Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PLANEJAMENTO E GESTÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE 1 Sumário Introdução .......................................................................................................... 3 A Rede de Atenção à Saúde .............................................................................. 5 Processo de trabalho ......................................................................................... 7 Ações de planejamento ...................................................................................... 8 Gerente de Unidade Básica de Saúde com a Estratégia Saúde da Família .... 13 Implantando a Equipe ...................................................................................... 15 Organizando a assistência ............................................................................... 17 O Pacto pela Saúde ......................................................................................... 18 Avaliação .......................................................................................................... 20 Pacto pela Vida ................................................................................................ 21 Responsabilidades da gestão .......................................................................... 23 Referências ............................................................................................ 25 2 NOSSA HISTÓRIA A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a NOSSA HISTÓRIA, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A NOSSA HISTÓRIA tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Introdução Quero trazer para você – profissional de saúde do SUS –, ideias sobre a organização de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), com a Estratégia Saúde da Família (ESF), de forma dinâmica e real. Minha preocupação maior é transmitir a você, algumas características do gerenciamento vivido no desenvolvimento das ações do dia a dia. A gestão de todos os processos de uma UBS de ESF é definida para um país por seu governo a partir da adoção de um paradigma de saúde. O nosso tem raízes na conhecida carta de Alma Ata, de 1979. No Brasil, desse tempo até os dias de hoje, vários movimentos encabeçados por experts em saúde lutaram para obter uma mudança do modelo assistencial então vigente, que, como todos sabem, não respondia às necessidades de saúde da nossa população. As diretrizes das ações desenvolvidas em nível local nascem no Ministério da Saúde (MS) como portarias, portarias especiais, documentos norteadores de programas etc. Passam por estrutura hierárquica das secretarias municipais, de coordenadorias e, finalmente, na Atenção Básica, se faz uso da tecnologia leve (MERHY, 1994), espaço destinado à transformação das ações definidas pelos princípios do SUS, artigo 3 da Lei no 8.080/90. Traduzindo: são ações de natureza definidas em nível cartorial que produzirão o cotidiano dos serviços de saúde, ou seja, em cadastramentos da população, atendimentos, consultas médicas, de enfermagem, visitas domiciliares e outros procedimentos que se estenderão ao território como respostas às especificidades e à dinâmica de vida das famílias. Aqui entram os seguintes profissionais: agente comunitário de saúde (ACS), enfermeiro, médico, odontólogo, técnico de enfermagem, e cada um com suas atribuições específicas e em equipe desempenhando seu trabalho. E tudo acontece a partir do trabalho em equipe – portanto dentro de uma interdependência profissional, que constitui o grande diferencial do processo de trabalho na ESF. 4 Esse movimento ocorre baseado em premissas gerenciais já sobejamente conhecidas, como a coordenação, às vezes usada erradamente, o planejamento, a previsão, a organização, o controle e a avaliação. São os clássicos princípios da administração científica utilizados com roupagem nova e que ainda dão conta da materialização dos procedimentos gerenciais adotados pelos profissionais na Atenção Básica. Os serviços públicos de saúde têm proporcionado cada vez mais programas de sensibilização de profissionais de saúde, aumentando as demandas de profissionais mais preparados para os concursos públicos e as Organizações Sociais. Nas universidades públicas, percebe-se um movimento nos cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, que vai estimulando os jovens profissionais a estudar e a pesquisar o tema Saúde da Família, que possui inúmeras vertentes ainda não descobertas. O gerenciamento é uma delas. Do ponto de vista da formação profissional, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Profissionais na área da saúde, datada do ano de 2001 (sendo a no 3, CNE/CES de 7 de novembro de 2001, específica para a enfermagem), determinam