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Eurekka | Formação em Terapias Comportamentais Contextuais Nesta aula falamos sobre o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Lembrando que não é o intuito desse módulo entrarmos nos detalhes do diagnóstico, mas colocarmos para vocês a perspectiva da terapia comportamental desse transtorno. Para isso, nós mostramos nessa aula uma análise funcional do TOC, trazendo algumas situações de exemplo. Falamos também sobre a dinâmica da exposição e prevenção de resposta, que é um dos principais tratamentos de escolha para tratar o TOC. Eu começo a aula trazendo uma ideia que trago geralmente, de que muitos dos transtornos se dão na tentativa de evitar e controlar as situações e sentimentos que são desagradáveis de sentir. Essas estratégias podem funcionar a curto prazo para evitar, fugir ou tentar ter a sensação de controle dessas situações e sentimentos, porém, a longo prazo, elas podem piorar o transtorno, reforçando estratégias que são funcionais somente a curto prazo, mas disfuncionais a longo prazo para os objetivos do cliente. Então, quando a gente fala de funcional, estamos sempre nos referindo a ''o que'' que nós estamos falando. Um ponto importante que eu trago para a aula de TOC é essa urgência que as pessoas podem sentir de controlar ou tentar se esquivar desses sentimentos. E que, como vamos ver mais para frente, no caso de a pessoa não conseguir prevenir uma resposta de acontecer frente a um sentimento desagradável, então que pelo menos ela espere, tente atrasar essa compulsão por algum tempo. Trazemos um exemplo no começo da aula, em que uma pessoa se aproxima da porta de casa e vem a sensação de ansiedade, pois ela lembra da torneira do tanque e não tem certeza se a fechou ou não. A partir dessa dúvida, surge a ansiedade e para lidar com isso, a pessoa volta e verifica. Essa consequência produzida no ambiente pelo seu retorno e verificação, conferir se a torneira está realmente fechada, traz um alívio do desconforto. O efeito desse alívio dá a pessoa a sensação de controle, pois ela foi capaz Eurekka | Formação em Terapias Comportamentais Contextuais de eliminar o desconforto gerado por aquela situação. E isso, a longo prazo, pode criar um comportamento compulsivo, o de voltar e verificar várias vezes, por exemplo. Depois trago um segundo exemplo de um cliente que quando chegava no portão de casa, estacionava o carro, tinha o pensamento de ''será que eu passei perto de uma pessoa no trânsito?” “Será que eu posso ter atropelado aquela pessoa?'', e começavam a vir obsessões e compulsões. Essas obsessões e compulsões, numa análise, colocamos no B (behavior), porque é um comportamento. Os pensamentos que a pessoa tem são comportamentos que ela está emitindo. Ela conseguiria nos relatar que estava se questionando se atropelou ou não, que começou a verificar as evidências, ou seja, foi até o carro olhar se havia atropelado alguém. Essa consequência de verificar o carro e descobrir que ele está intacto, produz um efeito de alívio. Então, as pessoas começam a reforçar negativamente comportamentos frente a uma ansiedade e uma dúvida, porque é a remoção do desconforto provocado pela dúvida de ter atropelado alguém, por exemplo. Outro exemplo que vemos bastante na literatura é o TOC de contaminação. Uma pessoa que passou perto de um hospital durante o dia, por exemplo, chega em casa, senta no sofá e vem aquele pensamento: ''Poxa, passei perto de um hospital hoje.'' Depois disso, começam a vir obsessões e compulsões como comportamentos. Ela começa a evitar pessoas que trabalham em hospital, a assistir vídeos e notícias de doenças, faz verificações para descobrir se foi contaminada ou não, tudo como uma maneira de ter controle e diminuir as dúvidas. Por causa do alívio a curto prazo que isso produz no desconforto, a verificação começa a ser reforçada. Pelas molduras relacionais, nós temos capacidade de imaginar e fazer associações de estímulos de maneira arbitrária e subjetiva. Então, o que era no início apenas evitar pessoas que trabalham em hospital, se expande, pois generalizamos os estímulos e simplesmente