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Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Você já pensou sobre a sua importância, como cidadão, no desenvolvimento e aprimoramento da comunidade da qual faz parte, bem como sobre o seu papel na construção de um mundo melhor? Está consciente dos conceitos, dos fundamentos, das diretrizes e das legislações que normatizam o convívio em grupo, bem como das políticas públicas que conduzem os atores sociais, as instituições e o governo para o desenvolvimento de uma sociedade com mais conhecimento, desenvolvimento socioeconômico e cultural e justiça? Esses são questionamentos muito importantes para a elaboração de uma crítica construtiva e necessária, que pode direcionar as instituições a uma revisão de seus conceitos e paradigmas e a novas propostas que realmente contribuam para a oferta de projetos e planos educacionais capazes de preparar as pessoas para uma era de conhecimento, na qual se deve imperar o espírito de solidariedade, igualdade, fraternidade, universalidade, democracia, responsabilidade, ética e constante senso de justiça. Assim, sabendo que preparar as pessoas para essa era é responsabilidade primordial da educação, este livro convida o leitor para o estudo das políticas públicas educacionais implementadas e desenvolvidas no Brasil, desde o ano de 1500 até a contemporaneidade, com ênfase na análise das legislações, dos fundamentos e dos paradigmas educacionais, dos projetos pedagógicos e das perspectivas sobre os impasses e impactos que marcaram a história educacional do Brasil. Código Logístico 59427 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6642-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 2 1 Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: donatas1205/goir/Evgeny Karandaev/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C349p Castriani, Miguel de Jesus Políticas educacionais / Miguel de Jesus Castriani. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 144 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6642-1 1. Educação e Estado. 2. Políticas públicas - Brasil. 3. Planejamento educacional - Brasil. I. Título. 20-63815 CDD: 379.81 CDU: 37.014.5(81) Miguel de Jesus Castriani Mestre em Educação e especialista em Pesquisa Educacional pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Direito Processual Civil e Recursos pela Faculdade Educacional da Lapa (Fael). Graduado em Direito pela Faculdade Dom Bosco e em Filosofia pela PUCPR. Atuou como apresentador de programas de entrevistas em estúdio, como docente no ensino superior e como coordenador e gerente de cursos de graduação e de pós-graduação. É autor de livros didáticos para a educação básica e superior e responsável por projetos de responsabilidade social. Como advogado, atua na Área Cível, com escritório próprio. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Estado e políticas públicas 9 1.1 Princípios e organização do Estado 9 1.2 Sistema republicano de governo e democracia 17 1.3 Políticas públicas e educação 19 2 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 27 2.1 A gratuidade da educação e o ensino leigo 28 2.2 A educação sob um plano nacional 34 2.3 A educação vinculada a valores cívicos e econômicos 38 2.4 O direito fundamental e universal à educação 41 3 Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 50 3.1 A educação na Colônia e a Reforma Pombalina 51 3.2 Brasil Império e a Lei n. 01/1837 55 3.3 O Decreto Educacional n. 981/1890 61 3.4 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 65 3.5 A LDB n. 4.024/1961 69 3.6 A LDB n. 5.692/1971 74 4 Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 80 4.1 A LDB n. 9.394/1996 81 4.2 O PNE 2014-2024: Lei n. 13.005/2014 86 4.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais 93 4.4 Políticas educacionais vigentes 101 4.5 Legislação da educação superior 108 5 Gestão da educação: limites e perspectivas 116 5.1 A construção do projeto político-pedagógico 117 5.2 Políticas de financiamento da educação 123 5.3 Avaliação Institucional 128 5.4 Perspectivas, impasses e impactos 135 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Você já pensou sobre a sua importância, como cidadão, no desenvolvimento e aprimoramento da comunidade da qual faz parte, bem como sobre o seu papel na construção de um mundo melhor? Está consciente dos conceitos, dos fundamentos, das diretrizes e das legislações que normatizam o convívio em grupo, bem como das políticas públicas que conduzem os atores sociais, as instituições e o governo para o desenvolvimento de uma sociedade com mais conhecimento, desenvolvimento socioeconômico e cultural e justiça? Esses são questionamentos muito importantes para a elaboração de uma crítica construtiva e necessária, que pode direcionar as instituições a uma revisão de seus conceitos e paradigmas e a novas propostas que realmente contribuam para a oferta de projetos e planos educacionais capazes de preparar as pessoas para uma era de conhecimento, na qual se deve imperar o espírito de solidariedade, igualdade, fraternidade, universalidade, democracia, responsabilidade, ética e constante senso de justiça. Assim, sabendo que preparar as pessoas para essa era é responsabilidade primordial da educação, convidamos você para o estudo que esta obra propõe, realizando um avançado contato com as políticas públicas educacionais implementadas e desenvolvidas no Brasil, desde o ano de 1500 até a contemporaneidade, com ênfase na análise das legislações, dos dos projetos pedagógicos, das perspectivas, dos impasses e dos impactos que marcaram a história educacional do Brasil. No primeiro capítulo, desenvolvemos um estudo e uma reflexão sobre a diversidade étnico-cultural que constitui o povo brasileiro, num paralelo com os conceitos epistemológicos e políticos do Estado, os princípios constitucionais que sustentam e normatizam o país, além das políticas públicas existentes e suas funções na formação de um povo. Já o segundo capítulo promove uma reflexão sobre o direito à educação, presente nas Constituições que o Brasil teve e na que ainda está em vigor, com destaque aos dispositivos legais que indicam a educação como um direito fundamental na garantia da dignidade da pessoa humana, especificamente para aqueles que prescrevem, para o povo brasileiro, a educação gratuita, laica, universal e defensora de valores cívicos e econômicos. Em seguida, no terceiro capítulo, por meio de umestudo e uma reflexão sobre a cultura educacional já desenvolvida e a vigente, a obra tramita pelos APRESENTAÇÃO fundamentos políticos, econômicos e culturais que constituíram as principais legislações sobre educação, implantadas no Brasil até a década de 1990, visando compreender as estruturas conceituais, as funcionalidades, os impasses e os resultados dessas no cotidiano da sociedade. No quarto capítulo, dando continuidade aos estudos das legislações relacionadas à educação no Brasil, o foco passa a ser a partir da década de 1990. Isso porque, após esse momento histórico, o país já tinha uma Constituição democrática e cidadã. Além disso, as legislações educacionais já teriam que abranger os fundamentos de uma educação de qualidade, universal e igualitária, que visasse à promoção da dignidade da pessoa humana e que fosse construída, democraticamente, pelos diversos atores da sociedade civil organizada e os governos. Por fim, no quinto capítulo, nosso estudo volta-se para as questões práticas do mundo escolar, especificamente para todo o processo de construção das propostas educacionais no estabelecimento de ensino, o projeto político-pedagógico (PPP) e a sua relação com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com o Plano Nacional de Educação (PNE); também é dado enfoque às políticas de financiamento da educação, à avaliação institucional e aos impasses e impactos que os processos educacionais têm experimentado. Bons estudos! Estado e políticas públicas 9 1 Estado e políticas públicas Compreendermos que toda comunidade é formada por uma diversidade cultural e étnica e, ainda, que é nessa comunidade que o Estado deve exercer a sua função se faz muito importante para iniciar nossos estudos sobre políticas públicas e, em especial, so- bre as políticas educacionais. O Estado existe para a comunidade e, a fim de exercer o seu trabalho, deve atuar sob os princípios previstos na Constituição. Portanto, o Estado é uma instituição que deve estar à serviço do seu povo. Nessa direção, esta reflexão tramitará pelos princípios do Estado brasileiro, pelo seu surgimento e pelos elementos que compõem o Estado – em especial o republicano. Por último, abor- daremos quais são os atores que participam da construção das políticas públicas, considerando a representatividade como um elemento essencial da democracia, em uma sociedade que tem como objetivo maior a promoção da dignidade humana de todos os seus membros, sem qualquer distinção. 