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1 MACABEUS E A HISTÓRIA DE HANUKAH PRIMEIRO MACABEUS I. Preâmbulo 1 Alexandre e os Diádocos — 1 Depois que Alexandre, filho de Filipe, macedônio saído da terra de Cetim, venceu Dario, rei dos persas e dos medos, tornou-se rei em seu lugar, começando pela Hélade. 2 Empreendeu, então, numerosas guerras, apoderou-se de fortalezas e eliminou os reis da terra. 3 Avançou até às extremidades do mundo e tomou os despojos de uma multidão de povos, e a terra silenciou diante dele. Assim exaltado, seu coração se elevou. 4 E recrutou um exército sobremaneira poderoso, submetendo províncias, nações e soberanos, que se tornaram seus tributários. 5 Depois disso tudo, caiu doente e percebeu que ia morrer. 6 Convocou então seus oficiais, os nobres que tinham com ele convivido desde a mocidade e, estando ainda em vida, repartiu entre eles o reino. 7 Alexandre havia reinado por doze anos quando morreu. 8 Seus oficiais tomaram o poder, cada qual no lugar que lhe coube. 9 Todos cingiram o diadema após sua morte e, depois deles, seus filhos, durante muitos anos. E multiplicaram os males sobre a terra. Antíoco Epífanes e a penetração do helenismo em Israel — 10 Deles saiu aquele rebento ímpio, Antíoco Epifanes, filho do rei Antíoco. Ele tinha estado em Roma como refém e se tornara rei no ano cento e trinta e sete da dominação dos gregos. 11 Por esses dias apareceu em Israel uma geração de perversos, que seduziram a muitos com estas palavras: "Vamos, façamos aliança com as nações circunvizinhas, pois muitos males caíram sobre nós desde que delas nos separamos." 12 Agradou-lhes tal modo de falar. 13 E alguns dentre o povo apressaram-se em ir ter com o rei, o qual lhes deu autorização para observarem os preceitos dos gentios. 14 Construíram, então, em Jerusalém, uma praça de esportes, segundo os costumes das nações, 15 restabeleceram seus prepúcios e renegaram a aliança sagrada. Assim associaram-se aos gentios e se venderam para fazer o mal. Primeira campanha no Egito e saque do Templo — 16 Ora, quando Antíoco se viu consolidado no seu trono, pretendeu apoderar-se também do Egito, a fim de reinar sobre os dois reinos. 17 Invadiu, pois, o Egito à frente de um exército poderoso, com carros, elefantes (e cavaleiros) e uma grande esquadra, 18 entrou em combate com o rei do Egito, Ptolomeu, o qual recuou diante dele e fugiu, muitos tombando feridos. 19 As cidades fortificadas do Egito foram tomadas e Antíoco apoderou-se dos despojos do país. 20 Tendo assim vencido o Egito no ano cento e quarenta e três e empreendendo o caminho da volta, subiu contra Israel e contra Jerusalém com um exército numeroso. 21 Entrando com arrogância no Santuário, apoderou-se do altar de ouro, do candelabro com todos os seus acessórios, 22 da mesa da proposição, das vasilhas para as libações, das taças, dos incensórios de ouro, do véu, das coroas, da decoração de ouro sobre a fachada do Templo: tudo ele despojou. 23 Tomou, além disso, a prata, o ouro, os utensílios preciosos e os tesouros secretos que conseguiu descobrir. 24 Carregando tudo isso, partiu para o seu país, depois de ter derramado muito sangue e proferido palavras de extrema arrogância. 25 Por isso levantou-se grande lamentação sobre Israel em todas as localidades do país: 26 Chefes e anciãos gemeram, moças e moços perderam seu vigor, murchou a beleza das mulheres. 27 Todo recém-casado entoou uma elegia, ficou de luto a esposa em sua câmara nupcial. 28 A terra estremeceu por causa de seus habitantes, e toda a casa de Jacó se cobriu de vergonha. www.tifsa.com.br 2 A Bíblia de Jerusalém Intervenção do Misarca e construção da Cidadela — 29 Dois anos depois, o rei enviou para as cidades de Judá o Misarca, que veio a Jerusalém com um grande exército. 30 Dirigindo-se aos habitantes com palavras enganosas de paz, ganhou-lhes a confiança e, de repente, caiu sobre a cidade, golpeou-a duramente e chacinou a muitos de Israel. 31 Saqueada a cidade, entregou-a às chamas e destruiu-lhe as casas e as muralhas. 32 Levaram prisioneiras as mulheres e as crianças e apoderaram-se do gado. 33 Então reconstruíram a Cidade de Davi, dotando-a de grande e sólida muralha e de torres fortificadas, e dela fizeram a sua Cidadela. 34 Povoaram-na de gente ímpia, homens perversos, e nela se fortificaram. 35 Abasteceram-na de armas e víveres e nela depositaram os despojos tomados em Jerusalém, tornando-se assim uma armadilha enorme para nós. 36 Aquilo era uma emboscada para o lugar santo, um adversário maléfico para Israel constantemente. 37 Derramaram sangue inocente em redor do Santuário, e ao Santuário profanaram. 38 Por sua causa fugiram os habitantes de Jerusalém e ela transformou-se em habitação de estrangeiros. Jerusalém tornou-se estranha à sua progênie e seus próprios filhos a abandonaram. 39 Seu Santuário ficou desolado como um deserto, suas festas converteram-se em luto, seus sábados em injúria, sua honra em vilipêndio. À sua glória igualou-se a ignomínia e sua exaltação mudou-se em pranto. Instalação dos cultos pagãos — 41 O rei prescreveu, em seguida, a todo o seu reino, que todos formassem um só povo, 42 renunciando cada qual a seus costumes particulares. E todos os gentios conformaram-se ao decreto do rei. 43 Também muitos de Israel comprazeram-se no culto dele, sacrificando aos ídolos e profanando o sábado. 44 Além disso, o rei enviou, por emissários, a Jerusalém e às cidades de Judá, ordens escritas para que todos adotassem os costumes estranhos a seu país 45 e impedissem os holocaustos, o sacrifício e as libações no Santuário, profanassem sábados e festas, 46 contaminassem o Santuário e tudo o que é santo, 47 construíssem altares, recintos e oratórios para os ídolos e imolassem porcos e animais impuros. 