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x. ser educacional gente criando o futuro Tôêdos os direitos. reservados. Nenhuma parte desta publicação. poderá ser reproduzida eu transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotócópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento:e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, doGrupo Ser Educacional. Birétorde EAD: Enzo Moteira Gerente de design Instrucienal: Paulo-Kazuo Kate Coordenadora de projetos EAD:Mariuéla Martins Alves:Gorites Cogrdenadora educacional: Pamela Marques Equipe de.apoio educacional: Ca ro l i nê Guglielm!i, Danise G r im í HYaqueélinêMatais, Laís Pessoa Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos;Tiago da Rocha Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi Leite, Marcus Vinícius de Freitas Teixeira. .. . Sociologia e Antropologia Jurídica 7 Marcus Viníciusdê' Freitas Teixéita Léite: — São Páulo: Cengagê, 2020. | | Bibliografia. ISBN 9788522129669 1. Direito. 2 . Sociologia jufídica: 3. Antropólógia jutídica. Grupo Ser Educácional Rua Trezé de Maio, 254 - Santo Amaro: TEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional&sereducacional.com “É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com isso, há um maior desenvolvimento econômico é social para a nação. Há alguns aáhos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também passa por tais transformações. À demanda por mão de obra qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensifio Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego — Pronatéc, tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da democracia com a ampliação da escolaridade. Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar as competências básicas da edúcação de seus estudantes, além de oferecter- lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas.ações dos alunos no contexto da sociedade.” Janguiê Diniz Autoria Marcus Vinicius de Freitas Teixeira Leite Graduado e Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com formação complementar em Filosofia. É membro do Gbservatório para Qualidade da Lei (CNPq) e realiza pesquisas no Programa de Pós-Graduação da UFMG voltadas á Legística, processo legislativo e discurso parlamentar. Como bolsista de iniciação científica (PIQEG), participou do projeto Novas Perspectivas para a Educação Jurídica, sob orientação do prof. Aziz Tuffi Saliba. Foi monitor voluntário da disciplina Introdução à Ciência do Direito, fez intercâmbio internacional na Université Laval (Québec, Canadá), participou do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP] como: Diretor de Assistência, além de ter sido representante discente no departamento de Direito Penal da UFMG. Atuou como estagiário da Defensoria Pública da União (1º Ofício Regienal) e como estagiário em escritório de advocacia especializado em Direito do Trabalho, onde também atuou como advogado. É também membro associado da Rede de Estudos Empíricos em Direito. Possui certificado em francês DALF C1 - Cadre 'européen commun de référence pour les langues. Tem como principais áreas de interesse: Filosofia do Direito; Legística; Educação Jurídica; Metodológiada Pesquisa; Filosofia daLinguagem; Linguística. PTEÍÁCIO nuca rms nes e r es ca a re r c ca a a aa Ter mca cn O: UNIDADE1 - Introdução àantropologia e à seciofogidJUufidiCa «cú . eee mae eee ) PARA RESUNHR..o venue i n voca a i ves i i r i da mica d ie i i i r á dav i d i c i i n i ave i ce i i ac í i 2d REFERÊNCIAS B IBL IOGRÁFICAS...0 criseneem eco eseron ease verae eterna muness vereimete rs cena 28 UNIDADE 2 - Perspectivas SOCIOfOGICOS csecccn i rb r i asnee sen io r r r i r r a r ras res re ie i sensov rE r r i r r e nesrrissenseprarrarenascer sr DF Introdução 1 Indivíduo, cultura é SOCiEdade c l i c r a i d iadade cm ese ae de idades ce d28 2 Crime e desvio SOGIal.. n i ce esa edd ie cad f a l a e la re cas a i d i eada in i as Bá 3 Sociologia Funcionalista dê Émile DUPKIEIM cce e ine ec c ie l se mena se 38 4 Sociologia compreensiva dê Max Webe f . ococ ids i s i eenois ddondadede resded ioeda i s 43 & Sociologia crítica dé Karl Ma roc a c r c idadan ia seem cs e i a i eee AB PARA RESUMIR oo c io meses eee r i a t enoo A REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS vovo v i venc iou scr rirrveicace cine ticas ce ici seios E UNIDADE 3 - Direito e SOCIEUAdEes. cce an ne ta i na ta s i e tc n ina s i mer i ca ss cen te io te ias SE IMrOdução... i i i enem ma sans mas pas e na np pe eee ces 8 1 Contribuição de outros teóricos para à Sociologia e à Antropologia do DIFEItO e l i s 3 Globalização é Multiculturalismo... l i ici iceessa ese ssa asas seres macae Anes sã 3 Furição da Sociologia do Direito e a eficácia do DIFeIto Juca ee casas ie ve ias 57 PARA RESUMIR,oo venenos ernrecermassn een recorrer nen t es ta rscorr vere rr ss ens es te rs t r sermos rrss enme te se tas ecran csseso TE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..,... E UNIDADE 4 - Controle SOCIAL,se f e i o mdami i sda no ta f o l i i o r e i dnie t em ia iada1 [18 dicas [57 We PRRRRRRERRRN A A A AAA: s| 1 Conflitos, integração e mudança-social: o papel das! normas Jurldicas.. i i i s iemens rd 2 Controle social e Direito: cultura é niorimatização.... 11d ssa ima t ac 8 3 Sociologia dos t r i buna i se democratização da Justiça:........hl2..Pav rca aqua vaso pasa ee caços 89 PARA RESUNMIR. ouso ensa ia cs l i e s en re tos n l neo F i i r i o q en t ra t r an pe r icsnire ana i i ca t i a DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. . 0 i 0m in iad iame i nd i RESETCPEBEFONIEFÂFENERBENRFENTNPEBEFOERSÂPPNERBENRFENTÉRIOEFO meios FEZ Sociologia do Direito e Antropológia Jurídica são dois campos de estudo social do Direito muito importantes para que o estudante tenha um panorama multidisciplinar da área. Em quatro unidades, esta obra vai apresentar os principais aspectos para um estudo completo sobre o assunto, conforme indicado a seguir. À primeira unidade, introdução à Ántropologia e à Sociologia vai apresentar o significado dessas duas ciências aplicadas do Direito e discutirá sobre o objeto é o âmbito da Sociologia geral a partir de uma perspectiva histórica, além de abo rda ro objeto e o significado da Antropologia Jurídica e da Sociologia aplicada ao Direito. Depois de estudar às noções fundamentais vócê estará apto à aprender os conceitos que serão estudados ao longo do curso, mais especificamente da disciplina, além dé melhorar 9 entendimento do fenômeno jurídico e suas implicações sociais. Na segunda unidade, perspectivas sociológicas de Sociologia é Antropologia Jurídica, destacaremos algumas nuances importantes para o estudo da Sociologia e Antropologia do Difeito como a cultura por uma perspectiva antropológica; cultura e sociedade; crimê e desvio social. Depois de uma breve apresentação das perspectivas de teóricos importantes a respeito da problemática do crime e do desvio social, estudaremos as perspectivas sociológicas de três dos autores mais importantes e influentes desta disciplina: Émile Durkheim, Max Weber é Karl Márx. As interséções dá obra destes autores com o Direito também serão abordadas nesta unidade. A tarceira unidade vai tratar de Direito é Sociedade. A importância de algumas abordagens sociológicas do Direito, tais como as teorias de Georges Gurvitch, Eugen Erlich, Leon Duguit e Clifford Geertz serão discutidas aqui e , à partir desses autores, desenvolveremos o tema discutindo a importância das variadas perspectivas: pafa o estudo sociológico do Direito. Além disso, analisaremos as noções de “globalização” e “multiculturalismo”,tão impórtantes no mundo atual cada vez mais conectado, Por fim, eéstudaremosà questão da eficácia do Direito a partir de uma abordagem sociológica. Porfim,a quar ta unidade discute aspectos do Controle Social. Qual o papel e 5 lugar dao Direito.em sua relação com a sociedade e a estrutura econômica e social a qual ele regula? Qual a possibilidade de a prática jurídicapromover ou ba r ra ramudança social? São estas as questões abordadas nesta unidade, além de temas relacionados com a Sociologia da aplicação do Direito ou a Sociologia dos tribunais. e o papel do Judiciário nao desdobramento da cultura jurídica-e na relação com os movimentos sociais. Um tema interessante e. importante no estudo do Direito! Aproveite.a leitura e bóns estudos! UNIDADE 1 Introdução à antropologia e à socio- logia jurídica Olá, Você está na unidade. Conheça «aqui as abordagens: de dois campos de estudos: «a Sóciologia do Direito é à Antropologia Jurídica. Para tanto, estudáremos o significado, 6 objeto e âmb i t oda Sociologia geral, a partir de uma perspectiva histórica, além do objeto e do significado da Antropologia Jurídica e da Sociologia aplicada ao Direito. Essas noções serão fundamentais para 6s conceitos estudados ao longo da disciplina e também pára uma melhor compreensão do fenômeno jurídico e suas implicações sóciais. Bôns estudos! x É a INIFICADO,OBJETOEÂMBITODASOCIOLOGIA Neste tópico, a proposta é compreender do que trata a Sociologia Geral, qual o seu objeto de estudo e o que ela aborda. Além disso, veremos sua origem histórica, com enfoque na figura de Augusto Comte é nó Poósitivisiho. Veremos que a Sociologia tem uma. énôrme relevância para às estudos sobre a sociedade, o que fortalece à pertinência da Sociologia do Direito pára qualquer aprofundamento nho campo jurídico. Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: objeto da Sociologia A Sociologia pode ser considerada uma ciência que tem por objetivo analisar os processos. e as estruturas sociais, ou seja, como se dá a vida humana em sociedade. À partir de diferentes perspectivas, o que os principais téóricos da Sociologia fizeftam foi oferecer explicações para se compreender a sociedade como um todo, em análises sobre alguns aspectos da estrutura social edas relações que se estabelecem no seu interior. Ao estudar as formações sociais e suas causas,a Sociologia se insere em uma análise acerça dao desenvolvimento histórico de tais formações, na med idaem que tenta.compreender os fatores: que levaram à uma dada situação social vivida em determinados contextos. Assim, pode-se dizer que a Sociologia está comprometida com os processos de transformação social, desvendando mistérios da vida social do passado e, através desse conhecimento, intervindo na realidade e contribuindo para à compreensão e construção do futuro, Dito de maneifa simplificada, o objeto de.estudo da Sociologia seria, então, as formações sociais passadas, presentes e uma espécie.de. projeção sobre as futuras (ROCHA, 2019. p. 10). O sociólogo José Manuel de Sacadura Rocha destaca também necessidade de que à como à Sociologia está comprometida cóm a ráflexão sobre as transformações sociais,seria difícil defender esse papel de agente de mudanças em um contexto: de autoritarismo-e estados de exceção (ROCHA, 2019, p. 10), Além disso, é importante pontuar a extrema relevâricia dá Sociologia para à compreensão do ser humáno acerca de si mesmo. Historicamente, o ser humano constitui-se de maneira social, isto é, em relação com outros seres humanos e com o ambiente que os cerca. Essas relações. ajudam a moldar, condicionare até determinar a forma como agimos, vivemose somos. Mesma que, nós possamos agir de maneira isolada e i nd i v i dua l ,ocomportamento continua sendo social, na medida em que sobre ele “ recaio peso da orientação coletiva de determinado grupo” (ROCHA, 2019, p. 11), Evidentemente; há sempre certo espaço para a ação individualizada e nem tudo é absolutamente determinado e condicionado socialmente. Mas não se pode negar a influência dos fatores sociais na constituição dos comportamentos humanos. Como exemplo, podemos pensar ria forma de utilização do tempo pelas pessoas, Por que tantas pessoas habitualmente acordam em uma faixa de horário similar, se locomovem ao-trabalho é retornam em horários semelhantes? À influência dos modos de produção de trabalho estabelecidos é perceptível, na medidá em que somos condicionados a utilizar nosso tempo dessa forma, Assim, quando se diz que à Sociologia estuda. processos e estruturas sociais, concretamente seu abjeto está presente em comportamentos. sóciais variados, como os modos de produção, à utilização do tempo, as hierarquias sociais, as estruturas de raça e gênero, po r exemplo, que implicam na vivência de determinadas experiências, as regras sociais tácitas e explícitas que ditam hossa forma de viver, dentre tantos outros exemplos possíveis. Todas essas condições da vida humana são construções realizadas ao longo do tempo pelo próprio ser humano, influenciado também pelas contingências contextuais. Isso traz à tona o papel constituinte do ser humano em geral, já que os grupos acabam por te r a capacidade de construir seu conjunto de regras, normas e comportamentos, que vão se modificando ao longo do tempo. Mesmo que seja possível entendeér o papel do ser humano riéssas transformações de maneira muito distinta conforme.a perspectiva sociológica adotada, 0 fato. é que as sociedades. são diferentes e sofrem modificações constantes (ROCHA, 2019, p. 12). Como essas transformações são absolutamente pertinentes:ao.estudo sociológico, não há toma negar a importância crescente da Sociologia no contexto atual, tão marcado por mudaánças é pelo d i r iamismo, através, sobretudo, das transformações tecnológicas. É fiesse sentido quê F. A. de Miranda Rosa (2004, p. 23) destaca a crise profunda em que:se encontram as:'sociedades humanas, más também a potencial transformador nelas existente: As contradições jntérnas.se manifestam ém forma dé explosões revéladoras. dê forças sóciais imensas, tepresas ou em curso; às populações aumentam áceleradamente e com isso as tensões 13 internas dos grupos sociais, ou ás tensões entre grupos: diferentes; à ideologia se apresenta: com Bnorme capacidade de polarização do pensamento e da ação; o sentido, mesmo, que deve-ter a v ida humana, é posto em questão; mas em meio aos problemas e aos conflitos, há uma vitalidade imensa, cheia:de espirito criador, da solidariedade, em que um novo ec lod i rdohumanismo se mostra, e quando. à procura de unidade-ho essencial rivaliza com a afiríóação das diferenças iferentes à personalidade. Étiotável, portánto, a impôrtância que sé deve dar à Sociologia no murido atua l ,Aó vivermdás tantas mudanças sociais, a tentativa de compreendê-las é sóbre elas refletir é um imperativo. Diante de tamanha complexidade da vida humaná em sociedade, especialmente nos diás. atuais, o objeto de estudo da Sociologia mostra-se bastante abrangente, Para Anthony Gidden's, então, a Sociologia é “o estudo da vida social humana,dos grupos e das sociedades”, ou seja, seu objéto está centrado no nósso próprio comportamento como seres sociais e sua abrangência é vasta, na medida em que inclui “desde à análise de encontros ocasiónais entre indivíduos ná rua até a investigação-de processos sociais globais” (GIDDENS, 2005. p. 24). Ainda segundo Giddens, a Sociologia traz vantagens para as pessõas em geral, pois-permite ao ser humano ter mais consciência das diferenças culturais, já que dá subsídios para que nós vejamos 6 mundo a partir de pontos de vista distintos do nosso. Além disso, 6 autor considera também que a Sociologia é uma importante aliada prática na avaliação dos resu l tadosde iniciativas políticas, na medida em que considera vários fatores pertinentes à atuação estatal na construção de políticas públicas, por exemplo. Por fim, Giddens destaca que a Sociologia pode nos fornecér certo auto-esclarecimento:“ (...) quanto mais: sabemos por que agimos como agimos:e como se dá o completo funcionamento de: nossa sociedade, provavelmente seremos mais capazes de influenciar nossos próprios futuros, ” (2005. p. 26). Percebe-se, portanto, que-a Sociologia abarca uma variedade enorme de visões teóricas sobre a realidade; que enriquece as análises e formas de compreensão do mundo, A Sociologia não é, éntão, um campo intelectual abstrato, mas ha verdade possui implicações. prática de extrema relevância para a vida: das pessoas, na med idaem que se debruça: sobre oscomportamentos, processos e estruturas sociais (GIDDENS, 2005, p. 36). “ Se o ” ”va * 4 PS NS == — VV " PsN - ê e bo+ À a l % à ! ; o) a é n i ) > = . *- ”.- % ), a a + 2 y e . = o- = ' , 2 - AP 1 ( . e é ” ONT " z a + & * ” - DA= HA ” s Figura 1 - Sociedade Fonte: Karavai, Shutterstock, 2020 Vemos:uma diversidadede pessoas diferentes, convivendo e interagindo no l o óque chamamos dê sóciedadé Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: OF EO ciologia: Augusto Comte e o Positivismo Para entender a origem da Sociologia, é preciso primeiramente esclarecer o contexto em due ela surgiu, nã França do século XIX. Aquela época, sentindo os efeitos da Revolução Industrial, a Frahça se tornava pouco a póuco uma sociedade industrial, marcada pela exploração de mão de 15 bra barata, sóbratudo de mulheres e crianças, em condições nítidas dê precarização, além de um fluxo desordenado de pessoas que salam do campo para as cidades; o que gerava problemas de habitação, higiene, alta mortalidade infantil, etc. (ROCHA, 2019, p. 14), Nesse contexto repleto de transformações e dificuldades sociais, surge a Sociologia, com o intu i todecompreender, por exemplo, 65 motivos pe los quáis a sociedade é estruturada assim e cómo e por que as sociedades mudam (GIDDENS, 2005, p. 28), questões pertinerites até hoje rios. estudos sociológicos. Embora não seja possível atribuir a criação desse campo: de estudo exclusivamente a uma pessoa, certamente o francês Augusto Comte (1798-1857) possui grande destaque na origem da d isc ip l ina ,jáque ele foi o primeiro teórico a usar o termo “Sociologia”, A perspéctiva adotada por Comte é à da ciência positiva. Pára 0 téórico, a Sóciólogia devefia adotar os mesmos: métodos científicos que a Física ou a Química para o es tudodo mundo físico: Assim, para o Positivismo,a ciência deve se preocupar apenas com aquilo que pode ser observável e conhecido através da. experiência. Tendo por báse as observações sensoriais, séria possível inferir às leis que regem às relações entre os fenômenos observados (SIDDENS,.2005. p. 28), Nas pálavras do próprio Augusto Comte, “ (...) todos 05 bons espíritos repetem (...) que sómente são reais 05 conhecimentós que repousam sobre fatos: observados” (COMTE, 1978, p. 4). Segundo Comte, o pensamento humano teria passado por três estágios na tentativa de tómpreensão do mundo: teológico, metafísico e positivo. No plano teológico, os esfórços eram guiados pelas: ideias religiosasé crênça segundo a qual a sociedade era a expressão da vontade divina. Já no estágio metafísico, ocorrido mais ou menos na época da Renascença, a sociedade pássa a ser vista da perspectiva. natural, e não sobrenatural. Por fim, no estágio positivo, influériciado pelas descobertas de Copérnico, Newton e Galileu, tem-se a aplicação de técnicas científicas (das ciências naturais) ao mundo social (GIDDENS, 2005. p. 28). Além disso, ainda no que diz respeito à primazia da experiência, preconizada por Comte, o, autor considera importantes dois principais fatores: a observação em si, ou seja, “o exame direto do fenômeno tal como elé se apresenta naturalmente”, e à observação do fenômeno já “modificado em circunstâncias artificialmente construídas” (SOUZA, 2008. p. 139), Diante da influência decisiva das ditas “leis fiaturais”, a concepção positivistá de Comte aduz que a evolução social está, na verdade sujeita, a essas leis naturais, que não podem ser madificadas pela natureza humana. Isso leva à inutilidade, do ponto de vista comteano, da Tesistência ao desenvolvimento inevitável da sociedade. Assim, como consequência lógica da teoria de Comte, chega-se a um dos pontos. mais importantes e também mais polêmicos de sua-teoria, que considera haver um determinismo no mundo soc ia l ,em que os fatos estão “L...) figórosamente encadeados uns aos outros, segundo léis naturais, que à óbservação filosófica do ” passado pode descobrir, e determinam, para cada época, de maneira inteiramente positiva,os. aperfeiçoamentos que o estado social deve experimentar” (SOUZA, 2008. pp. 139-140). De todo modo, à teoria positivista teve e ainda tem uma forte influência na concépção de diferentes conceitos e teorias nás mais diversas áreas do conhecimento, incluindo o Direito. Embora haja um grande determinismo ná explicação do mundo social, que deixá as análises. herméticas em alguma medida, sem dúvida Augusto Comte possibilitou importantes:formas de análise da sociedade e-dos processos e estruturas sociais inerentes à vida humana. 