o estágio curricular da área de saúde coletiva com 400 horas a serem vivenciadas em UBS com ESF. As demais diretrizes também contemplam esse conteúdo, porém de forma menos contundente. Durante esses anos, tenho percebido que vêm ocorrendo lentamente alterações na compreensão do “fazer” no processo de gerenciamento da ESF. Pesquisas têm mostrado que essas diretrizes vêm mudando a visão do aluno e propiciando uma compreensão mais ampliada do sistema de saúde e seus princípios, a complexidade das esferas gerenciais e de atendimento assistencial. Importante destacar também a criticidade que o aluno de graduação vem adquirindo e diferenciando dos modelos centrados na doença e no médico para aquele que privilegia a família, a saúde da população e a qualidade de vida. Outra constatação é a compreensão da lógica do trabalho em equipe (o processo de trabalho horizontalizado), proporcionando a visão gerencial mais 5 integralizada, levando em conta as necessidades de aproximação do profissional com a comunidade. A Rede de Atenção à Saúde A Rede de Atenção à Saúde, tendo a Atenção Primária como centro, se organiza em: • Atenção Básica de Saúde (ABS): compreende um conjunto de ações, de caráter individual e coletivo, que engloba a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação, constituindo o primeiro nível da atenção do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2006). • Atenção Média Complexidade: é prestada por meio de uma rede de unidades especializadas de média complexidade, garantindo o acesso à população sob sua gestão (íbidem). • Atenção Alta Complexidade: é a atenção à saúde de terceiro nível, integrada pelos serviços ambulatoriais e hospitalares especializados de alta complexidade. É organizada por meio do sistema de referência (íbidem). A Atenção Básica à Saúde deve ser orientada pelos seguintes princípios: Primeiro contato: Porta de entrada, de fácil acesso (organizacional e geográfico) ao cidadão. Integralidade: Reconhecer e atender às necessidades de saúde da população e, quando necessário, referenciar para outros pontos de assistência da rede. Orientação familiar: Conhecimento, pela equipe da APS, dosmembros da família e dos seus problemas de saúde. Longitudinalidade: Relação pessoal de longa duração entre profissionais de saúde e cidadãos. Coordenação: Compartilhamento de informações clínicas, nos diversos pontos da rede, possibilitando ao profissional da ABS acompanhar o cidadão. Orientação comunitária: Controle social. 6 No tocante à dinâmica do gerenciamento, a intenção é contribuir com você no sentido de ousar e tentar facilitar a compreensão do que foi dito anteriormente, ou seja, acoplar as bases do gerenciamento aos mais importantes princípios do Sistema Único de Saúde, além de alguns pressupostos pilares da ESF. Esse desenho gerencial conduz as ações voltadas à promoção da saúde e ao desenvolvimento das pessoas na visão da longitudinalidade da ABS. Sobre esse ponto Starfield (2004) acrescenta: (...) a atenção primária se diferencia dos outros níveis assistenciais por quatro atributos característicos: atenção ao primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação. Destes quatro atributos, a longitudinalidade tem relevância por compreender o vínculo do usuário com a unidade e/ou com o profissional. A população deve reconhecer a Unidade como fonte regular e habitual de atenção à saúde, tanto para as antigas quanto para as novas necessidades. Já o profissional deve conhecer e se responsabilizar pelo atendimento destes indivíduos. A longitudinalidade está fortemente relacionada à boa comunicação que tende a favorecer o acompanhamento do paciente, a continuidade e efetividade do tratamento, contribuindo também para a implementação de ações de promoção e de prevenção de agravos de alta prevalência (STARFIELD, 2004). E então, quais princípios gerenciais destacaríamos nesta lógica citada? A Unidade Básica de Saúde na ABS será a sede do desenvolvimento dos programas de saúde voltados à criança, à mãe e ao idoso na Estratégia Saúde da Família, que terá como foco principal a família, a comunidade, o ambiente, o estilo de vida e a promoção da saúde. Esse modelo surge com características de um novo modelo de Atenção à Saúde, e não em substituição de ações continuístas, sempre lembradas pela insuficiência de recursos que atendam às plenas necessidades de saúde da população. 