos valores, a ética exprime a maneira como a cultura e a sociedade definem para si mesmas, o que julgam ser por exemplo, o crime, a violência, a corrupção, o mal, o vício e, como contrapartida, o que a mesma sociedade considera ser o bem e a virtude. Para além do sujeito moral, os valores e os fins morais, o campo ético é constituído ainda pelos meios – que o sujeito realiza os fins. Em ética, nem todos os meios são justificáveis, mas aqueles que estão de acordo com os fins da própria acção. Isto é, fins éticos exigem meios éticos. Por isso, a relação entre meios e fins pressupõe que a pessoa moral não exista como um facto dado, mas é instaurada pela vida inter - subjectiva e social, precisando ser educada para os valores morais e para as virtudes. Se observarmos a nossa sociedade notaremos que ela possui códigos morais, isto é, um conjunto organizado de normas que prescrevem o que é moralmente valioso. E existem determinadas infracções que são consideradas reprováveis e condenadas pelos membros da própria sociedade. Costa, (1998). Por exemplo: a crueldade, a corrupção, o assassínio, entre outros. Mas que quer dizer? É que cada sociedade possui uma hierarquização normativa que é a expressão do escalonamento dos valores que uma sociedade preza. Gracia, (1989). Sendo as normas morais a manifestação dos valores morais a gravidade das infracções é aferida segundo a importância do valor que por elas é negado. Se damos mais valor ao respeito pela vida humana do que ao cumprimento das promessas, então o juízo moral acerca do homicídio, por exemplo, será mais duro e severo do que a reprovação da desonestidade. Por isso, uma norma moral é uma regra de comportamento que determina o que devemos fazer ou não fazer para que a nossa acção seja moralmente válida ou moralmente valiosa. Neste sentido, tomemos como exemplo a Privacidade como um valor, pode exprimir- se numa norma moral através da qual assume a forma de dever: “respeita a privacidade de cada um”. Portanto, os valores aparecem como exigências, isto é, como algo que requer um esforço de concretização. Portanto, as normas morais são as formas mediante as quais uma certa sociedade pretende ver concretizados, vividos, os seus valores. UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral Nesta secção vamos explicar a liberdade como fundamento do agir 54 moral. Entre a liberdade e a moralidade existe uma relação intrínseca que faz da liberdade o fundamento do agir moral e deste o resultado e a expressão daquela. Um acto moral só pode ser moral se for incondicionalmente livre. Para Kant (1988), o acto moral é aquele que encontra o fim em sí mesmo, que é absoluto, praticado por obediência à lei prática, como o cumprimento do dever. A liberdade é a razão de ser da lei moral e a afirmação do sujeito que age como pessoa, com boa vontade e que, mesmo agindo por dever, age livremente pois obedece à sua própria lei. Por isso, para a liberdade é a condição da lei moral e a lei moral é a condição sob a qual primeiramente podemos nos tornar conscientes da liberdade. Daí que, a liberdade é a razão de ser da lei moral, e esta a razão de conhecer da liberdade. Portanto, se a liberdade fundamenta a Lei moral, então a lei moral manifesta a liberdade. Observemos a relação entre a liberdade e a moralidade, no dizer de Kant (1988: 95-96):“Não basta que atribuamos liberdade à nossa vontade, seja porque razão for, senão tivermos também razão suficiente para a atribuirmos a todos os seres racionais. Pois como a moralidade nos serve de lei somente enquanto somos seres racionais, tem ela que valer também para todos os seres racionais; e como não pode derivar-se senão da propriedade da liberdade, tem que ser demonstrada a liberdade como propriedade da vontade de todos os seres racionais, e não basta verificá-la por certas supostas experiências da natureza humana (se bem que isto seja absolutamente impossível e só possa ser demonstrado a priori), mas sim temos que demonstrá-la como pertencente à actividade dos seres racionais em geral e dotados de uma vontade. Digo, pois: Todo o ser que não pode agir senão sob a ideia da liberdade, é por isso mesmo, em sentido prático, verdadeiramente livre”. Valem todas as leis que estão inseparavelemente ligadas à liberdade, exactamente como se a vontade fosse definida como livre em si mesma e de modo válido na filosofia teórica. Portanto, todo o ser racional que tem uma vontade tem que atribuir-lhe necessariamente a ideia da liberdade, sob a qual ele unicamente pode agir. Ora é impossível pensarnuma razão que com a sua própria consciência recebesse de qualquer outra parte uma direcção a respeito dos seus juízos, pois que então o sujeito atribuiria a determinação da faculdade de julgar, não à sua razão, mas a um impulso. Ela tem de considerar-se a si mesma como autora dos seus princípios, independemente de influências estranhas; por conseguinte, como razão prática ou como vontade de um ser racional, tem de considerar-se a si mesma como livre; isto é, a vontade desse ser só pode ser uma vontade própria sob a ideia da liberdade, e, portanto, é preciso atribuir, em sentido prático, a tal vontade vinda de todos os 55 seres racionais. SUMÁRIO A declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas afirma que: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. O que se convencionou chamar de “Direitos Humanos”, são exactamente os direitos correspondentes à dignidade dos seres humanos. São direitos que possuímos não porque o Estado assim decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos, por intermédio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais pleonástico que isso possa parecer, são direitos que possuímos pelo simples facto de que somos “Seres Humanos”. Os Direitos Humanos são uma ideia política com base moral e que estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça, igualdade e democracia. Eles são uma expressão do relacionamento que deveria prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos e Estados. Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação adopta. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. De entre as alternativas abaixo, escolha a que melhor define os direitos humanos. a) São direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa humana; b) São direitos que visam defender a pessoa sem a dar a devida dignidade; c) Os direitos Humanos não tem nenhuma relação com a dignidade humana; d) Todas as alternativas anteriores são correctas. 2.Faça a correspondência dos espaços em branco com as alternativas a baixo apresentadas: No final da ------------- no século XIII, aparece a grande figura conhecida 56 no mundo inteiro, -------------, que tem elevada importância para a recuperação do reconhecimento da dignidade essencial da pessoa humana. a) Modernismo, Aristóteles; b) Renascimento, Kant; c) Idade média, São Tomás de aquino; d) Todas as alternativas anteriores estão correctas. 3. Tendo em conta a declaração universal dos direitos humanos, é correcto afirmar que: a) Todos seres humanos são diferentes entre si, por isso os direitos humanos vão de acordo com as categorias das pessoas; b) Todos os seres humanos nascem livres e iguais e em direitos; c) Todas as alternativas anteriores são correctas; d) Nenhuma das respostas anteriores. 3. Quanto a relação entre a ciência e os direitos Humanos, é correcto afirmar que: a) Não é contra os direitos humanos os que, em nome do progresso científico de um futuro e incerto benefício da humanidade; b) É contra os direitos humanos os que, em nome do progresso científico de um futuro e incerto benefício da humanidade; c) Todas as alternativas anteriores estão correctas; d) Nenhuma das respostas. 4. No que concerne aos Direitos humanos, podemos afirmar positivamente o seguinte: a) Os Direitos Humanos são uma ideia política com base imoralidade e que estão intimamente relacionados com os conceitos de injustiça; b) Os Direitos Humanos não são uma ideia política com base moralidade e que estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça; c) Os Direitos Humanos são uma ideia política com base moralidade e que estão intimamente relacionados com os conceitos de justiça; d) Nenhuma das respostas anteriores. 5. Os direitos Humanos são: 57 a) Os Direitos Humanos não são universais por isso não devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação adopta. b) Os Direitos Humanos são restritos por isso, não devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação adopta. c) Os Direitos Humanos são restritos por isso devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação adopta. d) Os Direitos Humanos são universais devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação adopta. EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Qual é a importância dos direitos humanos? 2. Qual foi o papel de Santo Tomás de Aquino na consagração de Direitos Humanos? 3. Qual é a relação entre o exercício profissional do psicólogo e domínio dos direitos humanos? 4. Justifique com base num exemplo concreto a seguinte afirmação: Praticar actos que produzam algum efeito sobre a pessoa humana, seja directa ou indirectamente sobre ela através de modificações do meio em que ela existe, é neste caso reduzir a pessoa a uma condição de “coisa” ou “objecto”, retirando dela a sua dignidade? 5. “Todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao mesmo tempo, admita “distinções sociais”, as quais, conforme a Declaração, deveriam ter fundamento na “utilidade comum” Costa et al. (1998). Fundamente. 6. “A obrigatoriedade moral é um 58 comportamento obrigatório e devido”. Vázquez (2006: 179). Comente a afirmação. CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO 1. A 2. C 3. B 4. B 5. C 6. D TEMA IV: PRINCÍPIOS ÉTICOS UNIDADE TEMÁTICA 4.1.Beneficência UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência UNIDADE Temática 4.3. Autonomia UNIDADE Temática 4.4. Justiça Introdução A presente unidade temática dedicar-se-á aos principios éticos, sendo uma das unidades temáticas chaves, na medida em que os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do campo ético pelos quais se orientamas relações humanas. Por esta razão é que no final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de: Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Conhecer os principais principios éticos; Conhecer a correlação entre os princípios éticos e a actuação profissional; Enquadrar os principais principios éticos e a sua correlação com os Direitos Humanos. Com o surgimento da Ética, na década de 70, era necessário 59 estabelecer uma metodologia para analisar os casos concretos e os problemas éticos que emergiam na vida prática. Beauchamp e James, citados por Costa et al (1998), em 1976 publicaram um livro denominado “Principles of Ethics”, onde expõem uma teoria fundamentada em quatro princípios básicos, que a partir de então, torna-se fundamental para o desenvolvimento da Ética e ditaria uma forma peculiar de definir e planear os valores envolvidos nas relações dos profissionais e seus pacientes. É de salientar que estes quatro princípios que servem como regras gerais para orientar a tomada de decisão frente aos problemas éticos e para ordenar os argumentos nas discussões de casos. Os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do campo ético pelos quais se orientamasrelações humanas. Costa, (1998). Para que os princípios éticos se efectivem, exige-se a responsabilidade nos deveres do ser humano para com o outro e todos para com a humanidade. O senso de humanidade é inerente e fundamental à Ética. O pensamento ético remete ao pensar de forma solidária, assumir uma postura íntegra frente ao outro e, consequentemente, frente à sociedade e `a natureza. Gracia, (1989). Com base nestas colocações, é possível afirmar que, sendo a ética uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver. Nesta perspectiva, podem ser destacados os seguintes princípios éticos segundo Silva, (1997): Promoção da justiça e da equidade; Respeito à dignidade humana; Promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral; Respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos. Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes, pelas quais o homem rege o seu comportamento, tendo em vista uma filosofia moral dignificante traduzida pela integridade das condutas pessoais, pela não -discriminação das pessoas, pelo respeito mútuo e pelo tratamento digno. Fortes, (1995). Portanto, os princípios se justificam 60 em razão de sua capacidade de articular e orientar decisões e acções tendo como finalidade, a busca de valores orientada para a realização do ideal de vida humana. Com o reconhecimento do respeito à dignidade humana, a tem um sentido humanista, estabelecendo um vínculo com a justiça. Os direitos humanos, decorrentes da condição humana e das necessidades fundamentais de toda pessoa humana, referem-se à preservação da integridade e da dignidade dos seres humanos e à plena realização de sua personalidade. Portanto, a Ética anda aliada aos direitos humanos. Os princípios éticos anteriormente mencionados referem-se aos princípios gerais, estando neles subjacentes outros princípios. Iremos nos concentrar nos mais importantes e serão abordados de a seguir. UNIDADE TEMÁTICA 4.1.Beneficência De acordo com Costa et al (1998), a Beneficência no seu significado filosófico moral, quer dizer fazer o bem. A beneficência assegura o bem-estar das pessoas, agindo positivamente quanto aos seus importantes e legítimos interesses, na medida do possível evitando-lhes danos. Este princípio se ocupa do bem-estar dos pacientes, Grisard (2006). A Beneficência, conforme alguns dos autores representativos da Filosofia moral que usaram o termo, é uma manifestação da Benevolência. A Benevolência tem sido, porém, um conceito bem mais utilizado. Os moralistas britânicos dos séculos XVIII e XIX que debruçaram especialmente sobre o conceito, destacando-se: Shaftesbury, Joseph Butler, Francis Hutcheson, David Hume e Jeemy Bentham. Vidal, (2007). Butler, por exemplo, diz que existe no homem, de forma primária, um princípio natural de benevolência ou da procura e realização do bem nos outros e que, do mesmo modo, temos propensão a cuidar da nossa própria vida, saúde e bens particulares. Para Costa et al (1998), este argumento é considerado como sendo uma crítica à teoria de Thomas Hobbes, que defende que, a natureza humana é dominada pelas forças do egoísmo e da competição. Ora, o egoísmo não é o único dinamismo natural do ser humano, pois 61 toda a pessoa normal apresenta sentimentos para com os outros seres que com ela convivem, por exemplo, a simpatia, gratidão, generosidade e benevolência, que impulsionam a prática do que é bom para os outros e para o bem público. Platão, Aristóteles e Kant, outorgam um papel secundário à benevolência, pois priorizam em suas respectivas teorias o papel da razão. Para eles, a benevolência, vincada ao sentimento e às paixões tende para um protagonismo menor. Silva, (1997). Defende que, forma geral, para estes autores, a benevolência apresenta as seguintes características: É uma disposição emotiva que tenta fazer bem aos outros; É uma qualidade boa do carácter das pessoas; É uma virtude humana; É uma disposição para agir de forma correcta com os demais; De forma geral, todos os seres humanos normais a possuem. Nas primeiras três décadas do século XX, William David Ross, citado por Costa et al (1998), desenvolveu uma ética normativa, conhecida como a ética dos deveres num primeiro momento ou numa primeira consideração. A ética normativa de Ross apresenta uma lista de deveres que têm a particularidade de serem independentes uns dos outros, tais como, deveres de deveres da fidelidade, reparação, gratidão, justiça, beneficência, aperfeiçoamento pessoal e não maleficência. Entretanto, poderá alguém de repente encontrar-se diante de dois deveres num primeiro momento ou numa primeira consideração ao mesmo tempo. Diante do dilema, terá que decidir-se por um dos dois. Por esse motivo, podemos afirmar claramente que o dever num primeiro momento ou numa primeira consideração, ainda que muito importante ou incontestável, não tem carácter absoluto. Este dever refere-se a uma situação moral determinada, é um dever que deve ser cumprido, a não ser que entre em conflito com um dever igual ou mais forte. O mesmo caso ou problema em questão poderia também ser considerado sob influência ou condicionamento de um outro tipo de dever. Por exemplo, na prática profissional quando se trata da situação de 62 amputação de um membro de um indivíduo, sempre devemos, numa primeira consideração não causar mal ao paciente, como ter que mutilá-lo. Mas nesta situação, o dever mais importante será manter a vida, mesmo que com a qualidade inferior, ou seja, para manter o indivíduo vivo é inevitável que se ampute um dos seus membros, caso contrário o indivíduo poderá morrer. Depois de tudo exposto, vale a pena destacar: a beneficência, sob nome de benevolência, como sendo um dos elementos exponenciais da filosofia moral Britânica dos séculos XVIII e XIX e de grande repercussão na Ética. Onde Beneficência tanto a Não - Maleficência constitui deveres independentes e condicionais (ou não absolutos), conforme a classificação de Ross. Para Costa et al (1998), o princípio da beneficência tem como regra norteadora da prática médica, odontológica, psicológica e da enfermagem, entre outras, do paciente, o seu bem-estar e seus interesses, de acordo com os critérios do bem fornecidos pela Medicina, Odontologia, Psicologia e Enfermagem. Fundamenta-se no princípio da beneficência a imagem que perdurou do médico ao longo da história, e que está fundada na tradição Hipocrática “usarei o tratamento para o bem dos enfermos, segundo minha capacidade e juízo, mas nunca para fazer o mal e a injustiça”. (Costa; 1998). A Beneficência tem sido associada à excelência profissional desde os tempos da medicina grega e esta expressa no juramento acima apresentado por Hipócrates. Hipócrates é considerado por muitos, uma das figuras mais importantes da história da saúde, frequentemente considerado "Pai Da Medicina". Era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante várias gerações praticara os cuidados em saúde. O princípio da benevolência tenta num primeiro momento a promoção da saúde e prevenção da doença e, em segundo lugar, pesa os bens e os males buscando a prevalência do bem. O exercício profissional das pessoas tem uma finalidade moral, implícita em todo o seu agir, entendida principalmente em termos de benevolência. Gracia, (1989). Os profissionais procuram o bem-estar do paciente conforme o que entendem que pode ser bom no caso ou situação apresentada. A benevolência no seu sentido estrito deve ser entendida, conforme o 63 Relatório Belmont, como uma dupla obrigação, primeiramente a de não causar danos e, em segundolugar, a de maximizar o número de possíveis benefícios minimizando os prejuízos. No Relatório Belmont, focalizado na protecção dos seres humanos na pesquisa médica e na pesquisa sobre a conduta, as obrigações de benevolência são próprias dos pesquisadores em particular e da sociedade de forma geral, pois esta deve zelar sobre os riscos e benefícios decorrentes das pesquisas sobre a humanidade. É evidente que o médico e demais profissionais de saúde não podem exercer o princípio da benevolência de modo absoluto. A benevolência tem também os seus limites, o primeiro dos quais é a dignidade individual intrínseca a todo ser humano. Falando de benevolência, é importante acrescentar que é difícil poder demonstrar claramente onde fica o limite entre a beneficência como obrigação ou dever e beneficência como ideal ético que deve animar a consciência moral de qualquer profissional. Além disso, ainda que o princípio da beneficência seja importantíssimo, ele próprio torna-se incapaz de demonstrar que a decisão do profissional de saúde deve sempre anular a decisão do paciente, sendo essa uma característica dos deveres num primeiro momento ou deveres numa primeira consideração. Essa constitui uma das razões pelas quais foi afirmado que eles não são absolutos, mas sim condicionais ou dependentes da situação ou ponto de vista com que são afirmados. Existe uma série de situações na prática do profissional de saúde, nas quais o princípio da beneficência deve ser aplicado com cautela de modo a não prejudicar o paciente ou as pessoas que com ele se relacionam, ou seja, seus familiares Silva, (1997). Assim: No caso de um determinado tratamento, quando é que devemos dizer a verdade e como dizer a verdade? Até quando aliviar o sofrimento do paciente? Em que medida a autonomia do paciente está sendo respeitada? No caso de recusa do tratamento pelo paciente, deve o médico intervir quando as consequências serem mortais para o paciente, como na 64 necessidade de transfusão de um paciente crente (Testemunhas de Jeová)? O que fazer perante um paciente adulto incapaz? Perante o exposto, é importante acrescentar que o princípio da beneficência pode motivar e justificar o uso de uma determinada técnica médica em benefício de uma certa comunidade, ou de indivíduos pertencentes a uma determinada região ou pais. Neste caso, dizer a verdade ao paciente ou aos seus familiares constitui uma ameaça ou uma ajuda à autonomia do paciente? Atenção, sob o aspecto de beneficência, de forma geral, dizer a verdade contribuiria para uma tomada de decisões conscientes e devidamente fundamentadas no que se refere ao tratamento, à administração de bens, às relações humanas, ao sentido da vida e possíveis crenças religiosas. A beneficência, como já foi dito, quer dizer o fazer o bem. De uma maneira prática, isto significa que os profissionais de saúde, psicólogos entre outros profissionais, têm a obrigação moral de agir para o benefício do outro, neste caso específico, o paciente ou cliente. Este conceito, quando é utilizado na área de cuidado de saúde, que engloba todas as profissões das ciências biomédicas, significa fazer o que é melhor para o paciente ou cliente, não só do ponto de vista técnico - assistencial, mas também do ponto de vista ético. Fortes, (1995). É usar todos os conhecimentos e habilidades profissionais ao serviço do paciente, considerando na tomada de decisão a minimização dos riscos e a maximização dos benefícios do procedimento a realizar. Uma coisa está patente, o princípio da beneficência obriga o profissional de saúde a ir mais além da Não - Maleficência (não causar danos intencionalmente) e exige que o mesmo contribua significativamente para o bem-estar dos seus pacientes, promovendo acções visíveis, tais como: De modo a prevenir e remover o mal ou dano, entendido neste caso como doença e incapacidade; De modo a fazer o bem, entendido aqui como a saúde física, emocional e mental. A beneficência requer neste caso, acções positivas ou seja, é 65 necessário que o profissional da área actue em virtude de beneficiar o seu paciente. Além disso, é preciso avaliar a utilidade do acto, pesando nos benefícios versus riscos e/ou custos. UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência As origens do princípio da Não - Maleficência, remontam também à