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Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Você já pensou sobre a sua importância, como cidadão, no desenvolvimento e aprimoramento da comunidade da qual faz parte, bem como sobre o seu papel na construção de um mundo melhor? Está consciente dos conceitos, dos fundamentos, das diretrizes e das legislações que normatizam o convívio em grupo, bem como das políticas públicas que conduzem os atores sociais, as instituições e o governo para o desenvolvimento de uma sociedade com mais conhecimento, desenvolvimento socioeconômico e cultural e justiça? Esses são questionamentos muito importantes para a elaboração de uma crítica construtiva e necessária, que pode direcionar as instituições a uma revisão de seus conceitos e paradigmas e a novas propostas que realmente contribuam para a oferta de projetos e planos educacionais capazes de preparar as pessoas para uma era de conhecimento, na qual se deve imperar o espírito de solidariedade, igualdade, fraternidade, universalidade, democracia, responsabilidade, ética e constante senso de justiça. Assim, sabendo que preparar as pessoas para essa era é responsabilidade primordial da educação, este livro convida o leitor para o estudo das políticas públicas educacionais implementadas e desenvolvidas no Brasil, desde o ano de 1500 até a contemporaneidade, com ênfase na análise das legislações, dos fundamentos e dos paradigmas educacionais, dos projetos pedagógicos e das perspectivas sobre os impasses e impactos que marcaram a história educacional do Brasil. Código Logístico 59427 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6642-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 2 1 Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: donatas1205/goir/Evgeny Karandaev/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C349p Castriani, Miguel de Jesus Políticas educacionais / Miguel de Jesus Castriani. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 144 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6642-1 1. Educação e Estado. 2. Políticas públicas - Brasil. 3. Planejamento educacional - Brasil. I. Título. 20-63815 CDD: 379.81 CDU: 37.014.5(81) Miguel de Jesus Castriani Mestre em Educação e especialista em Pesquisa Educacional pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Direito Processual Civil e Recursos pela Faculdade Educacional da Lapa (Fael). Graduado em Direito pela Faculdade Dom Bosco e em Filosofia pela PUCPR. Atuou como apresentador de programas de entrevistas em estúdio, como docente no ensino superior e como coordenador e gerente de cursos de graduação e de pós-graduação. É autor de livros didáticos para a educação básica e superior e responsável por projetos de responsabilidade social. Como advogado, atua na Área Cível, com escritório próprio. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Estado e políticas públicas 9 1.1 Princípios e organização do Estado 9 1.2 Sistema republicano de governo e democracia 17 1.3 Políticas públicas e educação 19 2 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 27 2.1 A gratuidade da educação e o ensino leigo 28 2.2 A educação sob um plano nacional 34 2.3 A educação vinculada a valores cívicos e econômicos 38 2.4 O direito fundamental e universal à educação 41 3 Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 50 3.1 A educação na Colônia e a Reforma Pombalina 51 3.2 Brasil Império e a Lei n. 01/1837 55 3.3 O Decreto Educacional n. 981/1890 61 3.4 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 65 3.5 A LDB n. 4.024/1961 69 3.6 A LDB n. 5.692/1971 74 4 Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 80 4.1 A LDB n. 9.394/1996 81 4.2 O PNE 2014-2024: Lei n. 13.005/2014 86 4.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais 93 4.4 Políticas educacionais vigentes 101 4.5 Legislação da educação superior 108 5 Gestão da educação: limites e perspectivas 116 5.1 A construção do projeto político-pedagógico 117 5.2 Políticas de financiamento da educação 123 5.3 Avaliação Institucional 128 5.4 Perspectivas, impasses e impactos 135 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Você já pensou sobre a sua importância, como cidadão, no desenvolvimento e aprimoramento da comunidade da qual faz parte, bem como sobre o seu papel na construção de um mundo melhor? Está consciente dos conceitos, dos fundamentos, das diretrizes e das legislações que normatizam o convívio em grupo, bem como das políticas públicas que conduzem os atores sociais, as instituições e o governo para o desenvolvimento de uma sociedade com mais conhecimento, desenvolvimento socioeconômico e cultural e justiça? Esses são questionamentos muito importantes para a elaboração de uma crítica construtiva e necessária, que pode direcionar as instituições a uma revisão de seus conceitos e paradigmas e a novas propostas que realmente contribuam para a oferta de projetos e planos educacionais capazes de preparar as pessoas para uma era de conhecimento, na qual se deve imperar o espírito de solidariedade, igualdade, fraternidade, universalidade, democracia, responsabilidade, ética e constante senso de justiça. Assim, sabendo que preparar as pessoas para essa era é responsabilidade primordial da educação, convidamos você para o estudo que esta obra propõe, realizando um avançado contato com as políticas públicas educacionais implementadas e desenvolvidas no Brasil, desde o ano de 1500 até a contemporaneidade, com ênfase na análise das legislações, dos dos projetos pedagógicos, das perspectivas, dos impasses e dos impactos que marcaram a história educacional do Brasil. No primeiro capítulo, desenvolvemos um estudo e uma reflexão sobre a diversidade étnico-cultural que constitui o povo brasileiro, num paralelo com os conceitos epistemológicos e políticos do Estado, os princípios constitucionais que sustentam e normatizam o país, além das políticas públicas existentes e suas funções na formação de um povo. Já o segundo capítulo promove uma reflexão sobre o direito à educação, presente nas Constituições que o Brasil teve e na que ainda está em vigor, com destaque aos dispositivos legais que indicam a educação como um direito fundamental na garantia da dignidade da pessoa humana, especificamente para aqueles que prescrevem, para o povo brasileiro, a educação gratuita, laica, universal e defensora de valores cívicos e econômicos. Em seguida, no terceiro capítulo, por meio de umestudo e uma reflexão sobre a cultura educacional já desenvolvida e a vigente, a obra tramita pelos APRESENTAÇÃO fundamentos políticos, econômicos e culturais que constituíram as principais legislações sobre educação, implantadas no Brasil até a década de 1990, visando compreender as estruturas conceituais, as funcionalidades, os impasses e os resultados dessas no cotidiano da sociedade. No quarto capítulo, dando continuidade aos estudos das legislações relacionadas à educação no Brasil, o foco passa a ser a partir da década de 1990. Isso porque, após esse momento histórico, o país já tinha uma Constituição democrática e cidadã. Além disso, as legislações educacionais já teriam que abranger os fundamentos de uma educação de qualidade, universal e igualitária, que visasse à promoção da dignidade da pessoa humana e que fosse construída, democraticamente, pelos diversos atores da sociedade civil organizada e os governos. Por fim, no quinto capítulo, nosso estudo volta-se para as questões práticas do mundo escolar, especificamente para todo o processo de construção das propostas educacionais no estabelecimento de ensino, o projeto político-pedagógico (PPP) e a sua relação com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com o Plano Nacional de Educação (PNE); também é dado enfoque às políticas de financiamento da educação, à avaliação institucional e aos impasses e impactos que os processos educacionais têm experimentado. Bons estudos! Estado e políticas públicas 9 1 Estado e políticas públicas Compreendermos que toda comunidade é formada por uma diversidade cultural e étnica e, ainda, que é nessa comunidade que o Estado deve exercer a sua função se faz muito importante para iniciar nossos estudos sobre políticas públicas e, em especial, so- bre as políticas educacionais. O Estado existe para a comunidade e, a fim de exercer o seu trabalho, deve atuar sob os princípios previstos na Constituição. Portanto, o Estado é uma instituição que deve estar à serviço do seu povo. Nessa direção, esta reflexão tramitará pelos princípios do Estado brasileiro, pelo seu surgimento e pelos elementos que compõem o Estado – em especial o republicano. Por último, abor- daremos quais são os atores que participam da construção das políticas públicas, considerando a representatividade como um elemento essencial da democracia, em uma sociedade que tem como objetivo maior a promoção da dignidade humana de todos os seus membros, sem qualquer distinção. 1.1 Princípios e organização do Estado Vídeo Para iniciarmos esta reflexão, é importante entendermos que o tema políticas educacionais está completamente ligado às políticas pú- blicas, as quais são o principal motivo da existência do Estado. Assim, surgem as primeiras questões que este livro pretende elucidar: quando surgiu o Estado, quais seriam as suas funções e como ele tem atuado nos últimos tempos? Primeiramente, é importante compreendermos que a palavra Esta- do deriva, etimologicamente, do termo latino status, que significa so- berano, forte, sedimentado. Sendo o Estado soberano, ele se constitui como a instituição pública que existe para organizar, normatizar, aplicar 10 Políticas Educacionais e fiscalizar um conjunto de ações, planos, normas e regras existentes, ou que precisam existir, na comunidade, visando ao bem público, isto é, o bem para toda a população – inclusive para você –, que se encontra constituída em um determinado território, buscando a cidadania e uma vida digna. Entretanto, é importante entender que esse mesmo Estado também pode e deve utilizar-se de um aparato policial para buscar o equilíbrio social e o respeito às diferenças, às diversidades e às adver- sidades, que são próprias de toda coletividade, principalmente quando os interesses individuais se sobrepõem aos coletivos, minando a cida- dania e o respeito às leis. A partir disso, temos outro questionamento importante. Quem sur- giu primeiro? O Estado ou as leis? Em sistemas democráticos, é a comu- nidade, por meio de seus representantes locais (vereadores), regionais (deputados estaduais) e nacionais (deputados federais e senadores), que faz a legislação; além disso, são essas leis que direcionam a exis- tência e o funcionamento do Estado. De modo geral, a Constituição, o Código Civil, o Código Penal, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Código Tributário, o Código de Trânsito, entre outros, devem ser produtos da comunidade, propostos democraticamente e não de maneira impositiva pelo Estado. No entan- to, em alguns Estados, a produção de legislações ocorre de cima para baixo, isto é, a comunidade somente recebe o conjunto de normas e regras que precisa cumprir, sem ter participado de suas elaborações, o que, numa visão moderna, deveria ser considerada uma aberração. As maneiras como os Estados executam esses processos de elabo- ração das leis e das políticas públicas se diferem. Em monarquias ab- solutas, por exemplo, esse processo é imposto e as comunidades não participam dele; já nas monarquias parlamentaristas, o parlamento é quem faz as legislações, assim como nas repúblicas presidencialistas ou parlamentaristas. Naturalmente, no modelo republicano – que é a forma de governo adotada no Brasil –, a construção da legislação e, por consequência, das políticas de Estado é realizada pelos seus próprios cidadãos ou por seus representantes eleitos. Portanto, o Estado, no aspecto das legis- lações, está para colocá-las em prática, conforme o desejo de quem as construiu. Porém, desde já se faz importante saber que o Estado se encontra, também, nas dinâmicas de outros poderes, como no Poder Cidadania vem do termo latino civitas e significa cidade; portanto, cidadão seria aquele que vive na cidade. No entanto, na atualidade, entende-se o cidadão como aquele que tem e vivencia o conjunto de direitos e deveres existentes no espaço territorial em que vive, podendo, conscientemente e com discernimento, intervir nesse meio, transformando-o a qualquer momento. Saiba mais Estado e políticas públicas 11 Executivo, nas prefeituras (prefeito e secretários), nos estados (gover- nador e secretários) e na União (presidente e ministros), bem como no Poder Judiciário, por meio de juízes, desembargadores, e ministros. Sendo assim, o Estado é necessário para promover e regular a vida das pessoas que vivem em coletividade. Entretanto, ainda ficam os questionamentos: você, como cidadão, tem visto o Estado dessa forma? Tem sido o Estado a instituição que, de fato, promove e regula a vida da coletividade? Especificamente aí, na sua localidade, considerando os acontecimentos envolvendo corrup- ção e desrespeito a uma série de legislações, como nas questões de segurança nas escolas, da alimentação e do transporte escolar? Com essas primeiras reflexões, já podemos compreender o Estado como aquele ente público que, por meio de uma série de instituições presentes no mundo dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – nas esferas municipais, estaduais e a federal –, age como promotor, administrador e regulador dos interesses das coletividades que habi- tam um determinado território, com base em políticas públicas. Porém, não só internamente, pois é, também, o ente público que promove as relações existentes entre suas coletividades internas e as coletividades existentes nos demais Estados e nações. Veja, o interessante é percebermos que a comunidade, por falta de atenção ou de instrução, muitas vezes não sabe o quanto é importan- te se fazer presente na constituição das funções do Estado. Por isso, quando, em um círculo vicioso, a comunidade não se faz presente, as políticas públicas instituídas pelo Estado não atingem as comunidades e elas facilmente continuam sem as devidas participações nas defini- ções das políticas públicas. Além disso, precisamos chamar a atenção para essa ausência, que também acaba ocorrendo na definição das po- líticaspúblicas educacionais – o que é muito sério. Para Aristóteles (1997), o Estado é superior ao indivíduo, porquan- to a coletividade é superior ao indivíduo e o bem comum superior ao bem particular. Unicamente, no Estado, pode-se satisfazer as ne- cessidades do homem, uma vez que o homem é um animal social e político, não podendo realizar a sua perfeição. Sob as luzes da afirma- ção de Aristóteles e dos conceitos desenvolvidos até este momento, podemos ainda afirmar que o governo deva agir de acordo com os interesses da comunidade? Atentamente, reflita sobre a atuação do município onde você domicilia e descreva sobre, pelo menos, três planos governamen- tais na área da Educação que têm contribuído para uma vida cidadã na comunidade. Atividade 1 Você concorda que, se as políticas públicas para a área da educação forem programadas conforme interesses exclusivos do governo, sem a participação da comunidade, pode-se gerar uma sociedade desinformada e desqualificada para o mundo da cidadania, da ciência e do conhecimento? Por quê? Para refletir 12 Políticas Educacionais Até aqui, questões sobre cidadania já se fizeram presentes, tanto em seu aspecto conceitual quanto em sua prática; governo, Estado, comunidade participativa e poderes também passaram pelas nossas primeiras reflexões. No entanto, faz-se necessário, agora, para desen- volvermos uma percepção e um conhecimento mais amplo, que com- preendamos como tudo isso aconteceu e nasceu, ou seja, as devidas origens do Estado, dos governos e da vida em cidadania. Para entendermos a origem de coisas, ideias, pessoas etc., há estu- diosos que fazem análises de acordo com a atual situação ou realidade desses objetos de estudo. Entretanto, desenvolver uma compreensão só dessa forma pode incorrer em afirmações que não se traduzem em conceitos completamente confiáveis. Para facilitar a sua compreensão dos princípios do Estado, da estru- tura conceitual e prática de Estado e das suas teorias, primeiramente vamos entender o que significa o termo princípio. Etimologicamente, significa início, causa primeira, proposições fundamentais. Princípio faz parte da estrutura conceitual de qualquer um dos entes materiais (coi- sas) ou imateriais (ideias). Isso porque todas as coisas e ideias têm uma causa e/ou origem, que podem explicar a sua existência. Assim, o Esta- do não seria diferente, pois também tem os seus princípios, enquanto proposições fundamentais para a sua existência. Tem sido comum, nos meios acadêmicos, que a realidade seja vista sob as lentes da razão e da ciência; entretanto, deve ser igualmente importante que também seja percebida sob os pressupostos da moral e da ética, para, assim, ser compreendida em sua totalidade. Para esse fim, um olhar voltado a todos os elementos, que compõem alguma coi- sa ou ideia, precisa ser iniciado na origem primeira, nos princípios que levaram à constituição dessa coisa ou ideia. No âmbito conceitual de Estado, essa reflexão também precisa ser feita. Por isso, a primeira per- gunta a se buscar resposta deveria ser: quais seriam os princípios que sustentam a existência de um Estado? Em uma primeira reflexão é importante procurarmos entender que princípios são raízes e matizes que levam à existência do Estado. Mas, conforme já discutimos, não existe Estado sem leis. Portanto, melhor seria dizer, então, que princípios são as raízes que levam à construção das leis, especificamente em relação às normas e regras que as consti- tuem. Assim, podemos concluir que as normas e regras, que compõem as leis, seriam os primeiros princípios de um Estado. O livro Aristóteles e a política traz uma reflexão muito especial sobre o pensamento do filósofo Aristóteles, que se refere às questões da política. WOLFF, F. São Paulo: Discurso Editorial, 1999. Livro Estado e políticas públicas 13 Em um segundo momento, na busca pela compreensão da exis- tência dos princípios do Estado, precisamos entender que normas e regras são feitas para pessoas que vivem em coletividade. Portanto, não se pode pensar na existência de Estado sem compreender a im- portância da existência da coletividade. O Estado, entendido como ordenamento político de uma comunidade, nasce da dissolução da comunidade primitiva fundada sobre os laços de parentesco e da formação de co- munidades mais amplas derivadas da união de vários grupos familiares por razões de sobrevivência interna e externas. (BOBBIO, 1987, p. 73) É fato que comunidade também é um termo abstrato, consideran- do que envolve uma somatória de indivíduos coabitando em uma determinada localidade. Por isso, nesse caso, as raízes já compreen- didas vêm das próprias pessoas que, com experiências históricas na formação de suas consciências, vão definindo suas estruturas mais firmes e os interesses que irão formar o seu comportamento em gru- pos nas comunidades em que vivem. Em Platão (2007), registra-se um diálogo entre Sócrates e Glauco em que podemos perceber que a lei não visa o bem-estar absoluto de uma só classe de cidadãos, mas de uma lei que procura promover a concórdia entre todas as classes, seja por meio da persuasão ou coação, de modo que a todas é dado o direito de repartir a contribuição que cada um está em condição de trazer para a coletividade. Naturalmente, cada sujeito, por meio de suas experiências históri- cas, constrói a própria consciência, com os seus princípios e valores, normas e regras. No entanto, como é de costume na vida em grupo, essas consciências individuais são chamadas a alguns ajustes, de modo que uma consciência individual não esteja sobreposta à consciência do outro que habita a mesma comunidade, nascendo, assim, a regra, a norma, a lei e os costumes para uma determinada comunidade. Desse modo, os princípios pessoais se ajustam e formam os sociais e comunitários. Consequentemente, princípios sociais se constituem em princípios regadores, que sustentam as estruturas do Estado nas suas mais diversas dimensões. Por isso, podemos afirmar, em um pri- meiro momento, que alguns dos princípios que estruturam as dinâmi- cas do Estado são: 14 Políticas Educacionais a. legal (normas e regras sociais); b. cultural (produções literárias, artísticas, arquitetônicas, cinemato- gráficas, pinturas, esculturas, danças etc.); c. educacional (ensino, pesquisa e extensão, tanto nas escolas e universidades quanto no mundo das informalidades); d. econômico (produções industriais, agropecuárias, turísticas, co- merciais, financeiras etc.); e. social (relações entre os grupos e comunidades locais, regionais e nacionais e outras nações); f. científico (mundo das ciências, dos conhecimentos etc.). No caso específico do Brasil, é preciso salientar que a Constituição Federal, em seu artigo 1º (BRASIL, 1988), apresenta os princípios que definem o Estado, a saber. Princípios que definem o Estado Princípio da dignidade da pessoa humana: compreende e garante os direitos fundamentais a todos os cidadãos. Princípio do valor social do trabalho: diz respeito à ideia de que todos os cidadãos precisam viver seus direitos enquanto trabalhadores. Princípio da soberania: traduz a ideia de que o Estado tem poder soberano sobre os demais entes e perante a comunidade internacional. Princípio da cidadania: remete à noção de que todos os indivíduos podem participar das decisões do Estado. Princípio da pluralidade política: demonstra a perspectiva de que se deve ter a garantia da existência de variadas ideologias e políticas. Como podemos observar, o Estado pode muito; entretanto, mesmo que soberano, só pode fazer o que a lei permite. Por isso, é importan- te ficar claro que o Estado atua sob os princípios delineados, sempre Estado e políticas públicas 15 visando a uma administração pública de maneira justa e solidária, sem preconceito de raça, gênero, origem, situação financeira, idade etc. Nessa direção, para que a questão da soberania ocorra de modo solidário e não seja discricionariedadedo governante, a própria Constituição Federal (BRASIL, 1988), em seu artigo 37, delimita alguns princípios para a Administração Pública, definindo que todo gover- nante precisa respeitá-la, patrociná-la e promovê-la, sob a consequên- cia de, em caso contrário, incorrer em irresponsabilidade e ser punido legalmente. Esses princípios, definidos a seguir, garantem que o gover- no aja para todos, sem qualquer distinção ou interesses pessoais. a. Princípio da legalidade: impõe que as ações e decisões dos agentes públicos só devem ser tomadas de acordo com o que a lei permite. b. Princípio da impessoalidade: determina que os atos dos agentes públicos não podem ser guiados por interesses próprios. c. Princípio da moralidade: estabelece que as ações dos agentes públicos devem ter como base os valores legais, éticos e de boa-fé. d. Princípio da publicidade: determina que os atos dos agentes públicos sejam públicos e divulgados. e. Princípio da eficiência: impõe que os agentes públicos devam produzir resultados com qualidade e rapidez, eficiência e efetividade. Podemos afirmar, portanto, que o Estado é a instituição que pro- grama, organiza, administra e julga os interesses de uma determinada população em um certo território, conforme o estabelecido pelas leis. Por isso, o governante – seja local, regional ou nacional – precisa ter competências, ser conhecido pela sua comunidade e sempre atuar sob os princípios da Constituição e da Administração Pública, considerando a função que tem e que precisa exercer na comunidade. Outra questão, nessa mesma linha conceitual, é procurarmos sa- ber se o governo existente em uma determinada coletividade tem le- gitimidade. Mas o que seria essa tal legitimidade? Para Weber (2004), considerado um dos fundadores da sociologia, a legitimidade de um governo ocorre de acordo com três modelos, descritos a seguir. a. Tradicional: em que se acredita que o governo deva ser como fora no passado – provavelmente, porque as experiências do passado foram boas e eficientes; Sendo o Brasil uma comunidade formada por grande diversidade étnica (portugueses, africanos, alemães, italianos, árabes, russos, latino-americanos, indí- genas, entre outros), como ser soberano e, ao mesmo tempo, solidário? Reflita sobre isso pelas lentes da razão e da ética. Para refletir discricionariedade: estar livre de condições, sem qualquer limitação para poder agir. Glossário Considerando os atuais resultados das políticas públicas programadas no seu município e estado, em relação à saúde e à segurança (quantidade e qualidade de postos de saúde e hospitais e a presença das polícias municipal e militar), seria possível afirmar que são políticas realizadas por governos competentes? Atividade 2 16 Políticas Educacionais b. Carismático: em que se acredita nas qualidades pessoais do governante, como a virtuosidade e atos heroicos – que, muitas vezes, não se traduzem em governo democrático; c. Racional ou legal: em que se acredita que os atos do governo estariam de acordo com as leis. No aspecto da legitimidade, é fato que há a necessidade de o gover- no ficar próximo de sua comunidade, uma vez que precisa saber o que a população deseja para, então, poder atingir o bem público almejado por todas as pessoas, de modo que essa sociedade se veja como uma nação soberana. Estamos, agora, ingressando em uma reflexão que inclui alguns ter- mos que, apesar de serem bastante utilizados por todos, muitas vezes não são compreendidos em sua totalidade. Você sabe o que significa governo, soberania, território, população e nação? Mesmo que a resposta a essa pergunta seja sim, vale a pena, neste momento, uma revisão conceitual. Governo: é a autoridade que tem como objetivo administrar e levar ao desenvolvimento uma determinada populaçã, seja ela local, regional ou nacional. População: representa todos que habitam o território, mesmo que temporariamente ou que não tenham qualquer vínculo com o Estado. Território: é o lugar – solo, subsolo, águas territoriais, ilhas, rios, lagos, portos e mar – onde, sob um ordenamento jurídico, está fixada a população sobre a qual o governo exerce seus atos. Soberania: é o poder indivisível, inalienável e imprescritível que o Estado tem de se organizar juridicamente e de fazer valer, em seu território, seus interesses nos limites e nos fins éticos de convivência entre todos. Nação/povo: define quando a população de um mesmo território possui, em comum, a legislação e cultura. Para continuarmos nossos estudos sobre princípios do Estado, é importante compreendermos que o Estado é um ente que governa de maneira soberana (elemento político-jurídico) uma população (elemen- to humano) que habita um determinado território (elemento geográfi- co), visando a cidadania e a construção de uma verdadeira nação. Mas de que modo isso pode ser feito? Veja que, no caso do Brasil, a Constituição Federal expressa, em seu artigo 3º (BRASIL, 1988), objetivos fundamentais que precisam ser coordenados pelo governo, por meio de suas instituições, para que exista uma verdadeira nação. São eles: “I – construir uma sociedade livre, justa e solidária”, aqui, o Estado deve propiciar o bem-estar, a harmonia social e a qualidade de vida, garantir todos os meios necessários para que a comunidade viva a plena demo- cracia; “II – garantir o desenvolvimento nacional”, nesse caso, o governo precisa prover o bem-estar social, desenvolvendo uma série de políticas públicas para todas as regiões do país e tratando os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira especial para que atinjam o devido equi- líbrio e cheguem à igualdade como os demais; “III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”, como nos demais objetivos, aqui se buscam condições mais apropriadas à pro- moção da dignidade e do respeito à pessoa humana, visando à igualda- de de todos, tanto local quanto regional; e, por fim, “IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, ou seja, nesse aspecto, o governo pre- cisa reconhecer as possíveis condições referentes à igualdade, evitando a discriminação e promovendo a harmonia entre as comunidades que compõem a sociedade e a população brasileira. Observando a realidade na sua comunidade, pode-se afirmar que o Estado brasileiro tem cumprido com os seus objetivos inscritos no artigo 3º da Constituição? O governo realmente tem sido soberano na comunidade local e na internacional, considerando os últimos acontecimentos? Existe uma nação brasileira, levando em conta certos fatos que envol- vem conflitos culturais entre as regiões? E, quanto ao território, o Brasil realmente se encontra bem definido, considerando a extensão fronteiriça que se encontra sem os adequados controles de segurança? Para refletir Konstantinos Kokkinis/Shutterstock 1.2 Sistema republicano de governo e democracia Vídeo República vem dos termos latinos res + pública, que, juntos, significam coisa pública ou o que é comum. Por isso, república é entendida como bem público. Com as crescentes demandas da sociedade, hou- ve a necessidade de um Estado liberal, democrá- tico e social forte, que garantisse os direitos civis de proteção à vida, à propriedade e à liberdade e que assegurasse, a cada indivíduo, um tratamento com respeito, independentemente de classe so- cial, etnia, cor, gênero, raça, religião ou cultura, em um sistema participativo quanto à definição de políticas, instituições e do exercício da res- ponsabilidade. Desse modo, refere-se a um sistema comprometido com o interesse público, com a capacidade efetiva de reformar instituições e Estado e políticas públicas 17 18 Políticas Educacionais fazer cumprir a lei; um sistema dotado de legitimidade, sendo eficaz e eficiente no seu desempenho; um sistema que garanta a estabilidadee a soberania do Estado. Para Skinner (1990), a manutenção de nossas obrigações na comunidade é indispensável para a manutenção da li- berdade de todos que nela vivem. Entretanto, podemos ser coagidos a virtudes e compelidos a sustentar uma liberdade que, se fosse deixada unicamente a nosso cargo, teríamos destruído. Todavia, é importante destacarmos que Estados republicanos se diferenciam de um país para outro. Eles são democráticos, mas há exemplos de países republicanos cujas ideias liberais vivenciaram, e/ ou vivenciam, conflitos endêmicos em suas dinâmicas de governo, o que pode ser explicado pela falta de patriotismo. O patriotismo se baseia em uma identificação com os outros em um empreendimento particular comum. Eu não me dedico a de- fender a liberdade de qualquer um, mas sinto o vínculo de soli- dariedade com meus compatriotas em nosso empreendimento comum, a expressão comum de nossa dignidade respectiva. (TAYLOR, 1995, p. 1.888) No Estado republicano, o bem comum está acima dos interesses pessoais de classes e das corporações, ampliando-se no tempo; já a liderança e/ou o governo é temporário. O fato é que esse sistema já existe desde a idade Média e tem mais de 2 mil anos. Entretanto, ainda carece de aperfeiçoamento para evitar a corrupção e o desvirtuamento das ações. Segundo Mill (2006, p. 188), o ideal seria que os servidores do Estado fossem responsáveis pela violação de quaisquer regras, e a autoridade administrativa central apenas supervisionaria a sua execução; e, caso não fossem adequadamente postas em prática, apelaria ao tribunal específico para que este fizesse cumprir a lei de forma que se livrasse dos funcionários que não as tivessem executado de acordo. Na Idade Moderna, a República se configurou nos governos pós- -Independência dos Estados Unidos (1776) e pós-Revolução Francesa (1789). Com influências do Iluminismo 2 , surge uma república com as premissas de que os governados são cidadãos e verdadeiros titulares da soberania e de que o governo é o encarregado pela organização do Movimento intelectual que celebrava a razão, com independência dos poderes e uma fiel garantia de liberdades individuais. 2 Estado e políticas públicas 19 Estado e proteção do interesse público. Portanto, nesse modelo, o go- verno deve exercer suas funções sob os fundamentos da impessoalida- de, da prudência e da publicidade de seus atos, fazendo prevalecer o bem público. Veja que, com base nessas premissas, podemos pensar que o me- lhor sistema é o republicano. No entanto, quando observamos a monar- quia parlamentar, há pressupostos que vêm ao encontro da república, como a representatividade da comunidade, a escolha do governo por meio do voto direto na república presidencialista, e por meio do voto indireto na monarquia parlamentar, e a coexistência dos poderes Exe- cutivo, Legislativo e Judiciário, que atuam de maneira interdependente. Por isso, é fato que nos dois sistemas há o bônus do bem público. Acredita-se, no meio acadêmico, que república e monarquia par- lamentar, bem como república parlamentar e monarquia parla- mentar, assemelham-se numa série de aspectos. Em quais aspectos ocorrem convergências entre esses sistemas e formas de governo? Atividade 3 1.3 Políticas públicas e educação Vídeo Sabemos que o Estado deve estar para a implementação, promo- ção, normatização e avaliação de projetos e ações, que levem à sua comunidade o bem público, sempre respeitando as diversidades de raça, cor, religião, gênero e cultura dos indivíduos que a compõem. No entanto, o Estado também está para a aplicação da ordem quando houver qualquer forma de degeneração no cumprimento das normas públicas pelos cidadãos, inclusive com o uso de forças policiais, caso necessário. Isso não poderia ser diferente, considerando que o ser hu- mano é um animal político. Segundo Aristóteles (1991, p. 3), viver em sociedade é condição essencial para a manutenção da vida de qualquer indivíduo. Dessa forma, estar fora de um cír- culo social significa estar fora da condição humana, isto é, ser algo diferente do homem, mais precisamente – uma besta ou um deus. Sendo o homem diferente de uma besta ou de um deus, necessita inequivocamente da política, exercer a cidadania, par- ticipar das decisões da comunidade, a fim de que possa atingir maior plenitude na sua vida. Nessa direção, para que a comunidade não esteja submetida apenas aos seus instintos de animais e tenha, também, um espírito baseado nos fundamentos da racionalidade, o Estado deve proporcionar uma educação que promova os elementos, procedimentos e processos que 20 Políticas Educacionais levem a pensamentos e ações coletivas, os quais tenham como objeti- vo o bem público, com a participação dos diversos atores sociais que, juntos, constroem as políticas públicas, em especial as educacionais. De modo geral, políticas públicas são um conjunto de ações, metas, planos e decisões, promovidas e aplicadas pelo Estado conforme as de- mandas e expectativas da sociedade civil organizada, visando alcançar o bem-estar e o interesse público em todos os setores que abarcam a vida dos indivíduos, tais como: a. educação, ciência e tecnologia; b. saúde e atendimento; c. segurança e liberdade; d. transporte e sistemas viários; e. habitação e recursos hídricos; f. lazer e esportes; g. meio ambiente e qualidade de vida; h. assistência social. Mas, atenção, segundo Limongi (apud DAHL, 1997), nas sociedades que se apresentam como plurais, nenhum grupo social deveria ter acesso exclusivo a qualquer recurso e nem poderia garantir sua pre- ponderância sobre os demais porque, se isso ocorresse, o resultado seria a neutralização recíproca dos grupos. O fato é que, mesmo tendo como objetivo o bem público, as diver- sas áreas sofrem oposição uma das outras – um processo que pode levar a resultados talvez não esperados e desejados pela comunidade. Entretanto, é preciso compreender que, em um sistema plural, se acei- tam, se toleram, se reconhecem e se promovem diversas formas de se lidar com as diferentes posições, ideias e projetos, por serem algo próprio da democracia. É importante destacar, ainda, que, como são diversas as demandas, cabe ao governo fazer as devidas seleções conforme a prioridade da comunidade, a urgência, as condições orçamentárias e a expectativa de resultados. Quando as coisas ocorrem dessa forma, consideramos que o governo é de interesse público; porém, quando o governo atende de- mandas desnecessárias para a maioria da comunidade, consideramos que é um governo de classe. O que seriam essas tais políticas públicas? Você já pensou nesse assunto? Já viveu as conse- quências das políticas públicas programadas pelo governo do seu estado ou da União? Para refletir Estado e políticas públicas 21 Nas dinâmicas das políticas públicas, fazem-se presentes variados atores que, se ausentes em determinados processos, são capazes de prejudicar o planejamento e os resultados, os quais podem, ainda, não alcançar sua aplicabilidade, caso sua legalidade seja questionada nos específicos tribunais da justiça. Assim, nos processos de elaboração de política públicas, devem-se fazer presentes alguns atores que tenham relação direta com a localidade e a área. a. Atores privados, que não possuem vínculo direto com a estrutura administrativa do Estado, entre eles: • associações da sociedade civil organizada; • associação de moradores; • sindicatos dos trabalhadores e patronais; • entidades de representação empresarial; • centros de pesquisas e universidades; • imprensa; • organizações não governamentais. b. Atores estatais, oriundos dos governos municipais, estaduais e o federal, entre eles: • servidores públicos; • empregados públicos que, nos termos da Lei n. 9.962/2000, são os ocupantes de emprego público na administração direta, autarquias e fundações e os na administração pública indireta, nas empresas públicas, nas sociedades de economia mistae nas fundações públicas de direito privado – ambos contratados sob o regime da CLT; • comissionados. c. Atores políticos, que estão presentes no Estado e divididos pelos poderes Executivo e Legislativo: • prefeito, secretários e vereadores; • governador, secretários e deputados estaduais; • presidente, ministros, deputados federais e senadores. Para uma melhor compreensão sobre o tema, é importante que sai- bamos que agente público é “todo aquele que exerce, ainda que transi- toriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, man- 22 Políticas Educacionais dato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior” (BRASIL, 1992). Outra questão que exige compreensão, quando estudamos políti- cas públicas, é a das possíveis fases e/ou ciclos no processo de formu- lação dos planos e ações de governo, tais como: a. a formação da agenda em que ocorre a seleção das prioridades, momento no qual, além dos atores específicos, também devem fazer parte o corpo técnico da Administração Pública, porque são eles que têm o conhecimento das ferramentas, das finanças, dos recursos humanos etc.; b. a formulação de políticas para encaminhamentos e as devidas soluções dos projetos e planos escolhidos, conforme a agenda, por meio de decretos, resoluções e leis; c. a padronização de operações, visando à acomodação dos pontos de conflitos, que abranjam as diferentes formas de atuação dos atores envolvidos; d. a execução dos planos, com controle e monitoramento das medidas definidas – a racionalidade, o carisma, a capacidade de mobilização e o espírito de unidade dos atores envolvidos – que, nesse momento, são ainda mais relevantes; e. a avaliação nas diversas fases, visando permitir que o gestor busque ações para produzir melhores resultados; f. a prestação de contas, da justificativa das ações, de responder se o processo e os procedimentos adotados foram eficientes e efetivos e de anotar se existe alguma possibilidade de que sejam reutilizadas tais informações e processos em futuras políticas públicas. É importante destacar que, no sentido político, política pública é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impactos de suas ações e omissões no processo de decisão; enquanto no sentido administrativo, trata-se de um conjunto de projetos, programas e ativi- dades realizadas pelo governo (AZEVEDO, 2003). A política pública pode ser uma política de Estado, sendo indepen- dente da vontade do governo e devendo ser implementada porque é amparada na Constituição – ou em uma política de governo. Daí a ne- cessidade de a comunidade conhecer a Constituição, pois é nela que constam quais são as políticas de Estado. O filme A árvore dos tamancos desenvolve uma importante reflexão sobre a situação de vida simples e humilde de um grupo com quatro famílias camponesas, que são remuneradas por produtividade. Uma das famílias, ao perceber que o filho tem potencial, o envia para uma escola, apesar de todas as dificuldades existentes. O longa é ganhador de muitos prêmios – dentre eles, o Palma de Ouro de Cannes – e traz uma rele- vante visão sobre a vida em comunidade, na qual a ausência de políticas públicas deixa todos em uma situação de extrema vulnerabilidade. Direção: Ermmano Olmi. Itália; França: Gaumont, 1978. Filme Estado e políticas públicas 23 1.3.1 Políticas educacionais: primeiras reflexões Política pública educacional é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer na área da educação. A avaliação de políticas, programas e projetos sociais e educacio- nais foi incorporada, de fato, à agenda governamental brasileira no início dos anos de 1990. Dentre os fatores que contribuíram para isso destacam-se: a consolidação democrática, o ajuste econômico e consequente redução dos recursos para a área social, as maio- res exigências impostas pelos órgãos financiadores, especialmente internacionais, em relação ao controle de gastos e resultados etc. Uma dinâmica de racionalização, que incluiu a observância dos cri- térios de eficácia, efetividade e eficiência na utilização dos recursos financeiros, e uma preocupação crescente com passaram a envol- ver a gestão pública brasileira. (RUS PEREZ, 2010, p. 2) Naturalmente, as pessoas são instruídas na família, na vizinhança, na igreja, no ambiente de trabalho, no clube, pela mídia, redes sociais etc. Mas há ambientes específicos em que ocorre a educação para as ciências, cultura e trabalho, com natureza formal, como a escola, a universidade e os centros de pesquisas, articulados por estudantes, professores e pes- quisadores, sob ações de governos municipais, estaduais ou o federal. As políticas públicas educacionais, portanto, abarcam diversos momentos dos cidadãos em seus processos e ambientes de ensino e aprendizagem, com ações governamentais que programem políticas de projetos pedagógicos, planos de ensino, estrutura física escolar, contratação de docentes e valorização profissional, bem como uma gestão escolar comprometida com os interesses da educação. Por isso, faz-se necessário destacar que as políticas públicas para a educação devem ser políticas de Estado, porque se encontram na Constituição Federal de 1988; portanto, não dependem do querer ou não fazer deste ou daquele governo. Ao estudarmos os artigos 208 e 214 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), podemos concluir que a educação é política pública por excelên- cia, pois faz prevalecer pressupostos que navegam por outras políticas, uma vez que: a. é obrigatória e universal; b. deve ter qualidade, ser efetiva e preparar para a cidadania, para a cultura e para o mundo do trabalho; 24 Políticas Educacionais c. precisa ser especializada às pessoas com deficiência (PcD); d. deve tramitar por meio de ações integradas dos poderes; e. deve disponibilizar programas de material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde. Art. 8º, §2º: Os processos de elaboração e adequação dos planos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de que trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil. (BRASIL, 2014) Nessa direção, visando tornar os pressupostos da Constituição apli- cáveis, já se encontra definido na Lei n. 13.005/2014 que os atores edu- cacionais precisam construir o plano com fundamentos sociológicos, antropológicos, filosóficos, epistemológicos e jurídicos; caso contrário, o plano educacional estaria incompleto e teria sua eficácia prejudicada. Assim, na direção do que prescr3eve a lei, precisamos compreender que a escola é para todos, que os processos educacionais precisam ser de qualidade, que é necessário eliminar o deficit de aprendizagem, que é preciso combater a evasão escolar, que a escola precisa ser um ambien- te acolhedor e de excelência e que, por fim, a escola deve estar intima- mente ligada às questões da sociedade. CONSIDERAÇÕES FINAIS As comunidades vivem sob normas e regras, inscritas em costumes e/ou em leis, não tornando possível, em nenhuma delas, que seus indi- víduos façam somente o que querem ou deixem de fazer o que devem. Mesmo sendo o indivíduo completamente livre, ele ainda é ordenado em uma vida social e comunitária. A implantação de planos, projetos e ações para o bem da comunidade vai sempre depender de discussões e estudos com a participação de todos ou, no mínimo, das lideranças e atores das áreas que permeiam a vida das pessoas – como a da saúde, da segurança, do meio ambiente e, principal- mente, da educação, porque é nessa área que se concentram as ideias e políticas que podem contribuir para os melhores caminhos do desenvolvi- mento da consciência coletiva, da ciência, do conhecimento e da cultura da comunidade. Portanto, estudar esse processo é e sempre será necessário, uma vez que a reflexão favorece a produção de novas ideias e projetos,podendo garantir a evolução dos interesses individuais, bem como a dos coletivos, em uma dinâmica de respeito às diferenças e às adversidades. Estado e políticas públicas 25 REFERÊNCIAS ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ARISTÓTELES. Política. 