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XIII SIMPEP – Bauru – SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. Empreendedorismo e engenharia Elizabeth Freitas Rodrigues (CEFET-RJ) efreitasr@uol.com.br Roberto Pascarella Justa (FGV-RJ) roberto.pascarella@terra.com.br Marcelo de Sousa Nogueira (CEFET-RJ) marcelo.s.nogueira@gmail.com Miriam Carmem Pacheco da Nóbrega (CEFET-RJ) miriamnp@domain.com.br Resumo - Dado o histórico e vocação do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca na educação, formação e preparação de profissionais para o mercado de trabalho e em consonância com a emergência do empreendedorismo no cenário nacional e internacional, bem como da admissão da relevância do empreendedor como agente econômico efetivo e de caráter inovador, este artigo tem por objetivo demonstrar a importância da adoção como disciplina obrigatória dos diversos cursos de graduação em Engenharia da referida instituição de uma disciplina especificamente focada no tema acerca do empreendedorismo, do empreendedor e do processo de inovação. O trabalho demonstrará os benefícios advindos com tal inclusão e fará um breve relato da instituição e do tema empreendedorismo e seu ator principal, o empreendedor. Palavras-chave – Empreendedorismo; Empreendedor; Engenharia. 1. EMPREENDEDORISMO E A ECONOMIA Muito se discute na literatura especializada acerca do tema empreendedorismo e seu agente empreendedor. Como fenômeno, o empreendedorismo pode ser visto por diversos matizes: ele é tanto um fenômeno econômico, como social e comportamental. Como este trabalho destina-se a mostrar a importância da adoção de uma disciplina especificamente voltada para o empreendedorismo nos cursos de graduação em Engenharia, iremos nos abster de maiores comentários acerca dos aspectos sociais e comportamentais do empreendedor, ainda mais pelo fato que esta tipificação não é pacífica na doutrina, havendo discussões sobre conceitos e superposições de idéias sobre os dois pontos mencionados. No entanto, não se pode adotar a mesma atitude no que diz respeito ao aspecto econômico do fenômeno em estudo, pois se estaria negligenciando uma faceta importante do empreendedorismo e no que muito pesa para a área de engenharia, seja na criação e expansão do mercado de trabalho ou pelo desenvolvimento tecnológico proporcionado por iniciativas empreendedoras. Portanto, do ponto de vista econômico, o empreendedorismo tem forçado uma revisão por parte dos economistas adeptos da Teoria Clássica (e os neoclássicos) que trata do desenvolvimento e geração de renda, bem como sua relevante participação na redução das taxas de desemprego nas economias, sejam desenvolvidas ou em desenvolvimento. Em 1985 Drucker [1] já mencionava o empreendedorismo como um fator primordial para o desenvolvimento econômico norte-americano. Ele citava dados quantitativos do crescimento demográfico e da criação de empregos no mercado de trabalho local que, primeiramente, pareciam ser contraditórios, pois o período analisado pelo autor englobava os anos que iam de 1965 a 1985. Tal período pode ser caracterizado por fenômenos como o “baby boom” após a Segunda Guerra e as crises do petróleo na década de 1970. Conjugado aos fatos acima mencionados, Drucker ainda enumera outros fatores que possuíam o potencial de impactar negativamente os números de mercado de trabalho americano, pois os maiores e mais tradicionais empregadores do país (as grandes corporações da Fortune 500 e o governo em suas XIII SIMPEP – Bauru – SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. diversas esferas: federal, estadual e local) vinham reduzindo o número de contratações e, mais precisamente, no período estudado, seus números reais de trabalhadores empregados em caráter permanente e fixo haviam sofrido uma redução de – pelo menos no caso das grandes corporações da Fortune 500 – aproximadamente 4 a 6 milhões de postos de trabalho. No entanto, e por mais paradoxal que possa parecer, a economia norte-americana foi capaz, ainda segundo Drucker [1], de aumentar seu total de empregos de 71 para 106 milhões (acréscimo de quase 50%), enquanto que sua população economicamente ativa – jovens acima de dezesseis anos – pulou de 129 para 180 milhões (cerca de 30%). Ou seja, a economia local foi capaz de gerar mais empregos do que a entrada de pessoas no mercado de trabalho e absorver o excedente gerado pelo “baby boom”. Mas se os grandes