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FreitasMHAOrigens

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MARIA HELENA DE ALMEIDA FREITAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ORIGENS DO PERIODISMO CIENTÍFICO NO BRASIL 
 
Dissertação apresentada à Banca 
Examinadora da Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, como exigência parcial 
para obtenção do título de Mestre em História 
da Ciência, sob orientação da Profª Doutora 
Márcia Helena Mendes Ferraz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2005 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO DA BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
 
Título da Dissertação: Origens do Periodismo Científico no Brasil 
Aluna: Maria Helena de Almeida Freitas 
Curso: Mestrado em História da Ciência – Pontifícia Universidade Católica de 
São Paulo 
 
São Paulo, ____ de _______________ de 2005 
 
 
 
 
 
 
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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução 
total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou 
eletrônicos. 
 
Maria Helena de Almeida Freitas 
São Paulo, 31 de agosto de 2005 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Fernanda Maria Campagnolli e à Adriana Ramos 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Resumo i 
Abstract ii 
Introdução 1 
Capítulo 1 – A origem das publicações periódicas em ciência 8 
Capítulo 2 – A cultura e a publicação de ciência no novo reino 42 
Capítulo 3 – Os primeiros periódicos a publicar ciência no Brasil 67 
Capítulo 4 - As sociedades técnico-científicas e seus periódicos 99 
Conclusão 114 
Referências bibliográficas 119 
i 
 
RESUMO 
 
Analisa as publicações periódicas da área de ciências no Brasil no início do século 
XIX, entendendo-as como um dos pilares da institucionalização da ciência no país. 
Avalia mais detidamente O Patriota, Jornal Litterario, Politico, Mercantil &c. do Rio de 
Janeiro, o primeiro periódico dedicado às ciências e às artes no país, publicado de 
1813 a 1814, assim como outros periódicos que surgiram até a década de 1830, a 
fim de se avaliar as condições de surgimento e as características dessas 
publicações. A pesquisa também avalia os órgãos de divulgação das primeiras 
sociedades científicas do século XIX no Brasil. Conclui que as publicações 
periódicas brasileiras das primeiras quatro décadas do século XIX somente tiveram 
condições de sobrevivência e continuidade quando associadas a agremiações ou 
instituições científicas. 
 
ii 
 
ABSTRACT 
It analyzes periodic publications of the area of sciences in Brazil in the beginning of 
19th century, understanding them as one of them pillars of the institutionalization of 
science in the country. It more specifically evaluates O Patriota, Jornal Litterario, 
Politico, Mercantil &c. do Rio de Janeiro, first journal dedicated to the sciences and 
the arts in Brazil, published in 1813-1814, as also other journals that they had 
appeared until the decade of 1830, in order to evaluate the conditions of sprouting 
and the characteristics of these publications. The research also evaluates the 
scientific journals of the first scientific societies of 19th century in Brazil. It concludes 
that the brazilian periodic publications of first four decades of 19th century had only 
had conditions of survival and continuity when associates with scientific societies or 
institutions. 
 
 1
INTRODUÇÃO 
 
Para que se possa conhecer mais profundamente a tradição científica brasileira, 
faz-se necessário tentar compreender os caminhos da comunicação do 
conhecimento no Brasil, entendendo-o como um dos pilares da institucionalização 
da ciência no país. 
A publicação de ciência pressupõe a existência da pesquisa e do debate científicos, 
que se constituem em objetos dos textos, e a existência de público leitor. Esses 
itens pressupõem um outro, a formação de pesquisadores, os quais virão a ser os 
realizadores das pesquisas e os produtores e consumidores dos textos científicos. 
Especificamente no Brasil, no início do século XIX não havia uma única instituição 
que estivesse ligada à produção e à divulgação de conhecimento, por proibição da 
política colonial portuguesa. As escolas não iam além do nível secundário, que era, 
em geral, de baixa qualidade. 
As agremiações científicas, espaço do debate e da divulgação das ciências, 
estavam igualmente proibidas no solo brasileiro. Assim como a simples posse de 
prelos, independentemente do que poderia ser impresso. 
Mas essa situação mudou radicalmente com a transferência da corte para o Brasil. 
Há, ainda, certa carência de literatura acerca de publicações periódicas nas áreas 
das ciências no Brasil. Algumas ótimas pesquisas têm sido realizadas e publicadas 
nas últimas duas décadas1. Mas ainda há muito a ser estudado. 
 
1 Veja-se os trabalhos de L. O. Ferreira e P. H. M. Fonseca sobre as revistas médicas, a tese de M. 
R. Vergara sobre a Revista Brasileira, a dissertação de E. C. T. Sanchez sobre a Revista do IHGB, e 
 2
As publicações periódicas ensaiam um tímido aparecimento no Brasil, quando são 
afrouxadas as amarras da política colonial portuguesa, com a inédita e instantânea 
transformação brasileira de colônia à sede da corte, em 1808. Embora as condições 
artificialmente criadas tivessem o intuito de transplantar as instituições portuguesas 
para o Brasil, servindo às necessidades da corte portuguesa, acabaram por iniciar a 
institucionalização da cultura brasileira e por estimular os brasileiros a elaborar uma 
identidade nacional e organizar um estado livre e independente. 
A corte portuguesa, além de permitir a existência da imprensa no país, criou 
numerosas instituições científicas que iniciaram a prática e o estudo das ciências, 
abrigaram coleções de espécimes nacionais e serviram de referência às atividades 
da medicina, da engenharia, da navegação e da arte militar. Ao mesmo tempo que 
tornou a imprensa livre, a corte também estabeleceu a censura, bem de acordo com 
o obscurantismo do passado português.2 
Além disso, a prioridade do governo português para as instituições científicas era de 
caráter utilitário, de finalidades práticas e econômicas, incluindo aí a formação de 
quadros para o gerenciamento do novo reino. 
A divulgação da ciência no Brasil é iniciada no século XIX em jornais cotidianos, 
não especializados e voltadas ao grande público. 
O primeiro periódico impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, jornal 
miscelânico, realizou também o papel de divulgador dos assuntos científicos, 
noticiando a produção de obras, a realização de cursos, a produção e venda de 
 
os trabalhos de M. J. Coracini, A. M. Alfonso-Goldfarb, M. H. M. Ferraz & S. de Figueirôa, J. C. 
Oliveira e D. B. Miranda & M. de N. F. Pereira. 
2 J. C. Oliveira, A Cultura cientifica e a gazeta do Rio de Janeiro [1808-1821], Revista da Sociedade 
Brasileira de História da Ciência. 
 3
livros e textos científicos. Além das notícias e lembretes, o periódico chegou a 
publicar memórias científicas. 
Depois da Gazeta do Rio de Janeiro surge a Idade d’Ouro do Brasil, na Bahia, 
também voltado às notícias cotidianas e oficias, assim como as revistas As 
Variedades ou Ensaios de Literatura, jornal de temas literários e temas variados, 
também na Bahia, e O Patriota, Jornal Litterario, Politico, Mercantil &c. do Rio de 
Janeiro, o primeiro periódico dedicado às ciências e às artes no país. 
O Patriota teve, para a época, significativa duração, ganhando de Carlos Rizzini, 
estudioso da história do livro e da imprensa brasileira, o atributo de melhor 
publicação literária brasileira até o período daRegência. O seu fundador, que 
abreviava o nome para Ferreira de Araújo, era engenheiro, alcançou o cargo de 
professor da Academia da Marinha de Lisboa, onde estudara, lecionou depois nas 
Academias da Marinha e Militar do Brasil e chegou ao posto de Brigadeiro. 
O Patriota era publicado pela Imprensa Régia, a primeira tipografia a ser fundada 
no Brasil, a qual também teve um importante papel no desenvolvimento da cultura 
nacional, publicando os primeiros livros didáticos, as primeiras obras científicas 
traduzidas e nacionais, e muita literatura pátria. 
O estudo das origens das publicações periódicas em ciência poderá propiciar um 
conhecimento maior das atividades científicas brasileiras no decorrer da história do 
país. Assim, a compreensão dos caminhos da comunicação científica acrescenta 
mais uma faceta à história da ciência brasileira. 
 4
Além de fonte privilegiada da história da ciência, o periódico científico pode ser 
considerado um espaço institucional da ciência, já que se insere dentro do universo 
das realizações e divulgação das atividades científicas3. 
O periódico científico é uma das formas de comunicação científica, sendo que esta 
refere-se à troca de informações entre cientistas, incluindo “todas as atividades 
associadas com a produção, disseminação e uso da informação.”4 
O periódico foi, desde seus primórdios, o canal de publicação de notícias científicas 
voltado ao público de estudiosos e “sábios”. No século XIX expande-se e 
especializa-se, adquirindo as feições atuais. Até esse momento, a maioria dos 
“Journals” são vinculados a agremiações científicas e literárias. 
No Brasil, propriamente, o termo “periódico” é utilizado a partir da década de 1820, 
mas não preferencialmente, como se viu no material pesquisado. No início do 
século, “jornal literário” era a denominação mais utilizada para as publicações que 
se propunham periódicas, ou seriadas e freqüentes, a publicar textos de ciência, de 
artes5 e de literatura. 
Os periódicos científicos têm realizado importantes funções no mundo da ciência. 
Ao publicarem textos, realizam o registro do conhecimento (oficial e público), 
legitimam disciplinas e campos de estudos, veiculam a comunicação entre os 
cientistas, propiciam ao cientista o reconhecimento público pela prioridade da teoria 
ou da descoberta, atuam na atualização profissional, estimulam a descoberta e a 
 
