Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

ZOONOSES 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariana Forgati 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Em nossa aula, estudaremos as principais zoonoses com relevância 
epidemiológica causadas por bactérias: leptospirose, botulismo, brucelose, 
doença de Lyme e peste bubônica. 
As bactérias compõem um grupo extremamente diverso de organismos 
unicelulares e procariontes, ou seja, não possuem um núcleo compartimentado 
para abrigar seu DNA e estão organizadas em dois grandes reinos: Bacteria e 
Archaea. A maioria dos procariotos é pequena e simples, com morfologia 
esférica ou em forma de bastonete, normalmente revestida por uma parede 
celular. As células procarióticas ocupam uma grande variedade de nichos e 
apresentam a maior diversidade bioquímica entre todos os organismos vivos, 
com espécies organotróficas (que se alimentam de uma variedade de moléculas 
orgânicas), fototrótricas (realizam fotossíntese) e litotrótricas (realizam 
quimiossíntese) (Alberts et al., 2002). 
TEMA 1 – LEPTOSPIROSE 
Nesta seção, iniciaremos o estudo das zoonoses bacterianas com maior 
relevância epidemiológica, dentre as quais se destaca a leptospirose. 
A leptospirose tem como agente etiológico a bactéria espiralada 
Leptospira interrogans, que possui mais de 200 variantes sorológicas (sorovares 
– Australis, Autumnalis, Bataviae, Bratislava, Canicola, Copenhageni, Hardjo e 
Icterohaemorrhagiae, por exemplo). Essa infecção é mundialmente distribuída, 
com maior prevalência nos países tropicais, com elevado índice pluviométrico. 
A infecção é comum em roedores e outros mamíferos silvestres e 
domésticos (160 espécies de mamíferos já foram identificadas com a infecção). 
Cada sorovar tem seu hospedeiro preferido, embora cada espécie possa abrigar 
mais de um sorovar. O ser humano, por exemplo, é suscetível a vários sorovares. 
A transmissão para seres humanos ocorre em surtos esporádicos ou 
epidêmicos, de modo acidental, com a bactéria veiculada através da urina de 
animais contaminados, normalmente roedores sinantrópicos do ambiente urbano 
e rural. 
Após um período de incubação de 1 a 2 semanas, a leptospirose passa 
por duas fases. 
 
 
3 
• Leptospiremia (7 a 10 dias), em que as leptospiras multiplicam-se 
ativamente nos diferentes órgãos, caracterizando o quadro agudo da 
doença. Os sintomas dessa fase costumam ser febre, mialgia 
(principalmente na região das panturrilhas), conjuntivite, rigidez na nuca, 
náuseas e vômitos. 
• Leptospirúria (1 semana a meses), em que ocorre liberação das 
leptospiras pela urina. A evolução da doença varia de acordo com vários 
fatores, entre eles o sorovar, a carga bacteriana infetante, o estado de 
saúde do doente e a intervenção médica rápida. A maioria dos infectados 
desenvolve uma infecção inaparente, subclínica. Porém, de 5 a 10% 
desenvolve a doença de Weil, uma forma ictérica ou hepatonefrídica 
grave, com elevada taxa de mortalidade, cujos sintomas são (além das 
descritas na leptospiremia) petéquias na pele, hemorragias no trato 
gastrointestinal, proteinúria (eliminação de proteínas pela urina), 
hepatoesplenomegalia (aumento do volume do fígado e pâncreas), 
icterícia e insuficiência renal. 
O tratamento consiste na administração de antibióticos, como penicilina e 
amoxicilina. Veja o infográfico com as principais informações a respeito da 
leptospirose na Figura 1. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
Figura 1 – Infográfico sobre principais formas de transmissão, sintomas e 
prevenção da leptospirose 
 
