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--- ser educacional gente criando o futuro 1elesap1ens .. \-' ' 1 1 l-'Í 1 1 ! ! t 1 1 ' 1 Análise do Discurso © by Editora Telesapiens Todos os direitos reservados. Nenl1uma parte desta publicação poderá ser reproduzida 011 tra11smitida de qualquer modo 011 por q11alq11er outro 1neio, eletrônico ou n1ecânico, inclui11do fotocópia, gravação ou qualq11er outro tipo de sistema de armazenamento e trans1nissão de i11form.ação, sen1 prévia a11torização, por escrito, da Editora Telesapiens. Dados Internacionais de Catalogação na P11blicação (CIP) 048a Oliveira, Adriana Ferreu·a Serafim de Análise do disct1rso [rec1u·so eletrônico]/ Adria.na Ferreira Serafim de Oliveira, Patrícia Valéria Vieira da Costa; coorde11ação de David Lira Stephen Barros; organização de Cristia11e Silveira Cesar de Oliveira - Recife: Telesapiens, 2021. l 72p.: il.; 23cn1 ISBN 978-65-86073-84-3 1. Análise do disc11rso. 2. Lmg11ística. I. Costa, Patrícia Valéria Vieira da. II. Barros, David Lira Stephen (coord.). III. Oliveira, Cristia11e Silveira Cesar de ( org.). IV. Título. CDD 401.41 (22.ed) CDU 800.85 Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626 Análise do Discurso Créditos Institucionais Fundador e Presidente do Conselho de Administração: J anguê Diniz D ire to r-Presidente: Jânyo Diniz Diretor de Inovação e Serviços: Joaldo Diniz Diretoria Executiva de Ensino: Adriano Azevedo Diretoria de Ensino a Distância: Enzo Moreira © 2020 by Telesapie11s Todos os direitos reservados AS AUTORAS ADRIANA FERREIRA SERAFIM DE OLIVEIRA Olá. Meti nome é Adriana Ferreira Serafi1n de Oliveira. Sou Doutora em Educação pela UNESP - Rio Claro, com foco em inclusão social, direitos fundamentais e políticas públicas para as mulheres vítimas de violência de gênero. Estágio doutoral em Psicologia Social com bolsa PSDE - CAPES na ''Universidad Complutense de Madrid - Facultad de Ciencias Políticas y Sociología'' co1n pesquisas desenvolvidas em Madrid e cercanias quanto aos serviços públicos de atendimento à mulher vítima de violência de gênero e quanto à legislação dessa temática a pesquisa foi desenvolvida com a orientação de professor da ''Facultad de Derecho de la Universidad Complutense de Madrid''. Tem experiê11cia em trabalha.r co111 a metodologia qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais Difusos e Coletivos pela UNIMEP de Piracicaba, co1n foco em Direitos Humanos e Direito Internacional, com bolsa do programa PROSUP-CAPES. Pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela Ft1ndação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Bacl1arel e1n Direito pela Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Pós-doutorado em curso pela FD-UPM. Revisora e parecerista de periódicos qualificados. Professora universitária. Advogada , , PATRICIA VALERIA VIEIRA DA COSTA Olá. Meu nome é Patrícia Valéria Vieira da Costa. S011 formada e1n Letras com l1abilitação e1n Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual da Paraíba, possuo Mestrado em Literatura e Interculturalidade e atualmente faço Doutorado em Literatura e Interculturalidade, ambos pela mesma instituição. Tenho experiência docente no ensino básico, por meio das disciplinas de Literatura e Produção de textos, passando por tunnas do ensino Fundamental II ao ensino Médio. S011 apaixonada pelo que faço e adoro trans1nitir minha experiência de vida àqueles que estão i11iciando em suas profissões. Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar set1 elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! -- 1 C O N OG RA F I C OS Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem significam: ' ' , ... , - - X OBJETIVO Breve descrição do objetivo de aprendizagem; CITAÇÃO Parte retirada de um texto; TESTANDO S11gestão de práticas 011 exercícios para fixação do conteúdo; IMPORTANTE O contel.'.1do em destaque precisa ser priorizado; DICA Um atalho para resolver algo que foi ir1trodtLZido no conteúdo; EXPLICANDO DIFERENTE Um jeito diferente e mais silnples de explicar o que acaba de ser explicado; EXEMPLO Explicação do conteúdo ou conceito partindo de 11m , . caso pratico; PALAVRA DO AUTOR Uma opinião pessoal e pa1ticular do autor da obra; + + - --X ;,. OBSERVAÇÃO Uma nota explicativa sobre o que acaba de ser dito· ' RESUMINDO Uma síntese das 1'.1ltimas abordagens; DEFINIÇÃO Defi1úção de llID conceito; ACESSE Links úteis para fixação do conteúdo; SAIBA MAIS Informações adicionais sobre o conteúdo e temas afins; SOLUÇÃO Resolução passo a passo de um problema , . 011 exerc1c10; CURIOSIDADE Indicação de cUiiosidades e fatos para reflexão sobre o te1na e111 estudo; REFLITA O texto destacado deve ser alvo de reflexão. _. ARIO UNIDADE 01 A linguística imanente versus linguística do discurso ........ 14 A linguística imanente ................................................ ............................................ 14 Estn1turalismo .............. ' .................................................................................... . Gerativisn10 .......................................................................................................... 15 17 A linguística do discurso ...................................................................................... 18 Linguística Cognitiva .................................................................................. 19 Sociolinguística Variacionista .............................................................. 21 A língua enquanto objeto da linguística- consequências dessa perspectiva teórica ................................................................................. 24 A subjetividade da Linguagem ....................................................................... 25 A enunciação ........................... .. ......................................... .... ........................................ 28 O discurso enquanto objeto de estudo da linguística (A análise do discurso) - consequências dessa perspectiva teórica 32 A interpretação ........................................................................................................... ... 34 Condições de produção e interdiscurso .................................................. 3 8 Outros aspectos relevantes à análise do discurso ................ ... 41 UNIDADE 02 Enunciação, Pragmática, Argumentação, Discurso ........... .. 52 Enunciação .......................... .. ........ ............. ............................. ...................................... ... 5 2 A Semântica da En une i ação ..... ......... ............................................ ........ 5 3 Prag111ática ........................................................................................................................ 5 7 Argumentação ................................................................................................................ 6 O Discurso 62 .................................................................................. ' .......................................... . Perspectivas teóricas (Significado de Ideologia) segundo: Althusser Ricoeur Foucault Pêcbeux 65 ' ' ' ............................................ .. A ideologia segundo Althusser ....................................................................... 65 A ideologia segundo Ricoetir ........................................................................... 68 A Ideologia segundo F oucault ......................................................................... 70 A Ideologia segundo Pêcheux .................................................... ....... ..... .... ..... 72 Perspectivas da Análise do Discurso de linha americana (Givón); Análise do Discurso de Linha francesa (Foucault, Pêcbeux); Análise críticado Discurso ................................... ............ . 74 Análise do Discurso de Linha americana (Givón) ........................ 74 Análise do Discurso de Linha Francesa (Foucault, Pêcheux) ....... 76 Authier-Revuz e a Análise Crítica do Discurso 82 Authier- Revuz 82 ............... ... .......................... ................................. ................................. Análise Crítica do Discurso 85 UNIDADE 03 Sujeito do Discurso: Benveniste, Authier-Revuz, Bakhtin, Ducrot e Foucault 94 As diversas formas de conceber o sujeito do Discurso ...... 94 O Sujeito para Benveniste ....................................................................... 95 O sujeito para Authier-Revuz ............................................................... 97 O sujeito para Bakl1tin ................................................................................ 98 O sujeito (Polifonia) em Ducrot ......................................................... 99 O Sujei to para F oucaul t ......................... .. .. .. ............. ................ .. .. .. ........ 1 O O Formação Imaginária e Formação Discursiva ........... .... ...... .. 103 F armação Itnaginária ........................................ .. .................................... ............. 103 F armação discursiva ... .... .. .................... ................................... .... .. ....................... 107 Ideologia e Suj eito ................................................................................................ 112 A Forma-St1jeito ..... ............................. ... .......................................................... ........ 117 O sujeito e sua forma histórica ............... .. ....................... ..................... .. 120 Subj etividades ............................................................................................................ 125 UNIDADE 04 O intradiscurso, o interdiscurso e a memória discursiva ...... 