3 S. F. de M. Figueirôa, Ciências geológicas no Brasil no século XIX, In S. F. de M. Figueirôa (org.), 
Um olhar sobre o passado, p. 165, define espaços institucionais “não apenas no sentido mais restrito 
de instituições científicas, tais como museus e institutos de pesquisa, mas como o conjunto de todas 
as possibilidades de realização e divulgação de atividades científicas (conforme o sentido da época). 
(...) Assim sendo, um museu e uma revista, por exemplo, são igualmente espaços institucionais, 
embora apresentem características diversas e específicas.”(grifo da autora) 
4 S. P. M. Mueller, O crescimento da ciência, o comportamento científico e a comunicação científica: 
algumas reflexões, Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, p.64. 
 5
compreensão de novos campos de interesse e divulgam novas tendências de áreas 
emergentes.6 
Tais funções ligam-se ao arcabouço do sistema de comunicação científica, e mais 
propriamente das publicação periódica em ciência, que tradicionalmente é atividade 
do estudioso, ou seja, os periódicos considerados respeitáveis são aqueles que 
submetem os textos a serem publicados ao crivo de uma comissão de especialistas 
da área, sistema esse chamado, atualmente, de revisão por pares7. A revisão por 
pares, ou o crivo de outros estudiosos da área em que se inclui o texto submetido, é 
o momento em que a pesquisa realizada tem sua confiabilidade conferida e, se 
aceito, sua respeitabilidade assegurada, já que os revisores (referees) são, 
geralmente, escolhidos por sua excelência acadêmica. 
Nos primórdios do periodismo, uma das figuras a quem poderia ser dado esse 
papel é Henry Oldemburg, no Philosophical Transactions (século XVII), que 
analisava as cartas e publicava o que considerava importante para o conhecimento 
de seus pares.8 
As publicações periódicas em ciências, desde o século XVII quando surgiram, 
reproduzem os debates que ocorrem nas academias e agremiações científicas, 
divulgam os mais novos experimentos, narram as viagens dos naturalistas e 
historiadores, as impressões mais atuais dos médicos e dos engenheiros. 
Divulgando novidades, temas e autores diversos, representam o novo, o debate e o 
atual. 
 
5 Salienta-se que o termo “arte” é utilizado para o que, hoje, denominamos “técnicas”, desde a área 
de agricultura até as artes plásticas. 
6 I. R. C. Stumpf, Passado e futuro das revistas científicas, Ciência da Informação, p.10. 
7 As formas inglesas “peer review” (revisão por pares) ou “referees” (revisores) são muito utilizadas 
no mundo todo. 
8 D. McKie, The scientific periodical from 1665 to 1798, in A. J. Meadows, The scientific journal, p. 
10. 
 6
Várias das funções dadas aos periódicos e seus editores podem ser observadas 
desde o início da atividade da publicação de impressos seriados no Brasil, no 
século XIX. Os publicadores, editores e redatores das primeiras publicações em 
ciências foram os médicos, os naturalistas e os engenheiros brasileiros, 
interessados em veicular o conhecimento, as observações e as experiências que 
realizavam em seus trabalhos, como será ressaltado no decorrer da dissertação. 
Esse trabalho iniciou-se com o levantamento das publicações impressas no século 
XIX, após a liberação das atividades tipográficas no Brasil, isto é, a partir de 1808, a 
fim de se mapear o universo a ser pesquisado. O estudo foi limitado ao Brasil Reino 
e 1º Império, a partir da verificação de que foi nesse contexto que se originaram as 
publicações periódicas em ciência no país. 
A partir dos estudos iniciais, foram elaboradas duas hipóteses, como norteadoras 
do trabalho: de que o periodismo científico surge no Brasil a partir da 
institucionalização da ciência no país, com a criação e fortalecimento das 
instituições científicas, e que foram essas instituições que diretamente produziram 
os primeiros periódicos no país. 
É preciso relatar a dificuldade encontrada na busca dos periódicos dedicados à 
ciência no século XIX. Nas bases de dados e catálogos pesquisados, muitos 
periódicos voltados somente à política têm sido classificados como “científicos”, ou 
na área de “ciência política”, o que não é o caso. Outros, voltados à ciência, 
recebem como assunto o termo “literatura”, talvez até pelo fato dos periódicos 
voltados à ciência terem sido denominados jornais literários, como já comentado. 
Bibliotecas fechadas, em greve, e sem funcionários, também causaram grandes 
dificuldades na busca do material original. 
 7
A pesquisa teve como base a bibliografia específica e levantamentos realizados em 
catálogos e base de dados nacionais: o Catálogo Coletivo Nacional (CCN) do 
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), a Biblioteca 
Nacional, o Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP) da 
Faculdade de Ciências e Letras da UNESP/Assis, e a LUSODAT (Base de dados 
bibliográficos sobre ciência, medicina e técnica luso-brasileira) do Grupo de História 
e Teoria da Ciência da UNICAMP. 
O exame dos periódicos foi realizado em diferentes instituições que possuíam o 
material selecionado em seus acervos. Os periódicos disponíveis na forma de 
microfilmes foram examinados na Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro/RJ), na 
Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Rio de Janeiro/RJ), e no 
Arquivo Histórico Edgar Leuenroth da UNICAMP (Campinas/SP);na forma digital no 
Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência – CESIMA, da Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP (São Paulo/SP); e na forma 
impressa na Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP 
(Campinas/SP) e Biblioteca do Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro/RJ). 
Foi objetivo maior da pesquisa, através do estudo da origem do periódico científico, 
propiciar um conhecimento mais aprofundado do fazer científico no Brasil, no início 
do século XIX. 
 
 
 8
CAPÍTULO 1 
 
A ORIGEM DAS PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS EM CIÊNCIA 
 
Os periódicos científicos são hoje uma das mais respeitáveis fontes de informação 
para a comunidade científica. Além de um importante e conceituado meio de 
comunicação entre os cientistas, das atividades científicas e de seus resultados, 
procura assegurar aos autores dos artigos a prioridade da teoria, da descoberta ou 
da experiência. 
D. B. Miranda & M. de N. F. Pereira9 definem o periódico científico como “veículo 
formal de comunicação em suas duas vertentes – a de comunicação do 
conhecimento e a de comunicação entre os pares da comunidade científica”. 
W. D. Garvey, define a comunicação científica como todo o processo de produção, 
disseminação e uso da informação, desde a concepção da idéia até sua aceitação, 
pela comunidade científica, como parte do conhecimento humano10. Essa definição 
estabelece um ponto fundamental da comunicação científica, que só se constitui 
como parte do conhecimento humano, somente é legitimado se, e somente se, é 
aceita pela comunidade científica. Como diz A. J. Meadows, “a comunicação situa-
se no próprio coração da ciência”11. 
 
9 D.B. Miranda & M.N.F. Pereira, O periódico científico como veículo de comunicação: uma revisão 
de literatura, Ciência da Informação, p. 375. 
10 Apud D. B. Miranda & M. de N. F. Pereira, op.cit. , p. 375 – O título da obra citada de W. Garvey é 
bastante significativo: Communication: the essence of science (Oxford, Pergamon, 1979). 
11 A. J. Meadows, A comunicação científica, p. vii. 
 9
Com uma visão mais apropriada ao século XIX, seguindo o modo usual de se 
comunicar a ciência na época, M. F. de Nunes define periódico científico como “o 
conjunto da imprensa que tem como principal objectivo ocupar-se da divulgação de 
temas científicos e técnicos, combinados com intenções de “recrear e instruir” às 
quais se junta a vertente literária e de escritos morais”12. Tal visão inclui não 
somente os periódicos voltados ao públicos dos eruditos/cientistas, mas todos os 
periódicos que noticiam ciência, de forma mais popular ou mais aprofundada. 
Não é a visão da maioria dos autores aqui considerados, que definem o periódico 
científico como um meio de comunicação voltado a um público específico. Ida 
Stumpf13, afirma que as revistas científicas evoluíram das comunicações privadas 
entre os cientistas e estudiosos e das memórias das reuniões científicas e, desde 
que surgiram, passaram a ter um importante papel na comunicação da ciência. No 
decorrer do tempo, o periódico transforma-se de veículo de comunicação de 
notícias científicas em “um veículo de divulgação do conhecimento que se origina 
das atividades de pesquisa”14. 
Antes do surgimento dos periódicos científicos, notícias sobre a ciência eram 
veiculadas em panfletos, volantes e jornais cotidianos, quando esses surgiram. O 
conhecimento especializado era comunicado através de correspondências entre os 
cientistas ou enviadas às agremiações científicas. Essas correspondências vão 
originar as publicações científicas, no período setecentista. Essas publicações, ao 
contrário das correspondências dos estudiosos, são voltados a um público mais 
amplo, embora específico. 
 