Crédito: Love You Stock/Shutterstock. 
Como a fase aguda da leptospirose pode ser confundida com outras 
enfermidades (como síndrome gripal, meningite, hepatite), é necessário realizar 
diagnóstico laboratorial, como isolamento do agente infeccioso a partir de cultura 
do sangue total, da urina ou até mesmo do líquido cefalorraquidiano. De forma 
complementar, pode-se investigar a presença de leptospiras no material 
biológico, num exame a fresco sob microscópio de luz de fundo escuro. Podem 
ser realizados, também, exames sorológicos, a partir da primeira semana de 
infecção (pesquisa de antígenos e ELISA, principalmente). A técnica molecular 
PCR é bastante sensível e com elevada especificidade, sendo um excelente 
método diagnóstico, porém com custo elevado, o que é inviável para a maioria 
das localidades (Acha; Szyfres, 2001). 
A leptospirose está relacionada a condições comportamentais 
(trabalhadores de arrozais, minas, esgotos, matadouros, cuidadores de animais 
e veterinários) e socioambientais, sendo recorrente em áreas pobres, com altos 
índices de desigualdade social e em países em desenvolvimento. 
Embora seja potencialmente letal, o impacto da leptospirose na saúde da 
população é bastante subestimado. Essa a doença tem pouca ou nenhuma 
 
 
5 
visibilidade, o que a torna marginalizada e desconhecida pelo público geral. Por 
se tratar de uma infecção prevalente em regiões pobres e que não desperta o 
interesse de grandes indústrias farmacêuticas e do poder público para garantir 
infraestrutura apropriada para a prevenção, tratamento e controle da 
enfermidade. A leptospirose foi classificada na literatura internacional como uma 
Doença Tropical Negligenciada (Martins; Spink, 2020). 
TEMA 2 – BOTULISMO 
O botulismo é causado pelo bacilo gram-positivo Clostridium botulinum 
(bacilo gram-positivo), uma bactéria anaeróbia obrigatória, cujo reservatório de 
é o solo, sedimento de rios e mares, vegetais e intestino de aves e mamíferos. 
Sob condições desfavoráveis, C. botulinum produz esporos, que são 
extremamente resistentes a calor de dessecação, sendo capazes de sobreviver 
por mais de 30 anos em meio líquido e, mais tempo ainda, em meio seco, além 
de tolerar temperatura elevadíssimas (como 100°C por horas). 
A germinação dos esporos ocorre quando C. botulinum encontra 
condições favoráveis, como condições anaeróbicas, pH superior a 4,5 e 
umidade. Essas condições são encontradas, por exemplo, em alimentos, 
principalmente em embutidos e conservas caseiras que não sofreram tratamento 
térmico adequado ou armazenados em condições inadequadas. 
Clostridium botulinum sintetiza uma das mais potentes neurotoxinas 
conhecidas, a toxina botulínica, responsável por quatro tipos de enfermidade em 
seres humanos extremamente graves, que devem ser considerados como 
emergência médica. 
• Botulismo alimentar: ingestão de alimentos contaminados pela toxina 
botulínica pré-formada. 
• Botulismo de feridas: toxina é produzida durante a infecção tecidual. 
Atualmente, essa infecção está associada a usuários de drogas injetadas. 
• Colonização intestinal em adultos: toxina é produzida e absorvida após 
colonização intestinal. 
• Botulismo infantil: comumente associado à Síndrome de Morte Súbita do 
Recém-Nascido. A microbiota imatura dos lactantes menores de um ano 
permite a germinação dos esporos e colonização do intestino do lactante 
por C. botulinum, seguido pela produção e absorção da toxina botulínica. 
 