48 Que deixassem, também, incircuncisos seus filhos e se tornassem abomináveis por toda sorte de impurezas e profanações, 49 de tal modo que se olvidassem assim da Lei e subvertessem todas as observâncias. 50 Quanto a quem não agisse conforme a ordem do rei, esse incorreria em pena de morte. 51 Nesses termos ele escreveu a todo o seu reino, nomeou inspetores para todo o povo e ordenou às cidades de Judá que oferecessem sacrifícios cada uma por sua vez. 52 Muitos dentre o povo aderiram a eles, todos os que eram desertores da Lei. E praticaram o mal no pais, 53 reduzindo Israel a ter de se ocultar onde quer que encontrasse refúgio. 54 No décimo quinto dia do mês de Casleu do ano cento e quarenta e cinco, o rei fez construir, sobre o altar dos holocaustos, a Abominação da desolação. Também nas outras cidades de Judá erigiram-se altares 55 e às portas das casas e nas praças queimava- se incenso. 56 Quanto aos livros da Lei, os que lhes caíam nas mãos eram rasgados e lançados ao fogo. 57 Onde quer que se encontrasse, em casa de alguém, um livro da Aliança ou se alguém se conformasse à Lei, o decreto real o condenava à morte. 58 Na sua prepotência assim procediam, contra Israel, com todos aqueles que fossem descobertos, mês por mês, nas cidades. 59 No dia vinte e cinco de cada mês, ofereciam-se sacrifícios no altar levantado sobre o altar dos holocaustos. Quanto às mulheres que haviam feito circuncidar seus filhos, eles, cumprindo o decreto, as executavam 61 com os mesmos filhinhos pendurados a seus pescoços, e ainda com os seus familiares e com aqueles que haviam operado a circuncisão. 62 Apesar de tudo, muitos em Israel ficaram firmes e se mostraram irredutíveis em não comerem nada de impuro. 63 Aceitaram antes morrer que contaminar-se com os alimentos e profanar a www.tifsa.com.br 3 A Bíblia de Jerusalém Aliança sagrada, como de fato morreram. 64 Foi sobremaneira grande a ira que se abateu sobre Israel. II. Matatias desencadeia a guerra santa 2 Matatias e seus filhos — 1 Naqueles dias, Matatias,filho de João, filho de Simeão, sacerdote da linhagem de Joiarib, deixou Jerusalém para estabelecer-se em Modin. 2 Tinha cinco filhos: João, com o cognome de Gadi, 3 Simão, chamado Tasi, 4 Judas, chamado Macabeu, 5 Eleazar, chamado Auarã, e Jônatas, chamado Afus. 6 Ao ver as impiedades que se cometiam em Judá e em Jerusalém, 7 exclamou: "Ai de mim! Por que nasci para contemplar a ruína do meu povo e o pisoteamento da cidade santa, deixando-me estar aqui sentado enquanto ela é entregue à mercê dos inimigos e o Santuário ao arbítrio dos estrangeiros? 8 Seu Templo tornou-se como um homem aviltado, 9 os ornatos que faziam a sua glória foram levados como presa; seus filhinhos, trucidados nas praças e seus jovens, pela espada do inimigo. 10 Qual é a nação que não herdou dos seus tesouros reais ou não se apoderou dos seus despojos? 11 Todos os seus enfeites lhe foram arrebatados e, de livre que era, tornou-se escrava. 12 Eis devastado o nosso lugar santo, a nossa beleza, a nossa glória, tudo os gentios o profanaram! 13 A que serve ainda viver?" 14 E Matatias rasgou suas vestes, o mesmo fazendo seus filhos. Revestiram-se de pano grosseiro e prorromperam em grande pranto. A prova do sacrifício em Modin — 15 Os emissários do rei, encarregados de forçar à apostasia, vieram à cidade de Modin para procederem aos sacrifícios. 16 Muitos israelitas aderiram a eles, mas Matatias e seus filhos conservaram-se reunidos à parte. 17 Tomando então a palavra, os emissários do rei disseram a Matatias: "Tu és um chefe ilustre e de prestígio nesta cidade, apoiado por filhos e parentes. 18 Aproxima-te, pois, por primeiro, para cumprir a ordem do rei, como o fizeram todas as nações bem como os homens de Judá e os que foram deixados em Jerusalém. Assim, tu e teus filhos sereis contados entre os amigos do rei e sereis honrados, tu e teus filhos, com prata e ouro e copiosos presentes." 19 A essas palavras retrucou Matatias em alta voz: "Ainda que todas as nações que se encontram na esfera do domínio do rei lhe obedeçam, abandonando cada uma o culto dos seus antepassados e conformando-se às ordens reais, 20 eu, meus filhos e meus irmãos continuaremos a seguir a Aliança dos nossos pais. 21 Elohim nos livre de abandonar a Lei e as tradições. 22 Não daremos ouvido às palavras do rei, desviando-nos de nosso culto para a direita ou para a esquerda." 23 Mal terminou ele de proferir essas palavras, um judeu apresentou-se, à vista de todos, para sacrificar sobre o altar de Modin, segundo o decreto do rei. 24 Ao ver isso, Matatias inflamou-se de zelo e seus rins estremeceram. Tomado de justa ira, ele arremessou-se contra o apóstata e o trucidou sobre o altar. 25 No mesmo instante matou o emissário do rei, que forçava a sacrificar, e derribou o altar. 26 Ele agia por zelo pela Lei, do mesmo modo como havia procedido Finéias para com Zambri, filho de Saiu. 27 A seguir clamou Matatias em alta voz através da cidade: "Todo o que tiver o zelo da Lei e quiser manter firme a Aliança, saia após mim!" 28 Então fugiu, ele e seus filhos, para as montanhas, deixando tudo o que possuíam na cidade. A prova do sábado no deserto — 29 Muitos que amavam a justiça e a Lei desceram ao deserto para ali se estabelecerem, 30 eles, seus filhos, suas mulheres e seu gado, porque se tinham multiplicado os males sobre eles. 31 Alguém referiu aos oficiais do rei e à guarnição que estava em Jerusalém, na cidade de Davi, que alguns dos que haviam rejeitado o decreto real tinham descido para os esconderijos no deserto. 32 Então muitos www.tifsa.com.br 4 A Bíblia de Jerusalém saíram em sua perseguição e os alcançaram. Tendo acampado diante deles, prepararam- se para atacá-los em dia de sábado. 