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EBOOK - Análise do Discurso

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ANDRE LUIS

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--- ser 
educacional 
gente criando o futuro 1elesap1ens 
.. \-' ' 1 1 l-'Í 1 1 ! ! t 1 1 ' 1 
Análise do Discurso 
© by Editora Telesapiens 
Todos os direitos reservados. Nenl1uma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida 011 tra11smitida de qualquer modo 011 por q11alq11er outro 1neio, 
eletrônico ou n1ecânico, inclui11do fotocópia, gravação ou qualq11er outro 
tipo de sistema de armazenamento e trans1nissão de i11form.ação, sen1 prévia 
a11torização, por escrito, da Editora Telesapiens. 
Dados Internacionais de Catalogação na P11blicação (CIP) 
048a Oliveira, Adriana Ferreu·a Serafim de 
Análise do disct1rso [rec1u·so eletrônico]/ Adria.na Ferreira 
Serafim de Oliveira, Patrícia Valéria Vieira da Costa; coorde11ação de 
David Lira Stephen Barros; organização de Cristia11e Silveira Cesar de 
Oliveira - Recife: Telesapiens, 2021. 
l 72p.: il.; 23cn1 
ISBN 978-65-86073-84-3 
1. Análise do disc11rso. 2. Lmg11ística. I. Costa, Patrícia 
Valéria Vieira da. II. Barros, David Lira Stephen (coord.). 
III. Oliveira, Cristia11e Silveira Cesar de ( org.). IV. Título. 
CDD 401.41 (22.ed) 
CDU 800.85 
Bibliotecária: Maria Isabel Schiavon Kinasz, CRB9 / 626 
Análise do Discurso 
Créditos Institucionais 
Fundador e Presidente do Conselho de Administração: 
J anguê Diniz 
D ire to r-Presidente: 
Jânyo Diniz 
Diretor de Inovação e Serviços: 
Joaldo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino: 
Adriano Azevedo 
Diretoria de Ensino a Distância: 
Enzo Moreira 
© 2020 by Telesapie11s 
Todos os direitos reservados 
AS AUTORAS 
ADRIANA FERREIRA SERAFIM DE OLIVEIRA 
Olá. Meti nome é Adriana Ferreira Serafi1n de Oliveira. 
Sou Doutora em Educação pela UNESP - Rio Claro, com foco 
em inclusão social, direitos fundamentais e políticas públicas 
para as mulheres vítimas de violência de gênero. Estágio 
doutoral em Psicologia Social com bolsa PSDE - CAPES na 
''Universidad Complutense de Madrid - Facultad de Ciencias 
Políticas y Sociología'' co1n pesquisas desenvolvidas em 
Madrid e cercanias quanto aos serviços públicos de atendimento 
à mulher vítima de violência de gênero e quanto à legislação 
dessa temática a pesquisa foi desenvolvida com a orientação 
de professor da ''Facultad de Derecho de la Universidad 
Complutense de Madrid''. Tem experiê11cia em trabalha.r co111 
a metodologia qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais 
Difusos e Coletivos pela UNIMEP de Piracicaba, co1n foco 
em Direitos Humanos e Direito Internacional, com bolsa do 
programa PROSUP-CAPES. Pós-graduada em Política e 
Relações Internacionais pela Ft1ndação Escola de Sociologia 
e Política de São Paulo (FESP-SP). Bacl1arel e1n Direito pela 
Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Pós-doutorado 
em curso pela FD-UPM. Revisora e parecerista de periódicos 
qualificados. Professora universitária. Advogada 
, , 
PATRICIA VALERIA VIEIRA DA COSTA 
Olá. Meu nome é Patrícia Valéria Vieira da Costa. S011 
formada e1n Letras com l1abilitação e1n Língua Portuguesa, 
pela Universidade Estadual da Paraíba, possuo Mestrado em 
Literatura e Interculturalidade e atualmente faço Doutorado em 
Literatura e Interculturalidade, ambos pela mesma instituição. 
Tenho experiência docente no ensino básico, por meio das 
disciplinas de Literatura e Produção de textos, passando 
por tunnas do ensino Fundamental II ao ensino Médio. S011 
apaixonada pelo que faço e adoro trans1nitir minha experiência 
de vida àqueles que estão i11iciando em suas profissões. Por isso 
fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar set1 elenco 
de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar 
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco! 
--
1 C O N OG RA F I C OS 
Esses ícones que irão aparecer em sua trilha de aprendizagem 
significam: 
' ' , 
... , 
-
-
X 
OBJETIVO 
Breve descrição do objetivo 
de aprendizagem; 
CITAÇÃO 
Parte retirada de um texto; 
TESTANDO 
S11gestão de práticas 011 
exercícios para fixação do 
conteúdo; 
IMPORTANTE 
O contel.'.1do em destaque 
precisa ser priorizado; 
DICA 
Um atalho para resolver 
algo que foi ir1trodtLZido no 
conteúdo; 
EXPLICANDO 
DIFERENTE 
Um jeito diferente e mais 
silnples de explicar o que 
acaba de ser explicado; 
EXEMPLO 
Explicação do conteúdo ou 
conceito partindo de 11m 
, . 
caso pratico; 
PALAVRA DO AUTOR 
Uma opinião pessoal e 
pa1ticular do autor da obra; 
+ 
+ - --X ;,. 
OBSERVAÇÃO 
Uma nota explicativa 
sobre o que acaba de 
ser dito· 
' 
RESUMINDO 
Uma síntese das 
1'.1ltimas abordagens; 
DEFINIÇÃO 
Defi1úção de llID 
conceito; 
ACESSE 
Links úteis para 
fixação do conteúdo; 
SAIBA MAIS 
Informações adicionais 
sobre o conteúdo e 
temas afins; 
SOLUÇÃO 
Resolução passo a 
passo de um problema 
, . 
011 exerc1c10; 
CURIOSIDADE 
Indicação de cUiiosidades 
e fatos para reflexão sobre 
o te1na e111 estudo; 
REFLITA 
O texto destacado deve 
ser alvo de reflexão. 
_. 
ARIO 
UNIDADE 01 
A linguística imanente versus linguística do discurso ........ 14 
A linguística imanente ................................................ ............................................ 14 
Estn1turalismo .............. ' .................................................................................... . 
Gerativisn10 .......................................................................................................... 
15 
17 
A linguística do discurso ...................................................................................... 18 
Linguística Cognitiva .................................................................................. 19 
Sociolinguística Variacionista .............................................................. 21 
A língua enquanto objeto da linguística- consequências 
dessa perspectiva teórica ................................................................................. 24 
A subjetividade da Linguagem ....................................................................... 25 
A enunciação ........................... .. ......................................... .... ........................................ 28 
O discurso enquanto objeto de estudo da linguística (A 
análise do discurso) - consequências dessa perspectiva 
teórica 32 
A interpretação ........................................................................................................... ... 34 
Condições de produção e interdiscurso .................................................. 3 8 
Outros aspectos relevantes à análise do discurso ................ ... 41 
UNIDADE 02 
Enunciação, Pragmática, Argumentação, Discurso ........... .. 52 
Enunciação .......................... .. ........ ............. ............................. ...................................... ... 5 2 
A Semântica da En une i ação ..... ......... ............................................ ........ 5 3 
Prag111ática ........................................................................................................................ 5 7 
Argumentação ................................................................................................................ 6 O 
Discurso 62 .................................................................................. ' .......................................... . 
Perspectivas teóricas (Significado de Ideologia) segundo: 
Althusser Ricoeur Foucault Pêcbeux 65 ' ' ' ............................................ .. 
A ideologia segundo Althusser ....................................................................... 65 
A ideologia segundo Ricoetir ........................................................................... 68 
A Ideologia segundo F oucault ......................................................................... 70 
A Ideologia segundo Pêcheux .................................................... ....... ..... .... ..... 72 
Perspectivas da Análise do Discurso de linha americana 
(Givón); Análise do Discurso de Linha francesa (Foucault, 
Pêcbeux); Análise críticado Discurso ................................... ............ . 74 
Análise do Discurso de Linha americana (Givón) ........................ 74 
Análise do Discurso de Linha Francesa (Foucault, Pêcheux) ....... 76 
Authier-Revuz e a Análise Crítica do Discurso 82 
Authier- Revuz 82 ............... ... .......................... ................................. ................................. 
Análise Crítica do Discurso 85 
UNIDADE 03 
Sujeito do Discurso: Benveniste, Authier-Revuz, Bakhtin, 
Ducrot e Foucault 94 
As diversas formas de conceber o sujeito do Discurso ...... 94 
O Sujeito para Benveniste ....................................................................... 95 
O sujeito para Authier-Revuz ............................................................... 97 
O sujeito para Bakl1tin ................................................................................ 98 
O sujeito (Polifonia) em Ducrot ......................................................... 99 
O Sujei to para F oucaul t ......................... .. .. .. ............. ................ .. .. .. ........ 1 O O 
Formação Imaginária e Formação Discursiva ........... .... ...... .. 103 
F armação Itnaginária ........................................ .. .................................... ............. 103 
F armação discursiva ... .... .. .................... ................................... .... .. ....................... 107 
Ideologia e Suj eito ................................................................................................ 112 
A Forma-St1jeito ..... ............................. ... .......................................................... ........ 117 
O sujeito e sua forma histórica ............... .. ....................... ..................... .. 120 
Subj etividades ............................................................................................................ 125 
UNIDADE 04 
O intradiscurso, o interdiscurso e a memória discursiva ...... 130 
O intradiscurso 
Interdiscurso ................................................................................................................ 
131 
132 
F or1nações discursi vas ........................................................... .. ........................... 13 3 
A intertextualidade 139 
Intertex tualidade: uma questão discursiva ........................................ 14 5 
Dispositivo de Análise: O lugar da interpretação­
Interpretação versus compreensão; textualidade e 
discursividade 147 
Interpretação versus compreensão ........................... ................................ 14 7 
Textualidade e discursividade 151 .................................... .................................. 
Tipologias e relações entre discursos: Discurso autoritário; 
discurso polêmico; Discurso lúdico .................................................... 155 
Discurso autoritário; discurso polissêmico e discurso lúdico ..... 159 
Referências 163 ....... ...... .............................. ....................................................................... 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_1 ___ _ 
___ 12_) ( Análise do Discurso 
--
INTRODU AO 
Você sabia que a área da Linguística é u1na das mais 
importantes para o conl1ecime11to da Língua? Desde o início do 
Século XX que linguistas de variados países mergulham nessa 
á1·ea, com o intuito de desvendar os mistérios que circundam a 
linguagem. Nesta disciplina, você conhecerá o percurso teórico 
que se inicia com o famoso Sausslu·e, considerado o ''O pai da 
lingl1ística moderna'', até as concepções mais conte1nporâneas 
relativas aos estudos sobre a linguage1n. Nessa primeira unidade, 
apresentaremos a você u1n estudo convidativo a co11hecer a 
Linguística Imanente, bem co1no a Linguística do Discurso, 
chega11do ao interessante conteúdo que é objeto da nossa 
disciplina em questão: A Análise do discurso. Ao longo desta 
unidade letiva você vai mergulhar neste universo! 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_3 ___ _ 
OBJETIVOS 
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 1. Nesta 
unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo 110 desenvolvimento das 
seguintes competências profissionais: 
Compreender as diferenças entre a Ling11ística 
Imanente e a Linguística do Discurso; 
E11tender como a Líng11a se toma objeto da 
enunciação para a Linguística 1nodema, e como a 
co111preensão da enunciação interfere positivamente 
na origem da A11álise do Discurso; 
Conceber a Análise do Discurso enquanto resultante 
dos estudos que a antecedem, além de assimilar 
con10 essa perspectiva amplia as compreensões 
linguísticas anteriores; 
Investigar como a Análise do Discurso se to1nou 
u1na perspectiva crítica, nos contextos históricos, 
soc1a1s, econômicos e etc., para o estudo da 
linguage1n. 
Então? Está prepa1·ado para uma viagem sem volta rumo ao 
conhecimento? Ao trabalho! 
___ I 4_) ( Análise do Discurso 
A linguística imanente versus linguística 
do discurso 
Caro aluno(a), ao término deste capítulo, você será capaz 
de entender co1110 funciona a Análise do Discurso. Isso será 
funda1nental para a co111preensão de uma das grandes co1Tentes 
de estudo do curso de Letras, responsável por grande parte das 
pesquisas na área, bem como contribuirá para exercício de sua 
docência em sala de aula. E então? Motivado para desenvolver 
essa competência? Va1nos lá. Avante! 
A linguística imanente 
Desde a antiguidade, o ho1nem passa por motivações 
práticas qt1e o leva a refletir sobre a estrutura das língt1as e set1s 
t1sos. Apesar de Pêcheux (1990, p.38) afirmar que a ''reflexão 
sobre a linguage1n não tem evidentemente, co1neço histórico 
assi1nilável'', desde o antigo Egito, passando por Fenícios e 
Hindus, além de out1·os povos, o registro escrito é problematizado 
pela tomada de consciência, geralmente empírica, da estrutura 
da língua para fins de comunicação. Essa realidade nos leva a 
compreensão da imanência da língua, ou, mais propriamente, 
sua realidade material. Formalmente, a linguística imanente 
está para a ''teoria da linguagem'', co1no coloca o dinamarquês 
Hjelmslev, em seu livro ''Prolégomenes à tine théorie dt1 langage'' 
(Prolegô1nenos a ut11a teoria da ling·uage111). 
Como, então, consideramos as Linguística Imanente nos 
dias de hoje? 
Análise do Disc11rso J (_1_5 __ _ 
Hojee1ndia,alinguísticalmanenteéumdosprincípiosdoque 
chaman1os 1nais comumente de Linguística fo1mal, que antecede 
e ilu111ina o posterior surgi111ento da Linguística do discurso. 
Em se tratando de Linguística formal, é necessário 
compreender que essa concebe a língua enquanto est1utu1·a. 
Sendo assim, ''A língua é entendida co1no um objeto at1tônomo 
independente das intenções de uso e da situação comunicativa 
(MALELOTTA, 2008, p.87). No contexto formalista, surgiram 
duas vertentes: O estruturalisn10, do suíço Ferdinand Saussure, 
que i11augura a Linguística moderna; e o Gerativis1no, do no1ie­
americano N oan Chomsky ( 19 5 7). 
Estruturalismo 
Preparado (a) para conhecer o famoso ''Pai da linguística 
moderna''? Vamos lá! 
A teoria Sausst1riana ganha espaço nos estudos linguísticos 
por 1neio da publicação póstuma do ''Curso de Linguística geral'' 
( 1916), um compilado de escritos de Saussure efetivado por seus 
alunos Charles Bally e Albert Sechehaye. Para Fiorin (2002), 
apesar de, 110 livro, não estar claramente exposto dessa fonna, 
os estudiosos costumam dividir a teoria saussuriana em quatro 
princípios ou dicotomias, são elas: 
Sincronia versus Diacronia 
Indo de contra ao estudo da evolt1ção histórica das línguas, 
a diacronia, (vigente até fins do século XIX), Saussure prioriza 
a descrição sincrônica, objetivando descrever a estrutut·a de 
uma determinada língua em seu recorte temporal, sem levar em 
consideração seu processo evolutivo. Sobre essa perspectiva, 
Fiorin (2002, p. 79) comenta que: 
Contraria1nente ao estudo da mudança linguística, 
o ponto de vista sincrônico vê a língua como u1n 
siste1na em que u111 elemento se defu1epelos den1ais 
elementos. No estudo sincrônico, um determinado 
___ I 6_) ( Análise do Disct1rso 
estado da língua é isolado de suas mudanças 
através do te1npo de e passa a ser estudado 
como um siste111a de elementos linguísticos. 
Esses elementos são estudados não mais em suas 
mudanças históricas, mas nas relações que eles 
contraem, ao mesmo tempo, uns co1n os outros. 
Língua versus fala 
Saussure elege a língua como seu objeto de estudo 11a 
linguística, já que a considera sistêmica e coletiva. Para ele, 
a língua define-se enquanto um siste1na composto por signos 
linguísticos, encadeados para formar um todo organizado em que 
cada signo é interdependente e definido por sua ordem e função. 
Significado versus significante 
Para o estudioso, essa é a dicoto111ia mais importante, posto 
que forma o signo linguístico acima mencionado. Para Saussure 
tudo é signo, já que tudo significa algo. Sendo assim, significante 
seria a image1n acústica, 1naterial, de algo, co1no por exe1nplo 
escrever a palavra ''computador''. Já o significado é o conceito 
imaterial disso, Oll seja, as interpretações que competem a esse 
signo: aparelho tecnológico; n1eio comt1nicacional, etc. 
Sintagma versus paradigma 
O Paradigma é o conjunto de con1ponentes do qual o 
sujeito pode se valer para co111por seu e11unciado; já Sintagma 
é a escolha. Por exemplo, um sujeito pode dizer ''A água está 
fria''. A palavra ''fria'' poderia facilmente ser substih1ída por 
''temperatura'', por exemplo. No entanto, a escoll1a feita foi 
''água'', o que caracteriza o eixo do sintagma. Já os outros 
tennos como ''temperatura'', etc., que poderiam ser escolhidos, 
constituem o pa1·adigma. 
Co1110 vin1os, o Estruturalismo Saussuriano pode ser 
pensado como o estudo da língua enquanto um sistema fechado 
em si mesmo, se1n interferência de fatores extralinguísticos 
como o contexto situacional, dent1·e outros. Críticas à parte, o 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_1 ___ _ 
Estruttrralismo i1úluenciou diversas vertentes da produção de 
conhecimento linguístico no decorrer do século XX. 
Gerativisnio 
A partir da segunda n1etade do século XX, surgiu uma 
11ova abordage111 linguística, o Gerativismo. Formulado pelo 
linguista Chomsky, manifestou-se como uma nova proposta de 
investigação da linguagem. Esse estudioso optou por uma posttu·a 
racionalista para formular sua teoria dos estudos lingt1ísticos. 
Para Chomsky (2005), a língua deve ser estudada de for1na lógica 
e abstrata. Nesse contexto, essa passa a constituir um siste1na de 
regras e princípios compostos na 1nente humana, considerando 
que qualquer sujeito exposto a u1n ambiente apropriado pode 
adquirir ( a gramática de) qualquer língua. 
Pragmático, Chomsky tem como base da gi·amática gerativa 
três questões básicas, a saber: ''a) O qt1e constitui o conhecimento 
da Língua? b) Como é adquirido o conheci1nento da Língua? 
c) Como é usado o conl1ecime11to da língua?'' (CHOMSKY, 
1994, p.23). A resposta a essas questões, para o pesquisador, 
está 11a mente hu1nana, que possui un1a gramática internalizada, 
explicada de duas maneiras: Gramática enquanto dicionário 
mental de f armas da língua; gramática enqt1anto sistema de 
regras e princípios que atuam sobre as formas. Nesse ínterim, 
a gi·a1nática une-se com os demais sistemas conceituais mentais 
para articular o som. No processo formal, as expressões p1imeiro 
passam pelas regras para só depois ganharem significação. 
Para o Gerativis1110, o ser humano nasce com u111 conjunto 
de princípios relacionados ao funciona1nento da língua, ou 
seja, a aquisição da linguagem toma-se u1na herança genética. 
Se genético, portanto, comum entre todas as línguas. Assim, a 
abordage1n gerativa busca as características gerais da linguagem, 
explicando e descrevendo propriedades que compõem o que o 
Chomsky chama de Gran1ática Universal (GU). 
___ 1 s_J ( Análise do Disct1rso 
Considerado u1n dos 1naiores teóricos conte1nporâneos, 
Chomsky contribuiu de diversas 1naneiras para os estudos 
linguísticos. Apesar de formalista tal co1110 Saussure, o estudioso 
não concorda com a concepção de que a língua é uma convenção 
social, mas sim um fenômeno biológico humano. Ambos, 
Sausstrre e Chomsky, aproximam-se q11ando considera1n a língt1a 
uma forma homogênea e idealizada. No entanto, diferem-se 
quando, por exe1nplo, para o p1imeiro, a língua é um conjunto de 
signos sociais; en.quanto que, para o segundo, ela é u1n conjunto 
de sentenças for111uladas com bases biológicas. 
A linguística do discurso 
A linguística do discurso ultrapassa os limites da linguagem 
enquanto um sistema formal, passando a valorizar os usos da 
líng11a em situações reais de com11nicação, além das relações 
entre função e forma. Ou seja, para a Linguística do discurso 
a língua é uma estrutura f onnal perpassada por realidades 
subjetivas tanto histó1icas quanto sociais, que influenciam e são 
influenciadas pelo siste1na. 
