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Anestesiologia

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ESTAGIOS E PLANOS
ANESTÉSICO 
Os estágios e planos anestésicos podem ser descritos como
um conjunto de sinais associado a variáveis fisiológicas, que é
utilizado com o intuito de caracterizar a profundidade
anestésica do paciente.
Qualquer procedimento anestésico tem como um dos fatores
essenciais para eficácia e segurança do processo a
monitoração do paciente. Como medicamentos utilizados
para proporcionar inconsciência e analgesia, eles também
acabam levando o animal à depressão cardiopulmonar. 
Assim, o sucesso do procedimento vai depender da escolha de
um protocolo anestésico adequado, além da manutenção da
perfusão e oxigenação tecidual. Dentre os diversos
parâmetros que devem ser monitorados durante o
procedimento, podemos citar alguns principais, como a
circulação, oxigenação, ventilação e temperatura.
Alguns fatores podem ser considerados essenciais durante a
avaliação do paciente para determinação do estágio e plano
anestésico. 
Assim, vamos descrever esses fatores com base no
determinado por Massone (2019):
Fatores a considerar: 
Espécie animal – A resposta do paciente aos anestésicos irá variar de
acordo com a espécie em questão. Por exemplo: O reflexo palpebral
desaparece no cão no 2º plano do estágio III e no gato ocorre no 3º a
4º plano o que indicaria inicio do choque bulbar. O reflexo
lariongotraqueal no felino desaparece tardiamente em comparação
as outras espécies, dificultando a intubação orotraquial; 
O reflexo pupilar (midríase ou miose) e conformação da pupila
variam (sendo concêntrica: homem, suíno, coelho, rato, cão e no
camundongo); transversal nos felinos e longitudinal nos equinos e
ruminantes. 
Fármacos: Planos mais bem individualizados na utilização
dos anestésicos voláteis pois, em função do plano,
permitem aumentar ou diminuir o aprofundamento
anestésico, o que é muito vantajoso e buscado,
considerando-se o estado do paciente ou mesmo o risco
cirúrgico. Um exemplo são os fármacos barbitúricos,
principalmente o tiobarbiturato, que quando utilizados
após a medicação pré-anestésica, apresentam todos os
planos anestésicos de forma homogênea, indo desde a
anestesia superficial até a profunda.
Suscetibilidade do paciente ao fármaco: Além da
suscetibilidade individual que pode existir em função de
qualquer fármaco anestésicos para as diferentes espécies de
animais, ainda há algumas especificidades, como a 
 sensibilidade ao halotano pelos suínos (Landrace e Pietrain)
causando morte por hipertermia maligna. 
Estado físico do paciente: A avaliação do estado físico do
animal é importante, já que em animais debilitados e
desnutridos atinge planos profundos de anestesia
rapidamente, levando o animal ao risco de intoxicação
anestésica. Os animais obesos isso não acontece, pois
nestes, a indução barbitúrica como medida cautelar deve
ser mais lentas, por serem esses anestésicos extremamente
lipossolúveis. Deve ser levada em consideração também a
idade do paciente. Em animais idosos (devido à dificuldade
na metabolização) ou muito jovens (pelas alterações
hemodinâmicas), os planos profundos de anestesia são
alcançados rapidamente com doses menores de fármacos. 
Tipo de intervenção cirúrgica: Em cada tipo de cirurgia,
deve ser considerada toda a estrutura envolvida, visto que
para cada uma existe uma escala de sensibilidade. Evita-se
assim, planos profundos desnecessários que podem ser
prejudiciais ao paciente.
Influência da concentração alveolar mínima: É aceita como
a concentração alveolar mínima de anestésico a uma
atmosfera de pressão capaz de produzir ausência de
resposta em pelo menos 50% de animais submetidos a um
estímulo nocivo. Por isso, cada anestésico volátil apresenta
sua própria concentração alveolar mínima. Esse parâmetro é
uma forma de avaliar a potência do anestésico.
Oculopalpebrais ( ocorrem na pálpebras, córneas e pupilas) 
 à medida que vão desaparecendo (pálpebra e córnea) ou se