33 E disseram-lhes: "Agora basta! Saí, obedecei à ordem do rei e tereis salva a vida!" 34 "Não sairemos, responderam aqueles, e não cumpriremos a ordem do rei, profanando o dia de sábado.", 35 Então os perseguidores os atacaram sem demora. 36 Mas eles não revidaram, nem uma pedra sequer lhes arremessaram, nem mesmo cuidaram de obstruir seus esconderijos. 37 Apenas disseram: "Morramos todos em nossa retidão. O céu e a terra são testemunhas de que nos matais injustamente." 38 Assim mesmo levantaram-se contra eles, em guerra, em dia de sábado. E pereceram eles, suas mulheres, seus filhos e seu gado, ao todo cerca de mil pessoas. Atividade de Matatias e seus seguidores — 39 Quando Matatias e seus companheiros souberam disso, choraram-nos amargamente. 40 Disseram, porém, uns aos outros: "Se todos fizermos como esses nossos irmãos, se não lutarmos contra os gentios por nossa vida e por nossas tradições, eles em breve nos exterminarão da terra!" 41 Tomaram, pois, naquele mesmo dia, esta decisão: "Todo aquele que vier atacar-nos em dia de sábado, nós o afrontaremos abertamente. Assim não morreremos todos, como morreram nossos irmãos em seus esconderijos." 42 Então uniu-se a eles o grupo dos assideus, homens valorosos de Israel, cada um deles apegado à Lei. 43 Da mesma forma, todos os que fugiam desses males aderiam a eles e forneciam-lhes apoio. 44 Assim organizaram um exército e bateram os ímpios em sua ira e os homens iníquos em sua ira. Os restantes fugiram, buscando a salvação entre os gentios. 45 Matatias e seus companheiros fizeram incursões pelo país, a fim de destruírem os altares 46 e circuncidarem à força todos os meninos incircuncisos que encontrassem pelo território de Israel. 47 Deram caça aos filhos da soberba, e seu empreendimento prosperou em suas mãos. 48 Conseguiram recuperar a Lei das mãos dos gentios e dos reis, e não permitiram que o celerado triunfasse. Testamento e morte de Matatias — 49 Aproximando-se os dias de sua morte, disse Matatias a seus filhos: "Triunfam agora a insolência e o ultraje e é o tempo da destruição e da cólera enfurecida. 50 Agora, pois, meus filhos, tende o zelo da Lei e dai as vossas vidas pela Aliança de nossos pais. 51 Recordai-vos dos feitos de nossos antepassados em seu tempo e granjeareis uma glória esplêndida e nome imorredouro. 52 Abraão não permaneceu acaso fiel em sua prova e não lhe foi isto atribuído como justiça? 53 José, no tempo da sua angústia, guardou os mandamentos e veio a ser o senhor do Egito. 54 Finéias, nosso pai, por ter demonstrado zelo ardente recebeu a aliança de um sacerdócio eterno. 55 Josué, por ter cumprido sua palavra, tornou-se juiz em Israel. 56 Caleb, pelo testemunho prestado diante da assembléia, recebeu uma herança na terra. 57 Davi, pela sua bondade, herdou o trono de um reino eterno. 58 Elias, por ter ardido de zelo pela Lei, foi arrebatado até o céu. 59 Ananias, Azarias e Misael, por terem tido fé, foram salvos das chamas. 60 Daniel, por sua retidão foi libertado da boca dos leões. 61 Assim compreendei, de geração em geração, que todos os que nele esperam, não irão desfalecer. 62 Não tenhais medo das ameaças do homem pecador, pois a sua glória acabará no esterco e em meio aos vermes. 63 Hoje ele é exaltado, mas amanhã terá desaparecido, pois voltará ao pó de onde veio e seu projeto fracassará. 64 Meus filhos, sede fortes e apegai-vos firmemente à Lei, porque é na Lei que sereis glorificados. 65 Aí tendes Simeão, vosso irmão, que eu sei que é um homem ponderado. Escutai-o todos os dias: ele será o vosso pai. 66 Quanto a Judas Macabeu, valente guerreiro desde a sua juventude, ele será o comandante do vosso exército e dirigirá a guerra contra os gentios. 67 E vós, atraí ao vosso grupo todos os que observam a Lei e assegurai a desforra do vosso povo. 68 Retribuí aos gentios o que eles merecem e permanecei atentos ao que www.tifsa.com.br 5 A Bíblia de Jerusalém prescreve a Lei." 69 A seguir abençoou-os e foi reunido a seus pais. 70 Ele morreu no ano cento e quarenta e seis, e foi sepultadono sepulcro de seus pais em Modin. Israel inteiro o pranteou veementemente. III. Judas Macabeu, chefe dos judeus (166-160 a.C) 3 Elogio de Judas Macabeu — 1 Judas, cognominado Macabeu, seu filho, levantou-se em seu lugar. 2 E todos os seus irmãos e quantos haviam aderido a seu pai apoiavam-no, pelejando com alegria os combates de Israel. 3 Ele estendeu a glória do seu povo, revestiu a couraça como um gigante e cingiu suas armas de guerra; sustentou muitas batalhas, protegendo o acampamento com sua espada. 4 Foi semelhante ao leão nas suas façanhas e ao filhote de leão que ruge sobre a presa. 5 Deu caça aos iníquos, desencovando-os, e às chamas entregou os que perturbavam o seu povo. 6 Esmoreceram os iníquos pelo terror que ele inspirava: todos os que praticavam a iniqüidade ficaram confundidos, e a libertação foi por ele conduzida a bom termo. 7 Causou amargos dissabores a muitos reis, mas alegrou a Jacó pelos seus feitos, e sua memória será sempre abençoada. 8 Percorreu as cidades de Judá, exterminando do seu meio os ímpios, e afastou de Israel a ira. 9 Seu nome chegou até às extremidades da terra e os que estavam perecendo ele reuniu. Primeiras vitórias de Judas — 10 Apolônio tinha recrutado, além dos gentios, um forte contingente da Samaria, para empreender a guerra contra Israel. 11 Ciente disso, Judas saiu a seu encontro, derrotou-o e o matou. Muitos tombaram, feridos de morte e os restantes fugiram. 12 Recolhidos seus despojos, ficou Judas com a espada de Apolônio, com ela combatendo todos os seus dias. 13 Entrementes, ouvira Seron, comandante do exército da Síria, que Judas havia reunido em torno de si um pugilo de fiéis e de gente disposta para a guerra. 