1.1 Princípios e organização do Estado Vídeo Para iniciarmos esta reflexão, é importante entendermos que o tema políticas educacionais está completamente ligado às políticas pú- blicas, as quais são o principal motivo da existência do Estado. Assim, surgem as primeiras questões que este livro pretende elucidar: quando surgiu o Estado, quais seriam as suas funções e como ele tem atuado nos últimos tempos? Primeiramente, é importante compreendermos que a palavra Esta- do deriva, etimologicamente, do termo latino status, que significa so- berano, forte, sedimentado. Sendo o Estado soberano, ele se constitui como a instituição pública que existe para organizar, normatizar, aplicar 10 Políticas Educacionais e fiscalizar um conjunto de ações, planos, normas e regras existentes, ou que precisam existir, na comunidade, visando ao bem público, isto é, o bem para toda a população – inclusive para você –, que se encontra constituída em um determinado território, buscando a cidadania e uma vida digna. Entretanto, é importante entender que esse mesmo Estado também pode e deve utilizar-se de um aparato policial para buscar o equilíbrio social e o respeito às diferenças, às diversidades e às adver- sidades, que são próprias de toda coletividade, principalmente quando os interesses individuais se sobrepõem aos coletivos, minando a cida- dania e o respeito às leis. A partir disso, temos outro questionamento importante. Quem sur- giu primeiro? O Estado ou as leis? Em sistemas democráticos, é a comu- nidade, por meio de seus representantes locais (vereadores), regionais (deputados estaduais) e nacionais (deputados federais e senadores), que faz a legislação; além disso, são essas leis que direcionam a exis- tência e o funcionamento do Estado. De modo geral, a Constituição, o Código Civil, o Código Penal, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Código Tributário, o Código de Trânsito, entre outros, devem ser produtos da comunidade, propostos democraticamente e não de maneira impositiva pelo Estado. No entan- to, em alguns Estados, a produção de legislações ocorre de cima para baixo, isto é, a comunidade somente recebe o conjunto de normas e regras que precisa cumprir, sem ter participado de suas elaborações, o que, numa visão moderna, deveria ser considerada uma aberração. As maneiras como os Estados executam esses processos de elabo- ração das leis e das políticas públicas se diferem. Em monarquias ab- solutas, por exemplo, esse processo é imposto e as comunidades não participam dele; já nas monarquias parlamentaristas, o parlamento é quem faz as legislações, assim como nas repúblicas presidencialistas ou parlamentaristas. Naturalmente, no modelo republicano – que é a forma de governo adotada no Brasil –, a construção da legislação e, por consequência, das políticas de Estado é realizada pelos seus próprios cidadãos ou por seus representantes eleitos. Portanto, o Estado, no aspecto das legis- lações, está para colocá-las em prática, conforme o desejo de quem as construiu. Porém, desde já se faz importante saber que o Estado se encontra, também, nas dinâmicas de outros poderes, como no Poder Cidadania vem do termo latino civitas e significa cidade; portanto, cidadão seria aquele que vive na cidade. No entanto, na atualidade, entende-se o cidadão como aquele que tem e vivencia o conjunto de direitos e deveres existentes no espaço territorial em que vive, podendo, conscientemente e com discernimento, intervir nesse meio, transformando-o a qualquer momento. Saiba mais Estado e políticas públicas 11 Executivo, nas prefeituras (prefeito e secretários), nos estados (gover- nador e secretários) e na União (presidente e ministros), bem como no Poder Judiciário, por meio de juízes, desembargadores, e ministros. Sendo assim, o Estado é necessário para promover e regular a vida das pessoas que vivem em coletividade. Entretanto, ainda ficam os questionamentos: você, como cidadão, tem visto o Estado dessa forma? Tem sido o Estado a instituição que, de fato, promove e regula a vida da coletividade? Especificamente aí, na sua localidade, considerando os acontecimentos envolvendo corrup- ção e desrespeito a uma série de legislações, como nas questões de segurança nas escolas, da alimentação e do transporte escolar? Com essas primeiras reflexões, já podemos compreender o Estado como aquele ente público que, por meio de uma série de instituições presentes no mundo dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – nas esferas municipais, estaduais e a federal –, age como promotor, administrador e regulador dos interesses das coletividades que habi- tam um determinado território, com base em políticas públicas. Porém, não só internamente, pois é, também, o ente público que promove as relações existentes entre suas coletividades internas e as coletividades existentes nos demais Estados e nações. Veja, o interessante é percebermos que a comunidade, por falta de atenção ou de instrução, muitas vezes não sabe o quanto é importan- te se fazer presente na constituição das funções do Estado. Por isso, quando, em um círculo vicioso, a comunidade não se faz presente, as políticas públicas instituídas pelo Estado não atingem as comunidades e elas facilmente continuam sem as devidas participações nas defini- ções das políticas públicas. Além disso, precisamos chamar a atenção para essa ausência, que também acaba ocorrendo na definição das po- líticaspúblicas educacionais – o que é muito sério. Para Aristóteles (1997), o Estado é superior ao indivíduo, porquan- to a coletividade é superior ao indivíduo e o bem comum superior ao bem particular. Unicamente, no Estado, pode-se satisfazer as ne- cessidades do homem, uma vez que o homem é um animal social e político, não podendo realizar a sua perfeição. Sob as luzes da afirma- ção de Aristóteles e dos conceitos desenvolvidos até este momento, podemos ainda afirmar que o governo deva agir de acordo com os interesses da comunidade? Atentamente, reflita sobre a atuação do município onde você domicilia e descreva sobre, pelo menos, três planos governamen- tais na área da Educação que têm contribuído para uma vida cidadã na comunidade. Atividade 1 Você concorda que, se as políticas públicas para a área da educação forem programadas conforme interesses exclusivos do governo, sem a participação da comunidade, pode-se gerar uma sociedade desinformada e desqualificada para o mundo da cidadania, da ciência e do conhecimento? Por quê? Para refletir 12 Políticas Educacionais Até aqui, questões sobre cidadania já se fizeram presentes, tanto em seu aspecto conceitual quanto em sua prática; governo, Estado, comunidade participativa e poderes também passaram pelas nossas primeiras reflexões. No entanto, faz-se necessário, agora, para desen- volvermos uma percepção e um conhecimento mais amplo, que com- preendamos como tudo isso aconteceu e nasceu, ou seja, as devidas origens do Estado, dos governos e da vida em cidadania. Para entendermos a origem de coisas, ideias, pessoas etc., há estu- diosos que fazem análises de acordo com a atual situação ou realidade desses objetos de estudo. Entretanto, desenvolver uma compreensão só dessa forma pode incorrer em afirmações que não se traduzem em conceitos completamente confiáveis. Para facilitar a sua compreensão dos princípios do Estado, da estru- tura conceitual e prática de Estado e das suas teorias, primeiramente vamos entender o que significa o termo princípio. Etimologicamente, significa início, causa primeira, proposições fundamentais. Princípio faz parte da estrutura conceitual de qualquer um dos entes materiais (coi- sas) ou imateriais (ideias). Isso porque todas as coisas e ideias têm uma causa e/ou origem, que podem explicar a sua existência. Assim, o Esta- do não seria diferente, pois também tem os seus princípios, enquanto proposições fundamentais para a sua existência. Tem sido comum, nos meios acadêmicos, que a realidade seja vista sob as lentes da razão e da ciência; entretanto, deve ser igualmente importante que também seja percebida sob os pressupostos da moral e da ética, para, assim, ser compreendida em sua totalidade. Para esse fim, um olhar voltado a todos os elementos, que compõem alguma coi- sa ou ideia, precisa ser iniciado na origem primeira, nos princípios que levaram à constituição dessa coisa ou ideia. No âmbito conceitual de Estado, essa reflexão também precisa ser feita. Por isso, a primeira per- gunta a se buscar resposta deveria ser: quais seriam os princípios que sustentam a existência de um Estado? Em uma primeira reflexão é importante procurarmos entender que princípios são raízes e matizes que levam à existência do Estado. Mas, conforme já discutimos, não existe Estado sem leis. Portanto, melhor seria dizer, então, que princípios são as raízes que levam à construção das leis, especificamente em relação às normas e regras que as consti- tuem. Assim, podemos concluir que as normas e regras, que compõem as leis, seriam os primeiros princípios de um Estado. O livro Aristóteles e a política traz uma reflexão muito especial sobre o pensamento do filósofo Aristóteles, que se refere às questões da política. WOLFF, F. São Paulo: Discurso Editorial, 1999. Livro Estado e políticas públicas 13 Em um segundo momento, na busca pela compreensão da exis- tência dos princípios do Estado, precisamos entender que normas e regras são feitas para pessoas que vivem em coletividade. Portanto, não se pode pensar na existência de Estado sem compreender a im- portância da existência da coletividade. O Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da dissolução da comunidade primitiva fundada sobre os laços de parentesco e da formação de co- munidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de sobrevivência interna e externas. (BOBBIO, 1987, p. 73) É fato que comunidade também é um termo abstrato, consideran- do que envolve uma somatória de indivíduos coabitando em uma determinada localidade. Por isso, nesse caso, as raízes já compreen- didas vêm das próprias pessoas que, com experiências históricas na formação de suas consciências, vão