empregadores estavam diminuindo seu número total de contratações – conforme acima demonstrado –, se havia uma pressão demográfica que não estava causando estragos no mercado de trabalho e, ainda sendo necessário levar em consideração o cenário restritivo para as economias desenvolvidas face às crises de petróleo da década de 1970, de onde estavam vindo as novas oportunidades de trabalho? Pode-se dizer que durante as duas décadas que antecederam os anos de 1980 houve uma espécie de descentralização ou desconcentração na geração de empregos no mercado de trabalho norte- americano, com os negócios das chamadas empresas de pequeno e médio porte alcançando uma forte expansão. Drucker [1] informa que em 1985 a conceituada revista The Economist relatava que os Estados Unidos apresentavam uma taxa de cerca de 600.000 novos negócios sendo criados anualmente, aproximadamente sete vezes mais do que vinte anos antes. Na década passada, o economista Bruce Kirchhoff [2] também deu a ênfase necessária ao fenômeno do empreendedorismo do ponto de vista da economia. Em contraste com o cenário estático da Teoria Clássica e da doutrina dos neoclássicos, Kirchhoff procurou demonstrar a teoria de “capitalismo dinâmico” e o empreendedorismo como mola propulsora da criação de empregos – avalizando os dados acima informados por Drucker –. Para ele, o processo de criação, crescimento, declínio e finalização de empresas é a essência do capitalismo. Outro autor moderno que também enfatizou a importância do empreendedor e do empreendedorismo para o desenvolvimento econômico foi Joseph Schumpeter [3] que, no início do século passado, já destacava o papel fundamental que os empreendedores desempenhavam numa economia. Pois, em contraste com a Teoria Clássica que preconiza um certo elemento estático e cíclico às atividades econômicas, onde todos seus atores executam funções determinadas e deve-se predominar o equilíbrio de mercado, para ele, o empreendedor é o verdadeiro motor da economia e a principal ferramenta para geração e distribuição de riquezas por intermédio, principalmente, de inovações que destroem as estruturas de mercado em vigor, a chamada “criatividade destrutiva”. Ou seja, é a ação imprevista e inovadora do empreendedor – através de novas técnicas ou tecnologias – que é capaz de gerar profundas mudanças nos comportamentos dos consumidores, nas formas como as coisas são feitas (sejam por novas técnicas de produção ou de gestão e da adoção de novas tecnologias) e alterar o status quo. O aspecto tecnológico do empreendedorismo e suas conseqüências serão mais discutidos posteriormente neste trabalho. 2. O CENTRO DE EDUCAÇÃO CELSO SUCKOW DA FONSECA O Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, doravante chamado pela sua abreviação – CEFET-RJ, localiza-se na cidade do Rio de Janeiro e é uma instituição pública de ensino do governo federal brasileiro (autarquia em regime especial), vinculado ao Ministério da Educação e dotado de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didática e disciplinar. XIII SIMPEP – Bauru – SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. A história do CEFET-RJ e das demais instituições de ensino brasileiras congêneres (outros Centros Federais de Educação Tecnológica) são um reflexo do esforço empreendido pelo Brasil na busca da industrialização e diversificação de sua economia durante o século passado. Sua origem primordial remonta ao ano de 1909 com a fundação das Escolas de Aprendizes e Artíficesnas capitais brasileiras e que tinham por objetivo proporcionar um ensino profissional, primário e gratuito. Ao longo do tempo, O CEFET-RJ mudou de nome várias vezes e obteve alterações em sua estrutura administrativa e pedagógica, sendo que seu perfil atual foi moldado na década de 1970 e permanece fiel ao espírito inicial que deu vida à escola. Sendo uma instituição que goza de respeito tanto no meio acadêmico, quanto no empresarial, o CEFET-RJ é constituído de uma unidade-sede situada no bairro do Maracanã, próximo ao Centro da cidade do Rio de Janeiro, dois campi – sendo um deles ao lado da unidade-sede – e mais uma outra unidade de ensino em outro município, Nova Iguaçu, na periferia da cidade do Rio de Janeiro. Sua oferta educacional comporta cursos regulares de ensino médio e de educação profissional técnica de nível médio, cursos de graduação (superiores de tecnologia e bacharelado), cursos de mestrado, além de