130 O intradiscurso Interdiscurso ................................................................................................................ 131 132 F or1nações discursi vas ........................................................... .. ........................... 13 3 A intertextualidade 139 Intertex tualidade: uma questão discursiva ........................................ 14 5 Dispositivo de Análise: O lugar da interpretação Interpretação versus compreensão; textualidade e discursividade 147 Interpretação versus compreensão ........................... ................................ 14 7 Textualidade e discursividade 151 .................................... .................................. Tipologias e relações entre discursos: Discurso autoritário; discurso polêmico; Discurso lúdico .................................................... 155 Discurso autoritário; discurso polissêmico e discurso lúdico ..... 159 Referências 163 ....... ...... .............................. ....................................................................... Análise do Disc11rso J ( ___ 1_1 ___ _ ___ 12_) ( Análise do Discurso -- INTRODU AO Você sabia que a área da Linguística é u1na das mais importantes para o conl1ecime11to da Língua? Desde o início do Século XX que linguistas de variados países mergulham nessa á1·ea, com o intuito de desvendar os mistérios que circundam a linguagem. Nesta disciplina, você conhecerá o percurso teórico que se inicia com o famoso Sausslu·e, considerado o ''O pai da lingl1ística moderna'', até as concepções mais conte1nporâneas relativas aos estudos sobre a linguage1n. Nessa primeira unidade, apresentaremos a você u1n estudo convidativo a co11hecer a Linguística Imanente, bem co1no a Linguística do Discurso, chega11do ao interessante conteúdo que é objeto da nossa disciplina em questão: A Análise do discurso. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Análise do Disc11rso J ( ___ 1_3 ___ _ OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1. Nesta unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo 110 desenvolvimento das seguintes competências profissionais: Compreender as diferenças entre a Ling11ística Imanente e a Linguística do Discurso; E11tender como a Líng11a se toma objeto da enunciação para a Linguística 1nodema, e como a co111preensão da enunciação interfere positivamente na origem da A11álise do Discurso; Conceber a Análise do Discurso enquanto resultante dos estudos que a antecedem, além de assimilar con10 essa perspectiva amplia as compreensões linguísticas anteriores; Investigar como a Análise do Discurso se to1nou u1na perspectiva crítica, nos contextos históricos, soc1a1s, econômicos e etc., para o estudo da linguage1n. Então? Está prepa1·ado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! ___ I 4_) ( Análise do Discurso A linguística imanente versus linguística do discurso Caro aluno(a), ao término deste capítulo, você será capaz de entender co1110 funciona a Análise do Discurso. Isso será funda1nental para a co111preensão de uma das grandes co1Tentes de estudo do curso de Letras, responsável por grande parte das pesquisas na área, bem como contribuirá para exercício de sua docência em sala de aula. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Va1nos lá. Avante! A linguística imanente Desde a antiguidade, o ho1nem passa por motivações práticas qt1e o leva a refletir sobre a estrutura das língt1as e set1s t1sos. Apesar de Pêcheux (1990, p.38) afirmar que a ''reflexão sobre a linguage1n não tem evidentemente, co1neço histórico assi1nilável'', desde o antigo Egito, passando por Fenícios e Hindus, além de out1·os povos, o registro escrito é problematizado pela tomada de consciência, geralmente empírica, da estrutura da língua para fins de comunicação. Essa realidade nos leva a compreensão da imanência da língua, ou, mais propriamente, sua realidade material. Formalmente, a linguística imanente está para a ''teoria da linguagem'', co1no coloca o dinamarquês Hjelmslev, em seu livro ''Prolégomenes à tine théorie dt1 langage'' (Prolegô1nenos a ut11a teoria da ling·uage111). Como, então, consideramos as Linguística Imanente nos dias de hoje? Análise do Disc11rso J (_1_5 __ _ Hojee1ndia,alinguísticalmanenteéumdosprincípiosdoque chaman1os 1nais comumente de Linguística fo1mal, que antecede e ilu111ina o posterior surgi111ento da Linguística do discurso. Em se tratando de Linguística formal, é necessário compreender que essa concebe a língua enquanto est1utu1·a. Sendo assim, ''A língua é entendida co1no um objeto at1tônomo independente das intenções de uso e da situação comunicativa (MALELOTTA, 2008, p.87). No contexto formalista, surgiram duas vertentes: O estruturalisn10, do suíço Ferdinand Saussure, que i11augura a Linguística moderna; e o Gerativis1no, do no1ie americano N oan Chomsky ( 19 5 7). Estruturalismo Preparado (a) para conhecer o famoso ''Pai da linguística moderna''? Vamos lá! A teoria Sausst1riana ganha espaço nos estudos linguísticos por 1neio da publicação póstuma do ''Curso de Linguística geral'' ( 1916), um compilado de escritos de Saussure efetivado por seus alunos Charles Bally e Albert Sechehaye. Para Fiorin (2002), apesar de, 110 livro, não estar claramente exposto dessa fonna, os estudiosos costumam dividir a teoria saussuriana em quatro princípios ou dicotomias, são elas: Sincronia versus Diacronia Indo de contra ao estudo da evolt1ção histórica das línguas, a diacronia, (vigente até fins do século XIX), Saussure prioriza a descrição sincrônica, objetivando descrever a estrutut·a de uma determinada língua em seu recorte temporal, sem levar em consideração seu processo evolutivo. Sobre essa perspectiva, Fiorin (2002, p. 79) comenta que: Contraria1nente ao estudo da mudança linguística, o ponto de vista sincrônico vê a língua como u1n siste1na em que u111 elemento se defu1epelos den1ais elementos. No estudo sincrônico, um determinado ___ I 6_) ( Análise do Disct1rso estado da língua é isolado de suas mudanças através do te1npo de e passa a ser estudado como um siste111a de elementos linguísticos. Esses elementos são estudados não mais em suas mudanças históricas, mas nas relações que eles contraem, ao mesmo tempo, uns co1n os outros. Língua versus fala Saussure elege a língua como seu objeto de estudo 11a linguística, já que a considera sistêmica e coletiva. Para ele, a língua define-se enquanto um siste1na composto por signos linguísticos, encadeados para formar um todo organizado em que cada signo é interdependente e definido por sua ordem e função. Significado versus significante Para o estudioso, essa é a dicoto111ia mais importante, posto que forma o signo linguístico acima mencionado. Para Saussure tudo é signo, já que tudo significa algo. Sendo assim, significante seria a image1n acústica, 1naterial, de algo, co1no por exe1nplo escrever a palavra ''computador''. Já o significado é o conceito imaterial disso, Oll seja, as interpretações que competem a esse signo: aparelho tecnológico; n1eio comt1nicacional, etc. Sintagma versus paradigma O Paradigma é o conjunto de con1ponentes do qual o sujeito pode se valer para co111por seu e11unciado; já Sintagma é a escolha. Por exemplo, um sujeito pode dizer ''A água está fria''. A palavra ''fria'' poderia facilmente ser substih1ída por ''temperatura'', por exemplo. No entanto, a escoll1a feita foi ''água'', o que caracteriza o eixo do sintagma. Já os outros tennos como ''temperatura'', etc., que poderiam ser escolhidos, constituem o pa1·adigma. Co1110 vin1os, o Estruturalismo Saussuriano pode ser pensado como o estudo da língua enquanto um sistema fechado em si mesmo, se1n interferência de fatores extralinguísticos como o contexto situacional, dent1·e outros. Críticas à parte, o Análise do Disc11rso J ( ___ 1_1 ___ _ Estruttrralismo i1úluenciou diversas vertentes da produção de conhecimento linguístico no decorrer do século XX. Gerativisnio A partir da segunda n1etade do século XX, surgiu uma 11ova abordage111 linguística, o Gerativismo. Formulado pelo linguista Chomsky, manifestou-se como uma nova proposta de investigação da linguagem. Esse estudioso optou por uma posttu·a racionalista para formular sua teoria dos estudos lingt1ísticos. Para Chomsky (2005), a língua deve ser estudada de for1na lógica e abstrata. Nesse contexto, essa passa a constituir um siste1na de regras e princípios compostos na 1nente humana, considerando que qualquer sujeito exposto a u1n ambiente apropriado pode adquirir ( a gramática de) qualquer língua. Pragmático, Chomsky tem como base da gi·amática gerativa três questões básicas, a saber: ''a) O qt1e constitui o conhecimento da Língua? b) Como é adquirido o conheci1nento da Língua? c) Como é usado o conl1ecime11to da língua?'' (CHOMSKY, 1994, p.23). A resposta a essas questões, para o pesquisador, está 11a mente hu1nana, que possui un1a gramática internalizada, explicada de duas maneiras: Gramática enquanto dicionário mental de f armas da língua; gramática enqt1anto sistema de regras e princípios que atuam sobre as formas. Nesse ínterim, a gi·a1nática une-se com os demais sistemas conceituais mentais para articular o som. No processo formal, as expressões p1imeiro passam pelas regras para só depois ganharem significação. Para o Gerativis1110, o ser humano nasce com u111 conjunto de princípios relacionados ao funciona1nento da língua, ou seja, a aquisição da linguagem toma-se u1na herança genética. Se genético, portanto, comum entre todas as línguas. Assim, a abordage1n gerativa busca as características gerais da linguagem, explicando e descrevendo propriedades que compõem o que o Chomsky chama de Gran1ática Universal (GU). ___ 1 s_J ( Análise do Disct1rso Considerado u1n dos 1naiores teóricos conte1nporâneos, Chomsky contribuiu de diversas 1naneiras