definindo suas estruturas mais firmes e os interesses que irão formar o seu comportamento em gru- pos nas comunidades em que vivem. Em Platão (2007), registra-se um diálogo entre Sócrates e Glauco em que podemos perceber que a lei não visa o bem-estar absoluto de uma só classe de cidadãos, mas de uma lei que procura promover a concórdia entre todas as classes, seja por meio da persuasão ou coação, de modo que a todas é dado o direito de repartir a contribuição que cada um está em condição de trazer para a coletividade. Naturalmente, cada sujeito, por meio de suas experiências históri- cas, constrói a própria consciência, com os seus princípios e valores, normas e regras. No entanto, como é de costume na vida em grupo, essas consciências individuais são chamadas a alguns ajustes, de modo que uma consciência individual não esteja sobreposta à consciência do outro que habita a mesma comunidade, nascendo, assim, a regra, a norma, a lei e os costumes para uma determinada comunidade. Desse modo, os princípios pessoais se ajustam e formam os sociais e comunitários. Consequentemente, princípios sociais se constituem em princípios regadores, que sustentam as estruturas do Estado nas suas mais diversas dimensões. Por isso, podemos afirmar, em um pri- meiro momento, que alguns dos princípios que estruturam as dinâmi- cas do Estado são: 14 Políticas Educacionais a. legal (normas e regras sociais); b. cultural (produções literárias, artísticas, arquitetônicas, cinemato- gráficas, pinturas, esculturas, danças etc.); c. educacional (ensino, pesquisa e extensão, tanto nas escolas e universidades quanto no mundo das informalidades); d. econômico (produções industriais, agropecuárias, turísticas, co- merciais, financeiras etc.); e. social (relações entre os grupos e comunidades locais, regionais e nacionais e outras nações); f. científico (mundo das ciências, dos conhecimentos etc.). No caso específico do Brasil, é preciso salientar que a Constituição Federal, em seu artigo 1º (BRASIL, 1988), apresenta os princípios que definem o Estado, a saber. Princípios que definem o Estado Princípio da dignidade da pessoa humana: compreende e garante os direitos fundamentais a todos os cidadãos. Princípio do valor social do trabalho: diz respeito à ideia de que todos os cidadãos precisam viver seus direitos enquanto trabalhadores. Princípio da soberania: traduz a ideia de que o Estado tem poder soberano sobre os demais entes e perante a comunidade internacional. Princípio da cidadania: remete à noção de que todos os indivíduos podem participar das decisões do Estado. Princípio da pluralidade política: demonstra a perspectiva de que se deve ter a garantia da existência de variadas ideologias e políticas. Como podemos observar, o Estado pode muito; entretanto, mesmo que soberano, só pode fazer o que a lei permite. Por isso, é importan- te ficar claro que o Estado atua sob os princípios delineados, sempre Estado e políticas públicas 15 visando a uma administração pública de maneira justa e solidária, sem preconceito de raça, gênero, origem, situação financeira, idade etc. Nessa direção, para que a questão da soberania ocorra de modo solidário e não seja discricionariedadedo governante, a própria Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu artigo 37, delimita alguns princípios para a Administração Pública, definindo que todo gover- nante precisa respeitá-la, patrociná-la e promovê-la, sob a consequên- cia de, em caso contrário, incorrer em irresponsabilidade e ser punido legalmente. Esses princípios, definidos a seguir, garantem que o gover- no aja para todos, sem qualquer distinção ou interesses pessoais. a. Princípio da legalidade: impõe que as ações e decisões dos agentes públicos só devem ser tomadas de acordo com o que a lei permite. b. Princípio da impessoalidade: determina que os atos dos agentes públicos não podem ser guiados por interesses próprios. c. Princípio da moralidade: estabelece que as ações dos agentes públicos devem ter como base os valores legais, éticos e de boa-fé. d. Princípio da publicidade: determina que os atos dos agentes públicos sejam públicos e divulgados. e. Princípio da eficiência: impõe que os agentes públicos devam produzir resultados com qualidade e rapidez, eficiência e efetividade. Podemos afirmar, portanto, que o Estado é a instituição que pro- grama, organiza, administra e julga os interesses de uma determinada população em um certo território, conforme o estabelecido pelas leis. Por isso, o governante – seja local, regional ou nacional – precisa ter competências, ser conhecido pela sua comunidade e sempre atuar sob os princípios da Constituição e da Administração Pública, considerando a função que tem e que precisa exercer na comunidade. Outra questão, nessa mesma linha conceitual, é procurarmos sa- ber se o governo existente em uma determinada coletividade tem le- gitimidade. Mas o que seria essa tal legitimidade? Para Weber (2004), considerado um dos fundadores da sociologia, a legitimidade de um governo ocorre de acordo com três modelos, descritos a seguir. a. Tradicional: em que se acredita que o governo deva ser como fora no passado – provavelmente, porque as experiências do passado foram boas e eficientes; Sendo o Brasil uma comunidade formada por grande diversidade étnica (portugueses, africanos, alemães, italianos, árabes, russos, latino-americanos, indí- genas, entre outros), como ser soberano e, ao mesmo tempo, solidário? Reflita sobre isso pelas lentes da razão e da ética. Para refletir discricionariedade: estar livre de condições, sem qualquer limitação para poder agir. Glossário Considerando os atuais resultados das políticas públicas programadas no seu município e estado, em relação à saúde e à segurança (quantidade e qualidade de postos de saúde e hospitais e a presença das polícias municipal e militar), seria possível afirmar que são políticas realizadas por governos competentes? Atividade 2 16 Políticas Educacionais b. Carismático: em que se acredita nas qualidades pessoais do governante, como a virtuosidade e atos heroicos – que, muitas vezes, não se traduzem em governo democrático; c. Racional ou legal: em que se acredita que os atos do governo estariam de acordo com as leis. No aspecto da legitimidade, é fato que há a necessidade de o gover- no ficar próximo de sua comunidade, uma vez que precisa saber o que a população deseja para, então, poder atingir o bem público almejado por todas as pessoas, de modo que essa sociedade se veja como uma nação soberana. Estamos, agora, ingressando em uma reflexão que inclui alguns ter- mos que, apesar de serem bastante utilizados por todos, muitas vezes não são compreendidos em sua totalidade. Você sabe o que significa governo, soberania, território, população e nação? Mesmo que a resposta a essa pergunta seja sim, vale a pena, neste momento, uma revisão conceitual. Governo: é a autoridade que tem como objetivo administrar e levar ao desenvolvimento uma determinada populaçã, seja ela local, regional ou nacional. População: representa todos que habitam o território, mesmo que temporariamente ou que não tenham qualquer vínculo com o Estado. Território: é o lugar – solo, subsolo, águas territoriais, ilhas, rios, lagos, portos e mar – onde, sob um ordenamento jurídico, está fixada a população sobre a qual o governo exerce seus atos. Soberania: é o poder indivisível, inalienável e imprescritível que o Estado tem de se organizar juridicamente e de fazer valer, em seu território, seus interesses nos limites e nos fins éticos de convivência entre todos. Nação/povo: define quando a população de um mesmo território possui, em comum, a legislação e cultura. Para continuarmos nossos estudos sobre princípios do Estado, é importante compreendermos que o Estado é um ente que governa de maneira soberana (elemento político-jurídico) uma população (elemen- to humano) que habita um determinado território (elemento geográfi- co), visando a cidadania e a construção de uma verdadeira nação. Mas de que modo isso pode ser feito? Veja que, no caso do Brasil, a Constituição Federal expressa, em seu artigo 3º (BRASIL, 1988), objetivos fundamentais que precisam ser coordenados pelo governo, por meio de suas instituições, para que exista uma verdadeira nação. São eles: “I – construir uma sociedade livre, justa e solidária”, aqui, o Estado deve propiciar o bem-estar, a harmonia social e a qualidade de vida, garantir todos os meios necessários para que a comunidade viva a plena demo- cracia; “II – garantir o desenvolvimento nacional”, nesse caso, o governo precisa prover o bem-estar social, desenvolvendo uma série de políticas públicas para todas as regiões do país e tratando os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira especial para que atinjam o devido equi- líbrio e cheguem à igualdade como os demais; “III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”, como nos demais objetivos, aqui se buscam condições mais apropriadas à pro- moção da dignidade e do respeito à pessoa humana, visando à igualda- de de todos, tanto local quanto regional; e, por fim, “IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, ou seja, nesse aspecto, o governo pre- cisa reconhecer as possíveis condições referentes à igualdade, evitando a discriminação e promovendo a harmonia entre as comunidades que compõem a sociedade e a população brasileira. Observando a realidade na sua comunidade, pode-se afirmar que o Estado brasileiro tem cumprido com os seus objetivos inscritos no