Essa nova perspectiva motivou o surgimento de diversas 
vertentes que, apesar de suas particularidades, de umamaneira geral: 
( ... ) considera a língua e1n uso, observando os 
fenômenos de variação e mudança linguísticas, 
as interpretações face a face ( e de outros tipos) 
entre falante e ouvinte, as influências sociais e 
psicossociais na estrutura da língua, a ideologia 
e a co11st17.1ção da subjetividade, os atos de fala 
no lugar de frases e sentenças verdadeiras e 
gramaticais, as implicaturas conversacionais entre 
outros fatores. (MARTELLOTA, 2008, p.88) 
Dentre muitas vertentes, ressaltare1nos duas das principais, 
a saber: a Linguística cognitiva e a Sociolinguística variacionista, 
refletindo proxi111idades e distancian1e11tos e111 relação ao 
paradig1na f onnalista. 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_9 ___ _ 
Linguística Cognitiva 
O q11e seria a Linguística cog11itiva? 
Surgiu no final da década de 1970, na Califó1nia, a 
Linguística Cognitiva, resultante de 1upturas teó1icas de 
alguns dos gerativistas. Nesse período, se destacaram nomes 
co1no George Lakoff e Charles Fillmone. Com o tempo, essa 
abordagem passot1 a ser cha1nada de Sociocognição, visando 
destacar o poder do contexto social para a linguage1n (já não 
1nais autônoma): C11ltura e sociedade como bases da cognição 
hmnana, da co1npreensão do m1111do. Portanto, essa vertente 
não separa conheci111ento linguístico do conhecllnento 11ão 
linguístico, assu1nindo uma postura que vai de contra a visão 
racionalista do gerativismo. 
Para a Sociocognição, os interlocutores são o centro da 
constn1ção de sentido, ou seja, a comunicação entre indivíduos 
em situações reais de interação discursiva é o ponto chave. 
A linguagem deixa de seru1n sistema que independe 
do falante ou um conjunto de regras finitas e ganha 
uma dimensão social e cognitiva cuja função é 
possibilitar a seus usuários meios para reportar 
o disct1rso alheio, inflt1enciar ot1tras pessoas, 
narrar acontecimentos, fazer avaliações, ser 
impreciso, falsear infor1nações, predizer o fut11ro, 
expressar sentimentos. (SALOMÃO, 199, p.65) 
Para Lakoff & Johnson (1999), a mente não é separada 
do COIJJO, assi111, muitos dos significados se dão por meio 
da estrutura corporal humana, chamados teoricamente de 
pensa1nentos corporificados. Aqt1i, consideramos a soma da 
inferência conceptual à inferência sensório-motora. 
Quando usa1nos expressões relativas ao espaço, sendo que 
esse significa tempo. Vejamos: 
Dias atrás estive em São Paulo 
___ 2_0 ___ ) ( Análise do Discurso 
Temos acima, originalmente, a palavra ''atrás'' co1110 um 
referente espacial (atrás de algum lugar, posicionan1ento). No 
entanto, 110 contexto dessa oração a palavra sublinhada refere-se 
a um tempo anterior, sensorial. 
Como vi111os, a mente humana desenvolve um processo 
de reelaboração de informações que surgem inicialmente de 
domínios cognitivos distintos. A esse processo da1nos o no1ne de 
''1nesclage1n'', em que relações sintáticas abrem 1narge111 para os 
aspectos semânticos, em busca de sentido (s).Observe a figura abaixo: 
Input 1 
figura 1: Modelo esque111ático do processo de mesclagenJ conceptual 
Baseado e111 Fouconnier e l'u.mer (2002) 
Espaço Genérico 
Fonte: O autor 
Input 2 
Segundo Fouconnier e Turner (2002), esse processo se dá 
por pelo menos a conexão de quatro domínios: dois inputs de 
entrada; um esque1na genérico (possibilidade de interação) e a 
mescla ( o novo sig11ificado). 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_1 ___ _ 
Podemos perceber, portanto, que a Sociocognição 
ultrapassa o Fonnalismo em diversos aspectos. Dentre eles, a 
crítica à limitação gerativa, posto que apesar de se aproximar das 
ciências cognitivas, o Gerativismo entende a linguagem como 
autônoma, priorizando a sintaxe, enquanto que a Sociocognição 
valoriza a semântica por 1neio da utilização dos sentidos para o 
processo de const1ução da linguagem. 
Por fim, enquanto que na linguística fo11nal o sujeito é 
irrelevante, na Sociocognição o sujeito é o centro na constrt1ção 
de sentido, ou seja, o ho1nem significa o inundo de acordo co111 
suas experiências pessoais, sociais, econômicas e culturais. 
Sociolinguística Variacionista 
As pesquisas em to1no da Variação linguística surgiram 
nos Estados Unidos na década de 60, pela iniciativa de Willian 
Labov. Para Labov (2008), um dos principais intt1itos dessa nova 
perspectiva é identificar, descrever e interpretar as variações 
da língua levando e1n consideração grupos étnicos, etários, 
regionais, de gênero, etc., que compõem a sociedade. 
Segundo Wem·eicl1, Labov & Herzog (2006), a 
sociolinguística enfoca a língua em seu contexto usual. Para 
tanto, toma-se relevante aspectos linguísticos formais, sociais e 
culturais quando da necessidade de investigação sobre variações 
e mudanças linguísticas, principalmente pela consciência de 
que a variação em seu uso não ocorre de 1naneira aleatória, mas 
sim condicionada por um arcabouço de regras organizadas pela 
divisão social em classes. 
, 
E possível identificar, primeiramente, dois grandes grupos: 
O da norma padrão, linguagem de prestígio social, regida, 
comumente, pelo domínio da gramática normativa, geralmente 
trabalhada de 1naneira intensiva nos ambientes escolares, 
principalmente por estar articulada, sobretudo, à ascensão social 
dos indivíduos; e a norma não padrão, geral1nente estigmatizada 
___ 2_2 ___ ) ( Análise do Discurso 
por 11ão oferecer os 111esmos acessos 
padrão disponibiliza aos sujeitos. 
. " . soc1oeconom1cos que a 
No combate a const111ção de estigmas linguísticos, a 
Sociolinguística elege a diversidade linguística, que considera 
não só as regras da língua como, sobretudo, as relações de poder. 
Essa consideração é rest1ltado da ciência da língt1a enq11anto 
instituição social locada historica1nente e que, por isso, fi1ncio11a 
e1n diversos contextos situacionais. 
Vejamos a tirinha abaixo: 
~--:io. 
Q41C01 
INDAOCM.~ 
P~ Q.I N.1111 FIZ A 
UCÃOPICMA.l40JII 
Fonte: Mauricio de Sousa Produções 
1 
661◄ 
Chico Bento é um personagem cujo modo de falar difere 
da nonna culta padrão, já que caracteriza, em sua fala, u1na 
variação regional. A tirinha, para registrar esse modo de fala, 
reproduz a linguagem proveniente do contexto social a que ele 
está inserido. No diálogo com a professora ( que domina a nor1na 
padrão, o que lhe garante status social para exercer o cargo que 
ocupa) percebe1nos que o ''st1sto'' dela se deve não aos supostos 
''erros'' linguísticos cometidos por Cl1ico, 1nas si1n, pela sua 
esperteza em se livrar da hipótese de um castigo, revelando a 
compreensão da professora não só do uso oral da língua, como 
também o do1nínio das Variações linguísticas. 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_3 ___ _ 
E111 relação ao Estruturalis1no, a Sociolinguística se 
aproxi1na dessa linha de pensa1ne11to ao, como Saussure, 
considerar a linguística co1110 u111 fe11ômeno social. Apesar 
disso, as diferenças são mais reconhecíveis. Dentre elas, o 
fato Sociolinguística Variacionista fazer llSO de uma reflexão 
diacrônica ( diferente1nente de Sal1Ssl1re) já que essa valoriza 
os processos sócio históricos influenciadores das mudanças 
da língua. Alé1n disso, diferentemente do Gerativismo, para a 
Sociolinguística é fundamental a coleta do maior nú111ero de 
dados de falantes possível em situações de fala reais, por meio 
de recUI·sos de áudio. 
Para aprofundar seus conhecimentos em torno da 
Sociolinguística, recomendamos os livros ''A língua de Eulália' ', 
bem co1no ''Preconceito linguístico'' , ambos de Marcos Bagno. 
___ 24_) ( Análise do Discurso 
A língua enquanto objeto da linguística­
consequências dessa perspectiva teórica 
Anteriormente vimos que Saussure, considerado ''pai'' da 
Linguística moderna, em suas dicotomias, privilegia a língua, 
já que essa ''é u1n siste1na supra individual utilizado como meio 
de comunicação entre me1nbros da sociedade'' (COSTA, 2008, 
p.116). Ela se faz, para o estudioso, enquanto parte essencial da 
linguagem, posto que, sem ela, é i111possível conceber o contato 
entre indivíduos de uma mesma sociedade, daí surge seu caráter 
social. A fala, nesse contexto, tem um papel secundário, já que é 
considerada específica de cada indivíduo. 
Aprendemos, no decorrer dos estudos enu·e Linguística 
imanente e Linguística do Discurso que a língua, bem como a 
fala, tomam maiores amplitudes conceituais que t1ltrapassaram 
as concepções estabelecidas por Saussure, co11forme os estudos 
linguísticos foram avança11do durante o século XX, o que 11ão 
tira de Saussure a iniciativa ter colocado a língua como u111 dos 
principais objetos da linguística moderna. 
A partir de Saussure, muitos estudiosos debruçaram­
se sobre o estudo da língua. Dentre eles temos o linguista 
' francês Emile Benveniste, e porque vamos enfocá-lo? A 
escolha por esse teórico justifica-se, pois, apesar de partir de 
Saussure, ele conseguiu ampliar a concepção de lí11gua por 
1neio da possibilidade de análise de sua particularidade à luz 
de outras grandes ciê11cias, co1no a Psicologia social, Filosofia, 
Pragmática e a Antropologia, por exemplo. Assim, Benveniste 
contribuiu de maneira significativa para o legado da língua e 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_s ___ _ 
para consequências pos1t1vas no sentido da a1npliação desse 
conceito no âmbito da linguística. 
Va1nos conhecê-lo? Vejamos o trecho a seguir: 
Não atingimos nunca o homem separado da 
linguagem e não o ve1nos nt1nca inventando-a 
, 
[ ... ]. E um l1ome111 falando q11e encontramos no 
mundo, um homem falando com outro ho1ne1n, e 
a linguagem ensina a própria defi11ição do homem 
(BENVENISTE, 2005, p. 285) 
Ou seja, para Benveniste a linguagem é natural, compõe 
a nah1reza humana, portanto, é nela que se faz o st1jeito, é por 
meio dela que se pode emergir um ''eu'', subjetivo, consciente de 
sua existência. A subjetividade é, para o linguista, norte para a 
co1npreensão da linguage1n e, por isso, daremos ênfase a ela agora. 
A subjetividade da Linguagem 
Para compreender a concepção do l101ne1n en.quanto 
sujeito, Benveniste elabora uma relação dialética em que o 
''eu'' cria uma interdependência com o ''tu'', chamada de ''eco''. 
Essa polaridade constituída toma-se a condição fundamental 
da linguagem, já que existe no homem para fazê-lo sujeito, 
na medida em que o ''eu'', marca absoluta de subjetividade, é 
transcendente ao ''tu'', ot1 seja, necessita de u111 h1 para estabelecer 
, 
sua existê11cia. E nesse ponto que Benveniste concebe a língua 
enq·uanto categoria de 1naior i1nportância enunciativa. Isso 
porque ''eu'' e ''tu'', pronomes pessoais existentes em todas as 
línguas, não existem por si mesmos, mas sim, pela atribuição de 
uma referência. Em outras palavras, Benveniste quis dizer que 
o ''eu'' não existe sozinho, há a necessidade de um outro, o ''tu'', 
para afirmar a existência do sujeito e vice-versa, po1ianto, é a 
língua, na enunciação, que concretiza a existência. 
Na subjetividade da linguagem os prono1nes ''eu'' e ''tu'' 
são essenciais. Veja1nos estacolocação de Juchem (2008, p.17): 
___ 2_6 ___ ) ( Análise do Discurso 
Esses prono1nes, assi1n como outros indicadores 
autorreferenciais, diferen1 de todos outros signos 
linguísticos por terem con10 referência o sujeito 
que enuncia e a instância de discurso em que 
são enunciados. Eu e tu só têm referência na 
''realidade do discurso'' , sendo o eu a pessoa que 
enuncia a instância de discurso que diz eu em 
referência a um tu, dada a situação de alocução. 
Eu e tu sofre1n u111 duplo processo: de eu referente 
enquanto enunciado e de eu referido enquanto tu 
enuncia, assim sucessivamente. Pode-se dizer que 
et1 e tu transitam entre os locutores nas instâncias 
de discurso porque se presst1põem. 
Po1ianto, ''eu'' e tu'', instituídos pela língua, constitue1n, 
por meio da ling·uage1n, o sujeito e seu interlocutor e vice-versa. 
Para Benveniste (2005), a subjetividade reside na ciência de 
que o ''eu'' só existe quando tem consciência de si por 111eio 
da enunciação, permitindo ao ''tu'' que esse tambétn seja ''eu'', 
como utn retorno. 
Para esclarecer essa concepção, vejamos a tirinha a segt1ir: 
As VEZES ME PERGUNTO 
l'On QtlE ESTOU AOOI. 
• 
• 
AsvfZES 
EU ME 
PERGUNTO 
A,.fESMA 
COIS4. 
~ TN.ff!SW SE 
PERGUNTA POn QUE 
ESTÁAQUI? 
•--:it..:-:;;.,- --1 __._ _ _ _ • •• 
1 
__ ---.JJ 
Johnn}' TJ:ir A C Jor1u1/ clt4 Tur,le, 28 6 fl 991 
Fonte: Johnn Ha.rt A. C. Jon1al da Tarde 
Repare que o ''eu'' e o ' 'tu'' trocam de posição durante o 
diálogo, e é exatamente a essa consciência subjetiva da existência 
de dois indivíduos por meio da língua, ou seja, eles existem por 
meio da linguagem. 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_7 ___ _ 
Além dos prono111es pessoais supraditos, Benveniste 
(2005) conclui que há, nas instâncias do discurso, enunciados 
que reme11tem ao que cha111a111os de situações objetivas, 
representadas pela te1·ceira pessoa, assim, ''o membro não 
marcado da con·elação de pessoa [ ... ] sendo o único modo de 
enunciação possível para as instâncias de discurso que não devam 
remeter a elas mesmas'' (ibid., p. 282). Exe1nplificando, existem 
quatro propriedades que diferenciam a terceira pessoa ''ele'', do 
''eu'' e ''tu'': a) de co1nbinar com qualquer referência de objeto; 
b) de não refletir a instância de discurso; c) de ter u111a gra11de 
variação pronominal ou demonstrativa; d) de não se equiparar 
ao aqui-agora. Nesse contexto, o prono1ne ''ele'' ''não remete a 
nenhuma pessoa, porque se refere a tun objeto colocado fora da 
alocução. Ele só existe e se caracteriza po1· oposição a pessoa eu. 
(BENVEN1STE, 2005, p. 292). 
Até agora vimos que, para Benveniste, wna das formas de 
organização da língua se dá pelo par dialético eu/tu, que 
subjetivamente constitui sujeitos quando esses enunciam. 
Além do par opositivo eu/tu, Benveniste elege também, 
para a organização das línguas, a noção de tempo. Se é no 
exercício da língua qt1e encontramos sua subjetividade, logo, o 
tempo é presente a todo instante, posto q11e é ''O tempo e1n que se 
, 
fala''. E no presente e1n que se 1nanifesta o ''eu'' e tudo atribuído 
a ele. O te1npo, po1ianto, marca o aqui-agora da linguage1n. 
___ 2s_) ( Análise do Disc11rso 
Eu 
Aqui/ 
Espaço 
Figura 2 - Os tempos 
Tu 
Quadro da 
Enunciação 
Fonte: Editorial Telesapiens 
Agora/ 
lempo 
Acima, te1nos o qt1adrinômio et1-tu-aqui-agora, representado 
pelo quadro da enunciação, perspectiva basilar dos estudos 
da língua propostos por Benveniste que veremos co1n mais 
profundidade a seguir. 
A enunciação 
Para Benveniste, a enunciação é definida con10 ''o colocar 
e111 funcionamento a língua por un1 ato individual de utilização'' 
(BENVENISTE, 2006, p. 82). Ou seja, enunciar é o ato de colocar 
a lingt1agem em funcionamento. Segt1ndo Juchem (2008, p.18), 
ela é vista por meio de três principais aspectos: 
a. o pri1neiro remete à realização vocal da língua, 
possível por um ato individual no interior da fala, 
sendo que, ne1n mesmo para o mes1110 sujeito essa 
realização é idêntica, ainda que sobre a mes111a 
experiência vivida; logo, a irrepetibilidade da 
enunciação ocorre até para o próprio loct1tor; 
b) dessa produção individual decorre o segundo 
aspecto, que supõe ''a conversão individual da 
língua em discurso'', processo definido como 
se1nantização da lí11gua, segundo Benve11iste 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_9 ___ _ 
(ibid., p. 83)11; c) a terceira abordagem pretende 
traçar um quadro formal da ent1nciação sob 
consideração do ato en1 si, as situações e os 
instrumentos de sua realização. 
Essencial para a existência da enunciação é o interlocutor: 
se1n ele só há ape11as uma possibilidade de língi1a, não o ato 
concreto. Entretanto, o interlocutor só existe se houver, da 
parte do locutor, uma apropriação da língua que estabelece u1n 
111ovimento de referência e con·eferência, já que um pede o 
outro, um ''tu'', u111a via de mão dupla. E111 outras palavras, é na 
enunciação que o ''eu'' apropria-se da língua, concretizando-se 
no tempo, o presente. Para Benveniste (2006), passado e futuro 
não fazem parte da entmciação, pois o enunciado é sempre 
atualização. Assim, o tempo é sempre presente, contínuo e 
coextensivo, Uin aqui-agora que só existe pelo se1·. 
Dessa maneira, podemos entender a referência como 
i111portante para o ent1nciado, já que o ''eu'' se encontra no centro 
da língua, marcado pelo presente. Nesse âmbito, se toda língua 
perpassa o sujeito, toda ela tem referenciação, ou seja, todos os 
signos estão ligados ao ''eu'' e são, portanto, referenciais. A língua, 
na teo1ia da enunciação, é sempre referência, não diretamente 
ao mu11do, 1nas sim em relação ao sujeito com o inundo. 
Se a língua é referência, como, então, os signos são 
referenciados na enunciação? 
A resposta é simples. Para Benveniste há, na língua, um 
aparelho de ''funções'', que se adequa ao contexto comunicacional 
da entu1ciação. Essas ft1nções são a inti1nação, interrogação e 
asserção, e todas denota1n sentidos específicos de comu11icação. 
O quadro formal da enunciação, para Benveniste, é o eu­
tu-aqui-agora, considerando índices de pessoa, espaço/tempo, 
referindo-se, sempre, a enunciação. Flores e Teixeira (2005, 
p.36) esclarece que ''o aparelho formal da enunciação é uma 
espécie de dispositivo que as línguas têm para que possam 
___ 3o_) ( Análise do Discurso 
ser enunciadas. Esse aparell10 nada mais é que a marcação 
da subjetividade na estrutura da língua''. O aparelho pode ser 
se1npre universal, porém, seu uso é se111pre i11dividt1al, 111es1110 
que o propósito da teoria enunciativa não seja o sujeito em si, 
antes, as suas marcas no ato da enunciação. 
Te111 ctrriosidade e1n e11tender ai11da mais sobre o processo de 
enunciação de Benveniste? Acesse http://bit.ly/2SER7yl 
Colocadas as concepções de Benveniste sobre a língt1a, 
resta-nos a pergunta: Quais as consequências dessa perspectiva 
teórica? Podemos listar algu1nas, vejamos: 
! Diferentemente da linguística formal, Benveniste 
reconhece o sujeito como pertencente ao siste1na da língua; 
além disso, o linguista considera a natureza da subjetividade, 
marcando a necessidade de reconhecer a língua enquanto 
instância(s) do discurso, não apenas um repertório de signos 
como outrora colocado por Saussure; 
2. Be11veniste atribui à lli1gua o status de significação, que 
só se dá por vias do discurso, ou seja, na enunciação. Flores 
(2008, p. 12) exemplifica com clareza essa perspectiva quando , 
diz qt1e ''E no uso da língua que um signo tem existência; o qt1e 
não é usado não é signo; e fora do uso o signo não existe. Não l1á 
estágio intermediário; ou está na lí11gua, ou está fora da língua''; 
3 Para Benveniste o foco é o sujeito, é ele quem atualiza 
o sistema linguístico, articulando e significa11do. Desse modo: 
A língua - Subjetividade 
Sujeito - Intersubjetividade 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_1 ___ _ 
(Relembra111os aqui a relação interdependente entre os 
pronomes pessoais ''eu'' e ''tu'') 
4. Por fim, Benveniste inaugura umpensamento novo 
sobre a língua: A enunciação, que contribuirá, mais a frente, 
para os presst1postos da Análise do Discurso estudada na 
contemporaneidade e proposta por essa disciplina. 