2. SIGNIFICADO E OBJETO DA SOCIOLOGIA E DA ANTROPOLOGIA DO DIREITO Agora, é importante nos determos mais sobre a Sociologia já nó contexto dó Direito. Como veremos, há uma enorme pertinência não só da Sociologia no campo jurídico, como também da Antrópologia. Por isso, véremos o que cada um desses famos tem por objeto e sua relevância para o Direito, além de diferenciarmos a Antropologia e a Sociologia do Direito. Concepçãoe objeto da Sociologia do Direito Após tratarmos da Sociologia geral compreendendo seu escopo, seu objeto é sua ofisgem, cabe agora melhór analisar sua pertinência nó estudo jurídico propriamente ditó, Comojá vimos; aSociologia sedebruça sobre os comportamentos, as estruturas e os processos sociais, buscando entender o funcionamento da sociedade como um todo. Nás sociedades contemporâneas, o Direito é entendido também como. o conjunto dé normas que regulam à vida sócial, servindo para dirimir-conflitos e estabelecer parâmetros de conduta (CAVALIERI FILHO, 2007. p. 7). Segundo José Manuel de Sacadura Rocha, a Sociologia aplicada ao Direito interessa-se pelo estudo do Direito com base nos fenômenos sociais. Isso porque as sociedades instituem regras e léis que oriêntam e obrigam os indivíduos em sua sobrevivência conjunta. Para o autor, “o objeto da Sociologia Jurídica é a contribuição que o determinado grupo humano empresta para a consagração e formalização dessas regras, ou seja, entender a norma, escrita (aparelho jurídico formal), ou não escrita (extrajurídico) ”, à partir de da relação dos fenômenos sociais com fórmações sociais específicas de cada sociedade (ROCHA, 2019. p. 23), Rocha (2019, p. 23) aponta algumas perguntas sobre as quais à Sociologiá Jurídica busca refletir, tais: como: qual a magnitude do Direito ha sociedade?;.60 que existe no Direito além de códigose dos conceitos meramente legislativos?; como e por que se cria um conjunto de-normas? O que tem seobservado já há bastante tempo é a insuficiência em re laçãoà compreensão dos fenômenos sociais pela Direito, o que frequentemente implica em etros de julgamento e 1 falhas sérias na efetivação da justiça. Isso se dá também com a efetividade das rormas jurídicas, por vezes produzida e interpretada com certo distanciamento da realidade fática vivida pelas péssoas. Assim, é nítido que o Direito positivado — estabelecido em normas, leis e códigos — não contempla todaá a complexidade da vida em sociedade. Os fenômerios sociais estão acima eantés dos: códigos legislativos e da formalização no-sistema jurídico (ROCHA, 2019. p. 23). Rocha chama atenção, ainda, às confusões comumente feitasem relação à Sóciologia Jurídica, Segundo o autor, por vezes juristas tendem a subordinar a Sociologia ao Direito, o que implica. em um privilégio equivocado da norma em detrimento da formação social. Para ele, “não é um erro simples; é , simplesmente,a supressão da ordem das coisas como estas são”, que pode resultar em um Direito desprovimento de movimento e flexibilidade para adequação à vida concreta (ROCHA, 2019, pp. 23-24). Erro semelhante é cometido, também, pelos cientistas sociais que retiram do Direito seu Papel ativo na sociedáde e submete-o integralmente aos fenômenos sociais, tratándo-o dê como um mero conjunto de normas para resolução de conflitos específicos (ROCHA, 2019. p. 24). Trata-se, igualmente, de uma visão reducionista é empobrécedora em relação ao Diréito. À relação entre os objetos da Sociologia e o Direito é dialética e dialógica, de constituição mútua: dá mesma forma que os fenômenos sociais constituem o Direito, tais fenômenos: são por ele constituídos, O Direito faz parte da realidade social; não pode ser visto.como letra fria esem vida, coma se sua existência não repercutisse diretamente na vida das pessoas: OD Direito tem de observar de perto essa dinâmica, a interação entre sociedade e no ra , encárar à Mudahça na medida exata da mudança das estruturas sociais e-de seu aparato jurídico, diante das expectativas e tensões pertinentes na vida prática dos agentes sociais inseridos em um contexto de fiadernidade. E, de forma igual, à Sociologia há de reconhecer'a perietração do Direito na vida-social (ROSA, 2004. p : 25). Nesse sentido, apesar dessa relação indissóciável entré a Sociologia é o Direito,épossível dizer que a Sociologia lurídica goza de certa autonomia, já que:seu objeto é mais específico em relação a outros campos do conhecimêénto. Segundo Cavalieri Filho, a Sociologia Jurídica tem por finalidade o estabelecimento de “(...) umá relação funcional entre à realidade social e às diferentes manifestações jurídicas, sob forma de regulamentação da vida social, fornecendo subsídios para suas transformações, no tempo e no espaço” (CAVALIERI FILHO, 2007. p. 58). É importante ter em mente, ainda, que a norma jurídica é resultado da realidade social. Conforme Rosaá: “Elá emana da sociedãde, pôr seus instrumentos é instituições destinados a formular o Direitó, refletindo o que à sociedade tem como objetivos, bem coma suas crenças. e valorações”, Aliás, o próprio estudo histórico das sociedades comprova isso, na medida em que é facilmenteé observável a existência de estruturas jurídicas bem distintas no tempo e no espáço, conforme à realidade e o contexto da momento (ROSA, 2004. p. 44). Sem nos determos 7 “ Se sobre este ponto, basta pensarmos nas: mudanças quê o-divôórcio sofreu ao longo-do tempo no sistema jurídico bras i le i ro ,com uma aceitação: muito: maior em relação às: décadas passadas; acompanhando também transformações sociais. Além disso, de Acordo com Rocha (2019), à Seciológia Jurídica tem algumas premissasdue Merecem ser destacádas brevemente: Premissas da Sóciologia Jurídica * Pluralismo Jurídico, ou se, à diversidade de concepções do que vem a.ser o Direito, das: fontes do Direito e das formas dé se sistematizar à juridicidáde em uma sociedáde, * Compreensão dafunção das normas * Eficácia normativa, ou seja,os efeitos.produzidos pela norma, Assim, 0 que se percebe com essas premissas é uma relação mais concretaque a Sociológia Jurídica estabelece com os fenômenos jurídicos, já que se referem àsformas de estruturação do Diréito e às normas em suá realidade prática é os seus efeitos possíveis. A Sociologia Jurídica, Mesmo que através de diferentes perspectivas teóricas, explora 05 fenômenos jurídicos em seus efeitos, causas, processos e. estruturas sociais, focando e olhar para o funcionamento da normatividade (em sentido lato) na vida social. io é objeto da Antropologia Jurídica Além da Sociologia do Direito, há um outro campo de estudo. sacial no Direito, a chamada Antropologia Jurídica. Da mesma forma que ocorre com à Sociologia, o objeto de estudo antropológico é abrangente e de difícil definição, já que se cóncentra também por aspectosda vida em sociedade. Olney Queiros Assis e Vitor Frederico Kiúimpél destacam esse caráter diversificado da Antropologia, que. aborda diferentes aspectos da realidade humana. No seu surgimento, em meados do Séxulo XIX, à Antropologia debruça-sé sobre as sociedades primitivas (ASSIS: et al . 2010: p. 17), a fim de entender suas formas de otganização, costumes; evolução no tempo e no.espaço etc. Posteriormente, já no século XX, a Antropólogia ampliá seu óbjéêto é passa à analisar não apenas as sociedades primitivas, mas qualquer sociedade em qualquer tempo, de modo que seu. objéto passaria a ser “ô estudo do homem inteiro”, Assim, ela visária o conhecimento por ctômpleto do ser humano, implicando no estudo do hómem e da cultura em todas as suas. dimensões (ASSIS et al.,2010. p. 17). Diante da complexidade.da vida humana, a Antropologia se divide em alguns ramos, com ÔÓ 19 enfoques diferentes. O primeiro ramo é 3 da Antropologia cultural, que consiste.segundo Assis et al. (2010, pp. 17-18): “ (...) no estudo de tudo que constitui as sociedades humanas: seus modos de produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua ofganização política e jurídica; (...) suas creniças religiosas, sua língua; sua psicologia (...)”. Temos, ainda, à Antropologia biológica. Nesse caso, o enfoque de estudo está voltado pará a Evolução do homem, sua distribuição em grupos étnicos, além da análise de relações entre patrimônio genético e espaços geográficos. Já a Antropologia pré-histórica, por sua vez, envereda- se pelo estudo dos vestígios materiais deixados nos ambientes ocupados pelo ser humano, na busca da reconstituição de sociedades e grupos desaparecidos, Por fim, a Antropologia linguística oeupa-se da linguagem enquanto patrimônio cultural de sociedade, considerando a relevância dos processos comunicacionais para à expressãode pensamentos, crenças e valores (ASSIS-et al., 2010). Evidentemente, todos esses ramos se entrelaçam de alguma maneira e possuem uma relação de complementaridade, Cóntudo, certamente os estudos da Antropologia cultural possuem maior repercussão no campo jurídico, já que seu objeto relaciona-se mais com o Direito.e com às. estruturas e formações políticas, normativas e sociais tão pertinentes ao Direito. Nesse sentido, a, Antropologia cultural é dividida entre a Etnografia e à Etnologia, consideradas métodos da pesquisa antropológica. Segundo Assis et al. (2010), podemos defini-las:como: *. Etnografia diz respeito ao trabalho de campo de obsefvação, descrição é ánálise dé gru- pós: humartos, considerando suas particularidades, * Etnologia busca utilizar comparativamente os documentos apreseritadós pelo etnógrafo; iritegrando conhecimentos de grupos, recónstituindo 6 passado de determinadas sócie- dades. Às conexões do Direito com a Antropologia são evidentes, visto que o ser humano constitui objeto central dessas duas áreas do conhecimento, motivo pelo qual temas como igualdade e diferença são, ao mesmo tempo, jurídicos e antropológicos. Além disso, 6 direito constitui um dos. àspectos da cultura, e esta constitui objeto específico da antropologia cultural. À ant ropolog ia ,tal como o direi to, também se interessa pelos conflitos sociais, principalmente no que diz respeito à intervenção normativa na decisão jurídica desses conflitos, bem como pelo desdobraménto da ordem jurídica diante das transformações culturais, sociais, políticas e econômicas, Quando inserida especificamente no estudo jurídico, então, a Antropologia tem por objeto o estudo do ser humano enquanto “sér normativo”, isto é, “(...) a utilidade e eficiência dás. regras de conduta a partir do conjunto de mecanismos culturais que cada grupo estabelece para sobreviver” (ROCHA, 2018. p. 36), Além disso, a Antropólogia jurídica permite déscobrire compreênder o Direito encoberto péla legislação, pela normatividade formal. Issoé importante também para que'a sociedade acomparihe “ Se às evoluções. jurídicas. para um Direito mais: flexível e maleável, por exemplo. Nesse sentido, 3 Pluralismo jurídico(sobretudo do ponto de vista normativo) ocupa igualmente um espaço de relevância para a Antropologia, na medidá em que se aceita com mais cláreza a existência de fiormatividades diferentes daquelas legislativas e estatais (ASSIS, KUMPEL, 2010. pp. 49-50). Como exemplo, Assis e Kliimpel destacam a normatividade existente em favelas do Rio de laneiro, onde há uma legalidade alternativa para resolução dé conflitos e soluçãode outros problemas comunitários, o que representa o exercício de um poder político alternativo, mesmo que de forma incipiente. Segundo os autores, à preponderância de procedimentos com mãáior oralidade e informalidade tem inspirado mudanças fio diréito estatal, sobretudo em tribunais de hequenas causas e na aplicação das penas ditas:alternativas (ASSIS, KÚMPEL, 2010. pp. 50-51). Ássim sendo, embora a Antropologia pareça ser complexa, seu estudo é pertinente pára o Direito justamente nas formas mais simples e cotidianas de normatividades e legalidades, que tMmostram formas de organização de condutas, bem como possibilitam à análise dos efeitos dãs normas estatais em grupos e comunidades, avaliando a recepção da legislação na sociedade. Figura 2 - Vista aérea da favela da Rocinha no Rio de Janeiro (RJ) Fonte: Donatas Dabravolskas, Shutterstock, 2020 fiParaCégaVer: Vernos uma foto aérea da cidade do Rio de Janeiro, destacando a favela da reinha, e a sua proximidade com bairros nobres. Nota-se o contraste entre. as construções da dos bairros vizinhos. p o Utilize 0 QR Cade para assistir ao vídeo: ARADIGMAS DO PENSAMENTO SOCIAL Ao refletirmos sobre os paradigmas do pensamento social, vamos focar em dois paradigmas principais: a Modernidade ea Pós-modernidade. Embora à princípio possa parecer uma tarefa complexa, veremos que se trata de entendêr os modelos e padrões de pensamento sócial em determinadas épocas, óu seja, compreender basicamente como se estruturam .os pensamentos. saciais a partir desses paradigmas tão importantes historicamente e na atualidade, Paradigmasdo pensamento social: a Modernidade Historicamente, podemos afirmar que a Modernidade tem início com a Revolução Francesa, acorrida no fim do século XVIII. Esse contexto foi marcado pela tomada do poder pela burguesia, e pelo surgimento de novas concepções filosóficas de mundo, como o Iluminismo, com a defésa da “(...) crença na razão como promotora de progresso é da felicidade, a rejeição ão governo absolutista e aos privilégios-da nobreza e do clero, e também a:crítica à interferência da igreja nas questões de Estado” (ESCOBAR, 2010. p. 72). Coma influência das ideias iluministas, cresceu também a defesa de um governo regido por leis, que protegeria os cidadãos contra abusos de poder por parte dosgovernantes e consagraria a igualdade formal entre os cidadãos. Além disso, o Racionalismo igualmente passou a ganhar importância, de modo a propugnar a razão como instrumento de solução dos problemas vividos. Paralelamente. a esses fatos, inovações tecriológicas foram pouco à pouco implementadas na sociedade e o modo de produção capitalista substituiu as formas econômicas feudais (ESCOBAR, 2010. pp. 72-73). A Modernidade trouxe, portanto, uma oriêntação pará o futuro, havendo um sentido de continuidade e descontinuidade, ordem e caos, estabilidade.e instabilidade (BEZERRA, 2011, p. 180).A potencialidade de transformação da.Modernidade veio nãosó das mudanças tecnológicas, ” mastambémda aspectos epistemológicos,Isto é,em relação àquilo:que passou a'serconsiderado válido como conhecimento e saber. Árites, o ser humano estava de certa forma preso às certezas dás. perspectivas. míticas e feligiósas que predominavam ná maneira de se entender o mundo e.o próprio ser humano. Além da importância do Iluminismo na Modernidade, o Universalismo também apareceu como à dimensão generalizadora dó projéto civilizatório pénsado nessa época, de modo que se léváva em tonta postulados com a pretensão universalista acerca da natureza humana pará se compreender o ser humano de, maneira homogênea. Assim, quaisquer conflitos poderiam ser resolvidos:a partir déssas noções aplicáveisatodos em qualquer contexto (BEZERRA, 2011. pp. 182-183). É preciso ressaltar, ainda, que essamudança na maneira-de enxergar o mundo-e 0se r humano, tóm uma valofização do pápel dá fázão em detrimento do périsaménto mítico-feligióõso, não efa homogênea. Diferentes perspectivas s i tuadas:na tradição máderna chocaram com abordagens. diversas:e até críticas a alguns aspectosda própria Modernidade, como é o caso: de Karl Marx e Max Weber, que verermas melhor nessa disciplina, De-todo modo, a Modernidade ficou caracterizada pelo surgimento de um sujeito autônomo, com pretensões mais claras. de liberdade e que passou a enxergar na sua existência com um pótericial de transformação da realidade posta, sobretudo através da racionalidade agora colocada em destaque. mento social: a Pós-Modernidade Diantedos sérios problemas vividos na Modernidade, como as duas grandes Guerras Mundiais, a ascensão de regimes Totalitários e as crises econômicas no mundo afora, os fundamentos do pensamento moderno começaram à ser questionados e dar lugar a outrás ideias e lutas até então relativamente silenciadas nos pelos paradigmas dominantes. Assim, nas:décadas:dê 1960 e 1970, apareçey o que se convencionou chamar de pensamento pós-moderno, Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, surgiram outras categorias de sujeitos e de entend imentoem relação à própria vivência humana: “Emergem novas categorias sociais:i-o colonizado, a raça, a marginalidade, o gênero e similares”, além de uma crescente contestação por parte das populações de países tidos como “periféricos” (BEZERRA, 2011. p. 191). Assim, a Páós-Madernidade fundou-se há crítica à crença moderna na razão como instrumento Para emancipação universal do ser humano, como se a história fosse um processo unitário que, por meio de formas universais, pudesse levar a humanidade ao progresso, Porém, “[...) pensar a história como processo unitário só era possível porque tal pensamento se ancorava na existência de um centro à partir de onde se recolhiam e ordênavam os acontecimentos” (BEZERRA, 2011, p. 195), Í | x 23 A Na Pós-Modernidade, há um entendimento de quê existem diversas narrativas nas. sociedades e.na humanidade em geral, de modo que considerar a história-como tal um processo unitário seriá ignorar éssás tantas e variadas formas de vivências, Nesse sentido, alguns teóricos [como Vattimo) entendem que às mídias de massa contribuíram para esse processo ao dar voz a essas novas: narrativas, mesmo que essas mesmas mídias tenham contribuído também para a massificação ehegemonia de determinadas estruturas culturais (BEZERRA, 2011. p. 196). Para Jean-François Lyotard, a Pós-Modernidade é caracterizada pela incredulidade-em relação aos “metarrelatos”, óu seja, a uma grande narrativa que explica o ser humano e o mundo, como à da Modernidade a respeito da razão como instrumento para 0 progresso histórico, Assim, a função narrativa “(...) sedispersa em nyvensde elementos de linguagem narrativos; mas também denotativos, prescritivos, descritivos etc., cáda um veiculando validades pragmáticas sui generis” (LYOTARD, 2009. p. xvi). Como consequência dessas alterações quê decomipuseram os “grandes relatos”, Lyotard acredita que houve a dissolução do vínculo social e a passagem de coletividades sociais a uma Massa composta por átomos individuais. Nesse processo, a comunicação e 05 jogos de linguagem ganham cadaá vez mais centralidade (LYOTARD, 2009, p. 30), como fôi dito a respeito das mídiás. de massa, por exemplo. Segundo Bauman, Ká um :amontoamento das diferenças, que sê tornam objeto de disputa, com estilos e padrões concorrêntes. Trata-se de um suposto amor à diferença, em quê todos devem se mostrar seduzidos pela “(...) infinita possibilidade e constante renovação promovida pelo mercado consumidor, de se regozijar com a sorte de vestir edespir identidades, de passar a vida na caça interminável de cada vez mais intensas sénsações” (BAUMAN, 1998. p. 23). Dessa forma, é importante pensar a Pós-Moderhidade como à época da relativização dasgrandes narrativas e de certos valores que eram tidos como pretensamente universais, como a crença no progresso natural da humanidade e na razão como instrumento para tal. E, nesse contexto, surgem fiovas identidades sociais, novos comportamentos que brigam por espaço, sendo que o. O caráter cibernético e informatizado da sociedade é um traço marcante das novas formas de comunicação e entendimento da reálidade, tornando essa nova realidade fluida e mais mutável. FIQUE DE OLHO Há nó Brasil, nos últimos anos, novás correntes sociológicas quê vêm apresentando visões diferentes sabre a realidade brasileira, com noções de intersecciónalidade e as problemáticas de raça, gênero, classe etc, além das perspectivas chamadas de “decoloniais”, que buscam tonstruit um conhecimentoa partirde paradigmaspróprios da vivência brásiléira é periférica. Nesta unidade, você téve-a aportunidade de: aprender que a Sociologia busca estudar as estruturas, processosecomportamentos: sociais, de modo à tentar entender o funcionámento dá sociedade; compreender o Positivismo, como uma das formas originárias da Sociologia, marcado pelá crehiçá de que à sociedade é regida por leis universais, tal como as ciências naturais; entender a Sociologia do Direito como uma disciplina qué foca na análise da normatividade na vida social, observando os fenômenos jurídicos em seus efeitos e. causas has êstruturase prócessos sociais; analisar as diferenças entre a Sociologia do Direito e a Antropologia do Direito que foca na análise da normatividade na vida social, observando os fenômenos jurídicos em seus efeitos e causas nas estruturas e processos sociais; compreender que à Antropologia jurídica tem por objéto o ser humario enquanto ser social, a partir da observação de comportamentos de grupos esaciedades; analisar a Modernidade e a Pós-Modernidade como como paradigmas do pensamento social, em que a primeira diz respeito à primazia da razão como forma: de compreênder o mundo e como instrumento para o progresso da humanidade, é a segunda é fortemente marcada pela fluidez e relativização de identidades é comportamentos,bem como pe la inexistência de metanarrativas para a sociedade. ASSIS, étà l . Matiuál dê aritropólogiã jurídica —São Páulo: Saraiva, 2011, BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rió dê Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BEZERRA, T. C. E. “Modernidade:e pós-modernidade:uma abordagem preliminar”. In: Textose Debates (UFRR), v. 1 , p. 176-202, 2011. CAVALIERI! FILHO,S:Programa de Sociologia Jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2007, COMTE, A. Curso de filosofia positiva, São Paulo: Abril Cultural, 1978. ESCOBAR, K. Modernidade e pós-modernidade: ptomessas, dilemas é dafios a condição humana. Cadernos UniFOA (Impresso), v. 12 , p, 71-80, 2010. GIDDENS, A, Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005, LYOTARD, | . À condição pós-moderna; Rio de Jáneiro: José Olympio, 2009. ROCHA,| . M. de S. Sóciológia Jurídica: fundameritos e fronteiras — 62 ed. Rio-de Janeiro: Forense, 20159, ROCHA,1.M. de S. Antropologia Jurídica: Geral-e do Brasil. 52:6d, Salvador: JusPodivrm, 2018. ROSA, F. 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As interseções da nhbra destes autores com o Direito também serão abordadas:nesta unidade, Bons estudos! 29 Le:NWDIVÍDUO, CULTURA E SOCIEDADE Neste tópico, analisaremos com maior detalhe algumas nuances importantes para o estudo da Sociologia e Antropologia do Direito: a cultura por uma perspectiva antropológica; cultura e sóciedade; crime e desvio social, São aspectos de grande relevância para.o éstudo dó Direito, uma vez que dizém respeita à fenômenos sociais abárcados pelo âmbito jurídico ém geral. UtilizeoOR Code para assistir ao vídeo: da cul tura O entendimento dá Ciência Social a respeito do que significa 6 termo “cultura” é que fenômenos ele compreende se modificou sensivelmente ao longo dos últimos séculos. Antes. do surgimento e consolidação da Antropologia como disciplina — ocorrida a partir do século XIX - ; a visão predominante entre filósofos e historiadores europeus. apresentava uma concepção acerca do fenômeno cultural que John Thompson (2000) denominou como concepção clássica de cultura, por vezes também denominada:como normativa, O termo era frequentemente associado a um processo de desenvolvimento é enobrecimento das: faculdades humanas, o qual seria. facilitado pela assimilação de trabalhos artísticos e acadêmicos e estaria ligado ao caráter progressista da Modernidade é da racionalidade do beríodo luminista. Este último elemento, ligado à perspectiva clássica, foi alvo defortes críticas e é uma das. principais. razões para que esta perspectiva tenha sido superada na produção acadêmica: ela indicava umaã supérioridade de certos valores e ófícios em relação a outros e apresêntava conotação fortemente eurocêntrica, dando centralidade excessiva ao legado Iluminista (LOPES, 2014). O desenvolvimento do-campo antropológico na segunda metade do século XIX, associado à proliferação dos trabalhos etnográficos na disciplina voltados a comunidades fora da Europa, impulsionou mudanças na concepção predominante sóbre o conceito “cultura”, abrindo espaço, inicialmente, para a chamada concepção descritiva. O primeiro conceito propriamente antropológico de cultura, e labo radopor Edward Taylor, considera o fenômeno como “(...) todo o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou Kábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TAYLOR apud LARAIA, 1997, p. 25). Históriadores culturais é antropólogos da época, ainda que adotando inovações: e particularidades a partir da ideia apresentada - como, por exemplo, o particularismo € o relativismo da abordagem de Fránz Boas, e o funcionalismo de Bronislaw Malinowski —, partilhavam à perspectiva de que à cultura de um grupo se refere às ideias, valores, crenças é costumes, assim comoa-.os instrumentos materiais e.objetos tangíveis que os indivíduos adquirem enquanto membros de determinada sociedade. Ao mesmo tempo, se verificavam divergências entre os pesquisadores da época acerca do feferêncial dê aplicação desté conceito —se'a partirdeuma ótica evoluciônista, ou óbjeto de u ia análise funcional (LOPES, 2014). Dentre as ressalvas feitas por antropólogos à perspectiva descritiva, estariaii a excessiva amplitude e vagueza do conceito de cultura, que poderia se tornar redundante, confundindo- se com o próprio termo “Antropologia”, quando não associado a uma maior especificação do método de análise. Para contrapor-se a este problema, desenvolveu-se a concepção simbólica de cultura, inicialmente esbocada por L. A. White. O autor considerou que o ser humano e a cultura são inseparáveis e interdependentes. À atribuição de símbolos e dos significados seria uma capacidade inerente à humanidade, e .