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x. ser educacional gente criando o futuro Tôêdos os direitos. reservados. Nenhuma parte desta publicação. poderá ser reproduzida eu transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotócópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento:e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, doGrupo Ser Educacional. Birétorde EAD: Enzo Moteira Gerente de design Instrucienal: Paulo-Kazuo Kate Coordenadora de projetos EAD:Mariuéla Martins Alves:Gorites Cogrdenadora educacional: Pamela Marques Equipe de.apoio educacional: Ca ro l i nê Guglielm!i, Danise G r im í HYaqueélinêMatais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos;Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Leite, Marcus Vinícius de Freitas Teixeira. .. . Sociologia e Antropologia Jurídica 7 Marcus Viníciusdê' Freitas Teixéita Léite: — São Páulo: Cengagê, 2020. | | Bibliografia. ISBN 9788522129669 1. Direito. 2 . Sociologia jufídica: 3. Antropólógia jutídica. Grupo Ser Educácional Rua Trezé de Maio, 254 - Santo Amaro: TEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional&sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico é social para a nação. Há alguns aáhos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. À demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensifio Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego — Pronatéc, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da edúcação de seus estudantes, além de oferecter- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas.ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz Autoria Marcus Vinicius de Freitas Teixeira Leite Graduado e Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com formação complementar em Filosofia. É membro do Gbservatório para Qualidade da Lei (CNPq) e realiza pesquisas no Programa de Pós-Graduação da UFMG voltadas á Legística, processo legislativo e discurso parlamentar. Como bolsista de iniciação científica (PIQEG), participou do projeto Novas Perspectivas para a Educação Jurídica, sob orientação do prof. Aziz Tuffi Saliba. Foi monitor voluntário da disciplina Introdução à Ciência do Direito, fez intercâmbio internacional na Université Laval (Québec, Canadá), participou do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP] como: Diretor de Assistência, além de ter sido representante discente no departamento de Direito Penal da UFMG. Atuou como estagiário da Defensoria Pública da União (1º Ofício Regienal) e como estagiário em escritório de advocacia especializado em Direito do Trabalho, onde também atuou como advogado. É também membro associado da Rede de Estudos Empíricos em Direito. Possui certificado em francês DALF C1 - Cadre 'européen commun de référence pour les langues. Tem como principais áreas de interesse: Filosofia do Direito; Legística; Educação Jurídica; Metodológiada Pesquisa; Filosofia daLinguagem; Linguística. PTEÍÁCIO nuca rms nes e r es ca a re r c ca a a aa Ter mca cn O: UNIDADE1 - Introdução àantropologia e à seciofogidJUufidiCa «cú . eee mae eee ) PARA RESUNHR..o venue i n voca a i ves i i r i da mica d ie i i i r á dav i d i c i i n i ave i ce i i ac í i 2d REFERÊNCIAS B IBL IOGRÁFICAS...0 criseneem eco eseron ease verae eterna muness vereimete rs cena 28 UNIDADE 2 - Perspectivas SOCIOfOGICOS csecccn i rb r i asnee sen io r r r i r r a r ras res re ie i sensov rE r r i r r e nesrrissenseprarrarenascer sr DF Introdução 1 Indivíduo, cultura é SOCiEdade c l i c r a i d iadade cm ese ae de idades ce d28 2 Crime e desvio SOGIal.. n i ce esa edd ie cad f a l a e la re cas a i d i eada in i as Bá 3 Sociologia Funcionalista dê Émile DUPKIEIM cce e ine ec c ie l se mena se 38 4 Sociologia compreensiva dê Max Webe f . ococ ids i s i eenois ddondadede resded ioeda i s 43 & Sociologia crítica dé Karl Ma roc a c r c idadan ia seem cs e i a i eee AB PARA RESUMIR oo c io meses eee r i a t enoo A REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS vovo v i venc iou scr rirrveicace cine ticas ce ici seios E UNIDADE 3 - Direito e SOCIEUAdEes. cce an ne ta i na ta s i e tc n ina s i mer i ca ss cen te io te ias SE IMrOdução... i i i enem ma sans mas pas e na np pe eee ces 8 1 Contribuição de outros teóricos para à Sociologia e à Antropologia do DIFEItO e l i s 3 Globalização é Multiculturalismo... l i ici iceessa ese ssa asas seres macae Anes sã 3 Furição da Sociologia do Direito e a eficácia do DIFeIto Juca ee casas ie ve ias 57 PARA RESUMIR,oo venenos ernrecermassn een recorrer nen t es ta rscorr vere rr ss ens es te rs t r sermos rrss enme te se tas ecran csseso TE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..,... E UNIDADE 4 - Controle SOCIAL,se f e i o mdami i sda no ta f o l i i o r e i dnie t em ia iada1 [18 dicas [57 We PRRRRRRERRRN A A A AAA: s| 1 Conflitos, integração e mudança-social: o papel das! normas Jurldicas.. i i i s iemens rd 2 Controle social e Direito: cultura é niorimatização.... 11d ssa ima t ac 8 3 Sociologia dos t r i buna i se democratização da Justiça:........hl2..Pav rca aqua vaso pasa ee caços 89 PARA RESUNMIR. ouso ensa ia cs l i e s en re tos n l neo F i i r i o q en t ra t r an pe r icsnire ana i i ca t i a DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. . 0 i 0m in iad iame i nd i RESETCPEBEFONIEFÂFENERBENRFENTNPEBEFOERSÂPPNERBENRFENTÉRIOEFO meios FEZ Sociologia do Direito e Antropológia Jurídica são dois campos de estudo social do Direito muito importantes para que o estudante tenha um panorama multidisciplinar da área. Em quatro unidades, esta obra vai apresentar os principais aspectos para um estudo completo sobre o assunto, conforme indicado a seguir. À primeira unidade, introdução à Ántropologia e à Sociologia vai apresentar o significado dessas duas ciências aplicadas do Direito e discutirá sobre o objeto é o âmbito da Sociologia geral a partir de uma perspectiva histórica, além de abo rda ro objeto e o significado da Antropologia Jurídica e da Sociologia aplicada ao Direito. Depois de estudar às noções fundamentais vócê estará apto à aprender os conceitos que serão estudados ao longo do curso, mais especificamente da disciplina, além dé melhorar 9 entendimento do fenômeno jurídico e suas implicações sociais. Na segunda unidade, perspectivas sociológicas de Sociologia é Antropologia Jurídica, destacaremos algumas nuances importantes para o estudo da Sociologia e Antropologia do Difeito como a cultura por uma perspectiva antropológica; cultura e sociedade; crimê e desvio social. Depois de uma breve apresentação das perspectivas de teóricos importantes a respeito da problemática do crime e do desvio social, estudaremos as perspectivas sociológicas de três dos autores mais importantes e influentes desta disciplina: Émile Durkheim, Max Weber é Karl Márx. As interséções dá obra destes autores com o Direito também serão abordadas nesta unidade. A tarceira unidade vai tratar de Direito é Sociedade. A importância de algumas abordagens sociológicas do Direito, tais como as teorias de Georges Gurvitch, Eugen Erlich, Leon Duguit e Clifford Geertz serão discutidas aqui e , à partir desses autores, desenvolveremos o tema discutindo a importância das variadas perspectivas: pafa o estudo sociológico do Direito. Além disso, analisaremos as noções de “globalização” e “multiculturalismo”,tão impórtantes no mundo atual cada vez mais conectado, Por fim, eéstudaremosà questão da eficácia do Direito a partir de uma abordagem sociológica. Porfim,a quar ta unidade discute aspectos do Controle Social. Qual o papel e 5 lugar dao Direito.em sua relação com a sociedade e a estrutura econômica e social a qual ele regula? Qual a possibilidade de a prática jurídicapromover ou ba r ra ramudança social? São estas as questões abordadas nesta unidade, além de temas relacionados com a Sociologia da aplicação do Direito ou a Sociologia dos tribunais. e o papel do Judiciário nao desdobramento da cultura jurídica-e na relação com os movimentos sociais. Um tema interessante e. importante no estudo do Direito! Aproveite.a leitura e bóns estudos! UNIDADE 1 Introdução à antropologia e à socio- logia jurídica Olá, Você está na unidade. Conheça «aqui as abordagens: de dois campos de estudos: «a Sóciologia do Direito é à Antropologia Jurídica. Para tanto, estudáremos o significado, 6 objeto e âmb i t oda Sociologia geral, a partir de uma perspectiva histórica, além do objeto e do significado da Antropologia Jurídica e da Sociologia aplicada ao Direito. Essas noções serão fundamentais para 6s conceitos estudados ao longo da disciplina e também pára uma melhor compreensão do fenômeno jurídico e suas implicações sóciais. Bôns estudos! x É a INIFICADO,OBJETOEÂMBITODASOCIOLOGIA Neste tópico, a proposta é compreender do que trata a Sociologia Geral, qual o seu objeto de estudo e o que ela aborda. Além disso, veremos sua origem histórica, com enfoque na figura de Augusto Comte é nó Poósitivisiho. Veremos que a Sociologia tem uma. énôrme relevância para às estudos sobre a sociedade, o que fortalece à pertinência da Sociologia do Direito pára qualquer aprofundamento nho campo jurídico. Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: objeto da Sociologia A Sociologia pode ser considerada uma ciência que tem por objetivo analisar os processos. e as estruturas sociais, ou seja, como se dá a vida humana em sociedade. À partir de diferentes perspectivas, o que os principais téóricos da Sociologia fizeftam foi oferecer explicações para se compreender a sociedade como um todo, em análises sobre alguns aspectos da estrutura social edas relações que se estabelecem no seu interior. Ao estudar as formações sociais e suas causas,a Sociologia se insere em uma análise acerça dao desenvolvimento histórico de tais formações, na med idaem que tenta.compreender os fatores: que levaram à uma dada situação social vivida em determinados contextos. Assim, pode-se dizer que a Sociologia está comprometida com os processos de transformação social, desvendando mistérios da vida social do passado e, através desse conhecimento, intervindo na realidade e contribuindo para à compreensão e construção do futuro, Dito de maneifa simplificada, o objeto de.estudo da Sociologia seria, então, as formações sociais passadas, presentes e uma espécie.de. projeção sobre as futuras (ROCHA, 2019. p. 10). O sociólogo José Manuel de Sacadura Rocha destaca também necessidade de que à como à Sociologia está comprometida cóm a ráflexão sobre as transformações sociais,seria difícil defender esse papel de agente de mudanças em um contexto: de autoritarismo-e estados de exceção (ROCHA, 2019, p. 10), Além disso, é importante pontuar a extrema relevâricia dá Sociologia para à compreensão do ser humáno acerca de si mesmo. Historicamente, o ser humano constitui-se de maneira social, isto é, em relação com outros seres humanos e com o ambiente que os cerca. Essas relações. ajudam a moldar, condicionare até determinar a forma como agimos, vivemose somos. Mesma que, nós possamos agir de maneira isolada e i nd i v i dua l ,ocomportamento continua sendo social, na medida em que sobre ele “ recaio peso da orientação coletiva de determinado grupo” (ROCHA, 2019, p. 11), Evidentemente; há sempre certo espaço para a ação individualizada e nem tudo é absolutamente determinado e condicionado socialmente. Mas não se pode negar a influência dos fatores sociais na constituição dos comportamentos humanos. Como exemplo, podemos pensar ria forma de utilização do tempo pelas pessoas, Por que tantas pessoas habitualmente acordam em uma faixa de horário similar, se locomovem ao-trabalho é retornam em horários semelhantes? À influência dos modos de produção de trabalho estabelecidos é perceptível, na medidá em que somos condicionados a utilizar nosso tempo dessa forma, Assim, quando se diz que à Sociologia estuda. processos e estruturas sociais, concretamente seu abjeto está presente em comportamentos. sóciais variados, como os modos de produção, à utilização do tempo, as hierarquias sociais, as estruturas de raça e gênero, po r exemplo, que implicam na vivência de determinadas experiências, as regras sociais tácitas e explícitas que ditam hossa forma de viver, dentre tantos outros exemplos possíveis. Todas essas condições da vida humana são construções realizadas ao longo do tempo pelo próprio ser humano, influenciado também pelas contingências contextuais. Isso traz à tona o papel constituinte do ser humano em geral, já que os grupos acabam por te r a capacidade de construir seu conjunto de regras, normas e comportamentos, que vão se modificando ao longo do tempo. Mesmo que seja possível entendeér o papel do ser humano riéssas transformações de maneira muito distinta conforme.a perspectiva sociológica adotada, 0 fato. é que as sociedades. são diferentes e sofrem modificações constantes (ROCHA, 2019, p. 12). Como essas transformações são absolutamente pertinentes:ao.estudo sociológico, não há toma negar a importância crescente da Sociologia no contexto atual, tão marcado por mudaánças é pelo d i r iamismo, através, sobretudo, das transformações tecnológicas. É fiesse sentido quê F. A. de Miranda Rosa (2004, p. 23) destaca a crise profunda em que:se encontram as:'sociedades humanas, más também a potencial transformador nelas existente: As contradições jntérnas.se manifestam ém forma dé explosões revéladoras. dê forças sóciais imensas, tepresas ou em curso; às populações aumentam áceleradamente e com isso as tensões 13 internas dos grupos sociais, ou ás tensões entre grupos: diferentes; à ideologia se apresenta: com Bnorme capacidade de polarização do pensamento e da ação; o sentido, mesmo, que deve-ter a v ida humana, é posto em questão; mas em meio aos problemas e aos conflitos, há uma vitalidade imensa, cheia:de espirito criador, da solidariedade, em que um novo ec lod i rdohumanismo se mostra, e quando. à procura de unidade-ho essencial rivaliza com a afiríóação das diferenças iferentes à personalidade. Étiotável, portánto, a impôrtância que sé deve dar à Sociologia no murido atua l ,Aó vivermdás tantas mudanças sociais, a tentativa de compreendê-las é sóbre elas refletir é um imperativo. Diante de tamanha complexidade da vida humaná em sociedade, especialmente nos diás. atuais, o objeto de estudo da Sociologia mostra-se bastante abrangente, Para Anthony Gidden's, então, a Sociologia é “o estudo da vida social humana,dos grupos e das sociedades”, ou seja, seu objéto está centrado no nósso próprio comportamento como seres sociais e sua abrangência é vasta, na medida em que inclui “desde à análise de encontros ocasiónais entre indivíduos ná rua até a investigação-de processos sociais globais” (GIDDENS, 2005. p. 24). Ainda segundo Giddens, a Sociologia traz vantagens para as pessõas em geral, pois-permite ao ser humano ter mais consciência das diferenças culturais, já que dá subsídios para que nós vejamos 6 mundo a partir de pontos de vista distintos do nosso. Além disso, 6 autor considera também que a Sociologia é uma importante aliada prática na avaliação dos resu l tadosde iniciativas políticas, na medida em que considera vários fatores pertinentes à atuação estatal na construção de políticas públicas, por exemplo. Por fim, Giddens destaca que a Sociologia pode nos fornecér certo auto-esclarecimento:“ (...) quanto mais: sabemos por que agimos como agimos:e como se dá o completo funcionamento de: nossa sociedade, provavelmente seremos mais capazes de influenciar nossos próprios futuros, ” (2005. p. 26). Percebe-se, portanto, que-a Sociologia abarca uma variedade enorme de visões teóricas sobre a realidade; que enriquece as análises e formas de compreensão do mundo, A Sociologia não é, éntão, um campo intelectual abstrato, mas ha verdade possui implicações. prática de extrema relevância para a vida: das pessoas, na med idaem que se debruça: sobre oscomportamentos, processos e estruturas sociais (GIDDENS, 2005, p. 36). “ Se o ” ”va * 4 PS NS == — VV " PsN - ê e bo+ À a l % Ã ! ; o) a é n i ) > = . *- ”.- % ), a a + 2 y e . = o- = ' , 2 - AP 1 ( . e é ” ONT " z a + & * ” - DA= HA ” s Figura 1 - Sociedade Fonte: Karavai, Shutterstock, 2020 Vemos:uma diversidadede pessoas diferentes, convivendo e interagindo no l o óque chamamos dê sóciedadé Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: OF EO ciologia: Augusto Comte e o Positivismo Para entender a origem da Sociologia, é preciso primeiramente esclarecer o contexto em due ela surgiu, nã França do século XIX. Aquela época, sentindo os efeitos da Revolução Industrial, a Frahça se tornava pouco a póuco uma sociedade industrial, marcada pela exploração de mão de 15 bra barata, sóbratudo de mulheres e crianças, em condições nítidas dê precarização, além de um fluxo desordenado de pessoas que salam do campo para as cidades; o que gerava problemas de habitação, higiene, alta mortalidade infantil, etc. (ROCHA, 2019, p. 14), Nesse contexto repleto de transformações e dificuldades sociais, surge a Sociologia, com o intu i todecompreender, por exemplo, 65 motivos pe los quáis a sociedade é estruturada assim e cómo e por que as sociedades mudam (GIDDENS, 2005, p. 28), questões pertinerites até hoje rios. estudos sociológicos. Embora não seja possível atribuir a criação desse campo: de estudo exclusivamente a uma pessoa, certamente o francês Augusto Comte (1798-1857) possui grande destaque na origem da d isc ip l ina ,jáque ele foi o primeiro teórico a usar o termo “Sociologia”, A perspéctiva adotada por Comte é à da ciência positiva. Pára 0 téórico, a Sóciólogia devefia adotar os mesmos: métodos científicos que a Física ou a Química para o es tudodo mundo físico: Assim, para o Positivismo,a ciência deve se preocupar apenas com aquilo que pode ser observável e conhecido através da. experiência. Tendo por báse as observações sensoriais, séria possível inferir às leis que regem às relações entre os fenômenos observados (SIDDENS,.2005. p. 28), Nas pálavras do próprio Augusto Comte, “ (...) todos 05 bons espíritos repetem (...) que sómente são reais 05 conhecimentós que repousam sobre fatos: observados” (COMTE, 1978, p. 4). Segundo Comte, o pensamento humano teria passado por três estágios na tentativa de tómpreensão do mundo: teológico, metafísico e positivo. No plano teológico, os esfórços eram guiados pelas: ideias religiosasé crênça segundo a qual a sociedade era a expressão da vontade divina. Já no estágio metafísico, ocorrido mais ou menos na época da Renascença, a sociedade pássa a ser vista da perspectiva. natural, e não sobrenatural. Por fim, no estágio positivo, influériciado pelas descobertas de Copérnico, Newton e Galileu, tem-se a aplicação de técnicas científicas (das ciências naturais) ao mundo social (GIDDENS, 2005. p. 28). Além disso, ainda no que diz respeito à primazia da experiência, preconizada por Comte, o, autor considera importantes dois principais fatores: a observação em si, ou seja, “o exame direto do fenômeno tal como elé se apresenta naturalmente”, e à observação do fenômeno já “modificado em circunstâncias artificialmente construídas” (SOUZA, 2008. p. 139), Diante da influência decisiva das ditas “leis fiaturais”, a concepção positivistá de Comte aduz que a evolução social está, na verdade sujeita, a essas leis naturais, que não podem ser madificadas pela natureza humana. Isso leva à inutilidade, do ponto de vista comteano, da Tesistência ao desenvolvimento inevitável da sociedade. Assim, como consequência lógica da teoria de Comte, chega-se a um dos pontos. mais importantes e também mais polêmicos de sua-teoria, que considera haver um determinismo no mundo soc ia l ,em que os fatos estão “L...) figórosamente encadeados uns aos outros, segundo léis naturais, que à óbservação filosófica do ” passado pode descobrir, e determinam, para cada época, de maneira inteiramente positiva,os. aperfeiçoamentos que o estado social deve experimentar” (SOUZA, 2008. pp. 139-140). De todo modo, à teoria positivista teve e ainda tem uma forte influência na concépção de diferentes conceitos e teorias nás mais diversas áreas do conhecimento, incluindo o Direito. Embora haja um grande determinismo ná explicação do mundo social, que deixá as análises. herméticas em alguma medida, sem dúvida Augusto Comte possibilitou importantes:formas de análise da sociedade e-dos processos e estruturas sociais inerentes à vida humana. 