7 Nesse momento, aproveito para ressaltar a visão de integralidade no atendimento aos pacientes em nível secundário e terciário, demanda ainda não alcançada pelas estruturas organizacionais competentes nesses níveis. O modelo assistencial de Saúde da Família, portanto, exige um tipo de gerenciamento diferente, humanizado, sensível e dinâmico, embora devamos levar em conta os mesmos itens de uma organização com objetivos a serem atingidos. Importante notar que, na ABS, trabalharemos enfoques gerenciais, voltados aos conjuntos de dados epidemiológicos, sociais, estruturais, educacionais e de inter-relacionamento pessoal, com vistas à emancipação da população e à criação de vínculo. Esse trecho faz-nos pensar que um gerenciamento humanizado, começaria pelo enfoque da gestão de pessoas, que significa a utilização de processo de trabalho visando o desenvolvimento delas, em qualquer nível. Por outro lado, ressalta-se a especificidade da dinâmica administrativa de unidades na Estratégia de Saúde da Família, que deve ser considerada. Processo de trabalho O processo de trabalho se caracteriza pela horizontalidade gerencial, em que são desenvolvidas atividades assistenciais, educativas, burocráticas, gerência de equipe e demais serviços de natureza administrativa. A horizontalidade gerencial se faz presente pela ausência de níveis hierárquicos, havendo uma preponderância do saber técnico sobre o hierárquico, o que pressupõe chefias e verticalidade. Importante comentar que nesse processo de trabalho se define a macrogestão e a microgestão das equipes. Essa definição de procedimentos, princípios e ações gerenciais, atendimentos assistenciais e treinamentos de profissionais será acoplada aos princípios do SUS que produzirão, por sua vez, situações ligadas aos pressupostos do gerenciamento, ou seja: 8 PLANEJAMENTO – ORGANIZAÇÃO – COORDENAÇÃO – AVALIAÇÃO – SUPERVISÃO Voltemos, então, ao gerenciamento e discutamos os princípios administrativos que dão a forma concreta das ações, das premissas da ESF e dos princípios do SUS. Envolvo também os pressupostos importantes que fazem parte da ESF, como o acolhimento, vínculo, a demanda organizada e alguns princípios do SUS, como o acesso, a integralidade, a resolutividade, a hierarquização, a regionalização e a descentralização. A escolha desses princípios deu-se pelo grande significado que têm em relação ao ato de gerenciar, isto é, exigem intervenções de profissionais capacitados, que exerçam a assistência, a gerência e ações educativas provenientes da população de uma UBS. As atribuições dos profissionais que atuam na ESF estão definidas na portaria no 648, documento 200 do MS. Esse documento norteia as ações a serem executadas pelos profissionais no gerenciamento da ESF perante sua população cadastrada, possibilitando entender melhor os “papéis” de cada integrante desta equipe, sejam médicos, enfermeiros, odontólogos, auxiliares de enfermagem ou agentes comunitários de saúde. Confira a seguir. Ações de planejamento A descrição da clientela Uma equipe deverá ser responsável por uma área contendo de 600 a 1.000 famílias, com limite máximo de 4.500 habitantes. Esse critério deverá ser flexível, tendo em vista a diversidade sociopolítica e econômica das regiões. Deverá levar em conta a densidade populacional e a acessibilidade aos serviços. É definida pela área territorial preestabelecida. Nesse processo, serão identificados os componentes familiares, as condições de moradia e saneamento e as condições ambientais da área onde a família está inserida. O vínculo entre a unidade de saúde e a equipe-agente inicia-se nessa etapa, que inclui: 9 • Reconhecimento da área territorial; • Cadastramento da família; • Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis, com ênfase nas suas características sociais, econômicas, culturais, demográficas e epidemiológicas; • Identificar os problemas de saúde e situações de risco mais comuns aos quais aquela população está exposta. Planejamento, resolutividade, prevenção e vigilância • Elaborar, com a participação da comunidade, um plano local para o enfrentamento dos problemas de saúde e fatores que colocam a saúde em risco; • Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de vigilância nas diferentes fases do ciclo de vida. Vínculo e acolhimento • Valorizar a relação com o usuário e com a família, para a criação de vínculo de confiança, de afeto e de respeito. Planejamento e assistência • Realizar visitas domiciliares de acordo com o planejamento, sendo esta uma das intervenções que interferem na criação do vínculo. Resolutividade, assistência e acolhimento • Resolver os problemas de saúde do nível de Atenção Básica. Acesso e hierarquização • Garantir acesso à continuidade do tratamento dentro de um sistema de referência e contra-refência para os casos de maior complexidade ou que necessitem de internação hospitalar. Assistência, integralidade e gerenciamento de demanda 10 • Prestar assistência integral à população adstrita, respondendo à demanda de forma contínua e racionalista. Coordenação, organização e ações educativas • Coordenar, participar de e/ou organizar grupos de educação para a