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KATHRYN KUHLMAN - UMA BIOGRAFIA AUTO

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Prévia do material em texto

Capa 
2 
 
 
Kathryn Kuhlman 
 
 
Uma Biografia Autorizada 
 
 
 por Jamie Buckingham 
 
 
 
 
 
 
 
 
Danprewan Editora 
3 
 
 
Publicado originalmente sob o título Daughter of destiny: the only authorized 
biography, por Bridge-Logos Publishers, Gainesville, FL 32614. Copyright © 1999. 
Tradução: Valéria Lamim Delgado Fernandes 
Revisão: Josemar de Souza Pinto e Segisfredo Wanderley 
Capa: Ronan Pereira 
Editoração Eletrônica e Projeto Gráfico: Futura Coordenação de Produção Editorial: 
Jorge Wanderley 
Os textos bíblicos citados são da NVI [Nova Versão Internacional] da Sociedade 
Bíblica Internacional, publicada pela Editora Vida. 
Primeira reimpressão: dezembro de 2005 
 
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
B936k 
Buckingham, Jamie 
Kathryn Kuhlman: uma biografia autorizada / Kathryn Kuhlman ; tradução de Valéria 
Lamim Delgado Fernandes. - Rio de Janeiro: Danprewan, 2005. 
271p. :il. 
Tradução de: Daughter of destiny: the only authorized biography 
ISBN 85-85685-93-X 
1. Kuhlman, Kathryn. 2. Evangelizadores - Biografia. - Estados Unidos - Biografia. 
I.TÍtulo. 
05-0998. CDD 922.273
CDU 929:266
31.03.05 05.04.05 009668
 
Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela: 
Danprewan Editora Ltda. 
E-mail: danprewaneditora@terra.com.br 
Site: www.danprewan.com.br 
 
Digitalizado por sssuca 
 
4 
 
 
Primeira Aba 
 
No final de sua vida, Kathryn Kuhlman percebendo que sua obra 
estava chegando ao fim e querendo que toda a sua história fosse contada, 
ela, sem hesitação, escolheu Jamie Buckingham para escrever sua 
biografia. Suas recomendações para ele foram muito simples: "Conte 
tudo, Jamie; conte tudo!". Jamie cumpriu os desejos de Kathryn, e, ao 
"contar tudo", fez com que este livro revelasse a natureza humana de 
Kathryn, junto com sua profunda espiritualidade. 
Tive o privilégio de estar presente em vários cultos de milagres da 
senhorita Kuhlman. Toda vez que curas milagrosas aconteciam em suas 
reuniões, ela sempre tinha o cuidado de atribuir a glória a Deus. Ela 
percebia que seu chamado não estava baseado em suas próprias 
habilidades. Ela gostava de repetir: "Deus escolhe as coisas loucas deste 
mundo para confundir os sábios". 
 
 
Segunda Aba 
 
O Reverendo Hummel, um evangelista batista, estava em 
Concórdia para um encontro de avivamento de duas semanas na pequena 
igreja metodista. Kathryn, que havia acabado de fazer 14 anos, participara 
de todos os cultos daquela semana. Às vezes ela se sentava ao lado da 
mãe, mas, quase sempre, se sentava com um grupo de garotas risonhas de 
sua idade. Na manhã de domingo, ao lado da mãe no encerramento do 
culto, quando o pastor fez o convite, Kathryn começou a chorar. Foi só 
anos mais tarde, quando pôde avaliar aquela experiência pela perspectiva 
do tempo e de outras experiências, que ela pôde entender que havia sido 
tocada pelo Espírito Santo. Os soluços eram tão fortes que ela começou a 
tremer. Emma observava sua filha alta e magra de 14 anos, mas não podia 
dar-lhe nenhum tipo de encorajamento. Como muitos na igreja, seu 
relacionamento com Deus era um relacionamento social. Estava limitado 
a bazares, reuniões sociais com missionários, tardes de chá (quando 
estava adequadamente vestida, é claro) e reuniões da igreja. Mas nunca 
tinha havido qualquer ensino de como responder a um dinâmico encontro 
com o Espírito Santo. Kathryn colocou seu hinário na prateleira na parte 
de trás do banco envernizado da frente e foi cambaleando para o corredor. 
Suas colegas, duas fileiras à frente, olhavam, de olhos arregalados, 
enquanto ela descia correndo o corredor e caía no primeiro banco. Com as 
mãos na cabeça, ela soluçava tão alto que podia ser ouvida por toda a 
igreja. 
5 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
Introdução .............................................................................................................. 6 
Prefácio do editor americano ................................................................................. 8 
1. Mistérios na Faixa Vermelha ............................................................................ 10 
2. Não Posso Voltar para Casa ............................................................................. 14 
3. Tendas e Galinheiros ........................................................................................ 28 
4. Pregue e Nunca Pare ........................................................................................ 42 
5. O Assassinato do Egípcio ................................................................................. 57 
6. A Sarça Arde ..................................................................................................... 64 
7. Pittsburgh ......................................................................................................... 79 
8. Tendas e Templos ............................................................................................ 88 
9. Por Trás das Portas Fechadas .......................................................................... 98 
10. A Sabedoria na Espera .................................................................................. 110 
11. Olá! Você Estava Esperando por Mim? ........................................................ 120 
12. Histórias Não Contadas ................................................................................ 126 
13. Adorando no Santuário ................................................................................ 135 
14. O Culto de Milagres ...................................................................................... 146 
15. Sempre Dando - Jamais Vazia ...................................................................... 166 
16. Traída! ........................................................................................................... 179 
17. O Trauma Final ............................................................................................. 190 
18. Uma Última Unção ....................................................................................... 201 
19. Epílogo: Além do que Vemos ........................................................................ 210 
Fotos ................................................................................................................... 212 
Contracapa ......................................................................................................... 218 
6 
 
 
Introdução 
A tarefa de escrever uma biografia é como fazer uma necropsia. O 
biógrafo pode, num frio exercício profissional, simplesmente reunir os 
fatos, conversar com pessoas, ler o que os outros disseram e tirar suas 
próprias conclusões impessoais. Entretanto, um processo desse tipo com 
Kathryn Kuhlman, a quem o próprio Deus ungiu, seria totalmente 
inadequado! A tarefa tinha de ser feita por alguém que não só conhecesse 
Kathryn, mas também o Deus dela; alguém que falasse a verdade, como 
fizeram os autores da Bíblia sobre o adultério de Davi, a insegurança de 
Elias e o mau humor de Paulo. Não obstante, precisava ser realizada por 
alguém que destacasse mais as partes saudáveis do que as doentias. 
Escrever a história de Kathryn Kuhlman é literalmente tocar na ungida de 
Deus. Portanto, a tarefa tinha de ser feita, verdadeiramente, com lágrimas 
nos olhos; porém, muito mais do que isso: com amor. 
Tendo trabalhado próximo a Kathryn Kuhlman e escrito oito de 
seus nove livros, eu já havia tirado muitas conclusões positivas sobre sua 
vida. Após sua morte, entretanto, quando conversei com seus críticos — 
que eram muitos —, minha própria atitude passou a ser áspera e crítica. 
Eu me ouvia discutindo sua vida e ministério, concentrando-me em 
alguma falha de caráter, alguma sombra de seu passado ou do mistério 
que cercava sua morte — e não no bem que ela fizera. Ao fazer eu mesmo 
a necropsia da história dela, estava me tornando como o patologista que 
se refere ao corpo de uma pessoa como um "ataquecardíaco" ou um 
"câncer de mama", enquanto o marido, angustiado, agüenta firme e diz: 
"Ela não era um 'câncer de mama'. Foi minha esposa por quarenta anos". 
O amor faz a diferença. 
Duas noites antes de me isolar para rascunhar o final deste livro, 
tive um sonho. No sonho, eu estava com Kathryn. Sentia amor por ela, e 
me sentia também amado. Não tinha conotação sexual; era um sincero 
relacionamento pessoal. Ela estava como eu me lembrava dela antes de 
sua morte — frágil e envelhecida, sem traços de beleza. Contudo, 
enquanto andávamos por um campo, caminhávamos de mãos dadas por 
uma travessa sombreada por árvores e permanecíamos em um profundo 
abraço, eu não só a amava, mas estava apaixonado por ela. Fazia quatro 
meses que ela havia falecido, e o sonho me assustou. Não era natural. Na 
noite seguinte, sonhei novamente. Dessa vez, eu usava roupas de um 
delegado. Kathryn estava comigo, sob certo tipo de prisão preventiva. 
Então, de algum lugar, outros delegados apareceram, todos 
uniformizados. Mas, em vez de me ajudarem, eles ridicularizavam Ka-
thryn, imitando sua voz e maneirismos. Zombavam dela. Ela ficava sen-
tada em silêncio o tempo todo em um pequeno banco ao lado da estrada 
de terra, de cabeça baixa, engolindo a vergonha, mas sem fazer nenhum 
7 
 
movimento em sua própria defesa. Nervoso e frustrado, eu me levantei 
para protegê-la. 
Compartilhei os dois sonhos com minha esposa e dois amigos 
próximos. Todos concordaram dizendo que Deus me havia dado os 
sonhos para que eu tivesse um componente completamente necessário 
para escrever e interpretar a vida de Kathryn Kuhlman: amor. 
 
8 
 
 
Prefácio do editor americano 
No final de sua vida, Kathryn Kuhlman, percebendo que sua obra 
estava chegando ao fim e querendo que toda a sua história fosse contada, 
escolheu, sem hesitação Jamie Buckingham para escrever sua biografia. 
Suas recomendações foram muito simples: "Conte tudo, Jamie; conte 
tudo!". Jamie cumpriu os desejos de Kathryn e, ao "contar tudo", fez com 
que este livro revelasse a natureza humana de Kathryn, junto com sua 
profunda espiritualidade. 
Tive o privilégio de estar presente em vários cultos de milagres da 
senhorita Kuhlman. Toda vez que curas milagrosas aconteciam em suas 
reuniões, ela sempre tinha o cuidado de atribuir a glória a Deus. Percebia 
que seu chamado não estava baseado em suas próprias habilidades. Ela 
gostava de repetir: "Deus escolhe as coisas loucas deste mundo para 
confundir os sábios". 
Antes de cada culto, ela orava: "Não retires o teu Santo Espírito de 
mim", e é esta abordagem que ajuda a explicar o fenômeno Kathryn 
Kuhlman e as maravilhas sobrenaturais que marcaram seu ministério. 
Ouvi-la falar, vê-la orar pelos enfermos e ministrar o amor de Deus a lei-
gos e clérigos era perceber-se na presença de Deus. Na Convenção 
Internacional da ADHONEP (Associação dos Homens de Negócios do 
Evangelho Pleno), em Washington, D.C., no ano de 1969, por exemplo, vi 
quando Kathryn chamou à frente os pastores e sacerdotes que estavam 
presentes. Centenas de homens responderam ao seu chamado, 
representando muitas tradições religiosas: ministros protestantes, padres 
da Igreja Católica Romana, clérigos da Igreja Ortodoxa Grega e rabinos 
judeus. A senhorita Kuhlman foi até cada um deles, olhou bem dentro de 
seus olhos e disse: "Irmão, você tem fome de Deus". Enquanto Kathryn 
tocava na fronte desses homens e orava em seu favor, eles "caíam sob o 
poder", conscientes somente de Deus e de seu grande amor. A impressão 
que se tinha era que cada um deles voltaria para sua congregação com um 
zelo e um compromisso renovados. 
O primeiro editor desta obra escreveu: "Este livro é uma história 
fiel e amorosa sobre a vida de Kathryn como nós a conhecíamos. Fala de 
uma mulher que foi ridicularizada por alguns, venerada de fato por outros 
e que, certamente, tem um lugar no Hall da Fama de Deus". 
Embora proponha muitas perguntas, este relato biográfico 
também oferece respostas claras sobre a motivação e o poder que estavam 
por trás do ministério singularmente abençoado de Kathryn Kuhlman. 
Cremos que este livro ministrará à sua vida, ao mesmo tempo que lhe 
oferecerá novas percepções e informações objetivas sobre a vida e o 
ministério de Kathryn Kuhlman. Oramos para que a unção especial que 
9 
 
esteve sobre a vida de Kathryn continue a fluir das páginas deste livro, 
tocando e curando vidas com o poder e o amor de Deus. 
 