14 E disse consigo mesmo: "Vou conquistar renome e cobrir-me.de glória no reino, enfrentando Judas e os que estão com ele, esses desprezadores das ordens do rei." 15 Preparou-se, pois, e juntamente com ele subiu um forte contingente de ímpios, que iam ajudá-lo a tomar vingança dos filhos de Israel. 16 Aproximando-se ele da subida de Bet-Horon, saiu Judas a seu encontro com pouca gente. 17 Ao verem aquele exército que marchava contra eles, disseram a Judas os seus homens: "Como poderemos nós, tão poucos, enfrentar multidão tão grande e poderosa? Além disso, estamos extenuados, não tendo comido nada hoje!" 18 Mas Judas respondeu: "É bem fácil que muitos venham a cair nas mãos de poucos. Pois não há diferença, para o Céu, em salvar com muitos ou com poucos. 19 A vitória na guerra não depende da numerosidade do exército: é do Céu que vem a força. 20 Eles vêm contra nós repletos de insolência e de iniqüidade para nos exterminarem, a nós, nossas mulheres e nossos filhos, e para nos despojarem. 21 Nós, porém, combatemos por nossas vidas e por nossas leis. 22 Por isso, Ele os esmagará à nossa frente. Quanto a vós, não os temais!" 23 Apenas acabou de falar, arremessou-se contra eles de improviso. E Seron e seu exército foram esmagados diante dele. 24 Os homens de Judas perseguiram-nos pela descida de Bet-Horon até à planície. Pereceram cerca de oitocentos dos inimigos, enquanto os restantes fugiram para a terra dos filisteus. 25 Assim, Judas e seus irmãos começaram a ser temidos, e o temor se espalhou entre os povos circunvizinhos. 26 Sua fama chegou até ao rei, e das batalhas de Judas falavam os povos. Preparativos de Antíoco contra a Pérsia e a Judéia. Regência de Lísias — 27 Ao receber essas notícias, o rei Antíoco enfureceu-se violentamente e mandou reunir todas as forças do seu reino, um exército poderosíssimo. 28 Abriu seu tesouro e adiantou o www.tifsa.com.br 6 A Bíblia de Jerusalém soldo de um ano às tropas, dando-lhes ordem de prontidão para qualquer eventualidade. 29 Então percebeu que minguava o dinheiro em seus cofres e que as coletas da província haviam diminuído em conseqüência da revolta e da calamidade que ele mesmo havia desencadeado no país, ao pretender suprimir as leis que vigoravam desde os tempos mais remotos. 30 Preocupou-se com a eventualidade de não ter, como já lhe ocorrera uma ou duas vezes, fundos suficientes para as despesas e os donativos que antes fazia com mão pródiga, superando nisso os reis que o haviam precedido. 31 Tomado de grande ansiedade em seu espírito, decidiu partir para a Pérsia a fim de cobrar os tributos das províncias e arrecadar muito dinheiro. 32 Antes, porém, deixou Lísias, homem da nobreza e da família real, na direção dos negócios do rei, desde o Eufrates até à fronteira com o Egito. 33 Incumbiu-o também da tutela de seu filho Antíoco, até sua volta. 34 Confiou-lhe, assim, a metade de suas tropas, com os elefantes, dando-lhe instruções a respeito de tudo o que desejava, em especial com relação aos habitantes da Judéia e de Jerusalém: 35 Lísias deveria enviar contra eles um exército para extirpar e fazer desaparecer a força de Israel e o que ainda restava de Jerusalém, apagando até mesmo a lembrança deles no lugar. 36 Além disso, deveria estabelecer filhos de estrangeiros em todas as suas terras e distribuir seu país em lotes. 37 A seguir, o rei tomou consigo a metade restante das tropas e partiu de Antioquia, capital do seu reino, no ano cento e quarenta e sete. E, depois de atravessar o Eufrates, pôs-se a percorrer as províncias do planalto. Górgias e Nicanor invadem a Judéia com o exército da Síria — 38 Lísias escolheu Ptolomeu, filho de Dorímenes, Nicanor e Górgias, homens valorosos entre os amigos do rei, 39 e os enviou com quarenta mil homens de infantaria e sete mil cavaleiros para invadirem o território de Judá e o devastarem segundo a ordem do rei. 40 Pondo-se em marcha com todo o seu exército, eles vieram acampar perto de Emaús, na planície. 41 Os comerciantes do país, ao tomarem conhecimento da sua vinda trazendo consigo prata e ouro em grande quantidade, além de se munirem de grilhões, vieram ao acampamento para comprar os filhos de Israel como escravos. Aos sírios pintara-se ainda um contingente da Iduméia e da região dos filisteus. 42 Judas e seus irmãos viram que os males se multiplicavam e que exércitos inimigos estavam já acampando em seu território. Vieram a saber também das ordens do rei com relação ao seu povo, visando à sua ruína e extermínio. 43 Disseram uns aos outros: "Reergamos nosso povo do abatimento e combatamos por nosso povo e pelo lugar santo." 44 Foi convocada então a assembléia para estarem todos preparados para a guerra e para fazerem oração, suplicando graça e misericórdia. 45 Ora, Jerusalém estava despovoada como um deserto, nela não entrando e dela não saindo nenhum de seus filhos. Conculcado estava o Santuário, e os filhos dos estrangeiros ocupavam a Cidadela, transformada em hospedaria para os gentios. Arrancada fora a alegria de Jacó e não se ouviam mais a flauta e a cítara. Reunião dos judeus em Masfa — 46 Reuniram-se, pois, e dirigiram-se a Masfa, em frente a Jerusalém, porque ali houvera, outrora, um lugar de oração para Israel. 47 Jejuaram, naquele dia, vestiram-se de tecido grosseiro, espargiram cinza sobre a cabeça, rasgaram suas vestes. 48 Depois desenrolaram o livro da Lei, nele procurando o que os pagãos perguntavam às representações dos seus ídolos. 49 Trouxeram também as vestes sacerdotais, as primícias e os dízimos, e convocaram os nazireus que já haviam completado o período do seu voto. 50 E diziam, elevando a voz para o Céu: "Que faremos desta gente e para onde os levaremos? 51 Teu lugar santo está sendo conculcado e profanado, teus sacerdotes jazem no luto e na humilhação. 