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Historico_biologia


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De acordo com o pronunciamento em 2001 do Conselheiro Francisco César de Sá Barreto, do Conselho Federal, a Biologia:
“é a ciência que estuda os seres vivos, a relação entre eles e o meio ambiente além dos processos e mecanismos que regulam a vida. Portanto, os profissionais formados nessa área do conhecimento tem papel preponderante nas questões que envolvem o conhecimento da natureza. O estudo das Ciências Biológicas deve possibilitar a compreensão de que a vida se organizou através do tempo, sob a ação de processos evolutivos, tendo resultado numa diversidade de formas sobre as quais continuam atuando as pressões seletivas. Esses organismos, incluindo os seres humanos, não estão isolados, ao contrário, constituem sistemas que estabelecem complexas relações de interdependência. O entendimento dessas interações envolve a compreensão das condições físicas do meio, do modo de vida e da organização funcional interna própria das diferentes espécies e sistemas biológicos. Contudo, particular atenção deve ser dispensada as relações estabelecidas pelos seres humanos, dada a sua especificidade. Então a abordagem, os conhecimentos biológicos não se dissociam dos sociais, políticos, econômicos e culturais”. (CFBio, 2005).
Pode-se dizer que a prática da biologia – sem moldes científicos - surgiu nas civilizações antigas, que possuíam conhecimentos básicos sobre plantas e animais e utilizavam isso a fim de garantir a sua própria sobrevivência. Já o inicio da biologia como ciência;
“se deu a partir da primeira classificação dos animais feitos pelo grego Aristóteles, que conseguiu catalogar cerca de 500 espécies em estilo moderno. No século XIV, em 1316, o professor da escola de medicina de Bolonha, o italiano Mondino de Luzzi, publicou o primeiro livro conhecido como a anatomia humana. Cerca de três séculos após a publicação, surgiu à teoria da Evolução, elaborada pelos biólogos ingleses: Charles Robert Darwin e Alfred Russel Wallace.” (SOBRINHO, Raimundo, 2009).
Mas apenas em 1944, uma das descobertas mais importantes aconteceu, quando Oswald Theodore Avery (bacteriologista) descobriu que o DNA era a matéria-prima da qual são feitos os genes, ou seja, é a partir desta molécula que fica escrito o código genético. A partir desta descoberta, os cientistas (biólogos) conseguiram desvendar alguns enigmas a respeito da ciência (SCHNETZLER, 2000). 
Se tirarmos o olhar do panorama mundial, os primeiros traços de estudos biológicos no Brasil só ocorrem a partir do século XIX e início do XX. Nesse período encontra-se uma série de naturalistas europeus, que escreveram e descreveram as nossas riquezas naturais, antes que o Brasil pensasse na formação de seus próprios naturalistas.
A seguir, para se compreender a implementação do ensino superior da biologia no Brasil, será abordado o histórico dos cursos de Ciências Biológica, apresentando dados que explicam toda a trajetória de construção e solidificação destes cursos. Tem-se como cursos de Ciências Biológicas desde os cursos de Ciências Naturais, passando pelos de História Natural (bacharelado e/ou licenciatura), licenciatura em Ciências com habilitação em Biologia, até os atuais cursos de Ciências Biológicas (bacharelado e licenciatura).
O primeiro curso de História Natural do Brasil surgiu em 1934, criado em São Paulo no mesmo ano de instalação da Universidade de São Paulo – USP. 
Este curso foi criado por Decreto do Estado de São Paulo nº 6.293, inserido na Secção de Ciências da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. As finalidades da Faculdade eram as de: a) preparar os trabalhos intelectuais para exercício das atividades culturais de ordem desinteressada ou técnica; b) preparar o candidato ao magistério do ensino secundário, normal e superior e c) realizar pesquisas nos vários domínios da cultura que constituem o objeto do ensino. (Haddad, 2006. P.52)
Esse decreto fez com que o curso de História Natural fizesse parte do cenário de ensino superior do país, dando relevantes contribuições ao ensino, cultura e pesquisa. 