Lloyd B. Hildebrand 
 
10 
 
 
Capítulo 1 
Mistérios na Faixa Vermelha 
Na morte como na vida, Kathryn Kuhlman permaneceu envolvida 
em mistério. Aparecia nas telas de nossa televisão e em púlpitos distantes 
como uma figura imaginária — audaciosa em sua pregação, porém 
compassiva a ponto de chegar às lágrimas enquanto proclamava cura às 
multidões de enfermos. O mundo, desde o das modelos de moda da 
Quinta Avenida, em Nova York, passando pelo das estrelas de Hollywood, 
ao das mulheres de capacete que trabalhavam em fábricas em Pittsburgh, 
era inundado por seus cultos de milagres. Em um planeta assolado por 
enfermidades e trevas espirituais, ela representava aquele ingrediente 
único sem o qual a raça humana está condenada — a esperança. Muitos 
eram curados. Outros, ao vir nela a glória de Deus, entregavam a vida ao 
Cristo que ela proclamava. Em sua pregação e estilo de vida, parecia 
encarnar a saúde, o amor e a prosperidade do Deus a quem tão 
reverentemente servia. Para muitos, ela parecia quase imortal. Na 
realidade, Maggie Hartner, secretária pessoal e amiga íntima de Kathryn, 
certa vez me disse: "Kathryn Kuhlman jamais morrerá. Ela estará bem 
aqui até Jesus voltar". 
No entanto, ela morreu em 20 de fevereiro de 1976, em um 
estranho hospital, em uma estranha cidade, cercada de pessoas que ela 
mal conhecia, tendo um homem, a quem certa vez desprezou, à espreita, 
pronto para pregar em seu funeral. 
A mulher a quem uma revista chamou de "verdadeiro Santuário de 
Lourdes" morreu aos 68 anos de idade. 
Quando ela morreu, havia mais de cinqüenta convites sobre sua 
mesa em Pittsburgh que lhe imploravam para realizar cultos de milagres 
em comunidades por todo o mundo. Um oficial do Exército dos Estados 
Unidos na Tailândia lhe havia escrito para convidá-la a visitar o Extremo 
Oriente. Ali estavam um convite da Nova Zelândia, dois da Austrália, 
cinco da Europa e inúmeros convites representando as principais cidades 
dos Estados Unidos. O mais comovente era o da primeira-dama de 
Wyoming, a senhora Ed Herscher — uma vítima de esclerose múltipla —, 
pedindo-lhe que fosse a Cheyenne. 
A morte de Kathryn cancelou todos aqueles convites, mas 
aumentou o mistério e a intriga que cercaram sua vida. 
Nem tudo estava bem. Por cerca de quatro meses, Kathryn fora 
quase prisioneira de dois hospitais, um em Los Angeles e outro emTulsa. 
D. B. "Tink" Wilkerson,um revendedor de carros de Tulsa e membro do 
11 
 
conselho da Universidade Oral Roberts, havia entrado misteriosamente 
em sua vida havia oito meses. Quase desconhecidos antes disso, ele e a 
esposa, Sue, abandonaram os negócios, a casa e a família para viajar 
constantemente com Kathryn. Em sua debilitada condição, ela não con-
fiava em mais ninguém. Os Wilkersons cuidavam de todas as suas neces-
sidades pessoais, incluindo suas finanças. 
No dia seguinte à sua morte, Wilkerson, sua esposa e o guarda-
costas pessoal de Oral Roberts acompanharam seu corpo de Tulsa a Los 
Angeles. Às 10 horas, no domingo, os Wilkersons e o guarda-costas, sr. 
Johnson, chegaram ao cemitério de Forest Lawn com as roupas e o estojo 
de maquiagem de Kathryn. Deram ordens estritas para que "ninguém, 
absolutamente ninguém" visse o corpo. O Forest Lawn, cercando o fune-
ral com uma "faixa vermelha", pôs o corpo de Kathryn no segundo andar, 
em uma sala com uma entrada e janelas que ficaram trancadas e 
interditadas. O sr. Johnson ficou sentado do lado de fora, no corredor, 
vigiando a entrada. Ninguém, nem mesmo Maggie Hartner ou outras 
amigas íntimasde Kathryn, pôde ver seu corpo. Somente os Wilkersons. 
Após o funeral, foi revelado que, dois meses antes de morrer, 
Kathryn havia feito outro testamento. Embora tivesse deixado 
US$267.500 para serem divididos entre vinte funcionários e três 
parentes, o restante de seus mais de 2 milhões de dólares em bens 
pessoais deveria ficar com os Wilkersons. Reportagens na primeira página 
dos jornais por todo o país diziam: "Kathryn Kuhlman, a evangelista que 
solicitava de seus seguidores milhões de dólares em contribuições, não 
deixou nenhum de seus bens para sua fundação ou para a igreja". 
Os seguidores de Kathryn ficaram magoados e irritados. Mas a 
mudança no testamento de Kathryn era só a ponta do iceberg. A cada dia 
que se passava depois de sua morte, fatos novos e inquietantes vinham à 
tona.Telefonei para Gene Martin, um ex-associado de Kathryn que havia 
expandido sua missão. Ele estava participando de uma convenção das 
Assembléias de Deus em San Diego, mas concordou em se encontrar 
comigo se eu viajasse de avião para a Califórnia. Nós nos encontraríamos 
no saguão do Hotel El Cortez, no dia 22 de abril, às 14h30. Quando 
cheguei, depois de um vôo que atravessou toda a Flórida e de haver 
alugado um carro para ir de Los Angeles a San Diego, o que encontrei foi 
só um recado na recepção do hotel. Martin havia mudado 
misteriosamente de idéia e agora se recusava a conversar. 
Voltei de avião para Tulsa, onde a trama se complicou. Oral 
Roberts, que havia falado de modo tão admirável de Kathryn em seu 
funeral (organizado por Tink Wilkerson), não quis me ver. Vazara a 
notícia do Hillcrest Hospital, em Tulsa, de que todas aquelas notas 
divulgadas por Tink Wilkerson antes da morte de Kathryn, dizendo que o 
estado dela estava melhorando, eram falsas. As enfermeiras atestaram a 
gravidade de seu estado pós-cirúrgico no final de dezembro, como 
também disseram que ela quase morrera em três ocasiões. Agora, 
12 
 
descobri, havia pressão de fontes "fora do hospital", e as enfermeiras 
foram proibidas de falar. A conspiração do silêncio aumentava o mistério. 
O enigma aumentou ainda mais quando inúmeras pessoas de Tulsa 
falaram-me de um sonho que haviam tido na noite anterior à morte de 
Kathryn, dizendo que haviam sonhado que não era a hora de Kathryn 
morrer. Deixei Tulsa curioso por saber a razão por que todos se 
recusavam a falar, bem como descobrir quem estava dizendo a eles que 
fechassem a boca. 
De volta a Pittsburgh, David Verzilli, pastor auxiliar de Kathryn 
durante vinte e dois anos em Youngstown, Ohio, um homem que fora (nas 
palavras de sua esposa em uma carta sarcástica a Maggie Hartner) 
"privado de toda confiança em si mesmo" por conta do domínio de 
mulheres em sua vida e em seu ministério, também se recusou a con-
versar comigo. 
Entrei em contato com Dino Kartsonakis, antigo pianista de 
Kathryn. Um ano antes, quando as denúncias públicas que fez contra ela 
apareceram na primeira página dos jornais do país, ele me dissera que 
estava disposto a "expor" Kathryn. Agora, no entanto, não abria a boca. 
De todos os envolvidos na trama, além da equipe leal de Kathryn, 
só Tink Wilkerson, um homem calmo e agradável, porém astuto, se 
propôs a falar. Passei mais de três horas com ele na outrora bela casa de 
Kathryn, no subúrbio de Fox Chapel, em Pittsburgh. A casa agora se 
achava cercada de seguranças armados. Tink estava acompanhado de dois 
seguranças. A transportadora estava limpando a casa, retirando todos os 
quadros e antigüidades inestimáveis, para colocá-los em um depósito. 
Tink disse que me estava dizendo a verdade, e eu realmente queria 
acreditar nele. Contudo, algumas das coisas que ele me disse eram difíceis 
de engolir. Entre elas, sua alegação de que, segundo o desejo de Kathryn, 
ele só ficaria com 40 mil dólares da herança dela. Afirmou que ficou "tão 
surpreso quanto qualquer outra pessoa ficaria" quando descobriu que 
Kathryn havia manifestado um novo desejo e o nomeara como o principal 
beneficiário do testamento dela — embora tenha sido o advogado dele, de 
Tulsa, seguindo suas instruções, que foi de avião para Los Angeles acolher 
e registrar em documento a mudança no testamento de Kathryn, que 
favorecia a Wilkerson, para ela assinar, enquanto jazia no leito, 
gravemente enferma. 
O que estava sendo ocultado? Que estranhos poderes essas 
pessoas — que haviam entrado na vida de Kathryn no seu último ano de 
vida — tinham sobre ela? Por que tantas pessoas estavam escondendo a 
verdade? Haveria algum tipo de sujeira, como muitos suspeitavam? Teria 
Deus, como alguns têm sugerido, levado Kathryn desta terra como fez 
com Moisés — porque seu ministério havia chegado ao fim?! Ou seria (e 
isso é o mais intrigante, porque era a coisa que Kathryn mais temia) o 
caso de o Espírito Santo ter se retirado dela, deixando-a sem poder para 
continuar até com a própria vida? Qual foi a verdade em sua morte? 
13 
 
As respostas para todas essas perguntas pareciam estar na própria 
Kathryn, e não naqueles que a cercavam. Para obter as respostas, eu sabia 
que teria de voltar ao início, às raízes de sua herança, e começar ali. 
 