3 ed. Brasília: UNB, 1997. AZEVEDO, S. Políticas públicas: discutindo modelos e alguns problemas de implementação. In: SANTOS JÚNIOR, O. A. et al. Políticas públicas e gestão local: programa interdisciplinar de capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003. BRASIL. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 3 jun. 1992. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8429. htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Lei n. 13.005, de 25 de junho de 2014. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm. Acesso em: 31 mar. 2020. BOBBIO, N. Estado, governo e sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. DAHL, R. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: Edusp, 1997. MILL, J. S. Sobre a liberdade. Lisboa: Edições 70 LDA, 2006. PLATÃO. A república. 2. ed. São Paulo: Escala, 2007. RUS PEREZ, J. R. Por que pesquisar Políticas Públicas Educacionais atualmente? Educação e sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, out./dez. 2010. Disponível em: www.scielo.br/pdf/es/ v31n113/07.pdf. Acesso: 12 mar 2020. SKINNER, Q. The Republican Ideal of Liberty. In: BOCK, G.; SKINNER, Q.; VIROLI, M. Machiavelli and Republicanism: Ideas in Context. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. TAYLOR, C. Philosophical Arguments. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da Sociologia compreensiva. São Paulo: UNB, 2004. GABARITO 1. Com exceção dos projetos pedagógicos – que são construídos pelos diversos atores envolvidos diretamente com a educação –, a educação se encontra comprometida com projetos, dos quais toda a comunidade é convidada a participar, voltados para os estudantes, abordando a segurança destes enquanto se encontram nas instala- ções da escola, a sua alimentação/merenda, bem como com o transporte escolar para aqueles que vivem em ambiente rural. Para responder o enunciado dessa primeira atividade, você deve analisar se isso de fato ocorre em planos e projetos do seu muni- cípio, nessas três áreas que abarcam a educação. Os dados podem ser solicitados na Secretaria Municipal de Educação, pois é de obrigação do município a disponibilização de todas essas informações a todos os munícipes. 2. Primeiramente, é importante que você faça uma pesquisa sobre a formação escolar e experiência que o prefeito e os secretários de seu município têm. Depois, pesquise para saber quantos existem e como se encontram os postos de saúde e hospitais que atendem a sua comunidade, bem como se a comunidade está contente com a pre- sença das polícias municipal e militar pelos bairros. Com esses dados, você consegue responder a essa questão. O município é obrigado a disponibilizar essas informações a todos os munícipes. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm 26 Políticas Educacionais 3. Com base nos estudos desenvolvidos neste capítulo, em relação às características do sistema republicano e da monarquia parlamentar, há uma série de convergências, dentre elas, o fato de a comunidade escolher os membros do parlamento, a participa- ção do povo nas discussões sobre políticas públicas e a existência de uma interdepen- dência entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 27 2 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional Compreender a educação enquanto um direito fundamental é dar a ela todo significado para a construção da cidadania e a promoção e garantia da dignidade do ser humano. No intuito de atingir esses objetivos, a educação deve ser gratuita, laica, uni- versal e defensora de valores cívicos e econômicos, de modo que todos possam dela usufruir sem qualquer discriminação, e os go- vernantes tenham as condições necessárias para proporcioná-la por meio de projetos e ações construídos por toda a comuni- dade, na forma representativa, sob as melhores estruturas e de maneira continuada. Por isso, este capítulo identificará os pressupostos inscritos nas Constituições do Brasil em relação a esses elementos, para que, assim, possamos conhecer como os processos ocorreram e relacionaram-se na trajetória histórica da nossa educação. E, nessa dinâmica, serão analisados dispositivos de emendas cons- titucionais e partes de planos de ensino que têm relação com os elementos indicados, uma vez que não seria possível analisar to- dos os pressupostos e princípios constitucionais, neste momento. Também, observaremos os avanços que ocorreram, bem como os recuos que podem ser explicados pelas dinâmicas e conjunturas políticas e sociais, em seus devidos tempos. 28 Políticas Educacionais 2.1 A gratuidade da educação e o ensino leigo Vídeo Para iniciar esta seção, é importante compreender como fazer a lei- tura e a interpretação de dispositivos legais. É possível ler e interpretar uma lei da mesma maneira que uma matéria jornalística? Você sabe como ocorre a elaboração das leis? Segundo a literatura jurídica, esses processos devem levar em con- ta o texto da norma (interpretação gramatical), a conexão da lei com outras normas, princípios e costumes (interpretação sistemática), a fi- nalidade da lei (interpretação teleológica) e os aspectos históricos aos quais a lei se vincula (interpretação histórica). Agora, como o nosso foco é a interpretação de dispositivos constitucionais e planos cujo teor é a educação, além desses elementos, também será necessária a aplicação de uma metodologia própria que, segundo Maliska (2001), considera a educação como direito de todos, dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, e que deve buscar o pleno desenvolvimento da pessoa, bem como o preparo desta para o exer- cício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Portanto, é importante sempre observarmos todos esses elemen- tos que são intrínsecos aos dispositivos legais sobre a educação, de modo que as análises sejam amplas, complexas e atinjam a totalida- de da norma. Em um segundo momento, outro ponto que também precisamos compreender é a formação das declarações de direitos, especificamente do direito à educação, sempre como resultado de um processo histórico, de uma sucessão de fatos e acontecimentos envolvendo a natureza humana, os costumes dos povos, a evolução do pensamento e das necessidades da comunidade e as relações com outras sociedades. Portanto, é preciso aceitar que processos históricos ocorrem na coletividade, independentemente dos dese- jos das individualidades. De acordo com Bobbio (2004), o processo histórico para a constru- ção dos direitos teria passado por três fases: a. A primeira, compreendendo o momento do respeito aos direitos naturais que, por natureza, são inalienáveis. b. A segunda, marcada pela legitimação e pelo reconhecimento dos direitos naturais, expressando-se em direitos de liberdade e de participação da população no poder, evidentes nas primeiras declarações 1 . Para compreender melhor questões referentes a direitos humanos e processos históricos, há vários escritores que você pode estudar, mas, um deles é fundamental. Norberto Bobbio (1909-2004) é um filósofo e historiador do pensamento político que ficou conhecido pela sua ampla capacidade de escrever sob os ângulos da razão e da liberdade. Dentre tantas obrasescritas por ele sobre esse tema, Teoria da Norma Jurídica, A era dos direitos e Igualdade e liberdade são leituras que podem contribuir, e muito, com a qualidade de seus estudos. Saiba mais Segundo Norberto Bobbio (2004), a construção histórica dos direitos humanos se encontra dividida em quatro etapas ou declarações: na primeira, firmaram-se os direitos individuais, de liberdade, ou um não agir do Estado; na segunda, os direitos sociais, de convivência entre os indivíduos, ou uma ação positiva do Estado; na terceira, os direitos coletivos dos povos de viverem em solidariedade; e, na quarta, os direitos à biotecnologia e à bioengenharia, sob a manta de uma ética universal. 1 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 29 c. A terceira, correspondendo à proclamação dos direitos sociais, como o bem-estar e a igualdade dirigidos a todas as pessoas – o momento em que a sociedade passou a usufruir de políticas públicas, e, no caso, de políticas educacionais de maneira gratuita, leiga e universal. Bobbio (2004) chama a atenção, ainda, quanto a uma série de elementos que precisam ser observa- dos em relação aos direitos sociais, como a diversi- dade de gênero e de raças, as fases da vida (infância, adolescência, juventude, velhice), dentre outros. Dando continuidade a essa reflexão, Boto (2005, p. 791) afirma que as conquistas pelo direito à educação iniciam-se com a universalização dos direitos fundamentais, a saber: 1. Direitos civis do indivíduo na sua condição de agente políti- co [...]; 2. A necessidade de ancorar os direitos dessa liberdade primeira em condições de políticas públicas adequadas para o bem-estar da maioria [...]; 3. A percepção de que ser livre e ser igual, não elimina o desejo de marcar identidades variadas e dis- tintas especificidades humanas [...]. O fato é que, com a consolidação dos direitos civis, bem como com a necessidade de promoção e desenvolvimento de novos direitos, a es- cola deveria se tornar o lugar de excelência para novos conhecimentos e aprimoramento dos já adquiridos. Por isso o direito de todos a um en- sino público ou particular de boa qualidade ter sido, nas Constituições do Brasil, uma preocupação. Entretanto, devemos pensar que não seria suficiente apenas a existência de escolas; é preciso que estas se tornassem um lugar em que se escutam os movimentos das ideias e dos comportamentos que ocorrem em seus espaços, conforme Bourdieu (1982 apud BOTO, 2005, p. 788) afirmou: a educação escolar exerce sobre as camadas populares níveis so- brepostos de violência simbólica, dado que, além de referendar o capital cultural dos alunos pertencentes às camadas privilegia- das da população, convence aqueles que não são herdeiros da mesma cultura erudita de que são eles os responsáveis por seu próprio malogro na escola. Para entendermos um pouco mais dos padrões ideológicos, da legitimação e do reconhecimento dos direitos expressos na primei- ra fase (BOBBIO, 2004), é preciso voltarmos ao que Boto (2005) afirma. SSSSS SSSSSSSSSSSSSSSSSS Considerando que a educação tem como pilares ser gratuita, leiga e universal, e observando a realidade de seu município, é possível afirmar que as escolas próximas a você atendem a todos esses pilares com a competência esperada pela comunidade? Para responder à questão, você precisará fazer uma pesquisa no site da Secretaria de Educação ou conversar com profissionais envolvidos na vida da escola, e/ou envolvidos nas políticas públicas do seu município. Atividade 1 30 Políticas Educacionais Segundo a autora, no momento da legitimação e do reconhecimento, para que o resultado seja o mais eficiente à formação dos docentes, a definição de diretrizes para a educação, a seleção de conteúdos a serem ensinados, os métodos que estejam em consonância com as realidades de cada localidade e as identidades que constituem a comunidade preci- sam se fazer presentes. Veja que o processo não é tão simples. Indo na direção da terceira fase, Boto (2005) defende que de- vem existir políticas educacionais que se pautem pela tolerância no processo de encontro de culturas e convivências, de modo que haja harmonia em todos os aspectos e sejam realmente proclamados os direitos sociais. Assim, fechamos a interpretação sobre os processos dos direitos que estão constituídos por três momentos: o respeito aos direitos naturais, a legitimação desses direitos (via dispositivos legais) e a proclamação deles na realidade das comunidades. A educação é um dos direitos naturais e inalienáveis. Ofertá-la de maneira leiga, gratuita, universal e com excelência são alguns dos ca- minhos para construir a cidadania, bem como para superar as possibili- dades de discriminações existentes, especialmente em sociedades com ampla diversidade, como é o caso da brasileira. Tendo a educação essa excelência, já estaremos nas esferas dos direitos sociais. Deste ponto em diante, o foco do capítulo será nos pressupostos da educação gratuita e leiga, uma vez que são esses elementos que podem sustentar uma política educacional promotora da universalida- de de acesso nas escolas. Por isso, passaremos por uma análise da trajetória histórica das Constituições brasileiras – promulgadas e ou- torgadas –, especificamente em dispositivos que expressaram direitos à educação. Sendo a educação gratuita, todos têm as mesmas oportunidades de acesso, e sendo leiga, uma ordem pluralista de pensamentos, cren- ças e ideologias é possibilitada no ambiente escolar. Por isso, há a im- portância desses dois pressupostos. Observe que Carneiro (1988, p. 35) traz uma sustentação para essa ideia quando afirma que “a gratuida- de do ensino público em estabelecimentos oficiais é uma questão de grandíssimo alcance social. O contribuinte paga a escola, quando paga seus impostos. O princípio da gratuidade do ensino decorre, assim, das responsabilidades públicas”. Inalienável: aquilo que não pode ser vendido ou cedido. Glossário Constituição promulgada é a Constituição construída por um Parlamento representativo da sociedade via Assembleia Constituinte – no Brasil, foram as dos anos de 1891, 1934, 1946 e 1988. Já Constituição outor- gada é a Constituição imposta ao povo pelo governante, sem a participação do Parlamento – no Brasil, foram as dos anos de 1824, 1937 e 1967. Saiba mais Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 31 No Brasil, o direito a uma educação gratuita está garantido em dis- positivos constitucionais em quase todas as Constituições que o país teve (1824, 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967) e tem (1988). Na Constituição de 1824 (BRASIL, 1824), observamos que os direi- tos civis e políticos e a gratuidade da instrução primária para todos aqueles considerados cidadãos (artigo 179 caput e inciso XXXII) estão expressos; mas, em relação à educação ser leiga ou eclesiástica, não há referências. Entretanto, nem todas as crianças teriam tido acesso à escola em face do número de professores atraídos pelo projeto e pela baixa remuneração, devido à precariedade das instalações escolares e à deficiência dos métodos aplicados ao ensino, além do fato de que negros e escravizados alforriados não podiam estudar na escola. Já na Constituição de 1891 (BRASIL, 1891), percebemos que houve uma preocupação em discriminar a competência legislativa da União e dos estados em matéria educacional, cabendo a estes legislar sobre o ensino secundário e primário. É aqui, definitivamente, que se deter- mina a laicização (artigo 72, § 6º) – rompendo com a adoção de uma religião oficial do ensino nos estabelecimentos públicos –, mas não há referência a um ensino gratuito. Por isso, podemos afirmar que houve certo retrocesso em relação ao acesso à educação, que antes era gratuito. Essa realidade levou a consequências muito importantes. No artigo 70, § 1º, inciso II, ficou determinado que analfabetos – a maio- ria constituída de filhos de escravos e de agricultores– não tivessem direito ao voto. Além disso, as estatísticas para o ensino primário nos primeiros 40 anos da República não foram nada promissoras. Para Werebe (1997), durante esse período, o desenvolvimento do ensino primário se exprime pelos seguintes números de alunos a cada mil ha- bitantes: 18 em 1889; 41 em 1920; e 54 em 1932. Em 1890, 85% da po- pulação brasileira era de analfabetos; 75% em 1900 e em 1920. É nesse momento que se deflagra a Revolução de 1932 que, com o seu desenrolar, exigiu uma rápida industrialização no país para atender às necessidades do próprio movimento. No entanto, surgiu o seguinte problema: onde buscar mão de obra para essa nova econo- mia, uma vez que a urbanização ainda era incipiente e o analfabetis- mo muito expressivo? 32 Políticas Educacionais Se antes, na estrutura oligárquica, as necessidades de instru- ção não eram sentidas, nem pela população nem pelos pode- res constituídos (pelo menos em termos de propósitos reais), a nova situação implantada na década de 30 veio modificar profundamente o quadro das aspirações sociais, em matéria de educação, e, em função disso, a ação do próprio Estado. (ROMANELLI, 1999, p. 59) Nessa circunstância, repercutiram novas propostas de políticas pú- blicas para a educação: de um lado, discutidas por intelectuais liberais, socialistas, comunistas (agrupados em torno do movimento conhecido como Escola Nova); e do outro, católicos e conservadores de variadas correntes ideológicas, dando luz à ideia da obrigatoriedade e gratui- dade do ensino elementar para todos e de um currículo escolar laico. Nessa direção, a Constituição de 1934 contemplou, em seus disposi- tivos, a educação e o ensino sob um plano nacional (artigo 150), com uma educação primária integral, gratuita e obrigatória, e a implantação de um sistema de ensino nos Estados com previsão de recursos, de imunidade de impostos para os estabelecimentos particulares, de auxí- lio para alunos carentes e de obrigatoriedade de concurso para cargos do magistério oficial (BRASIL, 1934). Apesar de todos os esforços da Escola Nova, vem o Estado Novo (1937-1946) com a Constituição de 1937. Nesta, dentre outros dispositivos, não se vislumbrava mais a exigência de um plano nacional de educação e não se exigia mais uma educação como direito de todos, apesar de instruir que o ensino primário fosse obrigatório e gratuito (BRASIL, 1937). Em uma interpretação normativa de outros dispositivos dessa Cons- tituição, podemos concluir que, ao deixar a educação sem a mediação do Estado quanto aos recursos – isso porque a vinculação obrigatória destes para a pasta foi extinta –, o Brasil não defendeu um ensino para todos, concentrando seus esforços na educação profissionalizante das classes menos favorecidas apenas pela necessidade de mão de obra. Por isso, e por outros motivos que não pretendemos discutir neste momento, essa Constituição representou um grande retrocesso para a educação, o que não significa que, por meio de outros documentos, decretos etc., não tenham ocorrido mudanças importantes na área. Todavia, nosso objetivo é uma apreciação das questões da educação apenas sob os dispositivos constitucionais. Você observou que nas Constituições anteriores a educação rural foi contemplada, como fora na Constituição de 1934? O fato é que o Brasil era um país eminentemente agrário, até então, mas a economia in- dustrial passou a evidenciar uma preocupação do parlamento e do governo com a formação de mão de obra que viria a movimentar a nova economia. Curiosidade Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 33 Em seguida, o país estabeleceu a Constituição de 1946, na qual a educação voltou a ser definida como direito de todos, com ensino primário obrigatório e gratuito (BRASIL, 1946), e a restabelecer a vincu- lação de recursos para a pasta, visando à manutenção e ao desenvolvi- mento do ensino. Também, estados e Distrito Federal voltaram a ter a atribuição de organizar os seus sistemas de ensino. Por isso, segundo Saviani (2002), essa foi uma Constituição como instrumento de demo- cratização da educação pela via da universalização da escola. Com novas correntes ideológicas sendo implantadas pelo mundo, para não ficar alheio a essas mudanças, o Estado brasileiro, sob o governo de militares, impôs uma nova Constituição – a Constituição de 1967 –, con- templando as ideologias relativas ao seu sistema educacional, que passou a fortalecer o ensino particular em detrimento do ensino público oficial. O livro Política e educação no Brasil – o papel do Congresso Nacional na legislação do ensino propõe uma reflexão crítica sobre a política que tem desempenhado o Congresso Nacional nos processos legislativos que buscam estruturar os princípios e as normas que definem a organi- zação do ensino, indo além de uma análise me- ramente administrativa, pedagógica e sociopolítica, que tem prevalecido. É uma obra indicada para todos os estudantes que buscam um entendimen- to mais profundo das dinâmicas políticas do Parlamento na construção de legislações sobre a educação. SAVIANI, D. 7. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2015. Livro Desde 1964, o país vivia sob governos militares e, dentre a fi- losofia implantada por esses governos, buscava consolidar uma identidade nacional e a sua plena soberania. Por isso, foi retirado do título da Constituição de 1964 o termo Estados Unidos, o qual aparecia anteriormente nos títulos das Constituições, para que o nome oficial do Brasil não fosse confundido com o dos EUA. Vale destacar que, nesse período em que os militares governaram o país, foram realizados vários acordos entre o Ministério da Educação e Cultura do Brasil (MEC) e Agência norte-americana de financiamento do desenvolvimento no exterior, com o intuito de receber investimentos no campo educativo, o que, para Leite (2002), teriam sido positivas. No entanto, teriam estrangulado a escola pública e permitido a expansão de um ensino comercializado. Mas algo parecia fortalecer o pensamento de que ainda era possível melhorar. A partir de 1969, duas importantes alterações na Constitui- ção ocorreram por meio de emendas constitucionais e refletiram nos processos educacionais. São elas: a. Emenda Constitucional n. 1 (1969), que traz a possibilidade de intervenção, pelo Estado, no Município, quando esse ente federativo não tiver aplicado, em cada ano, no ensino primário, 20% da sua receita tributária, pelo menos. 34 Políticas Educacionais b. Emenda Constitucional n. 12 (1978), que alterou a Constituição vigente, visando à garantia da educação especial e gratuita aos deficientes. Com a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), passou a ser garantida a participação da comunidade na implementação de políticas públicas tendo em vista o pleno exercício dos direitos sociais, individuais, da liber- dade, da segurança, do bem-estar, do desenvolvimento e da igualdade. Em relação a essas proposituras democráticas, a educação passa a ser ofertada gratuitamente e de maneira laica, abrangendo: a. igualdade de condições para acesso e permanência na escola; b. pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; c. coexistência de instituições públicas e privadas; d. gratuidade do ensino público e obrigatório em estabelecimentos oficiais. Assim, a tramitação pelas Constituições do país, iniciando em 1824 até a que se encontra em vigor, atendeu ao objetivo de buscar como cada uma delas promoveu a gratuidade e a laicização do ensino. 2.2 A educação sob um plano nacional Vídeo Você sabe o que é um Plano Nacional de Educação? A resposta é sim- ples: trata-se de um plano pensado e organizado por representantes dos docentes, das secretarias de educação, dos sindicatos e da Associação de Pais e Professores, objetivando um projeto para a educação que aten- da local, regional e nacionalmente em um período decenal. Complemen- tando esse conceito, o Conselho Nacional de Educação diz tratar-se de “umdocumento-referência que contempla dimensões e problemas so- ciais, culturais, políticos e educacionais brasileiros, embasado nas lutas e proposições daqueles que defendem uma sociedade mais justa e igualitária e, por decor- rência, uma educação pública, gratuita, democrática, laica e de qualidade, para todos, em todos os ní- veis (CNE, 1997, p. 2)”. A discussão sobre um Plano Nacio- nal de Educação iniciou no governo Para estudiosos da educação, a Constituição de 1967 foi um re- trocesso porque teria fortalecido o ensino particular mediante previsão de substituição do ensino oficial gratuito por bolsas de estudo. Na sua visão, tem sentido essa crítica? Por quê? Atividade 2 PS SS SS PS SPS PS SS SS SS SS SS SS Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 35 Vargas (1930–1946), um período em que se desejava construir uma forte identidade nacional. Para isso, em 1930, criou-se o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública e, em 1931, houve a Reforma Francisco Campos, resultando no Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão promotor da formatação do Plano Nacional, contemplando um conjunto de metas para todo o território nacional – no início, sob duas abordagens: a. Formação de cidadãos por meio de escolas democráticas e que incentivassem a formação humana e crítica dos estudantes. Participaram, dentre outros, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles – os Pioneiros da Educação. b. Ensino tradicional em que o professor era o detentor do conhecimento. Mobilizado por D. Sebastião Leme, o grupo foi formado por intelectuais, políticos e diplomatas ligados à Igreja Católica. Fruto desses embates, em 1932, foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, visando ao Plano Nacional de Educação, de modo que abrangesse os seguintes princípios: a. Ser a educação pública, obrigatória, gratuita e leiga. b. Ser a educação única para toda a sociedade. c. Ser a educação um elemento articulado com todas as fases do desenvolvimento da pessoa. d. Estar a educação em consonância com as regionalidades. e. Ser a educação funcional e de acordo com os interesses naturais dos estudantes. Como não poderia ser diferente, nesse contexto, foi elaborada a Constituição do Brasil de 1934, que, em seus artigos 150 e 152, faz, pela primeira vez, referência direta a um Plano Nacional de Educação para o país. Art. 150 – Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coorde- nar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País; [...]. Art. 152 – Compete precipuamente ao Conselho Nacional de O Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED) é uma associação de direito privado, sem fins lucrati- vos, criada em 1986, para fins de reunir as Secretarias de Educação dos estados e do Distrito Federal, com a finalidade de promover a integração das redes estaduais de educação, intensificar a participação dos estados nos processos das políticas nacionais de educação e motivar a força colaborativa entre as unidades federativas para o desenvolvi- mento da escola pública. Saiba mais No documentário Era Vargas, você poderá compreender como o poder se movimentou naquele momento, como Getúlio se consolidou e que legado ele deixou. Direção: Eduardo Escorel. Brasil: Brasil 1500, 2011. Filme 36 Políticas Educacionais Educação, organizado na forma da lei, elaborar o plano nacional de educação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar necessárias para a melhor so- lução dos problemas educativos bem como a distribuição ade- quada dos fundos especiais. (BRASIL, 1934, grifos nossos) O fato é que, ao final do ano de 1934, ocorreu um importante gol- pe político no país, implantando o Estado Novo (1937-1946), cujos poderes representativos (incluindo a Câmara Federal, na qual o PNE se encontrava) foram fechados, engavetando os direcionamentos do Plano Nacional de Educação que se encontrava em construção. Infelizmente, a próxima Constituição – a de 1946 – também não fez referência a um PNE, mas mencionou algo que conhecemos, hoje, como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB): “compete à União: [...]; XV - legislar sobre: [...] d) diretrizes e bases da educação nacional” (BRASIL, 1946). O Plano Nacional de Educação voltou a ser discutido apenas nos governo Goulart (1961-1964) com a Lei n. 4.024, que foi a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Art. 7º – O Conselho Nacional de Educação, composto pelas Câmaras de Educação Básica e de Educação Superior, terá atribui- ções normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro de Estado da Educação e do Desporto, de forma a assegurar a par- ticipação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional. § 1º – Ao Conselho Nacional de Educação, além de outras atribui- ções que lhe forem conferidas por lei, compete: a) subsidiar a elaboração e acompanhar a execução do Plano Nacional de Educação. (BRASIL, 1961, grifos nossos) No entanto, todo esse progresso pretendido com um PNE, que deveria buscar uma educação crítica e democrática, não deu certo. Nos anos seguintes, houve um aumento da educação particular por meio de incentivos do governo para facilitar a abertura de escolas privadas, e a educação pública foi cada vez menos valorizada. Além disso, eliminou-se a vinculação orçamentária que obrigava a União, os estados e os municípios a destinarem um percentual mínimo de recursos para a educação. No entanto, esse contexto foi favorável para os debates sobre a unificação de metas e objetivos para a edu- cação nacional, dando origem à LDB n. 9.394, e as questões relativas a um PNE voltaram a ser contempladas: Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 37 Art. 9º – A União incumbir-se-á de: I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios [...]. Art. 10 – Os Estados incumbir-se-ão de: [...]. III - elaborar e exe- cutar políticas e planos educacionais, em consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coorde- nando as suas ações e as dos seus Municípios; Art. 11 – Os Municípios incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados. (BRASIL, 1996) Desde já, é importante darmos o devido destaque para o artigo 79, § 2º, da atual LDB (BRASIL, 1996), uma vez que nele constam os motivos pelos quais um Plano Nacional de Educação deve existir: a. Fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade indígena. b. Manutenção de programas para a formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas. c. Desenvolvimento de currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades. d. Elaboração e publicação, de maneira sistemática, de material didático específico e diferenciado. Com os atores da educação envolvidos democraticamente nos interesses da comunidade e ansiosos por políticas educacionais que fizessem os direitos constitucionais acontecerem de verdade, em 2001, foi aprovado e implantado o primeiro PNE por meio da Lei n. 10.172 (BRASIL, 2001), o qual trouxe, entre os seus objetivos, a necessidade de se implantar metodologias adequadas que levassem ao fim do analfabetismo, o atendimento escolar universal, a apli- cação de uma educação única e de qualidade, uma educação que não privilegiasse grupos ou classes sociais, o uso do meio ambiente de modo sustentável, uma educação humana e que estivesse em sintonia com a ciência e a tecnologia, a aplicação de recursos públi- cos para a educação, umamaior valorização dos professores, o res- peito à diversidade e uma gestão mais democrática nos processos educacionais. Uma série de políticas públicas, ainda vigente no Brasil, foi implantada durante o Plano Nacional de Educação que vigorou no período de 2001 a 2011. Você poderia relatar três delas e como aconteceram ou ainda acontecem? Caso precise pesquisar sobre o tema, navegue pelo documento que se encontra no Portal do Ministério da Educação, disponível em: http:// portal.mec.gov.br/arquivos/ pdf/L10172.pdf. Acesso em: 1 jun. 2020. Atividade 3 38 Políticas Educacionais Com essas reflexões, concluímos o quanto é importante um Plano Nacional de Educação, pois é ele que define as diretrizes, estrutura as ideias em projetos, identifica os meios e as formas mais adequados de implementação dos planos de ensino para todas as regiões do país, vi- sando à educação igualitária, universal, democrática, fraterna e voltada para as diversidades culturais e étnicas presentes no Brasil. 2.3 A educação vinculada a valores cívicos e econômicosVídeo Quando pensamos em educação pública, geralmente, concordamos que algumas de suas funções é a promoção do espírito patriótico, a for- mação de uma identidade nacional e o desenvolvimento de um espírito de cidadania em que todos agem em prol do bem comum, do bem públi- co. No entanto, nem sempre se pensou em dispositivos constitucionais para essas garantias. Entretanto, algumas Constituições têm dispositi- vos tratando do tema, enquanto outras se quer fazem referência a isso. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o Estado Democrático de Direito, e é chamada de Constituição Cidadã, por promover os direi- tos sociais como elementos estruturantes, o que, por si só, traduziu-se na Constituição mais importante para a sociedade que o país já teve, ainda que não revele os valores cívicos e econômicos, como afirmam Jaccoud e Cardoso Jr (2005, p. 182): de fato, a Constituição de 1988 lançou as bases para uma ex- pressiva alteração da intervenção social do Estado, alargando o arco dos direitos sociais e o campo da proteção social sob res- ponsabilidade estatal, com impactos relevantes no que diz res- peito ao desenho das políticas, à definição dos beneficiários e dos benefícios. Já em outros momentos, essa Constituição teve elementos estrutu- rantes distintos, como os cívicos e os econômicos. O curioso é pensar que, quando os valores cívicos e econômicos dão o tom, a liberda- de poderia não ser uma realidade e os interesses econômicos esta- rem sobrepostos aos demais interesses da pessoa. No entanto, isso não pode ser uma verdade absoluta, apesar de ter certo sentido. No caso do Brasil, nesse aspecto, é importante entender que a premissa relativa aos valores econômicos proporciona uma compreensão do mundo produtivo – agricultura, pecuária, comércio, indústria, serviços http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 39 etc. – enquanto garantidora e patrocinadora do desenvolvimento edu- cacional e social e de produção e fornecimento de alimentação, saúde, transporte, energia e habitação para toda a sociedade. Portanto, há uma relação especial entre a economia e a educação: enquanto a pri- meira é a base para a garantia de uma escola com toda a infraestrutura necessária – tanto física, quanto de profissionais –, a segunda está para o desenvolvimento das capacidades intelectuais para o trabalho, bem como da qualificação dos trabalhadores. Quanto à promoção dos valores cívicos nacionais por meio da edu- cação, segundo Maia (2005), não devemos atribuir qualquer tipo de tratamento diferenciado àqueles que não os praticam, uma vez que em uma sociedade, como a brasileira, na qual tanto a miscigenação ét- nica quanto a cultural são grandes, precisamos louvar o civismo como forma de agregar diferenças, e não de discriminá-las. Os valores cívi- cos devem levar ao patriotismo, mas a um patriotismo que construa um nacionalismo integrativo que colabora no fortalecimento de nossa identidade nacional, tornando o país uma autêntica nação. Ao analisar as Constituições brasileiras, percebemos uma vin- culação de valores cívicos e econômicos em seus dispositivos – ora expressos, ora subliminares –, não sendo equivocado afirmar que es- tão mais próximos das políticas públicas direcionadas à educação, do que a outras áreas. Nas duas primeiras Constituições – de 1824 e 1891 –, as questões referentes ao civismo e à economia não se encontram inscritas expressamente em seus dispositivos, apesar de seus sentidos se faze- rem sob alguns dispositivos, indiretamente. Já com a Constituição de 1934 – considerando o momento políti- co que o Brasil se encontrava –, essas questões aparecem no próprio preâmbulo, afirmando que “nós, os representantes do povo brasi- leiro, pondo a nossa confiança em Deus, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para organizar um regime democrático, que assegure à Nação a unidade, a liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico, decretamos e promulgamos a seguinte lei” (BRASIL, 1934). Esses valores, novamente, voltam ao texto da mesma Consti- tuição, especificamente no artigo 149: Ser cívico é ter compromisso moral e ético com a sua sociedade; ter conhecimento e saber respeitar os símbolos nacionais – bandeira, hino, armas e selo –, as datas e os fatos que marcaram a história do país; e saber deixar o sentimento de patriotismo – sentimento de pertencimento – aflorar, independentemente da classe social a que pertença. E, em relação ao pressuposto economia, estar na Constituição é dar a devida relevância que a produção e o trabalho têm no desenvolvimento e na harmonia social. Importante preâmbulo: texto preliminar de uma constituição, formulado pelo legislador, cuja finalidade e/ou intenção é declarar os obje- tivos e os princípios que constam no corpo dos dispositivos da lei. Glossário 40 Políticas Educacionais A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela famí- lia e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana. (BRASIL, 1934, grifos nossos) Na Constituição de 1937, esses pressupostos também podem ser observados no preâmbulo, que traz o seguinte texto: “o Presidente re- solve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade” (BRASIL, 1937). Isso ainda fica evidente nos dispositi- vos que expressam os valores cívicos e econômicos, como é o caso dos artigos 25 e 131, os quais trazem o seguinte texto: Art. 25 – O território nacional constituirá uma unidade do ponto de vista alfandegário, econômico e comercial, não podendo no seu interior estabelecer-se quaisquer barreiras alfandegárias ou outras limitações ao tráfego, vedado assim aos Estados como aos Municípios cobrar, sob qualquer denominação, impostos in- terestaduais, intermunicipais, de viação ou de transporte, que gravem ou perturbem a livre circulação de bens ou de pessoas e dos veículos que os transportarem. Art. 131 – A educação física, o ensino cívico e o de trabalhos manuais serão obrigatórios em todas as escolas primárias, nor- mais e secundárias, não podendo nenhuma escola de qualquer desses graus ser autorizada ou reconhecida sem que satisfaça aquela exigência. (BRASIL, 1937, grifos nossos) Quanto à Constituição de 1946, a educação era um direito de to- dos, com ênfase em uma educação pública,gratuita e livre. Portanto, dispositivos sobre valores cívicos, nessa lei, não se fizeram presentes. No entanto, a questão relativa a valores econômicos está expressa – o que pode ser justificado pelo momento de industrialização pelo qual passava o país. Art. 146 – A União poderá, mediante lei especial, intervir no domínio econômico e monopolizar determinada indústria ou atividade. A intervenção terá por base o interesse público e por limite os direitos fundamentais assegurados nesta Constituição. Art. 148 – A lei reprimirá toda e qualquer forma de abuso do poder econômico, inclusive as uniões ou agrupamentos de empresas Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 41 individuais ou sociais, seja qual for a sua natureza, que tenham por fim dominar os mercados nacionais, eliminar a concorrência e aumentar arbitrariamente os lucros. (BRASIL, 1946, grifos nossos) Em 1967, durante o regime militar, foi natural que esses dois pressupostos se encontrassem como dispositivos na Constituição: valores econômicos, no artigo 157, e valores cívicos inscritos como princípio da unidade nacional, no artigo 168. Art. 157 – A ordem econômica tem por fim realizar a justiça so- cial, com base nos seguintes princípios: [...] V - desenvolvimento econômico [...]. Art. 168 – A educação é direito de todos e será dada no lar e na es- cola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana. (BRASIL, 1967, grifos nossos) Pensar sob quais princípios um governo administra e desenvolve os seus projetos é muito importante para entendermos a sua gestão e os resultados alcançados. Nessa direção, saber quais valores econômi- cos e cívicos ou de unidade nacional constavam na Constituição e nas principais diretrizes dos governos militares no país pode nos ajudar a compreender por que o Brasil viveu um intenso processo de industria- lização e forte disciplina social. E a educação confirmava esse modelo. Naturalmente, você pode complementar essa reflexão estudando cada uma das Consti- tuições do país, procurando fazer paralelos entre elas, identifican- do os pontos que se interligam e como eles se interligam e respondendo o porquê de cada uma delas potencializar certos pressupostos e desprezar outros. Saiba mais 2.4 O direito fundamental e universal à educação Vídeo Quando fazemos uma análise minuciosa das Constituições brasilei- ras, é possível perceber que nem sempre a educação nelas inscritas foi concebida como um direito de todos, com acesso democrático e voltada para o desenvolvimento das potencialidades do estudante. O fato é que o Estado brasileiro, por várias vezes, privilegiou modelos de ensino impositivos, sob diretrizes autoritárias e com forte presença disciplina; modelos que se caracterizavam pela total ausência de liber- dade de pensamento e comportamento, além de um aprendizado sob forte condicionamento de conteúdos que pouco significavam ao estu- dante. Eram, afinal, projetos impostos sem a participação dos devidos atores públicos que, hoje, na educação, agregam interesses, processos e metodologias na definição das políticas públicas educacionais. Na atualidade, sob valores democráticos, há o entendimento de que a educação é essencial à vida das pessoas em sociedade, por isso o direito a uma educação de qualidade, gratuita, leiga e universal é um direito fundamental. Quando se pensa em dignidade da pessoa humana, é preciso com- preender o que ela significa, bem como ter a consciência de que só é possível se estiver contemplada nas legislações e garantida por meio de políticas públicas. Mais ainda, entender que atinge a todos, de manei- ra universal, sem qualquer discriminação, sem qualquer alienabilidade e jamais dispensável. Nessa direção, é preciso, também, saber que é a es- cola o ente que pode e deve favorecer o conhecimento dos direitos rela- tivos à dignidade da pessoa humana, patrociná-lo e promovê-lo para toda a comunidade na qual está inserida, uma vez que, além de ser um direito social, a educação é também uma condição para usufruto de to- dos os demais direitos que toda pessoa tem enquanto cidadão. Para José Afonso da Silva – jurista brasileiro e especialista em Direito Constitucional –, direitos fundamentais são situações jurídi- cas, prerrogativas e instituições que fundamentam uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. Além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garan- tias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. [...] se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive. (SILVA, 2007, p. 178) É fato, também, que a educação amplia a qualidade de vida da pessoa, dá a ela condições técnicas e intelectuais para o acesso ao mundo do trabalho e fornece as chances e as oportunidades para que a pessoa não sofra processos de desigualdade e exclusão. Mais ain- da, com mais educação, as pessoas também se tornam mais críticas para reconhecer e exi- gir ações do Estado na proteção e garantia de todos os seus direitos fundamentais. Por isso, é certo pensar que a Constituição deve inscrever os princípios, indicar as diretrizes e coordenar as estruturas em que a sociedade LPL SS SL SPP LS SS SS SS SS SS SS 42 Políticas Educacionais Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 43 e todas as suas instituições devem caminhar, de modo que os direitos fundamentais estejam expressos e constem todos os mecanismos para as devidas promoções, ampliações e garantias. Precisamos compreender, nessa direção, que, quando a Constituição expressa o princípio do direito fundamental e universal à educação, ela está se propondo a garantir uma educação de quali- dade, gratuita, democrática e solidária, promotora de cultura, diversi- dade, conhecimento, ciência e artes. E, assim acontecendo, o Estado, como o guardião da Constituição, estará cumprindo a sua responsabi- lidade de ser a instituição que coordena a construção de uma socie- dade igualitária, instruída na ciência, na cultura, e no bem público e comum; uma sociedade em que os direitos são realidade para todos, sem qualquer discriminação. Quanto ao direito universal à educação, primeiro se faz importante entender que a educação é a ferramenta da inclusão de todos no de- senvolvimento de uma nação; é a ferramenta que concretiza o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para a cidadania e a quali- ficação para o mundo do trabalho, e fortalece todos os demais direitos como fundamentais. Por isso, é importante que a edu- cação seja universal, isto é, um direito para todos, sem qual- quer discriminação. De acordo com Raposo (2005, p. 2), na verdade, é a própria Constituição Federal que a enun- cia como direito de todos, dever do Estado e da família, com a tríplice função de garantir a realização plena do ser humano, inseri-lo no contexto do Estado Democrá- tico e qualificá-lo para o mundo do trabalho. A um só tempo, a educação representa tanto mecanismo de desenvolvi- mento pessoal do indivíduo, como da própria sociedade em que ele se insere. Tramitando pelas Constituições, podemos observar que a de 1824 delimita poucos direitos fundamentais, no entanto, ainda assim, eles são expressivos para aquele momento, considerando que a sociedade era, basicamente, agrária e escravocrata. Por outro lado, é importante entendermos que direitos inscritos nessa Constituição foram semen- tes para o desenvolvimento da sociedade nas décadas seguintes e, em específico, para a libertação dos escravos e a proclamação da repú- blica, a saber: igualdade e liberdade de ação, liberdade de expressão, Considerando a realidade de nossas escolas públicas, você conheceuma ideia ou um proje- to que tenha surgido dos meios acadêmicos, das faculdades ou das próprias escolas para resolver demandas relativas à infraestru- tura, às vagas, à aprendizagem, à remuneração dos profissionais? Se sim, tal ideia e/ou projeto resultou em algo prático para a sua comunidade ou se encontra em trâmite? Para responder à questão, acesse os sites da Sociedade Civil Organizada, ou entre em contato com a coorde- nação dessas instituições para se inteirar sobre tais demandas. Atividade 4 SSwSSPSSSSSSSSSSSSSSSS 44 Políticas Educacionais liberdade religiosa e de profissão, inviolabilidade do lar, presunção de inocência, dentre outros previstos no artigo 179 (BRASIL, 1824). O direito universal à educação, como um direito fundamental, não se encontra expresso nessa Constituição. No entanto, quando ela menciona a possibilidade de o Estado garantir a instrução primária, de maneira gratuita, há um indicativo de que já se pensava no assunto. De qualquer forma, não podemos dizer que a educação tenha sido um dos direitos fundamentais dos cidadãos durante o Império brasileiro, mesmo porque os escravos não tinham acesso, pois não eram conside- rados cidadãos. Entretanto, não podemos desprezar que importantes mudanças ocorreram a partir de então, como foi o caso da Proclama- ção da República, seis décadas depois. Quando analisamos a Constituição de 1891, com relação aos direitos fundamentais, percebemos, rapidamente, que ela é uma garantia das liberdades individuais, como as inscritas no artigo 72 (BRASIL, 1891): a. Liberdade de ação e de todos perante a lei. b. Liberdade religiosa e liberdade de associação. c. Inviolabilidade do lar e da correspondência. d. Liberdade de expressão e de profissão. e. Direito de propriedade. f. Presunção de inocência. Entretanto, como podemos perceber, o direito fundamental e uni- versal à educação não se encontra expresso nos dispositivos, apesar de ter sido essa Constituição construída com base em intensos debates sobre civilização, moralidade, modernidade e educação, porque seria uma instituição fundamental para moralizar e civilizar a população do país e estabelecer uma ordem social necessária ao progresso. Apesar de tanto empenho, infelizmente, tal Constituição ainda não vislumbra- va a gratuidade e a universalidade, ficando determinado apenas que a oferta de educação seja descentralizada entre a União (ensino superior e secundário) e os estados (ensino primário e profissionalizante), e que o ensino seja leigo, quando ministrado em estabelecimentos públicos (§ 6º do artigo 72). Perceba que se trata de uma contradição ter tantos direitos fun- damentais, mas não constar o direito à educação. Entretanto, mesmo Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 45 não presente nos dispositivos legais, a sociedade evolui sob a pressão das novas circunstâncias que vive, como a chegada dos imigrantes europeus e a Primeira Guerra Mundial. E, dentre as novas exigências circunstanciais, a escola iniciou um processo de abertura ao acesso educacional de todas as crianças em idade escolar. Na Constituição de 1934, já era possível observar a organização da educação sob um plano nacional, a criação de sistemas educativos nos estados e a destinação de recursos para a sua manutenção e o seu de- senvolvimento. De modo geral, essa Constituição introduziu os direitos sociais, econômicos e culturais, com destaque para o direito universal à educação que se expressou no artigo 149 com a confirmação de que a educação era um direito de todos; no artigo 150 quando o documento afirma que ela é obrigatória, integral e gratuita no ensino primário; e no 153 ao garantir que deveria ser leiga (BRASIL, 1934). Devemos destacar, ainda, que os direitos fundamentais foram mui- to bem expressos nessa Constituição (BRASIL, 1934), sendo, por isso, possível concluir que havia uma preocupação, como um todo, com: a. Igualdade perante a lei. b. Liberdade de ação e de todos perante a lei. c. Liberdade de expressão, de profissão, de associação. d. Inviolabilidade da correspondência e do lar. e. Direito de propriedade. f. Liberdade religiosa. g. Presunção de inocência. Conforme o Brasil ia ampliando o seu relacionamento político com outros Estados – que foi o que começou a ocorrer a partir do início da década de 1930 –, ele foi modernizando a cultura de suas leis, o proces- so do seu ensino e o desenvolvimento da sua produção e das ciências, em geral, o que, naturalmente, foi muito positivo e será percebido na trajetória de sua história. Na Constituição de 1937 (BRASIL, 1937), ainda que o direito funda- mental e universal à educação tenha sido garantido pelo dispositivo de n. 130, podemos concluir que houve uma grande irresponsabilidade da sociedade em permitir a preservação apenas da obrigatoriedade e da gratuidade do ensino primário, considerando o momento histórico pelo qual o Brasil e o mundo passavam. 46 Políticas Educacionais Já na Constituição de 1946 (BRASIL, 1946), a educação pública ficou garantida como direito de todos, a ser dada no lar e na escola, ins- pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade hu- mana (artigo 166) e definida com princípios de obrigatoriedade e gratuidade (artigo 168). Esses são os reflexos dos direitos e das ga- rantias fundamentais, conforme artigo 141, exatamente como na Constituição democrática de 1934 (BRASIL, 1934): a. Igualdade perante a lei. b. Liberdade de ação e de todos perante a lei. c. Liberdade de expressão, de profissão, de associação. d. Inviolabilidade da correspondência e do lar. e. Direito de propriedade. f. Liberdade religiosa. g. Presunção de inocência. Por isso, segundo Raposo (2005, p. 2), a Constituição de 1946 é mar- cada pelo resgate de princípios das Constituições de 1891 e 1934. Para o autor, “a educação volta a ser definida como direito de todos, pre- valece a ideia de educação pública, a despeito de franqueada à livre iniciativa. São definidos princípios norteadores do ensino, entre eles ensino primário obrigatório e gratuito, liberdade de cátedra”. Portanto, se considerarmos essa reflexão de Raposo (2005) e o dispositivo n. 116, o qual afirma ser a educação um direito de todos, podemos concluir que o direito fundamental e universal à educação, nessa Constituição, se fez garantido. Em 1967, teremos uma Constituição (BRASIL, 1967) que, basicamen- te, não introduziu modificações substanciais ao direito à educação. No entanto, a Emenda Constitucional n. 1/1969 trouxe a possibilidade da intervenção do Estado no município que não atendesse ou não cum- prisse a aplicação anual de 20% da receita tributária no ensino funda- mental. No entanto, fortaleceu o ensino privado, mediante previsão de meios de substituição do ensino oficial gratuito por bolsas de estudo, bem como limitou a liberdade acadêmica e reduziu o percentual de re- cursos vinculados para a manutenção e o desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1969). O grande diferencial nessa Constituição, quando comparada com as demais no relativo ao direito fundamental e universal à educação, Políticas educacionais numa perspectiva histórico-constitucional 47 é que a de 1988 passou a garantir, também, o acesso ao ensino fun- damental àqueles que passaram da idade própria de cursá-lo, além da universalização do ensino médio, do direito de jovens e adultos a serem alfabetizados, do direito da educação infantil e do aces- so a creches e pré-escolas (conforme Emendas Constitu- cionais n. 14/1996 e n. 53/2006). Ainda, persistiram, nos mandamentos educacionais, a gratuidade universal da educação superior pública. Portanto, o direito fundamental e universal à educação ficou as- segurado, de maneira indiscriminada, como pressuposto para a efetivação do Estado Democrático de Direito. CONSIDERAÇÕES FINAIS A reflexão desenvolvida neste capítulo nos leva a concluir que as leis são elaboradas de acordo com o contexto no qual a sociedade se en- contra, e nãopoderia ser de outra forma. No entanto, percebemos que há momentos na história nos quais não ocorre essa completa interação, principalmente durante governos não representativos, ou mesmo duran- te governos cujos interesses de certos grupos ou de determinadas classes sociais são privilegiados. Nesse sentido, a educação deve ser um direito fundamental para todas as pessoas, proporcionada de maneira gratui- ta, universal, leiga e sem qualquer discriminação, pois é ela que tem os pressupostos e as diretrizes necessários para levar o povo ao pleno de- senvolvimento em todos os seus aspectos culturais, econômicos, sociais e políticos, objetivando a igualdade e a construção da cidadania. REFERÊNCIAS BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2004. BOTO, C. 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É possível responder a essa questão realizando uma entrevista com um profissional da educação de seu município ou fazendo uma consulta/busca nas redes sociais. No entanto, é público e notório o conhecimento e a informação de que não há escolas gratuitas suficientes para todos os alunos que precisam, bem como para todas as fases escolares, além de que há escolas nas quais prevalecem certas ideologias reli- giosas, quando a educação deveria ser leiga. 2. Uma Constituição que tem para a educação pressupostos e diretrizes de fortalecimen- to do ensino particular,em detrimento do ensino público, gratuito e universal, está re- trocedendo, tendo em vista que tais direitos já eram garantidos anterior. Percebemos que a educação é um direito fundamental e, como tal, não poderia estar à mercê do mercado particular de ensino, mas, sim, garantido na Magna Carta. 3. Ao fazer a busca sobre diretrizes que foram e/ou estão sendo contempladas na co- munidade, é interessante observarmos o que previu o PNE entre os anos 2001-2011 e compará-los. Para isso, é importante destacar que o Plano Nacional buscou privile- giar o fim do analfabetismo, a oferta de educação escolar para todos, uma educação ofertada em escola única, uma escola que também preparasse para o mercado de trabalho, um ensino humano, mas que, também, considerasse a ciência e a tecnologia como essenciais para o desenvolvimento da comunidade, a aplicação de recursos fi- nanceiros suficientes para manter a estrutura física, bem como de recursos humanos para uma escola de qualidade, uma escola que promovesse o respeito à diversidade e uma escola com gestão democrática da educação. Assim, cite apenas três dessas diretrizes que você sabe que foram contempladas em seu município, indicando de que forma você teria sido beneficiado por elas. 4. Para responder essa questão, é necessário pesquisar em sites da Sociedade Civil Organizada, especificamente de sindicatos dos professores e patronais, de universidades e redes de ensino, ou, ainda, realizar uma entrevista com gestores e/ou coordenadores de escolas para saber quais projetos têm surgido de meios acadêmi- cos, faculdades e escolas que colaboraram para resolver problemas relativos à in- fraestrutura, à falta de vagas, ao déficit de aprendizagem e à baixa remuneração dos docentes. Esperamos que você registre que: a) empresas têm disponibilizado o EJA para os seus funcionários em horários de trabalho; b) há escolas que, além do currículo escolar com as disciplinas obrigatórias e diversificadas, também oferecem aulas práticas pre- parativas, no contraturno, para o mercado de trabalho, especificamente para certas áreas da indústria automotiva; c) há escolas nas quais, mesmo sendo particulares, seus diretores e coordenadores são escolhidos por meio da Associação de Pais e Mes- tres, bem como pelos alunos, em eleição direta. 50 Políticas Educacionais 3 Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 A cultura vigente em uma sociedade democrática geralmente determina quais demandas e diretrizes o Estado, bem como o seu governante, deve eleger, na direção de seu desenvolvimento e sua cidadania, em uma perspectiva em que os anseios e as políticas públicas nascem da própria realidade. Entretanto, muitas vezes, é o governante quem determina quais demandas e diretrizes serão eleitas em um processo impositivo, sem a participação da socieda- de civil organizada, o que pode nos levar a concluir que políticas públicas – especificamente as educacionais – podem persistir e ter as devidas importâncias que merecem conforme os vieses ideo- lógicos vão se alternando no poder. Assim, são os objetivos deste capítulo identificar e analisar os fundamentos políticos, econômi- cos e culturais que constituíram as principais legislações sobre a educação – implantadas no Brasil até a década de 1990 –, a fim de compreender as suas estruturas conceituais, suas funcionalidades, seus impasses e os seus resultados no cotidiano da sociedade e, em específico, dos diversos atores da educação – alunos, famílias e professores. Nessa direção, serão apreciados alguns dos processos educa- cionais que ocorreram no Brasil durante o período colonial, em especial a reforma implantada pelo Primeiro Ministro de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Melo (1750-1777), a Reforma Pombalina; durante o período imperial brasileiro, com destaque à Lei n. 01/1837 e ao Decreto Educacional (BRASIL, 1890) (Reforma Benjamin Constant); e, durante o primeiro século da República bra- sileira (até a década de 1990), com destaque para o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, e para as Leis de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961 e 1971. Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 51 3.1 A educação na Colônia e a Reforma Pombalina Vídeo Para pensar o Brasil, inicialmente, é necessário compreendermos que o país foi uma colônia de Portugal, do século XV ao ano de 1822, quando se tornou independente do país europeu. No início desse pro- cesso, visando povoar e administrar o imenso território da colônia, o rei português D. João III (1502-1557) dividiu a terra em quinze capita- nias hereditárias, entregando-as para doze nobres portugueses de sua confiança, os chamados donatários. Nesse período, a economia era de exploração, a colônia servia a sua metrópole com as suas riquezas por meio do trabalho escravizado do indígena e, um pouco depois, do ne- gro traficado de algumas regiões da África. No início, tudo parecia ir muito bem, porque os donatários podiam praticar a escravização – inclusive, sem a oposição da Igreja Católica –, cobrar tributos e doar lotes de terras não cultivadas – as chamadas sesmarias. De toda a riqueza que se produzia, 10% era enviada para a metrópole em forma de dízimo. No entanto, esse sistema não se perpetuou, e em 1548 foi instituída a figura de um Governo Geral, a fim de centralizar, administrar, restabelecer o poder e reforçar a colonização. Foram governos com grande autoridade e que, para realizar seu trabalho, contavam com ouvidor-mor (para assuntos judiciais), provedor-mor (para questões financeiras), alcaide-mor (para funções de organização, administração e defesa militar) e capitão-mor (para questões jurídicas e de defesa) – um sistema de governo que só foi extinto em 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil. Dentre os governos-gerais, destacaram-se Thomé de Souza (1549-1553), Duarte da Costa (1553-1558) e Mem de Sá (1558-1572). Em parte do período colonial, a relação entre a Metrópole e a Igreja Católica foi bastante amistosa, o que contribuiu para a presença de ordens religiosas no Brasil, com destaque para a Companhia de Jesus, criada em 1534 pelo espanhol Inácio de Loyola, com o objetivo de com- bater o protestantismo que se difundia pela Europa, bem como con- verter os habitantes primitivos das colônias à fé católica, por meio da catequese nos aldeamentos. Apesar de combater a escravização de indígenas, a Companhia de Jesus apoiava a escravização do negro. Essa parece ter sido uma im- 52 Políticas Educacionais portante contradição da Igreja, não é? O fato é que, no processo de catequização, uma educação formal bastante discriminatória acabou ganhando espaço: aos índios, ensinavam rudimentos da língua e ofí- cios; aos brancos libertos, rudimentos da escrita, da leitura e ofícios; aos filhos da elite da época, ensinos superiores; já aos escravizados negros e alforriados, apenas os ofícios. Foi nessa direção que a Com- panhia de Jesus cumpriu o seu papel ao promover o ensino da tradi- ção, das normas e dos ofícios do europeu sobre os nativos e negros escravizados, e a instrução escolar para a elite. Uma escolarização para funções da estrutura do Estado, e da Igreja em si, ficou reservada ape- nas para a elite que complementava os seus estudos na Faculdade de Coimbra. Quanto à educação feminina, vale destacar que era eminen- temente formal/instrumental para as coisas da casa, da moral e das questões religiosas. Podemos, então, perceber que, na colônia, o ensino da época se voltou aos processos da catequização, dos ofícios, das primeiras letras e cálculo, da construção dos primeiros colégios, da instalação das missões e do apogeu da Companhia de Jesus. O processo de colonização abarca, de forma articulada mas não homogênea ou harmônica, antes dialeticamente, esses três movimentos representados pela colonização propriamente dita, ou seja, a posse e exploração da terra subjugando os seus habitantes; a educação enquanto aculturação, isto é, a inculcação nos colonizadoresdas práticas, técnicas, símbolos e valores próprios dos colonizadores; e a catequese entendida como a difusão e conversão dos colonizados à religião dos colonizadores. (SAVIANI, 2011, p. 29) É possível destacar, nesse processo educativo, a liderança dos jesuí- tas Padre Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, que instituíram, na colônia, uma metodologia que levava à prática de uma disciplina moral e intelectual e, depois, a uma conversão aos princípios do cristianismo. Com esse objetivo, utilizavam a reapresentação teatral para explorar e desenvolver temas da religião dando destaque à luta existente entre o bem e o mal. Foi nessa direção que a Companhia de Jesus, aproveitando-se das experiências que tinha com seus colégios em Roma, constituiu o Ratio Studiorum, um plano de estudos que consistia em preparar os jesuítas de todos os lugares, visando unificar seus desempenhos e Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 53 metodologias relativas a todos os campos das atividades pedagógicas que se estenderam de 1599 até o ano de 1759. No ano de 1759, a Companhia de Jesus perdeu o seu status quando Marquês de Pombal, o então Secretário de Estado dos Negócios Interio- res do Reino – durante o reinado de D. José I –, deu início a um processo de secularização do ensino que ficaria sob a responsabilidade direta da Coroa Portuguesa: foi reformulado o currículo das escolas e da facul- dade de Coimbra, alinhando-o às mudanças promovidas pelas luzes e pelo saber científico da filosofia iluminista – uma corrente filosófica do século XVII que negava a origem divina dos reis, ignorava qualquer crença que fosse contrária à evidência científica, pregava o liberalismo econômico e a liberdade de expressão. Teve entre os seus represen- tantes, René Descartes (1596-1650), Montesquieu (1689-1755), Jean-Ja- cques Rousseau (1712-1778) e Luís António Verney (1713-1792). A ideia, então, era a implantação de uma educação pública, de um ensino que deixasse de ser exclusivamente confessional e que tivesse seus fundamentos tanto nos princípios clássicos quanto nas ideias dos enciclopedistas franceses; que além do ensino do latim e do português, também outras línguas modernas fizessem parte do currículo escolar. Nessa direção, por meio do Alvará de 1759 (PORTUGAL, 2020), Pombal implanta as seguintes medidas: • Expulsão da Companhia de Jesus, do Brasil e de Portugal. • Inutilização de qualquer metodologia de ensino dos jesuítas, em escolas brasileiras e portuguesas. • Implantação de escolas primárias e secundárias sob a docência laica. • Implantação do latim, do grego e da retórica, nos currículos. • Fiscalização e orientação do ensino por meio da figura do diretor de estudos, o que antes era feito por membros eclesiásticos. Ainda, é importante destacar que, por meio de atos administrativos do governo português – em específico pelo Alvará de 1771 (PORTUGAL, 2020) –, houve a transferência de toda a estrutura do ensino para o Estado, que passa a administrá-lo, colocando fim ao controle absoluto que os jesuítas tinham sobre o processo educacional. O método de en- sino de Pombal consistia, basicamente, no ensino de língua portuguesa, latim, grego e hebraico, línguas modernas, retórica, poesia portuguesa, O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e Organização de Estudos da Companhia de Jesus) se constituiu de um código de leis que tinha por finalidade ordenar as atividades e os métodos de avaliação nas escolas jesuítas, preceituando uma educação para as virtudes evangélicas, para os bons costumes e hábitos saudáveis, detalhando as modalidades curriculares, o processo de admissão, o acompanhamento e promoção dos estudantes, os métodos de ensino e de aprendizagem, as condutas e posturas respeitosas dos professores e estudantes, os textos indicados para estudos como Aristóteles, Cícero, São Tomás de Aquino, e outros greco-romanos. Também indicava a variedade dos exercícios e atividades escolares, a frequência e seriedade dos exercícios, a hierarquia e as subordinações. Saiba mais 54 Políticas Educacionais filosofia, metafísica, lógica, física, ética, medicina, jurisprudência/moral, teologia, direito econômico, além da complementação dos estudos de gramática, latim, retórica, filosofia, medicina, direito, teologia e estudo das mulheres, que eram ministrados, considerando duas faixas etárias, distinguin- do o nível de maturidade das alunas: a primeira envolvia crianças de 06 a 12 anos de idade, sendo esse momento propício à for- mação da razão, do caráter, da consciência e dos bons hábitos das alunas; já a segunda envolvia crianças a partir dos 12 anos de idade. Esta era considerada uma fase de transição, posto que a menina precisasse ser cuidada com muita simpatia, pois era o momento em que se aprendia a ordenar os impulsos e as vonta- des. (SANTOS, 2011, p. 199) Além disso, precisamos observar que não é possível pensar o bri- lhantismo das ideias de Marquês de Pombal sem os fundamentos que ele buscou em Luís António Verney. O valor que cada um deles tem, na História, dependeu da relação que existiu entre os dois; caso não exis- tisse um dos dois, o outro talvez nada significasse. Luís António Verney é um pedagogo e, enquanto pedagogo, ‘um iluminista’ na medida em que o iluminismo é uma forma de pen- sar comum de homens que, em atitudes diversas de pensamen- to, procuram fazer da cultura um instrumento do progresso e da perfeição das sociedades e dos homens. Em Verney [...] há a consciência da necessidade do desdobramento de uma tare- fa pedagógica, realizando na ordem prática as diretrizes que o conhecimento das realidades portuguesas e das conquistas re- centes da cultura impunham como propósito preliminar de uma política destinada a ‘iluminar’ verdadeiramente a nação lusitana. (CARVALHO, 1978, p. 61-62) Apesar de o desejo de mudanças ser grande – como pretendia Pombal –, o ensino continuou com velhos vícios, como: • A formação para certos cargos governamentais, jurídicos ou le- gislativos, bem como negócios de família, precisava de uma esco- la nos velhos moldes, inclusive com continuidade de estudos em Coimbra – exclusivamente para os meninos. • As meninas continuaram a receber uma educação para o lar – aprender a cuidar dos filhos, do marido, dos espaços da casa, além de ter bons costumes, costurar e bordar. Em busca de uma educação ilibada, muitas jovens foram encaminhadas para con- ventos ou internatos, onde aprendiam a doutrina religiosa, os Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 55 afazeres domésticos, a educação do corpo e o controle dos dese- jos mundanos por meio da castidade, que precisava ser mantida até o casamento. Para alguns estudiosos, como Azevedo (1976), as reformas pomba- linas nunca conseguiram, como pretendido, ser implantadas de fato, porque entre o ano de 1759 e a transplantação da corte portuguesa para o Brasil em 1808, nenhuma organização institucional educacio- nal substituiu o sistema educacional da Companhia de Jesus, que havia sido expulsa. 3.2 Brasil Império e a Lei n. 01/1837 Vídeo Dando continuidade aos estudos sobre importantes legislações educacionais do país, nesta seção, adentramos no período histórico que se situa entre 7 de setembro de 1822 (Independência do Brasil) e 15 de novembro de 1889 (Proclamação da República). Entretanto, é importante destacarmos que o processo da independência foi iniciado antes, em 1808, na chegada da Família Real portuguesa que por aqui implantou muitas transformações que iriam contribuir essencialmente com todo o processo da independência, a saber: • No campo das artes, foram criados o Museu Nacional, o Teatro Real de São João, o Jardim Botânico, o Museu Real, a Real Aca- demia de Pintura e Escultura, além de ter promovido a vinda da Missão Artística Francesa. • No campo das relações políticas e econômicas, houve a aber- tura dos portos às nações amigas, a criação da imprensa régia, afundação do Banco do Brasil, a instalação da Real Fábrica de Pól- vora, pavimentação de ruas do Rio de Janeiro, além da elevação da colônia à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. • No campo da educação, foram criadas as escolas de cirurgia e anatomia em Salvador e no Rio de janeiro, a Academia da Guarda Marinha no Rio de Janeiro, a Academia Real Militar (Engenharia) no Rio de Janeiro, o Curso de Agricultura, o Observatório Astronô- mico, a Biblioteca Real e a Escola Real de Artes. Tudo parecia correr bem para Família Real portuguesa, que se en- contrava no Brasil, bem como para os habitantes, devido à nova per- cepção e visão do mundo e aos novos costumes e benfeitorias que 56 Políticas Educacionais usufruíam. Entretanto, no ano de 1820, deu-se início à Revolução Libe- ral do Porto e a burguesia portuguesa passou a exigir o urgente retorno da Família Real como forma de conter esse movimento, bem como a revogação de uma série de medidas de liberdade econômica na qual o Brasil vivia. Foi sob essa situação e essas expectativas que os brasilei- ros perceberam que havia grande possibilidade de o Brasil voltar a ser recolonizado, impedindo o desenvolvimento que estava em curso. E foi o que ocorreu, após um forte desgaste nas relações entre Brasil e Por- tugal, houve a independência do país sob a liderança de Dom Pedro. A partir de então, Dom Pedro foi coroado imperador do Brasil sob o título de Dom Pedro I. Nos primeiros dois anos pós-independência, contemplavam-se in- fluências liberais propagadas por ideias iluministas de então; mas, na elaboração da primeira Constituição em 1824, o que se observou foi a presença de dispositivos mais para civilizar e controlar – forte defesa do Estado e do rei –, do que para a cidadania. Especificamente no artigo n. 178 (BRASIL, 1824), é possível observar essa omissão para as questões da cidadania, pois no dispositivo consta que só seria constitucional o que dissesse respeito aos limites e às atri- buições dos poderes políticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos, e tudo o que não fosse constitucional poderia ser alterado sem as formalidades referidas pelas legislaturas ordinárias. Para Holanda (1995, p. 160), isso pode ser explicado da seguinte forma: Uma aristocracia rural e semifeudal importou-a e tratou de aco- modá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da burguesia contra os aristocratas. E assim puderam incor- porar à situação tradicional, ao menos como fachada ou decora- ção externa. Como se pode observar na Constituição de então, além dos pode- res Executivo, Legislativo e Judiciário – raízes do iluminismo –, o Estado se constituiu de um quarto poder, o Moderador. Este poder atribuía direitos absolutos, invioláveis e sagrados, de modo que o imperador pudesse interferir nos outros três poderes como se supremo fosse. E, quanto à elite, basta lembrarmos que essa primeira Constituição ficou apelidada de Constituição da Mandioca, devido a uma série de funda- Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 57 mentos nela presentes que mantinham relação direta com a realidade dos ricos produtores desse produto agrícola – o mais importante culti- vado em nossas terras. A participação no exercício do poder só era possível para aqueles bem próximos do rei, os cidadãos ativos, ou fazendeiros de plantações de mandiocas, excluindo os demais populares de qualquer interlocução com o Estado e com a busca do desenvolvimento da cidadania. Portanto, tal Constituição se valeu para criar uma sociedade com direitos apenas para aqueles que tinham renda, para uma elite agrário- -exportadora mantida por escravizados e pessoas sem renda. Uma sociedade constitucionalmente pensada para os de primeira classe, com liberdade, e os de segunda classe sem qualquer liberdade. Portanto, a sociedade brasileira, nos primeiros tempos do Império, caminhava sob costumes, políticas, culturas e, especificamente, sob uma educação que se revestiria de intensos processos de exclusão, conforme comenta Cury (2014, p. 25): À época da Independência, por exclusão socioétnica, 40% dos ha- bitantes não tinham acesso à educação como também não eram considerados cidadãos. Se a isso ajuntarmos as mulheres, que, pela concepção organicista da época, se limitavam a uma cida- dania passiva, então o universo dos não cidadãos ou cidadãos imperfeitos sobe consideravelmente. É importante destacar, também, que essa realidade impediu de todas as formas que leis necessárias para a promoção dos direitos fundamentais e da construção da nação e da cidadania fossem de- senvolvidas – e, isso, por quase todo o período imperial –, ou seja: por mais de 60 anos. O que pode levar à conclusão de que a sociedade viveu um grande atraso, se comparada com outras colônias que adqui- riram suas independências no mesmo período, com manutenção da pobreza, e a imobilidade social patrocinada pela elite e legalizada pela própria Constituição, Predominaram atividades econômicas primário-exportadoras, durante os primeiros quatro séculos de sua existência (XVI a XIX), o exercício do trabalho esteve submetido à intensa desvaloriza- ção, identificada pela imposição do trabalho forçoso e do geno- cídio indígena, pela escravidão e barbárie de negros e ainda pelo sistema de colonato depreciativo a europeus e asiáticos migran- tes. Nessa fase do país, a questão social não apareceu concreta- mente como um problema à nação [...]