para os estudos linguísticos. Apesar de formalista tal co1110 Saussure, o estudioso não concorda com a concepção de que a língua é uma convenção social, mas sim um fenômeno biológico humano. Ambos, Sausstrre e Chomsky, aproximam-se q11ando considera1n a língt1a uma forma homogênea e idealizada. No entanto, diferem-se quando, por exe1nplo, para o p1imeiro, a língua é um conjunto de signos sociais; en.quanto que, para o segundo, ela é u1n conjunto de sentenças for111uladas com bases biológicas. A linguística do discurso A linguística do discurso ultrapassa os limites da linguagem enquanto um sistema formal, passando a valorizar os usos da líng11a em situações reais de com11nicação, além das relações entre função e forma. Ou seja, para a Linguística do discurso a língua é uma estrutura f onnal perpassada por realidades subjetivas tanto histó1icas quanto sociais, que influenciam e são influenciadas pelo siste1na. Essa nova perspectiva motivou o surgimento de diversas vertentes que, apesar de suas particularidades, de umamaneira geral: ( ... ) considera a língua e1n uso, observando os fenômenos de variação e mudança linguísticas, as interpretações face a face ( e de outros tipos) entre falante e ouvinte, as influências sociais e psicossociais na estrutura da língua, a ideologia e a co11st17.1ção da subjetividade, os atos de fala no lugar de frases e sentenças verdadeiras e gramaticais, as implicaturas conversacionais entre outros fatores. (MARTELLOTA, 2008, p.88) Dentre muitas vertentes, ressaltare1nos duas das principais, a saber: a Linguística cognitiva e a Sociolinguística variacionista, refletindo proxi111idades e distancian1e11tos e111 relação ao paradig1na f onnalista. Análise do Disc11rso J ( ___ 1_9 ___ _ Linguística Cognitiva O q11e seria a Linguística cog11itiva? Surgiu no final da década de 1970, na Califó1nia, a Linguística Cognitiva, resultante de 1upturas teó1icas de alguns dos gerativistas. Nesse período, se destacaram nomes co1no George Lakoff e Charles Fillmone. Com o tempo, essa abordagem passot1 a ser cha1nada de Sociocognição, visando destacar o poder do contexto social para a linguage1n (já não 1nais autônoma): C11ltura e sociedade como bases da cognição hmnana, da co1npreensão do m1111do. Portanto, essa vertente não separa conheci111ento linguístico do conhecllnento 11ão linguístico, assu1nindo uma postura que vai de contra a visão racionalista do gerativismo. Para a Sociocognição, os interlocutores são o centro da constn1ção de sentido, ou seja, a comunicação entre indivíduos em situações reais de interação discursiva é o ponto chave. A linguagem deixa de seru1n sistema que independe do falante ou um conjunto de regras finitas e ganha uma dimensão social e cognitiva cuja função é possibilitar a seus usuários meios para reportar o disct1rso alheio, inflt1enciar ot1tras pessoas, narrar acontecimentos, fazer avaliações, ser impreciso, falsear infor1nações, predizer o fut11ro, expressar sentimentos. (SALOMÃO, 199, p.65) Para Lakoff & Johnson (1999), a mente não é separada do COIJJO, assi111, muitos dos significados se dão por meio da estrutura corporal humana, chamados teoricamente de pensa1nentos corporificados. Aqt1i, consideramos a soma da inferência conceptual à inferência sensório-motora. Quando usa1nos expressões relativas ao espaço, sendo que esse significa tempo. Vejamos: Dias atrás estive em São Paulo ___ 2_0 ___ ) ( Análise do Discurso Temos acima, originalmente, a palavra ''atrás'' co1110 um referente espacial (atrás de algum lugar, posicionan1ento). No entanto, 110 contexto dessa oração a palavra sublinhada refere-se a um tempo anterior, sensorial. Como vi111os, a mente humana desenvolve um processo de reelaboração de informações que surgem inicialmente de domínios cognitivos distintos. A esse processo da1nos o no1ne de ''1nesclage1n'', em que relações sintáticas abrem 1narge111 para os aspectos semânticos, em busca de sentido (s).Observe a figura abaixo: Input 1 figura 1: Modelo esque111ático do processo de mesclagenJ conceptual Baseado e111 Fouconnier e l'u.mer (2002) Espaço Genérico Fonte: O autor Input 2 Segundo Fouconnier e Turner (2002), esse processo se dá por pelo menos a conexão de quatro domínios: dois inputs de entrada; um esque1na genérico (possibilidade de interação) e a mescla ( o novo sig11ificado). Análise do Disc11rso J ( ___ ~_1 ___ _ Podemos perceber, portanto, que a Sociocognição ultrapassa o Fonnalismo em diversos aspectos. Dentre eles, a crítica à limitação gerativa, posto que apesar de se aproximar das ciências cognitivas, o Gerativismo entende a linguagem como autônoma, priorizando a sintaxe, enquanto que a Sociocognição valoriza a semântica por 1neio da utilização dos sentidos para o processo de const1ução da linguagem. Por fim, enquanto que na linguística fo11nal o sujeito é irrelevante, na Sociocognição o sujeito é o centro na constrt1ção de sentido, ou seja, o ho1nem significa o inundo de acordo co111 suas experiências pessoais, sociais, econômicas e culturais. Sociolinguística Variacionista As pesquisas em to1no da Variação linguística surgiram nos Estados Unidos na década de 60, pela iniciativa de Willian Labov. Para Labov (2008), um dos principais intt1itos dessa nova perspectiva é identificar, descrever e interpretar as variações da língua levando e1n consideração grupos étnicos, etários, regionais, de gênero, etc., que compõem a sociedade. Segundo Wem·eicl1, Labov & Herzog (2006), a sociolinguística enfoca a língua em seu contexto usual. Para tanto, toma-se relevante aspectos linguísticos formais, sociais e culturais quando da necessidade de investigação sobre variações e mudanças linguísticas, principalmente pela consciência de que a variação em seu uso não ocorre de 1naneira aleatória, mas sim condicionada por um arcabouço de regras organizadas pela divisão social em classes. , E possível identificar, primeiramente, dois grandes grupos: O da norma padrão, linguagem de prestígio social, regida, comumente, pelo domínio da gramática normativa, geralmente trabalhada de 1naneira intensiva nos ambientes escolares, principalmente por estar articulada, sobretudo, à ascensão social dos indivíduos; e a norma não padrão, geral1nente estigmatizada ___ 2_2 ___ ) ( Análise do Discurso por 11ão oferecer os 111esmos acessos padrão disponibiliza aos sujeitos. . " . soc1oeconom1cos que a No combate a const111ção de estigmas linguísticos, a Sociolinguística elege a diversidade linguística, que considera não só as regras da língua como, sobretudo, as relações de poder. Essa consideração é rest1ltado da ciência da língt1a enq11anto instituição social locada historica1nente e que, por isso, fi1ncio11a e1n diversos contextos situacionais. Vejamos a tirinha abaixo: ~--:io. Q41C01 INDAOCM.~ P~ Q.I N.1111 FIZ A UCÃOPICMA.l40JII Fonte: Mauricio de Sousa Produções 1 661◄ Chico Bento é um personagem cujo modo de falar difere da nonna culta padrão, já que caracteriza, em sua fala, u1na variação regional. A tirinha, para registrar esse modo de fala, reproduz a linguagem proveniente do contexto social a que ele está inserido. No diálogo com a professora ( que domina a nor1na padrão, o que lhe garante status social para exercer o cargo que ocupa) percebe1nos que o ''st1sto'' dela se deve não aos supostos ''erros'' linguísticos cometidos por Cl1ico, 1nas si1n, pela sua esperteza em se livrar da hipótese de um castigo, revelando a compreensão da professora não só do uso oral da língua, como também o do1nínio das Variações linguísticas. Análise do Disc11rso J ( ___ ~_3 ___ _ E111 relação ao Estruturalis1no, a Sociolinguística se aproxi1na dessa linha de pensa1ne11to ao, como Saussure, considerar a linguística co1110 u111 fe11ômeno social. Apesar disso, as diferenças são mais reconhecíveis. Dentre elas, o fato Sociolinguística Variacionista fazer llSO de uma reflexão diacrônica ( diferente1nente de Sal1Ssl1re) já que essa valoriza os processos sócio históricos influenciadores das mudanças da língua. Alé1n disso, diferentemente do Gerativismo, para a Sociolinguística é fundamental a coleta do maior nú111ero de dados de falantes possível em situações de fala reais, por meio de recUI·sos de áudio. Para aprofundar seus conhecimentos em torno da Sociolinguística, recomendamos os livros ''A língua de Eulália' ', bem co1no ''Preconceito linguístico'' , ambos de Marcos Bagno. ___ 24_) ( Análise do Discurso A língua enquanto objeto da linguística consequências dessa perspectiva teórica Anteriormente vimos que Saussure, considerado ''pai'' da Linguística moderna, em suas dicotomias, privilegia a língua, já que essa ''é u1n siste1na supra individual utilizado como meio de comunicação entre me1nbros da sociedade'' (COSTA, 2008, p.116). Ela se faz, para o estudioso, enquanto parte essencial da linguagem, posto que, sem ela, é i111possível conceber o contato entre indivíduos de uma mesma sociedade, daí surge seu caráter social. A fala, nesse contexto, tem um papel secundário, já que é considerada específica de cada indivíduo. Aprendemos, no decorrer dos estudos enu·e Linguística imanente e Linguística do Discurso que a língua, bem como a fala, tomam maiores amplitudes conceituais que t1ltrapassaram as concepções estabelecidas por Saussure, co11forme os estudos linguísticos foram avança11do durante o século XX, o que 11ão tira de Saussure a iniciativa ter colocado a língua como u111 dos principais objetos da linguística moderna. A partir de Saussure, muitos estudiosos debruçaram se sobre o estudo da língua. Dentre eles temos o linguista ' francês Emile Benveniste, e porque vamos enfocá-lo? A escolha por esse teórico justifica-se, pois, apesar de partir de Saussure, ele conseguiu ampliar a concepção de lí11gua por 1neio da possibilidade de análise de sua