saúde. Intersetorialidade; tentativa de formar rede de atendimento ampliado da demanda • Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfretamento conjunto dos problemas identificados. Ações educativas com vistas à elucidação dos direitos à saúde dapopulação; participação social • Fomentar a participação popular, discutindo com a comunidade conceitos de cidadania, de direitos à saúde e suas bases legais. Organização, acesso, vínculo e ações educativas • Incentivar a formação e/ou participação ativa da comunidade no conselho local de saúde e no conselho municipal de saúde. Organizar • As estruturas técnicas, físicas e treinamento de pessoal. Organizar a demanda • O acolhimento da demanda organizada e espontânea. Planejar, coordenar, executar e avaliar • As visitas domiciliares. Planejar, executar e avaliar; resolutividade • As reuniões de equipe de saúde diárias e semanais, em que são discutidos assuntos relacionados à área de atuação da equipe. Planejar e organizar 11 • A seleção de assuntos a serem tratados em reuniões de equipe. Planejar, coordenar, executar e avaliar, educar; resolutividade, vínculo • As consultas médicas e de enfermagem. Planejar e organizar • Reuniões de equipes administrativas semanais. Planejamento e organização; supervisão • Horário do atendimento à demanda espontânea. Planejar, prover, organizar, supervisionar • O acolhimento da demanda organizada. Considerando o princípio da universalidade e do acesso, todos os pacientes que procuram a Unidade de Saúde deveriam ser atendidos em suas queixas e necessidades. Porém, devido às insuficiências dos nossos serviços de saúde, criou-se em algumas unidades um primeiro horário especial para não liberar pacientes portadores de alguns sinais e sintomas, organizando os demais horários de atendimento aos usuários, compatibilizando-os com a presença do médico e demais profissionais. Tendo em vista a tentativa de responder a uma situação existente e que não é definida nem nos livros nem nos manuais das UBS, fica evidente a visão ampla da atividade gerencial que todo profissional da ESF deve adquirir no sentido de saber equacionar as necessidades desse tipo de atendimento. Nesse tópico podemos analisar o acoplamento de princípios do SUS com os princípios do gerenciamento. Só para chamar a atenção, percebe-se que há tomada de decisão, organização, execução das ações assistenciais e gerenciais, supervisionando-as e também avaliando. Veja a seguir: Planejar, executar e avaliar • As visitas domiciliares. Planejar, coordenar, supervisionar o andamento do planejado; executar e avaliar 12 • A seleção de assuntos a serem tratados em reuniões de equipe (os casos da área). Planejar, prover, organizar e executar; supervisão e ações educativas • Os treinamentos em serviço, quando necessários. Outras atividades próprias das Unidades Básicas de Saúde / Estratégia Saúde da Família Alguns programas são propostos pelo Ministério da Saúde (MS), ou mesmo pelos municípios, com o objetivo de assistir determinados grupos da população. Alguns deles possuem ainda um Sistema de Informação associado com a emissão de relatórios periódicos, permitindo assim melhor controle e avaliação da assistência prestada pela ESF. Entre eles podemos citar: • Programa Mãe Paulistana; • Remédio em casa; • Bolsa Família; • O Sistema Integrado de Gestão e Assistência à Saúde (SIGA) – agendamento, dispensação de insumos e medicamentos <http://tutorial.saude.prefeitura.sp.gov.br/siga.html>; • Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB); • AMG (automonitoramento glicêmico) – fornecimento do glicosímetro e de insumos para os insulinodependentes; • Planejamento familiar; • Coleta de Papanicolau; • Eletrocardiograma (ECG); • Gerenciamento da sala de medicação e de inalação; • Gerenciamento da sala de curativo; • Responsabilidade pelo serviço de vigilância. 13 Segundo Starfield (2004), as práticas da Atenção Básica devem ser objeto de avaliação, visto ser esse nível de atenção a porta de entrada preferencial do usuário do SUS, responsável pela resolução de grande parte dos problemas apresentados. Obviamente, a qualidade da atenção é uma questão para todos os níveis de serviços de saúde, incluindo os de emergência e a atenção especializada. Para terminar o tema, gostaria de relembrar algumas ideias sobre o processo de avaliação na saúde na gestão de serviços. Ele permeia toda a prática dos processos e até procedimentos, refletindo na tomada de decisão e facilitando a consolidação do trabalho na Estratégia Saúde da Família, e utiliza- se na rotina das equipes o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), como forte instrumento gerencial. O SIAB possibilita avaliar aspectos ligados às condições sociais, econômicas e demográficas da população, realizando um