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Revisão – Teoria da Literatura II
· WALTER BENJAMIN
Os filósofos da escola de Frankfurt constituem o que é chamado de escola crítica, ou teoria crítica, uma abordagem que busca repensar o papel das artes numa sociedade moderna, pós industrialização e com a burguesia no poder, onde a arte popular é substituída pela cultura de massas (indústria cultural). Há, então, uma crítica muito forte a tudo que vem dessa “indústria cultural”, como os quadrinhos, o cinema e a música pop, pois para eles, essas manifestações produzem alienação, reproduz a ideologia dominante, ou seja, não levam a uma transformação. Entretanto, apesar de considerado parte da escola de Frankfurt, Walter Benjamin possui uma abordagem teórica distinta dos demais pensadores, pois concebe a noção de indústria cultural de uma maneira menos dura. Sintetizando: em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica Benjamin mostra que sim, as condições tecnológicas mudaram a maneira como consumimos e produzimos arte, mas essa arte não é necessariamente alienante, como diz Adorno. Para ele é possível gerar dentro dessa arte de massas algo que contrapõem a classe dominante. 
A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica – A imitação ocorre na humanidade desde que o mundo é mundo, e “em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível”. A priori, essa reprodução era feita de maneira manual, sem o uso de técnicas específicas, cada cópia era única e carregava o estilo e a interpretação do artista que a reproduzia. No entanto, ao longo dos anos houve um desenvolvimento gradual no processo de reprodução técnica das obras de arte, como o surgimento da Xilogravura, da impressa, e, posteriormente, da fotografia e do cinema. Desse modo, com o avanço dessas técnicas, a reprodução atingiu um alto padrão de qualidade, encontrado lugar entre os procedimentos artísticos e transformando obras de arte tradicionais. Contudo, essa reprodutibilidade técnica perde um ponto importante, que caracteriza a arte tradicional: O seu valor de culto, a sua autenticidade, o “aqui e agora”, a singularidade que torna a obra algo único, que foi produzido num momento histórico e num local específico, o contexto em que ela se insere. Esse valor sagrado atribuído a arte é o que Benjamin chama de aura. Assim, a reprodução representa o declínio, o enfraquecimento, da aura, pois a arte perde sua unicidade. Isso ocorre, pois, como as pessoas concebem o que é obra de arte e a recebem mudou ao longo do tempo, antigamente, as pessoas valorizavam a singularidade e a aura de um objeto distante mesmo quando próximo. Mas atualmente, com a reprodução em massa, o valor da singularidade está diminuindo. As pessoas querem ter uma cópia próxima do objeto em vez de valorizar a sua singularidade original. Por exemplo, A Mona lisa, um dos quadros mais famosos do mundo, hoje, com os avanços tecnológicos, pode ser reproduzido de maneira precisa e em grande quantidade, de modo que há diversas impressões do quadro em pôsteres, livros, etc.. Essas reproduções perdem a conexão com o contexto histórico e físico, tornando-se objetos destituídos de aura. Benjamin, ao contrário de seus contemporâneos da escola de Frankfurt, não enxerga essa desconexão com o valor tradicional da arte como algo 100% negativo. Por fim, as reproduções aproximam a massa (o expectador) da arte ao poder ser apreciada em novos contextos e por diferentes públicos, tornando-se mais acessível, ou seja, há uma maior disseminação da arte. O cinema, por exemplo, é caracterizado como uma forma de arte intrinsecamente voltada para a reprodução (o valor da obra sai do culto para ir para a exibição), ao contrário da pintura, que era geralmente apreciada individualmente em um espaço específico, o cinema permite uma recepção coletiva da obra. Essa nova relação do público com a obra leva a uma atitude diferente, já não de recolhimento, contemplativa, mas o que Benjamin chama de “recepção tátil”, isto é, uma “recepção através da distração”. Isso significa que os espectadores estão imersos em um ambiente compartilhado, muitas vezes em uma sala de cinema escura, sendo envolvidos pelos estímulos sensoriais e narrativos do filme. Além disso, Benjamin menciona que a participação da massa, ou seja, do público, é muito maior no cinema do que nas formas de arte tradicionais. 