14 
 
 
Capítulo 2 
Não Posso Voltar para Casa 
Nas terras do Missouri central, quando o inverno chicoteia as 
pradarias com tempestades de neve e granizo que uivam como lobos e 
fustigam como urtigas, dizem que a única coisa que separa Concórdia do 
Pólo Norte é uma cerca de arame farpado — e até isso chega a cair. 
Os verões são igualmente difíceis, pois não há lugar em toda a 
terra tão quente quanto o Missouri em agosto — exceto o Kansas em 
julho. Mas, entre o inverno e o verão, quando a terra floresce vistosa e 
verde na primavera, os pés de milho impactam; e depois ficam cercados 
de abóboras amarelas no outono. Missouri pode ser o lugar mais lindo de 
toda a terra. 
Kathryn nasceu ali, 8 quilômetros ao sul de Concórdia, em uma 
fazenda de 160 acres, em 9 de maio de 1907. Sua idade — até o dia de sua 
morte — foi um dos segredos mais bem guardados do mundo. Não inte-
ressa a ninguém, só a mim", Kathryn dizia ao dr. Carl Zabia no St. John 
Hospital, em Los Angeles, quando ele entrou em seu quarto para per-
guntar sua idade. 
— Coloque aí "mais de 50". 
— Sinto muito — disse, sorrindo, o médico judeu —, mas preciso 
saber sua idade certa para prescrever a dosagem precisa do remédio. 
— Ninguém — disse ela, num sussurro, examinando o médico de 
sua posição no leito —, ninguém sabe a minha idade. Mas, querido 
doutor, se o senhor me passar um pedacinho de papel, eu a escrevo. — E, 
dando uma risada, acrescentou: — Mas não ouse sussurrá-la a uma 
vivalma. 
Kathryn estava quase certa. Algumas pessoas sabiam sua idade. 
Maggie Hartner era uma delas. Mas, quando tentei arrancar a informação 
de Maggie, ela me lançou o mesmo olhar que Kathryn uma vez me lançara 
e disse: 
— Ora, eu também não revelaria minha idade. Que mulher faria 
isso? 
Incapaz de combater aquele tipo de vaidade feminina, decidi 
esperar até poder pôr as mãos no passaporte de Kathryn ou checar os 
registros em Concórdia. 
Kathryn gostava de deixar as pessoas adivinharem. Ela disse ao 
jornalista canadense Alien Spraggett, em 1966, que tinha 84 anos — e, 
então, ficou indignada ao ver que ele havia feito menção dela em seu livro 
15 
 
The unexplained [O inexplicado]. Quando ela morreu, a manchete de pri-
meira página do Los Angeles Times no final da manhã foi: "Kathryn 
Kuhlman Morre aos 66". Eles diminuíram dois anos. Ela deve ter dado 
risada no céu. Adorava colocar coisas na imprensa. E ter apelado ao 
prestigioso Los Angeles Times foi um de seus maiores erros — principal-
mente quando foi descoberto que o jornal havia obtido suas informações 
com os funcionários do hospital. Ela havia, mesmo morrendo, mentido 
para o médico sobre sua idade. Sua vaidade prevaleceu, mesmo no fim, e, 
junto com ela, seu senso de humor e a satisfação de ter levado para o 
túmulo sua idade em segredo. 
Sem dúvida, os registros em Concórdia deram a data verdadeirae, 
ao mesmo tempo, esclareceram outro mistério: seu local de nascimento. 
Kathryn sempre sustentou a idéia de que havia nascido no casarão de dois 
andares na 1018 St. Louis Street, em Concórdia, uma pequena 
comunidade de 1.200 habitantes ao longo da estrada de ferro que ligava 
St. Louis à cidade de Kansas. Exatamente por que ela insistia que havia 
nascido na cidade, e não na fazenda, ninguém parece saber ao certo. 
Em uma entrevista comigo, gravada em fita, ela disse: "Quando 
papai se casou com mamãe, ele prometeu-lhe que, se ela se mudasse com 
ele para o campo até a fazenda ser paga, construiria para ela a maior casa 
de Concórdia. Depois de lavar a louça do jantar, mamãe fazia um desenho 
do casarão que papai sempre lhe prometia quando a fazenda estivesse 
paga. Bem, o dia chegou. A fazenda foi paga. Papai construiu para mamãe 
o tipo de casa que ela queria. Cheguei juntamente com a casa. Era uma 
casa grande. E sabe de uma coisa? Desde o momento em que nasci 
naquela casa até o dia de hoje, tudo tem de ser grande. Eu não tinha 
complexo de inferioridade, pois sabia que era amada. Sabia que era uma 
criança desejada. É muito tranqüilizador para uma criança ter essa 
certeza. Eu sempre soube disso. Não tinha dúvida de que era a menina-
dos-olhos do papai". 
Ninguém questionava isso. Mas todos contestavam o fato de ela 
ter nascido no casarão em Concórdia. 
Joseph A. Kuhlman era um fazendeiro alto, de cabelos cacheados e 
descendência alemã — como eram quase todas as pessoas em Concórdia, 
uma pequena comunidade de fazendeiros luteranos, cerca de 100 
quilômetros a leste da cidade de Kansas. Ele tinha 25 anos quando se 
casou com Emma Walkenhorst, com apenas 17 anos na época. Eles 
imediatamente se mudaram para a fazenda de Kuhlman, uma grande 
extensão de terra, cerca de 8 quilômetros ao sul de Concórdia, no 
Condado de Johnson. A irmã mais velha de Kathryn, Myrtle, nasceu ali, 
bem como seu irmão mais velho, Earl. Myrtle tinha 15 anos, e Earl, 10 
anos, quando Emma Kuhlman deu à luz seu terceiro filho. 
Tia Gusty (Augusta Pauline Kuhlman Burrow), a irmã mais velha 
de Joe Kuhlman, chegou naquela mesma tarde. Era quinta-feira, por volta 
das 16 horas. Ela vinha puxada por uma égua amarrada ao balancim de 
16 
 
uma charrete. Assim que amarrou as rédeas em um poste de madeira ao 
lado da casa de dois andares, que ficava no meio dos 40 acres ao norte da 
fazenda, ela subiu ao quarto onde Emma amamentava a recém-nascida. 
Gusty, que tinha quatro filhos, era uma mulher de fala mansa que nunca 
havia interferido nos assuntos de seu irmão, Joe. Mas, dessa vez, se o que 
havia ouvido de Fanita, sua filha de 12 anos, era verdade, achava que 
estava na hora de deitar o verbo. 
— Emma, fiquei sabendo que você vai chamar a menina de 
Kathryn. 
— É isso mesmo. Pouco antes de sua mãe morrer, Joe e eu 
conversamos com ela. Dissemos-lhe que colocaríamos o nome dela em 
nosso bebê, caso fosse uma menina — apenas vamos mudar a grafia. 
(Katherine Marie Borgstedt nascera na província de Westphalia, 
Alemanha, em 1827. Casara-se com Johannes Heinrich Kuhlman em 
1851, e o jovem casal emigrara para os Estados Unidos dois anos depois, 
estabelecendo-se na comunidade de língua alemã de Concórdia, Missouri. 
Ela morreu aos 80 anos, três meses antes de sua nora dar à luz sua xará.) 
— É um lindo nome alemão — Gusty disse em voz baixa —, mas 
você precisa se lembrar de que nenhuma das meninas de mamãe se 
chamou Katherine. 
— Então chegou a hora de uma das netas levar o nome. 
— Você não entende? — continuou Gusty. — O nome não soa bem 
em Missouri. Toda mula no Estado se chama Kate. A mula que deu coices 
em Jason, filho de nossa irmã Mary Magdalana, até ele morrer, se 
chamava Kate. Um nome assim será uma desgraça para toda a família 
Kuhlman. 
Emma ficou indignada. 
— Bem, o nome não será uma desgraça para a família Wallenhorst. 
Além disso, o nome dela não é Kate, mas Kathryn Johanna — Johanna 
conforme o nome de minha mãe. E ela também não será uma desgraça 
para os Kuhlmans. Isso eu prometo. 
Foi uma promessa que, nos anos vindouros, Emma Kuhlman 
muitas vezes temeu não poder cumprir. Mas nada iria demovê-la de sua 
teimosa idéia alemã. Virando-se para Myrtle, com 15 anos, que estava em 
pé do outro lado do quarto, Emma disse: 
— Kathryn Kuhlman. Acho que esse nome soa bem. Você não 
acha, Myrtle? 
Myrtle balançou a cabeça com vigor, e encerrou-se a discussão. 
Gusty não disse mais nada. Afagou a pequena criança que estava 
acomodada novamente no seio de Emma e, então, se retirou, descendo as 
escadas em direção à charrete. 
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— Já vai ser terrível crescer de cabelo vermelho — disse para sua 
égua enquanto a desamarrava — e ainda ter de passar a vida com um 
nome como Kate é mais do que qualquer criança deveria suportar. 
Dois anos haviam passado quando Joe Kuhlman, com sua fazenda 
paga e dinheiro no bolso, aproximou-se de William H. Petering, o carteiro 
local, e fechou um negócio adquirindo um grande terreno na St. Louis 
Street, em Concórdia. A compra foi feita em 23 de fevereiro de 1909, e o 
valor de 650 dólares foi devidamente registrado no Fórum do Condado de 
Lafayette. A construção começou no ano seguinte, mas foi só em 1911 que 
os Kuhlmans — Joe e Emma — e seus três filhos, Myrtle, Earl (que era 
chamado Kooley) e Kathryn, de 4 anos, se mudaram. 
Por que Kathryn sempre sustentou que havia nascido no casarão 
branco de dois andares é mais um dos muitos mistérios que envolvem sua 
vida. Contudo, ela nunca abriu mão do mito. Em 1972, logo depois que 
Kathryn Kuhlman recebeu um título de doutorado honorário na 
Universidade Oral Roberts, em Tulsa, Oklahoma, Rudi Plaut, um fiel 
admirador dela em Concórdia, iniciou uma campanha local para que fosse 
erigido um marco histórico permanente em sua homenagem. O marco 
diria, em parte: 
"O local de nascimento de Kathryn Kuhlman; ela foi membro da 
Igreja Batista, uma ministra ordenada da Evangelical Church Alliance, 
conhecida por sua fé no Espírito Santo." 
A população não gostou da idéia. A cidade natal de Kathryn não 
partilhava do entusiasmo geral para com ela. Circulavam boatos de que 
Kathryn Kuhlman era muito rica. Parece que muitas das ligações tele-
fônicas de Kathryn para a mãe, enquanto Emma ainda era viva, foram 
monitoradas pela telefonista local. Quando Kathryn alardeava para a mãe 
o volume de uma oferta específica ou o número de pessoas que compa-
reciam à reunião, isso imediatamente se tornava público na pequena 
cidade. Uma vez que grande parte das pessoas em Concórdia pertencia a 
um grupo de renda média e baixa, havia uma opinião geral de que alguém 
que estivesse além disso, principalmente caso se tratasse de pessoa 
envolvida com religião, deveria ser desprezado. Alguns dos membros da 
igreja batista local achavam que Kathryn deveria tê-los ajudado em seu 
programa de construção, uma vez que ela nunca se tornou membro de 
outra igreja. Havia outros fatores que levavam a pequena comunidade 
conservadora a não considerar com tanta amabilidade sua mais famosa 
cidadã: sabia-se que se associava aos pentecostais. Ela praticava a cura 
divina e se recusou uma vez a dar uma audiência a um velho amigo de 
escola quando veio para a cidade de Kansas para um culto de milagres. 
Tudo isso serviu para levantar suspeita por parte de alguns cidadãos. 
Então, quando um pequeno grupo, liderado por Rudi Plaut, propôs o 
marco histórico, afirmando que Kathryn havia nascido em Concórdia 
(quando todos os moradores mais antigos sabiam que ela havia nascido 
na fazenda do Condado de Johnson), isso foi a gota d'água. 
18 
 