tradição Hipocrática: “cria o hábito de duas coisas: socorrer ou, ao menos, não causar danos” (Costa et al, 1998). Para Grisard (2006), o princípio da Não - Maleficência obriga o profissional a minimizar o mal às pessoas e, sempre que possível, remover completamente as causas de dano. Beauchamp e Childress, citados por Costa et al (1998), reclassificaram a Não - Maleficência ou obrigação de não causar danos, e beneficência ou obrigação de prevenir danos, retirar danos e promover o bem-estar dos sujeitos. As exigências mais comuns da Lei e da moralidade não consistem na prestação de serviços senão em restrições, expressas geralmente de forma negativa, por exemplo, não roubar. Na maioria das vezes, o princípio de Não - Maleficência envolve abstenção, já o princípio da beneficência requer acção concreta Silva, (1997). Nem sempre o princípio da Não - Maleficência é entendido correctamente, pois a sua prioridade pode ser questionada. Na prática da medicina pode, por vezes, causar danos para a obtenção de um benefício maior. Os próprios pacientes seriam os primeiros a questionar a prioridade moral da beneficência. Vidal, (2007). Por exemplo, um paciente com cancro num dos braços, ele poderá perder, como forma de salvar a sua vida. Um paciente com uma doença grave deverá submeter-se a diversos riscos, incluindo possivelmente a possibilidade de ficar estéril, de modo a ter uma chance razoável de sobrevivência. É evidente que o interesse principal não é nem cortar o braço nem a esterilidade, mas sim, garantir a plena saúde geral do paciente. Estes são casos típicos da denominada teoria moral do duplo efeito e recomenda-se portanto, que nos diversos casos, que se examine 66 conjuntamente os princípios da beneficência e da Não - Maleficência. Não sendo assim, está claro que os médicos se recusariam a intervir sempre que houvesse um risco ameaçador e grave. Mais uma coisa é clara, a dor ou dano causado a um paciente, uma vida humana só poderia ser justificada pelo profissional de saúde, no caso de ser o próprio paciente a primeira pessoa beneficiada. Devem passar a segundo ou terceiro plano os benefícios para os outros pacientes ou a sociedade em geral, o primeiro beneficiário deve ser sempre o paciente, isto é algo incontestável. Convém observar que o princípio “não causar danos” nem sempre tem sido interpretado da mesma forma, mudando neste caso de acordo com as diversas circunstâncias históricas e as instituições. Tem acontecido, às vezes, que o interesse primeiro dos profissionais, principalmente na área de saúde tem sido não causar danos à profissão para manter a boa imagem da mesma perante a sociedade. O conceito, “não causar danos”, é utilizado frequentemente como uma exigência moral da profissão, que se não cumprido, coloca o profissional de saúde numa situação de má prática negligente da medicina ou das demais profissões da área biomédica. Gracia, (1989). De acordo com o princípio da Não - Maleficência, o profissional de saúde tem o dever de, intencionalmente, não causar mal e/ou danos a seu paciente. Considerando por muitos como princípio fundamental da tradição hipocrática da ética médica. A Não - Maleficência tem importância porque, muitas vezes, o risco de causar danos é inseparável de uma acção ou procedimento que está moralmente indicado. Vidal, (2007). No exercício da medicina,este facto é muito comum, pois quase toda intervenção diagnóstica ou terapêutica envolve o risco do dano. Por exemplo, uma simples retirada de sangue para realizar um teste diagnóstico tem o risco de causar hemorragia no local. De ponto de vista ético, este dano pode estar justificado se o benefício esperado com o resultado deste exame, for maior que o risco de hemorragia. A intenção do procedimento, é beneficiar o paciente e não causar-lhe o sangramento no seu corpo Quanto maior o risco de causar dano, maior e mais justificado deve ser o objectivo do procedimento para que este possa ser considerado um acto eticamente correcto. 67 UNIDADE 4.3. Autonomia Um dos problemas fundamentais na relação entre o profissional e o paciente ou cliente centra-se na tomada de decisão, principalmente no que se refere aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos. O dilema geralmente se impõe nas várias situações, como por exemplo: A decisão deve ser do profissional preparado na arte de curar e que melhor conhece os convenientes e inconvenientes de cada conduta, ou seja, aquele que sabe mais? Ou do paciente/cliente, porque é o dono do seu próprio destino e, portanto, deve decidir o que quer para si? Este ponto crucial das discussões éticas implica na formulação de outras questões tais como: Qual deve ser a postura do médico ou profissional de saúde no que se refere ao esclarecimento do paciente? Deve contar-lhe com detalhes o diagnóstico e o prognóstico, bem como as condutas diagnósticas e terapêuticas? Deve, sempre, obter do paciente o consentimento para a realização dessas condutas? De acordo com Costa et al (1998), autonomia é um termo derivado do grego “auto” (próprio) e “nomos” (lei, regra, norma). Significa auto governo, autodeterminação da pessoa de tomar decisões que afectem sua vida, sua saúde, sua integridade física e psíquica, suas relações sociais. Refere-se neste caso, a capacidade de o ser humano decidir o que é “bom”, ou o que é seu “bem-estar”. O princípio da autonomia constitui a denominação mais comum pela qual é conhecido o princípio do respeito às pessoas, este exige que aceitemos, que elas auto – determinem – se, ou sejam autónomas, quer na sua escolha, quer nos seus actos. Este princípio requer que o profissional respeite a vontade do paciente ou do seu representante, bem como seus valores morais e crenças. O mesmo reconhece o domínio do paciente sobre a própria vida e o respeito à sua intimidade (Grisard; 2006), Desta forma, podemos entender também que a autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou buscar algo que ela julga ser importante e melhor para si mesma, aquilo que ela julga ser importante para o seu bem-estar. As condições para se exercer esta autodeterminação são as seguintes: 68 Capacidade de agir intencionalmente, o que pressupõe compreensão, razão e deliberação para poder decidir com alguma autoridade, coerência entre as alternativas que se apresentam; Liberdade no sentido de estar livre de qualquer influência controladora para a tomada de decisão. O respeito, a autonomia significa acima de tudo ter a consciência deste direito do indivíduo possuir um projecto de vida próprio, de apresentar seus pontos de vista e suas convicções. Fortes, (1995). Deste modo, respeitar a autonomia, constitui em última análise, preservar os direitos fundamentais do homem, aceitando o pluralismo ético-social que existe na actualidade. A pessoa autónoma é aquela que tem a liberdade de pensamento, é livre de coacções internas ou externas para poder escolher as alternativas que lhe são apresentadas. Vidal, (2007). Para que exista uma acção autónoma, isto é, liberdade de decidir, ou optar, é também necessária a existência de alternativas de acção ou que seja possível que o agente as crie, pois se existe apenas um único caminho a ser seguido, uma única forma de algo ser realizado, isto faz com que não haja autonomia. Além da liberdade de opção, o acto autónomo também pressupõe haver liberdade de acção, requer que a pessoa seja capaz de agir conforme as suas escolhas e suas decisões. Logo, quando não se verifica liberdade de pensamento, nem opções, quando se tem apenas uma única alternativa de escolha, esta acção empreendida não pode ser julgada autónoma. Salientar que, o respeito pela autonomia da pessoa conjuga-se com o princípio da dignidade humana, aceitando que o ser humano é um fim em si mesmo, não somente um meio de satisfação de interesses de terceiros, comerciais, industriais ou dos próprios profissionais e serviços de saúde. Portanto, respeitar a pessoa autónoma pressupõe a aceitação do pluralismo ético-social, característico do tempo. A autonomia expressa-se como princípio de liberdade moral, que pode ser desta forma formulado: Todo ser humano é agente moral autónomo e como tal deve ser respeitado por todos os que mantém as posições morais distintas Nenhuma moral pode impor-se aos seres humanos contra os ditames de sua consciência. Certamente que não se deve esperar que a autonomia individual seja total, completa. Visto que, a autonomia completa constitui um ideal. Longe de se imaginar que a liberdade individual possa ser total, que não existam nas relações sociais forte grau de controlo, de 69 condicionamentos e restrições à acção individual. Mas, se o homem não é um ser totalmente autónomo isto necessariamente não significa que sua vida esteja totalmente determinada por emoções, factores económicos e sociais ou influências religiosas. Apesar de todos os condicionantes, o ser humano pode se mover dentro de uma margem própria de decisão e acção. O ser humano não nasce autónomo, torna-se autónomo e para isto contribuem variáveis estruturais biológicas, psíquicas e socioculturais. Porém, existem pessoas que, de forma transitória ou permanente, têm a sua autonomia reduzida, como por exemplos as crianças, os sujeitos portadores de perturbação mental e do comportamento, sujeitos sob intoxicação, sob efeito de drogas e em estado de coma. Um sujeito autónomo pode agir não automaticamente em determinadas circunstâncias. Por isso, a avaliação de sua livre manifestação decisória é uma das mais complexas questões éticas impostas aos profissionais de saúde. Gracia (1989). Importa referir que, desordens como alterações físicas, podem reduzir a autonomia do paciente, podendo neste caso, comprometer a apreciação e a racionalidade das decisões a serem tomadas. Nas situações de autonomia reduzida, cabe a terceiros, familiares ou mesmo aos profissionais de saúde decidirem pelo indivíduo não autónomo. O conceito legal de competência está intimamente relacionado ao conceito de autonomia. Geralmente não se costuma questionar a competência de decisão de um paciente quando a sua decisão concorda com as dos profissionais de saúde. Ao contrário, somente quando a sua decisão não está em concordância com a dos profissionais, como no caso de recusa em submeter-se a um determinado procedimento que foi indicado pelos profissionais, aí é que a questão da validade da decisão é questionada. O julgamento de competência e incompetência de uma determinada pessoa, deve ser dirigido a cada acção particular e não a todas as decisões que a pessoa deve tomar em sua vida, mesmo com aqueles indivíduos legalmente considerados como incompetentes. No âmbito legal, presume-se que um adulto é competente até que o Poder Judiciário o considere incompetente e restrinja os seus direitos civis, mas no campo da ética raramente se julga uma pessoa de incompetente com respeito a todas as esferas de sua vida. Mesmo indivíduos que são considerados incapazes para certas decisões ou para certos campos de actuação, são competentes para decidir sobre algo em outras circunstâncias. Na prática assistencial, o princípioda autonomia tem sido aquele que obriga o profissional de saúde a disponibilizar para o paciente a mais 70 completa informação possível, com intuito de promover uma compreensão adequada do problema, condição essencial para que o paciente possa tomar uma decisão mais consciente. UNIDADE Temática 4.4. Justiça Este princípio ético resume-se na perspectiva da justiça distributiva, impondo a distribuição equitativa dos benefícios decorrentes da participação da pesquisa por todos os participantes e os demais Silva, (1997). Para Grisard (2006), o princípio da justiça preceitua a equidade na distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da medicina ou das actividades na área da saúde. Assim como o princípio da autonomia é atribuído ao paciente e o da beneficência ao médico, o princípio da justiça pode ser postulado, além das pessoas vinculadas à assistência médica directa (médico, enfermeiro, familiares e pacientes), por terceiros como sociedades de defesa dos direitos das crianças e da vida. De acordo com Costa et al (1998), por um longo período da história da humanidade, prevaleceu a ideia da Lei natural como norma das relações entre os seres humanos. Somente na modernidade a justiça deixou de ser concebida como condição natural e se transformou em decisão moral. No que se refere a justiça, ouve uma evolução como valor intrínseco de uma Lei natural para um bem decidido em termos de um contracto social. Este novo pacto passou a ditar normas de relação entre o súbito e o soberano não mais pela submissão, mas sim por uma decisão livre. O homem comum agora desconsidera a lei natural como fonte autêntica de poder e impõe sua decisão moral como única e exclusiva norma de justiça. No final do século XVII, pode-se destacar Jonh Lock que descreveu como direitos primários de todo o ser humano os seguintes: direito à vida, direito à saúde, direito à integridade física, direito à liberdade e à propriedade. Clotet, (2003). Está claro que no campo da saúde, este novo enfoque trouxe mudanças significativas. O Princípio da Justiça é normalmente interpretado através da visão da justiça distributiva. A perspectiva da justiça compensatória não é muito utilizada pelos diferentes autores da área da Ética. A justiça distributiva é uma questão de tratamento comparativo de indivíduos. Vidal, (2007). Podemos considerar de injustiça, se num caso em que havendo dois indivíduos semelhantes, em condições semelhantes, o tratamento dado a um fosse pior ou melhor do que o 71 dado ao outro indivíduo nas mesmas circunstâncias, aí estaríamos perante um caso de plena injustiça. O problema por solucionar é saber quais as regras de distribuição ou de tratamento comparativo em que devemos apoiar nosso agir. Numerosos critérios foram propostos, tais como: a justiça considera nas pessoas as virtudes ou méritos; a justiça trata os seres humanos como iguais, no sentido de distribuir os benefícios igualmente entre eles, a justiça trata as pessoas de acordo com suas necessidades, suas capacidades ou tomando em consideração tanto umas quanto outras. O Relatório Belmont colocava a seguinte ponderação ao respeito do princípio da justiça: Quem deve receber os benefícios da pesquisa e os riscos que ela acarreta? Esta é uma questão de justiça, no sentido de “distribuição justa” ou “o que é merecido”. Neste caso, podemos verificar que uma injustiça ocorre quando um benefício que uma pessoa merece é negado sem uma boa razão, ou quando algum encargo lhe é imposto indevidamente. Todos os indivíduos são iguais e devem ser tratados com equidade ou igualdade. Vidal, 2007). Existem muitas formulações amplamente aceites de como distribuir os benefícios e os encargos aos indivíduos, de modo a que evitemos a injustiça. Cada uma delas faz alusão a algumas propriedades relevantes sobre as quais os benefícios e encargos devam ser distribuídos. Por exemplo: Atribuir a cada pessoa uma parte igual do que exista; Atribuir a cada pessoa de acordo com a sua necessidade; Atribuir os benefícios a cada pessoa de acordo com o seu esforço individual; Atribuir os benefícios a cada pessoa de acordo com a sua contribuição à sociedade; Atribuir a cada pessoa os benefícios de acordo com o seu mérito. No que se refere aos princípios éticos relacionados à saúde pública, destacamos os seguintes: Promoção da justiça e da equidade nas populações; 72 Respeito à dignidade humana; Promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral; Respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos. Neste caso, considera-se injusta e não ética a frequente utilização de pesquisados provenientes de camadas mais desfavorecidas que não poderão se beneficiar dos resultantes positivos das pesquisas em que tomaram parte. Tal pode ampliar as condições de iniquidade existentes nas sociedades. Atenção! Para casos similares, deve haver justificativas éticas na utilização de usuários de serviços públicos, de pessoas e grupos sociais vulneráveis, de modo a evitar injustiças. Existem populações que são maioritariamente vulneráveis e necessitam de protecção especial, às necessidades particulares destas populações. Importa referir que é injusto recrutar selectivamente pessoas para participar como sujeitos de pesquisa simplesmente porque elas são pessoas de baixa renda, e sendo assim, elas tornam-se mais fáceis de serem manipuladas e induzidas a aceitar em troca de ganhos modestos. Na medida em que, as pesquisas com seres humanos envolvem risco (biológicos, psíquicos e sociais) e o dano eventual poderá ser imediato ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a colectividade. De acordo com a declaração de helsinki - 1964/2000, citado por Silva, (1997). Alguns princípios básicos devem ser seguidas em pesquisas ou investigações com seres humanos, dentre elas destacam-se as seguintes: É dever do pesquisador/investigador proteger a vida, a saúde, a dignidade e a integridade do ser humano; O projecto de pesquisa, métodos e técnicas devem atender a protocolos experimentais reconhecidos, apoiar-se em profundo conhecimento da literatura e ser aprovado por um Comité de Ética em Pesquisa; Avaliar riscos e benefícios, a importância do objectivo deve ser maior que o risco ao sujeito de pesquisa; Ser realizada por um profissional qualificado com comprovativos; Existir possibilidade de benefício para a população em geral; Os indivíduos devem ser voluntários livres, esclarecidos e protegidos na sua individualidade e confidencialidade das informações que 73 fornecem no âmbito da pesquisa; Cuidados especiais com sujeitos em relação de dependência. SUMÁRIO Os princípios éticos enunciam valores ou metas de carácter amplo e genérico, que expõem os grandes conceitos e os principais critérios do campo ético pelos quais se orientamas relações humanas. Com base nestas colocações, é possível afirmar que, sendo a ética uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver. Nesta perspectiva, podem ser destacados os seguintes princípios éticos, tais como: promoção da justiça e da equidade, respeito à dignidade humana, promoção do bem-estar dos indivíduos e da população em geral e respeito e estímulo à autonomia dos indivíduos, sendo a ética uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. Os princípios éticos tiveram o seu advento, com a publicação do livro denominado “Principles of Ethics em: a) 1876 b) 1976 c) 1976 d) Nenhuma das respostas anteriores. 2. De entre as alternativas abaixo, qual é a que melhor explica a importância dos princípioséticos? a) Servem como dogma na tomada de decisão frente aos problemas éticos; b) Servem como regras contraditórias na orientar a tomada de decisão frente aos problemas éticos; c) Servem como regras gerais que só atrapalham no processo de tomada de decisão frente aos problemas éticos; d) Servem como regras gerais para orientar a tomada de decisão 74 frente aos problemas éticos. 3. Tendo em conta os princípios éticos, é correcto afirmar que: a) Ética uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver; b) Ética uma reflexão simples e interdisciplinar sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver. c) Ética não é uma reflexão compartilhada, complexa e interdisciplinar sobre a adequação das acções que envolvem a vida e o viver. d) Nenhuma das alternativas anteriores. 4. Quanto ao princípio da beneficência, é correcto afirmar que: a) A Beneficência é uma manifestação da Benevolência; b) A Beneficência não tem uma correlação coma a Benevolência; c) A Beneficência não depende da Benevolência; d) Nenhuma das respostas anteriores. 5. Tendo em conta o princípio da não – maleficência é correcto afirmar o seguinte: a) Obriga o profissional a minimizar o mal às pessoas e, sempre que possível, remover completamente as causas de dano; b) Obriga o profissional a maximizar o mal às pessoas e, sempre que possível, remover completamente as causas de dano; c) Obriga o profissional a anotar o mal às pessoas e, sempre que possível, remover completamente as causas de dano; d) Nenhuma das respostas. 6. Tendo em conta o principio da autonomia, é correcto afirmar que: a) Este princípio requer que o profissional respeite os princípios profissionais; b) Este princípio requer que o profissional não respeite a vontade do paciente ou do seu representante, tenha apenas em conta o que aprendeu no seu curso enquanto ciência, se não a vida não anda; 75 c) Este princípio requer que o profissional respeite a vontade do paciente ou do seu representante d) Nenhuma das respostas anteriores EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Justifique com base num exemplo a seguinte afirmação! E faça uma crítica a mesma. “Os grupos socioeconomicamente vulneráveis, os mais desprovidos de recursos, têm menos alternativas de escolha em suas vidas, o que geralmente vai afectar o desenvolvimento do seu potencial de ampla autonomia”. Demonstre através de exemplos concretos o valor do termo consentimento livre e esclarecido para os indivíduos. 2. Comente! O princípio da justiça exige ou preceitua a equidade na distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da medicina ou das actividades na área da saúde, bem como noutras áreas. 3. Existem situações na prática médica nas quais o princípio da beneficência deve ser aplicado com cautela, de modo a não prejudicar o paciente ou as pessoas que com ele se relacionam. 4. De acordo com o estudado, aponte a importância da aplicação dos princípios da beneficência e Não - Maleficência para o paciente e seus familiares. 5. Na sua opinião, qual destes princípios (beneficência e Não - Maleficência) será o mais importante na prática profissional? Fundamente 6. Defina sujeito ético. 7. CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO 1. B 2. D 3. A 4. A 5. C 6. C 76 TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL UNIDADE Temática 5.1. Definição e Caracterização da Deontologia e da Profissão UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética UNIDADE Temática 5.4.2.1.Códigos Formais UNIDADE Temática 5.4.2.1.1. Códigos de Profissões Cognatas UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum UNIDADE TEMÁTICA 5.6. Virtudes Profissionais UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade Introdução A deontologia profissional é importante para a harmonia social, na medida em que é com base na deontologia profissional que um bom atendimento ao paciente acontece. A ética profissional tem como princípio a imparcialidade, a empatia, a compreensão, a benevolência, a seriedade, o sigilo, o rigor, o zelo, a diplomacia entre outras virtudes éticas que ajudam o paciente/cliente, a entidade empregadora, os colegas de trabalho e a sociedade em geral. No campo profissional muitas vezes o profissional depara-se com informações confidenciais relativas à vida dos pacientes ou clientes. Por outro lado, exigem do profissional atitudes e comportamentos para zelar pelo bom nome da instituição, do próprio profissional e respeitar a vida humana. Salientar que o trabalho é de natureza social, na medida em que, trabalha- se com o objectivo de servir alguém, seja paciente ou cliente. Por isso, na sua actuação, o profissional deve ter sempre um pensamento social. Isto é, um pensamento virado para a harmonia, na medida em que o trabalho é um dever social, não apenas pelo que se produz em termos de serviços ou produtos. A profissão é, acima de tudo, um dever social. Portanto, o profissional deve ter consciência do impacto positivo ou negativo que a sua 77 actuação pode trazer para a sociedade no geral. Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Definir confidencialidade e privacidade; Descrever a confidencialidade e a privacidade na actividade profissional; Apresentar o papel do profissional na sua actuação; Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em contextos concretos; Alistar os princípios éticos na actuação profissional. A ética profissional tem como premissa o melhor relacionamento do profissional com os seus clientes e com outros profissionais, levando em conta valores como a dignidade humana, auto-realização e sociabilidade (Silva e Seroai, 1998: 78). O profissional deve estar em contínua relação com o código de ética, que pode ser entendido como uma relação de práticas de comportamento que se espera que sejam observadas no exercício da profissão. O código de ética tem como objectivo habilitar o profissional a adoptar uma atitude pessoal, de acordo com os princípios éticos. Tais princípios dizem respeito à responsabilidade perante a sociedade e para com os deveres da profissão. No código de ética profissional são detalhados os conceitos básicos relacionados com os direitos e deveres dentro de uma profissão e que sejam cumpridos. Estabelecido o Código de Ética, cada profissional deve subordinar-se sob pena de incorrer em transgressão, punível pelo órgão competente, incumbido de fiscalizar o exercício profissional. Tal código assume um papel relevante na garantia da qualidade dos serviços prestados, bem como na conduta profissional. Em condições normais a profissão tem um carácter benéfico para quem a exerce e ao mesmo tempo está dirigida a outros, que também se verão beneficiados. Na essência, a profissão tem como finalidade o bem comum e o interesse público (Kotler, 1997). Portanto, a actividade profissional deve ser desenvolvida de maneira estável e honesta em interacção com outros, em conformidade com a própria vocação e respeitando a dignidade da pessoa humana. Todas as profissões têm como raiz o processo da divisão do trabalho. Entretanto, todo o trabalho deve ser digno, merecer um profundo respeito e tem que ser retribuído de forma justa. Com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sob o auspício das 78 Nações Unidas, podem ser consideradosos seguintes artigos (23 e 24) em torno da dignidade do trabalho: Artigo 23.1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do seu trabalho, às condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego. 2. Toda a pessoa tem direito, sem discriminação alguma, a salário igual por igual trabalho. 3. Toda a pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que assegure a si como à sua família uma existência conforme a dignidade humana e que será completada, em casos necessários, por qualquer outro meio de protecção social. 4. Todas as pessoas têm direito a fundar sindicatos e a sindicar-se para a defesa dos seus interesses. Artigo 24. Toda pessoa tem direito ao descanso, ao desfrute dos tempos livre, a uma limitação razoável da duração do trabalho e a férias periódicas pagas. Os direitos humanos implicam uma ética porque sempre se relacionam de uma forma ou de outra com os seres humanos: umas de formas indirectas, nomeadamente as actividades que têm a ver com objectos como a construção de pontes e edifícios, a reparação de automóveis, de equipamentos, entre outros. Outras, com exigências mais acentuadas porque têm como referência o homem. Assim, algumas profissões relacionam-se directamente com os seres humanos, como é o caso de professores, educadores, psicólogos, médicos, juristas, gestores, entre outros. Para estas profissões é mais evidentes as implicações éticas da sua profissão, porque devem cuidar os seus semelhantes não como um objecto, mas como pessoa (Kotler, 1997). Por isso, a liberdade, a consciência e a responsabilidade são pressupostos básicos e necessários para a efectivação da consciência moral e da experiência ética. É por isso que todo a actividade profissional é revestida de uma dimensão ética. Portanto, o profissional pode ser chamado a explicar-se e a justificar-se, abrindo a possibilidade de um julgamento por uma instância exterior ao sujeito da acção, que pode ser uma instituição ou a própria comunidade. De facto, toda a acção profissional é dirigida de alguém para alguém, tendo em vista o bem-estar da sociedade. E é nesta característica da acção que existe uma relação intrínseca entre a responsabilidade pelas acções praticadas e a ética, especialmente no campo profissional. UNIDADE Temática 5.1. Definição e Caracterização da Deontologia e da Profissão Na presente secção vamos descrever algumas definições sobre a profissão. 79 Uma profissão define-se, entre outros aspectos, como uma prática constante de um ofício ou um exercício habitual de uma tarefa ao serviço dos outros. (Silva et al, 1998). Observemos como este autor caracteriza alguns aspectos que envolvem o exercício profissional: A profissão tem, além de utilidade para o indivíduo, uma expressão social e moral; Em quase todas as profissões liberais existe um grande valor social. O que varia é a sua forma de actuação e a natureza qualitativa dos serviços perante as necessidades humanas; A profissão traz benefícios recíprocos aquém a prática e aquém a recebe. Nesta relação implica sempre uma conduta ligada aos princípios éticos específicos. O Estado e a sociedade, com as suas instituições, grupos, classes e indivíduos, criam deveres éticos específicos e definem a conduta relativa a cada um, o que não significa que as obrigações éticas se confundem com as obrigações legais, impostas pelo poder do Estado ou do Direito. Por isso, a reflexão sobre as acções realizadas no exercício de uma profissão devem iniciar bem antes da prática profissional. A fase da escolha profissional, ainda durante a adolescência, já deve ser permeada por esta reflexão. A escolha de uma profissão é, por vezes, uma questão de opção. Mas ao escolhê-la, seja em que circunstância for, o conjunto de deveres para com essa profissão passam a ser obrigatórios. Geralmente, escolhe-se a carreira profissional sem conhecer o conjunto de deveres que estão presentes (Kotler, 1997). Assim, em toda a fase de formação profissional, a aprendizagem das competências e habilidades referentes a prática específica numa determinada área, deve incluir uma reflexão. Ao completar a formação no nível superior a pessoa faz um juramento, que significa a sua adesão e comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional. Esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas constitui a forma mais adequada para o exercício profissional. A reflexão do exercício profissional que temos vindo a abordar deve comportar as seguintes questões: Estou sendo um bom profissional? Estou a agir adequadamente? Realizo correctamente a minha actividade? Sabemos que a conduta humana pode tender ao egoísmo, isto é, para os interesses puramente individuais. Para deixarem de ser egoístas, os interesses do profissional devem estar alinhados à sociedade. Para tal é preciso que se acomode a norma, porque estas devem estar 80 apoiadas em princípios e virtudes. Com as atitudes virtuosas podemos garantir o bem comum. Daí que a ética tem sido o caminho justo, adequado para o benefício geral, ao voltar-se para a reflexão das normas que possam guiar a nossa conduta para o bem comum. Por outro lado, a conduta profissional pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das fortes razões pelas quais os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência, de modo a inibir tais comportamentos inadequados ao exercício da profissão. Daí que a ética de cada profissão depende dos deveres ou da “deontologia ” que cada profissional aplica aos casos concretos que se podem apresentar no âmbito pessoal ou social. Na presente secção vamos definir o conceito de deontologia (ética profissional) bem como a sua relação com a profissão. De acordo com Silva et al (1998), podemos definir Deontologia como sendo o estudo do dever e das obrigações Mas antes de irmos ao pormenor desta definição, façamos uma reflexão usando a via etimológica. Etimologicamente, Deontologia é uma palavra de origem grega de Néon - o necessário, o conveniente, o devido, o obrigatório; e lógia – estudo ou conhecimento. Portanto, a Deontologia é um conjunto de comportamentos exigidos aos profissionais que muitas vezes não estão codificados numa regulamentação jurídica. Neste sentido, a deontologia é uma ética profissional de obrigações práticas, baseadas numa acção livre da pessoa, no seu carácter moral, carente de uma legislação pública. Por outro lado, ela seria um tribunal que julga a actuação do profissional no exercício das suas actividades. A deontologia traduz o cumprimento dos deveres que se apresentam a cada um na posição que ocupa na vida profissional, e que estão presentes como um compromisso na consciência moral, com respeito à profissão. Entretanto, a ética profissional traduz um campo de estudo em relação directa com a Filosofia, disciplina que historicamente lhe deu origem e alimenta a discussão sobre a Moral e os fundamentos da acção humana; bem com o Direito, uma vez que é ele quem orienta a relação com a normatividade das acções, transformadas em leis ou códigos, e dispõe sobre a distribuição da justiça aos envolvidos em conflitos de toda ordem. UNIDADE Temática 5.2. Origem Do Conceito Deontologia Como referimos na secção anterior, o conceito deontologia provém do grego doem, defuntos, dever e lotos - tratado, ciência. 81 No entanto o vocábulo entrou em uso quando Bentham deu a sua Science of morality de 1834, o título de deontology. Para Bentham (1834), deontologia era a sua doutrina utilitarista dos deveres. Depois, o conceito de Deontologia foi usado especialmente para designar as doutrinas sobre determinadas classes de deveres, relativos a profissõesou situações sociais. A deontologia é a aplicação dos princípios gerais da ética a uma realidade específica. Se ainda se recorda, na unidade I vimos que a ética é uma só. No entanto, por questões didácticas ela pode ser dividida em ética geral e aplicada. A deontologia é uma ética aplicada. Por isso podemos encontrar uma deontologia para médicos, economistas, psicólogos, agrónomos, gestores O vocábulo deontologia também significa o obrigatório, o justo, o adequado. Portanto, a Deontologia pode ser definida como sendo a ciência que estabelece normas directoras das actividades profissionais sob o signo de rectidão moral ou honestidade, estabelecendo o bem a fazer e o mal a evitar, no exercício de uma profissão. Portanto, a deontologia profissional elabora sistematicamente os ideais e as normas que devem orientar a actividade profissional. UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão De acordo com Hitt (1990), cada profissão tem uma deontologia que deve ter o seguinte esquema básico de conduta profissional: a)Na área da profissão A deontologia prevê como norma fundamental, nomeadamente zelar pela competência e honestidade pelo bom nome ou reputação da profissão, na busca honesta comprometida pelo bem da sociedade, através dos meios que essa profissão proporciona. b)Na área da ordem profissional: Na relação com os seus pares e colegas da profissão deve-se criar um culto de lealdade e solidariedade profissional evitando críticas levianas, competição e concorrência desleal; de toda e qualquer acção dos colegas e sem nunca ferir a verdade, a justiça, ou a moral. Assim, as máfias, pactos de silêncio e sociedades secretas não são necessários para o exercício profissional. c)Na área dos clientes, usuários profissionais: Esta área diz respeito aos que são usuários dos serviços profissionais. Nela encontramos 3 (três) normas fundamentais: Execução íntegra do serviço conforme o combinado com o usuário: sempre que o pedido seja moralmente lícito no plano objectivo e não vá contra o bem comum ou de terceiros ou do próprio solicitante, o profissional deve esclarecer o cliente, mostrando as inconveniências existentes e os procedimentos para melhor execução. Posteriormente pode deixar o cliente decidir e assumir 82 toda a responsabilidade pelas consequências, excepto se houver prejuízos ao bem comum ou a terceiros; A remuneração justa: o valor cobrado a um cliente deve ser idêntico ao cobrado a todos os clientes. Contundo, nada impede que se prestem serviços a menor preço ou mesmo gratuitamente, em casos de necessidade financeira do usuário; O Sigilo Profissional: o que se vem a conhecer do íntimo e pessoal no exercício da profissão faz parte do segredo confiado e só se pode usar para melhor prestação de serviços e não para outros fins. Exceptuam-se situações graves e urgentes, de perigo para o cliente, para si, para terceiros ou para o bem comum. A título de exemplo, as informações prestadas durante uma consulta a um médico, a um advogado ou a um psicólogo têm um carácter confidencial. Podemos concluir que, sendo a ética inerente à vida humana, a sua importância é bastante evidenciada na vida profissional. Cada profissional tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais, pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. A ética é ainda importante porque na acção humana o fazer e o agir estão interligados. O fazer diz respeito à competência e à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir refere-se à conduta do profissional, isto é, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão. UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional A Ética Profissional estuda e regula o relacionamento do profissional com o seu cliente, utente, paciente ou usuário, visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto sociocultural onde exerce sua profissão. Sendo a ética inerente à vida humana, a sua importância é bastante evidenciada na vida profissional, porque cada profissional tem responsabilidades individuais e sociais que envolvem pessoas que dela se beneficiam. Na sociedade actual, lamentavelmente, o sucesso económico passou a ser a medida de todas as coisas. Apenas a riqueza e o poder contam e separam os vencedores dos vencidos. As pessoas tendem a ser materialistas e individualistas e, por isso, menos responsáveis e solidárias (Kotler, 1997). Neste contexto, muitos gestores de empresas ingenuamente, pensam que para a ética ocorrer dentro de uma empresa, basta distribuir folhetos contendo um código que todos magicamente seguirão. Para exercê-la no contexto empresarial, mais do que palavras, é necessária acção. Pensar em ética é pensar de forma, antes de tudo, reflexiva. É não se sentar em cima de respostas prontas. Para viver eticamente em qualquer ambiente é preciso primeiro mergulhar dentro de si mesmo, assumir as escolhas e lutar por um mundo melhor. Acreditar que a 83 felicidade é possível, já que esse é o objectivo maior da ética. É do interesse das empresas agir sempre de maneira ética. Todos os melhores funcionários e fornecedores, tenderão a preferir as empresas com melhores princípios éticos. E os clientes que têm critério, que sabem escolher, dificilmente serão leais a um produto de menor qualidade, ou a um serviço que seja pouco eficiente. A ética está directamente relacionada com valores morais, com o bem e o mal, o que é certo ou errado. Entretanto, de acordo com Nash (1993) existem muitas razões para a recente promoção da ética no pensamento empresarial. Os administradores percebem os altos custos impostos pelos escândalos nas empresas: multas pesadas, quebra da rotina normal, baixo moral dos empregados, aumento da rotatividade, dificuldades de recrutamento, fraude interna e perda de confiança pública na reputação da empresa. UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética Na presente secção vamos reflectir acerca do processo da formalização ética. Para resolver contradições e outras situações entre organizações ou mesmo entre pares há necessidade de uma formalização ética. A formalização ética aparece como o sinal mais evidente de compromisso de boa conduta assumida por uma organização (Marcier, 2003). É essencialmente uma via de reafirmação da liderança que nela encontra o meio de clarificar certos problemas e de realizar o seu velho sonho de convergência dos fins da organização. Passemos então à definição: A formalização ética “consiste em colocar explicitamente por escrito os ideais, os valores, os princípios e as prescrições de uma organização, enunciando os seus valores e comportando uma dimensão ética” (Silva t al, 1998). A formalização ética é um veículo muito importante para estabelecer princípios éticos. Entretanto na prática profissional, o comportamento ético é directamente afectado pelo clima ético2 que reina na organização. Todavia, as influências do clima sobre as decisões dependem de duas dimensões: 2 Clima ético é a percepção compartilhada dos empregados sobre os padrões éticos – valores, práticas e procedimentos – da empresa organização ou instituição, e como eles são aplicados no relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na interacção dela com os seus stakeholders (parte interessada ou interveniente). Reflecte tanto o conteúdo moral das decisões — o que deve ser feito – quanto o processo e a prática de tais decisões — como deve ser feito. 84 Do conteúdo: as normas que se ligam ao comportamento ético e os comportamentos que são aceitáveis ou não; Da sua forma ou poder: do grau de controlo que exerce sobre o comportamento. São vários os factores que contribuem para comportamentos nãoéticos: Comportamento dos superiores; Comportamento dos colegas na organização; Práticas éticas em vigor na profissão; Clima moral da sociedade; Política formal da organização; Necessidade financeira pessoal. UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas O processo de formalização ética envolve o conhecimento das infra- estruturas éticas. A infra-estrutura ética: é uma combinação de processos e estruturas organizacionais que em conjunto constituem o requisito mínimo para o compromisso ético genuíno. (Silva et al, 1998). Existem três (3) constituintes básicos a saber: O código; A comissão; A carta dos clientes. UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código Depois de termos apresentado na secção anterior as infra-estruturas éticas, em seguida iremos reflectir sobre cada uma delas. Um código de ética profissional é um conjunto de princípios que encoraja ou proíbe certas condutas profissionais. Os códigos de ética são prescrições normativas que justificam certos objectivos e padrões de comportamento. Todas as profissões têm princípios éticos acerca do meio apropriado para os profissionais se comportarem em relação ao público e a cada colega (Arruda at.al, 2000). Portanto, o código constitui uma garantia de explicação dos preceitos éticos. Por isso, não se pode infringir um código que não existe. O código de ética adquire um mérito adicional quando +e precedido por discussões sérias que promovam a compreensão e reforcem o 85 compromisso relativamente a princípios acordados. Daí que muitos códigos são denominados códigos de conduta, isto é, lidando com o que se deve fazer. Porém, os códigos são derivações da mente humana e uma imposição ao colectivo. Eles partilham os diferentes valores que os proponentes lhes atribuem. A necessidade de tais normas deriva de um fracasso da boa vontade. Se todos gostassem do próximo como de si mesmos e se comportassem segundo os princípios mais elevados, os códigos pouco seriam necessários. Tipos de Códigos de Ética Os códigos de ética apresentam diversas características a destacar: um código deve ser formal, de qualidade fixa, de limitação espacial, de limitação temporal e códigos de profissões cognatas. Códigos Formais Usam-se códigos formais para se captar e codificar a experiência. Estes fazem uma declaração de princípios que se destinam a servir de linhas de orientação para acções éticas (Marcier, 2003). A sociedade opera em dois códigos: um corresponde às leis, estatutos e regulações formais; o outro corresponde ao nosso discernimento social informal e mais geral. Quando alguém infringe as regras informais pensamos nas sanções legais que podem ser aplicadas. Os códigos de ética têm de ser de qualidade fixa. De nada valeria dispor de uma série de códigos de penitência variável. Imaginem uma organização de profissionais (ex: gestores, psicólogos com diversas divisões). Seria bastante inadequado que uma das divisões fosse orientada por um conjunto de regras, enquanto uma outra aplicasse um conjunto diferente e menos restrita de normas éticas. Tal prática equivaleria a uma utilização cínica da ética como expediente. Contudo temos reconhecer que os princípios que afectam a psicologia clínica não são relevantes para a psicologia organizacional (Arruda et. al, 2000). Nestes casos, há princípios prevalentes e princípios de orientação subordinados exclusivamente a determinadas profissões. O que é perfeitamente aceitável. Não é aceitável a noção de normas artificiais. Uma questão importante é a de saber se os princípios éticos devem ou não ser limitados pelo tempo ou circunstância. Será que é possível tomar uma decisão ética sem referência ao contexto social? Fora do espaço cultural, consideremos como exemplos: o trabalho numa organização em que o ponto de referência organizacional pode não ser consistente com o código profissional; locais que defendem um ponto de vista minoritário (como clubes homossexuais de sexo único). Importa referir que os princípios éticos se aplicam mais no longo prazo 86 do que no curto., Uma vez que o comportamento ético é bom para o negócio da profissão. O comportamento ético não afecta o benefício imediato, mas as perspectivas a longo prazo. As pessoas têm memória mais duradoura para os comportamentos mais extraordinários, nomeadamente para as boas acções e para o comportamento mal- intencionado. Aqueles que se comportam bem são lembrados por um tempo extraordinariamente longo. Aqueles que se comportam mal descobrem em tempos posteriores que o céu se torna escuro quando a poeira assenta, isto é, colhem sempre resultados amargos em traça do seu mal comportamento. O comportamento ético destina-se ao longo curso. Portanto, o recém- chegado à prática privada não sobreviverá à margem de um código de ética. Planear ou gerir uma prática exige uma consideração da ética, tanto quanto exige a consideração dum planeamento financeiro (Arruda et.al, 2000). A moralidade e a ética distinguem-se de diversas formas: a moralidade traduz um conjunto penetrativo de valores; A ética é a formalização de princípios para orientar o comportamento e aplicável a grupos ou circunstâncias particulares, como psicólogos lidando com clientes. UNIDADE Temática 5.4.2.1.1. Códigos de Profissões Cognatas (profissões do mesmo ramo, ou seja, profissões de áreas comuns, como por exemplo: médicos, enfermeiros, psicólogos, psiquiatras) Também