diagnóstico situacional local (os procedimentos realizados pelas equipes). Ele também permite o acompanhamento contínuo e a avaliação das atividades desenvolvidas, visando à melhoria da qualidade dos serviços de saúde. Essa história serve para ilustrar que, na década 1970, se as autoridades fossem comprometidas com a saúde da população, hoje nossa saúde brasileira, com aproximadamente 30 mil equipes para atender quase 200 milhões de pessoas, estaria com a Estratégia Saúde da Família em quase todos os estados. E a Grande São Paulo teria mais equipes de saúde atendendo uma população de quase 20 milhões de habitantes, considerando quase todos os municípios. Gerente de Unidade Básica de Saúde com a Estratégia Saúde da Família No tocante aos gerentes, estes deverão adquirir um perfil de liderança situacional, cientes do seu papel de dirigir as atividades para desenvolver as pessoas e levá-las a realizar a contento suas responsabilidades no atendimento à população, ao paciente e à família. O bom andamento dos acontecimentos corre em paralelo às atividades assistenciais, reuniões administrativas de equipe, estar a par do diagnóstico da 14 comunidade e epidemiológico, visando à definição da necessidade da população em relação aos assuntos que requerem planejamento e execução das atividades educativas, assistenciais e gerenciais. São condições imprescindíveis ao profissional que for gerenciar uma UBS de Saúde da Família: • Saber lidar com uma gama de acontecimentos inesperados com usuários na UBS ou no domicilio; • Relacionar-se com as equipes ampliadas interprofissionais; • Estar a par de procedimentos médicos assistenciais; • Intermediar possíveis conflitos em situações inter-relacionais. As atividades inerentes ao gerente também incluem as ações previstas no Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), hoje também chamado Equipe de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), que atribui ao enfermeiro diversas atividades de gerenciamento, principalmente na condução dos ACS e profissionais de enfermagem na ESF. A tarefa de gerir é comum ao médico, quando planeja ações voltadas para os ciclos de vida, bem como ao odontólogo, quando planeja ações voltadas à saúde bucal também nos ciclos de vida. O gerente desempenha o papel de harmonizar o trabalho dessa equipe multiprofissional, e a ESF deve participar ativamente dos processos de planejamento a fim de contemplar as necessidades da população e da equipe de trabalho. A tentativa de descrever o gerenciamento em uma UBS/ESF próximo da realidade do dia a dia não existe em livros de administração. Essa tentativa é fruto de vivência e observação. Repito que nessas equipes, compostas por enfermeiro, médico, odontólogo, técnico de enfermagem e ACS, o gerente deverá trazer ou desenvolver um perfil de liderança, conhecer bem os pressupostos da ESF e como alcançá-los junto aos seus funcionários e à população (como já citamos anteriormente). São requisitos mínimos para obter um ambiente de trabalho humanizado para alcançar a eficiência e eficácia. 15 Implantando a Equipe Como vimos até agora, a gestão local e os Conselhos de Saúde são os grandes responsáveis pela opção em adotar ou não a Estratégia Saúde da Família. Definida a necessidade,o gestor precisa seguir alguns passos para efetivar a implantação de suas equipes. O primeiro deles é elaborar o Projeto de Implantação da ESF. O Guia Prático do Programa Saúde da Família, documento elaborado pelo Ministério da Saúde em 2002 para auxiliar gestores, profissionais e população no entendimento sobre o funcionamento e a implantação da Estratégia, define quais os elementos essenciais que devem ser contemplados no Projeto de Implantação. A proposta de implantação da ESF deve prever: • a adequação física; • os recursos humanos; • os equipamentos necessários para garantir que a Unidade Básica de Saúde possa responder aos problemas de saúde das famílias na área sob sua responsabilidade. A proposta de implantação da ESF deve apontar: • referência e contra-referência dos usuários; • apoio ao diagnóstico laboratorial e de imagem (raios X e ultrassom); • assistência farmacêutica; • proposta de gerenciamento do trabalho. Elaborar a proposta de implantação é tarefa do Município, que, para isso, deve contar com o apoio da Secretaria Estadual de Saúde. O processo possui várias etapas, sendo que algumas podem ser simultâneas: 16 • Definir o território a ser coberto, com estimativa da população residente, definição do número de equipes que deverão atuar e com o mapeamento das áreas e micro-áreas; • Definir infraestrutura incluindo área física, equipamentos e materiais disponíveis nas UBS onde atuarão as equipes, explicitando o número e o local das unidades onde irão atuar cada uma das equipes; • Definir ações