___ 32_) ( Análise do Discurso 
O discurso enquanto objeto de estudo 
da linguística (A análise do discurso) -
consequências dessa perspectiva teórica 
Até então, os capítt1los anteriores propuseram tun percurso dos 
estudos linguísticos até que pudéssemos chegar, de maneira 
1nais clara, ao ponto central de nossa disciplina: A Análise do 
Discurso. Va111os conhecê-la? 
Como vi1nos anterio11ne11te, existem 1nuitas 1naneiras de 
estudar a linguagem: a língua enquanto sistema de signos; as 
diferentes normas de linguagem (lembremos da norma culta e da 
variação linguística); a enunciação, dentre outras. Essa variedade 
expõe muitas maneiras de significar, e foi a partir dessa ciência 
que surgiu a Análise do Discurso. 
O que seria então, caro aluno (a), a Análise do Discurso? 
Considerada enquanto u1na teoria política de Leitura, A 
análise do Discurso nasce na França na década de 1960, tendo 
como Fundador o estudioso Michel Pêcheux. Para Orlandi (2007 
p. 15) essa perspectiva, co1no seu próprio nome refere: 
Não tra1na a língua, não trata da gramática, embora 
todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do 
discurso. E a palavra Discurso, etimologicamente, 
tem em si a ideia de curso, de percurso, de correr 
por, de movin1e11to. O discurso é assim palavra em 
movimento, prática de linguagem: com o estudo do 
discurso observa-se o homem falando. (Grifo nosso). 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_3 ___ _ 
Ou seja, a Análise do discurso, diferente de algu1nas das 
concepções anteriores, não trabalha com a língua na qualidade 
de u111 siste111a abstrato. Ela procura entender a língua enquanto 
sentido (s), como um trabalho simbólico, pa1ie constitutiva 
do homem e da história desse. Nesse âmbito, por meio dessa 
perspectiva surge a oportunidade de entender o qt1e faz o 
ho1ne1n ser o que é, compreender sua capacidade de significar 
e significar-se. Portanto, na Análise do Discurso a linguagem 
( o disct1rso) toma-se mediadora entre o ho1nem e sua realidade 
individual e social. 
O que interessa à Análise do Discurso é o movimento: 
as maneiras de significar; pessoas se comunicando e trocando 
experiências, compreendendo sentidos, compreendendo seu 
lugar na sociedade, po1· 1neio da interpretação. Se o meio e1n que 
o discurso é produzido é significativo, vale à Análise do Disc·urso 
a consideração da lingt1agem à sua exterioridade. Assim, ela 
se 111aterializa na ideologia, Otl seja, ela te111, em parte, un1a 
orde1n própria ( as regras de uso, as gramáticas); e1n outra, uma 
relativa auto11omia ( o campo da semântica, das possibilidades de 
interpretação). 
Para compreender melhor a questão ideológica, atentemos 
para a charge abaixo: 
1i~\\t\io Nf\ l"\f\A 
Fonte: Charge Tho1nate 
___ 34_) ( Análise do Discurso 
Se analisássemos a charge acima à luz de unica1nente de 
seu conteúdo, lerían1os de maneira literal, e set1 objetivo (a crítica 
à corrupção por 111eio da sátira), não seria atingido. AAnálise do 
Discurso propõe olhar o texto acima unindo sentidos e contexto 
situacional, considerando a compreensão da ideologia que ll1e 
cerca: a lingt1age1n pode st1gerir 1ní1ltiplos efeitos de sentido em 
um único texto. Assi1n, essa perspectiva sugere interpretar as 
linguage11s que produzimos e que lemos/ ouvi1nos/ vemos e etc. 
A interpretação, nessa conjuntura, é o primeiro destaque 
que dare111os 110 estudo da A11álise do Discurso. 
A interpretação 
Para Orlandi (2007, p. 25), 
A proposta intelectual em que se situa a Análise 
do Discurso é marcada pelo fato de que a noção 
de leitt1ra é posta em suspenso. Tendo co1no 
fundame11tal a questão do sentido, a Análise 
do Discurso se constitui no espaço e111 que a 
Linguística tem a ver con1 a Filosofia e com 
as Ciê11cias Sociais. Em outras palavras, na 
perspectiva discursiva, a linguagem é linguagem 
porque faz sentido. E a linguagem só faz sentido 
porque se inscreve na história. 
Ou seja, a perspectiva discursiva e11fatiza a questão do 
contexto (Social, histórico, político, econômico) enquanto peça 
chave para haver sentido e, assim, linguagem. Nesse sentido, a 
interpretação ganha espaço por permitir a leitura e compreensão 
desses variados contextos. 
A Análise do Discurso, por esse viés, acaba por teorizar 
a interpretação, colocando-a co1no t1ma proposta de análise 
que não se fecha e1n si, 1nas trabalha seus 1necanismos, li1nites, 
co1no pa11es do processo de construção de significação. Na 
interpretação proposta pela perspectiva discursiva não há um 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_s ___ _ 
sentido verdadeiro, único, revelado por u1n método. Há, si1n, 
uma construção de dispositivos teóricos capazes de dar conta 
das mais diversas produções emergidas da lingi1agem. 
Para compreender como funciona a perspectiva discursiva 
com mais clareza, vamos agora distinguir inteligibilidade, 
interpretação e compreensão, unido as explicações à exemplos. 
Inteligibilidade 
A inteligibilidade faz referência ao sentido da língua. 
Vejamos este exemplo: ''Ela pediu esse''. Essa frase é inteligível, 
basta dominarmos o português para ler esse enunciado. 
E11tretanto, ela não pode ser interpretada, pois não conseguimos 
chegar à conclusão de quem era ela e/011 o que ela pediu. 
Interpretação 
Pensemos na seguinte situação hipotética: 
Ma1ia vai ao restaurante co111 seu noivo, Carlos, e sua 
amiga, Júlia. Enquanto Júlia vai ao banheiro, Maria solicita 
ao garçom um dos pratos do Menu. Ao voltar à mesa, Júlia 
perg11nta a Carlos o que Maria pediu e ele prontamente responde, 
indicando co1n os dedos no Menu: ''Ela pediu esse''. 
Pelo exemplo acima podemos perceber que a interpretação 
necessita de um co-texto (as outras faces do texto) e o contexto 
em si. Interpretando, ela é Maria e esse é o prato solicitado. 
Compreensão 
Utilizando a mesma situação hipotética, nas palavras de 
Carlos poderíamos compreender que Júlia pediu dete1minado 
prato porque gosta mais, ot1 porque pode ter alguma restrição 
ali1nentícia, por exe1nplo. A co1npreensão, nesse se11tido, é 
entender co1no um objeto simbólico (texto, pintura, enunciado, 
, 
etc.), produz sentidos. E compreender como funcionam as 
interpretações. Quando interpretamos já estamos presos a um 
sentido. Assim, a compreensão procura explicitar os processos 
___ 36_) ( Análise do Disct1rso 
de significação presentes na situação co1nt1nicacional para que 
assi111 possam ser entendidos outros sentidos possíveis. 
Resumindo, a Análise do Discurso, para Orlandi (2007, 
p. 26): 
Visa a compreensão de como 11m objeto 
simbólico produz sentidos, como ele está 
investido de significância para e por sujeitos. 
Essa compreensão, por sua vez, implica explicitar 
como o texto organiza os gestos de interpretação 
que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se 
assim novas práticas de leitura. 
Se a interpretação é um dispositivo teórico de análise da 
Análise do Discurso há, portanto, o analista e o 111étodo prod11zido 
no alcance teórico da perspectiva discursiva. Cada analista 
necessita fom1ular uma questão que desencadeie uma análise, e 
cada material de análise pede que seu analista eleja conceitos que 
outro analista não elegeria, criando assim conceitos diferentes 
de análises. Embora a teoria ilumine a análise, essa é escolhida 
dentre tantas pelo analista, em sua liberdade para a constn1ção 
de inte1-pretações. 
O Analista analisa e co1npreende o processo discursivo, 
pode11do, então, inte1-pretar seus resultados de acordo co1n os 
instrumentos teóricos escolhidos dos campos disciplinares dos 
quais ele optou. Dessa maneira, o analista do discurso desfaz 
a ilusão da transparência da linguagem, já que passou por um 
processo 1naterial de constituição e significação do (s) sujeito (s). 
É desse estt1do detalhado, 1netódico, teórico e 
principalmente interpretativo que deriva, Para Orlandi (2007,p. 
28), a riqueza da Análise do Discurso ''ao pe1111itir explorar de 
muitas maneiras essa relação trabalhada com o simbólico, sem 
apagar diferenças, significando-as teoricamente.'' 
Nesse contexto, o que se dizemos não são apenas 1nensagens 
a serem decodificadas, mas sim: 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_7 ___ _ 
Efeitos de sentidos que são produzidos em 
condições determinadas e q11e estão de algu111a 
forma presentes no 111odo como se diz, deixa11do 
vestígios que o analista de discurso tem de 
apreender. São pistas que ele aprende a seguir 
para compreender sentidos aí prod11zidos, pondo 
em relação o dizer com sua exterioridade, suas 
condições de produção. Esses sentidos têm a ver 
com o que é dito, e com o que poderia ser dito e 
não foi. Desse modo, as 111arfes do dizer, do texto, 
também fazem parte dele. (ORLANDI, 2007, p. 30) 
Para compreender melhor, vejamos o exemplo a seguir: 
__ , ___ ., __ 
1111s c1•0 N mls lnl S11 ISIISI nt •lrlà 
ls1a 6 .. •111!+111ra nct 11m lr • IIIISW11II 
Çale &N ~ ....... . ... .,. . ...... • , .-.vw....., .. ....... ...... _......,.__ ..... 
... ee.a • ..,. .. , ,, 1 , ilillll ,.. .. "'4M-.,. .... ...., , e ~ w wii__..,...,....,,., .,......,.,..,,._ . -- - - - -- --------
Fonte: O estadão 
(Texto verbal: ' 'Mais cedo ou 1nais tarde sua esposa vai 
dirigir. Este é uma das razões para você possuir um Volkswagen'') 
Enquanto analista do Discurso, quais vestígios precisamos 
apreender para interpretar o anúncio aci111a? 
Considerando o universo dos anúncios, propagandas, não 
basta apenas decodificar a linguagem verbal. Há de se levar em 
consideração o contexto situacional; as escolhas linguísticas; o 
texto 11ão verbal; dentre outros. 
___ 3s_) ( Análise do Disct1rso 
No exe111plo acima nos depara111os com u1n anúncio 
publicitário dos anos 60. Na época era comu111 e, inclusive, 
engraçado, sente11ças que 111aculasse111 a i111age111 da mulher. O 
texto verbal, portanto, pode ser inte1-pretado como uma ''piada'' 
em relação às capacidades limitadas da mulher ao fato de dirigir. 
A empresa, em contrapartida, oferece t11n produto que ''alivia'' a 
preocupação masculina, já que possuí peças baratas e fáceis de 
encontrar. Ou seja, o homem não precisai-ia se preocupar com 
n1ais esse ''proble1na'': a WV se preocupa por ele. 
Fica claro aqui co1110 a condição de produção de un1 discurso 
afeta a construção da linguagem. Se hoje, no século XXI, o 
mesmo anúncio publicitário fosse veiculado em jornais, revistas 
e internet, muito provavelmente seria tachado como machista 
e anacrônico, e a e1npresa sofrei-ia as represálias cabíveis. 
Po1ianto, as condições de produção e Interdisctrrso 
são de grande significado para o analista do discurso e, mais 
a1nplamente, para a A11álise do Discurso em geral. Assin1, cabe­
nos agora aprofundar essas perspectivas. 
Condições de produção e interdiscurso 
Para Orlandi (2007), as condições de produção 
compreende1n sujeitos, situação e a memória. Essa í1ltima, 
inclusive, bastante significativa, como veremos mais à frente. 
As condições de produção, para a autora, consideram duas 
circunstâncias: o contexto imediato e o contexto sócio histórico, 
ideológico. No últi1no exen1plo que apresentamos ( o caso 
do fusca da Volkswagen), o contexto imediato é o ''simples'' 
anúncio de um carro e a sugestão de que esse é resistente e 
acessível e, por isso, deve ser comprado. Já o contexto amplo é 
o que revela efeitos de sentidos inerentes do funcionamento da 
nossa sociedade, co1no por exemplo o mercado automobilístico 
e a antiga cultura de que veículos eram desti11ados a ho1nens, já 
que à 111·ulher destinava-se o lar. Nas entrelinhas, observa1nos 
que a suposta aceitação de uma 1nulher dirigindo, reação lenta 
do Feminismo no decorrer do século XX, vem transvestida do 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_9 ___ _ 
1nachismo que rei11ava co1n todas as forças naquele contexto e1n 
particular. O anúncio, assim, revela um posiciona1nento sócio 
histórico social comu1n à época e111 que fora publicado. 
, 
E aqui que o conceito de memória ganha forças quando 
pensada em relação ao discurso. No contexto teórico da Análise 
do Discurso, inclusive, podemos chamá-la de Interdiscurso: 
Definido co1no aqt1ilo que fala antes, em outro lugar, 
independente1nente. Ou seja, é o que cha1na1nos de 
memória disct1rsiva: o saber discursivo que torna 
possível todo dizer e que retorna sob a for1na do pré­
const1uído, o já-dito que está na base do dizível, 
sustentando cada palavra. (ORLANDI, 2007, p.31) 
Ora, só conseguimos, l1oje, interpretar de maneira 
significativa o anúncio produzido 110 século XX graças a 11ossa 
1nemória discursiva: o discurso do 1nacllis1no não é novo, é U1n 
já-dito não só naquela época, co1110 se perpetua na nossa. Lá nos 
anos 60, o texto verbal anU11ciava uma forma de pensa111ento 
traduzida discursivamente que antecede sua produção. Assim, o 
texto a que tivemos contato caracteriza-se como um interdiscurso, 
um conj11nto de formulações já existentes sócio historicamente 
que se traduzem em um novo texto. 
Assi1n como a interdiscursividade, enq·uanto me1nória, 
nos faz considerar acontecimentos passados con10 matéria para 
os novos, també111 é esqueci111ento, outro aspecto importante da 
Análise do Discurso que conheceremos agora. 
Quer saber mais sobre a interdiscursividade na Análise do 
Discurso? Acesse ao vídeo ''Interdiscurso e memória discursiva'', 
disponível no Youtube por meio do Link: http://bit.ly/2HBguuK 
___ 4o_) ( Análise do Discurso 
Para Pêcheux (1975) existem dois tipos de esqueci1nento 
no discurso, são eles: 
1. O esquecimento número dois, da ordem da enunciação: 
Ao falannos se1npre opta1nos por uma forma e não outra. 
No entanto, o que dizemos se1npre poderia se dito de outra 
maneira, com outras escolhas linguísticas. Ao falarmos ''Feliz'', 
podería1nos ter optado por ''alegre'' ou ''co11tente'', por exemplo. 
Entretanto, nós ne1n sempre temos consciência disso. Este 
''esquecimento'' é pai·cial, semiconsciente, que exemplifica que 
o modo de dizer tudo tem a ver com os sentidos. 
2 O 
ideológico: 
. , . 
esqt1ec1mento numero um, ou esquecimento 
Instância do inconsciente, é resultante do modo como so1nos 
afetados ideologicamente. Por ele temos, quando elabora1nos 
um discurso, a ilusão de se1mos 01;ginais, os prin1eit·os a dizer/ 
escrever/falar, etc. No entanto, quando nasce1nos, os discursos 
já estão e1n processo, apenas entramos no movimento. Na 
verdade, a língua se materializa em nós e o esquecimento 
é, voluntariamente, uma necessidade para que a linguagem 
funcione na prod·ução de sentidos e st1jeitos: retomando palavras 
já existentes co1no se fosse1n deles e, assim, 1novimenta11do as 
possibilidades da linguagen1. 
Análise do Disc11rso J (_4_1 __ _ 
Outros aspectos relevantes à análise do 
discurso 
Ao té1111ino deste capítulo você será capaz de entender e aplicar 
as técnicas e métodos necessários para a implementação de 
projetos em HCD, ou seja, projetos de desenvolvi1nento de 
produtos centrados no humano. 
Além dos aspectos supraditos, outros se fazem importantes 
para uma compreensão mais completa em relação à análise do 
Discurso, são eles: Paráfrase e Polissemia; Formação Discursiva 
e Ideologia e sujeito. Ire1nos, agora, vê-los um por um, antes de 
concluinnos nosso estudo. 
■ Paráfrase e Polisse111ia 
Quando pensamos a linguagem de maneira discursiva, é 
itnpossível dissociar essa compreensão da tensão entre processos 
parafrásticos e polissêmicos. Para Orlandi (2007, p.36): 
Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais 
em todo dizer há se1npre algo que se manté1n, isto 
é, o dizível, a 1nemória. A paráfrase representa 
assi111 o retorno aos mesmos espaços do dizer. 
Produzem-se diferentes formulações do mesmo 
dizer sedimentado. A paráfrase está do lado da 
estabilização. Ao passo q11e, a polissemia, o q11e 
temos é deslocamento, ruptura com os processos 
de significação. Ela joga com o eq11ívoco. 
Ou seja, se1npre falamos algo dito,porém, pela polissemia, 
, 
esse algo dito se transfo1111a em outro. E assim que os sujeitos 
___ 42_) ( Análise do Discurso 
(re) significa111 e (se) significa1n a todo instante. Dessa maneira, 
acaba1nos por concluir que a incompletude é condição para a 
linguage111: os discursos (sujeitos e sentidos) já estão prontos, 
contudo, eles estão sempre se refazendo, em um movimento 
constante da histó1ia e do simbólico. 
F armação Discursiva 
A noção de F armação Discursiva é basilar na Análise do 
Discurso, e o porquê é si1nples: é ela que permite entender o 
processo de produção de sentidos e sua relação com as questões 
ideológicas. 
A f armação disct1rsiva é definida por meio de t1ma 
formação ideológica dada, ou seja, a partir de um contexto sócio 
histórico dado, qt1e define o q11e pode e/ou deve ser dito. Para 
compree11de11nos 1nell1or como isso funciona, prestemos atenção 
nos dois pontos a seguir: 
a O discurso se constitui em seus sentidos: 
Isoladas, as palavras não possuem sentido nelas mesmas, 
é necessária uma conjuntl1ra na qt1al o sujeito se insere em 
t1ma dada formação discursiva e não em outra, para atingir t1m 
sentido ao invés de outro. Ou seja, as fo1mações ideológicas são 
representadas pelas f armações discursivas que as inscrevem. 
Daí ven1 o peso da ideologia. Para Orlandi (2007p. 43): 
Os sentidos se111pre são determinados 
ideologicamente. Não há sentido que não o seja. 
Tudo o que dizemos tem, pois, u1n traço ideológico 
em relação a outros traços ideológicos. E isto não 
está na essência das palavras 1nas na discursividade, 
isto é, na maneira como, no discurso, a ideologia 
produz efeitos, materializando-se 11ele. O estudo 
do discurso explicita a maneira como a linguagem 
e ideologia se articula1n, se afetam em sua relação 
, 
reciproca. 
Análise do Disc11rso J ( ___ 4_3 ___ _ 
Ou seja, todas as nossas escoll1as discursivas, tudo o que 
falamos ou escreve111os, a maneira con10 nos posicionamos, 
sempre estará co1Telacionada a uma dete11.11inada ideologia. As 
ideologias regem, portanto, nossas formações discursivas. 
b Os diferentes sentidos são assimilados pela referência a 
uma formação discursiva: 
As palavras, 1nes1no sendo iguais, podem significar coisas 
diferentes dependendo da formação disctrrsiva e1n que estão. Por 
exemplo, a palavra ''Floresta'' não significa a mesma coisa para 
um produtor rural, para um índio ou um cidadão. Além disso, 
alterada sua letra inicial entre maiúscula e minúscula, podemos 
obter novos sentidos. 
O analista do discurso, aqui, tem papel fu11da1nental para 
a co1npreensão: ele precisa observar as condições de produção 
do texto, verificando sempre o funciona111ento da me1nória; além 
disso, ele necessita verificar o porquê dessa formação discu1·siva 
(ao invés de outra), para assimilar os sentidos ali presentes. 