2. SIGNIFICADO E OBJETO DA SOCIOLOGIA E DA ANTROPOLOGIA DO DIREITO Agora, é importante nos determos mais sobre a Sociologia já nó contexto dó Direito. Como veremos, há uma enorme pertinência não só da Sociologia no campo jurídico, como também da Antrópologia. Por isso, véremos o que cada um desses famos tem por objeto e sua relevância para o Direito, além de diferenciarmos a Antropologia e a Sociologia do Direito. Concepçãoe objeto da Sociologia do Direito Após tratarmos da Sociologia geral compreendendo seu escopo, seu objeto é sua ofisgem, cabe agora melhór analisar sua pertinência nó estudo jurídico propriamente ditó, Comojá vimos; aSociologia sedebruça sobre os comportamentos, as estruturas e os processos sociais, buscando entender o funcionamento da sociedade como um todo. Nás sociedades contemporâneas, o Direito é entendido também como. o conjunto dé normas que regulam à vida sócial, servindo para dirimir-conflitos e estabelecer parâmetros de conduta (CAVALIERI FILHO, 2007. p. 7). Segundo José Manuel de Sacadura Rocha, a Sociologia aplicada ao Direito interessa-se pelo estudo do Direito com base nos fenômenos sociais. Isso porque as sociedades instituem regras e léis que oriêntam e obrigam os indivíduos em sua sobrevivência conjunta. Para o autor, “o objeto da Sociologia Jurídica é a contribuição que o determinado grupo humano empresta para a consagração e formalização dessas regras, ou seja, entender a norma, escrita (aparelho jurídico formal), ou não escrita (extrajurídico) ”, à partir de da relação dos fenômenos sociais com fórmações sociais específicas de cada sociedade (ROCHA, 2019. p. 23), Rocha (2019, p. 23) aponta algumas perguntas sobre as quais à Sociologiá Jurídica busca refletir, tais: como: qual a magnitude do Direito ha sociedade?;.60 que existe no Direito além de códigose dos conceitos meramente legislativos?; como e por que se cria um conjunto de-normas? O que tem seobservado já há bastante tempo é a insuficiência em re laçãoà compreensão dos fenômenos sociais pela Direito, o que frequentemente implica em etros de julgamento e 1 falhas sérias na efetivação da justiça. Isso se dá também com a efetividade das rormas jurídicas, por vezes produzida e interpretada com certo distanciamento da realidade fática vivida pelas péssoas. Assim, é nítido que o Direito positivado — estabelecido em normas, leis e códigos — não contempla todaá a complexidade da vida em sociedade. Os fenômerios sociais estão acima eantés dos: códigos legislativos e da formalização no-sistema jurídico (ROCHA, 2019. p. 23). Rocha chama atenção, ainda, às confusões comumente feitasem relação à Sóciologia Jurídica, Segundo o autor, por vezes juristas tendem a subordinar a Sociologia ao Direito, o que implica. em um privilégio equivocado da norma em detrimento da formação social. Para ele, “não é um erro simples; é , simplesmente,a supressão da ordem das coisas como estas são”, que pode resultar em um Direito desprovimento de movimento e flexibilidade para adequação à vida concreta (ROCHA, 2019, pp. 23-24). Erro semelhante é cometido, também, pelos cientistas sociais que retiram do Direito seu Papel ativo na sociedáde e submete-o integralmente aos fenômenos sociais, tratándo-o dê como um mero conjunto de normas para resolução de conflitos específicos (ROCHA, 2019. p. 24). Trata-se, igualmente, de uma visão reducionista é empobrécedora em relação ao Diréito. À relação entre os objetos da Sociologia e o Direito é dialética e dialógica, de constituição mútua: dá mesma forma que os fenômenos sociais constituem o Direito, tais fenômenos: são por ele constituídos, O Direito faz parte da realidade social; não pode ser visto.como letra fria esem vida, coma se sua existência não repercutisse diretamente na vida das pessoas: OD Direito tem de observar de perto essa dinâmica, a interação entre sociedade e no ra , encárar à Mudahça na medida exata da mudança das estruturas sociais e-de seu aparato jurídico, diante das expectativas e tensões pertinentes na vida prática dos agentes sociais inseridos em um contexto de fiadernidade. E, de forma igual, à Sociologia há de reconhecer'a perietração do Direito na vida-social (ROSA, 2004. p : 25). Nesse sentido, apesar dessa relação indissóciável entré a Sociologia é o Direito,épossível dizer que a Sociologia lurídica goza de certa autonomia, já que:seu objeto é mais específico em relação a outros campos do conhecimêénto. Segundo Cavalieri Filho, a Sociologia Jurídica tem por finalidade o estabelecimento de “(...) umá relação funcional entre à realidade social e às diferentes manifestações jurídicas, sob forma de regulamentação da vida social, fornecendo subsídios para suas transformações, no tempo e no espaço” (CAVALIERI FILHO, 2007. p. 58). É importante ter em mente, ainda, que a norma jurídica é resultado da realidade social. Conforme Rosaá: “Elá emana da sociedãde, pôr seus instrumentos é instituições destinados a formular o Direitó, refletindo o que à sociedade tem como objetivos, bem coma suas crenças. e valorações”, Aliás, o próprio estudo histórico das sociedades comprova isso, na medida em que é facilmenteé observável a existência de estruturas jurídicas bem distintas no tempo e no espáço, conforme à realidade e o contexto da momento (ROSA, 2004. p. 44). Sem nos determos 7 “ Se sobre este ponto, basta pensarmos nas: mudanças quê o-divôórcio sofreu ao longo-do tempo no sistema jurídico bras i le i ro ,com uma aceitação: muito: maior em relação às: décadas passadas; acompanhando também transformações sociais. Além disso, de Acordo com Rocha (2019), à Seciológia Jurídica tem algumas premissasdue Merecem ser destacádas brevemente: Premissas da Sóciologia Jurídica * Pluralismo Jurídico, ou se, à diversidade de concepções do que vem a.ser o Direito, das: fontes do Direito e das formas dé se sistematizar à juridicidáde em uma sociedáde, * Compreensão dafunção das normas * Eficácia normativa, ou seja,os efeitos.produzidos pela norma, Assim, 0 que se percebe com essas premissas é uma relação mais concretaque a Sociológia Jurídica estabelece com os fenômenos jurídicos, já que se referem àsformas de estruturação do Diréito e às normas em suá realidade prática é os seus efeitos possíveis. A Sociologia Jurídica, Mesmo que através de diferentes perspectivas teóricas, explora 05 fenômenos jurídicos em seus efeitos, causas, processos e. estruturas sociais, focando e olhar para o funcionamento da normatividade (em sentido lato) na vida social. io é objeto da Antropologia Jurídica Além da Sociologia do Direito, há um outro campo de estudo. sacial no Direito, a chamada Antropologia Jurídica. Da mesma forma que ocorre com à Sociologia, o objeto de estudo antropológico é abrangente e de difícil definição, já que se cóncentra também por aspectosda vida em sociedade. Olney Queiros Assis e Vitor Frederico Kiúimpél destacam esse caráter diversificado da Antropologia, que. aborda diferentes aspectos da realidade humana. No seu surgimento, em meados do Séxulo XIX, à Antropologia debruça-sé sobre as sociedades primitivas (ASSIS: et al . 2010: p. 17), a fim de entender suas formas de otganização, costumes; evolução no tempo e no.espaço etc. Posteriormente, já no século XX, a Antropólogia ampliá seu óbjéêto é passa à analisar não apenas as sociedades primitivas, mas qualquer sociedade em qualquer tempo, de modo que seu. objéto passaria a ser “ô estudo do homem inteiro”, Assim, ela visária o conhecimento por ctômpleto do ser humano, implicando no estudo do hómem e da cultura em todas as suas. dimensões (ASSIS et al.,2010. p. 17). Diante da complexidade.da vida humana, a Antropologia se divide em alguns ramos, com ÔÓ 19 enfoques diferentes. O primeiro ramo é 3 da Antropologia cultural, que consiste.segundo Assis et al. (2010, pp. 17-18): “ (...) no estudo de tudo que constitui as sociedades humanas: seus modos de produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua ofganização política e jurídica; (...) suas creniças religiosas, sua língua; sua psicologia (...)”