Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
i INSTITUTO SUPERERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED ANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4º Ano Disciplina: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL Código: ISCED41-CSOCCFG001 Total Horas/1o Semestre:115 Créditos (SNATCA): 5 Número de Temas: 7 ii Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado, o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz mailto:isced@isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ iii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Autor Abiba Mamade Coordenação Design Financiamento e Logística Revisão Científica e Linguística Ano de Publicação Local de Publicação Direcção Académica do ISCED Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Carmen Jacqueline Rassul Salato Coimbra 2017 ISCED – BEIRA iv ÍNDICE VISÃO GERAL 1 Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional................................. 1 Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1 Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2 Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2 Ícones de actividade ......................................................................................................... 4 Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4 Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6 Tarefas (avaliação e auto - avaliação) ............................................................................... 6 Avaliação ........................................................................................................................... 7 OBJECTIVOS DA DISCIPLINA .............................................................................................. 9 TEMA I. Ética e Moral ...................................................................................................... 9 UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos ............................................................ 9 UNIDADE Temática 1.3. Diferença entre Ética e Moral .................................................. 10 UNIDADE Temática 1.1. Carácter Normativo da Ética .................................................... 12 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 14 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 14 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 16 CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I .................................. 17 TEMA II. Breve historial da ética .................................................................................... 18 UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval ............................................................. 18 UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 18 UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 18 UNIDADE Temática 2.1. Introdução ................................................................................ 18 Introdução ....................................................................................................................... 18 UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética ............................................................. 18 UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega ............................................................................ 20 UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval .......................................................... 22 UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna ........................................................................ 24 UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea ............................................................ 28 UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência ................................................................. 32 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 34 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 35 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 37 CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO -AVALIAÇÃO .................................................... 37 TEMA III – ÉTICA E DIREITOS HUMANOS ...................................................................... 38 UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38 UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 38 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 38 UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 38 UNIDADE Temática 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ....................... 38 v UNIDADE Temática 3. Introdução................................................................................... 38 Introdução ....................................................................................................................... 38 UNIDADE Temática 3.1. A Vida Humana Como Valor Ético ............................................ 38 UNIDADE Temática 3.2. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida .................. 40 UNIDADE Temática 3.3.1.Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ................................ 46 UNIDADE Temática 3.3.2. A Pessoa na sua Relação com os Outros ............................... 46 UNIDADE TEMÁTICA 3.4. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ..................... 53 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 55 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO.................................................................................. 55 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 57 CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 58 TEMA IV. Principios Ético ............................................................................................... 58 UNIDADE Temática 4.2. Beneficiência ............................................................................ 60 UNIDADE Temática 4.2. Não – Maleficência ................................................................... 65 UNIDADE Temática 4.3. Autonomia ................................................................................ 67 UNIDADE Temática 4.4. Justiça ....................................................................................... 71 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 73 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 73 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO ............................................................................................ 75 CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO – AVALIAÇÃO ........................................................ 75 UNIDADE Temática 5. Introdução................................................................................... 76 Introdução ....................................................................................................................... 76 TEMA V: DEONTOLOGIA PROFISSIONAL ....................................................................... 79 UNIDADE Temática 5.2.Origem Do Conceito Deontologia ............................................. 81 UNIDADE Temática 5.2.1. A Deontologia e a sua Relação com a Profissão ................... 81 UNIDADE Temática 5.3. Importância da ética Profissional ............................................. 82 UNIDADE Temática 5.4. A Formalização Ética ................................................................ 83 UNIDADE Temática 5.4.1. Infraestruturas Éticas ............................................................ 84 UNIDADE Temática 5.4.1.1. O Código ............................................................................. 84 UNIDADE Temática 5.4.2. Tipos de Códigos de Ética ...................................................... 85 UNIDADE Temática 5.5. O que Os Códigos Têm em Comum ......................................... 86 UNIDADE Temática 5.6.1. Confidencialidade e Privacidade ........................................... 