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História Antiga - Aula 04 (Aula 13 do Livro) - CAMPO E CIDADE NO MUNDO HELÊNICO ARCAICO

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HISTÓRIA ANTIGA
Aula 04 (Aula 13 do Livro Didático)
CAMPO E CIDADE NO MUNDO HELÊNICO ARCAICO
“Fontes literárias e fontes arqueológicas têm igual importância na recuperação de informações e na interpretação (ou reinterpretação) da história antiga”. Os estudiosos modernos tentam reconstituir uma imagem da sociedade a partir de Homero e dos dados arqueológicos disponíveis. Esse mundo (micênico, X a IX a.C.) revela um profundo declínio do nível geral de vida, seguido por uma forte reorganização política, econômica, social e cultural. 
Jean-Pierre Vernant, em Origens do pensamento grego: a desestruturação do poder dos palácios micênicos e a chegada de novos povos trouxeram transformações. (1) metalurgia do ferro supera a do bronze; (2) a arte se transforma (surge, no séc. IX, o chamado “estilo geométrico”), (3) nas transformações sociais, há alterações linguísticas; (4) a vida humana se organiza em torno do oikós - traduzido como “casa”, mas diferente do nosso conceito atual. 
Oikós: uma unidade econômica, de consumo, produção, centro de vida de uma família e de seus escravos, chefiada por um basileus, dono de tudo dentro de um oikós. A partir dos poemas homéricos vemos que as produções dentro de um oikós eram feitas por todos, até o próprio basileus, e inclusive por pessoas de fora da família nuclear (dentre escravos e pessoas livres). Maior quantitativo de escravas do que escravos, provavelmente por conta das estruturas de guerra - povos derrotados geralmente tinham seus homens mortos e suas mulheres escravizadas. Alguns escravos eram comprados. A situação de um escravo de oikós podia ser considerada mais "confortável " e "segura" que a de uma pessoa livre pobre, que não possuía recursos e não estava ligada a um oikós (denominadas thetes. A posição social de um indivíduo não dependia de sua condição de liberto ou não, mas de sua integração a um oikós. A arqueologia também atesta a existência de pequenos proprietários e artesãos. O nome dessas pessoas livres era demiourgoi e eram diferentes dos thetes - possuíam habilidades e prestavam serviços aos basileis (podiam ser artesãos, cantores, poetas, escultores, etc.). 
A autharkeia: termo que traduzimos por “autarquia”. Cada oikós procurava ser autônomo, produzindo o que fosse necessário para sua manutenção. O que não se conseguia produzir era obtido através das incursões guerreiras, das trocas de presentes; o comércio talvez tivesse desaparecido na época, ou talvez não era o suficiente para suprir as necessidades de cada oikós. 
O banquete (deipnon): umas das principais instituições do mundo helênico. Após o sacrifício feito às divindades, a carne era grelhada e servida aos convidados, que dividiram a louça e a taça de vinho. Um rito ligado à aristocracia guerreira e ao prazer. Criava uma identidade coletiva sobre esse grupo. O evento reforçava a autoridade do basileus anfitrião, os laços políticos; inclusive, casamentos eram arranjados nestes eventos, nos quais “filhas e viúvas eram ‘trocadas’ entre os convivas, ligando-se entre si’”. 
A assembleia (eclesia): outro momento descrito por Homero, era a reunião dos aristocratas guerreiros diante de uma situação de guerra (ou de sua iminência) para realizar deliberações.
***
AS POLES ARCAICAS
O acontecimento decisivo no final desse período [de transformações sociais, entre os séc. X e VIII a.C.] é o surgimento da polis (ou cidade-estado), forma original de organização social. A polis arcaica aparenta ser mais primitivamente organizada do que os palácios micênicos (desaparecem a burocracia e a classe profissional dos soldados - o direito ao porte de armas era privilégio dos aristocratas/chefes dos oikoi). 
Pontos que ocasionaram modificações no mundo helênico (de forma diferente em cada parte): estabilização relativa dos povoados, o desenvolvimento da colonização e o desenvolvimento da produção (que permitiu a satisfação de necessidades e a comercialização dos excedentes), a especialização do trabalho.