 
6 
O consumo de mel contaminado é a principal causa do botulismo infantil, 
por isso recomenda-se não oferecer esse alimento a crianças menores de 
um ano (Cereser et al., 2008). 
A toxina botulínica age seletivamente no terminal nervoso periférico 
colinérgico, inibindo a liberação de acetilcolina na fenda sináptica da junção 
neuromuscular. 
Outros animais também podem ser infectados pelo botulismo, 
principalmente aves e bovinos que consomem ração, silagem e forragens 
contaminadas com toxina botulínica. Além de prejudicar os ganhos econômicos 
com os sistemas de produção, o botulismo nesses animais é potencialmente 
transmissível aos seres humanos. 
O período de incubação costuma durar de 18 a 36 horas, apesar dos 
sinais clínicos poderem ser manifestados após poucas horas da ingestão do 
alimento. Apesar do botulismo apresentar sete variantes antigênicas diferentes 
(A-G), os sinaisclínicos variam pouco (apesar de a variante A apresentar maior 
mortalidade), sendo comum a manifestação de sintomas gastrointestinais, como 
náuseas, vômitos e dores abdominais, seguida por sintomas neurológicos. As 
manifestações neurais são sempre simétricas, com paralisia descendente, 
sendo comum diplopia (visão dupla), disartria (fala lenta e sem articulação) e 
disfagia (dificuldade em engolir líquidos e alimentos sólidos). Devido à barreira 
hematoencefálica, a toxina não atinge o encéfalo, portanto, o paciente 
permanece consciente durante a evolução do quadro. É muito comum o quadro 
evoluir para uma parada respiratória e óbito, principalmente se a dose ingerida 
de toxina botulínica for alta. Nos pacientes que sobrevivem, a completa 
recuperação pode levar de 6 a 8 meses. Veja no infográfico da Figura 2 os 
principais sinais e sintomas do botulismo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
Figura 2 – Infográfico ilustrando os principais sinais e sintomas do botulismo 
 
Crédito: Designua/Shutterstock. 
O diagnóstico clínico do botulismo precisa ser confirmado pela presença 
da toxina botulínica no soro do paciente, bem como no estômago e nas fezes de 
pessoas que consumiram alimentos suspeitos de contaminação pela toxina 
botulínica. 
O sucesso do tratamento depende da precocidade com a qual o mesmo 
é iniciado e depende da dose de toxina botulínica consumida. A administração 
de antitoxinas (heptavalente e trivalente de origem equina) neutralizam as 
moléculas que ainda não se ligaram às terminações nervosas, sendo incapazes, 
no entanto, de reverter os danos já causados. 
 
 
8 
A prevenção do botulismo consiste, principalmente, no consumo de 
alimentos com boa procedência e, no caso de conserva e embutidos, que foram 
submetidos a temperatura de 120°C por 30 minutos e mantidos em solução 
salina com concentração de cloreto de sódio superior a 8%. Além disso, os 
alimentos enlatados, cujas latas estejam estufadas devem ser rejeitados e 
destruídos, já que apresentam indicativo de contaminação por C. botulinum 
(Acha; Szyfres, 2001). 
TEMA 3 – BRUCELOSE 
A brucelose é uma zoonose direta com distribuição geográfica mundial 
causada por bactérias do gênero Brucella, que são cocobacilos gram-negativos, 
com capacidade de formar esporos. A brucelose humana pode ser causada 
pelas seguintes espécies: Brucella melitensis (mais comum e mais invasiva), 
cujos reservatórios são as cabras, as ovelhas e os camelos; Brucella abortus, 
que causam a brucelose bovina; Brucella suis, que causam a brucelose suína; e 
a Brucella canis, a canina. 
O ser humano adquire brucelose ao entrar em contato direto com animais 
contaminados (fetos, envoltórios fetais e descargas vaginais ricos em brucelas), 
ao consumir alimentos de origem animal contaminados (leite não pasteurizado, 
carne malcozida ou crua) ou, em menor grau, pela inalação de aerossóis 
infectantes. 
O período de incubação é de uma a três semanas. A manifestação dos 
sintomas é repentina, sendo que a fase aguda da infecção se confunde com 
tantas outras enfermidades, causando febre, calafrios, sudorese, pronunciada 
astenia (sensação de fraqueza, cansaço), além de insônia, impotência sexual, 
constipação, anorexia e dores generalizadas. O sistema nervoso é bastante 
afetado pela infecção, sendo que podem ser observadas irritação, nervosismo e 
depressão, bem como maior volume nos gânglios periféricos e 
hepatoesplenomegalia. Em algumas pessoas, a brucelose se torna crônica, com 
sintomas persistindo por anos, mesmo na ausência de focos de infecção 
localizados. 
O diagnóstico da brucelose humana é baseado na sintomatologia e 
investigação epidemiológica. Entretanto, deve ser confirmado a partir de exames 
laboratoriais, que buscam isolamento e identificação do agente etiológico a partir 
de cultura de sangue, medula esternal e da crista ilíaca, bem como de abcessos 
 