. (POCHMANN, 2004. p. 7) Privilégios de classes: para ser senador, requeria-se que tivesse de rendimento anual por bens, indústria, comércio, ou empregos, a soma de 800mil réis (art. 45), ficando excluídos de votar nas Assembleias Paroquiais os que não tivessem de renda líquida anual 100 mil réis por bens de raiz, indústria, comércio, ou empregos (art. 92). Quanto a serem eleitores, poderiam ser e votar na eleição dos deputados, senadores, e membros dos conselhos de província todos os que podem votar na Assembleia Paroquial (art. 94), com exceção dos que não tiverem de renda líquida anual de 200 mil réis (art. 94) (BRASIL, 1824). Saiba mais 58 Políticas Educacionais É fato que a legislatura de 1826, entendendo ser importante pensar uma educação para o país, promoveu uma série de debates sobre a educação popular. E, em 15 de outubro de 1827, a Assembleia Legisla- tiva instituiu uma lei sobre a instrução pública nacional, estabelecendo escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares popu- losos. No entanto, havia a instrução primária gratuita somente para os cidadãos – aqueles com rendas – levando ou mantendo uma reali- dade nada promissora na visão iluminista: relatórios para o período de 1827 a 1836 mostravam percentual baixíssimo de alunos matriculados. E logo surgiram argumentos que explicavam esses números: professo- res desleixados, alunos vadios, administração e fiscalização municipais ineficientes, ausência de recursos materiais, falta de cuidados e ma- nutenção de edifícios públicos, falta de livros didáticos, baixo salário dos professores, conteúdos dissociados da realidade dos estudantes, métodos de ensino inadequados, dentre outros. Nessa dinâmica, para reverter esses dados, políticas educacionais foram implantadas em várias províncias do Brasil: criação de escolas normais em Minas Gerais (1835), Rio de Janeiro (1835), Bahia (1836), São Paulo (1846); criação do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, a ca- pital, em 1837, para atender a aristocracia; criação de alguns colégios religiosos; criação de cursos de magistério em nível secundário, exclu- sivamente para meninos. Mas somente em 1837 houve a reforma da instrução primária na província do Rio de Janeiro, que ainda manteve absurdos, como proibir a frequência à escola daqueles que sofressem de moléstias contagiosas, dos escravizados e dos africanos, ainda que livres e libertos. Vale destacar que, apesar de a instruçãoprimária ser negada aos es- cravizados sem instituições públicas, há relatos de que não havia impe- dimento para que estudassem em estabelecimentos particulares – o que teria sido proporcionado em muitas fazendas que precisavam de mão de obra especializada. Também se sabe que padres ensinavam a religião e, para isso, proporcionavam a instrução, bem como teriam ocorrido ins- truções de maneira informal por meio de observação durante as aulas em que as sinhás-moças recebiam de seus professores particulares. Voltando um pouco na história, em 11 de agosto de 1827 foram cria- dos os cursos de ciências jurídicas e sociais em São Paulo e Olinda. O Colégio Pedro II do Rio de Janeiro adotava o modelo dos Liceus da França, com um currículo que possuía forte ênfase humanista: grego, retórica e poética, desenho, música, latim, filosofia, inglês, francês, matemática, geografia, história, zoologia, mineralogia, geometria, astronomia, com um plano de estudos conforme o modelo da Europa e dos Estados Unidos. O curso compunha-se de sete anos de duração (os demais colégios eram de 4 anos) e quando o estudante concluía, recebia o título de Bacharel em Letras e, com esse título, era dispensado dos exames para o ingresso no ensino superior em qualquer faculdade do Império. Curiosidade Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 59 E no dia 15 de outubro do mesmo ano foi criada a primeira lei de ensi- no público que determinou, além de diretrizes para a educação mascu- lina, a criação de escolas de primeiras letras e o ensino primário para as meninas – mas somente em cidades, vilas ou povoados populosos, com o intuito de criar uma rede escolar no Brasil, além de constituir as diretrizes sobre a formação e contratação de professores. Ocorre que, no dia 7 de abril de 1831, Dom Pedro I abdicou de seu trono e o país passou a ser governado por regentes, mudando, em parte, os cursos que o país começava a trilhar, especificamente na área da educação. A partir de então, uma Regência Trina Provisória assumiu o governo. No entanto, por meio de Ato da Assembleia, pouco tempo depois, no dia 17 de junho de 1831, a Regência Trina Provisória foi substituída por uma Regência Trina Permanente, que governou o país até o ano de 1835, tendo como ministro da Justiça o Padre Diogo Antônio Feijó – um ferrenho perseguidor dos representantes de quaisquer ameaças à ordem nacional. Para proteger a ordem, Feijó instituiu a Guarda Nacional, controlada pelas elites locais, levando à ascensão de políticos latifundiários que asseguraram seus interesses particulares. Assim, Feijó e o governo trino foram obrigados a conceder algumas exigências liberais e, em 1834, via Ato Adicional, foram promovidas importantes reformas que visaram atender exigências liberais, entre elas, a de que a próxima regência deveria ser comandada por um único regente. Nessa direção, Diogo Feijó foi o primeiro regente uno. A partir de então, as Assembleias Provinciais passaram a ter outras e novas competências, que, até então, eram somente da Assembleia Geral e do Governo Geral (BRASIL, 1834). Assim, é fato que o Ato Adicional de 1834 descentralizou a administração, com bastante liberdade para as províncias. Entretanto, esse ato não se aplicou à sede do governo geral, que se encontrava instalada na província do Rio de Janeiro, cujos processos políticos e administrativos continuaram sob a exclusiva atuação de sua Assembleia Provincial. E, como a sede do Brasil se encontrava nessa província, naturalmente, as demais províncias buscavam copiar seus bons exemplos e resultados, algumas diretrizes centrais, além de que as Assembleias Provinciais não podiam legislar sobre certos 60 Políticas Educacionais objetos que não estivessem compreendidos no ato, como era o caso da educação (BRASIL, 1824). Por isso, como foi na província do Rio de Janeiro a elaboração e aprovação da Lei n. 1, de 1837 que, por ser uma lei que tratava da instrução primária e as demais províncias deveriam segui-la, optamos pela sua apreciação nesta seção. Analisando tal lei (BRASIL, 1837), ela não nos parece ter trazido grandes novidades, se comparada com a Constituição do Brasil de então. No entanto, sendo uma lei considerada relevante para aquele momento, é importante nos voltarmos para algumas de suas diretrizes: • Para as escolas públicas de instrução primária, seriam três classes de ensino na seguinte sequência: 1ª – Leitura, escrita, gramática, aritmética, moral, religião do Estado; 2ª – Geometria teórica e prática; e 3ª – Geografia. • Para as meninas, eram ensinadas as casses 1 e 3, além de costu- ra, bordado e outros assuntos para o lar. A elas não era ofertada a 2ª classe, em que se ensinava Geometria teórica e prática. • As pessoas que padecessem de doenças contagiosas, os escravi- zados e os africanos, mesmo que fossem livres ou tivessem sido libertos, estavam proibidos de frequentar tais escolas. • Quanto à direção escolar, havia, na capital da província, um en- carregado de todas as escolas de instrução primária; para ajudá- -lo, havia um inspetor escolar em cada município. • A docência só poderia ser exercida por pessoas habilitadas, e quando isso não se fazia possível, poderia ser exercida tempora- riamente por pessoas idôneas. • Para lecionar em escolas particulares, os professores eram obrigados a solicitar autorização do presidente da província por meio de requerimentos com atestados de boa moral, analisados pelo pároco do seu domicílio e pelo inspetor do seu respectivo município. • A aposentadoria docente se adquiria com vinte anos de traba- lho, cujo valor seria igual ao do último salário. Entretanto, se o presidente da província julgasse necessário, o docente poderia continuar lecionando, recebendo gratificações. • Todas as escolas públicas e particulares estavam obrigadas a for- necer aos inspetores as informações e os mapas dos aprendiza- dos de cada aluno. Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 61 Como podemos observar na estrutura da Lei n. 1, de 1837, a preo- cupação era com a não dissolução do ordenamento político do Estado e da situação que era interessante para a aristocracia. Os liberais pro- duziram uma legislação educacional que não moveu as discriminações e não resolveu a falta de estrutura e financiamento público de então. Portanto, uma educação imperial sem qualquer importância, e que iria perdurar até o ano de 1890. 3.3 O Decreto Educacional n. 981/1890 Vídeo Sabemos que políticas públicas sempre foram agendas de candida- tos a governos, e questões relativas à educação sempre fizeram parte dessas políticas. O tema sempre se fez presente durante o Primeiro Im- pério, as Regências e o Segundo Império, bem como na República. Espe- cialmente na República, por ser um sistema político em que os princípios da igualdade, da fraternidade e da solidariedade, bem como a ideia de que o bem público deve dirigir as ações do Estado, de seus governos e da comunidade, a busca e promoção de uma educação universal, gratuita e leiga se fizeram mais fortes e atuantes. Por isso, já em 1890, um ano após a Proclamação da República, com o Decreto Educacional n. 981 no- vas diretrizes foram dadas para o ensino no país. • Tudo começou com o Decreto n. 346 de 1890, logo após a Proclamação da República. Por meio desse decreto foi criada a Secretaria de Estado dos Negócios da Instrução Pública, Cor- reios e Telégrafos, e Benjamin Constant foi no- meado titular. Assim que assumiu, pretendeu reformar toda a instrução pública, a começar com a Instrução Pública Primária e Secundária do Distrito Federal. E em 8 de novembro de 1890, publicou o Decreto n. 981, que adotava os princípios e as diretrizes para a educação (BRASIL, 1890), fazendo prevalecer um ensino gratuito, livre e leigo em todos os graus. s. Mais ainda: um ensino primário que fosse tam- bém uma ponte para o ensino superior, além da ideia de que se deveria dar maior atenção ao ensi- no científicoem contraponto à orientação literária, Disciplinas para a escola primá- ria, de acordo com os graus: Leitura e escrita (1º), Caligrafia (2º), Língua Portuguesa (1º/2º), Língua Francesa (2º), Contar e calcular (1º), Aritmética (1º/2º), Sistema métrico/Geometria (1º), Geografia e Trigonometria (2º), Elementos de Geografia e História – especialmente do Brasil – (1º/2º), Ciências Físicas e História Natural (1º/2º), Educação Moral e Cívica (1º), Direito e Economia Política (2º), Desenho (1º), Topografia (2º), Música (1º/2º), Ginástica (1º/2º), Agronomia (1º), Traba- lhos manuais para meninos e de agulha para meninas (1º/2º). Saiba mais 62 Políticas Educacionais que, em sua avaliação, impedia o avanço da educação no país. Há de se destacar que o fato que mais preocupava Constant era saber que as es- colas públicas, de então, eram frequentadas basicamente pelos filhos de famílias de classe média, e que filhos da aristocracia eram educados por preceptores, estrangeiros ou em escolas privadas. Dando início ao processo de transformação nos processos educacio- nais, o decreto – conhecido como Reforma Benjamin Constant –, dividiu a instrução primária escolar em duas categorias: escola primária de 1º grau, dos 7 aos 13 anos; e escola primária de 2º grau, dos 13 aos 15 anos – com uma aprendizagem intuitiva e uso de livro apenas como auxiliar. Nesse aspecto, as experiências dos estudantes eram muito valorizadas, o que deve ter se traduzido como algo muito positivo e que contribuiu para que os estudantes gostassem muito da escola. Na sequência, o ensino secundário integral, com duração de sete anos, de modo integral e com a obrigatoriedade de estudos das se- guintes disciplinas: Português, Latim, Grego, Francês, Inglês, Alemão, Matemática, Astronomia, Física, Química, História, Biologia, Sociologia e Moral, Geografia, Literatura, Desenho, Ginástica, e Música. Como se pode observar, o enciclopedismo se fazia presente no currículo, mas, como o Brasil tinha aderido às ideias defendidas pelo Positivismo de Auguste Comte – que se encontram no slogan Ordem e Progresso da bandeira do país –, as ciências ficaram muito bem constituídas na relação das disciplinas a serem ofertadas: Ma- temática/Aritmética/Álgebra, Geometria, Trigonometria/Geometria/ Cálculo, Mecânica, Astronomia, Física, Química, Biologia/Zoologia e Sociologia e moral. Quanto a Sociologia, é importante destacar que Comte a considerava uma ciência essencial na compreensão do mundo – por isso era considerado o pai dessa ciência – e, por isso, era uma disciplina ofertada no término do ensino secundário e nas escolas normais. Outras características muito importantes, e que vêm ao encontro das ideias positivistas, são as relativas aos tipos de avaliações às quais os estudantes estariam submetidos em suas fases escolares: • Exame de suficiência, que ocorria perante uma comissão, para as matérias que tinham continuidade no ano seguinte (prova oral). • Exames finais, que ocorriam perante uma comissão, para as ma- térias que não tinham continuidade (prova escrita e oral), e prova prática para algumas das disciplinas. Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 63 • Exame de madureza, também perante uma comissão, era prestado no fim do curso integral e destinado a verificar se o aluno tinha a cul- tura intelectual necessária. Isso acontecia porque o aluno aprovado nesse exame teria direito à matrícula em qualquer dos cursos supe- riores de caráter federal, e aquele que conseguisse dois terços da nota recebia prontamente o título de bacharel em Ciências e Letras. Outro elemento muito importante da Reforma de Benjamin Cons- tant – e que tinha fundamentos no Positivismo – era a questão do mé- rito moral e intelectual, bem como do curriculum vitae do estudante durante os processos de avaliação que davam muita importância para as características moralizadoras e meritocráticas da pessoa. E, nessa di- reção, como recompensa, além dos títulos recebidos, os três melhores estudantes recebiam prêmios em solenidade com a presença do minis- tro da Instrução Pública, do inspetor geral, do conselho de diretor, dos reitores, dos vice-reitores e dos professores, além de terem suas foto- grafias expostas em galerias, por terem demonstrado talento, amor ao trabalho, procedimentos exemplares e virtudes. É importante destacar que o país vivia sob as ideias positivistas e que, dentre outras diretrizes, entendia que o ensino deveria ser livre, sem obrigatoriedade, sem privilégio, deixando que a família escolhesse o melhor para os seus filhos. Portanto, permitia que: • instituições particulares ministrassem ensino primário e secun- dário, desde que sob condições de moralidade, higiene e estatís- tica, bem como sob inspeções de autoridades sobre os espaços, metodologias, programas de ensino, livros e professores; • os alunos tivessem sua educação ministrada em casa, sob a vigi- lância dos pais e sem a necessidade de inspeções. Há estudiosos que afirmam ter existido uma grande contradição na Reforma Benjamin Constant. Para uns, porque a educação proposta jamais poderia estar aliada ao Positivismo de Comte, simplesmente porque, para essa linha de pensamento, o Estado não deve se envolver na educação infanto-juvenil, uma vez que a educação deve ser de livre iniciativa da família, nunca obrigatória e sequer regulada por qualquer instituição; para outros, apesar de tanto discurso e letra de lei, faltaram professores preparados sob os fundamentos comteanos, e isso invia- bilizou a abordagem educacional. 64 Políticas Educacionais Em outra direção, a reforma já teria nascido fadada a um fracasso, quando se propôs a uma relação com as ideias positivistas: segundo Arantes (1988) e Alonso (1995), os positivistas no Brasil já tinham se dis- tanciado da raiz teórica dessa filosofia quando passaram a promover um discurso crítico aos cafeicultores, à camada média urbana letrada, aos militares que conviviam com o escravismo e ao latifúndio. Mas isso não poderia ter ocorrido, e eram essas classes que ganhavam lugar no cenário nacional e que passavam a ambicionar a criação de um regime que atendesse a seus interesses, visando um projeto civilizador moder- no, entendido como sendo a república, em desfavor da monarquia. Ao analisar as principais características da Reforma Educacional de Benjamin Constant, bem como alguns dos fundamentos do Positivis- mo, pudemos perceber a grande contradição, uma vez que pretendia- -se uma convivência do latifúndio escravagista das últimas décadas do século XIX com os ideais republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade, além de buscar construir uma sociedade moderna, com uma educação científica e a presença do enciclopedismo, sem alterar as estruturas sociais, as quais faziam parte de uma sociedade que vivia essa realidade: • Segundo um censo de 1920, 69,7% da população economicamen- te ativa vivia da agricultura, ou seja, a velha sociedade agrária continuou, com vínculos empregatícios contaminados por dívidas impossíveis de serem pagas, configurando situações que beira- vam novos modelos de escravidão, além de terem jornadas de trabalho de 17 horas ininterruptas. • Uma grande massa de trabalhadores passou a se acumular nas cidades, vendendo suas forças de trabalho a preços absoluta- mente indignos, uma vez que não tinham qualquer formação es- colar para ocuparem as vagas disponíveis. Segundo o censo, a população economicamente ativa era composta de apenas 16,5% para serviços e 13,8% para uma insipiente indústria de fiação e tecelagem, de bebidas, de roupas, de sapatos e de alimentos (ins- taladas apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo). • Ex-escravizados passaram a exercer extensas jornadas de trabalho doméstico não remunerado, em troca de um lugar para morar. • Migrantes europeus seduzidos por promessas, e sem qualquer lei que lhes garantisse algum direito por aqui, ou viviam em con- dições parecidas com as dos ex-escravizados – atendendoaos in- Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 65 teresses da burguesia cafeeira –, ou passavam a viver em lugares muito distantes dos centros das cidades, abandonados à própria sorte, vivendo apenas com o que conseguissem produzir. Portanto, mais uma vez, como nas demais legislações educacionais anteriores, podemos observar que na Reforma Benjamin Constant os fundamentos e as diretrizes educacionais se encontravam dissociadas das necessidades da realidade da sociedade: ao observarmos quais disciplinas eram estudadas, bem como as formas de exames e premia- ções, fica difícil entender tal situação. 3.4 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 Vídeo Você consegue acreditar que, depois de passadas quatro décadas da Reforma Benjamin Constant, os problemas nacionais continuavam graves, e a educação não achava o seu caminho? A economia também se encontrava fragmentada e desarticulada sem a solidez e a visão global necessárias. O fato é que se exigia, para o país, uma urgente e profunda reconstrução, considerando que os ares republicanos muda- vam o mundo na direção da liberdade, da democracia, da igualdade, da educação gratuita, leiga e universal, mas que por aqui não conseguiu fincar seus fundamentos. Apesar de boas intenções e uma legislação educacional ousada, o senso comum havia se instalado em todas as instâncias da vida pública e privada, é como se o empirismo estreito dirigisse as análises dos problemas pedagógicos, com ausência total de uma cultura universitária. Por isso, havia a urgência de romper com um modelo educacional que construía uma autonomia isolada, indivi- dualista e que premiava somente os melhores em um quadro rígido da vida social. Na realidade, havia poucas escolas para o país, bem como não ha- via tratamento científico dos problemas escolares no relativo a gestão, planos de ensino, formação docente, recursos etc. Mais ainda: sobre o que se tinha, não se vislumbrava um olhar com qualidade em relação aos aspectos filosóficos e sociais, ou em relação aos aspectos técnico- -científicos dos métodos utilizados. 66 Políticas Educacionais Foi nessa circunstância que, em 1932, construiu-se o documento conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova por um grupo de vinte e seis educadores e intelectuais, visando um quadro cognitivo-científico e social para o sistema educacional de toda a Fe- deração, projetando a responsabilidade do Estado para com a educa- ção pública. Veja que, primeiramente, o manifesto tratou de fazer um diagnósti- co do sistema nacional de educação, bem como legitimou um planeja- mento com organização sistêmica, normativa e centralizada, com base na ciência, e não no empirismo que vigorava; e, na sequência, propôs a defesa de princípios que levassem a sociedade brasileira a uma moder- nização por meio de um Plano Nacional de Educação que contemplasse a educação pública (que não se subordinasse a interesses transitórios de governos e partidos), a educação laica (com ambiente acima de cren- ças e alheio a todo o dogmatismo sectário), a educação gratuita (até os 18 anos de idade, a todos que tivessem vontade e estivessem em condições de recebê-la) e a educação obrigatória e universal (em todos os graus para todas as regiões geográficas), em um modelo de escola única, constituído sob a internalização de valores e práticas necessários para o desenvolvimento, a modernização e a industrialização da nação. O fato é que não havia qualquer motivo para, na década de 1930, o país ainda continuar sob um programa de educação fixado em diretri- zes que o isolavam de um ambiente que se industrializava em todo o mundo, e requeria novos valores e novas iniciativas que fizessem circular novas ideias e aspirações. Por isso a importância e necessidade de um documento público que indicasse os fundamentos e as diretrizes para uma renovação educacional, de modo que a pessoa e a sua relação com o meio social fossem promovidos, e a solidariedade, a cooperação, o res- peito, as práticas da justiça e a disciplina se fizessem presentes. Naturalmente, para essa educação almejada pelo Grupo dos Pio- neiros, a autonomia técnica, administrativa e econômica (com fundos escolares ou fundos especiais, constituídos de uma percentagem sobre as rendas arrecadadas pela União, pelos estados e pelos municípios) também se fazia nos debates, de modo que a educação não ficasse, mais uma vez, subordinada aos interesses de classes que assumem o governo, e nem aos interesses de quaisquer legislações que possam se colocar à frente dos princípios constitucionais – a Magna Carta. Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 67 Outro fator importante que esteve nos estudos do grupo foi a ques- tão da unidade federativa, mas descentralizada sob diretrizes de um plano comum, de modo que o Ministério da Educação pudesse execu- tar as orientações da função educacional, promovendo o intercâmbio pedagógico com os estados e municípios em um regime de intercâm- bio, solidariedade e cooperação. Ao apreciar o documento original do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (TEIXEIRA, 1984), dentre outras ideias e diretrizes ins- critas, destacamos algumas devido à relevância que tiveram e à atuali- dade que têm. • Nenhum dos problemas nacionais sobreleva ao da educação, e o Estado é que deve reconhecer e proclamar a educação como uma função social pública e realizá-la com autonomia técni- ca, administrativa e econômica, com a cooperação das demais instituições. • A solução dos problemas escolares, econômicos e produtivos está nos planos político-sociais – por isso, da importância de um sistema educacional que ocorra pela ação extensa e intensiva da escola sobre o indivíduo e dele sobre si mesmo, e de uma constante e contínua reação a uma estrutura educacional artifi- cial e verbalista. • A educação deve desenvolver a capacidade vital do ser huma- no, proporcionando uma ininterrupta série de esforços criativos que levem à formação da personalidade integral do estudante e ao desenvolvimento de suas faculdades produtoras e criado- ras, visando ao aprendizado para o trabalho, à solidariedade, à cooperação, à consciência, e ao espírito de justiça, por serem os grandes valores permanentes. • A unidade educativa será a força viva, o espírito, o ânimo nacional que, por meio de intercâmbio, produzirá os maiores resultados com as menores despesas e os menores esforços. • O Estado, em nome da escola leiga, gratuita e universal, não pode permitir que classes mais privilegiadas assegurem uma educação só para si, uma vez que a escola precisa ser comum e igual. • Pela relevância na construção da cultura e dos valores sociais, os educadores precisam ter aspirações e responsabilidades, bem como trabalharem cientificamente os métodos e fins da educa- ção que desenvolvem. Foram pioneiros da Educação Nova: Fernando de Azevedo, Afrânio Peixoto, Antônio de Sampaio Dória, Anísio Spínola Teixeira, Manuel Bergström Lourenço Filho, Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Júlio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, Carlos Delgado de Carvalho, Antônio Ferreira de Almeida Jr., José Paranhos Fontenelle, Roldão Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco Venâncio Filho, Paulo Maranhão, Cecília Meireles, Edgar Sussekind de Mendonça, Armanda Álvaro Alberto, Garcia de Resende, Nóbrega da Cunha, Paschoal Lemme e Raul Gomes. Saiba mais 68 Políticas Educacionais • A formação dos professores é o meio que a sociedade tem para elevar a cultura, a vida sentimental comum e um vigoroso espírito nas aspirações e nos ideais de todos – por isso, a importância de todo os professores serem formados sobre a base de uma edu- cação geral comum. • A escola primária deve articular-se rigorosamente com a educação secundária unificada, para abrir acesso às escolas ou institutos superiores – por isso, a importância de que a escola reúna em torno de si as famílias,estimulando e aproveitando as iniciativas dos pais em favor da educação, desde a pré-escola até a universidade, uma vez que a escola é um órgão vivo, no conjunto das instituições necessárias à vida, de conformidade com os interesses e as alegrias profundas da natureza de cada fase da vida escolar da pessoa. • Além da oferta de faculdades de Engenharia, Medicina e Direi- to, também há a oferta de cursos de Ciências Sociais e Econô- micas, Ciências Matemáticas, Físicas e Naturais, e de Fiosofia e Letras, como forma de combater o senso comum, o ceticismo, a falta de crítica, a indiferença ou a neutralidade no terreno das ideias, a ignorância e a tendência fácil de substituir os prin- cípios pelo paradoxo. É importante sabermos que muitas das ideias do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova constaram como dispositivos da Cons- tituição do Brasil de 1934. E, felizmente, marcas do manifesto foram inscritas em uma série de governos locais. No Distrito Federal, por exemplo, Anísio Spínola Teixeira – um dos Pioneiros da Educação Nova – era o secretário da Educação e, por conta de seu cargo, in- troduziu várias reformas no sistema educacional, como a criação da Universidade do Distrito Federal; a criação, em São Paulo, da Fa- culdade de Filosofia, Ciências e Letras, e a Universidade São Paulo. Além disso, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e outros estados, houve mudanças inspiradas nos princípios do manifesto. No entanto, em 1937, o Brasil, com a implantação do Estado Novo, passou por mudanças ideológicas e políticas. Quase todo o trabalho e os projetos dos Pioneiros foram perdidos, suspensos ou cancelados, uma vez que o sistema educacional passou a ser utilizado mais como ferramenta para divulgação da política ditatorial do governo, do que para a função social que tinha. Entretanto, não se pode deixar de dar a Até a década de 1940, no Brasil, os cursos de Medicina, Direito e Engenharia eram direcionados exclusivamente para os filhos da aristocracia – aqueles que tinham grandes recursos para pagá-los; e, para os filhos das demais classes sociais, eram disponibilizadas as vagas existentes de cursos de Filosofia, Ciências e Letras, voltados para a docência. Considerando isso, na atualidade, quais seriam os cursos que essas mesmas classes sociais frequentam? E por que essas classes sociais frequentam esses cursos? Atividade 1 Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 69 devida importância ao Movimento dos Pioneiros da Educação Nova de 1932, pois, por meio dele, algumas mudanças conceituais e estruturais no campo da educação ocorreram na sociedade brasileira, se perpe- tuaram nas décadas seguintes e são apreciadas em todos os espaços educacionais na atualidade. 3.5 A LDB n. 4.024/1961 Vídeo Com o fim do Estado Novo, no ano de 1946, um novo governo se instalou no país, e uma nova Constituição foi promulgada, em 18 de setembro do mesmo ano. Com a Constituição de 1946, a educação volta a ser definida como direito de todos, com ensino primário obriga- tório e gratuito. Além disso, houve o restabelecimento da vinculação de recursos para a pasta da educação, visando à manutenção e ao desen- volvimento do ensino, e os estados e o Distrito Federal voltaram a ter a atribuição de organizar os seus sistemas de ensino. Com a Constituição de 1946, alguns dos ideais do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932 foram reintroduzidos. Foi com base nessa Constitui- ção que se pensou na elaboração de uma Lei de Di- retrizes e Bases (LDB), conforme seu artigo 5º, inciso XV, letra “d”, a saber: “Compete à União: XV - legislar sobre: d) diretrizes e bases da educação nacional” (BRASIL, 1946). Assim, conforme previsto, no gover- no de João Belchior Marques Goulart (1961-1964), o país construiu a sua primeira LDB (BRASIL, 1961) – uma lei que construiu um Plano Nacional de Educa- ção (PNE) para a sociedade brasileira. É importante destacarmos, desde já, que a LDB teve a sua tramitação política iniciada no ano de 1947 e se estendeu até o ano de 1961. O fato é que o processo conciliatório relacionado aos princípios de liberdade, solidariedade e preservação dos direitos e deveres individuais, da família, das instituições so- ciais e do Estado, só foi possível a partir do fim do Estado Novo, em 1946. Além disso, a luta entre os li- berais escolanovistas que defendiam a escola públi- Carlos Roberto Jamil Cury é um filósofo brasileiro que foi membro do Conselho Federal de Educação e do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais e presidente do CAPES, o que dá gran- de credibilidade a suas obras e, em especial, para o livro Educação e direito à educação do Brasil: um histórico pelas Constitui- ções, que procura verificar e analisar como o ensino e o direito à educação se encontram presentes nas Constituições e nas demais legislações que constituíram os funda- mentos e as diretrizes das políticas educacionais no país. É uma obra que complementa os estudos desenvolvidos neste capítulo. CURY, C. R. J. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2014. Livro 70 Políticas Educacionais ca e a centralização do processo educativo pela União, com o grupo dos tradicionais católicos, cujo interesse era uma escola privada tradicional, sem a interferência do Estado, arrastou-se até os anos de 1960. Foi com essa dinâmica que se culminou uma legislação de espírito conciliador, inclusive que faz referências à possibilidade de a educação ser oferta- da em estabelecimentos de ensino público e em estabelecimentos de ensino particular. Outra mudança muito importante, que ficou inscrita nos disposi- tivos da LDB, é a que se refere à instalação dos Conselhos Estaduais de Educação, bem como do Conselho Federal de Educação (instalados a partir de 1962), com atribuições que refletiam os ideais do ensino público, do processo democrático, do bem comum, e outros. O fato é que tais conselhos significaram a descentralização da organização do ensino, no país, com competências inimagináveis até então, como: Decidir sobre o funcionamento dos estabelecimentos isolados de ensino superior, federais e particulares, decidir sobre o reco- nhecimento das universidades, indicar as disciplinas obrigatórias para os sistemas de ensino médio e estabelecer a duração e o currículo mínimo dos cursos de ensino superior, promover sin- dicâncias em quaisquer estabelecimentos de ensino, sugerir me- didas para organização e funcionamento do sistema federal de ensino, promover e divulgar estudos sobre os sistemas estaduais de ensino, adotar ou propor modificações e medidas que visem à expansão e ao aperfeiçoamento do ensino, manter intercâmbio com os conselhos estaduais de educação; analisar anualmente as estatísticas do ensino e os dados complementares. (BRASIL, 1961, art. 9º) Mudança expressiva também ocorreu quanto ao currículo escolar: a. O currículo passou a ser composto de disciplinas obrigatórias, complementares, optativas e de práticas educativas. b. Ao Conselho Federal de Educação, ficou a incumbência de definir as disciplinas obrigatórias e as optativas, bem como indicar quais seriam as obrigatórias. Quanto às optativas, seriam indicadas (e não definidas) pelo Conselho Estadual de Educação, com base em uma lista definida pelo Conselho Federal, ficando para as unidades de ensino as devidas escolhas, baseando-se em suas culturas, necessidades e peculiaridades locais e regionais. As complementares e as de práticas educativas ficaram para os estabelecimentos de ensino escolherem. Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 71 Mudanças interessantes para aquele momento, não é mesmo? De uma forma geral, essas primeiras e importantes alterações nos processos educacionais traduziam as correntes democráticas que se constituíam nas principais nações republicanas, e o Brasil não poderia ter se mantido omisso a esses movimentos. Por isso, houve uma LDB refletindo esse momento. Ao analisar tal legislação (BRASIL, 1961), ainda sãoobservados fundamentos e diretrizes muito importantes, que precisam ser destacados, por exemplo: • A educação deve ser inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, visando à dignidade da pessoa humana, bem como à unidade nacional. • A educação é um direito de todos – até mesmo para os excepcio- nais que deveriam ser enquadrados no sistema geral de educa- ção – com oferta tanto em escola pública quanto em particular e/ou no próprio lar, com ensino primário obrigatório, ofertado em escola pública e gratuita, inclusive com escolas maternais e jardins de infâncias para os menores de sete anos. • A oferta de ensino técnico, por meio de cursos industriais, agríco- las e comerciais, é um direito da comunidade – o que traz a ideia de uma cooperação entre a escola formal e os meios produtivos. • O ensino superior está para formar para a pesquisa, para o de- senvolvimento das ciências, letras e artes, e para a profissionaliza- ção, os cursos não podem ter menos de quatro anos de duração, com controle de frequência dos estudantes e dos programas de ensino – o que leva à ideia de disciplina e inspeção. • A Educação Física é obrigatória nos cursos primários e secundá- rios, bem como nos cursos superiores de predominância esporti- vas – o que remete à ideia de preocupação com a saúde do corpo. • O Ensino Religioso é de matrícula facultativa – o que remete à liberdade religiosa. • Nos estabelecimentos oficiais de ensino médio e superior deve ser recusada a matrícula ao aluno reprovado mais de uma vez em qualquer série ou conjunto de disciplinas – o que remete à ideia de intensa disciplina nos ambientes escolares. Quanto à estrutura do ensino, visando atender aos fundamentos e às diretrizes da lei, ficou assim definida: 72 Políticas Educacionais • Educação de grau primário: dividido em ensino pré-primário (maternal e jardim de infância), ofertado aos menores de 7 anos de idade; e ensino primário, ofertado a partir dos 7 anos, voltado para o desenvolvimento do raciocínio e das atividades de ex- pressão da criança, e a sua integração no meio físico e social, com duração de quatro anos. • Educação de grau médio: com as seguintes opções, ensino mé- dio (ginasial com duração de quatro anos e colegial com duração de três anos); ensino secundário (com uma variedade de currí- culos); ensino técnico (industrial, agrícola ou comercial); e ma- gistério (curso de formação para a docência no ensino primário), sob um conjunto de disciplinas assim distribuídas: • Obrigatórias: Português, História, Geografia, Matemática, Ciências. • Optativas para o ginasial: Línguas Estrangeiras Modernas, Música, Artes Industriais, Técnicas Comerciais, Técnicas Agrícolas. • Optativas para o colegial: Línguas Estrangeiras Modernas, Grego, Desenho, Mineralogia e Geologia, Estudos Sociais, Psicologia, Lógica, Literatura, Introdução às Artes, Direito Usual, Elementos de Economia, Noções de Contabilidade, Noções de Biblioteconomia, Puericultura, Higiene e Dietética. • Complementares do sistema federal para o ginasial e colegial: Desenho, Organização Social e Política Brasileira, Desenho e uma língua estrangeira moderna, uma língua clássica e uma língua estrangeira moderna, duas línguas estrangeiras modernas, uma língua estrangeira moderna e Filosofia, Física, Química e Biologia. • Sistemas estaduais: nesse caso, seriam as indicadas pelos Conselhos Estaduais, e como práticas educativas para o ginasial e colegial: Educação Física, mais uma à escolha da escola podendo ser Educação Cívica, Educação Artística, Educação Doméstica, Artes Femininas, Artes Industriais ou outras indicadas pela instituição. A formação de professores e orientadores para o ensino médio era feita nas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, e a de professores de disciplinas específicas de ensino médio técnico em cursos especiais de educação técnica. Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 73 Educação de grau superior: com a oferta de cursos de gradua- ção, pós-graduação, especialização, aperfeiçoamento e extensão, mi- nistrados em estabelecimentos, agrupados ou não em universidades, com a cooperação de institutos de pesquisa e centros de treinamento profissional. Ao observarmos tal proposta, pode parecer que tudo era ideal. No entanto, o que de fato ocorreu foi uma expressiva desorganização em todo o processo devido à forte influência de instituições ideológicas na determinação da práxis histórica das bases curriculares da educação. Ainda: os Conselhos Estaduais, bem como o Federal, deixaram todo o trabalho de organização do currículo e dos conteúdos das discipli- nas para os estabelecimentos escolares e seus professores; a introdu- ção das disciplinas optativas levou à expressiva perda de emprego de docentes de tais áreas porque passaram a depender da existência de estabelecimentos de ensino que as adotassem. Além disso, o ensino pré-primário pouco atendeu à demanda. Podemos pensar que essa situação fez com que boa parte da edu- cação se desenvolvesse sob um vazio de conteúdo, por estar revestida por um mercado de livros didáticos que decidia o quê e como ensinar, bem como por uma educação mais voltada à massificação de métodos em que se formava a pessoa para viver em uma sociedade de consu- mo. Isso não foi bom para o desenvolvimento da sociedade e para o conhecimento, conforme afirma Frigotto (2010, p. 20): A educação no Brasil, particularmente nas décadas de 1960 e 1970, de prática social que se define pelo desenvolvimento de conhecimentos, habilidades, atitudes, concepções de valores ar- ticulados às necessidades e interesses das diferentes classes e grupos sociais, foi reduzida, pelo economicismo, a mero fator de produção – “capital humano”. Resumindo, a prática da proposta resultou em uma educação de grau primário à qual a escola se voltou mais para construir hábitos de consumo; em uma educação de grau médio, em que a ideia era habilitar o estudante para uma variedade de trabalho oferecido para atender exclusivamente aos interesses daqueles que detinham e domi- navam os meios de produção – é fato que alunos das classes subalter- nas não conseguiram competir por meio dos exames vestibulares no mesmo nível que os alunos dos estabelecimentos particulares, ficando para aqueles apenas cursos não buscados pela elite; e, em uma edu- Só levava o título de universidade a reunião, sob administração comum, de cinco ou mais estabelecimentos de ensino superior. Atenção A LDB (BRASIL, 1961) propôs uma educação inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade, visando à dignidade da pessoa humana. No entanto, quando percebemos que no final da década de 1960 ela serviu mais para qualificar o jovem para o exercício de profissões liberais com uma formação reprodutivista, o que podemos afirmar sobre os princípios da lei? Atividade 2 74 Políticas Educacionais cação de grau superior, que se centrou mais em buscar qualificar o jovem para o exercício de profissões liberais que se fundamentavam em teorias reprodutivistas. O fato é que a formação do pensamento escolar brasileiro não conse- guiu, com essa LDB, desvincular-se de um contexto industrial, comercial, e exportador, presente em uma sociedade de ampla diversidade cultural e que se urbanizava. Por isso, não se pode negar que havia duas escolas: uma para os pobres que iam para as cidades, e outra para a elite urbana que se encontrava satisfeita com a situação que vivia. 