91 SUMÁRIO ........................................................................................................................ 98 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................................. 99 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 100 CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO................................................... 100 TEMA VI. ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES .......................................................................... 101 UNIDADE Temática 6.1. Dimensões do Clima Ético ...................................................... 102 UNIDADE Temática 6.2. Os Indicadores Do Clima Ético ............................................... 103 UNIDADE Temática 5.2. Dilemas Éticos ........................................................................ 110 SUMÁRIO ...................................................................................................................... 111 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 112 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 113 CORRECÇÃO EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO .......................................................... 114 TEMA VII. ÉTICA NA PESQUISA COM SERES HUMANOS ........................................... 115 UNIDADE Temática 7.1. O Consentimento Livre e Informado ...................................... 115 UNIDADE Temática 7.2. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .................... 120 vi UNIDADE Temática 7.3. A Pesquisa .............................................................................. 124 UNIDADE Temática 7.4. Cuidados a ter com Crianças e Adolescentes......................... 125 UNIDADE Temática 7.5. Cuidados a ter com Dados Dos Respondentes ...................... 126 Unidades Temática 7.6. Pesquisa Com Seres Humanos ............................................... 126 UNIDADE Temática 7.7.Princípios Técnicos e Éticos ..................................................... 130 UNIDADE 7.8. Os Comités de Ética em Pesquisa .......................................................... 131 UNIDADE 7.8.2. Abrangência Dos Comités de Pesquisa ............................................... 132 Unidade Temática 7.8.3. Avaliação da Metodologia Científica .................................... 133 SUMÁRIO ...................................................................................................................... 135 EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................ 136 EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 137 CORRECÇÃO - EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................ 137 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................ 138 1 VISÃO GERAL Benvindo à Disciplina/Módulo de Ética e Deontologia Profissional Objectivos do Módulo Ao terminar o estudo deste módulo de Ética e Deontologia Profissional deverá ser capaz de: Objectivos Específicos Explicar o carácter normativo da ética; Reflectir sobre os principais problemas éticos; Problematizar as várias teorias éticas; Definir com clareza os conceitos: sujeito ético e consciência moral; Caracterizar a pessoa como categoria ética; Conhecer a importância da ética no relacionamento do homem com os seus semelhantes; Distinguir a pessoa com o sujeito ético; Relacionar a pessoa como categoria ética e os princípios éticos; Apresentar o papel do profissional na sua actuação; Conhecer as principais virtudes profissionais e aplicar em contextos concretos; Alistar os princípios éticos na actuação professional; Apresentar o papel do pesquisador na sua actuação, no que se refere à confidencialidade e privacidade; Alistar os princípios éticos na actuação do pesquisador; Identificar as responsabilidades dos Comités de Ética em Pesquisa; Explicar o processo de avaliação de protocolos de pesquisa pelo Comité de Ética em Pesquisa; Identificar os pontos à analisar na avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas. 2 Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 4º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED e outros. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem- vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. Como está estruturado este módulo Este módulo de Ética e Deontologia Profissional, para estudantes do 4º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral e detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhorestudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas, incluído estudo de caso. 3 Outros recursos A equipa dos académicos a e pedagógicos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu Centro de Recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso, tais como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. AUTO-AVALIAÇÃO E TAREFAS DE AVALIAÇÃO Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação, apresntam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação são essencialmente semelhantes às de auto- avaliação, mas sem mostrar os passos e obedecem a um grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregue aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, se o caro estudante fizer todos os exercícios de avaliação será uma grande vantagem. Comentários e sugestões Use este espaço é dedicado para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que, graças as suas observações que em gozo de confiança classificamo-las de úteis, a próxima edição do módulo, venha a ser melhorado. 4 Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo) e algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se exista. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve 5 estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar. 6 Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC setorna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto - avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. 7 Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es), é considerado plágio, uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar a fonte é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. 9 OBJECTIVOS DA DISCIPLINA Objectivos Específicos No final do módulo o estudante deverá ser capaz de: Definir a ética e moral; Diferenciar a ética da Moral; Caracterizar a ética e a moral; Classificar a ética enquanto disciplina; Nomear as diversas etapas históricas da ética; Nomear as diversas etapas teóricas da ética; Explicar o carácter normativo da ética; Reflectir sobre os principais problemas éticos; Problematizar as várias teorias éticas. TEMA I: ÉTICA E MORAL UNIDADE temática 1.1. Definição de Conceitos UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética Introdução Sendo a moral é inseparável dos costumes humanos, os quais dependem de cada época, da região geográfica ou das circunstâncias. Neste sentido, a moral é mutável e relativa a determinadas práticas culturais, isto é, ela não é diferente dentro de toda forma de associação. Ex: na família, na classe social ou num estado. Para melhor compreensão dos conteúdos deste módulo, iremos começar por definir os conceitos chave, concretamente ética, moral é sujeito ético para melhor assimilação dos conteúdos neles apresentados. 