Para Orlandi (2007), o sentido que, na verdade, é efeito 
ideológico, não nos deixa perceber, e1n uma primeira análise, 
set1 fundo material, histórico. Porém, todo s11jeito, carregado de 
ideologia traz, obviamente, uma l1istoricidade e1n construção 
que aliinenta essa mesma ideologia. Assin1, Ideologia e sujeito 
caminham juntos e, por isso, a pa1iir de agora, caro aluno, iremos 
conhecer um pouco mais sobre esses dois princípios importantes 
à Análise do Discurso. 
■ Ideologia e Sujeito 
, 
E interessante perceber como a Análise do Discurso 
ressignifica a noção de ideologia por meio dos estudos da 
linguagem. Dessa fonna, a ideologia passa a ser definida 
ideologicamente e é isso que veremos a seguir. 
Segundo Orlandi (2007, p.44), o fato de que não há sentido 
sem o 1novimento de interpretação evidencia a presença da 
ideologia. Sempre, e1n contato com um objeto simbólico, há no 
___ 44_) ( Análise do Discurso 
home111 a 1notivação para se perguntar: ''o que isso quer dizer?''. 
Nesse contexto, no ato de interpretar o sentido surge con10 
evidê11cia, co1110 se ele sempre tivesse estado lá. O trabalho da 
ideologia, nesse contexto, é colocar o homem em uma relação 
imaginária com suas condições existenciais e materiais. 
A ideologia, portanto, passa a ser condição para a 
constituição de sujeitos e sentidos. Para Orlandi (2007, p.46): 
O indivíduo é interpelado em sujeito pela 
ideologia para que se produza o dizer. Partindo 
da afirmação de que a ideologia e o inconsciente 
são estruturas-funcionamentos, M Pêcheux diz 
que sua característica comum é a de assimilar 
sua existência no interior do seu próprio 
funcionamento, produzindo um tecido de 
evidências ''subjetivas'', entendendo ''subjetivas'' 
( ... ) co1110 ''nas quais se constitui o sujeito." 
Assim, a subjetividade, enquanto constituinte do sujeito, 
está para a ideologia do que ele pretende dizer. Entretanto, ao 
se colocar enquanto sujeito, muitas vezes o homem apaga o fato 
de que é interpelado pela ideologia. Esse apaga1nento já nos foi 
colocado aci1na: o l1omem acredita estar dizendo algo novo, 
nunca antes pronunciado. 
Para o analista, nesse sentido, entender ideologia enquanto 
relação necessária entre mundo é linguagem é fundamental. 
E11quanto analistas, pode1nos nos perg11ntar: Como a 
ideologia atua na cl1arge abaixo? 
Análise do Disc11rso J ( ___ 4_5 ___ _ 
OI, MIGU&l.l'TOt COIS-' 
80A NA TV ? __-
AC'AIM;l OE 
l.l~AR 
MAS PAR6Ce Q\JE se vo~ PASSA 0Es::>DORANT6, 
DEPOIS COME SAI.SICHAS li AÍ COMPRA. UMA I.\A'QUINA pe 
I.AYAA ROUPAS, SÓ NJI::> f f'El.1% SE FOR MUITO IDIO'TA 
Fonte: Charge Mafalda 
Considerando o ''esqueci1nento'', para nós, enquanto 
sujeitos, a resposta de Miguelito poderia ser inocentemente a 
co1npreensão de u1n todo 01iginal, ''novo'' do que está passando 
na TV. Entretanto, a charge acima ultrapassa esses lilnites 
ao ii·o11izar a ideia de felicidade vendida nas propagandas e 
programas de TV. 
Nesse sentido, a formação discursiva, se analisada por 
esse viés, revela 11m sentido novo pertencente a 11ma ideologia 
do1ninante nos dias atuais que está aparente1nente velado na 
resposta do personagem: O consumo, incentivado co1no gerador 
de felicidade em nossa sociedade capitalista das mais diversas 
fonnas. 
Para Orlandi (2007, p.47) o sentido, 
, 
E assim uma relação determinada pelo sujeito-, 
afetado pela língua- com a história. E o gesto da 
interpretação que realiza essa relação do s11jeito 
com a língua, com a histó1·ia, com os sentidos. Esta 
___ 46_) ( Análise do Disct1rso 
é a 1narca da subjetivação e, ao 1nes1no tempo, o 
traço de relação da líng11a co111 a exterioridade: 
não l1á discurso sem sujeito. E não há sujeito sen1 
ideologia. 
Nós, enquanto sujeitos, somos fo1mados pela ideologia e 
história que nos cerca, e esses dois elementos são, mesmo que 
inconscientemente, norteadores do 11osso discurso. Muitas vezes 
é só pela interpretação, na busca pelo sentido do que dissemos, 
fala111os ou agimos, que compreenden1os a ( s) origen1 ( s) daquele 
discurso. 
Por fim, é importante esclarecer que o trabalho com a 
ideologia é um trabalho baseado na memória-esqueci111ento. , 
E j11sta1nente o esq11ecin1ento q11e inativa a il11minação de 
qualquer discurso proposto. No pensar, por exe1nplo: ''Por que 
':ft1lano' se colocou dessa fo11na?''; ''Por que eu me posicionei 
dessa maneira''? temos o primeiro passo para a investigação 
da fo1111ação discursiva de dete11ninado contexto, cl1ega11do às 
conclusões ideológicas na consttução de sentidos. 
Após essa produtiva imersão teórica em relação à Análise 
do Discurso, nos perguntamos: Q11ais as consequências dessa 
perspectiva teórica? Ire1nos, agora, indicar algwnas: 
1 AAnálise do discurso, ao unir campos de conhecimento, 
rompe suas fronteil·as e elege um novo recorte de disciplinas, 
constituindo um novo objeto de estudo: o discurso; 
2. Para a Análise do Disctrrso, não há apenas trans1nissão 
de informação, muito menos linearidade nos ele1nentos 
comunicacionais. Para ela, a língua não é apenas 111n 1nero código, 
e1n que se separa e1nissor e receptor; em que u1n fala e outro, 
na sequência, decodifica. Não há transnússãode informação 
apenas, há um co1nplexo processo de formulação de sujeitos que 
produzem constantemente sentidos; 
3. A líng11a, para a Análise do Discurso, tem s11a ordem 
própria, porém, é relativa1nente autônoma; 
Análise do Disc11rso J ( ___ 4_7 ___ _ 
4. Na perspectiva discursiva, o sujeito da linguagem se 
constitui enquanto descentralizado, pois é afetado pelo real da 
língua, bem co1no o real da história, e o modo como essas o 
afetam não pode ser controlado por ele. Isso possibilita concluir 
que o sujeito discursivo age pela ideologia e inconsciente; 
5. Por fim, pode1nos concll1ir ql1e na Análise do Discurso 
''E1n seu quadro teórico, nem o discurso é visto como uma 
liberdade em ato, totalmente sem condiciona11tes linguísticos 
( ... ) ne111 a língua co1no fechada em si n1es1na, sem falhas ou 
eqt1ívocos." (ORLANDI, 2007, 22). A língua, assi111, sempre 
será condição para a oportunidade do discurso. 
Análise do Disc11rso J ( ___ 4_9 ___ _ 
___ so_J ( Análise do Discurso 
--
INTRODU AO 
Você sabia que a área da Linguística é u1na das mais 
importantes para o conl1ecime11to da Língua? Já tive111os um 
conhecimento introdutório desse conteí1do na unidade anterior. 
Nesta, daremos ênfase às grandes perspectivas e teorias que 
fundamentam a Análise do Discurso, tendo a opo1·tunidade, 
ao final do estudo, de compreender como essa perspectiva 
da Ling11ística funciona, e co1no ela é estudada por diversos 
filósofos/ pesquisadores. A segt1nda u11idade to1na-se um 
preparativo para os estudos aprofundados da Análise do Discurso 
que virão adiante, já que parte das noções de Enunciação, 
pragmática, argU1ne11tação e discurso, até chegar àAnálise crítica 
do Discurso. Ao longo desta unidade letiva você vai 1nergulhar 
nesse universo ! 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_1 ___ _ 
OBJETIVOS 
Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2. Nesta 
unidade, o nosso objetivo é auxiliá-lo 110 desenvolvimento das 
seguintes competências profissionais: 
Compreender como fiincionam os critérios de 
Enunciação, pragmática, argumentação e discurso; 
Entender as perspectivas teóricas q11e penneiam o 
estudo da (s) ideologia (s) dentro do u11iverso da 
ciência da linguagem; 
Conceber as vertentes da Análise do Discm·so, 
a saber: a linha americana, bem como a linha 
francesa; 
Investigar como surgiu e Análise Critica do Discurso 
e co1no ela funciona e11quanto colaboradora para 
a visão critica dos discursos ideologicamente 
produzidos na sociedade, principalmente aqueles 
que oprimem sujeitos. 
E11tão? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao 
conhecimento? Ao t1·abalho! 
___ s2_) ( Análise do Discurso 
Enunciação, Pragmática, Argumentação, 
Discurso 
Caro aluno (a), ao tén11ino deste capítulo você será capaz 
compreender as diversas vertentes que embasa1n a Análise do 
Discurso, além de entrar em contato com as linhas de Análise 
tanto americana, quanto francesa. Isso será ft.1ndamental para a 
compreensão de uma das grandes correntes de estudo do curso 
de Letras, responsável por grande parte das pesquisas na área, 
bem como contribuirá para exercício de sua docência e111 sala 
de at1la. E então? Motivado para desenvolver essa competência? 
Vamos lá. Avante! 
Enunciação 
Olá, alt1nos (as)! Ainda na unidade I tivemos a oporh1nidade 
de conhecer de 1naneira introdutória a teoria da Enunciação. 
Va1nos relembrá-la? 
A teoria da Enunciação, proposta por Benveniste, baseia­
se, resu1nidamente, nos quatro pontos abaixo colocados: 
1 
• Reconhece o sistema da língua enquanto uma 
instância do discurso. Nesse sistema, sujeito e subjetividade são 
significativos; 
2. A significação da língua só se dá por meio do discurso, 
ou seja, por 1neio da enunciação desse; 
3 O sujeito, na teoria da Enunciação, é o foco: Ele é quem 
atualiza o sistema linguístico, articulando e significando; 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_3 ___ _ 
4. O quadro formal da ent1nciação é o eu-tu-aqui-agora, 
considerando índices de pessoa, espaço/tempo, referindo-se, 
sempre, a ent1nciação. A subjetividade, enquanto aparelho 
formal da Enunciação, é semp1·e universal (todos nós temos), 
porém, set1 uso é sempre individual, mesmo que o propósito da 
. . . - . . . . 
teoria ent1nc1at1va nao seJa o st1Je1to em s1, antes, as suas marcas 
no ato da enunciação. 
Revisadas as características básicas da Enu11ciação, 
partiren1os agora para a compreensão de co1no ela funciona 
de11tro do universo da Análise do Discurso, 111ais especificamente 
em relação à argumentação, ou seja, à Semântica da Enunciação. 
Para a se111ântica fon11al, a verdade está fora da li11guage111, nesse 
sentido, a língua seria apenas um meio para alcançá-la. Esse 
conceito é fundamental para entender a Semântica da Enunciação, 
posto qt1e, para essa ''A linguagem constitui o mundo, por isso não 
é possível sair fora dela'' (OLIVEIRA, 2006, p .19). 
■ Por que será, então, que a Semântica formal coloca os 
sentidos como sendo exteriores à língua? 
Geralmente, quando falamos ou escrevemos usamos 
te1n1os dêiticos, ou seja, que faze111 referência a algo externo 
ao discurso. Como por exemplo te1nos os pronomes isto, eu, 
você, etc. Esses geralmente passam a ilusão de que estamos nos 
referindo a algo externo à língua. 
___ 54_) ( Análise do Discurso 
Quer saber mais sobre a dêixis linguística? Acesse o vídeo 
http://bit.ly/2vGcQNE. Disponível no Yot1tt1be. 
E11tretanto, se111pre estamos nela e por/para ela. Veja1nos 
como Oliveira (2002, p.20) esclarece essa perspectiva: 
A semântica Formal, diz Ducrot, cai na ilusão, 
criada pela própria linguagem, de que ela se 
refere a algo externo a ela mesma, de onde ela 
retira a sua st1stentação. A linguagem, afirma 
Ducrot, é t11n jogo de argumentação e11redado em 
si 111es1110; não fala1nos sobre o 1nu11do, falamos 
para construir um mundo e a partir dele tentar 
convencer nosso interlocutor da nossa verdade, 
verdade criada pelas e nas nossas interlocuções. A 
verdade deixa, pois, de ser t1m atributo do mundo 
e passa a ser relativa à comunidade que se forma 
na argumentação. Assim, a linguage1n é u1na 
dialogia, ou melhor, uma ''argumentalogia'', não 
fala111os para trocar informações sobre o 111undo, 
n1as para convencer o outro a entrar no 11osso jogo 
discursivo, para convencê-lo de nossa verdade. 
Ou seja, a linguagem é constitt1ída no diálogo, na busca, 
por meio da construção de argt1mentos, de inserir o outro, o 
interlocutor, 110 nosso inundo, 11a 11ossa verdade. 
Para as atuais concepções da Semântica da E11unciação, 
um enunciado é construído por diversos enunciadores que, 
concomitantemente, formam o espaço discursivo pelo qual o 
diálogo vai se desenvolver. 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_s ___ _ 
Veja1nos o enunciado abaixo: (Considere os El, E2, e E3, 
enquanto ent1nciadores. 
O governador de São Paulo é Sociólogo 
E 1 : Há um e apenas uma pessoa. 
E2: Esta pessoa é um governador. 
E3: Esta pessoa é um sociólogo. 
No enunciado em negrito comprometemos nosso ot1vinte 
cotn o fato de que existe um único governador para São Paulo. 
Esse enunciado é polifônico (gera vários enunciadores) posto 
que encerra várias vozes. Acima temos um diálogo entre 
enunciadores, que pode gerar diálogos por n1eio, por exemplo, 
de negações polêtnicas ou metalinguísticas. Se negamos o El, 
estamos concretizando uma negação polêmica, mas ele pode 
negar o posto, portanto, dentro de 11m contexto pode fazer 
sentido; se negamos o E3, temos u1na negação metalinguística. 
Vejamos outro exemplo: 
Maria parou de fumar 
E 1: Maria fumava. 
E2: Maria não fuma mais. 
Essa seg11nda enunciação traz 11m enunciador que afirma 
que 1na1-ia fu1nava, tratando-se de um pressuposto, e outro 
que afirma que ela não fuma mais, concretizando o posto. Ao 
negar111os a fala do primeiro enunciador, faremos uma negação 
polêmica; se negamos o que está posto, faremos uma negação 
metalinguística. 
___ 56_) ( Análise do Discurso 
Assi1n, para a Semâ11tica da Enu11ciação, as diferentes 
leituras explica111-sepela polissemia, ou seja, 11m 111esn10 
enunciado que pode gerar 111últiplos sentidos, 111as que se 
correlacionam. 
Sobre os tipos de negação, vejamos esse outro enunciado: 
Imagine que alguém diz que sua bicicleta está estacionada 
em lugar errado, assim, você pode responder: 
Não, minha bicicleta não está estacionada em lugar 
errado (porque eu não tenho bicicleta). 
Nesse caso, você estaria fazendo uma negação polêmica, 
já que está negando o q11adro linguístico formado pelo se11 
interlocutor, ou seja, nego o enunciador que acredita que a 
bicicleta seja sua. 
Imagine agora que dessa vez você tem bicicleta: 
Não, minha bicicleta não está estacionada em lugar 
errado (Porque está no lugar certo). 
Nessa situação temos uma negação metalinguística: o 
locutor retoma a fala do interlocutor, que coloca que a bicicleta 
está no lugar errado, para negá-la. 
Ducrot 1979, ainda evidencia um terceiro tipo de 
negação, a descritiva. Nesse tipo o locutor descreve u1n estado 
de ser negativamente, ou seja, na sua enunciação não há outro 
enunciador que o negue. Como exemplo, temos: 
Não há sol hoje. 
Podemos observar que não há reto1nada da fala do outro, 
1nas a apresentação negativa de u1na descrição. Assim, a negação 
é, ''pois, um fenômeno de polisse1nia que, como dissemos, define­
se por ide11tificar usos distintos não relacionados'' (OLIVEIRA, 
2006, p. 31 ). 
Já e1n relação a diferença de significados produzidos 
pelos variados tipos de enunciados te1npos, na lingt1ística, o q11e 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_7 ___ _ 
chama1nos de Prag1nática, próxi1no ponto a ser estudado nessa 
unidade. 
Pragmática 
Caro aluno ( a), para esclarecer os diferentes significados 
que pode111 ser gerados pelos enunciados, o que co11cretiza o que 
chamamos de Pragmática, José Luiz Fiorin, em ''Pragmática'' 
(2007), utiliza um dos interessantes trechos de ''As aventuras de 
Alice'', de Lewis Carroll. Vejamos: 
-Veja, agora a senhora está bem nielhor! Mas, 
francamente, acho qite a senhora devia ter uma 
dama de companhia! 
-Aceito-a com todo pr·azer! - Disse a Rainha. -
Dois pe,ice por semanas e doces todos os outros 
dias. Alice não pôde deixar de r·i1~ enquanto 
respondia: Não estou me candidata1ido.. . e não 
, 
gosto tanto assim de doces. - E doce de muito 
boa qitalidade- Afirmou a Rainha. -Bom, hoje, 
pelo menos, não estou querendo. -Hoje você não 
poderia ter, ne1n pelo nienos nem pelo mais- Disse 
a Rainha. - A regra é: doce amanhã e doce ontem 
- e nitnca doce hoje. - Algumas vezes tem de ser 
''doce hoje''- Objetou Alice. - Não, não pode­
Disse a Rainha. Tem de ser senipre doce todos os 
outros dias; ora, o dia de hoje não é outro dia 
qualquer, como você sabe. 
Pa1·a Fiorin (2007), Alice e a Rainha discutem, nesse 
trecho, sobre o sentido de palavras como hoje e outro. Para 
elucidar a questão dos diferentes significados de um discurso, 
o at1tor elege a palavra hoje. Para a Rainha, o significado das 
palavras onte1n, hoje e amanhã são fixos. Nesse caso, se a reg1·a 
é doce onte1n e amanl1ã, Alice não poderá nunca comer doces, 
já que está sempre no hoje. Já Alice entende que o sentido das 
___ ss_) ( Análise do Discurso 
palavras em 11egrito está relacio11ado ao ato de produção de um 
enunciado e, assi1n, por vezes há de ser ''ten1 de ser doce hoje'', 
já que l1oje é o dia em que o ent1nciado é pronunciado. 
Para Alice, segundo Fiorin (2007), o termo hoje se concretiza 11a 
, 
relação com a situação de comunicação. E por 1neio dela que o 
significado dessa palavra pode ser inteiramente comp1·eendido. 
Buscando uma análise pragmática eficiente, a consciência 
do enunciado ( estudado anteriormente) enqt1anto uma realização 
linguística concreta é fundamental. Se considerado a teoria do 
Enunciado, há de fazermos jus a ciência de que 11un1a situação 
de comunicação existe: eu/tu; espaço ( advérbios de lugar e 
prono1nes demonstrativos co1no aqui, este, lá, esse); marcadores 
de tempo, co1no exemplo os termos l1oje e ontem. Inclusive, 
tlm dêitico como esses só pode ser entendido dentro da situação 
de comt1nicação, assim, a pragmática parte do entmciado em 
direção ao lugar 110 qual esse foi ou está sendo produzido. 
Observe o enunciado: 
Anteontem andei muito por aqui. 
Só pelo enunciado não dá para saber o sentido, por 
exemplo, do anteontem, do eu e do aqui: é necessário conhecer 
a situação comunicacional para poder encontrar os sentidos 
dos enunciados, principalmente, os que fazem uso de tennos 
dêiticos, como o acima exemplificado. 
Surge, então, a pergunta: de maneira prática, con10 
pode111os, enqua11to analistas do discurso, fazer uma análise 
pragmática? 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_9 ___ _ 
Para Benveniste (1966), existem três categorias 
relacionadas ao Enunciado que são fundamentais para uma 
análise prag1nática, são elas: A pessoa, O tempo e o Espaço. 
Vejamos cada uma, agora, de maneira detalhada: 
■ Apessoa: 
Para Benveniste ( 1966) as três pessoas do disctrrso não 
possuem o 1nes1no estatuto. Há semelhanças e11tre o eu e o tu, já 
que são sempre os participantes da comunicação. Entretanto, o 
ele pode ser qualquer ser ou não designar nenhum. Além disso, 
enquanto que entre o eu e tu há reversibilidade ( quando você 
fala com alguém, ela é o tu, quando ele te responde, você passa 
a ser o tu e ela, o eu), para o ele isso é impossível. 