particularidade à luz de outras grandes ciê11cias, co1no a Psicologia social, Filosofia, Pragmática e a Antropologia, por exemplo. Assim, Benveniste contribuiu de maneira significativa para o legado da língua e Análise do Disc11rso J ( ___ ~_s ___ _ para consequências pos1t1vas no sentido da a1npliação desse conceito no âmbito da linguística. Va1nos conhecê-lo? Vejamos o trecho a seguir: Não atingimos nunca o homem separado da linguagem e não o ve1nos nt1nca inventando-a , [ ... ]. E um l1ome111 falando q11e encontramos no mundo, um homem falando com outro ho1ne1n, e a linguagem ensina a própria defi11ição do homem (BENVENISTE, 2005, p. 285) Ou seja, para Benveniste a linguagem é natural, compõe a nah1reza humana, portanto, é nela que se faz o st1jeito, é por meio dela que se pode emergir um ''eu'', subjetivo, consciente de sua existência. A subjetividade é, para o linguista, norte para a co1npreensão da linguage1n e, por isso, daremos ênfase a ela agora. A subjetividade da Linguagem Para compreender a concepção do l101ne1n en.quanto sujeito, Benveniste elabora uma relação dialética em que o ''eu'' cria uma interdependência com o ''tu'', chamada de ''eco''. Essa polaridade constituída toma-se a condição fundamental da linguagem, já que existe no homem para fazê-lo sujeito, na medida em que o ''eu'', marca absoluta de subjetividade, é transcendente ao ''tu'', ot1 seja, necessita de u111 h1 para estabelecer , sua existê11cia. E nesse ponto que Benveniste concebe a língua enq·uanto categoria de 1naior i1nportância enunciativa. Isso porque ''eu'' e ''tu'', pronomes pessoais existentes em todas as línguas, não existem por si mesmos, mas sim, pela atribuição de uma referência. Em outras palavras, Benveniste quis dizer que o ''eu'' não existe sozinho, há a necessidade de um outro, o ''tu'', para afirmar a existência do sujeito e vice-versa, po1ianto, é a língua, na enunciação, que concretiza a existência. Na subjetividade da linguagem os prono1nes ''eu'' e ''tu'' são essenciais. Veja1nos estacolocação de Juchem (2008, p.17): ___ 2_6 ___ ) ( Análise do Discurso Esses prono1nes, assi1n como outros indicadores autorreferenciais, diferen1 de todos outros signos linguísticos por terem con10 referência o sujeito que enuncia e a instância de discurso em que são enunciados. Eu e tu só têm referência na ''realidade do discurso'' , sendo o eu a pessoa que enuncia a instância de discurso que diz eu em referência a um tu, dada a situação de alocução. Eu e tu sofre1n u111 duplo processo: de eu referente enquanto enunciado e de eu referido enquanto tu enuncia, assim sucessivamente. Pode-se dizer que et1 e tu transitam entre os locutores nas instâncias de discurso porque se presst1põem. Po1ianto, ''eu'' e tu'', instituídos pela língua, constitue1n, por meio da ling·uage1n, o sujeito e seu interlocutor e vice-versa. Para Benveniste (2005), a subjetividade reside na ciência de que o ''eu'' só existe quando tem consciência de si por 111eio da enunciação, permitindo ao ''tu'' que esse tambétn seja ''eu'', como utn retorno. Para esclarecer essa concepção, vejamos a tirinha a segt1ir: As VEZES ME PERGUNTO l'On QtlE ESTOU AOOI. • • AsvfZES EU ME PERGUNTO A,.fESMA COIS4. ~ TN.ff!SW SE PERGUNTA POn QUE ESTÁAQUI? •--:it..:-:;;.,- --1 __._ _ _ _ • •• 1 __ ---.JJ Johnn}' TJ:ir A C Jor1u1/ clt4 Tur,le, 28 6 fl 991 Fonte: Johnn Ha.rt A. C. Jon1al da Tarde Repare que o ''eu'' e o ' 'tu'' trocam de posição durante o diálogo, e é exatamente a essa consciência subjetiva da existência de dois indivíduos por meio da língua, ou seja, eles existem por meio da linguagem. Análise do Disc11rso J ( ___ ~_7 ___ _ Além dos prono111es pessoais supraditos, Benveniste (2005) conclui que há, nas instâncias do discurso, enunciados que reme11tem ao que cha111a111os de situações objetivas, representadas pela te1·ceira pessoa, assim, ''o membro não marcado da con·elação de pessoa [ ... ] sendo o único modo de enunciação possível para as instâncias de discurso que não devam remeter a elas mesmas'' (ibid., p. 282). Exe1nplificando, existem quatro propriedades que diferenciam a terceira pessoa ''ele'', do ''eu'' e ''tu'': a) de co1nbinar com qualquer referência de objeto; b) de não refletir a instância de discurso; c) de ter u111a gra11de variação pronominal ou demonstrativa; d) de não se equiparar ao aqui-agora. Nesse contexto, o prono1ne ''ele'' ''não remete a nenhuma pessoa, porque se refere a tun objeto colocado fora da alocução. Ele só existe e se caracteriza po1· oposição a pessoa eu. (BENVEN1STE, 2005, p. 292). Até agora vimos que, para Benveniste, wna das formas de organização da língua se dá pelo par dialético eu/tu, que subjetivamente constitui sujeitos quando esses enunciam. Além do par opositivo eu/tu, Benveniste elege também, para a organização das línguas, a noção de tempo. Se é no exercício da língua qt1e encontramos sua subjetividade, logo, o tempo é presente a todo instante, posto q11e é ''O tempo e1n que se , fala''. E no presente e1n que se 1nanifesta o ''eu'' e tudo atribuído a ele. O te1npo, po1ianto, marca o aqui-agora da linguage1n. ___ 2s_) ( Análise do Disc11rso Eu Aqui/ Espaço Figura 2 - Os tempos Tu Quadro da Enunciação Fonte: Editorial Telesapiens Agora/ lempo Acima, te1nos o qt1adrinômio et1-tu-aqui-agora, representado pelo quadro da enunciação, perspectiva basilar dos estudos da língua propostos por Benveniste que veremos co1n mais profundidade a seguir. A enunciação Para Benveniste, a enunciação é definida con10 ''o colocar e111 funcionamento a língua por un1 ato individual de utilização'' (BENVENISTE, 2006, p. 82). Ou seja, enunciar é o ato de colocar a lingt1agem em funcionamento. Segt1ndo Juchem (2008, p.18), ela é vista por meio de três principais aspectos: a. o pri1neiro remete à realização vocal da língua, possível por um ato individual no interior da fala, sendo que, ne1n mesmo para o mes1110 sujeito essa realização é idêntica, ainda que sobre a mes111a experiência vivida; logo, a irrepetibilidade da enunciação ocorre até para o próprio loct1tor; b) dessa produção individual decorre o segundo aspecto, que supõe ''a conversão individual da língua em discurso'', processo definido como se1nantização da lí11gua, segundo Benve11iste Análise do Disc11rso J ( ___ ~_9 ___ _ (ibid., p. 83)11; c) a terceira abordagem pretende traçar um quadro formal da ent1nciação sob consideração do ato en1 si, as situações e os instrumentos de sua realização. Essencial para a existência da enunciação é o interlocutor: se1n ele só há ape11as uma possibilidade de língi1a, não o ato concreto. Entretanto, o interlocutor só existe se houver, da parte do locutor, uma apropriação da língua que estabelece u1n 111ovimento de referência e con·eferência, já que um pede o outro, um ''tu'', u111a via de mão dupla. E111 outras palavras, é na enunciação que o ''eu'' apropria-se da língua, concretizando-se no tempo, o presente. Para Benveniste (2006), passado e futuro não fazem parte da entmciação, pois o enunciado é sempre atualização. Assim, o tempo é sempre presente, contínuo e coextensivo, Uin aqui-agora que só existe pelo se1·. Dessa maneira, podemos entender a referência como i111portante para o ent1nciado, já que o ''eu'' se encontra no centro da língua, marcado pelo presente. Nesse âmbito, se toda língua perpassa o sujeito, toda ela tem referenciação, ou seja, todos os signos estão ligados ao ''eu'' e são, portanto, referenciais. A língua, na teo1ia da enunciação, é sempre referência, não diretamente ao mu11do, 1nas sim em relação ao sujeito com o inundo. Se a língua é referência, como, então, os signos são referenciados na enunciação? A resposta é simples. Para Benveniste há, na língua, um aparelho de ''funções'', que se adequa ao contexto comunicacional da entu1ciação. Essas ft1nções são a inti1nação, interrogação e asserção, e todas denota1n sentidos específicos de comu11icação. O quadro formal da enunciação, para Benveniste, é o eu tu-aqui-agora, considerando índices de pessoa, espaço/tempo, referindo-se, sempre, a enunciação. Flores e Teixeira (2005, p.36) esclarece que ''o aparelho formal da enunciação é uma espécie de dispositivo que as línguas têm para que possam ___ 3o_) ( Análise do Discurso ser enunciadas. Esse aparell10 nada mais é que a marcação da subjetividade na estrutura da língua''. O aparelho pode ser se1npre universal, porém, seu uso é se111pre i11dividt1al, 111es1110 que o propósito da teoria enunciativa não seja o sujeito em si, antes, as suas marcas no ato da enunciação. Te111 ctrriosidade e1n e11tender ai11da mais sobre o processo de enunciação de Benveniste? Acesse http://bit.ly/2SER7yl Colocadas as concepções de Benveniste sobre a língt1a, resta-nos a pergunta: Quais as consequências dessa perspectiva teórica? Podemos listar algu1nas, vejamos: ! Diferentemente da linguística formal, Benveniste reconhece o sujeito como pertencente ao siste1na da língua; além disso, o linguista considera a natureza da subjetividade, marcando a necessidade de reconhecer a língua enquanto instância(s) do discurso, não apenas um repertório de signos como outrora colocado por Saussure; 2. Be11veniste atribui à lli1gua o status de significação, que só se dá por vias do discurso, ou seja, na enunciação. Flores (2008, p. 12) exemplifica com clareza essa perspectiva quando , diz qt1e ''E no uso da língua que um signo tem existência; o qt1e não é usado não é signo; e fora do uso o signo não existe. Não l1á estágio intermediário; ou está na lí11gua, ou está fora da língua''; 3 Para Benveniste o foco é o sujeito, é ele quem atualiza o sistema linguístico, articulando e significa11do. Desse modo: A língua - Subjetividade Sujeito - Intersubjetividade Análise do Disc11rso J ( ___ ~_1 ___ _ (Relembra111os aqui a relação interdependente entre os pronomes pessoais ''eu'' e ''tu'') 4. Por fim, Benveniste inaugura umpensamento novo sobre a língua: A enunciação, que contribuirá, mais a frente, para os presst1postos da Análise do Discurso estudada na contemporaneidade e proposta por essa disciplina. ___ 32_) ( Análise do Discurso O discurso enquanto objeto de estudo da linguística (A análise do discurso) - consequências dessa perspectiva teórica Até então, os capítt1los anteriores propuseram tun percurso dos estudos linguísticos até que pudéssemos chegar, de maneira 1nais clara, ao ponto central de nossa disciplina: A Análise do Discurso. Va111os conhecê-la? Como vi1nos anterio11ne11te, existem 1nuitas 1naneiras de estudar a linguagem: a língua enquanto sistema de signos; as diferentes normas de linguagem (lembremos da norma culta e da variação linguística); a enunciação, dentre outras. Essa variedade expõe muitas maneiras de significar, e foi a partir dessa ciência que surgiu a Análise do Discurso. O que seria então, caro aluno (a), a Análise do Discurso? Considerada enquanto u1na teoria política de Leitura, A análise do Discurso nasce na França na década de 1960, tendo como Fundador o estudioso Michel Pêcheux. Para Orlandi (2007 p. 15) essa perspectiva, co1no seu próprio nome refere: Não tra1na a língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra Discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr por, de movin1e11to. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando. (Grifo nosso). Análise do Disc11rso J ( ___ ~_3 ___ _ Ou seja, a Análise do discurso, diferente de algu1nas das concepções anteriores, não trabalha com a língua na qualidade de u111 siste111a abstrato. Ela procura entender a língua enquanto sentido (s), como um trabalho simbólico, pa1ie constitutiva do homem e da história desse. Nesse âmbito, por meio dessa perspectiva surge a oportunidade de entender o qt1e faz o ho1ne1n ser o que é, compreender sua capacidade de significar e significar-se. Portanto, na Análise do Discurso a linguagem ( o disct1rso) toma-se mediadora entre o ho1nem e sua realidade individual e social. O que interessa à Análise do Discurso é o movimento: as maneiras de significar; pessoas se comunicando e trocando experiências, compreendendo sentidos, compreendendo seu lugar na sociedade, po1· 1neio da interpretação. Se o meio e1n que o discurso é produzido é significativo, vale à Análise do Disc·urso a consideração da lingt1agem à sua exterioridade. Assim, ela se 111aterializa na ideologia, Otl seja, ela te111, em parte, un1a orde1n própria ( as regras de uso, as gramáticas); e1n outra, uma relativa auto11omia ( o campo da semântica, das possibilidades de interpretação). Para compreender melhor a questão ideológica, atentemos para a charge abaixo: 1i~\\t\io Nf\ l"\f\A Fonte: Charge Tho1nate ___ 34_) ( Análise do Discurso Se analisássemos a charge acima à luz de unica1nente de seu conteúdo, lerían1os de maneira literal, e set1 objetivo (a crítica à corrupção por 111eio da sátira), não seria atingido. AAnálise do Discurso propõe olhar o texto acima unindo sentidos e contexto situacional, considerando a compreensão da ideologia que ll1e cerca: a lingt1age1n pode st1gerir 1ní1ltiplos efeitos de sentido em um único texto. Assi1n, essa perspectiva sugere interpretar as linguage11s que produzimos e que lemos/ ouvi1nos/ vemos e etc. A interpretação, nessa conjuntura, é o primeiro destaque que dare111os 110 estudo da A11álise do Discurso. A interpretação Para Orlandi (2007, p. 25), A proposta intelectual em que se situa a Análise do Discurso é marcada pelo fato de que a noção de leitt1ra é posta em suspenso. Tendo co1no fundame11tal a questão do sentido, a Análise do Discurso se constitui no espaço e111 que a Linguística tem a ver con1 a Filosofia e com as Ciê11cias Sociais. Em outras palavras, na perspectiva discursiva, a linguagem é linguagem porque faz sentido. E a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história. Ou seja, a perspectiva discursiva e11fatiza a questão do contexto (Social, histórico, político, econômico) enquanto peça chave para haver sentido e, assim, linguagem. Nesse sentido, a interpretação ganha espaço por permitir a leitura e compreensão desses variados contextos. A Análise do Discurso, por esse viés, acaba por teorizar a interpretação, colocando-a co1no t1ma proposta de análise que não se fecha e1n si, 1nas trabalha seus 1necanismos, li1nites, co1no pa11es do processo de construção de significação. Na interpretação proposta pela perspectiva discursiva não há um Análise do Disc11rso J ( ___ ~_s ___ _ sentido verdadeiro, único, revelado por u1n método. Há, si1n, uma construção de dispositivos teóricos capazes de dar conta das mais diversas produções emergidas da lingi1agem. Para compreender como funciona a perspectiva discursiva com mais clareza, vamos agora distinguir inteligibilidade, interpretação e compreensão, unido as explicações à exemplos. Inteligibilidade A inteligibilidade faz referência ao sentido da língua. Vejamos este exemplo: ''Ela pediu esse''. Essa frase é inteligível, basta dominarmos o português para ler esse enunciado. E11tretanto, ela não pode ser interpretada, pois não conseguimos chegar à conclusão de quem era ela e/011 o que ela pediu. Interpretação Pensemos na seguinte situação hipotética: Ma1ia vai ao restaurante co111 seu noivo, Carlos, e sua amiga, Júlia. Enquanto Júlia vai ao banheiro, Maria solicita ao garçom um dos pratos do Menu. Ao voltar à mesa, Júlia perg11nta a Carlos o que Maria pediu e ele prontamente responde, indicando co1n os dedos no Menu: ''Ela pediu esse''. Pelo exemplo acima podemos perceber que a interpretação necessita de um co-texto (as outras faces do texto) e o contexto em si. Interpretando, ela é Maria e esse é o prato solicitado. Compreensão Utilizando a mesma situação hipotética, nas palavras de Carlos poderíamos compreender que Júlia pediu dete1minado prato porque gosta mais, ot1 porque pode ter alguma restrição ali1nentícia, por exe1nplo. A co1npreensão, nesse se11tido, é entender co1no um objeto simbólico (texto, pintura, enunciado, , etc.), produz sentidos. E compreender como funcionam as interpretações. Quando interpretamos já estamos presos a um sentido. Assim, a compreensão procura explicitar os processos ___ 36_) ( Análise do Disct1rso de significação presentes na situação co1nt1nicacional para que assi111 possam ser entendidos outros sentidos possíveis. Resumindo, a Análise do Discurso, para Orlandi (2007, p. 26): Visa a compreensão de como 11m objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim novas práticas de leitura. Se a interpretação é um dispositivo teórico de análise da Análise do Discurso há, portanto, o analista e o 111étodo prod11zido no alcance teórico da perspectiva discursiva. Cada analista necessita fom1ular uma questão que desencadeie uma análise, e cada material de análise pede que seu analista eleja conceitos que outro analista não elegeria, criando assim conceitos diferentes de análises. Embora a teoria ilumine a análise, essa é escolhida dentre tantas pelo analista, em sua liberdade para a constn1ção de inte1-pretações. O Analista analisa e co1npreende o processo discursivo, pode11do, então, inte1-pretar seus resultados de acordo co1n os instrumentos teóricos escolhidos dos campos disciplinares dos quais ele optou. Dessa maneira, o analista do discurso desfaz a ilusão da transparência da linguagem, já que passou por um processo 1naterial de constituição e significação do (s) sujeito (s). É desse estt1do detalhado, 1netódico, teórico e principalmente interpretativo que deriva, Para Orlandi (2007,p. 28), a riqueza da Análise do Discurso ''ao pe1111itir explorar de muitas maneiras essa relação trabalhada com o simbólico, sem apagar diferenças, significando-as teoricamente.'' Nesse contexto, o que se dizemos não são apenas 1nensagens a serem decodificadas, mas sim: Análise do Disc11rso J ( ___ ~_7 ___ _ Efeitos de sentidos que são produzidos em condições determinadas e q11e estão de algu111a forma presentes no 111odo como se diz, deixa11do vestígios que o analista de discurso tem de apreender. São pistas que ele aprende a seguir para compreender sentidos aí prod11zidos, pondo em relação o dizer com sua exterioridade, suas condições de produção. Esses sentidos têm a ver com o que é dito, e com o que poderia ser dito e não foi. Desse modo, as 111arfes do dizer, do texto, também fazem parte dele. (ORLANDI, 2007, p. 30) Para compreender melhor, vejamos o exemplo a seguir: __ , ___ ., __ 1111s c1•0 N mls lnl S11 ISIISI nt •lrlà ls1a 6 .. •111!+111ra nct 11m lr • IIIISW11II Çale &N ~ ....... . ... .,. . ...... • , .-.vw....., .. ....... ...... _......,.