3.6 A LDB n. 5.692/1971 Vídeo Se considerarmos certas questões políticas, sociais e econômicas vivenciadas no Brasil durante a década de 1960, é possível compreen- der o motivo de ocorrer, apenas 10 anos após a LDB de 1961, outra reforma na educação, com a LDB de 1971. Com a revolução de 1964, e com uma economia pautada na indus- trialização sob um modelo desenvolvimentista adotado pelos militares a partir daquele momento histórico, a educação passou a ser conside- rada umcampo de maior relevância das políticas para as necessárias adequações e mudanças que se instalavam no país. Novas tecnologias passaram a fazer parte das rotinas nos processos produtivos e, para isso, novas demandas de recursos humanos especializados passaram a ser exigidos no mercado de trabalho. Por isso, passou a ser necessária uma educação que se voltasse mais para a formação de mão de obra nas diversas categorias ocupacionais decorrentes do processo. Assim, com o objetivo de dar conta dessa nova realidade, vislumbrava-se uma educação mais tecnicista, na linha taylorista 1 . Como primeiros passos para essa mudança ideológica-produtiva, bem como metodológica, os governos militares passaram a buscar acordos que contribuíssem o mais rápido possível com as adequa- ções que se exigiam. Foi nessa direção que 12 acordos/projetos fo- ram assinados com os Estados Unidos, envolvendo todo o sistema de ensino (primário, secundário, superior e técnico) – os chamados acordos MEC-USAID (Ministério da Educação e Cultura e a Agency for International Development dos Estados Unidos). Na prática, os acordos envolveram uma assessoria para treinamen- to de pessoal docente e técnico, para planejamento do ensino curricu- O Taylorismo é uma teoria criada pelo engenheiro Frederick Winslow Taylor (EUA, 1856-1915) que, na obra intitulada Os princípios da Administração Científica, constatou a importância de a gestão saber organizar o sistema produtivo via hierarquização das pessoas e sistematização das atividades, de modo que cada trabalhador desenvolva uma atividade específica conforme o seu perfil, sendo monitorado o tempo que gasta na realização de suas tarefas. Só com base em tal metodologia seria possível premiar e compensar cada um pela sua capacidade produtiva. 1 Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 75 lar em uma linha de maior racionalidade e técnica, para a construção de planos que promovessem um maior relacionamento de conteúdos entre os diversos graus do ensino, visando à obrigatoriedade do ensino da língua inglesa, desde a primeira série do primário, e uma reforma no ensino brasileiro que garantisse a sua adequação aos desígnios e interesses da economia internacional, sobretudo aos interesses das grandes corporações norte-americanas. Dentre os doze acordos assinados, quatro, explicitamente, men- cionavam o ensino médio (ou ensino secundário), entretanto, todos contemplavam medidas que, de alguma forma, abrangiam esse nível de ensino, uma vez que eles, embora implicassem assis- tência a setores específicos, possuíam uma estrutura única, per- ceptível através de aspectos comuns. (ROMANELLI, 1985, p. 213) Foi nessa dinâmica política que em 1971 foi publicada a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a de n. 5.692, uma lei com importantes diretrizes para a estrutura do ensino, bem como para os currículos (BRASIL, 1971) • Uniu a escola primária com o ginasial, e denominou esse período como primeiro grau (com 8 anos de duração), revestindo esse período de aspecto técnico, principalmente nas suas séries finais, eliminando o exame de admissão que conferia acesso entre esses níveis. • Denominou o colegial como segundo grau. • Dividiu o currículo em duas partes: educação geral e ensino pro- fissionalizante, com um núcleo de matérias comuns obrigatórias (indicadas pelo Conselho Federal de Educação), e uma parte di- versificada a ser escolhida pelo estabelecimento escolar com base em uma lista relacionada pelo Conselho Estadual de Educação. Quanto às disciplinas para o núcleo comum, o Conselho Federal de Educação estabeleceu: Comunicação e Expressão (Língua Portugue- sa), Estudos Sociais (Geografia, História e Organização Social e Política Brasileira), Ciências (Matemática e Ciências Físicas e Biológicas), Educa- ção Física, Educação Artística, Educação Moral e Cívica, Programas de Saúde e Ensino Religioso (facultativo) (BRASIL, 1971). Com relação às profissionalizantes, também foi o Conselho Federal de Educação que estabeleceu que Ciências Físicas e Biológicas pudessem ser desmem- bradas em disciplinas instrumentais como Física, Química e Biologia. Por fim, as disciplinas da parte diversificada eram indicadas pelos 76 Políticas Educacionais Conselhos Estaduais, mas escolhidas pelos estabelecimentos escola- res, como Iniciação à Agricultura, Oficina Rural, Desenho Técnico e Jar- dinagem, Floricultura, Práticas de Comércio, Datilografia, Decoração do Lar, Práticas de Escritório, Noções Contábeis e Fiscais. Entretanto, as mudanças não pararam aí: alguns dispositivos da LDB (BRASIL, 1971) precisam ser destacados pela relevância que tive- ram para o ensino a partir da década de 1970, bem como para a política e economia do período: • Ensino de 1º grau obrigatório com 8 anos de duração (dos 7 aos 14 anos), 720 horas anuais de atividades e ano letivo de 180 dias. • Ensino de 2º grau, com 3 ou 4 anos de duração, e, no mínimo, 2.200 horas de trabalho escolar efetivo. • Ensino supletivo abrangendo a leitura, a escrita, a matemática e a formação profissional, destinada para adolescentes e adultos que não a tenham seguido ou concluído na idade própria. • Educação a distância como possibilidade para ofertar a modalida- de do ensino supletivo. • Liberdade para a oferta do ensino experimental. • Empresas comerciais, industriais e agrícolas ficaram obrigadas a manter o ensino de 1º grau gratuito para seus empregados, além do ensino dos filhos deles. • Educação na zona rural com a possibilidade de o estabelecimento organizar os períodos letivos, com prescrição de férias nas épo- cas do plantio e da colheita de safras. • Tratamento especial para alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, para os que se encontrem em atraso con- siderável em relação à idade regular de matrícula e para os superdotados. • Inclusão da Educação Moral e Cívica, Educação Física, Educação Artística, e programas de saúde como matérias obrigatórias do currículo, além do Ensino Religioso facultativo. • Preponderância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos na avaliação do aproveitamento escolar, a ser expressa em notas ou menções. • Aprovação de alunos com frequência inferior a 75%, desde que tenham tido aproveitamento superior a 80%. O filme Além da sala de aula – baseado em fatos reais – conta a trajetória de uma professora, que desde pequena desejava lecionar. Também mostra como a sua profissão se mostrou difícil já em seu primeiro trabalho do- cente, quando precisou superar seus medos e preconceitos para traba- lhar com crianças de rua, em uma sala improvisada de um abrigo. É um filme que demonstra dilemas e dificuldades vividos pelo profissional da educação, bem como dificuldades que grande parcela da população estudantil tem para ter acesso à escola. Apesar de ser um filme americano, ele nos con- duz a pensar as seme- lhanças existentes com a realidade escolar do Brasil em vários de seus momentos históricos. Direção: Jeff Bleckner. CBS: EUA, 2011. Filme Legislação educacional no Brasil: do século XV até 1990 77 • Uma educação básica (1º e 2º graus) com objetivos voltados para o desenvolvimento das potencialidades da pessoa, visando à autorrealização, à qualificação para o trabalho, à cidadania consciente, e ao nacionalismo integrativo. • Educação como dever da União, dos estados, do Distrito Federal, dos territórios, dos municípios, das empresas, da família e da co- munidade em geral. • Possibilidade de os estudantes estudarem o 2º grau na rede pri- vada por sistema de bolsas com restituição. • Formação do professor para o ensino de 1° grau, da 1ª à 4ª sé- rie, em habilitação específica do 2° grau (magistério) e formação preferencial dos especialistas da educação em curso superior de graduação ou pós-graduação, além da formação de administra- dores, planejadores, orientadores, inspetores, supervisores e de- mais especialistas em curso superiorde graduação, com duração plena ou curta, ou de pós-graduação. • Obrigação do registro profissional para o profissional de magisté- rio ou especialidade pedagógica. Entretanto, apesar de toda uma preocupação que parece ter exis- tido nos fundamentos da LDB de 1971, não aconteceram muitas mudanças concretas. Uma vez que as desigualdades regionais eram expressivas, cada estado e suas unidades se organizaram de maneiras muito distintas, existiam grandes dificuldades das escolas e dos gover- nos na implantação do ensino profissionalizante devido ao alto gasto na aquisição de equipamentos, além de que os alunos e suas famílias não desejavam cursos profissionalizantes, uma vez que o desejo mes- mo era ingressar em uma universidade. Verbas/recursos insuficientes, insuficiência de docentes especializados nas disciplinas profissionali- zantes, o acesso de egressos do 2º grau ao ensino superior passou a ser mais difícil por falta de cultura geral e naturalmente a grande camada não passava no vestibular, que selecionava basicamente aqueles que tinham cursado escolas de educação geral, geralmente particulares. Outra questão que amarga a interpretação dessa lei foi o ideal de profissionalização para todos os estudantes e em todas as escolas no no seio social, levando à desativação de várias redes de escolas sob o argumento de que estariam ofertando cursos profissionalizantes quan- do os que as procuravam desejavam uma educação enciclopédica, já que estavam intencionados em ingressar em uma universidade – e curso profissionalizante não preparava para esse ingresso. Uma das características da LDB de 1971 instituiu que poderia ser concedida a aprovação para alu- nos com frequência escolar infe- rior a 75%, desde que tivessem tido aproveitamento superior a 80% na aprendizagem. Você concorda com essa norma para estudantes que utilizam-se do EaD? Disserte sobre. Atividade 3 78 Políticas Educacionais CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi possível observar, estruturas sociais desorganizadas, políticas pú- blicas incoerentes, e luta entre classes sociais são elementos presentes nos processos históricos. E, no caso do Brasil, quando buscamos identificar as suas políticas públicas e, em especial as políticas educacionais, percebemos que desde o século XV, até a década de 1990, quase tudo transcorreu com difi- culdades, sem os resultados almejados pela sociedade, o que, naturalmente, pode ser compreendido em parte se considerarmos a nossa formação históri- ca e a nossa diversidade étnica e cultural. REFERÊNCIAS ALONSO, A. O positivismo de Luís Pereira Barreto e o pensamento brasileiro no final do século XIX. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados, 1995. ARANTES, P. E. O positivismo no Brasil: breve apresentação do problema para um leitor europeu. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 21, p. 185-194, jul. 1988. AZEVEDO, F. de. A transmissão da cultura: parte 3. São Paulo: Melhoramentos/INL, 1976. BRASIL. Constituição Política do Império do Brasil (1824). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 25 mar. 1824. 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No entanto, nessa questão podemos observar que ainda é um fato que os cursos de Me- dicina, Engenharia e Direito são os mais frequentados pelas classes sociais mais abas- tadas – uma realidade que pode ser explicada pelos altos valores das mensalidades, bem como pela necessidade de dar continuidade, aos negócios de família. Entretanto, por uma série de políticas públicas existentes, na atualidade esses cursos podem ser acessados por pessoas das mais variadas classes sociais existentes no país. 2. A LDB n. 4.024/1961, na prática, serviu mais para fomentar uma educação do jovem para o exercício de profissões liberais reprodutivistas, o que infelizmente ficou muito distante da ideia de uma educação inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade. O fato é que tal lei quis materializar as ideias dos escolanovistas da década de 1930, mas sua implantação e aplicação se deu apenas na década de 1960, quando as necessidades do país eram absolutamente outras. 3. Naturalmente, cada pessoa tem características próprias, acionadas quando há experi- mentação ou contato com as diversas normas e regras sociaisda comunidade da qual são membros. E, no relativo aos estudos, cada um tem, também, as suas metodologias e os seus jeitos para realizá-los. Por isso, há teóricos que acreditam que a escola de- veria avaliar a aprendizagem, e não a quantidade de horas que o estudante esteve no ambiente da escola na qual está matriculado. Por isso, da validade e da aceitação dos estudos no formato EaD, na atualidade. http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=106&id_normas=32141&accao=ver http://www.governodosoutros.ics.ul.pt/?menu=consulta&id_partes=106&id_normas=32141&accao=ver https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/4583/1/VERA_MARIA_SANTOS.pdf https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/4583/1/VERA_MARIA_SANTOS.pdf http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/mapion.htm http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/mapion.htm 80 Políticas Educacionais 4 Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 Na atualidade, o Brasil ainda passa por alguns dilemas na área da educação. No entanto, podemos compreender que já houve um importante caminho trilhado na direção de uma educação de qua- lidade, universal e igualitária, construída democraticamente pelos atores da sociedade civil organizada e governos, que vai em dire- ção da promoção da dignidade do ser humano e da formação da cidadania do povo brasileiro. Para isso, muitos se empreenderam em debates e estudos sobre as estruturas conceituais de educa- ção, finalidades, níveis, formas de financiamentos, valorização dos profissionais da educação etc., resultando na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Como a educação se encontra atrelada aos interesses da nação e ao seu desenvolvimento social, econômico e cultural – elementos que se alteram conforme as dinâmicas da sociedade, que é com- plexa por participar de relações com a comunidade internacional –, importantes projetos, documentos e políticas foram sendo cons- truídos a partir dessa LDB. Assim, entre os anos 1997 e 2000 foram implantados os Parâmetros Curriculares Nacionais – conforme previsto na Constituição e na LDB (BRASIL, 1996). Na sequência, por meio da Lei n. 13.005, foi aprovado o Plano Nacional de Educação para o decênio 2014/2024, visando à promoção de po- líticas públicas educacionais. Sob essa dinâmica histórica, a sociedade pode se valer de uma infinidade de programas, como o Programa Brasil Alfabetizado, o Pronatec, o Programa Caminho da Escola, o Fundeb, o Reuni, dentre muitos outros. No ensino superior, além de os indicati- Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 81 vos previstos na LDB e no Plano Nacional de Educação, há outras legislações e projetos específicos quanto à regulação, avaliação de cursos e de instituições, avaliação dos estudantes, financiamento dos estudantes, oferta na forma EaD etc. Assim, com este capítulo pretendemos refletir sobre o planejamento educacional e os sis- temas de ensino a partir de 1996, considerando esse um período com expressivo número de projetos e legislações sobre o tema, bem como o momento histórico em que a educação teve mais len- tes sociais e parlamentares sobre si mesma. 4.1 A LDB n. 9.394/1996 Vídeo A Constituição Federal (BRASIL, 1988) tem uma série de dispositivos relativos à educação e ao ensino, em especifico o artigo 6º – que diz ser a educação um direito social –, o 22 – que afirma ser competência da União legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional –, o 205 – que diz ser a educação um direito de todos, dever do Estado e da família –, e o 206 – que indica os princípios da igualdade, da liberdade, da gratuidade, da pluralidade de ideias, da gestão democrática, da qualidade nos processos e nos conteúdos, além da valorização da docência como seus elementos fundamentais e norteadores. Assim, sob essa direção constitucional, de 1988 a 1996, foram promo- vidos diversos debates e estudos na sociedade civil organizada, bem como nas esferas do Poder Executivo e Legislativo que levaram a duas propostas para uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. a. Primeira proposta: conhecida como Projeto Jorge Hage Sobrinho (magistrado e professor), foi construída a partir de discussões de movimentos sociais organizados via Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP). b. Segunda proposta: elaborada pelos senadores Darcy Ribeiro (antropólogo e escritor), Maurício José Corrêa (magistrado e jurista) e Marco Antônio de Oliveira Maciel (advogado e professor), em consonância com as ideias defendidas pelo Ministério da Educação e Cultura, é uma proposta que trazia o pensamento do Congresso Nacional e do Poder Executivo central. 82 Políticas Educacionais A diferença essencial entre uma proposta e outra estava em como deveria ser o controle do sistema de ensino: na primeira, o controle de- veria ser realizado pela própria sociedade; enquanto na segunda, pelo próprio governo. Naturalmente, como podemos perceber, foi a proposta dos senadores a contemplada, tanto que a Lei n. 9.394/1996 ficou conhe- cida como Lei Darcy Ribeiro. Isso ocorreu no governo de Fernando Hen- rique Cardoso, sendo o ministro da Educação o professor Paulo Renato de Souza. É uma lei ampla, constituída por 92 artigos – distribuídos por nove títulos –, que conceituou a educação sob o espectro constitucional em relação aos seus princípios e fins. Apresenta, detalhadamente, a orga- nização, os níveis e as modalidades de ensino, contemplando os di- reitos, deveres e valorização dos seus profissionais. Além disso, a lei inscreveu diretrizes sobre os recursos para a oferta e promoção da educação, bem como para o desenvolvimento das pesquisas. De modo geral, transitando pelos títulos e seus dispositivos, vislumbra-se uma legislação que pretende garantir a toda a população uma educação gratuita, de qualidade, com valorização dos profissionais da educação, assim como inscrevendo como dever do Estado a disponibilidade dos recursos necessários. A LDB (BRASIL, 1996), em seu Título I, conduz a ideia de que a educação deve abranger uma série de processos formativos vinculados ao mundo do trabalho e à cidadania, que podem ser possíveis no ambiente familiar, na comunidade, e especificamente nas instituições de ensino – lugar do conhecimento formal organizado, aprimorado e experimentado. Quanto ao Título II, a lei explicita a liberdade e a solidariedade como sendo seus grandes pilares, devendo estar sempre sob os prin- cípios da gratuidade, qualidade, igualdade, liberdade, pluralidade, respeito à diversidade étnico-cultural, participação democrática e valorização do seu profissional, com a possibilidade da existência da escola pública e da privada. Para a sua efetivação, a lei garante a educação básica (pré-escola, ensino fundamental e ensino médio). Essa garantia também se estende para aqueles que não concluíram seus estudos na idade certa, o aten- dimento especializado e gratuito para pessoas com deficiência (PcD), indígenas e quilombolas, da mesma maneira a oferta de ensino regular noturno (Título III). Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 83 Quanto à organização da educação, ela está dividida entre os entes federativos. Segundo o Título IV, cabe à União: a elaboração do Plano Nacional e as competências e diretrizes da educação – com a colabora- ção de outros entes; assistência técnica e financeira aos demais entes; no ensino superior, baixar as normas gerais relativas a avaliação, auto- rização, reconhecimento, credenciamento, supervisão e avaliação dos cursos (os mantidos pela União e os pela iniciativa privada). Segundo a LDB (BRASIL, 1996), aos estados e ao Distrito Federal cabe organizar seus sistemas de ensino em consonância com as diretrizes e com os planos nacionais de educação, autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos superiores de seus sistemas de ensino (bem como de ensino superior ofertado por seus municípios), além de fiscalizar e acompanhar as instituiçõesde ensino fundamental e médio (públicas e privadas), assegurando o ensino dessas etapas. É obrigação dos municípios: organizar seus sistemas de ensino em consonância com as diretrizes e plano nacional e estadual, autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos de seus sistemas de ensino (públicos e privados), oferecer a educação infantil e, com priori- dade, o ensino fundamental. Já os estabelecimentos de ensino devem administrar os currículos, metodologias e recursos humanos com a melhor qualidade de gestão, ar- ticulando o processo com a comunidade. E, por último, cabe aos docentes cumprir o plano de trabalho bem como participar de sua elaboração, exe- cutando o seu trabalho sob a melhor metodologia, gestão e competência. Quanto aos níveis e modalidades de educação e ensino, o Título V afirma serem dois: a educação básica – que contempla a educação in- fantil, o ensino fundamental e o ensino médio – e a educação superior. Sendo que, na educação básica, o ensino infantil (em creches e pré-escolas), que deve ser disponibilizado de maneira gratuita, mesmo não sendo obrigatório, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social; já no ensino fundamental, que deve ser disponibilizado de maneira gratuita e obrigatória, tem como finalidade desenvolver a capacidade de aprender, a compreensão do ambiente, o fortalecimento dos vínculos familiares, a promoção dos laços de solidariedade e de tolerância recíproca. E, por fim, o ensino médio, com a finalidade de desenvolver o estudante para uma cidadania, para o mundo do trabalho e para estudos posteriores. 84 Políticas Educacionais As matrizes curriculares presentes nas propostas pedagógicas devem promover o exigido pela Base Nacional Comum Curricular, que com- preende linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias e ciências humanas e sociais apli- cadas. É importante destacarmos, ainda, que se faz necessário que na matriz curricular do estabelecimento tenha uma base diversificada, que atenda às características regionais e locais da comunidade e à oferta da educação profissional técnica de nível médio que, além da formação ge- ral do estudante, também o prepara para o trabalho. É interessante observarmos que essa LDB se reservou o direito de proporcionar uma educação diferenciada aos trabalhadores, para atender, naturalmente, as exigências e as normas da produção capital do momento. Por isso, além de uma educação de formação geral/inte- lectual, também há a oferta de uma educação para o trabalho manual, conforme destaca Saviani (2011, p. 9): composto de uma base comum, para todos, bifurcando-se em caminhos diversificados, de acordo com as potencialidades dos educandos para, de um lado, prosseguir rumo à formação de nível superior e, de outro, voltando-se para a capacitação técni- ca, as atividades industriais, agrícolas, comerciais que exigiriam, quando muito, estudos de nível médio. Uma para formar o di- rigente, outra, nos limites da formação de mão de obra para o conhecimento das regras de escolha dos dirigentes. É importante ressaltarmos, também, que a oferta da educação de jovens e adultos destina-se para os maiores de 15 anos, no ensino fun- damental, e para os maiores de 18 anos, no ensino médio, e é articulada preferencialmente em cursos de educação profissional e tecnológica de formação inicial e continuada, bem como para uma formação pro- fissional técnica de nível médio e de educação especial, voltada para pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades (superdotadas). A educação superior nas modalidades de cursos de extensão, se- quenciais, graduação e de pós-graduação (especialização, aperfeiçoa- mento, mestrado, doutorado) pode ser ofertada pelas instituições de ensino superior (IES), públicas ou privadas, desde que os cursos este- jam credenciados, autorizados e reconhecidos pelo devido órgão com- petente, como o MEC (para as instituições sob a jurisdição federal) e pelas Secretarias de Educação (para as instituições sob a jurisdição dos Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 85 estados). Como finalidades para a educação superior estão o estímulo da criação cultural, o desenvolvimento do espírito científico e reflexi- vo do estudante, assim como o aprimoramento do conhecimento dos problemas do mundo – sempre buscando formar o discente para uma participação ativa no desenvolvimento da sociedade. Curso sequencial Para ingressar no curso sequencial, o estudante deve ter concluído o ensino médio, ou equivalente, além de atender aos requisitos exigidos pelo estabelecimento que deseja ingressar. Curso de pós-graduação Para cursar uma pós-graduação é necessário que o estudante já tenha, pelo menos, uma graduação concluída, além de atender aos requisitos exigidos pelo estabelecimento de ensino. Curso de graduação Assim como no curso sequencial, para ter acesso à graduação, o aluno deve ter o ensino médio concluído e ser classificado no processo seletivo. Curso de extensão Para cursar, basta atender aos requisi- tos exigidos pelo estabelecimento de ensino. Os profissionais da educação são todos aqueles que estão direta- mente envolvidos com as questões da educação, especificamente, den- tro dos estabelecimentos de ensino, da mesma maneira que aqueles da comunidade que têm alguma participação na vida escolar. Segundo o Título VI, podem ser destacados como esses profissionais, portanto, os docentes, os portadores de diplomas para administração, planeja- mento, supervisão, inspeção e orientação educacional e os trabalhado- res da educação portadores de diploma de curso técnico ou superior. Quanto aos recursos financeiros para a educação, consta no Título VII que devem se originar de receitas de impostos próprios dos entes federativos (nunca menos que 18%, da União e, 25% para os estados, Distrito Federal e municípios), transferências, incentivos fiscais, salário educação, dentre outros. Importante destacar que os recursos são vol- tados para a remuneração e o aperfeiçoamento dos profissionais da educação, bolsas de estudos, infraestrutura, levantamentos estatísti- cos, pesquisas, aquisição de materiais didáticos, transporte escolar – tudo sob a aprovação de órgãos fiscalizadores. E, por último, os Títulos VIII e IX trazem algumas disposições transi- tórias e gerais em relação aos povos indígenas, à educação a distância e ao Plano Nacional de Educação. 86 Políticas Educacionais Considerando os dispositivos dessa lei e a sua similaridade com a Constituição Federal de 1988, não podemos deixar de tecer e promo- ver todos os elogios possíveis para uma série de políticas públicas que foram implantadas a partir de então, como a criação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valoriza- ção do Profissionais da Educação), do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), do Prouni (Programa Universidade para Todos), dentre outros, com o objetivo de promover o acesso ao ensino superior. No entanto, continua uma luta entre os interesses públicos e pri- vados; a educação não se firmou em seus fundamentos e finalidades; resultados observados na aprendizagem não vêm ao encontro do que a lei prevê; há uma série de emendas e programas legislativos visando ao seu redirecionamento, que deixam dúvidas sobre interesses envol- vidos; representantes dos profissionais da educação não chegam a um denominador comum; entre outros. Entretanto, a busca por uma educação de qualidade é incansável, tanto é que em 2017 foi aprovada a Lei n. 13.415 (BRASIL, 2017c), que trouxe uma série de importantes alterações na LDB (BRASIL, 1996) para melhorar todo o processo, e uma contextualização do aprendizado para todos os níveis da educação – necessária para que o Plano Nacio- nal de Educação 2014-2024 tivesse efetividade. 4.2 O PNE 2014-2024: Lei n. 13.005/2014 VídeoConforme previsto no artigo 214 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), “a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estra- tégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvi- mento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades [...]”. Sobre o mesmo tema, a LDB (BRASIL, 1996), em seu artigo 9º, afirma que é função da União a elaboração do PNE, entretanto isso deve ser feito em colaboração com os estados, municípios e o Distrito Federal. Tal plano deve conduzir ao fim do analfabetismo, a um atendimento escolar de qualidade para todos, com formação humanística, científica, tecnológica e para o trabalho. Foi nessa direção que, em 9 de janeiro de 2001, foi aprovado o pri- meiro PNE, a Lei n. 10.172 (BRASIL, 2001a), que deveria ter vigorado até o decenal: vigência de 10 anos Glossário Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 87 ano de 2011 – no entanto, foi estendida até 2014, porque somente em 25 de junho de 2014 foi aprovado o atual PNE, Lei n. 13.005 (BRASIL, 2014). Uma pergunta que podemos nos fazer é: por que existiu essa lacuna entre o fim que era previsto do primeiro PNE e a publicação do segundo? O fato é que em dezembro de 2010, como se era de esperar, foi enca- minhado ao Congresso Nacional um projeto de lei relativo ao PNE 2011- 2020. Contudo, esse projeto não contemplava um do dos lados do tripé desejado pelos atores sociais da educação: o diagnóstico da realidade, do tripé diagnóstico-diretrizes-metas. Assim, a questão foi levada a debate. Após a tramitação na Câmara Federal, a redação foi remetida ao Senado no dia 25 de outubro. Nesse mesmo ano, o projeto tramitou pelas Comissões de Assuntos Econômicos (CAE), Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Educação (CE), que, finalmente, elaborou um PNE substituto que retornou à Câmara em 2 de janeiro de 2014. Com a apro- vação desse projeto pela Comissão Especial, em 3 de junho de 2014, a versão final foi aprovada pelo Plenário, culminando a Lei n. 13.005/2014. O interessante é que o PNE contou com a participação de represen- tantes dos poderes executivo das três esferas, do Congresso Nacional, da Conferência Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), da comunidade educacional, de algumas entidades científicas, de redes de movimentos e da sociedade civil vinculada ao setor privado, o que re- presentou avanços para a sociedade que sempre almejou uma educa- ção voltada para a formação de pessoas éticas, solidárias, respeitosas com a diversidade étnico-cultural, cidadãs e preparadas para o merca- do de trabalho. Na dinâmica da construção de um plano de educação faz-se necessário o desenvolvimento de um diagnóstico, com as devidas dire- trizes e metas que, no caso do PNE 2014 - 2024, aparecem contempladas. Também é importante destacar, desde já, que os projetos pedagógicos dos estados, Distrito Federal, municípios, tal como das instituição de educação básica mantidas pela União, precisam estar em consonância com o PNE, uma vez que todo projeto pedagógico é objeto de monitora- mento, por meio de avaliações realizadas pelo MEC, pelas Comissões de Educação da Câmara e do Senado, pelo Conselho Nacional de Educação, pelo Fórum Nacional de Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), objetivando produzir indi- cadores do rendimento escolar e de avaliação institucional. 88 Políticas Educacionais a. Quanto à educação infantil, consta na meta 1 do PNE (BRASIL, 2014) que ela deve ser universalizada para crianças de 4 a 5 anos (pré-escola) até o ano de 2016, e que ao menos 50% das crianças de até 3 anos deverão ser atendidas em creches até 2024. Análise: segundo o Observatório do Plano Nacional de Educa- ção - OPNE (TODOS..., 2020), conforme IBGE/PNADC, 93,8% das crianças se encontravam matriculadas na pré-escola até o ano de 2016; e, em abril de 2020, apenas 35,6% das crianças até os 3 anos de idade estavam sendo atendidas em creches. b. Quanto ao ensino fundamental, a meta 2 (BRASIL, 2014) prevê a sua universalização para a população de 6 a 14 anos, de modo que no último ano da vigência do PNE 95% dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, 98% da população de 6 a 14 anos se encontrava matriculada nesse nível, todavia, apenas 78,4% teriam concluído esse nível de en- sino na idade correta, o que pode significar certa dificuldade em atingir os 95% em 2024. c. Quanto ao ensino médio, a meta 3 (BRASIL, 2014) previu que toda a população de 15 a 17 anos tenha o atendimento desse nível de ensino até o ano de 2016 e que até o final do PNE exista uma taxa líquida de matrículas de 85%. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), a universalidade que de- veria ter sido atingida em 2016 não ocorreu, sendo que apenas 92,5% da população de 15 a 17 anos se encontrava matriculada; quanto à taxa de matrículas, em abril de 2020 se encontrava em 71,1%. d. Quanto à educação inclusiva, a meta 4 (BRASIL, 2014) estabelece que até 2024 o atendimento deveria ser universal para a população de 4 a 17 anos, preferencialmente na rede regular de ensino, além disso, também garante salas de recursos multifuncionais e serviços especializados. Análise: segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica (TODOS..., 2019, p. 46), a inclusão de alunos com deficiência “passou de 46,8%, em 2007, para 85,9%, em 2018. Entre 2017 e 2018, o crescimento foi de 17,4 pontos percentuais na Educação Infantil, 10,9 pontos no Ensino Fundamental e 23,4 percentuais no Ensino Médio”. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 89 e. Quanto à alfabetização, a meta 5 (BRASIL, 2014) estabelece que todas as crianças devem estar alfabetizadas no máximo até o final do 3º ano do ensino fundamental. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, é possível afirmar que apenas 45,3% dos estudantes matriculados até o 3º ano apresentaram aprendizagem adequada em leitura, e 66,1%, aprendizagem adequada em escrita. f. Quanto à educação integral, é prevista pela meta 6 em, pelo menos, 50% das escolas públicas, atendendo a, no mínimo, 25% dos alunos da educação básica até 2024. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, ha- via 15,5% de matrículas em escola pública em tempo integral. g. Quanto à qualidade da educação, a meta 7 estabelece melhorias a serem alcançadas relativas ao fluxo escolar e da aprendizagem, de modo a atingir as seguintes médias nacionais para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb): IDEB 2015 2017 2019 2021 Anos iniciais do ensino fundamental 5,2 5,5 5,7 6,0 Anos finais do ensino fundamental 4,7 5,0 5,2 5,5 Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2 Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020 o IDEB para os anos iniciais do ensino fundamental se encontrava em 5,8 – o que estaria na meta –, enquanto para os anos finais do ensino fundamental estava em 4,6 – bem abaixo da meta. h. Quanto à escolaridade média da população, a meta 8 (BRASIL, 2014) prevê um mínimo de 12 anos de estudos para a população de 18 a 29 anos – do campo, da região de menor escolaridade e dos 25% mais pobres –, além de propor igualar a escolaridade média entre negros e não-negros declarados, até 2024. Análise: segundo o OPNE (TODOS...,2020), a escolaridade da população se encontra em 10 anos; isso nos leva a pensar ser possível em 2024 atingir a meta. Quanto a atingir essa meta para os mais pobres dessa população, os dados apontam 10,2 anos de escolaridade. i. Quanto à alfabetização de jovens e adultos, a meta 9 (BRASIL, 2014) prevê erradicar o analfabetismo para a população com 15 anos ou mais e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional até 2024. 90 Políticas Educacionais Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020),em abril de 2020os dados apontam que 93,4% têm sido contemplado; quanto à redução na taxa de analfabetismo, até esta mesma data foi de apenas de 29%. j. Quanto à EJA e à educação profissional, a meta 10 (BRASIL, 2014) prevê um alinhamento de 25% das matrículas da EJA com o ensino fundamental e médio, até 2024. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, 0,5% dos matriculados na EJA do ensino fundamental e 3% dos matriculados na EJA do ensino médio estariam integrados à educação profissional. k. Quanto à educação profissional, a meta 11 (BRASIL, 2014) estabelece triplicar as matrículas no ensino médio, sendo 50% dessa expansão em estabelecimentos públicos. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, cons- tam 1.791.806 matriculados em educação profissional técnica, sendo 82,2% em estabelecimentos da rede pública. l. Quanto à educação superior, a meta 12 prevê para até 2024 um crescimento de 50% na taxa de matrículas, compreendida entre a faixa etária de 18 a 24 anos, devendo 40% dessa expansão ocorrer no segmento público. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, 44,4% da população de 18 a 24 anos se encontrava matriculada na educação superior e, entre esses, 21,5% em instituições públi- cas. Entretanto, nesse aspecto é preciso destacar que há políticas para a ampliação do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) e do Programa Universidade para Todos (PROUNI) – que muito podem contribuir. m. Quanto à titulação de professores da educação superior, a meta 13 prevê ampliar em 75% o número de mestres e doutores, sendo, no total, um mínimo de 35% de doutores, até 2024. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, 82,2% dos docentes eram mestres e doutores e, desse total, 43% tinham doutorado. n. Quanto a pós-graduação em nível stricto sensu, a meta 14 estabelece elevar, até 2024, para 60 mil mestres e 25 mil doutores o quadro de titulação de professores. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 91 Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, ha- via 64.432 mestres titulados e 22.901 doutores titulados. o. Quanto à formação de professores, a meta 15 (BRASIL, 2020) prevê para o prazo de um ano a implantação de uma política nacional de modo que, até 2024, todos os professores da educação básica sejam graduados no ensino superior e aqueles que atuam nas séries finais do ensino fundamental e médio tenham formação específica nas áreas em que atuam. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, 79,9% dos professores da educação básica tinham curso superior e apenas 56,8% que atuam nas séries finais do ensino fundamen- tal e do médio tinham formação específica nas áreas que atuam. p. Quanto à formação continuada e pós-graduação de professores, a meta 16 (BRASIL, 2020) estabelece, até 2024, que 50% dos professores da educação básica devam ter pós-graduação e que 100% desses docentes tenham curso de formação continuada. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, 46,2% dos professores da educação básica tinham pós-graduação e apenas 35,7% com formação continuada. q. Quanto à valorização dos profissionais da educação básica da rede pública, a meta 17 previu a equiparação salarial até 2020, com outros profissionais que possuem escolaridade equivalente. Análise: segundo o OPNE (TODOS..., 2020), em abril de 2020, apenas 71,7% dos professores da educação básica tinham rendi- mento médio comparado com os demais profissionais de mesma escolaridade, deixando claro que a meta não foi alcançada. r. Quanto ao plano de carreira docente para a educação básica e ensino superior públicos, a meta 18 (BRASIL, 2014) buscou garantir a existência de um plano até o ano de 2016 cujo piso salarial estivesse de acordo com os termos definidos no artigo 206, Inciso VIII da Constituição Federal. Análise: segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica (TODOS..., 2019, p. 113), “(dois anos após do ano limite de 2016), em 2018, o rendimento médio dos professores da educação bási- ca correspondia a 69,8% do salário médio dos profissionais com curso superior”. 92 Políticas Educacionais s. Quanto à gestão democrática da educação das escolas públicas, a meta 19 previu assegurar até o ano de 2016 condições que envolvessem critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como de consultas à comunidade. Análise: segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica (TODOS..., 2019, p. 116), em 2017, 7,8% dos estabelecimentos públicos de ensino não apresentavam Conselho Escolar. Em 61,8% dos conselhos, havia participação de todos os atores envolvidos no processo de en- sino e aprendizagem (professores, funcionários, alunos e pais); nos demais, a representação é menor, especialmente pela au- sência do corpo discente. t. Quanto ao financiamento da educação, a meta 20 prevê ampliar o investimento público no equivalente a 10% do PIB, até 2024. Análise: segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica (TODOS..., 2019, p. 118), “dados evidenciam a estagnação dos in- vestimentos em relação ao PIB na educação básica desde 2012; apenas na educação superior houve aumento de 0,2 percentuais do PIB entre 2014 e 2015, contribuindo para que o gasto público total passasse de 6,0% para 6,2% do PIB, nesse período”. Apesar de uma série de esforços de todos os atores educacionais envol- vidos com as metas do PNE e alguns bons resultados, há críticos que afir- mam que a educação não vai bem, mas não se sabe identificar o porquê. Dentre eles, destaca-se Cara (apud ESTEVES, 2019, p. 2) – coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação – que afirma que: o balanço das metas pelo Plano Nacional de Educação mostra que [...] o plano foi completamente escanteado. E a crise econô- mica não explica totalmente o problema. Porque perante a crise você tem que ser mais cirúrgico na sua tomada de decisão, e no Brasil, essa decisão vem secundarizando o direito à educação, desde o Brasil Império. Mas o que é patente é que após a Cons- tituição de 1988 [...] reduziram a ação da União em relação ao direito à educação. [...] Então, o resultado é que as metas estão estagnadas, asfixiadas em termos de recursos. No entanto, não podemos deixar de destacar que a Lei n. 12.858/2013 (BRASIL, 2013) estabelece que 75% dos royalties – tributos pagos ao go- verno federal pelas empresas que exploram petróleo como compen- O Plano Nacional de Educação 2014-2024 é composto de 20 metas a serem alcançadas, dentre elas, a que trata da valorização e reconhecimento dos profissionais da educação. Sabendo que esses profissionais são essenciais para a construção do conhecimento e da cidadania, você saberia informar qual é a política educacional do seu município para o atendimento dessa meta? Para resolver essa questão, você pode fazer uma entrevista com o atual gestor da Secretaria de Educação, ou com o Sindicado dos Professores, ou mesmo acessar os dados da Secretaria Municipal de Educação, via site. Atividade 1 Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 93 sação por possíveis danos ambientais causados pela extração – e 50% do Fundo Social do Pré-Sal são para a educação básica pública, o que significa um importantíssimo e expressivo recurso que pode promover mudanças profundas em toda a estrutura da educação, em todo o país, e que pode garantir o sucesso do PNE. 4.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais Vídeo Concomitante à construção da Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional, a comunidade educacional brasileira participou ativa- mente de debates e estudos em muitos eventos locais e mundiais de temas relativos à educação, para a construção de legislações e políticas educacionais que atendessem às necessidades de formação humanís- tica, cidadã e para o trabalho, e que estivem em consonância com os princípios da Constituição. Nessa dinâmica, a partir de um conjunto de propostas publicado em outubro de 1995pela Fundação Carlos Chagas – que trouxe a análise dos currículos implementados nos últimos dez anos em capitais e no Distrito Federal –, a Secretaria de Educação Fundamental do Ministério de Educação e do Desporto organizou um grupo constituído por atores educacionais, nacionais e internacionais, para elaborar uma proposta que servisse de referência nacional, resultando na construção de uma versão dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para os anos ini- ciais do ensino fundamental, que foi submetida a mais de 700 parece- res de secretários de educação – estaduais e municipais –, de técnicos e especialistas, de professores de universidades públicas e particulares, de sindicatos e de organizações, entre outros. Assim, em 1997, foram aprovados os PCNs para 1ª a 4ª séries do ensino fundamental (BRASIL, 1997) e, sob o mesmo processo, inicia- ram-se os trabalhos para a elaboração dos PCNs para os anos finais do ensino fundamental (BRASIL, 1998) – em apenas um ano, com 335 pa- receres, esse PCN foi aprovado. Nessa mesma direção, a Secretaria de Ensino Fundamental do Ministério da Educação e do Desporto também produziu e distribuiu o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil e o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas. 94 Políticas Educacionais Quanto aos PCNs para o ensino médio,o processo foi muito pare- cido: tendo em vista uma proposta interdisciplinar e contextualizada, com a participação de professores e técnicos de diferentes níveis, de técnicos da Secretaria de Educação Média e Tecnológica e de professo- res de várias universidades do país em áreas diversas de conhecimen- tos, os trabalhos foram concluídos em 2000 (BRASIL, 2000). É importante destacarmos que os Parâmetros Curriculares Nacionais são apenas referências de objetivos, conteúdos e didáticas para o ensino fundamental e médio, elaboradas pelo governo federal, sem qualquer obrigatoriedade ou vinculação para os demais entes da Federação. Toda- via, têm o importante objetivo de garantir a toda a população estudantil, independentemente de sua localidade ou condições socioeconômicas, o direito de conhecer e usufruir os conhecimentos reconhecidos pela comunidade educacional como necessários para o acesso a todo co- nhecimento, formação para o trabalho e exercício da cidadania em sua plenitude. Foi assim, então, que, de forma democrática e universal, as propostas curriculares dos estados, dos municípios e das escolas inte- grantes dos sistemas de ensino, passaram a ter uma fonte para buscar os fundamentos e processos para as suas propostas curriculares. A partir dessas observações, passaremos a apreciar cada um desses PCNs, considerando as suas estruturas no ensino fundamental e no ensino médio. Quadro 1 Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental Pa râ m et ro s C ur ric ul ar es N ac io na is Ensino Fundamental (EF) EF I – 1º ao 5º ano EF II – 6º ao 9º ano Língua Portuguesa Língua Portuguesa Matemática Matemática Ciências Naturais Ciências Naturais História e Geografia Geografia Arte Arte Educação Física Educação Física Te m as tr an sv er sa is Ética História Meio Ambiente Língua estrangeira Saúde Te m as tr an sv er sa is Saúde Pluralidade Cultural Pluralidade Cultural Orientação Sexual Meio Ambiente Orientação Sexual Fonte: Brasil, 1998. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 95 Quadro 2 Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino médio Pa râ m et ro s C ur ric ul ar es N ac io na is Ensino Médio (EM) Linguagens, Códigos e suas Tecnologias Língua Portuguesa Língua Estrangeira Moderna Educação Física Arte Informática Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias Biologia Física Química Matemática Ciências Humanas e suas Tecnologias História Geografia Sociologia, Antropologia e Política Filosofia Fonte: Brasil, 2000. Ao apreciar as competências e habilidades esperadas por cada um desses componentes curriculares, para as crianças e adolescentes, compreendemos que todas, de forma interdisciplinar, objetivam a for- mação da personalidade da pessoa, participação social efetiva, aquisi- ção e construção de conhecimentos, preparo para o trabalho, vida em solidariedade, e construção da cidadania. Para uma melhor compreensão das competências e habilidades a se- rem desenvolvidos pelos componentes curriculares, buscamos avaliar, nos três PCNs, aquelas entendidas como centrais. São elas: Língua Portuguesa Ensino fundamental I e II Desenvolver a capacidade do uso da linguagem e suas formas de registro, compreender os textos orais e escritos, melhorar as relações pessoais, valorizar as variedades da língua e a linguagem do próprio grupo. Ensino médio Saber aplicar a língua, articular as dife- renças e semelhanças das linguagens oral e escrita, considerar a língua como fonte de acordos e condutas e enten- der os impactos das tecnologias da comunicação e da informação. 96 Políticas Educacionais Matemática Ensino fundamental I e II Identificar os conhecimentos matemáti- cos, fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos, resolver situações-problemas, estabe- lecer conexões entre temas matemá- ticos de diferentes campos e construir conhecimentos. Ensino médio Ler e interpretar textos matemáticos, exprimir-se na linguagem matemática, saber interpretar problemas e formular hipóteses, utilizar formas de raciocínios e validar conjecturas e relacionar a his- tória da matemática com a evolução da humanidade. Ciências Naturais Ensino fundamental I e II Compreender a natureza como um todo, formular questões sobre a natureza, com- preender a ciência como um processo de produção de conhecimento, diagnosticar e propor soluções para problemas e compreender a saúde pessoal, social e ambiental. Biologia Ensino médio Descrever processos do ambiente, utilizar códigos da biologia, relacionar fenômenos e fatos em biologia, estabelecer relações entre parte e o todo, reconhecer o ser huma- no como transformador e julgar ações de intervenção e preservação da vida. Física Ensino médio Compreender enunciados e códigos físicos elaborando sínteses estruturadas, conhe- cer e utilizar conceitos físicos, reconhecer a física como construção humana, estabele- cer relações entre a física e outras formas de expressões e emitir juízos de valor. Química Ensino médio Descrever transformações químicas, utilizar conceitos e fatos químicos, reconhecer aspectos químicos na interação individual e coletiva, reconhecer a importância da quí- mica no sistema produtivo e os seus limites éticos e morais. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 97 História Ensino fundamental I e II Identificar o grupo e suas relações, or- ganizar repertórios histórico-culturais, reconhecer mudanças e permanências, utilizar métodos de pesquisas, identi- ficar documentos históricos e fontes de informação e questionar a própria realidade. Ensino médio Conhecer e criticar fontes documentais, produzir textos analíticos, relativizar as concepções de tempo, estabelecer relações entre continuidade e per- manência, ruptura e transformações e atuar com crítica sobre a memória social instituída. Geografia Ensino fundamental I e II Conhecer o espaço, identificar e avaliar as ações dos seres humanos, com- preender a espacialidade e temporali- dade, utilizar procedimentos de pesqui- sas, fazer leitura da paisagem, valorizar o patrimônio sociocultural e melhorias nas condições de vida. Ensino médio Interpretar os códigos da geografia, reconhecer os fenômenos espaciais, elaborar investigações, analisar as rela- ções entre preservação e degradação da vida e analisar o impacto das trans- formações naturais, sociais, econômi- cas, culturais e políticas. Arte Ensino fundamental I e II Expressar-se em artes, interagir com materiais variados, edificar uma relação com a produção artística, compreender a arte como fato histórico,organizar informações sobre arte e construir uma relação de autoconfiança com a produção artística. Ensino médio Realizar produções artísticas, apreciar as diferentes formas, processos e produtos da arte, conhecer os critérios culturalmente construídos para a arte, analisar, respeitar e preservar as diver- sas manifestações de arte e construir a cidadania a partir da arte. Sociologia, Antropologia e Política Ensino médio Analisar discursos e produzir crítica, construir instrumentos para uma compreensão da vida, compreender manifestações culturais de etnias e segmentos sociais, com- preender as transformações no mundo do trabalho para a cidadania plena. Filosofia Ensino médio Ler textos filosóficos de diferentes estruturas e registros, ler criticamente o pensamen- to construído, articular e contextualizar conhecimentos filosóficos e diferentes conteú- dos e contextualizar conhecimentos filosóficos em sua origem e nos diversos planos. 98 Políticas Educacionais Educação Física Ensino fundamental I e II Participar de atividades corporais, adotar atitudes de respeito mútuo reconhecendo a pluralidade de mani- festações, solucionar problemas de or- dem corporal e conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e estética corporal. Ensino médio Demonstrar autonomia nas atividades corporais, assumir práticas de ativida- des físicas, reconhecer a convivência, compreender o funcionamento do organismo humano, refletindo sobre a cultura corporal,e compreender as ma- nifestações da cultura corporal. Informática Ensino médio Construir protótipos de sistemas automatizados, reconhecer novas ferramentas de aprendizagem, identificar equipamentos de informática, compreender conceitos com- putacionais e de rede e reconhecer o papel da informática na organização da vida. Língua Estrangeira Ensino fundamental II Identificar as línguas estrangeiras que cooperam nos sistemas de comunica- ção, reconhecer no estudo de línguas estrangeiras o acesso a bens culturais da humanidade, construir conhecimen- to sistêmico e consciência linguística e valorizar a leitura como fonte de informação. Ensino médio Conhecer e utilizar línguas estrangei- ras, utilizar as estratégias verbais e não verbais, compreender a relação existente entre a língua e os aspectos sociais e culturais, analisar os recursos da linguagem verbal e distinguir as va- riantes linguísticas. Ética (Tema transversal 1 ) É previsto para o ensino fundamental o desenvolvi- mento de alguns conteúdos voltados exclusivamente para a construção da realidade social do estudante, e de seus direitos e responsabilidades, como pessoas e membros da comunidade. Como tais conteúdos podem ser desenvolvidos dentro das demais disciplinas, ou mesmo por meio de atividades complementares, que são entendidos como temas transversais. No entanto, se for desejo do estabelecimento de ensino, podem ficar na matriz curricular como disciplinas. 1 Ensino fundamental I Compreender o conceito de justiça, adotar atitudes de respeito pelas diferenças, compreender a vida escolar como participação, valorizar o diálogo e construir uma imagem positiva de si. Meio Ambiente (Tema transversal) Ensino fundamental I e II Conhecer e compreender criticamente noções relacionadas ao meio ambiente, adotar posturas ambientalmente sustentáveis, perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural e identificar-se como parte integrante. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 99 Saúde (Tema transversal) Ensino fundamental I e II Compreender a saúde como um direito de todos e de cidadania, conhecer e utilizar formas de intervenção individual e coletiva no aprimoramento da saúde, adotar hábi- tos de autocuidado e responsabilizar-se pela própria saúde. Pluralidade Cultural (Tema transversal) Ensino fundamental I e II Compreender e se posicionar de maneira crítica na diversidade, conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, perceber-se como integrante, co- nhecer, cuidar e utilizar-se das diferentes linguagens culturais e questionar a realidade. Orientação Sexual (Tema transversal) Ensino fundamental I e II Respeitar a diversidade, conhecer o próprio corpo, identificar e expressar os próprios sentimentos, desenvolver a consciência crítica de respeito às individualidades e procu- rar orientações adequadas relativas à sexualidade. Considerando os Parâmetros Curriculares Nacionais para a educação infantil, o ensino fundamental e o médio, assim como os seus componentes curriculares específicos, com base nos estudos e nas reflexões desenvolvidas, quais seriam os componentes curriculares que objetivam a formação da cidadania? Para responder a esta questão, faz-se necessário compreender o que é a cidadania, e analisar as competências e habilidades esperadas por cada um dos componentes curriculares. Atividade 2 4.3.1 Base Nacional Comum Curricular É importante destacarmos que – conforme previsto na meta 7 do Plano Nacional de Educação – a Secretaria de Educação Básica do MEC, em conjunto com uma infinidade de outros atores da comunidade educacional, iniciou o processo da elaboração de uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), um documento em que constam com- petências, habilidades e aprendizagens para todos os estudantes do país, independente dos lugares onde vivem, estudam e suas condições socioeconômicas. Assim, em 2017, a BNCC ficou pronta e, a partir de então, o Con- selho Nacional de Educação – conforme previsto na Lei n. 9.131/1995 (BRASIL, 1995) – passou a estudá-la e apreciá-la por meio de audiências públicas de caráter consultivo, uma vez que tal documento se propu- nha a abranger necessidades, interesses, etnias e aspectos culturais da pluralidade de regiões que o país comporta, em busca da construção de uma norma nacional. Nessa direção, em dezembro de 2017, foi homologada a BNCC para a educação infantil e o ensino fundamental e, em dezembro de 2018, A BNCC é um documento construído pelo MEC, em parceria com o Consed e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), visando à delimitação e à definição das compe- tências e habilidades a serem desenvolvidas e promovidas durante as etapas e modalidades da educação básica, em conformidade com os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal, na LDB e no PNE. No site, o documento está dividido em abas, de modo a proporcionar facilidade e rapidez no acesso, indo direto ao tema que você desejar. Disponível em: http://basenacional- comum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 26 maio 2020. Leitura 100 Políticas Educacionais foi homologada a BNCC para o ensino médio. Com a BNCC normatiza- da, o país todo sabe quais competências, habilidades e aprendizagens devem ser proporcionadas e desenvolvidas para toda a educação bá- sica. Desse modo, os PCNs – que até então eram apenas referências para a construção dos currículos escolares – foram normatizados num novo documento intitulado Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017-2018), de aplicação obrigatória. No entanto, é preciso destacar que a BNCC, dentre outras mudanças muito importantes, preservou as diretrizes dos PCNs e promoveu algumas adequações nas nomenclatu- ras e nos currículos: Com implantação prevista para todas as escolas até 2020, sua finalidade é a de promover a formação humana integral da criança por meio do brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se, experimentar e aprender as relações e importâncias que têm o eu, o outro e nós / corpo, gesto e movimentos / traços, sons, cores e formas / a escuta, fala, pensamento, e imaginação / espaços, tempos, quantidades, relações e transformações, bem como formação para uma atuação justa, democrática, inclusiva e de harmoniosa convivência. Educação infantil Ficou definida a sua implantação em todas as escolas até 2020, sob a expectativa de a alfabetização ocorrer durante os 1º e 2º anos. Esse nível ficoudividido entre as áreas de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino religioso, com competências específicas para cada um dos componentes dentro dessas áreas. Ensino fundamental Língua Portuguesa e Matemática passaram a ser ofertadas nas três séries, tendo como foco o protagonismo e a autonomia do jovem e o mundo do trabalho, além da existência de um constante diálogo das competências e habilidades com a educação integral. Nesse nível, o ensino ficou dividido nas seguintes áreas do conhecimento: linguagens e suas tecnologias, matemática e suas tecnologias, ciências da natureza e suas tecnologias, ciências humanas e sociais aplicadas. Ensino médio Como podemos observar, quanto a diretrizes para uma efetiva edu- cação escolar de qualidade para a população estudantil, com a BNCC o país fica bem estruturado. Porém, é preciso saber se em cada estabe- lecimento de ensino a base realmente acontece como o previsto e se a comunidade participa, ou não, da construção das políticas educacio- nais previstas. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 101 4.4 Políticas educacionais vigentes Vídeo Sabemos que políticas educacionais são projetos, planos, progra- mas e ações voltados para a formação escolar da população, para as pesquisas e construção de conhecimentos, para a formação para o mundo do trabalho e cidadania, elaborados pela sociedade civil orga- nizada, bem como pelos governos federal, estaduais e municipais, em consonância com os dispositivos constitucionais, com a LDB (BRASIL, 1996) e com a Base Nacional Comum Curricular. Entretanto, omissões dos governos com relação à educação podem ser consideradas políti- cas – e merecem especial atenção dos agentes da educação –, confor- me afirma Teixeira (2002, p. 2): são, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formu- ladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos. [...]. Devem ser consideradas também as “não ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas, pois re- presentam opções e orientações dos que ocupam cargos. Dentre as políticas públicas educacionais implantadas a partir de 1996, destacamos algumas voltadas para o ensino e a pesquisa, para o atendimento especializado de alunos com deficiência e/ou residentes no campo e/ou prisioneiros e/ou fora da idade própria, para a valori- zação do magistério e outras relativas a recursos etc., que iremos deli- near nesta obra. Programa da Escola Básica Ideal Pela Portaria do MEC n. 3.670/2003 (BRASIL, 2003), sob a coorde- nação da Secretaria Executiva do Ministério da Educação e participa- ção do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), foi institucionalizado de abrangência nacional, numa parceria com os go- vernos federal, estaduais e municipais. Esse programa visa assegurar infra-estrutura física, imobiliários, utensílios, equipamentos, materiais didático-pedagógicos, bem como atendimento por todos os programas do MEC aos estabelecimentos de ensino: Programa Brasil Alfabetizado Em 2004, foi implantado um programa de apoio técnico e financeiro voltado para a alfabetização de jovens fora da idade própria, adultos e idosos, para todas as regiões do país, no entanto, quando implantado, 102 Políticas Educacionais foi indicado prioritariamente para os municípios que tinham alta taxa de analfabetismo. Para essa população, visando auxiliá-la em relação ao transporte escolar, pela Lei n. 10.880/2004 (BRASIL, 2004b), foi ins- tituído o Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), bem como o de apoio aos sistemas de ensino no atendimento à edu- cação de jovens e adultos. Três anos depois, , todo o programa foi reorganizado, dando origem ao Programa Brasil Alfabetizado, preten- dendo à universalização do atendimento da alfabetização de jovens e adultos, com 15 anos ou mais, já que até então o atendimento tinha uma conotação prioritária. Programa Caminho da Escola O programa Caminho da Escola, instituído pelo Decreto n. 6.768/2009 (BRASIL, 2009), é um programa que se volta para a garantia do trans- porte escolar para alunos das zonas rurais e ribeirinhas que dele pre- cisam. E, normatizando esse benefício, o decreto estabelece as formas para a aquisição, renovação, padronização e ampliação da frota de veí- culos que farão o transporte desses estudantes. Programa Valorização e Formação de Professores e Trabalhadores da Educação Básica Para atender a meta 17 do PNE 2014-2024, o Decreto n. 8.752/2016 (BRASIL, 2016) veio para instituir a política nacional de formação dos profissionais da educação com diretrizes para uma formação de quali- dade, com gestão democrática, carreira valorizada e bem remunerada. É uma preocupação que precisa ser atendida, uma vez que as Diretrizes Nacionais do Conselho Nacional de Educação e a BNCC preveem a pro- moção dessas diretrizes e, quando da avaliação institucional, a valori- zação e formação dos professores é um dos itens a ser apreciado pelos avaliadores, como prescreve o artigo 1º, parágrafo 3º. Mais ainda: o decreto afirma, no artigo 2º, inciso IX, que a formação dos profissio- nais da educação deve ter como princípios políticas contínuas de in- centivo à progressão na carreira e a indicação de procedimentos que levem à melhoria das condições de remuneração e garantias dignas de trabalho. Veja que, quanto à forma para essa valorização, o mesmo de- creto determina que deve existir, efetivamente, uma “cooperação com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nos processos de ingresso e fortalecimento dos planos de carreira, melhoria da remu- Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 103 neração e das condições de trabalho, valorização profissional e do espaço escolar” (BRASIL, 2016). Contudo, questões referentes à valorização dos profissionais da educação já ocorrem há muito tempo, especificamente a partir do mo- mento que o tema foi regulamentado pela Lei n. 11.494 (BRASIL, 2007c), com os fundos previstos até o dia 31 de dezembro de 2020. Nessa le- gislação consta que 20% dos recursos das fontes de receita dos Fundos previstas no seu artigo 3º, dentre outras fontes acrescidas posterior- mente, serão destinadas à Manutenção e Desenvolvimento da Educa- ção Básica e Valorização dos Profissionais da Educação; e, segundo o artigo 22, “pelo menos 60% (sessenta por cento) dos recursos anuais to- tais dos Fundos serão destinados ao pagamento da remuneração dos profissionais do magistério da educação básica em efetivo exercício na rede pública”. Quanto às fontes de receitas dos fundos (artigo 3º), são: ITCMD, ICMS, IPVA, parcela do produto da arrecadação do im- posto que a União eventualmente instituir [...], parcela do pro- duto da arrecadação do ITR, relativamente a imóveis situados nos Municípios, parcela do produto da arrecadação do imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza e do IPI devida ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal, parcela do produto da arrecadação do imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza e do IPI, parcela do produto da arrecada- ção do IPI devida aos Estados e ao Distrito Federal, receitas da dívida ativa tributária relativa aos impostos previstos, bem como juros e multas eventualmente incidentes. (BRASIL, 2007c) Programa Benefício de Prestação Continuada na Escola Por meio do Decreto n. 6.214/2007 (BRASIL, 2007b), envolvendo o MEC, o Ministério da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, e os municípios, estados e Distrito Federal, o Estado brasileiro regulamentou o Bene- fício de Prestação Continuada ao estudante com deficiência (que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas– artigo 4º) e à pessoa com 65 anos ou mais, desde que esteja estudando e comprove não possuir recursos e nem de tê-lo provido por sua família. A proteção de que trata o programa visa à concessão de um salário mínimo mensal para que essa população possa enfrentar melhor a pobreza e ter alguma 104 Políticas Educacionais garantia de proteção social, criando condições para uma autonomia, participação social e emancipação. É importante destacarmos também que esse programa possibilita a formação de gestores para a educação inclusiva e para a acessibilidade. Portanto, é um programa social que se volta para uma população muito vulnerável e que também frequenta os estabelecimentos de ensino e outros espaços de educação. Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - PRONATEC Em 2011, por meio da Lei n. 12.513/2011 (BRASIL, 2011), foi criado o PRONATEC, com a finalidade de ampliar a oferta de cursos de edu- cação profissional e educação tecnológica, gratuitamente e a distân- cia, nas redes federal e estaduais, destinado a: alunos matriculados no ensino médio regular ou na EJA, trabalhadores em geral, beneficiários dos programas federais de transferência de renda e alunos egressos do ensino médio de escolas públicas. Para a efetividade do programa, firmaram-se parcerias com instituições da rede federal de educação profissional, científica e tecnológica, com instituições de educação pro- fissional e tecnológica das redes estaduais, municipais e do Distrito Fe- deral, com instituições dos serviços nacionais de aprendizagem e com instituições privadas de ensino. É importante destacar que o programa se volta para a dis- ponibilização de apoio financeiro ao estudante por meio de Bolsa-Formação Estudante, Bolsa-Formação Trabalhador, bem como para o financiamento da educação profissional e tecnológica, apoio técnico e estímulo para uma maior expansão de oferta de vagas para as pessoas com deficiência – apoios muito bem-vindos para todos aqueles que precisam. Porém, quando se faz uma avaliação dos resul- tados desse programa, a percepção não é muito animadora: segundo um relatório construído pela Comissão da Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal (BRASIL, 2017a), no ano de 2017: • houve falhas na fiscalização, regulação, acompanhamento e exe- cução dos cursos ofertados; • os cursos ofertados eram de baixa complexidade tecnológica; • o programa favoreceu mais a rede privada; • professores que trabalharam nos cursos tiveram grandes dificul- dades em receber seus salários; Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 105 • por não ter sido exigida a prestação de contas ao MEC pelo rol das instituições de ensino participantes, os dados registrados so- bre o programa não são confiáveis; • até 70% dos alunos abandonaram os estudos; • pessoas que fizeram os cursos ofertados têm tido as mesmas chances de vagas no mercado de trabalho que têm os que não o fizeram; e, • o programa dificilmente atingirá 5,2 milhões de alunos matricu- lados – conforme previsto –, considerando que em 2017 havia apenas 1,7 milhão. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego é bastante amplo e, naturalmente necessário e muito importante para a população estudantil do Brasil, considerando o perfil socioeconômi- co da maioria da população. Todavia, é um programa que precisa ser continuamente aprimorado, considerando adversidades próprias do mundo do trabalho. Programa Universidade para Todos - PROUNI Por meio da Lei n. 11.096/2005 (BRASIL, 2005), foi instituído o PROUNI, que era destinado à concessão de bolsas de estudo integrais ou parciais de 50%, ou de 25%, para estudantes de cursos de gradua- ção e sequenciais, de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos, voltado para estudantes que tenham cursado todo o seu ensino médio em rede pública, ou como bolsista em rede privada, para pessoas com deficiência, para os que obtiverem boa pontuação no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e, também, para o professor de rede pública que queira cur- sar licenciatura e pedagogia. Quanto às empresas participantes, como contraprestações, ficariam isentas na vigência do termo da adesão dos seguintes impostos e contribuições (art. 8º): • Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas; • Contribuição Social sobre o Lucro Líquido; e, • Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social. Podemos afirmar que o PROUNI é uma política pública educacional de grande relevância, considerando as dificuldades que muitos estu- dantes têm de acessar a educação superior, por não conseguirem nota suficiente nos exames de acesso às vagas nas instituições públicas, ou 106 Políticas Educacionais não terem condições econômicas para cursarem em instituições pri- vadas. No entanto, é importante considerarmos que há uma série de problemas envolvendo esse programa, e que precisa ter as devidas considerações, como as apontadas por Almeida et al. (2012, p. 899): quanto à efetiva democratização de acesso ao ensino] [...] o en- sino superior se abriu na realidade a estratos sociais e a públicos menos tradicionais neste nível de ensino; contudo, permanecem acentuadas assimetrias sociais nas instituições e nos cursos a que se tem acesso, ao mesmo tempo em que a permanência e abandono também se diferenciam socialmente em termos das respectivas taxas de incidência. Estes fenômenos têm causas di- versas, não sendo possível ilibar as próprias instituições de ensi- no superior de responsabilidades nesse cenário. Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI Conforme previsto na LDB (BRASIL, 1996) e sob uma série de estu- dos e debates sobre a educação superior, via Decreto n. 6.096/2007 (BRASIL, 2007a), foi instituído o REUNI, com o objetivo de criar condi- ções relativas à estrutura física e de recursos humanos para amplia- ção do acesso e permanência na educação superior. Como diretrizes, o programa busca a diminuição das taxas de evasão escolar, apoio à mobilidade estudantil pelas diversas instituições de ensino superior no país, reestudos da estrutura acadêmica, maior número de modalida- des de cursos de graduação, aumento e apoio às políticas de inclusão e assistência estudantil e uma articulação mais organizada e com signifi- cado entre a educação básica e a educação superior. Com o objetivo de dar conhecimento sobre os resultados dos di- versos processos de expansão ocorridos nos últimos dez anos por meio do REUNI, um Relatório da Comissão, constituída pela Portaria do MEC n. 126/2012 (BRASIL, 2012), concluiu ser uma política pública educacional que muito tem contribuído com o ensino superior, cujos resultados podem ser quantificados e apreciados pela comunidade, em geral, a saber: Esta fase [...], por meio do Reuni, trouxe um expressivo cresci- mento não somente das universidades federais, mas também de campus no interior do país. De 2003 a 2010, houve um salto de 45 para 59 universidades federais [...]; e de 148 campi para 274 cam- pus/unidades [...] A interiorização também proporcionou uma expansão no país quando se elevou o número de municípios Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 107 atendidos por universidades federais de 114 para 272 [...]. Ainda no âmbito da integração e do desenvolvimento regional, des- tacam-se a criação de 47 novos campi no período entre 2011 e 2014 e os processos em tramitação no Congresso Nacional dos projetos de lei que criam outras quatro universidades: Universi- dade Federal do Sul da Bahia [...], Universidade Federal do Oeste da Bahia [...], Universidade Federal do Cariri [...] e Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará [...] (BRASIL, 2012). Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior - FIES Pela Lei n. 10.260/2001 (BRASIL, 2001b), foi criado o FIES como pro- grama do governo para financiar, em até 100%, cursos de educação profissional, técnicose tecnológicos, cursos de graduação, mestrado e doutorado não gratuitos, com avaliação positiva – na graduação, com conceito igual ou maior a 3 (no Sistema Nacional de Avaliação da Edu- cação Superior - Sinaes) e para mestrado e doutorado, aos que obe- decerem aos padrões de qualidade propostos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Para participar, o estudante precisa atender a alguns critérios: renda per capta familiar de até três salários mínimos para estudantes de todo o Brasil e renda per capita familiar de até cinco salários mínimos para estudantes das re- giões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Desde 2010, passou a ser exigido do estudante a participação em qualquer edição do ENEM, não tendo zerado a redação e tendo feito uma pontuação mínima de 450 pontos na prova. Há de se destacar que, como não se trata de uma bolsa de estudo, mas sim um financiamento, ao concluir o curso, inicia-se a fase de amortização. Quanto às receitas do FIES, estão previstas no artigo 2º da Lei n. 10.260/2001 (BRASIL, 2001b); dentre elas, as dotações orçamentárias consignadas ao MEC, os encargos e sanções contratualmente cobrados nos financiamentos concedidos ao amparo dessa lei, multas decorren- tes de sanções aplicadas por descumprimento dos preceitos dessa lei e demais normas que regulamentam o FIES, os encargos e sanções con- tratualmente cobrados nos financiamentos concedidos no âmbito do Programa de Crédito Educativo, rendimento de aplicações financeiras sobre suas disponibilidades e receitas patrimoniais. É importante salientarmos que, mesmo sendo um programa muito bem delineado e avaliado pela população estudantil, seus resultados amortização: redução de uma dívida. Glossário 108 Políticas Educacionais não têm sido os melhores, conforme Diagnóstico FIES, do Ministério da Fazenda (BRASIL, 2014b, p. 5): no entanto, vale ressaltar que o Fies não tem sido eficaz no cum- primento da meta do Plano Nacional da Educação (PNE). Uma das metas do PNE é elevar a taxa bruta de matrícula no ensino superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, sendo que pelo menos 40% das novas matrículas devem ocorrer nas IES públicas. O que aconteceu é que o núme- ro de financiamentos concedidos pelo Fies ultrapassou o total de novas matrículas no segmento privado, o que significa que parte dos alunos já matriculados em IES privadas passou a ser financia- dos pelo programa, conforme apontado na tabela abaixo. Assim como outras políticas públicas educacionais, o FIES tem sido de grande relevância para a educação superior, considerando que sem esse apoio, possivelmente um expressivo número de pessoas interessadas em cursar ensino superior estivessem fora das faculda- des e universidades. Por isso, é um programa que merece os devidos valores da comunidade. 