Em 31 de julho de 1972, Kathryn escreveu para Harry R.Voight, 
um historiador local e professor da Faculdade de St. Paul, em Concórdia: 
"Esta carta dá permissão ao senhor para colocar o sinal proposto na 
estrada, afirmando que Concórdia é o local de nascimento de Kathryn 
Kuhlman". 
Um grupo de cidadãos enraivecidos convocou uma reunião dos 
moradores da cidade marcada por muita discussão e gritaria.Infelizmente, o povo de Concórdia havia se esquecido de que o nome de 
sua pequena cidade significava harmonia. Gary Beizzenhen, editor do 
jornal local The Concordian, decidiu resolver a questão. Ele escreveu para 
Kathryn pedindo-lhe que informasse a data e o local específicos de seu 
nascimento. É claro que Kathryn ignorou o primeiro pedido, mas, quanto 
ao local de seu nascimento, escreveu: 
 
"Esteja certo de que me sinto muito honrada em receber 
a homenagem do povo de minha cidade natal ao erigir um 
marco histórico apontando Concórdia como meu local de 
nascimento! 
"Sempre tive orgulho do fato de ter nascido em 
Concórdia, onde as pessoas ainda são 'as melhores do 
mundo' e continuam a ser o sal da terra..." 
 
Quando a carta veio a público em Concórdia, o sal da terra perdeu 
seu sabor. As pessoas a quem Kathryn considerou "as melhores do 
mundo" se irritaram e se recusaram a deixar que o marco fosse colocado 
na estrada. Se tivesse de haver um sinal em algum lugar, seria fora da 
State Road 23, no Condado de Johnson. Havia algumas coisas das quais 
Concórdia poderia ter orgulho, mas esta "serva do Senhor" não era uma 
delas. 
Embora o povo de Concórdia quisesse renegar Kathryn depois que 
ela ficou famosa, ela nunca expressou outra coisa, senão bondade e gra-
tidão, pela cidade onde havia sido criada. Joe Kuhlman montou uma 
empresa de frete, operando um estábulo de aluguel e dirigindo um 
negócio de entregas. Ele era conhecido como a pessoa mais abastada na 
comunidade. Por mais que fosse um batista rebelde que detestava todos 
os pregadores, se elegeu prefeito em uma cidade em que 90% das pessoas 
eram luteranas. 
Kathryn só tinha 6 anos quando sua irmã mais velha, Myrtle, 
casou-se com um jovem estudante e evangelista, Everett B. Parrott, e se 
mudou para Chicago. Isso aconteceu três anos antes de Emma dar à luz o 
último filho dos Kuhlmans, Geneva. Mas, nesse ínterim, Kathryn e seu 
irmão conseguiam fazer o que queriam com o pai. O pai lhes dava tudo o 
que queriam - e deixava a disciplina nas mãos da mãe. Era uma situação 
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desajustada que afetaria a personalidade de Kathryn pelo resto de sua 
vida. 
Quando, aos 16 anos, Kooley (a quem a família Kuhlman chamava 
de "Garoto") teve uma crise de apendicite enquanto a família estava 
reunida na casa do vovô Walkenhorst para a ceia de Natal, Joe quase 
perdeu a cabeça por causa da ansiedade. A mãe de Emma morrera muito 
nova por causa de uma apendicite, o que era considerado algo quase fatal 
no início do século 20. Joe transformou um dos cômodos do casarão na 
St. Louis Street em um quarto hospitalar, trouxe um médico e duas enfer-
meiras da cidade de Kansas e gastou uma pequena fortuna para restabe-
lecer a saúde do Garoto. Em uma tarde, ele fez as duas enfermeiras levan-
tarem o Garoto da cama e o ajudarem a ir até a janela para que pudesse 
ver o novo brinquedo que lhe havia comprado. Era um Dusenberg, um 
carro de corrida de alta velocidade novinho em folha — o mesmo tipo que 
estava sendo usado nas pistas de Indianápolis. Após a recuperação de 
Kooley, o pai também lhe comprou um avião, que ele aprendeu a pilotar, 
viajando por todo o Meio-Oeste fazendo acrobacias. Quando não estava 
voando, ele estava correndo com seu carro em feiras do condado. A mãe 
não aprovava a idéia, mas o coração do pai era mole e generoso. Kooley 
tinha tudo o que pedia. De acordo com aqueles que o conheciam, ele era 
"travesso". Um relato diz que ele pertencia à "Midnight Tire Company", 
um grupo de homens que perambulavam pelo campo à noite, roubando 
pneus para revenda. Mais tarde, ele se casou com Agnes Wharton, a quem 
o povo de Concórdia descreveu como uma "mulher maravilhosa", que 
contribuiu para dar um jeito em seu modo mimado. Ele foi trabalhar para 
Heinie Walkenhorst (que não tinha nenhum parentesco com sua mãe) 
como mecânico de automóveis. 
Kathryn idolatrava o pai. Ele ficava sentado em silêncio, enquanto 
ela penteava seus cabelos cacheados ou passava o pente em seu bigode 
espesso. Muitas vezes, mesmo após ter-se tornado uma adolescente com 
pernas compridas, ele a colocava no colo e a deixava reclinar sua cabeça 
em seu ombro."Papai viveu e morreu sem nunca ter me castigado uma 
única vez", ela me disse."Ele nunca pôs as mãos em mim. Nunca. Era 
mamãe quem me castigava. Eu descia para o porão a fim de que os 
vizinhos não me ouvissem gritar. Então, quando papai chegava em casa, 
eu corria para os braços dele, sentava-me no seu colo, e ele levava embora 
toda a dor. 
"Não me lembro, quando era criança, de mamãe ter demonstrado 
alguma afeição por mim. Nunca. Mamãe era uma disciplinadora perfeita. 
Ela nunca disse que sentia orgulho de mim nem que eu me saía bem. 
Jamais. Era papai que me dava amor e afeição." Depois que Kathryn ficou 
famosa, costumava pegar o telefone à noite, ligar para a mãe em 
Concórdia, conversando por horas a fio. De acordo com a telefonista, 
Kathryn estava sempre tentando provar para a mãe que havia alcançado o 
sucesso."Ela dava risadinhas sem parar", disse-me a ex-telefonista, "e, é 
claro que ficávamos ouvindo-as e rindo também. Depois, ela contava para 
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a mãe tudo o que havia conseguido. 'Mamãe, montei a maior árvore de 
natal da cidade. É muito alta e tem mais de 5 mil lâmpadas.' Falava sobre 
o volume de ofertas em seus cultos de milagres como se estivesse 
tentando convencer a mãe de que ela era um sucesso". 
Parece que há uma ampla evidência de que Kathryn merecia todas 
as surras que levava quando criança. Quando visitou o vovô Walkenhorst 
em sua fazenda, ele lhe mostrou seu pomar de melancias, explicando que, 
mesmo que estivessem verdes do lado de fora, as melancias eram sempre 
vermelhas por dentro. Kathryn, até o dia em que morreu, não gostava de 
acreditar no que os outros diziam. Sua natureza curiosa exigia que ela 
mesma conferisse tudo. Assim, depois que o vovô Walkenhorst voltou 
para casa, Kathryn, com 9 anos, pegou uma faca de açougueiro e cortou 
todas as melancias do pomar — mais de cem delas — só para ter certeza 
de que eram todas vermelhas por dentro. Quando Kathryn chegou em 
casa, a mãe já esperava por ela no primeiro degrau do porão. 
O aniversário de sua mãe era no dia 28 de agosto. Quando Kathryn 
tinha 9 anos, coincidentemente ele caiu em uma segunda-feira. Esse era o 
dia de Emma Kuhlman lavar roupa. Era, como Kathryn disse mais tarde, 
"parte de sua teologia". Ela lavava roupa na segunda e a passava na terça 
— assim como ia à igreja no domingo. Kathryn achou que a coisa mais 
simpática que poderia fazer para a mãe, que sempre a surrava, era 
preparar-lhe uma festa surpresa de aniversário. Sabia como a mãe gostava 
de receber visitas. Ela adorava usar seu vestido longo de gola alta, mangas 
compridas e laços nos punhos, arrumar os cabelos puxando-os bem para 
trás, usar seu chapéu com um veuzinho e servir chá para aos metodistas 
da classe da Escola Bíblica Dominical ou aos membros do "King's Herald" 
— uma organização missionária da igreja. Ninguém, ao que parece, havia 
visto jamais a senhora Kuhlman em trajes informais ou com bóbis no 
cabelo. Kathryn, mais tarde, disse: "Não me lembro de ter visto minha 
mãe sentada à mesa do café da manhã usando um roupão. Quando 
mamãe descia para tomar café, sempre estava totalmente vestida. Ela 
queria estar preparada, caso chegasse uma visita em casa". 
Mas o dia de lavar roupa era diferente. Nesse dia, mamãe trancava 
a porta e passava o dia trabalhando e suando sobre banheiras de água 
quente. Usando uma tábua de lavar roupa reforçada, ela pegava as roupas 
e esfregava, enxaguava em uma banheira galvanizada, passava pela 
centrífuga manual que ficava presa do lado de outra banheira e, por fim, 
as pendurava no varal atrás da casa. Como disse Kathryn, lavar roupas na 
segunda-feira fazia parte da teologia de sua mãe. Mesmo naqueles dias 
escaldantes de agosto, quando os girassóis ao longo da cerca desfaleciam 
ao sol, Emma Kuhlman se inclinava sobre as tinas cheias de vapor, esfre-
gando roupas. 
A pequenaKathryn não levou isso em consideração ao se preparar, 
na semana anterior, para surpreender a mãe no seu aniversário de 60 
anos. Ela saiu de casa em casa pela comunidade e convidou 30 das 
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cidadãs mais importantes da cidade para virem a uma festa surpresa de 
aniversário para sua mãe. Seria na segunda-feira, às 14 horas. Mantendo 
estrito sigilo, pediu a cada uma das mulheres que levasse um bolo. 
Após o almoço no dia 28 de agosto, Emma disse a Kathryn que 
estava exausta. "Vou subir por alguns minutos para descansar antes de 
terminar de lavar a roupa." Kathryn correu para a varanda a fim de 
esperar as convidadas. 
Às 14 horas em ponto, ouviu-se uma batida na porta da frente. 
Emma, que havia cochilado, saltou da cama. Esquecendo-se das roupas 
que estava usando, desceu correndo as escadas. Seu cabelo, pelo menos 
aquela parte que não estava enrolada naqueles bóbis estranhos, caía sobre 
seu rosto, todo desarrumado. Seu vestido longo estava amarrotado por 
causa do vapor e salpicado de água. Seu rosto, vermelho por ter ficado 
debruçada sobre a água escaldante. As mangas de seu vestido estavam 
enroladas até o cotovelo. Ela estava usando sapatos velhos, largos nos 
tornozelos, sem meias. 
A senhora Kuhlman ficou horrorizada quando viu duas convidadas 
à porta.Ao perceber como estava vestida, se virou e começou a subir cor-
rendo as escadas. Mas já era muito tarde. Assim, já a haviam visto pela 
porta de tela. Não teve outra escolha senão deixá-las entrar. 
— Feliz aniversário, Emma — disse a senhora Lohoefener. 
Emma Kuhlman ficou parada em pé na porta, pasma. Ali estavam 
a senhora Lohoefener e o senhor Heerwald, dois dos líderes sociais da 
cidade, vestidos como se tivessem acabado de sair de um livro. Ambos 
seguravam, cada um, um bolo branco de várias camadas, 
maravilhosamente decorado. Emma os fez entrar e, mal tendo fechado a 
porta de tela, ouviu mais passos na varanda de madeira. Ali estavam a 
senhora Tieman, a senhora Shryman e Hilda Schroeder — todas com 
bolos — e todas vestidas como na manhã do Domingo de PáscoaA essa 
altura, as senhoras estavam chegando tão rapidamente que Emma nem 
tinha tempo de fechar a porta. Simplesmente ficou em pé ali enquanto as 
visitas chegavam copiosamente. Mas, em meio às senhoras, Emma dava 
uma olhada para o rosto sardento de sorriso largo da travessa filha ruiva, 
à espreita pelas samambaias que enchiam uma grande jardineira de barro 
que ficava em um estrado branco próximo às escadas da varanda. Emma 
cerrava os dentes. "Espere só, mocinha", ela murmurou."Espere só". 
Emma Kuhlman tinha o resto da tarde para planejar o castigo da 
filha. No entanto, teve de pensar enquanto, agitada, dava um jeito de tirar 
os vasilhames do forno, preparar a água para o chá e servir aos socialites 
— que pareciam estar adorando a festa. Mas, naquela noite, assim que a 
última mulher foi embora, a mãe de Kathryn pegou a culpada pelo braço e 
a fez descer as escadas do porão. Kathryn, mais tarde, disse que, mesmo 
tendo bolo suficiente para duas semanas, ela teve de comer muito, tama-
nha a fúria de sua mãe. 
22 
 