10 Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Definir o conceito de ética e moral; Conhecer a relação entre a ética e a moral; e, Conhecer as diferenças entre a ética e a moral. UNIDADE Temática 1.1. Definição de Conceitos A palavra ética provém do grego e tem dois significados: (1) Étimos – que significa hábitos e costumes; (2) Eros – que significa modo de ser ou carácter. A moral e a ética são conceitos diferentes, mas que inserem em si algo de comum: o sentido eminentemente prático. Segundo Costa te al. (1998), moral é o conjunto de regras, valores, proibições, crenças, tabus, impostos quer pela política, costumes sociais, a religião, quer pelas ideologias de uma sociedade, enquanto a ética é a reflexão sobre a moral. A moral nasce com a existência do homem, pois historicamente não se conhece nenhum povo, que não tivesse normas, regras ou rituais de conduta. Kant, (1988), define a ética como uma reflexão teórica sobre a moral e uma revisão racional e crítica sobre a validade da conduta humana. Por isso, a ética é uma justificação racional da moral, e remete-nos a ideias ou valores que procedem a partir da própria deliberação do homem. A ética é uma análise das regras morais. Também a ética pode ser entendida como uma filosofia moral, se entendermos a filosofia como um conjunto de conhecimentos racionalmente estabelecidos. UNIDADE Temática 1.2. Diferença entre Ética e Moral Actualmente tem-se discutido muito sobre a ética nos seguintes âmbitos: ética na saúde, na pesquisa, na educação, na política, entre outros campos. Perante esta situação levantamos uma questão. Afinal qual será a diferença entre a ética e a moral? A Ética provém do grego egos, que significava “morada”, “lugar em que vivemos” e passou a significar “o carácter”, “o modo de ser” que 11 uma determinada pessoa ou grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por outro lado, “moral” deriva do latim mos, mores que significava “costumes”, mas passou a significar também, “carácter”, ou “modo de ser”. Apesar dos termos ética e moral serem etimologicamente equivalentes, a moral é mesmo diferente da ética. “Moral é o conjunto de princípios, valores e normas que regulam a conduta humana em suas relações sociais num determinado momento histórico. O que pode ser considerado acto moral num determinado tempo, poderá não ser noutro”. Costa et al (1998:15). A moral é imposta pela sociedade, por exemplo pelo Código Civil, e outros códigos de conduta. Enquanto a ética implica na opção individual do sujeito. Isto é, requer adesãoíntima do sujeito a valores, princípios e normas morais. A pergunta básica da moral, – Ética e Deontologia, é “o que devemos fazer?”, enquanto a questão relativa a ética é “porque devemos fazer?”, ou seja, “que argumentos corroboram e sustentam o que estamos a aceitar como guia de conduta?” Neste sentido, o comportamento ético exige reflexão crítica diante de dilemas, na qual devem ser considerados, entre outros, os sentimentos, a razão, os patrimónios genéticos, a educação e os valores morais. Para Hermano (1993), a ética procura responder as seguintes questões: Que devo escolher? Há uma hierarquia de valores? Que espécie de homem devo ser? Que devo querer? Que devo Fazer? A ética, embora historicamente recente, vem crescendo muito nestes últimos anos. As discussões de temas por ela abordados ocorrem em âmbito mundial. Esta é considerada uma área de conhecimento que faz estudo sistemático das dimensões morais das ciências e do cuidado da saúde, com base numa variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar. Este tópico será desenvolvido nos capítulos subsequentes. O profissional deve ter em atenção a Ética, o ramo da ética encarregue pelas ciências biológicas. Este ramo da ética, dá especial atenção as pesquisas científicas avalia sob diferentes pontos de vistas os benefícios e riscos que a pesquisa poderá representar para o sujeito e a sociedade, obrigando os projectos de pesquisa a passarem pelos 12 Comités de Ética a fim de serem analisados com maior profundidade. Os avanços verificados pela Ética nos últimos anos podem ser considerados extraordinários. Actualmente, o número de publicações relativamente à Ética aumentou, são publicações periódicas de novas investigações que surgem diariamente que abordam sobre os mais variados enfoques do tema, além de incontável a quantidade de eventos académicos oferecidos sobre a Ética em praticamente todas as partes do mundo. Para Costa te al (1998), é importante mencionar que a visão original da Ética focalizava-a como uma questão ou um compromisso mais global frente ao equilíbrio e preservação da relação dos seres humanos como ecossistema e a própria vida do planeta, diferente daquela que acabou difundindo-se e sedimentando-se nos meios científicos. Em suma, pode-se considerar que o termo foi mencionado pela primeira vez em 1971 por Van Potter, no seu livro "Ética: Ponte para o Futuro. UNIDADE Temática 1.3. Carácter Normativo da Ética Kant (2001), a ética trata da normalização dos actos humanos segundo princípios últimos (que vão além do nosso entendimento) e racionais. A ética é um conhecimento que se preocupa com o fim a que se deve dirigir a conduta humana e os meios para alcançar este fim. Ela pretende explicar a validade das suas afirmações, procurando comprovar porque é que algo é bom ou mau, justo ou injusto, moral ou imoral desde uma perspectiva universal e necessária. Almeida (1998) acrescenta que, a ética é normativa porque é uma racionalização do comportamento humano, isto é, trata de um conjunto de princípios ou enunciados dados à luz da razão e que iluminam o caminho correcto/acertado da conduta. O carácter normativo da ética tem como fundamento um aspecto essencial da natureza humana, a saber: O facto de o homem ser “imperfeito porém perfectível”. A razão para tal afirmação é a seguinte: se fossemos perfeitos e mantivéssemos na nossa perfeição, não teríamos problema moral, pois não estaríamos obrigados a desenvolver todas as nossas potencialidades. Por isso, os princípios éticos têm uma dimensão imperativa, por serem mandatos ou ordens que nos damos para movermo-nos na realização de actos que melhorem a nossa condição humana. Por outro lado, somos seres incompletos/imperfeitos que buscamos, tendemos a perfeição dirigindo as nossas acções ao que deve ser. 13 Todavia, a perfeição não deve centrar-se apenas num aspecto da nossa personalidade porque a natureza humana é complexa. Ela deve englobar o espiritual, o físico, intelectual, volitivo (a vontade), afectivo, o estético, o social, etc. 1. A perfeição espiritual desenvolve os aspectos que têm a ver com o enriquecimento da vida espiritual que possam engrandecer a alma, a esperança, fé, caridade, etc. 2. A perfeição física deve ser vista como um complemento da alma. A alma e o corpo são duas manifestações distintas de uma mesma realidade. Daí surge o ditado popular Mente sã um corpo são. Quando a alma afecta o corpo surgem alterações nervosas. E quando o corpo afecta a alma podem surgir estados depressivos. Note que é indispensável o exercício físico, uma boa alimentação para o equilíbrio entre a alma e o corpo. 3. A perfeição intelectual representa o desenvolvimento da mente, da inteligência, do conhecimento. O homem aperfeiçoa-se através da cultura, do estudo, da educação e só assim é que é capaz de julgar a validade das coisas. O homem deve buscar um conhecimento alargado das coisas (capacidade de se abstrair). 4. A perfeição da vontade representa o que se deve separar dos desejos. A vontade deve ser vista como uma aliada da razão e não uma súbdita do desejo. É possível ser mais responsável, mais moderado, ter mais respeito sem nunca deixar de lado a razão. Daí a necessidade de aliar a desejo à razão, de modo que as nossas acções e decisões sejam bem pensadas; 5. A perfeição afectiva está ligada às emoções, tem a ver com a bondade, benevolência, a compreensão, o carinho e a gratidão. É importante temperar a razão com o lado afectivo. O homem não deve ser dominado somente pelas paixões nas suas acções e decisões. No entanto, um homem que actua com base na paixão sem a razão corre risco de tornar-se cego, frio e calculista. As emoções devem ser conjugadas com uma dose de racionalidade. Normalmente quando a razão caminha sozinha torna-se cega, fria e calculista; 6. A perfeição estética: o ser humano aperfeiçoa-se ao se relacionar como belo com o sublime. A perfeição estético torna o ser humano mais criativo, sensível e com maior capacidade de comunicar e de reflectir. A arte não deve ser nada que fique subjugada à pressão dos médios, ou apenas entendida em aspectos comerciais; 14 7. A perfeição social: o relacionamento com os outros é fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Por isso, é no relacionamento que o homem promove e desenvolve capacidade como a amizade, a cooperação, a paz, a liberdade, a fraternidade, a dignidade, a igualdade e o pluralismo. Só através do relacionamento com os outros somos capazes de combater determinados anti-valores como: o individualismo, a intolerância, o egoísmo, etc. O desenvolvimento da personalidade humana deve ter em conta todas essas dimensões da sua personalidade. Nunca o individualismo deve ser tomado como um meio do homem impor as suas regras. SUMÁRIO Ética é a reflexão crítica sobre a moral, ela depende do sujeito. Porque ele pessoalmente reflecte e chega a conclusão pessoal do que vem a ser ou não ético. Isto é, Implica uma relação de si para consigo. A ética procura o fundamento do valor que norteia o comportamento. Isto é, tem como problema definir o comportamento moral. A ética é uma ciência normativa porque trata da rectidão do comportamento. Ela versa sobre o bem e o mal, o correcto e o incorrecto, tendo como meta a perfeição da sociedade. É com base na racionalidade que se estipulam regras para a harmonia social. Quem estipula as normas é o homem para a melhoria da relação com os seus semelhantes. Tanto a ética como a moral visam a harmonia entre os seres humanos. Por outro lado, ambas estão relacionadas com os valores culturais do grupo social no qual o indivíduo se insere. Isto é, tem a finalidade de organizar as relações entre os sujeitos sociais representa todo comportamento moralque varia de acordo com o tempo e o lugar. O que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado tempo, poderá não ser noutro. O que pode ser considerado acto moral, ou acto ético num determinado tempo, poderá não ser noutro. EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO 1. Indique a alternativa correcta: a) A palavra moralidade vem do latim “mos” ou “moris” que significa costumes b) A palavra ética e moralidade são sinónimas e correspondem a mesma ideia 15 c) As normas morais não variam a depender da cultura e do período histórico d) A palavra ética vem do latim e significa modos de ser. 2. As normas morais variam a depender da cultura e do período histórico, também podem ser questionadas e destituídas. Isso significa que: a) Nós não podemos pensar sobre as normas morais que são impostas; b) Nós temos que concordar com as normas morais porque são as normas da nossa cultura; c) A moral é o conjunto de valores pelos quais as pessoas guiam os seus pensamentos e por isso está sujeita a mudanças a depender do país e do momento histórico em que as pessoas estão inseridas; d) Não agimos de forma “moral” se obedecermos as regras que a sociedade estabelece. 3. Como podemos diferenciar a moral da ética: a) Não podemos diferenciar, são palavras sinónimas; b) Moral é o conjunto de valores e a ética é a reflexão sobre os valores; c) Moral é a prática da ética no nosso dia-á-dia; d) Moral é sinónimo da “ética aplicada”. 4. Leia o texto abaixo: “Os homens não são maus, mas submissos aos seus interesses… portanto, não é da maldade dos homens que é preciso se queixar, mas da ignorância dos legisladores que sempre colocam o interesse particular em oposição ao geral. (…) Até hoje as mais belas máximas morais não conseguem traduzir nenhuma mudança nos costumes das nações. Qual é a causa? E que vícios de um povo estão, se ouso falar, escondidos no fundo da sua legislação” Helvetius Quais são as ideias principais contidas no fragmento acima? a) Não há nenhuma relação entre as Leis e os costumes, pois são os homens que fazem as Leis que os beneficiam; b) Para limitar os interesses humanos particulares, é preciso haver Leis que prefiram os interesses gerais; c) Os homens buscam os interesses e isso não significa que eles são maus; 16 d) Há uma relação entre Leis e Costumes, pois as Leis permitem ou impedem que os homens cometam erros. 5. O sujeito ético-moral é somente aquele que preenche os seguintes requisitos: a) É um ser consciente mas não precisa reconhecer a presença dos outros como sujeitos éticos iguais; b) Saber o que faz, conhecer as suas causas e os fins da sua acção, o significado de suas intenções, suas atitudes e a essência dos valores morais; c) Não precisa controlar interiormente os seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, deixando-as fluir livremente; d) Dizer como as coisas são, o que são, e como são. Enunciar pois os juízos de facto; e) Ser responsável, mas não precisa reconhecer como autor da sua própria acção, nem avaliar os efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros. 6. O Moçambicano tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive na corrupção, diz a pesquisa. Se o país fosse resultado de padrões morais que as pessoas dizem aprovar. Portanto, o distanciamento entre o reconhecer e o cumprir efectivamente o que é moral, constitui uma ambiguidade inerente ao humano, porque as normas morais são: a) Decorrentes da vontade divina, e por esse motivo utópicas; b) Parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação c) Amplas e vão para além da capacidade do indivíduo conseguir cumpri-las integralmente; d) Criadas pelo homem e concede a si mesmo a Lei a qual se deve submeter; e) Cumpridas por aqueles que se dedicam a cumprir integralmente as normas judiciais. EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO 1. Define o conceito de ética e da Moral. 2. Qual é a relação que existe entre a ética e a moral? 17 3. Quais são as diferenças entre a ética e a moral? 4. Qual é a relação entre a moral e a cultura? 5. Porque é que a moral está relacionada com o contexto histórico? 6. Porque é que se diz que a ética é normativa. CORRECÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE AUTO-AVALIAÇÃO UNIDADE I 1. A 2. C 3. B 4. B 5. B 6. D TEMA II – PERPECTIVA HISTÓRICA DA ÉTICA 18 UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã Medieval UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea UNIDADE Temática 2.1.5 Ética Como Ciência UNIDADE Temática 2.1.6. Meta – Ética UNIDADE Temática 2. Introdução Introdução Introdução Depois de fazermos uma breve abordagem acerca da etimologia dos conceitos de ética e moral, da diferença entre ética e moral, e do carácter normativo da ética, vamos de seguida contextualizar o ambiente do surgimento de uma teoria ética. A ética como um saber teórico que justifica ou legitima a conduta moral é relativamente recente. Aparece com o advento da filosofia no séc. VI a C, na Grécia. A prática de uma teoria ética no seu sentido mais restrito, surge no séc. V a C, com Sócrates. Sócrates fez uma viragem na abordagem da moral da sua sociedade ao propor como primordiais os valores espirituais antes dos materiais. Assim sendo, para Sócrates, a moral não lida com um problema sem importância, mas ela tem a ver com o como deveríamos viver e porquê? Objectivos Específicos No final o estudante deverá ser capaz de: Conhecer a história da ética e deontologia profissional; Acompanhar a evolução da história da ética com o contexto, histórico, geográfico, sociocultural, político e religioso. UNIDADE Temática 2.1. Breve historial da ética De acordo com Morri (1975), a existência de uma história da moral é 19 sustentada considerando que cada sociedade tem sido caracterizada por um conjunto de regras, normas e valores. A história da Ética é complexa e exige alguns cuidados no seu estudo, uma vez que ela como disciplina filosófica é mais limitada no tempo e no material tratado do que a história das ideias morais da humanidade. A história das ideias morais da humanidade compreende o estudo de todas as normas que regularam a conduta humana desde os tempos pré-históricos até aos nossos dias. Esse estudo é filosófico ou histórico-filosófico e social. Kant (2001) acrescenta que, a história das ideias morais é um tema de que se ocupam a sociologia e a antropologia. A existência de ideias morais não