Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 5 – CÍCERO BITTAR, Eduardo Carlos B. Curso de filosofia do direito. São Paulo: Atlas, 2008. Diferentemente da Grécia, o campo filosófico em Roma não encontra ambiente fértil, pois tudo se delineia com objetivismo, praticidade e imediatismo. Os grandes objetivos militares, as obras monumentais e o interesse imediatista dos romanos não abrem espaço aos filósofos e sim aos retóricos e historiadores. A filosofia romana se constrói da importação dos conceitos gregos, preponderando somente o que interessava. No mesmo sentido segue a filosofia do direito, mais inclinada à ação do que à reflexão. Para fugir das abstrações, os romanos sistematizam seu sistema jurídico, criando o Corpus Juris Civilis, totalmente casuísta (minucioso), ou seja, surge o apego formalístico à letra da lei, despojado de dialética. A codificação do direito representa a razão escrita. Em outras palavras, a dialética perde força para dar espaço ao formalismo e seguimento do positivado. MARCO TÚLIO CÍCERO (106-43 a.C.) - Marcus Tullius Cícero produziu contribuições para política, moral, teologia, Direito, literatura, retórica, oratória entre outros campos. - Viveu no período clássico do Direito Romano e é o que mais interessa à filosofia do direito. - Cícero recebeu grande influência dos estóicos. O estoicismo sintetizou o seguinte ideal do homem sábio: aquele que venceu todas as suas paixões e se livrou das influências externas pode alcançar a liberdade autêntica. Assim, através da lei natural, o homem pode viver segundo a natureza humana e não segundo preceitos humanos construídos por interesses egoísticos. - Cícero foi um grande orador político e jurídico, com vasta atuação nos tribunais cíveis e criminais. Ética Ciceroniana - A ética, com influência estóica, requer o respeito às leis cósmicas e ao universo. Para alcançá-la, o homem precisa descobrir seu interior e a atingir o estado em que a alma, pelo equilíbrio e moderação na escolha dos prazeres sensíveis e espirituais, atinge o ideal supremo da felicidade: a imperturbabilidade. - Para Cícero existia apenas uma fonte de lei: o respeito à harmonia natural. Enquanto as leis fossem fundamentadas nesta perspectiva, caberia aos homens respeitá-las. Cícero concebe o direito natural como a suprema razão inerente à natureza. No entanto, a ética ciceroniana não era pura, recebendo influências dos estóicos, de Sócrates, Platão e Aristóteles. : - A ética se forma da ligação do homem com a natureza. - Ética não é contemplação, reflexão, ética é ação. - O que se julga como ético ou não é a própria ação. - Com isso, justiça é uma conquista prática, decorrente das ações. - A ética depende de uma lei absoluta preexistente, imutável, intocável, soberana e que a tudo governa: a lei natural (o bem e o mal são definidos pelas razões da natureza). - Conhecer-se a si mesmo e descobrir a lei natural em si é o caminho da sabedoria. Justiça e paz social - A justiça deve pautar-se nas leis naturais. - A criação das leis humanas deve ser inspirada nas leis naturais. - A lei natural antecede o homem e deve servir-lhe de parâmetro para construção de sua organização artificial, para que assim haja prevalência da justiça. - A lei natural capacita a construção de uma razão comum, que levará a uma República justa. - Para que haja apenas uma única razão, portanto justiça e paz social, é necessária a contemplação das leis naturais. - “A lei é uma diferença entre o justo e o injusto, feita de acordo com a Natureza” (Cícero, Das leis). JURISCONSULTOS ROMANOS Grande exemplo da importância da prática da interpretação dos institutos jurídicos é o Digesto: coleção das decisões dos jurisconsultos romanos mais célebres, transformadas em lei por Justiniano, imperador romano do Oriente (483- 565), que é uma das partes do Corpus Juris Civilis. - É comum na visão dos jurisconsultos perceber a identificação da moral com o direito. Contudo vemos também o jurisconsulto Paulo dissociar essa relação, afirmando que nem tudo que é lícito é moral (D. 50, 17, 144). - Percebe-se ainda forte influência grega nos preceitos de direito contidos no Digesto: viver honestamente, não prejudicar a outrem, dar a cada um o que é seu. - Mas para não tornar o direito algo pétreo, os romanos permitiram a aequitas: adequamento do jus aos infinitos casos concretos, é a justiça do caso concreto. Dessa forma, a lei não se aplica sempre da mesma forma, buscando-se o caminho da equidade. O direito é norma geral e abstrata e cada situação concreta guarda suas especificidades, portanto, aplicar sempre a lei da mesma forma é possibilitar a desigualdade de tratamento (deve- se, muitas vezes, tratar diferente os desiguais). A aequitas não atinge o jus civile, não o contradiz, apenas o adapta ao caso concreto.
Compartilhar