Joe Kuhlman nunca entendeu o tratamento disciplinar de Emma. 
O Garoto, para escapar, já havia saído de casa. Myrtle estava casada. 
Quando Joe tentava interferir nas surras e críticas negativas que Emma 
fazia ao comportamento de Kathryn, ela partia para cima dele. 
Conseqüentemente, ele também começou a passar um tempo cada vez 
maior fora de casa. Arrumou um pequeno quarto nos fundos do estábulo, 
onde muitas vezes passava a noite. Quando estava em casa, Joe Kuhlman 
passava o tempo com Kathryn, procurando e recebendo o amor que não 
sentia na mulher. Em contrapartida, Kathryn desenvolveu uma grande 
afeição pelo pai, que beirava a idolatria. Era tão forte que, toda vez que ela 
falava nele — mesmo depois de ele ter morrido trinta e cinco anos atrás —, 
seus olhos se enchiam de lágrimas. 
Seu pai começou a levá-la com ele quando ia receber contas. Os 
comerciantes estavam acostumados a ver Kathryn. Eles a chamavam de 
"Pequeno Joe". Mais tarde, ela pegou gosto pela responsabilidade de ir a 
lugares como o Brockman's Poultry Produce, Rummer's Grocery Store, a 
farmácia, a loja de departamentos, o mercado de carne, e receber, 
sozinha, contas de frete para o pai. Joe era um homem de negócios 
competente e havia ensinado a Kathryn muita coisa sobre importantes 
princípios empresariais, lições nas quais ela se basearia nos anos 
seguintes. Na realidade, mesmo depois de a Fundação Kathryn Kuhlman 
estar bem estabelecida, Kathryn muitas vezes se referia a algum princípio 
empresarial que havia aprendido com o pai. Ela raramente errava. 
A despeito de todo o tempo que eles passavam juntos, Joe 
Kuhlman, no entanto, nunca entendeu de fato sua filha travessa de 
cabelos avermelhados. Era mais fácil dar dinheiro, ou roupas, a ela do que 
tentar orientá-la em seus problemas. Seu fracasso em entender a 
profundidade do espírito da filha ficou patente no modo em que ele 
respondeu à profunda experiência espiritual que ela teve na igreja 
metodista — a igreja onde Emma encontrava grande parte de sua 
satisfação pessoal. 
Joe Kuhlman não era religioso. Desprezava pregadores, dizendo 
que todos só estavam envolvidos nessa atividade "por causa do dinheiro". 
Ele ficou muito preocupado quando Myrtle deixou a cidade para casar-se 
com um evangelista itinerante, prevendo que o casamento não duraria. 
(Ele estava certo.) As poucas vezes em que comparecia aos cultos na igreja 
batista, à qual pertencia, eram no Natal ou quando Kathryn dava um 
recital ou fazia uma preleção. Fora isso, ele não tinha fama de quem 
orava, lia a Bíblia ou expressava sentimentos religiosos de alguma 
maneira. Não obstante, talvez tivesse mais entendimento do que as pes-
soas da igreja imaginavam. Às vezes, os não-religiosos podem ver coisas 
por uma perspectiva muito mais clara, porque sua mente não está atra-
vancada com as picuinhas da religiosidade convencional. Kathryn parecia 
pensar assim. E, em toda a sua vida, teve uma forte inclinação por pessoas 
como seu pai, que estavam desencantadas com a religião organizada, mas 
com fome de Deus. 
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O reverendo Hummel, um evangelista batista, estava em 
Concórdia para um encontro de avivamento de duas semanas na pequena 
igreja metodista. Havia certo entusiasmo nas reuniões. Uma das mais 
animadas da cidade, a Vovó Kresse, que participava de todas as reuniões 
de reavivamento em todas as igrejas, fora extremamente ativa nesse 
encontro. Embora os luteranos e as pessoas da Igreja Unida de Cristo 
olhassem com desdém sua atividade entusiasta, os metodistas, que 
tinham uma tradição muito mais reavivalista no início do século 20, não 
achavam incomum uma pessoa subir e descer pelos corredores da igreja 
"à procura dos perdidos" durante os tradicionais apelos feitos do púlpito. 
Vovó Kresse tinha este dom. E, assim que o evangelista concluía sua 
pregação, ela, que sentava na primeira fila, subia o corredor, conversando 
com as crianças, encorajando-as a "ir à frente" e buscar o Senhor no altar. 
Kathryn, que havia acabado de completar 14 anos, participara de 
todos os cultos daquela semana. Às vezes, ela se sentava ao lado da mãe, 
mas, quase sempre, sentava-se com um grupo de garotas risonhas de sua 
idade. Ao longo da semana, ela havia observado Vovó Kresse subir e des-
cer os corredores da igreja. A princípio, as adolescentes riam dela. Mas, à 
medida que a semana passava, e elas viam alguns de seus amigos 
responderem ao apelo feito do púlpito, começavam a ficar com medo. O 
que aconteceria se Vovó Kresse as pegasse?! 
Mas não foi Vovó Kresse que pegou Kathryn. Na manhã de 
domingo, ao lado da mãe no encerramento do culto, quando o pastor fez o 
apelo, Kathryn começou a chorar. Somente anos mais tarde, ao avaliar 
aquela experiência pela perspectiva do tempo e de outras experiências, ela 
iria entender que havia sido tocada pelo Espírito Santo. Seus soluços eram 
tão fortes que ela começou a tremer. Emma observavaa filha alta e magra 
de 14 anos, mas não podia dar-lhe nenhum tipo de encorajamento. Como 
muitos na igreja, seu relacionamento com Deus era um relacionamento 
social. Estava limitado a bazares, reuniões sociais com missionários, 
tardes de chá (quando estava adequadamente vestida, é claro) e reuniões 
da igreja. Mas nunca havia recebido qualquer ensino de como responder a 
um dinâmico encontro com o Espírito Santo. Na verdade, não tinha 
lembranças de alguém que tivesse experimentado um encontro dinâmico 
— pelo menos, não com esses resultados. Emma voltou os olhos para o 
seu hinário, fixando-os nas palavras e notas, incapaz de compreender o 
impacto do que estava acontecendo do seu lado. 
Kathryn colocou seu hinário na prateleira da parte de trás do 
banco envernizado da frente e foi cambaleando para o corredor. Suas 
colegas, duas fileiras à frente, olhavam, de olhos arregalados, enquanto 
ela percorreu rapidamente o corredor e sentou-se no primeiro banco. 
Com as mãos na cabeça, soluçava tão alto que podia ser ouvida por toda a 
igreja. 
Martha Johannssen, uma senhora portadora de deficiência física 
que, como Vovó Kresse, era considerada "muito religiosa" por acreditar 
24 
 
em um inferno literal, curvou-se sobre o encosto do banco e entregou um 
lenço a Kathryn. 
— Não chore, Kathryn. Você sempre foi uma boa menina — disse-
lhe. 
Até as pessoas "religiosas", ao que parecia, eram incapazes de 
entender o poder de persuasão do Espírito Santo quando Ele descia 
soberanamente sobre uma jovem. Contudo, a experiência de Kathryn não 
foi muito diferente daquelas descritas na Bíblia. Samuel, Isaías, Paulo, 
Maria, a mãe de Jesus, e muitas outras personalidades bíblicas tiveram 
encontros com Deus que foram extremamente emotivos, muitas vezes 
eventos inquietadores. E, como nos tempos bíblicos, em Concórdia, no 
ano de 1921, ninguém parecia entender. 
Pelo resto de sua vida, Kathryn gostava de contar o que acontecera 
naquela manhã após o culto. "Ao voltar para casa com mamãe, senti que o 
mundo todo havia mudado. Eu estava ciente das flores que cresciam ao 
longo da estrada. Nunca as percebera antes. E o céu era azul-celeste, com 
nuvens felpudas e brancas que pareciam cachos de cabelos de anjos. O 
senhor Kroenoke tinha pintado sua casa. Mas a casa não havia mudado! 
Era Kathryn Kuhlman que havia mudado. Era a mesma cor, a mesma rua, 
a mesma cidade. Mas eu não era a mesma. Eu estava diferente. Uma brisa 
suave soprava no meu rosto e passava por entre os meus cabelos. Acho 
que Kathryn Kuhlman flutuou o caminho todo de volta para casa naquele 
domingo." 
Seu pai estava em pé na cozinha quando Emma e Kathryn 
passaram pela porta da frente. Kathryn correu em sua direção, lançando 
seus braços em volta da cintura dele. 
— Papai, algo aconteceu comigo. Jesus entrou no meu coração. 
Joe Kuhlman olhou para baixo, fitando bem os olhos da filha. O 
rosto dele não expressava nenhuma emoção. 
— Estou feliz — ele disse. Foi tudo. Depois se virou e saiu. 
Kathryn, mais tarde, disse: "Se ele entendeu ou não, eu nunca soube". De 
uma coisa, porém, Kathryn tinha certeza: sua vida havia assumido uma 
nova dimensão. A mudança não foi instantânea, mas a compreensão de 
que podia ter acesso a Deus por meio de Jesus Cristo produziria uma 
transformação. Mas até essa mudança acontecer, as coisas continuaram 
como eram — até mesmo se tornaram piores. 
Na reunião de reavivamento da noite seguinte, o evangelista pediu 
que todos os jovens que haviam feito sua profissão de fé durante a reunião 
— e havia vários — fossem à frente. 
— Agora, digam às pessoas o que vocês pretendem fazer com suas 
vidas — ele disse. 
Sem mudar a expressão de seu rosto, Kathryn respondeu: 
25 
 