, 
E i1nportante entender que: ''é a situação de enunciação que 
especifica o que é pessoa e o que não é pessoa ( .. . ) Chamare1nos, 
então, de pessoa enu11ciativa aquelas que participam do ato de 
comunicação." (FIORIN, 2007, p. 164). 
■ O tempo: 
O te1npo da língt1a é diferente do tempo cronológico e/ 
ou fisico: ele é ligado ao exercício da fala, ou seja, o agora é 
reinventado a cada enunciado, e cada ato de fala constitui um 
novo tempo. Dessa maneira, Fio1in (2007, p. 167) dete1mina a 
análise do tempo do enu11ciado considerando: 
ME- Mo1nento da enunciação; 
MR-Momento de referência (presente, passado, 
futuro); 
MA- Momento do acontecimento (Concomitante, 
anterior, posterior, etc., a cada momento de 
referência). 
O tempo é, ' 'pois, a categoria linguística que marca se 
um acontecimento é concomitante, anterior ou posterior a cada 
um dos momentos de referência (presente, passado e futuro), 
___ 60_) ( Análise do Discurso 
estabelecidos e1n função do mo1nento da e11unciação''. (FIORIN, 
2007, p. 167) 
O espaço 
Para Fiorin (2007), o espaço lingtiístico se ordena por meio 
do tempo (hic ), ou seja, o lugar do eu/tu (ego). Tudo é assim 
localizado, sem que haja necessariamente 11ma i1nportância para 
seu lugar fisico no inundo, isso, pois 1nais importante é aquele 
que os situa, já q·ue se toma centro da referência de localização. 
Pai·a observamos o espaço, precisamos atentar para 
os pronomes demonstrativos e alguns advérbios de lugar, 
considerando qtie esses, por vezes, são dêiticos. 
A atenção dada ao espaço, tempo e pessoa, unidas 
à consideração dos contextos do enunciado, ( entenda, po1· 
exemplo, a importância de compreender os dêiticos para 
significar o discurso, algo já discutido acima!) co11cretizam o 
que chamamos de Análise pragmática das categorias discursivas. 
Essas, por consequência, podem constituir a argumentação, algo 
que entenderemos com mais clareza a partir do próximo tópico. 
Argumentação 
A Argumentação para a linguística foi teorizada pelos 
franceses Jean-Claude Anscombre e Oswald Ducrot. Para 
esses, considerando ainda que a língua ft1nciona dentro dela 
1nesma, sem a i11fluência de ele1nentos exteriores, todo o uso da 
linguage1n é argumentativo, ou seja, direciona e/ou projeta de 
maneira ideológica o seguimento do discurso. 
Pai·a compreender melhor a Teoria da Argumentação, 
vejamos como essa se deu por1neio de fases, qtie listare1nos abaixo: 
■ 1 ª fase: Articulação de enunciados 
Nessa fase, os teóricos da Argumentação, segundo Grácio 
(2015), debruçaram-se sobre as chamadas ''palavras vazias'', as 
que utiliza111os para conectar enunciados, como por exe1nploAnálise do Disc11rso J ( ___ 6_1 ___ _ 
os conectores logo, mas, po1ianto, no entanto, etc. A eles foi 
atribuída uma valência argumentativa devido sua capacidade de 
linguistican1ente co11dicionar o discurso. 
Para entender melhor como funciona, observemos os 
enunciados abaixo: 
(1) Esse restaurante é bom, mas caro. 
(O operador argumentativo <mas> remete de maneil·a 
expectável a sequê11cia do discurso lógico <não vamos>. A 
argumentação, portanto, está na língua) 
■ 2a fase: Uso das palavras como ''Topai'': 
Considerando ainda o exe1nplo acima citado, observemos 
o próprio t1so da palavra, no caso <caro>. A escolha dessa 
palavra, nessa segunda fase, é desde o p1mcípio argumentativa, 
já que classifica e, consequente1nente, significa, algo ou alguém. 
Ou seja, a interpretação parte não só da escolha dos conectores 
co1110 ta111bém da opção por esta ou aquela palavra que f armará 
o enunciado. 
■ 3ª fase: Teoria dos blocos semânticos: 
Obse1-vemos o segt1inte enunciado: 
Você dirige depressa, corres o risco de sofrer um 
acidente 
Acima, podemos perceber que há um encadeamento 
discursivo: o primeiro enunciado <você dirige depressa> gera 
concomitante1nente t11na conclusão <corres do risco de sofrer um 
acidente>. A possibilidade de encadeamento parte da conexão 
entre preposições, que articulam blocos. 
___ 62_) ( Análise do Discurso 
Discurso 
Uma questão importante que une as três teorias acima 
trabalhadas - a lembrar: O Enunciado, a pragmática e a 
Argumentação - é a questão da língua por ela mesma, ou seja, 
não há uma relação exterior, seus significados se encontram 
dentro dela. 
Figura 1 
Fonte: Freepik 
■ Por que lembrar dessa concepção em particular é 
importante? Porque, para ingressarmos de maneira completa 
na Análise do Disc11rso, percebere1nos que os estudos em tomo 
do discurso darão uma nova ênfase a essa anterior concepção: 
enunciados e interpretações ultrapassarão os limites do texto para 
ganhar possibilidades interpretativas na 111ate1ialidade histórica. 
Como colocado aciina, para a teoria do Discurso o sistema 
, 
linguístico por si só não ence1Ta significados da linguagem. E 
preciso, para além do sistema da língua, observar seu exterior, a 
história. Orlandi (1998), incl11sive, observa que uma das tarefas 
do analista do discurso é compree11der a relação proposta entre 
real da língua x real da história, ou seja, a produção de sentidos 
parte da relação entre história e sujeito. 
A Perspectiva discursiva, nesse sentido, para Orlandi 
(1998) considera a língua como uma estrutura que é regida por 
leis internas, que se soma aos acontecimentos circ·unscritos na 
Análise do Disc11rso J ( ___ 6_3 ___ _ 
história. Assim, o discurso materializa-se na língua. F oucault 
(2004) nessa conjuntura, amplia a teoria da Enunciação ao pensar 
que os enunciados são pronunciados e111 um determinado te111po 
histórico, considerando, aqui, a posição que o sujeito assumiu 
e o domínio de determinado conhecimento para produzir 
determinado en11nciado. 
Obse1-vemos abaixo o poema ''A rosa de Hirosl1ima'', do 
poeta e co1npositor Vinicius de Morais: 
Penseni nas crianças 
Mudas telepáticas 
Pensem nas meninas 
Cegas inexatas 
Pensem nas mulheres 
Rotas alteradas 
Pensem nas feridas 
Co,no rosas cálidas 
Mas oh não se esqueçam 
Da rosa da rosa 
Da rosa de Hiroshima 
A rosa hereditária 
A rosa radioativa 
Estúpida e inválida 
A rosa com ci,,.rose 
A antirrosa atômica 
Sem cor sem perfu,ne 
Sem rosa sem nada. 
Considerando a Teoria do Disc1rrso, o poe1na acima, para 
Foucault (2004) poderia ser concebido co1no um constructo de 
fatores sociais, históricos e institucionais. Para que esse discurso 
produzido por Vinícius pudesse ser enunciado, existiu uma força 
histórica agindo sobre ele. 
___ 64_) ( Análise do Discurso 
Adaptemos a propositura Foucaultiana: Por que esse 
poe111a só surgit1 agora e por que não teria surgido outro em set1 
lugar? Araújo (2008, p. 220) afirma que: ''[ ... ] para a história 
das ideias importa o que disse um sujeito, com suas intenções, 
ou mesmo com o jogo do inconsciente, de modo que é preciso 
resgatar st1a palavra, set1 texto, como interpretá-lo correta1nente." 
Assi1n, no poe1na em questão, Rosa de Hirosl1i1na só 
poderia ter surgido pela motivação histórica pela qual sofreu 
Vinícius de Morais, que estava inserido no mo111ento histórico 
do fim da Segunda Guerra Mt1ndial, e111 que o Estado Unido deu 
um ''Golpe de Misericórdia'' no Japão enviando duas bombas 
atômicas de proporções catastróficas (metaforizadas pela figura 
da ''rosa'', no poema). 
I11tencionalmente, o eu-lírico, para a Teoria do Discurso, 
utiliza do jogo dos enu11ciados unido à l1istória, assim: para 
o contexto do ano de 1945 o poe111a produzido por Vinícius é 
completo: Significa um ato de protesto às atrocidades da guen·a. 
Dessa maneira, faz sentido Foucault (2004) afirmar que criar 
enunciados em dado contexto é ver como as práticas discursivas 
agem para produzir dizeres; é entender como surgit1 a possibilidade 
de aparecerem detenninados dizeres em de1narcadas épocas. 
Até aqui vin1os que as teorias da Enunciação, Prag1nática e 
Argumentação são impo1iantes conceitos chave para embasar a 
teoria do Discurso, que amplia questões centrais a perspectiva 
da lingt1agem não só como elaborada e1n si mesma, 1nas também 
como u1n conjunto de fatores sociais, culturais e históricos, que 
permeia1n os ent1nciados prodt1zidos. 
Análise do Disc11rso J (_6_5 __ _ 
Perspectivas teóricas (Significado de 
Ideologia) segundo: Althusser, Ricoeur, 
Foucault, Pêcheux 
Esclarecidas as questões em relação ao foco da Teoria do 
discurso, 1nergulharemos agora, caro aluno (a), em um 
dos quesitos importantes na produção do discurso, que 
possui diversas perspectivas de abordagem pelos grandes 
estudiosos da linguagem: A ideologia. Esse conhecimento foi 
visto superficialmente na nossa Unidade I, agora teremos a 
oporh1nidade de conhecer de maneira aproft.1ndada como as 
ideologias funcionam. Me acompanham nessa empreitada? 
A ideologia segundo Althusser 
Para Sampedro (201 O), Althusser trabalhou o conceito de 
Ideologia com base em duas vertentes: a primeira, que trata da 
relação entre a ciência da história e ideologia, o que chamamos 
1nais especificamente de Materialismo histórico; e t1ma segunda, 
mais prática, em que há uma nova filosofia de produção de 
conhecimento: o 1naterialismo dialético. Para Althusser, a 
ciência da história (pratica teórica) compo1ia sobretudo uma 
pa1·te pré-científica, ou seja, a Ideologia, o que faz com que 
con·entes científicas co1no o empirismo, a fenomenologia e 
a etnometodologia, por exemplo, são embasadas não só pelo 
1nomento histórico que as cercam como, principal1nente, pela 
corrente de pensamento ideológica que as fez surgir. 
Para compreender como isso oco1Te, Althusser ( 1986) 
estabelece três mo1nentos de Generalidade, a saber: 
___ 66_) ( Análise do Discurso 
Generalidade I: 1natéria pri1na ideológica 
Generalidade II: Conceitos já construídos 
Generalidade ill: O conceito científico que parte das 
duas outras generalidades. 
Segundo Altl1usser, a relação entre ciência e ideologia, 
1nesmo que conflituosa, é interdependente, já que a ciência surge 
por meio de pré-noções científicas, ideológicas. Como coloca 
Sampedro (2010, p.33): 
Se toda ciê11cia 11asce e se desenvolve excluindo a 
ideologia, também é certo que as noções próprias 
da ideologia se descrevem co1no indicadores da 
ciência, no sentido de que a ciência produz o 
conheci1nento de um objeto cuja existência está 
indicada na região da ideologia. Isso implica que a 
ideologia seja sempre ideologia para uma ciência. 
Para Althusser, toda e qualquer ciência, principalmente, 
a da História, possui u1na pré-noção que a fomenta essa 
parte da ideologia pela qt1al os cientistas transitam, 1nesmo 
que conscientemente eles negue1n tal consideração, ou seja, 
politicamente inflexível. 
Assim, para esse teórico, mesmo que a ideologia nãoseja 
assumida pelas vertentes científicas (esteja vigente no presente 
histórico), ela pode, ao 111e11os, exprimir as atuais situações 
históricas, já que a ideologia é ao mesmo tempo fechada 
teorica1nente e politica1nente adaptável e maleável. Assi1n, ela 
é passível de mudança, como colocaAlthusser (1980, p. 87): ''A 
ideologia muda, pois, mas imperceptivelmente, conservando, a 
forma de ideologia; ela se move, mas com um movimento imóvel, 
que amantén1no 1nesmo lugar, em seu lugar e função de ideologia'' 
No sentido prático, a Ideologia para Altht1sser é: 
■ Um modo de produção, assim como o político,jurídico, 
etc. ; 
Análise do Disc11rso J ( ___ 6_7 ___ _ 
Uma estrutura que surge do imaginário social; 
■ Concomitantemente, as sociedades humanas não 
podem subsistir sem os sistemas de representações que, em 
outras palavras, constituem a ideologia; 
■ As ideologias históricas mudam, mas estrutura 
ideológica não: ela permanece em quais quer tipos de sociedades; 
Dizer ''ciência'' não é o mesmo que dizer ''ideologia' ': 
essa segm1da dá-se 11a prática teó1ica, antecede e pe1n1eia a 
ciência elaborada. 
Desse modo, segundo Motta & Sen·a (2014, p. 13): 
A ideologia não é, po1ianto, uma aberração ou 
uma excrescência contingente da História: é uma 
estrutura essencial à vida histórica das sociedades. 
Tampouco pertence à região da consciência. Ela 
é profunda111ente inconsciente. A ideologia, para 
Altl1usser, é u111 sistema de representações, 111as 
essas representações na maior parte das vezes 
i1nagens, às vezes conceitos, 1nas é antes de h1do 
como estruturas que elas se impõem aos homens 
sem passar para a sua ''consciência'' . A ideologia 
refere-se, então, à relação ''vivida'' dos homens no 
seu mundo. 
■ Dessa maneira, a Ideologia é, para Alhusser, a relação 
entre o homem e seu mundo. Resta-nos, então, uma pergunta: 
Como o sujeito, então, emerge enquanto parte da teoria da 
Ideologia para esse pensador? 
Althusser coloca que há uma relação entre sujeitos: Toda 
ideologia possui um centro e nele há um sujeito Absoluto, que 
ocupa m11 lugar único, interpelando os outros sujeitos a sua volta 
em dupla relação de sub111issão, ou seja, a troca de lugares entre 
sujeitos Absolutos e sujeitos que o cerca1n. Nesse sentido: 
___ 6s_J ( Análise do Disct1rso 
a estrutura duplamente especular da ideologia 
garante si1nultaneamente: 1) a interpelação dos 
indivíduos co1110 sujeitos; 2) sua sub111issão ao 
Sujeito; 3) o reconhecimento mútuo entre os 
sujeitos e o Sujeito, e entre os próprios sujeitos, 
e o 1·econhecimento do sujeito por si mesmo; 4) 
a garantia absoluta de que tudo está bem assim, e 
sob a condição de que tudo está bem assim, e sob 
a condição de que se os sujeitos reconhecere1n o 
que são e se conduzire1n de acordo tudo irá bem: 
'assi1n seja''' (Althusser 1976, pp. 118-119). 
A ideologia segundo Ricoeur 
Antes de mais nada, é imprescindível saber que a teoria da 
Ideologia, para Ricoeur, associa-se à Literatt1ra. Dessa maneira, 
esse pensador parte da Hennenêutica literária para compreender 
os mecanis1nos ideológicos. 
ParaRicoeur(1991,2008),aideologiaentraempautaquando 
o co1npreender-se diante de u111a obra literária se faz enquanto 
apropriação e desapropriação de sig1úficações ao 1nesmo te111po. 
Assim, para Pegino (2006), a apropriação simbólica de um inundo 
que existe e é significante passa a fazer parte da relação do ser 
com o mtmdo, e constitui-se e1n elemento central no processo 
de co1npreender-se diante da obra. Portanto, a apropriação dos 
significados de uma obra acontece por meio da compreensão 
de uma ideologia que pe1111eia o contato entre leitor-literatura. 
E11tretanto, para Ricoeur a Ideologia pode trazer consigo 
duas armadilhas: a prilneira refere-se à definição inicial de 
conceito, que poderia gerar t1m status de poder, algo que o 
teórico rebate ao colocando em xeqt1e a rejeição da ideologia em 
tennos de classe social ( Atente para o fato de que Ricoeur tenta 
afastar-se de uma análise marxista da Ideologia); a segunda trata 
do estatuto epistemológico da Ideologia. No caso dessa segunda 
an11adilha, para Pegi110 (2006, p.8): 
Análise do Disc11rso J ( ___ 6_9 ___ _ 
Ricoeur abdica da perspectiva positivista de ciência como 
o lugar por excelência da liberdade das a111arras da ideologia. 
Ainda mais quando esse lugar é utilizado como porto seguro 
daqueles que, advogando em prol de sua p1·ópria (pretensa) 
objetividade e neutralidade, denunciam a ideologia de outras 
formas de conhecimento filosófico. Com esforço, Ricoeur 
resvala na denúncia entre ciência e interesse levada a cabo pela 
Escola de Frankfurt. 
Assim co1no Altht1sser, Ricoeur acredita que toda ciência 
parte de u1na ideologia, 111es1110 que essas a:finnem que agem 
com neutralidade. Dessa maneira, para os dois pensadores, toda 
produção científica tem bases ideológicas. 
Partindo desses pressupostos, Ricoe1rr constrói o se11 
próprio conceito de Ideologia que se baseia em três etapas, a 
saber: 
1. A ideologia precisa ser apreendida por meio de sua 
dimensão integradora, originando o p1imeiro nível ideológico: 
''A ideologia é a função de distância que separa a memória 
social de um acontecimento que, no entanto, trata-se de repetir'' 
(Ricoeur, 2008 p. 78). Por meio da integração a ideologia pode ser: 
■ Ele1nento 1nobilizador; 
■ Ele1nento justificador; 
Dinâmica: 111otiva, justifica e compro111ete; 
■ Opinativa, não crítica: ''[ ... ] uma ideologia é 
operatória, e não temática. Ela opera atrás de nós, 
mais do que a posst1ímos co1no um te1na diante de 
, 
nossos olhos. E a partir dela que pensa1nos, mais do 
que pode1nos pensar sobre ela'' (Ricoeur, 2008, p. 80). 
2. A Ideologia possui uma função de do111inação, visto que 
ela integra um sistema de autoridade ( de ve1iente Werberiana, 
não Marxista) que pede legitimação, e essa legitimação só pode 
ser dada pela crença dos indivíduos. 
___ 10_) ( Análise do Discurso 
Para entender essa questão de do1ninação e como ela 
difere-se da vertente Marxista, Pegino (2006, p.10) coloca que: 
A dominação, em sua relação com as tipificações 
de autoridade weberiana, é um elemento por ce1·to 
desejado pelo grupo ( correspondendo à oferta 
de crença), pois também possui t1m elemento 
integrador e há u1na relação de pertença do nível 
integrador no nível da dominação, donde se 
apreende, na teoria ricoet1riana, que essa relação 
não é, e111 si, danosa, 111as se dá em te1n1os de 
equilíbrio e desiquilíbrio. 
Dessa maneira, a concepção de Ricoeur sobre dominação 
está baseada e1n tuna relação mútt1a entre dominador e dominado, 
na qual dominado sente-se co1no pertencente natural àquela 
ideologia. 
1. A ideologia possui caráter deformativo. Aqui, Ricoeur 
faz uso do conceito Marxista da deformação do mundo, de um 
mundo invertido. Como exemplo, para Ricoeur, temos a religião, 
em que a imagem é o real e o que ela reflete é o original. Ou seja, 
a religião i1npõe uma ideologia, por 1neio de set1 conteí1do, que 
, . 
e inversa a outras tantas. 
Por fu11, vale deixar n1arcado para vocês, alunos (as), que 
o conceito de Ideologia Ricoeuriana é sempre correlacionado ao 
Marxismo, como viinos no decorrer desse estudo. 
A Ideologia segundo Foucault 
Caro aluno (a), pa1·a entender é ideologia segundo 
Foucault é preciso saber, antes de mais nada, que esse estudioso 
não a st1pervaloriza. Vamos descobru· o porquê? 
Para Benevides (2013), Foucat1lt elenca três razões pelas 
quais a Ideologia é ''Dificil1nente utilizável'' (FOUCAULT, 
1998, p. 7) que serian1: 
Análise do Disc11rso J (_?_1 __ _ 
1. ''Queira-se ou não, ela [ a noção de ideologia] está 
sempre en1 oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade'' 
(FOUCAULT, 1988, p.7). Ot1 seja, Fot1cault separa Ideologia de 
verdade; 
2. A ideologia sempre estará vinculada ao st1jeito, e esse, 
geralmente, possui u1na série de constrt1ctos qt1e baseiam sua 
escolha por algu1n tipo de Ideologia; 
3. A terceira se refere ao caráter periférico, derivado, 
acessório,da noção de ideologia e1n relação com a realidade, 
o mundo mate1·ial. Assim, para Foucault, a Ideologia seria um 
teimo frágil para fundamentar as relações de poder. 