4.5 Legislação da educação superior Vídeo Conhecer e compreender a legislação da educação superior é muito importante. Entretanto, por ser um tema muito amplo, por isso citare- mos aqui apenas as legislações federais mais contemporâneas. Princípios e finalidades da educação superior Segundo a LDB, a educação superior tem princípios que precisam ser inscritos em todas as propostas de ensino dos estabelecimentos. O artigo 3º traz destaque para a igualdade de acesso, a gratuidade do ensino público, a valorização do docente, a prática da gestão demo- crática e garantia de qualidade, com liberdade de pensamento, con- vivência com pluralidades de ideias e respeito às diferenças. Noutra linha, indica a importância da coexistência de instituições de ensino – tanto públicas, quanto das privadas. As finalidades da educação superior apresentam-se no artigo 43 e, dentre elas, destacam-se: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; [...] III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação [...]; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos [...]; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional A obra Políticas e gestão da educação: desafios em tempos de mudanças apresenta uma profunda reflexão sobre as relações entre Estado e a sociedade a respeito de temas como políticas públicas, gestão e avaliação educacionais, democratização do direito à escolarização, demo- cracia representativa e participação ativa. É uma obra indicada para todos os profissionais que atuam nos espaços da educação, bem como para todo pen- sador e pesquisador. MARTINS, A. M. et al. Campinas, SP: Autores Associados, 2013. Livro Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 109 e possibilitar a correspondente concretização, integrando os co- nhecimentos [...]; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, pres- tar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população [...]. Ao apreciar tais princípios e finalidades, podemos observar uma amplitude que atinge as várias faces de uma educação democrática e de qualidade, o respeito e a valorização da pessoa enquanto estudante, as relações entre as culturas, a valorização do profissional da educação e uma implícita relação entre aprender, ser, conviver e conhecer. Regulação de instituições da educação superior Segundo os artigos 15, 16 e 17, do Decreto n. 9.235, de 15 de dezem- bro de 2017 (BRASIL, 2017b), são credenciadas para a oferta de cursos superiores de graduação e de pós-graduação as instituições de ensino de acordo com a seguinte organização: • Faculdade: instituição que oferta curso de graduação numa área específica e depende de autorização prévia do MEC. A alteração para centro universitário pode ser requerida quando fizer seu re- credenciamento, atendendo aos critérios exigidos. • Centro universitário: instituição que oferta atividades de ensi- no, pesquisa e extensão em uma ou mais áreas do conhecimento (humanas, biológicas, jurídicas e exatas) e independe de autori- zação para funcionamento, devendo apenas informar os cursos criados para a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação. Entretanto, a autorização de funcionamento para esse tipo de instituição vai depender se possui 1/5 de seus docentes em regime de tempo integral, 1/3 de seus docentes como mestre ou doutor; se tem no mínimo 8 cursos reconhecidos, se possui programa de extensão nas áreas do conhecimento abrangidas por seus cursos de graduação e programa de iniciação científica, se obteve Conceito Institucional maior ou igual a 4 na avaliação externa, e se não foi penalizada em processo administrativo de supervisão nos últimos dois anos. • Universidade: instituição que oferta atividades de ensino, pes- quisa e extensão em todas as áreas de conhecimento (humanas, biológicas, jurídicas e exatas) e independe de autorização para funcionamento, devendo apenas informar os cursos criados para 110 Políticas Educacionais a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação. Aqui também há uma série de critérios que precisam ser contemplados para adquirir a autorização para este tipo de instituição: deve possuir 1/3 do corpo docente em regime de tempo integral, e 1/3 com titulação de mestrado ou doutorado; ter, no mínimo 60% de seus cursos de graduação com conceito satisfatório na avaliação externa, possuir programa de extensão nas áreas do conhecimento abrangidas por seus cur- sos de graduação, ter programa de iniciação científica, ter obtido Conceito Institucional maior ou igual a 4 na avaliação externa, oferecer regularmente quatro cursos de mestrado e dois de dou- torado reconhecidos, e não ter sido penalizada em processo ad- ministrativo de supervisão nos últimos dois anos. Segundo o senso da educação superior, realizado em 2018 pelo Inep, a situação quanto àssuas instituições de ensino (IE) é a seguinte: Das 2.448 IES brasileiras, 82,5% são faculdades. As 199 univer- sidades existentes no Brasil equivalem a 8,1% do total de IES. Por outro lado, 53,6% das matrículas da educação superior estão concentradas nas universidades. Apesar do alto número de fa- culdades, nelas estão matriculados apenas 1/4 dos estudantes. Em 2017, 35.380 cursos de graduação e 63 cursos sequenciais foram ofertados [...]. Dois terços das IES oferecem 100 ou mais cursos de graduação e 26,7% das IES ofertam até dois cursos de graduação. Em média, as IES oferecem 14 cursos de graduação; 92% dos cursos de graduação nas universidades são na modali- dade presencial. O grau acadêmico predominante dos cursos de graduação é o bacharelado (58,7%) (DADOS..., 2018). Credenciamento e recredenciamento de instituições para a educação superior Esses processos estão normatizados no Decreto n. 9.235, de 15 de dezembro de 2017 (BRASIL, 2017b). • Quanto ao credenciamento de uma instituição privada, segundo o artigo 18, fica condicionada a edição prévia de ato do Ministério da Educação, e será acompanhado do ato de autorização para a oferta de, no mínimo, um curso superior de graduação; • Quanto ao recredenciamento, segundo o artigo 25, o pedido é protocolado junto à Secretaria de Regulação e Supervisão da Edu- cação Superior do Ministério da Educação, e ocorre quando há pedido de credenciamento para nova modalidade. Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 111 Autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos da educação superior É importante destacar que os cursos superiores precisam ser au- torizados pelos órgãos competentes, caso contrário, não terão valida- de. Para isso, segundo o Decreto n. 9.235, de 15 de dezembro de 2017 (BRASIL, 2017b), a oferta de cursos de graduação em faculdades depen- de de autorização prévia do Ministério da Educação e, se for em univer- sidades e ou centro universitários, segundo o artigo 40, deverão apenas informar à Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior. Em relação ao reconhecimento e registro, encontram-se inscritas, no ar- tigo 45, as condições necessárias à validade nacional e à busca pelo re- conhecimento, que deve ocorrer no período compreendido entre 50% e 75% do curso integralizado. Contudo, a validade desse reconhecimento geralmente não é superior a cinco anos. Por isso, as instituições devem solicitar com a devida antecedência ao SESU/MEC, a constituição de Co- missão de Avaliação, para a devida renovação do reconhecimento. Encerramento da oferta de cursos e descredenciamento de ins- tituições de educação superior Esse tema também se encontra previsto no Decreto n. 9.235/2017 (BRASIL, 2017b). Nele consta que, além de outros processos, para ocorrer o encerramento de cursos e descredenciamento da instituição, a mantenedora deve vedar ingresso de novos estudantes, entregar os registros e documentos acadêmicos aos estudantes, promover a oferta final de disciplinas e a transferência de estudantes. Avaliação da educação superior – Sinaes Visando melhorar o mérito e a qualidade, assim como orientar a ex- pansão e promover a responsabilidade social da instituição de ensino superior, pela Lei n. 10.861, de 14 de abril de 2004 (BRASIL, 2004a) – com- plementada pelo Decreto n. 9.235, de 15 de dezembro de 2017 (BRASIL, 2017b) – ficou instituído o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Esse sistema – coordenado e supervisionado pela Co- missão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes) – com- preende a avaliação das instituições, a avaliação dos cursos superiores e a avaliação do desempenho dos estudantes, que ocorre por meio de uma auto-avaliação, de uma avaliação externa, e do Exame Nacional de Desem- penho Estudantil (Enade), tudo buscando medir como se encontra o en- sino, a pesquisa, a extensão, a responsabilidade social, a gestão, o corpo 112 Políticas Educacionais docente e as instalações da instituição. Todo o resultado dessa avaliação é utilizado pela própria instituição a fim de aprimorar seus serviços e con- teúdos, além de subsídios para os atos regulatórios de recredenciamento da instituição e renovação de reconhecimento de cursos. Educação superior na forma EaD A educação a distância no ensino superior está regulada no Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017 (BRASIL, 2017a), que regulamentou o artigo 80 da LDB, em que se afirma que “o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada” (BRASIL, 1996). Nessa direção, com esse decreto, a educação superior pode ser ofertada na modalidade a distância nos termos da legislação em vigor e das normas específicas expedidas pelo Ministério da Educa- ção, sendo submetida aos ditames do Sinaes (Lei n. 10.861/2004, que foi complementado pelo Decreto n. 9.235/2017), e todas as demais le- gislações já delineadas nesses estudos. A EaD ocorre na forma semipresencial – em que parte das aulas ocorre presencialmente, parte em ambiente virtual – e totalmente a distância. Pode atender cursos de bacharelado, licenciatura e cursos superiores de tecnologia. Os diplomas têm a mesma validade no mer- cado quanto os emitidos pelo formato presencial, desde que a institui- ção esteja completamente legalizada. Rotineiramente, conforme artigo 4 do Decreto n. 9.057/2017, o processo ocorre da seguinte forma: as atividades presenciais, como tutorias, avaliações, estágios, práticas profissionais e de laboratório e defesa de trabalhos, previstas nos projetos pedagógicos ou de desenvolvimento da instituição de ensino e do curso, serão realizadas na sede da instituição de ensino, nos polos de educação a distância ou em ambiente profissional, conforme as Diretrizes Curriculares Na- cionais (BRASIL, 2017a). Conforme destacado, fica a seu critério o interesse em ampliar os estudos relativo às legislações para a educação superior, considerando a gama de legislações existentes. No entanto, as legislações delineadas nesta seção são suficientes para você compreender o processo que en- volve os principais temas. Relativo ao Exame Nacional de Desempenho Estudantil (Enade), todos os estudantes de cursos superiores ingressantes (que tiverem concluído até 25% da carga horária mínima do currículo) e concluintes (que tiverem concluído mais de 80% da carga horária mínima do currículo) estão habilitados e são obrigados a participar – a não ser que sejam legalmente ou por situações atípicas dispensados. Como você compreendeu nos estudos, esse exame tem uma finalidade essencial e precisa ser respeitado pelos estudantes. Pergunta-se: considerando a sua experiência ou experiências de outros estudantes que já o realizaram, você tem uma percepção positiva ou negativa desse exame? Por quê? Atividade 3 Planejamento educacional e sistemas de ensino, a partir de 1996 113 CONSIDERAÇÕES FINAIS A cultura da pesquisa e das reflexões deve ser o foco do estudante, considerando a importância e responsabilidade que deve ter no desen- volvimento dos conhecimentos necessários para o aprimoramento da cultura, das ciências e da cidadania em sua comunidade – uma realidade cuja maior responsabilidade é da própria escola. Nessa direção, uma in- serção pelos temas da educação a partir do ano de 1996 pode fornecer as dinâmicas para se entender e compreender as circunstâncias em que a comunidade estudantil se encontra. REFERÊNCIAS ALMEIDA, L. et al. Democratização do acesso e do sucesso no ensino superior: uma reflexão a partir das realidades de Portugal e do Brasil. Revista da Avaliação da Educação Superior, Sorocaba, SP, v. 17, n. 3, p. 899-920, nov. 2012. Disponível em: http://www.scielo. br/pdf/aval/v17n3/a14v17n3.pdf. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF10518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 6.096, de 24 de abril de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 abr. 2007a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2007/decreto/d6096.htm. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 6.214, de 26 de setembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 set. 2007b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2007-2010/2007/Decreto/D6214.htm. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 6.768, de 10 de fevereiro de 2009. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 fev. 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2007-2010/2009/Decreto/D6768.htm. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 8.752, de 09 de maio de 2016. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 maio 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2016/Decreto/D8752.htm. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 9.057, de 25 de maio de 2017. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 maio 2017a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2017/decreto/d9057.htm. Acesso em: 27 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 9.235, de 15 de dezembro de 2017. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 dez. 2017b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9235.htm#art107. Acesso em: 21 maio 2020. BRASIL. Lei n. 9.131, de 24 de novembro de 1995. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 25 nov. 1995. 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Para saber se a meta do Plano Nacional de Educação 2014-2024 relativa à valorização e reconhecimento dos profissionais da educação tem sido promovida pelas políticas educacionais no município onde reside, você pode fazer uma pesquisa direta no site da Secretaria Municipal de Educação, no site do Sindicato dos Professores ou mesmo fazer uma entrevista com os gestores desses órgãos. No entanto, é consenso entre os profissionais da educação de que não são valorizados pelo governo, tampouco pela sociedade. 2. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental e médio elencam a formação e desenvolvimento da cidadania para quase todos os componentes cur- riculares. No entanto, especificamente, podemos identificar essa competência e habi- lidade nos componentes: Língua Portuguesa, Sociologia, Antropologia e Política, Arte, Saúde, Filosofia e História. 3. Quanto ao Exame Nacional de Desempenho Estudantil, sabe-se que os estudantes têm realizado, considerando ser uma atividade obrigatória, uma vez que, caso não o faça, seu diploma de conclusão de curso não é emitido. No entanto, a emissão do diploma independe da nota que o estudante tira nessa avaliação. Por isso, significativa parcela da população estudantil do ensino superior assinala qualquer opção de res- posta, ou mesmo deixa o tempo mínimo passar para entregar a avaliação incompleta, não dando a devida importância para essa avaliação. 116 Políticas Educacionais 5 Gestão da educação: limites e perspectivas As políticas públicas educacionais devem ser implementadas nos estabelecimentos de ensino para os quais elas foram instituí- das por meio de uma gestão democrática, tanto nas escolas pú- blicas quanto nas particulares, em um processo no qual deve ser elaborado o projeto político-pedagógico (PPP), visando atender aos postulados da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), do Plano Nacional de Educação (PNE) vigente, bem como às necessidades socioculturais da comunidade; desse modo, a gestão deve se man- ter atenta às políticas de financiamento da educação existentes e dar sustentabilidade à consecução do PPP. No entanto, mesmo sob uma expectativa positiva sobre os resul- tados almejados do PPP – o que é de se esperar –, nem sempre os objetivos e as finalidades pretendidas são alcançadas, considerando as adversidades, que são comuns nas dinâmicas do cotidiano so- cial, as quais podem levar a certos impasses e impactar a todos ou a uma significativa parte dos processos educacionais. Assim, para fazer frente – quando necessário – à organização desses modelos e redirecionamentos de perspectivas, aos gestores e governos são disponibilizados instrumentos, como questionário, entrevista, ob- servação, portfólio, estudo em seminários, pesquisa em arquivos, análise de documentos, relatório etc. Esses instrumentos devem estar direcionados à coleta de dados e às informações relativas à instituição, em seus aspectos estruturais e de gestão, programas pe- dagógicos e de aprendizagem, projetos de responsabilidade social, realidade sociocultural e econômica da comunidade em que se situa o estabelecimento de ensino, assim como outros elementos que cir- cunstanciam a vida escolar. Isso pode contribuir para a construção de um PPP que seja, de fato, efetivo no que se pretende atingir. Gestão da educação: limites e perspectivas 117 Sabemos que a escola, a faculdade, o centro universitário e a universidade são os locais onde se deve ocorrer a educação formal por excelência. Por isso, visando compreender os fundamentos e as funcionalidades da gestão educacional, este capítulo tem o objetivo de proporcionar estudos e reflexões que possam colaborar com uma visão ampla e consciente acerca dos campos em que a gestão escolar deve atuar democraticamente. Essa competente execução e o aprimoramento para uma educação de qualidade dependem de contínuas avaliações e tomada de decisões, considerando que as le- gislações e o PPP, por si só, nem sempre podem fazer acontecer o que representam e o que se propõem, principalmente se não houver a atuação efetiva dos atores educacionais por meio do gestor escolar. 5.1 A construção do projeto político-pedagógico Vídeo Com a Constituição Federal de 1988, os princípios e fundamentos para ações e controles das esferas da vida da sociedade foram garantidos (BRASIL, 1988). Levando em consideração que a educação está entre essas esferas – sendo considerada a mais importante para uma série de estu- diosos –, foi revestida pelo princípio da gestão democrática, conforme o artigo n. 206 da Magna Carta, no qual afirma-se que os atores da educação devem participar ativamente das políticas públicas educacionais, realizan- do estudos e debates em relação à apresentação de propostas, projetos e planos para a construção de uma estrutura de qualidade, tanto no campo pedagógico quanto no seu aspecto físico, podendo levar toda a comunida- de, de maneira aglutinadora, ao seu mais amplo desenvolvimento. Nessa direção, sob os fundamentos da solidariedade, da cidadania e da humanidade, por meio do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pú- blica, do qual participaram entidades nacionais, uma série de cinco Con- gressos Nacionais de Educação (Coned) foi realizada nos anos de 1996, 1997, 1999, 2002 e 2004, buscando divulgar e introduzir o pensamento e a ação da gestão democrática de ensino nos âmbitos público e particular, garantindo a autonomia de cada estabelecimento de ensino na organiza- ção, elaboração e execução de suas propostas pedagógicas, conferidas em seu PPP. O fato é que a autonomia e a gestão democrática no ensino 118 Políticas Educacionais já eram normas, conforme a LDB (BRASIL, 1996c), mas era preciso trazer tais temas para a vida escolar, no concreto: os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; [...] os docentes incumbir- -se-ão de: I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. [...] Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Veja que, conforme o artigo 12 da LDB, ficou instituído que o es- tabelecimento de ensino é o responsável por elaborar e executar a sua proposta pedagógica, respeitando as normas que são comuns ao sistema de ensino, como a BNCC, e as outras normas pertinentes ao tema. Entretanto, é muito importante ter a compreensão de que uma proposta pedagógica é um documento que formaliza a direção que o estabelecimento escolar – gestores, professores, alunos, familiares e outros membros da comunidade adjacente – vai seguir, ao optar pela execução de um modelo de ideias e procedimentos que envolve, além dos princípios e diretrizes legais e pedagógicas, a missão esco- lar, dados e informações dos estudantes e de seus familiares, formas de relações entre família e escola, tecnologias de comunicação, me- todologias de aplicação e avaliação do ensino, processos da gestão, origens e destinos dos recursos financeiros, momentos e prazos das realizações das atividades, eventos escolares, projetos de responsabi- lidade social (envolvendo a comunidade), dentre outros, todos sobo valor da identidade da escola e, também, da comunidade. Se focarmos nos termos projeto, político e pedagógico, quais são nossos primeiros pensamentos? Essa é uma reflexão que precisamos fazer, a fim de que não se reste qualquer dúvida em relação ao signifi- cado e à importância de um PPP. Gestão da educação: limites e perspectivas 119 O termo projeto significa que é um documento que visa à organização de técnicas e procedimentos propostos para desenvolver e promover os objetivos, as finalidades e os métodos que se pretendem utilizar para efetivar uma proposta. No caso de um PPP, sempre se deve considerar os interesses e as necessidades da comunidade onde o estabelecimento escolar está circunscrito. Portanto, projeto está relacionado a uma rotina de estratégias, por meio da qual se almeja atingir algum objetivo que foi entendido como necessário. O vocábulo político é utilizado porque o documento destina-se à organização de princípios e fundamentos que possam promover a formação de pessoas cidadãs, conscientes e engajadas na coletividade. Portanto, o PPP está voltado para o campo da moral e da ética, numa relação que prima por uma sintonia com a função social, que se pretende atingir na unidade escolar e na comunidade onde esse estabelecimento está inserido. Por fim, a palavra pedagógica é usada porque o documento, enquanto PPP, visa à organização dos processos do ensino, da aprendizagem, da avaliação, da pesquisa e da extensão. Isso ocorre por meio de métodos, técnicas e estratégias específicas para cada componente curricular e deve estar, ainda, de acordo com os perfis existentes na comunidade escolar interna. Nessas três esferas, portanto, podemos perceber que o PPP tem a função de conduzir a ideia de planos, os quais contemplam uma so- matória de princípios e fundamentos, com a indicação das devidas es- tratégias e com a organização que o estabelecimento escolar define para atingir determinados objetivos, almejados tanto pela comunida- de interna quanto pela externa; portanto, projeto é o que se pretende atingir, “o que lança para adiante”, conforme afirma Veiga (1995, p. 5). Assim, um projeto não tem o intuito de rever ou de propor algo para uma situação emergencial; mas, sim, de realizar uma ação intencional, que relaciona a realidade existente num determinado estabelecimen- to escolar com as possibilidades de sua superação ou aprimoramento, ambos permeados por uma política pensada por todos os atores da comunidade escolar. De acordo com Veiga (2003, p. 275), 120 Políticas Educacionais inovação e projeto político-pedagógico estão articulados, inte- grando o processo com o produto, porque o resultado final não é só um processo consolidado de inovação metodológica no inte- rior de um projeto político pedagógico, construído, desenvolvido e avaliado coletivamente, mas é um produto inovador que pro- vocaria também rupturas epistemológicas. Não podemos sepa- rar processo de produto. Ainda assim, é natural a possibilidade de o projeto sofrer alguma rup- tura com a realidade da comunidade para qual sua aplicação é planeja- da, uma vez que projeto é um “lançar-se” para algo desconhecido. Então, sendo algo desconhecido, não se pode prever qual será o resultado. Gadotti (1998, p. 19) vem ao encontro dessa reflexão quando afirma que: todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto edu- cativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. Mas, na prática, como é construído um PPP? De maneira geral, esse documento precisa contemplar uma série de itens e partes preestabelecidas, o que não significa que seja proibido acrescentar outros se a comunidade escolar desejar. Entre os aspectos necessá- rios a todo PPP, estão: • Introdução: é a parte do documento que deve constar a apre- sentação e justificativa do PPP, bem como a metodologia utiliza- da na elaboração deste. • Marco situacional: é a seção do documento na qual devem ser apresentadas as informações sobre o estabelecimento escolar, entre elas: identificação/CNPJ, endereço, mantenedora, atos le- gais de criação e normatização; história; objetivos; modalidades e níveis de ensino ofertados; currículo; número de alunos e de turmas; taxas de aprovação e reprovação; médias das notas; sis- tema de avaliação; recursos humanos disponíveis, como gestor, coordenadores, quadro de professores por componente curricu- lar, quadro de funcionários; organização física do espaço, com- preendendo salas, laboratórios, espaços desportivos, biblioteca, banheiros, cozinha, depósitos, secretaria; equipamentos para o Gestão da educação: limites e perspectivas 121 ensino e para as rotinas administrativas; recursos financeiros; e, por fim, características socioeconômicas e culturais da comuni- dade escolar. • Marco conceitual: é a parte do documento que deve expor os dados sobre o estabelecimento escolar, por exemplo: filosofia, missão, crenças, valores e princípios da instituição; concepções promovidas e difundidas sobre pessoa humana, sociedade, edu- cação, cidadania, conhecimento, cultura, trabalho, ciência, ten- dências pedagógicas; e valores que a escola espera construir, com o apoio aglutinador da comunidade interna (professores, alunos e funcionários) e externa (famílias e outros entes circunscritos). • Marco operacional: nessa área do documento devem constar as formas e os procedimentos adotados pela gestão na realização do marco conceitual; as funções e atribuições do gestor, dos coor- denadores, do corpo docente e dos técnico-administrativos; o pa- pel dos estudantes no ambiente escolar, bem como no seio da sua família e comunidade; formas e modelos de avaliações; tipos de estágios (se existentes); política de formação continuada para o corpo docente e técnico-administrativo; processos de inclusão dos estudantes, professores, funcionários e familiares; tecnologias de informação e comunicação social, tanto para os estudantes quan- to para os professores e familiares; convênios e parcerias e suas fi- nalidades (se existentes); instâncias colegiadas, como a associação de pais e mestres, conselho escolar, conselho de classe, grêmio estudantil, dentre outros; projetos extracurriculares; e, por fim, formas de avaliação, revisão e reorganização do PPP. • Considerações: é o item em que se devem constar os procedi- mentos transitórios ao PPP, o cronograma de reestudo e a reor- ganização do documento. • Referências: reúne todas as fontes utilizadas na construção do PPP. Além do PPP, os órgãos normativos dos estabelecimentos de ensino, como as Secretarias Municipais e Estaduais de Educação e o Ministério da Educação, sugerem – sem obrigatoriedade – a entrega do Plano de Trabalho Docente (PTD). Esse documento deve informar, por turma, o total de aulas (bimestral, trimestral, semestral ou anual), os conteúdos a serem trabalhados com os objetivos/metodologias de cada aula, as formas e a quantidade de avaliações e referenciais a serem utilizados – isso, conforme previsto na LDB n. 9.394, em seu artigo n. 13, que afirma O projeto político-pedagógico (PPP) é um documento que norteia todo o trabalho escolar interno e delineia a relação da escola com a comunidade onde está situada. Assim, como toda a população estudantil é o foco desse documento, seria muito importante que ele fosse conhecido e estudado por ela. Pensando nisso, analise o PPP de uma instituição de ensino em que você tenha estudado. Liste as propostas e a real efetividade que esse PPP teve ou tem. O documento pode ser encontrado no site da instituição escolhida, uma vez que o PPP deve estar disponibilizado para o público. Caso ele nãoconste no site, você pode entrar em contato com a instituição e requerê-lo. Atividade 1 122 Políticas Educacionais que os “docentes incumbir-se-ão de: II- elaborar e cumprir o plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensi- no; [...]” (BRASIL, 1996c). Naturalmente, é necessário compreendermos que o PPP é construí- do democraticamente e, por isso, quando formatado, deve se tornar público, de modo que possa ser consultado pelos membros da comuni- dade e pelos órgãos públicos de normatização, fiscalização e avaliação. Nessa direção, a gestão escolar precisa atuar sempre sob as normas e leis educacionais pertinentes, acompanhando constantemente o tra- balho realizado pelos recursos internos (professores, técnicos admi- nistrativos e de TI, estagiários, coordenadores, corpo discente, dentre outros) e dando atenção redobrada à avaliação da comunidade exter- na (familiares, outros membros da comunidade, órgãos públicos etc.), além de precisar ter um eficiente cuidado com os recursos materiais, patrimoniais, físicos e financeiros. Ainda, o gestor não pode esquecer que as mudanças ocorrem e, com isso, torna-se necessário melhorar as práticas, promover e aprimorar as metodologias, implementar projetos e definir, constantemente, as metas, além de realizar eficientes formas de comunicação com toda a comunidade, controlando a dinâmica re- lativa aos dados dos alunos (matrículas e documentos), às suas apren- dizagens (notas, frequência), à transferência e ao remanejamento, aos diários dos professores, à carga horária, aos conteúdos desenvolvidos, às atividades extraclasse, entre outros. É fato que toda a dinâmica da gestão democrática escolar pode ser facilmente visualizada não somente na ação do corpo docente e discen- te, como também do corpo técnico administrativo, tanto pela comuni- dade interna como pela externa. Por isso, contínuas avaliações sobre os sujeitos, as estruturas e as tecnologias de informação da escola devem ser realizadas, uma vez que, por meio dessas avaliações, o gestor conse- gue medir o domínio que o docente tem do conteúdo desenvolvido em sala de aula, a eficiência da metodologia e das ferramentas pedagógicas utilizadas, as formas de planejamento, a qualidade do relacionamento da escola com os seus alunos, professores, funcionários e familiares, a qualidade e efetividade das reuniões pedagógicas e escolares e, ainda, se a instituição tem atingido os seus objetivos conforme previsto. Portanto, uma gestão democrática exige muito trabalho e compro- metimento de toda comunidade escolar. Desse modo, sendo o PPP algo que tudo prevê, ele se torna um documento essencial para a eficiência Gestão da educação: limites e perspectivas 123 e funcionalidade do trabalho escolar, para o desenvolvimento de uma responsável cidadania na comunidade, além do aprendizado e desenvol- vimento dos diversos conhecimentos científicos, filosóficos, teológicos e empíricos e seus significados – todos necessários para a formação de homens e mulheres. 5.2 Políticas de financiamento da educação Vídeo O PNE 2014-2024, em sua meta n. 20, (BRASIL, 2014) prevê ampliar o investimento público em educação no equivalente a 10% do Produto Interno Bruno (PIB) até o ano de 2024. Mas já se tornaram públicos os dados que “evidenciam a estagnação dos investimentos em relação ao PIB na Educação Básica desde 2012, e na Educação Superior houve au- mento de 0,2% do PIB entre 2014 e 2015, contribuindo para que o gasto público total passasse de 6,0% para apenas 6,2% do PIB, nesse período” (TODOS..., 2019a, p. 118). No entanto, se a educação é vista como di- reito fundamental e direito social – conforme estabelece a Constituição Federal (BRASIL, 1988) – e, se há políticas para o financiamento dessa educação, toda a comunidade cidadã precisa ficar mais atenta a essas obrigações dos governos, exigindo as devidas aplicações, mesmo que se façam necessários os movimentos de pressão da comunidade civil organizada ou o ingresso de ações junto aos tribunais. Com essas primeiras considerações, precisamos procurar entender a que tipo de educação a sociedade brasileira pretende ter acesso, já que é um direito fundamental e social. Para Moran et al. (2000, p. 14), muitas são as variáveis necessárias para uma educação de qualidade, a qual acredita-se ser a almejada pela nossa sociedade: uma organização inovadora, aberta, dinâmica, com um projeto pedagógico coerente, alerto, participativo; com infraestrutura adequada, atualizada, confortável; com tecnologias acessíveis, rápidas e renovadas. Uma organização que congregue docentes bem preparados intelectual, emocional, comunicacional e eti- camente; bem remunerados, motivados e com boas condições profissionais, onde haja circunstâncias favoráveis a uma relação efetiva com alunos que facilite conhecê-los, acompanhá-los e orientá-los. Nessa direção, podemos nos perguntar: como poderemos ofertar essa educação de qualidade, que também deve ser pública, gratuita e para todos – inclusive para aqueles que se encontram fora da idade pró- 124 Políticas Educacionais pria, residentes em outros países ou pessoas com deficiência –, com os seus profissionais valorizados, conforme previsto no artigo 206 da Cons- tituição Federal (BRASIL, 1988), se não houver uma política pública, rela- tiva aos recursos, que ofereça as condições necessárias? Ou até mesmo se houver tal política, mas ela não for implementada? A própria Constituição Federal indica quais são as fontes e como elas devem ser utilizadas na Manutenção e Desenvolvimento do En- sino (MDE): a União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Es- tados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvi- mento do ensino. [...]. § 4º Os programas suplementares de ali- mentação e assistência à saúde previstos no art. 208, VII, serão financiados com recursos provenientes de contribuições sociais e outros recursos orçamentários. § 5º A educação básica pública terá como fonte adicional de financiamento a contribuição social do salário-educação, recolhida pelas empresas na forma da lei. § 6º As cotas estaduais e municipais da arrecadação da contribui- ção social do salário-educação serão distribuídas proporcional- mente ao número de alunos matriculados na educação básica nas respectivas redes públicas de ensino. (BRASIL, 1988, art. 212) Podemos observar que as fontes de recursos são amplas e, se apli- cadas sob uma gestão responsável, crê-se que não haveria quaisquer problemas em relação à estrutura necessária para a oferta de uma edu- cação de qualidade: mínimo de 18% da receita de impostos da União e 25% da receita de impostos dos estados, Distrito Federal e municípios, incluindo as transferências entre esferas de governo e a suplementa- ção para a educação básica – o salário-educação. No entanto, é preciso considerar que, quando se faz a partilha no sistema tributário (artigos 157 a 162 da Constituição), a União tem ficado com, aproximadamente, 70% dos tributos, os estados com 25% e os municípios com 5%, com pequenas alterações para cima ou para baixo nesses percentuais. Por isso, alguns impasses no relativo aos recursos para a educação podem ser explicados por meio desse processo. É importante destacar, ainda, que a Emenda n. 14 (BRASIL, 1996b) alterou o artigo n. 211 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), determi- nando uma expressiva responsabilidade à União quanto ao financia- mento do ensino, a saber: O que são impostos, taxas e contribuições de melhoria? Impostos, taxas e contribui- ções constituem os tributos previstos pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) e pelo Código Tributário Nacional (CTN) (BRASIL, 1966). Os impostos são cobrados pelos entes da Federação (União, estados, Distrito Federal, e municípios) e direcionados às políticas públicas, como é o caso da educação. Taxas tambémsão cobradas pelos entes da Federação, mas por meio da prestação de serviços públicos específicos, como é o caso do fornecimento de declarações, da emissão de passaportes etc. Contribuição de melhoria é cobrada por qualquer um dos entes da Federação, no âmbito de suas respectivas atribuições, para fazer face ao custo de obras públicas que também levam à valorização de imóvel privado beneficiário. Saiba mais Gestão da educação: limites e perspectivas 125 a União organizará o sistema federal de ensino e financiará as instituições de ensino públicas, federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garan- tir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios. Outra questão a ser destacada é a referente aos recursos exclusivos para a valorização dos profissionais da educação. O tema se encontra regulamentado pela Lei n. 11.494 (BRASIL, 2007a) com a previsão de fundos até o dia 31 de dezembro de 2020; entretanto, em maio de 2020, já havia um movimento no Congresso Nacional para o seu reestudo, pois, caso não fosse renovado, poderiam ocorrer grandes problemas com a educação, uma vez que estados e municípios não têm autono- mia de recursos para custear toda essa área (até a publicação desta obra, não se sabe se esse reestudo ocorreu). Essa legislação prevê, em seu artigo 3º, que 20% de uma série de fontes devem ser destinados à manutenção e ao desenvolvimento da educação básica e à valoriza- ção dos profissionais da educação – o que se espera que seja mantido ou aumentado –, com destaque ao Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Propriedade de Veículos (IPVA), Impos- to sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), entre outros. De maneira geral, os recursos previstos no FUNDEB apresentam as seguintes características: • são destinados aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios que oferecem educação básica; • a distribuição é automática e direcionada à conta desses gover- nos, sem a necessidade de se estabelecer convênios; • o valor da distribuição depende do número de matrículas nas es- colas, fornecido pelo censo escolar, que é realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP/MEC); • quando os valores distribuídos não atingem o mínimo por aluno, a União tem a responsabilidade de fazer a complementação – o que tem ocorrido com bastante frequência; • os valores recebidos devem ser utilizados para o pagamento dos salários dos docentes e gestores, bem como de cursos de forma- 126 Políticas Educacionais ção continuada, na compra de equipamentos e na construção e manutenção de escolas; • o controle social desses recursos é feito por meio de uma gestão democrática na escola, assim como a publicização de seu uso. O interessante é que, mesmo com todos esses recursos, pela quantidade de problemas que existem nas escolas busca-se a sua ampliação. Noutra direção, concluiu-se que faltam recursos simples- mente porque as gestões não têm sido eficientes – o que se pode observar analisando os dados publicados no Portal da Transparência, da Controladoria Geral da União – e porque parte desses recursos estaria sendo utilizado para o pagamento de aposentadorias e pen- sões de profissionais da área. Na realidade, apesar das ferramentas de organização e controle desses recursos existirem, como é o caso dos Conselhos de Acompanhamento e Controle Social (CACS), do Pro- grama Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Programa Nacio- nal de Apoio ao Transporte do Escolar (PNAT) e do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos, elas parecem não dar conta de um acompanhamento mais preciso e contínuo de todo o processo. Outro fundo muito importante para a educação é o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), criado pelo Decreto-Lei n. 872 (BRASIL, 1969) – decreto que fez uma alteração na Lei n. 5.537 (BRASIL, 1968), que havia criado o Indep. Quanto aos recursos que o FNDE possui para fazer frente aos seus compromissos, têm-se: a) recursos orçamentários que lhe forem consignados; b) re- cursos provenientes de incentivos fiscais; c) vinte por cento do Fundo Especial da Loteria Federa; d) trinta por cento da receita líquida da Loteria Esportiva Federal; e) recursos provenientes do salário-educação; f) as quantias transferidas pelo Banco do Bra- sil S.A., mediante ordem dos Governos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, como contrapartida da assistência fi- nanceira da União; g) as quantias recolhidas pela PETROBRÁS, na forma e para os fins previstos na redação dada pelo Decreto-lei n. 523, de 8 de abril de 1969; h) recursos decorrentes de restitui- ções relativas às execuções do programa e projetos financeiros sob a condição de reembolso; i) receitas patrimoniais; j) doações e legados; l) juros bancários de suas contas; e, m) recursos de outras fontes. (BRASIL, 1968) Gestão da educação: limites e perspectivas 127 O salário-educação ao qual o FNDE se refere se encontra previsto no artigo n. 212, parágrafo 5º, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), e foi normatizado primeiro pelo Decreto n. 87.043 (BRASIL 1982) e, de- pois, pelo Decreto n. 6.003 (BRASIL, 2006). A contribuição tem como base 2,5% sobre o total da remuneração paga ou creditada, a qualquer título, aos segurados empregados, e 0,8% sobre o valor comercial dos produtos rurais previstos no artigo 15, parágrafo 1º, da Lei Comple- mentar n. 11 (BRASIL, 1971), sob a arrecadação e fiscalização da Secre- taria da Receita Previdenciária. Entretanto, pelo Decreto n. 6.003 (BRASIL, 2006), encontram-se isen- tos do recolhimento da contribuição social do salário-educação expres- siva quantidade de fontes geradoras – o que leva o montante a ficar pouco expressivo. Entre essas fontes, citamos: • a União, os estados, o Distrito Federal, os municípios e suas res- pectivas autarquias e fundações; • as instituições públicas de ensino de qualquer grau; • as escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, devida- mente registradas e reconhecidas pelo competente órgão de educação, que atendam ao disposto no inciso II do artigo 55 da Lei n. 8.212 (BRASIL, 1991); • as organizações de fins culturais que, para esse fim, vierem a ser definidas em regulamento; • as organizações hospitalares e de assistência social, desde que atendam, cumulativamente, aos requisitos estabelecidos nos in- cisos I a V, do artigo 55, da Lei n. 8.212 (BRASIL, 1991). Ainda é preciso destacar que, conforme artigo 4º da Lei n. 5.537 (BRA- SIL, 1968), o FNDE possui outras verbas que vêm do Programa Dinheiro Direto na Escola, do Programa Nacional de Alimentação Escolar, do Pro- grama Brasil Alfabetizado, do Programa Apoio ao Atendimento à Educa- ção de Jovens e Adultos e do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar. Como podemos observar, as fontes e os recursos para o financia- mento da educação são amplos, mas a comunidade não vê os resulta- dos que gostaria. Por isso, buscando mais transparência no uso desses recursos públicos, bem como uma melhoria da qualidade educativa, di- versos setores apartidários da sociedade têm estudado o tema; dentre 128 Políticas Educacionais esses setores, está o Todos pela Educação, que apresentou propostas para um aprimoramento nos mecanismos que envolve o financiamen- to da educação básica. Para ele, faz-se necessário a: elevação do patamar mínimo de valor Aluno/Ano do País em 50%. Redução de 46% da desigualdade entre os entes federativos no que tange à disponibilidade de recursos financeiros para a Edu- cação Básica. Uso mais eficiente das transferências de recursos do Governo Federal para Estados e Municípios. Redes de ensino com maior incentivo paraaprimorarem a gestão dos recursos e melhorarem os resultados educacionais. Maior accountability (prestação de contas) com os gastos educacionais (transparên- cia, comparabilidade e controle social). (TODOS..., 2019b, p. 116) Felizmente, esse tema continua no epicentro de estudos e debates na comunidade escolar, o que pode colaborar, essencialmente, com a identificação de uma melhor metodologia para enfrentar essa realida- de ampla e complexa, de modo que, responsavelmente, ocorra o apri- moramento das políticas públicas e do controle do uso dos recursos públicos voltados para o financiamento da educação. 