— Vou encontrar um pregador vistoso e me casar com ele. 
Então ela fez a casa vir abaixo ao virar-se para o reverendo 
Hummel, que era solteiro, e piscar os olhos para ele. Todos se lembraram 
de que sua irmã mais velha, Myrtle, havia se casado com um jovem 
evangelista que dirigiu uma reunião de reavivamento naquela mesma 
igreja oito anos atrás. 
Mas Emma Kuhlman não sorria. Ela sabia que Kathryn gostava de 
paquerar. Sabia também que, se Kathryn quisesse algum homem, qual-
quer homem, conseguiria conquistá-lo. Via a igreja como a única espe-
rança de Kathryn. Assim, começou a incentivá-la a se tornar membro da 
igreja e envolver-se em suas organizações. 
Kathryn, no entanto, optou por tornar-se membro da igreja batista 
do pai, em vez de pertencer à igreja metodista da mãe. Tinha suas 
próprias opiniões. 
— Não sei o que fazer com Kathryn — disse Emma Kuhlman a uma 
amiga íntima quando Kathryn tinha 16 anos. — Foi reprovada em mate-
mática no ano passado e teve de arcar com as conseqüências. Ela é como o 
Garoto. Parece que não consigo controlá-la. 
Uma vez que o pai achava que Kathryn não causava dano algum, 
Emma não tinha a quem recorrer, senão à irmã mais velha de Kathryn, 
Myrtle, que estava passando alguns dias em casa no começo do verão. Era 
o ano de 1923, e o liberalismo feminino estava varrendo a nação. Bebida 
alcoólica era ilegal, mas, ao que parecia, toda fazenda no Condado de 
Lafayette escondia um alambique. Os pontos de venda clandestinos no 
condado estavam a todo vapor. Os jovens dançavam o charleston1, 
subindo e descendo a lamacenta rua Principal em carros esporte, com 
assentos traseiros, gritando "vinte e três já era" e consumindo bebidas 
ilegais. Emma sabia que, a menos que algo acontecesse para mudar 
Kathryn, a filha não teria forças para resistir às tentações da época. 
O ensino médio em Concórdia terminava no segundo ano. Aos 16 
anos, Kathryn tinha toda a formação acadêmica disponível, a menos que 
entrasse no colégio luterano. Myrtle pediu à mãe que deixasse Kathryn ir 
com ela e Everett para uma série de acampamentos no noroeste. Ela e o 
marido ficariam com Kathryn no verão e a deixariam voltar no outono. 
Era uma solução ideal, mas Emma hesitou. Myrtle havia se casado 
com Everett Parrott, que viera tempos atrás a Concórdia para pregar em 
um culto de reavivamento na igreja metodista. Ele estava concluindo seus 
estudos no Moody Bible Institute, em Chicago, e era jovem e de boa 
aparência. Uma semana após o encerramento do reavivamento, escrevera 
para Myrtle, perguntando se ela poderia ir à cidade vizinha de Sedalia, 
 
1 Charleston - Dança popular muito animada, em compasso quaternário, surgida na década de 1920 nos 
Estados Unidos. Um tipo de foxtrote (dança de salão) em que cada dançarino executa movimentos 
agitados de braços e pernas, e passos que aproximam e afastam os joelhos (N.T.). 
26 
 
onde ele morava, para tocar piano em uma reunião no fim de semana. Ela 
poderia ficar com os pais dele. 
Nem Emma nem Joe eram a favor desta idéia. Emma não queria 
ver sua filha sair com um jovem estranho. Não desejava vê-la sair com um 
pregador. Por fim, consentiram, e os Parrotts enviaram uma carruagem 
para levar Myrtle a Sedalia, a 40 quilômetros de Concórdia. Ela nunca 
tocou o piano. Everett só queria que seus pais a conhecessem. Escreveu 
para ela todos os dias durante as três semanas seguintes, e, então, foram 
casados pelo superintendente do distrito da Igreja Metodista em Sedalia, 
em 6 de outubro de 1913 — Mais tarde, Myrtle confessou que nunca 
amara seu marido, mas, como a maioria das moças que vivem em uma 
pequena comunidade, imaginou que seria melhor aceitar a primeira 
oferta que aparecesse para sair da cidade. Afinal, talvez não tivesse outra 
chance. 
Foi um casamento tempestuoso, cheio de problemas desde o 
início. Após uma breve estada em Chicago, o jovem casal pôs-se a 
caminho do circuito evangelístico — passeando, como eles costumavam 
dizer, pela "estrada de serragem". Parrott tinha uma tenda. Eles viajavam 
de cidade em cidade, grande parte no Meio-Oeste, realizando 
reavivamentos em tendas. De vez em quando, era Myrtle quem pregava. 
Na maior parte, no entanto, ela atuava como gerente e coordenadora das 
atividadesdo marido. Quando chegou a notícia de que o dr. Charles Price, 
professor e evangelista com um maravilhoso ministério de cura, havia 
chegado do Canadá e estava realizando cultos em Albany Oregon, os 
Parrotts fizeram uma viagem especial ao extremo oeste para participar de 
sua ministração. Diferente do ministério de muitos evangelistas que 
realizavam acampamentos pelo Oeste, o ministério do dr. Price era 
relativamente reservado. Ele passou grande parte do tempo ministrando 
sobre o poder de Deus. Também falou sobre uma experiência que ia além 
da salvação, chamada "o batismo no Espírito Santo". Uma vez em Albany, 
ele chamou Everett Parrott de lado e passou várias horas ensinando-lhe 
os textos bíblicos sobre este assunto em particular. Parrott ouviu com 
atenção. No entanto, nem a ministração de Price gerou a mudança 
necessária. A despeito da adoção de uma garotinha, Virgínia, anos mais 
tarde, o casamento, finalmente, acabou em divórcio. 
No entanto, antes de acontecerem os últimos problemas que 
culminaram com seu divórcio, Myrtle voltou para Concórdia a fim de 
fazer uma rápida visita aos pais. 
— Mamãe, tenho de partir depois de amanhã. Deixe-me levar 
Kathryn para passar o verão comigo. Eu a mandarei de volta, caso você 
queira que ela vá à escola no outono. 
— Seu pai e eu já conversamos sobre isso — disse Emma, com o 
semblante sério. — Vamos examinar e decidir tão logo seja possível. 
27 
 
Myrtle orou a noite toda. De algum modo, parecia necessário que 
Kathryn a acompanhasse. 
Na manhã seguinte, logo cedo, ela encurralou a mãe: 
— Já decidiram? 
Emma virou o rosto, para não olhar diretamente para a filha 
adulta. 
— Ela é muito nova, Myrtle. Só tem 16 anos. 
— Mamãe — a voz de Myrtle tinha um toque de desespero —, ela 
precisa ir. Eu sei que esta é a vontade de Deus. Você quer impedir a 
vontade de Deus? 
— Como pode ter tanta certeza? Como é que você sabe o que Deus 
tem reservado para Kathryn? 
— Eu simplesmente sei — disse Myrtle, desabando a chorar. — Eu 
sei. 
— Seu pai e eu conversaremos novamente sobre o assunto no 
almoço — disse Emma. — Você terá a resposta hoje mesmo. 
Eram exatamente 16 horas. Myrtle se lembraria porque ouviu o 
relógio soar na parede da sala de estar. Emma desceu as escadas, com o 
semblante sério. Myrtle estava em pé perto da banqueta na sala da frente, 
polindo a armação de seus óculos. 
— Decidimos — disse Emma devagar — deixá-la ir. Mas é com 
muita relutância de minha parte. 
De algum modo, Emma Kuhlman suspeitava que, se Kathryn 
partisse, nunca mais voltaria. E ela estava certa. 
Na tarde seguinte, Joe e Emma colocaram as duas filhas no trem 
para a cidade de Kansas. Kathryn estava compenetrada. Ela também 
suspeitava de que outras forças estavam agindo em sua vida. Forças 
opostas, que lutavam entre si. Uma força a encorajava a ficar, a 
"desfrutar" de sua liberdade. A outra força a puxava para cima e a 
incentivava a partir. Ela havia tentado — Deus sabia quanto havia tentado 
— fugir daquele chamado do "alto". Mas, toda vez, Ele a fazia voltar ao 
lugar do arrependimento. Cada vez que ela pecava — e não lhe faltara 
oportunidade durante as últimas duas semanas —, se via de volta ao lado 
de sua cama, de joelhos, pedindo a Deus que a perdoasse. Agora Deus 
estava fazendo mais uma coisa. E ela teve a sensação, enquanto o trem 
deixava a plataforma, que seria um erro pensar em olhar para trás por 
sobre os ombros. Ela acenou um adeus para seus pais através da janela 
empoeirada do trem. Em seguida, acomodou-se no assento — olhando 
para a frente. Como sua mãe, ela sabia que Concórdia nunca mais seria 
seu lar. 
28 
 