implica a existência de uma disciplina particular, uma vez que podem estudar-se as atitudes e ideias morais de diversos povos, orientais, judeus, etc. Sem que o material resultante seja enquadrado na história da Ética. Assim, só existe história da Ética no âmbito da história da filosofia. A história da Ética adquire uma considerável amplitude. Por isso, é difícil com frequência estabelecer uma separação rigorosa entre os sistemas morais e – objecto próprio da. Isto porque a ética é um conjunto de normas e atitudes de carácter moral dominantes numa sociedade ou fase histórica. Assim, os historiadores da Ética limitaram seu estudo para aquelas ideias de carácter moral que possuem uma base filosófica, isto é, em vez de se darem simplesmente como supostas, são examinadas em seus fundamentos e são filosoficamente justificadas. A justificação não importa se é do âmbito metafísico ou teológico, mas que seja uma explicação racional das ideias ou das normas adoptadas. Dai, a razão dos historiadores da Ética seguiremos procedimentos tomados pelos historiadores da filosofia. Neste sentido, as doutrinas éticas fundamentais nascem e desenvolvem-se em diferentes épocas e sociedades, na busca de respostas aos problemas nas relações interpessoais, especificamente pelo valor moral e efectivo. Se olharmos para a história, notaremos uma grande diversidade de ideias morais no tempo. Triedros Nietzsche faz uma exposição da sucessão das doutrinas éticas quando afirma “aquilo que numa época parece mau, é quase sempre um restolho daquilo que na precedente época era considerado bom” (Nietzsche, 1977:99). As doutrinas éticas nascem e se desenvolvem em diferentes épocas e sociedades como resposta aos problemas básicos apresentados pelas relações entre os homens e em particular pelo seu comportamento moral efectivo. Por isso, existe uma estreita vinculação entre os conceitos morais e a realidade humana social, sujeita historicamente a devir (a mudanças). 20 As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladamente, mas dentro de um processo de mudança e de sucessão que constitui propriamente a sua história. A Ética e História se relacionam. Cada doutrina esta em conexão com as anteriores (tomando posições contra elas ou integrando alguns problemas e soluções precedentes), ou com as doutrinas posteriores - prolongando-se ou enriquecendo-se nelas. Quando os princípios, os valores ou as normas nela encarada entram em crise e exigem a sua justificação ou a sua substituição por outros. Surgindo assim, a necessidade de novas reflexões ou nova teoria moral porque os conceitos, valores e normas vigentes se tornaram problemáticos. Apesar de as doutrinas serem de uma determinada época e sociedade, podem ser tratadas de forma isolada, mas dentro de um sistema de mudança que constitui a sua própria história. Neste sentido, quando os princípios ou valores numa determinada época, regido por uma doutrina, entram em crise, requerendo a sua justificação ou substituição, surgindo deste modo, surge a necessidade de novas reflexões, podendo trazer ou não uma nova abordagem, visto que os valores e normas vigentes se tornam problemáticas. UNIDADE Temática 2.1.1. Ética Grega Sob o ponto de vista formal, a história da Ética teve a sua origem na antiguidade grega através de Aristóteles (384-322 a. C) e suas ideias sobre a Ética e as virtudes éticas. Mesmo antes de Aristóteles, já foi possível encontrar na Grécia fragmentos de uma abordagem com base filosófica para os problemas morais e até entre os filósofos – pré- socráticos encontram-se reflexões de carácter ético, por exemplo, quando pretendiam saber as razões do comportamento moral. Sócrates (470-399 a. C) considerou a questão da ética individual como problema filosófico central e a Ética como disciplina em torno da qual deveriam girar as reflexões filosóficas. Para Sócrates ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso. Só age mal quem desconhece o bem porque todo o homem quando fica sabendo o que é o bem, reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo, e ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e consequentemente é feliz. Daí a velha máxima (frase socrática): Conhece-te a ti mesmo. Portanto, para Sócrates a virtude seria o conhecimento das causas e dos fins das acções fundadas em valores morais, identificados pela inteligência e que impelem o homem a agir virtuosamente em direcção ao bem. Platão (427-347 a C) ao examinar a ideia do bem à luz da sua teoria das ideias subordinou a sua Ética a metafísica. A sua Ética está 21 relacionada com sua filosofia política, porque para Platão a polis (cidade-estado) é o terreno propício para a vida moral. A sua Ética exerceu grande influência no pensamento religioso e moral do ocidente. Aristóteles (384-322 a C) organizou a Ética como disciplina filosófica e formulou a maior parte dos problemas que os filósofos morais se ocuparam: relação entre as normas e os bens entre a Ética individual e social; relação entre a vida prática e teórica, classificação das virtudes, etc. A concepção Ética de Aristóteles privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas aos sentimentos de realização pessoal, aquele que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. A Ética Aristotélica busca valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como parte da ordem natural do mundo – o naturalismo. Para Aristóteles, toda a actividade humana tende a um fim que é o bem supremo que seria resultado do exercício perfeito da razão, função própria do homem. Assim, o homem virtuoso é aquele que é capaz de deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros movidos por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre o excesso e a deficiência: por exemplo, tendemos mais naturalmente para os prazeres e por isso somos levados mais facilmente para a concupiscência do que para a moderação. A Ética Aristotélica também esta relacionada com a sua filosofia política, uma vez que a comunidade social, política é o meio necessário para o exercício da moral. Somente nela pode realizar-se a ideia da vida teórica na qual se baseia a felicidade. Porque o homem moral só pode viver na cidade e é, portanto animal político ou social – zoom politicou. Apenas os deuses e os animais selvagens não tem necessidade da comunidade política para viver. O homem deve necessariamente viver em sociedade e não pode levar uma vida moral como indivíduo isolado, mas no seio de uma comunidade. Com a decadência do velho mundo greco-romano, surge o estoicismo e o epicurismo. Fundamenta-se na consciência colectiva, implícita no comportamento humano e social aceite por todos. Para Epicuro (341-270 a C), o prazer é um bem e, como tal, o objectivo de uma vida feliz. Dai o surgimento da ideia do hedonismo que assume o prazer como princípio e fundamento da vida moral. Uma vez que existem muitos prazeres, nem todos são iguais e bons. É preciso escolher entre eles os mais duradouros e estáveis, para isso é necessário à posse de uma virtude sem a qual é impossível escolher. Essa virtude é a prudência que permite seleccionar aqueles prazeres que não nos trazem a dor ou perturbações. Os melhores prazeres não 22 são corporais – fugazes e imediatos - mas os espirituais porque contribuem para a paz da alma. A virtude ética é prudência que leva o homem ou a mulher a escolher prazeres que não trazem perturbações, visto que o prazer é um bem que leva a uma vida feliz. Para os estóicos (Zenão, Séneca e Marco Aurélio), o homem é feliz quando aceita o seu destino com imperturbabilidade e resignação. O universo é um todo ordenado e harmonioso onde os sucessos resultam do cumprimento da lei natural, racional e perfeita. O bem supremo é viver de acordo com a natureza, aceitar a ordem universal compreendida pela razão, sem se deixar levar pelas paixões, afectos interiores ou pelas coisas exteriores. O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com moderação aceitando seu destino. O