· ANTONIO CANDIDO
Tanto o pensamento marxista como a escola crítica influenciaram a crítica literária brasileira, como no caso de Antonio Candido. O ensaio “Literatura e Vida Social” surgiu de uma conferência apresentada pelo autor na Sociedade de Psicologia em São Paulo no ano de 1957 e que, posteriormente, foi publicado em 1965 no livro “Literatura e Sociedade”. A obra discute questões fundamentais para o diálogo entre a literatura e as ciências sociais, como a função social da literatura e o seu papel na sociedade, a representação da realidade nas obras literárias e como elas refletem as mudanças e conflitos sociais. Antonio Candido constrói um debate sobre a estreita relação que existe entre a literatura, a vida social e a maneira como uma exerce influência sobre a outra. O objetivo de Candido nesse texto é expresso logo na primeira parte: dissertar acerca da ligação indissociável entre literatura e as questões sociais, sobre a correlação desses dois eixos, e a maneira como eles se misturam e intervém um no outro, como uma “via de mão dupla”. Conforme o expresso por Anita M. R. Moraes no caderno didático: O estudioso sugere, assim, que existe uma relação dialética entre meio social e obra de arte. Podemos pensar, por exemplo, que um romance apresentando uma visão depreciativa da mulher reforça estereótipos sociais machistas; caso represente a mulher de maneira diferente, rompendo com preconceitos, pode contribuir para a transformação das concepções vigentes, influenciando a sociedade. (MORAES, 2013, p.14) A abordagem do autor apresenta o artista como um ser mais ativo na em sua produção, não apenas um espelho que reflete a sociedade, e, assim, possuí alguns pontos em comum com a estética marxista. György Lukács, filosofo e crítico literário, no ensaio Introdução aos escritos estéticos de Marx e Engels assinala: Como justamente reconhece a estética marxista o grande artista não representa coisas ou situações estáticas, e sim investiga a direção e o ritmo dos processos, cumpre-lhe, como artista, definir o caráter de tais processos. E, numa tomada de consciência deste gênero, já está implícita uma tomada de posição. A concepção segundo a qual o artista seria só um espectador passivo desses processos, situar-se-ia acima de todo e qualquer movimento social (a flaubertiana impassibilité) é, no melhor dos casos, uma ilusão, uma forma de autoengano. (Lukács, 1965, p.34) Ademais, Antonio Candido destaca certos desafios em se estabelecer um estudo que relaciona as ciências sociais com o meio literário. Assim, sinaliza que certos cuidados devem ser tomados para não cair em uma abordagem simplista, onde apenas o meio influencia a obra e o autor, ignorando o caráter transformador das produções artísticas e a sua interação com a sociedade. Dessa forma, torna-se necessário estudar a relação de influência exercida entre os fatores socioculturais e o que o crítico considera como os três eixos fundamentais para a comunicação artística: o artista, a obra e o seu público. O autor assinala a importância dessa relação tríade na produção artística e na sociedade. Sem o público, a obra literária não alcança sentido, e o autor não se realiza plenamente, já que o público é um reflexo do próprio criador. O público é o fator de conexão entre o autor e a obra, e a obra liga o autor ao público. A interação entre autor, obra e público cria uma série interativa, em que o autor é o agente que inicia o processo.
· ROLAND BARTHES
Em seu ensaio "A Morte do Autor", Roland Barthes propõe uma crítica radical à noção de autoria e argumenta que o autor não deve ser considerado como a autoridade máxima na interpretação de um texto. Barthes questiona a ideia de que a intenção do autor é a fonteprimária e única de significado de uma obra. Ao atribuir todo o poder interpretativo ao autor, restringimos a liberdade do leitor e fixamos um único significado para a obra. Ele sugere que a figura do autor se tornou uma limitação opressiva à liberdade de leitura e à multiplicidade de significados que um texto pode ter. Em vez de se concentrar na figura do autor, Barthes defende que a atenção deve ser direcionada para o leitor e para o momento da leitura. Ele propõe que o leitor se torne um coautor ativo, participando ativamente na construção do significado de um texto. O teórico argumenta que o significado de uma obra é produzido na interação entre o texto e o leitor, e que múltiplas interpretações são válidas e enriquecedoras. Ao afirmar a "morte do autor", Barthes busca descentralizar a autoridade do autor e enfatizar a importância da leitura como um processo dinâmico e criativo. Ele sugere que a interpretação de um texto não deve ser limitada pela intenção original do autor, mas sim aberta à diversidade de perspectivas e leituras que cada leitor pode trazer. Em suma, "A Morte do Autor" é um ensaio crítico que propõe a descentralização da figura do autor na interpretação de textos. Barthes argumenta que a liberdade interpretativa do leitor é fundamental e que o significado de uma obra é produzido na interação entre o texto e o leitor, não sendo determinado exclusivamente pela intenção do autor.