 
Capítulo 3 
Tendas e Galinheiros 
A convicção de que fora Deus quem a havia chamado a sair de 
Concórdia ficou mais forte depois que Kathryn chegou em Oregon. Ainda 
assim, se sentia culpada por ter se intrometido no casamento instável de 
sua irmã. Para compensar sua culpa, ela não aceitava nenhum tipo de 
favor. Insistia em dormir no chão da sala de estar do apartamento e 
passava, pelo menos, dois dias da semana lavando roupas — lavava 
roupas na segunda e as passava na terça. Foi sua primeira experiência 
com os trabalhos domésticos regulares. Essa experiência ajudou a con-
vencê-la de que, embora a companhia de um homem pudesse ser emo-
cionante, ter de cuidar de um marido que esperava que a mulher cozi-
nhasse para ele e lavasse suas roupas sujas era suficiente para levá-la a 
reconsiderar o casamento como uma vocação. Os dois exemplos que ela 
melhor conhecia, o de sua mãe e o de Myrtle, não eram muito atraentes. 
Nessa época, as segundas-feiras transcorreram sobre uma tábua de 
esfregar roupa, com os braços mergulhados na água escaldante, enquanto 
eles se mudavam de apartamento para apartamento, seguindo a estrada 
de serragem. As terças-feiras eram dias reservados para passar roupas.As 
camisas brancas bem engomadas de Parrott eram suficientes para testar a 
lealdade de qualquer esposa — e certamente eram demais para uma 
cunhada ainda criança. Kathryn havia observado a mãe e já sabia como 
era o processo. Aquecer o ferro de metal pesado sobre as chamas do fogão 
a gás. Enquanto isso, borrifar com água a camisa engomada e enrolá-la 
frouxamente para que ficasse inteira e levemente umedecida. Pôr a tábua 
de passar roupa sobre a mesa da cozinha e estender bem a camisa. 
Segurar a alça de metal do ferro usando algo acolchoado para não 
queimar a mão. Molhar um dos dedos e tocá-lo rapidamente na base do 
ferro. Se fizesse um barulho de vapor, estava suficientemente quente para 
ser usado. Mas era preciso mantê-lo em movimento. Sem dinheiro para 
comprar camisas extras, uma marca de queimado significaria que Parrott 
não poderia tirar o paletó durante o sermão, por mais calor que fizesse 
sob a tenda de lona, para não exibir um buraco em sua camisa. 
Nem tudo se resumiu em lavar e passar roupas. O noroeste 
durante o verão de 1923 foi agradável. Myrtle e Kathryn olharam muito as 
vitrinas quando passaram pelas lojas nas pequenas cidades de 
Washington e Oregon, onde Parrott montou sua tenda. Myrtle precisava 
da presença alegre de Kathryn, que, por sua vez, necessitava da 
maturidade austera e da bondade fraterna que Myrtle lhe provinha. Era 
uma boa combinação. 
29 
 
À noite, elas participavam dos cultos de reavivamento nos quais 
Kathryn teve sua primeira experiência com pregações em tendas. Everett 
Parrott não tinha outra mensagem senão esta: "Arrependam-se e sejam 
salvos". Ele era um homem eloqüente no púlpito. Pregava sua única 
mensagem repetidas vezes, usando diversos textos. Quase no final do 
verão, Kathryn já havia ouvido todos os seus sermões várias vezes e estava 
começando a entender por que Myrtle relutava em comparecer aos cultos, 
embora seu marido insistisse, às vezes nervoso, dizendo que precisava 
dela ali para ajudar a recolher as ofertas e tocar piano. O espírito 
independente de Parrott incomodava Kathryn. Ela questionava Myrtle, 
querendo saber por que ele se recusava a cooperar com as igrejas locais. 
Parecia melhor, ela pensava, trabalhar com as igrejas e os pastores, em 
vez de chegar à cidade, montar sua tenda e começar a pregar. 
Cansada, Myrtle olhava para Kathryn. 
— Querida, já fazemos isso assim há anos. Tentamos, no começo, 
trabalhar com os pastores. Mas eles tinham medo de nós. Os batistas 
queriam saber se éramos batizados. Os metodistas faziam-nos perguntas 
sobre a santificação. E os nazarenos queriam saber se pregávamos a 
santidade. Parecia que todos estavam edificando seu próprio reino, e, de 
algum modo, não nos encaixamos. Por isso, Everett decidiu edificar seu 
próprio reino — centrado naquela tenda. E ele me tem arrastado de 
cidade em cidade até o ponto de eu me cansar e não conseguir suportar 
mais isso. 
— Mas não seria mais fácil — Kathryn insistiu em sua ingenuidade 
— chegar em uma cidade e estabelecer um centro de reavivamento. Vocês 
não precisariam ter um rol de membros que ameaçasse os pastores, mas 
apenas pregariam a salvação. Levariamas pessoas à salvação, e, se elas 
quisessem fazer parte das igrejas locais, que fizessem. Eu faria assim. 
Myrtle deu um sorriso triste e disse: 
— Você não entende, irmã. Para Everett, sua missão é evangelizar 
— acender a chama da salvação no coração dos perdidos. A missão das 
igrejas é manter essa chama acesa depois de nossa partida. Se nos 
estabelecermos em algum lugar, simplesmente nos tornaremos mais uma 
igreja. As igrejas criticam-nos o tempo todo agora porque recolhemos 
ofertas. Elas não se alegram com as pessoas que ganhamos para Jesus. Na 
verdade, muitas das pessoas que são salvas em nossa tenda tentam 
participar das igrejas locais depois que partimos, e não são aceitas. As 
únicas que realmente apreciam nosso ministério são as pequenas igrejas 
missionárias nas periferias. 
Kathryn estava descobrindo, rapidamente, as maquinações 
interiores do "reino". Ela também começou a entender por que seu pai 
sempre se sentia mais à vontade em casa no domingo. Contudo, lá no 
fundo, antes de dormir à noite em seu colchão de palha na sala de estar, 
ela ficava acordada e imaginava uma sociedade em que as pessoas de 
30 
 
todas as denominações se reuniriam, sem brigas, mas louvando a Deus 
em harmonia e unidade — lutando lado a lado contra as trevas do 
mundo."Eu sei que isso é possível", pensava."Eu sei que é assim que Deus 
quer que seja — como era no livro de Atos, quando todos estavam em 
comum acordo em um lugar. Aposto que, se isso acontecer, teremos outro 
Pentecostes na terra." 
Não havia como Kathryn saber, ainda tão jovem, que os sonhos e 
as visões que estava tendo eram parte do plano de Deus para derramar o 
Espírito Santo sobre uma serva que viria a ser uma Joana D'Arc 
espiritual, conduzindo o exército do Senhor a uma nova liberdade e a um 
novo poder, uma vez que o mundo se aproximava do final da era. 
De vez em quando, Kathryn e Myrtle cantavam ou às vezes faziam 
um dueto ao piano. Por duas vezes naquele verão, Parrott pediu à ruiva de 
16 anos que subisse ao púlpito e desse um "testemunho" da sua conversão 
na pequena igreja metodista em Concórdia. Nas duas vezes, ela encerrou 
o testemunho recitando um longo poema, com gestos dramáticos. As pes-
soas reagiram animadamente. Elas adoraram seu drama e o modo como 
pronunciara as palavras. Parrott logo concluiu que, se não fosse reprimi-
da, Kathryn poderia vir a ser para ele o que Davi foi para Saul. (Você se 
lembra de como as mulheres cantavam:"Saul abateu seus milhares, e Davi 
suas dezenas de milhares", levando Saul à inveja?) Contudo, ele também 
sabia que, se deixasse Kathryn ajudar na coleta logo depois de a cunhada 
falar, as pessoas ofertariam com mais generosidade. 
— Se você resolver ficar com os Reavivamentos em Tendas dos 
Parrotts — ele a provocou —, eu a deixarei assumir parte da pregação. 
Aquilo entusiasmou Kathryn. Ela já vinha nas suas horas "a sós", 
quando lia a Bíblia, preparando esboços de sermões — só para estar 
preparada. Mas a hora nunca parecia chegar. À medida que o fim do verão 
se aproximava, e os Parrotts começavam a fazer seus planos para o outo-
no, Kathryn viu que não fazia parte desses planos. 
O pai de Kathryn enviou dinheiro para sua viagem de volta, e 
Everett foi à estação de trem em Portland, Oregon, verificar os horários 
disponíveis para a viagem de volta para Concórdia. Ele comprou a 
passagem para Kathryn. 
Na sexta-feira antes do Dia do Trabalho, Myrtle ajudou Kathryn a 
arrumar suas roupas. A velha mala surrada estava sobre o aquecedor no 
pequeno apartamento. Tudo estava primorosamente dobrado. Só faltava 
fechar a mala. Myrtle estava em pé no meio da sala, observando tudo com 
tristeza. Kathryn, enquanto arrumava sua última peça de roupa, de costas 
para a irmã, começou a chorar. 
— Eu não quero voltar — ela soluçava. 
— Você não precisa voltar! 
31 
 
Myrtle levou um susto. Era Everett Parrott quem falava. Ele 
acabara de entrar na sala. Era bom demais para ser verdade. 
— E a passagem de trem? — Myrtle gaguejou. 
— Podemos recuperar o dinheiro — Parrott disse calmamente. — 
Certifiquei-me disso ontem quando comprei a passagem. Imaginei que ela 
iria querer ficar, mas deixei a decisão nas mãos dela. Ela pode ser de 
grande ajuda no ministério. 
Os dois continuaram a conversar, mas Kathryn não ouviu nada. 
Estava muito sufocada com as lágrimas de felicidade e alívio. Anos depois, 
ela disse que muitas vezes sonhou com aquela mala e o aquecedor. "Às 
vezes, enquanto durmo", ela me disse, "ainda a vejo. Vejo cada peça de 
roupa e aquele seu fecho torto. Isso me assusta, pois foi uma grande 
reviravolta em minha vida. Se tivesse voltado para Concórdia, teria ficado 
presa lá. Sem falar no que teria acontecido. Mas, ainda assim, o Espírito 
Santo estava operando em minha vida, dirigindo meus passos. A partir 
daquele momento, eu estava no ministério — e nunca me arrependi". 
Aqueles primeiros anos foram difíceis, viajando com Myrtle e seu 
marido, parando de comunidade em comunidade. Eles chegavam na 
cidade, encontravam um terreno vazio e montavam a tenda. Então, 
Kathryn e Myrtle percorriam a cidade, tocando um sino de mão, con-
vidando as pessoas para o culto naquela noite. Nos cultos à noite, Kathryn 
ocupava um lugar na primeira fileira de bancos, enquanto Myrtle muitas 
vezes se juntava ao marido no púlpito. Myrtle sempre advertia Kathryn 
sobre coisas que desgraçariam "o ministério". 
— Kathryn, não cruze suas pernas assim. Suas pernas são tão 
compridas qtie todos notam. Cruze só os tornozelos — e lembre-se de 
manter os joelhos juntos. 
A influência de Myrtle era boa. Embora fosse austera e inflexível 
como a mãe, ainda era uma irmã, e não uma mãe. Os cinco anos 
seguintes, embora difíceis, foram os melhores anos da juventude de 
Kathryn. 
Durante esse tempo, Parrott recrutou os serviços da pianista do dr. 
Price, uma extraordinária tecladista chamada Helen Gulliford. Embora 
Helen fosse onze anos mais velha que Kathryn, logo se tornaram amigas. 
Muitas pessoas pensavam que eram irmãs, de tanto que se pareciam. 
Embora Helen, com 1,68m, fosse 5 centímetros mais baixa que sua jovem 
e esbelta amiga, as duas podiam usar as mesmas roupas. Gostavam de 
estar uma com a outra. Aos poucos, as afeições de Kathryn para com sua 
irmã passaram para esta mulher solteira que desempenharia um papel 
profundo em sua vida. Ela era a mulher que ficaria entre Kathryn e um 
desastroso desgosto, embora se achasse incapaz de impedir a teimosa e 
jovem evangelista de destruir, por fim, seu ministério. 
As coisas não iam bem com a equipe do Reavivamento em Tendas 
dos Parrotts. Myrtle e Everett brigavam a maior parte do tempo. Ela o 
32 
 