estóico deixa de ser um cidadão da polis e passa a ser do cosmo. O ser humano é um cidadão do cosmo e o seu destino já está predeterminado. UNIDADE Temática 2.1.2. Ética Cristã e Medieval Com o fim do mundo antigo (Grécia e Roma Antiga), o regime servil substituiu a escravidão. Assim o regime servil deu bases para a construção da sociedade feudal. A sociedade feudal era extremamente estratifica e hierarquizada. No entanto era uma sociedade fragmentada economicamente e politicamente na medida em que as estruturas deixadas pelo mundo antigo foram desfeitas e a igreja continuou sendo a única instituição organizada. É por este motivo que a religião se tornou o garante da unidade social do povo na época.Assim a igreja passou, além do poder espiritual e temporal, a monopolizar a vida intelectual. Evidentemente a Ética, neste período medieval, foi sujeita a conteúdos religiosos. Os filósofos cristãos, da época, tiveram uma dupla atitude diante da Ética: Uma atitude Ecónoma que fundamenta-se em Deus e nos princípios morais. Deus criador, omnisciente e todo-poderoso. O homem como criatura de Deus tem seu fim último Nele que é o seu bem mais alto e o valor supremo. Deus exige a sua obediência e a sujeição a seus mandamentos – com carácter de imperativo supremo. Esta atitude aproveitou as ideias da ética grega platónica e estóicas inserindo-as na ética cristã. A Ética cristã é uma ética subordinada a religião num contexto em que a filosofia era considerada serva da teologia, isto é, a filosofia deveria ajudar na compreensão da teologia. 23 A ética cristã é uma ética limitada por parâmetros religiosos e dogmáticos e tende a regular o comportamento dos homens com vista a uma outra vida (reino de Deus) colocando o seu fim ou objectivo fora do homem, mas na divindade. Ao pretender elevar o homem da ordem natural para a ordem transcendental ou sobrenatural, onde possa viver uma vida feliz e plena, livre de desigualdades e injustiças do mundo terreno o cristianismo introduz uma ideia inovadora: a igualdade dos homens diante de Deus. Assim o homem é chamado a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural, o reino dos céus. Esta teoria absorve bastante o que Platão e Aristóteles postularam. Os filósofos cristãos mais marcantes na ética cristã são Santo Agostinho (354-430) e São Tomas de Aquino (1226-1274). Estes reflectem respectivamente as ideias de Platão e Aristóteles. Por exemplo, a purificação de Platão e a sua ascensão libertadora até elevar-se ao mundo das ideias tem correspondência na elevação ascética até Deus exposta por Santo Agostinho. A ética de S. Tomás de Aquino assemelha-se a Aristóteles na questão da contemplação e do conhecimento que permite alcançar o fim último. Para São Tomás o fim último é Deus. A história da ética é complexa a partir do renascimento europeu onde prevaleceram diversas doutrinas. Contudo, todas elas surgem como reacção a Ética Cristã que era excêntrica e teológica. A ética do renascimento é antropocêntrica. Isto é, o ser humano no centro das atenções. Portanto, ela procura reflectir o homem. Portanto, o renascimento faz uma viragem significativa na história da ética. Kant (2001) defende que esta viragem deveu-se as mudanças que o mundo sofreu nas esferas económicas, políticas e científicas. Na esfera económica, por exemplo, viu-se crescer de forma muito intensa o relacionamento de forças produtivas com o desenvolvimento científico. A relação entre a produção e a ciência propiciou o desenvolvimento da ciência. Este tema não será desenvolvido nesta unidade porque não faz parte desta disciplina. No entanto, esta relação fortaleceu a nova classe social – a burguesia – que lutava para se impor politicamente e economicamente. Este foi um período de grandes revoluções políticas (na Holanda, França e Inglaterra). O renascimento trouxe as seguintes consequências: A razão se separa da fé (filosofia separa-se da religião); As ciências naturais separam-se dos pressupostos teológicos; O estado separa-se da igreja; Começam a surgir indícios da separação do homem de Deus. Esta rotura foi evidente entre a idade Media e a Moderna. Ora 24 vejamos: Nicolau Maquiavel (1469-1527) provocou uma revolução Ética ao romper com a moral cristã que impõe valores espirituais como superiores aos valores políticos. Isto é, o caracter normativo da ética, na qual a ética preocupa-se com o fim da conduta humana e com os meios para alcançar este fim. Para Maquiavel a adopção de uma moral própria em relação ao estado era fundamental. Para este, o que importa são os resultados e não a acção política em si mesma, adicionalmente, Maquiavel sugeriu sendo legítimo o uso da violência contra o que se opõe aos interesses estatais. Maquiavel pretende a aplicação de novos valores, onde o homem é centro de busca dos seus próprios valores e princípio. As ideias de Maquiavel tiveram bastante influência em Thomas Hobbes, Baruch de Espinosa no que se refere à Ética realista. UNIDADE Temática 2.1.3.Ética Moderna A teoria da ética moderna teve uma contribuição de vários autores. Em seguida descrevemos o desenvolvimento da ética moderna na visão de vários autores. Reme Descartes (1596-1650) procurou basear as suas reflexões na filosofia e no homem que passaram a ser o centro de tudo, da política, da arte e da moral. Surgindo, desse modo, a Ética antropocêntrica. Thomas Hobbes (1588-1679) sistematiza a Ética do desejo que esta em cada ser, de própria conservação como sendo o fundamento da moral e do direito. Para Hobbes, a vida do homem no estado de natureza - sem leis nem governo – era solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, uma vez que os homens são por índole agressivos, autocentrados, insociáveis e obcecados por um desejo de ganho imediato. Para Hobbes, os indivíduos que decidem viver em sociedade não são melhores ou egoístas do que os selvagens: são apenas clarividentes se cooperarem, podem ser mais ricos e mais felizes. Segundo Hobbes o bom comportamento do homem deriva do seu egoísmo. Por exemplo, para Hobbes a explicação é simples: dois homens juntos têm mais facilidade de matar uma fera sem se ferirem. Esta é uma razão que explica a necessidade do homem de se auto conservar. Baruch de Espinosa (1632-1677), diz que: os homens tendem naturalmente a pensar apenas em si mesmos, nos seus desejos e opiniões. As pessoas sempre são conduzidas por suas paixões, as quais nunca tem em conta o futuro ou outras pessoas. Esta é uma acção necessitante da substância divina baseada na tendência de 25 conservação e consecução de tudo o que é útil. Espinosa é essencialmente panteísta: entre Deus e o mundo se não há uma diferença de pontos de vista, Deus é a única substância necessária, una, infinita, independente, simples e indivisível. Tem uma identidade, de atributos dos quais conhecemos apenas dois: a extensão e o pensamento. O mundo é o conjunto dos modos desses dois atributos. O homem é uma colecção de modos da extensão e do pensamento. A substância divina desenvolve-se segundo as leis necessárias da sua natureza. Deus é determinado por si mesmo, mas é determinado num sentido único e irrevogável. O livre arbítrio do homem reduz-se à ignorância das causas que determinam as suas acções. A verdadeira liberdade cria-se na medida em que o homem se liberta das suas paixões e, pela contemplação intelectual, identifica-se com Deus. Portanto, o princípio da moral identifica-se com Deus. Nesta época vigora o panteísmo, que se caracteriza na crença de que a natureza e Deus são idênticos, não acreditando num Deus criador. Para Kant (2001), a virtude não é algo diferente da natureza e, ainda menos, oposto a ela. A virtude é a própria tendência natural para o auto conservação. O homem actua melhor e mais eficazmente quando se vale da razão, que é a busca útil e, por isso, a virtude humana está essencialmente ligada ao uso da razão. Segundo Espinosa, o bem e o mal são aquilo que permitem ou impedem o entender. “A razão nada exige contra a