· FOUCAULT
Em seu texto "O Que é um Autor?", Michel Foucault questiona a noção tradicional de autoria e propõe uma abordagem crítica em relação a essa ideia. Foucault argumenta que a concepção de autoria como uma identidade fixa e estável é uma construção histórica e socialmente contingente. O filosofo analisa como a noção de autoria foi gradualmente desenvolvida ao longo da história e como ela se tornou uma forma de atribuir poder, controle e propriedade às obras escritas. Ele destaca que, por trás da ideia de autoria, há uma série de práticas sociais, instituições e discursos que regulam e limitam o campo da escrita. O autor, de acordo com Foucault, não é um indivíduo transcendental e original que cria suas obras a partir do nada. Em vez disso, ele é uma construção social que surge em um contexto específico e é moldado por uma rede de relações de poder. Foucault argumenta que o discurso sobre o autor é usado para estabelecer noções de propriedade intelectual, autoridade e verdade, mas também para restringir a liberdade de interpretação e circulação de textos. O autor é um efeito produzido por práticas discursivas e não uma causa ou origem do significado. Ele enfatiza a importância de se desfazer da centralidade do autor para abrir espaço para a pluralidade de vozes e interpretações. Foucault sugere que devemos nos concentrar na análise dos discursos e das formas como o poder opera neles, em vez de atribuir um significado fixo e definitivo ao autor. Em resumo, o texto "O Que é um Autor?" critica a noção de autoria como uma entidade estável e transcendental, argumentando que o autor é uma construção social e histórica que serve a propósitos de poder e controle. Ele propõe uma abordagem descentralizada, que enfatiza a importância das práticas discursivas e da análise dos sistemas de poder no campo da escrita.
COMPARAÇÃO BARTHES E FOUCAULT - O texto de Michel Foucault, "O Que é um Autor?", e o ensaio de Roland Barthes, "A Morte do Autor", compartilham algumas semelhanças em suas críticas à noção tradicional de autoria e sua centralidade na interpretação de textos. No entanto, eles abordam o tema de maneiras diferentes. Enquanto Foucault se concentra nas implicações sociais e discursivas da autoria, Barthes vai além, argumentando pela completa "morte" do autor como figura central na interpretação de um texto. Barthes contesta a ideia de que o autor é a fonte definitiva de significado de uma obra, afirmando que o leitor desempenha um papel igualmente importante na construção do sentido. Para Barthes, a figura do autor impõe limitações à leitura e interpretação de um texto, restringindo a liberdade do leitor ao impor uma única intenção ou significado fixo. Ele argumenta que a morte do autor é uma condição necessária para a liberação do potencial plural e aberto da leitura, permitindo que o leitor se torne um coautor ativo na criação de significado. Foucault, por outro lado, não chega a afirmar a "morte" do autor de maneira tão radical. Ele problematiza a noção de autoria, destacando suas origens históricas e seu papel nas relações de poder e controle. Foucault enfatiza que a autoria é uma construção social, moldada por práticas discursivas, instituições e sistemas de poder. Ele busca descentralizar a figura do autor, permitindo a emergência de múltiplas vozes e interpretações. Ambos os autores compartilham a crítica à centralidade do autor e à ideia de um significado fixo e definitivo atribuído a uma obra. Ambos enfatizam a importância da pluralidade de vozes, da liberdade interpretativa e da abertura para diferentes perspectivas. No entanto, enquanto Barthes proclama a morte do autor como uma necessidade radical para a liberação da interpretação, Foucault problematiza a noção de autoria, mas não a rejeita completamente.

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