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SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS 2 SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS PERÍODO PRÉ-COLONIAL A primeira riqueza explorada pelo europeu em terras brasileiras foi o pau-brasil (caesalpinia echinata), árvore que existia com relativa abundância em largas faixas da costa brasileira. O inte- resse comercial nessa madeira decorria da possibilidade de extrair-se dela uma substância corante, comumente utilizada para tingir tecidos. Antes da conquista da América indústria europeia de tintas comprava o pau-brasil trazido do Oriente pelos mercadores que atuavam nas rotas tradicionais do comércio indiano. Após a conquista do Brasil, tornava-se mais lucrativo extraí-lo diretamente de nossas matas litorâneas. O rei de Portugal não demorou a declarar a exploração do pau-brasil um monopólio da coroa portuguesa. Oficialmente, ninguém poderia retirá-lo de nossas matas sem prévia concessão da coroa e o pagamento do correspondente tributo. A primeira concessão para explorar o pau-brasil foi fornecida a Fernão de Noronha, em 1501, que estava associada a vários comerciantes judeus. Os Franceses, que não reconheciam a legitimidade do Tratado de Tordesilhas, agiam intensamente no litoral brasileiro, extraindo a madeira sem pagar os tributos exigidos pela coroa portuguesa. O esquema montado para a extração do pau-brasil contava, essencialmente, com a importante participação do indígena. Só as tripulações dos navios que efetuam o tráfico não dariam conta, a não ser de forma muito limitada, da árdua tarefa de cortar árvores de grande porte como o pau- -brasil, que alcança um metro de diâmetro na base do tronco e 10 a 15 m de altura. A princípio, o trabalho do índio era conseguido “amigavelmente” com o escambo. Este consistia, basicamente, em derrubar as grandes árvores, cortá-las em pequenas toras, transportá-las até a praia e, daí, aos locais onde estavam ancorados os navios. Em 1530, com o propósito de realizar uma política de colonização efetiva, Dom João III, O Colonizador, organizou uma expedição ao Brasil. A esquadra de cinco embarcações, bem armada e aparelhada, reunia 400 colonos e tripulantes. Comandada por Martim Afonso de Sousa, tinha como missão: » Combater os traficantes franceses; » Penetrar nas terras na direção do Rio da Prata para procurar metais preciosos; e » Estabelecer núcleos de povoamento no litoral. Portanto, iniciar o povoamento do “grande deserto”, as terras brasileiras. Para isso, traziam ferramentas, sementes, mudas de plantas e animais domésticos. Martim Afonso possuía amplos poderes. Designado capitão-mor da esquadra e do território descoberto, deveria fundar núcleos de povoamento, exercer justiça civil e criminal, tomar posse das terras em nome do rei, nomear funcionários e distribuir sesmarias. SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS 3 Diogo Álvares Correia, o Caramuru, João Ramalho e Antônio Rodrigues facilitaram bastante a missão colonizadora da expedição de Martim Afonso. Eram intérpretes junto aos índios e forneciam valiosas informações sobre a terra e seus habitantes. Antes de retornar a Portugal, ainda em 1532, o capitão recebeu carta do rei D. João III. Esse falava de sua intenção de implantar o sistema de capitanias hereditárias e de designar Martim Afonso e seu irmão Pero Lopes de Sousa como donatários. CAPITANIAS HEREDITÁRIAS A posse da América Portuguesa estava “garantida” aos portugueses pela Igreja Católica por meio do Tratado de Tordesilhas, no qual a Igreja dividia as novas terras “descobertas” (América) entre Espanha e Portugal. A existência do tratado, no entanto, não impedia que ingleses e franceses questionassem essa divisão, já que foram excluídos dela. No começo da década de 1530, o comércio com a Índia estava decadente, e as posses de Portugal na América eram constantemente ameaçadas por corsários franceses, que se aliavam aos indígenas inimigos dos portugueses e exploravam os recursos da terra sem a autorização de Portugal. O rei português percebeu que, diante da ameaça estrangeira, era necessário criar uma frente de colonização para garantir a posse da terra. Sendo assim, em 1534, o rei português decidiu dividir as terras que pertenciam a Portugal pela força do Tratado de Tordesilhas. Com essa decisão, Portugal dividiu a colônia em 15 lotes de terra, que correspondiam, ao todo, a 14 capitanias, que foram entregues para a administração dos capitães-donatários. Os portugueses criaram o sistema de capitanias hereditárias como forma de iniciar a coloniza- ção do Brasil e entregaram as responsabilidades de desenvolvimento e investimento da iniciativa aos donatários. Esses capitães eram, em geral, pessoas da pequena nobreza e comerciantes com algum tipo de ligação com a Coroa Portuguesa. Os donatários recebiam a faixa de terra correspondente à capitania por meio da carta de doação, documento que lhes dava uma série de direitos sobre a capitania, mas não lhes dava a posse da terra, que continuava sendo do rei de Portugal. Os donatários possuíam grande poder administrativo e jurídico sobre a capitania. Eram também responsáveis por investir e atrair investimentos, moradores e pessoas interessadas em explorar a capitania, além de promover seu desenvolvimento econômico. A aplicação da lei, cobrança de 4 impostos, distribuição de terras, construção de fortificações para resguardar a capitania de invasões estrangeiras e a luta contra os indígenas também eram atribuições do donatário. O sistema de capitanias, no entanto, fracassou em decorrência