Isso acontece posto que, para Fot1cault, mais do que 
Ideologia, as relações sociais são regidas pelo que ele chama 
de ''Verdade e Poder'' Foucault (1988, p. 13). Esse estudioso 
evidencia que ''é preciso pensar os problemas políticos dos 
intelectuais não em te1mos de 'ciência/ideologia', mas em termos 
de ' verdade/poder '''. Dessa maneira, apesar de a Ideologia ser 
parte significativa das relações de poder, ela jamais será uma 
estrutura fundamental. 
Logo, diferentemente dos outros estudiosos acima 
referidos, a relação entre História e Ideologia para Foucault não 
é uma relação p1imá1;a para ente11der o movi111ento da sociedade. 
Como aponta Valeirão (2012, p. 9): 
Seria equivocado entender os eventos históricos 
so1nente sob o peso da ideologia já que esta, em 
última instância, diz respeito a uma idealização 
nobre e vaga que te11ta explicar o desenvolvi1nento 
da História como se os objetos determinasse1n as 
práticas e os discursos, e não o cont1·ário disso. 
Eis porque a 1netodologia de análise da História, 
para Foucault, prima pela problematização dos 
discursos e das práticas ao invés do desvelamento 
sob o peso das ideologias. 
___ 12_) ( Análise do Discurso 
Desse 1nodo, para Foucault, a Ideologia não é a 1nola 
propulsara para entender a história, antes, parte secundária, um 
ten110 acessório, que contribui para con1preensão das relações de 
dominação sociais. 
A Ideologia segundo Pêcheux 
Para Pêcheux, a Ideologia tem ligação direta com os 
modos de produção. Considerando que, nos modos de produção, 
sempre a tun lado responsável pelas forças produtivas e outro, 
responsável pelas relações de produção, o estudioso divide 
sua inteil)retação de Ideologia em duas, acompanhando a essa 
divisão dos modos de produção. Seriam elas: 
~. Ideologia do tipo ''A'': Análise dos produtos co1110 
resultantes da prática técnica com base no empirismo (As forças 
produtivas). Aqui, a referida é um meio de recombinar discursos 
anteriores como meio de criar um novo ''discurso original''; 
2. Ideologia do tipo ''B'': Condições para a prática política 
(As relações de produção). Nesse tipo, a Ideologia é um 1neio 
de prod11ção e 111anutenção de diferenças necessárias entre as 
classes sociais, com foco e111 uma especificamente: O trabalhador 
e o não trabalhador. 
Para Siqueira (2017), mais do que dividir a ideologia 
em dt1as partes ''puras'', há de se ter noção das condições de 
surgi1nento de cada ele1nento. Assi1n: 
En1 relação ao p1·ocesso de produção, a ideologia 
opera sob o que Pêcheux chama de ''realização 
técnica do real'', ''sob o controle de uma ideologia 
da forma técnica-empírica que assegura o sentido 
do objeto produzido''[3]. O efeito ideológico de tipo 
''A'', assim, se refere à forma empirista da ideologia, 
que tem como objetivo ligar a significação à 
realidade, 111anter u1na correspondência ''correta'' 
entre a111bos. [ ... ]. Em relação às relações sociais de 
Análise do Disc11rso J ( ___ ?_3 ___ _ 
produção, a ideologia opera sob a forma especulativa­
fraseológica, já que te111 como função assegurar 
aos age11tes de produção sua posição destinada 
pela formação social. A ideologia de tipo ''B'' atua 
como condição indispensável das práticas políticas 
e essas, por sua vez, têm no discurso, a fo1ma de sua 
u·ansformação. (SIQUEIRA, 2017, p. 3). 
Para Pêcheux, a Ideologia está no ca1npo das relações 
sócio econômicas e, portanto, considerando as diversas divisões 
sociais, sua perspectiva ideológica tanto refere-se à questão de 
a ideologia permear os sentidos que se pretende formar com a 
realidade; bem como, numa perspectiva política, é força maior 
para a elaboração dos discursos qt1e demarcam as classes sociais. 
Nesse capítulo vimos quatro tipos de Ideologia, a saber: A 
teoria da Ideologia segundo Althusser, que gii·a em torno da 
consideração de que o st1jeito está em constante relação co1n 
o inundo e1n que está inserido; a perspectiva de Ricoeur, que 
evidencia a questão da dominação pela Ideologia; A Ideologia 
segu11do Foucault, que para ele é uma parte secundária, mn 
te11110 acessório, que contrib·ui para co1npreensão das relações 
de dominação sociais; e, por fim, a Ideologia para Pêcheux, em 
que essa se encontra no campo das relações sócio econômicas e, 
por isso, é a força maior para elaborar discursos que demarcam 
classes sociais. 
___ 7_4 ____ J ( Análise do Disc11rso 
Perspectivas da Análise do Discurso de 
linha americana (Givón); Análise do 
Discurso de Linha francesa (Foucault, 
Pêcheux); Análise crítica do Discurso 
Prezado aluno (a), consideradas as diversas fo1mas do pensar 
ideológico, que subsidia, assim como outros critérios, a 
fo11nulação dos 1nais diversos discursos, partire1nos para as 
resultantes dessa produção científica pela qual passeamos até 
agora: As várias perspectivas da Análise do Discurso. 
De antemão, é importante salientar que os dois primeiros 
pontos tratarão da grande divisão da Análise do discurso: 
americana x francesa, e que, segundo Orlandi (2005, p. 78) essa 
divisão não é mera1nente geográfica: 
Do lado da a111ericana ( ... ) está a te11dência de u111a 
declinação linguístico-pragmática ( empirista) da 
análise de discurso com um suj eito intencional, 
e do lado europeu a tendência (materialista) que 
desterritorializa a noção de língua e de sujeito 
( afetado pelo inconsciente e constituído pela 
ideologia). 
Análise do Discurso de Linha americana 
(Givón) 
Se a Análise do Discurso americana está para uma 
tendência empírica, ela se baseia, portanto, 110 funcionalismo da 
linguage1n. Dessa maneira, a Análise do Discurso de Givón tem 
Análise do Disc11rso J ( ___ ?_s ___ _ 
por alicerce a consideração de que a língua é um instru1nento 
social, meio pelo qual os indivíduos interage111, se comt1nicam. 
Com a publicação de From Discourse to Syntax ( 1979), 
Talmy Givón propõe que todo enunciado ( as chamadas sentenças 
sintáticas) pode ser analisadas por meio da investigação de suas 
1notivações discursivas, ou seja, a estrutura do en1mciado é 
resultante direto dos componentes do discurso e, assim, insere­
se 110 universo maior da Análise do Discurso. 
Por conseguinte, segundo Martins (2009), o contexto do 
discurso ganha visibilidade enquanto motivador para a produção 
linguística: Só formamos enunciados partindo de objetivos que 
estão no plano do disc1rrso ( as intenções, as práticas, etc.) no uso 
da língua. Para Givón ( 1979), a pragmática do discurso te1n papel 
fundamental 11a explicação da sintaxe lingt1ística, assi1n, para 
o pensador, a si11taxe é depende11te, 1notivada fiu1cional1nente 
pelos processos de cognição e comunicação. 
Pa1·a esclarecer melhor essa perspectiva, Givón ( 1979) 
estabelece dois polos da modalidade comunicativa: O pragmático 
e o sintático, ambos visando a funcionalidade da linguagem. 
A gra1nática, posto isso, é constn1ída por 1neio do discurso, 
baseando-se set1 uso na concretização desse pelos fala11tes. 
Alii1guagem, nesse âmbito, torna-se u111 siste111a de interação 
social. Enquanto Analistas do Discurso, para as considerações de 
Givón, portanto, para além de observar os fenômenos estruturais 
do discurso, precisamos, fundamentalmente, considerar 
toda a situação comunicativa. Melhor dizendo, como coloca 
(NICHOLS, 1984, p.97), necessita1nos buscar ''O propósito do 
evento da fala, seus participantes e o contexto discursivo''. Desse 
1nodo, a situação comunicativa inativa, explica e dete11nina a 
estrutura gramatical. 
___ 76_) ( Análise do Disct1rso 
Análise do Discurso de Linha Francesa 
(Foucault, Pêcheux) 
Diferentemente da vertente americana, que unica111ente 
trata da questão do discurso nos contextos, a vertente francesa 
da Análise do Discurso amplia essa ideia ao colocar a noção de 
língua e sujeito como resultantes de ideologias e afetados pelo 
inconsciente (político).Vale então lembrar, caro aluno (a), dos 
conceitos de Ideologia trabalhados anteriormente para ajudar a 
esclarecer a Análise do discurso de linha européia. 
Pêcheux e Foucault 
A partir de 1977, o estudioso francês Michel Pêcheux 
se debruçou sobre os contextos epstemológicos das Ciências 
H11manas na França, inclusive o surgimento da Análise do 
Discurso. Dentre os principais aspectos elencados por Pêcheux, 
te111os: q11e a fonnação do discurso é ling11ística e histórica; que 
a forma discursiva produzida pelo sujeito é semp1·e ideológica, 
não empúica (não só como um ii1strumento de con1unicação 
baseado no contexto, diferindo-se da vertente americana). 
Nesse sentido, a linguagem é entendida como trabalho 
simbólico de ação e transfonnação, em q11e ''tomar a palavra 
é um ato social com todas as suas implicações, conflitos, 
reconhecimentos, relações de poder, constituição de identidade, 
etc." (ORLANDI, 1998, p.17). Para Pêcheux, o sujeito é 
perpassado tanto pelo i11co11sciente qua11to pela ideologia, o que 
faz dele um sujeito descentrado, ou seja, apesar de ter a ilusão 
de que é fonte primária do que diz, o homem é, para a Análise do 
Disc11rso, res11ltante de ideologias e políticas que o constit11em, e 
o que é enunciado por ele acompanha essa lógica. Desse modo, 
o s11jeito é un1 (re) produtor de discursos. 
Por essa ótica, o sujeito, para Pêcheux, não se faz enquanto 
fonte absoluta de sig11ificado, posto que ele se constitui pela fala 
de outros sujeitos, ele é o resultado da união de vá1ias vozes, 
em uma correlação sócio ideológica: o sujeito é heterogêneo. 
Análise do Disc11rso J ( ___ ?_7 ___ _ 
Seg11ndo o Pêcheux (1990), dessa 1naneira, o sujeito pode sofrer 
dois tipos de esquecimento: 
1. Aquele em que o sujeito acredita ser a origem 
de tudo o que enuncia. Esse tipo de esquecimento é 
de vertente ideológica e inconsciente: esse procura 
apagar h1do o q11e não está dentro de sua formação 
discursiva, ilude-se em ser o criador de tudo; 
2. Neste, o sujeito acredita q·ue o que diz tem um 
único significado e, dessa forma, espera que seu 
interlocutor apreenda o significado que ele quer 
transmitir. 
As ideias pioneiras de Pêche11x auxiliaram ot1tros estudiosos 
da Linguagem, como F oucat1lt. Dele, surge a questão da ciência 
histórica e suas descontinuidades, dispersão, que implica no 
abrangente conceito de fo11.11ação discursiva; na relação entre 
saber e micro poder; na atenção à leihlra, interp1·etação e 
memória discursiva. 
Já o trabalho de Fo11cault (1988), descentralizot1 a 
identidade do sujeito, isso graças ao que ele chamou de poder 
disciplinar (que nada tem a ver com opressão e/ou poder do 
estado): poder que conduz tanto compo1ia1nento l1u1nano 
quando a regulação do cot'])O e i11divíduo, o controle do que 
pensa e co1no se comportam as sociedades. Poder disciplinar, 
nesse sentido, constitui um poder localizado nas instituições 
modernas que ''policiam'' e disciplinam populações. Tal visão 
esclarece a heterogeneidade do sujeito, que é, mesmo que 
inconscientemente, atravessado por vozes ideológicas. Para 
Bonácio (2017. P.14): 
Na visão de Foucault (2004), falar é mais que 
produzir enunciados em uma dada situação, é ver 
como certas práticas discursivas agem na produção 
do dizer, é saber como houve a possibilidade de 
aparecer certos dizeres em determinadas épocas. 
___ 7s_) ( Análise do Disct1rso 
Para F oucault, portanto, a Análise do discurso ta1nbém 
parte do ideológico: ''a verdade está circularmente ligada a 
sistemas de poder, que a produze1n e a apoia111 e a efeitos de 
poder que ela induz e a reproduzem'' (1980, p. 131). Assim, 
os estudos Foucaultianos inauguram na Análise do discurso a 
relação entre verdade e poder, sendo os discursos regimes de 
verdade e, cada regime de verdade, pe1iencente a uma sociedade 
em particular. 
A verdade, nesse contexto, é para Foucault (1980) 
convencio11ada e organizada pelas institt1ições e está estreita111ente 
relacionada a como os sujeitos se fo1mam, inclusive em relação 
a linguagem a qual se apropriam. Enquanto isso, o saber passa 
a ser um conjunto de práticas do disctrrso, embasadas pelos 
acontecimentos políticos, processos econômicos, bem co1no 
instituições. Verdade e saber torna111-se, portanto, poder, que 
é construído historican1ente, expandindo-se social111ente. Em 
suma, o poder, para Foucault (1988), penetra em instituições, 
toma-se técnica de dominação. 
Além da questão do Discurso, Foucault (2004) t1·az 
ta1nbém a q11estão do estabelecimento de enunciados com outros 
enunciados. Para um autor, um enunciado sempre trará, evidente 
ou não, as 111arcas de outros. Assi1n, para a A11álise do Discurso 
fouca11ltiana, é imprescindível entender a rede de relações que 
permite111 que os enunciados seja111 ditos e ente11didos, o que ele 
chama de ''domínio associado'': a presença de outros discursos 
por meio da memória disc11rsiva. Isso, pois os entmciados: 
a. são de natureza histórica, porque é nela q11e encontra 
sua existência; b) possuem u1na materialidade específica, são 
registrados de alguma forma; c) pe11nitem ligações, correlações 
com outros enunciados, co111 já ditos; d) não se referencia111 a 
um único objeto, estado de coisa, em uma realidade pronta e 
acabada. Sobre esse último item, Foucault (2004) revela que 
os objetos podem mudar de sentido por conta das formações 
discursivas (FD) em que se encontram dispersos. Um 1nes1no 
Análise do Disc11rso J ( ___ ?_9 ___ _ 
objeto pode ganl1ar sentidos diferentes de acordo com a FD 
a qual ele pertence. En1 vista disso, te111os que o discurso é 
constituído por enunciados os quais se dispõe111 seguindo un1a 
formação discursiva dada, na qual determinam seu agrupamento 
realizado por meio de relações. (BONÁCIO, 2017, p.18) 
Observe a cl1arge abaixo: 
Figura 2 
Fonte: Pixabay 
Trazendo para a prática a questão de outros dizeres em 
um 111esmo enu11ciado, mesmo qt1e e111 linguagem 11ão verbal, 
necessitamos remeter a charge em questão a outros enunciados 
para compreendê-la, já que o discurso funciona em uma rede de 
relações, na qt1al o que já foi dito retoma para refo1mular um 
novo discurso. 
Como podemos observar, para fo1111ular o disctrrso do 
n1undo enqt1anto u1na ''bomba'' prestes a explodir, buscamos 
passar essa ideia por meio de uma rede de outros e11unciados 
construídos sócio historicamente: ''Um Deus que presenteia o 
ser humano''; ''Um bebê que recebe uma bola de presente''; ''A 
ideia de que nem Deus pode ctrrar os males do planeta''; e por aí 
vai. A união de discursos é múltipla e, claro, ideológica: Parte de 
um po11to de vista que o cartunista e1n questão quis tra11spassar. 
___ so_J ( Análise do Disct1rso 
Esses novos discursos sobre o pla11eta colocados 11a 
história por meio das mídias (111aterialidade) podem ser analisadas 
sob o que F oucat1lt (2004) deno1ninou de ''aconteci1nento 
discursivo'' . Dele, outros textos surgem, sentidos são trazidos 
de volta; deslocados, interditados, fonnando, dessa maneira, 
um arquivo, qt1e imputa um dos sistemas de enunciabilidade do 
home1n moderno ( em sua subjetividade). 
Para Foucault (2004), cada enunciação é exclusiva, possui 
sua particularidade. Em contrapartida, u1n enunciado pode ser 
constitutivamente repetível, podendo ser repetido, atualizado, 
transf armado: 
Em geral, a descrição llistórica das coisas ditas é 
inteiramente atravessada pela oposição do interior 
e do exterior, e inteiramente comandada pela tarefa 
de voltar dessa exterioridade - que não passaria de 
contingência ou pura necessidade n1aterial, corpo 
visível ou tradução i11certa - em direção ao núcleo 
essencial da interioridade. Empreender a história do 
que foi dito é 1·efazer, em outro sentido, o trabalho 
da expressão : retomar ent1nciados conservados ao 
longo do te1npo e dispersos no espaço, em direção 
ao segredo interior que os procedeu, neles se 
depositou e aí se encontra ( em todos os sentidos do 
termo) traído (Foucault, 2004, p. 140). 
Para Foucault (1998), os enunciadosnão circulam como 
querem, livremente, eles são regidos pelos micropoderes: Esses 
penetra1n no cotidiano, pulverizados, disseminando atih1des, 
gestos, hábitos, discursos; e agindo no corpo dos sujeitos. 
Segundo (Foucault (1998), não existe poder e111 si, 1nas si1n, 
relações de poder. Nesse sentido, esses micropoderes são 
exercidos por 111eio de várias práticas discursivas, não sendo 
somente repressivo, mas também administrativo, já que pode 
controlar a vida das pessoas. 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_1 ___ _ 
Ao passo que há 1nicropdoeres, há, para Foucault (1998), 
resistê11cias, já que esses discursos não chegan1 aos sujeitos de 
forma11eutra: existe111 os que resistem, não aceitam passivamente, 
pois têm consciência da historicidade dos mesmos. Para Araújo 
(2017, p. 22): 
O enunciado não é constituído por uma relação 
do significante com seu significado, ne1n do no1ne 
com seu designado, ou da frase com seu sentido, 
ou ainda, da proposição com seu referente, mas 
por configurar u111a situação da orde111 do discurso, 
características do saber de uma época. 
Assim, para a Análise do Discurso elegida por F oucault, 
Significantes e significados são de suma importância para 
determinada orde1n do discurso: para co1npreender, para além 
do literal, os pan.os de ftu1do históricos que rege1n os enu11ciados. 
Vi111os nesse capítulo que a corre11te americana da A11álise do 
Discurso privilegia o Funcionalis1no. Já dentro da Análise do 
Disct1rso de linha francesa, temos e1n Pêcheux a noção de que 
interpretação é u1n gesto, ou seja, um ato simbólico, assim, 
lingt1ístico e social fonnam ent1nciados que necessitam de 
interpretação para que haja construção de significados; Para 
Foucault, por fim, o discurso é resultante de uma construção de 
sujeitos heterogêneos, influenciados por ideologias que partem 
de verdades instituídas, bem como saberes institucionalizados. 
___ s2_) ( Análise do Discurso 
Authier-Revuz e a Análise Crítica do 
Discurso 
Nesse último capítulo apresentare1nos a você, prezado alu11o(a), 
Autl1ier-Revuz, estudiosa que, por participar da terceira geração 
de analistas do Discurso, se aproxin1a das teo1ias elencadas no 
últi1no tópico dessa unidade: a Análise Crítica do Discurso. 
Authier- Revuz 
Authier- Revt1z faz parte da terceira geração de lingl1istas 
a estudar a A11álise do Discurso. Partindo da l1eterogeneidade 
do sujeito, algo inclusive proposto do Foucault, essa estudiosa 
elegerá o reconhecimento do jogo do ''não-um'' no discurso, 011 
seja, todo discurso alé1n de partir do i11consciente ideológico, 
deixa marcas visíveis, considerando o contexto em que está sendo 
produzido. O ''outro'' (as vozes que constituem o discurso) pode 
to1nar-se visível, por exemplo, quando um enunciador passa a 
traduzir as palavras de outre1n, ou quando, de outra 1naneira, usa 
certas palavras e si1nultanea111e11te as explica, tor11ando-se um 
observador/utilizador de suas próprias palavras. 
Esse uso das palavras é chamado, por Authier-Revuz, de 
modalização autonômica. Três características que constituem, 
a saber: formas facilmente identificáveis nas cadeias de 
significantes; O comentário sobre o dizer que acabo11 de ser 
enunciado; e formas apacificastes de representação do que foi 
dito, que coloca111 e111 xeque as representações do dizer por 1neio 
da escolha das palavras que a ele relacionam-se. 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_3 ___ _ 
Nesse ínterim, estamos evidenciando o q·ue Authier-Revuz 
(1982) chama de heterogeneidade 1nostrada e constitutiva. 