__ ..... ... ee.a • ..,. .. , ,, 1 , ilillll ,.. .. "'4M-.,. .... ...., , e ~ w wii__..,...,....,,., .,......,.,..,,._ . -- - - - -- -------- Fonte: O estadão (Texto verbal: ' 'Mais cedo ou 1nais tarde sua esposa vai dirigir. Este é uma das razões para você possuir um Volkswagen'') Enquanto analista do Discurso, quais vestígios precisamos apreender para interpretar o anúncio aci111a? Considerando o universo dos anúncios, propagandas, não basta apenas decodificar a linguagem verbal. Há de se levar em consideração o contexto situacional; as escolhas linguísticas; o texto 11ão verbal; dentre outros. ___ 3s_) ( Análise do Disct1rso No exe111plo acima nos depara111os com u1n anúncio publicitário dos anos 60. Na época era comu111 e, inclusive, engraçado, sente11ças que 111aculasse111 a i111age111 da mulher. O texto verbal, portanto, pode ser inte1-pretado como uma ''piada'' em relação às capacidades limitadas da mulher ao fato de dirigir. A empresa, em contrapartida, oferece t11n produto que ''alivia'' a preocupação masculina, já que possuí peças baratas e fáceis de encontrar. Ou seja, o homem não precisai-ia se preocupar com n1ais esse ''proble1na'': a WV se preocupa por ele. Fica claro aqui co1110 a condição de produção de un1 discurso afeta a construção da linguagem. Se hoje, no século XXI, o mesmo anúncio publicitário fosse veiculado em jornais, revistas e internet, muito provavelmente seria tachado como machista e anacrônico, e a e1npresa sofrei-ia as represálias cabíveis. Po1ianto, as condições de produção e Interdisctrrso são de grande significado para o analista do discurso e, mais a1nplamente, para a A11álise do Discurso em geral. Assin1, cabe nos agora aprofundar essas perspectivas. Condições de produção e interdiscurso Para Orlandi (2007), as condições de produção compreende1n sujeitos, situação e a memória. Essa í1ltima, inclusive, bastante significativa, como veremos mais à frente. As condições de produção, para a autora, consideram duas circunstâncias: o contexto imediato e o contexto sócio histórico, ideológico. No últi1no exen1plo que apresentamos ( o caso do fusca da Volkswagen), o contexto imediato é o ''simples'' anúncio de um carro e a sugestão de que esse é resistente e acessível e, por isso, deve ser comprado. Já o contexto amplo é o que revela efeitos de sentidos inerentes do funcionamento da nossa sociedade, co1no por exemplo o mercado automobilístico e a antiga cultura de que veículos eram desti11ados a ho1nens, já que à 111·ulher destinava-se o lar. Nas entrelinhas, observa1nos que a suposta aceitação de uma 1nulher dirigindo, reação lenta do Feminismo no decorrer do século XX, vem transvestida do Análise do Disc11rso J ( ___ ~_9 ___ _ 1nachismo que rei11ava co1n todas as forças naquele contexto e1n particular. O anúncio, assim, revela um posiciona1nento sócio histórico social comu1n à época e111 que fora publicado. , E aqui que o conceito de memória ganha forças quando pensada em relação ao discurso. No contexto teórico da Análise do Discurso, inclusive, podemos chamá-la de Interdiscurso: Definido co1no aqt1ilo que fala antes, em outro lugar, independente1nente. Ou seja, é o que cha1na1nos de memória disct1rsiva: o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retorna sob a for1na do pré const1uído, o já-dito que está na base do dizível, sustentando cada palavra. (ORLANDI, 2007, p.31) Ora, só conseguimos, l1oje, interpretar de maneira significativa o anúncio produzido 110 século XX graças a 11ossa 1nemória discursiva: o discurso do 1nacllis1no não é novo, é U1n já-dito não só naquela época, co1110 se perpetua na nossa. Lá nos anos 60, o texto verbal anU11ciava uma forma de pensa111ento traduzida discursivamente que antecede sua produção. Assim, o texto a que tivemos contato caracteriza-se como um interdiscurso, um conj11nto de formulações já existentes sócio historicamente que se traduzem em um novo texto. Assi1n como a interdiscursividade, enq·uanto me1nória, nos faz considerar acontecimentos passados con10 matéria para os novos, també111 é esqueci111ento, outro aspecto importante da Análise do Discurso que conheceremos agora. Quer saber mais sobre a interdiscursividade na Análise do Discurso? Acesse ao vídeo ''Interdiscurso e memória discursiva'', disponível no Youtube por meio do Link: http://bit.ly/2HBguuK ___ 4o_) ( Análise do Discurso Para Pêcheux (1975) existem dois tipos de esqueci1nento no discurso, são eles: 1. O esquecimento número dois, da ordem da enunciação: Ao falannos se1npre opta1nos por uma forma e não outra. No entanto, o que dizemos se1npre poderia se dito de outra maneira, com outras escolhas linguísticas. Ao falarmos ''Feliz'', podería1nos ter optado por ''alegre'' ou ''co11tente'', por exemplo. Entretanto, nós ne1n sempre temos consciência disso. Este ''esquecimento'' é pai·cial, semiconsciente, que exemplifica que o modo de dizer tudo tem a ver com os sentidos. 2 O ideológico: . , . esqt1ec1mento numero um, ou esquecimento Instância do inconsciente, é resultante do modo como so1nos afetados ideologicamente. Por ele temos, quando elabora1nos um discurso, a ilusão de se1mos 01;ginais, os prin1eit·os a dizer/ escrever/falar, etc. No entanto, quando nasce1nos, os discursos já estão e1n processo, apenas entramos no movimento. Na verdade, a língua se materializa em nós e o esquecimento é, voluntariamente, uma necessidade para que a linguagem funcione na prod·ução de sentidos e st1jeitos: retomando palavras já existentes co1no se fosse1n deles e, assim, 1novimenta11do as possibilidades da linguagen1. Análise do Disc11rso J (_4_1 __ _ Outros aspectos relevantes à análise do discurso Ao té1111ino deste capítulo você será capaz de entender e aplicar as técnicas e métodos necessários para a implementação de projetos em HCD, ou seja, projetos de desenvolvi1nento de produtos centrados no humano. Além dos aspectos supraditos, outros se fazem importantes para uma compreensão mais completa em relação à análise do Discurso, são eles: Paráfrase e Polissemia; Formação Discursiva e Ideologia e sujeito. Ire1nos, agora, vê-los um por um, antes de concluinnos nosso estudo. ■ Paráfrase e Polisse111ia Quando pensamos a linguagem de maneira discursiva, é itnpossível dissociar essa compreensão da tensão entre processos parafrásticos e polissêmicos. Para Orlandi (2007, p.36): Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais em todo dizer há se1npre algo que se manté1n, isto é, o dizível, a 1nemória. A paráfrase representa assi111 o retorno aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes formulações do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da estabilização. Ao passo q11e, a polissemia, o q11e temos é deslocamento, ruptura com os processos de significação. Ela joga com o eq11ívoco. Ou seja, se1npre falamos algo dito,porém, pela polissemia, , esse algo dito se transfo1111a em outro. E assim que os sujeitos ___ 42_) ( Análise do Discurso (re) significa111 e (se) significa1n a todo instante. Dessa maneira, acaba1nos por concluir que a incompletude é condição para a linguage111: os discursos (sujeitos e sentidos) já estão prontos, contudo, eles estão sempre se refazendo, em um movimento constante da histó1ia e do simbólico. F armação Discursiva A noção de F armação Discursiva é basilar na Análise do Discurso, e o porquê é si1nples: é ela que permite entender o processo de produção de sentidos e sua relação com as questões ideológicas. A f armação disct1rsiva é definida por meio de t1ma formação ideológica dada, ou seja, a partir de um contexto sócio histórico dado, qt1e define o q11e pode e/ou deve ser dito. Para compree11de11nos 1nell1or como isso funciona, prestemos atenção nos dois pontos a seguir: a O discurso se constitui em seus sentidos: Isoladas, as palavras não possuem sentido nelas mesmas, é necessária uma conjuntl1ra na qt1al o sujeito se insere em t1ma dada formação discursiva e não em outra, para atingir t1m sentido ao invés de outro. Ou seja, as fo1mações ideológicas são representadas pelas f armações discursivas que as inscrevem. Daí ven1 o peso da ideologia. Para Orlandi (2007p. 43): Os sentidos se111pre são determinados ideologicamente. Não há sentido que não o seja. Tudo o que dizemos tem, pois, u1n traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. E isto não está na essência das palavras 1nas na discursividade, isto é, na maneira como, no discurso, a ideologia produz efeitos, materializando-se 11ele. O estudo do discurso explicita a maneira como a linguagem e ideologia se articula1n, se afetam em sua relação , reciproca. Análise do Disc11rso J ( ___ 4_3 ___ _ Ou seja, todas as nossas escoll1as discursivas, tudo o que falamos ou escreve111os, a maneira con10 nos posicionamos, sempre estará co1Telacionada a uma dete11.11inada ideologia. As ideologias regem, portanto, nossas formações discursivas. b Os diferentes sentidos são assimilados pela referência a uma formação discursiva: As palavras, 1nes1no sendo iguais, podem significar coisas diferentes dependendo da formação disctrrsiva e1n que estão. Por exemplo, a palavra ''Floresta'' não significa a mesma coisa para um produtor rural, para um índio ou um cidadão. Além disso, alterada sua letra inicial entre maiúscula e minúscula, podemos obter novos sentidos. O analista do discurso, aqui, tem papel fu11da1nental para a co1npreensão: ele precisa observar as condições de produção do texto, verificando sempre o funciona111ento da me1nória; além disso, ele necessita verificar o porquê dessa formação discu1·siva (ao invés de outra), para assimilar os sentidos ali presentes. Para Orlandi (2007), o sentido que, na verdade, é efeito ideológico, não nos deixa perceber, e1n uma primeira análise, set1 fundo material, histórico. Porém, todo s11jeito, carregado de ideologia traz, obviamente, uma l1istoricidade e1n construção que aliinenta essa mesma ideologia. Assin1, Ideologia e sujeito caminham juntos e, por isso, a pa1iir de agora, caro aluno, iremos conhecer um pouco mais sobre esses dois princípios importantes à Análise do Discurso. ■ Ideologia e Sujeito , E interessante perceber como a Análise do Discurso ressignifica a noção de ideologia por meio dos estudos da linguagem. Dessa fonna, a ideologia passa a ser definida ideologicamente e é isso que veremos a seguir. Segundo Orlandi (2007, p.44), o fato de que não há sentido sem o 1novimento de interpretação evidencia a presença da ideologia. Sempre, e1n contato com um objeto simbólico, há no ___ 44_) ( Análise do Discurso home111 a 1notivação para se perguntar: ''o que isso quer dizer?''