12 M. de F. Nunes, A universidade e a divulgação de conhecimentos científicos e úteis no Jornal de 
Coimbra (1812-1820), Universidade(s) : História, Memória, Perspectivas, p.127. 
13 I.R.C. Stumpf, Passado e futuro das revistas científicas, Ciência da Informação. 
14 D.B. Miranda & M.N.F. Pereira, O periódico científico como veículo de comunicação: uma revisão 
de literatura, Ciência da Informação, p.375. [Possivelmente as autoras estejam falando do Journal 
des Sçavans.] 
 10
Mas essas modificações, nos modos de fazer e relatar ciência, somente foram 
possibilitadas pelo surgimento de uma nova concepção de saber e pela crença na 
idéia de progresso humano através desse conhecimento. 
Essa concepção inovadora foi produzida em um momento de grande e profunda 
modificação no modo de viver e de pensar do europeu15. Era um novo saber, 
fundamentado na natureza e na experiência, de construção lenta e sempre 
inacabada, sendo que para seu desenvolvimento eram considerados essenciais a 
colaboração e a cooperação entre os estudiosos. Nas palavras de P. Rossi, uma 
ciência “que está constituída por contribuições individuais organizadas em forma de 
discurso sistemático, oferecidas com vistas a um ganho geral que seja patrimônio 
de todos”16. 
Nesse período a economia do Feudalismo mostrava-se incompatível com o 
desenvolvimento das cidades, do comércio e da iniciante indústria, o que acaba por 
modificar o sistema econômico e político. A burguesia e o sistema capitalista 
desenvolvem-se paralelamente com a nova ciência e a tecnologia. Uma das razões 
deste desenvolvimento paralelo foi o fato de as necessidades materiais do novo 
progresso econômico exigirem um desenvolvimento técnico maior. Mas a mudança 
foi tão geral, revolucionária e profunda que pode ser considerada como um 
fenômeno social único17. 
Foi um momento de grande e profunda transformação no modo de viver e de 
pensar do europeu. Os limites geográficos foram dilatados, ocorreram grandes 
invenções, grandes descobertas e uma grande produção de livros e relatos de 
 
15 P. Rossi, Los filosofos y las maquinas (1400-1700), p.70. 
16 Ibidem, p.68. 
17 M. Sabbatini, Evolución histórica de las publicaciones cientificas. 
 11
técnicos e de viajantes. A invenção da imprensa tem, nessa transformação, um 
papel fundamental. 
Da metade do século XV até o século XVIII imprimia-se muitas folhas avulsas, 
clandestinas ou permitidas pelas autoridades, que traziam todo tipo de informação, 
e eram vendidas nas ruas, nas tendas e nas feiras. Os papéis de notícias ou folhas 
volantes18 traziam as mais importantes e diversas notícias: as festas e rivalidades 
reais, os descobrimentos, os crimes, os milagres, e até as notícias sobre a 
devastação pela sífilis. Traziam “discursos, versos proféticos, palavras de santos, 
juízos de astrólogos, promessas misteriosas e interpretações audaciosas dos textos 
sagrados”19 apresentados com títulos extravagantes e gravuras atraentes. Mas 
ainda não eram publicações periódicas, e sim informativos soltos, esparsos, 
volantes (como sua própria designação). 
Como todos os informativos que os sucederam, traziam informações sobre as 
invenções, os descobrimentos, todas as novidades do saber que depois de alguns 
séculos foram aprisionadas nos periódicos e relatórios científicos, voltando às ruas 
e ao homem comum, na atualidade, através das colunas de ciências dos jornais 
diários e dos chamados periódicos de divulgação científica. 
Em 1597, de forma original, Daniel Sedltchanky inicia a publicação de um mensário, 
em Praga, intitulado Noviny poradné celého mesice léta 1597 (Jornal completo do 
mês inteiro de setembro de 1597)20. Outras publicações o sucederam: Nieuwe 
Tijdinghen (Antuérpia, 1605), Ordinarii Avisa (Estrasburgo), Relation odei zeitung 
(Ausburgo). Ressalta-se que em seu número 37 o Ordinarii Avisa noticia ter Galileo, 
 
18 C. Rizzini, O livro, o jornal e a tipografia no Brasil: 1500-1822, p.104, traz as designações que 
levavam os informativosnos diversos países europeus: couraten (Holanda), tijdinghen (Bélgica), 
news (Inglaterra), zeitungen (Alemanha), fevilles volantes (França), relazioni (Itália), relaciones 
(Espanha) e relações (Portugal) 
19 Rabelo da Silva apud C. Rizzini, op. cit., p.104 
20 Tradução de C. Rizzini, op. cit., p. 106. 
 12
“professor de matemática de Pádua, descoberto um instrumento (o telescópio) que 
permitia ver-se um objeto a trinta milhas de distância”21. Há que se ressaltar o 
lançamento do mais antigo jornal cotidiano que se tem notícia: O Daily Courant, 
lançado na Inglaterra, em 1702, pelo livreiro Mallet. 
O século XVII vê aparecer a imprensa periódica, através de manuscritos impressos, 
folhas volantes (panfletos), jornais diários e publicações periódicas literárias e 
científicas22. 
Até a metade do século XVII, os filósofos naturais compartilhavam suas idéias e os 
resultados de seus trabalhos e experimentos através de longas cartas, o que 
D. Mckie considera mais apropriado descrever como discursos (“dissertations”), 
dada a sua extensão e seu alcance23. O mesmo autor assegura que esses 
discursos epistolares não eram uma forma ideal de comunicar o fato e a teoria 
científica, principalmente quando transcendia fronteiras, já que era uma 
correspondência pessoal, isto é, escrita e enviada aos amigos e conhecidos, e não 
a quem poderia disputar ou rejeitar suas teorias. Também afirma que tais 
correspondências não transcendiam o círculo pessoal do estudioso, o que fazia 
com que as teorias não fossem conhecidas rapidamente por um grande número de 
outros interessados. Mas também há o fato de que “a exploração dos meios de 
massa sempre foi mais comum entre os pseudocientistas e charlatães do que entre 
a maioria dos cientistas profissionais que se expressavam em latim, e que muitas 
vezes mantinham seus trabalhos fora do alcance da imprensa”24. A Inquisição foi 
um bom motivo para reforçar esse comportamento. 
 
21 C. Rizzini, O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, p. 106, nota. 
22 O termo “científico” aqui utilizado deve ser lido com reservas, pois o termo não era ainda utilizado, 
nessa época, como o conhecemos. 
23 D. McKie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific journals, 
p.7. 
24 E. L. Eisenstein, A revolução da cultura impressa, p. 207. 
 13
Possivelmente não era desejo dos estudiosos seiscentistas que seus estudos 
ficassem confinados aos seus conhecidos ou mecenas, haja visto um outro modo 
de dar a conhecer os resultados de suas observações bastante colocado em 
prática. E. L. Eisenstein, ao discorrer sobre as elaborações e correções das tabelas 
celestes disponíveis (Ptolomeu e Copérnico) que eram realizadas por muitas 
pessoas em variadas regiões, afirma que “lançavam-se desafios, sob forma de 
cartas abertas, que alertavam todos os astrônomos europeus para observarem um 
determinado evento e em seguida comprovar o resultado de suas observações com 
as várias predições antecipadas”25. Em outro momento a autora conta-nos que 
Galileu, com a publicação d’O mensageiro das estrelas, suscitou uma “enxurrada de 
panfletos [que] deu lucros às firmas locais e provavelmente ajudou a estimular 
novas observações diretas do céu, juntamente com a venda de instrumentos e 
livros”26. 
Também A. G. Debus cita a “enxurrada” de panfletos que, um século antes, 
provocou a utilização de línguas vernáculas na publicação de textos médicos, 
tendência que “se intensificou no século XVI, quando uma guerra de panfletos 
médicos dividiu os galenistas dos químicos médicos seguidores de Paracelso”27. 
E. L. Eisenstein afirma que as folhas volantes provocavam impacto social muito 
maior que os livros, que eram mais caros e de difícil linguagem para a maioria. 
Em um momento de importantes modificações sociais e culturais, a criação da 
imprensa e o desenvolvimento e uso da cultura impressa não se deram da noite 
para o dia, como expõe A. J. Meadows: 
“A transição da forma manuscrita para a forma impressa não se deu 
instantaneamente. Noticiário manuscritos, principalmente quando se 
 
25 E. L. Eisenstein, A revolução da cultura impressa, p. 246-247. 
26 Ibidem, p. 254. 
27 A. G. Debus, El hombre y la naturaleza en el renacimiento, p. 26. 
 14
destinavam a um público reduzido, continuaram a ser produzidos durante 
todo o século XVII até o século XVIII. Até mesmo os livros continuavam 
circulando em forma manuscrita, embora isso agora se devesse, 
obviamente, ao fato de que as idéias que pregavam eram suscetíveis de 
censura. De fato, do ponto de vista da pesquisa, era razoável que as idéias 
inicialmente circulassem por meio de cartas manuscritas entre um pequeno 
círculo de amigos que poderiam analisá-las e, quando conveniente, testá-
las e depois enviar a resposta. Se, porém, as idéias se destinassem a 
alcançar um grupo maior, era muito mais fácil imprimir a carta do que 
escrevê-la à mão. Assim surgiram, na segunda metade do século XVII, as 
primeiras revistas científicas.”28 
Para T. S. Kuhn a criação de periódicos especializados ocorre no momento em que 
se consolidam novos paradigmas nas ciências, como afirma: 
“Nas ciências (embora não em campos como a Medicina, a Tecnologia e o 
Direito, que têm a sua raison d’être numa necessidade social exterior) a 
criação de jornais especializados, a fundação de sociedades de 
especialistas e a reivindicação de um lugar especial nos currículos de 
estudo, tem geralmente estado associadas com o momento em que um 
grupo aceita pela primeira vez um paradigma único”29 
T. S. Kuhn exemplifica sua opinião com a atitude dos “eletricistas”, os quais, dando 
por estabelecido os fundamentos de sua área, começaram cada vez mais a “relatar 
os resultados de seus trabalhos em artigos endereçados a outros eletricistas, ao 
invés de em livros endereçados ao mundo instruído em geral”30. Nesse ponto, Kuhn 
indica a função dos periódicos, que seria, basicamente, a troca de informação entre 
os integrantes da comunidade científica. 
A criação da imprensa e o desenvolvimento dos serviços de comunicação e 
correios revelaram-se grandes impulsionadores da unificação de paradigmas, pois 
estabelecendo e/ou reforçando a comunicação entre os estudiosos propiciaram o 
conhecimento das igualdades e diferenças de concepção de mundo e de 
conhecimento que desenvolviam solitária ou regionalmente. 
P. Rossi, J. Henry e E. L. Eisenstein chamam a atenção para o fato de a imprensa 
ter tornado acessível os textos originais de Ptolomeu, Plínio, Galeno e Aristóteles. O 
 