 
9 
e líquido cefalorraquidiano. No caso de suspeita oriunda de local enzoótico e os 
exames anteriores atestarem negativo para brucelose, recomenda-se realizar 
uma contraprova sorológica, sendo a prova de soroaglutinação a mais sensível. 
O tratamento recomendado para a brucelose aguda é a administração de 
rifampicina e doxiciclina, por pelo menos 6 semanas. Essa terapêutica tem 
reduzido de forma considerável a duração da enfermidade, bem como as 
recaídas (Acha; Szyfres, 2001). 
A cada ano, meio milhão de casos de brucelose humana são registrados 
ao redor do mundo, sendo dependente do contato direto ou indireto e, de acordo 
com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a verdadeira incidência da 
brucelose seria algo entre 5 a 10 vezes maior do que sugerem os números 
oficiais. Na América Latina, os países com maior número de casos de brucelose 
são Argentina, México e Peru. 
No ser humano, a infecção por brucelose depende da densidade do gado, 
nível de endemia animal, nível socioeconômico e hábitos alimentares. Sabe-se 
que os programas de controle e erradicação da brucelose bovina tem grande 
efeito na redução da infecção humana. A vacinação dos bovinos é recomendada 
para o controle da brucelose nas áreas enzoóticas. Recomenda-se a aplicação 
da cepa 19 ante B. abortus, que garante proteção a toda a vida útil do animal. 
Ações como pasteurização do leite e consumir carnes de boa procedência e bem 
cozidas ou assadas também são ações eficientes. Entretanto, a prevenção da 
infecção dos grupos ocupacionais, como veterinários e pessoal que trabalha 
diretamente com gado (especialmente funcionários dos matadouros), é mais 
difícil, sendo que se baseia em educação para a saúde, uso de equipamentos 
de proteção individual e supervisão médica (Acha; Szyfres, 2001). 
TEMA 4 – DOENÇA DE LYME: BORRELIOSE 
A doença de Lyme, ou borreliose, é uma enfermidade que acomete aves, 
mamíferos silvestres e domésticos e seres humanos, de forma acidental. Essa 
infecção é causada por Borrelia burgdorferi, pertencente à família 
Spirochaetacea, cujos representantes são bactérias helicoidais dotados de 
grande mobilidade. 
A borreliose foi também batizada de doença de Lyme, pois em 1977, na 
cidade estadunidense de Lyme, vários jovens passaram a apresentar artrite 
associada a lesões cutâneas típicas dessa infecção. 
 
 
10 
A borreliose é uma infecção associada à infestação por carrapatos do 
gênero Ixodes, no ciclo silvestre, e Amblyomma, no ciclo doméstico, que envolve 
seres humanos e animais domésticos. O Amblyomma cajennense é a espécie 
de carrapato de maior relevância médica no Brasil. As ninfas dessa espécie são 
popularmente chamadas de micuins e os adultos de carrapato-estrela. 
Os carrapatos se infectam ao realizar o repasto sanguíneo em animais 
portadores da B. burgdorferi. Os principais reservatórios são os cervos de cauda 
branca e os camundongos, nos Estados Unidos, apesar de terem sido 
encontrados títulos sorológicos elevados de anticorpos específicos para B. 
burgdorferi em gado bovino, caprino e em cães, sugerindo que esses animais 
também possam atuar como reservatórios (Santos et al., 2010). 
Após certo período de parasitismo, a região onde o carrapato se adere 
costumam apresentar eritema, edema e prurido. A infecção por B. burgdorferi, 
por sua vez, é caracterizada principalmente pelo eritema migratório recidivante 
(ECM), presente de 60 a 80% dos pacientes. As demais manifestações clínicas 
diferem de acordo com a região geográfica em questão, associado às 
características antigênicas de Borrelia spp. Na América do Norte, por exemplo, 
há predomínio de manifestações cutâneas e articulares; na Europa, 
manifestações cutâneas e neurológicas; na Ásia, a sintomatologia é, 
basicamente, cutânea (Fonseca et al., 2005). 
O ECM (Figura 3) aparece de 3 a 20 dias após a picada do carrapato. A 
lesão se inicia como uma pápula avermelhada, que aumenta progressivamente. 
Os bordos da lesão tornam-se, então, bem delimitados; a lesão central se 
empalidece.A lesão é recidivante porque é recorrente e aparece em outros 
locais do corpo, além daquele da região da picada. Além das lesões, podem ser 
observados febre, cefaleia, rigidez na nuca, mialgias, artralgias, linfoadenopatia 
(aumento nos linfonodos). 
 