5.3 Avaliação Institucional Vídeo A avaliação é um processo que precisa ser visto como natural, uma vez que observar, analisar e criticar uma evolução ou um fracasso está na essência das ideias, das pessoas e das suas comunidades, das coisas e das instituições. Desse modo, isso não seria diferente nas instituições de ensino, tanto públicas quanto particulares, em todos os seus níveis e modalidades. Mas o que seria, na prática, a avaliação? Primeiramente é importante conhecer o seu significado etimológico: avaliação tem origem latina e é uma somatória de a + valere, que signi- fica atribuir valor e mérito a algo. Essa visão vem ao encontro do que Casali (2007, p. 13) defende: “há valores para um sujeito, há valores para uma cultura, há valores para a humanidade. O singular, o parcial, o universal. A avaliação é uma medida e uma referência de valor para um, ou dois, ou os três âmbitos”. Nessa mesma direção, porém no cam- po da educação, Haddad (2008, p. 11) afirma que: todo processo educacional reclama avaliação. Não há professor que não submeta seus alunos a avaliação. A avaliação do aluno individualmente considerado tem como objetivo a verificação Gestão da educação: limites e perspectivas 129 da aquisição de competências e habilidades que preparam uma subjetividade, na relação dialógica com outra, para se apropriar criticamente de conhecimentos cada vez mais complexos. Caso bem diferente é o da avaliação da instituição de ensino. Nesta, o objetivo é verificar se os elementos que compõem a escola estão estruturados para a oferta da educação de qualidade. Mas o que observar e interpretar no campo da educação? Para Figari (1996), é preciso medir e examinar os sistemas educacionais (ma- croestruturas), os estabelecimentos de ensino (mesoestruturas) e as próprias salas de aula (microestruturas). Em outra direção, podemos nos perguntar: para que avaliar? O fato é que há uma série de razões que fundamentam a importância e a necessidade de avaliação, medin- do e examinando as esferas que compõem e circundam o objeto nesse momento. No caso do estabelecimento escolar, segundo Rocha (1999), as razões para esse processo seriam de quatro ordens: • Socioeconômica: identifica e analisa quais recursos financeiros se encontram disponíveis e, havendo deficiência de recursos, busca as devidas complementações, de modo que o estabeleci- mento tenha as condições mínimas e necessárias – ou seja, infraestrutura, equipamentos, corpo funcional etc. – para a oferta de uma educação de qualidade e efetiva. • Político-administrativa: mede e examina alguns aspectos, como a autonomia e a qualidade da gestão do estabelecimento, o resul- tado do ensino e da aprendizagem para o próprio estudante, no que se refere à sua formação e ao seu ingresso no mercado de trabalho, e a efetividade e eficácia do trabalho desenvolvido pela comunidade interna. • Científica e pedagógica: conhece e compreende os sucessos e os fracassos do estabelecimento escolar no relativo aos pro- gramas de ensino e de avaliação, às pedagogias e aos processos disciplinares e ao reconhecimento pela comunidade interna e externa, visando fortalecer a ideia de que a escola também é res- ponsável pelas inovações exigidas não somente em seu próprio espaço, mas também nos espaços adjacentes. • Legal: verifica se o estabelecimento cumpre com as normatiza- ções previstas nas diversas legislações educacionais, em especi- fico às da LDB n. 9.394 (BRASIL, 1996c), no referente à qualidade do ensino ofertado, à cooperação com os demais sistemas, à par- ticipação nos processos de avaliação institucional, entre outros. 130 Políticas Educacionais De modo geral, os atores envolvidos no processo da educação – como o governo, os alunos e seus familiares, o corpo docente e técnico ad- ministrativo do estabelecimento escolar, a comunidade adjacente da escola e a mídia – fazem, continuamente, avaliações dos estabeleci- mentos de ensino; entretanto, essas avaliações são realizadas com base apenas no que é facilmente observado, e não do experimentado e examinado sob as técnicas científicas e ferramentas mais apropriadas. Em relação à educação superior, foi criado, por meio da Lei n. 9.131, de 24 de novembro (BRASIL, 1995), o sistema de avaliação do ensino superior brasileiro; pelo Decreto n. 2.026, de 10 de outubro de 1996 (já revogado), substituído pelo Decreto n. 9.235, de 15 de dezem- bro de 2017, foram estabelecidos os procedimentos para a avaliação dos cursos e das instituições do ensino superior. Entretanto, visando melhorar o mérito e a qualidade da educação, bem como orientar a expansão e promover a responsabilidade social das instituições de ensino superior, pela Lei n. 10.861 (BRASIL, 2004), complementada pelo Decreto n. 9.235 (BRASIL, 2017), foi instituído o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), utiliza- do na atualidade. É um programa coordenado e supervisionado pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), que compreende a avaliação das instituições, dos cursos superiores e o de- sempenho dos estudantes, que ocorre por meio de dois momentos: a. Autoavaliação da instituição, que é conduzida internamente por uma Comissão Própria de Avaliação (CPA), mas orientada por diretrizes e roteiros da Conaes. b. Avaliação externa, conduzida por comissões designadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), com base em um documento elaborado pelo estabelecimento de ensino constando dados e informações referentes a cinco eixos e dez dimensões, a saber: 1. Planejamento e Avaliação Institucional (planejamento e avaliação); 2. Desenvolvimento Institucional (missão e plano de desenvolvimento institucional - PDI, e responsabilidade social da instituição); 3. Políticas Acadêmicas (políticas para o ensino, a pesquisa e a extensão, comunicação com a sociedade, e política de atendimento aos discentes); Você pode acompanhar a situação da educação, no Brasil por meio do site Todos pela Educação, na página Cenários da Educação, para, assim, aprimorar seus conheci- mentos, sua capacidade e suas habilidades. Todos pela Educação é uma organização com- posta por 32 setores da sociedade brasileira, com mais de 200 represen- tantes, entre fundadores, mantenedores (como Gerdau, Fundação Lemann, Instituto Penín- sula, Fundação Bradesco, Fundação Educar DPas- choal) e parceiros (como Microsoft, Instituto Ayrton Senna, Fundação Victor Civita, Editora Moderna), relacionados à educação básica. Os seus principais objetivos são: monitorar e analisar indicadores edu- cacionais oficiais, inserir o tema educação na mídia e incentivar a mobilização do governo, da sociedade civil e da iniciativa privada na promoção de uma educação de qualidade. Disponível em: https://www. todospelaeducacao.org.br/pag/ cenarios-da-educacao. Acesso em: 28 maio 2020. Site https://www.todospelaeducacao.org.br/pag/cenarios-da-educacao https://www.todospelaeducacao.org.br/pag/cenarios-da-educacao https://www.todospelaeducacao.org.br/pag/cenarios-da-educacao Gestão da educação: limites e perspectivas 131 4. Políticas de Gestão (políticas de pessoal, organização e gestão da instituição, e sustentabilidade financeira); 5. Infraestrutura Física (infraestrutura física). É importante destacarmos que, tanto para a autoavaliaçãoquanto para a avaliação externa, o resultado do Exame Nacional de Avaliação de Desempenho dos Estudantes (Enade) também é considerado, in- ternamente, um medidor da qualidade do ensino ofertado e um fator para a implementação de novas políticas, visando aprimorar os servi- ços e conteúdos; já externamente, é visto como subsídio para os atos regulatórios de recredenciamento da instituição, como renovação de reconhecimento de cursos e como fator de apreciação pela comuni- dade, a qual busca uma instituição de ensino superior que esteja total- mente legalizada e com as qualidades desejadas. Portanto, a educação superior está em constante medição pelos devidos órgãos normatiza- dores e por toda a sociedade – o que, apesar de ser muito positivo, ainda pode ser aprimorado. No relativo à educação básica, a avaliação institucional ocorre desde a década de 1990. No entanto, também visando atender à LDB n. 9.394 (BRASIL, 1996c), após uma série de reestruturações e adapta- ções, por meio do Decreto n. 9.432 (BRASIL, 2018), foi regulamentada a Política Nacional de Avaliação e Exames da Educação Básica para adap- tar toda a proposta educacional, conforme o vigente Plano Nacional de Educação (PNE). Por esse decreto e por meio de uma série de ferra- mentas e instrumentos avaliativos, busca-se diagnosticar e verificar as condições e a qualidade da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio), examinar as competências e as habili- dades dos estudantes e oferecer subsídios e aprimoramento para a progressão de todos os elementos que compreendem esse nível edu- cacional. Integram essa política (BRASIL, 2018): “I - o Sistema de Avalia- ção da Educação Básica - SAEB; II - o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos - Encceja; e, III - o Exame Nacional do Ensino Médio - Enem”. No referente ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), segundo o Decreto n. 9.432 (BRASIL, 2018), trata-se de um conjunto de avaliações externas, aplicado anualmente para todos os anos e séries, a partir do 2º ano do ensino fundamental (até então, somente 2º, 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio par- ticipavam). É organizado e aplicado pelo INEP, em cooperação com os estados, o Distrito Federal e os municípios, buscando uma coleta de Instrumento de avaliação institucional externa O instrumento para a avaliação institucional externa, tanto para curso presencial quanto a distân- cia, contempla cinco eixos e dez dimensões. Conhecê-lo e saber aplicá-lo é muito importante para todos os estudantes, uma vez que podem, em algum momento, ser chamados para a sua aplicação. É um documento elaborado pelo INEP/MEC e está à disposição de todos os interessados no pdf disponível em: http://download.inep. gov.br/educacao_superior/ avaliacao_institucional/ instrumentos/2017/IES_recre- denciamento.pdf. Acesso em: 29 maio 2020. Saiba mais http://download.inep.gov.br/educacao_superior/avaliacao_institucional/instrumentos/2017/IES_recredenciamento.pdf http://download.inep.gov.br/educacao_superior/avaliacao_institucional/instrumentos/2017/IES_recredenciamento.pdf http://download.inep.gov.br/educacao_superior/avaliacao_institucional/instrumentos/2017/IES_recredenciamento.pdf http://download.inep.gov.br/educacao_superior/avaliacao_institucional/instrumentos/2017/IES_recredenciamento.pdf http://download.inep.gov.br/educacao_superior/avaliacao_institucional/instrumentos/2017/IES_recredenciamento.pdf 132 Políticas Educacionais dados das escolas públicas e das particulares, visando a uma medição e a um exame das competências e habilidades esperadas dos estu- dantes, de acordo com o previsto na BNCC e nas correspondentes diretrizes curriculares nacionais: I - A produção de indicadores educacionais para o Brasil [...]; II - o monitoramento e a avaliação da eficiência, da eficácia e da efe- tividade da aplicação dos recursos públicos [...];III - a disponi- bilidade de informações relevantes [...]; IV - a implementação gradual de aperfeiçoamentos e inovações nos processos de avaliação e exames [...]; V - a difusão, com transparência e de fácil acesso, para toda a sociedade, de diagnósticos e pesqui- sas sobre o sistema de educação básica [...]; VI - sua utilização como mecanismo único, alternativo ou complementar para acesso à educação superior [...];VII - a avaliação anual da edu- cação básica [...]; VIII - a realização de devolutivas pedagógicas tempestivas; e IX - o acesso a programas governamentais de financiamento ou apoio ao estudante da educação superior. (BRASIL, 2018, art. 9). Já a educação infantil passou, em 2019, a fazer parte do SAEB, com o objetivo de atender ao Plano Nacional de Educação e às Diretrizes Curriculares Nacionais. Quanto ao ensino fundamental, em atendimento ao Pacto Nacio- nal pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), ao Plano Nacional de Educação e às Diretrizes Curriculares Nacionais previstas na BNCC, en- contram-se implantadas as seguintes avaliações: Instituída pela Portaria do MEC n. 10 (BRASIL, 2007b) e estruturada pelo INEP, é aplicada para a medição do desempenho dos estudantes dos anos iniciais do ensino fundamental de escolas públicas, no relativo ao desempenho desses em leitura, matemática e escrita – a adesão é opcional. Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) – Provinha Brasil Instituída pela Portaria do MEC n. 69 (BRASIL, 2005) e estruturada pelo Inep, é aplicada aos estudantes de escolas públicas do 5º e 9º ano, visando medir o desempenho em Língua Portuguesa, com foco na leitura; em Matemática, com foco na resolução de problemas; nas Ciências Humanas e nas Ciências da Natureza, além do preenchimento de um questionário socioeconômico. Nessa avaliação, professores e diretores dos estabelecimentos também preenchem um questionário para coletar dados demográficos, perfil profissional e condições de trabalho. A adesão é feita pelas secretarias estaduais e municipais de educação; mas algumas escolas não participam por questão de logística e custos, e a participação do estudante não é obrigatória. Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC) – Prova Brasil Gestão da educação: limites e perspectivas 133 Quanto ao ensino médio, foi instituído o Exame Nacional do En- sino Médio (ENEM), que busca medir as competências e habilidades esperadas ao final da educação básica, de acordo com a BNCC e com as correspondentes diretrizes curriculares nacionais previstas, deven- do ocorrer, de maneira seriada e obrigatória, nas três séries do ensino médio a partir do segundo semestre de 2022 (até então, não é obriga- tório e ocorre apenas na 3ª série). Além desses aspectos, o exame visa: I - A constituição de parâmetros para a autoavaliação do par- ticipante, com vistas à continuidade de sua formação e a sua inserção no mercado de trabalho; II - a criação de referência nacional para o aperfeiçoamento dos currículos do ensino médio; III - a utilização do Exame como mecanismo único, alter- nativo ou complementar para acesso à educação superior [...]; IV - o acesso a programas governamentais de financiamento ou apoio ao estudante da educação superior; V - a seleção para ingresso nos diferentes setores do mundo do trabalho; e VI - o desenvolvimento de estudos e indicadores sobre a educação brasileira. (BRASIL, 2018) É importante destacar que os resultados obtidos no ENEM também são utilizados para o estudante ter acesso a alguns programas, como: Programa Universidade para Todos (PROUNI), Sistema de Seleção Uni- ficado (SISU), Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), dentre outros, sendo utilizados internamente, por instituições de ensino superior pri- vadas, para a oferta de bolsas de estudos. Quanto aos jovens e adultos que frequentam a escola e que estejam fora da idade própria, foi criado, pela Portaria do MEC n. 77 (BRASIL, 2002), o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), com o intuito de examinar suas competências e habilidadesconforme previsto na BNCC e nas diretrizes curriculares nacionais. Esse exame também é aplicado, para os mesmos fins, em pessoas privadas de liberdade e naquelas que residem no exterior. De maneira geral, tanto na educação superior quanto na educação básica, pode-se esperar que a avaliação institucional pretenda a me- dição e o exame dos mesmos aspectos, embora de formas diferentes. Assim, a reflexão de Alaiz, Gois e Gonçalves (2003) leva a seis dimen- sões a serem observadas pelos diversos instrumentos aplicados: 134 Políticas Educacionais 1. Contexto externo do estabelecimento educacional: a caracterização socioeconômica e cultural das famílias e dos alunos, além da expectativas das famílias e da comunidade sobre suas percepções acerca da escola. 2. Contexto interno do estabelecimento escolar: história, recursos físicos, estrutura curricular e corpo docente e técnico-administrativo. 3. Organização e gestão: a proposta política-pedagógica, bem como as dinâmicas de sua execução e avaliação pelas comunidades internas e externas. 4. Ensino e aprendizagem: as categorias que têm relação com o que acontece na sala de aula. 5. Cultura escolar: as categorias relacionadas à identidade do estabelecimento, ao nível democrático de participação dos professores, aos alunos e à comunidade, à motivação do corpo funcional e à relação do estabelecimento com a comunidade adjacente. 6. Processos educacionais: a estatística do aprendizado nos registros da secretaria escolar, os dados das avaliações do SAEB, Encceja e ENEM, a participação dos estudantes em olimpíadas e eventos de responsabilidade social, entre outros. Agora, fica a pergunta: com os resultados dessas avaliações institu- cionais, faz-se o quê? Em um primeiro momento, em nome do princípio da publicidade, toda a comunidade precisa ter conhecimento da reali- dade por meio dos dados trabalhados e analisados e com uma lingua- gem que seja possível a sua apreciação por todo e qualquer cidadão, para fins de legitimação do processo avaliativo; depois, elaboram-se os específicos planos de correção, os redirecionamentos pedagógicos e de intervenção internos e aqueles que envolvem medidas de correções indicadas ou obrigadas pelos órgãos públicos governamentais nas de- vidas esferas municipal, estadual e federal. É fato que os desafios vividos pela sociedade têm ecoado nas es- feras de seus processos educacionais escolares: quando a sociedade está bem, é porque a educação está bem, e quando a sociedade sofre, é resultado da educação que se é oferecida. Portanto, é consenso que a educação faz parte das dinâmicas das realidades sociais e precisa dar Sabe-se que a Política Nacional de Avaliação e Exames da educa- ção básica compreende o SAEB, o Encceja e o ENEM, visando medir e examinar a eficácia de suas propostas pedagógicas, bem como a eficiência da gestão dos estabelecimentos escolares. Assim, compreendendo a impor- tância do resultado obtido com a aplicação desses instrumentos, escolha uma escola, acesse o site https://qedu.org.br/sobre/ dados-disponiveis ou http:// sistemasprovabrasil.inep.gov.br/ provaBrasilResultados/ e faça uma tabela com os resultados da Prova Brasil e do ENEM. Por fim, com os resultados obtidos, realize uma análise crítica sobre a realidade observada. Atividade 2 http://sistemasprovabrasil.inep.gov.br/provaBrasilResultados/ http://sistemasprovabrasil.inep.gov.br/provaBrasilResultados/ http://sistemasprovabrasil.inep.gov.br/provaBrasilResultados/ Gestão da educação: limites e perspectivas 135 conta de seus objetivos e de suas responsabilidades. Nessa direção, Dias Sobrinho (2002, p. 14-15) pontua que a educação deve se voltar a produção da alta tecnologia, formação de mão-de-obra de alto nível, treinamento para atendimento de demandas imediatas do mundo do trabalho, formação qualificada para ocupações de tipo novo, formação para a inovação, preservação e desenvolvi- mento da alta cultura, recuperação da cultura popular, educação continuada, formação para o empreendedorismo, promoção da cidadania e da consciência de nacionalidade, inserção no mundo globalizado e compreensão das transformações transnacionais [...] e tantas outras exigências carregadas de urgências e, em todo caso, de difíceis respostas. Entretanto, devemos destacar a importância e responsabilidade que devem ter os atores envolvidos no processo avaliativo (alunos, gestores, professores e outros) ao agir com as devidas responsabili- dades no momento de fornecer dados e informações requeridas nos instrumentos; caso contrário, os resultados avaliativos estariam disso- nantes da realidade. Portanto, as competências e sensibilidades devem ser acionadas, já os dados e as informações precisam ser precisos e coerentes, estando diretamente relacionados com o objetivo buscado. Assim, antes da aplicação de qualquer um dos instrumentos relativos à avaliação institucional, há a necessidade de ampla divulgação do pro- cesso e de esclarecimentos sobre como proceder, preencher e registrar os dados buscados. 5.4 Perspectivas, impasses e impactos Vídeo Projetos e planos são propostas que, metodologicamente organiza- das, buscam alcançar objetivos para atender a determinadas demandas de uma instituição, seja no âmbito interno ou na sua relação com a co- munidade externa. Portanto, apontam para algo no futuro, para algu- ma possibilidade que, para ser realizada, sabemos que dependerá da concretização de certos procedimentos e fases anteriores ao resultado ou produto esperado. Assim, projetos e planos podem ficar apenas no campo de um querer ou uma perspectiva, sem se concretizarem, caso seus elaboradores, gestores ou governos não deem os encaminha- mentos adequados para a sua consecução. 136 Políticas Educacionais Nessa mesma direção estão as legislações, elas também apresen- tam princípios, valores e normas que devem ser aplicados e obede- cidos pelos específicos atores sociais que com elas se relacionam. No entanto, a sua eficácia vai depender de como tais atores sociais as con- templam e se deixam guiar por elas, uma vez que a pessoa pode fazer tudo o que a lei não proíbe. Logo, é sob essa concepção, presente nas políticas públicas voltadas para a educação, que surgem impasses que, não resolvidos, levam a importantes impactos sobre a comunidade a qual são dirigidas. Se as legislações existem, mas não se operam, e se projetos e planos existem, mas não são implementados, tudo fica no campo apenas das perspectivas. É de praxe buscar culpados entre os gestores e professores, nos projetos educacionais, familiares, na mídia etc. Em outra direção, é fato que os governos estão submetidos a parâ- metros constitucionais em suas ações, não podendo ultrapassar certos limites, também se sabe que esses mesmos governos atuam confor- me as mudanças socioeconômicas e culturais vão ocorrendo, sem que possam executar quaisquer interferências. Por isso, nem tudo pode ser culpa dos governos, quando certas políticas educacionais não aconte- cem conforme o previsto no PPP do estabelecimento de ensino. Quanto à comunidade, também vivem sob os ventos que sopram em todas as direções, seja local, regional, nacional ou internacional; e, por isso, seus desejos, necessidades e demandas estão sempre em transformação. Desse modo, há a necessidade de se compreender que as perspectivas da sociedade, referentes às políticas públicas educacio- nais, podem ficar condicionadas a uma dinâmica nem sempre possível de controle. É por isso que é compreensível, até certo ponto, aceitar o histórico das políticas públicas educacionais no Brasil. Vejamos: • houve projetos e planos que foram elaborados, inclusive com a par- ticipação democrática dos atores sociais envolvidos com o tema, mas que ficaram apenas no campo das intenções políticas – o que pode ser explicado pela demora na formalização dos documentos e pela natural e consequente descontinuidade dos governos; • houve projetos e planos que foram implantados, mas quenão pro- duziram os resultados esperados, o que pode ser explicado pela dissociação existente entre as diretrizes e objetivos almejados, a exis- tência de gestores incapazes, ou recursos financeiros insuficientes; Gestão da educação: limites e perspectivas 137 • houve projetos e planos que foram aplicados, mas apenas parcial- mente. Também podem ser explicados pela falta de recursos, ou mesmo pela ausência de gestão especializada para as propostas; • houve projetos e planos que realmente produziram os resultados esperados, com excelência, inclusive, com grande aceitação da comunidade e sob importantes elogios da comunidade nacional e internacional. De modo geral, estudos e estatísticas têm demonstrado significati- vas reformas e mudanças em todos os níveis da educação brasileira, tanto na básica quanto no ensino superior. É fato que houve amplia- ção no acesso, na permanência, nas titulações dos profissionais da educação, no número de horas em ambiente escolar, na melhoria da infraestrutura física e de equipamentos, no apoio ao estudante, na ges- tão da escola, na implantação de políticas afirmativas, dentre outros. Contudo, também é fato que o número de alunos que não chegam a completar doze anos de estudos é alto, o desempenho do estudante tem sido ruim quando se consideram a Provinha Brasil, a Prova Brasil, o ENEM e outras avaliações; os cursos de formação de professores so- frem com falta de qualidade em seus programas e estágios, o que tem levado à precarização e proletarização do trabalho docente; a indiscipli- na escolar se faz fortemente presente gerando muita violência; a forma como se identificam e elegem os gestores educacionais pode não estar ocorrendo conforme os fundamentos de uma gestão democrática etc. Entretanto, parece que o que falta, mesmo, é a compreensão do que realmente deva ser a educação e, nessa direção, Hannoun (1998, p. 43) afirma que: a reflexão e a ação educacionais pressupõem o real funda- mento de afirmação referente, por um lado do homem como humanidade e como pessoa, e, por outro, ao processo de ensino-aprendizagem. No plano fundamental, o conceito de educação só é aceitável se a humanidade for possível obreira da felicidade e se a imagem do homem por formar-se for moral e socialmente positiva, enfim, se a pessoa humana for perfectível e capaz de liberdade. No plano instrumental, no âmbito escolar, vimos que o processo ensino-aprendizagem pressupõe sua pró- pria eficiência e o valor positivo de suas finalidades, estruturas, conteúdos e métodos. 138 Políticas Educacionais São públicos e conhecidos, portanto, os importantes impasses exis- tentes no mundo da educação quanto a projetos, gestão, recursos finan- ceiros, metodologias de ensino, formação do estudante e sua preparação para o mercado de trabalho, valorização dos profissionais da educação, bem como é sabido os impactos que essa realidade tem causado, como é o caso da desconsideração dos governos e da própria comunidade es- tudantil e familiar quanto ao valor dos profissionais da educação e da própria escola. Entretanto, há uma série de outros fatores e elementos próprios do mundo da educação escolar que precisam ser considerados para que haja uma visão mais coerente da realidade. Uma questão de relevância que tem contribuído muito com os atuais impasses e impactos na educação é referente às linhas ideoló- gicas que os projetos e planos têm representado. Em cada momento histórico, devido à evolução do pensamento e da humanidade, novas diretrizes e pressupostos vão se fazendo necessários. E, nessa direção, tudo pode e deve mudar, considerando que homens e mulheres preci- sam estar em sintonia com seu tempo. Uma segunda questão que permeia o tema é referente à diversi- dade de governos que assumem a administração pública, quando se vive em um sistema republicano. Há governos que pensam a educação como elementos que constroem a sociedade e governos que enten- dem que a educação deve estar a serviço dos interesses da sociedade. Assim, fica um vai e vem nos processos. No entanto, isso é entendido como normal dentro do conceito da evolução social. A terceira questão tem relação direta com a formação e valorização dos profissionais da educação, em específico quanto aos gestores, tan- to pelos governos quanto pela própria comunidade. Para Gatti (2013, p. 58-59), isso pode ser explicado da seguinte forma: a) há uma grande dissonância entre os Projetos Pedagógicos dos cursos e a estrutura do conjunto de disciplinas e suas ementas [...]; b) o currículo proposto pelos cursos de formação de profes- sores tem uma característica fragmentária [...]; c) a proporção de horas dedicadas às disciplinas referentes à formação profissional docente, nas licenciaturas em pedagogia fica em torno de 30%, ficando 70% para outros tipos de matéria ou atividade [...]; d) na análise das ementas das disciplinas de formação profissional (metodologias e práticas de ensino, por exemplo) também predo- minam apenas referenciais teóricos sem associação com práticas educativas [...]; e) o currículo da educação básica praticamente Gestão da educação: limites e perspectivas 139 não aparece nas formações propostas; f) raras instituições espe- cificam em que consistem os estágios e sob que forma de orien- tação, acompanhamento e avaliação são realizados; g) a questão das práticas, exigidas pelas diretrizes curriculares dos cursos, mostra-se problemática [...]; h) um grupo considerável de matri- zes curriculares apresenta disciplinas pouco específicas quanto a seus nomes e, com ementas bastante ligeiras, encontrando-se também redundâncias de conteúdo [...]; i) aparecem nos currí- culos muitas horas dedicadas a atividades complementares, se- minários ou atividades culturais etc., que ficam sem nenhuma especificação [...].); e j) uma parte dessas licenciaturas promove especialização precoce em aspectos que poderiam ser abordados em especializações ou pós-graduação, ou que, claramente, visam à formação de outro profissional que não o professor. Já a quarta questão que tem envolvido as políticas, independente de qual seja o governo, é a presença de tecnologias como meio para a pro- dução de conhecimentos, bem como para a divulgação e promoção, em específico, da informática e da internet fazendo parte das rotinas, tanto de sociedades mais complexas como nas mais simples. E é fato que as crianças e os jovens se adaptam com muito mais facilidade a esses novos meios, se comparados com a população mais adulta, sig- nificando certos impactos nos resultados de aprendizagem e desenvol- vimento de ciências. Nessa dinâmica, ainda é preciso compreender que a informatiza- ção dos processos da educação tem reservado para as máquinas e equipamentos uma série de tarefas e procedimentos educacionais, o que pode ser positivo, por um lado, se considerarmos que sobra mais tempo para a mente pensar, mas, por outro, pode não ser interessante, porque o estudante executa menos. Delors (1998, p. 14-15) compreen- de essa questão e dá uma sugestão interessante: a tensão entre tradição e modernidade está relacionada com a mesma problemática: adaptar-se sem se negar a si mesmo, construir sua autonomia em dialética com a liberdade e a evolu- ção do outro, além de manter sob controle o progresso científico. Com este espírito é que se deve enfrentar o desafio instigante das novas tecnologias da informação. Sob essa e outras preocupações, visando repensar a educação e redirecionar os seus objetivos, entre os anos de 1992 e 1996, uma Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, da Unesco, presidida pelo francês Jacques Lucien Jean Delors, construiu um rela- O livro Educação: certezas e apostas desenvolve uma reflexão muito interes- sante, e até curiosa, sobre a educação com perspectivas filosófica, científica e prática, indicando que o ser humano é sempre um ser de futuro e, assim sendo, é preciso apostar nela. Mais ainda, a educação é a responsável, por excelência,pelo preparo das pessoas para a auto- nomia sobre si mesmas, bem como por todas as possíveis responsabili- dades que precisamos ter ao executar qualquer ato que tenha relação com o outro. Por fim, a obra aponta uma grande preocupação com o profissional da educação, uma vez que, segundo o autor, é esse profissional quem dirige a construção da pessoa de amanhã, e, para isso, precisa ter todo o entusiasmo e respon- sabilidades necessários. É uma leitura importan- tíssima para profissionais, e futuros profissionais, da educação. HANNOUN, H. São Paulo: UNESP, 1998. Livro 140 Políticas Educacionais tório, intitulado Educação, um tesouro a descobrir, em que se indicou a necessidade de a educação explorar quatro pilares – aprender a co- nhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser –, com o objetivo de propor uma lógica vivente dentro dos processos educacio- nais, uma vez que estaríamos na era do conhecimento, não devendo a escola, portanto, ser o espaço reprodutivista, subordinado aos mode- los de produção. Nessa direção, para compreender esses pilares e seus significados, Delors (1998, p. 90-101) afirma que: Aprender a conhecer: tipo de aprendizagem que visa não tanto à aquisição de um repertório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios instrumentos do conhecimento pode ser considerado, simultaneamente, como um meio e como uma fina- lidade da vida humana. Aprender a fazer: ação que está estreita- mente ligada à questão da formação profissional como ensinar o aluno a por em prática os seus conhecimentos e, também, como adaptar a educação ao trabalho futuro quando não se pode pre- ver qual será a sua evolução. [...] Aprender a conviver: apren- der a viver juntos, aprender a viver com os outros. Parece, pois, que a educação deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a vida, a participação em projetos co- muns, que parece ser um método eficaz para evitar ou resolver conflitos latentes.[ ...] Aprender a ser: a educação é, antes de qualquer coisa, uma viagem interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da personalidade. Na hipótese de uma experiência profissional de sucesso, a educação como meio para tal realização é, ao mesmo tempo, um processo individualizado e uma construção social interativa. Não resta dúvida para a comunidade educacional de que as pro- postas da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, da Unesco, são importantíssimas para uma verdadeira educação e uma educação de qualidade. Por isso, os diversos atores da educação, em específico os docentes e gestores, deveriam buscar a implementação de seus projetos educacionais nessas propostas. Preparar o estudante para saber conhecer, saber fazer, saber conviver e saber a ser é tudo que as instituições de ensino poderiam fazer neste mundo globalizado, de modo que todos pudessem ter os conhecimentos necessários para uma vida digna, respeitando as diversidades, com habilidades para re- solver as adversidades, como cidadãos conscientes e pessoas harmôni- cas em suas estruturas de saúde física e emocional. Na década de 1990, a Unesco, por meio de uma Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, construiu um relatório com destaque para uma educação que devesse contemplar o aprender a conhecer, a fazer, a conviver e a ser – documento de grande relevância para a educação mun- dial. Entretanto, já se passaram duas décadas e outros estudos já foram realizados pela Unesco. Pensando nisso, acesse https:// unesdoc.unesco.org/about e localize o documento intitulado Repensar a Educação – rumo a um bem comum mundial, do ano de 2016. Após encontrar o texto, identifique seus principais pontos e destaques, fazendo, na medida do possível, uma análise crítica sobre o material. Atividade 3 Gestão da educação: limites e perspectivas 141 CONSIDERAÇÕES FINAIS Projetos e planos sempre podem trazer possibilidades de impasses e impactos sobre o meio em que são implementados, e não seria diferente para os projetos pedagógicos no mundo da educação. Nesse capítulo, pudemos conhecer um pouco mais sobre os fundamentos e as funciona- lidades da gestão educacional e tivemos uma perspectiva maior sobre a atuação da gestão escolar relativo ao PPP e às legislações educacio- nais vigentes. REFERÊNCIAS ALAIZ, V.; GOIS, E.; GONÇALVES, C. Auto-avaliação de escolas: pensar e praticar. Porto: Edições Asa, 2003. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao. htm. Acesso em: 29 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 2.026, de 10 de outubro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 out. 1996a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/antigos/d2026.htm. Acesso em: 29 maio 2020. BRASIL. Decreto n. 6.003, de 28 de dezembro de 2006. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 29 dez. 2006. 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A partir da localização dos dados da instituição escolhida, é só construir uma tabela com as informações sobre a Prova Brasil e o ENEM e, depois, fazer a análise crítica sobre a realidade observada pelas pontuações registradas. 3. Repensar a Educação: rumo a um bem comum mundial é um documento que desen- volve uma série de elementos que pretendem construir e promover uma educação que considere o desenvolvimento humano, que respeite o meio ambiente de maneira sustentável e o direito de todos à educação, que promova o uso do conhecimento, entre outros.https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/258.pdf https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/258.pdf https://www.scielo.br/pdf/ccedes/v23n61/a02v2361.pdf Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Políticas Educacionais Miguel de Jesus Castriani PO LÍT IC A S ED U C A C IO N A IS M IG U EL D E JES U S C A ST RIA N I Código Logístico 59427 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6642-1 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 4 2 1 Página em branco Página em branco Página em branco