Veja111os: 
1. Heterogeneidade mostrada: 
A hererogeneidade mostrada acontece quando ''No fio do 
discurso que, real e material1nente, um locutor único produz, t11n 
certo número de formas, linguísticamente detectáveis no nível 
da frase ou do discurso, inscrevem, e1n sua linearidade, o outro'' 
(AUTHIER-REVUZ, 2004, p.12). Esse conjunto de formas pode 
se inscrever no outro de maneira marcada e/ ou não marcada. A 
mais evidente da heterogeneidade mostrada é, pois, o discurso 
relatado: em outras palavras, o discurso direto e indireto. 
Na frase, esses tomam-se enunciação. No discurso 
indireto o locutora tra11sforma-se em um tradutor, ot1 seja, usa 
suas próprias palavras pa1·a remeter-se ao discurso de outro(s) 
como fonte de ''sentido''. Já no discurso direto, são literalmente 
as palavras de um outro que ocupam o espaço/tempo de 1naneira 
clara, evidente. 
Para Mesquita & Rosa (2010, p.5) as formas 1narcadas da 
heterogeneidade mostrada: 
São explícitas e podem ser recuperadas no nível 
enunciativo, a partir de n1arcas linguísticas, que 
mostram a presença de uma outra voz. Dentre as 
formas 1narcadas, encontram-se o discurso direto, 
o discurso indireto, a modalização autonímica, 
a autonímia, as aspas, a glosa, o itálico e a 
entonação. As for1nas não-marcadas, por sua vez, 
são mais complexas, pois não estão explícitas e a 
heterogeneidade deve ser reconstituída a partir de 
diferentes índices - discurso indireto livre, ironia, 
antífrase, alusão, pasticl1e, imitação, metáforas, 
jogos de palavras, reminiscência. No grupo 
das formas marcadas, há modos explícitos da 
___ 84_) ( Análise do Discurso 
presença do disc·urso do outro por meio de 1narcas 
na língua. No grupo das formas não-n1arcadas, 
essas marcas 11ão são explícitas, não aparecem, 
cabendo, portanto, ao receptor o reconhecimento 
ou interpretação da presença de um outro discurso. 
Q11al seria, caro aluno (a) a importância dessa 
l1eteroge11eidade 1nostrada? 
, 
E por meio dela que pode l1aver a representação de 
diferentes relações entre o sujeito que fala e a possibilidade de 
construção de seu discurso. 
2. Heterogeneidade constitutiva: 
A heterogeneidade constitutiva nada mais é do que a 
presença do outro no discU1·so, mas não uma presença desvelada, 
mostrada: antes, ela é da ordem do inconsciente. Segundo 
Mesquita e Rosa (2007, p. 7) a heterogeneidade constitutiva: 
Está 110 exterior, ou seja, no outro, q11e são os 
discursos construídos sócio-historica1nente e que 
atravessam as enunciações do s11jeito. Dessa forma, 
ela transcende a possibilidade de identificação/ 
descrição dos ele1nentos linguísticos, como o faz 
a heterogeneidade mostrada. A heterogeneidade 
constitutiva é assim chamada porque não há 
discurso que não seja constituído por ela, ou seja, 
não existe discurso que não esteja perpassado por 
iní1meros 011tros discursos, ou já-ditos. 
Para embasar a possibilidade da Heterogeneidade 
constitutiva, Authier Revuz apoia-se em Bakthin e na Psicanálise, 
já que esses questionam o locutor ''livre'', que ac1·edita dominar 
por completo seu discurso, co11scientemente. Assim, há para 
Authier-Revuz sujeitos inscritos em discursos, atravessados 
constante1nente por outros discursos. Sendo assim portanto, o 
s11jeito não manda no seu dizei·, ele apenas escolhe as palavras. 
Assim, mes1no que tenhamos a ilusão de originalidade, somente 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_s ___ _ 
algo que já foi enunciado pode ser expresso nova1nente. Desse 
111odo, o st1jeito não é o dono de suas palavras, antes, ''repete'' a 
dos outros. Mesn10 assim, ele pensa ter controle sobre como os 
sentidos são nele constituídos. O sujeito, portanto, esquece o que 
o ''outro'' disse e toma para si a autoria. 
Por isso t1m dos pontos chaves da Análise do Discurso 
de Authier-Revuz é a heterogeneidade. Mes1no que o Sujeito 
esqueça o ''outro'', seu discurso setnpre será transpassado por 
esse. Para Mesquita e Rosa (2007, p.14) vale destacar 
Que a heterogeneidade é constitutiva tanto do 
discurso quanto do sujeito, uma vez que não há 
discurso homogêneo, já que ele é também do outro. 
Por isso, pensar a heterogeneidade constitutiva é 
pensar sobre a co11stitt1ição do tecido discursivo. 
Análise Crítica do Discurso 
AAnálise Crítica do Discurso (ACD) é um mecanis1no de 
a11álise/interpretação que buscou ·u1na base teórica rica, co1no por 
exemplo os três estudiosos aci1na elencados, para formular uma 
11ova teoria: a de que o st1jeito temcapacidade de tra11sformar 
seu meio social a partir do discurso, em um movimento no 
qual a sociedade modela o discurso, bem como esse modela a 
sociedade. Dessa maneira, a ACD, segtmdo Pedro (1998, p. 15) 
é aquela que: 
Recusa a neutralidade da investigação e do 
investigador, que define os seus objetivos em 
termos políticos, sociais e culturais e que olha 
para a linguagem como prática social e ideológica 
e para a relação entre interlocutores como 
contextl1alizada por relações de poder, dominação 
e resistência institucionalmente constituídas. 
___ 86_) ( Análise do Disct1rso 
Assi111, os analistas críticos do discurso se posiciona1n de 
n1aneira política em relação aos seus procedi1nentos de análise. 
Para isso, verifica111 como as práticas discursivas, sociais e 
linguísticas se correlacionam de maneira a alicerçar práticas 
ideológicas de dificil desarticulação, buscando, dessa forma, 
alcançar tuna neutralidade advinda de uma postura crítica. Por 
esse viés, a ACD pode intervir na sociedade e gerar mudanças, 
principalmente em favor dos menos desfavorecidos (sujeitos 
oprimidos sócio economican1ente). Con10 coloca Van Dijk 
(2008, p. 19): 
Se o discurso controla mentes, e mentes controlam 
ação, é crucial para aqueles que estão no podei· 
controlar o disct1rso e1n primeiro lt1gar. Como eles 
fazem isso? Se eventos comunicativos consistem 
não somente de escrita e fala ''verbais'', mas 
ta1nbém de um contexto que influencia o disct1rso, 
então o primeiro passo para o controle do discurso 
é controlar seus contextos. [ ... ] isso significa que 
precisamos examinar em detalhe a maneira como 
o acesso ao discurso está sendo regulado por 
aqueles que estão no poder. 
Compreendendo que o discurso é regulado por quem está 
no poder, a ACD se dispõe a elaborar u111a análise crítica de 
con10 o esse discurso interfere 11a vida dos sujeitos e con10 pode, 
dessa maneira, ser desarticulado. 
Para atingir seus objetivos, a ACD assume a concepção 
de que a ideologia é hege1nônica, pois estabelece e st1stenta 
relações de dominação, além de servir como beneficio àqueles 
que dominatn os blocos sociais, já que esses podetn, por meio do 
discurso, disseminar st1as ideias revestidas de ''senso co1num''. 
, 
E importante salientar, aqui, como a Análise do Discurso 
contribuiu para a existência da ACD: por meio dela passou-se a 
enfatizar, nos estudos da linguagem, a perspectiva social, dando 
Análise do Disc11rso J (_s_7 __ _ 
1nargem para pe11sar criticamente a língua e as intencio11alidades 
de quem a usa. 
■ Dispositivos teóricos da ACD 
A grande intencionalidade da ACD é construir um 
aparelho teórico integrado, que possibilite descrever, explicar e 
interpretar os discursos dominantes que infl11enciam os saberes, 
o conheci1nento e as atitudes ideológicas dos sujeitos. Dentre 
esses métodos tempos duas concepções: 
A opacidade da linguagem: 
A ACD pa1te da ciência de que muitas relações entre 
linguagem e estruturas sociais são opacas, ou seja, passam de 
maneira despercebida por entre os sujeitos. Por isso a itnportância 
dada pela a ACD aos contextos. Segundo Melo (2011, p.5) os 
contextos seriam: 
Os ele111entos externos à linguage111 que interferem 
na co1nposição e sentido da 111es111a, de11tre eles a 
cultura, a história e a ideologia. Para os analistas 
críticos, esses recursos são totalmente extrínsecos 
aos textos, porém fazem parte da constituição 
do discurso, só sendo possível reconhecê­
los nos textos se levarmos em consideração, 
como afi1ma Pedro (1997, p. 33) que, na sua 
função representativa, a forma linguística é 
sempre deformada pelos efeitos do poder [ ... ] 
[e] tem setnpre 111n efeito mediador que leva a 
processos de enviezamento a11iculados em modos 
específicos [ ... ] e na sua f11nção de construção, a 
ling11agem projeta, per1nanente1nente, relações e 
estruturas sociais, de acordo com os desejos dos 
participantes, em regra os do(s) participante(s) 
mais poderosos. 
___ ss_) ( Análise do Discurso 
O·u seja, o objetivo metodológico do analista crítico do 
discurso é procurar essas pistas na intenção de visibilizar as 
relações entre linguagem e práticas sociais, que são geral111ente 
naturalizadas por grupos dominantes. 
Poder e ideologia no discurso 
Para a A CD, os textos são atravessados por relações 
tanto ideológicas qt1a11to de poder. Nesse sentido, t1ma das 
1naiores preocupações da ACD é identificar como a língua é 
usada como mantenedora ou desafiadora de tais relações na 
contemporaneidade. 
Assi1n, a ideologia é vista pela ACD como for1nas de 
ver o inundo, contribuindo, mantendo ou mudando sistemas 
de dominação. Esses, organizados por instituições de modo 
l1ierárqt1ico. 
Já o poder é a possibilidade que indivíduos e instituições 
têm de fazer algo influenciar em algum contexto. Apesar das 
várias violências explícitas que temos hoje, o poder não tem 
sido usado por meio de imposição, mas sim, através de disct1rsos 
ideologica1nente institucionalizados. Além disso, segundo Melo 
(2011, p.13), aACD 
Pensa a linguagem como um espaço de luta irregular 
de poder, ressaltando o papel da cobiça constante por 
hegemonia, isto é, a ''liderança tanto quanto dominação 
nos domínios econômicos, político, cultural e ideológico 
de uma sociedade'' (FAIRCLOUGH, 2001, p. 122). 
Assim, na ACD, podemos falar em poder hegemônico 
quando o poder está a serviço da contint1idade da 
liderança e dominação de U11s sobre outros. Diante 
disso, os analistas c1iticos do discurso desenvolvem 
uma teo1ia/método para investigar como o exercício de 
poder hegemônico se mescla com práticas discursivas 
no mundo conte1nporâneo, ou seja, analisar e revelar o 
papel do discurso na (re )produção da do1ninação. 
Análise do Disc11rso J ( ___ s_9 ___ _ 
A dominação, nesse sentido, é entendida como exercício 
do poder pelas elites, grupos e instituições e o resultado não 
poderia ser outro: desigualdades sociais, políticas; discri111inação 
por classe, gênero, etnia e orientação sexual. 
De manei1·a específica, os analistas críticos do discurso 
b·uscam saber quais estratégias e/ou estn1tt1ras, do texto falado 011 
escrito, motiva1n a repercussão de 1nodos de reprodução. Assi1n, 
a ACD acredita que o discurso possui um poder co11stitutivo, 
já que, por 1neio de seu uso, os sujeitos mantêm, constroen1, 
tra11sforma111 realidades sociais: n1a11tê111 01.1 111odificam suas 
realidades. Em síntese, por meio de Maurer, Melo (2011, p.16) 
indica três princípios que norteiam o conjunto teórico da ACD, 
a saber: 
1. os indivíduos realizam ações por meio da 
linguagem, de acordo com o conceito de ato de fala 
elaborado nos estudos da Prag111ática por Austin 
(1962) e Searle (1969); 2. as formas discursivas e 
as estruturas sociais se influenciam mutuamente, 
princípio este, cunhado pelas Ciências Sociais , 
em especial por Antony Giddens (2003), de que 
há sempre u1na relação biunívoca entre os textos 
e a sociedade; 3. os recursos empregados pelos 
indivíduos para produzir e consu111ir textos não 
são apenas cog11itivos, 111as sociocognitivos 
atravessados por ideologias. 
Desta feita, compreendemos que a Análise Crítica do 
Disctrrso, para além da teoria, norteia os passos e pontos 
principais dos quais um analista do discurso deve ap1·eender 
para poder construir 11ma crítica constritiva e contributiva para o 
111eio no qual vive e, em n1aior amplitude, para a sociedade como 
um todo. 
___ 9o_J ( Análise do Disc11rso 
Nesse último capítulo mostra1nos co1no Pêcheux e Foucault, 
Authier - Revuz descentraliza o sujeito, 1nostrando que esse 
é heterogêneo, ou seja, impossibilitado de se desfazer das 
múltiplas vozes que o constitui. Ele é, portanto, um ''não-um''. 
Já em relação à A11álise Crítica do discurso, pudemos pe1·ceber 
que essa absorve a linguagem pela perspectiva social, advinda da 
Análise do Discurso, para poder analisar criticamente ( e assim 
contribuir socialmente) discursos de nascente ideológica usada 
por opressores para atingir as camadas mais frágeisda sociedade, 
os oprimidos. Após toda essa incursão teórica, chegamos ao fim 
de mais uma unidade. Que venha a próxima! 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_1 ___ _ 
___ 92_) ( Análise do Discurso 
#1111# 
INTRODU AO 
Você sabia que a Análise do Discurso é tuna das mais 
importantes para o conl1ecime11to da Língua? Já tive111os um 
conhecimento introdutório desse conteúdo na unidade anterior. 
Neste daremos ênfase a como esse estudo vê as concepções 
de Sujeito de acordo com os maiores pensadores da Análise 
do Discu1·so, além de mostrar como :ft1ncionam perspectivas 
essenciais à essa ciência: A f armação Imaginária e a F armação 
Discursiva. Além disso, expore1nos como funcionam tanto a 
Ideologia como a História e1n relação aos sujeitos constituídos 
no discurso. Esse será um passeio 1naravilhoso no objeto foco 
de 11ossa discipli11a. Ao longo desta m1idade letiva você vai 
1nergulhar nesse uni verso! 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_3 ___ _ 
OBJETIVOS 
Olá. Seja 111uito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo 
é auxiliar você no atingimento dos segui11tes objetivos de 
aprendizage1n até o término desta etapa de estudos: 
Compreender como funciona a questão do 
Sujeito Discursivo dos analistas do Discurso mais 
reconhecidos; 
Entender como funciona111, dentro do Universo da 
Análise do Discurso, a F armação In1agi11ária, bem 
co1no a Formação Discursiva; 
Identificar, na Análise do Discurso por 1neio de 
seus estudiosos, qual a relação entre Ideologia e 
sujeitos do disct1rso; 
Compreender co1no para a Análise do Discurso o 
Sujeito é entendido e1n sua for111a histó1ica. 
E11tão? Está preparado para uma viagem sem volta rumo ao 
conhecimento? Ao t1·abalho! 
___ 94_) ( Análise do Discurso 
Sujeito do Discurso: Benveniste, Authier­
Revuz, Bakhtin, Ducrot e Foucault 
Ao término deste capítt1lo, você será capaz de entender como 
funcionam as perspectivas de sujeito do discurso para os 
principais analistas do Discurso. Para tanto, descrevere1nos 
cada perspectiva, bem como seus pontos fortes e fracos, que se 
to111aram n1arcos no estudo da liI1guística. Isso será fundamental 
para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para 
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! 
As diversas formas de conceber o sujeito 
do Discurso 
No universo da Análise do Discurso, existe1n várias teorias 
em relação ao sujeito. Por exe111plo, existe aquela que considera 
o sujeito enquanto o ''eu'', dessa forma, ele seria o centro da 
comunicação. Outra teoria coloca um ''tu'' como o centro, já que 
ele tem total influência sobre o ''eu'', ou seja, é, portanto, fator 
principal. Há ainda a que defende o espaço entre o ''eu'' e o 
''tu'' enquanto fator central. Dentre essas diversas perspectivas, 
Orla11di apud Brandão (2004, p.54, 55) enmnera, como for1na de 
sistematizar as teorias, as principais con·entes e1n relação à noção 
de sujeito. Vejamos: 
Primeira fase: em que as relações interlocutivas estão 
centradas na ideia da interação, harmonia conversacional, troca 
entre o eu e o tu. Nessa concepção idealista enquadra1n-se, por 
exemplo,anoçãodesujeitodeBenvenisteeaquelaregidapelasleis 
conversacio11ais e correntes do princípio de cooperação griceano; 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_s ___ _ 
Segunda fase: e1n que se passa para a ideia do conflito. 
Ce11tradas no outro, segundo essa concepção as relações 
intersubjetivas são governadas por un1a tensão básica en1 
que o tu determina o que o eu diz, ocorrendo uma espécie de 
, 
tirania do primeiro sobre o segundo. E a concepção fortemente 
inflt1enciada pela retórica, presente nos mo1nentos inicias da AD, 
cujas análises focalizara1n, sobretudo os discursos políticos; 
Terceira fase: em que, reconhecendo, no binarismo da 
concepção anterior, t11na polarização que i1npedia apreender o 
sujeito na sua dispersão, diversidade, a AD procura ro111per con1 
a circularidade dessa estrutura dual, ao reconhecer no sujeito um 
caráter contraditório que, marcado pela incompletude, anseia 
pela co1npletude, pela vontade de ''querer ser inteiro''. Assim, 
nu1na relação dinâmica entre identidade e alteridade, o sujeito 
é ele 1nais a comple1nentação do outro. O centro da relação não 
está, como nas concepções anteriores, ne111 no eu nem no tu, 
1nas no espaço discursivo criado entre ambos. O sujeito só se 
co1npleta na interação com o outro. 
Caro aluno (a), perceberam como existem várias formas 
de conceber o sujeito? Va1nos agora conhecer quatro as 1nais 
i1nportantes perspectivas. Preparados? 
O Sujeito para Benveniste 
Só conseguiremos entender como Benveniste compreende 
o sujeito se, antes, entendermos de subjetividade. Isso, pois para a 
teoria desse estudioso, uma coisa não se dissocia da outra. Assin1, 
para Brandão (2004, p. 56), Be11veniste chama de subjetividade: 
A capacidade de o locutor se propor como sujeito 
do seu discurso e ela se funda no exercício da língua 
[ ... ] (ele) enuncia sua posição no disct1rso através 
de determinados índices formais dos quais os 
prono1nes pessoais constituem o pri1neiro ponto de 
apoio na revelação da subjetividade na linguagem. 
___ 96_) ( Análise do Discurso 
Dessa forma, ve111os que o ''eu'' subjetivo to1na uma 
posição de vantagem sobre o ''tu'', que se toma apenas um 
receptor. Para Brandão (2004), Benveniste coloca ''eu'' e ''tu'', 
ou seja, considera a marca de pessoa. Porém, apesar de ambos 
serem protagonistas a enunciação, o ''eu'' e uma pessoa subjetiva, 
enquanto qt1e o ''tt1'' é não subjetiva. 
Na verdade, para Benveniste, a 11oção de sujeito é 
egocêntrica: o discurso depende unicamente do ''eu'', se111 qualquer 
influência do ''tu''. Como coloca Brandão (2004 ), Benveniste 
vê o ''ego'' como ce11tro da e11unciação, esse é o sujeito, já que 
está no ''eu'' a capacidade de auto afirmar-se subjetivamente. 
' E dessa noção egocêntrica que as controvérsias em relação 
à concepção de sujeito em Benveniste s11rgem, pois o ''eu'' não 
constitui toda a lingt1age1n, se1npre existirá outro sujeito que 
co1nunicará algo. 
A subjetividade é inerente a toda linguagem e sua 
constituição se dá mesmo quando não se enuncia o eu. 