 
 
11 
Figura 3 – Eritema Migratório Recidivante (EMR) típico da doença de Lyme 
(borreliose) 
 
Crédito: AnastasiaKopa/Shutterstock. 
Após semanas ou meses do surgimento dos primeiros sintomas, além do 
aumento das EMRs, alguns pacientes podem apresentar meningoencefalite, 
neuropatias, miocardites, taquicardia atrioventricular e paralisia de Bell (paralisia 
em um dos lados da face e artrite, que podem perdurar por anos, de forma 
crônica). 
Para o diagnóstico da borreliose, além dos sinais clínicos (principalmente 
presença de EMR), é necessário isolar o agente infeccioso por cultivo, realizar 
prova por imunofluorescência e ELISA. Porém, devido às reações cruzadas e à 
baixa sensibilidade, essas técnicas não são recomendadas para portadores 
assintomáticos. 
O tratamento da borreliose consiste na administração de doxiciclina ou 
ceftriaxona, caso haja alguma infecção neurológica (Acha; Szyfres, 2001). 
As medidas mais eficientes de controle da borreliose consiste em evitar 
áreas endêmicas e picadas de carrapato, bem como realizar o controle de 
carrapatos através do manejo da vegetação peridomiciliar, que atua como abrigo 
para diferentes estágios do ciclo de vida. A utilização de carrapaticidas também 
 
 
12 
pode ser uma medida de controle desses parasitos, seja no ambiente, seja para 
a aplicação ou ingestão pelos hospedeiros. 
TEMA 5 – PESTE BUBÔNICA 
A peste bubônica é uma parasitose causada pela bactéria Yersinia pestis, 
cuja principal transmissão é através da picada de pulgas do gênero Xenopsylla, 
que infesta principalmente roedores. 
O período de incubação é de 2 a 6 dias. Depois desse período, a infecção 
pode seguir três caminhos: bubônica clássica, septicêmica e pulmonar, mas que 
apresentam alguns sintomas comuns, como febre, calafrios, cefaleia, náusea, 
dor generalizada, diarreia ou constipação, toxemia, hipotensão e confusão 
mental. 
A peste bubônica clássica, além dos sintomas já descritos, é 
caracterizada por uma inflamação e inchaço dos gânglios linfáticos periféricos, 
popularmente chamados de bubões. Essa forma de manifestação apresenta 
letalidade de 25 a 60%. Na forma septicêmica, ocorrem manifestações de 
sintomas neurológicos de forma muito abrupta, sendo que a letalidade pode 
chegar a 100% dos casos. Por fim, a forma pulmonar pode ocorrer de forma 
secundária à bubônica clássica ou septicêmica, através da proliferação do 
patógeno via corrente sanguínea, ou primária, através da inalação de patógenos 
oriundos de outros seres humanos infectados, causando dispneia, expectoração 
(aquosa, espumosa ou hemorrágica). 
O diagnóstico precoce da peste bubônica é decisivo para a sobrevivência 
e recuperação do paciente. Para isso, recomenda-se realizar a punção dos 
líquidos do “bubões”, líquido cefalorraquidiano e edemas, seguida por cultivo 
celular e inoculação em animais de laboratório. Provas sorológicas podem ser 
realizadas, como hemoaglutinação e ELISA. 
Desde a era cristã, a peste bubônica foi responsável por três pandemias. 
A primeira ocorreu no ano 542, quando ficou conhecida por Peste de Justiniano. 
Essa enfermidade assolou Constantinopla, estendendo-se até Roma, sendo 
responsável por 100 milhões de mortos. As perdas humanas foram tão 
significativas que desencadearam a queda do Império Bizantino. 
A segunda, denominada peste negra, iniciou-se em 1348, durou três 
séculos e ocasionou a morte de um terço da população europeia, além de 
milhares de pessoas na Ásia. Ainda nessa época, não se conhecia o agente 
 