. Temos, ainda, à Antropologia biológica. Nesse caso, o enfoque de estudo está voltado pará a Evolução do homem, sua distribuição em grupos étnicos, além da análise de relações entre patrimônio genético e espaços geográficos. Já a Antropologia pré-histórica, por sua vez, envereda- se pelo estudo dos vestígios materiais deixados nos ambientes ocupados pelo ser humano, na busca da reconstituição de sociedades e grupos desaparecidos, Por fim, a Antropologia linguística oeupa-se da linguagem enquanto patrimônio cultural de sociedade, considerando a relevância dos processos comunicacionais para à expressãode pensamentos, crenças e valores (ASSIS-et al., 2010). Evidentemente, todos esses ramos se entrelaçam de alguma maneira e possuem uma relação de complementaridade, Cóntudo, certamente os estudos da Antropologia cultural possuem maior repercussão no campo jurídico, já que seu objeto relaciona-se mais com o Direito.e com às. estruturas e formações políticas, normativas e sociais tão pertinentes ao Direito. Nesse sentido, a, Antropologia cultural é dividida entre a Etnografia e à Etnologia, consideradas métodos da pesquisa antropológica. Segundo Assis et al. (2010), podemos defini-las:como: *. Etnografia diz respeito ao trabalho de campo de obsefvação, descrição é ánálise dé gru- pós: humartos, considerando suas particularidades, * Etnologia busca utilizar comparativamente os documentos apreseritadós pelo etnógrafo; iritegrando conhecimentos de grupos, recónstituindo 6 passado de determinadas sócie- dades. Às conexões do Direito com a Antropologia são evidentes, visto que o ser humano constitui objeto central dessas duas áreas do conhecimento, motivo pelo qual temas como igualdade e diferença são, ao mesmo tempo, jurídicos e antropológicos. Além disso, 6 direito constitui um dos. àspectos da cultura, e esta constitui objeto específico da antropologia cultural. À ant ropolog ia ,tal como o direi to, também se interessa pelos conflitos sociais, principalmente no que diz respeito à intervenção normativa na decisão jurídica desses conflitos, bem como pelo desdobraménto da ordem jurídica diante das transformações culturais, sociais, políticas e econômicas, Quando inserida especificamente no estudo jurídico, então, a Antropologia tem por objeto o estudo do ser humano enquanto “sér normativo”, isto é, “(...) a utilidade e eficiência dás. regras de conduta a partir do conjunto de mecanismos culturais que cada grupo estabelece para sobreviver” (ROCHA, 2018. p. 36), Além disso, a Antropólogia jurídica permite déscobrire compreênder o Direito encoberto péla legislação, pela normatividade formal. Issoé importante também para que'a sociedade acomparihe “ Se às evoluções. jurídicas. para um Direito mais: flexível e maleável, por exemplo. Nesse sentido, 3 Pluralismo jurídico(sobretudo do ponto de vista normativo) ocupa igualmente um espaço de relevância para a Antropologia, na medidá em que se aceita com mais cláreza a existência de fiormatividades diferentes daquelas legislativas e estatais (ASSIS, KUMPEL, 2010. pp. 49-50). Como exemplo, Assis e Kliimpel destacam a normatividade existente em favelas do Rio de laneiro, onde há uma legalidade alternativa para resolução dé conflitos e soluçãode outros problemas comunitários, o que representa o exercício de um poder político alternativo, mesmo que de forma incipiente. Segundo os autores, à preponderância de procedimentos com mãáior oralidade e informalidade tem inspirado mudanças fio diréito estatal, sobretudo em tribunais de hequenas causas e na aplicação das penas ditas:alternativas (ASSIS, KÚMPEL, 2010. pp. 50-51). Ássim sendo, embora a Antropologia pareça ser complexa, seu estudo é pertinente pára o Direito justamente nas formas mais simples e cotidianas de normatividades e legalidades, que tMmostram formas de organização de condutas, bem como possibilitam à análise dos efeitos dãs normas estatais em grupos e comunidades, avaliando a recepção da legislação na sociedade. Figura 2 - Vista aérea da favela da Rocinha no Rio de Janeiro (RJ) Fonte: Donatas Dabravolskas, Shutterstock, 2020 fiParaCégaVer: Vernos uma foto aérea da cidade do Rio de Janeiro, destacando a favela da reinha, e a sua proximidade com bairros nobres. Nota-se o contraste entre. as construções da dos bairros vizinhos. p o Utilize 0 QR Cade para assistir ao vídeo: ARADIGMAS DO PENSAMENTO SOCIAL Ao refletirmos sobre os paradigmas do pensamento social, vamos focar em dois paradigmas principais: a Modernidade ea Pós-modernidade. Embora à princípio possa parecer uma tarefa complexa, veremos que se trata de entendêr os modelos e padrões de pensamento sócial em determinadas épocas, óu seja, compreender basicamente como se estruturam .os pensamentos. saciais a partir desses paradigmas tão importantes historicamente e na atualidade, Paradigmasdo pensamento social: a Modernidade Historicamente, podemos afirmar que a Modernidade tem início com a Revolução Francesa, acorrida no fim do século XVIII. Esse contexto foi marcado pela tomada do poder pela burguesia, e pelo surgimento de novas concepções filosóficas de mundo, como o Iluminismo, com a defésa da “(...) crença na razão como promotora de progresso é da felicidade, a rejeição ão governo absolutista e aos privilégios-da nobreza e do clero, e também a:crítica à interferência da igreja nas questões de Estado” (ESCOBAR, 2010. p. 72). Coma influência das ideias iluministas, cresceu também a defesa de um governo regido por leis, que protegeria os cidadãos contra abusos de poder por parte dosgovernantes e consagraria a igualdade formal entre os cidadãos. Além disso, o Racionalismo igualmente passou a ganhar importância, de modo a propugnar a razão como instrumento de solução dos problemas vividos. Paralelamente. a esses fatos, inovações tecriológicas foram pouco à pouco implementadas na sociedade e o modo de produção capitalista substituiu as formas econômicas feudais (ESCOBAR, 2010. pp. 72-73). A Modernidade trouxe, portanto, uma oriêntação pará o futuro, havendo um sentido de continuidade e descontinuidade, ordem e caos, estabilidade.e instabilidade (BEZERRA, 2011, p. 180).A potencialidade de transformação da.Modernidade veio nãosó das mudanças tecnológicas, ” mastambémda aspectos epistemológicos,Isto é,em relação àquilo:que passou a'serconsiderado válido como conhecimento e saber. Árites, o ser humano estava de certa forma preso às certezas dás. perspectivas. míticas e feligiósas que predominavam ná maneira de se entender o mundo e.o próprio ser humano. Além da importância do Iluminismo na Modernidade, o Universalismo também apareceu como à dimensão generalizadora dó projéto civilizatório pénsado nessa época, de modo que se léváva em tonta postulados com a pretensão universalista acerca da natureza humana pará se compreender o ser humano de, maneira homogênea. Assim, quaisquer conflitos poderiam ser resolvidos:a partir déssas noções aplicáveisatodos em qualquer contexto (BEZERRA, 2011. pp. 182-183). É preciso ressaltar, ainda, que essamudança na maneira-de enxergar o mundo-e 0se r humano, tóm uma valofização do pápel dá fázão em detrimento do périsaménto mítico-feligióõso, não efa homogênea. Diferentes perspectivas s i tuadas:na tradição máderna chocaram com abordagens. diversas:e até críticas a alguns aspectosda própria Modernidade, como é o caso: de Karl Marx e Max Weber, que verermas melhor nessa disciplina, De-todo modo, a Modernidade ficou caracterizada pelo surgimento de um sujeito autônomo, com pretensões mais claras. de liberdade e que passou a enxergar na sua existência com um pótericial de transformação da realidade posta, sobretudo através da racionalidade agora colocada em destaque. mento social: a Pós-Modernidade Diantedos sérios problemas vividos na Modernidade, como as duas grandes Guerras Mundiais, a ascensão de regimes Totalitários e as crises econômicas no mundo afora, os fundamentos do pensamento moderno começaram à ser questionados e dar lugar a outrás ideias e lutas até então relativamente silenciadas nos pelos paradigmas dominantes. Assim, nas:décadas:dê 1960 e 1970, apareçey o que se convencionou chamar de pensamento pós-moderno, Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, surgiram outras categorias de sujeitos e de entend imentoem relação à própria vivência humana: “Emergem novas categorias sociais:i-o colonizado, a raça, a marginalidade, o gênero e similares”, além de uma crescente contestação por parte das populações de países tidos como “periféricos” (BEZERRA, 2011. p. 191). Assim, a Páós-Madernidade fundou-se há crítica à crença moderna na razão como instrumento Para emancipação universal do ser humano, como se a história fosse um processo unitário que, por meio de formas universais, pudesse levar a humanidade ao progresso, Porém, “[...) pensar a história como processo unitário só era possível porque tal pensamento se ancorava na existência de um centro à partir de onde se recolhiam e ordênavam os acontecimentos” (BEZERRA, 2011, p. 195), Í | x 23 A Na Pós-Modernidade, há um entendimento de quê existem diversas narrativas nas. sociedades e.na humanidade em geral, de modo que considerar a história-como tal um processo unitário seriá ignorar éssás tantas e variadas formas de vivências, Nesse sentido, alguns teóricos [como Vattimo) entendem que às mídias de massa contribuíram para esse processo ao dar voz a essas novas: narrativas, mesmo que essas mesmas mídias tenham contribuído também para a massificação ehegemonia de determinadas estruturas culturais (BEZERRA, 2011. p. 196). Para Jean-François Lyotard, a Pós-Modernidade é caracterizada pela incredulidade-em relação aos “metarrelatos”, óu seja, a uma grande narrativa que explica o ser humano e o mundo, como à da Modernidade a respeito da razão como instrumento para 0 progresso histórico, Assim, a função narrativa “(...) sedispersa em nyvensde elementos de linguagem narrativos; mas também denotativos, prescritivos, descritivos etc., cáda um veiculando validades pragmáticas sui generis” (LYOTARD, 2009. p. xvi). Como consequência dessas alterações quê decomipuseram os “grandes relatos”, Lyotard acredita que houve a dissolução do vínculo social e a passagem de coletividades sociais a uma Massa composta por átomos individuais. Nesse processo, a comunicação e 05 jogos de linguagem ganham cadaá vez mais centralidade (LYOTARD, 2009, p. 30), como fôi dito a respeito das mídiás. de massa, por exemplo. Segundo Bauman, Ká um :amontoamento das diferenças, que sê tornam objeto de disputa, com estilos e padrões concorrêntes. Trata-se de um suposto amor à diferença, em quê todos devem se mostrar seduzidos pela “(...) infinita possibilidade e constante renovação promovida pelo mercado consumidor, de se regozijar