à cultura seria realizada por meio destes .atos de simbolização (WHITE, 2009). Esta conceituação influenciou a éonstrução dá perspéctiva semiótica de Clifford Géertz,.que colocou o-tema da cultura em posição de centralidade nos debates da disciplina. Na conhecida obra A interpretação das culturas, Geertz (1989) avalia que, ainda que em seu sentido mais amplo a cultura diga respeito à toda produção humana material e imaterial, esta é uma teia de significados teêcida pelo homem, que orienta sua existência. Trata-se de um padrão de significados, representados na forma de símbolos, que interage em meio às relações comunicacionais dos indivíduos de forma recíproca. O áutor define símbolo como qualquer ato; objeto, acontecimento ou relação que represente um significado, As diferenças entre estas. duas concepções poóssuém implicações profundas na pésquisa antropológica. Enquanto a análise simbáólica visa elucidar padrões de significado e interpretar os mesmos de forma incorporada às formas simbólicas, -a pesquisa orientada pela abordagem 3 descritiva se volta à-classificação e à análise científica, interdependência funcional &.mudariças. evolutivas (LOPES, 2014), Os opositores da concepção simbólica, como Thompson (2000), alegam a debilidade da mesma para considerar questões relativas ao poder e ao conflito, a negligência aos contéxtas sociais onde se produzem e transmitem os fenômenos culturais. Este antropólogo buscou formular à chamada concepção estrutural dá cultura, à qual buscafia investigar os contextos é próceéssos historicamente específicos é socialmente estruturados nos quaisformas s imbó l i cassão produzidas, transmitidaserecebidas (THOMPSON, 2000). Emtal ótica, os fenômenos culturais são percebidos como formas simbólicas socialmente contextualizadas; enquanto que a análise cultural trata do estudoda constituição significátiva é da contextualização social das mesmas (LOPES, 2014). A abordagem estrutural se difere. da simbólica e apresenta uma vantagem analítica em relação à mesma, portanto, ao enfatizar, ao mesmo tempo, o caráter simbólico dos fenômenos Culturais é o fato de que esses fenômenos estão sempre inseridos em contextos socialménte estruturados — que envolvem conflitos; relações de dominação (muitas vezes cristalizadas no direito) e desigualdades na distribuição de recursos (LOPES, 2014). A construção das abordagens simbólica, semiótica é estrutural da cultura foram resporisáveis. diretamente pela ascensão do status elevado atribuído ao tema da cultura a partir da década deé 1960. Um marco neste sentido é à criação da área interdisciplinar dos Estudos Culturais, tu jós prihcipais colaboradores foram Raymond Williams e Stuart Hall. Com isto, a cultura passa a exercer um papel de destaque nas discussões acadêmicas e sociais envolvendo a estrutura e a organização da vida cotidiana das pessoas, a partir da compreensão de que toda a prática social, sêndo prática discursiva, possui uma dimensão cultural (GODOY; SANTOS, 2014), Na'Sociologia, o conceito de cultura diz respeito aos aspectos aprendidose partilhadós pelos. membros da sociêédadee que permitem a comunicação e cooperação entre indivíduos e grupos. Ele se refere ao contexto em que os eles vivem suas vidas e envolve tanto aspectos tangíveis (tecnalogia, objetos, símbolos) coma intangíveis (valores, ideias e crenças) (GIDDENS; 2008). Embora haja distinções conceituais entre ostermos “cultura” e “sociedade”, há fortes conexões eritre eles. Sociedades são, nás palavras de Anthony Giddens (2008), sistemas de interrelações que envolvem coletivamente um conjunto de indivíduos. Uma sociedade pode englobar milhões. de pessoas ou apenas algumas dezenas delas, mas o elemento que faz tanto uma gigantesca Nação, quanto uma pequena tr ibo indígena ser conceituada com o mesmo termo, é a organização destes dois. conjuntos em relações sociais estruturadas à partir de uma cultura comum. Desse modo, culturas não podem existir sem sociedades e vice-versa, Consequentemente, variações culturais identificadas entre seres humanos se relációonam fortéámente com as diferenças entre 1 “ Se tipós de sociedade diversos. Tódasas culturas sê orientam por um cónjunto de ideias abstratas ou valores, ós quais atribuem significados é orientam os indivíduos na interação com o mundo social, e que definem o que é importante, desejável ou útil (GIDDENS, 2008). Os valores de uma determinada cultura usualmente são refletidosou incorporados nas regras de comportamento (normas) da sociedade, reforçando em mão dupla o comportamento das pessoas. Muitas vezes, hábitos culturais:estão de tal forma:enraizados e naturalizados que sequer são percebidos como tais, e podem persistir ainda que setores da sociedade ém questão atuem ativamente para modificá-los. FIQUE DE OLHO À pesquisa sociológica tem como pressuposto de que uma cultura precisa ser estudada considerando os seus próprios valores e significados. Este relativismo cultural é necessário para que se evite uma conduta oposta e que pode ser danosa para a disciplina: o etnocentrismo, ou seja, realizar juízos dê valor acerca de culturas diferentes tendo como Medida de comportamerito à cultura dé origem do pesquisador. Tal procedimento envolve desafios, especialmente em casos limítrofes que coloquem em questão comportamentos que atentem a princípios centrais e fundamentais para outras culturas. Como à cultura se refere a elementos que são aprendidos e não inatos, também interessa O processo pelo qual 05 membros da sociédade aprendém e apreendem os modos de vida da comunidade em que se inseriram. À socialização é o principal canal de transmissão cultural ao longo do tempo, e se trata de um processo vitalício e contínuo de configuração do comportamento humano através das interações sociais (GIDDENS, 2008) — aspecto temporal este que também é decisivo na modificação gradual de hábitos e valores adotados icomunitariamente, A socialização, embora seja processo fundamental de immolde e influência do comportamento dos indivíduos, não anula a individualidade ou o livre arbítrio dos mesmos. Ela é vista como condição e origem da formação da identidade dos seres humanos, que organiza o sentido e a experiência de suas vidas — quem eles são, o que é importánite pára os mesmos e quais atributos eles reivindicam para si. Em sociedades modernas de grande porte, também é comum que existam valores e ideias. contraditórias e em disputa, conflitos estes que não raro alcançam o terreno da política e do direito. Nesse aspecto, o elemento demográfico contribui deforma decisiva: há uma tendência de. que soc iedadesde grande porte apresentem maior nível de diversidade cultural e, inversamente, 3 que sociedades de pequena dimensão apreséritem maior uniformidade cultural. Néste caso, elas. são:chamadas de monoculturais (GIDDENS, 2008). PS 3 É importante ressaltar, contudo, que isso não é uma regra geral: sociedades com dezenás. dê milhões de habitantes (como o Japão) podem apresentar menor diversificação que nações de menor porte, sobre as quais incidiram fortes influências externas, imigração e integração econômica, bem como aquelas com grande diversidade étnica interna (como diversos países. ocidentais, a exemplo dos Estados Unidos). Estes processos se intensificaram nas últimas décadas, fazendo emergir o queo sociólogo Anthony Giddens denominou como culturas mistas, ou contribuindo para a proliferação de subculturas, Estas nião se resumem àa grupos linguísticos ou étnicos minoritários em uma comunidade, mas se referem a “qualquer segmento da população que se distinga do resto da sóciedade em virtude dos seus padrões culturais” (GIDDENS, 2008, p. 25). Ao mesmo tempo, também se verificam setorês sociais que optam por rejeitar e/ou questionar parte das hormas e valores hegemônicos em uma determinada sociedade, valorizando condutas alternativas, oque se denominou contracultura. Diversos autores e correntes teóricas abordaram, sob úticas específicas, fenômenas relacionados à cultura nas sociedades contemporâneas. Sem a. pretensão de esgotar todas: às abordagens relevantes no campo da Sociologia à partir de meados doséculo XX; indicamos aqui algumas outras perspectivas influêrites: Desênvolvida pelos intelectuais da chamada Escola de Frankfurt. Nó que sê refere aos estudos sobre a cultura, formulou o conceito da cultura de massa,é uma erítica de longo alcance da indústria cultural — espaço que promove a padronização e comercialização de expressões artísticas, transformadas em mais umaá mercadoria — ambos fenômenos típicos das sociedades capitalistas contemporâneas A noção desenvolvida pelo sociólogo francês se refere aos átivós sóciáis e conhecimentos culturais específicos dos indivíduos aptos a conferir status: social e poder aos mesmos numa sóciedãde estratificada. A noção desenvolvida pelo sociólogo francês se refere aos ativos sociáils e conhecimentos culturáis específicos dos indivíduos aptosà conferir status social é poder dos Mesmos numa sociedade estratificada, Perspectiva de que os direitos culturais'são exprimidos na defesa de atributos: particulares; mas':cuja defesa possui um sentido universal. Nestes estariam inseridos, segundo o autor, diversas daschamadas lutas “identitárias” modernas, de Minorias étnicas, sociais, feligiósas ou sexuais. “ Se 34 Figura 1 - Diversidae étnico-racial Fonte: Rido; Shutterstock, 2020 Como indicado anteriormente, a vida humana em comunidade enivolva a adoção de uma série de valores e ideias, que acabam por nortear 6 desenvolvimento de normas e regras de conduta nestas sociedades. Em certa medida, trata-se de elemento essencial para a própria existência é sustentabilidade das sociedades. À depender do arranjo é da complexidade dessás regras, &las podem assumir formas escritas ou não escritas, positivadas num sistema legal ou seguidas. pela mera usa ou costume, De qualquer forma, elas delimitam quais condutas são consideradas corretas ou não na vida social. A adoção de determinadas regras implica, hécessariameênte, duas possibilidades aós indivíduos que a elas se sujeitam: respeitá-las ou não. Nó segurido caso, caracteriza-se o comportamento desviante; tema de importância central para o sistema jurídico e político estatal, e que historicamente atraiu o interesse do estudo sociológico por conta de suas definições, características e de suas diversas implicações. O desvio pode ser definido, portánto, como ações ou omissões (praticadas individualmente óu em grupo) que não estão de acordó com um certo conjunto de nórmas aceito po r um número significativode pessoas de uma sociedade. A não conformidade às normas sociais tende a ser acompanhada por umaã sanção, que corfesponde a qualquer reação de terceiros ao comportamento de um indivíduo ou grupo com o objetivo de assegurar à cumprimento de uma norma (GIDDENS, 2008). o .35 Assim como é virtualmeênte impossível que um indivíduo apresente um comportamento desviante total, desrespeitando em sua integralidade as normas de-sua comunidade, certamente também é extremamente comum quê pessoas rompam, parcial e ocasionalmente, com as fegrãs de seu entorno. De qualquer forma, este conceito tem gránde ámplitude e correspondea um fenômeno que abarca uma quantidade maiór de condutas do que, por exemplo, o que é regulado pelo -direitó, espaço no qual se insere asviolações à lei e conceitos coma o ato ilícito e 6 crime. Nesse sentido, existem duas disciplinas que se voltam, de forma mais estrita, ao estudo do désvio social. A Sóciológia do desvio procura compreender a razão de certos comportamentos serem vistos como desviantes, variações das noções relativas ao desvio numa comunidade, dentre outros temas, sem se resumir aos desvios considerados ilícitos ou crimes pelo direito. Quando o objeto e o espaço da reflexão científica é o espaço dos comportamentos sancionadás pela lei, e máis especificamente abarcados pelo Direito Penal e o sistema de justiça criminal, estamos no espaço da Criminologia. Esta, assim como o Direito Penal, possui em seu interior teorias e-abordagens metodológicas relevantes com pouco contato com a Sociologia do desvio, como as de fundo psicológico ou psicanalítico; o estudo da microfísica das relações sociais, a genealogia do poder e a análise da metamorfose dos métodos punitivos de Michel Foucault em Vigiar e punir (FOUCAULT, 1987), dentre outras. Nessa unidade, nos centraremnos nas perspectivas teóricas que influenciaram historicamente as três disciplinas. “1 Teorias é abordagens históricas sobre o desvio é 6 crime: a Escola tivista A primeira perspectiva de destaque que tangencia a Sociologia do desvio, a Criminologia-e:-o Direito Penal é à chamada Escola Positivista. Esta se contrapôs à teoria clássica do Direito Penal ancorada ha obra de Cesare Beccaria e nó Iluminismo, passando a abordar como objeto de estudo o:criminosa e 0 seu comportamento. Logo, o delito e o delinquente são considerados patologias sociais, devéndo a pena ter um propósito utilitarista (BITTENCOURT, 2013). seus principais nomes — ós italianos Enrico Ferri, Raffaele Garófalo e, especialmente, Cesare Lombroso -, defénderám a possibilidade de se identificar a existência de uma determinação biológica, inata, sobre o fenômeno da delinquência. Ainda que a socialização pudesse influenciar na manifestação do comportamento criminoso, certos indivíduos teriam traços físicos e arniatômicos que poderiam ser identificáveis e associados à criminalidade, associáveis a um estágio mehos desenvolvido de evolução humana (BARATTA, 1999). O conteúdo racista e evolucionista, de impacto político e social danoso até os dias atuais fo i rechaçado pelas perspectivas sociológicas posteriores, Ainda qué a escóla Positivista teriha corntribuído para o fornento do olhar científico para 6 fenômeno da criminalidade, este era concebido como umfenômeno oritológico, um dado da realidade anterior à realidade social e que não se constituía a partir das definições desta, às do consenso: ofuncionalismo A partir da obra de Émile Durkheim desenvolveram-se às Teorias funcionalistas sobre o cr ime e£.0 desvio, também chamadas de Teorias do Consenso. Para ele,.as razões do desvio não envolvem fatores biológicos e naturais. Este fenômeno é visto como àálgo inerente à toda estrutura social, e pássa a ser negativo apenás quando sé segue a éste uma desorganização social de ta l modo que provoque uma situação anômica (conceito que será retomado na sequência da unidade). Dentro de limites funcionais, este tipo de comportamento é necessário para o equilíbrio.-e o desenvolvimento social é cultural, ao impulsionar hovos desafios no seio da comunidade e ao contribuir pára a manutenção. de limites claros entre.comportamentos saudáveis e danosos à mesma, provocando fespostas que reforcem a solidariedade.do grupo (BARATTA, 1999: GIDDENS, 2008). Esta visão foi parcialmente modificada por outros nomes célebres do: campo das Teorias do cónseérnso: as teoriás dos grupos subculturais & às de Rôbert Merton (referência dá chamada Escola de Chicãgo). Este agregou a influência da desigualdade econômica e de oportunidades no fenômeno criminal, alterando p conceito de anomia, aqui considerada como uma tensão sobre o comportamento dos indivíduos frente ao conflito entre a realidade social concreta, às normas aceitas e as práticas culturais valorizadas na sociedade, A partir disto, formulou-se um modelo teórico com cinco modelos de adequação dos indivíduos no meio súcial, variando da conformidade à rebelião. já do etiquetamento Outra tradição sociológica despontou a partir de meados do século XX, denominada interacionista. Esta fo i a primeira: a romper de forma marcada com a concepção ontológica do crime, rejeitando à noção de que há condutas desviantes ou criminosás por natureza e passando à percebê-los cómo fenômenos socialmente construídos (GIDDENS, 2008). Dentro desta perspectiva, destacam-se duas teorias. Primeiro, a da associação diferencial, formulada por Edwin Sutherland, que sugeria que o desvio poderia ser aprendido por meio da interação com óutros em determinados ambientes, utilizando comofenômeno específico de análise os chamados crimes de colarinho branco, cometido por indivíduos: de classes sociais mais abastadas. O interacionismo contribuiu para o desenvolvimento de outra perspéctiva dotada de maior criticidade com o seu óbjeto de análise: a Teoria do etiquetamento, ou “labeling approach". À “desnaturálização” do crime e do criminoso levou a questionamentos de implicáções iTiais profundas relativas ao sistema de justiça criminal. O foco desta abordagem passou a ser as. instâncias legais e-institucionais que definem o que é 9 delito; os mecanismos de reação social a 37 da criminalidadefoi substituído pelos estudos da criminalização (ANITUA, 2007). Referência de estudo que par te de tal perspectiva é o livro Outsiders, de Howard Becker, escrito entre os-anos 1950e 1950 (BECKER, 2008 [1963]). Ainda que possua caráter notadamente contestatório e com póntos de contato com as teoriás do conflito, a abordagem do etiquetamerito tinha um enfoque em processos microssociológicos, ém detr imento de análises de caráter estrutural é sistêmico. Logo, não tinha como objeto de análise os processos sociais de fundo que condicionavam o fenômeno da violência e-aorganização da política criminal nas sociedades capitalistas contemporâneas. torias doconflito e a Crimnologia crítica Com estes aspectos em mente, e partindo de premissas e marcos teóricos distintos dos funciónalistas é interacionistas, surgiram à partif dos anos 1970 perspectivas téóricas voltadas à criminologia denominadas Teorias do conflito. Esta teoria partia geralmente. do pensamento marxista, e tinha como referências a relação direito, marxismo e sociologia. Dessa forma, após a publicação do livro The New Criminology, de Taylor e t al (TAYLOR et àl., 2013 [1973]), fomentou-se um campo que sustentava que o desv ioéuma opção deliberada e não raro de natureza política; inserida numa soc iedadeem estado de constante tensão e luta pelo poder; e estruturada de acordo com os interesses da classe-dominante, sendo, assim, o sistema de justiça um das meiós de controle da classe dominada. lúnto com outras perspectivas filosóficas, sociológicas e jurídicas também de alcancé radical — âssóciadas ao existencialismo, ao pós-estruturalismó e aó pensamento anarquista - , elas 6 grupo associado à chamada Criminologia crítica, cujas propostas oscilam entre a ampliação e estruturação de limites rígidos e especificados à pretensão punitiva estatal; tendo ainda contatós com o positivismo jurídico (garantismo penal); passando pela orientação jurídico-política de redução do direito penal; por uma política criminal afeita a meios não encarceradores de responsabilização de condutas desviantes (minimalismo penal); até os postulados pela abolição total da pena privativa de liberdade, da instituição prisão e, em sua iristância mais radical, à abolição de-toda intenção punitiva - o abolicionismo penal (ANITUA, 2007), FIQUE DE OLHO Você já refletiu sobre a realidade do sistema de justiça criminal e das prisões brasileiras? No gráfico sobre o aumento da população carcerária entre 2005 e 2016, observarmos que à população carcerária brasileira quase dobrou em dez anos, passando de 401,2 mil para 726,7 mil, entre 2005e 2016. Desde os anos 1990, podemos observar um processo de ampliação: da complexidade e da. dureza da legislação penal e processual penal brasileira, ainda que o Erocesso não seja univoco, com à ampliação de alternativas penais, hipóteses de medidas cautelares e a instituição da audiência de custódia. Para compreender a política criminal contemporânea brasileira, sugerimos o documentário brasileiro Sem Pena (Dir: Eugenio Puppo, 2014), disponível no link: https://www.voutube.com/watch?v=bSRDgBSGWVW88). Por fim,.nas últimas décadas também sedesenvolveram de modo mais destacado perspectivas fadicalmente distintas à Criminologia crítica e às Teor iasdo conflito: as Teorias: do controle social, Estas usualmente ignoram às processos sociais que fornecem o contexto das atividades criminosas, partindo da premissa de que os indivíduos agem racionalmente, atentos às oportunidades e aó custo-benefício da atividade criminosa. Ao formular propostas de prevenção e repressão à criminalidade, o foco não é a reabilitação dos indivíduos, direcionândo-se a técnicas e dispositivos de dissuasão. À sua versão mais radicalizada é a chamada “política de tolerância zero”, sendo uma de suas variações mais conhecidas a chamada “Teoria das Janelas Quebradas”, implementada de forma controversa em Nova lorque nos anos 1990, Outras perspectivas similares envolvem à chamado “atuarialismo” - voltado à gerência do sistema penal efetivamente existente e ao controle de “grupos de risco” - , o Direito Penal do inimigo, dentre outras. As diversas perspectivas apresentadas acima permanecem em discussão e embate, sejá no âmbito acadêmico, no social ou no pálítico — sendo que o direito, e, mais especificamente,o Direito Penal e à política criminál dos Estádos contemporâneos possuem dispositivos orientados. pelas premissas de diversas teorias, em intensidades distintas. 39 Figura 2 - Complexo policial de Teixeira de Freitas (BA) Fonte: Rido, Shutterstock, 2020 SOCIOLOGIA FUNCIONALISTA DE EMILE DURKHEIM Agora, nos deteremos sobre as principais correntes da Sociologia clássica, abordando sua relação com o Direito. Para tanto, veremos resumidamente como se fundaram os pensamentos de.Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, Estes três teóricos podem ser considerados os mais importantes da Sociologia moderna e influenciam até hoje outras tantas correntes teóricas em diversas áreas, tendo especial importância também para o estudo do Direito. Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: O francês: Émila Durkheim (1858-1917) produziu obra de vasto é permanente impaétto no campo da Sociologia, tendo contribuição central para a consolidação da disciplina e do caráter científico da mesma. O sociólogo buscou analisar fenômenos da vidá social com maior figor é óbjetividade em re laçãoa outros pioneiros da área, como Auguste Comte, é implementou procedimentos científicos ancorados no empirismo,que conferiram à Sociologia uma discussão metodológica mais adequada e-aprofundada. A Sociologia, na visão durkheimiana,é definida como a ciência dagêneseedo funcionamento das instituições, sendo estas todas às crenças e cómportamentos instituídos pela coletividade, às quais exercem funções que permitem a estabilidade e manutenção no tempo da coesão social (QUINTANEIRO et . al., 2003). Na obra de Durkheim, o conceito de fato social é primordial para compreendermos -o arcabouço teórico produzido pelo autor. Para ele, fatos sociais são formas de agir e pensar externas 4os indivíduos, aspectos da vida sociál que determinam ou condicionam a ação dós Mesmos por diversas formas (DURKHEIM, 1999; GIDDENS, 2008). Isto se dá devido ão fato dos fatos sociais exercerem um poder coercitivo sobre .os indivíduos, ainda que isso por mui tas vezes ocorra de modo imperceptível ou naturalizado. O autor parte da perspectiva de que a sociedade não:é resultado da:soma ou da justaposição dos indivíduos que a compõem, mas uma síntese de ações e sentimentos particulares que criam um fenômeno específico e hovoó. Por esta razão, as explicações para os fatos sociais devem ser buscadas na coletividade. Os exemplos de fatos sociais envolvem desde fenômenos consolidados e dê grande dimensão, como à economia é a religião, até aqueles fluidos é efêmeros, cómo fnovimentos sociais, correntésde perisamento é formas de expressão. Dentre as expressões do conjunto de fátos sociais, estão as representações cóletivas e os. valóres. Um dos elementos a comprovar o fató de que aqueles tem caráter coercitivo é são externos aos indivíduos, Durkheim lembra que o não atendimento a estas convenções pode implicar diversos obstáculos, como à violação a uma lei. Entretanto, instituições são passíveis de mudança desde que um grupo de indivíduos, em ação combinada,apresentem comportamentos inovadores e produzam um produto novo que se constitua como um fato social (QUINTANEIRO et, àl., 2003). Uma das formas de cristalização é reconhecimento desta mudança pode serà alteração de normas jurídicas. Ainda que nas palávras do próprio autor “à primeira regra e a máis fuidamental é considerar os fatos sociais como coisas” (DURKHEIM, 2003, p. 15), estês são intangíveis e não óbserváveis. diretamente, A pesquisa e a análise dos mesmos se dão por meio de uma investigação indireta, dos seus efeitos e dê óutras formas de representação dos mésmos, como, pôr êxémplo, à Constituição e as leis (ho Direito) e os:textos sagrados (no caso das religiões). oalidariedade mecânica e orgânica Dentre os maiores interesses de pesquisa do sociólogo francês estava a compreensão de quais elementos eram responsáveis pela manutenção (ou pela quebra) da solidariedade e da ordem nas sociedades. Em sua visão, a primeira se mantém “quando os: indivíduos se integram t óm sucesso em grupos sociais é se régem por um conjunto de valorés e costumes partilhados” (GIDDENS, 2008, p. 9). Durkheim (1999) destacou, em sua conhecida obrãá Dá Divisão Social do Trábalho; à existência de dois tipos de solidariedade, as quais estariam diretamente relacionadas:com à forma de divisão do trabalhoem uma determinada sociedade: a solidariedade mecânica-e a solidariedade orgânica. A pf imeira,característica de culturas maistradicionais (ou primitivas)ade menor especialização é divisão do trabalho — onde os indivíduos possuem ocupações laborais semelhantes —, estaria sustentada na homogeneidade e no consenso em relação à crenças e costumes, A dissidência no interior destas sociedades seria: reprimida pela comunidade, por meio da força.e do castigo aos indivíduos que não se adequam. A solidariedade orgânica, por Sua vez, tefia Sé desénvolvido em meio à rápida é profunda transformação social é econômica nas sociédades ocidentais, em meio aós processos de industrialização, complexificação econômica e urbanização. O desenvolvimento da sociedade capitalista implica na intensificação da interdependência econômica entre os indivíduos; ampliando relações de. reciprócidade e. reduzindo à importância dé sê partilhar crenças é costumes específicos, Um dosprincipais meios de seóbservara predominância de um ou outrotipo de solidariedade: nas. sociedades contemporâneas: seria, para Durkheim, o Direito. Segundo Quintaneiro et al, (2003, pp. 74-75): Durkheim utiliza-se da predominânciade certas normas do Direita como indicador da presença de um ou do outro tipo de solidáriedade, já que esta, por ser um fenômeno moral, não pode ser diretamente observada. Não obstante se sustenté nos costumes difusos, o Direito é uma forma estáve! E precisa, e serve, portanto, de fator externo e objetivo que simboliza os elementos mais essenciais da:solidariedade social. Por outro lado, as sanções que são aplicadas aos preceitos do Direito mudam de acordo com a gravidade destes, sendo assim possível estudar suas variações. O papel do Direito séria, nas sociedades complexas, análogo ao do sistema nervoso: regular as funções do corpo. Por isso expressa também o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho social, tanto quanto o sistema nervoso exprime: estado. de concentração do organismo gerado pela divisão do trabalho fisiológico, isto é , sua complexidade e desenvolvimento. Enquanto às sanções impostas pélo costume são difusas, as quê se impõem atravésdo Direito são organizadas. Elas constituém p s ” duas classes: às: repressivas: - que infligem ao culpado uma dor, uma diminuição, uma. privação; E às restitutivas - que: fazem com que as coisas: e relações perturbadas sejam restabelecidas: à sua: Situação anterior, levando o culpado a reparar o dano causado. À maior ou menor presença de regras repressivas pode ser atestada através da fração ocupada pelo Direito Penal. ou Repressivo no sistema jufídico da sociedade A velocidade é intênsidáde destes processos nã modernidade, porém, tem o poder de abalar costumes, valores e padrões de conduta (religiosós, morais etc.), sem que um óutra arrafijo ocupe estes espaços de forma decisiva, inclusive para direcionar ou cireunserever a conduta dos indivíduos. Este vazio de sentidose objetivos em meio à vida social moderna é o que-caracterizafia à anomia para o sociólogo francês. la e normas morais: o suicídio e a religião Esta perspectiva orientou o conceituado estudo do autor a respeito do fenômeno do suicídio ha obra O Suicídio, publicada pela primeira vez em 1897: Mais do que um ato pessoal e orjêntado pela angústia ou pelo desequilíbrio mental estrito dos indivíduos que o cometem, Durkheim optou por analisar esse ato como um fato social, passível de possuir padrões gerais observáveis e influenciado por fatores sociais. Em sua pesquisa, ele confirmou sua expectativa: verificou que determinados segmentos estavam mais vulneráveis ao suicídio do que outros: protestantes mais. da que católicos, ricos mais do que pobres, homens mais do. que mulheres. Além disso, guerras e mudanças econômicas também afetavam sensivelmente às estatísticas (DURKHEIM, 2000). Estes aspectos reforçaram a posição do autor sobre a condição anômica em relação à perda de pontos de referência e de fontes de regulação social, bem como a importância do enfraquecimento de laços sociais nó caso dos chamados suicídios egoístas. Reforçou, portanto, a perspectiva de que fatores sociais externos ao indivíduo interferem de forma significativa em condutas antes vistas como atos estritamente pessoais. E que esta influência podiá ser investigãda par meio da análise sociológica. Também interessavaao autór a análise das normas Morais dassociédades, que prescreveriam o modo-como o sujeito: deve se portar em determinadas: circunstâncias e tem uma finalidade desejável e desejada por parte daqueles que.se sujeitam à elas. Em sociedades menos complexas, a moral cívica teria maior nível de associação com a religião pública, lévando, portanto, à um nível maior de cóntrole e disciplina de seus indivíduos. As sótiedades modernas, por sua vez, apresentam maior nível de complexidade, nas quais é Estado possui grande. variedade de funções, mas convive com outros grupos (família, corporações, instituições religiosas). Nesta assóciação tendente ao equilíbrio, desenvolvem-se às liberdades individuais. A partir desta análise e reflexões, Durkleim empreende o estudo das réligiões. O autor rr 43 àfnalisou especialmente aquelas: praticadas em sóciedades menos complexaás,. compreendidas. como um sistema de crenças e práticas relativas às coisas sagradas que é comum a todos aqueles due se uném nunia comunidade moral, chamada por ele de igreja (DURKHEIM, 1996). Durkheim erigiu, portanto, um pensamento ancorado no método positivista e confiante na capacidade de convivência de indivíduos e grupos distintos rias sociedades modernas. Sua teófria dó consenso eé.o funcionalismo foram especialmente influentes na antropologia é na sociológia norte-americana, aspecto que fora brevemente exemplificado na seção anterior. A COMPREENSIVA DE MAX WEBER Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: [1] oa OFEHO A abra do alemão Max Weber (1864-1920) abarcou diversas áreas do cônhecimento; cómo Direito, Filosofia é História, serido influéênte também em disciplinas que se desenvolveriam de forma mais nítida apenas posteriormente, como a Ciência Política. Entretanto, o autor refletiu acerca do papel e do objeto do estudo sociológico, buscando estabelecer a Sociologia como uma discipliná preocupada com a diferença e à párticuláridádes culturáãis e sociais. Em seu texto A Ciência como Vocação, Weber discorre sobre o significado da ciência — vista tómo procedimento racional empreendido para explicar às consequências de determinados: fenômenas —, e a respeito da postura do cientista frente ao seu ofício (WEBER, 2011). Este deve, ém sua visão, selecionar é sugerir medidas com finalidade de solucioná-las,buscando respôóstaáas pór meio do uso dos instrumentos metodológicos mais adequados (QUINTANEIRO et. al.,. 2003). O sociólogo alemão também discorreu sobre a relação éntre valores que orientam o pesquisador e a pretensão de objetividade nas Ciências Sociais, ao considerar que os “valores. devem ser incorporados conscientemente à pesquisa e controlados. através de procedimentos X a risórosos de análise” (QUINTANEIRO et. al., 2003, p. 99). Uma atividadê científica social que seja racional quanto às suasfinalidades:e-valores não pode reduzir a realidade empírica a leis; a explicação de um determinado acontecimento envolvé o agrupamento, por parte do cientista, do agrupamento da constelação de fatores que deem sentido ao mesmo. po ideal, ação social e relação social Para tornar compreensível a natureza das conexões que se éstabelecéem na observação científica ampírica;, Weber párte de um modelo de interpretação e investigação chamado tipo ideal, caracterizado pela unilateralidade,. racionalidade e caráter utópico. Como resumido: por Quintaneiro et al. (2003, p. 103), na concepção weberiana “um conceito típico-ideal é um Modelo simplificado do real, elaborado com base em traços considerádos ésseríciais para à determinação da causalidade, segundo os critérios de quem pretende explicar um fenômeno”. De forma resumida, Weber vê o tipo ideal como um “recurso técnico que facilita uma disposição e terminologia mais lúcidas” (WEBER, 1979, p. 372), instrumento útil para conduzir o autor na investização de uma realidade.complexa e multifacetada. Em Economia e Sociedade, Weber (2004a) desênvolve em maior profundidade-o conceito de ação social, central em sua obra. À ação — conduta humana dotada de significado pelo indivíduo que à executa —. passa a ser definida como uma ação social quando esta se orienta para a ação dé outros (seja um indivíduo, grupo específico ou a coletividade), de modo que tal conduta social tenha seu sentido partilhado. Esta noção é tão importanté para a Sociologia weberiana que, na perspectiva do autor, a função do sociólogo é precisamente compreender e interpretar as ações Sociais; observando suas características, efeitos,e verificando nexos causais que as determinam. Como desdobraménto da lógica dos tipos ideais, ó sociólogo desenvolveu quatro elaborações coficeltuais para classificar às ações sociais. Classificação das áções sociais Ação social afetiva: a cóndutaé movida por seritimentoós, emoções é instintos . Ação social tradicional: tem como fontes motivadoras costumes ou hábitos arraigados - ligados à cultura consuetudinária —, ou a reação a estímulos usuais e haturalizados, Ação social raciónal com relação à valores, o agéntêé se orienta conscientermernté por crenças, convicções e princípios próprios, Ação social racional sem relação a fins: tomiáda com o mínimo de interferênciade tradições e afetos, com alto grau. de reflexão da adequação entre meios e fins. Weber ressalta, contudo, que estês são modelos conceituais idéais/burós, e que às ações é a45 humarias geralmente se encaixam em mais de uma dás:categorias acima mencionadas. Ressalta ainda que elas não-se confundem com ações reativas, instintivas, deimitação ou outras-onde não há relação de sentido. Quando uma conduta social é plural e tem seu sentido óu significado partilhado e compreendido por diversos. atores em uma sociedade, passa a se constituir uma relação social. Esta pode se estabelecer independentemente da correspondência por uma das partesou da duração desta relação, desde que haja compatibilidade entre as expectativas dos indivíduos sobre o significado dã mesma. Instituições como o Estado ou à família, para Weber, se caracterizam por ser desénvolvimentos específicos da ação social de indivíduos. A regularidade de certas coridutas é relações póde ocórrer devido simplesmente-a um hábito - que é classificado como. uso -, que, quando duradouro, torna-se um costume. FIQUE DE OLHO Em consonância com esta posição, a unidade fundamental da análise sociológica weberiana É o agente individual — concepção também deriominada de individualismo metodológico. Esse canceito parte do pressuposto de que as consciências sociais são entidades capazes de conferir significado às próprias ações, e que estes sentidos podem ser compartilhados por um grupo de indivíduos (QUINTANEIRO et, al., 2003). É por meio das ações é sentidos quê. ts agentes conferem às esferas da vida social que estas podem ter sua lógica modificada; 2 : Direito, poder, dominação e autoridade na Sociologia Weberiana Por outro lado, um modelo de conduta pode adquirir legitimidade quando é considerado válido para um óu mais agentes, seja por receio de reprovação da comunidade pela discordância à outro, caso no qual este mode lo é denominado convenção. Ou por receéeio de sé torniar uma úrdem pela ameaça de coação ou sanção pelo descumprimento-do que é visto como obrigação, Neste caso, a ordem é o direito, Áqui se inserem as questões do poder, da dominação e da autoridade no pensamento weberiano, chaves para o estudo sociológico. O poder para Weber significa a probabilidade, em uma relação social, de impor à vontade própria ao comportamento de terceiros, ainda que em facede resistência,e independente do fundamento de tal probabilidade (WEBER, 2004a). Os meios utilizados para-alcança-lo são variados, abarcando desde a violência até procedimentos organizados; Há:três formas de justificação da dominação legitimada: racional (dependente dos interesses, róstuma, hábito); e afetiva ( fundadaem afetos ou inclinações pessóais em relação à liderafiça).À elas correspondem os três tipos. de dominação legítima: legal, tradicional e carismática. A primeira, relacionada à estrutura de dominação pela forma burocrática, é o domínio exercido pela administração moderna e racionalmente cirganizada do Estado. Nela.a legitimidade se estabelece através da crença na legalidade das normas estatuídas e dos direitos de mando dos. que exercem a autoridade (WEBER, 20044). Aluta pelo estabelecimento de uma forma de dominação legítima - dê conteúdos cornisiderados válidos pelos participantes das relações sociais - . marca a evolução de cada uma das esferas da vida coletiva em particular e define o conteúdo das relações sociais no seu interior (QUINTANEIRO et. al. 2003), A dominação não é um fenômeno exclusivo da esfera política, mas engloba e envolve a organização de regras para a mesma. O autor acresce, ainda, que nas relações entre dominantes. edominados:a dominação costuma apoiar-se e fundar sua legitimidade interna em bases;jurídicas; O abalo da crença nesta legitimidade pode acarretar consequêricias de grande alcance. sses, estamentos e partidos Segundo aconcepção weberiana de sociedade, asdiversasesferasdavida coletiva -econômica, política, jurídica, religiosá, cultural e social —, possuem lógicas particulares de funcionamento, Em diferentes momentos históricos; alguma (s) dessa (s) esfera (s) possuía dominância na definição das diferenças sociais. Nas sociedades capitalistas modernas o econômico (propriedade, riqueza) é ó fundamento da posição especial, o principal eleménto de classificação dos indivíduos; Classes, estamentos e partidos:são conceitos estabelecidos pelo sociólogo alemão no plano colétivo para entender mecanismos diversos de distribuição de poder. Uma classe é um grupo de indivíduos que se encontram numa situação comum referente à propriedade de bens ou de trabalho. As ações de tais agentes têm um sentido definido, de forma comum;pela:posição deles ho mercado (WEBER, 2004a), Quando as ações individuais são condicionadas por critérios da ordem social, na aderência a fnôodos de vida específicos e definidas, aí se estabelece a relação estamental. Estes estamentos: podem ser fechados — quando sua posição se define por laços familiares, por exemplo —; ou abertas, sustentados por sentimentos camunitários-ou de honra, Classes e estamentos tendem a.se superpor, fas isto não ocorre em todas as ocasiões:tensões nesse sentido podiam ser verificadas tanto fia Época de Weber, entre a nobreza europeia tradicional, legada do período feudal, é a nova burguesia enriquecida; como hoje, nos atritos entre burguesia tradicional e os novos ricos. Membrosde uma mesma classe, entretanto, geralmente empreendem açõóessociais enquanto grupo báseados êm interesses raciónais em respeito a fins. Os conflitós e diferênças gerados ha ordem econômica êntre classesé na órdem sócial entré 65 estamentos produzem, na esfera 4 do poder soc ia l ,os partidos. Estes são organizações que têm ação tipicamente racional e lutam pelo domínio da direção em uma associação ou comunidade (WEBER, 2004a; QUINTANEIRO et, àl., 2003). Se dirigém à fins éstabelecidos é à realização de programas de propósitos ideais ou fnateriais definidos. Classes, estamentos e partidos são, portanto, fenômenos de distribuição de poder no seio das: sociedades e manifestações organizadas da luta cotidiana travada no interior destas pela imposição dos interesses e vontades de algumas das partes. contra. outras, Na visão weberiana,. esta é a essência da política, da vida social e da lógica do mercado. lasencantamento do mundo, religião e resignação À obra de Max Weber, por outro lado, também é marcada com um tom pessimista e resisgnado t óm o que ele via coma consequências inévitáveis do prócessa dê racionalização progressiva é burocratização modernas, A rotinização e racionalização ocorrem com ta l força que mesmo lideranças carismáticas de cunho político ou religioso acabam sendo assimiladas pela “lógica férrea das instituições” (QUINTANEIRO et. al., 2003). Estêé processó de migração de sóciedádes fMarcadas pela ideia do sagrado, mágico e da espiritualidade para aquelas marcadas pela técnica ea ciência e orientada à materialidade é chamado de desencantamento do mundo. O autor se intéressou pela Sóciólogia da religião ao perceber a relevância e ó impacto das. dautrinas religiosas em outras áreas da vida coletiva, especialmente por conta das consequências práticas da religiosidade no tecido social. Ao estudar religiões não-cristãs, como o confucionismo é o budismo, Weber se interessóu especialmente pela capacidade de algumas re l ig iões :de, à partir de seu conteúdo, fomentar o racionalismo prático e metódico. na conduta cotidiana dos indivíduos. Essas religiões seriam marcadas pelo ascetistho mundano à participação nos processos da vida, orientando séus impulsos naturais à doutrina religiosa. Nesta lógica se insere à fámosa obra À Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, escrita péló autor ém edições: de 1905 e 1920, Se o desenvolvimento do Capitalismo estava vinculado à racionalização na vida prática, Weber identificou uma afinidade entre as disposições práticas dos indivíduos que se oriêntávam pela doutrina protestante cálvinista. Esta rejéitáva a contemplação, ós inistintos.e prazeres ifistintivos, valorizando a atividade incessante e otrabalho como valor em si mesmo. Tal disposição implicava, na ordem econômica, na profunda dedicação de empresários orientadospor essas dout r inasàprodução de riqueza e de trabalhadores disciplinados (WEBER; 20046). Avalorização espiritual da prosperidade na vida terrena, associada com a restrição do consumo em paixões mundanas, teria provocado como consequência concreta a acumulação capitalista e à poupança privada (WEBER, 2004b). Esse “espírito religioso” que favoreceu o desenvolvimento capitalista tornou-se desnecessário com o posterior desenvolvimento do sistema, também admitindo a busca de riquéêzas pará a saciédade de iriteresses máteriais “mundarios”, 7 “ Se A concepção “liberal desencantada” weberiana permanece fortemente influênte nas. Ciências Sociais, contribuindo para a compreensão dos contínuos processos: de burocratização é raciônalização na vida social, inclusive com à ampliação, complexificação e variedade dós aspectos abarcados pelo Direitó, a regulação e à normatividade na Contemporaneidade. OLOGIA CRÍTICA DE KARL MARX Karl Marx (1818-1883) é um autor cuja obra não pode ser ligada a apenas uma área do conhecimentoou disciplina específica. O alemão, cujas referências teóricas e de pesquisa principais podem ser identificadas na filosofia hegeliana, na-economia clássica inglesa (especialmente Adam Smith e David Ricardo) e no socialismo utópico francês — para divergir, em pontos distintos, de tódos estes —, produziu extensos escritos nos ramos da Filosofia, da Economia é, no que interessa em especial para este tápico, produziu importantes reflexões sociológicas. A militância política e Social e os interesses de pesquisa de Marx o levaram a refletir e teorizar acercado surgimento e do desenvolvimento do Capitalismo na Modernidade. "s 1 Materialismo histórico: forças produtivas, relações sociais de grodução e superestrutura jurídico-política O filósofo e sociólogo desenvolveu a concepção materialista e dialética da História, por meio da qual orientou seu olhar para a sociedade burguesa moderna, sem deixar de fazer a análise histórica de sistemas sociais anteriores. A tese que orienta o materialismo histórico, nas palavrás. dá Friedrich Engels, grande amigo e colaborador em vida de Marx, é a de que “a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social” (ENGELS, 2011, p. 55). Neste esquema téórico, três conceitos são centrais: às forças produtivas, às felações sociais de produção, é à superestrutura jurídico-política. O conceito de forças produtivas em Marx, como abordado na Contribuição à crítica da economia política, envolve os recursos produtivos físicos para o trabalho humano -instruméntos, matérias primas, espaço físico (os meios de p rodução) ,e a força de trabalho -, o que inclui não apenas a força física dos indivíduos, mas também habilidades e conhecimento técnico aplicados. ha trabalho (COHEN, 2010). Envolve, portanto, 6 módo coma às. indivíduos obtém, num contexto específico, 05 bens de que necessitam, As relações sociais de produção, por suá vez, dizem respeito. às formas estabelecidas de distribuição dos meios de produção e do produto e o tipo de divisão social do trabalho numa sociedade, em um período histórico determinado. Expressa as relações sociais que os indivíduos. precisam se inserir para sobreviver e produzir. Apesar da sociedade ser o produto da ação recíproca dos homens, esta não opera de acordo com seus desejos particulares, 49 Desse modo, a estrutura de uma sociedade dependeria do estado de desenvolvimento de suas: forças produtivas, em primeiro. lugar; e das relações sociais de produção que lhes são correspondentes (QUINTANEIRO et. al., 2003). Este arranjo material é à base que oriénta & sustenta à superestrutura jurídica é política dessas sociedades, bem como às expressões ideológicas e-culturais das mesmas: A transfarmação dos sistemas sociais, em tal configuração, ocorre quando se modificam as candições das forças produtivas e , em seguida, das relações de produção de uma determinada sóciedade, gerando tensionamentos com à superestrutura jurídico-política da mesma. Conflito este que pode se desdobrarde forma gradual ou por meio de uma mudança abrupta: as revoluções. coletores para os sistemas escravagistas arcaicos, seguida da transição para o Feudalismo e, por fim, da substituição deste pelo Capitalismo. O desenvolvimento da burguesia com a ampliação e a complexificação das relações comerciais, associadas ào impulso tecnológico essencial representado pela Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII, seguida por outras nações europeias na início do século