a serem desenvolvidas pelas equipes no âmbito da Atenção Básica, especialmente nas áreas prioritárias definidas no âmbito nacional; • Definir o processo de gerenciamento e supervisão do trabalho das equipes; • Definir forma de recrutamento, seleção e contratação dos profissionais das equipes, contemplando o cumprimento da carga horária de 40 horas semanais; • Implantar o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), incluindo recursos humanos e materiais para operá-lo; • Definir o processo de avaliação do trabalho das equipes, da forma de acompanhamento do Pacto dos Indicadores da Atenção Básica e da utilização dos dados dos sistemas nacionais de informação; • Definir a contrapartida de recursos do município. Passos de implantação da Estratégia Saúde da Família 17 Organizando a assistência Toda assistência/atenção prestada ao usuário na ESF tem como base a Unidade de Saúde, que alguns municípios adotaram por chamar de Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF) ou Unidade de Saúde da Família (USF). Organizar esse serviço significa trabalhar questões de adequação física, abastecimento de insumos, manutenção, implantação do processo de trabalho, planejamento, monitoramento e avaliação das ações, construção de redes, protocolos, fluxos, elaboração, assinatura e acompanhamento de contratos, processos seletivos, treinamentos e capacitações, entre outros. Esses são aspectos que devem ser planejados, executados ou acompanhados pelo gestor de saúde. E, então, quais princípios gerenciais devem ser destacados? O modelo assistencial de Saúde da Família exige um tipo de gerenciamento diferente, humanizado, sensível e dinâmico, embora devamos levar em conta os mesmos itens de uma organização com objetivos a serem atingidos. Os pressupostos do novo paradigma, entre outros, consideram a integralidade do ser humano, a qualidade de vida e a promoção da saúde. Importante notar que, na Atenção Básica, trabalharemos enfoques gerenciais, voltados aos conjuntos de dados epidemiológicos, sociais, estruturais, educacionais e de inter-relacionamento pessoal, com vista à emancipação da população e à criação de vínculo. Esse trecho faz-nos pensar em um gerenciamento humanizado. Começaria pelo enfoque da gestão de pessoas, que significa a utilização de processo de trabalho visando ao desenvolvimento delas, em qualquer nível. Por outro lado, ressalta-se a especificidade da dinâmica administrativa do gerenciamento de unidades na Estratégia Saúde da Família, que deve ser considerada. 18 Processo de trabalho O processo de trabalho se caracteriza pela horizontalidade gerencial, em que são desenvolvidas atividades assistenciais, educativas, burocráticas, gerência de equipe e demais serviços de natureza administrativa. O Pacto pela Saúde O Ministério da Saúde divulgou, em 22 de fevereiro de 2006, a Portaria no 399/GM, intitulada “Pacto pela Saúde”, com o intuito de consolidar o SUS no país. O Pacto pela Saúde é composto por três componentes: Pacto pela Vida Pacto em Defesa do SUS Pacto de Gestão Os Pactos são um compromisso público assumido pelos gestores com ênfase nos princípios constitucionais do SUS e nas necessidades de saúde da população. A horizontalidade gerencial se faz presente pela ausência de níveis hierárquicos, havendo uma preponderância do saber técnico sobre o hierárquico, opondo-se a chefias e verticalidade. Importante comentar que nesse processo de trabalho se definem a macrogestão e a microgestão das equipes. Essa definição de procedimentos, princípios e ações gerenciais, atendimentos assistenciais e treinamentos de profissionais será acoplada aos princípios do SUS que produzirão, por sua vez, situações ligadas aos pressupostos do gerenciamento. A seguir deixamos algumas definições de autores sobre administração desde o século XX, quando nasceu a administração científica, somente para relembrar a base do processo de trabalho e discutir uma ferramenta facilitadora: “O gerenciamento consiste em executar todas as atividades próprias de uma organização empresarial ou não, como meios para alcançar a eficiência e 19 a eficácia e com isto obter a satisfação dos objetivos individuais e organizacionais.” (CHIAVENATO, 1999) “O gerenciamento de serviços em nível local – UBS/ESF – se dá por meio de pessoas de várias categorias profissionais, tendo como meio a interdisciplinaridade e a coordenação das ações de saúde de natureza, assistenciais, clínicas, educativas e gerenciais, atendendo aos indicadores epidemiológicos e sociais da comunidade.” (Laís Helena Domingues Ramos) “Ainda, gerenciamento de serviços de saúde diz respeito a uma unidade social deliberadamente construída para atingir determinados objetivos. Resulta em uma combinação de pessoas, recursos, utilização de tecnologias leves, que