. Nesse contexto, no ato de interpretar o sentido surge con10 evidê11cia, co1110 se ele sempre tivesse estado lá. O trabalho da ideologia, nesse contexto, é colocar o homem em uma relação imaginária com suas condições existenciais e materiais. A ideologia, portanto, passa a ser condição para a constituição de sujeitos e sentidos. Para Orlandi (2007, p.46): O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer. Partindo da afirmação de que a ideologia e o inconsciente são estruturas-funcionamentos, M Pêcheux diz que sua característica comum é a de assimilar sua existência no interior do seu próprio funcionamento, produzindo um tecido de evidências ''subjetivas'', entendendo ''subjetivas'' ( ... ) co1110 ''nas quais se constitui o sujeito." Assim, a subjetividade, enquanto constituinte do sujeito, está para a ideologia do que ele pretende dizer. Entretanto, ao se colocar enquanto sujeito, muitas vezes o homem apaga o fato de que é interpelado pela ideologia. Esse apaga1nento já nos foi colocado aci1na: o l1omem acredita estar dizendo algo novo, nunca antes pronunciado. Para o analista, nesse sentido, entender ideologia enquanto relação necessária entre mundo é linguagem é fundamental. E11quanto analistas, pode1nos nos perg11ntar: Como a ideologia atua na cl1arge abaixo? Análise do Disc11rso J ( ___ 4_5 ___ _ OI, MIGU&l.l'TOt COIS-' 80A NA TV ? __- AC'AIM;l OE l.l~AR MAS PAR6Ce Q\JE se vo~ PASSA 0Es::>DORANT6, DEPOIS COME SAI.SICHAS li AÍ COMPRA. UMA I.\A'QUINA pe I.AYAA ROUPAS, SÓ NJI::> f f'El.1% SE FOR MUITO IDIO'TA Fonte: Charge Mafalda Considerando o ''esqueci1nento'', para nós, enquanto sujeitos, a resposta de Miguelito poderia ser inocentemente a co1npreensão de u1n todo 01iginal, ''novo'' do que está passando na TV. Entretanto, a charge acima ultrapassa esses lilnites ao ii·o11izar a ideia de felicidade vendida nas propagandas e programas de TV. Nesse sentido, a formação discursiva, se analisada por esse viés, revela 11m sentido novo pertencente a 11ma ideologia do1ninante nos dias atuais que está aparente1nente velado na resposta do personagem: O consumo, incentivado co1no gerador de felicidade em nossa sociedade capitalista das mais diversas fonnas. Para Orlandi (2007, p.47) o sentido, , E assim uma relação determinada pelo sujeito-, afetado pela língua- com a história. E o gesto da interpretação que realiza essa relação do s11jeito com a língua, com a histó1·ia, com os sentidos. Esta ___ 46_) ( Análise do Disct1rso é a 1narca da subjetivação e, ao 1nes1no tempo, o traço de relação da líng11a co111 a exterioridade: não l1á discurso sem sujeito. E não há sujeito sen1 ideologia. Nós, enquanto sujeitos, somos fo1mados pela ideologia e história que nos cerca, e esses dois elementos são, mesmo que inconscientemente, norteadores do 11osso discurso. Muitas vezes é só pela interpretação, na busca pelo sentido do que dissemos, fala111os ou agimos, que compreenden1os a ( s) origen1 ( s) daquele discurso. Por fim, é importante esclarecer que o trabalho com a ideologia é um trabalho baseado na memória-esqueci111ento. , E j11sta1nente o esq11ecin1ento q11e inativa a il11minação de qualquer discurso proposto. No pensar, por exe1nplo: ''Por que ':ft1lano' se colocou dessa fo11na?''; ''Por que eu me posicionei dessa maneira''? temos o primeiro passo para a investigação da fo1111ação discursiva de dete11ninado contexto, cl1ega11do às conclusões ideológicas na consttução de sentidos. Após essa produtiva imersão teórica em relação à Análise do Discurso, nos perguntamos: Q11ais as consequências dessa perspectiva teórica? Ire1nos, agora, indicar algwnas: 1 AAnálise do discurso, ao unir campos de conhecimento, rompe suas fronteil·as e elege um novo recorte de disciplinas, constituindo um novo objeto de estudo: o discurso; 2. Para a Análise do Disctrrso, não há apenas trans1nissão de informação, muito menos linearidade nos ele1nentos comunicacionais. Para ela, a língua não é apenas 111n 1nero código, e1n que se separa e1nissor e receptor; em que u1n fala e outro, na sequência, decodifica. Não há transnússãode informação apenas, há um co1nplexo processo de formulação de sujeitos que produzem constantemente sentidos; 3. A líng11a, para a Análise do Discurso, tem s11a ordem própria, porém, é relativa1nente autônoma; Análise do Disc11rso J ( ___ 4_7 ___ _ 4. Na perspectiva discursiva, o sujeito da linguagem se constitui enquanto descentralizado, pois é afetado pelo real da língua, bem co1no o real da história, e o modo como essas o afetam não pode ser controlado por ele. Isso possibilita concluir que o sujeito discursivo age pela ideologia e inconsciente; 5. Por fim, pode1nos concll1ir ql1e na Análise do Discurso ''E1n seu quadro teórico, nem o discurso é visto como uma liberdade em ato, totalmente sem condiciona11tes linguísticos ( ... ) ne111 a língua co1no fechada em si n1es1na, sem falhas ou eqt1ívocos." (ORLANDI, 2007, 22). A língua, assi111, sempre será condição para a oportunidade do discurso. Análise do Disc11rso J ( ___ 4_9 ___ _ ___ so_J ( Análise do Discurso -- INTRODU AO Você sabia que a área da Linguística é u1na das mais importantes para o conl1ecime11to da Língua? Já tive111os um conhecimento introdutório desse conteí1do na unidade anterior. Nesta, daremos ênfase às grandes perspectivas e teorias que fundamentam a Análise do Discurso, tendo a opo1·tunidade, ao final do estudo, de compreender como essa perspectiva da Ling11ística funciona, e co1no ela é estudada por diversos filósofos/ pesquisadores. A segt1nda u11idade to1na-se um preparativo para os estudos aprofundados da Análise do Discurso que virão adiante, já que parte das noções de Enunciação, pragmática, argU1ne11tação e discurso, até chegar àAnálise crítica do Discurso. Ao longo desta unidade letiva você vai 1nergulhar nesse universo ! Análise do Disc11rso J ( ___ s_1 ___ _ OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2. Nesta unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo 110 desenvolvimento das seguintes competências profissionais: Compreender como fiincionam os critérios de Enunciação, pragmática, argumentação e discurso; Entender as perspectivas teóricas q11e penneiam o estudo da (s) ideologia (s) dentro do u11iverso da ciência da linguagem; Conceber as vertentes da Análise do Discm·so, a saber: a linha americana, bem como a linha francesa; Investigar como surgiu e Análise Critica do Discurso e co1no ela funciona e11quanto colaboradora para a visão critica dos discursos ideologicamente produzidos na sociedade, principalmente aqueles que oprimem sujeitos. E11tão? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao t1·abalho! ___ s2_) ( Análise do Discurso Enunciação, Pragmática, Argumentação, Discurso Caro aluno (a), ao tén11ino deste capítulo você será capaz compreender as diversas vertentes que embasa1n a Análise do Discurso, além de entrar em contato com as linhas de Análise tanto americana, quanto francesa. Isso será ft.1ndamental para a compreensão de uma das grandes correntes de estudo do curso de Letras, responsável por grande parte das pesquisas na área, bem como contribuirá para exercício de sua docência e111 sala de at1la. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá. Avante! Enunciação Olá, alt1nos (as)! Ainda na unidade I tivemos a oporh1nidade de conhecer de 1naneira introdutória a teoria da Enunciação. Va1nos relembrá-la? A teoria da Enunciação, proposta por Benveniste, baseia se, resu1nidamente, nos quatro pontos abaixo colocados: 1 • Reconhece o sistema da língua enquanto uma instância do discurso. Nesse sistema, sujeito e subjetividade são significativos; 2. A significação da língua só se dá por meio do discurso, ou seja, por 1neio da enunciação desse; 3 O sujeito, na teoria da Enunciação, é o foco: Ele é quem atualiza o sistema linguístico, articulando e significando; Análise do Disc11rso J ( ___ s_3 ___ _ 4. O quadro formal da ent1nciação é o eu-tu-aqui-agora, considerando índices de pessoa, espaço/tempo, referindo-se, sempre, a ent1nciação. A subjetividade, enquanto aparelho formal da Enunciação, é semp1·e universal (todos nós temos), porém, set1 uso é sempre individual, mesmo que o propósito da . . . - . . . . teoria ent1nc1at1va nao seJa o st1Je1to em s1, antes, as suas marcas no ato da enunciação. Revisadas as características básicas da Enu11ciação, partiren1os agora para a compreensão de co1no ela funciona de11tro do universo da Análise do Discurso, 111ais especificamente em relação à argumentação, ou seja, à Semântica da Enunciação. Para a se111ântica fon11al, a verdade está fora da li11guage111, nesse sentido, a língua seria apenas um meio para alcançá-la. Esse conceito é fundamental para entender a Semântica da Enunciação, posto qt1e, para essa ''A linguagem constitui o mundo, por isso não é possível sair fora dela'' (OLIVEIRA, 2006, p .19). ■ Por que será, então, que a Semântica formal coloca os sentidos como sendo exteriores à língua? Geralmente, quando falamos ou escrevemos usamos te1n1os dêiticos, ou seja, que faze111 referência a algo externo ao discurso. Como por exemplo te1nos os pronomes isto, eu, você, etc. Esses geralmente passam a ilusão de que estamos nos referindo a algo externo à língua. ___ 54_) ( Análise do Discurso Quer saber mais sobre a dêixis linguística? Acesse o vídeo http://bit.ly/2vGcQNE. Disponível no Yot1tt1be. E11tretanto, se111pre estamos nela e por/para ela. Veja1nos como Oliveira (2002, p.20) esclarece essa perspectiva: A semântica Formal, diz Ducrot, cai na ilusão, criada pela própria linguagem, de que ela se refere a algo externo a ela mesma, de onde ela retira a sua st1stentação. A linguagem, afirma Ducrot, é t11n jogo de argumentação e11redado em si 111es1110; não fala1nos sobre o 1nu11do, falamos para construir um mundo e a partir dele tentar convencer nosso interlocutor da nossa verdade, verdade criada pelas e nas nossas interlocuções. A verdade deixa, pois, de ser t1m atributo do mundo e passa a ser relativa à comunidade que se forma na argumentação. Assim, a linguage1n é u1na