seguinte, modificou de forma decisiva o arranjo social. À ordem feudal ea hegemonia da nobreza fundiária foram suplantadas, consolidando-se uma nova ordem social, Especialmente no Capitalismo, às relações de produção são relações de. poder econômico sobre a força de trabalho é 05 meios. de produção, de cujo privilégio álguns gozam, enquanto.os demais carecem (COHEN, 2010),Sobre esta infraestrutura; erigé-se umá superestrutura jurídico-política que é formada em função daquela. Isto significa que a explicação das formas jurídicas, políticas e das ideias que circulam numa sociéêdade se encoritra na base econômica e material da mesma. Em ta l problemática, insere-se o Direito: o sistéma de normas de conduta e prificípios regente sob uma sociedade capitalista se orienta para a cristalização e regulação de direitos: de propr iedade.e telações comerciais sob este sistema econômico, geralmente sob a forma do contrato. “ Se FIQUE DE OLHO demandas populares. Nesse contexto, às cartas de direitós.surgidas no contexto iluminista se orientavam por uma ótica burguesa, restrita a direitos civis e políticos e de caráter excludente e individualista. Marx tem um objetivo mais profundo: deseja a emancipação humana, a qual não será atingida com à pretensa inclusão de uma população no Estado burguês da época, mas com o reconhecimento e organização, por parte dos homens, de suas forças próprias como forças sociais (MARX, 2010), As interpretações acerca da relação do marxismo com o Direito ensejaram grandes controvérsias nos movimentos socialistas & comunistas que reivindicavam o legado do autor alemão: desde perspectivas favoráveis à possibilidade de um “Direito socialista”, como Petr Stutchka, àqueles que consideravam à Direito como a forma jurídica específica do modo de produção capitalista, ássociando a primeira à forma mercadoria, como Evgéni Pachukanis. capitalismo: estruturação econômica e social Marx se dedicou extensamente à análise do Capitalismo — para ele, a forma dê organização mais desenvolvida-e complexa existente até aquele momento histórico —, na sua grande-obra O Capital, a qual o autor terminou de escrever apenas o primeiro volume, A unidade analítica base da sociedade capitalista e expressão da riqueza da mesma é à fnercádoria, fórma que é assumida pêlos produtos é pelá força de trabalho é compõe-se pêlo valor de uso - necessita ser útil e se efetivar no consumo -,.e valor de troca. O valor desta última é medido pelo tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção em um momerito determinado (MARX, 2013). Neste sisterha, o capital é uma noção essencial: trata-se dé qualquer ativo financeiro que possa ser utilizado ou investido pára produção é reprodução dé bens. Aqueles que detém esses meios de produção em abundância são ascapitalistas, a classe burguesa, e.eles ocupam a posição de dominância na sociedade moderna, Os proprietários dos meios de produção obtêm luero por meio da apropriação do esforço dos indivíduos que oferecem sua força de trabalho. Ao observar esta relação, o autor alemão desenvolveu o conceito de mais-valia: quando a força de trabalho do trabalhador, negociada com o capitalista, produz mais riqueza do que:seu próprio valor de troca, na qual se obtém um valor que é superior ao dos fatores (méios dé produção e força de trabalho) consumidos nó prócésso produtivo (QUINTANEIRO et. al., 2003). Os grupos e indivíduos que não póssuem estes ativos, mas.necessitam de encontrar formas. para sua subsistência, se veem obrigados a oferecer sua fórca-de trabalho aos detentores dos. e .51 meiós de produção, um contrato que léga ao trabalhador o salário como coritrapartida. Esta classe, a mais numerosa, surgiu especialmente por meio da migração de antigos camponeses que migraram para as cidades por conta de mudanças na regulação da terra no meio rural, devido ao cercamento dos campôs. Os ágora trabalhadores nas indústrias capitalistas acabaram por formar: o que Marx denominou pro le tar iado,a classe operária industrial urbana. O capitalismo erigiu, portanto, um sistema de classes marcado pelo coriflito entre burguesia e. proletariado, numa relação de mútua dependência, mas na qual os últimos se localizam numa situação de exploração e alienação estruturál. Para Marx, nesse sistema, os trabalhadores têm controle restrito ou nulo sobre o trabalho que exercem e de suas condições, estando numa condição de dominação por forças da sua própria criação, de modo a encarar o produto de seu trabalho como um poder estranho (MARX, 2008). à de classes, revolução e comunismo Partindo desta abordagem, Marx concluiu que “toda a história humana é, a té pomomento, à história da luta de classes” (MARX, 1998) — uma classé é um conjurito de membros dê umia sociéêdade identificados por compartilhar certas condições objetivas (QUINTANEIRO et, a l , 2003). Na configuração do capitalismo, temos um modelo em cuja base estão, de um lado, os proprietários dos meios de produção, e , de outro, os que não os possuem. Entretanto, quando Marx empregou seu materialismo histórico para analisar ós acontecimentos políticos dé seu tempo, como em O 18 Brumário de Luís Bonaparte; o autor identificou a presença de outras. classes sociais relevantes para a análise da conjuntura. O modelo de soc iedade .que se. estabeleceu após o Feudalismo, portanto, teriam apenas substituído às velhas condições de opréssão por outras novas, mantendo o contexto de luta de clãsses., Para Marx, ássim coma acorreu nos modelos anteriores, o Capitalismo éstária fadado ao seu esgotamento, devido às contradições inerentes ao sistema, entre as forças produtivas que emergem do mesmo e seu choque com as relações de produção, óu. superestrutura, que acabãriam por perpetrar um processo de revolução social. O proletariado, criado pelo Capitalisinó é mantido em posiçãodê exploração e alienação, é o agente transformador desta sociedade, força produtiva e a classe verdadeiramente revolucionária, a qual, por meio da consciência de sua situação social e a organização, tem as:condições de abolir a propriedade privada dos meios de produção e abolir à sociedade civil burguesa estruturada em função desta. As características e a estruturá da futura sociedade comunista — e a socialista, estágio de trânsição posterior à revolução -, não forám tratados exaustivamente por Marx, que delineou alguns princípios é premissas destas sociedades:-em sua Crítica do Programa de Gotha, de 1871. A sóciológia crítica marxista, assim, não apenas queéstioná teoricamente às premissas e:.óá funcionamentó do sistema capitalista, mas também proóoblematiza-a postura dos intérpretes sociais. anteriores e os de seu tempo, adotando uma postura militante e orientada à intervenção na realidade efetiva. Como dito pélo autor nas Têses sobre Feuerbach: “os filósofos (...) interpretaram à mundo de diferentes máneiras; do que se trata é de transformá-lo” (MARX, 2001, p. 103). Ainda que Marx não tenha se preocupado especificamente com a consolidação da Sociológia cómo uma disciplina e ciência autônomas, o autor é considerado um dos: autores clássicos da Sociologia graças à profunda influência de sua teor iae métodos de análise da realidade social na produção sociológica, e ão grande impacto sociál e político do pensamento marxista, tendo próduzido um extenso e duradouro legado sociológico. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: * Aprender as principais perspectivasnó campo da Antropologia a respeito do concei- to de cultura (clássica, descritiva, simbólica, estrutural), bem como às relações entre cultura .e sociedade no campo da Sociologia. * Analisar as abordagens históricas dadas aodesvio social, considerado amplamente, e suas manifestações no Direito na forma do delito e do crime. * Compreender os principais aspectos relativos à produção teórica de três dos maio- res e mais influentes nomes das Ciências sociais: Émile Durkheim, Max Weber é Karl Marx, bem como às implicações das reflexões destes autores para o Direito é à Sociologia Jurídica. ANITUA, G. | . História dos Pensamentos Criminológicos, Rio dê Janeiro: Reván, 2007, BARATTA, A. Criminologia Crítica e Crítica ao Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan,1999, BECKER, H. Outsiders, Estudos de sociologia do dêsvio. Rió dé Janeiro: Zahar, 2008 [1963], BITTENCOURT; E. R ; Tratado de Dire i to Pénal | . 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Álém disso, analisaremos as noções de “globalização” e “multiculturalismo”, tão importantes no mundo atual cada vez mais conectado. Por f im, estudaremos a questão da eficácia do Direito a partir de. uma abordagem sociológica, Bans:estudaos! ” d w * ICIOLOGIA E A ANTROPOLOGIA DO DIREITO Algumas correntes específicas do Pluralismo Jurídico trataram o Direito sob uma perspectiva sociológica própria, como é 0 caso de Georges Gurvitch, Eugen Erlich, Leon Duguit e Clifford Geertz. Tadas são teorias que de alguma forma colaboraram para refletir sobre o fenômeno jurídico de diferentes marieiras e trouxeram suas contribuições para à que sérá discutido ao longo desta unidade e da disciplina, coma veremos à seguir. Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: i icepçãoé objeto da Sociologia Georges Gurvitch (1894-1965) foi um sociólogo e jurista nascido na Rússia é que, ao longo de. sua vida, realizou diversos estudos no campo sociológico em geral é especificamente na Sociologia do Direito. A teoria de Gurvitch insere-se dentro da corrente do Pluralismo Jurídico, que simplificadamente compreende outras formas de existência de juridicidade fora do aparato estatal. Na concépção de Gurvitch, há uma verdadeira teoria do Direito, baseada em uma relação de complementariedade entre a Sociologia e a Filosofia: “(...) a Filosofia auxilia na diferenciação de fatos morais, de interpretação, estéticos e jurídicos enquanto a Sociologia ajuda a entender de forma fática a multiplicidade empírica desses aspectos na vida prática dos comportamentos: sociais” (ROCHA, 2019, p. 200). Gurvitch percebe na Jurisprudência cérta áutóonomia em relação à dogmática jurídica, por entender que aquela uma “engernharia social” adaptada às possíveis interpretações de necessidades específicas de sistemas jurídicos concretos em “sociedades totais”. Tais sociedades seriam “grandes esféras culturais localizadas em épocas diferentes”, como civilizaçõês é países 1 CONTRIBUIÇÃO DE OUTROS TEÓRICOS PARA A ” <ulturalmaerite identificados(Estados Unidos,Império Romario,Inglaterra,deritre outros)(ROCHA, 2019, p. 200). quê Gurvitch busca compreender a sociedade e seu dinamismo ao levar em conta os conflitos. existentes, e a necessidade de solucioná-los; que seriam oriundos-de choques de ordem moral, cultural, religiosa e estética. E, como forma de solução dosconflitos, o direito aparece enquanto intervenção regulativa (ROCHA, 2019. p. 202). Daí, então, a preponderância que Gurvitch dá à Jurisprudência, ha médida em que é voltáda à particularidade do fenômeno social sub judice, isto é, os fenômenos sociais que estão no âmbito do Poder Judiciário, sob a tutela de juízes, Tais fenômenos devem, portanto, ser analisados com aux í l i oda Sociologia do Direito e da Filosofia do Direito, que contribuíram para uma compreensão mais completa a respeito. dos. conflitos. que. caracterizam essencialmente. o. dinamismo social (ROCHÁ, 2019. p. 202). Gurvitch entende, ainda, que o direito nascena sociedade, não no Estado, não sendo sequer riêcessátio o Estado pára a existência do Diféito, o que implica ná plena possibilidade de Haver Direito sem que haja qualquer ato estatal, Para haver Direito, porém, é préciso que existam “fatos normativos”, que são considerados: ideias-açõesguiados por valores morais e jurídicos. Assim, séndo à Direito surgido da sociedade é dos fatos normativos que nela emergem, Gurvitch diz haver duas espécies de Direito: social e individual. O social é baseado “na coletividade organizada e se caracteriza por uma ordem normativa integradora”, enquanto o individual, “de Base individualista, caracteriza-se por órdem normativa de exclusão”, pode ser considerado como consequências das condições sociais do liberalismo econômico (VIEIRA, 2015. p. 117). Embora Gurvitch tenha feito sua teoria com uma riqueza maior de detalhes e com outras: diferenciações pertinentes, o que se percebe é que ele fundou sua-tese a partir de um pluralismo antiestatal dialético, uma vez que extrai sua fonte normativa da coletividade, sobretudo dos fatos. formativosjá vistos. Por cónseguinhte, o Direito social por ele formulado se opõe ao individualismo liberal e estabelece uma relação de equivalência entre os direitos existentes (VIEIRA, 2015. p. 123). ehe ElNlich é 06 Direito vivo Eugen Ehrlich (1862-1918) fo i um sociólogo e jurista nascido na Áustria e vinculado à chamada Escola do Direito Livre, que propunha uma maior liberdade ao juiz e intérprete da lei para sua áplicação, sem haver uma completa submissão à lei e com uma vinculação da aplicação à ideia de justiça. Pára Ehrlich; o ponto central do Direito não se encontra na jurisprudência, nem ná legislação ou na ciência jurídica, mas sim na própria sociedade. Trata-se, então, de um Direito vivo, que embora não negue à existência do Estado, rejeita.-o monismo jurídico - fonte do direito como sendo apenas estatal -, eo paradigma formalista. Em sua teoria, o Estado seria apénas mais uma entre as tantas associações organizadas que compõem a sóciedade (VIEIRA, 2015, p. 109), Alémdisso, segundo Ehrlich, todo Direito é social, de modo que não há Direito privado ou individual, Isso porque, pára o autor, não há indivíduo fora de um contexto social mais.amplo, sendo que tal contexto na verdade sempre abarca o indivíduo de alguma maneira (VIEIRA, 2015; p.119). Assim, com o propósito detentar compreender o funcionamento do. Dire i to na v ida social, Ehrlich funda a teoria do chamado “Direito vivo”, segundo a qual o Direito equivale às normas Jurídicas de conduta, ou seja, aquelas regras que às pessoas de fáto observam ém séu cotidiano, na convivência social (CONZENe BORDINI|, 2019. p. 315). Nesse sentido, as relações humanas em geral “são determinadas por regras aceitas como vinculantes pelos integrantes das associações sociais é convertidas em ações efetivas no dia a dia”. Por isso, para quê se possa de fato estudar esse Direito vivo, seriá necessário analisar éómo tais associações se estruturam, quais são as regras seguidas pelos membros; qual seria sua órdem interna etc. (KONZEN e BORDINI|,. 2019, p. 315). Dessa forma, Ehrlich rêtira a centralidadedo aparato estatal como fonte do Direito. Para ele, o Direito existe antes de sua positivação, já que é a partir das práticas existentes na convivência sócial, dos chamados “fatos do Direito”, que se dão às bases para a elaboração de legislações estatais. Diante disso, Ehrlich coloca um importante questionamento acerca dos motivos. que levam as pessoas a seguirem determinadas regras. Segundo o autor, as pessoas levam em conta o pertencimento às associações soc ia is— a fim de evitar desentendimentos e desavenças, perda de emprego ou prejuízos à reputação, por exemplo —, de modo que seria questionável áté que pônto decisões judiciais e uso de coerção pela força influenciam as pessoas a seguirem regras: postas; (KONZEN e BORDINI, 2019, p. 316). Por fim, vale ressaltar que Ehrlich faz uma diferenciação entre normas e proposições jurídicas, As proposições seriam formulações precisas de um preceito legal prévisto em um estatuto ou código, enquanto as normas: jurídicas seriam comandos legais: “(...) reduzidos a termos práticas para obter obediência, emanado de uma associação. determinada, (...) mesmo sem nenhuma formulação em palavras” (COELHO, 2003. p. 428). Em outras palavras, as proposições: seriam, por exemplo, instrumentás utilizados pelos tribunais encarregados de imanter certa ordem jurídica. Assim, segundo Coelho, as proposições hão são de conhecimento generalizado na sociedade, uma vez que processos em tribunais: não são fatos absolutamente rotineiros na vida das pessoas, ao contrário do que ocorre em relação às normas jurídicas, já que cotidianamente as pessoas estabeléácem inúmeras relações jurídicas ” (COELHO,2008. p. 428). Enfim; 6 quê se pode ver é que Ehrlich valoriza à vivência da sociedade ao pensar 6 direito. Por esse motivo, conforme Coelho, sua teoria afasta uma grande relevância para o direito estatal, inclusive porque as relações jurídicas de uma sociedade sequer podem ser totalmente contempladas na legislação, na medida o dinamismo social pode rapidamente tornar a legislação antiquada para os fatos sociais (COELHO, 2003. p. 429). con Duguite o Direito como regra da vida social Leon Duguit (1859-1928) foi um juristá francês que ficou notabilizado por sua coritribuição hás'teorias do Direito Público é pelo desenvolvimento das noções básicas da teoriado Direito. Assim, diante da completude de suas obras, a teoria:-desenhada por Duguit reverberou nas mais diversas áreas do Direito. De.iinício, vale ressaltar a diferenciação-que Duguit faz entre Direito objetivo e Direito subjetivo. O primeiro “designa os valores éticos que se exige dos indivíduos que vivem em sociedade”, de modo que a observância à ta l ética seria responsável por preservar o interesse comum. O Direito subjetivo,por sua vez, consiste em um poder do indivíduo que integra a sociedade. Este poder é à que torna possível ao indivíduo a obtenção de um reconhecimento social dos. seus atos de vontade - desde que legitimadospelo Direito objetivo (DUGUIT, 2009. p. 15), Nesse sentido, Duguit considera equivocada à visão monista do Direito, segundo a qual só haveria Direito no Estado. Além disso; Duguit parte do pressuposto de que o ser humano é intrinsecamente social. Para ele, “a existência da sociedade é fato primitivo e humano, e não, portanto, produto da vontade humana”, de modo que todos nós, desde o nascimento, integramos algum agrupamento humano (DUGUIT, 2009. p. 39). Assim, o que explicaria os:laços:de integração entre os:seres humanos séria, segundo Duguit, a'solidariedade social. A solidariedade abrangeria toda a humanidade, embora sejam laços ainda frágeis, já que os laços de solidariedade geralmente são voltados entre 05 integrantes de um Mesmo grupo social, sendo que a humanidade estaria dividida em muitos grupos, i a visão de Duguit, Ainda segundo o autor, os seres humanos de um grupo são solidários pois possuem nécessidades em comum e anseios diferentes que se satisfazem a partif de trócas recíprocas nós grupos (DUGUIT, 2009. pp. 39-41). Dessa fórma, Duguit eritende que o próprio Direito tem seu furidamento ria solidáriéádade, Issá porque, como ressaltado, a sociedadese mantém a partir da solidariedade. Por isso, impõe-se uma regra de conduta aos seres humanos, que pode ser assim formulada: “(...) não praticar nada que póssaá atentar contra a sólidariedade sócial sob qualquer das suas formas &, a par com isso, realizar toda atividade propícia a desenvolvê-la organicamente”. Para Dugui t ,6 direito objetivo se ÔÓ 63 resume nesta fórmula e a lei deve ser a expressão deste princípio (DUGUIT, 2009. p. 45). É riessê sentido que Duguit considera 6 Diréito como regra da vida sóc ia l ,já que: “A regra de direi toé social pélo seu fundamento, no sentido de. que só existe porque os homens vivem em saciedade”. Por fim, vale salientar que Duguit entende que aregra de Direito é ao mesmo tempo permanente e mutável, pois a solidariedáde seria um elemento perene, mas oscila conforme".às. variações contextuais pela forma como a solidariedade se dá em cada grupo e momento (DUGUIT, 2009. pp. 45-48). im umaperspectiva comparativa Clifford Geertz (1926-2006) foi um antropólogo nascido nos Estados Unidos e é tida como um dos: mais influentes de todo 0 século XX, sendo f undado rdachamada-Antropologia interpretativa, que até hojé póssui grande relevância nos mais diveísos campôós do coriheciménto. Na perspectiva interpretativa de Geertz, ele busca desmitificar os problemas colocados em reláção ao relativismo cultural. O relativismo se contrapõe ão etriiocentrismo, segundo o qual determinada cultura seria melhor que outra, adotando parâmetros próprios para avaliar diferentes padrões culturais. Ássim, o relativismo surge como resposta, com o intuito de promover maior respeito à diversidade cultural e às diferenças entre os variados contextos e culturas existentes, O que ele busca fazer, então,é atacar as perspectivas anti-relativistas, sem, nó entanto, adotar uma postura de defésa do relativisino. Seria, assim, um anti anti-relativisimo. Segundo Heineh e Laurindo, ele critica a ideia de que o relativismo nos conduziria ao niilismo, ao nada, em que se perderia por completo as noções de verdadeiro e falso (HEINEN e LAURINDO, 2018. p. 66). Assim, ao combater o anti-relativismo, Geertz não pretende confirmar a noção de que tudo depende àápenas da perspectiva adotada. Dé acordo com Heinen e Laurindo, uma de suás pretensões — e, talvez, a mais importante para o estudo jurídico—é a de atentar à alteridade, o ) para reconhecimento do outro em seu mundo, para a efemeridade, para as mudanças culturais, para à falta de harmonia e para a ausência de sól idez” (HEINÉEN e LAURINDO, 2018. p . 67). Deum ponto de vista legal, então, as críticas de Geertz ao anti-relativismo servem para afastar a ideia de um Direito rigoroso, estrito e natural, que seria capaz de resolver todos05 problemas. Seu olhar nos convida, na verdade, a pensar no Direito também em mutação constante, flexível e em movimento, Como consequência, o reconhecimento dessa mutabilidade implica também em reconhecer à pluralidade, inclusive em relação às questões jurídicas (HEINEN e LAURINDO, 2018. pp. 70-71). Além disso: “A visão do anti-relativismo através-do espelho, como propõe Geertz; contribui, ainda, com o debate:sobre a universalidade dos direitos humanos”. Aocolocar certa centralidade “ Se nessas questões, Geertz colabora também para à consolidação do respeito à diversidade. como um fundamento do Direito. E, aliás, faz com que esse processo seja demão dupla, na medida-em que um olhar críticó em relação a outra cultura sirva também cómo perspectiva. para analisar à própr ia cultura (HEINEN e LAURINDO, 2018, p . 