alterando (pupila), indicam um plano anestésico. O reflexo
palpebral é observado tocando-se discretamente a comissura
nasal da pálpebra e observando-se o seu fechamento. O
reflexo pupilar é observado com o auxílio de uma lanterna
cujo feixe de luz causará o estímulo fotomotor. O reflexo da
córnea deve ser verificado com cuidado para não causar
lesão no local; .
PRINCIPAIS REFLEXOS AVALIADOS
Pequenos animais: 
A avaliação da profundidade anestésica, em pequenos animais,
deve ser realizada inicialmente pela observação do paciente
antes do procedimento, quando ainda íntegro e com seus
próprios reflexos normais. Essa avaliação servirá como controle
para distinguir as alterações nos reflexos após a administração
dos anestésicos.
Interdigital: É indicado do início do plano cirúrgico começando a
desaparecer no 2º plano do estágio III. Seu teste é realizado
pressionando-se a membrana interdigital com as unhas, e, a partir
disso, o animal irá recolher o membro devido ao estímulo doloroso
se ainda não estiver sob o efeito de analgesia;
Laringotraqueal: A ausência desse reflexo pode permitir ou não a
introdução da sonda endotraqueal e geralmente é alcançada após a
administração de barbitúricos ou anestesia volátil por máscara;
Cardíaco: avaliar frequência ou tipo de batimento cardíaco
indica o plano anestésico. A indução anestésica por Barbitúrico 
 causa bloqueio vagal com o aumento da taquicardia; Em geral os
anestésicos causam depressão do centro vasomotor com redução 
da contratilidade cardíaca ou até bradicardia (início do choque
bulbar).
Respiratório: A observação da quantidade e qualidade dos 
 movimentos respiratórios está diretamente ligada à sequência
dos estágios e planos anestésicos, em função da profundidade
anestésica. Inicia com excitação ou delírio, com respiração 
 arrítmica, dessincronizada e entrecortada; Com a passagem com 
planos mais profundos, há um aumento da amplitude levando á
redução da frequência para manter o volume por minuto e a
respiração tornando-se toracoabdominal; Em seguida, bloqueia
os músculos intercostais tornando-se abdominocostal
(gerealmente entre o 2º e 3º plano) para em seguida tornar-se uma
respiração abdominal superficial apenas (no 4º plano do estágio
III) evoluindo para respiração diafragmática. 
Oculopalpebral: O reflexo da pálpebra é semelhante em todas as
espécie; o pupilar varia em equinos, bovinos e pequenos ruminantes
pois neles a presença de miose (longitudinal) é indicativo de plano
profundo (3º plano do estagio III) sendo que nos equinos nota-se
nistagmo indicando 1º e 2º plano do estagio III nessa espécie. 
Digitais: Em equinos, os reflexos digitais não são verificados devido à
anatomia do casco, enquanto em bovinos e pequenos ruminantes, o
teste é realizado abrindo-se o casco.
 Laringotraqueal: semelhante aos pequenos animais. 
Cardíacos: semelhante aos pequenos animais.
 Respiratórios: nos bovinos a respiração é abdominocostal e são
reflexos vitais já nos equinos é costoabdominal e as espécie é menos
sensível a problemas relacionados as respiração. Nos bovinos durante
cirurgias demoradas ocorre dilatação dos compartimentos gástricos
por gases que pressionam o diafragma dificultando ainda mais a
respiração costal, mascarando o reflexo respiratório. Deve-se
introduzir sonda gástrica para observar a tênue respiração costal
Em um último momento, a respiração se torna laringotraqueal, pois
usará apenas o ar contido no espaço morto anatômico. É importante
salientar que, se chegar a esse ponto, o animal já vai estar descerebrado e
não terá recuperação. Por isso, é fundamental o controle da respiração,
pois antes de qualquer parada cardíaca, ocorre parada respiratória
quando há sobredose do anestésico. Assim, esse reflexo é importante
para avaliação do estágio de anestesia e para controle de segurança do
animal.
Animais de médio e grande porte 
Em animais de médio e grande porte, há uma maior variação nos reflexos
observados devido às peculiaridades entre as espécies. 
 