atividades de pesquisa e de extensão, estas incluindo cursos de pós-graduação lato sensu, entre outros. O CEFET-RJ preocupa-se, institucionalmente, conforme pode ser visto na seção de seu domínio na internet destinada à apresentação da escola, com sua atualização no tocante às diretrizes da política industrial, tecnológica e de comércio exterior do Brasil, voltando-se para uma “formação profissional que deve ir ao encontro da inovação e do desenvolvimento tecnológico, da modernização industrial e potencialização da capacidade e escala produtiva das empresas, da inserção externa e das opções estratégicas de investimento em atividades portadoras de futuro”. Assim sendo, o CEFET-RJ notabilizou-se perante o meio acadêmico e o empresarial, bem como da sociedade civil de maneira geral, como um excelente capacitador e formador de mão-de-obra treinada e especializada para o mercado de trabalho em setores diversos da indústria, como os de metalmecânica, petroquímica, energia elétrica, eletrônica, telecomunicações, informática e outros mais que comportem a produção de bens e serviços para o Brasil. 3. EMPREENDEDORISMO NA GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA Nas duas primeiras seções deste artigo, procurou-se demonstrar a importância econômica do fenômeno do empreendedorismo e fazer um breve relato do perfil e da história do CEFET-RJ. Nesta última parte, pretende-se abordar a necessidade da adoção de uma disciplina específica voltada para o tema nos cursos de engenharia e, ainda, fazer uma comparação com outras experiências correlatas na área acadêmica. O CEFET-RJ oferece seis especializações em engenharia: de produção; engenharia industrial em elétrica (eletrotécnica), elétrica (eletrônica), elétrica (telecomunicações); mecânica e de controle e automação. As grades curriculares destas graduações oferecem, além das disciplinas técnicas inerentes a cada uma das especialidades, uma gama de disciplinas em diversas outras áreas de conhecimento tais como: psicologia aplicada às organizações, sociologia, direito, noções de teoria geral da administração e economia. Levando em consideração que um curso de engenharia seja eminentemente técnico, e dada as características das especializações disponibilizadas pelo CEFET-RJ, pode-se perceber que a necessidade do desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias deve ser uma preocupação constante para o corpo docente da instituição. XIII SIMPEP – Bauru – SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. E é justamente neste aspecto, técnicas e tecnologias novas, que o empreendedorismo pode ser de extrema utilidade para a engenharia (sem nos atermos às devidas preocupações que um empreendedor, seja um engenheiro ou não, deva ter ao iniciar um novo negócio, como planejamento, forma de lidar com incertezas e avaliação de oportunidades). Drucker [1] já dizia que a inovação sistemática é a ferramenta do empreendedor e que o processo de inovação pode, e deve, ser ensinado e aprendido de maneira pedagógica e didática. A literatura acerca do empreendedorismo discute a amplitude conceitual do termo. Pois, em sentido estrito, não é todo novo negócio que pode ser considerado como empreendedor. O que caracteriza uma empreitada como empreendedora é a identificação de uma oportunidade ainda não explorada anteriormente, um novo nicho de mercado e o desenvolvimento de um novo produto ou técnica de produção. Portanto, a tecnologia torna-se um fator crucial e diferencial para o sucesso de um novo negócio e, conforme já mencionado acima, a engenharia, por ser uma ciência exata, necessariamente precisa lidar com o aspecto tecnológico de sua atividade. Resumidamente, tem-se de um lado uma formação técnica em engenharia e sua necessidade de ensino tecnológico; do outro, uma área como o empreendedorismo que enfatiza a necessidade da inovação como ferramenta elementar do desenvolvimento tecnológico. Empírica e dedutivamente, pode-se verificar um necessário nexo causal e intercomunicação entre a engenharia e o empreendedorismo. No entanto, mais alguns aspectos devem ser levados em consideração para que a proposta objeto deste trabalho possa ser mais efetivamente compreendida. A questão mercadológica, isto é, o perfil do mercado e do empreendedorismo precisa ser levado em conta. Uma importante ferramenta de análise para a questão mercadológica, bem como o perfil do empreendedor é