 
13 
causador dessa enfermidade, que era atribuída à inalação de ar contaminado 
por miasmas, supostas substâncias orgânicas presentes nos vapores eliminados 
durante a putrefação da matéria orgânica e seus odores fétidos. Esse era um 
dos motivos pelos quais os médicos dessa época utilizavam aquelas máscaras 
macabras, em formato de bico de ave (Figura 4). No interior da máscara, eram 
adicionados ervas e especiarias para purificar o ar e evitar que os miasmas 
atingissem as vias aéreas. 
Por fim, a última pandemia de peste bubônica iniciou-se em 1894 até a 
década de 1930. Nesse período, o bacteriólogo Alexandre Yersin descobriu o 
agente etiológico da peste bubônica e sua associação às pulgas de roedores 
(Gullot; Serpa, 2020). 
Figura 4 – Imagem de um médico portando máscara para proteção contra os 
miasmas, supostos causadores da peste bubônica no século XIX 
 
Crédito: illustrissima/Shutterstock. 
Apesar dessa doença estar controlada, atualmente, ainda é possível 
verificar surtos cíclicos da peste bubônica, isso porque alguns focos são 
considerados persistentes (Neves, 2016). 
Nos Estados Unidos, por exemplo, o foco da peste bubônica encontra-se 
no campo, graças à presença de roedores conhecidos como “cães da pradaria”, 
 
 
14 
cujas pulgas são reservatórios da Y. pestis. As transmissões ocorrem 
principalmente no verão, quando as pessoas visitam com mais frequências as 
áreas naturais, parques etc. Em 2015, por exemplo, foram registrados 15 casos 
de peste bubônica com 4 óbitos nos Estados Unidos. 
Cientistas no Centro Nacional de Saúde da Vida Selvagem dos Estados 
Unidos trabalham no desenvolvimento de vacinas cães-da-pradaria, o que abre 
a possibilidade de eliminar a doença nesses animais, ao menos nos parques 
nacionais mais visitados dos EUA (Soares; Avelar, 2017). 
No Brasil, a peste bubônica chegou pelo porto de Santos, em 1899. Desde 
então, surtos dessa infecção têm ocorrido, principalmente, em regiões silvestres 
do Piauí, Ceará, Pernambuco, Bahia, Alagoas, norte de Minas Gerais e Rio de 
Janeiro. Entre 1980 e 1993, 736 casos de peste bubônica foram notificados no 
país (Neves, 2016). 
Casos como esses de surtos de doenças anteriormente têm se tornado 
cada vez mais frequentes. Um dos motivos é a interferência do ser humano nos 
ambientes naturais, que causam desequilíbrios nas relações parasito-
hospedeiro, moldadas ao longo de milhares de anos de seleção natural. 
NA PRÁTICA 
A proposta prática desta aula é a construção de uma tabela comparativa 
das cinco zoonoses bacterianas estudadas: leptospirose, botulismo, brucelose, 
doença de Lyme e peste bubônica, conforme sugerido na tabela a seguir. 
 LEPTOSPIROSE BOTULISMO BRUCELOSE 
DOENÇA 
DE LYME 
PESTE 
BUBÔNICA 
Agente 
etiológico 
 