28 A. J. Meadows, A comunicação científica, p. 5. 
29 T.S. Kuhn, A estrutura das revoluções científicas, p. 39-40. 
 15
contato direto com obras da antigüidade, além de ter sido fundamental para a 
elaboração de um novo sistema de conhecimento, tornou aparente as incoerências 
e anomalias do que era ensinado, deixando as pessoas desconfiadas com as 
formas de ensino e com o aprendizado livresco. A desconfiança geral com os livros 
deveu-se mais à desconfiança com a atividade dos escribas, que modificavam os 
textos à medida em que os copiavam. 
Com a imprensa, reorienta-se o fluxo de informações, provocando um grande efeito 
sobre a filosofia natural. E. L. Eisenstein exemplifica esse efeito: 
“Como estudante em Cracóvia, nos idos de 1480, o jovem Copérnico 
provavelmente teve dificuldade de pousar os olhos num só exemplar do 
Almagesto, de Ptolomeu – mesmo que fosse numa versão adulterada em 
latim medieval. Antes de morrer, já tinha à mão três edições diferentes. 
Menino de catorze anos, na Copenhage de 1560, o jovem Ticho Brahe 
podia comprar toda a obra de Ptolomeu, inclusive uma tradução completa e 
melhorada do Almagesto, feita com base no texto grego”31. 
O acesso às informações dos estudiosos alarga-se drasticamente com a imprensa,inicialmente com o acesso às obras originais dos antigos, seguindo-se pelas 
novidades, novas teorias e novos experimentos dos modernos expostas em livros e 
divulgadas em volantes, até o aparecimento dos periódicos, que tendiam a facilitar 
e agilizar o acesso ao conhecimento. 
Assim, novas formas de comunicação foram elaboradas para divulgar e 
compartilhar as novidades científicas fundamentadas em uma nova maneira de ver 
o mundo e a natureza. Era uma nova cultura científica que se formava. O que antes 
era aprisionado nos mosteiros e nas universidades, promove enxurradas de 
panfletos e a criação de jornais mensais e alguns diários. Inúmeros livros de “não-
doutos” são publicados. O burburinho ocorre nas praças públicas, que também 
mostraram-se como importantes espaços de difusão das novidades científicas. É 
 
30 Ibidem, p. 42. 
31 E. L. Eisenstein, A revolução da cultura impressa, p. 230. 
 16
possível que possa um homem saber algo e conhecer os efeitos naturais sem haver 
lido os livros escritos em latim pelos filósofos? Assim dizia Bernard Palissy, 
ceramista francês, em 1580. Sua obra (Discours admirables), uma investida contra 
a cultura dos professores da Sorbonne – “identifica a filosofia com a arte de 
observar a natureza e assegura que tal arte não é de modo algum patrimônio dos 
doutos e dos filósofos” 32. 
Embora as universidades dos séculos XVI e XVII tenham sido as formadoras dos 
homens da nova filosofia, a maioria delas ainda não se organizara para trabalhar 
com os novos métodos de investigação propostos pelos inovadores. As 
universidades do século XVII limitavam-se a dar lugar ao novo conhecimento dentro 
do antigo marco teórico. E mesmo que a formação técnica fosse indispensável à 
experimentação, era necessário algo mais para se possibilitar e aprofundar a 
análise das observações e dos experimentos. Mas essa formação e esse trabalho 
não eram possibilitados pela universidade tal como essa se encontrava estruturada, 
em geral, e sim pelas sociedades científicas33. 
Mas J. Henry afirma que em algumas universidades, embora a inércia vigorasse e 
as modificações dos currículos oficiais e nos métodos de ensino fossem, em geral, 
retardatários, “ensinavam-se as mais recentes idéias sobre o mundo natural e o 
método científico”34. Ao se modificar o status intelectual dos matemáticos, após 
Galileu, sua importância começa a ser exaltada nas universidades alemãs “em que 
as reformas de Melanchton prevaleceram”, assim como no Ratio studiorum dos 
jesuítas. Igual situação ocorre nos Países Baixos. A partir do séc. XVI as escolas de 
medicina “foram as primeiras a abrigar várias instalações essenciais para a 
 
32 P. Rossi, Los filósofos y las máquinas (1400-1700), p.15. 
33 A. G. Debus, El hombre y la naturaleza en el renacimiento e também J. Henry, A revolução 
científica e as origens da ciência moderna, principalmente. 
34 J. Henry, A revolução científica e as origens da ciência moderna, p.46. 
 17
promoção da ciência fundada na observação empírica...”35. Mesmo assim não 
tiveram um papel fundamental na revolução científica – “a função da universidade 
era ensinar”36. A nova pesquisa era realizada em academias da corte, nas 
sociedades científicas ou, conforme J. Henry, nas residências dos estudiosos, tais 
como Ticho Brahe, Robert Boyle, Andreas Libavius ou Antoni van Leeuwenhoek. 
A filosofia natural, as descobertas, as novidades de outras terras e os experimentos 
vão aglutinando interessados, tanto em praça pública quanto em locais fechados. 
São formadas sociedades científicas, facilitando a comunicação e a discussão do 
novo conhecimento, além da realização de inúmeros experimentos. Na medida em 
que as sociedades iam aumentando seu número de associados, estruturando suas 
atividades e adquirindo solidez, acabam se transformando em academias nacionais 
reconhecidas e financiadas oficialmente. 
As primeiras academias científicas fundadas foram a Academia Secretorum 
Naturae, em Nápoles (1560), a Academia dei Lincei (1603) em Roma (da qual 
Galileu foi membro), a Academia dos Generosos, em Lisboa (1647), a Academia del 
Cimento (1651), em Florencia e a Royal Society (1660), em Londres. Na França, a 
Académie Royale des Sciences foi fundada em 1666. Mas Paris já contava com três 
academias dedicadas a outras áreas: a Académie Française (1635), a Académie 
Royale de Peinture et de Sculpture (1648), e a Académie Royale des Inscriptions et 
Belles-Lettres (1663)37. 
Nas academias e sociedades os estudiosos reuniam-se para discutir suas 
pesquisas e realizar seus experimentos à vista de todos. A elaboração do saber 
passa, assim, de uma atividade isolada a uma atividade coletiva. Além disso, “as 
 
35 J. Henry, A revolução científica e as origens da ciência moderna, p. 47. 
36 Ibidem, p. 47. 
37 A. J. Meadows, A comunicação científica, p. 9. 
 18
novas academias tornaram-se imediatamente os centros responsáveis pela 
comunicação dos conhecimentos científicos. A partir dessa época, pôde-se passar 
a encarar a Ciência como uma atividade social organizada.”38 
As academias e sociedades científicas diferiam bastante quanto à organização, 
tamanho, atividades e apoio político-financeiro dos Estados. As profissões mais 
antigas e organizadas, tais como direito e medicina, foram as primeiras a fundar 
associações oficialmente reconhecidas, a fim de salvaguardar o poder sobre a 
atuação na área, controlar o ingresso nas carreiras e fiscalizar as condutas 
profissionais. 
A organização das academias seguiam claramente o modelo proposto por F. 
Bacon, principalmente em Nova Atlântida, com a Casa de Salomão, onde F. Bacon 
relata a vida de um Estado imaginário (Bensalém) que tem naquela sua mais nobre 
instituição39. F. Bacon descreve detalhadamente o sistema de funcionamento, as 
etapas do trabalho científico e todo o aparato da pesquisa científica realizada pela 
Casa de Salomão. A idéia central dessa última obra de F. Bacon é que a harmonia 
e o bem estar social são possibilitados pelo domínio do homem sobre a natureza 
por meio da nova ciência experimental. 
F. Bacon expõe claramente, em Nova Atlântida, os objetivos de sua Casa: “O fim da 
nossa instituição é o conhecimento das causas e dos segredos dos movimentos 
das coisas e a ampliação dos limites do império humano para a realização de todas 
as coisas que forem possíveis”40. Implícito aí tem-se não só o conhecimento da 
natureza, mas a utilização e o domínio da técnica sobre essa mesma natureza. 
L. Zaterka, ao analisar a concepção de ciência em F. Bacon, explica: 
 
38 J. Ziman, A força do conhecimento, p. 63. 
39 Nova Atlântida foi editada, postumamente, em 1627. 
40 F. Bacon, Nova Atlântida, p. 245. 
 19
“O famoso leitmotiv baconiano “conhecer para dominar a natureza pelo 
saber significa, antes de mais nada, converter o conhecimento em algo útil, 
proveitoso e frutífero para a vida dos homens, uma vez que o 
conhecimento da filosofia natural inclui não só o conhecimento pelas 
causas, mas também a produção por nós dos efeitos. (...) Assim, no âmbito 
epistemológico, as relações teoria/prática, scientia/potentia, 
contemplação/atividade, estão desde o início instituídas num pensamento 
que tem por objetivo unir os conhecimentos racional e empírico, criando 
uma ciência ativa e, portanto, voltada para o bem estar dos homens.”41 
As academias e sociedades funcionavam como centros de discussão e divulgação 
de informações, idéias e investigações. A comunicação das novas teorias, com a 
divulgação dos métodos e resultados dos experimentos, era um dos principais 
objetivos da nova filosofia. É nesse momento que se inicia a publicação dejournals 
pelas agremiações científicas da Europa. 
É interessante salientar que enquanto na Inglaterra formou-se apenas uma 
academia (depois de várias reuniões em Londres e em Oxford42), aglutinando 
grande parte dos mais famosos filósofos naturais, na França, em muitas de suas 
cidades, ocorriam conferências e formavam-se sociedades de interessados na 
filosofia da natureza. 
Como veremos a seguir, as sociedades científicas demonstravam estar afinadas 
com essas novas concepções de saber, de coleta e de troca de informações, de 
progresso científico – idéias desenvolvida por F. Bacon, em Nova Atlântida, quando 
expõe a forma que o reino Bensalém escolhe para “obter luz do desenvolvimento de 
todas as partes do mundo”: 
“...que a cada doze anos seriam enviados para fora do reino dois navios, 
para várias viagens; que em cada um deles fosse uma comissão de três 
dos membros ou irmãos da Casa de Salomão, cuja missão seria apenas a 
de nos dar a conhecer os assuntos e o estado, naqueles países para os 
quais fossem enviados, especialmente, das ciências, artes, manufaturas e 
invenções de todo o mundo; e também trazer livros, instrumentos e 
modelos de toda espécie; que os barcos retornassem uma vez 
 