de uma série de fatores. A divisão territorial permaneceu ainda durante séculos, e, até o século XVIII, ainda existiam dona- tários com poderes investidos pelo Coroa. Apesar disso, esse sistema mostrou ser deficiente para uma administração unificada da colônia, uma vez que mal havia comunicação entre as capitanias. Por conta disso, Portugal resolveu criar um sistema de administração que centralizava o poder na colônia. Para isso, criou-se o governo-geral em 1548, e Tomé de Sousa foi delegado para a função de governador-geral. O fracasso das capitanias pode ser explicado por vários fatores. O principal deles foi que, das catorze capitanias, somente duas registraram, de fato, um desenvolvimento notável: São Vicente e Pernambuco. O sucesso dessas capitanias está relacionado com a instalação de engenhos e com o tráfico de indígenas para escravização. As capitanias também fracassaram pela inexperiência administrativa dos donatários. A falta de recursos também foi um grande impeditivo, assim como a falta de comunicação, seja interna, seja com a Coroa. Por fim, os conflitos com os indígenas também foram um fator relevante para o fracasso das capitanias. GOVERNO-GERAL Com o fracasso do sistema de capitanias hereditárias, a Coroa Portuguesa optou por centralizar o poder na colônia, ou seja, foi criada uma autoridade sobre toda a colônia chamada governador- -geral. A determinação para a criação desse cargo partiu do próprio rei de Portugal, D. João III. Essa medida foi tomada com o objetivo de transformar a colônia em um negócio mais lucrativo em vista do enfraquecimento do comércio na Índia. Além disso, o historiador Boris Fausto sugere que o fechamento do entreposto comercial dos portugueses em Flandres e as derrotas militares sofridas no Marrocos ajudam a entender a necessidade de tornar o Brasil um território mais van- tajoso para Portugal. A constante ameaça estrangeira, sobretudo dos franceses, também era um fator que tornava o desenvolvimento da colônia extremamente importante para Portugal. Assim, para ocupar o cargo de governador-geral, a Coroa Portuguesa enviou Tomé de Sousa ao Brasil em 1549. ͫ Governo-geral de Tomé de Sousa Tomé de Sousa foi enviado ao Brasil em 1549 com instruções específicas dadas pela Coroa Portuguesa. Os objetivos, em geral, eram promover o desenvolvimento populacional e econômico (principalmente pela produção de açúcar) da colônia e garantir a expulsão de invasores. A expedição de Tomé de Sousa chegou à região da Baía de Todos os Santos comaproximada- mente mil homens. As instruções dadas a ele foram estipuladas pela Coroa em um regimento de 17 de dezembro de 1548. Entre essas ordens a Tomé de Sousa, também estavam manter os nativos sob controle e a garantia da conversão deles ao cristianismo. A primeira ação do governador-geral foi promover a construção de Salvador em 1549. Essa cidade foi instituída como capital do Brasil, status que ocupou durante mais de 200 anos. Sua loca- lização geográfica era estratégica pela posição centralizada na colônia, o que facilitaria o contato com as diferentes capitanias. Para auxiliar o governador-geral na administração da colônia, foram criados cargos adminis- trativos com atribuições diferentes. Os cargos de maior destaque foram: » Ouvidor-mor: responsável pelos assuntos de justiça e pela imposição das leis na colônia; » Provedor-mor: responsável pela arrecadação e administração das finanças; SISTEMA COLONIAL PORTUGUÊS 5 » Capitão-mor: responsável pela defesa da colônia contra invasores e contra-ataques de indígenas. A política de Tomé de Sousa quanto aos nativos era, naquele contexto, pacífica. Ele impôs a escravidão contra as tribos indígenas rebeldes que não aceitavam a presença portuguesa. Com as tribos pacificadas, foi instituída a mesma relação que havia sido usada na exploração do pau-brasil: o escambo. O maior empecilho para o governo-geral de Tomé de Sousa foi a dificuldade de comunicação existente com outras capitanias da colônia. Seu governo estendeu-se até 1553, quando foi substi- tuído por Duarte da Costa. Junto da expedição que trouxe Tomé de Sousa estavam Manuel de Nóbrega e outros cinco companheiros per- tencentes à Companhia de Jesus, também conhecidos como jesuítas. A missão dos jesuítas aqui era, primei- ramente, estabelecer relações pacíficas com os nativos para iniciar um processo de catequização, ou seja, a conversão dos índios ao catolicismo. ͫ Outros governadores-gerais Após Tomé de Sousa, o Brasil foi governado por Duarte da Costa (1553-1558) e por Mem de Sá (1558-1572). Durante o governo de Duarte da Costa, os indígenas passaram a ser tratados de forma hostil, e um grande número deles foi escravizado. Essa relação com os indígenas quase colocou a perder o trabalho desenvolvido por Tomé de Sousa. Por isso, no governo de Mem de Sá, foi adotada novamente a política de escravização somente dos indígenas hostis. O governo de Mem de Sá destacou-se ainda por ter expulsado os franceses que estavam estabe- lecidos na Baía da Guanabara desde 1555. Nessa região, os invasores franceses, sob a liderança de Nicolas Durand de Villegagnon, haviam fundado a França Antártica. Após a expulsão, os portugueses fundaram a cidade do Rio de Janeiro no local. Em 1572, após da morte de Mem de Sá, a Coroa portuguesa, ainda percebendo inúmeras falhas na administração da Colônia, resolveu dividir a América Portuguesa em dois Governos-Ge- rais: o Governo do Norte e o Governo do Sul, que tinham como capitais Salvador e Rio de Janeiro, respectivamente.
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