Em junho de 1942, surgiu em Porto Alegre, o curso de História Natural na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS, infelizmente o curso teve baixa procura e foi cancelado. Entretanto, no mesmo ano, na Universidade de Porto Alegre (atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS), abriu-se o curso de Ciências Naturais. “O curso estava vinculado à Faculdade de Filosofia, funcionando no porão da Faculdade de Direito. Foi nestas condições que se instalou o pequeno gabinete de Botânica. Um ano mais tarde, em 1943, foram organizados os laboratórios de Zoologia e Paleontologia.” (Haddad, 2006. P.52). Nesse ano também surgiu o Gabinete de Genética e em 1944 o segundo curso de História Natural do Estado do Rio Grande do Sul, na Pontifícia Universidade Católica.
“Segundo dados do Inep/MEC (2006), os cursos pioneiros nas diferentes regiões geográficas do Brasil são:
- Sudeste, além da USP, pioneira no Brasil, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – 1943 e a Universidade Federal de Minas Gerais – 1949;
- Sul, além da UFRGS e da PUCRS, já nomeadas, a Universidade Federal do Paraná – 1946;
- Nordeste – a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal da Bahia – ambas em 1946;
- Norte – a Universidade Federal do Pará – 1957;
- Centro-Oeste – a Universidade Católica de Goiás – 1959.” (Haddad, 2006. P. 53).
Com o passar dos anos os cursos de História Natural tomaram novos formatos e se adequaram as exigências de mercado, abrangendo áreas mais amplas das Ciências Biológicas. 
Em três de setembro de 1979 foi promulgada a lei nº 6.648, que teve como função regulamentar a função do biólogo, deixando evidente no seu art. 1º que só se pode exercer a função de biólogo aquele (a) que possui o diploma (bacharel ou licenciado) em História Natural, Ciências Biologias (em todas as especialidades) e os licenciados em Ciência com habilitação em Biologia. Após se regulamentar a profissão do biólogo e se instalar o Conselho Federal de Biologia – Cfbio e os Regionais consegue-se pautar a atividade do profissional da área. 
“A legislação que tem regulamentado a criação e funcionamento dos cursos de Bacharelado e Licenciatura na área da Biologia está listada, de uma maneira histórica, a seguir:
- Parecer CFE 325/62 e Resolução s/nº de 1962: estabeleceram o currículo mínimo de História Natural.
- Parecer CESu nº 5/63: aprovou o desdobramento do curso de História Natural em curso de Ciências Biológicas e curso de Geologia.
- Parecer CESu 30/64: estabeleceu o currículo mínimo de Ciências Biológicas.
- Portaria MEC nº 510/64: fixou o currículo mínimo para licenciatura e bacharelado de Ciências Biológicas.
- Parecer 81/65: estabeleceu a duração e o currículo mínimo para licenciatura em Ciências 1º grau.
- Parecer 571/66: estabeleceu o currículo mínimo para Ciências Biológicas (bacharelado modalidade médica).
- Portaria CFE nº 25/67: retificou a Portaria MEC nº 510/64, estabelecendo o currículo mínimo para o curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, modalidade médica.
- Resolução CFE de 4 de fevereiro de 1969: estabeleceu o currículo mínimo e duração do curso de Ciências Biológicas com tronco curricular comum para licenciatura e bacharelado, modalidade médica; revogou os currículos mínimos de História Natural e Ciências Biológicas.
- Parecer nº 107/70 (Resolução de 4 de fevereiro de 1970): organizou o currículo mínimo de Ciências Biológicas (Licenciatura e Bacharelado).
- Parecer nº 1.687/74 e Resolução CFE 30/74: criou cursos de Ciências habilitação Biologia – Ciências de 1º grau (Curta) e Biologia 2º grau (Plena).
Resolução CFE 37/75: determinou a obrigatoriedade dos cursos de Licenciatura curta em Ciências.
- Resolução CFE 5/78: suspendeu a obrigatoriedade dos cursos de Licenciatura curta em Ciências.
- Lei nº 9.394/1996: estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
- Resolução CNE nº 3/1997: tratou da formação do professor leigo.
- Parecer CNE/CP nº 9/2001: estabeleceu as DiretrizesCurriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.
- Parecer CNE/CP nº 21/2001: estabeleceu a duração e carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.