41 L. Zaterka, A filosofia experimental na Inglaterra do século XVII, p. 109-110. 
42 Conforme A.M. Alfonso-Goldfarb, A magia das máquinas, p. 149, as reuniões ocorreram em 
Oxford, por idéia de John Wilkins, durante o período parlamentarista inglês, para resguardar o grupo 
de estudiosos das conturbações políticas de Londres. 
 20
desembarcados os irmãos, que permaneceriam, por sua vez, no exterior 
até a chegada de nova missão.”43 
Membros da Royal Society não somente viajavam para outros países, como 
elegiam como membros estudiosos de outros países que atuavam como 
divulgadores das pesquisas e instituições de seus países para a Sociedade. É 
opinião de A. G. Debus que as finalidades e ações da Royal Society seguiam 
intensamente o modelo proposto por F. Bacon: 
“Os primeiros números do Philosophical Transactions of the Royal Society 
of London (cuja publicação se inicia em 1665) refletem as finalidades 
práticas de Bacon. Ao lado de artigos estritamente científicos publicavam-
se informes médicos de interesse para os médicos. Em 1665 se 
estabeleceu um comitê especial com o fim de examinar o estado da 
agricultura e sugerir possíveis melhoramentos”44. 
J. Ziman afirma que a Royal Society era praticamente a concretização da Casa de 
Salomão. Obviamente, não se pode afirmar que as agremiações científicas 
seguissem estritamente o modelo proposto por F. Bacon. Mas, é visível a sua 
influência em suas finalidades e suas organizações. Também não se pode 
desconsiderar que F. Bacon era um homem de seu tempo, e como tal, bebeu das 
mesmas águas que beberam os fundadores dessas instituições. 
No século XVII, no momento em que se desenvolve e se aprofunda uma nova 
forma de conhecer a natureza e concomitantemente à fundação das sociedades e 
academias científicas, surgem os periódicos científicos. De fato, antes da fundação 
das academias científicas não havia periódicos científicos em nenhuma parte do 
mundo45. 
Segundo D. Mckie, com a criação das academias científicas da França e da 
Inglaterra, teria surgido a necessidade de um meio mais apropriado para se 
 
43 F. Bacon, Nova Atlântida, p. 237. 
44 A. G. Debus, El hombre y la naturaleza en el renacimiento, p. 249. 
 21
comunicar ciência. A. J. Meadows explica que no século XVII “os canais existentes 
para a comunicação científica – principalmente a comunicação oral, a 
correspondência pessoal e os livros – foram complementados, ampliados e, em 
certa medida, substituídos por um novo canal formal constituído por periódicos”46. 
Desta forma, as academias e sociedades começaram a imprimir notícias científicas: 
“As atas ou memórias consistiam em transcrições das descobertas que eram 
relatadas durante as reuniões de uma sociedade e depois impressas na forma 
resumida para servirem de fonte de consulta e referência aos membros dessas 
sociedades”.47 
Mas o periodismo científico não surge, somente, a partir das sociedades científicas 
que se formavam. Quando foi fundada a Académie Royale des Sciences de Paris, 
em 1666, já havia aparecido o primeiro periódico científico do mundo, na mesma 
cidade: O Journal des Sçavans, editado por Dennis de Sallo. De Sallo (1626-1669), 
de família nobre, amigo de Colbert (Ministro de Luís XIV e impulsionador da 
formação da Académie), era um leitor apaixonado de todo tipo de literatura. Sua 
atividade se inicia com a compilação de notas e transcrição de extratos dos livros 
que lia. 
O Journal des Sçavans tem seu primeiro número publicado em 5 de janeiro de 
1665, trazendo comentários de novos livros, obituários, novidades em artes, 
descobrimentos científicos, notícias sobre as invenções e os novos experimentos 
em física e química, novidades da matemática, da astronomia e da anatomia, além 
de notícias eclesiásticas e legais. Tudo que pudesse interessar aos curiosos e aos 
amantes da nova filosofia natural. Além de De Sallo, redigiam o editorial Chapelain 
 
45 D. Mckie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific journals, 
p.7, citando M. Ornstein (1928) e H. Brown (1934) afirma que o Journal des Sçavans foi o ancestral 
de todos os outros. 
 22
e Abbé Gallois, e possivelmente muitos outros48. Em 1665, algumas opiniões do 
Journal des Sçavans incomodam a igreja, o qual acaba recebendo sanções e 
censuras. De Sallo, para não ter que editar o Journal des Sçavans sob a inspeção 
de censores, decide não continuar sua publicação49. 
O início do mais importante periódico científico da Inglaterra deveu-se à iniciativa de 
Henry Oldemburg (1615-1677), um dos secretários da Royal Society of London, que 
iniciou a coligir as informações a partir de sua vasta correspondência com 
estudiosos do mundo todo. Oldemburg, um poliglota, transformou a Royal Society 
em um centro de difusão de informações, idéias e pesquisas. Da mesma forma 
John Wilkins (1614-1672), o outro secretário da sociedade, que foi, segundo A. M. 
Alfonso-Golfarb, um “elo de ligação interno e externo, bem como um aglutinador 
das várias correntes científicas na Inglaterra. (...) [Também foi] um entusiasta e 
organizador importante da educação e da divulgação da nova ciência em território 
inglês”50. Pode-se afirmar que a atuação dos dois secretários foi fundamental para 
possibilitar tanto o agrupamento dos estudiosos quanto a divulgação das pesquisas 
dos membros da Sociedade. 
Em 11 de janeiro de 1665 o primeiro número do Journal des Sçavans foi lido na 
reunião da Royal Society of London. A Sociedade, após analisar o periódico 
francês, decide publicar também uma revista, mas um pouco diferente da francesa. 
Excluiria temas políticos e religiosos, seria dirigida a um público mais especializado 
e seria mensal. A exclusão de temas políticos e religiosos deveu-se à necessidade 
 
46 A. J. Meadows, A comunicação científica, p. 7. 
47 I.R.C. Stumpf, Passado e futuro das revistas científicas, Ciência da Informação, p. 1. 
48 D. Mckie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific journal, p.8. 
49 D. Mckie, op. cit., informa que sua publicação continuou em 1666 com Abbé Galois, com um 
número em 04 de janeiro, em 1685 com Abbé de La Roque, em 1687 com Cousin, e de 1702 a 1792 
gerenciado por um comitê, ainda revivendo em 1816. Mckie não informa se esse foi o último ano do 
Journal de Sçavans. No entanto, E. N. da C. Andradeafirma que o Journal cessou sua publicação 
em 1790. 
50 A. M. Alfonso-Goldfarb, A magia das máquinas, p. 148. 
 23
de a Royal Society evitar polêmicas com tais instituições, considerando-se o 
ambiente político há pouco estabilizado e o apoio real à sociedade, conforme A. J. 
Meadows51. 
A edição do periódico coube a Henry Oldemburg e foi denominado Philosophical 
Transactions52. Comumente é considerado o primeiro do gênero, ao contrário do 
Journal des Sçavans, já que só tratava de temas da filosofia natural. Seria também 
um órgão de divulgação dos resultados dos experimentos realizados na Sociedade. 
J. Ziman afirma que o apoio real não se traduziu em financiamento, sendo que 
grande parte dos custos do empreendimento foi paga pelo próprio secretário da 
Royal Society. Como sempre, conforme A. M. Alfonso-Goldfarb, de “royal” a 
sociedade tinha apenas o nome, não recebendo nenhum apoio financeiro oficial.53 
H. Oldenburg, no editorial da primeira fascículo do Philosophical Transactions, 
expõe como finalidades da publicação o estímulo aos pesquisadores, a difusão 
ampla das pesquisas e a divulgação do “glorioso” trabalho da ciência de forma a 
contribuir ao benefício geral da espécie humana54. 
Embora bastante diferentes, os dois periódicos influenciaram a formação de 
inúmeras outras publicações na Europa. Na Itália foi fundado o Giornale de letterati 
di Roma55, e o Saggi di naturali esperienze, publicado pela Academia Del 
Cimento56. Na Alemanha apareceu o Acta Eruditorum (Leipzig, 1682), o primeiro 
periódico alemão, que trazia também artigos sobre medicina, matemática, direito e 
 
51 A. J. Meadows, A comunicação científica., p. 6. 
52 O nome completo do periódico era Philosophical Transactions: giving some Accompt of the 
present Undertakings, Studies and Labours of the Ingenious in many considerable parts of the World. 
53 A. M. Alfonso-Goldfarb, A magia das máquinas. 
54 H. Oldemburg, Epistle dedicatory, Philosophical Translactions, v.1, 1865. 
55 D. Mckie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific journal – O 
autor afirma que o periódico italiano imitou o francês. 
 24
teologia, tendo Otto Mencke como seu primeiro editor57. Na Holanda aparece o 
Nouvelles de la république des lettres, no estilo do Journal des Sçavans, publicado 
em Amsterdan de 1684 a 1687. A Academia de Paris publica, no estilo de 
Philosophical, a série Histoire et Mémoires. 
Outra questão a considerar era o posicionamento da igreja católica em relação à 
nova ciência. Em algumas regiões era bastante temeroso publicar. Copérnico e 
Galileu são ótimos exemplos disso. Na Itália, propriamente, as dificuldades eram 
enormes. Membros da Academia del Cimento foram presos pela Inquisição, além 
de impressores que produziram obras proibidas pelo Index. Como narra E.L. 
Eisenstein, até as bibliotecas eram pilhadas. “O receio de perseguições levou-os a 
um tipo de autocensura diferente daquele a que eram submetidos os membros da 
Royal Society, os quais tinham de manter-se fora da política e da teologia, embora 
pudessem explorar livremente o campo da natureza”58. Já os Saggi não podiam 
nem ser adquiridos nas livrarias italianas. Seguindo a explicação de E. L. 
Eisenstein, 
“Por meio das Transactions (Transações), a Royal Society lançou uma 
série contínua de publicações que atraíram um número crescente de 
assinantes e leitores por todo o mundo. Já o Cimento lançou uma única 
coletânea, cuja primeira edição não podia ser comprada ou vendida 
localmente. As Transações incentivaram o envio de contribuições 
assinadas e atraíram autores do estrangeiro, usando a fama como 
chamariz. Os seus editores tomaram medidas para assegurar sempre a 
proteção dos direitos de propriedade intelectual, mediante a datação das 
contribuições e a decisão sobre disputas por prioridade. Os Saggi tentaram 
proteger os seus colaboradores das perseguições, deixando-os anônimos. 
Com isso, era-lhes retirado o incentivo de contribuir para o bem público 
alcançando simultaneamente a fama pessoal. ”59 
 