72), Dessa forma, a perspectiva comparativa e anti-relativista de Geertz possui grande valor para se pensar o mundo jurídico, pois nos permite compreender coma a lei — embora congrégue uma gama de valores marais, políticos, culturais etc. —, não é capaz de abarcar toda a complexidade é diversidade dos fatos. Por isso, é possível ter uma visão bem mais cuidádosa no que tange às particularidades. e toda a complexidade que envolve a vivêticia humana em sóciedade (HEINEN e LAURINDO, 2018. p. 72). LOBALIZAÇÃO E MULTICULTURALISMO Ágora, analisaremos os controversos conceitos de Globalização e multiculturalismo, buscando hotaí mais especificamenté sua influência nó éstudo do Direito, Atualmente, em um mundo que se apresenta cada vez mais complexo é conectado, com hovas identidades e comportamentos. sociais, compreender a globalização e o multiculturalismo enquanto elementos constituintes do mundo ho jeem dia mostra-se fundamental, Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: Anthony Giddens considera que a Globalização significa, em termos simples, que em um único mundo. O autor acredita que a globalização, tal como a vivemos hoje, é multifacetada,na Medida em que é.ecónômica, política, tecnolágica e cultural (GIDDENS,2007. pp. 18-21). Além disso, Giddeéns:destaca que à Globalização não € apenas. um processo que acontece fora do ser humano, mas também em aspectos tidos como Íntimos; como osvalores:familiares. Trata- se então, de um processo répleto de complexidades, longe de ser singular. Por isso, há muitas fhuances ainda difíceis de se compreender no processo de Globalização; como o ressurgimento de identidades culturais locais em resposta a ela, a perda de certo poder econômico das nações, a pressão por maior autonomia local, dentre tantos outros aspectos (GIDDENS, 2007. pp. 23-23). Nesse sentido, a Globalização implica também na fragilização dos limites geográficos, culturais, políticos é econômicos da sociedade. Com ta l fragilização, todos esses fatorés que constituem as sociedades passaram a ser mais confusos. e misturados, sem distinções perfeitamente nítidas de um contexto para outro. Como consequência, é possível afirmar que o Estado nacionaltem ficado enfraquecido diante das transformações que se colocam, o que leva a uma mudânça também em téláção ao seu próprio papel no mundo (BELTRAME e t al., 2008, p. 21). À Globalização pode significar, também, à criação de uma sociedade global, cujo surgimento e fortaleciménto é potencializado sobretudo pelos processos de comunicação a partir das novas. tecnologias, Nesse caso, tem-se o desenvolvimento de múltiplas redes de poder, com distribuição do poder entre nações e organizações; a autonomia relativa de algumas organizações, “a formação dê parlamentos e tribunais em conexão local e transnacional” e a formação de associações em outros: espaços de poder local ou transnacional (BELTRAME et a l . 2008. pp. 22-23), É preciso, tóntudo, ter ressalvas em relação à esse prócesso, já que éle não étotal ém relação à humanidáde &é não ocor re de máneira homogênea nas diversas partes do mundo . Nãs questões jurídicas propriamente ditas, a Globalização tem trázido um intercâmbio cáda vez maior entre 05 diferentes sistemas jurídicos mundo afora, bem como um diálogo constante entre os Estados e as organizações internacionais, que ilustram esse processo de conexão. E, como a Globalização se dá em termos políticos, econômicos, culturais e tecnológicos, passa à sufgir também uma demanda a nível mundial em relação à regulação jurídica das novas construções e comportamentos sociais que: vêm su rg indo -com-ela. ” Figura1 - Globalização Fonte: VectorMine, Shutterstock, 2020 Ver na imagem pessõás de diferentes partes do Mundo, cohectádas graças D'sIstema de telecomunicações e à Globalização. Multiculturalismo Nesse contexto de Globalização, não se pode ignorar que existem muitas diferenças culturais relevantes é que tais diferenças estão mais em contato que nur ica , Assim, ó conceito de. Multiculturalismo surge como sendo “a coexistência de formas culturais ou de grupos cafacterizados por culturas diferentes no seio de sociedades modernas””, embora hoje ele tenha se tornado “um modo de descrever as diferenças culturais em um contexto transnaciónal e global” (SANTOS, 2003, p..26 apud BELTRAME e t al., 2008, p. 25). Agora'o indivíduo apresenta uma enórmé capacidade de.se mover entre diversas locálidades, e , consequentemente, t e r contato com variadas: culturas: Isso intensifica o processo de trânsfórmações das fronteiras e de mudanças culturais em escala global, o que é fortemente influenciada pela Globalização e-as questões relativas às trocas sconômicas e.aos prócessósde comunicação atuais, conforme já mencionado (BELTRAME «et al., 2008, p. 26). O multiculturalismo, portanto, tem a pretensão de construir uma política que respeite as diferenças e as pluralidades de cultura (BELTRAME et al., 2008. p. 27). Isso implica em um trabalho de fortalecimerito dos direitos sobretudo das culturas marginalizadãs e minoritárias, que frequentemente sofrem com a restrição do acesso aos diréitos e à própria preservação cultural. Nessesentido, a efetivação de uma política de multiculturálisivo pode criar condições pára um diálogo entre “o.local e.0 global” que permita o reconhecimento das d i ferençasé a consequente aceitação do outro (BELTRAME-et a l . 2008, p. 28), No direito, o multiculturalismo fo i incorporado ÔÓ o97 par vários sistemas jurídicos mundó afora. como um princípio-a ser seguido. Percebe-se, então, que do mundo globalizado em que vivemos, o multiculturalismo têm especial importância na preservação de. valores culturais e no respeito à diversidade, o que impacta fortemente no direito, já que tais questões devem ser tuteladas juridicamente para à garantia da pluralidáde cultural. FIQUE DE OLHO No Canadá, na Carta de direitos e liberdades, há expressa menção à valorização e prómeoção do patrimônio multicultural. Além disso, há uma lei específica sabre o multiculturalisma canadense, que propugna, como valores jurídicos, o reconhecimento da diversidade cultural é racial da sociedade canadeênse, o multiculturalismo como carácterística fundamental da identidade. e do patrimônio canadense, a promoção da compreensão entre indivíduos e «Eoletividadesde diferentes origens, dentre outros tantos-aspectos, Figura 2 - Grupo multiétnico de péssoas Forite: Tartila, Shutterstock, 2020 agem um grupo de peéssoas diferentes entre si, com diferentes. traços étnicos e formasde se vestir, demonstrando o Multiculturalismo. 8 FUNÇÃO DA SOCIOLOGIA DO DIREITO E A EFICÁCIA DO DIREITO Como já vimos ao longo da disciplina, a Sociológia do Direito preocupa-se é análisar os. fenômenosjurídicos.em funcionamento nos processos e estruturás sóciais; ou seja, como Direito surge e repercute na sociedade. O que analisaremos neste tópico, então, é mais especificamente tóma se dá essa abordagem sociológica do Direito, além dos efeitos sóciais e a eficácia dãs hormas,sua análise empírica e o5 fatores pertinentesà eficácia da norma jurídica. UtilizeoQR Code paraassistir ao vídeo: êspecificidade da abordagem sociológica Conforme dito, a grande relevância da Sociologia Jurídica consiste exatamente na análise dos. processos de criação e aplicação do Direito na sociedade. Dessa forma, a Sociologia é uma disciplina que permite compreender, com mais completude, os efeitos dos fenômenos jurídicos na vida dás pessoas, como elas alteram ou conformam estruturas etc. A autora Ana Lúcia Sabadell cita um exemplo que nos permite ilustrar cómo sê dá concretamente à abordagem sociológica no Direito. No caso hipotético, situado quando o Código Penal brasileiro previa a prática de adultério como crime em seu artigo 240, ela descreve que em um caso de adultério, o advogado de uma mulher presa por essa prática iria pedir a absolvição sób o argumento de que o artigo 240 não erá mais aplicado na prática. Na hipótese, o tribunal rejeita 6 argumenta e condena a mulher. Ao analisar ó caso, um professor de filosofia do direito escreve um artigo afirmando que a punição por adultério é injusta e argumenta em relação à intimidade dos casais e da prática de adultério, coricluirido que na verdade o tribunal deveria ter absolvido a mulher (SABADELL, 2002. p. 60). Diante dé um cenário como essé, Sabadell questiona qual deve ser à posturá do sociólogo do Direito. Ela entende, então que cabem duas etapas de para o estudo empreendido pela Sociologia Jurídica: i) realizar uma pesquisa empírica para ver em que medida o artigo do adultério é aplicado; e ii) “(...) analisar à relação entre o Direito e à evolução da sociedade, para, depois, tentar explicar porque.a norma é aplicada ou não” (SABADELL, 2002, p. 61). Sabadell (2002,p. 61) chama a atenção, ainda,pára -a neutralidade valorativa que ó sóciólogo da Direi to deve-ter ão estudar casos como esse: Ao realizar esta pesquisa o jurista-sociôlogo não pode:emitir juízos de valor sobre o tratamento jurídico e social do adultério. Sua função é a de compreender o pensamento e o comportamento do legislador, das: autoridades e dos cidadãos, ou seja, as razões sóciais que levam à elaboração de determinádas normas e suá aplicação. Por isto, deve deixar de lado sua opinião pessoal. Em outras palavras, o sociólogo do direito hão julga, mas tenta compreendero fenômeno que se propõe analisar deve buscar o sentido, que áspessoas de umadeterminada sociedade dão aosacontecimentos é às instituições sociais. É preciso, contudo, relativizar em alguma medida essa pretensão deneutralidade. Embora seja de fato necessário um distanciamento mínimo ao analisar uma questão como essa, todo estudo e pesquisa são permeados pelas cargas valorativas pessoais da pessoa que os realiza. Disso se depreende que a Sociologia do Direito não está interessada na justificáção do Direito UÚlustica, moral, razão etc),nem busca compreender a validade das normas, mas sim está ligada à eficácia da Direito, ou seja, à realidade social do Direito, Isso não quer d izer ;é claro, que os outros aspectos não sejam relevántes. Tráta-se apenas de uma questão de enfoque (SABADELL,2002. pp. 61-63). O que se vê, portanto, é que em geral o sociólogo do Direito busca analisar o funcionamerito das estruturas é processos normativos na sociedade, sobretudo a partir de um estudo empírico: Trata-sé de uma análise realmente debruçada sobre fatos concretos e narrativas reais, voltada principalmente para a forma como os fenômenos jurídicos repercutem na vida social. Para isso, a Sociologia Jurídica pode fazer uso de metodologias próprias das ciências sociais, que permitem fazer as averiguações necessárias conforme as especificidades de cada caso.e a perspéctiva adotada. feitos saciais, eficácia e adequação interna das normas jurídicas No que tange aos efeitos socias, à eficácia e à adequação interna das normas jurídicas, ainda hà perspectiva de Ana Lúcia Sabadell, essas seriam às três dimensões possíveis de análise da repercussão social de uma norma (SABADELL, 2002. p. 64). Primeiramente, em relação aos efeitos da norma, a autoraconsidera que qua lque r repercussão sócial gerada por uma norma constitui um efeito social da mesma. Exemplificando, Sabadell cita um caso em que determinado Estado brasileiro promulga uma lei estabelecendo um aumento no imposto para empresas dé capital estrangeiro. Como consequência, é notada uma migração das. empresas: para outros Estados-com alíquotas menores. Não se trata, então, de descumprimerito da lei, mas simplesmente de um efeito gerado (SABADELL, 2002, p. 64). A eficácia da norma, por sua vez, diz réspeito ão “(...) grau de cumprimento da norma dentro da prática social. Uma norma é considerada socialmente eficaz quando é respeitada por seus destinatários-ou quando:-sua violação é efetivamente punida pelo Estado”. O respeito espontâneo, ” independerite de coerção.estatal, seria à eficácia primária, enquanto à eficácia decorrente de. intervenção repressiva seria a eficácia secundária (SABADELL, 2002. p.-64). Já a adequação intérna da norma seria a capacidadeé da norma para atingir a finalidade social previamente estabelecida pelos legisladores. Assim, uma nó rma sefia internamente adequada quando suas consequências refletem os fins pretendidos pelos. legisladores quando de sua elaboração. A questão, então, é analisar se o meio empregado (a norma jurídica criada) permite atingir os objetivos do legislador (SABADELL, 2002. pp. 65-67). É importante ressaltar, ainda, a existências das chamadas “leis simbólicas”. Tais leis; são normas elaboradasdemodo que dificilmeénte alcançarão os objetivos em tese estabelecidos, isto é , são normas cuja baixa eficácia está desde a sua elaboração prevista. Em geral, essas leis são feitas com o intuito de dar algum tipo de resposta a uma insatisfação colocada por grupos sociais, a fim de dar a impressão de que à legislador está agindo para: resolver os: problemas colocadas (SABADELL, 2002. p. 67), Há, ainda, à adéquação extérná da norma. Nêéssé caso, os objétivos estabelécidos pelo legisladorsão ánalisados a partir de critérios de “justiça” (SABADELL,.2002. pp. 67-68); ou séja, segundo perspectivas muito mais'filosóficas que sociológicas. Vale lembrar, por último, que a eficácia pode ser considerada uma qualidade dos: efeitos. da norma, Isso porque os efeitos podem ser basicamente compreendidos como os resultados gerados pela sua existência, sejam eles quais forem. Ao passar a análise para os termos da eficácia, a questão passa a ser a qualidade do efeito produzido, isto é, em que medida os objetivos. pretendidos estão sendo alcançados (ROSA, 2004, pp. 104-105), É nesse sentido que:se diz que uma lei é ineficaz: quando não serve para os fins para os quais fo i criada. : empírica da eficácia das normas jurídicas Diante de todo esse quadro, Sabadell considera que a Sociologia Jurídica permite um estudo. empírica para analisar aeficácia das normas, contemplando basicamente quatro questões: A norma possui efeitos, eficácia e adequação interna? No Canadá, na Carta de direitos e liberdades,háexpressa mençãoà valorização e promoção.do patrimônio multicultural. Além disso, há uma lei específica sobre o multiculturalisimo canadénsa, que propugna; como válores jurídicos, à reconhêécimento da diversidade cultural e racial da sociedade canadense, o multiculturalismo. como característica fundamental da identidade e do patrimônio canadense, a promoção da compreensão entre indivíduos e coletividades de diferentes origens, dentre outros tantos aspectos. Qual é à réáção do legislador em relação à constatação dos efeitos, eficácia é adequação de. uma horma? E quais são as.razões sociais para ela? Fatores de eficácia da norma jurídica Sabadell nos apresenta os fatores considerados pelo Direito módefrno como indicadores de eficácia da norma jurídica, segundo os quais-quanto mais forte é a presença de tais fatores,maior é .a possibilidade de eficácia da norma. A autora d iv ideos fatoresem instrumentais e referentes à situação social (SABADELL, 2002, p. 70). Os fatoresinstrumentais dependem dos úrgãos de elaboração e aplicação do direito é são ds seguintes: 1) divulgação do conteúdo da norma para à população através dos meios adequados, de modo a empregar métodos educacionais e meios de propaganda política e comercial; ii) conhecimento efetivo da norma pelos destinatários, o que depende largamente do primeiro fator; iii) qualidade técnica da norma, envolvendo a cláreza na redação, concisão é precisão do conteúdo, bem como sistematicidade, elementos fundamentais no processo de elaboração da lei e com claras consequências na aplicação e observância; iv) elaboração de estudos preparatórios à respeito do têma sobre ó qual se pretende legislar (trata-se dos trabálhós feitos pelo parlamento, em suás comissões por exemplo; v) preparação dos ditos operadores do direito que serão responsáveis pela aplicação da norma; vi) consequências jurídicas adaptadas à situação .e socialmente aceitas, ou seja, elaborar normas que estimulem de alguma forma. à adesão dos cidadãos; e vii) expectativa de consequências negativas por parte dos cidadãos em caso de descumprimento, de modo a desestimular a inobservância a partir da aplicação das. sanções previstas (SABADELL, 2002, p. 70). Os fatores ligados à situação social, por sua vez, dizem respeito ao sistema de relações sociais e atitudes dó poder político ém rélação à sociedade civil, dê modo à influenciar nas chances de aplicação das normas jurídicas, haverido quatro fatores: participação dos cidadãos no processo de elaboração das normas, coesão social, adequação da norma à situação política e à relações de força dominantes e contemporaneidade das normas com a sociedade (SABADELL, 2002. pp. 71-73). À participação dos cidadãos no processo de produção normativa tem como cenário a valorização das formas democráticas de êxércício do poder. Isso significa que, sé as pêssoás participam ativamente dos processos de tomada de decisão, considerando que as instituições pertinentes permitam tal participação, certamente haverá maior adesão da população às normas criadas, aumentando à eficácia normativa (SABADELL, 2002. p. 71). De óutro modo, podemos dizer que as normasem geral criadas pelo poder estatal possuem urfia pluralidade enorme de destinatários. Por isso, é imprescindível que o processo deelaboração leve. .em conta minimamêénte as vozes das pessoas potencialmente afetadas pela norma. Isso pode: resultar nãosó em uma maior adesão, como também em uma maior qualidade da norma; p s ” O segurido fator, de coesão social, diz respeito à existência de conflitos na saciedade em dado momento. Para Sabadell, quanto menos conflitos são travados na sociedade,.e quan to mais consenso liouver éntré 05 cidadãos e à política estatal, maior será à eficácia das normás, Hááqui, então, unia relação entre a legitimidade do Estado e à observância às normas (SABADELL,.2002. p. 72), Embora de fato este sejá um fator relevante, é importánte pontuar também que não sé pode ignorar a existência hatural do dissenso e das divergências em uma sociedade complexa. Não há problema, em si, nos interesses conflituosos de diferentes grupos sociais. À questão parece mui to mais pertinente a respeito de como esses conflitos são colocados e se há um respeito cóncereto aos-direitos garantidos por lei, sobretudo daqueles grupos com menos força política, Já ho que tange à adequação da norma à situação política e às relações de força dominantes, Sabadell considera que “(...) a situação socioeconômica de um país e as forças políticas que.se encontram no poder influem sobre a.eficácia das normas jurídicas.Uma norma que corresponde à realidade política é social possui mais chances de ser cumprida” (SABADELL, 2002. p . 72), Pôr fim, à coritemporaneidade das normas dom a sóciedade quér dizer, segundo Sábádell, que em geral às normas não são eficazes se exprimem ideias antigas óu inóvadoras (SABADELL, 2002. p. 73). Assim, pode-se dizer que a eficácia está ligada também a uma certa harmonia com aquilo que a sociedade anseia em determinado momento. À partir do exemplojá citado nesta unidade, da tipificação do adultério como crime no Código Penal, temosà ineficácia da norma em razão também de sua inadequação aos valores atuais, ou seja, em algum momento à norma paássou a exprimir-algo tido coma antiquado e inapropriado. FIQUE DE OLHO Ao se falar em eficácia das normas jurídicas, tem ganhado cada vez mais espaço no mundo jurídico, principalmente no contexto internacional, um ramo do Direito conhecido como Legística, A Legística ocupa-se do processa de produção normativa e é dividida entre YW“formal” e “material”. A legística material diz respeito aós estudos sobre o conteúdo da narma, sobretudo com à avaliação de impacto legislativo, enquanto a legística formal é. inérnte aósprocessosdecomunicação da nôórma, como suá réêdação, ” Nesta unidade, você teve a oportunidade de: * Compreenderque o pluralismo formulado por Georges Gurvitch tem sua fonte nor- mativa na coletividade, Assim, trata-se de um Direito social que se opõe ao individu- alismo liberal. + Compreender que, navisão de Eugen Ehrlich,.há uma clara valorização da vivência da sociedade ao pensar à Direito. Por isso, sua teoria não centraliza o direito estatal, mas destaca o dinamismo social, que pode rapidamente tornar à legislação aântiqua- da para os fatos sociais. * Entender que a Globalização significa um processo de intercâmbio político, eco- nômico, tecnológico é cultural entre as sóciedades, enquanto o multiculturalismo é uma forma de garantir o respeito à diversidade cultural e às particularidades de cada grupo. »* Analisar a eficácia da norma em relação ao grau de cumprimento da lei na prática social, na medida em que ela é respeitada (ou não) pelos seusdestinatários. + Compreender que a abordagem sociológica do Direito se concentra sobre a reali- dade social e os efeitos nela causados pela norma, sem com isso realizar juízos de justiça ou moral, mas sim buscando compreender o funcionamento dos fenômenos jurídicas na vida social, BELTRAME, A. et ál. O multiculturalisíno é à globalização como princípios para uma interfracionalização do direito, In: Padê, Brasília, v. 2, n. 1, p. 4-46, jan./jun, 2008, COELHO, L. F. Teoria crítica do direito —3 º ed, rev. .átual. é ampl. — Belo Horiornite: Del Rey, 2003, DUGUIT, L. Furidaméntos do direita, Trad. Marcio Pugliesi — São Paulo: Mártin Claret, 2009 GIDDENS, A. Mundo em descontrole —Trãd. Maria Luiza X. de A. Borges. 6º ed, — Rio de láneiro: Record, 2007. HEINEN, L. R, et a l . Iítérfaces entré a Antropológia é 0 Direito: uma discussão sobre õ anti anti-relativismo de Clifford Geertz. In: Revista Videre, Dourados, MS, v.10, n.20, jul./ dez. 2018. KONZEN, L. P. etal. Sociologia-do direito.contra dogmática: revisitando o debate Ehrlich- Kelsen. In: Rev, Direito Práx., Rio deJaneiro, Vol. 10, N.1, 2019, p. 303-334. ROCHA,.]. M . de S. Sociologia Jurídica: fundamentos e fronteiras —6º ed. Rio-de Janeiro: Forense, 2019, ROSA, F. À. de.M. Sociologia do direito: ofenômeno jurídico comofato social — 17º ed, fev, é atual. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. SABADELL, A. L. Manual de. sociologia jurídica: introdução a uma leitura externa do direito. — 2º ed. rev, atual. e ampl. — São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, VIEIRA, R. de &. Pluralismo Jurídico Clássico: A Contribuição de Ehrlich, Santi Romanoe Gurvitch. In: Direito, Estado e Sociedade n. 47 p. 108 a 127 jul/dez 2015. UNIDADE 4 Controle social Você está na unidade. Nesta un idade ,nos aprofundaremos na discussão acerca do pape l'e do-lugar do Direito em sua relação com a sociedade e a estrutura econômicae social aqual ele regula, e o questionamento acerca da possibilidade da prática jurídica em promover ou em barrar a mudança social, Por fim, discutiremos temas afins à Sociologia da aplicação do Direito, ou a Sociologia dos tribunais; e o papel do Judiciário no desdobramento dá cultura jurídica é ha relação comos movimentos saciais; Bôns:estudos! Y > “n l a! 1 CONFLITOS, INTEGRAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL: o PAPEL DAS NORMAS JURÍDICAS Sê partirmos da premissa de que um dos principais objétivos do estudo sociológico é ó de cbservar é analisar as régras que regem a interação entre pessoas é grupos (REHBINDER, .2000), ou seja, das relações sociais; o estudo das mesmas envolve analisar regras de organização social, dos cônflitos e de mudanças sociais (SABADELL, 2002). Nesse sentido, as relações entre a Sociologia e o Direito, que visa estabelecer regras definidas é coerentes para regular o comportamento social, são evidentes. A Sociologia jurídica busca investigar a expressão justamente da forma pela qual se exprime no sistema j u r í d i coos processos. de conflito, integração.e mudança que se desenvolvem no tecido social (SABADELL, 2002). Utilize o QR Code para assistir ao vídeo: O at co ! [| || [1]. E [1] é fêgrassociais De acordo com Durkhein, o conceito de anomia se refere à f a l t ade normas que vinculem as péssoas à estrutura social, usual em períodos de grande transformação e de questionamento de sistemas sociais decadentes ou em crise. À constatação de uma situáção ánômica poderia indicar a existência de um período de mudança social e analisar efeitos e causas de tal situação transitória (SABADELL, 2002), Ána Lúcia Sabadell (2003) identificou três usos. possíveis para a construção teórica da ánomia para a Sociólogia do Direito. O primeiró diz respeito à possibilidade de à ahomia causar à ineficácia de preceitos jurídicos devido à consideração, por parte dos:indivíduos, que a norma descumprida é inadequada ou injusta, situação distinta de violações ocasionais da legislação que. hão questionam a validadeda lei ém questão. O Estado pode reagirà esta cónduta de várias ” formas: tolerando a violação é permitindo a ineficácia tácita da norma; modificando a legislação, visando aproximá-la das práticas sociais vigentes e então em conflito com as normas jurídicas; realizando campanhas informativas e própagandistas, com o objetivo de ampliar o apoio social às leis já vigentes; ou, por fim, usando a força é a repressão contra às tendências anômicaás (SABADELL, 2002). Outras situações: verificadas pela autora dizem respeito à heteronomia: quando a anómia não deriva da ausência de normas, mas do conflito entre os p r inc íp iose convicções da sistema jurídico oficial, e as normas às quais parte dos sujeitos subordinados pelo mesmo sistema jurídico aceitam se sujeitar; e o pluralismo cultural, onde a imposição, pelo direito estatal, de normas orientadas por uma visão específica num contexto de multiplicidade de valores e modos de vida existentes na sociedade incentiva comportamentos anômicos e crises de legitimação do direito (SABADELL, 2002), Quanto à teoria de Merton, embora ela tenhá potencial éxplicátivo razoável em relação ao cometimento de crimes. patr imoniais.por parte de indivíduos em situação socioeconômica desfavorável, além de crimes de motivação política e comportamentos autodestrutivos, comoo vício em substâncias toxicodependentes, ela é vista por Sabadell (2002) como demasiadamente genérica, incapaz de apresentar uma chave explicativa e conceitual suficiente para determinados tipos:de violação à lei, como, por exemplo, os crimes passionais:e sexuais, As condutas anômicas (inovação, ritualismo, evasão, rebelião) são vistas como disfunções e pátologias de origem eminentemente individual dentro de um sistema social presumido como estável e orientado para o equilíbrio (MARRA, 1991). Em outro sentido, também assume uma concordância geral na sociedade acerca das metas e objetivos sociais a serem valorizados — aqui associados à ideologia dominante nas sociedades capitalistas contemporâneas — o que nem sempre é o caso e limita o potencial explicativo e a validade da teoria (PAVARIN|, 1983), t o como propulsor e obstáculo da mudança social O campo que mobiliza o conceito de anomia e vê sua relação com a conformidade, ou. não, às tegras sociais vigentes, que tem cómo priheipal referência sociológica Émile Durkheim (2003),vê o Direito cómo um indicador privilegiado dos padrões de solidariedade social, sendo garantidor da acomodação e resolução harmoniosa dos conflitos em uma comunidade e instrumento de maximização da integração social e realização do bem comum (SANTOS; 1999). O lado oposto desta discussão, derivado especialmentedaMarxismo, concebe o Direito como um instrumento de daminação econômica e política que é expressão dos interesses das clásses dominantes. Sendo um componente da superestrutura da sociedade capitalista e derivado da conformação das forças produtivas e relações sociais de produçãoda mesma, o Direito opera tória um sistema que transforma às interésses espécíficos das classes dominantes pará positivá- é. a79 lós na lei cómo se representassem um interesse coletivo e univérsal destas sociedades (MARX, 2001, 2010, 2013; SANTOS, 1999). Boaventura de Sousa Santos (1999) recorda que, nos debates afins à Sociologia Jurídica — que implica refletir acerca das articulações do campo do direito com as estruturas sociais e às condições em que este operá —, incide uma disputa de perspectivas derivada da polarização apresentada acima: o direito é variável dependente — ou seja, é fenômeno que se limita à acompanhar e incorporar valores sociais e padrões de conduta constituídos e disputados politicamente na sociedade —, ou é instrumento capaz de ser um promotor ativo de mudaânça social, na v ida concreta e ha d isputa de jdéias? FIQUE DE OLHO Ana Lúcia Sabadell (2002) entende que há três posições distintas acerca desta problemática nos debates acadêmicos. Inicialmente, há a corrente denominada “realista”, que compreende que o Direito é uma manifestação social determinada pelo contexto sociocultural. Desta forma, a sociedade produziria o Direito que convém à mesma. Quando este argumento é levado ao limite, o Direito é visto como a mera reprodução, em nível harmativo, da daminação social e da imposição dos interesses dos grupos dominantes, visão tompartilhiada por algumas correntes marxistas e liberais, No polo oposto, estão aqueles que atribuem ao Direito papel determinaárite no contexto social, tendo estéa capacidade de atuar perantea realidade e modifica-la de forma autônoma, Nesta ótica, mudanças normativas de qualquer espécie tem condições de impor cóm sucesso determinados comportamentos aos membros da comunidade: o “dever ser” pode sempre direcionar 6 “ser”. Esta é a posição idealista, Arntés de apresentar a última corrente,é necessário apontar quê, de forma associáda a esta problemática, incidê óutra divisão no campo da Sociologia jurídica sobre Direito e mudaánça social: a disputa entre aqueles que a) consideram que o direitoé um freio às grandes mudanças saciais, reagindo às reivindicações populares de forma lenta e restrita (tendo, portanto, um papel essencialmenteê conservador); e b) a visão de que o Direito tem 6 condão de desempenhar uma função educadora e. progressista, sendo instrumento eficaz e aberto para a rêalização de mudanças por meio de reformas legislativas (SABADELL, 2002). À autora supracitada apresenta uma terceira posição, intermediária, que conciliaria as duas visões antagônicas aprésentadas. Pára Sabadell (2002), à Direito é, de fato, configurado por interesses é neceéssidades: sociais é próduto éem grande medida de um contéxto econômico e sácial. Entretanto, o mesmó teria à capacidade dê influir, deforma dinâmica, na realidade social, de te rm inandoe sendo determinado pela mesma ao mesmo tempo. Esta posição se. associa à de Soriano (1997), que vê o Direito coma possuidor de uma autonomia relativa em relação à estrutura sociocultural na qual está inserido. 1ação do Direito como fator de mudança social Continuando a explorar esta corrente intermediária, que admite a possibilidade do Direito, tonsiderado estritamente, provocar mudanças sociais — mas não de forma estrutural ou radicalsem que esteja inserido e. associado a um processo de mobilização e transformação política sistêmica, Soriano (1997) se interessa pela intensidade, oritmo e as esferas-de manifestação das triudariças passíveis de decorrer do sistema jurídico. Quanto ao priméiro aspecto, a intensidade da mudança pór méió do Direito dépende, segundo o au toreSabadell (2002), de dois fatores: a natureza do sistema j u r í d i co e a natureza do sistema político em que ta is mudanças concretamente incidirão. No primeiro fator, a abertura, flexibilidade e abstração das normas jurídicas favorecem reformas de maior monta, enquánto à existência de fortes procedimentos de controle é rigidez normativa - ao, por exemplo, estabelecer “cláusulas pétreas” em uma Constituição -, minimizam as possibilidades:de alterações sistêmicas; Em relação ão sistema político, um maior nível de concentração do poder é de quantidade de atribuições a entes específicos facilita a implementação de mudanças rápidas e de peso via alterações legislativas — o que também ocorre usualmente em situações de revolução sácial (SABADELL, 2002). Por outro lado, a pulverização do poder, a presença de fortes pesos, e contrapesos, bem como a postura dos agentes políticos — seja pelo desinteresseem alterar o status quo, seja pela ópção pela conciliação e acomodação de demandas -, também tem cómo conséquêricia lógica um Direito quê opera de modo à promovar estabilidade. Nesta problemática, se inserem correntes teóricas no campo do Direito que acreditavam ser possível uma prática e interpretação jurídicas emancipadoras.e favoráveis:a grupos é classes sociais desfavorecidas, como no caso do “Direito alternativo”. Uma variação desta problemática ria debate jurídico brasileiro, também valorizando é ampliando às possibilidades hermenêuticas dos.aplicadores do Direito, é ó chamado neoconstitucionalismo, As críticas à esta “instrumeritálização” do Direito em prol dá sólidáriedade é igualdáde sócial vieram especialmente de tradições:jurídicas afins ao positivismo e críticas à ingerência do Judiciário em funções de outros: poderes (SARMENTO, 2007; STRECK, 2011) etambém de grupos políticos alertas ao perfil cultural, econômico é social majoritário dos àplicadofes do Direito em sociedades capitalistas e no Brasil, em específico (CONSELHO NACIONAL DEJUSTIÇA, 2018]. s No primeiró caso, são alvo de críticas especialmeénte decisões que se baseiam em interpretações demasiadamente elásticas-da legislação aplicável, quando não uma atuação contra legéêm. Nó ségundo caso, a alegação é de que este tipo de atuação também pode ser utilizada com propásitos conservadores, corporativos ou proselitistas, considerando: o fato da maioria do Judiciário e:do Ministério Público no Brasil e em outros países ser ocupado pela elite econômica e:cultural da sociedade, e tendente.a enxergar o mundo e o labor jurídico diário por esta lente. Em relação às esferas de manifestação de mudanças, estas podem ocorrer de forma estritamente intérna, abaréando o Diréito nacional, bem cómo externamente, no caso do Direito internacional e/ou comparado (SABADELL, 2002). Nesse sentido, vale lembrar que mudanças. e reformas: jurídicas de destaque em determinados países por vezes ganham notoriedade e influência -em sistemas jurídicos alienígenas, Par fim, cabe fazer breves considerações aàácerca dos diferentes ritmos de mudanças impulsiónadas pelo Direito. A depender dos aspectos da vida social afetados por uma mudánça ná legislação, esta pode se dar de forma mais fácil e rápida, como em mudanças econômicas de grande aceitação pelo público alvo; ou sofrer fortes resistências, como, por exemplo, exemplo, normas que. vão de encontro a práticas culturáis ou religiosas fortemente arraigadás no tecido social, De qualquer forma, resta claro que nesta relação mútua entre Direito e-sociedade,a mudança social através do Direito é um problema eminentemente político (SABADELL, 2002). luralismo Jurídico O termo “pluralismo jurídico” diz respeito à perspectiva que defende a existência, em uma fnesma comunidade e simultaneamente, dê Mais de um conjunto articuládo de regras, princípios e instituições — ou seja, da pluralidade de ordens jurídicas no interior de um mesmo espaço geopolítico (CASTRO, 2013; SANTOS, 2011), Tal expressão surgiu em meados do século XIX como uma reação à visão monista do Direéito, aindã predominante. O monismo éstá identificado à uma orientação exclusivameérite. tentralizadora e estatal sobre quais normas são válidas em uma determinada sociedade, Em diversas sociedades, se viu um processo de supressão, marginalização ou assimilação dê USsós e tastumes lócais que entravam em conflito ou se localizavam fora do âmbito do direito estatal. Tal dinâmica pôde ser vista tantó em guerras e conflitos na Europa ocidental, como na colonização europeia na África e nas Américas. Ela foi e continua sendo alvo.de resistência dás. populações locais, situação em que seestabelece um cenário de pluralidade de normatividades, ou “direitos”, observados pela comunidade. Historicamente, estas normas de conduta marginalizadas eram eventuálmente álvo de ÔÓ 1 “ Se incorporação ou reconhecimento pelo Direita:dos Estados das metrópoles 6u em situação de. dominância. Na visão de Sally Merry (1988), podem ser distinguidos dois períodos distintos de. análise sábre à pluralismo jurídico: o clássico e o do nóvo pluralisíimo jurídico. O primeiro se referifia aos estudos aplicados às sociedades coloniais onde se verificava autonomia e interseção entre ordens jurídicas distintas— notadamente, o(s) Direito(s) dos indígenas e o Direito das colônias. A perspectiva relativa ao acesso diferenciado à justiça em comunidades tradicionais se desenvolveu nas últimas décadas e afastou à feição etnocêntrica, abrindo Maior espaço para à resolução de cónflitos por meio de processos de justiça comunitária adotando valores e símbolos:caros a estes. grupos específicos: O novo pluralismo diz respeito, na perspectiva da autora é de Santos (2011),ao contexto pós- cóloniál de sóciedades: urbanas industrializadas onde incide uma teia de legalidades entrelaçadas, é uma relação entre diferentes ordens normativas vista agora como interativa, e não segmentada, Nesseserntido que Castro (2013) apónta que a pa r t i rdos anos1980 se intensificaram os débates que questionávam a posição de subordinação e dôminação dos Direitos locais em detrimento do Direito “oficial”. A partir desta mudança, a academia passou a enfatizar as possibilidades de interações bidimensionais — destas. diferentes fontes de normatividade — ampliando o reconheciménto do pluralismo em contextos também não orientados pelo cólonialismo ou pela vida rural, Amplificóu-se, assim, o espaço às perspectivas que rejeitam à ideia de que apenas.o Direito estatal deve ser considerado “Direito” e, portanto, única fonte legítima e válida de orientação de hormas de conduta. Este processo ocorreu de fórma concomitantes dentro dos marcos dós estadós-nação. é globalmente; com o declínio de construções jurídicas “clássicas” do Direito internacional e a fragmentação-do Direito internacional (CASTRO, 2013). Dentre às principais: referências contemporâneas no estudo à visibilidade dá pluralismo jurídico no Brasil está o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, Seu já clássico estudo realizado em uma favela do Rio de Janeiro nos ànós 1970 identificou as diversas formas alternativas de definição de normas de conduta e de interpretação e construção da legalidade naquela comunidade. Este trabalho empírico que impulsionou os estudos sobre o pluralismo jurídico contemporâneo has décadas seguintes. Outro fenômeno social que impulsionou as discussões sobre o pluralismo jurídico foi a emergência dos chamados “Estádos plurinacionais” pelos processos constituintes na Bolívia é Equador nos: anos, 2000, que promoveram em seus textos constitucionais. dispositivos, reconhecendo a d ivers idadede ordens normativas internas ao Estado-naçãoe questionando-o próprio modelo deste (AFONSO; MAGALHÃES, 2011), Utilize o QR Cade para assistir ao vídeo: CONTROLE SOCIAL E DIREITO: CULTURA E NORMATIZAÇÃO O controle social diz respeito, em sentido ámplo, a tudo aquilo que tem à capacidade de influenciar o comportamento dos indivíduos de uma sociedade (SABADELL, 2002); tecnicamente, é conceituado como “(...) qualquer influência volitiva dominante, exercida por v ia individual ou grupal sobre ao comportamento de unidades individuais ou grupais, no sentido de mariter-se uniformidade. quanto a padrões sociais” (SOUTO; SOUTO, 1997,p. 177). O estudo das finalidádes, dos elementos e dos. meios em que à sociedade pressiona 6s indivíduos a seguirem os valores sociais dominantesfoi de grande interesse da Sociologia ao longo do século XX. Nesse sentido, o campo da Sociologia do direito se interessa especialmente pelo controle social exercido por meio do Direito. Soriano (1997) eSabadell (2002) destacam algumas diferenciações internas importantes relativas. ao controle social. Inicialmente, apóntam a possibilidade do exercício deste instrumento tanto para a mera orientação do comportamento. social dos indivíduos, como para fiscalizar efetivamente a tónduta dos mesmos (atuação, portanto, mais intrusiva). O controle pode variar também no qué diz respeito aos seus destinatários: pode ser difuso, ou generalizado; como pode ser intensificado em certos grupos específicos de interesse — no qual é denominado controle localizado. Também variam os agéntes que exercem 6 cantrole social: este pode ser promovido por meio de setores da sociedade, por meio da “opinião pública”, da família, do ambiente laboral; ou a fiscalização pode ser realizada diretamente pelo Estado e seus órgãos e agentes. Por fim, o escopo de atuação do controle pode ser de atuação direta ou indireta sobre os indivíduos e grupos: um policial que aborda:um cidadão exerce controle direto; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o Ministério da Educação exercem indiretamente -controle'sobre conteúdo. estrutura do ensiho nas escolas:brasileiras, É importante ainda diferenciar algumas das diversas fórmas em que o. fenômeno do cântrole social podese manifestar. Primeiramente, este póde apresentar grau de organização Máior ou menor, assumindo feições formais e/ou informais. Este se ássocia ao controle difuso é ao que é realizado pela sociedade, do passo que o primeiro é realizado primordialmente pelo Estado, visto que usualmente é resultado de um processo de institucionalização do controle de. tomportamentos desviantes —espaço onde o Direito se encontra (SABADELL, 2002). Os meios de controle social também podem-assumir feição negativa ou positiva, No primeiro cãso, almeja-se alterar um comportamento indesejável por Meio da reprovação do mesmo e da aplicação de sanções aos indivíduos que 6 cometeram, enquanto o controle. positivo visa incentivar condutas vistas como adequadas pela persuasão é premiação àqueles que adotaram “lions” comportamentos (SABADELL, 2002). Figura 1 - Exemplo de meio de controle social: a polícia Fonte: Antonio Scorza, Shutterstock,.2020 Vetnos:um policial observando um grupode pessoas que fórmam uma fila para "aracterísticas do controle social por meio do Direito Como indicado na seção anterior, o Direito se caracteriza por ser uma formadê controle social farmal, que determina normas de conduta que: i) são interpretadas e aplicadas por agentes do Estado designados com esta função; il) caracterizam-se por serem explícitas — indicando o que fazer du não fazer; é ili) cujo descumprimento implica na aplicação de sanções (SABADELL, 2002). As sanções ditadas pelo Direito oficial se diferenciam das sanções “sociais” ou informais. Por estarem formalizadas num código jurídico, delimitadás. concretamente, circunsceritas em 85 prócedimeritos defihidos (que tambémservein cómo garantias e proteção corntra-aarbitrariedade) e.aplicada por instituições competentes:específicas para sua aplicação. Num sistema jurídico, há normas de organização que náo estão associadas a sanções, voltadas para a organização da aplicação de óutros dispositivos — estas:são as normas processuais (SABADELL, 2002). Também há casos de normas que determinam obrigações, mas não impõem de forma concomitante sanções no caso do descumprimento daquela. Podemos citar aqui condutas puniíveis penalmente, mas cujos autores encontram-se em situações onde incide excludentes de. culpabilidade, tipicidadé ou ilicitude. Outros casos são normas que preveem incentivo no-caso de seu cumprimento, más não é de exécução compulsória e, portanto, não admite coérção rio cásá de não observância, Exemplos são as legislações que admitem descontos no imposto de renda no:caso do cumprimento de alguns. critérios relativos a condutas estimuladas: pelo Estado. Por fim, temos o caso de normas de Direito internacional, que. geralmente não são vinculadas à sanções que ênvolvam coação devido à ausência dé um pódér político transnácional com a prerrogativa de executar sanções à força. Nesse caso, o cumprimento dependê da discricionariedade dosEstados-nação, os quais podem ser alvo de pressões politicas e econômicas (SABADELL, 2002). Á sanção jurídica é o elemento principal-do exercício do controle social através-do Direito. Esta pode ser definida, nós termos de Sabadell (2002), cómo uma consequência positivaóu negativa decorrente do cumprimento ou não de uma horma jur íd ica. Comojá indicado anteriormente, sanções jurídicas podem tér um caráter positivo, associadas às chamadas normas promocionais; ou negativo, que consistem na privação ou restrição de Direitos dos indivíduos que infringem determinada norma, e podem envolver a liberdade de locomoção, de ofício ou implementar sanções pecuniárias, Sanções negativas podém ter caráter préventivo ou reparatófio. As primeiras são ráras e desaconselháveis no contexto de um Estado Democrático de Direito, mas no dia-a-dia podem ser vistas diversas medidas fiscalizatórias associadas à prevenção, tendo o objetivo de evitar a violação de normas jurídicas, Exemplos disso são: uma blitz policial, a revista corporal no tamento dé adentrar um recinto com regras específicas, dentre outras, As sanções freparatórias, por outro lado, são aplicadás contra o respónsável por um dãno daterminado, próvocado pela violação de uma norma jurídica. O óbjetivo das mesmas é à de buscar restaurar, quando possível, o status quo ante, e restabelecer a ordem lesada, bem como o de compensar ou minimizar as perdas daqueles que eventualmente possam ter sido prejudicados pela violaçãoà norma. “ Se Estê. tipó de sanção usualmente se divide, nos: sistemas: jurídicos das sociedades. contemporâneas, em três categorias. Pode assumir a feição de um constrangimento que force cumprimento dé uma obrigação, como no caso de uma sentença transitada em julgado que dispõe à dever de pagar uma dívida; também pode exigir o ressarcimento de um dano por meio do pagamento em d i nhe i ro ,viamulta ou indenização (SABADELL, 2002); por fim, também se exprime no caso das sanções reparatórias penais, que pode assumir diversas funções e justificativas nós sistemas jurídicos modernos: neutralização, retribuição, ressocialização, dentre outros. Considerando à gravidade e à força da intervenção dá norma peénal sobre os indivíduos, 68 sistemas legaismódernos limitam é circunscrevem esta possibilidade, orientando princípios básicos que devem ser observados em sua aplicação: legalidade, proporcionalidade, imparcialidade, dentre outros princípios. A amplitude e a restritividade destas orientações não apenas varia entre 05diversos sistemas jurídicos nacionais, como é álvo dê um intenso e duradouro debate no campo do direito penal e da criminologia. lticionalistadó controlesocial por meio do Direito Sabadell (2002) e Soriano (1997) dispõem que, pela perspectiva funcionalista da Sociologia da Direito,.o controle social é realizado com base em algumas característicaschave: O Direito se expressaria por meio de uma linguagem conhecida por todosé de conhecimento da população, tendo, alto grau de certeza na fixação de modelos de comportamento devido à clareza e publicidade do mesmo, Perspectiva de que os direitos culturais são exprimidos na defesa de atributos particulares, fnascuja defésa possui um sentido universal. Nestes estariam inseridos, segundo 6 autor, diversás das chamadas lutas “identitárias” modernas, de minorias étnicas, sociais, religiosas ou sexuais. As normas criam modelos gerais de comportamento, às: quais devem ser observados por todos que seincluam nassituaçóes-tipo, usualmente deforma independente de especificidades individuais, embora existam exceções. O respeito e-o cumprimento das normas de conduta: positivadas pelo direito.