com a sorte de vestir edespir identidades, de passar a vida na caça interminável de cada vez mais intensas sénsações” (BAUMAN, 1998. p. 23). Dessa forma, é importante pensar a Pós-Moderhidade como à época da relativização dasgrandes narrativas e de certos valores que eram tidos como pretensamente universais, como a crença no progresso natural da humanidade e na razão como instrumento para tal. E, nesse contexto, surgem fiovas identidades sociais, novos comportamentos que brigam por espaço, sendo que o. O caráter cibernético e informatizado da sociedade é um traço marcante das novas formas de comunicação e entendimento da reálidade, tornando essa nova realidade fluida e mais mutável. FIQUE DE OLHO Há nó Brasil, nos últimos anos, novás correntes sociológicas quê vêm apresentando visões diferentes sabre a realidade brasileira, com noções de intersecciónalidade e as problemáticas de raça, gênero, classe etc, além das perspectivas chamadas de “decoloniais”, que buscam tonstruit um conhecimentoa partirde paradigmaspróprios da vivência brásiléira é periférica. Nesta unidade, você téve-a aportunidade de: aprender que a Sociologia busca estudar as estruturas, processosecomportamentos: sociais, de modo à tentar entender o funcionámento dá sociedade; compreender o Positivismo, como uma das formas originárias da Sociologia, marcado pelá crehiçá de que à sociedade é regida por leis universais, tal como as ciências naturais; entender a Sociologia do Direito como uma disciplina qué foca na análise da normatividade na vida social, observando os fenômenos jurídicos em seus efeitos e. causas has êstruturase prócessos sociais; analisar as diferenças entre a Sociologia do Direito e a Antropologia do Direito que foca na análise da normatividade na vida social, observando os fenômenos jurídicos em seus efeitos e causas nas estruturas e processos sociais; compreender que à Antropologia jurídica tem por objéto o ser humario enquanto ser social, a partir da observação de comportamentos de grupos esaciedades; analisar a Modernidade e a Pós-Modernidade como como paradigmas do pensamento social, em que a primeira diz respeito à primazia da razão como forma: de compreênder o mundo e como instrumento para o progresso da humanidade, é a segunda é fortemente marcada pela fluidez e relativização de identidades é comportamentos,bem como pe la inexistência de metanarrativas para a sociedade. ASSIS, étà l . Matiuál dê aritropólogiã jurídica —São Páulo: Saraiva, 2011, BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rió dê Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BEZERRA, T. C. E. “Modernidade:e pós-modernidade:uma abordagem preliminar”. In: Textose Debates (UFRR), v. 1 , p. 176-202, 2011. CAVALIERI! FILHO,S:Programa de Sociologia Jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2007, COMTE, A. Curso de filosofia positiva, São Paulo: Abril Cultural, 1978. ESCOBAR, K. Modernidade e pós-modernidade: ptomessas, dilemas é dafios a condição humana. Cadernos UniFOA (Impresso), v. 12 , p, 71-80, 2010. GIDDENS, A, Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005, LYOTARD, | . À condição pós-moderna; Rio de Jáneiro: José Olympio, 2009. ROCHA,| . M. de S. Sóciológia Jurídica: fundameritos e fronteiras — 62 ed. Rio-de Janeiro: Forense, 20159, ROCHA,1.M. de S. Antropologia Jurídica: Geral-e do Brasil. 52:6d, Salvador: JusPodivrm, 2018. ROSA, F. 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As interseções da nhbra destes autores com o Direito também serão abordadas:nesta unidade, Bons estudos! 29 Le:NWDIVÍDUO, CULTURA E SOCIEDADE Neste tópico, analisaremos com maior detalhe algumas nuances importantes para o estudo da Sociologia e Antropologia do Direito: a cultura por uma perspectiva antropológica; cultura e sóciedade; crime e desvio social, São aspectos de grande relevância para.o éstudo dó Direito, uma vez que dizém respeita à fenômenos sociais abárcados pelo âmbito jurídico ém geral. UtilizeoOR Code para assistir ao vídeo: da cul tura O entendimento dá Ciência Social a respeito do que significa 6 termo “cultura” é que fenômenos ele compreende se modificou sensivelmente ao longo dos últimos séculos. Antes. do surgimento e consolidação da Antropologia como disciplina — ocorrida a partir do século XIX - ; a visão predominante entre filósofos e historiadores europeus. apresentava uma concepção acerca do fenômeno cultural que John Thompson (2000) denominou como concepção clássica de cultura, por vezes também denominada:como normativa, O termo era frequentemente associado a um processo de desenvolvimento é enobrecimento das: faculdades humanas, o qual seria. facilitado pela assimilação de trabalhos artísticos e acadêmicos e estaria ligado ao caráter progressista da Modernidade é da racionalidade do beríodo luminista. Este último elemento, ligado à perspectiva clássica, foi alvo defortes críticas e é uma das. principais. razões para que esta perspectiva tenha sido superada na produção acadêmica: ela indicava umaã supérioridade de certos valores e ófícios em relação a outros e apresêntava conotação fortemente eurocêntrica, dando centralidade excessiva ao legado Iluminista (LOPES, 2014). O desenvolvimento do-campo antropológico na segunda metade do século XIX, associado à proliferação dos trabalhos etnográficos na disciplina voltados a comunidades fora da Europa, impulsionou mudanças na concepção predominante sóbre o conceito “cultura”, abrindo espaço, inicialmente, para a chamada concepção descritiva. O primeiro conceito propriamente antropológico de cultura, e labo radopor Edward Taylor, considera o fenômeno como “(...) todo o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou Kábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TAYLOR apud LARAIA, 1997, p. 25). Históriadores culturais é antropólogos da época, ainda que adotando inovações: e particularidades a partir da ideia apresentada - como, por exemplo, o particularismo € o relativismo da abordagem de Fránz Boas, e o funcionalismo de Bronislaw Malinowski —, partilhavam à perspectiva de que à cultura de um grupo se refere às ideias, valores, crenças é costumes, assim comoa-.os instrumentos materiais e.objetos tangíveis que os indivíduos adquirem enquanto membros de determinada sociedade. Ao mesmo tempo, se verificavam divergências entre os pesquisadores da época acerca do feferêncial dê aplicação desté conceito —se'a partirdeuma ótica evoluciônista, ou óbjeto de u ia análise funcional (LOPES, 2014). Dentre as ressalvas feitas por antropólogos à perspectiva descritiva, estariaii a excessiva amplitude e vagueza do conceito de cultura, que poderia se tornar redundante, confundindo- se com o próprio termo “Antropologia”, quando não associado a uma maior especificação do método de análise. Para contrapor-se a este problema, desenvolveu-se a concepção simbólica de cultura, inicialmente esbocada por L. A. White. O autor considerou que o ser humano e a cultura são inseparáveis e interdependentes. À atribuição de símbolos e dos significados seria uma capacidade inerente à humanidade, e .à cultura seria realizada por meio destes .atos de simbolização (WHITE, 2009). Esta conceituação influenciou a éonstrução dá perspéctiva semiótica de Clifford Géertz,.que colocou o-tema da cultura em posição de centralidade nos debates da disciplina. Na conhecida obra A interpretação das culturas, Geertz (1989) avalia que, ainda que em seu sentido mais amplo a cultura diga respeito à toda produção humana material e imaterial, esta é uma teia de significados teêcida pelo homem, que orienta sua existência. Trata-se de um padrão de significados, representados na forma de símbolos, que interage em meio às relações comunicacionais dos indivíduos de forma recíproca. O áutor define símbolo como qualquer ato; objeto, acontecimento ou relação que represente um significado, As diferenças entre estas. duas concepções poóssuém implicações profundas na pésquisa antropológica. Enquanto a análise simbáólica visa elucidar padrões de significado e interpretar os mesmos de forma incorporada às formas simbólicas, -a pesquisa orientada pela abordagem 3 descritiva se volta à-classificação e à análise científica, interdependência funcional &.mudariças. evolutivas (LOPES, 2014), Os opositores da concepção simbólica, como Thompson (2000), alegam a debilidade da mesma para considerar questões relativas ao poder e ao conflito, a negligência aos contéxtas sociais onde se produzem e transmitem os fenômenos culturais. Este antropólogo buscou formular à chamada concepção estrutural dá cultura, à qual buscafia investigar os contextos é próceéssos historicamente específicos é socialmente estruturados nos quaisformas s imbó l i cassão produzidas, transmitidaserecebidas (THOMPSON, 2000). Emtal ótica, os fenômenos culturais são percebidos como formas simbólicas socialmente contextualizadas; enquanto que a análise cultural trata do estudoda constituição significátiva é da contextualização social das mesmas (LOPES, 2014). A abordagem estrutural se difere. da simbólica e apresenta uma vantagem analítica em relação à mesma, portanto, ao enfatizar, ao mesmo tempo, o caráter simbólico dos fenômenos Culturais é o fato de que esses fenômenos estão sempre inseridos em contextos socialménte estruturados — que envolvem conflitos; relações de dominação (muitas vezes cristalizadas no direito) e desigualdades na distribuição de recursos (LOPES, 2014). A construção das abordagens simbólica, semiótica é estrutural da cultura foram resporisáveis. diretamente pela ascensão do status elevado atribuído ao tema da cultura a partir da década deé 1960. Um marco neste sentido é à criação da área interdisciplinar dos Estudos Culturais, tu jós prihcipais colaboradores foram Raymond Williams e Stuart Hall. Com isto, a cultura