56 Este periódico teve somente um número, em 1667, conforme J. Henry, A revolução científica e as 
origens da ciência moderna, p. 46. Eisenstein informa que o Saggi compunha-se de textos 
produzidos coletivamente. 
57 É no Acta que Leibnitz publicará inúmeros trabalhos sobre cálculo, em contraposição à Newton. D. 
Mckie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific journal. 
58 E. L. Eisenstein, A revolução da cultura impressa, p.269. 
59 Ibidem, p. 267. 
 25
No século XVIII ocorre a grande expansão das publicações em ciência. Na Europa, 
de 1725 a 1800, são criados setenta e quatro periódicos, sendo que apenas cinco 
desses são fundados antes de 1750. São eles: Raccolta d’opuscoli scientifici e 
filologici (Veneza, 1728-1757 e continuado por Nuova raccolta..., Ferrara, de 1755 a 
1787), Le Pour et Contre (Paris, 1733-1740), Bibliotheque Britannique ou Histoire 
des ouvrages des savans de la Grande Bretagne (La Haye, de 1750 a 1757), 
Göttingische Zeitung von Gelehrten Sachen (Göttingen, de 1739 a 1752, e 
continuado até 1801 em associação com a Göttingen Academy, com título 
modificado) e Hamburgisches Magazin (Hamburg e Leipzig, de 1767 a 1781) 60. 
De 1750 a 1759 saíram do prelo nove periódicos na Europa, destacando-se 
Commentarii de rebus in scientia naturali et medicina gestis, (Leipzig, 1752-1798), o 
qual, segundo D. McKie foi “o mais útil e bem sucedido periódico a noticiar o 
trabalho das academias e detalhes de novas publicações”61. 
Na década seguinte aparecem seis novos títulos. Na posterior, 1770 a 1779, 
surgem mais nove periódicos, entre os quais o Observations sur le Physique, 
editado por Abbé Rozier e o Chemisches Journal, editado por Lorenz Crell. De 1780 
a 1789, vinte novos títulos são publicados, destacando-se o Annales de la Chimie, 
editado por de Morveau, Lavoisier, Monge, Berthollet, de Fourcroy, de Dieterich, 
Hassenfratz e Adet, entre os anos de 1789 e 1815. Tem seu título modificado em 
1816 e 1840, sendo publicado até hoje sob o título Annales de Chimie – Science de 
Materiaux, pela editora Elsevier. Destaca-se também a publicação do The Botanical 
Magazine, ou Flower Garden Displayed, editado em Londres desde 1787, tendo 
sido William Curtis seu primeiro editor. Na última década do século XVII aparecem 
 
60 Bolton apud McKie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific 
journal, p.11 – Bolton não incluiu periódicos voltados somente à área médica. 
61 D. Mckie, The scientific periodical from 1665 to 1798, In: A. J. Meadows, The scientific journal, 
p.11. 
 26
vinte e cinco novos periódicos, e entre eles o Journal der Physik, o primeiro 
periódico voltado estritamente à física, e The Philosophical Magazine, editado por 
Alexander Tilloch, em Londres (1798). 
Embora os periódicos especializados tenham surgido no século XVIII, a grande 
maioria ainda tratava de variadas áreas das ciências, o que estava de pleno acordo 
com o conhecimento da época; mesmo assim revistas voltadas especificamente à 
medicina eram bastante comuns, conforme informa A. F. C. Costa62. Embora o 
Philosophical Transactions, como já dito acima, excluísse alguns temas, era um 
periódico voltado à Filosofia Natural, o que hoje abarca inúmeras de nossa áreas 
científicas. 
A. F. C. Costa também nos coloca a par das publicações da área médica do século 
XVIII, não anotadas por D. McKie: Medical Observations and Inquiries, em 1757; 
Medical and Philosophical Commentaries, 1773, de uma sociedade médica de 
Edimburgo; The Medical and Philosophical Journal of London, em 1799, que 
abordava temas de medicina, cirurgia, farmácia,química e história natural; The 
Medical and Chirurgical Review or Compendium of Medical Literature, Foreign and 
Domestic, em 1795. Essas duas últimas revistas foram as mais importantes da área 
médica até a publicação da The Lancet, em 1823. 
A grande maioria dessas revistas foi criada pelas sociedades e academias 
científicas, seguindo seus interesses e desempenhando a função de “registro 
público das atividades e interesses das sociedades científicas”63. Mas sua função 
mais fundamental, no entanto, foi promover e disseminar novas verdades e novas 
maneiras de chegar a elas, como afirma J. Henry: 
 
62 A.F.C. da Costa. Periódico científico brasileiro – o “ato heróico” de sua publicação, Ciência e 
cultura, p. 1165. 
63 Ibidem, p. 1165. 
 27
“Permanece claro, contudo, que as sociedades científicas, a 
correspondência entusiástica de seus membros e suas publicações (como 
Saggi di naturali esperienze, da Academia del Cimento, lançado uma única 
vez em 1667, ou as regulares Philosophical Transactions of the Royal 
Society, a partir de 1665) fizeram muito para promover o novo método 
empírico de praticar a ciência e estabelecer verdades filosófico-naturais”.64 
O Philosophical Transactions e o Journal des Sçavans foram utilizados, por longo 
tempo, como modelos a todos os periódicos científicos da Europa65. 
Representavam uma nova maneira de divulgar conhecimento, em uma conjuntura 
apropriada para o seu desenvolvimento. O afrouxamento da censura religiosa sobre 
o conhecimento que se produzia, que em muitos pontos não condizia com o 
conhecimento veiculado pela Igreja, e, por conseguinte diminuía o poder 
eclesiástico sobre os indivíduos; o afrouxamento do poder real sobre as 
agremiações científicas, que viam nelas o desenvolvimento de adversários políticos 
e também porque colocavam em questão muitas das verdades e decisões dos 
soberanos; o desenvolvimento das técnicas tipográficas e da comercialização de 
livros; e as grandes modificações práticas que proporcionaram o novo 
conhecimento, foram fundamentais para um novo formato de fazer e divulgar 
ciência no mundo moderno. 
 
A divulgação da ciência em Portugal e no Brasil 
Em Portugal também são desenvolvidas formas de comunicar a nova ciência, mas 
quase cem anos depois dos dois primeiros periódicos científicos. Até a metade do 
século XVIII, as instituições portuguesas faziam um movimento totalmente alinhado 
à escolástica tão criticada nos países mais influentes. 
C. R. Boxer comentando o desprezo e o desinteresse dos portugueses pelo 
trabalho intelectual, afirma que 
 
64 J. Henry, A revolução científica e as origens da ciência moderna, p. 46. 
 28
“A Europa medieval era uma escola dura e rude, e graças mais amenas da 
civilização não eram mais cultivadas em Portugal do que em outro lugar 
qualquer. Uma nobreza e uma fidalguia turbulentas e traiçoeiras; um clero 
ignorante e lasso; camponeses e pescadores trabalhadores mas imbecis; e 
uma ralé urbana de artífices e empregados diaristas, como a plebe lisboeta 
descrita pelo maior dos romancistas portugueses, Eça de Queiroz, cinco 
séculos depois, como 'beata, suja e feroz'.”66 
Essa mesma “plebe beata, suja e feroz”, como o mesmo autor afirma, realizou uma 
das mais importantes revoluções de nosso mundo, ao abrir os mares e as terras 
desconhecidos para o Europeu. A rudeza de suas ações e de suas atividades foram 
repassadas às colônias que dominou, o que não diferiu da maioria dos 
colonizadores europeus. Para C. R. Boxer, 
“do mesmo modo, a grande maioria dos leigos europeus que emigravam 
para o ultramar para os fortes, feitorias e colónias das respectivas nações, 
faziam-no com o objectivo de melhorar a sua situação económica e não 
com a intenção de escrever livros que pudessem alargar os horizontes do 
conhecimento.”67 
Portugal, entre os séculos XVI e XVI, enquanto se aprofunda a Revolução Científica 
no restante da Europa68, mostra-se bastante alheio às novidades. Na verdade, tais 
novidades causavam temor tanto ao soberano quanto à Igreja – e mais 
propriamente à ordem Companhia de Jesus. Na metade do século XVI, os jesuítas 
obtêm o controle do Colégio das Artes, o qual realizava o ensino preparatório para a 
única universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra69. 
A maior e mais influente instituição educacional portuguesa, a Universidade de 
Coimbra, foi criada em 1290 na cidade de Lisboa, tendo sido transferida para 
Coimbra em 1308. Como a primeira dinastia portuguesa tinha origem francesa, na 
universidade predominaram as orientações jurídicas francesas e italianas (isto é, 
direito romano - vários romanistas da Universidade de Bolonha ensinaram na 
 