passar pelo hospital ou ver alguém que trabalha lá já pode provocar ansiedade e ser motivo para recorrer às obsessões e compulsões, que foram reforçadas pelo alívio do desconforto a curto prazo. Eurekka | Formação em Terapias Comportamentais Contextuais Numa segunda parte da aula, nós começamos a falar sobre exposição e prevenção de resposta, que é o método mais importante que temos na literatura para tratar TOC. É uma técnica muito utilizada que expõe a pessoa a esses estímulos que causam ansiedade para que ela não faça mais os comportamentos de controle que foram reforçados negativamente para aliviar o desconforto, e depois esperar que extinção ocorra. Trouxemos o exemplo do cliente que precisava organizar a carteira de maneira muito perfeita, com os cartões todos nos lugares, o dinheiro em lugares exatos. Em uma sessão, propus que ele desorganizasse a carteira. Expor uma imagem da carteira desorganizada produzia nele desconforto. Normalmente ele começaria a organizar precisamente a carteira, mas propus que ele atrasasse esse comportamento, deixasse esse estímulo causar desconforto, sem que nada de ruim acontecesse. O mesmo vale para o exemplo de lavar as mãos, propor que o cliente toque em alguma superfície suja e demorasse para lavar a mão, mas lavasse a mão apenas uma vez ou não ficasse dez minutos lavando, mas um minuto. Para ele começar a tolerar esse sentimento de desconforto e a dar um tempo para que a extinção entre em cena, ou seja, expor a pessoa ao estímulo condicionado, uma resposta condicionada de medo, desconforto e perigo, para que ela visse que não acontece nada de assustador como ela previa que poderia acontecer se ela não fizesse. Assim a extinção começa a entrar em cena. É claro que a gente quer que o efeito da extinção aconteça, que a pessoa comece a tolerar um pouco mais o desconforto e observar as novas consequências que são mais agradáveis no ambiente, pois está deixando de produzir as consequências que o comportamento compulsivo produzia. Então, para que tenhamos sucesso nesse empreendimento, a gente coloca uma exposição de forma gradual. Iniciamos com o que o cliente nos diz que acha mais fácil começar. Se deixar de lavar a mão quando toca superfícies que podem estar sujas é muito difícil, a gente vai ver com ele, então, qual seria uma situação mais tranquila. Eurekka | Formação em Terapias Comportamentais Contextuais A gente passa para a psicoeducação, explicamos porque que a gente está embarcando nesse tipo de estratégia, ele vai se sentir muito mais seguro para fazer caso tenha entendido como funciona. Ao longo do tempo em que vamos expondo o cliente a esses estímulos, podemos também fazer, nos intervalos, técnicas de distração e relaxamento. Então, por exemplo, realizamos uma exposição de dois minutos, fazemos uma pausa e nela aplicamos uma técnica de respiração de um ou dois minutos, depois fazemos mais uma exposição de 10 minutos na prevenção daquela resposta e, enquanto exposto, propomos ao cliente realizar também um exercício de respiração. A questão mais interessante e bonita no tratamento de TOC é o cliente entender que não precisa ter o controle do ambiente. Apesar da sensação de controle do ambiente e das emoções ser um dos maiores reforçadores que o ser humano tem e ser muito adaptativa, não o é para os nossos objetivos, para quem queremos se tornar. Para várias metas e contextos de vida é muito disfuncional. Então, os clientes vão aprendendo que ''um bom navegador sabe que não precisa controlar uma arma, mas estruturar e reforçar o barco.'' Eles devem aprender que não precisam apenas fazer essas estratégias de controle, essas compulsões, mas aprender a lidar, a se expor a essas emoções.Devem aprender as técnicas de relaxamento e a lidar com pensamentos com o que eles são de verdade, apenas pensamentos. Com isso, eles vão aprender novas estratégias que não precisam ser as compulsões e vão se livrando dessas correntes que são as obsessões e as compulsões. Certo, pessoal? Espero que tenham gostado desse resumo, não esqueçam de mandar as dúvidas. Um forte abraço, até a próxima!
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