acusava de passar tempo com outras mulheres, tornando-se cada vez mais 
parecida com a mãe, difícil e inflexível. Assim que chegaram a Boise, 
Idaho, as coisas foram de mal a pior. Parrott nem apareceu na reunião, 
preferindo pegar sua tenda e viajar para Dakota do Sul. Em Boise, os 
cultos eram realizados no Clube de Mulheres, e era Myrtle quem pregava. 
As ofertas eram tão baixas que nem cobriam as despesas com o aluguel do 
prédio — muito menos pagavam o aluguel de seu pequeno apartamento. 
Por duas semanas, as refeições consistiram em pão e atum enlatado. 
Uma vez que Parrott controlava as finanças, a única esperança de 
Myrtle era juntar-se a ele em Dakota do Sul. Hellen recusou-se a ir. Para 
ela, era o fim da linha. Como uma concertista, nunca se sentiu à vontade 
tocando pianos de estanho em pequenas comunidades para quinze ou 
vinte pessoas. Kathryn, também, estava muito desiludida. Apesar de 
gostar de ajudar na pregação, não conseguia ver nenhuma esperança para 
o futuro se ficasse com os Parrotts. 
Após o último culto, na noite em que haviam programado partir — 
Myrtle voltar para seu marido, e Helen e Kathryn ficarem, ainda por 
decidir o que fazer —, um pastor nazareno aproximou-se delas do lado de 
fora do Clube de Mulheres. 
— Não partam — ele disse a Myrtle. — Eu sei que as coisas estão 
muito ruins, mas precisamosde vocês aqui. 
Myrtle balançou a cabeça. 
— Não podemos ficar. Não temos dinheiro. 
— Bem, então deixe as meninas ficarem — ele propôs. — Sou 
pastor de uma pequena igreja missionária perto daqui. Elas podem 
participar dos cultos e, pelo menos, tocar piano e cantar. 
Myrtle examinou Helen e Kathryn, que vinham acompanhando a 
conversa. Ambas balançaram a cabeça. 
— Tudo bem — Myrtle disse num tom de resignação. — Kathryn 
quer pregar de qualquer jeito. Por que não dar a ela uma chance e ver o 
que pode fazer? 
— Ótimo — disse o pastor, radiante. — Elas podem começar 
amanhã à noite. E foi assim que tudo começou. Foi o primeiro sermão de 
Kathryn sozinha, em uma pequena igreja missionária malcuidada, outrora 
um salão de bilhar, em uma área pobre de Boise. Algumas cadeiras velhas 
foram juntadas, e o piano, que pertencia a um menino vizinho, fora 
transportado sobre rodas pela porta dos fundos, ocupando um lugar 
próximo ao púlpito desconjuntado no canto da sala. 
Como último pedido, Kathryn solicitou a Myrtle que lhe 
emprestasse 10 dólares. 
— Quero comprar um vestido amarelo novo para meu primeiro 
sermão. 
33 
 
— Kathryn — disse Myrtle, balançando a cabeça e parecendo 
exatamente com a sua mãe —, você não pode comprar o tipo de vestido 
que deseja por apenas 10 dólares. Custará o dobro desse valor. Além 
disso, não tenho esse dinheiro. Nem sei se temos 10 dólares na conta 
bancária do Reavivamento em Tendas dos Parrotts na cidade de Sioux. 
— Você ainda tem um dos cheques assinados por Everett? — 
perguntou Kathryn. 
Myrtle balançou a cabeça. 
— Então passe-me um deles. Faça um cheque no valor de 10 
dólares. Não o descontarei até ter certeza de que você terá dinheiro 
suficiente para cobri-lo. 
— Mas você ainda não conseguirá comprar o tipo de vestido que 
quer por 10 dólares. — Myrtle argumentou. — Você nunca se contenta 
com roupas baratas. Sempre quer o melhor. 
— Tenho tudo planejado — disse Kathryn. — Posso não comprá-lo 
a tempo para o primeiro culto, mas irei tê-lo antes de deixar a cidade. 
Comprarei o tecido por 10 dólares. Depois o levarei a uma costureira e lhe 
pedirei que faça o vestido para mim. Sei exatamente como quero o 
vestido. Então, depois de receber minha primeira oferta na missão, paga-
rei a costureira. O que acha? 
Myrtle balançou a cabeça. 
— Eu jamais faria isso. Nunca! 
Myrtle preencheu o cheque e o entregou a Kathryn. Antes de 
terminar a semana, Kathryn já estava com seu vestido — um vestido 
amarelo com mangas bufantes e uma bainha que chegava aos tornozelos. 
Não foi só isso. Ela havia convencido o comerciante da loja onde 
comprara o tecido a deixá-la pagar depois de receber sua primeira oferta. 
Ela convencera a costureira a fazer o vestido de graça — um "ministério 
para o Senhor". Kathryn guardou o cheque por três meses e, por fim, o 
descontou na cidade de Sioux, Iowa, quando fez uma rápida visita a 
Myrtle para vê-la e assegurar-lhe de que poderia "se virar" sozinha. 
E foi o que aconteceu. Em um dia frio, Kathryn e Helen chegaram 
a Pocatello, Idaho. O único salão disponível para seus cultos era um velho 
teatro. O local estava há tanto tempo sem uso que havia dúvidas de que 
ficaria de pé após uma limpeza. A sujeira parecia ser o alicerce do teatro. 
Mas era preciso mais do que uma sujeira para esfriar o duplo fervor de 
Kathryn e Helen, que se anunciavam como as "Garotas de Deus". "Mesmo 
assim", Kathryn me diria tempos depois,"eu sabia o que Deus poderia 
fazer se somente o evangelho — em sua simplicidade — fosse pregado". 
Antes de as duas jovens partirem da cidade, após seis semanas de cultos 
que muitas vezes passavam da meia-noite, o piso principal e as duas 
galerias estavam lotados. 
34 
 
A recepção dada às duas em Twin Falls, Idaho, foi tão intensa 
quanto o clima frio no dia de sua chegada em janeiro. Na segunda noite, 
quando Kathryn saía do prédio, após o culto de pregação, ela escorregou 
no gelo e fraturou a perna. Helen levou-a a um médico que tinha um con-
sultório próximo ao salão municipal onde os cultos eram realizados. Ele 
engessou a perna de Kathryn e disse-lhe que ficasse com o gesso por, pelo 
menos, duas semanas. O médico, no entanto, não fazia idéia da terrível 
determinação da jovem mulher que estava começando a perceber seu 
rumo na vida. Não era uma perna quebrada que a impediria de realizar o 
que Deus lhe havia chamado a fazer. Ela nunca perdeu um único culto, 
pregando pelo resto do mês — todas as noites — e apoiando-se em 
muletas com sua perna engessada. 
Uma enfermeira diplomada, veterana da Primeira Guerra 
Mundial, que freqüentava os cultos, escreveu uma carta ao editor do 
jornal de Twin Falls, dizendo: "Vi coragem e determinação nos campos de 
batalha da França. Vi essa mesma coragem e determinação na noite 
passada em uma jovem que se levantou no púlpito, pregando a salvação". 
Seus críticos, e ela estava começando a reuni-los logo no início da 
década de 1930, diziam que Kathryn estava vendendo uma mistura de 
"sexo e salvação". De certo modo, eles estavam certos. As duas mulheres 
solteiras eram muito atraentes, e parte de sua atração estava no seu modo 
singular de apresentar o evangelho. Elas demoravam após os cultos toda 
vez que alguém precisava de ajuda. Muitas vezes, aqueles necessitados 
eram homens solitários incapazes de distinguir entre o amor de um Pai 
celestial e a atração sexual de uma jovem mulher que era totalmente 
desinibida na atenção que dava, de igual modo, a homens e mulheres. 
Felizmente, Helen Gulliford era muito mais conservadora do que Kathryn, 
e muitas vezes advertia a amiga quando ela era extremamente amigável 
com algum dos admiradores que se aglomeravam no altar em busca de 
suas orações. Kathryn parecia estar mais cuidadosa do que nos primeiros 
dias de seu ministério e, graças às constantes advertências de Helen, 
esforçava-se para continuar discreta — mesmo quando percebia que 
ficaria até altas horas da madrugada ajudando algum favelado a "orar" até 
alcançar a salvação. 
Foi em uma dessas "reuniões após os cultos" que ela teve sua 
primeira experiência com o fenômeno de falar em línguas. 
Kathryn e Helen haviam vindo a Joliet, Illinois, para três meses de 
cultos no segundo andar de uma antiga loja. (Foi aqui, a propósito, que 
um grupo conhecido como Aliança da Igreja Evangélica convenceu a 
jovem evangelista de que precisava ser ordenada. Ela concordou. Foi a 
única autorização eclesiástica que teve.) A única mensagem de Kathryn 
era a de salvação, e ela naquela noite foi simples e objetiva. A multidão, 
que chegava às centenas, se fora, e Kathryn ficou com meia dúzia de 
pessoas que ainda estavam de joelhos no altar. Uma delas era Isabel 
Drake, uma professora que viajava de Joliet para Chicago diariamente. 
35 
 
Kathryn estava sentada com a mãe de Isabel em um dos bancos da frente 
enquanto a jovem professora encolhia-se no altar, às vezes soluçando, 
outras vezes orando. De repente, Isabel se colocou de joelhos, com o rosto 
voltado para o teto, e começou a cantar. Kathryn disse: "Eu nunca ouvira 
tal música. Era a música mais linda, com a mais bela voz que já ouvi. Ela 
estava cantando em uma língua que eu nunca tinha ouvido, mas era algo 
tão etéreo, tão belo, que senti os pêlos de minha pele começarem a 
arrepiar. 
"Sua mãe, que estava sentada ao meu lado, agarrou minha mão e 
quase quebrou meus dedos. Não é a minha filha que está cantando', disse 
com a voz ofegante. Isabel nem consegue ficar no tom. Minha filha não 
sabe sequer cantar uma nota'." Kathryn disse que a mãe estava quase 
histérica. Tudo o que podia fazer era impedir a mulher de sair pulando e 
correndo pela sala. Em vez disso, elas ficaram sentadas em silêncio, 
ouvindo a bela música e o fluir sobrenatural de palavras que saíam da 
boca da jovem professora. Às vezes, sua voz alcançava um dó alto e, então, 
oscilava em um acorde menor, e acabava em um sussurro antes de voltar 
novamente ao tema. Embora as palavras soassem como algum canto 
grego ou fenício antigo,

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