65 B. Bensaude-Vincent & A. Rasmussen, La science populaire dans la presse et l’edition, p. 20. 
66 C. R. Boxer, O império marítimo português (1415-1825), p.21. 
67 Ibidem, p. 329. 
68 Estamos falando propriamente da Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Holanda. 
 29
Universidade de Coimbra). No governo de D. João I, ano de 1384, retorna a 
universidade à Lisboa, iniciando-se aí a escolha de reitores e lentes pelo próprio rei. 
Em 1537 a Universidade volta à Coimbra, passando, por dois séculos, ao controle 
dos jesuítas, e assim, isolando-se da influência intelectual e científica européia. 
No século XVI os jesuítas implantam o Ratio studiorum (Ratio et institutio studiorum 
societatis jesu), o qual, segundo J. M. de Carvalho, 
“privilegiava o latim e o grego sobre a língua pátria, a teologia sobre a 
filosofia, o aristotelismo e o escolasticismo sobre o cartesianismo, numa 
demonstração da natureza defensiva do ensino religioso após o Concílio 
de Trento. A luta contra o cartesianismo foi particularmente intensa e 
culminou com a tentativa dos jesuítas de expulsar de Portugal os padres do 
Oratório, conhecidos por sua maior abertura às novas idéias.” 70 
Os jesuítas tinham, na prática, “... o monopólio da educação superior através da 
rede de colégios que haviam fundado em Portugal e no seu império, literalmente 
desde o Maranhão até Macau.”71 
Mas, embora “formalista, pedante e conservadora”, a educação dos colégios 
jesuítas era considerada a melhor de sua época, “como testemunhou Francis 
Bacon”.72 
Politicamente, a Coroa evitava os ventos liberais que agitavam seus vizinhos. 
Agarrando-se aos poderes e direitos reais, os soberanos portugueses usaram a 
influência jesuítica para conservar o poder e censurar todas as novidades. Toda a 
educação, do povo e da aristocracia, era ministrada “dentro dos limites rigorosos da 
 
69 Os jesuítas conseguiram que o rei promovesse o Colégio de Évora à universidade, criando lá duas 
faculdades: Teologia e Direito Canônico. A universidade foi suprimida pelo Marquês Pombal em 
1760. 
70 J. M. de Carvalho, A construção da ordem : a elite política imperial, p.56. 
71 C. R. Boxer, O império marítimo português (1415-1825), p.332. 
72 Ibidem, p.332. 
 30
mais estrita ortodoxia católica apostólica romana”73, sendo que seu êxito foi 
garantido pela organização de uma “vigilante censura literária”. 
Em 1547, conforme C. R. Boxer, foi lançada a primeira lista de livros proibidos. E, 
daí em diante, todas as publicações tinham que fazer um longo percurso até chegar 
aos prelos: a censura civil do Desembargo do Paço, ou Supremo Tribunal de 
Justiça, a censura da autoridade eclesiástica do Bispado e o Santo Ofício da 
Inquisição. O autor explica que o controle rígido e eficaz sobre a publicação e a 
circulação de livros, a ortodoxia religiosa e a índole conservadora da maioria da 
população fizeram do renascimentoportuguês algo breve e fátuo. 
No século XVII, a aristocracia e a burguesia portuguesas aprimoram o contato com 
outros países, através dos estrangeirados. Esses eram portugueses que, segundo 
M. H. M. Ferraz, tanto “estavam ou estiveram no exterior por sua vontade ou por 
terem sido expulsos” (...) [quanto aqueles que] tinham contato com fontes 
estrangeiras, recebendo a influência que marcaria seus trabalhos”74. Os 
estrangeirados, foram introdutores das obras de Bacon, Galileu, Newton e Gassendi 
em Portugal. Também propuseram, como afirma C. R. Boxer, “a reforma do ensino 
superior através da separação da Filosofia e da Teologia e da adopção de novas 
disciplinas no curriculum”75. Ainda afirma M. H. M. Ferraz que os estrangeirados 
atuaram por variadas vezes nos consulados ou como pareceristas de assuntos 
diversos para o governo português, demonstrando haver, em Portugal, um espaço 
propício às mudanças que serão realizadas, em pouco tempo, pelo Marquês de 
Pombal. 
 
73 Ibidem, p. 333. 
74 M. H. M. Ferraz, As ciências em Portugal e no Brasil (1772-1822), p. 33. 
75 C. R. Boxer, O império marítimo português (1415-1825), p. 342. 
 31
O Marquês de Pombal foi nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros e de 
Guerra, em 1750. Este, sob o reinado de D. José I, promoveu uma reviravolta no 
país, ao expulsar a Companhia de Jesus de Portugal e de suas colônias. Uma de 
suas mais significativas ações foi a laicização e reforma da educação, 
especialmente a reforma da Universidade de Coimbra. Pombal abriu uma enorme 
brecha na Escolástica. 
A reforma da Universidade era levada sob a direção do reitor brasileiro Francisco de 
Lemos, com ênfase nas ciências físicas e matemáticas. Era o “Iluminismo” atingindo 
Portugal – fundamentalmente, tratava-se de “colocar a educação em condições de 
ser útil ao esforço de recuperação econômica”76. Também é o início da decadência 
do ciclo do ouro no Brasil, das flutuações do preço do açúcar e do aprofundamento 
da dominação inglesa sobre Portugal, o que tornava fundamental o 
desenvolvimento de novos conhecimentos que oferecessem ferramentas ao 
governo português para aumentar suas possibilidades econômicas, como, por 
exemplo, o aprimoramento da agricultura e a exploração de minérios para 
incrementar a exploração das colônias. 
Mas as mudanças foram profundas. Baseadas no Verdadeiro método de estudar, 
do oratoriano Luís Antonio Verney e, principalmente, do Método para aprender a 
estudar a medicina, de António Ribeiro Sanches, a Universidade de Coimbra abriu 
inúmeras cadeiras e introduziu nos currículos os mais recentes teóricos europeus, 
pari passu às universidades francesas e britânicas. Também inaugurou os espaços 
próprios aos novos estudos, como laboratórios, gabinetes, um novo hospital, teatro, 
 
76 J. M. de Carvalho, A construção da ordem : a elite política imperial, p.57. 
 32
77observatório astronômico e Jardim Botânico, além de ter reformado vários outros 
locais para estudo. 
E é somente nessa nova conjuntura que surge, em Portugal, a publicaçao periódica 
em ciência. 
M. F. de Nunes afirma que o primeiro periódico português a divulgar temas 
científicos e técnicos, especificamente, foi o Jornal Enciclopédico, dedicado à 
Rainha Nossa Senhora, e destinado para instrucção geral, com a notícia dos novos 
descobrimentos em todas as sciencias e artes, publicado em Lisboa, em 1779, “que 
se insere ainda no âmbito da divulgação das luzes em Portugal. O género 
jornalístico prosseguiu, multiplicando-se os títulos, mas preservando-se a matriz 
enciclopedista de feição científica.”78 
Mas Pombal também era autoritário e absolutista. Aboliu a censura da inquisição, 
mas criou a Mesa Censória, que continuou a censurar a publicação e circulação de 
livros de autores controversos. Conforme C. R. Boxer, 
“a censura pombalina fechou também a Gazeta Literária, um periódico 
editado e publicado por um cónego oratoriano no Porto em 1761-1762. A 
Gazeta tinha um âmbito admirável e era, de facto, o equivalente português 
do Journal de Savants e do Philosophical Transactions, dos quais dependia 
bastante, além de se manter a par dos livros publicados na Holanda, 
Dinamarca, Alemanha e Itália."79 
Em 1777, morre D.José I e Pombal deixa o governo. Como reação à reforma 
anterior ocorre a Viradeira, com professores e estudantes sendo processados pelo 
Santo Ofício, a partir de acusações de deísmo, naturalismo, enciclopedismo e 
heresia. 
 