dialogia, ou melhor, uma ''argumentalogia'', não fala111os para trocar informações sobre o 111undo, n1as para convencer o outro a entrar no 11osso jogo discursivo, para convencê-lo de nossa verdade. Ou seja, a linguagem é constitt1ída no diálogo, na busca, por meio da construção de argt1mentos, de inserir o outro, o interlocutor, 110 nosso inundo, 11a 11ossa verdade. Para as atuais concepções da Semântica da E11unciação, um enunciado é construído por diversos enunciadores que, concomitantemente, formam o espaço discursivo pelo qual o diálogo vai se desenvolver. Análise do Disc11rso J ( ___ s_s ___ _ Veja1nos o enunciado abaixo: (Considere os El, E2, e E3, enquanto ent1nciadores. O governador de São Paulo é Sociólogo E 1 : Há um e apenas uma pessoa. E2: Esta pessoa é um governador. E3: Esta pessoa é um sociólogo. No enunciado em negrito comprometemos nosso ot1vinte cotn o fato de que existe um único governador para São Paulo. Esse enunciado é polifônico (gera vários enunciadores) posto que encerra várias vozes. Acima temos um diálogo entre enunciadores, que pode gerar diálogos por n1eio, por exemplo, de negações polêtnicas ou metalinguísticas. Se negamos o El, estamos concretizando uma negação polêmica, mas ele pode negar o posto, portanto, dentro de 11m contexto pode fazer sentido; se negamos o E3, temos u1na negação metalinguística. Vejamos outro exemplo: Maria parou de fumar E 1: Maria fumava. E2: Maria não fuma mais. Essa seg11nda enunciação traz 11m enunciador que afirma que 1na1-ia fu1nava, tratando-se de um pressuposto, e outro que afirma que ela não fuma mais, concretizando o posto. Ao negar111os a fala do primeiro enunciador, faremos uma negação polêmica; se negamos o que está posto, faremos uma negação metalinguística. ___ 56_) ( Análise do Discurso Assi1n, para a Semâ11tica da Enu11ciação, as diferentes leituras explica111-sepela polissemia, ou seja, 11m 111esn10 enunciado que pode gerar 111últiplos sentidos, 111as que se correlacionam. Sobre os tipos de negação, vejamos esse outro enunciado: Imagine que alguém diz que sua bicicleta está estacionada em lugar errado, assim, você pode responder: Não, minha bicicleta não está estacionada em lugar errado (porque eu não tenho bicicleta). Nesse caso, você estaria fazendo uma negação polêmica, já que está negando o q11adro linguístico formado pelo se11 interlocutor, ou seja, nego o enunciador que acredita que a bicicleta seja sua. Imagine agora que dessa vez você tem bicicleta: Não, minha bicicleta não está estacionada em lugar errado (Porque está no lugar certo). Nessa situação temos uma negação metalinguística: o locutor retoma a fala do interlocutor, que coloca que a bicicleta está no lugar errado, para negá-la. Ducrot 1979, ainda evidencia um terceiro tipo de negação, a descritiva. Nesse tipo o locutor descreve u1n estado de ser negativamente, ou seja, na sua enunciação não há outro enunciador que o negue. Como exemplo, temos: Não há sol hoje. Podemos observar que não há reto1nada da fala do outro, 1nas a apresentação negativa de u1na descrição. Assim, a negação é, ''pois, um fenômeno de polisse1nia que, como dissemos, define se por ide11tificar usos distintos não relacionados'' (OLIVEIRA, 2006, p. 31 ). Já e1n relação a diferença de significados produzidos pelos variados tipos de enunciados te1npos, na lingt1ística, o q11e Análise do Disc11rso J ( ___ s_7 ___ _ chama1nos de Prag1nática, próxi1no ponto a ser estudado nessa unidade. Pragmática Caro aluno ( a), para esclarecer os diferentes significados que pode111 ser gerados pelos enunciados, o que co11cretiza o que chamamos de Pragmática, José Luiz Fiorin, em ''Pragmática'' (2007), utiliza um dos interessantes trechos de ''As aventuras de Alice'', de Lewis Carroll. Vejamos: -Veja, agora a senhora está bem nielhor! Mas, francamente, acho qite a senhora devia ter uma dama de companhia! -Aceito-a com todo pr·azer! - Disse a Rainha. - Dois pe,ice por semanas e doces todos os outros dias. Alice não pôde deixar de r·i1~ enquanto respondia: Não estou me candidata1ido.. . e não , gosto tanto assim de doces. - E doce de muito boa qitalidade- Afirmou a Rainha. -Bom, hoje, pelo menos, não estou querendo. -Hoje você não poderia ter, ne1n pelo nienos nem pelo mais- Disse a Rainha. - A regra é: doce amanhã e doce ontem - e nitnca doce hoje. - Algumas vezes tem de ser ''doce hoje''- Objetou Alice. - Não, não pode Disse a Rainha. Tem de ser senipre doce todos os outros dias; ora, o dia de hoje não é outro dia qualquer, como você sabe. Pa1·a Fiorin (2007), Alice e a Rainha discutem, nesse trecho, sobre o sentido de palavras como hoje e outro. Para elucidar a questão dos diferentes significados de um discurso, o at1tor elege a palavra hoje. Para a Rainha, o significado das palavras onte1n, hoje e amanhã são fixos. Nesse caso, se a reg1·a é doce onte1n e amanl1ã, Alice não poderá nunca comer doces, já que está sempre no hoje. Já Alice entende que o sentido das ___ ss_) ( Análise do Discurso palavras em 11egrito está relacio11ado ao ato de produção de um enunciado e, assi1n, por vezes há de ser ''ten1 de ser doce hoje'', já que l1oje é o dia em que o ent1nciado é pronunciado. Para Alice, segundo Fiorin (2007), o termo hoje se concretiza 11a , relação com a situação de comunicação. E por 1neio dela que o significado dessa palavra pode ser inteiramente comp1·eendido. Buscando uma análise pragmática eficiente, a consciência do enunciado ( estudado anteriormente) enqt1anto uma realização linguística concreta é fundamental. Se considerado a teoria do Enunciado, há de fazermos jus a ciência de que 11un1a situação de comunicação existe: eu/tu; espaço ( advérbios de lugar e prono1nes demonstrativos co1no aqui, este, lá, esse); marcadores de tempo, co1no exemplo os termos l1oje e ontem. Inclusive, tlm dêitico como esses só pode ser entendido dentro da situação de comt1nicação, assim, a pragmática parte do entmciado em direção ao lugar 110 qual esse foi ou está sendo produzido. Observe o enunciado: Anteontem andei muito por aqui. Só pelo enunciado não dá para saber o sentido, por exemplo, do anteontem, do eu e do aqui: é necessário conhecer a situação comunicacional para poder encontrar os sentidos dos enunciados, principalmente, os que fazem uso de tennos dêiticos, como o acima exemplificado. Surge, então, a pergunta: de maneira prática, con10 pode111os, enqua11to analistas do discurso, fazer uma análise pragmática? Análise do Disc11rso J ( ___ s_9 ___ _ Para Benveniste (1966), existem três categorias relacionadas ao Enunciado que são fundamentais para uma análise prag1nática, são elas: A pessoa, O tempo e o Espaço. Vejamos cada uma, agora, de maneira detalhada: ■ Apessoa: Para Benveniste ( 1966) as três pessoas do disctrrso não possuem o 1nes1no estatuto. Há semelhanças e11tre o eu e o tu, já que são sempre os participantes da comunicação. Entretanto, o ele pode ser qualquer ser ou não designar nenhum. Além disso, enquanto que entre o eu e tu há reversibilidade ( quando você fala com alguém, ela é o tu, quando ele te responde, você passa a ser o tu e ela, o eu), para o ele isso é impossível. , E i1nportante entender que: ''é a situação de enunciação que especifica o que é pessoa e o que não é pessoa ( .. . ) Chamare1nos, então, de pessoa enu11ciativa aquelas que participam do ato de comunicação." (FIORIN, 2007, p. 164). ■ O tempo: O te1npo da língt1a é diferente do tempo cronológico e/ ou fisico: ele é ligado ao exercício da fala, ou seja, o agora é reinventado a cada enunciado, e cada ato de fala constitui um novo tempo. Dessa maneira, Fio1in (2007, p. 167) dete1mina a análise do tempo do enu11ciado considerando: ME- Mo1nento da enunciação; MR-Momento de referência (presente, passado, futuro); MA- Momento do acontecimento (Concomitante, anterior, posterior, etc., a cada momento de referência). O tempo é, ' 'pois, a categoria linguística que marca se um acontecimento é concomitante, anterior ou posterior a cada um dos momentos de referência (presente, passado e futuro), ___ 60_) ( Análise do Discurso estabelecidos e1n função do mo1nento da e11unciação''. (FIORIN, 2007, p. 167) O espaço Para Fiorin (2007), o espaço lingtiístico se ordena por meio do tempo (hic ), ou seja, o lugar do eu/tu (ego). Tudo é assim localizado, sem que haja necessariamente 11ma i1nportância para seu lugar fisico no inundo, isso, pois 1nais importante é aquele que os situa, já q·ue se toma centro da referência de localização. Pai·a observamos o espaço, precisamos atentar para os pronomes demonstrativos e alguns advérbios de lugar, considerando qtie esses, por vezes, são dêiticos. A atenção dada ao espaço, tempo e pessoa, unidas à consideração dos contextos do enunciado, ( entenda, po1· exemplo, a importância de compreender os dêiticos para significar o discurso, algo já discutido acima!) co11cretizam o que chamamos de Análise pragmática das categorias discursivas. Essas, por consequência, podem constituir a argumentação, algo que entenderemos com mais clareza a partir do próximo tópico. Argumentação A Argumentação para a linguística foi teorizada pelos franceses Jean-Claude Anscombre e Oswald Ducrot. Para esses, considerando ainda que a língua ft1nciona dentro dela 1nesma, sem a i11fluência de ele1nentos exteriores, todo o uso da linguage1n é argumentativo, ou seja, direciona e/ou projeta de maneira ideológica o seguimento do discurso. Pai·a compreender melhor a Teoria da Argumentação, vejamos como essa se deu por1neio de fases, qtie listare1nos abaixo: ■ 1 ª fase: Articulação de enunciados Nessa fase, os teóricos da Argumentação, segundo Grácio (2015), debruçaram-se sobre as chamadas ''palavras vazias'', as que utiliza111os para conectar enunciados, como por exe1nplo
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