artigo 3º da Constituição? O governo realmente tem sido soberano na comunidade local e na internacional, considerando os últimos acontecimentos? Existe uma nação brasileira, levando em conta certos fatos que envol- vem conflitos culturais entre as regiões? E, quanto ao território, o Brasil realmente se encontra bem definido, considerando a extensão fronteiriça que se encontra sem os adequados controles de segurança? Para refletir Konstantinos Kokkinis/Shutterstock 1.2 Sistema republicano de governo e democracia Vídeo República vem dos termos latinos res + pública, que, juntos, significam coisa pública ou o que é comum. Por isso, república é entendida como bem público. Com as crescentes demandas da sociedade, hou- ve a necessidade de um Estado liberal, democrá- tico e social forte, que garantisse os direitos civis de proteção à vida, à propriedade e à liberdade e que assegurasse, a cada indivíduo, um tratamento com respeito, independentemente de classe so- cial, etnia, cor, gênero, raça, religião ou cultura, em um sistema participativo quanto à definição de políticas, instituições e do exercício da res- ponsabilidade. Desse modo, refere-se a um sistema comprometido com o interesse público, com a capacidade efetiva de reformar instituições e Estado e políticas públicas 17 18 Políticas Educacionais fazer cumprir a lei; um sistema dotado de legitimidade, sendo eficaz e eficiente no seu desempenho; um sistema que garanta a estabilidadee a soberania do Estado. Para Skinner (1990), a manutenção de nossas obrigações na comunidade é indispensável para a manutenção da li- berdade de todos que nela vivem. Entretanto, podemos ser coagidos a virtudes e compelidos a sustentar uma liberdade que, se fosse deixada unicamente a nosso cargo, teríamos destruído. Todavia, é importante destacarmos que Estados republicanos se diferenciam de um país para outro. Eles são democráticos, mas há exemplos de países republicanos cujas ideias liberais vivenciaram, e/ ou vivenciam, conflitos endêmicos em suas dinâmicas de governo, o que pode ser explicado pela falta de patriotismo. O patriotismo se baseia em uma identificação com os outros em um empreendimento particular comum. Eu não me dedico a de- fender a liberdade de qualquer um, mas sinto o vínculo de soli- dariedade com meus compatriotas em nosso empreendimento comum, a expressão comum de nossa dignidade respectiva. (TAYLOR, 1995, p. 1.888) No Estado republicano, o bem comum está acima dos interesses pessoais de classes e das corporações, ampliando-se no tempo; já a liderança e/ou o governo é temporário. O fato é que esse sistema já existe desde a idade Média e tem mais de 2 mil anos. Entretanto, ainda carece de aperfeiçoamento para evitar a corrupção e o desvirtuamento das ações. Segundo Mill (2006, p. 188), o ideal seria que os servidores do Estado fossem responsáveis pela violação de quaisquer regras, e a autoridade administrativa central apenas supervisionaria a sua execução; e, caso não fossem adequadamente postas em prática, apelaria ao tribunal específico para que este fizesse cumprir a lei de forma que se livrasse dos funcionários que não as tivessem executado de acordo. Na Idade Moderna, a República se configurou nos governos pós- -Independência dos Estados Unidos (1776) e pós-Revolução Francesa (1789). Com influências do Iluminismo 2 , surge uma república com as premissas de que os governados são cidadãos e verdadeiros titulares da soberania e de que o governo é o encarregado pela organização do Movimento intelectual que celebrava a razão, com independência dos poderes e uma fiel garantia de liberdades individuais. 2 Estado e políticas públicas 19 Estado e proteção do interesse público. Portanto, nesse modelo, o go- verno deve exercer suas funções sob os fundamentos da impessoalida- de, da prudência e da publicidade de seus atos, fazendo prevalecer o bem público. Veja que, com base nessas premissas, podemos pensar que o me- lhor sistema é o republicano. No entanto, quando observamos a monar- quia parlamentar, há pressupostos que vêm ao encontro da república, como a representatividade da comunidade, a escolha do governo por meio do voto direto na república presidencialista, e por meio do voto indireto na monarquia parlamentar, e a coexistência dos poderes Exe- cutivo, Legislativo e Judiciário, que atuam de maneira interdependente. Por isso, é fato que nos dois sistemas há o bônus do bem público. Acredita-se, no meio acadêmico, que república e monarquia par- lamentar, bem como república parlamentar e monarquia parla- mentar, assemelham-se numa série de aspectos. Em quais aspectos ocorrem convergências entre esses sistemas e formas de governo? Atividade 3 1.3 Políticas públicas e educação Vídeo Sabemos que o Estado deve estar para a implementação, promo- ção, normatização e avaliação de projetos e ações, que levem à sua comunidade o bem público, sempre respeitando as diversidades de raça, cor, religião, gênero e cultura dos indivíduos que a compõem. No entanto, o Estado também está para a aplicação da ordem quando houver qualquer forma de degeneração no cumprimento das normas públicas pelos cidadãos, inclusive com o uso de forças policiais, caso necessário. Isso não poderia ser diferente, considerando que o ser hu- mano é um animal político. Segundo Aristóteles (1991, p. 3), viver em sociedade é condição essencial para a manutenção da vida de qualquer indivíduo. Dessa forma, estar fora de um cír- culo social significa estar fora da condição humana, isto é, ser algo diferente do homem, mais precisamente – uma besta ou um deus. Sendo o homem diferente de uma besta ou de um deus, necessita inequivocamente da política, exercer a cidadania, par- ticipar das decisões da comunidade, a fim de que possa atingir maior plenitude na sua vida. Nessa direção, para que a comunidade não esteja submetida apenas aos seus instintos de animais e tenha, também, um espírito baseado nos fundamentos da racionalidade, o Estado deve proporcionar uma educação que promova os elementos, procedimentos e processos que 20 Políticas Educacionais levem a pensamentos e ações coletivas, os quais tenham como objeti- vo o bem público, com a participação dos diversos atores sociais que, juntos, constroem as políticas públicas, em especial as educacionais. De modo geral, políticas públicas são um conjunto de ações, metas, planos e decisões, promovidas e aplicadas pelo Estado conforme as de- mandas e expectativas da sociedade civil organizada, visando alcançar o bem-estar e o interesse público em todos os setores que abarcam a vida dos indivíduos, tais como: a. educação, ciência e tecnologia; b. saúde e atendimento; c. segurança e liberdade; d. transporte e sistemas viários; e. habitação e recursos hídricos; f. lazer e esportes; g. meio ambiente e qualidade de vida; h. assistência social. Mas, atenção, segundo Limongi (apud DAHL, 1997), nas sociedades que se apresentam como plurais, nenhum grupo social deveria ter acesso exclusivo a qualquer recurso e nem poderia garantir sua pre- ponderância sobre os demais porque, se isso ocorresse, o resultado seria a neutralização recíproca dos grupos. O fato é que, mesmo tendo como objetivo o bem público, as diver- sas áreas sofrem oposição uma das outras – um processo que pode levar a resultados talvez não esperados e desejados pela comunidade. Entretanto, é preciso compreender que, em um sistema plural, se acei- tam, se toleram, se reconhecem e se promovem diversas formas de se lidar com as diferentes posições, ideias e projetos, por serem algo próprio da democracia. É importante destacar, ainda, que, como são diversas as demandas, cabe ao governo fazer as devidas seleções conforme a prioridade da comunidade, a urgência, as condições orçamentárias e a expectativa de resultados. Quando as coisas ocorrem dessa forma, consideramos que o governo é de interesse público; porém, quando o governo atende de- mandas desnecessárias para a maioria da comunidade, consideramos que é um governo de classe. O que seriam essas tais políticas públicas? Você já pensou nesse assunto? Já viveu as conse- quências das políticas públicas programadas pelo governo do seu estado ou da União? Para refletir Estado e políticas públicas 21 Nas dinâmicas das políticas públicas, fazem-se presentes variados atores que, se ausentes em determinados processos, são capazes de prejudicar o planejamento e os resultados, os quais podem, ainda, não alcançar sua aplicabilidade, caso sua legalidade seja questionada nos específicos tribunais da justiça. Assim, nos processos de elaboração de política públicas, devem-se fazer presentes alguns atores que tenham relação direta com a localidade e a área. a. Atores privados, que não possuem vínculo direto com a estrutura administrativa do Estado, entre eles: • associações da sociedade civil organizada; • associação de moradores; • sindicatos dos trabalhadores e patronais; • entidades de representação empresarial; • centros de pesquisas e universidades; • imprensa; • organizações não governamentais. b. Atores estatais, oriundos dos governos municipais, estaduais e o federal, entre eles: • servidores públicos; • empregados públicos que, nos termos da Lei n. 9.962/2000, são os ocupantes de emprego público na administração direta, autarquias e fundações e os na administração pública indireta, nas empresas públicas, nas sociedades de economia mistae nas fundações públicas de direito privado – ambos contratados sob o regime da CLT; • comissionados. c. Atores políticos, que estão presentes no Estado