77 M. H. M. Ferraz, As ciências em Portugal e no Brasil (1772-1822), p. 33-66. 
78 M. de F. Nunes, A universidade e a divulgação de conhecimentos científicos e úteis no Jornal de 
Coimbra (1812-1820), Universidade(s) : História, Memória, Perspectivas, p.127-128, Nota 1. 
79 C. R. Boxer, O império marítimo português (1415-1825), p. 348. Essa informação de Boxer 
contradiz a opinião de Nunes (1998), sobre o Jornal Enciclopédico ter sido o primeiro periódico 
científico português. Mas Boxer (2001) não enumera maiores especificidades da Gazeta Literária. 
 33
E assim, em solo português, as publicações periódicas em ciência somente terão 
oportunidade de se desenvolver, qualitativa e quantitativamente, no início do século 
XIX, com o liberalismo. 
Como já exposto, a criação de publicações científicas seriadas mostra-se 
estreitamente ligada à fundação de agremiações científicas, aliado ao 
desenvolvimento da imprensa e diminuição da censura estatal sobre a produção 
impressa. 
No Brasil não poderia ser diferente. No entanto, até o século XIX, não somente a 
maioria das atividades científicas e educacionais era proibida na colônia 
portuguesa, mas também a imprensa, e até a própria posse de prelos. Mesmo 
assim, também o Brasil contou com a criação de agremiações científicas durante o 
século XVIII. 
A abordagem de outros centros europeus e mesmo Portugal mostrou que as 
publicações periódicas surgiram a partir do cumprimento de algumas condições: o 
surgimento das tipografias, o desenvolvimento do comércio livreiro e a formação de 
grupos com competência e interesse em discutir questões afeitas a determinados 
assuntos, o que se deu, geralmente, nas academias. 
Ao se abordar o Brasil, verificam-se tentativas dessa natureza, embora o monopólio 
da educação nas mãos dos jesuítas e a proibição dos prelos, das instituições e de 
agremiações e sociedades de toda a ordem. 
Em 1724 foi fundada, na Bahia, a Academia Brasílica dos Esquecidos. Como 
apresenta C. Rizzini, 
“talhada ao figurino da época, aparece-nos hoje, com os seus bicos e 
babados, tão ridícula quanto as academias dos Generosos e Singulares, 
de Lisboa, e dos Ociosos, Adormecidos e Insensatos, da Itália – crespas e 
 34
arrebicadas contrafacções de marinismos, gongorismos e eufismos, os 
signos exóticos do culteranismo lusitano”80. 
O título Academia dos Esquecidos “parece aludir”81 ao fato dos brasileiros não 
terem sido chamados na organização da Academia Real da História Portuguesa, 
no ano de 1721. Foi constituída pelo vice-rei Vasco de Meneses (futuro conde de 
Sabugosa): “durou menos de um ano, realizou dezoito sessões, tomou por empresa 
o sol e destinava-se a estudos da História Brasílica”, como afirma C. Rizzinni82. Era 
constituída de padres, desembargadores, juizes, ouvidores, militares e literatos. 
Rocha Pita, autor da História da América Portuguesa (1730), era um dos 
componentes da academia. Outras produções dos esquecidos: Dissertação sobre 
as coisas naturais do Brasil, de Brito e Figueiredo, Dissertação crítico-jurídico-
histórica da guerra brasílica, de Barbosa Machado, e Dissertação da história 
eclesiástica do Brasil, de Soares da França. 
Sem dúvida tiveram seu papel no estímulo literário, no desenvolvimento de idéias 
gerais e do hábito do debate, assim como no conhecimento de novas doutrinas. 
Além disso,sua criação foi politicamente importante, para uma região onde 
qualquer impulso intelectual autóctone era censurado e proibido – embora não se 
possa dizer que tivessem desenvolvido idéias próprias e originais. Mas bastou o 
debate das novas doutrinas e idéias européias para que a censura coagisse e 
dispersasse os integrantes da primeira agremiação brasileira (nos moldes das 
academias européias), forçando-os a reunirem-se secretamente. 
Quinze anos depois surge a Academia dos Felizes, tendo funcionado de 1736 a 
1740, no Rio de Janeiro, instalada no Palácio do Governo, e composta por 30 
 
80 C. Rizzini, O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, p. 266-267. 
81 Conforme C. Rizzini, op. cit., p. 267. 
82 Ibidem, p. 267. 
 35
sócios83. Entre os seus integrantes estavam Mateus Saraiva, médico e cirurgião, 
presidente da academia, deixou escritos não publicados; Simão Pereira de Sá, 
autor de História Topográfica e Bélica da Nova Colónia do Sacramento (publicada 
em 1900); e Inácio José da Mota. 
Em 1752 é fundada a Academia do Selectos, também no Rio de Janeiro. Tinha 
como objetivo enaltecer o então governador Gomes Freire. Era presidida pelo 
jesuíta Francisco de Faria. Um de seus integrantes, Felício Joaquim de Sousa 
Nunes, foi o “aborrecido autor”84 dos Discursos Políticos-Morais. 
Na Bahia é criada a Academia Brasílica dos Renascidos, em 1759. Organizada pelo 
desembargador português José Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho de Melo, 
membro de várias corporações científicas da Espanha, teve duração de oito meses. 
Na reunião de fundação compareceram 37 pessoas, alguns sobreviventes da 
Academia dos Esquecidos. O próprio Mascarenhas foi eleito presidente. 
Conforme C. Rizzinni, “ainda que não inteiramente limpa do ranço culteranista, a 
Academia dos Renascidos voltara-se a uma obra de larga envergadura científica e 
de consciente sentido nacional: a composição de uma História Eclesiástica e 
Secular, Geográfica e Natural, Política e Militar da América Portuguesa”.85 
A intenção dos Renascidos era elaborar memórias de vasto domínio do 
conhecimento, dividindo-se nos seguintes temas: História dos índios; História da 
Agricultura; História Natural; História Genealógica; História das Fortificações; 
História com mapas gerais e particulares; História dos corpos militares; História da 
Justiça; História do Comércio e do Fisco; História do Estado Eclesiástico (incluindo 
notícias da Igreja, dos conventos, das aldeias de índios, de bispados e ordens); 
 
83 C. Rizzinni, O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, p. 267. 
84 Ibidem, p. 268. 
 36
História das Guerras; Coleção das leis e ordens régias e tratados do comércio 
referentes à colônia; dados cronológicos dos arquivos das Câmaras e a formação 
da Biblioteca Brasílica (uma bibliografia das obras que tratavam da América 
Portuguesa). C. Rizzini afirma que os Renascidos “dissertaram” sobre muitos 
outros assuntos, tratando de temas como administração, política, economia, 
agricultura e técnicas variadas86. Mas tão amplos objetivos não poderiam ter sido 
plenamente realizados no tão pouco tempo que a Academia conseguiu sobreviver. 
Tinha como sócios vários integrantes da elite dos bacharéis brasileiros formados, 
grande parte, na Universidade de Coimbra, assim como os “espíritos esclarecidos 
de Portugal e da Espanha”.87 
Em 1760 Mascarenhas é preso, possivelmente por favorecer os jesuítas. Ele havia 
sido enviado ao Brasil em 1758, junto com Azevedo Coutinho e Vasconcelos 
Barberino, para instalar o Conselho do Estado e Guerra e a Mesa da Consciência e 
Ordens, órgãos destinados a facilitar a premente expulsão dos jesuítas da colônia. 
Mascarenhas fica preso no Brasil por dezessete anos, ao fim dos quais é enviado a 
Portugal. Sua prisão dissipou a Academia. 
A Academia Científica do Rio de Janeiro é fundada em 1772 pelo médico José 
Henrique Ferreira, sob a proteção do vice-rei Marquês do Lavradio88. Esta, ao 
contrário das outras anteriores, chega a durar oito oitos. 
Conforme M. F. de Nunes & J. C. Brigola a Academia era designada Academia 
Fluviense, Médica, Cirúrgica, Botânica, Farmacêutica, assim como Sociedade de 
 
85 C. Rizzinni, O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, p.268. 
86 C. Rizzini não especifica de que maneira esses intelectuais atuaram no Brasil, quais obras 
editaram ou produziram, se realizavam palestras, etc. Em outro momento (p. 270, nota 32) o autor 
diz que dissertações eram lidas durante as sessões da Academia. 
87 C. Rizzini, O livro, o jornal e a tipografia no Brasil, p. 269. 
88 S. Schwartzman, Um espaço para a ciência, p. 65, afirma que essa agremiação levava o nome de 
“Sociedade Científica” e não “Academia...”. Mas C. Rizzini aponta a data de 1771 para sua 
fundação, ao contrário de Schwartzmann e Nunes & Brigola. 
 37
História Natural do Rio de Janeiro. Os mesmos autores afirmam que, citando 
Moreira de Azevedo, esta academia abriu a primeira tipografia no Brasil, logo 
fechada (“destruída e queimada”) pelo governo português89. Mas a impressão de 
material, sendo na metrópole ou às escondidas no Brasil, já era procedimento das 
academias anteriores, como explica Nunes: 
“Na verdade, vinha das primeiras décadas do século a tradição das 
associações literárias que davam corpo às aspirações intelectuais da elite 
urbana brasileira, sendo particularmente significativa a actividade da 
efêmera Academia dos Selectos que chegara a promover, na década de 
50, a impressão de vários folhetos. “90 
Coube, também, ao Marquês do Lavradio a criação de um pequeno horto botânico 
no Colégio dos Jesuítas, o que “correspondia a uma visão da Botânica como 
ciência auxiliar da Medicina – em razão das potencialidades farmacológicas das 
espécies vegetais – de acordo, aliás, com a linha dominante.”91 
A temática que desenvolviam era variada: história natural, química, física, 
agricultura, cultura do arroz, do índigo e do urumbeba, criação dos bichos de 
cochonilha e da seda, entre outros, embora a maioria de seus componentes fosse 
composta de médicos. Um deles, Manuel Joaquim Henrique de Paiva, foi 
degredado para a Bahia, por simpatia aos franceses. 
J. M. de Carvalho afirma que tal simpatia era muito comum. Salienta a presença de 
indivíduos formados na França ou influenciados por idéias francesas nas 
academias e sociedades literárias formadas no Brasil, secretas ou não, assim como 
nas rebeliões precedentes à Independência. Conforme o autor, “padres, médicos e 
 
89 L. Hallewel, O livro no Brasil, cita Serafim Leite (Artes e oficinas dos jesuítas no Brasil), o qual 
afirma ter havido uma oficina tipográfica em Recife entre 1703 e 1706, sendo o tipógrafo o jesuíta 
Antonio da Costa. Tal afirmação não é aceita por Wilson Martins, em A Palavra Escrita. 
90 M. de F. Nunes & J. C. Brigola, Jose Mariano da Conceição Veloso (1742-1811) – um frade no 
universo da natureza, in A casa literária do Arco do Cego (1799-1801), p.55. 
91 Ibidem, p.55 
 38
maçons: eis os mais típicos representantes do radicalismo políticos nas três 
décadas que precederam a Independência”.92 
Praticamente como continuidade da Academia Científica, surge em 1779 a 
Sociedade Literária, nascida, também, sob a proteção do Vice-reinado93. Contava 
com vários participantes da Academia anterior, mas aglomerou profissionais de 
áreas mais variadas. Foi fechada pelo Vice-rei seguinte, pois “fora transformada, 
segundo as autoridades, em motivo de tertúlias conspirativas”94. No dizer de C. 
Rizzinni, representou um “derradeiro cenáculo aberto da colónia. Na sua segunda 
forma trazia o germe político que lhe justificou a supressão e deu origem ao ciclo 
dos clubes fechados”.95

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