temos Códigos de Profissões Cognatas: há profissões que trabalham estreitamente com diversos ramos da economia. UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum Na presente secção vamos falar acerca do que existe de comum nos códigos de conduta profissional para psicólogos. Os códigos de conduta profissionais para psicólogos têm muito em comum, qualquer que seja o país de origem. A diferença mais notável é o grau relativo de abrangência. Notemos que a obra de Kultgen (1988 apud Francis, 2004) apresenta uma análise das características comuns dos códigos. Os códigos de ética apresentam as seguintes características comuns: Competência; objectividade; e honestidade relativa a qualificações; Lealdade para com o cliente, empregador ou instituição, evitamento de conflitos de interesses e de suborno; Direitos territoriais de colegas; cooperação; atribuição de 87 crédito adequado; competição justa; Supervisão de colegas; denúncias de conduta imprópria; prevenção de práticas não autorizadas; Protecção da honra e dignidade da profissão; divulgação dos seus méritos; Evitamento de danos a terceiros, ao público, ao ambiente; Alargamento do conhecimento; investigação; publicação Não exploração de clientes, estudantes, sujeitos de investigação e animais; Veracidade nas declarações públicas; Envolvimento em actividades comunitárias não relacionadas com a profissão; Desenvolvimento profissional contínuo; Disponibilização dos serviços àqueles que deles necessitam. UNIDADE TEMÁTICA 5.6. Virtudes Profissionais Todos devemos ser éticos tanto na vida profissional como familiar, entre outras relações em sociedade, que nada mais é do que ser honesto, responsável pela nossa conduta. Daí que ser ético é viver sempre com a consciência tranquila. Actuar eticamente vai muito além de não roubar ou não defraudar a empresa, pois, qualquer decisão ética tem por trás um conjunto de valores fundamentais a ter em conta. De acordo com Velasquez (1998), a ética envolve os seguintes valores: a) Honestidade: é a conduta que obriga ao respeito e à lealdade para com o bem de terceiros. Um profissional comprometido com a ética não se deixa corromper em nenhum ambiente, ainda que seja obrigado a viver e conviver com ele. A honestidade deve ser praticada também na competição, isto é, todas as promoçõesde vendas devem seguir os princípios de honestidade na competição, baseando-se pelo respeito aos concorrentes, consoante naturalmente aceito no mundo dos negócios e em respeito à Lei; b) Coragem: ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a defender- se dignamente quando está consciente de seu dever. Ajuda a não ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum. Significa ainda ousar tomar decisões indispensáveis e importantes, para a eficiência do trabalho, sem levar em conta a opinião da maioria; c) Humildade: a humildade dá ao profissional a possibilidade de 88 crescer. Só assim o profissional consegue ouvir o que os outros têm a dizer e reconhecer que o sucesso individual é resultado do trabalho da equipa. O profissional precisa de ser humilde para admitir que não é dono da verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedades de um grande número de pessoas. Portanto, representa a auto-análise que todo o profissional deve praticar em função de sua actividade profissional, a fim de reconhecer melhor as suas limitações. Trata-se de buscar a colaboração de outros profissionais mais capazes, se tiver esta necessidade e dispor-se a aprender, numa busca constante de aperfeiçoamento; d) A honestidade: está relacionada com a confiança que nos é depositada, com a responsabilidade perante o bem de terceiros e a manutenção de seus direitos. É muito fácil cair na falta de honestidade quando existe a fascinação pelos lucros rápidos, privilégios e benefícios fáceis, ou pelo enriquecimento ilícito em cargos que outorgam autoridade. Portanto, a honestidade é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não admite relatividade, tolerância; e) Sigilo: é a completa reserva quanto a tudo o que se sabe e que lhe é revelado ou o que veio a saber por força da execução do trabalho; O respeito pela vida das pessoas, dos negócios ou das empresas deve ser desenvolvido na formação nos profissionais, pois trata-se de algo muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória. Revelar detalhes ou mesmo frívolas ocorrências dos locais de trabalhos, em geral, nada interessa a terceiros. Por outro lado, existe o agravante de que planos e projectos de uma empresa ainda não colocados em prática possam ser copiados e colocados no mercado pela concorrência, antes que a empresa tenha tido oportunidade de lançá-los. Por outro lado, documentos, registos contáveis, planos de marketing, pesquisas científicas, hábitos pessoais, entre outros, devem ser mantidos em sigilo e a sua revelação pode representar sérios problemas para a empresa ou para os clientes do profissional. f) Integridade: é agir dentro dos seus princípios éticos, seja em momentos de instabilidade financeira, seja na hora de apresentar óptimas soluções; g) Tolerância e Flexibilidade: Um óptimo profissional é aquele que ouve as pessoas e avalia as situações sem preconceitos. h) Legalidade: todos os lucros devem estar de acordo com a lei. Estes princípios são estabelecidos para complementar os controles legais e não para substituí-los. i) Interesses do Consumidor: Todas as acções do Marketing Promocional devem ser honestas, respeitando a integridade do 89 consumidor, e devem ser vistas como tal. Nenhuma pessoa engajada na promoção deve abusar da boa-fé do consumidor ou explorar as técnicas, meios e instrumentos promocionais em seu detrimento. j) Satisfação do Consumidor: Todas e quaisquer acções promocionais devem ser planificadas e implementadas de tal maneira a evitar quaisquer frustrações dos consumidores. k) Imparcialidade: Todo os planos e projectos promocionais que envolvem competições devem prever total imparcialidade no julgamento, sem preconceitos de raça, credo ou religião, permitindo a todos os participantes, indistintamente, equanimidade de participação. l) Interesse Público: as promoções de vendas não podem conflituar com o interesse público, evitando-se ser demasiadamente provocante, conter estímulo à violência ou comportamento anti- social, prejuízo para a propriedade ou causar incómodo ou insulto a qualquer cidadão. m) Veracidade: a apresentação da promoção deve ser clara, honesta, fácil de entender, contendo sempre todos os dados principais de participação, aqueles a quem se destina. n) Limitações: todo e qualquer facto que possa interferir na decisão de participar ou não de uma promoção, deve ser claramente comunicado ao interessado, e de tal maneira que este possa avaliar antes de se submeter a qualquer compra de bens, ideias ou serviços. o) Dignidade: O que se defende aqui é que quando há um conflito entre a questão do tratamento da pessoa como meio para um fim e o seu tratamento como um fim em si mesma, o último princípio deve prevalecer. Muitas vezes vemos os clientes/pacientes individuais como um meio para assegurar o nosso modo de vida profissional. Em posições em que interesses do cliente/pacientes estejam em conflito com maiores lucros, devem tratar os interesses do cliente/pacientes como prevalecentes. Os clientes/pacientes não existem para fornecer sustento, mas para serem ajudados. Este caso é um exemplo primo da resolução de conflitos e de interesses. Um exemplo simultâneo de conduta incorrecta e de comportamento não ético seria ridicularizar alguém que se tivesse acabado de fazer uma confidência profissional. Por isso é necessário notar que a cortesia é parte essencial do tratamento digno das pessoas. p) Privacidade: a privacidade do consumidor deve ser protegida e as promoções devem ser implementadas respeitando-se o direito dos consumidores a terem razoável privacidade, e evitando-se que estes tenham quaisquer problemas ou aborrecimentos. O Promotor não pode fazer uso do nome, endereço e imagem do 90 consumidor na divulgação dos resultados das promoções, sem sua expressa autorização, salvo nos casos em que claramente fique estabelecido que ao participar da promoção, ele autoriza automaticamente o uso de seu nome e imagem. Promotores que usam listagens contendo nomes de consumidores devem assegurar que estas listas sejam correctas, eliminando o nome do consumidor que requisitar sua exclusão; q) Perseverança: É uma qualidade difícil de encontrar, mas necessária, pois todo o trabalho está sujeito a incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser superados, prosseguindo o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoas. r) Prudência: Todo o trabalho, para ser executando, exige muita segurança. A prudência faz com que o profissional analise situações complexas e difíceis com mais facilidade e de forma mais profunda e minuciosa, o que contribui para a maior segurança, principalmente das decisões. A prudência é indispensável principalmente nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis; s) Sinceridade: a essência da sinceridade é que as coisas devem ser o que pretendem ser e não serem escondidas. Este princípio deve ser honrado, mas não necessariamente em todo o particular, a atitude “eu sei o que é melhor”, implica sérios perigos. O conselho é ser sincero e honesto, a menos que haja uma razão muito forte para não o fazer. A sinceridade está ligada à privacidade, a que todos os códigos fazem menção, precisamente porque toda a pessoa tem direito à privacidade pessoal, salvo em circunstâncias especiais (por exemplo, quando o cliente solicita a divulgação ou quando imposto por Lei); t) Preços, Ofertas, Vantagens, Descontos: as ofertas, as condições de vantagens e descontos, assim como as condições de preço e pagamento devem assegurar informações suficientemente claras, correctas, precisas, semsugerir dubiedade de interpretações pelos consumidores, e obedecendo-se rigidamente à legislação do País. Os deveres de uma profissão são obrigatórios. Devem ser levadas em conta as qualidades pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua actuação profissional, algumas delas facilitando o exercício da profissão. Muitas dessas qualidades poderão ser adquiridas com esforço e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer da sua actividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais. 91 UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade A privacidade neste caso limita o acesso às informações de um determinado paciente, à sua intimidade. Ela representa a garantia à preservação do seu anonimato e do seu resguardo. Por outro lado, a confidencialidade é a garantia do resguardo das informações dadas pessoalmente em confiança e a protecção contra a sua revelação não autorizada. De acordo com Costa et al. (1998), no Juramento de Hipócrates já se afirmava: "qualquer coisa que eu veja ou ouça, profissional ou privadamente, que deva não ser divulgada, conservará em segredo e não contarei a ninguém". O direito à privacidade não se extingue com a morte do indivíduo. Portanto, a confidencialidade é um dever que todos os profissionais de saúde devem observar e manter mesmo após a morte do paciente. Numa pesquisa, por exemplo, são utilizados dados constantes em questionários, entrevistas, processos e bases de dados para um fim específico. Essas informações não deverão ser utilizadas para outros fins. A confidencialidade, embora uns dos preceitos morais mais antigos da prática médica, continua a ser um tema extremamente actual no exercício da relação dos profissionais de saúde com os seus pacientes. Salientar que, a confidencialidade se refere à responsabilidade sobre as informações recebidas ou obtidas em exames e observações, no caso de pesquisa por exemplo, por parte de um pesquisador e sua equipe em relação a dados pessoais do sujeito. E, por sua vez, a privacidade deriva da autonomia e engloba a intimidade da vida privada, a honra das pessoas, significando que a pessoa tem direito de limitar a exposição do seu corpo, da sua imagem, dados de um processo, julgamentos expressos em questionários, etc. (Manual operacional para comités de ética em pesquisa, 2007). De acordo com Eduards (1988, citado por Costa et al., 1998) não é difícil para um profissional de saúde entender que a confidencialidade é um dos pilares fundamentais à sustentação de uma relação de confiança com um paciente. É esta garantia que faz com que os pacientes procurem auxílio profissional quando necessitam, sem medo de repercussões económicas ou sociais, que possam advir de seu estado de saúde. As informações fornecidas pelos pacientes, em postos de saúde ou consultórios privados, bem como os resultados de exames e procedimentos realizados com finalidade diagnóstica ou terapêutica, são de sua propriedade. Importa referir que o pesquisador deve estabelecer e salvaguardar de forma segura a confidencialidade dos dados de pesquisa. Por exemplo: 92 os indivíduos participantes devem ser informados dos limites da capacidade do pesquisador em salvaguardar a confidencialidade e das possíveis consequências da quebra da mesma. Se a pesquisas envolverem dados institucionais deve-se, da mesma forma, preservar a privacidade e confidencialidade. Os profissionais, em especial de saúde, que entram em contacto com as informações dos pacientes têm apenas autorização para o acesso às mesmas em função de sua necessidade profissional, mas não o direito a usá-las livremente. Dessa forma, os profissionais somente deverão ter acesso às informações que, efectivamente, contribuam ao atendimento do paciente. Para Costa et al. (1998), a garantia da preservação do segredo das informações, além de uma obrigação legal contida no Código Penal e na maioria dos Códigos de Ética profissional, é um dever de todos os profissionais, e das instituições. Este conceito foi proposto por David Ross (1930). Ele propunha que não há, nem pode haver, regras sem excepção. De acordo com Costa et al. (1998), a preservação das informações é um compromisso de todos e para todos. Portanto, existe a necessidade de os profissionais de saúde protegerem as populações vulneráveis através de políticas claras sobre o uso das informações geradas ao longo de seu atendimento pelo sistema de saúde. Muitos autores e códigos utilizam indistintamente o termo sigilo. A palavra sigilo pode ter o significado de mera ocultação ou de preservação de informações. Os segredos dizem respeito à intimidade da pessoa, deve ser mantido e preservado adequadamente. A palavra sigilo tem sido cada vez menos utilizada. A sua utilização em diferentes idiomas tem caracterizado cada vez mais os aspectos de ocultação e menos os de preservação. A omissão de informações é uma situação que permite verificar a diferença entre segredo e sigilo. Não são raras situações em que, familiares de pacientes, solicitam aos médicos que omitam informações ou mintam aos mesmos, principalmente na situação de diagnóstico de doenças malignas. Neste caso, o médico estará mantendo uma informação em sigilo, quando deveria comunicá-la a quem de direito. Muitas das vezes, observa-se que os pacientes também pedem para que os médicos omitam ou mintam para as suas famílias, por variados motivos. Importa referir que, a segunda circunstância, em que o profissional de saúde recebe o pedido para omitir informações ao pedido do paciente, pode ser encarada como um claro exercício de sua autonomia, preservando sua intimidade e segredos. A primeira solicitação, mentir, pode constituir-se num acto eticamente inadequado. Recomenda-se aos profissionais de saúde que tenham nestas situações muita prudência ao abordar os seus familiares. Portanto, este deverá entender bem os aspectos psicodinâmicos envolvidos e discuti-los 93 claramente com a família ou com o paciente, conforme o caso, antes de tomar uma decisão séria como esta: enganar deliberadamente alguém. Muitas vezes as informações médicas são primeiro relatadas às famílias e, posteriormente, aos pacientes. Em alguns países de formação mais individualista, o paciente, de maneira quase que obrigatória, terá primeiramente acesso às informações e, então decidirá se alguém mais compartilhará das mesmas consigo ou não. Como foi abordado nas unidades anteriores, a questão do dilema ético, na realidade, não está situado entre revelar ou não o diagnóstico ao paciente, ou qualquer outra informação relevante, mas sim na forma e momento de revelar tal informação. Vale a pena relembrar que a garantia recíproca de comunicar a verdade e de não ser enganado, ou seja a veracidade, é um dos princípios básicos sobre os quais se estabelece a relação médica e paciente. Deve contudo se salientar que a preservação de segredos está associada tanto à questão da privacidade quanto da confidencialidade. A privacidade, mesmo quando não há vínculo directo, impõe ao profissional o dever de resguardar as informações com as quais teve contacto e de preservar na própria pessoa do paciente, atitude que pode ser considerada como sendo um dever institucional. A confidencialidade, por sua vez, pressupõe que o paciente revele informações directamente ao profissional, que passa a ser o responsável pela preservação das mesmas. As crianças e os adolescentes têm, tal como um adulto, o mesmo direito de preservação de suas informações pessoais, de acordo com a sua capacidade, mesmo em relação a seus pais ou responsáveis. Com relação aos pacientes idosos, especial atenção deve ser dada à revelação de informação aos familiares e, especialmente,aos cuidadores. Estes deverão receber apenas as informações necessárias para o desempenho de suas actividades de rotineiras ou seja, de dia a dia. Para Costa et al. (1998), o termo confidencialidade tem origem na palavra confiança, que é a base para um bom vínculo terapêutico. O paciente confia que seu médico ou psicólogo irá preservar tudo que lhe for relatado, tanto que revela informações que outras pessoas, com as quais convive, sequer supõem existir. É extremamente importante salientar que os deveres do terapeuta para com a preservação dos dados, informações de um paciente não cessam com a morte deste, nem com o facto de ser uma pessoa pública. O profissional não deve sequer em momento algum confirmar uma informação que já é de domínio público. Os familiares, por sua vez, não têm o direito de acesso e, muito menos, de obrigar o terapeuta a fornecer estas informações ou dados que devem permanecer resguardadas. Neste tipo de situação, o profissional somente poderá dizer à família, ou a qualquer outra pessoa que venha a solicitar este tipo de informações, “que está impedido de atender a 94 estes pedidos por motivos morais e legais, justificando a sua conduta sob o ponto de vista da adequação moral ética”. As instituições têm a obrigação de manter um sistema seguro de protecção aos documentos que contenham registos com informações de seus pacientes. As normas e rotinas de restrição de acesso aos processos de utilização de senhas de segurança em sistemas informatizados devem ser continuamente aprimoradas. Por sua vez, o acesso de terceiros envolvidos no atendimento aos pacientes, como por exemplo seguradoras e outros prestadores de serviços, deve merecer especial atenção sendo apenas disponibilizada a estes a informação estritamente necessária. A título de exemplo podemos verificar que, em média, durante um internamento clínico habitual em hospitais norte-americanos, 75 diferentes pessoas lidam com o processo de um determinado paciente (Costa et al. 1998). Os profissionais, assim como todos os demais funcionários administrativos (secretárias de unidade, funcionários do sector de arquivo de processos, de sectores de internamento, da área de facturação e de contas dos pacientes, entre outros) que entram em contacto com as informações, têm o mesmo comprometimento, ou seja, apenas autorização para o acesso às mesmas em função de sua necessidade profissional, mas não o direito de usá-las livremente (Costa et al., 1998). Neste caso, cabe às instituições e profissionais responsáveis pelo atendimento dos pacientes, especialmente aos médicos e psicólogos, um importante papel educativo e formativo no processo de manutenção das informações pertencentes exclusivamente aos pacientes. De acordo com Goldim et al. (1997, citado por Costa et al., 1998), a garantia da preservação da privacidade deve limitar o acesso à própria pessoa, à sua intimidade. Deve impedir que um paciente seja observado sem a devida autorização. Isto é extremamente importante no atendimento de pacientes em Ginecologia, por exemplo, tendo em vista o tipo de exposição a que são submetidas na maioria dos exames físicos realizados de rotina. Muitas vezes, o espaço de intimidade destas pacientes é invadido por diferentes pessoas com as quais nunca tiveram qualquer contacto prévio. Esta situação se agrava quando o atendimento ocorre num hospital de ensino, onde, além dos profissionais qualificados, surgem também alunos que participam do processo. No que se refere a questão da privacidade e da confidencialidade na actividade clínica em psicologia, o psicólogo no exercício da sua actividade deve: Respeitar o direito à privacidade e à confidencialidade de todos os seus pacientes sem discriminação, independentemente da raça, situação social, económica, familiar e laboral; No exercício da sua profissão o psicólogo tem o dever de explicar 95 ao cliente que medidas serão tomadas para proteger a sua confidencialidade. O profissional tem o estrito dever de proteger a confidencialidade de toda a informação a que tem acesso no exercício da sua profissão. Se o profissional considera que não estão reunidas as condições que lhe permitam garantir a confidencialidade, deve recusar ou terminar a relação profissional com o cliente. No exercício da profissão, o profissional deve tomar todas as medidas adequadas para assegurar que a sua equipa de trabalho compreenda e respeite efectivamente o dever da confidencialidade. Um funcionário leal se alegra quando a organização ou seu departamento é bem-sucedido. Defende a organização, toma medidas concretas quando ela é ameaçada, tem orgulho em fazer parte da organização, fala positivamente sobre ela e defende-a contra críticas. Lealdade não quer dizer necessariamente fazer o que a pessoa ou organização quer que você faça. Lealdade não é sinónima de obediência cega. (SÁ. 2005) Lealdade significa fazer críticas construtivas, mas mantendo-as dentro do âmbito da organização. Significa agir com a convicção que o seu comportamento vai promover os legítimos interesses da organização. Assim, ser leal às vezes pode significar a recusa em fazer algo que você acha que poderá prejudicar a organização, a equipa de funcionário. Entretanto, é possível ser leal a uma organização ou a uma equipe mesmo que você discorde dos métodos usados para alcançar determinados objectivos. Na verdade, seria desleal deixar de expressar o sentimento de que algo está errado, se é isso que você sente. A competência é o exercício do conhecimento de forma adequada e persistente a um trabalho ou profissão (Srour 2003). Devemos buscá- la sempre. Já dizia Aristóteles “a função de um citarista é tocar citara, e a de um bom citarista