conduzam aos objetivos traçados.” (JUNQUEIRA, 1990) Voltemos, então, ao gerenciamento e discutamos os princípios administrativos que dão a forma concreta das ações, das premissas da ESF e dos princípios do SUS. Envolvemos também os pressupostos importantes que fazem parte da ESF, como o acolhimento, o vínculo, a demanda organizada e alguns princípios do SUS, como o acesso, a integralidade, a resolutividade, a hierarquização, a regionalização e a descentralização. A escolha desses princípios deu-se pelo grande significado que têm em relação ao ato de gerenciar, isto é, exigem intervenções de profissionais capacitados, que exerçam a assistência, a gerência e ações educativas provenientes da população de uma UBS. As atribuições dos profissionais que atuam na ESF estão definidas no “Pacto da Atenção Básica 2011”. Esse documento norteia as ações a serem executadas pelos profissionais no gerenciamento da ESF perante sua população cadastrada, possibilitando entender melhor os “papéis” de cada integrante desta equipe, sejam enfermeiros, cirurgiões--dentistas, auxiliares de enfermagem, Agentes Comunitários de Saúde ou médicos. Tendo em vista a tentativa de responder a uma situação existente e que não é definida nem nos livros nem nos manuais das UBS, fica clara a visão ampla 20 da atividade gerencial que todo profissional da ESF deve adquirir no sentido de saber equacionar as necessidades desse tipo de atendimento.Segundo Starfield (2004), as práticas da Atenção Básica devem ser objeto de avaliação, visto ser esse nível de atenção a porta de entrada preferencial do usuário do SUS, responsável pela resolução de grande parte dos problemas apresentados. Obviamente, a qualidade da atenção é uma questão para todos os níveis de serviços de saúde, incluindo os de emergência e a atenção especializada. Avaliação Não é raro ouvir de algum colega a seguinte afirmação: O meu coordenador só está interessado em números! Com certeza, ao elaborar tal frase, o colega deve ter sido cobrado ou abordado por algum dos níveis de gestão do seu município com relação à sua produção ou a algum de seus indicadores. Mas vamos tentar enxergar o que acontece por trás de tal ocorrência? Na perspectiva da capacidade das práticas de modificarem uma dada situação de saúde, a avaliação dos serviços tem papel fundamental: por um lado associado à possibilidade e às necessidades de intervenções capazes de modificar certos quadros sanitários; e, por outro, diante da verificação das dificuldades enfrentadas por essas mesmas práticas para alterar indicadores de morbimortalidade em outras tantas circunstâncias. Segundo Duarte (2003), “a análise da situação de saúde é fundamental para informar a tomada de decisão dos gestores, nas diversas esferas de governo, na medida em que traz evidências relevantes para a elucidação de pontos essenciais à ação”. A autora considera também que “a observação criteriosa e sistemática da distribuição dos eventos de saúde constitui-se em elemento fundamental para a compreensão acerca dos fatores, situações, 21 condições ou intervenções modificadoras dos riscos de adoecimento de populações humanas”. A avaliação dos serviços, portanto, torna-se uma prática constante e necessária não só para o gestor, mas também para as equipes e a sociedade. É através dos indicadores de saúde do município e do resultado das ferramentas de avaliação que a ESF comprova sua capacidade de modificar a realidade, ampliando o acesso, melhorando índices de saúde e atuando diretamente sobre a vida das pessoas, de acordo com a realidade local. Como podemos perceber, existe uma gama enorme de informações e de dados dos quais os gestores devem se apropriar. O planejamento e a análise de uma gestão em saúde devem estar pautados nessas informações. É necessário, portanto, que esses aspectos sejam debatidos com as equipes e a sociedade. Sendo assim, a disponibilização das informações pela gestão, assim como a efetivação de momentos de discussão e a análise dos dados, se tornam essenciais para a existência de um sistema de saúde local efetivo, abrangente, de qualidade e pautado nas diretrizes do SUS. Pacto pela Vida O Ministério da Saúde define o Pacto pela Vida como um reforço no SUS do movimento da gestão pública por resultados, estabelecendo um conjunto de compromissos sanitários considerados prioritários, pactuado de forma tripartite, a ser implementado pelos entes federados. Aponta ainda que esses compromissos devem ser efetivados pela rede do SUS, de forma a garantir o alcance das metas pactuadas. Assinala que prioridades estaduais, regionais ou municipais podem ser agregadas às prioridades nacionais, a partir de pactuações locais. Define ainda que os estados e municípios devem pactuar as ações que considerem necessárias ao alcance das metas e objetivos gerais propostos. O Pacto pela Vida contempla os seguintes aspectos (Portaria GM/MS no 325, de 21 de fevereiro de 2008): 22 I. Atenção à saúde do idoso; II. Controle do câncer de colo de útero e de mama; III. Redução da mortalidade infantil e materna; IV. Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, na hanseníase, na tuberculose, na malária, na influenza, na hepatite e na aids; V. Promoção da saúde; VI. Fortalecimento da Atenção Básica; VII. Saúde do trabalhador; VIII. Saúde mental; IX. Fortalecimento da capacidade de resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência; X. Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência; XI. Saúde do homem. Pacto em Defesa do SUS O Pacto em Defesa do SUS foi apontado na Portaria GM/MS no 325, de 21 de fevereiro de 2008, como um movimento que envolve ações concretas e articuladas pelas três instâncias federativas no sentido de reforçar o SUS como política de Estado e de defender, vigorosamente, os princípios basilares dessa política pública, inscritos na Constituição Federal. A prioridade do Pacto em Defesa do SUS foi: • implementar um projeto permanente de mobilização social com a finalidade de: • mostrar a saúde como direito de cidadania e o SUS como sistema público universal garantidor desses direitos; • alcançar, no curto prazo, a regulamentação da Emenda Constitucional no 29, pelo Congresso Nacional; 23 • garantir, no longo prazo, o incremento dos recursos orçamentários e financeiros para a saúde; • aprovar o orçamento do SUS, composto pelos orçamentos das três esferas de gestão, explicitando o compromisso de cada uma delas. Pacto de Gestão do SUS Descrito na Portaria GM/MS no 325, de 21 de fevereiro de 2008, o Pacto de Gestão estabeleceu as responsabilidades de cada ente federado de forma a diminuir as competências concorrentes e definir as atribuições, contribuindo, assim, para o fortalecimento da gestão compartilhada e solidária do SUS. Avançou nos aspectos de regionalização e descentralização do Sistema de Saúde a partir das singularidades regionais, descentralizando as atribuições do Ministério da Saúde para os estados e para os municípios, acompanhando a desburocratização dos processos normativos. Reforçou a territorialização da saúde como base para organização dos sistemas, estruturando as regiões sanitárias e instituindo colegiados de gestão regional. Reiterou a importância da participação e do controle social com o compromisso de apoio à sua qualificação e explicitou as diretrizes para o sistema de financiamento público tripartite: buscando critérios de alocação equitativa dos recursos; reforçando os mecanismos de transferência fundo a fundo entre gestores; integrando em grandes blocos o financiamento federal; e estabelecendo relações contratuais entre os entes federativos. Responsabilidades da gestão A Política Nacional da Atenção Básica de 2011 define as responsabilidades dos diferentes níveis de gestão do SUS. Estão divididas em responsabilidades gerais e nos níveis federais, estaduais e municipais. Dentre os diversos aspectos abordados, destacamos: • o fortalecimento da ESF como modalidade prioritária na organização da Atenção Básica; 24 • a contribuição financeira tripartite (União, estados e municípios) para a Atenção Básica; • o estabelecimento dos respectivos planos de saúde, prioridades, estratégias e metas para a organização da Atenção Básica; • a qualificação, a valorização e a educação permanente da força de trabalho das equipes; • o uso dos Sistemas de Informação no planejamento, no monitoramento e na avaliação da Atenção Básica; • o estímulo à participação popular e o controle social. 25 Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Competência para o trabalho em uma unidade básica de saúde sob a Estratégia de Saúde da Família: médico e enfermeiro. Brasília, 2000. CHIAVENATTO, I. Gestão de Pessoas, o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. GIOVANELLA, L. A. Longitudinalidade na atenção primária: avaliando os modelos assistências do SUS. Departamento de Administração e Planejamento de Saúde. Escola Nacional de Saúde Pública, 2005. JUNQUEIRA, L. A. P. Gerência dos Serviços de Saúde, Cadernode Saúde Pública, v. 6, n. 3, Rio de Janeiro, set. 1990. MANUAL Técnico de Normatização das rotinas e procedimentos de Enfermagem nas UBS. Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de Saúde. CODEPPS-SP, 2006. MERHY, E. E. Em busca da qualidade dos serviços de saúde. In CECÍLIO, L. C. O. (org) Inventando a mudança na saúde. São Paulo: Hucitec, 1994. STARFIELD, B. Qualidade dos serviços de atenção primaria de saúde. In: STARFIELD B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologias. Brasília: UNESCO. Ministério da Saúde do Brasil, 2004.
Compartilhar