e divididos pelos poderes Executivo e Legislativo: • prefeito, secretários e vereadores; • governador, secretários e deputados estaduais; • presidente, ministros, deputados federais e senadores. Para uma melhor compreensão sobre o tema, é importante que sai- bamos que agente público é “todo aquele que exerce, ainda que transi- toriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, man- 22 Políticas Educacionais dato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior” (BRASIL, 1992). Outra questão que exige compreensão, quando estudamos políti- cas públicas, é a das possíveis fases e/ou ciclos no processo de formu- lação dos planos e ações de governo, tais como: a. a formação da agenda em que ocorre a seleção das prioridades, momento no qual, além dos atores específicos, também devem fazer parte o corpo técnico da Administração Pública, porque são eles que têm o conhecimento das ferramentas, das finanças, dos recursos humanos etc.; b. a formulação de políticas para encaminhamentos e as devidas soluções dos projetos e planos escolhidos, conforme a agenda, por meio de decretos, resoluções e leis; c. a padronização de operações, visando à acomodação dos pontos de conflitos, que abranjam as diferentes formas de atuação dos atores envolvidos; d. a execução dos planos, com controle e monitoramento das medidas definidas – a racionalidade, o carisma, a capacidade de mobilização e o espírito de unidade dos atores envolvidos – que, nesse momento, são ainda mais relevantes; e. a avaliação nas diversas fases, visando permitir que o gestor busque ações para produzir melhores resultados; f. a prestação de contas, da justificativa das ações, de responder se o processo e os procedimentos adotados foram eficientes e efetivos e de anotar se existe alguma possibilidade de que sejam reutilizadas tais informações e processos em futuras políticas públicas. É importante destacar que, no sentido político, política pública é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e omissões no processo de decisão; enquanto no sentido administrativo, trata-se de um conjunto de projetos, programas e ativi- dades realizadas pelo governo (AZEVEDO, 2003). A política pública pode ser uma política de Estado, sendo indepen- dente da vontade do governo e devendo ser implementada porque é amparada na Constituição – ou em uma política de governo. Daí a ne- cessidade de a comunidade conhecer a Constituição, pois é nela que constam quais são as políticas de Estado. O filme A árvore dos tamancos desenvolve uma importante reflexão sobre a situação de vida simples e humilde de um grupo com quatro famílias camponesas, que são remuneradas por produtividade. Uma das famílias, ao perceber que o filho tem potencial, o envia para uma escola, apesar de todas as dificuldades existentes. O longa é ganhador de muitos prêmios – dentre eles, o Palma de Ouro de Cannes – e traz uma rele- vante visão sobre a vida em comunidade, na qual a ausência de políticas públicas deixa todos em uma situação de extrema vulnerabilidade. Direção: Ermmano Olmi. Itália; França: Gaumont, 1978. Filme Estado e políticas públicas 23 1.3.1 Políticas educacionais: primeiras reflexões Política pública educacional é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer na área da educação. A avaliação de políticas, programas e projetos sociais e educacio- nais foi incorporada, de fato, à agenda governamental brasileira no início dos anos de 1990. Dentre os fatores que contribuíram para isso destacam-se: a consolidação democrática, o ajuste econômico e consequente redução dos recursos para a área social, as maio- res exigências impostas pelos órgãos financiadores, especialmente internacionais, em relação ao controle de gastos e resultados etc. Uma dinâmica de racionalização, que incluiu a observância dos cri- térios de eficácia, efetividade e eficiência na utilização dos recursos financeiros, e uma preocupação crescente com passaram a envol- ver a gestão pública brasileira. (RUS PEREZ, 2010, p. 2) Naturalmente, as pessoas são instruídas na família, na vizinhança, na igreja, no ambiente de trabalho, no clube, pela mídia, redes sociais etc. Mas há ambientes específicos em que ocorre a educação para as ciências, cultura e trabalho, com natureza formal, como a escola, a universidade e os centros de pesquisas, articulados por estudantes, professores e pes- quisadores, sob ações de governos municipais, estaduais ou o federal. As políticas públicas educacionais, portanto, abarcam diversos momentos dos cidadãos em seus processos e ambientes de ensino e aprendizagem, com ações governamentais que programem políticas de projetos pedagógicos, planos de ensino, estrutura física escolar, contratação de docentes e valorização profissional, bem como uma gestão escolar comprometida com os interesses da educação. Por isso, faz-se necessário destacar que as políticas públicas para a educação devem ser políticas de Estado, porque se encontram na Constituição Federal de 1988; portanto, não dependem do querer ou não fazer deste ou daquele governo. Ao estudarmos os artigos 208 e 214 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), podemos concluir que a educação é política pública por excelên- cia, pois faz prevalecer pressupostos que navegam por outras políticas, uma vez que: a. é obrigatória e universal; b. deve ter qualidade, ser efetiva e preparar para a cidadania, para a cultura e para o mundo do trabalho; 24 Políticas Educacionais c. precisa ser especializada às pessoas com deficiência (PcD); d. deve tramitar por meio de ações integradas dos poderes; e. deve disponibilizar programas de material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde. Art. 8º, §2º: Os processos de elaboração e adequação dos planos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de que trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil. (BRASIL, 2014) Nessa direção, visando tornar os pressupostos da Constituição apli- cáveis, já se encontra definido na Lei n. 13.005/2014 que os atores edu- cacionais precisam construir o plano com fundamentos sociológicos, antropológicos, filosóficos, epistemológicos e jurídicos; caso contrário, o plano educacional estaria incompleto e teria sua eficácia prejudicada. Assim, na direção do que prescr3eve a lei, precisamos compreender que a escola é para todos, que os processos educacionais precisam ser de qualidade, que é necessário eliminar o deficit de aprendizagem, que é preciso combater a evasão escolar, que a escola precisa ser um ambien- te acolhedor e de excelência e que, por fim, a escola deve estar intima- mente ligada às questões da sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS As comunidades vivem sob normas e regras, inscritas em costumes e/ou em leis, não tornando possível, em nenhuma delas, que seus indi- víduos façam somente o que querem ou deixem de fazer o que devem. Mesmo sendo o indivíduo completamente livre, ele ainda é ordenado em uma vida social e comunitária. A implantação de planos, projetos e ações para o bem da comunidade vai sempre depender de discussões e estudos com a participação de todos ou, no mínimo, das lideranças e atores das áreas que permeiam a vida das pessoas – como a da saúde, da segurança, do meio ambiente e, principal- mente, da educação, porque é nessa área que se concentram as ideias e políticas que podem contribuir para os melhores caminhos do desenvolvi- mento da consciência coletiva, da ciência, do conhecimento e da cultura da comunidade. Portanto, estudar esse processo é e sempre será necessário, uma vez que a reflexão favorece a produção de novas ideias e projetos,podendo garantir a evolução dos interesses individuais, bem como a dos coletivos, em uma dinâmica de respeito às diferenças e às adversidades. Estado e políticas públicas 25 REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ARISTÓTELES. Política. 3 ed. Brasília: UNB, 1997. AZEVEDO, S. Políticas públicas: discutindo modelos e alguns problemas de implementação. In: SANTOS JÚNIOR, O. A. et al. Políticas públicas e gestão local: programa interdisciplinar de capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003. BRASIL. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 jun. 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429. htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BOBBIO, N. Estado, governo e sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. DAHL, R. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Edusp, 1997. MILL, J. S. Sobre a liberdade. Lisboa: Edições 70 LDA, 2006. PLATÃO. A república. 2. ed. São Paulo: Escala, 2007. RUS PEREZ, J. R. Por que pesquisar Políticas Públicas Educacionais atualmente? Educação e sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, out./dez. 2010. Disponível em: www.scielo.br/pdf/es/ v31n113/07.pdf. Acesso: 12 mar 2020. SKINNER, Q. The Republican Ideal of Liberty. In: BOCK, G.; SKINNER, Q.; VIROLI, M. Machiavelli and Republicanism: Ideas in Context. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. TAYLOR, C. Philosophical Arguments. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da Sociologia compreensiva. São Paulo: UNB, 2004. GABARITO 1. Com exceção dos projetos pedagógicos – que são construídos pelos diversos atores envolvidos diretamente com a educação –, a educação se encontra comprometida com projetos, dos quais toda a comunidade é convidada a participar, voltados para os estudantes, abordando a segurança destes enquanto se encontram nas instala- ções da escola, a sua alimentação/merenda, bem como com o transporte escolar para aqueles que vivem em ambiente rural. Para responder o enunciado dessa primeira atividade, você deve analisar se isso de fato ocorre em planos e projetos do seu muni- cípio, nessas três áreas que abarcam a educação. Os dados podem ser solicitados na Secretaria Municipal de Educação, pois é de obrigação do município a disponibilização de todas essas informações a todos os munícipes. 