é tocá-la bem”. Temos que buscar continuamente a competência profissional em qualquer área de actuação. Portanto, os profissionais devem ser incentivados a buscar competências e mestria através do aprimoramento contínuo de suas habilidades e conhecimentos. Porque o conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas profissionais constituem pré-requisitos para a prestação de serviços de boa qualidade. Nem sempre é possível acumular todo conhecimento exigido por determinadas tarefas, mas é necessário que se tenha postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida capacitação para executá-los. A compreensão é uma qualidade que ajuda muito o profissional, porque é bem aceite pelos que dele dependem, em termos de 96 trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no relacionamento profissional. (SÁ. 2005). É bom não confundir compreensão com fraqueza, para que o profissional não se deixe levar por opiniões ou atitudes, nem sempre válidas para eficiência do seu trabalho, para que não se percam os verdadeiros objectivos a serem alcançados pela profissão. Importa referir que a compreensão precisa, muitas vezes, de ser condicionada pela prudência. No exercício da sua função, o profissional deve reconhecer e aceitar as diferenças entre pessoas sem qualquer discriminação baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia, situação socioeconómica, educação, condição de saúde, opções política, moral, estado civil ou orientação sexual, tendo como alicerce as suas actividades profissionais no respeito absoluto pela dignidade e pelos direitos da pessoa humana. Isto é, o profissional deve agir com imparcialidade, uma qualidade tão importante e que assume as características do dever, pois destina-se a se contrapor aos preconceitos, a reagir contra os mitos e a defender os verdadeiros valores sociais e éticos, assumindo uma posição justa nas situações que terá que enfrentar. (Velasquez, 1998). Para ser justo é preciso ser imparcial. Logo a justiça depende muito da imparcialidade. A essência dos valores éticosenvolve a equidade das relações. O poder detido pelos profissionais é marcado pela necessidade de fazer da cortesia e da dignidade em relação aos clientes, parte essencial do trabalho profissional. Por exemplo: um consultor profissional deve tratar os clientes com consideração porque se não o fizer prejudicaria o cliente, e prejudica igualmente a reputação do profissional e da profissão. Portanto, não pode existir uma situação em que de um lado, tem todos os direitos e o outro lado, todos os deveres. Há necessidade que exista equidade entre interlocutores e nas informações. Isso porque a noção da ética profissional está ligado à noção de definição de fronteiras e de transgressões dos cânones aceitáveis que se aplicam entre pessoas. Face à disparidade de poder entre o profissional e o cliente, as fronteiras têm de ser definidas claramente. Quando tais fronteiras são transgredidas, verificam-se significativas consequências negativas para o cliente/paciente e o profissional. Neste caso apresentado, além de estar em questão a equidade, estão em causa outros princípios como: o sigilo, a transparência. Por outro lado, o profissional deve estar ciente que, com o seu trabalho, deve buscar e criar condições para o desenvolvimento do potencial humano existente em cada pessoa, em direcção a uma crescente autonomia e a modos de vida mais satisfatórios e realizadores, e saber que a relação profissional contém aspectos confidenciais. A obrigação de guardar segredo recai sobre toda a informação pessoal acerca de um 97 paciente/cliente e das suas circunstâncias de vida. Quando o profissional utiliza dados confidenciais em publicações, aprendizagem, mantém o anonimato dos seus pacientes, camuflando as informações pessoais. Portanto, há necessidade de garantir a reserva dos registos e arquivos com informações confidenciais sobre os seus pacientes (Velasquez, 1998). No trabalho com grupos ou famílias, o profissional deve apresentar o sigilo como responsabilidade de todos os participantes. O profissional deve manter confidencial a informação que possui particularmente sobre os membros desses grupos. Por exemplo, o Psicólogo, ao realizar testes de avaliação deve respeitar o direito de informação do paciente, explicando-lhe detalhadamente os objectivos e os resultados, interpretações, conclusões e respectivas fundamentações. Em toda a informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma linguagem que este possa compreender e disponibiliza-se para prestar todos os esclarecimentos que o paciente julgar necessários. Importa referir que, quando os testes são efectuados a pedido de terceiros, o psicólogo informa o sujeito da avaliação, das conclusões e dos conteúdos do seu relatório. No relatório são incluídas apenas informações pertinentes aos objectivos que conduziram à realização dos testes. O Profissional, ao iniciar o relacionamento profissional com um paciente, informa-o das suas qualificações e métodos de trabalho. Utilizando uma linguagem clara, confirma que o paciente compreendeu integralmente as informações, de modo a que possa exercer o seu direito de consentimento informado. No caso de trabalhar com pessoas incapazes de dar um consentimento informado, como por exemplo crianças ou doentes mentais, o psicólogo obtém o consentimento do representante legal desses pacientes e actua sempre no sentido de salvaguardar o melhor interesse destes (Hitt, 1990). Tendo conhecimento que o paciente ou o potencial paciente já tem um outro acompanhamento profissional semelhante, o psicólogo clarifica cuidadosamente a situação, minimizando o risco de conflito ou confusão. Sem perder de vista o bem-estar do paciente, pode, ainda, pedir-lhe autorização para falar com o outro profissional. Em caso algum, o profissional deve aliciar alguém que já seja paciente de um outro profissional. Por exemplo, na sua actividade profissional não deve terminar a relação profissional por mero prazer. Deve terminar quando o paciente já não está claramente a se beneficiar dela. Portanto, se o profissional não possuir as condições pessoais ou contextuais para iniciar ou continuar a manter uma relação profissional com um paciente, assegura o seu acompanhamento por 98 um colega, salvaguardando o direito de assistência do paciente. Há necessidade de o profissional manter com os seus pacientes um relacionamento estritamente profissional. Consciente do grande poder de influência que a sua profissão proporciona, não explora nem alimenta a dependência dos seus pacientes e evita as relações que possam prejudicar o seu discernimento e intervenção profissional. Em particular, deve recusar qualquer forma de intimidade sexual com os seus pacientes ou atitudes que influenciem os valores pessoais destes (Velasquez, 1998). O profissional só deve prestar serviços para os quais tenha recebido formação adequada. Caso não tenha qualificação deve recomendar para o profissional qualificado para o efeito. Sendo da sua responsabilidade a manutenção dos mais altos padrões de competência e desempenho profissional, o profissional mantém actualizados os seus conhecimentos científicos e técnicos relacionados com os serviços que disponibiliza. Quando as circunstâncias profissionais o exigem, o profissional deve procurar conhecimentos, conselho e treino com profissionais ou grupos específicos. O profissional não deve esquecer que, para manter o mais alto nível de desempenho profissional, precisa investir de forma contínua no seu desenvolvimento, como pessoa e profissional. Isto é, deve ser sensível aos valores da comunidade em que está inserido, e conduzir o seu comportamento pessoal com grande prudência para que não tenha consequências negativas no desempenho profissional e na credibilidade dos colegas e da sua profissão. O profissional deve procurar manter com os colegas e demais profissionais relações caracterizadas pelo respeito, confiança, lealdade e colaboração. A solidariedade profissional constitui um compromisso essencial para a actividade profissional. Em quaisquer relações com outros profissionais trabalha-se exclusivamente na esfera da sua competência, reconhecendo as áreas específicas e independentes das outras profissões. Mesmo quando não existem relações formais com profissionais de outras áreas, o profissional tudo deve fazer para que sejam assegurados outros serviços profissionais de que os seus pacientes necessitem. SUMÁRIO Ética profissional habilita o profissional a adoptar uma atitude pessoal, de acordo com os princípios éticos, através do código de ética que regula os direitos e deveres de cada profissão, na medida em que a profissão deve ter em conta o bem comum e o interesse público porque sempre se relacionam de uma forma ou de outra com os seres humanos tendo em conta a liberdade, a consciência e responsabilidade. 99 A Ética Profissional estuda e regula o relacionamento do profissional visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto sociocultural em que se insere. Códigos Formais Leis: Estatutos; Regulamentos formais. O código encoraja ou proíbe certas condutas profissionais. O código é uma garantia de explicação dos preceitos éticos. Por isso, não se pode infringir um código que não existe. A formalização ética consiste em colocar explicitamente por escrito os valores, os princípios e as prescrições de uma organização. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. Quanto aos códigos de ética, é correcto afirmar que: a) Código de ética que regula os direitos e deveres de cada profissão b) Código de ética que desregula os direitos e deveres de cada profissão c) Código de ética que regula os direitos e desregula deveres de cada profissão d) Nenhuma das respostas anteriores. 2. Qual dos princípios éticos abaixo se enquadracom a afirmação que se segue: é agir dentro dos seus princípios éticos, seja em momentos de instabilidade financeira, seja na hora de apresentar óptimas soluções a) Honestidade b) Sigilo c) Integridade d) Coragem 3. De que princípio ético a afirmação que se segue está a retratar? a) Dignidade b) Privacidade c) Interesse público d) Nenhuma das respostas 100 Assinale com V as afirmações verdadeira ou com F as falsas 4. Honestidade consiste na completa reserva quanto a tudo o que se sabe e que lhe é revelado ou o que veio a saber por força da execução do trabalho. 5. Sigilo profissional consiste em para admitir que não é dono da verdade 6. Coragem consiste em defender-se dignamente quando está consciente de seu dever EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. O que entende por profissão? 2. O que entende por deontologia profissional? 3. Qual é a diferença entre ética e deontologia profissional? 4. Qual é a relação entre a profissão e deontologia? 5. Qual é a importância da deontologia profissional? 6. Qual é a importância do código de ética na actuação profissional? CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. A 2. C 3. C 4. F 5. F 6. V TEMA VI: ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético UNIDADE Temática 5.2.Dilemas Éticos 101 UNIDADE Temática 6. Introdução Introdução Para uma companhia ser respeita e admirada por todos os seus públicos, é fundamental adotar um compromisso moral de transparência e ética na condução de todas as suas práticas. Eu costumo dizer que moral é aquilo que você faz quando alguém está a observar e ética é você continuar fazendo o que é certo mesmo sem ninguém te observar. Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Conhecer a importância de uma cultura organizacional ética; Conhecer a importância do clima ético nas organizações; Relação entre o clima e a cultura organizacional; Conhecer a relação entre o clima ético e sucesso organizacional. Embora hoje tenhamos o conhecimento que as empresas procuram produzir bens e serviços necessários e desejados e distribuir esses bens e serviços aos membros da sociedade, a ética é chamada a dar um contribuição na relação entre: o patronato e o trabalhador e na relação entre o profissional e os seus clientes. É desta forma que a ética empresarial ou dos negócios está enquadrada no vasto campo da ética. Velásquez (1998) entende a ética empresarial como um estudo de padrões morais e como eles são aplicados aos sistemas e organizações por meio dos quais a sociedade moderna produz e distribui bens e serviços e às pessoas que trabalham nessas organizações. Assim, a boa empresa não é apenas aquela que apresenta lucro, mas a que oferece um ambiente moralmente gratificante, em que as pessoas boas podem desenvolver seus conhecimentos especializados e suas virtudes. Para aprimorar a ética nas organizações é preciso compreender como se dá o processo de tomada de decisão, e reconhecer que existem escolhas a serem feitas com respeito aos meios e aos fins empresariais. Essas escolhas devem ser fundamentadas essencialmente pela ética. Portanto, determinadas acções são julgadas éticas ou antiéticas por um conjunto de indivíduos ou grupos, internos ou externos à organização, os chamados stakeholders3. Os stakeholders avaliam a conduta, formam os juízos de valor e influenciam na aceitação ou rejeição das actividades e atitudes das empresas por parte da sociedade. 3 Os stakeholders são pessoas que tem ou reivindicam propriedade, direitos ou interesses numa organização. 102 A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo desenvolve ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna. E esses princípios são considerados meios básicos e válidos para serem ensinados aos novos membros como a forma mais correcta de perceber, pensar e sentir em relação a um determinado problema (Arruda, at al, 2002). Entre a cultura organizacional e o clima organizacional existe uma relação intrínseca, e, o clima ético, enquanto manifestação observável da cultura organizacional, afecta a forma como as decisões são tomadas. Por isso, o clima ético identifica os sistemas de controlo normativos da organização, direcciona o processo de tomada de decisão e orienta às respostas aos dilemas éticos. Os dilemas éticos podem ser definidos como situações em que uma pessoa precisa escolher entre duas ou mais alternativas desejáveis. Para um problema se tornar um dilema ético, ele deve ter as seguintes características: Não pode ser resolvido utilizando-se dados empíricos; Precisa causar tanta perplexidade que fica difícil decidir quais factos e dados são necessários na tomada de decisão; Os resultados do problema precisam afectar mais do que a situação imediata; Deve haver efeitos de longo alcance. O clima ético é representado por valores, práticas e procedimentos que envolvem comportamentos e atitudes morais das instituições. Assim, o clima ético prevê tanto o conteúdo moral das decisões – o que deve ser feito; quanto o processo e a prática de tais decisões – como deve ser feito no relacionamento dos indivíduos dentro da empresa ou instituição. Por isso, o clima ético é o conjunto de expectativas percebidas e exigidas nas organizações. O clima ético define, ainda, os valores e os comportamentos esperados numa organização. UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético De acordo com Srour (2003) existem 4 dimensões ligadas ao clima ético. Estas dimensões compreendem: Confiança ou responsabilidade; Comportamento percebido pelos pares; Consequências recebidas pela violação das normas; E a natureza das práticas comerciais. 103 Por isso, um bom clima ético proporciona um bom ambiente psicológico de trabalho e afecta positivamente o comportamento dos colaboradores. Portanto, o clima ético constitui a percepção partilhada dos colaboradores sobre os padrões éticos – valores, práticas e procedimentos da empresa, e como eles são aplicados no relacionamento entre os indivíduos dentro da organização e na relação como os seus stakeholders. UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético Na presente secção pretendemos fazer uma abordagem de alguns indicadores do clima ético nas organizações. Assim, iremos nos basear no modelo apresentado por Frank Navran citado por Arruda, at al. (2002) que contempla uma série de indicadores que são apresentados em seguida: a) Indicador I: sistemas formais Há muito tempo, os filósofos parecem estar de acordo com a ideia que, para que o processo de tomada de decisão seja eficaz, são necessárias regras. Tais regras de comportamento estão associadas à profissão, e ao relacionamento que possibilitem harmonia na convivência social. Tom Morris4 (1998 apud Arruda, 2000: 28) entende que a ética é o cumprimento de regras. Sob essa perspectiva, a empresa que almeje ser ética deve divulgar declarações precisas definindo as regras e deve criar procedimentos de verificação para assegurar que todos na organização as estão cumprindo. Há muitas empresas que elaboram manuais de ética para seus funcionários e indicam representantes que garantam a ética ou a conformidade, supervisionando a conduta de todos os empregados. A experiência das organizações que utilizaram esse procedimento mostrou uma redução substancial do clima de incerteza, o que contribuiu sobremaneira para a consecução dos resultados num clima construtivo. Para Pérez López5 (1998 apud Arruda, 2000: 28), um sistema decontrolo pode determinar o que é preciso fazer numa posição, ou mesmo na empresa, para se alcançar os resultados esperados. Como consequência, serão atribuídos prémios, castigos ou outras formas de resposta. Grande parte da literatura sobre organizações, particularmente empresas, concentra-se nos sistemas formais de controlo, procurando defini-los e estruturá-los em função dos 4 MORRIS, Tom. A nova alma do negócio: como a filosofia pode melhorar a produtividade de sua empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1998. 5 PÉREZ LÓPEZ, Juan António. Liderazgo y ética en la dirección de empresas: la nueva empresa del siglo XXI. Bilbao, España Deusto, 1998. p. 52-54. 104 problemas a serem resolvidos, como dispor os recursos, etc. No entanto, tradicionalmente, os sistemas formais apresentam limitações, cujas raízes se encontram na falta de uma definição adequada dos objectivos ou em indicadores insuficientes. Os incentivos para que as pessoas rendam mais, advindos dos sistemas formais, serão tão grandes ou maiores que os dos próprios sistemas formais. De um modo geral, os sistemas de controlo formal levam as pessoas a limitar-se ao puro cumprimento das obrigações, a uma postura de apatia e indiferença. Por essa razão, as empresas necessitam de uma conduta livre. Se quiserem alcançar seus verdadeiros objectivos, e não apenas o mero cumprimento de umas normas. Hitt6 (1990 apud Arruda, 2000) afirma que as funções de gestão deveriam ser assumidas de acordo com um volume considerável de regras, independentemente das pessoas, já que o objectivo da burocracia é racionalizar a função de liderança. Isso pressupõe boa estrutura, normas e, acima de tudo, objectividade. A característica emocional da pessoa a exercer as funções de gestão pode definir a maior ou a menor objectividade do processo. Por isso, cada gerente deve-se esforçar especialmente para eliminar toda e qualquer subjectividade e sentimentalismo no desempenho de sua função. De acordo com Frank Navran (citado por Arruda, 2000), os sistemas formais da organização correspondem aos métodos, às políticas e aos procedimentos que claramente identificam qual é o negócio, quando, como, e porque ele se realiza. Quando os sistemas formais contêm um direccionamento ético claro, os funcionários têm uma compreensão correcta das expectativas e exigências. Quando esses sistemas não são claros ou quando a mensagem ética varia entre os sistemas, os indivíduos buscam outro ponto de referência para uma orientação definitiva, uma dimensão tipicamente de liderança. Quando os sistemas não se referem à questão ética, a mensagem é que não existe um padrão ético. Isso deixa os funcionários totalmente dependentes de seus valores pessoais e do comportamento observável dos outros. b) Indicador II: mensuração De acordo com Nash7 (1993 apud Arruda, 2000: 29), muitos dos sistemas mais comuns de incentivos, formas de comunicar os objectivos e a hierarquia motivam o funcionário da organização. Por essa razão, convém examinar as repercussões de uma eventual auto- satisfação, para reforçar o carácter objectivo da gerência, o foco na 6 HITT, William D. Ethics and leadership: putting theory into practice. Columbus, OH: Battelle, 1990. P.149. 7 NASH, Laura. Ética nas empresas: boas intenções à parte. São Paulo: Makron Books, 1993. 105 criação de valor e no incentivo de opiniões divergentes para corrigir uma tendência ao interesse próprio e o desenvolvimento do raciocínio e das habilidades para o relacionamento. Melé8 (1997 apud Arruda, 2000: 29) lembra que, ao trabalhar numa organização, tanto o gerente como os funcionários cooperam com outras acções realizadas por outras pessoas da empresa, de modo que essa cooperação também contribua para a moralidade dos actos com os quais coopera. Assim, as regras ou normas definidas podem evitar que haja cumplicidade por parte de todos os gerentes e funcionários, e um sistema de avaliação pode assegurar maior nível de ética na organização. Para Navran, de todos os sistemas formais, as medidas são os meios mais críticos que a organização possui para comunicar às pessoas o que realmente é importante. As pessoas tendem a prestar mais atenção àquilo que é avaliado e medido, pois é justamente o mensurável que a organização traduz em recompensa. O uso de sistemas formais de avaliação depende de sistemas precisos de medição, além de uma clara definição de responsabilidades de cada interveniente numa organização. Esses sistemas de medição devem ser percebidos como precisos e representativos do trabalho de uma pessoa ou de uma equipa. Isso significa que a integridade dos sistemas é tão importante quanto a sua estrutura. Os sistemas formais contribuem para a congruência ética até o ponto em que se revelam confiáveis para representar as reais expectativas da organização. c) Indicador III: liderança Hambrick et al. (1998 apud Arruda, 2000) definem a liderança da maneira que julgaram mais aproveitável para a empresa: Modéstia para constantemente duvidar, estar aberto e escutar; Preocupação com o desempenho; Sentido de responsabilidade, não privilégio; Sincronia com os valores e objectivos da organização e capacidade de vivê-los, articulá-los e procurar com constância que outros os sigam também. Predisposição para provocar mudanças em tudo, excepto nos objectivos e valores básicos. As acções e os comportamentos dos líderes pesam significativamente mais que suas palavras ou políticas escritas. Quando as mensagens não são congruentes, os funcionários ficam a ponderar qual delas deve ser considerada. A sinceridade dos líderes acima do supervisor imediato é posta em dúvida. As pessoas são forçadas a se apoiar em opiniões de seus pares/colegas ou em suas próprias crenças para descrever os limites de um comportamento eticamente adequado. 8 MELÉ, Domènec. Ética en la dirección de empresas. Barcelona, España: IESE, 1997. 