natureza, mas ela mesma exige que cada um se ame a si próprio e procure o bem próprio, e deseje tudo o que verdadeiramente conduz o homem a uma maior perfeição e, de modo absoluto que cada um se esforce no que lhe diz respeito por conservar o seu próprio ser” (Ética, IV, 18). Em relação aos juízos morais, Donald (1999), refere que os padrões humanos de julgamento moral, na sua prática, são arbitrários e caprichosos. Quando se critica ou se avalia no homem, em qualquer aspectoprocede-se a um julgamento tomando por comparação a uma figura pessoalmente pré-concebida ou um ideal de homem, individualmente construída. Contudo, quando se julga um homem e se diz que ele poderia fazer isto ou aquilo, isto implica uma ilusória noção de liberdade, não poderá ser ou fazer nada diferente do predestinado e daquilo que é. O estado ordinário da mente quando se procede a julgamentos morais é sempre de confusões e de ilusões. Então, como proceder? Espinosa refere que o modo de proceder ultrapassa os usos e a linguagem que condicionam o julgamento, que deverá ser através da experiência. John Locai (1632-1704) toma a posição da conservação e satisfação a uma concepção de felicidade pública, uma vez que estabeleceu um liame indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública, e tornou a 26 prática da virtude necessária a conservação da sociedade humana e visivelmente vantajosa por todos os que precisam tratar com as pessoas de bem. Isto é, agir para o bem comum. David Nume (1711-1776) nessa mesma linha de pensamento, Nume afirma que o fundamento da moral é a utilidade, isto é, a boa acção, aquela que proporciona felicidade e satisfação à sociedade. A utilidade responde a uma necessidade que leva o homem a promover a felicidade dos seus semelhantes. Ao invés de limitar os desejos humanos determinados pelo interesse pessoal (comida, dinheiro, glória, etc.). Nume acha que as paixões do homem estão baseadas na simpatia – a capacidade de sentir em si mesmo os sofrimentos e até as alegrias do outro. O que impossibilita traçar uma linha divisória nítida entre o interesse pessoal e o interesse alheio, uma vez que agora é possível encarar o interesse como se fosse um interesse pessoal. Emanuel Kant (1724-1804) está preocupado em estabelecer a regra da conduta na substância racional do homem. Nele, o conceito de dever é o ponto central da moralidade – hoje conhecido por deontologia. Para Kant, uma coisa que seja boa em si mesma é a boa vontade ou boa intenção, aquilo que se põe livremente de acordo com o dever. O conhecimento do dever é a consequência da percepção pelo homem de que é um ser racional e como tal está obrigado a obedecer – o imperativo categórico: a necessidade de respeitar todos os seres racionais na qualidade de fins em si mesmo. E o reconhecimento da existência de outros homens (seres racionais) e a exigência de comportar-se diante deles a partir desse reconhecimento. Trata portanto da existência de outros e das consequências dos seus actos. A humanidade deve ser tratada na própria pessoa como na do próximo sempre como um fim e nunca como um meio. A Ética kantiana busca sempre na razão, formas de procedimentos práticos que possam ser universalizáveis, de tal maneira que os princípios que eu sigo possam valer para todos. “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Analisando a questão da corrupção, por exemplo, podemos questionar se tal procedimento deveria ser universalizado ou não. Se não podemos querer a universalização da corrupção, também não posso aceitá-la no aqui e agora. Em Kant, o bem se identifica com a necessidade moral, não interessando para nada um conhecimento racional da moral. A moralidade está tão afastada da pura sensibilidade como da racionalidade absoluta. Se o homem fosse apenas sensibilidade, as suas acções seriam determinadas pelos impulsos sensíveis. Se fosse só racionalidade seriam determinadas pela razão. Mas sendo o homem 27 ao mesmo tempo sensibilidade e razão, tanto pode seguir o impulso como a razão. É nesta possibilidade de escolha que consiste a liberdade que o faz um ser moral. Kant vê o ser humano como um ser dotado de razão e de impulso e é nata. É nessa perspectiva onde surge a possibilidade de escolha (liberdade), que o faz o ser moral. Para viver moralmente, o homem deve transcender a moralidade, submetendo-se aos impulsos sensíveis e evitando assumir qualquer desejo. Como ser racional, o homem deseja a felicidade, mas enquanto desejo, a felicidade não pode ser o fundamento de um imperativo moral. A resolução deste dilema está na acção da vontade: age de modo que a máxima da tua vontade possa sempre ser valor, como princípio da legislação universal. Esta fórmula constitui a Lei moral, valendo para todos os seres racionais. A relação de uma vontade com esta Lei é uma relação de dependência que se exprime numa obrigação – em obrigar a uma acção conforme com a Lei. Esta acção chama-se dever. A Lei moral é origem e fundamento do dever no homem. A acção moral do ser humano tem como objectivo final o bem supremo, então a virtude é o bem supremo e a condição de tudo que é desejável. Kant distingue legalidade e moralidade: A legalidade é a conformidade com a Lei, efectuada com um motivo natural sensível. Por exemplo: obter qualquer vantagem ou evitar qualquer dano. A moralidade é a conformidade imediata da vontade com a Lei sem o recurso dos impulsos sensíveis. O amor de si é o conjunto de impulsos cuja satisfação constitui a felicidade e acção que realiza a moralidade é a eliminação do egoísmo, isto é, contrapõe o eu e os seus impulsos a Lei moral. “Nós somos de certos membros legisladores de um reino moral tornado possível pela liberdade e representado pela razão prática como objecto de respeito: mas somos súbditos, não o soberano desse reino, e assim o desconhecer a nossa condição inferior de criaturas, o recusar presunçosamente a autoridade da Lei, é já uma infidelidade ao espírito da Lei, mesmo quando se lhe observe a letra”. A acção moral do homem tem como objectivo final o bem supremo. Este bem supremo consiste, para o homem, que é um ser finito, na virtude e na união da virtude com a felicidade. A virtude é o bem supremo, a condição de tudo o que é desejável. A afirmação de que o “homem é mau” significa apenas que o homem tem consciência da lei moral e que por vezes se pode afastar dela. A afirmação de que o “homem é mau por natureza” significa que o que se disse vale para toda a espécie humana, o que não quer dizer que se trate de uma qualidade, mas de uma tendência para o mal em todos os homens, isto é, dos homens. Tal tendência para o mal é 28 moralmente negativa - mal radical e inato na natureza humana. O mal radical não pode ser destruído pelas forças humanas, mas pode ser vencido, a fim de que o homem seja verdadeiramente livre nas suas acções. UNIDADE Temática 2.1.4. Ética Contemporânea Semelhantes a ética moderna, alguns autores contribuíram para o desenvolvimento da teoria da ética contemporânea. Em seguida descrevemos as contribuições desses autores. Triedros Hegel (1770-1831) é o filósofo mais importante do idealismo pós-kantiano. A doutrina de Hegel tem uma tendência panteísta e é conhecida como idealismo absoluto porque o absoluto é a ideia, o pensamento puro, a abstracção lógica. Hegel compreende que a moral não é uma questão perene, mas complexa e dinâmica. Hegel trata de uma moral que muda algo que se mantém independentemente e acima dos conceitos que mudam, evoluem e se transformam enquanto ela se matem una, universal e intemporal. Para Hegel, a ética e a moral das pessoas enquanto seres culturais, determina-se pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais. O que é comum a todas as perspectivas e conceitos da moral é que o indivíduo providencia a sua própria moralidade e ao mesmo tempo clama por uma genuína universalidade. O que permite a sanção das nossas escolhas morais é em parte o facto de que o critério que governa as nossas escolhas, não