2. Primeiramente, é importante que você faça uma pesquisa sobre a formação escolar e experiência que o prefeito e os secretários de seu município têm. Depois, pesquise para saber quantos existem e como se encontram os postos de saúde e hospitais que atendem a sua comunidade, bem como se a comunidade está contente com a pre- sença das polícias municipal e militar pelos bairros. Com esses dados, você consegue responder a essa questão. O município é obrigado a disponibilizar essas informações a todos os munícipes. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm 26 Políticas Educacionais 3. Com base nos estudos desenvolvidos neste capítulo, em relação às características do sistema republicano e da monarquia parlamentar, há uma série de convergências, dentre elas, o fato de a comunidade escolher os membros do parlamento, a participa- ção do povo nas discussões sobre políticas públicas e a existência de uma interdepen- dência entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 27 2 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional Compreender a educação enquanto um direito fundamental é dar a ela todo significado para a construção da cidadania e a promoção e garantia da dignidade do ser humano. No intuito de atingir esses objetivos, a educação deve ser gratuita, laica, uni- versal e defensora de valores cívicos e econômicos, de modo que todos possam dela usufruir sem qualquer discriminação, e os go- vernantes tenham as condições necessárias para proporcioná-la por meio de projetos e ações construídos por toda a comuni- dade, na forma representativa, sob as melhores estruturas e de maneira continuada. Por isso, este capítulo identificará os pressupostos inscritos nas Constituições do Brasil em relação a esses elementos, para que, assim, possamos conhecer como os processos ocorreram e relacionaram-se na trajetória histórica da nossa educação. E, nessa dinâmica, serão analisados dispositivos de emendas cons- titucionais e partes de planos de ensino que têm relação com os elementos indicados, uma vez que não seria possível analisar to- dos os pressupostos e princípios constitucionais, neste momento. Também, observaremos os avanços que ocorreram, bem como os recuos que podem ser explicados pelas dinâmicas e conjunturas políticas e sociais, em seus devidos tempos. 28 Políticas Educacionais 2.1 A gratuidade da educação e o ensino leigo Vídeo Para iniciar esta seção, é importante compreender como fazer a lei- tura e a interpretação de dispositivos legais. É possível ler e interpretar uma lei da mesma maneira que uma matéria jornalística? Você sabe como ocorre a elaboração das leis? Segundo a literatura jurídica, esses processos devem levar em con- ta o texto da norma (interpretação gramatical), a conexão da lei com outras normas, princípios e costumes (interpretação sistemática), a fi- nalidade da lei (interpretação teleológica) e os aspectos históricos aos quais a lei se vincula (interpretação histórica). Agora, como o nosso foco é a interpretação de dispositivos constitucionais e planos cujo teor é a educação, além desses elementos, também será necessária a aplicação de uma metodologia própria que, segundo Maliska (2001), considera a educação como direito de todos, dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, e que deve buscar o pleno desenvolvimento da pessoa, bem como o preparo desta para o exer- cício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Portanto, é importante sempre observarmos todos esses elemen- tos que são intrínsecos aos dispositivos legais sobre a educação, de modo que as análises sejam amplas, complexas e atinjam a totalida- de da norma. Em um segundo momento, outro ponto que também precisamos compreender é a formação das declarações de direitos, especificamente do direito à educação, sempre como resultado de um processo histórico, de uma sucessão de fatos e acontecimentos envolvendo a natureza humana, os costumes dos povos, a evolução do pensamento e das necessidades da comunidade e as relações com outras sociedades. Portanto, é preciso aceitar que processos históricos ocorrem na coletividade, independentemente dos dese- jos das individualidades. De acordo com Bobbio (2004), o processo histórico para a constru- ção dos direitos teria passado por três fases: a. A primeira, compreendendo o momento do respeito aos direitos naturais que, por natureza, são inalienáveis. b. A segunda, marcada pela legitimação e pelo reconhecimento dos direitos naturais, expressando-se em direitos de liberdade e de participação da população no poder, evidentes nas primeiras declarações 1 . Para compreender melhor questões referentes a direitos humanos e processos históricos, há vários escritores que você pode estudar, mas, um deles é fundamental. Norberto Bobbio (1909-2004) é um filósofo e historiador do pensamento político que ficou conhecido pela sua ampla capacidade de escrever sob os ângulos da razão e da liberdade. Dentre tantas obrasescritas por ele sobre esse tema, Teoria da Norma Jurídica, A era dos direitos e Igualdade e liberdade são leituras que podem contribuir, e muito, com a qualidade de seus estudos. Saiba mais Segundo Norberto Bobbio (2004), a construção histórica dos direitos humanos se encontra dividida em quatro etapas ou declarações: na primeira, firmaram-se os direitos individuais, de liberdade, ou um não agir do Estado; na segunda, os direitos sociais, de convivência entre os indivíduos, ou uma ação positiva do Estado; na terceira, os direitos coletivos dos povos de viverem em solidariedade; e, na quarta, os direitos à biotecnologia e à bioengenharia, sob a manta de uma ética universal. 1 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 29 c. A terceira, correspondendo à proclamação dos direitos sociais, como o bem-estar e a igualdade dirigidos a todas as pessoas – o momento em que a sociedade passou a usufruir de políticas públicas, e, no caso, de políticas educacionais de maneira gratuita, leiga e universal. Bobbio (2004) chama a atenção, ainda, quanto a uma série de elementos que precisam ser observa- dos em relação aos direitos sociais, como a diversi- dade de gênero e de raças, as fases da vida (infância, adolescência, juventude, velhice), dentre outros. Dando continuidade a essa reflexão, Boto (2005, p. 791) afirma que as conquistas pelo direito à educação iniciam-se com a universalização dos direitos fundamentais, a saber: 1. Direitos civis do indivíduo na sua condição de agente políti- co [...]; 2. A necessidade de ancorar os direitos dessa liberdade primeira em condições de políticas públicas adequadas para o bem-estar da maioria [...]; 3. A percepção de que ser livre e ser igual, não elimina o desejo de marcar identidades variadas e dis- tintas especificidades humanas [...]. O fato é que, com a consolidação dos direitos civis, bem como com a necessidade de promoção e desenvolvimento de novos direitos, a es- cola deveria se tornar o lugar de excelência para novos conhecimentos e aprimoramento dos já adquiridos. Por isso o direito de todos a um en- sino público ou particular de boa qualidade ter sido, nas Constituições do Brasil, uma preocupação. Entretanto, devemos pensar que não seria suficiente apenas a existência de escolas; é preciso que estas se tornassem um lugar em que se escutam os movimentos das ideias e dos comportamentos que ocorrem em seus espaços, conforme Bourdieu (1982 apud BOTO, 2005, p. 788) afirmou: a educação escolar exerce sobre as camadas populares níveis so- brepostos de violência simbólica, dado que, além de referendar o capital cultural dos alunos pertencentes às camadas privilegia- das da população, convence aqueles que não são herdeiros da mesma cultura erudita de que são eles os responsáveis por seu próprio malogro na escola. Para entendermos um pouco mais dos padrões ideológicos, da legitimação e do reconhecimento dos direitos expressos na primei- ra fase (BOBBIO, 2004), é preciso voltarmos ao que Boto (2005) afirma. SSSSS SSSSSSSSSSSSSSSSSS Considerando que a educação tem como pilares ser gratuita, leiga e universal, e observando a realidade de seu município, é possível afirmar que as escolas próximas a você atendem a todos esses pilares com a competência esperada pela comunidade? Para responder à questão, você precisará fazer uma pesquisa no site da Secretaria de Educação ou conversar com profissionais envolvidos na vida da escola, e/ou envolvidos nas políticas públicas do seu município. Atividade 1 30 Políticas Educacionais Segundo a autora, no momento da legitimação e do reconhecimento, para que o resultado seja o mais eficiente à formação dos docentes, a definição de diretrizes para a educação, a seleção de conteúdos a serem ensinados, os métodos que estejam em consonância com as realidades de cada localidade e as identidades que constituem a comunidade preci- sam se fazer presentes. Veja que o processo não é tão simples. Indo na direção da terceira fase, Boto (2005) defende que de- vem existir políticas educacionais que se pautem pela tolerância no processo de encontro de culturas e convivências, de modo que