- Parecer CNE/CP nº 27/2001: estabeleceu uma nova redação ao item 3.6,alínea c, do Parecer CNE/CP 9/2001, que dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.
- Parecer CNE/CP nº 28/2001: estabeleceu uma nova redação ao Parecer CNE/ CP 21/2001, que estabelece a duração e a carga horária dos cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.
- Parecer CNE/CES nº 1.301/2001: estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Ciências Biológicas. 
- Resolução CNE/CP nº 1/2002: instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena.
- Resolução CNE/CP nº 2/2002: instituiu a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior.
- Resolução CNE/CES nº 7/2002: estabeleceu as Diretrizes Curriculares para os cursos de Ciências Biológicas.” (Haddad, 2006. P. 54-55).
O próprio Conselho Federal de Biologia (CFBio) traz algumas normas que guiam a formação do profissional da Biologia. Além das já citadas Diretrizes Curriculares, aprovadas pela câmara de educação superior, traça o perfil desejável do formando e suas competências e habilidades primordiais. Cita a estrutura que o curso deve seguir e mostra os conteúdos curriculares básicos, que deverão englobar conhecimentos biológicos e das áreas das ciências exatas, da terra e humanas, tendo a evolução como eixo integrador, veja a seguir:
BIOLOGIA CELULAR, MOLECULAR E EVOLUÇÃO: Visão ampla da organização e interações biológicas, construída a partir do estudo da estrutura molecular e celular, função e mecanismos fisiológicos da regulação em modelos eucariontes, procariontes e de partículas virais, fundamentados pela informação bioquímica, biofísica, genética e imunológica. Compreensão dos mecanismos de transmissão da informação genética, em nível molecular, celular e evolutivo.
DIVERSIDADE BIOLÓGICA: Conhecimento da classificação, filogenia, organização, biogeografia, etologia, fisiologia e estratégias adaptativas morfofuncionais dos seres vivos. 
ECOLOGIA: Relações entre os seres vivos e destes com o ambiente ao longo do tempo geológico. Conhecimento da dinâmica das populações, comunidades e ecossistemas, da conservação e manejo da fauna e flora e da relação saúde, educação e ambiente.
FUNDAMENTOS DAS CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA: Conhecimentos matemáticos, físicos, químicos, estatísticos, geológicos e outros fundamentais para o entendimento dos processos e padrões biológicos.
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E SOCIAIS: Reflexão e discussão dos aspectos éticos e legais relacionados ao exercício profissional. Conhecimentos básicos de: História, Filosofia e Metodologia da Ciência, Sociologia e Antropologia, para dar suporte à sua atuação profissional na sociedade, com a consciência de seu papel na formação de cidadãos. (CFBio, 2002).
Devido a grande importância dos caminhos científicos atuais, como o da biotecnologia, da preservação e conservação do ambiente, da biodiversidade e dos recursos genéticos, aumentou-se a procura por cursos de Ciências Biológicas. A criação de diretrizes curriculares nacionais, a regulamentação da profissão e o ingresso na área de saúde, faz com que o biólogo tenha uma melhor formação e possa entrar de maneira mais competitiva no mercado de trabalho.
“Esta publicação, que tem como um dos objetivos a análise do Censo da Educação Superior, englobando o período de 1991 a 2004, mostra, entre outros fatores, um crescimento contínuo no número de cursos de Ciências Biológicas no Brasil. Dados de 2005, tendo como fonte o MEC/Inep/DEAES, mostram que somente neste ano houve um acréscimo de 89 cursos em relação a 2004, representando um incremento significativo em relação aos anos anteriores.” (Haddad, 2006. P. 56).
Referencias:
CFBio. Formação Profissional, 2002. Disponível em: <http://www.cfbio.gov.br/formacao-profissional>. Acesso em: 28 out. 2014.
Haddad. A trajetória dos cursos de graduação na saúde, 2006.
Dinâmica das graduações em saúde no Brasil: subsídios para uma politica de recursos humanos; Ministério da saúde; Rio de Janeiro, 2006.
SOBRINHO, Raimundo de Sousa. A importância do ensino da biologia para o cotidiano. 2009

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