é reforçado por órgãos de poder, instituições e agentes quê velám pela óbservância do ordenamento jurídico, fazendo uso da persuasão, coaçãoe, quando necessário, da violência contra os indivíduos. desviantes, De forma alinhada à concepção weberiána, entende-se que o Direito regulá cada vez Mais esferas do comportamento humano e da vida social com o passar do tempao, fenômeno denominado “juridicização” ou “juridificação”, O Direito fuhcióna como instrumento de controle social quê sê baseia em fegras uniformes, seja no âmbito nacional como no internaciónal —tal característica se associa à generalidade. O Dirêito é visto como sistéma de controle social que exprime ós valores e princípios hegemônicos de uma sociedade e que tem à finalidade.de garanti-los, sancionándo aqueles que lesionam direitos e bens coletivos e individuais. gem crítica do controle social por meio do Direito Esta perspectiva funcionalista fundada nas teorias do consenso, como abordado na unidade. I l , foi alvo de diversas críticas de perspectivas marxistas, liberais e anarquistas, devido ao fato das mesmas limitarem drasticamente as possibilidades de processos de ruptura, conflito é mudanças sistêmicas, vendo estas usualmente como patologias: independentemente do conteúdo e das razões dos mesmos (SABADELL, 2002). Desse modo, o campo do funcionalismo seria demasiadámente estático, incapaz de interpretar processás sociais radicais é acábaridó por adotar uma postura, no l imite, conservadora ou superficial sobre a dinâmica social. Às perspectivas do Conserso, se opõem as teorias do conflito social. As várias teorias do conflito coincidem em compreender que à sociedade é composta po r grupos de ihterésses estruturalmente opostos, que permanecem em constante situação de disputa pelo poder e geralmente em situáção de desigualdade entre uns e outros (SABADELL, 2002), Neste sentido, os: grupos detentores do poder em um determihadoó momento o reforçam por meio da coação e do condicionamento ideológico. Por esta ótima, crises e mudanças sociais são fenômenos comuns na sociédade, sendo expressões objetivas das disputas dé interesses, ou da luta de classes, existentes numa comunidade, Sociólogos do conflito levantam uma série de críticas à perspectiva funcionalista, a começar pelo fato de que, na visão destes, há uma confusão entre. as funções declaradas do controle social — especialmente aquele efetuado por meio do sistema penal —, relacionadas à dissuasão, à ressocialização e a proteção de bens jurídicos. dignos de proteção; e ás funções latentes, ás. finalidades a qué concretamente se presta o controle social. Dentre as críticas empreendidas e/ou resgatadas por teóricos do conflito como Barátta 11999) é Anitua (2007), destaca-se primeiramente alegações de ilegitimidadedo.poder punitivo do Estado capitalista. O controle social, nesta perspectiva, estaria a serviço dos grupos de poder dominantes nesta sociedade, direcionando o sentido das hormaãas em favor de seus interesses Pessoais é, ao mesmo tempo, atuando de. modo a fazer tais normas -terem à aparência de um interesse geral.e consensual da sociedade. Estas críticas se. associam a uma desnaturalização do erime e. do criminoso e concepções etiológicas e ontológicas déstes fenômenos, Desvios e crirres são construções sociais contingéntes, que váriam com à evolução de fatores culturais é da conjuntura política. Eles não coincidem com ” noções universaise imutáveis do “bem” ou do “mal”. Por exempló, o trátamerito legal dado ao ato de abortar, ou o de se relacionar sexualmente com pessoas do mesmo gênero variam entre diferentes Estados-nhação, podendo ser cóndutas amparadas pela lei ou délitos. Também incidem questionamentos acerca da existência ou não da culpabilidade pessóal à transgressão de certas normas. Em um contexto de pluralismo cultural e disputas relativas. 'à valores, bem como à influência do contexto na determinação das cóndutas dos indivíduos, questiona-se a justiça e a correção do exercício do controle social (SABADELL, 2002). Dentre as diversas justificativas:e “funções” dadas para a utilização da sanção de privação-de liberdade, uma das mais disseminadas ao longo do século XX diz respeito à chamada prevenção especial positiva, ou à ressocialização. Esta é conceituada, segundo Luís Carlos Valois (2012, p. 79) como “(...) à reforma. moral ou psicológica — aí dependendo daquilo que 0 reformador acreditar — do criminoso enquanto submetido às instituições punitivas do Estado”, A prisão seria vista, assim, como um recurso e um meia de correção do indivíduo e de preparação do mesmo para o fu turo retorno ao convívio Social, Esta perspectiva perpassa diversos dos dispositivos que orientam o-direito penal brasiteirô, tómi ó Código Penal e a Lei de Execução Penal. Entretanto, has últimas décadas se tórnou lugar comum nos debates ácadêmicos é jurídicos relacionados ao tema o fracasso, especialmente no caso brasileiro, do sistema penitenciário em alcançar este suposto fim com êxito. Há, no entanto, uma divisão entre setores que atribuem este fracasso à incompetência e à ineficácia dá administração do sistema, eriquanto outros reforçam a inviabilidade e. a falta de respaldo científico inerente ao ideal ressocializador por meio do cárcere (VALOIS, 2012). Inicialmente, há um diagnóstico consolidado do: perfil social, racial e econômico que domina às prisões nó país: indivíduos ém geral do sexo masculino, jóvens, de baixa renda, escolaridade é de cor de pele negra, Esta constatação da seletividáde estrutural do filtro do sistema perial demonstra e reflete, de saída, a falta de acesso a direitos e de um cenário de vulnerabilidade anteriores aos processos de criminalização. Somando este fato às características do dia-a-dia dos estabelecimentos prisionais-do país— marcada por um histórica de violações de direitos humanos, violência, ausência de alternativas laborais, formativas e de lazer, bem coma do enfraquecimento de relações familiares. e sociais -, tem-se um resultado: trágico, mas esperado: altos níveis de reincidência (IPEA, 2015), imposição de um “rótulo” de criminoso no egresso do sistema (questão que fora abordada na menção à teéória do labelling approach ha unidade |l) é retorno ao convívio sócial em coridições de ainda Ô 89 riaiór precariedade é vulnerabilidade. A partir desta constatação, o que fazer? Alessandro Baratta (1990) déstaca à existência das Posições realista e idealista a respeito à justificação da privação da liberdade face à crise do ideal tessocializador, A primeira propõe o abandono deste ideal com 0 foco no controle social baseado ha neutralização e retribuição ao criminoso, tendo, portanto, viés repressivo. A segunda defende à manutenção da justificativa ressocializadora para evitar que seu abandono contribua para-o recrudescimento do sistema. O autor rechaça ambas as posições, defendendo, ao mesmo tempo, o reconhecimento da inviabilidade do ideal fessocializador e a substituição do termo pela ideia de reiritegração social, Sua ideia pressupõe maior comunicação e interação entre prisão e sociedade, bem comãô o incentivo a um processo.de reconhecimento mútuo entre reclusose sociedade “externa”à prisão (BARATTA, 1990). Figura 2 - Presos em Eunápolis (BA) Fontê: loã Souza, Shutterstock, 2020 nos na imagem um grupo de presos.numa prisão em Euriápoólis: (BA). 3 SOCIOLOGIADOSTRIBUNAISE DEMOCRATIZAÇÃO JA JUSTIÇA Ainda que a Sociologia jurídica tenha sido constituída como ramo especializado) apenas a partir de meados do século XX, Boaventura da Sóuza Santos (1999) recorda que o Direito é um fenômeno social objeto de séculos de produção intelectual é teórica associadas a disciplinas. afins, como a Filosofia e a História do Direito, Este fato, associado à consolidação da Ciência Política como disciplina e ao interesse desta nos tribunais como instância. de decisão e poder páliticos, e-ao desenvolvimento da orientação, “ Se deritro da antropologiadó direito, à análise dos: prócessos e das ifstituições jurídicas e ao poder destes de estruturarem os comportamentos dos atores destes sistemas, formaram as condições teóricas e cóncretas para ó desenvolvimento da sóciólógia dos tribunais (SANTOS,1999), Utilize o OR Code para assistir ao vídeo: A expressão “acesso à justiça” pode assumir uma variedade de definições, mas Mauro Cappelletti (1988), afirmiá que a mesma pode àássumir dois significados: inicialmente, refere-se à possibilidade dos indivíduos de reivindicarem direitos e buscarem a resolução de. conflitos no âmbito do Judiciário; ao mesmo tempo, se associa à possibilidade das pessoas terem efetivo acesso a resultados justos para si e para o meio social, Trata, portanto, não somente dá garantia ctóncreta do Direito de recorrer aos tribunais; mas -dó ateridimento à justiça social déntró e par meio-deste espaço (FULLIN, 2013). Como indicado na seção anterior, o surgimento é a consolidação do acesso àjustiça com ó conteúdo amplo apontado acima dependeram de modificações e transformações históricas a respeito do entendimento inicial, nó sentido de que os cidadãos tinham à liberdade e o direito hara litigar em defesa de seus interesses (concepção liberal). A assunção de quê o acesso à justiça implica na promoção da igualdade social e , portanto, na disposição de condições econômicas, culturais e institucionais concretas para à judicialização de demaridas veio no bojo da adoção de. políticas dos Estados .de bem-estar social nós países ocidentais — normalmente revestidas.de. proteção legal (FULLIN, 2013). Esta positivação de direitos sociais:e a regulamentação crescente das esferas da vida social por meio do Direito contribuiu para. a intensificação do recurso aos tribunais para à obtenção de direitos conquistados, processo definido por autores como Vianha et, a l (1997) como “a judicialização das relações sociais”, 9 O procêsso de judicialização se intensificou e adquiriu contornos: mais-conflituósos à partir das crises: econômicas e do desmonte de políticas-de bem-estar social nos países centrais:a partir do final dos anos 1970, As expectativas da cidadánia em pleitear direitos é políticas públicas sucateadas pelos próprios Estados (FULLIN, 2013), associadas ao crescente protagonismo do Judiciário coma espaço para resolução de tais questões provocou o fenômeno denominado por Boaveritura de Sousa Santos (1999) como “explosão de litigiosidade”. Entretanto, de forma concomitante a este processo,os próprios serviços judiciários destes países tiveram suas capacidades limitadas pela falta de investimento e recursos. A disparidade entre a estrutura existente do sistema e a grande demanda social de garantia de direitos por meio dos tribunais fomentou a “crise da administração da justiça” (FULLIN, 2013). Estes fenômenos estimularam as reflexões de governos.em torno de medidas para mitigá-los, bém como fomentaram a investigação e a pesquisa social — onde-se insere a Sociologia jurídica 6, iTiais especificamente, a Sociologia dos tribunais —, para identificar e fazer prognósticos. sobre gargalos e impedimentos, de ordem institucional, econômica, social ou cultural, ao acesso: à justiça pelos cidadãos. Como resposta a estes desafios, intensificaram-se movimentos por reformas:com o objetivo de enfrentar e mitigar as diversas barreiras e desigualdades de-acesso à justiça. Mauro Cappelletti, procêssualista italiano, teve destaque neste processo e identificou a existência de três conjuntos de reforma empreendidos sequencialmente no Ocidente com o objetivo de ampliar e qualificar O acesso à justiça, os quais ficaram usualmente conhecidos como “as ondasdo movimento de acesso à justiça”, A priméira onda de aprimoramento do ácesso à justiça tér ia sidô representada pelas pólíticas dê investimento público em assistência judiciária grátuita ao público fhecessitáido, visando minimizar as barreiras de caráter econômicono: sistema. Este tema foi introduzido no direito brasileiro a partir da Lei nº 1.060, de 1950, Para Cappelletti (1988), a segunda onda buscou enfrentar a questão da representação dos interesses difusos e coletivos, atribuindo légitimidade ativa para coletividaádes, grupos representativos e atóres governamentais - nó Brasil, especialmente o Ministério Público e em seguida a Defensoria Pública - , para ingressar em juízo em defesa dos direitos de uma multiplicidade de sujeitos, Par fim, a terceira onda-do movimento estaria assóciadá a um complexo de reformas visárido triodificar as formas de resolução de conflitos, tendo, como alguns de seus objetivos, a agilizição, simplificação e a busca de soluções: mais mediadas entre as partes (FULLIN, 2013). Nesta perspectiva, insere-se a ampliação da aplicação dos chamados meios alternativos de resolução dé cónflitos, como à justiça restaurativa, a mediáção, a conciliação e a arbitragem. PS 1 “ Se Ainda que tenham sido observados ávanços sensíveis nó acesso àjustiça às mittórias sociáis,6 tema-do acesso à justiça permaneceum desafio para oJudiciário e para o campo da Sociologia do direito, A flexibilização é simplificação de procédimentos também podem promiover e perpetuar assimetrias é desigualdades, o que exige contínua análise e reflexão sobre fiovos meios para promover a garantia de direitos e a resolução adequada de conflitos sociais. RR " À ca ” i a ra : e ao ml Figura 3 - supremo Tribunal Federal em Brasília (DF) Fonte: Diego Grandi, Shutterstock, 2020 fGMos ná imagem o Supremo Tribunal Federal em Brasilia (DF). Na frente do r i bna l , há uma estátua que simboliza a Justiça. a 2 Tribunais emovimentos sociais A organização do Judiciário brasileiro, definida por Boaventura de Sousa Saritos: (2011), se estrutura de fórmaã análoga à de uma pirâmide, onde a posição hierárquica defihe o prestígio e a influência dos indivíduos no sistema e na qual um pequeno número de juízes no alto desta hierarquia define quase integralmente a linha dos tribunais como um-todo. O autor observa que, assim como em Portugal, a transição pós-ditadura destes países pouco modificou à éstrutura organizacional dos tribunais, mantendo um cenário de insulamento burocrático; foco dos magistrados na “sucesso” individual de suas car re i ras— medido aqui pela escalada hierárquica, não qualidade ou influência do conteúdo e da correção das decisões proferidas. Este cenário de isolamento social do Judiciário implicou, também, na falta de discussão dê mecanismos de controle democrático da magistratura (SANTOS; 2011). movimentos negro, indígena é sem-terra —, em relação às insuficientes, atrasadas ou desiguais. respostas jurisdicionais às suas demandas. Dentre os questionamentos: realizados por estes movimentos, estão a falta de refléxão teóricá é social à respeito de inovações e refinamentos nós debates pólíticos e jurídicos acerca de políticase coniceitos como às cótás raciais,a função social dá propriedade é aos direitos dos povos óriginários. Isso leva à môrósidadeou ao desinteresse em proferir decisões liminares ou definitivas em tempo hábil; ou otácito pu explícito favorecimento aó lado econômica e socialmente favorecido das demandas pela reprodução, no processo,de assimetrias e desigualdades entre as partes. Lidar com este problema implica numa profunda reflexão acerca dá estruturado sistema de justiça não apenas nos métodos de seleção dos profissionais que operam no mesmo, tampouco exclusivamente na atualização do processo formativo dos magistrados,mas também nos métodos de avaliação de desempenho e dé définição da promoção na carreira (SANTOS, 2011), Nesse sentido, ocumprimento do potencial dos tribunais em prover materialmente-a garantia dás direitos sóciais e de mitigar desigualdades históricas que nossa Carta Constitucional se comprometeu a combaterimplicanuma autorreflexãodesta instituição acerca de suasfunções edesua responsabilidade sistêmica — mas realizada por meio de demandas individuais ou setoriais — de enfrentar conflitos estruturais existentes no tecido social. Isto implica também em acolher uma conicepção atual e ampla de direitos humanos, concebida aqui para além de sua dimensão estritamente individualista,civil e política, incluindo também direitos sociais eeconômicos coletivos e difusos. Na apreciação de conflitos relacionados à demandas étnico-raciais históricas; isto demanda a cómpreensão do papel estruturante da escravidão e do colónialismo na formação da sociedade brasileira, bem como da permanência de desigualdades sociais é econômicas entre branicos e negros no Brasil. Isto se associa inclusive à escassa presença da população negra no corgo burocrático do Judiciário, especialmente em cargos de maior prestígio. Por outro lado, no que diz respeito aos conflitos associados à terra e à propriedade nos meios rural e urbano, observa-se áqui uma atuação contínua de pelo mMenoôs quatro grupós fiumerosos de movimentos sociais, articulados de forma relativamente autônoma entre si, Além dos movimentos sem-terra, dos quilombolas e de povos indígenas, indicados por Boaventura de Sousa Santos (2011), emergiu com maior força na última década o movimento dos sem-teto e das ócupações urbánas. As demandas históricas destes grupos exigem dos membros do Judiciário sensibilidade e compreensão sistêmica do arcabouço jurídico erigido pós-Constituição de 1988 pára uma avaliação parcimoniosa dos direitos de tais atores nas diversas demandas em que à posição dos tribunais será à palavra final. tura jurídica e independência judicial Nesse sentido, Santos (2011) relaciona a necessidade de se buscar uma equalização entre a necessária garantia dá independência do Judiciário e de seus atores — vistá cómo importante cónquista democrática e,concomitantemente, 6 desenvolvimeritode mecanismos democráticos. de controle-externo da atividade judicial. ” Isto sé justifica pelo fato de que , na maioria das democracias. modernas, à Judiciário é .6 único dos t rês poderes no qual seus agentes não: obtêm seus cargos direta: ou indiretamente telácionados àsoberania popular, sendo Membros não-eleitos. Este fato, associado a uma estrutura organizacional obsoleta e, no caso brasileito, do dirécionamento de vultuosos fecursos financeiros para à administração da justiça (em porcentagem maiór do PIB que todos os países desenvolvidos, bem como de outras nações, latinoamericanas) — em especial voltada aos altos salários e “penduricalhos”, ou verbas e auxílios adicionais ao salário — contribui para o insulamento excessivo deste Poder e, em consequência, à exaceérbação do corporativismo ha instituição. Ao Mesmo tempo, diversos estudos demonstraram à predominância, deritro do corpo de funcionários do Judiciário, de pessoas de origem social abastada e cujo ambiente familiar e social é, historicamerite, afim ao da elite econômica e cultural brasileira, Esta condição pode produzir diversas implicações, como à falta de empatia com a condição de partes desfavorecidas. em processos, bem como, numa perspectiva sistêmica, de um ethos conservador e tendente à. manutenção do status: quo , visto que os própr ios juízes, desembargadores e promotores compõem à elite, com interesses materiais. é posturas ideológicas conformes. Exemplos da influência de uma cultura jurídica particular, e geralmente conservadora, ná prestação jurisdicional concréta não faltam. Um desdobramento marcante deste fenômeno foi úbservado a partir da ampliação das hipóteses legais de alternativas à prisão no processo penal pátrio, com a inserção de novas possibilidades de medidas cautelares. Embora se esperasse um possível impacto da mudança legislativa na redução da população carcerária brasileira, pesquisas. como a do Instituto Sou da Paz (2011) mostraram a permanência da preferência dos magistrados. em designar a privação da liberdade de acusados na maioria dos casos, bem como de hipóteses antigas e restritasdemedidas cautelares, como a fiança, Este resultado se reláciona diretamente cóm às os conceitos é preconceitos acerca da figura do acusado, de seu papel no sistema de justiça criminal é das funções do mesmo. Ao invés de julgador imparcial e desinteressado, muitos. magistrados passaram a se considerar verdadeiros. agentes de segurança orientados pela “luta contra o crime” (INSTITUTO SOU DA PAZ, 2011). Situação parecida foi observada por Santos (2011) após reforma similar ocorrida em Portugal, Néssé país, os pesquisadores captaram outró aspecto relevante quê influía nabaixa aplicação da medida de cumprimento de serviços à comunidade: o escasso diálogo e articulação dó Judiciário luso com os programas de assistência social e organizações da sociedade civil. Desse módo, Santos (2011) e outros autores perceberam a relevância de se. atentar à cultura jurídica para que mudanças sociais.e reformas legislativas tenham os resultados coneretos almejados: *[...) sem uma outra cultura jurídica não se faz nenhuma réforma”" (SANTOS, 2011, p. 84), ÔÓ 95 Nesse sentido, 6 sociólogo português concluir “(...) A nossa máta deve ser a criação de uma cultura jurídica que leve os cidadãosa sentirem-se mais próximos da justiça. Não haverá justiça Mais próxima dos cidadãos, se os cidadãos não Sé sentifem mais próximos dajustiça. “"(SANTOS, 2011; p . 84). Nesta unidade, você teve à oportunidade de: * Discutiro que éo Direito é quais as suas funções:nas:sociedades contemporâneas: * Estudar perspectivas que consideram o Direito como. mecanismo de garantia: da solidariedade social, é a daqueles que o veem como instrumento de dominação e consolidação do poder das classes dominantes. * Compreender outras discussões importantes na. sociologia jurídica: a do nível de autonomia do direito face à realidade social, e às divisões acerca do papel predominante do ordenamento jurídico — se fréio às: mudariças sociais estruturais, ou mecanismo Útil para à promoção de reformas. » Aprofundar aspectos relativos ao tema do controle social promovido pelo. Direito, suas diferenciações internas, características, e abordamos com maiáór especificidade o formato deste controle sócial a partir da ótica furicionalista. * Estudar os questionamentos realizados ao controle social do direito — primeiro peló questionamento e problematização realizada pelos estudiosos do pluralismo jurídico, e depois destrinchando críticas empreendidas por sociólogos do conflito em relação aos usos, funções e justificativas do poder punitivo do Estado, mostrando como exemplo o discurso relativo às funções de prevenção geral e especial da pena privativa de liberdade e' a crise do ideal ressocializador * compreender a sociologia da aplicação do direito e alguns. de seus subtermas: a discussão acerca do acesso à justiça ao longo do século XX, o perfil e a estrutura do Poder Judiciário brasileiro e de seus integrantes, bem como as críticas e questionamentos de movimentos sociais em relação à (baixa) permeabilidade das instituições de justiça às demandas populares, bem cómo à origem social privilegiada da maioria dos juízes, promotores e desembargadores do país.. 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Com o objetivo dê proporcionar um panorama multidisciplinar do Direito, este livro vai abordar a Sociologia do Direito e à Antropologia Jurídica, dois campos de estudo social do Direito muito. importantes. Aqui, essas duas ciências serão discutidas a partir das tfiações básicas, das perspectivas históricas e sociológicas, além de apresentar os autores mais importantes e influentes da área: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. A análise das noções de “globalização” e “multiculturalismo”, tão importantes no mundo atual cada vez mais conectado, está presente neste livro também. O papel e o lugar do Direito em sua relação com a Sociedade e a estrutura econômica e social a qual ele regula e-qual a possibilidade de a prática jurídica promover ou barrar a mudança Sócial serão témas também desta obra. Uma obra abrangente que aborda ainda a Sociologia da aplicação do Direito ou a Sociologia dos tribunais e o papel do Judiciário no desdobramento da. cultura. jurídica £& na relação com os movimentos sociais. O estudo deste livra vai fazer à diferença na sua formação. Aproveite a leitura!