Outros 
animais 
infectados 
 
Distribuição 
geográfica 
 
Período de 
incubação 
 
Sintomas 
Tratamento 
Profilaxia 
Epidemiologia 
 
 
15 
FINALIZANDO 
Em nossa aula, vimos algumas das zoonoses causadas por bactérias com 
importância para a medicina humana. 
A leptospirose é uma enfermidade extremamente negligenciada. Trata-se 
de uma infecção potencialmente letal, transmitida pela urina de roedores, 
principalmente, contaminadas com L. interrogans. 
O botulismo é uma enfermidade causada pela bactéria C. botulinum, 
capaz de produzir esporos altamente resistentes, que germinam sob condições 
ambientais favoráveis, como as propiciadas por alimentos sem tratamento 
térmico e/ou conservantes. A enfermidade é decorrente da ação da toxina 
botulínica, que se liga ao neurotransmissor acetilcolina, causando paralisia e, 
normalmente, levando o paciente a óbito. 
A brucelose é uma enfermidade causada pela bactéria do gênero 
Brucella. O contato com animais infectados, principalmente com Brucella 
melitensis, bem como o consumo de leite não pasteurizado e carne malcozida 
ou crua, são os principais responsáveis pela infecção do ser humano. Os 
indivíduos mais suscetíveis à brucelose são os trabalhadores dos sistemas de 
produção de bovinos, como fazendeiros, operários dos matadouros e frigoríficos, 
além dosmédicos veterinários. 
A doença de Lyme, ou borreliose, é causada pela bactéria Borrelia 
burgdorferi, transmitida pela picada de carrapatos. Aqui no Brasil, a principal 
espécie envolvida é o carrapato-estrela A. cajennense. A doença de Lyme é 
caracterizada, principalmente, pelo eritema migratório recidivante e artrite, que 
pode perdurar por anos. 
Por fim, vimos sobre a peste bubônica, responsável por três grandes 
pandemias ao longo da história da humanidade. A peste bubônica é causada 
pela bactéria Y. pestis, transmitida pela picada de pulgas, do gênero Xenopsylla, 
presente em roedores. Apesar dessa enfermidade estar controlada, ainda se 
verificam surtos cíclicos, principalmente quando os ser humano entra em contato 
com os reservatórios naturais desse patógeno. 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmisibles 
comunes al hombre y a los animales. 3. ed. Washington: OPAS, 2001. v. 1. 
CERESER, N. D. et al. Botulismo de origem alimentar. Ciência Rural. v. 38, n. 
1, p. 280-287, 2008. 
FONSECA, A. H. F. et al. Borreliose de Lyme simile: uma doença emergente e 
relevante para a dermatologia no Brasil. Anais Brasileiros de Dermatologia. v. 
80, n. 2, p. 171-178, 2005. 
GULLOT, C. C.; SERPA, G. R. Principales pandemias en la historia de la 
humanidade. Revista Cubana de Pediatria, v. 92, e1183, 2020. 
MARTINS, M. H. M.; SPINK, M. J. P. A leptospirose humana como doença 
duplamente negligenciada no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. v. 25, n. 3, p. 
919-928, 2020. 
NEVES, D. P. Parasitologia Humana. 16. ed. São Paulo: Atheneu, 2016. 
SANTOS, M. et al. Borreliose de Lyme. Anais Brasileiros de Dermatologia. v. 
85, n. 6, 930-938, 2010. 
SOARES, A. C; AVELAR, D. M. Parasitologia Geral. Belo Horizonte: Anima, 
2017. 
	CONVERSA INICIAL
	TEMA 1 – LEPTOSPIROSE
	TEMA 2 – BOTULISMO
	TEMA 3 – BRUCELOSE
	TEMA 4 – DOENÇA DE LYME: BORRELIOSE
	TEMA 5 – PESTE BUBÔNICA
	NA PRÁTICA
	FINALIZANDO
	REFERÊNCIAS

Mais conteúdos dessa disciplina