Os discursos que utilizam de formas indeterminadas, 
i111pessoais como o discurso científico, por exemplo, 
ot1 o discurso do esquizofrênico e1n qt1e o locutor 
utiliza o ele para se referir a si mes1no mostram t1ma 
enU11ciação q·ue mascara se1npre u1n sujeito. Isto é, 
nesses tipos de enunciação, o sujeito ent1ncia de outro 
luga1·, postando-se numa outra perspectiva, seja a da 
impessoalidade em busca de uma objetivação dos 
fatos ou de um apagamento da responsabilidade pela 
entmciação, seja a da incapacidade patológica de 
assunção de um eu. (BRANDÃO, 2004, p. 57 e 58). 
O sujeito, para Benveniste, portanto, não é uma teoria 
satisfatória, já que desconsidera o ''tu'' e, principalmente, a 
historicidade. Termos, caro aluno (a), que até então em nossos 
estudos identificamos como sendo importantes à Análise do 
Discurso. 
Análise do Disc11rso J ( ___ ?_7 ___ _ 
O sujeito para Authier-Revuz 
Agora que e11contramos a contradição na concepção de 
sujeito em Benveniste, conhecere1nos outras concepções que 
melhor buscarn e11tender o sujeito. De11tre elas ten1os, a de 
Authier-Revuz, que abandona o egocentrismo do ''eu'', pois 
considera o ''tu'' não só na pessoa como tambérn no tempo e 
no espaço em que está situado. Para Brandão (2004, p.59), a 
concepção de sujeito de Authier-Revuz: 
Não está mais centrada na transcendência do EGO, 
mas relativizada no par EU-TU, incorpora11do o 
outro con10 constitutivo do sujeito. Disso deco1Te 
uma concepção de linguagem também não 
mais assentada na noção de homogeneidade. A 
linguagem não é mais evidência, transparência de 
sentido produzida por um sujeito uno, homogêneo, 
' todo-poderoso. E um sujeito que divide o espaço 
discursivo co1n o outro. 
Percebemos aqui que não há ainda uma concepção de 
homogeneidade da linguagem, mas sim, uma discussão em 
relação à heterogeneidade discursiva. Inclusive, Authier-Revuz( 1982) criou uma lista com as formas da hete1·ogeneidade, como 
vemos. 
Percebemos e11tão qt1e a homogeneidade também não é 
bem aceita, e ent1·are1nos nas discussões sob o ponto de vista da 
heterogeneidade discursiva. 
Authier-Revuz ( 1982) lista''[ ... ] fon11as de heterogeneidade 
que acusam a presença do outro'', vejamos quais são: 
___ 9_s ___ J ( Análise do Discurso 
f igura 1 -
Discurso 
relatado 
Conotação 
, . 
auton1m1ca 
Formas 
complexas 
•o discurso Indireto, no qual 
o "eu" coloca-se como um 
porta-voz do discurso de 
outrem; 
•espécie de discurso direto, 
no qual o locutor demarca 
claramente o discurso de 
outrem, seja por aspas, 
itálico, etc.; 
•a presença do outro não é 
explicitada- é um discurso 
seml velado, sugerido, não 
evidente. 
Fonte: Imagem elaborada pela autora 
Essas noções revelan1 um discurso heterogêneo que, 
inclusive, te1n bases na teoria do discurso bakhtiniana e, 
principalmente, na noção de sujeito que e1nerge dela, como 
• veremos a seg11rr. 
O sujeito para Bakhtin 
Para Bakhtin ( 197 8), a líng11a '' [ ... ] não e constituída por um 
sistema abstrato de formas linguísticas [ .. . ], mas pelo fenômeno 
social da interação verbal realizada através da enunciação e das 
enunciações''. Por meio disso, Bakhtin deixa claro que o ''eu'' 
nem é ne111 pode ser o ce11tro discursivo, posto que o sentido 
do discurso depende da interação entre um ''eu'' e um ''outro'', 
estabelecendo assim 11ma relação que o estt1dioso cl1ama de 
Dialogismo. Ao afirmar que, 
[ ... ] não tomo consciência de 1nim mesmo senão 
através dos outros, é deles que eu recebo as 
palav1·as, as formas , a to11alidade que forn1a a 
primeira i1nage1n de 111im n1es1no. Só 111e torno 
consciente de 1nim mesmo, revelando-me para o 
outro, através do outro e com a ajuda do 011tro 
(Bakhtin apud TODOROV, 1981, p. 148). 
Análise do Disc11rso J ( ___ ~_9 ___ _ 
Bak11tin (1978) evidencia a existência do ''tu'', que pode 
inclusive transfonnar e influenciar o sentido do discurso proposto 
pelo it1terlocutor. Isso, pois ao enunciar, o locutor estabelece um 
diálogo com o enunciado do receptor, em um jogo de contra 
disc11rso. Assim, temos em Bakhtin uma concepção de sujeito 
que se faz dialógica: ''O sujeito só constrói sua identidade na 
interação com o outro." (BRANDÃO, 2004, p. 76). 
O sujeito (Polifonia) em Ducrot 
, 
E em 1942 que Ducrot elabora, depois de várias tentativas, 
sua teoria da polifonia. Aqui, o estudioso revela a necessidade de 
se distinguir locutor de enunciador, seguindo novas diret1izes. 
Como ve111os: 
a) O locutor é apresentado como alguém a 
quem se deve imputar a responsabilidade pelo . , 
en11nc1ado. E a ele q11e referem o pronome eu e as 
demais marcas de primeira pessoa. b) O locutor, 
u1na ficção discursiva, é diferenciado do autor 
empírico, elemento da experiência (1987, p. 187). 
Aq1.1i Ducrot deixa claro sua recusa en1 admitir a ideia de u111 
produtor de fala que se integra ao sentido descritivo do enunciado. 
Assim, esse pensador se distancia de outras teorias discursivas 
posto q11e o foco não está na polarização prono1ninal, mas sim 
no acontecimento estabelecido pelo surgi1nento do enunciado. 
Dessa maneira, o locutor recebe duas representações: O 
responsável pela enunciação [L]; o locutor como ser no mundo 
[Y]. Essas são subdivisões representam o mundo inte1no do 
enunciado, portanto, são seres do discurso. Assim: 
[L ]- Locutor constituído no nível do dizer, por meio do 
en11nciado: é ele que1n enuncia; 
[Y]- constitui-se no nível do dito, é o conteúdo do 
enunciado, o ser empírico referido pelo locutor [l]. 
___ 1 o_o_J ( Análise do Disct1rso 
Segt1ndo Barbisam & Teixeira (2002, p. 168): 
A identificação de [Y] só é possível através de [L]. 
[L] qualifica o que [Y] faz, realizar um ato. Por 
exemplo, em Eu desejo, Eu remete a [Y], pois não 
é enquanto locutor que se experimenta o desejo, 
mas enq11anto ser do mt1ndo, e independentemente 
da asserção que se faz dele. 
Ou seja, para a teoria do sujeito de Ducrot, há um duplo de 
vozes, uma polifonia, que concretiza o discurso emitido em um 
enunciado. Por fim, caro aluno (a), veremos qual a concepção de 
sujeito para umjá conhecido nosso: Foucault. 
O Sujeito para Foucault 
Foucault, ao relacionar o sujeito com o poder, dá uma pers­
pectivaque se diferenciadas bases das perspectivas anteriores. Para 
esse estudioso, as relações de poder qt1e se liga ao st1jeito ah1am 
por completo em sua constituição. Como coloca Fernandes (2012, 
p. 7), essas relações ''são sutis, 1núltiplas, em diversos níveis''. 
Em ''O Sujeito e o poder'', Foucault (1995) explica que sua 
intenção 11U11ca foi analisar o poder em si, 111as sim, entender co1110 os 
seres humanos se tomam sujeitos. Para isso, o estudioso parte para a 
objetivação dos modos, e considera que um deles é a identificação 
e oposição do sujeito aos discursos do poder. Ao se opor, o st1jeito 
luta não só contra instâncias auto1itárias de poder, como tainbém 
contra o ''Gove1no da individualidade'', ou seja, contra o p1ivilégio 
do saber, bem con10 aos papéis mistificados in1postos às pessoas. 
Como coloca Silva & Machado (2016, p. 2003): 
Enfim, tais lutas giram em torno da busca de uma 
identidade, ''de quem somos nós'' e recusam os 
rótulos impostos pelas instâncias de poder que 
buscam determinar quem somos. Nessa luta, existe 
a formação de poder q·ue se aplicará à vida comum 
do indivíduo, na st1a identidade a ser reconhecida 
pelos outros. 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_0_1 __ _ 
Uma das questões centrais de Foucault é compreender 
co1110 surgen1 novos tipos de sujeitos. Diferentemente do 
111arxisn10, que ente11de o sujeito e11quanto reflexo de suas 
condições econômicas, esse pensador entende o sujeito como 
algo que não é dado previamente. Assim: 
Para Fot1cat1lt, o fato de o sujeito ser um efeito das 
relações dos discursos const11.1ídos nas relações de 
poder, não significa que o mes1110 está submetido 
a um porvir inevitável. A proposta do pensador é 
apontar que não há u111 sujeito preestabelecido, 
do qual emanariam as relações de poder, pelo 
contrário, os sujeitos são construídos e/ou 
prodt1zidos a partir dessas relações, pois, para este, 
a própria noção de sujeito tal como é, resulta de 
u1na produção, visto que ''o que cha1na1nos sujeito 
é um enunciado social''. (SILVA & MACHADO, 
2016, p.2003 ). 
Dessa maneira, os indivíduos podem ser chamados de 
nonnais, loucos, revolucionários, etc., sujeito daquele o desse 
discurso, daquela ou dessa ciência. A heterogeneidade volta, 
então, aos estudos do sujeito, quando Foucault entende que 
esse te111 sua identidade construída por um processo co11stante 
de produções e transfon11ações, já que é fruto de um an1biente 
heterogêneo e permeado por co11flitos sociais. Logo, a identidade 
de um sujeito é baseada na exterioridade social e constituída pela 
sua relação com o outro. 
Nesse contexto, o enunciado acaba por revelar a posição 
social do sujeito, localizando-o no emaranhado nó das relações 
de poder. Isso posto, 
O discurso como parte de um jogo de lt1tas de 
contradições e antagonismos referentes à vida dos 
sujeitos no meio social historicamente produzido, 
a resistência desses sujeitos também constitui 
uma forma de poder nas lutas, consistindo por 
___ I 0_2_) ( Análise do Disct1rso 
esses inativos em u1na prática discursiva. (SILVA 
& MACHADO, 2016, p.2005). 
Em suma, para Foucault, do sujeito emana os discursos que 
revelam os jogos de poder sociais, historicamente localizados. 
Eles são, dessa maneira, produtores de práticas discursivas que 
revelam ideologias, aceitações e inquietações e1n relação aos 
diversos tipos de gove1nos l1istóricos. O sujeito, portanto, está no 
centro das relações de poder,já que é por meio dele que conflue1n as 
relações sociais, co1no a resistência às don1inações, por exemplo. 
Na Análise do Discurso, l1ouve dentre os analistas do 
discurso várias formas de conceber o sujeito, desde Benveniste, 
que enxerga enquantoo sujeito de maneira egocêntiica e, por 
isso, insuficiente à umaAnáiise do Disct1rso satisfatória; passando 
por Authier-Revt1z, que inclui na noção de sujeito a questão de 
heteroge11eidade; Bakhtin, que dá grande destaque a existê11cia 
do ''tu'', que pode inclusive transformar e influenciar o sentido 
do discurso proposto pelo interlocutor; Ducrot, que estabelece 
a noção de Polifonia para o Sujeito; e, por fim, Foucault, que 
coloca o Sujeito como o ser que emana discursos embasados em 
contextos sociais e históricos, reveladores de jogos de poder. 
Análise do Disc11rso J (_1_03 __ _ 
Formação Imaginária e Formação 
Discursiva 
Ao fim deste capítulo, esperamos que você co1npreenda como 
funcionam as F 011nações Imaginária e Discursiva, à luz dos 
estudos propostos por Pêcheux, be1n como, como essas inserem­
se no contexto 111aior da Análise do Discurso, ton1ando-se 
i1nportantes meios de análise e compreensão de textos. 
Formação Imaginária 
Partindo do conceito proposto por Lacan para o Imaginário, 
Michel Pêcheux elaborou o conceito de formações imaginárias 
para a Análise do Discurso francesa. Segundo Pêcheux (2001 ), 
acontece nos processos discursivos uma série de fo11nações 
i1naginárias ''que determinam o lugar dAe B se atribuem cada um 
a si e ao out1·0, a i1nage1n que eles se fazem de seu próprio lugar 
e do lugar do outro (PÊCHEUX, 2001 , p. 82). Nesse contexto, 
para o autor, existem f on11ações i1naginárias, designadas, para 
ele da seguinte maneira: 
____ I 0_4 __ ) ( Análise do Disc11rso 
JA (IB)- lmagem1 ® 
luger de a pera o 
süJetbo ailocado 
em A: 
"'Quem1 ,6 eJe 
para q l!te e.u lhe 
fa le aslim2ª 
Figura 2 
lA (A)· Imagem 
do lugar A 1Para 
o sujeito 
colocado em A,: 
"Quem :sou eu 
para e111 lhe 
falar as:sim?ff 
.[6(B)~ lm~Qé'fli d'õ 
lugi!l'r B [l'.li!'il",i!I õ 
sujéllõ éõlõêãdõ 
êffl 8; 
""Q,111em $0\1 eu 
pã_i'ã1 ,qua @ll'é mi! 
f.ãlêi ãSsim?" 
[B (A)- Imagam 
do lugar de A 
para o stlljeuto 
ooloc.ado em118,: 
'\'Quem é ele 
paira ,que me 
falle ,assim?" 
Fonte: In1agen1 e laborada pela autora 
Para Orlandi (2003), as formações i111aginárias não fazem 
referência a sujeitos e/ou lugares empíricos, antes, às imagens 
que são resultados de suas projeções no discurso: ''São essas 
projeções que per1nitem passar de sitl1ações empíricas-os lugares 
dos sujeitos - para posições dos sujeitos no discurso. Essa é a 
distinção entre lugar e posição." (ORLANDI, 2003, p.40) . 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_os ___ _ 
Nas formações imaginárias aco11tece tun jogo de itnagens entre 
os sujeitos, e desses com os lugares que ocupam nos discursos e 
na sociedade (Discursos falados, possíveis, itnaginados). Nesse 
contexto, as formações imaginárias são rest1ltantes: elas surge1n 
de provessos discursivos ante1iores, mafinestando 110 discurso 
relações de força e sentido. 
Daí, caro aluno, vem a pergunta: O qt1e 
relação de forças? 
• seria essa 
A relação de força faz referência ao lugar onde o sujeito 
está ao emitir seu discurso. Para Orlandi (2001 ), as palavras 
não possuem significado sozinhas, há de existir um sujeito 
que as falam, em um determinado lugar ocupado, já que todo 
falante, bem como todo ouvinte, ocupa um determinado lugar 
na sociedade. Sendo assim, o sentido do que foi dito é resultado 
do qt1e A e B colocam em lugares determinados na organização 
social. Dessa for1na, o sujeito fala por 1neio do lugar de A, e suas 
palavras possuiria1n um significado diferente caso ele estivesse 
as pronunciando no lugar de B. 
Na relação de sentidos não existe discurso que não esteja 
relacionado com o outro. Os efeitos de sentido que surgem dessa 
relação ft1nciona da seguinte maneira: 
Um disct1rso apo11ta para 011tros, o sustentam, 
assi1n co1no para dizeres futuros. Todo discurso é 
visto como um estado de um processo discursivo 
mais amplo, contínuo . Não há, desse 1nodo, 
começo absoluto nem ponto final para o discu1·so 
(ORLANDI, 2003, p .39). 
___ I 0_6_) ( Análise do Disct1rso 
Outrossiln, o discurso se relaciona não só co1n outros já 
ditos, mas também, co1n os ilnaginados, possíveis. 
Como dissemos, as formações imaginárias antecedem o 
discurso. Esse mecanismo de antecipação nada mais é do que a 
projeção do locutor considerando seu lugar, em relação ao lugar 
do seu interlocutor. Há, aqui, o estabelecimento de estratégias 
discursivas, que visam os efeitos que seus enunciados podem gerar 
sobre seu receptor, regt1lando a argu1nentação para pronunciar da 
n1aneira almejada. ''Co1110 se trata, por hipótese, de antecipações, 
deve-se observar que esses valores precede111 eve11tuais 
'respostas' de B, vindo sancionar as decisões antecipadoras de A''. 
" (PECHEUX, 2001, p. 84). Assiln, os elementos estruturais das 
condições de prodt1ção disctrrsivas (Relação de sentido, força e 
antecipação) formam os processos de significação dos discursos. 
Já sabemos como os protago11istas intervé1n nas 
condições de produção dos discursos. Agora fica a dúvida: Co1110 
o referente participa da situação? 
Para Pêcheux (2001), o referente é um objeto imaginário, 
ou seja, ele é o ponto de vista do sujeito, não a realidade fisica 
desse. Observemos como explicaPêcheux (2001, p. 84): '' IA(R)­
'Ponto de vista' de A sobre R: 'De que ll1e falo assim?( ... ) IB(R)­
'Ponto de vista' de B sobre R: 'De que ele 1ne fala assi1n' ''. 
Segundo Orlandi (2003), os mecanismos de u1n processo 
discursivo resultam do que é material, institucional do mecanismo 
do imaginário. Esse imaginário, nesse contexto, produz ilnagens 
de quem fala e do objeto de seu discurso dentro de um contexto 
sócio histórico. Po1ianto, te1nos a ilnagem do lugar de quem 
fala ( o locutor), do lugar de que1n escuta ( o interlocutor) e o 
referente ''é pois todo um jogo imaginário que preside a troca 
de palavras'' (ORLANDI, 2003, p.40). Assim, para Coelho & 
Pereira (2011, p. 7): 
Análise do Disc11rso J ( ___ 1_01 ___ _ 
Nesse jogo imaginário, a 1na11eira como dizer 
significa de um modo deter1ninado, não está 
relacionada com os sujeitos e111píricos que 
discursam, mas sim com o lugar que esses ocupam 
, 
no discurso. E dessa froma que as condições 
de prodt1ção se fazem presentes nos processos 
de identificação dos locutores, interlocutores e 
referente p1·esentes no discurso . 
Orlandi (2003) coloca que é pensando nas condições 
de produção de discursos, sob a perspectiva das fo1mações 
imaginárias, que poderemos ter várias possibilidades regidas 
pela forma como a fo1mação social se insere na histó1ia. Dito 
isso, podemos concluir qt1e a Análise do Dsict1rso desvenda a 
produção de sentidos e, també1n, o i1naginário que os condiciona, 
pois ''Os sentidos não estão nas palavras elas 1nes1nas. Estão 
àquem e alé111 delas." (ORLANDI, 2003, p. 42). 
■ 'Caro aluno(a), acabamos de compreender como 
funcionam as fo11nações i1naginárias. Preparados para conl1ecer 
as formações discursivas? Vamos lá! 
Formação discursiva 
A primeira concepção de Fo1mação Discursiva foi 
elaborada por Micl1el Foucault, quando afirmou: 
Iluminado pela perspectiva Foucaultiana, Pêcheux 
desenvolveu sua própria perscpectiva, alinhada ao 1naterialismo 
dialético. Para esse pzensador, as formações discursivas 
são componentes correlacionados diretamente às fo1mações 
ideológicas. 
___ 1 o_s_J ( Análise do Disct1rso 
o 
Formações ideológicas são um conjunto de atitudes e de 
representações que não se constitue1n nem ''individt1ais'', 
1nt1ito menos ''universais''. Antes, se relacionam diretamente as 
posições de classes em disputa umas com as outras , em que 
a conjuntura ideológica as caracteriza enquanto u111a formação 
social e111 dado mo1nento. 
Para Pêcheux, cada formação ideológica traz uma ou mais 
fo1mações discursivas interligadas. Essas dete1minam 
O que pode e deve ser dito (articulado sob a for1na 
de u1na arenga, de um ser1não, de um panfleto, de 
u111a exposição, de u111 progran1a, etc.) a partir 
de t1ma posição dada numa conjuntura dada: o 
ponto essencial aqui é que não se trataapenas da 
natureza das palavras empregadas, mas também 
( e sobretudo) de constrt1ções nas quais essas 
palavras se combina1n [ .. . ] as palavras ''mudam 
de sentido'' ao passar de uma fo1·mação discursiva 
a outra. (PÊCHEUX, 1995, p.196). 
Aci111a, te111os o pri111eiro co11ceito de F armação Discursiva 
elaborado por Pêcheux. Em um segundo momento, esse 
estudioso relaciona F armação Discursiva com o Interdiscurso, 
ou seja, liga o conceito a um outro capaz de iluminá-lo ainda 
1nais, já que a interdiscursividade é a fo1mação dos interstícios: a 
F armação discursiva enquanto uma rede de co1nplexos discursos 
ideológicos que se tocan1, correlacionam-se: 
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