haja harmonia em todos os aspectos e sejam realmente proclamados os direitos sociais. Assim, fechamos a interpretação sobre os processos dos direitos que estão constituídos por três momentos: o respeito aos direitos naturais, a legitimação desses direitos (via dispositivos legais) e a proclamação deles na realidade das comunidades. A educação é um dos direitos naturais e inalienáveis. Ofertá-la de maneira leiga, gratuita, universal e com excelência são alguns dos ca- minhos para construir a cidadania, bem como para superar as possibili- dades de discriminações existentes, especialmente em sociedades com ampla diversidade, como é o caso da brasileira. Tendo a educação essa excelência, já estaremos nas esferas dos direitos sociais. Deste ponto em diante, o foco do capítulo será nos pressupostos da educação gratuita e leiga, uma vez que são esses elementos que podem sustentar uma política educacional promotora da universalida- de de acesso nas escolas. Por isso, passaremos por uma análise da trajetória histórica das Constituições brasileiras – promulgadas e ou- torgadas –, especificamente em dispositivos que expressaram direitos à educação. Sendo a educação gratuita, todos têm as mesmas oportunidades de acesso, e sendo leiga, uma ordem pluralista de pensamentos, cren- ças e ideologias é possibilitada no ambiente escolar. Por isso, há a im- portância desses dois pressupostos. Observe que Carneiro (1988, p. 35) traz uma sustentação para essa ideia quando afirma que “a gratuida- de do ensino público em estabelecimentos oficiais é uma questão de grandíssimo alcance social. O contribuinte paga a escola, quando paga seus impostos. O princípio da gratuidade do ensino decorre, assim, das responsabilidades públicas”. Inalienável: aquilo que não pode ser vendido ou cedido. Glossário Constituição promulgada é a Constituição construída por um Parlamento representativo da sociedade via Assembleia Constituinte – no Brasil, foram as dos anos de 1891, 1934, 1946 e 1988. Já Constituição outor- gada é a Constituição imposta ao povo pelo governante, sem a participação do Parlamento – no Brasil, foram as dos anos de 1824, 1937 e 1967. Saiba mais Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 31 No Brasil, o direito a uma educação gratuita está garantido em dis- positivos constitucionais em quase todas as Constituições que o país teve (1824, 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967) e tem (1988). Na Constituição de 1824 (BRASIL, 1824), observamos que os direi- tos civis e políticos e a gratuidade da instrução primária para todos aqueles considerados cidadãos (artigo 179 caput e inciso XXXII) estão expressos; mas, em relação à educação ser leiga ou eclesiástica, não há referências. Entretanto, nem todas as crianças teriam tido acesso à escola em face do número de professores atraídos pelo projeto e pela baixa remuneração, devido à precariedade das instalações escolares e à deficiência dos métodos aplicados ao ensino, além do fato de que negros e escravizados alforriados não podiam estudar na escola. Já na Constituição de 1891 (BRASIL, 1891), percebemos que houve uma preocupação em discriminar a competência legislativa da União e dos estados em matéria educacional, cabendo a estes legislar sobre o ensino secundário e primário. É aqui, definitivamente, que se deter- mina a laicização (artigo 72, § 6º) – rompendo com a adoção de uma religião oficial do ensino nos estabelecimentos públicos –, mas não há referência a um ensino gratuito. Por isso, podemos afirmar que houve certo retrocesso em relação ao acesso à educação, que antes era gratuito. Essa realidade levou a consequências muito importantes. No artigo 70, § 1º, inciso II, ficou determinado que analfabetos – a maio- ria constituída de filhos de escravos e de agricultores– não tivessem direito ao voto. Além disso, as estatísticas para o ensino primário nos primeiros 40 anos da República não foram nada promissoras. Para Werebe (1997), durante esse período, o desenvolvimento do ensino primário se exprime pelos seguintes números de alunos a cada mil ha- bitantes: 18 em 1889; 41 em 1920; e 54 em 1932. Em 1890, 85% da po- pulação brasileira era de analfabetos; 75% em 1900 e em 1920. É nesse momento que se deflagra a Revolução de 1932 que, com o seu desenrolar, exigiu uma rápida industrialização no país para atender às necessidades do próprio movimento. No entanto, surgiu o seguinte problema: onde buscar mão de obra para essa nova econo- mia, uma vez que a urbanização ainda era incipiente e o analfabetis- mo muito expressivo? 32 Políticas Educacionais Se antes, na estrutura oligárquica, as necessidades de instru- ção não eram sentidas, nem pela população nem pelos pode- res constituídos (pelo menos em termos de propósitos reais), a nova situação implantada na década de 30 veio modificar profundamente o quadro das aspirações sociais, em matéria de educação, e, em função disso, a ação do próprio Estado. (ROMANELLI, 1999, p. 59) Nessa circunstância, repercutiram novas propostas de políticas pú- blicas para a educação: de um lado, discutidas por intelectuais liberais, socialistas, comunistas (agrupados em torno do movimento conhecido como Escola Nova); e do outro, católicos e conservadores de variadas correntes ideológicas, dando luz à ideia da obrigatoriedade e gratui- dade do ensino elementar para todos e de um currículo escolar laico. Nessa direção, a Constituição de 1934 contemplou, em seus disposi- tivos, a educação e o ensino sob um plano nacional (artigo 150), com uma educação primária integral, gratuita e obrigatória, e a implantação de um sistema de ensino nos Estados com previsão de recursos, de imunidade de impostos para os estabelecimentos particulares, de auxí- lio para alunos carentes e de obrigatoriedade de concurso para cargos do magistério oficial (BRASIL, 1934). Apesar de todos os esforços da Escola Nova, vem o Estado Novo (1937-1946) com a Constituição de 1937. Nesta, dentre outros dispositivos, não se vislumbrava mais a exigência de um plano nacional de educação e não se exigia mais uma educação como direito de todos, apesar de instruir que o ensino primário fosse obrigatório e gratuito (BRASIL, 1937). Em uma interpretação normativa de outros dispositivos dessa Cons- tituição, podemos concluir que, ao deixar a educação sem a mediação do Estado quanto aos recursos – isso porque a vinculação obrigatória destes para a pasta foi extinta –, o Brasil não defendeu um ensino para todos, concentrando seus esforços na educação profissionalizante das classes menos favorecidas apenas pela necessidade de mão de obra. Por isso, e por outros motivos que não pretendemos discutir neste momento, essa Constituição representou um grande retrocesso para a educação, o que não significa que, por meio de outros documentos, decretos etc., não tenham ocorrido mudanças importantes na área. Todavia, nosso objetivo é uma apreciação das questões da educação apenas sob os dispositivos constitucionais. Você observou que nas Constituições anteriores a educação rural foi contemplada, como fora na Constituição de 1934? O fato é que o Brasil era um país eminentemente agrário, até então, mas a economia in- dustrial passou a evidenciar uma preocupação do parlamento e do governo com a formação de mão de obra que viria a movimentar a nova economia. Curiosidade Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 33 Em seguida, o país estabeleceu a Constituição de 1946, na qual a educação voltou a ser definida como direito de todos, com ensino primário obrigatório e gratuito (BRASIL, 1946), e a restabelecer a vincu- lação de recursos para a pasta, visando à manutenção e ao desenvolvi- mento do ensino. Também, estados e Distrito Federal voltaram a ter a atribuição de organizar os seus sistemas de ensino. Por isso, segundo Saviani (2002), essa foi uma Constituição como instrumento de demo- cratização da educação pela via da universalização da escola. Com novas correntes ideológicas sendo implantadas pelo mundo, para não ficar alheio a essas mudanças, o Estado brasileiro, sob o governo de militares, impôs uma nova Constituição – a Constituição de 1967 –, con- templando as ideologias relativas ao seu sistema educacional, que passou a fortalecer o ensino particular em detrimento do ensino público oficial. O livro Política e educação no Brasil – o papel do Congresso Nacional na legislação do ensino propõe uma reflexão crítica sobre a política que tem desempenhado o Congresso Nacional nos processos legislativos que buscam estruturar os princípios e as normas que definem a organi- zação do ensino, indo além de uma análise me- ramente administrativa, pedagógica e sociopolítica, que tem prevalecido. É uma obra indicada para todos os estudantes que buscam um entendimen- to mais profundo das dinâmicas políticas do Parlamento na construção de legislações sobre a educação. SAVIANI, D. 7. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2015. Livro Desde 1964, o país vivia sob governos militares e, dentre a fi- losofia implantada por esses governos, buscava consolidar uma identidade nacional e a sua plena soberania. Por isso, foi retirado do título da Constituição de 1964 o termo Estados Unidos, o qual aparecia anteriormente nos títulos das Constituições, para que o nome oficial do Brasil não fosse confundido com o dos EUA. Vale destacar que, nesse período em que os militares governaram o país, foram realizados vários acordos entre o Ministério da Educação e Cultura do Brasil (MEC) e Agência norte-americana de financiamento do desenvolvimento no exterior, com o intuito de receber investimentos no campo educativo, o que, para Leite (2002), teriam sido positivas. No entanto, teriam estrangulado a escola pública e permitido a expansão de um ensino comercializado. Mas algo parecia fortalecer o pensamento de que ainda era possível melhorar. A partir de 1969, duas importantes alterações na Constitui- ção ocorreram por meio de emendas constitucionais e refletiram nos processos educacionais. São elas: a. Emenda Constitucional n. 1 (1969), que traz a possibilidade de intervenção, pelo Estado, no Município, quando esse ente federativo não tiver aplicado, em cada ano, no ensino primário, 20% da sua receita tributária, pelo menos. 34 Políticas Educacionais b. Emenda Constitucional n. 12 (1978), que alterou a Constituição vigente, visando à garantia da educação especial e gratuita aos deficientes. Com a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), passou a ser garantida a participação da comunidade na implementação de políticas públicas tendo em vista o pleno exercício dos direitos sociais, individuais, da liber- dade, da segurança, do bem-estar, do desenvolvimento e da igualdade. Em relação a essas proposituras democráticas, a educação passa a ser ofertada gratuitamente e de maneira laica, abrangendo: a. igualdade de condições para acesso e permanência na escola; b. pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; c. coexistência de instituições públicas e privadas; d. gratuidade do ensino público e obrigatório em estabelecimentos oficiais. Assim, a tramitação pelas Constituições do país, iniciando em 1824 até a que se encontra em vigor, atendeu ao objetivo de buscar como cada uma delas promoveu a gratuidade e a laicização do ensino. 2.2 A educação sob um plano nacional Vídeo Você sabe o que é um Plano Nacional de Educação? A resposta é sim- ples: trata-se de um plano pensado e organizado por representantes dos docentes, das secretarias de educação, dos sindicatos e da Associação de Pais e Professores, objetivando um projeto para a educação que aten- da local, regional e nacionalmente em um período decenal. Complemen- tando esse conceito, o Conselho Nacional de Educação diz tratar-se de “umdocumento-referência que contempla dimensões e problemas so- ciais, culturais, políticos e educacionais brasileiros, embasado nas lutas e proposições daqueles que defendem uma sociedade mais justa e igualitária e, por decor- rência, uma educação pública, gratuita, democrática, laica e de qualidade, para todos, em todos os ní- veis (CNE, 1997, p. 2)”. A discussão sobre um Plano Nacio- nal de Educação iniciou no governo Para estudiosos da educação, a Constituição de 1967 foi um re- trocesso porque teria fortalecido o ensino particular mediante previsão de substituição do ensino oficial gratuito por bolsas de estudo. Na sua visão, tem sentido essa crítica? Por quê? Atividade 2 PS SS SS PS SPS PS SS SS SS SS SS SS Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 35 Vargas (1930–1946), um período em que se desejava construir uma forte identidade nacional. Para isso, em 1930, criou-se o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública e, em 1931, houve a Reforma Francisco Campos, resultando no Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão promotor da formatação do Plano Nacional, contemplando um conjunto de metas para todo o território nacional – no início, sob duas abordagens: a. Formação de cidadãos por meio de escolas democráticas e que incentivassem a formação humana e crítica dos estudantes. Participaram, dentre outros, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles – os Pioneiros da Educação. b. Ensino tradicional em que o professor era o detentor do conhecimento. Mobilizado por D. Sebastião Leme, o grupo foi formado por intelectuais, políticos e diplomatas ligados à Igreja Católica. Fruto desses embates, em 1932, foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, visando ao Plano Nacional de Educação, de modo que abrangesse os seguintes princípios: a. Ser a educação pública, obrigatória, gratuita e leiga. b. Ser a educação única para toda a sociedade. c. Ser a educação um elemento articulado com todas as fases do desenvolvimento da pessoa. d. Estar a educação em consonância com as regionalidades. e. Ser a educação funcional e de acordo com os interesses naturais dos estudantes. Como não poderia ser diferente, nesse contexto, foi elaborada a Constituição do Brasil de 1934, que, em seus artigos 150 e 152, faz, pela primeira vez, referência direta a um Plano Nacional de Educação para o país. Art. 150 – Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coorde- nar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País; [...]. Art. 152 – Compete precipuamente ao Conselho Nacional de O Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) é uma associação de direito privado, sem fins lucrati- vos, criada em 1986, para fins de reunir as Secretarias de Educação dos estados e do Distrito Federal, com a finalidade de promover a integração das redes estaduais de educação, intensificar a participação dos estados nos processos das políticas nacionais de educação e motivar a força colaborativa entre as unidades federativas para o desenvolvi- mento da escola pública. Saiba mais No documentário Era Vargas, você poderá compreender como o poder se movimentou naquele momento, como Getúlio se consolidou e que legado ele deixou. Direção: Eduardo Escorel. Brasil: Brasil 1500, 2011. Filme 36 Políticas Educacionais Educação, organizado na forma da lei, elaborar o plano nacional de educação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar necessárias para a melhor so- lução dos problemas educativos bem como a distribuição ade- quada dos fundos especiais. (BRASIL, 1934, grifos nossos) O fato é que, ao final do ano de 1934, ocorreu um importante gol- pe político no país, implantando o Estado Novo (1937-1946), cujos poderes representativos (incluindo a Câmara Federal, na qual o PNE se encontrava) foram fechados, engavetando os direcionamentos do Plano Nacional de Educação que se encontrava em construção. Infelizmente, a próxima Constituição – a de 1946 – também não fez referência a um PNE, mas mencionou algo que conhecemos, hoje, como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB): “compete à União: [...]; XV - legislar sobre: [...] d) diretrizes e bases da educação nacional” (BRASIL, 1946). O Plano Nacional de Educação voltou a ser discutido apenas nos governo Goulart (1961-1964) com a Lei n. 4.024, que foi a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Art. 7º – O Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, terá atribui- ções normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a par- ticipação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional. § 1º – Ao Conselho Nacional de Educação, além de outras atribui- ções que lhe forem conferidas por lei, compete: a) subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano Nacional de Educação. (BRASIL, 1961, grifos nossos) No entanto, todo esse progresso pretendido com um PNE, que deveria buscar uma educação crítica e democrática, não deu certo. Nos anos seguintes, houve um aumento da educação particular por meio de incentivos do governo para facilitar a abertura de escolas privadas, e a educação pública foi cada vez menos valorizada. Além disso, eliminou-se a vinculação orçamentária que obrigava a União, os estados e os municípios a destinarem um percentual mínimo de recursos para a educação. No entanto, esse contexto foi favorável para os debates sobre a unificação de metas e objetivos para a edu- cação nacional, dando origem à LDB n. 9.394, e as questões relativas a um PNE voltaram a ser contempladas: Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 37 Art. 9º – A União incumbir-se-á de: I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios [...]. Art. 10 – Os Estados incumbir-se-ão de: [...]. III - elaborar e exe- cutar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coorde- nando as suas ações e as dos seus Municípios; Art. 11 – Os Municípios incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados. (BRASIL, 1996) Desde já, é importante darmos o devido destaque para o artigo 79, § 2º, da atual LDB (BRASIL, 1996), uma vez que nele constam os motivos pelos quais um Plano Nacional de Educação deve existir: a. Fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade indígena. b. Manutenção de programas para a formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas. c. Desenvolvimento de currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades. d. Elaboração e publicação, de maneira sistemática, de material didático específico e diferenciado. Com os atores da educação envolvidos democraticamente nos interesses da comunidade e ansiosos por políticas educacionais que fizessem os direitos constitucionais acontecerem de verdade, em 2001, foi aprovado e implantado o primeiro PNE por meio da Lei n. 10.172 (BRASIL, 2001), o qual trouxe, entre os seus objetivos, a necessidade de se implantar metodologias adequadas que levassem ao fim do analfabetismo, o atendimento escolar universal, a apli- cação de uma educação única e de qualidade, uma educação que não privilegiasse grupos ou classes sociais, o uso do meio ambiente de modo sustentável, uma educação humana e que estivesse em sintonia com a ciência e a tecnologia, a aplicação de recursos públi- cos para a educação, uma
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