é escolhido. É no contexto da ordem moral estabelecida numa comunidade bem ordenada que se podem encontrar os critérios éticos gerais e concordâncias com os seus. A autoridade Ética da sociedade não advém, porémdo seu poder real, mas dos seus conceitos que são encarados como normativos. Para Hegel, a vida pode ser vivida dentro de um certo tipo de comunidade que em cada comunidade certos valores se provarão indispensáveis, adaptando uma posição diferente da linha sobre a objectividade da moral do séc. XVIII e dos seus herdeiros posteriores. Do ponto de vista do indivíduo isolado, a escolha entre os valores está aberta, mas para o indivíduo integrado numa sociedade não está. Cada sociedade impõe certos valores a si próprio e ao indivíduo, só havendo verdadeira possibilidade de escolha arbitrária ao indivíduo que não esteja integrado numa sociedade. Platão e Aristóteles encaram a objectividade e a autoridade ética, porque a descrevem dentro de uma sociedade de polis. Os individualistas do séc. XVIII vem o bem como a expressão dos seus 29 sentimentos ou o mandato da sua razão individual porque se situam como se estivessem fora da sociedade em que vivem. A sociedade é por eles considerada apenas como um mero agregado de indivíduos. Mas Hegel levanta uma questão: o que é que, para o homem moderno, toma lugar da polis grega? Para Hegel a vida Ética ou moral dos indivíduos enquanto ser cultural e histórico é determinada pelas relações sociais que mediatizam as relações pessoais intersubjectivas. Assim, Hegel transforma a Ética numa filosofia de direito e divide-a em Ética subjectiva (pessoal) e Ética objectiva (social). A Ética subjectiva é uma consciência de dever enquanto a ética objectiva é formada pelos costumes, pelas leis e normas de uma sociedade. Entretanto, Hegel dividiu a sua obra de 1821, Filosofia do Direito, em três áreas: direito abstracto, a moral e a etnicidade. Direito abstracto – é da pessoa individualmente considerada e exprime-se na propriedade, que é a esfera exterior da sua liberdade; A moralidade – é a esfera da vontade subjectiva que se manifesta na acção; A etnicidade – é a esfera da necessidade e das regras sociais que regem a vida dos indivíduos e constituem os seus deveres. O domínio da moralidade é caracterizado pela sua separação abstracta entre a subjectividade que deve realizar o bem, e o bem que deve ser realizado. Esta separação é resolvida pela ética, onde o bem se realiza de forma concreta e se torna existente. Donald, (1999) Os deveres éticos são obrigatórios e surgem como uma limitação a subjectividade ou a liberdade abstracta do indivíduo, sendo, no entanto, a redenção do próprio indivíduo, dos seus impulsos e da sua subjectividade individual. No mundo Ético (família, sociedade civil, Estado) a liberdade torna-se realidade: “o sistema de direito é o reino da liberdade realizada, o mundo do espírito expresso por si mesmo, como uma segunda natureza.” Para que o direito - ética se realize e subsista é necessário que à vontade do indivíduo se reverta numa vontade mais vasta, universal, a qual se submeta por livre vontade. O homem é um indivíduo ético, integrado num sistema social ético que é constituído pelo sistema de necessidades da sociedade civil. Para o Kant, o indivíduo está submetido a imperativos categóricos enquanto o indivíduo Emiliano procura os seus critérios morais nas normas da sociedade. Para Hegel, o estado reúne esses dois aspectos numa totalidade Ética. 30 Donald, (1999) A vontade individual subjectiva é determinada por uma vontade objectiva, impessoal, colectiva, social e pública que cria as diversas instituições sociais. Essa vontade regula e normaliza as condutas individuais através de um conjunto de valores e costumes vigentes numa determinada sociedade e numa determinada época. O ideal ético está numa vida livre dentro de um estado livre, um estado de direito que preserve os direitos dos homens e lhes cobre seus deveres onde a consciência moral e as leis do direito não estão separadas e nem em contradição. Assim, a vida Ética é a interiorização dos valores, normas e leis de uma sociedade, condensadas na vontade objectiva, cultural por um sujeito moral que as aceite livre e espontaneamente através de uma vontade subjectiva individual. A vontade pessoal resulta da aceitação harmoniosa da vontade colectiva de uma cultura. Kart Marx (1818-1883) a moral é uma superstrutura ideológica, com função social que permite sacramentar as relações e condições de existência de acordo com os interesses da classe dominante. Numa sociedade dividida em classes antagónicas, a moral sempre terá um carácter de classe. Enquanto não se verificarem as condições reais para uma moral universal, válida para toda a sociedade não pode existir um sistema moral válido para todos os tempos e todas as sociedades. Para Marx, ao se tentar construir tal sistema no passado estava-se a imprimir um carácter universal a interesses particulares. Se a moral proletária é a moral de uma classe que esta destinada historicamente a abolir a si mesmo como classe para ceder lugar a uma sociedade verdadeiramente humana, serve como passagem a uma moral universalmente humana. Os homens necessitam da moral assim como necessitam da produção, e cada moral cumpre sua função social de acordo com a estrutura social vigente. Entretanto torna-se necessária uma moral que não seja o reflexo de relações sociais alienadas para regular as relações entre os indivíduos tanto em vista das transformações da velha sociedade como para garantir a harmonia da emergente classe socialista. A transformação da antiga classe e a construção da nova moral exige a participação consciente dos homens. Porque, a nova moral com suas novas virtudes transforma-se numa nova necessidade. Assim, o homem deve interferir sempre na transformação da sociedade. Friedrich Nietzsche (1844-1900) é um crítico mordaz de toda a moral, seja a socrática, judaico-cristão ou moral burguesa. Para Nietzsche, a vida é à vontade de poder, princípio último de todos os valores. O bom é o que favorece a força vital do homem, e tudo o 31 que intensifica e exalta no homem o sentimento de poder, à vontade de poder e o próprio poder. O mal é tudo o que vem da fraqueza ou o bom fornece a força e o mal a fraqueza. Nietzsche vê no super-homem, alguém capaz de quebrar a tábua dos valores, transmutando-os a todos. O pragmatismo afasta-se de questões teóricas de fundo, dos problemas abstractos da velha metafísica e dedicam-se as questões práticas sob o ponto de vista utilitarista. A verdade é o útil que ajuda a viver e a conviver. O bem é algo que conduz a obtenção eficaz de uma finalidade, que nos conduz a um êxito. Os valores, princípios e normas perdem seu conteúdo objectivo e o bem passa a ser aquilo que ajuda o homem nas suas actividades práticas, variando de acordo com as circunstâncias. O perigo apresentado pelo pragmatismo é que ele tenta reduzir o comportamento moral a actos que conduzem apenas aos êxitos pessoais transformando-os numa variante utilitarista marcada apenas pelo egoísmo, rejeitando a existência de valores ou normas objectivas, criando uma distorção baseada na busca da vantagem particular onde o bom é o que ajuda o meu progresso e o meu sucesso particular. INRI Berços (1859-1941) distingue a moral: moral fechada e moral aberta. A moral fechada é o conjunto do que é permitido e do que é proibido para os indivíduos de uma sociedade tendo em vista o auto conservação da mesma. É imposta aos indivíduos e tem como finalidade tornar a vida em comum possível e útil a todos. Ela corresponde no mundo humano ao que é instinto em certas sociedades animais, isto é, tende ao fim de conservar as próprias sociedades. Donald, (1999) A moral aberta nasce do impulso criador supra- racional. É a moral do amor, de liberdade e da humanidade universal que resulta de uma emoção criadora. Ela torna possível a criação de novos valores e de novas condutas em substituição
Compartilhar