a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), devendo-se levar em consideração que a GEM trabalha com um conceito mais amplo do empreendedorismo, isto é, a abertura de pequenos negócios ou o auto-emprego é considerado uma iniciativa empreendedora. A GEM é uma pesquisa acerca do empreendedorismo no mundo e realizada em trinta e quatro países de todos os continentes, sendo coordenada internacionalmente pela London Business School, da Inglaterra, e pelo Babson College dos Estados Unidos. Procurando definir critérios para uma avaliação objetiva do empreendedorismo nos países pesquisados, o estudo elaborou um indicador que mede o nível de atividade empreendedora nestes mesmos países, a chamada Taxa de Atividade Empreendedora (TAE). Os dados apurados são em termos percentuais e informam o quanto da força de trabalho de uma nação está dedicada a uma atividade empreendedora (seja como proprietário ou gerente de uma nova atividade) há menos de 42 meses, englobando pessoas na faixa etária dos 18 aos 65 anos. Por este indicador, o Brasil ocupa o sexto lugar mundial em termos de atividades empreendedoras, ou seja, o brasileiro pode ser considerado, de maneira geral, um agente empreendedor por natureza, seja por questão de perfil psicológico ou “por necessidade”, discussão que não será considerada neste trabalho. Outra informação importante levantada pela GEM em 2004 (os resultados da pesquisa de 2005 ainda não foram divulgados) é o aspecto tecnológico do empreendedorismo, o qual já foi anteriormente mencionado. Pelos dados levantados e os cortes estatísticos utilizados pela metodologia de pesquisa utilizada, o Brasil encontra-se em um grupo de países eminentemente empreendedores e que, porém, faz uso de tecnologia obsoleta e com pouca inovação. Pelas informações apuradas pela GEM, fica patente a importância que os cursos de engenharia (como os oferecidos pelo CEFET-RJ) têm para a expansão do empreendedorismo. Se levarmos em XIII SIMPEP – Bauru – SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. conta a importância do fenômeno, aliada às carências estruturais do empreendedorismo brasileiro, pode-se verificar o quanto essa área técnica do conhecimento humano pode acrescentar ao desenvolvimento econômico de um país como o Brasil. Mas, efetivamente, qual pode ser o benefício que a instituição de uma cadeira voltada para o tema pode trazer, em termos práticos, para o engenheiro empreendedor? Para responder a esta pergunta, vamos nos basear na tese de doutorado apresentada pela professora e doutora Liliane de Oliveira Guimarães [4] perante a banca da Fundação Getulio Vargas de São Paulo e que investiga os resultadosadvindos da adoção de disciplinas acerca do empreendedorismo nos cursos de graduação e Master in Business Administration (MBAs) em Administração nas universidades norte-americanas e, por analogia livre, pode ser estendido aos cursos de Engenharia. Na conclusão de seu trabalho, onde pôde vivenciar a experiência acadêmica nas universidades de Saint Loius, Indiana e Babson College – referência acadêmica no ensino do empreendedorismo –, Guimarães [4] afirma que o ensino do empreendedorismo exercita a capacidade de identificação de novos negócios; estimula a criatividade e a inovação; e, o mais importante, a implantação de disciplinas empreendedoras nas grades curriculares estimula a criação de Centros de Empreendedorismo, os quais, por sua vez, contribuem para um estreitamento de relações das instituições com a comunidade. 4. CONCLUSÃO Dada as características do CEFET-RJ, desde os elementos constitutivos de sua fundação, bem como de sua preocupação em manter-se atualizado e afinado com as necessidades brasileiras, pode-se concluir que a adoção de disciplinas sobre o empreendedorismo nos cursos de Engenharia é uma possibilidade para consolidação do fenômeno, fortalecimento tecnológico e expansão da rede de relacionamentos da instituição de ensino com o meio ambiente que está inserida. XIII SIMPEP – Bauru – SP, Brasil, 06 a 08 de novembro de 2006. REFERÊNCIAS [1] Drucker, Peter, “Innovation and Entrepreneurship”, 1985, 277 páginas. [2] Kirchhoff, Bruce, “Entrepreurship Economics”, 1997, 240 páginas. [3] Schumpeter, Joseph Alois, “Teoria do Desenvolvimento Econômico”, 1982, 255 páginas. [4] Guimarães, Liliane de Oliveira, “A experiência universitária norte-americana na formação de empreendedores”, 2002, 313 páginas.
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