106 Então, têm que contrabalançar essas visões com aquilo que acreditam ser o que a organização realmente quer ou espera. d) Indicador IV: negociação Uma das realidades difíceis de se medir e quantificar é o sentido de união no local de trabalho. Ele estimula as pessoas a iniciarem o seu trabalho pontualmente, a manterem o ritmo até o final do dia e evitar o distanciamento. Os melhores líderes desenvolvem a unidade por meio da atenção consistente aos funcionários, fazendo-os participantes da aventura e da organização. O respeito pela singularidade leva à união entre todos, o que garante mais satisfação e qualidade no trabalho (Morris, 1998 apud Arruda, 2000:30). O sentido de unidade facilita acordos sempre que os planos devam ser mudados ou que as opiniões estejam divergindo entre si. É a base da negociação. Para Navran, em toda a organização, os funcionários rotineiramente se dedicam à negociação como estratégia para resolver um conflito. Negociam prazos, compromissos, alocação de recursos, atribuição de tarefas e exigências específicas. Quando a negociação com um cliente, um par ou um supervisor é percebida como uma situação de ganho e perda, o sistema de valores internos das pessoas ajuda a determinar os limites da negociação. A integração dos valores organizacionais à negociação ajuda a mudar o foco para resultados mutuamente benéficos. A negociação torna-se um processo para desenvolver óptimas soluções, em vez de uma competição para determinar quem ganhará ou quem perderá. e) Indicador V: imparcialidades Arruda (2000) comenta que uma organização burocrática não pode dar lugar aos favores políticos, por exemplo. Conceder cargos a conhecidos ou parentes simplesmente porquesão seus amigos está completamente em desacordo com os princípios básicos em que a empresa foi estabelecida. Todas as indicações deveriam se pautar por considerações objectivas das qualificações técnicas. Essa objectividade pode ser conseguida pela selecção de novos funcionários por meio de testes escritos, para evitar o favorecimento e subjectividade. Para Navran, a organização tem suas exigências formais e informais para alcançar o sucesso. Essas são as expectativas que a organização tem para com seus colaboradores. Quanto mais explícita e congruente for, maior facilidade o colaborador terá para avaliá-las, comparando-as com os seus valores e suas crenças pessoais a respeito do que é certo ou errado. Os funcionários também comparam as expectativas com as suas próprias percepções a respeito de suas capacidades pessoais. Juntas, essas comparações 107 formam a base de motivação dos colaboradores para ir ao encontro das exigências da organização, visando a alcançar o sucesso. f) Indicador VI: consistência Ferrell e Gardiner (1991 apud Arruda, 2000) atribuem uma responsabilidade grande aos líderes no que diz respeito a padrões de conduta ética para sua equipa. O reforço desse comportamento pode ser demonstrado pelo reconhecimento das atitudes correctas, sua respectiva comunicação e pela séria correcção para os que se afastarem das normas éticas. A consistência fortalece-se com a lealdade, com o apoio e confiança do líder que pessoalmente dá exemplos de conduta e que tem a humildade de rectificar quando erra. A consistência ética ocorre quando todas as palavras e acções da organização levam as pessoas a concluir que o mesmo conjunto de valores éticos é válido a qualquer momento. Quando a organização é inconsistente, o funcionário não tem certeza do que deve pensar. Nesses casos, as circunstâncias individuais são usadas para definir o que é provavelmente exigido ou esperado. A falta de certeza, leva a um comportamento auto-protector por medo de fazer o que está errado, torna-se um factor primário de motivação. A atitude de evitar erros costuma reduzir o desempenho em cada categoria. g) Indicador VII: chaves para o sucesso Se os funcionários trabalham para manter um clima amigável e harmonioso nas actividades de cada dia, com consistência, respeito, iniciativa e reconhecimento, a experiência de cada um favorece o estabelecimento de uma cultura empresarial ética, pois as pessoas são mais importantes que os produtos. A bondade é o único investimento que sempre recompensa, tanto em termos pessoais como em crescimento geral da organização (Morris, 1998). Para Navran (citado por Arruda, 2000) há chaves para o sucesso em toda organização. Na maioria das vezes, tais chaves incluem o trabalho intenso, a auto-motivação e os resultados excelentes. No entanto, elas não se limitam a isso. Muitas organizações possuem as suas próprias e específicas chaves de sucesso. Elas podem ser muito apropriadas: associação com um produto novo, apoio a um mentor ou experiência em certas posições-chaves. As questões éticas surgem quando essas chaves de sucesso específicas não são universalmente acessíveis, quando entram em conflito com a posição ética declarada pela 108 organização ou com os valores pessoais amplamente aceites pelos funcionários. Quando isso ocorre, o sucesso é percebido como reservado a um pequeno grupo, com um critério de selecção além do controle do indivíduo. h) Indicador VIII: serviço ao cliente Os funcionários que se sentem honradamente tratados tendem a transmitir a mesma honra e o mesmo respeito em seus contactos com clientes actuais e potenciais, fornecedores e consumidores. Quando existe mau trato, é comum que esse mal-estar também se reflicta fora da empresa, na forma de lidar com os clientes e fornecedores e com outras pessoas com as quais os funcionários têm contacto fora da empresa. Essa atitude pode dificultar a manutenção ou a abertura de negócios para a empresa. Assim, é pouco provável que, ao longo prazo, um comprador venha a fazer negócios, ainda que o produto seja bom, se na empresa fornecedora as pessoas se manifestam de forma má (Morris, 1998). Quase toda a organização reconhece a importância da satisfação do cliente. Para isso, também realiza treinamentos quando uma organização tem um padrão ético para seus clientes e outro para seus funcionários. Os problemas podem surgir. Os funcionários estão numa situação muito especial de verificar como a organização os trata e como ela espera ou exige que tratem os clientes. Se essas expectativas não forem congruentes ou coerentes cria-se uma tensão na organização que pode resultar num mau atendimento aos clientes e em níveis crescentes de insatisfação dos funcionários. i) Indicador IX: comunicação Uma das principais razões para que exista a gerência é para que as regras sejam comunicadas e reforçadas numa empresa. A primeira tarefa de gerência deveria consistir em conhecer e aprender bem as normas da organização, estudando-as atenciosa e intensamente, pedindo esclarecimentos aos superiores e comprometendo-se a memorizar todo o manual de operações. A tarefa seguinte é comunicar essas regras aos seus subordinados e a qualquer empregado recentemente contratado. Quando surgem dúvidas específicas quanto à aplicação das regras, cabe ao gerente comunicar com a maior rapidez possível a interpretação correcta e os critérios estabelecidos. Uma forma de reforçar as normas da empresa é comunicar, também, o seu eventual cumprimento, seu respectivo transgressor e a sua punição (Hitt:1990). Toda organização possui expectativas e exigências em relação a seus 109 funcionários. Quando a empresa não consegue comunicar eficazmente aquilo que espera de seus empregados, reduz-se a probabilidade de que ela alcance os resultados esperados. As pessoas precisam de informações, de orientação e de reforço. Necessitam conhecer as posições, os padrões éticos da empresa e o que é considerado uma conduta correcta dos funcionários num amplo espectro de situações com as quais poderão se defrontar. Além disso, precisam sentir-se coerentes com tais exigências. Por fim, os funcionários devem saber a quem se dirigir para obter respostas às suas preocupações éticas quando se defrontam com uma situação nova ou diferente. j) Indicador X: influência dos pares Morris (1998) afirma que, se um grupo não adoptar um comportamento ético, cada funcionário sofrerá forte pressão para se comportar da mesma forma. No local de trabalho, se as pessoas se acostumarem a aparar as arestas, a adaptar a verdade, a agir por mero interesse pessoal, significando actuar de forma não ética, e se seus pares tenderem a negligenciar o que realmente é verdadeiro nas pessoas, cada funcionário se sentirá pressionado a ter a mesma conduta que os colegas. A dificuldade de remar contra a corrente não pode ser duradoura. É preciso fazer todo o possível para minimizar associações de cada funcionário com pessoas de má índole, de mau carácter ou de má vontade, seguindo o conselho de muitos grandes pensadores. A influência dos colegas existe em quase todos os negócios, indústrias e profissões. As pessoas contam com seus colegas para direcção, validação e reforço. Quando a organização falha em comunicar adequadamente seus padrões éticos e suas expectativas, os funcionários compensarão essa falha aumentando sua confiança no apoio dado pelos colegas. A organização pode influenciar o apoio dos colegas se, efectivamente, utilizar os colegas como parte do sistema informal de comunicação e de educação. A empresa deve encorajar e incentivar os líderes informais, cujas posições e padrões éticos apoiam as metas desejadas na organização. A influência dos colegas pode-se tornar uma parte do sistema de consistência ética comoum todo. k) Indicador XI: consciência ética Esse indicador de clima ético não está definido no Modelo de Navran. Mas este indicador tem em conta, o aspecto político que em algumas empresas pode prejudicar o profissionalismo de uma equipe e implicar prejuízos para a organização. De acordo com Arruda, at al. (2002). Nas 110 empresas, às vezes, as relações pessoais ou a influência política são muito mais valorizadas que a preparação técnico-profissional dos funcionários. Na relação chefe - subordinado, o uso da autoridade pode, inclusive, levar ao aparecimento de frequentes casos de assédio sexual. Outro desvio que por vezes pode ocorrer é o de serem encobertas receitas da empresa, para não cumprir obrigações fiscais. Da mesma forma, o suborno acaba sendo entendido como um mal necessário, usado para garantir a competitividade da empresa. Por se tornar usual, o pagamento de suborno, presentes, etc. Acaba não sendo considerado uma falta de ética dessa empresa. Um gestor pode sentir-se constrangido diante de situações que possam por em causa a consciência pessoal de alguém na empresa. Sua habilidade administrativa é testada na forma de processar e comunicar de forma aturada as informações. Se a imagem da organização é de invulnerabilidade, pode resultar humilhante admitir o fracasso diante de outros, informando-lhes o erro cometido. Quanto mais baixo o nível hierárquico do gestor, maior será a sua tendência a esconder as más notícias ou dúvidas a respeito de uma questão, por medo de ficar claro o seu erro (Arruda, 2000). UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos O processo de tomada de decisão surge na medida em que encontramos os dilemas – os dilemas éticos. Vamos de seguida definir o que são dilemas éticos. Dilemas Éticos podem ser definidos como situações em que uma pessoa precisa escolher entre duas ou mais alternativas desejáveis. Para um problema se tornar um dilema ético ele deve ter três características: Não pode ser resolvido utilizando-se dados empíricos; Precisa causar tanta perplexidade que fica difícil decidir que factos e dados são necessários na tomada de decisão; Os resultados do problema precisam afectar mais do que a situação imediata; deve haver efeitos de longo alcance. Exemplo de um dilema ético: “Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro. Um medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico dessa cidade podia salvar-lhe a vida. A descoberta do medicamento tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Henrique, o marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas, suas conhecidas, para que lhe emprestassem o 111 dinheiro pedido pelo farmacêutico. Foi ter, então, com ele, contou- lhe para lhe vender o medicamento por um preço mais barato. Pediu também ao farmacêutico para deixar levar o medicamento, pagando mais tarde a metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico respondeu que não, que tinha descoberto o medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua descoberta. Henrique, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o medicamento, ficou desesperado e estava a pensar em assaltar a farmácia e roubar o medicamento para tratar a sua mulher”. Qual é a motivação moral que leva Henrique a pensar em roubar o medicamento? Caso roube o medicamento e caso não roube estaria Henrique agindo correctamente? No geral, os projectos apresentados para avaliação dos CEPs, os pontos que com maior frequência são considerados eticamente incorrectos são os relativos ao consentimento livre e esclarecido, ao uso de placebo (convicções que acabam tendo efeitos terapêuticos. Exemplo: quando alguém fica doente, e fica convicta que se pode curar a sua doença aplicando uma injecção. Se um médico injectar ao doente uma seringa com a penas água sem medicamento nenhum, o doente pode sentir o efeito psicológico de ausência de dor, pelo facto de acreditar na cura. Trata-se de convicções, neste caso do poder dos medicamentos, que têm efeitos terapêuticos) e à participação de pessoas em situação de vulnerabilidade. SUMÁRIO Todos os actos que os profissionais praticam regem-se por normas estritas, no que diz respeito a áreas tão sensíveis como a garantia da confidencialidade e privacidade dos dados relativos aos pacientes. Em relação à Privacidade e Confidencialidade, os profissionais têm uma base obrigatória e tomam precauções para proteger a informação confidencial obtida ou fornecida pelo indivíduo. Os profissionais só podem divulgar informação confidencial com o apropriado consentimento do paciente ou outra pessoa legalmente autorizada e que está a favor do mesmo, a menos que seja proibido pela lei, só divulgando a informação confidencial sem o consentimento do indivíduo no caso de serem mandatados pela lei. Atenção! Os profissionais, quando consultam os colegas, não podem revelar informação confidencial que possam levar a uma identificação exacta do paciente, investigadores participantes, outra pessoa ou organização com quem tenham uma relação de confidencialidade, a 112 menos que eles tenham conseguido o seu prévio consentimento. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. De entre as afirmações abaixo apresentadas, qual é a que melhor descreve o conceito de cultura organizacional? a) A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo desenvolve ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna; b) A cultura organizacional não é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo desenvolve ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna; c) A cultura organizacional é o conjunto de pressupostos básicos que um grupo desenvolve ao aprender como lidar com os problemas de adaptação interna e integração interna; d) Nenhuma das respostas anteriores. 2. Quanto a ética e comunicação organizacional, é correcto afirmar que: a) Uma das principais razões para que exista a gerência é para comunicar e reforçar a empresa; b) . Uma das principais razões para que exista a gerência é para controlar e reforçar a empresa c) Uma das principais razões para que exista a gerência é vigiar as regras e reforçar numa empresa. d) Nenhuma das respostas anteriores. 3. Quando ao marketing e a ética, é correcto afirmar que: a) O marketing e a ética surgem como consequência do decrescente interesse pelo papel dos negócios na sociedade; b) O marketing e a ética surgem como consequência da falta de interesse pelo papel dos negócios na sociedade. c) O marketing e a ética surgem como consequência do crescente interesse pelo papel dos negócios na sociedade; d) Nenhuma das respostas anteriores. 113 4. De entre as alternativas abaixo, qual delas melhor define o Marketing ético? a) Marketing é um processo social por meio do qual as pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo que está sendo vendido; b) Marketing é um processo social por meio do qual as pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo que necessitem; c) Todas as alternativas anteriores; d) Nenhuma das respostas. 5. De entre as alternativas abaixo, qual é a que melhor define a regra de ouro nas relações laborais? a) Agir em relação aos outros da mesma forma que você adquira maior lucro possível; b) Agir em relação aos outros da mesma forma que você espera que as outras pessoas ajam em relação a você; c) Todas as alternativas anteriores; d) Nenhuma das alternativas anteriores. 6. De entre os factores abaixo apresentados, qual deles não influencia no processo de tomada de decisão? Identificação da gravidade Factores individuais Cultura organizacional Terceiros significativosa) Riscos b) Cultura organizacional; c) Oportunidade d) Nenhuma das respostas anteriores. EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Qual é a diferença entre o clima ético e a cultura organizacional? 2. Explique a importância do clima ético nas organizações. 3. Explique os seguintes indicadores do clima ético: consciência ética e sistemas formais? 4. Fale da negociação como indicador ético na organização. 5. Concorda com a abordagem apresentada por Navran acerca da liderança e sua influência no clima ético da organização? Justifique a sua resposta. 6. Explique a importância da ética no marketing. 114 CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. A 2. A 3. C 4. B 5. B 6. D TEMA VII: ÉTICA NA Pesquisa com Seres Humanos UNIDADE Temática 7.1.O Consentimento Livre e Informado 115 UNIDADE Temática 7.2.O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa UNIDADE Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica Introdução Um dos problemas fundamentais em pesquisas ocorre na relação entre o pesquisador e o grupo alvo da pesquisa, e principalmente na tomada de decisão, bem como no que se refere aos procedimentos. Razão pela qual reservamos este espaço ao longo desta unidade para tratarmos da ética em pesquisa com seres humanos Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Conhecer a importância da ética na pesquisa com os seres humanos; Conhecer a postura do pesquisador e os cuidados que o mesmo deve ter para não ferir os princípios éticos; Conhecer a estrutura do termo de consentimento livre e informado. Este ponto crucial das discussões éticas implica na formulação de outras questões tais como: Qual deve ser a postura do pesquisador no que se refere ao esclarecimento dos envolvidos na pesquisa? Deve contar-lhe com detalhes os procedimentos relacionados com a pesquisa bem como os objectivos da pesquisa? Deve, sempre, obter do grupo alvo da pesquisa o consentimento para a realização da pesquisa? 116 UNIDADE Temática 7.1.O Consentimento Livre e Informado A pessoa tem o direito de consentir ou recusar de participar da pesquisa ou de qualquer situação que afecte ou venha a afectar a sua integridade físico-psíquica ou social. (Costa et al; 1998). Grisard (2006) acrescenta que, o consentimento informado é uma ampliação do princípio da autonomia, constituindo o primeiro passo na prática da Ética e preceitua a informação clara e correcta dos pacientes, e sua compreensão para obter seu consentimento com relação aos procedimentos médicos necessários à sua assistência. A utilização deve ser estimulada e exigida cada vez mais, sendo fundamental neste caso em todos os projectos de pesquisa. O consentimento informado consiste num instrumento para se tentar assegurar a autonomia do sujeito da pesquisa, através da obtenção da sua decisão a participação, seu correcto uso pressupõe a concordância, sem qualquer coerção, após fornecimento e compreensão da informação sobre os procedimentos. O consentimento é uma decisão voluntária, verbal ou escrita, protagonizada por pessoa autónoma e capaz, tomada após um processo informativo, para a aceitação da pessoa para participar na pesquisa ou experiência, isto é, através de pesquisas científicas, consciente de seus riscos, benefícios e possíveis consequências. Portanto, o consentimento livre significa aceitação racional para a participação na pesquisa. Importa referir que, o consentimento deve ser dado livremente e conscientemente, sem ser obtido mediante práticas de coação física, psíquica, moral, por meio de simulação ou práticas enganosas, ou quaisquer outras formas de manipulação impeditivas da livre manipulação da vontade pessoal. Isto é, deve ser livre de restrições internas, causadas por distúrbios psicológicos e livre de coerções externas, por pressão familiares, de amigos e principalmente dos profissionais em especial os da àrea de saúde. O consentimento livre requer que os participantes da pesquisa sejam estimulados a perguntar, a manifestar suas expectativas e preferências aos pesquisadores. Em todo caso, aceita-se que o profissional exerça uma acção persuasiva, mas não coerciva ou manipulativa de factos ou dados. A persuasão é entendida como tentativa de introduzir a decisão de uma pressão por meio de apelos, isto é, a razão deve ser validada eticamente. Porém, a manipulação ou tentativa de fazer com que a pessoa realize o que o manipulador pretende, sem que o manipulado saiba, deve ser eticamente rejeitado. Para assumir o consentimento, o paciente deve reunir determinadas 117 condições tais como: dispor de informações suficientes, compreender as informações adequadamente, encontrar-se livre para decidir de acordo com seus próprios valores, ter capacidade plena para decidir sobre a questão. O consentimento só é moralmente aceite quando está fundamentado em quartos (04) elementos principais: Informação; Competência; Entendimento; Voluntariedade. A informação é a base das decisões autónomas do paciente, e, é necessária para que ele possa consentir ou recusar as medidas ou procedimentos que lhe foram propostos. O consentimento requer informação adequada que possa ser compreendida pelos pacientes. Importa referir que, a pessoa pode até ser informada, mas, nem sempre significa que esteja esclarecida. Caso não compreenda o sentido das informações fornecidas, principalmente quando estas não forem adaptadas ao seu contexto cultural. Para facilitar a compreensão, as informações devem ser simples, aproximativas, inteligíveis, leais e respeitosas, ou seja, devem estar dentro dos padrões acessíveis ao nível intelectual e cultural do paciente, pois quando indevidas e mal organizadas resultam em baixo potencial informativo e em desinformação. O paciente tem o direito moral de ser esclarecido sobre a natureza e objectivos dos procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos, ser informado da duração dos tratamentos ou da experimentação, dos benefícios, prováveis desconfortos, inconvenientes e possíveis riscos físicos, psíquicos, económicos e sociais que possa existir. A informação a ser fornecida ao indivíduo deve conter os riscos normalmente previsíveis em função da experiência habitual e dos dados estatísticos, não sendo preciso que sejam informados de riscos excepcionais ou raros. Na prática da pesquisa, apresentam-se três (03) padrões