passa a exercer um papel de destaque nas discussões acadêmicas e sociais envolvendo a estrutura e a organização da vida cotidiana das pessoas, a partir da compreensão de que toda a prática social, sêndo prática discursiva, possui uma dimensão cultural (GODOY; SANTOS, 2014), Na'Sociologia, o conceito de cultura diz respeito aos aspectos aprendidose partilhadós pelos. membros da sociêédadee que permitem a comunicação e cooperação entre indivíduos e grupos. Ele se refere ao contexto em que os eles vivem suas vidas e envolve tanto aspectos tangíveis (tecnalogia, objetos, símbolos) coma intangíveis (valores, ideias e crenças) (GIDDENS; 2008). Embora haja distinções conceituais entre ostermos “cultura” e “sociedade”, há fortes conexões eritre eles. Sociedades são, nás palavras de Anthony Giddens (2008), sistemas de interrelações que envolvem coletivamente um conjunto de indivíduos. Uma sociedade pode englobar milhões. de pessoas ou apenas algumas dezenas delas, mas o elemento que faz tanto uma gigantesca Nação, quanto uma pequena tr ibo indígena ser conceituada com o mesmo termo, é a organização destes dois. conjuntos em relações sociais estruturadas à partir de uma cultura comum. Desse modo, culturas não podem existir sem sociedades e vice-versa, Consequentemente, variações culturais identificadas entre seres humanos se relációonam fortéámente com as diferenças entre 1 “ Se tipós de sociedade diversos. Tódasas culturas sê orientam por um cónjunto de ideias abstratas ou valores, ós quais atribuem significados é orientam os indivíduos na interação com o mundo social, e que definem o que é importante, desejável ou útil (GIDDENS, 2008). Os valores de uma determinada cultura usualmente são refletidosou incorporados nas regras de comportamento (normas) da sociedade, reforçando em mão dupla o comportamento das pessoas. Muitas vezes, hábitos culturais:estão de tal forma:enraizados e naturalizados que sequer são percebidos como tais, e podem persistir ainda que setores da sociedade ém questão atuem ativamente para modificá-los. FIQUE DE OLHO À pesquisa sociológica tem como pressuposto de que uma cultura precisa ser estudada considerando os seus próprios valores e significados. Este relativismo cultural é necessário para que se evite uma conduta oposta e que pode ser danosa para a disciplina: o etnocentrismo, ou seja, realizar juízos dê valor acerca de culturas diferentes tendo como Medida de comportamerito à cultura dé origem do pesquisador. Tal procedimento envolve desafios, especialmente em casos limítrofes que coloquem em questão comportamentos que atentem a princípios centrais e fundamentais para outras culturas. Como à cultura se refere a elementos que são aprendidos e não inatos, também interessa O processo pelo qual 05 membros da sociédade aprendém e apreendem os modos de vida da comunidade em que se inseriram. À socialização é o principal canal de transmissão cultural ao longo do tempo, e se trata de um processo vitalício e contínuo de configuração do comportamento humano através das interações sociais (GIDDENS, 2008) — aspecto temporal este que também é decisivo na modificação gradual de hábitos e valores adotados icomunitariamente, A socialização, embora seja processo fundamental de immolde e influência do comportamento dos indivíduos, não anula a individualidade ou o livre arbítrio dos mesmos. Ela é vista como condição e origem da formação da identidade dos seres humanos, que organiza o sentido e a experiência de suas vidas — quem eles são, o que é importánite pára os mesmos e quais atributos eles reivindicam para si. Em sociedades modernas de grande porte, também é comum que existam valores e ideias. contraditórias e em disputa, conflitos estes que não raro alcançam o terreno da política e do direito. Nesse aspecto, o elemento demográfico contribui deforma decisiva: há uma tendência de. que soc iedadesde grande porte apresentem maior nível de diversidade cultural e, inversamente, 3 que sociedades de pequena dimensão apreséritem maior uniformidade cultural. Néste caso, elas. são:chamadas de monoculturais (GIDDENS, 2008). PS 3 É importante ressaltar, contudo, que isso não é uma regra geral: sociedades com dezenás. dê milhões de habitantes (como o Japão) podem apresentar menor diversificação que nações de menor porte, sobre as quais incidiram fortes influências externas, imigração e integração econômica, bem como aquelas com grande diversidade étnica interna (como diversos países. ocidentais, a exemplo dos Estados Unidos). Estes processos se intensificaram nas últimas décadas, fazendo emergir o queo sociólogo Anthony Giddens denominou como culturas mistas, ou contribuindo para a proliferação de subculturas, Estas nião se resumem àa grupos linguísticos ou étnicos minoritários em uma comunidade, mas se referem a “qualquer segmento da população que se distinga do resto da sóciedade em virtude dos seus padrões culturais” (GIDDENS, 2008, p. 25). Ao mesmo tempo, também se verificam setorês sociais que optam por rejeitar e/ou questionar parte das hormas e valores hegemônicos em uma determinada sociedade, valorizando condutas alternativas, oque se denominou contracultura. Diversos autores e correntes teóricas abordaram, sob úticas específicas, fenômenas relacionados à cultura nas sociedades contemporâneas. Sem a. pretensão de esgotar todas: às abordagens relevantes no campo da Sociologia à partir de meados doséculo XX; indicamos aqui algumas outras perspectivas influêrites: Desênvolvida pelos intelectuais da chamada Escola de Frankfurt. Nó que sê refere aos estudos sobre a cultura, formulou o conceito da cultura de massa,é uma erítica de longo alcance da indústria cultural — espaço que promove a padronização e comercialização de expressões artísticas, transformadas em mais umaá mercadoria — ambos fenômenos típicos das sociedades capitalistas contemporâneas A noção desenvolvida pelo sociólogo francês se refere aos átivós sóciáis e conhecimentos culturais específicos dos indivíduos aptos a conferir status: social e poder aos mesmos numa sóciedãde estratificada. A noção desenvolvida pelo sociólogo francês se refere aos ativos sociáils e conhecimentos culturáis específicos dos indivíduos aptosà conferir status social é poder dos Mesmos numa sociedade estratificada, Perspectiva de que os direitos culturais'são exprimidos na defesa de atributos: particulares; mas':cuja defesa possui um sentido universal. Nestes estariam inseridos, segundo o autor, diversas daschamadas lutas “identitárias” modernas, de Minorias étnicas, sociais, feligiósas ou sexuais. “ Se 34 Figura 1 - Diversidae étnico-racial Fonte: Rido; Shutterstock, 2020 Como indicado anteriormente, a vida humana em comunidade enivolva a adoção de uma série de valores e ideias, que acabam por nortear 6 desenvolvimento de normas e regras de conduta nestas sociedades. Em certa medida, trata-se de elemento essencial para a própria existência é sustentabilidade das sociedades. À depender do arranjo é da complexidade dessás regras, &las podem assumir formas escritas ou não escritas, positivadas num sistema legal ou seguidas. pela mera usa ou costume, De qualquer forma, elas delimitam quais condutas são consideradas corretas ou não na vida social. A adoção de determinadas regras implica, hécessariameênte, duas possibilidades aós indivíduos que a elas se sujeitam: respeitá-las ou não. Nó segurido caso, caracteriza-se o comportamento desviante; tema de importância central para o sistema jurídico e político estatal, e que historicamente atraiu o interesse do estudo sociológico por conta de suas definições, características e de suas diversas implicações. O desvio pode ser definido, portánto, como ações ou omissões (praticadas individualmente óu em grupo) que não estão de acordó com um certo conjunto de nórmas aceito po r um número significativode pessoas de uma sociedade. A não conformidade às normas sociais tende a ser acompanhada por umaã sanção, que corfesponde a qualquer reação de terceiros ao comportamento de um indivíduo ou grupo com o objetivo de assegurar à cumprimento de uma norma (GIDDENS, 2008). o .35 Assim como é virtualmeênte impossível que um indivíduo apresente um comportamento desviante total, desrespeitando em sua integralidade as normas de-sua comunidade, certamente também é extremamente comum quê pessoas rompam, parcial e ocasionalmente, com as fegrãs de seu entorno. De qualquer forma, este conceito tem gránde ámplitude e correspondea um fenômeno que abarca uma quantidade maiór de condutas do que, por exemplo, o que é regulado pelo -direitó, espaço no qual se insere asviolações à lei e conceitos coma o ato ilícito e 6 crime. Nesse sentido, existem duas disciplinas que se voltam, de forma mais estrita, ao estudo do désvio social. A Sóciológia do desvio procura compreender a razão de certos comportamentos serem vistos como desviantes, variações das noções relativas ao desvio numa comunidade, dentre outros temas, sem se resumir aos desvios considerados ilícitos ou crimes pelo direito. Quando o objeto e o espaço da reflexão científica é o espaço dos comportamentos sancionadás pela lei, e máis especificamente abarcados pelo Direito Penal e o sistema de justiça criminal, estamos no espaço da Criminologia. Esta, assim como o Direito Penal, possui em seu interior teorias e-abordagens metodológicas relevantes com pouco contato com a Sociologia do desvio, como as de fundo psicológico ou psicanalítico; o estudo da microfísica das relações sociais, a genealogia do poder e a análise da metamorfose dos métodos punitivos de Michel Foucault em Vigiar e punir (FOUCAULT, 1987), dentre outras. Nessa unidade, nos centraremnos nas perspectivas teóricas que influenciaram historicamente as três disciplinas. “1 Teorias é abordagens históricas sobre o desvio é 6 crime: a Escola tivista A primeira perspectiva de destaque que tangencia a Sociologia do desvio, a Criminologia-e:-o Direito Penal é à chamada Escola Positivista. Esta se contrapôs à teoria clássica do Direito Penal ancorada ha obra de Cesare Beccaria e nó Iluminismo, passando a abordar como objeto de estudo o:criminosa e 0 seu comportamento. Logo, o delito e o delinquente são considerados patologias sociais, devéndo a pena ter um propósito utilitarista (BITTENCOURT, 2013). seus principais nomes — ós italianos Enrico Ferri, Raffaele Garófalo e, especialmente, Cesare Lombroso -, defénderám a possibilidade de se identificar a existência de uma determinação biológica, inata, sobre o fenômeno da delinquência. Ainda que a socialização pudesse influenciar na manifestação do comportamento criminoso, certos indivíduos teriam traços físicos e arniatômicos que poderiam ser identificáveis e associados à criminalidade, associáveis a um estágio mehos desenvolvido de evolução humana (BARATTA, 1999). O conteúdo racista e evolucionista, de impacto político e social danoso até os dias atuais fo i rechaçado pelas perspectivas sociológicas posteriores, Ainda qué a escóla Positivista teriha corntribuído para o fornento do olhar científico para 6 fenômeno da criminalidade, este era concebido como umfenômeno oritológico, um dado da realidade anterior à realidade social e que não se constituía a partir das definições desta, às do consenso: ofuncionalismo A partir da obra de Émile Durkheim desenvolveram-se às Teorias funcionalistas sobre o cr ime e£.0 desvio, também chamadas de Teorias do Consenso. Para ele,.as razões do desvio não envolvem fatores biológicos e naturais. Este fenômeno é visto como àálgo inerente à toda estrutura social, e pássa a ser negativo apenás quando sé segue a éste uma desorganização social de ta l modo que provoque uma situação anômica (conceito que será retomado na sequência da unidade). Dentro de limites funcionais, este tipo de comportamento é necessário para o equilíbrio.-e o desenvolvimento social é cultural, ao impulsionar hovos desafios no seio da comunidade e ao contribuir pára a manutenção. de limites claros entre.comportamentos saudáveis e danosos à mesma, provocando fespostas que reforcem a solidariedade.do grupo (BARATTA, 1999: GIDDENS, 2008). Esta visão foi parcialmente modificada por outros nomes célebres do: campo das Teorias do cónseérnso: as teoriás dos grupos subculturais & às de Rôbert Merton (referência dá chamada Escola de Chicãgo). Este agregou a influência da desigualdade econômica e de oportunidades no fenômeno criminal, alterando p conceito de anomia, aqui considerada como uma tensão sobre o comportamento dos indivíduos frente ao conflito entre a realidade social concreta, às normas aceitas e as práticas culturais valorizadas na sociedade, A partir disto, formulou-se um modelo teórico com cinco modelos de adequação dos indivíduos no meio súcial, variando da conformidade à rebelião. já do etiquetamento Outra tradição sociológica despontou a partir de meados do século XX, denominada interacionista. Esta fo i a primeira: a romper de forma marcada com a concepção ontológica do crime, rejeitando à noção de que há condutas desviantes ou criminosás por natureza e passando à percebê-los cómo fenômenos socialmente construídos (GIDDENS, 2008). Dentro desta perspectiva, destacam-se duas teorias. Primeiro, a da associação diferencial, formulada por Edwin Sutherland, que sugeria que o desvio poderia ser aprendido por meio da interação com óutros em determinados ambientes, utilizando comofenômeno específico de análise os chamados crimes de colarinho branco, cometido por indivíduos: de classes sociais mais abastadas. O interacionismo contribuiu para o desenvolvimento de outra perspéctiva dotada de maior criticidade com o seu óbjeto de análise: a Teoria do etiquetamento, ou “labeling approach". À “desnaturálização” do crime e do criminoso levou a questionamentos de implicáções iTiais profundas relativas ao sistema de justiça criminal. O foco desta abordagem passou a ser as. instâncias legais e-institucionais que definem o que é 9 delito; os mecanismos de reação social a 37 da criminalidadefoi substituído pelos estudos da criminalização (ANITUA, 2007). Referência de estudo que par te de tal perspectiva é o livro Outsiders, de Howard Becker, escrito entre os-anos 1950e 1950 (BECKER, 2008 [1963]). Ainda que possua caráter notadamente contestatório e com póntos de contato com as teoriás do conflito, a abordagem do etiquetamerito tinha um enfoque em processos microssociológicos, ém detr imento de análises de caráter estrutural é sistêmico. Logo, não tinha como objeto de análise os processos sociais de fundo que condicionavam o fenômeno da violência e-aorganização da política criminal nas sociedades capitalistas contemporâneas. torias doconflito e a Crimnologia crítica Com estes aspectos em mente, e partindo de premissas e marcos teóricos distintos dos funciónalistas é interacionistas, surgiram à partif dos anos 1970 perspectivas téóricas voltadas à criminologia denominadas Teorias do conflito. Esta teoria partia geralmente. do pensamento marxista, e tinha como referências a relação direito, marxismo e sociologia. Dessa forma, após a publicação do livro The New Criminology, de Taylor e t al (TAYLOR et àl., 2013 [1973]), fomentou-se um campo que sustentava que o desv ioéuma opção deliberada e não raro de natureza política; inserida numa soc iedadeem estado de constante tensão e luta pelo poder; e estruturada de acordo com os interesses da classe-dominante, sendo, assim, o sistema de justiça um das meiós de controle da classe dominada. lúnto com outras perspectivas filosóficas, sociológicas e jurídicas também de alcancé radical — âssóciadas ao existencialismo, ao pós-estruturalismó e aó pensamento anarquista - , elas 6 grupo associado à chamada Criminologia crítica, cujas propostas oscilam entre a ampliação e estruturação de limites rígidos e especificados à pretensão punitiva estatal; tendo ainda contatós com o positivismo jurídico (garantismo penal); passando pela orientação jurídico-política de redução do direito penal; por uma política criminal afeita a meios não encarceradores de responsabilização de condutas desviantes (minimalismo penal); até os postulados pela abolição total da pena privativa de liberdade, da instituição prisão e, em sua iristância mais radical, à abolição de-toda intenção punitiva - o abolicionismo penal (ANITUA, 2007), FIQUE DE OLHO Você já refletiu sobre a realidade do sistema de justiça criminal e das prisões brasileiras? No gráfico sobre o aumento da população carcerária entre 2005 e 2016, observarmos que à população carcerária brasileira quase dobrou em dez anos, passando de 401,2 mil para 726,7 mil, entre 2005e 2016. Desde os anos 1990, podemos observar um processo de ampliação: da complexidade e da. dureza da legislação penal e processual penal brasileira, ainda que o Erocesso não seja univoco, com à ampliação de alternativas penais, hipóteses de medidas cautelares e a instituição da audiência de custódia. Para compreender a política criminal contemporânea brasileira, sugerimos o documentário brasileiro Sem Pena (Dir: Eugenio Puppo, 2014), disponível no link: https://www.voutube.com/watch?v=bSRDgBSGWVW88). Por fim,.nas últimas décadas também sedesenvolveram de modo mais destacado perspectivas fadicalmente distintas à Criminologia crítica e às Teor iasdo conflito: as Teorias: do controle social, Estas usualmente ignoram às processos sociais que fornecem o contexto das atividades criminosas, partindo da premissa de que os indivíduos agem racionalmente, atentos às oportunidades e aó custo-benefício da atividade criminosa. Ao formular propostas de prevenção e repressão à criminalidade, o foco não é a reabilitação dos indivíduos, direcionândo-se a técnicas e dispositivos de dissuasão. À sua versão mais radicalizada é a chamada “política de tolerância zero”, sendo uma de suas variações mais conhecidas a chamada “Teoria das Janelas Quebradas”, implementada de forma controversa em Nova lorque nos anos 1990, Outras perspectivas similares envolvem à chamado “atuarialismo” - voltado à gerência do sistema penal efetivamente existente e ao controle de “grupos de risco” - , o Direito Penal do inimigo, dentre outras. As diversas perspectivas apresentadas acima permanecem em discussão e embate, sejá no âmbito acadêmico, no social ou no pálítico — sendo que o direito, e, mais especificamente,o Direito Penal e à política criminál dos Estádos contemporâneos possuem dispositivos orientados. pelas premissas de diversas teorias, em intensidades distintas. 39 Figura 2 - Complexo policial de Teixeira de Freitas (BA) Fonte: Rido, Shutterstock, 2020 SOCIOLOGIA FUNCIONALISTA DE EMILE DURKHEIM Agora, nos deteremos sobre as principais correntes da Sociologia clássica, abordando sua relação com o Direito. Para tanto, veremos resumidamente como se fundaram os pensamentos de.Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, Estes três teóricos podem ser considerados os mais importantes da Sociologia moderna e influenciam até hoje outras tantas correntes teóricas em diversas áreas, tendo especial importância também para o estudo do Direito. Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: O francês: Émila Durkheim (1858-1917) produziu obra de vasto é permanente impaétto no campo da Sociologia, tendo contribuição central para a consolidação da disciplina e do caráter científico da mesma. O sociólogo buscou analisar fenômenos da vidá social com maior figor é óbjetividade em re laçãoa outros pioneiros da área, como Auguste Comte, é implementou procedimentos científicos ancorados no empirismo,que conferiram à Sociologia uma discussão metodológica mais adequada e-aprofundada. A Sociologia, na visão durkheimiana,é definida como a ciência dagêneseedo funcionamento das instituições, sendo estas todas às crenças e cómportamentos instituídos pela coletividade, às quais exercem funções que permitem a estabilidade e manutenção no tempo da coesão social (QUINTANEIRO et . al., 2003). Na obra de Durkheim, o conceito de fato social é primordial para compreendermos -o arcabouço teórico produzido pelo autor. Para ele, fatos sociais são formas de agir e pensar externas 4os indivíduos, aspectos da vida sociál que determinam ou condicionam a ação dós Mesmos por diversas formas (DURKHEIM, 1999; GIDDENS, 2008). Isto se dá devido ão fato dos fatos sociais exercerem um poder coercitivo sobre .os indivíduos, ainda que isso por mui tas vezes ocorra de modo imperceptível ou naturalizado. O autor parte da perspectiva de que a sociedade não:é resultado da:soma ou da justaposição dos indivíduos que a compõem, mas uma síntese de ações e sentimentos particulares que criam um fenômeno específico e hovoó. Por esta razão, as explicações para os fatos sociais devem ser buscadas na coletividade. Os exemplos de fatos sociais envolvem desde fenômenos consolidados e dê grande dimensão, como à economia é a religião, até aqueles fluidos é efêmeros, cómo fnovimentos sociais, correntésde perisamento é formas de expressão. Dentre as expressões do conjunto de fátos sociais, estão as representações cóletivas e os. valóres. Um dos elementos a comprovar o fató de que aqueles tem caráter coercitivo é são externos aos indivíduos, Durkheim lembra que o não atendimento a estas convenções pode implicar diversos obstáculos, como à violação a uma lei. Entretanto, instituições são passíveis de mudança desde que um grupo de indivíduos, em ação combinada,apresentem comportamentos inovadores e produzam um produto novo que se constitua como um fato social (QUINTANEIRO et, àl., 2003). Uma das formas de cristalização é reconhecimento desta mudança pode serà alteração de normas jurídicas. Ainda que nas palávras do próprio autor “à primeira regra e a máis fuidamental é considerar os fatos sociais como coisas” (DURKHEIM, 2003, p. 15), estês são intangíveis e não óbserváveis. diretamente, A pesquisa e a análise dos mesmos se dão por meio de uma investigação indireta, dos seus efeitos e dê óutras formas de representação dos mésmos, como, pôr êxémplo, à Constituição e as leis (ho Direito) e os:textos sagrados (no caso das religiões). oalidariedade mecânica e orgânica Dentre os maiores interesses de pesquisa do sociólogo francês estava a compreensão de quais elementos eram responsáveis pela manutenção (ou pela quebra) da solidariedade e da ordem nas sociedades. Em sua visão, a primeira se mantém “quando os: indivíduos se integram t óm sucesso em grupos sociais é se régem por um conjunto de valorés e costumes partilhados” (GIDDENS, 2008, p. 9). Durkheim (1999) destacou, em sua conhecida obrãá Dá Divisão Social do Trábalho; à existência de dois tipos de solidariedade, as quais estariam diretamente relacionadas:com à forma de divisão do trabalhoem uma determinada sociedade: a solidariedade mecânica-e a solidariedade orgânica. A pf imeira,característica de culturas maistradicionais (ou primitivas)ade menor especialização é divisão do trabalho — onde os indivíduos possuem ocupações laborais semelhantes —, estaria sustentada na homogeneidade e no consenso em relação à crenças e costumes, A dissidência no interior destas sociedades seria: reprimida pela comunidade, por meio da força.e do castigo aos indivíduos que não se adequam. A solidariedade orgânica, por Sua vez, tefia Sé desénvolvido em meio à rápida é profunda transformação social é econômica nas sociédades ocidentais, em meio aós processos de industrialização, complexificação econômica e urbanização. O desenvolvimento da sociedade capitalista implica na intensificação da interdependência econômica entre os indivíduos; ampliando relações de. reciprócidade e. reduzindo à importância dé sê partilhar crenças é costumes específicos, Um dosprincipais meios de seóbservara predominância de um ou outrotipo de solidariedade: nas. sociedades contemporâneas: seria, para Durkheim, o Direito. Segundo Quintaneiro et al, (2003, pp. 74-75): Durkheim utiliza-se da predominânciade certas normas do Direita como indicador da presença de um ou do outro tipo de solidáriedade, já que esta, por ser um fenômeno moral, não pode ser diretamente observada. Não obstante se sustenté nos costumes difusos, o Direito é uma forma estáve! E precisa, e serve, portanto, de fator externo e objetivo que simboliza os elementos mais essenciais da:solidariedade social. Por outro lado, as sanções que são aplicadas aos preceitos do Direito mudam de acordo com a gravidade destes, sendo assim possível estudar suas variações. O papel do Direito séria, nas sociedades complexas, análogo ao do sistema nervoso: regular as funções do corpo. Por isso expressa também o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho social, tanto quanto o sistema nervoso exprime: estado. de concentração do organismo gerado pela divisão do trabalho fisiológico, isto é , sua complexidade e desenvolvimento. Enquanto às sanções impostas pélo costume são difusas, as quê se impõem atravésdo Direito são organizadas. Elas constituém p s ” duas classes: às: repressivas: - que infligem ao culpado uma dor, uma diminuição, uma. privação; E às restitutivas - que: fazem com que as coisas: e relações perturbadas sejam restabelecidas: à sua: Situação anterior, levando o culpado a reparar o dano causado. À maior ou menor presença de regras repressivas pode ser atestada através da fração ocupada pelo Direito Penal. ou Repressivo no sistema jufídico da sociedade A velocidade é intênsidáde destes processos nã modernidade, porém, tem o poder de abalar costumes, valores e padrões de conduta (religiosós, morais etc.), sem que um óutra arrafijo ocupe estes espaços de forma decisiva, inclusive para direcionar ou cireunserever a conduta dos indivíduos. Este vazio de sentidose objetivos em meio à vida social moderna é o que-caracterizafia à anomia para o sociólogo francês. la e normas morais: o suicídio e a religião Esta perspectiva orientou o conceituado estudo do autor a respeito do fenômeno do suicídio ha obra O Suicídio, publicada pela primeira vez em 1897: Mais do que um ato pessoal e orjêntado pela angústia ou pelo desequilíbrio mental estrito dos indivíduos que o cometem, Durkheim optou por analisar esse ato como um fato social, passível de possuir padrões gerais observáveis e influenciado por fatores sociais. Em sua pesquisa, ele confirmou sua expectativa: verificou que determinados segmentos estavam mais vulneráveis ao suicídio do que outros: protestantes mais. da que católicos, ricos mais do que pobres, homens mais do. que mulheres. Além disso, guerras e mudanças econômicas também afetavam sensivelmente às estatísticas (DURKHEIM, 2000). Estes aspectos reforçaram a posição do autor sobre a condição anômica em relação à perda de pontos de referência e de fontes de regulação social, bem como a importância do enfraquecimento de laços sociais nó caso dos chamados suicídios egoístas. Reforçou, portanto, a perspectiva de que fatores sociais externos ao indivíduo interferem de forma significativa em condutas antes vistas como atos estritamente pessoais. E que esta influência podiá ser investigãda par meio da análise sociológica. Também interessavaao autór a análise das normas Morais dassociédades, que prescreveriam o modo-como o sujeito: deve se portar em determinadas: circunstâncias e tem uma finalidade desejável e desejada por parte daqueles que.se sujeitam à elas. Em sociedades menos complexas, a moral cívica teria maior nível de associação com a religião pública, lévando, portanto, à um nível maior de cóntrole e disciplina de seus indivíduos. As sótiedades modernas, por sua vez, apresentam maior nível de complexidade, nas quais é Estado possui grande. variedade de funções, mas convive com outros grupos (família, corporações, instituições religiosas). Nesta assóciação tendente ao equilíbrio, desenvolvem-se às liberdades individuais. A partir desta análise e reflexões, Durkleim empreende o estudo das réligiões. O autor rr 43 àfnalisou especialmente aquelas: praticadas em sóciedades menos complexaás,. compreendidas. como um sistema de crenças e práticas relativas às coisas sagradas que é comum a todos aqueles due se uném nunia comunidade moral, chamada por ele de igreja (DURKHEIM, 1996). Durkheim erigiu, portanto, um pensamento ancorado no método positivista e confiante na capacidade de convivência de indivíduos e grupos distintos rias sociedades modernas. Sua teófria dó consenso eé.o funcionalismo foram especialmente influentes na antropologia é na sociológia norte-americana, aspecto que fora brevemente exemplificado na seção anterior. A COMPREENSIVA DE MAX WEBER Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: [1] oa OFEHO A abra do alemão Max Weber (1864-1920) abarcou diversas áreas do cônhecimento; cómo Direito, Filosofia é História, serido influéênte também em disciplinas que se desenvolveriam de forma mais nítida apenas posteriormente, como a Ciência Política. Entretanto, o autor refletiu acerca do papel e do objeto do estudo sociológico, buscando estabelecer a Sociologia como uma discipliná preocupada com a diferença e à párticuláridádes culturáãis e sociais. Em seu texto A Ciência como Vocação, Weber discorre sobre o significado da ciência — vista tómo procedimento racional empreendido para explicar às consequências de determinados: fenômenas —, e a respeito da postura do cientista frente ao seu ofício (WEBER, 2011). Este deve, ém sua visão, selecionar é sugerir medidas com finalidade de solucioná-las,
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