52 Vê que os gentios se www.tifsa.com.br 7 A Bíblia de Jerusalém coligaram contra nós a fim de nos aniquilarem: tu sabes o que tramam contra nós! 53 Como poderemos resistir diante deles, se não vieres tu em nossa ajuda?" 54 A seguir tocaram as trombetas e levantaram grande clamor. 55Depois disto, Judas nomeou os chefes do povo: comandantes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez homens. 56 E disse aos que estavam construindo casa, aos que haviam desposado mulher, aos que tinham plantado uma vinha ou que estavam com medo, que voltasse cada um para sua casa, conforme o permitia a Lei. 57 Seu exército então se pôs em marcha, indo acampar ao sul de Emaús. 58 Judas tomou a palavra novamente: "Preparai- vos e sede valentes. Estai prontos para amanhã de manhã sairdes ao combate contra esses gentios que se coligaram contra nós para nos aniquilarem e destruírem o nosso lugar santo. 59 Porquanto é melhor para nós morrer em batalha do que ter de contemplar as desgraças do nosso povo e do lugar santo. 60 Aquela, porém, que for a vontade no Céu, Ele a realizará." 4 A batalha de Emaús — 1 Górgias tomou consigo cinco mil homens e mil cavaleiros escolhidos. Esse exército partiu de noite, 2 a fim de irromper de súbito no acampamento dos judeus e destroçá-los num instante. Homens da Cidadela faziam-lhes de guias. 3 Sabedor desse plano, Judas por sua vez partiu com os seus guerreiros para atacar as forças do rei que tinham permanecido em Emaús, 4 enquanto os batalhões estavam ainda dispersos, fora do acampamento. 5 Entrementes, Górgias chegou de noite ao acampamento de Judas, aí não encontrando ninguém. E começou a procurá-los pelas montanhas, dizendo: "Eles estão fugindo de nós!" 6 Ao amanhecer, Judas apareceu na planície com três mil guerreiros, embora sem armas e sem espadas em número desejável. 7 E viram que o acampamento dos gentios era poderoso e fortificado e que a cavalaria fazia ronda em seu redor, todos parecendo treinados na guerra. 8 Por isso disse Judas aos seus: "Não tenhais medo do seu número, nem vos desencorajeis ante seu ímpeto. 9 Lembrai-vos de como vossos pais foram salvos no mar Vermelho, quando o Faraó os perseguia com o seu exército. 10 Clamemos, pois, agora, ao Céu, suplicando-lhe que se mostre benigno para conosco: que se recorde da Aliança com os nossos pais e esmague, hoje, este exército que está diante de nós. 11 Então saberão todos os povos que existe Alguém que resgata e salva Israel." 12 Foi quando os estrangeiros, levantando os olhos, viram-nos marchando contra eles 13 e saíram do acampamento para enfrentá-los. Os homens de Judas, tocadas as trombetas, 14 engolfaram- se na batalha. E os gentios, esmagados, tiveram de fugir para a planície, 15 mas todos os que estavam na retaguarda caíram sob a espada. Perseguiram-nos ainda até Gazara e às planícies da Iduméia, de Azoto e de Jâmnia, sucumbindo dentre eles cerca de três mil homens. 16 Judas, porém, retornando com seu exército da perseguição aos fugitivos, 17 disse ao povo: "Deixai de lado a avidez dos despojos, pois um outro combate nos espera. 18 Górgias e seu exército estão na montanha perto de nós. Enfrentai, pois, agora, os nossos inimigos e dai- lhes combate. Depois recolhereis os despojos com toda a segurança." 19 Enquanto Judas eslava ainda completando essas instruções, apareceu um destacamento deles, espiando do alto da montanha. 20 E viram que os seus tinham sido postos a fugir e que alguém estava incendiando o acampamento: a fumaça que se percebia manifestava o sucedido. 21 Diante de tal espetáculo, foram tomados de grande pânico. Mais ainda, vendo também na planície as tropas de Judas prontas para o combate, 22 fugiram todos para a região dos filisteus. 23 Então Judas voltou para saquearem o acampamento, onde encontraram muito ouro e prata, tecidos tingidos de púrpura roxa e de púrpura marinha, enfim, grandes riquezas. 24 Ao se retirarem, cantavam hinos e bendiziam ao Céu, repetindo: "Ele é bom e seu amor é eterno!" 25 Assim uma grande salvação aconteceu para Israel, naquele dia. 26 Quanto aos estrangeiros que tinham conseguido pôr-se a salvo, foram referir a Lísias www.tifsa.com.br 8 A Bíblia de Jerusalém tudo o que tinha acontecido. 27 Ao ouvir isso, ele ficou transtornado e abatido, pois as coisas com Israel não tinham ocorrido como ele esperava e o resultado era o inverso do que lhe havia ordenado o rei. Primeira campanha de Lísias — 28 Por isso, no ano seguinte ele recrutou sessenta mil homens escolhidos e cinco mil cavaleiros, com o objetivo de subjugar os judeus. Entraram na Iduméia e acamparam em Betsur, mas Judas saiu para enfrentá-los com dez mil homens. 30 Ao ver tão poderoso exército, ele orou dizendo: "Tu és bendito, ó Salvador de Israel, tu que esmagaste o ímpeto de um gigante pela mão do teu servo Davi e entregaste o acampamento dos filisteus às mãos de Jônatas, filho de Saul, e do seu escudeiro. 31 Da mesma forma entrega este exército nas mãos de Israel, o teu povo; que se cubram de ignomínia com a sua força e a sua cavalaria. 32 Infunde-lhes o medo e quebra-lhes a presunção da sua força, para que sejam levados de roldão na sua derrota. 33 Abate-os sob a espada dos que te amam, para que te exaltem com hinos todos os que conhecem o teu nome!" 34 Arremessaram-se então uns contra os outros, caindo cerca de cinco mil homens do exército de Lísias, prostrados no corpo a corpo. 35 Vendo a derrocada de suas tropas e a intrepidez que se manifestava nos soldados de Judas, dispostos a viver ou a morrer corajosamente, Lísias retomou o caminho de Antioquia, onde se pôs a recrutar mercenários estrangeiros, pretendendo voltar à Judéia com forças ainda maiores. Purificação e dedicação do Templo — 36 Então Judas e seus irmãos disseram: "Nossos inimigos estão destroçados. Subamos agora para purificarmos o lugar santo e a celebrarmos a sua dedicação." 