de informação: O primeiro é o padrão da “prática em pesquisa”, onde o profissional revela aquilo que um colega consciencioso e razoável teria informado em iguais ou similares circunstâncias. Nesta padronização, a revelação das informações é determinada pelas regras habituais e práticas tradicionais de cada profissão. E, é o profissional que estabelece o balanço entre as vantagens e os 118 inconvenientes da informação, assim como os tópicos a serem discutidos bem como a magnitude de informação a ser revelada a cada um deles. Ao nosso ver, este padrão de informação negligência o princípio ético da autonomia do paciente, pois o profissional de normalmente utiliza parâmetros já estabelecidos por sua categoria, não adaptando individualmente as informações aos reais interesses de cada indivíduo. O segundo padrão encontradoé o da “pessoa razoável”, que se fundamenta sobre as informações que uma hipotética pessoa razoável, mediana, necessita saber sobre determinadas condições de saúde e propostas terapêuticas. Esta abordagem apresenta uma definição abstracta do que seria pessoa razoável, isto é, um ser médio num determinado contexto sociocultural. Por outro lado, podemos entender que o padrão da “pessoa razoável” tende a negligenciar o princípio da autonomia do paciente. O terceiro padrão, o último é denominado “orientação ao grupo alvo da pesquisa” ou “padrão subjectivo” A utilização deste tipo de padrões requer por parte do profissional descobrir o que realmente o indivíduo gostaria de conhecer e o quanto gostaria de participar das decisões, isto com base nos seus conhecimentos e na arte da sua prática e observando as condições emocionais do paciente e factores socioculturais relacionados. Do ponto de vista ético, a informação a ser transmitida ao paciente é mais ampla do que exigem as normas legais e as decisões dos tribunais que tendem a acatar a validade dos dois primeiros padrões de informação anteriormente apresentados. A pessoa autónoma também tem o direito de “não ser informada”. Ser informado é um direito e não uma obrigação para o paciente. Ele tem o direito de recusar ser informado. Nestes casos, nos pesquisadores devem questioná-lo sobre quais parentes ou amigos quer que sirvam como canais das informações. É certo que o indivíduo capaz tem o direito de não ser informado, quando assim for sua vontade expressa. O respeito ao princípio da autonomia orienta que se aceite a vontade pessoal do paciente, impedindo que os pesquisadores lhe forneçam informações desagradáveis e autorizando que estes últimos tomem decisões nas situações concernentes do grupo alvo da pesquisa. De modo a validar-se o direito, dos envolvidos nas pesquisas, estes devem ter clara compreensão que constitui um dever do pesquisador informá-lo sobre os procedimentos propostos, que têm o direito moral e legal de tomar decisões sobre a sua própria vida. Deve também compreender que os pesquisadores não podem iniciar um procedimento sem a sua autorização, excepto nos casos de perigo de vida eminente, e finalmente, o direito de decisão inclui o de consentir 119 ou de recusar a submissão a um determinado procedimento. Então, a partir do preenchimento desses pressupostos, o paciente pode escolher não querer ser informado ou, alternativamente, que as informações sejam dadas a terceiros, ou ainda querer emitir seu consentimento sem receber determinadas informações. Além de livre e esclarecido, o consentimento deve ser renovável quando ocorram significativas modificações no panorama do caso, que se diferenciam daquele em que foi obtido o consentimento inicial. Isto é, quando o consentimento inicial é tido como permanente e imutável, mesmo que ocorram modificações importantes no estado de saúde, pode se estar a violar a vontade autónoma do indivíduo. Podemos ainda salientar que o consentimento dado anteriormente não é imutável, pode ser modificado ou mesmo revogado a qualquer instante, por decisão livre e esclarecida da pessoa assistida, sem que a ela sejam contrapostas sanções morais ou administrativas. Para Costa et al (1998), geralmente a acção do pesquisador em situações de emergência, em que os indivíduos não consegue exprimir suas preferências ou dar o seu consentimento, fundamentam-se no princípio da beneficência, assumindo o papel de protector natural do indivíduo por meio de acções positivas em favor da vida e da saúde. Nas situações de emergência aceita-se a noção da existência de consentimento presumido ou implícito, pelo qual supõe-se que a pessoa, se estivesse de posse de sua real autonomia e capacidade, se manifestaria favorável as tentativas de resolução do seu problema em especial em pesquisas na área de saúde. De um modo geral, existem cinco (05) principais circunstâncias excepcionais que limitam a obtenção do consentimento informado: A incapacidade: tanto das crianças e dos adolescentes como aquela causada em adultos por definição da consciência e graves patologias neurológicas e psiquiátricas; As situações de urgências médicas, quando se precisa agir e não se pode obter o consentimento pontual; A obrigação legal de declaração das doenças de notificação compulsória; Um risco grave para a saúde das outras pessoas e de si mesma, cuja identidade é desconhecida; Quando o paciente se recusa a ser informado e participar das decisões. Na pesquisa com seres humanos, podemos verificar que relativamente ao consetimento, o Código de Nuremberg -1947, destaca para sua efectivação dez (10) principais artigos, dos quais apresentamos em seguida cinco (05) deles: 1. O consentimento voluntário do ser humano é 120 absolutamente essencial e indispensável para a pesquisa; 2. A pesquisa deve produzir resultados vantajosos para a sociedade; 3. A pesquisa deve ser conduzida de maneira a evitar todo sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer materiais nos sujeitos; 4. A pesquisa deve ser conduzida apenas por profissionais cientificamente qualificados e competentes; 5. O sujeito da pesquisa deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do estudo. UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido De acordo com Costa et al. (1998), fornecer um texto de consentimento livre e esclarecido para ser seguido, pode não ser adequado. Alguns requisitos, entretanto são básicos e não devem ser esquecidos quando da redacção desse documento. Os elementos essenciais de um termo de consentimento livre e esclarecido devem ser apresentados de seguinte forma: 1. Deve conter uma linguagem simples, clara, objectiva e ter em atenção o grupo alvo de modo a garantir acessibilidade na leitura e compreensão; 2. Os Consentimentos Livres e Esclarecidos devem abordar com clareza os seguintes aspectos: a) Os procedimentos que serão utilizados, bem como os objectivos pretendidos e justificativas; b) Apresentar os desconfortos, riscos possíveis e os benéficos esperados, para a pessoa e para a sociedade em geral; c) Métodos e técnicas alternativas existentes; d) Liberdade do paciente/utente em recusar ou retirar seu consentimento, sem qualquer penalização e/ou prejuízo à sua assistência; e) Assinatura/impressão digital ou identificação do paciente/utente. EXEMPLO De modo a clarificar as ideias referentes ao consentimento, nos propusemos a elaborar um exemplo que nos permitirá melhor compreensão acerca do mesmo. Exemplo (1): Pretende-se fazer uma pesquisa com adolescentes para estudar a 121 certos sintomas que estavam a apresentar. Porém, para que a pesquisa ocorra, a equipe de pesquisadores precisa te ter autorização dos pais ou educadores dos mesmos. A criança queixava-se de dores constantes de cabeça, dores musculares, falta de apetite, perda de peso, diarreia entre outros sintomas. Feitos estudos, os pesquisadores concluíram que as mesmas estão a desenvolver uma doença degenerativa que necessitava de uma intervenção urgente para administrar suplementos alternativos e evasivos para garantir o prolongamento da vida do menor. Tendo em conta o cenário acima relatado, várias questões fundamentais são lançadas: a) Como usar os princípios éticos sem ferir com a autonomia do menor? b) Quem deve decidir e porquê? c) Atenção! Neste caso concerto, de modo a responder os princípios éticos estabelecidos, temos que em primeiro lugar pedir o consentimento do paciente/utente. Então, como se trata de um menor de 14 anos de idade, de acordo com a Lei moçambicana, este não possui autonomia para decidir, aí recorremos ao seu pai ou encarregado de educação para decidir, para autorizar que o grupo de pesquisadores (médicos)inicie com o tratamento com vista a salvar a vida da criança. Sendo assim, o consentimento informado neste caso, será assinado pelo pai ou encarregado de educação da criança, caso ele concorde com as propostas de intervenção médica sugeridas pela Unidade Sanitária ou seja, grupo médico. Para tal, o termo de consentimento deve respeitar mais ou menos o seguinte formato: Primeiro: Identificação da instituição responsável pela pesquisa Exemplo: República de Moçambique Empresa W Departamento Administrativo 122 Segundo: Título: Termo de Consentimento Informado Terceiro: Conteúdo do documento Exemplo (2): O Sector de Administrativo da empresa W, vem através desta pedir a permissão do encarregado de educação/pai do menino (a) X para participar na pesquisa sobre o papel da criança no desenvolvimento da cultura de poupança, com a duração de t horas/dia/meses. O objectivo da pesquisa é o de ajudar as famílias através de hábitos sustentável de gestão de pequenas moedas por parte das crianças dos 11 anos em diante, como forma de desenvolvermos nos futuros jovens hábitos sustentáveis de gestão financeira no futuro. Os procedimentos de pesquisa serão as seguintes: (deve-se descrever os benefícios), sendo que em alguns casos tem-se verificado os seguintes efeitos colaterais/adversos (descrever os efeitos neste caso). Tendo em conta o exposto, agradecemos que após uma leitura e esclarecimento das possíveis dúvidas, assina abaixo nos locais indicados. Sim concordo_________ Não concordo___________ O pai ou encarregado de educação (assinatura legível) ________________________________ N.B: deve-se tirar uma cópia da sua identificação e anexa ao termo assinado. Este exemplo é geralmente aplicável em pesquisas no contexto hospitalar ou seja, na presença de uma determinada doença e pede-se permissão a quem de direito para se poder intervir. Atenção! Em caso de pesquisas com população a prior sadios, onde não se pretende fazer nenhuma intervenção clínica, pede-se permissão apenas para o indivíduo participar na entrevista ou na pesquisa. Na pesquisa tanto em qualquer área, o consentimento informado é igualmente utilizado para obter a permissão do sujeito ou indivíduo 123 para participar no estudo ou experiência. No entanto, sempre que tiver menores de 18 anos, a permissão é sempre pedida ao pai ou encarregado de educação ou outro adulto que seja seu responsável. Porém, apresentamos a seguir um modelo de termo de consentimento informado aplicado numa situação de pesquisa que envolve seres humanos. Exemplo (2): Consentimento informado aplicados no contexto de pesquisa com seres humanos a prior sadios, sem necessidade de intervenção clínica. TEMA/ TÍTULO DA PESQUISA: Avaliação da Ansiedade aos Exames nos Estudantes finalistas do Curso de Contabilidade do ISCED. CONSENTIMENTO INFORMADO A Direcção Académica do ISCED, pretende avaliar os níveis de Ansiedade dos Finalistas com o objectivo de verificar os graus de associação com as notas obtidas nas defesas das monografias científicas apresentadas na faculdade. Para o efeito, vimos por meio desta pedir a sua permissão para responder a 2 questionários de 12 perguntas cada, um com aspectos ligados a Ansiedade e outro a Depressão. Não existem respostas certas nem erradas, apenas terá que descrever o seu estado emocional nas últimas 2 semanas, neste caso deve escolher dentre 3 alternativas, a que melhor lhe descreve. Pode desistir se achar que a tarefa não é interessante, no entanto se achar do seu interesse agradecemos o favor de não deixar nenhuma questão por responder. A sua identificação será preservada pois, o questionário terá um código numérico que irá identificá-lo, e os dados recolhidos serão utilizados apenas para fins estatísticos. Se estiver disposto e concordar com a tarefa, assine por favor dando a sua permissão. Caso não esteja disposto ou não concorde com a tarefa proposta, assine igualmente recusando a sua participação. Maputo, aos ____ de ___ de 20___ Sim, concordo Não, não concordo 124 _______________ _____________________ ___/__/___ ___/__/_____ Atenção! O consentimento deve apresentar sempre um cabeçalho que identifica a instituição que pretende desenvolver o estudo, caso seja um trabalho pessoal o investigador deve-se identificar no corpo do consentimento. Para tal, podemos analisar o modelo de consentimento informado proposto para uma pesquisa: UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa A realização de um projecto de pesquisa envolve aspectos de confidencialidade e privacidade em todas as suas etapas. Desde o planeamento até a divulgação, o pesquisador e todas as demais pessoas que vierem a se envolver têm o compromisso de resguardar as informações, ou seja, de impedir que as mesmas sejam utilizadas de forma inadequada. Durante a fase de planeamento a preservação das informações entre os membros da equipa é fundamental, pois o projecto ainda não foi apresentado. Da mesma forma, os Comités de Ética em Pesquisa, em todas as instâncias, assumem o compromisso com a preservação das informações a eles submetidas. Quando forem utilizados consultores “ad hoc”, esta característica deve constar formalmente na solicitação do parecer. (Costa et al. 1998). Durante a execução do projecto devem ser mantidas todas as propostas contidas no mesmo, ou seja, a não identificação dos indivíduos pesquisados, a preservação de suas imagens, o uso específico para a finalidade do projecto, bem como os pesquisadores, entre si, devem igualmente ter uma garantia sobre as informações durante a execução do projecto. Nenhuma informação pode ser divulgada por membros isolados, mesmo que sob a forma de “cartas ao editor” ou “temas livres”, salvo quando toda a equipa autorize tal situação. Na divulgação, o importante é a garantia de que todos os participantes tiveram as suas identidades preservadas na íntegra. Os editores de revistas científicas, por sua vez devem garantir a preservação dos conteúdos, durante a tramitação do artigo. 125 UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes De acordo com Goldim (1990), nas situações em que se trata de crianças e adolescentes, sob o ponto de vista legal, são considerados incapazes. Porém, moralmente, podem ser considerados como portadores de autonomia crescente e, segundo vários autores, a partir dos doze anos de idade, como não passíveis de distinção de um adulto capaz, ou seja, a autonomia começa a constituir-se uma realidade quando o indivíduo neste caso concreto atinge os doze anos de idade. Para considerar uma pessoa autónoma, são necessárias duas condições. Primeiramente, ela deve possuir a capacidade para compreender, analisar logicamente uma situação (racionalização) e habilidade para escolher entre várias hipóteses (deliberação) com o objectivo de decidir-se intencionalmente por uma das alternativas que lhe são apresentadas. Em segundo lugar, esta escolha só poderá ser considerada autónoma, própria, se a pessoa estiver livre de qualquer influência para tomar esta decisão (voluntariedade). O princípio de respeito à autonomia baseia-se na dignidade da pessoa e, em consequência, há um dever moral de tratar as pessoas como um fim em si e nunca utilizá-las apenas como um meio para atingir determinado objectivo. É o reconhecimento do direito da pessoa de ter opiniões e agir segundo seus valores e convicções, de possuir um projecto de vida e felicidade baseado em escolhas próprias. Os responsáveis legais têm o direito de aceder as informações constantes no processo de seus dependentes. A relação profissional com as crianças e adolescentesdeve ser pautada pelos princípios de respeito, autonomia e liberdade, prescritos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelos Códigos de Ética das diferentes categorias. Os adolescentes podem ser atendidos sozinhos, caso desejem, independente da idade, em um espaço privado de consulta, em que será reconhecida a sua autonomia e individualidade, e será estimulada a responsabilidade crescente com a sua saúde integral. O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de maturidade, autonomia e risco do adolescente e estes aspectos devem ser avaliados em conjunto com o adolescente. Tanto a aderência cega à confidencialidade como a ausência total da mesma são comportamentos indesejáveis para a ética e para a lei. As crianças e adolescentes têm o direito de ter a sua imagem e identidade preservadas. A confidencialidade de seus dados, assim como o acesso aos mesmos, também deve ser garantida. (Goldim, 1990). A ética pode constituir um elemento central na equipa multidisciplinar ajudando a reflectir sobre os aspectos fundamentais no processo de 126 tomada de decisão quer sobre problemas de natureza sócio - emocional quer a respeito de alguns aspectos da intervenção psico - pedagógica bem como tratamento, numa abordagem extremamente humanizada em adolescentes e crianças. Os pesquisadores têm a responsabilidade de procurar proteger as famílias e as crianças da curiosidade científica impedindo a multiplicação de estudos, com invasão da privacidade e à custa de um dispêndio emocional suplementar para estes indivíduos. Ao pesquisador compete ainda a responsabilidade de promover a divulgação da informação sobre o problema, combater os preconceitos, participar em campanhas de prevenção, mobilizar as instituições para o apoio às famílias e às crianças com necessidades educativas especiais. UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes Para Costa et al. (1998), os documentos com as informações obtidas durante a pesquisa são armazenados, os dados podem estar arquivado em papel ou informatizado, a finalidade é facilitar a manutenção e o acesso às informações que os pacientes fornecem, durante a pesquisa ou contexto de trabalho normal. Os processos não podem ser retirados da instituição, pois podem acarretar prejuízos na eventualidade de um atendimento ao próprio paciente. Por exemplo, as autoridades policiais não têm acesso aos dados constantes no processo, pois isto caracterizaria uma invasão de privacidade. No caso de autoridade judicial, devidamente justificada e solicitada por escrito em documento oficial, as informações poderão ser fornecidas, mas não enviados os documentos originais do processo. Outro exemplo é o dos pesquisadores na área de educação, que também utilizam os dados do processo com finalidade académica, que são essenciais à formação de novos profissionais. Este acesso é eticamente adequado, desde que especificamente vinculado às actividades de ensino e aprendizagem; qualquer outro uso implica quebra de privacidade somente pode ter acesso ao processo do paciente após ter elaborado um projecto e o mesmo ter sido aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa. Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos A questão da ética na pesquisa envolvendo seres humanos há algum tempo preocupa os cientistas e as pessoas de uma maneira geral. Em geral, quando se pensa no assunto, o foco se concentra nas pesquisas. (Goldim, 1990). Compreende-se, até certo ponto, que as pesquisas, em geral, podem ter consequências imediatas; além de mais, principalmente na área médica, onde existe uma tradição ética de vinte e cinco (25) séculos, 127 há constante preocupação com esse aspecto. Na verdade, a experimentação em especial com com seres humanos ocorreu e vem ocorrendo em muitas outras áreas, muitas vezes sem a devida preocupação com os aspectos éticos. Faz-se experimentação com seres humanos (nem sempre com as devidas premissas científicas ou básicas e, no geral, atingindo colectividades). O ser humano muitas das vezes, é sujeito a inovações que nem passaram pelo crivo de experimentação prévia e só se torna evidente o fenómeno quando surgem complicações. A pesquisa com seres humanos tem sido feita ao longo dos séculos, com diferentes padrões de ética e de qualidade, em todo o mundo. De um lado, deve-se assegurar, por meio da experimentação, a aplicabilidade dos novos conhecimentos para o bem da humanidade e, de outro, devem-se criar mecanismos de salvaguarda para evitar os abusos da experimentação, a " fazer o ser humano de cobaia". Actualmente nas sociedades contemporâneas, é moralmente inadmissível que se utilize indistintamente seres humanos como se fossem cobaias de laboratório. Mas, para que se possa proteger ou promover a saúde da população, muitas vezes é moralmente necessário realizar experimentos controlados com seres humanos. É nesse dilema que se baseia a discussão da ética em pesquisa com seres humanos: entre o respeito à dignidade humana e a necessidade de experimentação imposta pelo desenvolvimento tecnocientífico, que representa benefício para a humanidade. Se houve um tempo em que muitos pesquisadores acreditavam que sua firme determinação de fazer o bem, sua integridade de carácter e seu rigor científico eram suficientes para assegurar o carácter ético de suas pesquisas, nos dias de hoje esta concepção já não é mais aceita, deve-se no entanto avaliar se os seus procedimentos não ferem a dignidade humana. A necessidade de criação de mecanismos de controlo sobre a experimentação com seres humanos tornou-se aguda quando tomou- se conhecimento dos abusos cometidos nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial. Foram comprovados assassinatos, torturas e outros actos de brutalidade no decorrer dos experimentos científicos. De salientar que os responsáveis pelos abusos foram julgados e condenados por crimes de guerra e por crimes contra a humanidade. O ser humano pode também estar sendo objecto (e não sujeito) de pesquisa, sem que o saiba; podem ocorrer situações em que só a posterior os cientistas e o ser humano submetido à experimentação tomam conhecimento de que houve uma “experimentação humana”. Nos dias de hoje, o ser humano tem o poder, graças aos avanços verificados em ciências, de interferir e até dominar sectores ou áreas de importância vital (ou mortal), poder sobre a reprodução (até mesmo a concepção sem sexo), sobre a hereditariedade (terapêuticas genéticas), sobre as neurociências (transplante de células nervosas, condicionamentos psico-farmacológicos), clonagem. 