Polis: de raiz indo-europeia, assume seu novo significado na Hélade do período arcaico. Com ela, as planícies que circundavam a cidade passaram a fazer parte da comunidade, não mais sendo uma parte submetida. 
“A principal novidade da polis é o fato de se tratar de uma forma colegiada de governo, e não mais de uma forma monárquica. O antigo rei não desaparece totalmente; em alguns casos, como na polis de Esparta, a realeza se integra em uma estrutura política mais ampla, (...) o rei passa a exercer funções exclusivamente religiosas e é assimilado ao grupo de magistrados da cidade”, tendo um período mais ou menos determinado e com a passagem da autoridade real para a aristocracia militar, os chefes dos gene [espécie de clã ou família]. “Proprietários do solo, detentores dos poderes políticos e judiciários, defensores da região, os aristocratas eram os verdadeiros donos da polis, num 
regime aristocrático”. A polis pode ser vista, inicialmente, como uma criação da própria aristocracia guerreira, que despoja os reis de seu poder.
A nova forma de governo compreende três mecanismos básicos: os magistrados, o conselho e a assembleia. “Os aristocratas monopolizavam totalmente o exercício das magistraturas e a composição do conselho, órgão que, no início, concentrava todas as decisões importantes. Na assembleia (ecclesia), tinham assento todos os homens livres adultos: demiourgoi, georgoi [pequenos proprietários de terra] e os thetes [livres, mas que não possuíam terras”]. “A polis se define, de fato, pelo povo, demos, que a compõe: uma coletividade de indivíduos submetidos aos mesmos costumes fundamentais e unidos por um culto comum às mesmas divindades protetoras”. 
Divisão básica social, do núcleo ao macro: Famílias - Gene - Fratrias - Tribos - Polis.
Os estrangeiros, xenoí, não tem direitos, nem proteção.
O poder exercido pelos nobres tinha base na quantidade de terras sob seu controle. Isso também lhes dava o controle da justiça, garantido pela supremacia religiosa das famílias aristocráticas, proveniente, segundo acreditavam, da origem divina das suas famílias.
Pierre Lévêque (1997): “primeiro motor” da criação da polis: passagem da sociedade do bronze para o ferro, no séc. IX a.C. - armas mais eficazes, instrumentos que melhoraram o rendimento do trabalho agrícola. Sente-se o crescimento demográfico em toda a Hélade. Restabelecimento das relações marítimas com o Oriente. No plano econômico e social: progresso na produção agrícola e industrial; diversificação maior entre a população, com reaparecimento de distinções sociais; surgimento da moeda, no mundo grego no fim do séc. VII a.C.
Por sua transformação e crescimento, a sociedade dá lugar a disputas. “Aos poucos, o grupo de guerreiros aristocratas não bastou para assegurar a defesa da comunidade e, com a perda do monopólio da guerra, seu poder político foi posto em causa. 
Crise agrária: fins do séc. VII a.C., oposição entre massas camponesas endividadas e miseráveis X detentores de terras e poder. Efeito: movimentação de excluídos da aristocracia, circundando um líder, na procura de novas terras para se instalarem. Com isso, surgem novas poleis em torno do Mediterrâneo. 
“Com o surgimento de armas novas e mais baratas e com as alterações nas táticas da guerra, os cidadãos de classes médias e pobres puderam então também participar da defesa das cidades”. 
Período turbulento da história grega: segunda metade do séc. VI a.C.: abalo do poder aristocrático dos gene. No entanto, vê-se um fenômeno duplo: a substituição de um direito consuetudinário [admitido socialmente, mas sem formalidade legal escrita] de conhecimento apenas da aristocracia, por uma lei escrita, que podia ser conhecida por todos; os hoplitas [guerreiros que protegiam seus pares com o uso de escudo] formando, de agora em diante, ao lado do conselho aristocrático, a assembleia que nem sempre era dotada do poder soberano, mas representava o povo em face da aristocracia.
Claramente, algumas dessas transformações se utilizaram da violência para ocorrer, geralmente pela tirania.Várias cidades, por volta de 650 a.C. e 550 a.C., foram governadas por tiranos (turannós), que se colocavam contra a aristocracia e diziam-se defensores do povo.

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