37 Todo o exército se reuniu e subiram ao monte Sião. 38 Contemplaram o Santuário desolado, o altar profanado, as portas incendiadas, os arbustos crescendo nos átrios como se num bosque ou sobre uma das montanhas, e os aposentos destruídos. 39 E, rasgando as vestes, fizeram grande lamentação. Cobriram-se de cinza, 40 caíram com a face por terra e, tocando as trombetas para dar os sinais, elevaram clamores ao céu. 41 Entrementes, Judas ordenou a alguns homens que ficassem atacando os que estavam na Cidadela, até que ele completasse a purificação do santuário. 42 A seguir escolheu sacerdotes sem mácula, observantes da Lei, 43 os quais purificaram o lugar santo e removeram para lugar impuro as pedras da contaminação. 44 Deliberaram também sobre o que deviam fazer do altar dos holocaustos que havia sido profanado, 45 e ocorreu-lhes a boa inspiração de o demolirem, a fim de que não se tornasse para eles motivo de desonra o fato de os gentios o terem contaminado. Demoliram-no, pois, 46 e puseram as pedras no monte da Morada, em lugar conveniente, espera de que viesse algum profeta e se pronunciasse a esse respeito. 47 Tomaram então pedras intactas, segundo a prescrição da Lei, e construíram um altar novo sobre o modelo do precedente. 48 Restauraram o lugar santo e o interior da Morada e santificaram os átrios. 49 Fabricaram novos utensílios sagrados e levaram para dentro do Templo o candelabro, o altar dos perfumes e a mesa. 50 Queimaram incenso sobre o altar e acenderam as lâmpadas do candelabro, as quais voltaram a brilhar no interior do templo. 51 Puseram, ainda, os pães sobre a mesa, suspenderam as cortinas e chegaram, assim, ao termo de todos os trabalhos empreendidos. 52 No dia vinte e cinco do nono mês — chamado Casleu — do ano cento e quarenta e oito, eles se levantaram de manhã cedo 53 e ofereceram um sacrifício, segundo as prescrições da Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que haviam construído. 54 Exatamente no mês e no dia em que os gentios o tinham profanado, foi o altar novamente consagrado com cânticos e ao som de cítaras, harpas e címbalos. 55 O povo inteiro se prostrou com a face por terra para adorar, elevando louvores ao Céu que os tinha tão bem conduzido até ali. 56 Celebrarama www.tifsa.com.br 9 A Bíblia de Jerusalém dedicação do altar por oito dias, oferecendo holocaustos com alegria e imolando também o sacrifício de salvação e de louvor. 57 Enfeitaram a fachada do Templo com guirlandas de ouro e pequenos escudos, e renovaram os portais, bem como os aposentos, nos quais colocaram portas. 58 Reinou, pois, extraordinária alegria entre o povo e assim foi cancelado o opróbrio infligido pelos gentios. 59 E Judas, com seus irmãos e toda a assembléia de Israel, estabeleceu que os dias da dedicação do altar seriam celebrados a seu tempo, cada ano, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu, com júbilo e alegria. 60 Foi nessa ocasião que construíram, ao redor do monte Sião, uma cinta de altos muros, guarnecidos de torres poderosas, para impedir que os gentios viessem conculcá-lo como no passado. 61 Judas ali deixou uma guarnição para defendê- lo. Fortificou, outrossim, Betsur, para que o povo tivesse uma defesa contra a Iduméia. SEGUNDO MACABEUS I. Cartas aos judeus do Egito PRIMEIRA CARTA 1 1 Aos irmãos, aos judeus que estão no Egito, saudações! Seus irmãos, os judeus que estão em Jerusalém e os da região da Judéia, almejam-lhes paz benéfica. 2 Que Elohim vos cumule de benefícios e se recorde da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacó, seus servos fiéis. 3 Que vos conceda a todos a disposição para reverenciá-lo e para cumprirdes seus mandamentos com um coração grande e ânimo resoluto. 4 Que ele vos abra o coração à sua lei e a seus preceitos e vos conceda a paz. 5 Ele escute as vossas orações, reconcilie- se convosco e não vos abandone no tempo adverso. 6 Quanto a nós, aqui, agora mesmo, estamos orando por vós. 7 Durante o reinado de Demétrio, no ano cento e sessenta e nove, nós, os judeus, vos escrevêramos o seguinte: "No auge da aflição que nos sobreveio no decorrer destes anos, desde quando Jasão e seus partidários desertaram da terra santa e do reino, 8 incendiaram o portal (do Templo) e derramaram sangue inocente, nós elevamos súplicas ao YHWH e fomos atendidos. A seguir oferecemos sacrifícios e flor de farinha, acendemos as lâmpadas e apresentamos os pães." 9 Agora, pois, procurai celebrar os dias das Tendas do mês de Casleu. 10 No ano cento e oitenta e oito. SEGUNDA CARTA Destinatários — Os habitantes de Jerusalém e os que estão na Judéia, o conselho dos anciãos e Judas, a Aristóbulo, preceptor do rei Ptolomeu e pertencente à linhagem dos sacerdotes ungidos, bem como aos judeus que estão no Egito, saudações e votos de saúde! Ação de graças pela punição de Antíoco — 11 De graves perigos por Elohim libertados, nós lhe rendemos grandes ações de graças como a quem combateu ao nosso lado contra o rei, 12 pois ele mesmo expulsou os que se tinham entrincheirado na cidade santa. 13 De fato, seu chefe, tendo marchado contra a Pérsia, junto com o seu exército aparentemente irresistível, foi cortado em pedaços no templo de Nanéia, graças a um estratagema empregado pelos sacerdotes da deusa. 