 
 
Reflexo Anal: em equinos desaparece do 3º e o 4º plano, o que não é 
conveniente,tendo em vista que a presença desse reflexo com
menor resposta ao estímulo doloroso é preferível do que sua
ausência.
CARACTERÍSTICAS DOS ESTÁGIOS ANESTÉSICOS
Guedel (1951) estabeleceu quatro estágios definidos em algarismos
romanos e dividiu o estágio III em quatro planos representados em
algarismos arábicos. Posteriormente, essa classificação foi adaptada
para outros fármacos anestésicos.
Estagio I Caracterizado quando se inicia o estado de alerta, passa pela
analgesia até a perda da consciência
Estágio II Conhecido como fase de excitação ou delírio. Nesse
momento, o paciente está inconsciente, mas ainda tem movimentos
involuntários, taquicardia e taquipneia. 
Estágio III – Conhecido como anestesia Cirúrgica. É caracterizado
pela perda de consciência e depressão progressiva do sistemas nervoso
central, alcançando a parada respiratória. Classicamente, em função
dessa depressão é que se determinam quatro planos, conhecidos como
planos cirúrgicos.
Dividido em: 
 1º Plano
 2º Plano 
 3º Plano
 4º Plano 
Estágio IV Conhecido como choque tubular e morte. Esse estagio é o
momento de morte, com choque bulbar. Será alcançado quando há
sobredose anestésica, com colapso vasomotor, pupilas em midríase,
apneia, braquicardia intensa, hipotensão.
Início da administração do fármaco até a perda da consciência 
Início da analgesia 
Comportamento diferente frente ao anestésico empregado 
Libera adrenalina ocorrendo taquicardia e midríase 
Desorientação, excitação, respiração irregular.
 incoordenação motora, hiperalgesia 
 tosse, vômito, defecação por hiper-reflexia 
 dilatação pupilar 
taquipnéia com hiperventilação e respiração arrítmica 
 reação anormal aos estímulos externos (sonoros, luminosos e
táteis) 
Ruminantes e felinos – salivação 
Bloqueio vagal quando aplica barbitúrico rapidamente 
Estágio evitado com uso de MPA
respiração rítmica, costoabdominal de frequência e amplitude 
miose responsiva 
início projeção da 3ª pálpebra no cão 
Presença de reflexo interdigital e laringotraqueal discretos 
Presença de reflexos oculares em todas as espécies
 Salivação profusa (éter) e discreta com uso dos halogenados e
fenotiazínicos como MPA
Pode ocorrer vômito 
Felinos apresentam gemidos 
tônus muscular 
Nistagmo em eqüinos
Estagio I – Analgesia e perda da consciência
Estágio II – Fase de excitação ou delírio
Incoordenação, hiper-reflexia desagradáveis para paciente e para o
profissional
Estágio III – Anestesia Cirúrgica
 1º Plano – início do plano cirúrgico: 
 Centralização do globo ocular, com miose (puntiforme se
usado barbitúrico)
 Midríase se pré-tratados com atropina
Respiração abdominocostal, porém profunda e rítmica com
do volume corrente e da frequência 
 Acidemia e elevação discreta da Pa CO2 
PA e dos BC com a maioria dos anestésicos; elevação
discreta com o éter
Estímulo doloroso – discreta liberação de catecolaminas 
Ausência de refelexo interdigital e às vezes palpebral 
Miose puntiforme ou início de midríase 
tônus muscular e ausência de secreções
 Os movimentos voluntários cessam, mas ainda há
miorrelaxamento insuficiente, manutenção dos reflexos
protetores, possível taquicardia e taquipneia, salivação e globo
ocular centralizado, com nistagmo e em midríase. 
2º Plano
É um dos planos cirúrgicos. Ocorre perda do reflexo
laringotraqueal e interdigital, mas o reflexo da pálpebra e da
córnea palpebral estão presentes, Não há taquicardia e a
respiração fica compassada, com padrão toracoabdominal, O
globo ocular está rotacionado. 
 
Respiração superficial abdominocostal 
Inspiração curta 
Volume corrente e FR reduzidos 
Silêncio abdominal 
Início de midríase c/ reflexo bem reduzido 
Reflexos interdigital, palpebral e corneano ausentes 
Ausência de secreções de mucosas 
Secura da boca (xerostomia) 
Córnea seca e pupila em posição central 
 Miose em felinos 
 Plano requerido em cirurgias nas quais exploram cavidades 
Respiração apenas diafragmática, taquipneica superficial 
Paralisia da musculatura intercostal e abdominal 
 Volume corrente reduzido 
Ventilação alveolar baixa 
 Acidose respiratória acentuada 
PaCO2 alta, mesmo com PaO2 alta em caso de administração de
O2 a 100%
 Midríase acentuada não responsiva 
 Córnea seca 
 Início de apnéia e cianose por hipoventilação (PaCO2 e PaO2) 
Gatos com miose cuidado, pois é difícil a recuperação
 3º Plano
torácicas e abdominais que requerem maior relaxamento
Considerando plano cirúrgico, porém mais profundo. Ocorre perda de
reflexo palpebral e corneal discreto. Ocorre bradicardia discreta e
bradipeneia. Pode ocorrer hipotensão discreta. A respiração ganha
padrão adbominotorácico. O globo ocular estar centralizado.
4º Plano
Estágio crítico – parada respiratória e cardíaca que se não
socorrida em segundos levará a morte.
Midríase não responsiva acompanhada de hipotermia e
respiração laringotraqueal e agônica, levando ao choque
bulbar
Esse conjunto de sintomas durante 3 a 4 minutos ocorre 
 anóxia cerebral na eletroencefalografia. É irreversível e 
 acusa morte clínica.
O plano 4 é inadequado, pois o paciente já está em anestesia
profunda. Ocorre perda de todos os reflexos protetores, globo
ocular centralizado e pupilas em midríase, apneia, bradicardia e
hipotensão. 
Estágio IV
Além dos estágios e planos classificados por Guedel, atualmente,
têm sido adotadas uma caracterização e uma nomenclatura mais
flexíveis:
Plano superficial O paciente mantém seus reflexos protetores,
com relaxamento muscular insuficiente, globo ocular centralizado
em midríase, podendo estar nistagmo. Pode ocorrer hipertensão,
taquipneia e taquicardia, A respiração geralmente está com
padrão toracolombar. 
Plano adequado O paciente tem perda de reflexos interdigital e
laringotraqueal. Pode apresentar perda de reflexo da pálpebra,
porém o reflexo da córnea está ocorrendo e o globo ocular
apresenta-se rotacionado com pupilas em miose.
Plano profundo O paciente tem perda de todos os reflexos
protetores. Apresenta globo ocular centralizado e em
midríase, bradicardia, hipotensão, bradipneia ou até apneia.

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