128 A possibilidade da aplicação indevida dos conhecimentos, da ciência e da tecnologia, podendo levar até à destruição da humanidade, foi um dos factores que deu origem ao neologismo proposto por Potter “Ética”, o qual tem hoje uma conotação, mais ampla. Todas essas considerações, apontam para a oportunidade e necessidade de se discutir a questão da experimentação com seres humanos, de modo a permitir que os avanços da ciência e da tecnologia em benefício da humanidade, tendo contudo, como centro de preocupação, o respeitam pela dignidade do ser humano. O Brasil constitui uma referência a considerar em questões de garantia da ética em pesquisas desenvolvidas com seres humanos, como podemos verificar no seguinte texto apresentado pelo De acordo com Goldim, (1990), como foi já abordado, no Brasil, os aspectos éticos envolvidos em actividades de pesquisa que envolvam seres humanos estão regulados pelas directrizes e Normas de Pesquisa com seres humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, estabelecida em Outubro de 1996. De salientar, que estas Directrizes foram detalhadas para pesquisas envolvendo novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos. Novas resoluções estãosendo elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais. Neste âmbito, o objectivo maior da avaliação ética de projectos de pesquisa é garantir três princípios básicos: a beneficência, o respeito à pessoa e a justiça. Nesta garantia devem ser incluídas todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com a pesquisa, seja o sujeito da pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a mesma se desenvolve e, em última análise, a sociedade como um todo. A avaliação baseia-se, pelo menos, em quatro pontos fundamentais: na qualificação da equipa de pesquisadores e do próprio projecto; na avaliação da relação risco - benefício; no consentimento informado e na avaliação prévia por um Comité de Ética. A qualificação da equipa de pesquisadores deve avaliar a competência dos seus membros para planificar, executar e divulgar adequadamente um projecto de pesquisa. A adequação metodológica do projecto de pesquisa é fundamental. Um projecto inadequado acarreta riscos e custos sem que seus resultados possam ser realmente utilizados, devido a deficiências no método. Devem ser esgotadas todas as possibilidades de obter dados por outros meios, utilizando simulações, animais antes de utilizar seres humanos. Na pesquisa com seres humanos os pesquisadores devem dar garantias de que os dados obtidos serão utilizados apenas para fins científicos, preservando na totalidade a privacidade e a confidencialidade. E identificação e o uso de imagens somente poderão ser feitos com uma autorização expressa do indivíduo http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm#áreas temáticas http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm#áreas temáticas http://www.ufrgs.br/bioetica/benefic.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/justica.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/tuekegee.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/tuekegee.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/wetter.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/janetpa.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/variola.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/conspesq.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/cep.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/animrt.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/privacid.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/confiden.htm 129 pesquisado. Na avaliação da relação risco - benefício entram em jogo tanto o princípio da Não - Maleficência como o da beneficência. O dano irreparável ou a possibilidade de morte, decorrente do projecto, impedem a realização da pesquisa. Caso o risco real exceder ao previsto o projecto deve ser interrompido e revisto. Os projectos podem ser caracterizados tanto pelo risco quanto pelo benefício. A classificação pode basear-se na Não - Maleficência, utilizando o risco associado aos procedimentos (risco mínimo e risco maior que o mínimo). O critério da beneficência, quando utilizado, avalia se o indivíduo terá ou não ganhos terapêuticos com o estudo. Habitualmente, a avaliação dos riscos envolvidos no projecto é relacionada apenas aos indivíduos pesquisados, não sendo realizada, no projecto qualquer consideração com relação aos pesquisadores e trabalhadores envolvidos. O consentimento informado é um meio de garantir a voluntariedade dos participantes, isto é, é uma busca de preservar a autonomia de todos os sujeitos. Desta forma, o consentimento informado deve ser livre e voluntário, pressupondo-se que o indivíduo esteja plenamente capaz para exercer a sua vontade. Para tal, importa salientar que o termo de consentimento informado deve ser visto como uma garantia plena de que a participação do indivíduo numa determinada pesquisa é efectivamente voluntária, claro, se ele aceitar deve ser merecedor de elogios, mas se negar a sua participação não é passível de qualquer censura ou desaprovação. O outro aspecto a considerar na pesquisa com seres humanos diz respeito a avaliação prévia do projecto por um Comité de Ética em Pesquisa independente. Neste Comité devem participar pesquisadores de reconhecida competência, além de representantes da comunidade. Deve ser garantida a participação de homens e mulheres. O Comité deve avaliar os aspectos éticos do projecto de pesquisa assim como a integridade e a qualificação da equipe de pesquisadores, como iremos desenvolver mais em diante. UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos O pesquisador no exercício da sua função deve reconhecer e aceitar as diferenças entre pessoas sem qualquer discriminação baseada no sexo, idade, nacionalidade, raça e etnia, situação socioeconómica, educação, condição de saúde, opções políticas ou morais, estado civil ou orientação sexual. O http://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/beneprov.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/naomalef.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/benefic.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/risco.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/fialurid.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/riscomin.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/riscomin.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/autonomi.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/competen.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/cep.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/cep.htm http://www.ufrgs.br/bioetica/res24097.htm 130 pesquisador deve ter como suporte em suas actividades profissionais o respeito absoluto pela dignidade e pelos direitos da pessoa humana; O pesquisador deve estar ciente que, com o seu trabalho, deve buscar e criar condições para o desenvolvimento do potencial humano existente em cada pessoa, em direcção a uma crescente autonomia e a modos de vida mais satisfatórios e realizadores; O pesquisador deve saber que, a relação de pesquisa é, pela sua própria natureza, confidencial. A obrigação de guardar sigilo recai sobre toda a informação pessoal acerca dos indivíduos envolvidos na pesquisa; O pesquisador, quando utiliza dados confidenciais em publicações, intervenções públicas, investigação ou situações de ensino e aprendizagem, deve manter o anonimato dos colaboradores de pesquisa; O pesquisador deve garantir a reserva dos registos e arquivos com informações confidenciais sobre os seus pacientes; No trabalho com grupos famílias ou comunidades o pesquisador deve apresentar o sigilo como responsabilidade de todos os participantes. E manter confidencial a informação que possui particularmente sobre os membros desses grupos; O pesquisador, ao realizar provas ou testes de avaliação, deve respeitar o direito de informação do paciente, explicando-lhe detalhadamente os objectivos e os resultados, interpretações, conclusões e respectivas fundamentações. Em toda a informação transmitida ao paciente, o psicólogo utiliza uma linguagem que este possa compreender e disponibiliza-se para prestar todos os esclarecimentos que o paciente julgar necessários; O pesquisador ao iniciar a pesquisa deve informar as suas qualificações e métodos de trabalho. Utilizando uma linguagem clara, devendo confirmar que o paciente compreendeu integralmente as informações, de modo a que possa exercer o seu direito de consentimento informado; Trabalhando com pessoas incapazes de dar um consentimento informado ou com menores, o pesquisador obtém o consentimento do representante legal desses pacientes e actua sempre no sentido de salvaguardar o melhor interesse destes; O pesquisador deve manter com o grupo alvo da pesquisa um relacionamento estritamente profissional. Consciente do grande poder de influência que a sua profissão proporciona, não explora nem alimenta a dependência dos seus pacientes e evita as relações que possam prejudicar o seu discernimento e intervenção profissional. Em particular, recusa qualquer forma 131 de intimidade sexual com os seus pacientes ou atitudes que influenciemos valores pessoais destes; O pesquisador só presta serviços para os quais tenha recebido formação adequada caso não tenha qualificação deve recomendar para o profissional qualificado para o efeito; O pesquisador deve ser sensível aos valores da comunidade em que está inserido, e conduzir o seu comportamento pessoal com grande prudência para que não tenha consequências negativas no desempenho profissional e na credibilidade dos colegas e da sua profissão; O pesquisador deve procurar-se em manter com os colegas e demais profissionais relações caracterizadas pelo respeito, confiança, lealdade e colaboração; Em quaisquer relações com outros profissionais, o psicólogo trabalha exclusivamente na esfera da sua competência, reconhecendo as áreas específicas e independentes das outras profissões; Mesmo quando não existem relações formais com profissionais de outras áreas, o Psicólogo, quando necessário, tudo deve fazer para que sejam assegurados outros serviços profissionais de que os seus pacientes necessitam. UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa A análise da validade ética das pesquisas se concretiza nos Comités de Ética em Pesquisa, CEP das instituições. O Comité de Ética em Pesquisa (CEP) é uma equipa de profissionais interdisciplinar e independente, que deve existir nas instituições que realizam pesquisas envolvendo seres humanos, criado para defender os interesses dos sujeitos da pesquisa em sua integridade e dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos (Normas e Directrizes Regulamentadoras da Pesquisa Envolvendo Seres Humanos). Manual operacional para comités de ética em pesquisa (2007). O objectivo do comité de pesquisa é o de preservar a dignidade e integridade do ser humano e contribuir para o desenvolvimento científico. Porém, colocando em primeira ordem a dignidade do ser humano. Se em nome do avanço científico for colocado em causa a dignidade humana é considerado acto não ético. É importante que esse aspecto seja salientado porque existem se não for tida em conta a componente ética o comité de ética deixa de ser considerado desta forma e passa a ser tido como comité de análise. O CEP é responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres humanos. Este papel 132 está bem estabelecido nas diversas directrizes éticas internacionais (Declaração de Helsínquia, Directrizes Internacionais para as Pesquisas Biomédicas envolvendo Seres Humanos), directrizes estas que ressaltam a necessidade de revisão ética e científica das pesquisas envolvendo seres humanos, visando salvaguardar a dignidade, os direitos, a segurança e o bem-estar do sujeito da pesquisa. Desta maneira “toda pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comité de Ética em Pesquisa” e cabe à instituição onde se realizam pesquisas a constituição do CEP. O CEP também contribui para a qualidade das pesquisas e para a discussão do papel da pesquisa no desenvolvimento institucional, social da comunidade. Contribui ainda para a valorização do pesquisador que recebe o reconhecimento de que sua proposta é eticamente adequada. O CEP, ao emitir parecer independente e consistente, contribui ainda para o processo educativo dos pesquisadores, da instituição e dos próprios membros do Comité. Finalmente, o CEP exerce papel consultivo e, em especial, papel educativo para assegurar a formação continuada dos pesquisadores da instituição e promover a discussão dos aspectos éticos das pesquisas em seres humanos. Dessa forma, cabe ao CEP promover actividades, tais como seminários, palestras, jornadas, cursos e estudo de protocolos de pesquisa. UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa O CEP é um órgão institucional e tem primariamente a responsabilidade de apreciar os protocolos de pesquisas a serem desenvolvidos em sua instituição. Toda pesquisa envolvendo seres humanos deve ser submetida a uma reflexão ética no sentido de assegurar o respeito pela identidade, integridade e dignidade da pessoa humana bem como a prática da solidariedade e justiça social. A partir de 1975, na revisão da Declaração de Helsínquia, se admitiu a necessidade de analisar os problemas morais que surgem nas pesquisas, e se estabeleceu: o desenho e o desenvolvimento de cada procedimento experimental envolvendo o ser humano devem ser claramente formulados em um protocolo de pesquisa, o qual deverá ser submetido à consideração, discussão e orientação de um comité especialmente designado, independente do investigador e do patrocinador. Estes comités desempenham um papel central, não permitindo que nem pesquisadores nem patrocinadores sejam os únicos a julgar se seus projectos estão de acordo com as orientações aceites. Dessa forma, seu objectivo é proteger as pessoas, sujeitos das pesquisas, de possíveis danos, preservando seus direitos e assegurando à sociedade que a pesquisa vem sendo feita de forma eticamente correcta. 133 O grande desenvolvimento das ciências biomédicas tem possibilitado enorme poder de intervenção sobre a vida humana. Além disso, tem- se tornado mais e mais difícil distinguir a pesquisa de suas aplicações, o que coloca a ciência estreitamente ligada à indústria e à economia. Inseridas num mundo capitalista, onde os investimentos exigem retorno rápido, as pesquisas também sofrem as pressões de mercado. Tais fatos, associados à expansão do sector de comunicações e à busca de consolidação dos direitos sociais a partir do princípio da cidadania plena, trazem à tona dilemas éticos para os envolvidos com a ciência e, mais ainda, para a Sociedade como um todo. Torna-se, portanto, cada vez mais relevante e imprescindível a avaliação do projecto de pesquisa por uma terceira parte, considerando-se princípios éticos minimamente consensuais. “Os Comités de Ética em Pesquisa não devem se restringir a uma instância burocrática, mas constituir-se em espaços de reflexão e monitorização de condutas éticas, de explicitação de conflitos e de desenvolvimento da competência ética da sociedade. Os CEPs deveriam ser constituídos de forma a favorecer o aporte dos pontos de vista de todos os envolvidos, bem como permitir a inclusão dos diversos interesses, seja de pesquisadores, patrocinadores, sujeitos da pesquisa e da comunidade”, Manual operacional para comités de ética em pesquisa. (2007). UNIDADE Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica Certamente que existem vários modelos de avaliação do desenho e da metodologia. Então, por que avaliar o desenho e a metodologia do projecto? A revisão ética de toda e qualquer pesquisa envolvendo seres humanos não poderá ser dissociada de sua análise científica. Não se justifica submeter seres humanos a riscos inutilmente e toda a pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco. Se o projecto de pesquisa for inadequado do ponto de vista metodológico, é inútil e eticamente inaceitável. Algumas vezes, esta avaliação pelo CEP pode ser difícil. Nesses casos recorre-se a consultores “ad hoc”, a expressão “ad hoc” é de origem Latina, significa literalmente “para isto”, um instrumento “ad hoc” é uma ferramenta elaborada especificamente para uma determinada ocasião ou situação pontual "cada caso é um caso", algo feito “ad hoc” ocorre ou é feito somente quando a situação assim o exige ou o torna desejável ao invés de ser planificado e preparado antecipadamente ou fazer parte de um plano mais elaborado. Muitas instituições, criam Comissões Científicas específicas para realizar esta tarefa, e só encaminham o protocolo de pesquisa para avaliação ética após sua aprovação metodológica, o que, entretanto, 134 não exclui a responsabilidade do CEP pela aprovação integral do protocolo de pesquisa.A avaliação de riscos e benefícios que podem ser antecipados envolve uma série de passos. O CEP deve: 1) Identificar os riscos associados à pesquisa e diferenciá-los dos que os sujeitos estariam expostos pelos procedimentos assistenciais; 2) Verificar se foram tomadas as medidas necessárias para minimizar os riscos previsíveis (considerando as dimensões física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual); 3) Identificar os prováveis benefícios que podem advir da pesquisa; 4) Verificar se os riscos estão numa proporção razoável em relação aos benefícios para os sujeitos da pesquisa; 5) Assegurar que os potenciais sujeitos receberão uma adequada e acurada descrição e informação dos riscos, desconfortos ou benefícios que podem ser antecipados; 6) Determinar intervalos de relatórios periódicos a ser apresentados pelo pesquisador e, quando for o caso, que os pesquisadores coloquem à disposição do CEP os dados necessários para acompanhamento do projecto. O CEP deve realçar a importância do processo de consentimento livre e esclarecido e não só a assinatura do Termo de Consentimento, que somente deverá ser obtida após o sujeito da pesquisa estar suficientemente esclarecido de todos os possíveis benefícios e riscos e fornecidas todas as informações pertinentes à pesquisa. Assim, o protocolo deve conter a descrição dos procedimentos para esclarecimento do sujeito (informação individual, em grupos, palestras, vídeos, etc.) e por quem será feito, verificando-se a necessidade da interposição de pessoa que não o pesquisador. Podem ainda ser necessários recursos do orçamento da pesquisa para a adequada realização da etapa. A assinatura do TCLE constitui apenas um momento do processo de consentimento e não obrigatoriamente o momento final, uma vez que todo consentimento, além de livre e esclarecido, também é renovável e revogável. Solicitar SUMÁRIO As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e científicas fundamentais e observar os seguintes princípios 135 éticos na pesquisa: Consentimento Livre e Esclarecido; Ponderação entre Riscos e Benefícios, Relevância social da pesquisa. O Comité de Ética em Pesquisa é o órgão institucional que tem por objectivo proteger o bem-estar dos indivíduos pesquisados (sujeitos da pesquisa). Os Comités são interdisciplinares, constituídos por profissionais de ambos os sexos, e muitas das vezes com pelo menos um representante da comunidade que tem por função avaliar os projectos de pesquisa que envolvam a participação de seres humanos. E está inserido nos mecanismos de controlo social para a busca de tratamento humanizado com os sujeitos envolvidos nas pesquisas. Sua missão é proteger os sujeitos envolvidos directamente na pesquisa, garantindo a todos que os seus interesses serão considerados acima dos interesses da ciência, da pesquisa. O Comité exerce também um papel consultivo e, em especial, educativo para assegurar a formação contínua dos pesquisadores, e promove a discussão dos aspectos éticos das pesquisas com seres humanos, através de seminários, palestras, jornadas científicas, cursos e estudo de protocolos de pesquisa. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. De acordo com a afirmação que se segue: “a pessoa tem o direito de consentir ou recusar de participar da pesquisa ou de qualquer situação que afecte ou venha a afectar a sua integridade físico-psíquica ou social”. Do que se trata? a) Consentimento; b) Consentimento livre c) Consentimento livre e informado 136 d) Nenhuma das respostas 2. Qual das alternativas abaixo não se enquadra com o consentimento livre e informado? a) Os procedimentos que serão utilizados, bem como os objectivos pretendidos e justificativas devem ser claros para os participantes da pesquisa; b) Devem ser informados os desconfortos, riscos possíveis e os benéficos esperados, para a pessoa e para a sociedade em geral; c) O paciente tem liberdade em recusar ou retirar seu consentimento, sem qualquer penalização e/ou prejuízo à sua assistência d) Nenhuma das Respostas. 3. Tendo em conta a afirmação que se segue: a pesquisa deve ser conduzida apenas por profissionais cientificamente qualificados e competentes. A mesma retrata: a) Consentimento livre b) Autonomia c) Ética em pesquisa d) Nenhuma das respostas anteriores Assinale com V as alternativas correctas, e com F as alternativas falsas 4. O princípio de respeito à autonomia baseia-se na dignidade da pessoa e, em consequência, há um dever moral de tratar as pessoas como um fim em si e nunca utilizá-las apenas como um meio para atingir determinado objectivo. 5. Os responsáveis legais não têm o direito de aceder as informações constantes no processo de seus dependentes. 6. O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de maturidade, autonomia e risco do adolescente e estes aspectos devem ser avaliados em conjunto com o adolescente. 7. EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Justifique com base num exemplo a seguinte afirmação! E 137 faça uma crítica a mesma. Os grupos socioeconomicamente vulneráveis, os mais desprovidos de recursos, têm menos alternativas de escolha em suas vidas, o que geralmente vai afectar o desenvolvimento do seu potencial de ampla autonomia. 2. Comente! O princípio da justiça exige ou preceitua a equidade na distribuição de bens e benefícios o que se refere ao exercício da medicina ou das actividades na área da saúde, bem como noutras áreas. 3. Com base em dois exemplos concretos, demonstre a importância da confidencialidade e da privacidade em pesquisas. Apresente quatro (4) exemplos concretos em que se pode quebrar a confidencialidade do paciente e justifique cada um dos casos arrolados. 4. Qual é a importância do consentimento livre em pesquisa? 5. A informação dos procedimentos pelos quais o indivíduo ira passar em pesquisa em importante? Porquê? Fundamente com base em exemplos concretos. 6. Qual deve ser o papel do pesquisador quando o grupo alvo da pesquisa for uma criança? 7. CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. C 2. D 3. C 4. V 5. F 6. V BIBLIOGRAFIA ARRUDA, M ta al. (2007). Fundamentos de Ética Empresarial e Económica. 3ªed São Paulo: Editora Atlas. MERCIER, S. (2003) Ética nas Empresas. Porto: Edições Afrontamento. VÁZQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. ARISTÓTELES, (2007). Ética a Indomado. São Paulo: Editora Martim Clarete. RONALD, D. (1999) Ética para Psicólogos, Lisboa, Instituto Piaget. 138 LOURENÇO, J & Vicente, J. (1995) Do Vivido ao Pensado. Porto: Porto Editora. ALMEIDA, J. R. (1998) Os Valores ético -políticos, Porto: Edições Salesianas, s/d KANT, E. (1988). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: edições 70. KANT, I. (2001). Lecciones de ética. Barcelona: Biblioteca de Bolsito. MORIN, E. (1975). Paradigma Perdido. Lisboa: Publicações Europa - América. RODRIGUES. L. (2003) Filosofia. 10º Ano. Lisboa: Plátano Editora.