14 Na ocasião em que, sob pretexto de desposá-la, Antíoco apresentou-se no lugar sagrado junto com os seus amigos, com o objetivo de apoderar-se das muitas riquezas a título de dote, 15 os sacerdotes do Naneion as expuseram. Ele havia penetrado com poucos companheiros no recinto sagrado. Tendo www.tifsa.com.br 10 A Bíblia de Jerusalém então fechado o templo, mal entrara Antíoco, 16 os sacerdotes abriram a porta secreta do forro e fulminaram o príncipe, arremessando-lhe pedras. A seguir, cortaram-no em pedaços e, decepando-lhe a cabeça, atiraram-na aos que se encontravam fora. 17 Em todas as coisas seja bendito o nosso Elohim, que assim entrega (à morte) os que cometem impiedade! O fogo sagrado milagrosamente preservado — 18 Estando nós para celebrar a purificação do Templo, no dia vinte e cinco do mês de Casleu, ocorreu-nos ser nosso dever informar- vos disso, a fim de que vós também a celebreis a modo da festa das Tendas e em memória do fogo (que se manifestou) quando Neemias, tendo reedificado o Templo e o altar, ofereceu sacrifícios. 19 De fato, enquanto nossos pais eram conduzidos para a Pérsia, os piedosos sacerdotes de então tomaram do fogo do altar secretamente e o ocultaram na cavidade de um poço esgotado. Ali o deixaram em segurança, de tal modo que o lugar ficou ignorado de todos. 20 Tendo, porém, decorrido muitos anos, quando a Elohim aprouve, Neemias, enviado do rei da Pérsia, mandou que procurassem o fogo os descendentes dos sacerdotes que o tinham escondido. 21 Como estes referissem que não se encontrava mais o fogo, mas só uma água espessa, ele mandou-os tirar um pouco dessa água para que lha trouxessem. Tendo-se, então, trazido o que era necessário para os sacrifícios, ordenou Neemias aos sacerdotes que aspergissem com aquela água a lenha e quanto se encontrava sobre ela. 22 Apenas feito isso e chegado o momento em que o sol, antes encoberto por nuvens, reapareceu a brilhar, uma grande fogueira acendeu-se, a ponto de todos ficarem admirados. 23 Enquanto se consumia o sacrifício, os sacerdotes recitaram uma oração, a saber, os sacerdotes e todos os presentes: Jônatas entoava, e os outros, inclusive Neemias, respondiam. 24 A oração era a seguinte: "YHWH, YHWH Elohim, Criador de todas as coisas, temível e forte, justo e misericordioso, o único rei e o único bom, 25 o único generoso e o único justo, todo-poderoso e eterno, que salvas Israel de todo mal, que fizeste de nossos pais teus escolhidos e os santificaste, 26 recebe este sacrifício por todo o teu povo de Israel e guarda e santifica a tua parte de herança. 27 Reúne os nossos dispersos, liberta os que são escravos entre as nações, olha para os que são desprezados e abominados; e reconheçam as nações que tu és o nosso Elohim. 28 Castiga os que nos tiranizam e com soberba nos ultrajam. 29 Planta o teu povo no teu lugar santo como o disse Moisés." 30 Entretanto, os sacerdotes cantavam os hinos ao som da harpa. 31 Depois, assim que se consumou o sacrifício, Neemias ordenou que se derramasse o resto da água sobre grandes pedras. 32 Apenas feito isto, acendeu-se uma chama, a qual, porém, logo se apagou enquanto a luz que se erguia do altar continuava a brilhar. 33 Quando se divulgou o acontecido, também ao rei dos persas se referiu que, no lugar onde os sacerdotes deportados haviam escondido o fogo, ali aparecera a água com a qual os companheiros de Neemias purificaram as oferendas do sacrifício. 34 Então o rei, cercando o local, declarou-o sagrado, depois de haver comprovado o fato. 35 E com eles, aos quais assim favorecia, partilhava dos muitos lucros que dali auferia. 36 Os companheiros de Neemias deram a esse líquido o nome de neftar, que quer dizer "purificação", mas por muitos é chamado de nafta. 2 Jeremias esconde o material do culto — 1 Encontra-se, nos documentos, que o profeta Jeremias deu aos deportados a ordem de tomarem do fogo, como já foi indicado. 2 Além disso, confiando-lhes a Lei, o profeta recomendou aos deportados que não se esquecessem dos mandamentos do YHWH. E que, à vista das estátuas de ouro e prata e dos ornamentos de que estavam revestidas, não se deixassem desviar em seus pensamentos. 3 E dizendo outras coisas semelhantes, exortava-os a que não deixassem a www.tifsa.com.br 11 A Bíblia de Jerusalém Lei afastar-se do seu coração. 4 No documento estava também que o profeta, advertido por um oráculo, ordenou que o acompanhassem com a tenda e a arca, ao sair ele para a montanha onde Moisés, tendo subido, contemplou a herança de Elohim. 5 Ali chegando, Jeremias encontrou uma habitação em forma de gruta, onde introduziu a tenda, a arca e o altar dos perfumes, obstruindo, depois, a entrada. 6 Aproximando-se, então, alguns dos que o tinham acompanhado, ao pretenderem assinalar o caminho,não puderam mais identificá-lo. 7 Ao saber disso, Jeremias censurou-os, dizendo: "O lugar permanecerá incógnito até que Elohim realize a reunião do seu povo, mostrando-se misericordioso. 8 Então o YHWH mostrará de novo estas coisas, e aparecerá a glória do YHWH assim como a Nuvem, como se manifestava no tempo de Moisés e quando Salomão rezou para que o Lugar fosse grandiosamente consagrado." 9 Narrava-se também como este, dotado de sabedoria, ofereceu sacrifícios pela dedicação e pelo acabamento do Templo. 10 E à semelhança de Moisés, que havia orado ao YHWH, do céu descendo o fogo que consumiu as oferendas do sacrifício, assim também Salomão orou. E o fogo, descendo do alto, devorou os holocaustos. 11 Moisés havia dito: "Por não se ter dele comido, o sacrifício pelo pecado foi destruído." 12 Da mesma forma, também Salomão celebrou os oito dias. A biblioteca de Neemias — 13 Também nos documentos e nas Memórias de Neemias eram narradas essas coisas. E, além disso, como ele, fundando uma biblioteca, reuniu os livros referentes aos reis e aos profetas, os escritos de Davi e as cartas dos reis sobre as oferendas. 14 Da mesma forma, também Judas recolheu todos os livros que tinham sido dispersos por causa da guerra que nos foi feita, e eles estão em nossas mãos. 15 Se, pois, deles precisardes, quaisquer que sejam, enviai-nos pessoas que vo-los possam levar. Convite à festa da dedicação do Templo — 16 Estando, pois, para celebrar a purificação, nós vos escrevemos. Fareis bem, portanto, em celebrar estes dias. 17 E Elohim, que salvou todo o seu povo e a todos restituiu a herança, a realeza, o sacerdócio e a santificação, 18 como o havia prometido pela Lei, em Elohim nós esperamos que ele terá logo compaixão de nós. E que, de qualquer região sob o céu, nos reunirá no lugar santo. Pois foi ele que nos arrancou de grandes males e purificou o Lugar. IV. Propaganda helenística e perseguição sob Antíoco Epifanes Jasão, sumo sacerdote, introduz o helenismo (nova ordem mundial da época) — 7 Entrementes, tendo passado Seleuco outra vida e assumindo o rei Antíoco, congnominado Epifanes, Jasão, irmão de Onias, começou a manobrar para obter o cargo de sumo sacerdote. 8 Durante uma audiência, prometeu ao rei trezentos e sessenta talentos de prata e ainda, a serem deduzidos de uma renda não discriminada, mais oitenta talentos. 9 Além disso empenhava-se em subscrever-lhe outros cento e cinqüenta talentos, se lhe fosse dada a permissão, pela autoridade real, de construir uma praça de esportes e uma efebia, bem como de fazer o levantamento dos antioquenos de Jerusalém. 10 Obtido, assim, o consentimento do rei, ele, tão logo assumiu o poder, começou a fazer passar os seus irmãos de raça para o estilo de vida dos gregos. 11 Suprimiu os privilégios reais benignamente concedidos aos judeus por intermédio de João, pai de Eupólemo, o mesmo que depois chefiou a embaixada com o objetivo de estabelecer amizade e aliança com os romanos. E, abolindo as instituições legítimas, introduziu costumes contrários à Lei. 12 Foi, pois, 12 com satisfação que construiu a praça de esportes justamente abaixo da Acrópole e, obrigando aos mais nobres de entre os moços, conduziu-os ao uso do pétaso. 13 Verificou-se, desse modo, tal ardor de helenismo e tão ampla difusão de costumes estrangeiros, por causa da exorbitante perversidade de Jasão, esse ímpio e de modo algum sumo sacerdote, 14 que os próprios sacerdotes já não se mostravam interessados nas liturgias do altar! Antes, desprezando o Santuário e descuidando-se dos sacrifícios, corriam a tomar parte na iníqua distribuição de óleo no estádio, após o sinal do disco. 15 Assim, não davam mais valor algum às honras pátrias, enquanto consideravam sumas as glórias helênicas. 16 Bem por isso uma situação penosa os envolveu, quando tiveram por inimigos e algozes aqueles mesmos cujos costumes eles tanto haviam promovido e a quem tinham querido assemelhar-se em tudo. 17 De fato, não é coisa de pouca monta agir impiamente contra as leis divinas. Mas isso o demonstrará o episódio seguinte. 18 Celebrando-se em Tiro os jogos qüinqüenais e estando presente o rei, 19 o abominável Jasão enviou alguns mensageiros, como se fossem antioquenos de Jerusalém, os quais deviam apresentar trezentas dracmas de prata para o sacrifício a Hércules. Os portadores, porém, decidiram não empregá-las para o sacrifício, por não ser conveniente, mas destinaram-nas a outra despesa. 20 Assim, esta soma que, por aquele que a enviara, fora destinada ao sacrifício a Hércules, acabou, por iniciativa dos portadores, servindo para a construção das trirremes. Antíoco Epifanes aclamado em Jerusalém — 21 Tendo sido enviado ao Egito Apolônio, filho de Menesteu, por ocasião das bodas do rei Filométor, Antíoco veio a saber que este último havia tomado uma atitude hostil aos seus interesses. Por isso, preocupando-se com a própria segurança, tendo passado por Jope, dirigiu-se a Jerusalém. 22 Magnificamente acolhido por Jasão e pela cidade, nela foi introduzido à luz de tochas e ao som de aclamações. Depois, do mesmo modo, partiu com o seu exército para a Fenícia. 6 Instalação dos cultos pagãos — 1 Depois de não muito tempo, o rei enviou um ancião, um ateniense, com a missão de forçar os judeus a abandonarem as leis de seus pais e a não se governarem mais segundo as leis de Deus. 2 Mandou-o, além disso, profanar o Santuário de Jerusalém, dedicando-o a Júpiter Olímpico, e o do monte Garizim, como o pediam os habitantes do lugar, a Júpiter Hospitaleiro. 3 A progressão dessa maldade tornou-se, mesmo para o conjunto da população, dura e difícil de suportar. 4 De fato, o Templo ficou repleto da dissolução e das orgias cometidas pelos gentios que aí se divertiam com as meretrizes e que nos átrios sagrados se aproximavam das mulheres, introduzindo ainda no seu interior coisas que não eram lícitas. 5 O próprio altar estava repleto de oferendas proibidas, reprovadas pelas leis. 6 E não se podia celebrar o sábado, nem guardar as festas dos antepassados, nem simplesmente confessar que se era judeu. 7 Eram arrastados com amarga violência ao banquete sacrificai que se realizava cada mês, no dia do aniversário do rei. E, ao chegarem as festas dionisíacas, obrigavam-nos a acompanharem, coroados de hera, o cortejo em honra de Dionísio. 8 Além disso, foi emanado um decreto para as cidades helenísticas circunvizinhas, por sugestão dos habitantes de Ptolemaida, a fim de que nelas se procedesse da mesma forma contra os judeus, obrigando-os a participarem dos banquetes sacrificais. 9 Quanto aos que não se decidissem a passar para os costumes gregos, que os matassem. Era possível, então, entrever a calamidade que estava para começar. 10 Assim, duas mulheres foram presas por haverem circuncidado seus filhos. Fizeram-nas circular ostensivamente pela cidade, com os filhinhos pendurados aos seios, precipitando-as depois muralha abaixo. 11 Outros, que tinham acorrido juntos às cavernas vizinhas, a fim de aí celebrarem ocultamente o sétimo dia, sendo denunciados a Filipe, foram juntos entregues às chamas: tiveram escrúpulo em esboçar qualquer defesa, por respeito ao veneradíssimo dia. (Bíblia de Jerusalém; LXX tradução)
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